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12/2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO
Campinas, 2006.
SP - Brasil
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Prof:i>r~Celso. Morooka, Presidente
Universidade Estadual de Campinas
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Pito" Dr. José Ricardo Nlaquim Mendes
iversidade Estadual de Campinas
,
Petrobras
~~
-Petróleo Brasileiro S.Á.
Dedico este trabalho à minha família pelo apoio e incentivo durante todos os momentos de
minha vida.
Agradecimentos
Este trabalho não poderia ser concluído sem a ajuda de diversas pessoas e instituições às
quais presto minha homenagem e gratidão:
Ao meu orientador Prof. Celso Morooka, que indicou os caminhos e a direção a ser
seguida durante o desenvolvimento desse trabalho de pesquisa.
Palavras Chave
TAVARES, Rogério Martins. Interpretation and Analysis of Drilling Data in Petroleum Wells.
Campinas: Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, 2006.
129p. Dissertação (Mestrado).
The offshore petroleum exploration has substantially developed in the last decades. During
this process, mostly in the 80s, the amount of information generated during the drilling operation
has dramatically increased. If on one hand the existing scene presents great quantity of
information, on the other hand there is a lack of tools able to make effective use of the available
information. This work presents procedures that, through the analysis and interpretation of
drilling data, aim to improve the construction process of petroleum wells. Three independent
procedures are presented. The first one concerns the use of a visualization system for tracking the
execution of directional drilling operation. The utilization of this system brings benefits to the
trajectory control activity. The second procedure deals with the use of an automated system to
classify the activities performed during well drilling operation. The automated classification
system may be used to generate a precise and detailed report considering the executed drilling
activities. The third and last procedure concerns the early detection of drilling troubles. This
procedure consists of recognizing online, in the drilling data, behaviors able to identify drilling
problems. Through this work it is possible to conclude that the available drilling data represent a
high potential source of information and can be used to improve the petroleum well construction.
Key Words
i
Índice de Figuras
Figura 1.1.: Análise de Dados de Perfuração (Adaptada de Yoho et al., 2004). ............................. 6
Figura 1.2.: Sistemas Geradores de Dados de Perfuração................................................................ 7
Figura 2.1.: Geolograph. .................................................................................................................. 9
Figura 2.2.: Potencialidades do Sistema The Advisor (Martin, 1986)............................................ 12
Figura 2.3.: Descrição Esquemática do Sistema MDS (White et al., 1991). ................................. 13
Figura 2.4.: Mecanismo de Prisão Diferencial (Oilfield Review, 1999). ....................................... 17
Figura 2.5.: Desmoronamento do Poço (Oilfield Review, 1999) ................................................... 18
Figura 2.6.: Má Limpeza do Poço (Oilfield Review, 1999)............................................................ 20
Figura 2.7.: Packer Hidráulico (Oilfield Review, 1999). ............................................................... 21
Figura 2.8.: Formação de Cavidades na Parede do Poço (Oilfield Review, 1999). ........................ 22
Figura 2.9.: Formação de Batentes no Poço. .................................................................................. 23
Figura 2.10.: Fechamento do Poço (Oilfield Review, 1999). ......................................................... 24
Figura 2.11.: Vibrações na Coluna de Perfuração. ......................................................................... 25
Figura 2.12.: Relações Causa-Conseqüência. ................................................................................ 27
Figura 2.13.: Seleção de Perfis de Carga no Gancho (Adaptado de Jardine et al.,1992). ............. 32
Figura 2.14.: Deterioração das Condições de Fricção (Adaptado de Jardine et al.,1992). ............ 33
Figura 2.15.: Modelo de comportamento das vazões (Adaptado de Hargreaves et al., 2001)....... 34
Figura 2.16.: Detecção na presença de heave (Hargreaves et al., 2001). ....................................... 35
Figura 3.1.: Aplicações da Técnica de Perfuração Direcional (Mildred, 1986)............................. 37
Figura 3.2.: Arranjos de estabilizadores no BHA (Economides, 1998). ........................................ 38
Figura 3.3.: Técnica de Jateamento. ............................................................................................... 39
Figura 3.4.: Motor de Fundo. ......................................................................................................... 40
Figura 3.5.: Perfuração com Motor de Fundo. ............................................................................... 45
Figura 3.6.: Dois pontos consecutivos de coleta de dados. ............................................................ 46
ii
Figura 3.7.: Vistas planas de representação da trajetória. .............................................................. 49
Figura 3.8.: Unidade de Mud-logging. ........................................................................................... 52
Figura 3.9.: Exemplo de Telas de Acompanhamento Utilizadas. .................................................. 54
Figura 3.10.: Sensor de Carga no Gancho. ..................................................................................... 55
