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113-123 (2012)
Clarice Zientarski
Doutoranda em Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE, Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM/RS), Brasil.
claricezientarski@yahoo.com.br
Resumo
Abstract
The work deals with the question of the relationship between oppressors and
oppressed in the daily educational contexts. The methodological approach consists of
a literature search, qualitative in nature, establishing a dialogue between the Freirean
ideas and the everyday practices in public schools within the neoliberal context,
mobilizing the theoretical discussion of Paulo Freire, in particular the work Pedagogy of
the Oppressed (1987).
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Introdução
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Não percebem os professores, ao realizar seu trabalho, que o Estado tem por
finalidade sustentar uma ação coercitiva com vistas a realização de objetivos
acumulativos e expansionistas do capital. Independentemente dos mecanismos
utilizados, os quais, ainda que aparentem ser contraditórios, não deixam nenhuma
possibilidade para que sejam colocados os interesses do trabalho acima dos
interesses do capital (Mészáros, 2002). Com isso, os professores falam de si e dos
seus alunos como os que não sabem e do “doutor” como o que sabe e a quem devem
escutar. Os critérios de saber que lhe são impostos são os convencionais (Freire,1987,
p.28). Neste caso, há uma
[...] experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível atração pelo opressor.
Pelos seus padrões de vida. Participar destes padrões constitui uma incontida
aspiração. Na sua alienação querem, a todo custo, parecer com o opressor.
Imitá-lo. Segui-lo. Isto se verifica, sobretudo, nos oprimidos de “classe média”,
cujo anseio é serem iguais ao “homem ilustre” da chamada classe “superior”
(Freire, 1987, p.28).
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dominado. O capital controla o metabolismo social humano e usa, para tal fim, como
meio, o Estado. Forma-se, assim, um círculo vicioso de transferência das relações de
poder e de dependência, situação que colabora para que os mais fracos, no caso a
escola e a comunidade, assumam os resultados negativos em suas práticas e
discursos.
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Neste sentido, a ação do educador não pode ser caracterizada como neutra,
visto que na correlação de forças, entre seu agir pedagógico e as demandas que
emergem do contexto onde atua, situam-se marcos que definirão sua opção, ou à
favor do oprimido ou do opressor. A questão da neutralidade, que permeia muitos
discursos e práticas educativas, é discutida por Freire (1996, p. 70), quando indaga
“Que é mesmo a minha neutralidade senão a maneira cômoda, talvez, mas hipócrita,
de esconder minha opção ou meu medo de acusar a injustiça?”, ou seja, o
silenciamento frente às atitudes e ações opressoras constitui-se numa aceitação
passsiva da própria opressão, ainda mais quando serve ao interesse de fortalecimento
do “discurso opressor hegemônico” (Freire, 1996, p. 70). Deste modo, os discursos
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Daí que, nesta contradição o professor é considerado o sujeito que educa, sabe,
pensa, diz a palavra, disciplina, opta e prescreve sua opção, atua, escolhe o conteúdo
programático, identifica a autoridade do saber com a sua autoridade funcional, enfim,
todo o processo educativo está centrado no professor. Já os alunos, nesta concepção
serão os educados, os que não sabem, os pensados, os que escutam docilmente, os
disciplinados, os que seguem a prescrição, os que têm a ilusão de que atuam na
atuação do educador, os que jamais são ouvidos na definição do conteúdo
programático e que facilmente se acomodam a ele, os que se adaptam às
determinações dos seus educadores enfim, situações que fazem dos educandos
meros objetos (Freire, 1987).
Neste prisma, Freire (1987, p. 37) defende que “a realidade social, objetiva, que
não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens, também não se
transforma por acaso”. Ou seja, serão os próprios homens os sujeitos produtores
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desta realidade e se esta, “na ‘inversão da práxis’, se volta sobre eles e os condiciona,
transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa dos homens” (Freire,
1987, p. 37).
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Em Paulo Freire, encontramos um educador que, acima de tudo, põe sua crença
nos homens, confirmando sua percepção de que estes são sujeitos que participam
ativamente da construção de sua própria história, ao passo que se fazem e se
refazem, de modo especial, nas relações que estabelecem com o outro e com o
mundo. Deste modo, em suas palavras sustenta que “o que quero repetir, com toda a
força é que nada justifica a minimização dos seres humanos” (1996, p. 39).
Freire (1987), entre as muitas questões interessantes que traz para o debate
com educadores, sustenta que há um trágico dilema dos oprimidos, que se colocam
em: querer ser, mas ter medo de ser; serem eles mesmos ou serem duplos ao
assumirem posições alheias; se desalienarem ou continuarem alienados; entre
seguirem prescrições ou terem opções; entre serem meros espectadores ou atores;
entre atuarem ou terem a ilusão que atuam a partir da atuação dos opressores. O ato
educativo tem, em sua essência, a tarefa de promover a superação da contradição, de
modo que os homens possam reconhecer “o limite que a realidade opressora lhes
impõe” (Freire, 1987, p. 19) e, com base neste processo de reconhecimento
encontrarem energias que efetivamente conduzam a uma ação libertadora.
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Referências Bibliográficas
Freire, P. (1987). Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra.
Gadotti, M., Freire, P., & Guimarães, S. (1995). Pedagogia: diálogo e conflito. 4. ed.
São Paulo: Cortez.
Gentili, P. (Org.) (1996). Pós Neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado
democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Giroux, H. A. (1997). Os professores como Intelectuais. Rumo a uma pedagogia crítica
da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed.
Mészáros, I. (2002). Para Além do Capital. São Paulo: Boitempo Editorial.
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