Figura 3.11.: Sensor de Altura do Gancho. .................................................................................... 56
Figura 3.12.: Sensor de Pressão no Choke ..................................................................................... 56
Figura 3.13.: Coletor de Gás e Sensores de Temperatura, Densidade e Resistividade. ................. 57
Figura 3.14.: Sensor de Ciclos da Bomba. ..................................................................................... 58
Figura 3.15.: Sensor de Nível de Lama. ......................................................................................... 59
Figura 4.1.: Procedimentos Propostos. ........................................................................................... 64
Figura 4.2.: Poços de Trajetória Bidimensional. ............................................................................ 66
Figura 4.3.: Poço de Trajetória Tridimensional. ............................................................................ 67
Figura 4.4.: Acompanhamento Direcional. .................................................................................... 68
Figura 4.5.: Plano do visualizador gráfico. .................................................................................... 69
Figura 4.6.: Translação do sistema de coordenadas. ...................................................................... 71
Figura 4.7.: Rotações aplicadas para alinhar o eixo Y com o eixo da coluna de perfuração. ........ 71
Figura 4.8.: Convenção adotada para as direções do radar (poço vertical). ................................... 73
Figura 4.9.: Convenção adotada para as direções do radar (poço direcional). ............................... 73
Figura 4.10.: Radar de Visualização. ............................................................................................. 74
Figura 4.11.: Etapas Básicas da Operação de Perfuração. ............................................................. 79
Figura 4.12.: Arquitetura do Sistema de Classificação .................................................................. 81
Figura 4.13.: Redução de Velocidade na Transição BHA - Tubo de Perfuração. ......................... 90
Figura 4.14.: Redução de velocidade no rat-hole. ......................................................................... 91
Figura 4.15.: Carregamento do Anular durante a perfuração de uma seção. ................................. 92
Figura 4.16.: Algoritmo para Detecção de Packer Hidráulico ....................................................... 94
Figura 5.1.: Desenho Esquemático do Poço A1. ............................................................................ 96
Figura 5.2.: Trajetória Espacial do Poço A1. ................................................................................. 97
Figura 5.3.: Afastamento e Planta do Poço A1. ............................................................................. 97
Figura 5.4.: Trecho Vertical - Visualização para o ponto referente à 15ª foto............................... 98
Figura 5.5.: Trecho Direcional - Visualização para o ponto referente à 50ª foto........................... 99
iii
Figura 5.6.: Trecho Direcional - Visualização para o ponto referente à 115ª foto....................... 100
Figura 5.7.: Desenho Esquemático Simplificado do Poço A2. .................................................... 101
Figura 5.8.: Afastamento Horizontal do Poço A2. ....................................................................... 102
Figura 5.9.: Séries Temporais e Classificação de Etapas entre 01:00h e 04:00h do dia 08/09. ... 104
Figura 5.10.: Séries Temporais e Classificação de Etapas entre 00:00h e 07:00h do dia 09/09. . 105
Figura 5.11.: Séries Temporais e Classificação de Etapas entre 12:00h e 19:00h do dia 07/09. . 106
Figura 5.12.: Distribuição das Etapas no Intervalo Classificado. ................................................ 110
Figura 5.13.: Identificação de Tempo Não-Produtivo.................................................................. 112
Figura 5.14.: Desenho Esquemático do Poço A3. ........................................................................ 113
Figura 5.15.: Dados referentes às horas que antecederam a ocorrência do packer. ..................... 115
Figura 5.16.: Análise do comportamento da SPP antes da ocorrência do packer. ....................... 116
Figura 5.17.: Análise do comportamento da Carga no Gancho antes da ocorrência do packer. . 118
Figura 5.18.: Análise do comportamento do Torque antes da ocorrência do packer. .................. 119
Figura 5.19.: Evolução da ROP Média. ....................................................................................... 121
Figura I.1.: Método de Ouija Board. ............................................................................................ 129
iv
Índice de Tabelas
v
Nomenclatura
Letras Latinas
bbl Barril
m Metros
inc Inclinação
az Azimute
Abreviações
vi
Siglas
vii
Capítulo 1
Introdução
1
Apesar de todo desenvolvimento tecnológico, a Engenharia de Perfuração avançou de
forma discreta na área de análise de dados de perfuração (drilling analysis). As técnicas de
análise de dados de perfuração não se consolidaram o suficiente para acompanhar o aumento na
disponibilidade de dados. As ferramentas desenvolveram-se bastante, mas no contexto da
perfuração de poços, a análise de dados ainda ocupa uma posição de pouco destaque.
Nos últimos trinta anos, conforme sustentam Yoho et al. (2004), diferentemente do que
ocorreu na Engenharia de Reservatórios e na Engenharia de Produção, onde a análise transiente
de pressão e a análise nodal emergiram como importantes sub-disciplinas associadas as suas
respectivas áreas, na Engenharia de Perfuração, a análise de dados não se consolidou o suficiente
para tanto.
Ainda, segundo os autores, existe uma percepção generalizada de que a análise de dados de
perfuração ocorre durante o planejamento de um novo poço. Dessa forma, as lições apreendidas
através da análise dos dados poderiam contribuir para a melhoria do processo de perfuração de
novos poços. No entanto, devido às pressões diárias a que um engenheiro de planejamento e
perfuração de poços é submetido, a análise de dados nem sempre é conduzida de maneira
apropriada.
Perfuração Interativa
Há aproximadamente vinte anos atrás, diversos poços verticais eram perfurados para drenar
o reservatório. Nesse contexto, o processo de perfurar o poço consistia basicamente em seguir o
programa de perfuração baseado no projeto do poço.
2
estão disponíveis na superfície em tempo real graças aos sistemas de coleta de dados. Esse fato
permite que, durante a perfuração, decisões sejam tomadas baseadas nos dados obtidos. Isso
confere ao processo de perfuração certo nível de interatividade, pois permite que a equipe
intervenha mais rapidamente em caso de anormalidade e execute ações originalmente não
planejadas. A interpretação dos dados permite, por exemplo, que a equipe de perfuração
modifique a trajetória do poço ao perceber alguma dificuldade.
Vincké e Mabile (2004) sustentam que a Perfuração Interativa inclui toda técnica que tenha
o objetivo de melhorar a perfuração do poço. Esse contexto inclui dentre outras técnicas, a
utilização da informação gerada durante a perfuração para servir de suporte às decisões.
Salas de Visualização
3
novas, e geralmente mais caras, evidencia a importância da busca da excelência operacional
como um meio para manter em patamares reduzidos o custo por metro perfurado.
De modo mais amplo, Vincké e Mabile (2004) definem Geosteering como um processo
altamente interativo no planejamento e perfuração de um poço que visa garantir o preciso
posicionamento do poço dentro do reservatório de forma a maximizar a produtividade do poço.
4
Essa técnica permite obter em tempo real informações sobre as propriedades das formações
atravessadas. Essas informações são apresentadas na forma de imagens que são interpretadas
pelos geólogos. A partir da interpretação das imagens é possível navegar no interior do
reservatório e alocar o poço convenientemente de acordo com a formação geológica encontrada.
O efeito provocado pelas tortuosidades na produtividade do poço ainda não está claramente
determinado e constitui atualmente objeto de estudo. Uma das principais preocupações é
determinar qual seria a influência das ondulações no escoamento multifásico dentro do poço.
5
o autor, a partir da análise dos dados coletados seria possível realizar melhorias nos programas
hidráulicos, de fluido de perfuração e de brocas.
• LWD (Logging While Drilling): sistema que realiza a perfilagem da formação durante a
perfuração, fornece perfis semelhantes aos fornecidos pela perfilagem a cabo;
• PWD (Pressure While Drilling): sistema que mede a pressão no fundo do poço, as
informações mais relevantes fornecidas por esse sistema são o ESD (Equivalent Static
Density) que representa a pressão no fundo do poço em condições estáticas, e o ECD
(Equivalent Circulation Density) que pode ser interpretado como a pressão dinâmica de
circulação no fundo do poço.
Dados de
Perfuração
Boletim
Mud-logging MWD LWD PWD
Diário
7
Capítulo 2
Estudo da Literatura
8
Figura 2.1.: Geolograph.
Fonte: http://www.clearcreekassociates.com
9
Na década de 80 surgiram novas ferramentas como o MWD - Measuring While Drilling e o
LWD - Logging While Drilling. Essas ferramentas foram desenvolvidas para fornecer informação
em tempo real, respectivamente, sobre a trajetória do poço e sobre a formação que está sendo
perfurada.
Graff e Varnado (1986) descrevem um sistema de aquisição de dados e telemetria que foi
implantado no Golfo do México em 1983. Esse sistema foi adquirido pela operadora Tenneco
Exploration and Production, na época uma das maiores do Golfo do México, e implantado pela
empresa Baroid Logging Systems. A grande justificativa para aquisição desse sistema foi a
redução de eficiência observada frente aos custos crescentes de perfuração naquela região. O
sistema em questão realizava a aquisição de parâmetros comuns de perfuração na sonda, e
enviava esses parâmetros para a base da operadora em terra. Os dados são inicialmente obtidos de
vários sensores instalados na sonda. A leitura do sensor é transmitida por sinal elétrico para a
unidade de mud-logging na sonda. Através de um link de comunicação via modem o sinal é
transmitido para a base central de dados em terra. Os dados recebidos na base de dados da
companhia são utilizados para prover segurança adicional, através da redundância no
monitoramento, e para prover melhoria de desempenho através da análise e comparação dos
tempos gastos para executar determinada tarefa em cada sonda. As informações recebidas são
mantidas numa base de dados que pode ser utilizada posteriormente para estudos de naturezas
diversas. Esse sistema possuía capacidade para monitorar mais de 20 sondas e proporcionou uma
redução no custo de perfuração para a companhia. Apenas através do monitoramento do tempo
gasto nas conexões foi possível obter ganhos de até 1,5 dia/mês/sonda.
10
Outras empresas de serviço também desenvolveram sistemas de transferência de
informação das sondas para o centro de dados da operadora. Isso gerou problemas porque cada
empresa de serviço usava seu próprio padrão de codificação para realizar essa transferência. Em
pouco tempo as operadoras estavam sobrecarregadas pela necessidade de manter pessoal
dedicado para decodificar e dar suporte ao recebimento de informações em diferentes formatos.
Foi então desenvolvida uma força tarefa com o apoio da IADC - International Association of
Drilling Contractors que resultou no desenvolvimento de um padrão ou protocolo único para a
transmissão de dados a partir das sondas de perfuração. Esse padrão ou protocolo chamado WITS
- Wellsite Information Transfer Specifications foi desenvolvido durante seis anos em meados da
década de 80 e posteriormente publicado pela API -American Petroleum Institute (Publication
3855). Esse padrão de transferência de dados foi muito utilizado durante aproximadamente 20
anos e serviu de base para o desenvolvimento de um padrão mais moderno e eficiente, o WITSML
-Wellsite Information Transfer Standard Markup Language (Kirkman et al., 2003).
11
Figura 2.2.: Potencialidades do Sistema The Advisor (Martin, 1986).
White et al. (1991) descrevem as melhorias na segurança que foram obtidas através da
introdução de um sistema computadorizado de coleta e interpretação de dados na sonda. O
sistema em questão, ilustrado na Figura 2.3 e conhecido como MDS (Monitoring Drilling
System), foi desenvolvido pela empresa Sedco Forex. O benefício principal trazido por esse
sistema foi a introdução de certo nível de monitoramento automático, através da contínua
vigilância dos dados adquiridos em tempo real. Na prática eram estabelecidos alarmes que
soavam alertando a sonda sempre que algum parâmetro de perfuração fugisse de uma faixa pré-
estabelecida. A idéia do sistema era detectar problemas durante a operação antes que eles se
tornassem críticos. O MDS realizava a detecção primária de kicks e washouts através da
observação de pressões, vazões e volumes de tanque de lama. As informações adquiridas em
tempo real eram mantidas numa base de dados para pós-análise.
13
2.2. Principais Problemas de Perfuração
A perfuração de um poço de petróleo é uma operação bastante complexa que está sujeita a
ocorrência de uma série de anormalidades. A evolução da técnica de perfuração e o uso de boas
práticas têm proporcionado redução na freqüência de ocorrência de problemas ao longo dos anos,
mas ainda assim, alguns problemas persistem. Essas complicações que podem ocorrer durante a
perfuração são altamente indesejáveis e causam muitos prejuízos dentre os quais podemos
destacar: a contratação de tempo adicional de sonda, o atraso no cronograma de execução do
projeto, e não raramente a perda do poço.
A seguir são apresentadas algumas das situações de problema que podem ocorrer durante a
operação de perfuração de um poço de petróleo. As situações apresentadas dizem respeito à
execução da operação propriamente dita.
Além das situações descritas nessa seção, outras situações de problema são possíveis,
como, por exemplo, corrosão e fadiga da coluna, torque e drag elevados, entre outras. Entre as
14
situações descritas pode-se observar que algumas guardam entre si relação de causa e
conseqüência, essas relações serão explicitadas após a descrição dos problemas.
O exame da literatura permitiu observar que problemas como kick, perda de circulação e
prisão diferencial, apresentam mecanismos de ocorrência bastante conhecidos. Para os outros
problemas a literatura ainda é escassa.
a. Perda de Circulação
A perda de circulação é definida como a perda total ou parcial de fluido de perfuração para
a formação. A perda de circulação pode ocorrer em formações de alta permeabilidade e
formações naturalmente fraturadas. O fluxo do poço para a formação pode ocorrer sob duas
condições:
Quando ocorre a perda parcial, o nível de fluido de perfuração dentro do poço diminui. Se
esse nível não for rapidamente restaurado, as formações mais rasas ficarão sem o suporte
proporcionado pela pressão hidrostática da fluido de perfuração, o que pode causar
desmoronamento do poço. O desmoronamento provoca o alargamento do poço e,
15
conseqüentemente, o acúmulo de cascalhos no espaço anular. A redução de pressão pode também
provocar o influxo de fluidos da formação para o poço.
b. Prisão Diferencial
A prisão diferencial ocorre quando a coluna de perfuração é presa à parede do poço por um
mecanismo de sucção. Esse tipo de prisão ocorre somente em frente a intervalos permeáveis da
formação. Por esse motivo, a maioria dos fluidos de perfuração utilizados atualmente forma um
reboco na parede do poço em formações permeáveis. A pressão hidrostática no poço pode
pressionar a coluna de perfuração no reboco contra a parede do poço em trechos onde a pressão
da formação seja inferior à pressão interna do poço. Devido ao diferencial de pressão entre poço e
formação, sólidos começam a se depositar ao redor da região de contato entre a coluna de
perfuração e a parede do poço, e a coluna fica presa. Nesse caso tem-se que o ECD é muito maior
que a pressão de poros da formação. A Figura 2.4 ilustra o mecanismo de prisão diferencial de
coluna.
A coluna presa por diferencial de pressão perde os movimentos axiais e radiais, mas
continua capaz de circular fluido. A prisão diferencial geralmente ocorre após a parada da coluna
16
de perfuração em frente a intervalos permeáveis para a transmissão de dados das ferramentas de
fundo ou para qualquer procedimento que não envolva a perfuração propriamente dita. Se as
condições forem muito severas, o tempo gasto na adição de uma nova secção para continuar a
perfuração já é suficiente para que a prisão ocorra.
Área de Área de
Contato Contato
Tempo
Em poços direcionais a coluna está mais susceptível a ocorrência desse tipo de problema
devido ao contato do BHA com a parede do poço em intervalos permeáveis e ao alto peso de
fluido muitas vezes necessário para conter as formações expostas.
17
mantido o mais baixo possível, e as propriedades do fluido devem ser ajustadas de forma a
proporcionar um reboco firme.
c. Desmoronamento de Poço
18
Uma das maneiras de identificar a ocorrência do desmoronamento é através da observação
dos cascalhos provenientes do poço. A detecção de fragmentos de formato e tamanho
característicos e a observação de um aumento no retorno de cascalhos do poço são um indicativo
claro de desmoronamento do poço. A pressão de bombeio também deve apresentar uma pequena
elevação devido ao aumento da carga de cascalhos no anular do poço, da mesma forma o esforço
necessário para retirar a coluna do poço será maior devido ao aumento da fricção no poço.
d. Alargamento do Poço
Assim o peso do fluido de perfuração dentro do poço deve ser alto o suficiente para dar
sustentação mecânica para as paredes do poço, mas por outro lado, se for demasiadamente
elevado poderá induzir fraturas na formação ao redor do poço.
19
e. Má Limpeza do Poço
A má limpeza de poço ocorre quando os cascalhos não são devidamente removidos do poço
e acabam se acumulando no espaço anular. Essa situação pode ocorrer devido à velocidade de
fluxo inferior a velocidade mínima de carreamento de cascalhos, devido ao uso de um fluido
inadequado para o carreamento dos cascalhos, ou ainda devido à problemas de
desmoronamento/alargamento do poço.
O acúmulo de cascalhos no poço pode ser também provocado por uma excessiva taxa de
penetração, que resulta na produção de cascalhos numa taxa maior que a taxa de remoção. O
acúmulo de cascalhos no poço ocorre, geralmente, na região localizada logo acima dos
comandos. Essa região é caracterizada por uma brusca redução da velocidade do fluido devido ao
aumento do espaço anular. A formação de leitos de cascalhos no poço é extremamente danosa
podendo causar packer hidráulico e prisão de coluna. A limpeza em poços direcionais e
horizontais é dificultada pela distribuição desigual de cascalhos no espaço anular.
Atualmente existem simuladores que podem ser utilizados para determinar se numa dada
condição de operação está ocorrendo boa limpeza ou se existe a formação de leito de cascalho no
anular do poço. A Figura 2.6 ilustra uma situação de má limpeza do poço em trecho direcional.
A condição de má limpeza no poço pode ser detectada pelo aumento na pressão de bombeio
e pelo aumento na dificuldade de retirar a coluna do poço devido ao maior volume de sólidos
suspensos no anular.
20
f. Packer Hidráulico (Pack-off)
O Packer Hidráulico ocorre quando o espaço anular entre a coluna de perfuração e o poço é
obstruído. Essa obstrução normalmente ocorre devido ao acúmulo de detritos no espaço anular.
Esse acúmulo de cascalhos é geralmente provocado por má limpeza ou por desmoronamento do
poço. A obstrução do anular também pode ocorrer devido ao inchamento da formação. Nesse
caso o anular é obstruído pela formação que se expande com a hidratação.
A Figura 2.7 apresenta uma situação onde ocorre packer hidráulico devido ao
desmoronamento de um trecho naturalmente fraturado da formação atravessada pelo poço.
21
g. Chavetas
Como o sulco criado possui o diâmetro do tubo de perfuração, a presença de chavetas irá
causar dificuldades para a passagem dos comandos de perfuração durante a retirada da coluna.
Devido à presença da chaveta a coluna pode ficar acunhada ou mesmo presa. Trechos de dogleg
elevado (> 5 graus/100ft) são bastante propícios à formação de chavetas.
h. Kick
O kick é caracterizado pelo influxo de fluido da formação no poço. O influxo ocorre quando
a pressão interna do poço é insuficiente para manter os fluidos da formação confinados dentro da
rocha, nesse caso o ECD é menor que a pressão de poros da formação. Se o influxo de fluidos
para dentro do poço não for controlado, o kick pode transformar-se num blow-out, ou seja, pode
resultar na erupção do poço (fluxo descontrolado).
22
Zonas de pressão de poro anormalmente alta são susceptíveis a ocorrência de kicks,
principalmente em poços exploratórios quando existe pouca informação sobre a formação
perfurada. A perda de circulação e o pistoneio durante as manobras favorecem a ocorrência de
kick.
i. Batentes
j. Fechamento de Poço
A vibração no sentido lateral é conhecida como “whirling”. Nessa situação a coluna sofre
flambagem e não gira mais em torno de seu centro. Isso provoca um esforço de flexão na parede
da coluna que, com o tempo, pode levar a falha por fadiga. Um outro efeito provocado é o choque
da coluna com a parede do poço que pode ser bastante danoso para o BHA.
24
A vibração torsional, conhecida como “slip-stick”, é considerada o tipo mais nocivo de
vibração. A rotação na broca não é constante, e apresenta oscilações mesmo quando uma rotação
constante é aplicada na superfície. Devido à alta flexibilidade torsional da coluna, a broca pode
permanecer em repouso (sem girar) por uma fração de segundo, e girar a centenas de rpm na
fração de segundo seguinte. A aceleração e desaceleração afetam o funcionamento dos sistemas
eletrônicos do BHA. Esse comportamento provoca fadiga e pode causar falha nos equipamentos.
l. Entupimento de Jatos
O entupimento de jatos da broca ocorre devido à entrada de cascalhos nos jatos quando a
circulação é interrompida. A presença dos cascalhos pode reduzir o diâmetro útil do jato e até
mesmo bloquear por completo a passagem do fluido de perfuração.
Como resultado do entupimento, aumenta a perda de carga na broca. Isso provoca redução
na força hidráulica de impacto disponível diminuindo o efeito do jateamento.
25
m. Enceramento da Broca
Com o agravamento dessa condição a broca é totalmente coberta por cascalhos e perde o
contato com a formação. O principal resultado do enceramento pode ser percebido através da
queda na taxa de penetração, que, em condições severas de enceramento, torna-se praticamente
nula.
n. Washout
O efeito observado nesse caso é uma redução progressiva na pressão de bombeio, à medida
que, o diâmetro do furo aumenta. A passagem do fluido de perfuração pelo furo produz um efeito
abrasivo bastante poderoso capaz de corroer o aço e aumentar o diâmetro do furo.
A “Má Limpeza”, por exemplo, pode ser considerada a causa de “Packer Hidráulico”. Já o
“Packer Hidráulico”, dependendo de sua intensidade, pode ser a causa de “Prisão de Coluna” ou
de “Perda de Circulação”. A Figura 2.12 apresenta algumas das relações que podem ser
explicitadas.
26
Causa Conseqüência
Kick
Batente
Alargamento
Chaveta
Desmoronamento
Prisão de
Prisão Diferencial Coluna
Fechamento
Má Limpeza Packer Perda de
Circulação
A Tabela 2.1 apresenta uma classificação possível destacando o agente causador e também
os parâmetros relacionados à causa de cada problema. Na coluna “parâmetro” as siglas possuem
o seguinte significado: ECD – Pressão dinâmica de circulação no fundo do poço, PF – Pressão de
fratura da formação, PP – Pressão de poros da formação, PC – Pressão mínima para evitar o
colapso da formação, µ Fluido – Viscosidade do Fluido de Perfuração, VFluido – Velocidade de
Carreamento do Fluido de Perfuração.
Por exemplo, o problema perda de circulação pode ser relacionado a um excesso de peso do
fluido de perfuração, nesse caso, o ECD supera a pressão de fratura da formação.
27
Tabela 2.1.: Problema e principal agente causador.
28
2.3. Utilização de Dados de Perfuração
Essa seção faz uma breve revisão sobre estudos que buscaram através de algum tipo de
análise dos dados de perfuração obter melhoria na processo de construção de poços. A revisão
realizada não considerou estudos sobre análise e interpretação de dados de sísmica ou LWD por
acreditar que esse conteúdo esteja além do escopo desse trabalho.
Uma das primeiras iniciativas nesse período foi a utilização dos dados de perfuração para
evitar a ocorrência de prisão de coluna. A prisão da coluna de perfuração pode ser definida de
uma forma geral como a situação onde a coluna se encontra presa e não pode ser movida sem o
auxílio de operações especiais como o acionamento de drilling-jar, circulação de fluido com
propriedades especiais, etc.
A prisão axial de coluna pode ser definida como a situação onde a força necessária para
mover a coluna é maior que a força limite oferecida pela sonda (geralmente limitada pela tensão
máxima suportada pelos tubos de perfuração). A prisão pode receber uma classificação específica
dependendo do mecanismo físico que a motiva. Na maior parte da literatura, a prisão de coluna é
dividida em dois tipos principais: prisão de coluna diferencial e prisão de coluna mecânica.
Desde o final da década de 80, estudos têm sido conduzidos buscando minimizar a
ocorrência da prisão de coluna. Os estudos realizados evoluíram ao longo do tempo basicamente
em três linhas de pesquisa.
Uma primeira linha pioneira de estudo realizou um levantamento das ocorrências de prisão
de coluna e efetuou um tratamento estatístico das ocorrências já registradas (Weakley, 1990;
Bradley et al., 1991). Esses estudos utilizaram dados de centenas de poços para fornecer uma
radiografia do problema e tentar delimitar contextos que seriam favoráveis à ocorrência de prisão
de coluna.
29
A segunda linha se desenvolveu já com a idéia que a prisão de coluna é um fenômeno que
pode ser identificado precocemente e evitado (Jardine et al., 1992; Belaskie et al., 1994; Cardoso
et al., 1991). Esses estudos buscaram, desenvolver sistemas que, através do monitoramento de
parâmetros de perfuração e de fatores de atrito, fossem capazes de emitir alerta de prisão
iminente. Dessa forma a equipe de sonda teria tempo hábil para adotar ações corretivas e evitar a
prisão.
O trabalho apresentado por Jardine et al. (1992), busca evitar a prisão através do
monitoramento, nesse trabalho foi proposto um sistema para a detecção antecipada da ocorrência
da prisão de coluna.
30
• Geração de perfis de carga no gancho para a retirada de coluna (pull-out-of-hole) e
descida de coluna (run-in-hole) de acordo com a profundidade. Esses perfis contêm um
valor de carga no gancho para uma determinada faixa de profundidade;
Na prática, durante cada adição de seção são capturados valores representativos de carga no
gancho para a subida e para a descida da coluna. Esses dois valores serão os valores
característicos para essa profundidade. Quando estiver sendo feita a retirada de coluna a essa
mesma profundidade, esses valores, previamente armazenados, serão utilizados como valores de
referência para a carga no gancho.
Os valores nos perfis utilizados como referências devem ser os mais fieis possíveis. Por
isso, deve haver bastante cuidado na etapa de seleção de pontos de referência. A Figura 2.13
exemplifica o processo de seleção de valores de referência. Os valores de carga no gancho para
subida e descida em uma determinada profundidade são capturados durante o repasse que
antecede a manobra de adição de uma nova secção de tubos de perfuração.
Através do terceiro perfil apresentado na Figura 2.13 pode-se notar que durante o período
observado houve aumento na carga no gancho de subida e diminuição na carga do gancho de
descida da coluna. Isso evidencia um aumento na fricção no poço, que talvez possa ser explicado
pelo aumento do comprimento da coluna de perfuração e por conseqüência maior área de contato
com as paredes do poço.
Mesmo quando estimativas para a carga do gancho ainda não estão disponíveis é possível
identificar tendências de piora nas condições do poço. Durante a adição de uma nova secção a
coluna, o sistema continua a capturar valores para completar o perfil de carga no gancho. Se
durante esse processo forem observadas variações significativas em relação à carga no gancho
verificada na manobra anterior, esse é um indicativo de aumento na fricção no poço.
31
40
(a) Posição do Elevador
Retirada
Retirada
Descida
Descida
m
Descida Descida
650
0 40
Tempo (minutos)
A Figura 2.14 apresenta uma situação que resultou na prisão da coluna de perfuração. Na
situação apresentada, o poço estava sendo perfurado até que se observou uma queda na taxa de
penetração. Optou-se, então, por fazer uma manobra (retirar a coluna). Quando a primeira secção
foi puxada, a coluna ficou presa.
32
1400
Carga no Retirada
1300
Gancho
Descida
1200
kN
1100
1000
900
7 8 9 10 11 12 13 14 15
Tempo (horas)
Nessas primeiras rotinas, a detecção de kick era feita principalmente pela observação do
volume dos tanques e vazões de entrada e saída. Uma estação de trabalho realizava ajustes nos
parâmetros devido a variação do volume de aço no poço, defasagem entre vazão de entrada e
saída, etc.
A Figura 2.15 apresenta os modelos que foram utilizados para a detecção. Note que nesse
trabalho foram modelados também eventos que costumam causar alarmes falsos como a
movimentação da coluna dentro do poço e a partida das bombas.
Figura 2.15.: Modelo de comportamento das vazões (Adaptado de Hargreaves et al., 2001).
A Figura 2.16 apresenta o resultado obtido para a detecção de kick em uma sonda semi-
submersível sujeita a condições severas de heave. Esse resultado foi obtido a partir de dados
armazenados em arquivos. Nesse caso, o sistema conseguiu detectar o kick antes que o ganho
atingisse 3 bbl.
34
Figura 2.16.: Detecção na presença de heave (Hargreaves et al., 2001).
Apesar das iniciativas descritas nessa seção, o exame da literatura mostrou que ainda são
escassos estudos sobre utilização efetiva de dados da perfuração. Também foi possível notar que
a freqüência de trabalhos desenvolvidos nessa área tem aumentado ao longo dos anos.
35
Capítulo 3
Esse capítulo apresenta alguns tópicos sobre perfuração de poços de petróleo que serão
úteis para a compreensão dos procedimentos propostos nesse trabalho.
36
Entre as vantagens da perfuração direcional podemos citar:
• O poço direcional permite, também, recuperar poços que por algum motivo foram
obstruídos durante a perfuração. Através da técnica de perfuração direcional é possível
realizar um desvio lateral, aproveitando-se dessa maneira o trecho que já foi perfurado.
A Figura 3.1 ilustra diferentes situações nas quais é utilizado o poço direcional. Maiores
informações sobre a aplicação de poços direcionais podem ser encontradas em Mildred (1986).
37
A perfuração direcional é particularmente interessante ao Brasil devido à maioria de suas
reservas de petróleo estar localizada em campos marítimos, onde a perfuração direcional é
fundamental para a viabilidade econômica das operações.
38
• Jateamento (Jetting Bits)
Essa técnica utiliza brocas que possuem um jato de maior diâmetro em um de seus lados.
Dessa maneira, posicionando-se o jato maior na direção desejada é possível gerar uma região de
erosão para onde o poço será desviado. Essa técnica é uma boa opção para formações pouco
consolidadas.
39
A incorporação da inclinação, conhecida como ângulo de bent housing, ao corpo do motor
conferiu maior rigidez ao conjunto, e permite que a coluna possa ser rotacionada para prosseguir
a perfuração. Anteriormente, com a utilização do bent sub + motor (reto) era necessário realizar
uma manobra e descer um novo BHA para prosseguir a perfuração com giro da coluna de
perfuração.
O ângulo de tool face ou ângulo de face da ferramenta indica qual é a posição da inclinação
da broca em relação a um plano perpendicular ao eixo da coluna de perfuração. Através do
posicionamento adequado do ângulo de face da ferramenta é possível controlar a trajetória do
poço.
41
3.2. Sistemas de MWD e Controle da Trajetória do Poço
Os sistemas de MWD (Measuring While Drilling) são responsáveis pela medição e envio
de informações referentes à localização e a orientação da ferramenta de perfuração. A principal
função desse sistema é informar a trajetória real do poço quando o mesmo ainda está sendo
perfurado.
Atualmente, existe uma grande variedade de sensores e a transmissão dos dados para a
superfície é feita em tempo real. A transmissão dos dados para a superfície ocorre através do
fluido de perfuração. Um atuador instalado no BHA, conhecido como pulser, introduz
perturbações na coluna de fluido, essas perturbações se propagam até a superfície onde são
detectadas por um transdutor de pressão e depois decodificadas.
Na tabela podem ser identificadas as seguintes colunas: PM, INCL, AZIM, DIREÇÃO, PV,
SEÇÃO, N/S, E/W, DLS, B/D, WALK, data, HORA e PERFUR.
As três primeiras colunas (PM, INCL e AZIM) são obtidas a partir das técnicas de MWD.
A informação sobre a orientação do ângulo de tool-face também é obtida pelos sistemas de
MWD, mas não está representada na tabela abaixo.
Note que as últimas colunas da tabela apresentam registros de horas e de trecho perfurado,
esses registros são utilizados para que se calcule a taxa instantânea de penetração.
42
Tabela 3.1.: Informações de MWD
Inclinação Afastamento
As principais informações fornecidas por esse sistema são: profundidade medida (PM),
inclinação (INCL), azimute (AZIM), e ângulo de tool-face.
Essas três informações são utilizadas para que se possa descrever a trajetória real do poço
em relação a um sistema de coordenadas fixo estabelecido, na maioria das vezes, na mesa rotativa
de perfuração.
43
3.2.1. Controle e Descrição da Trajetória em Poços Direcionais
Conforme apresentado na seção 3.1.1, existem diversas técnicas para a perfuração de poços
direcionais. Cada técnica possui um modo característico de efetuar o controle da ferramenta e
dessa forma modificar a trajetória do poço. Para um controle efetivo dos efeitos causados pela
ferramenta na trajetória do poço é necessário um acompanhamento contínuo da trajetória real do
poço. Há uma convenção geométrica para a apresentação dos dados de trajetória e diversos
métodos matemáticos que permitem o cálculo dessa trajetória.
Uma das principais dificuldades encontradas na perfuração direcional é fazer com que a
trajetória real fique o mais próxima possível da trajetória estabelecida no projeto. O controle da
trajetória do poço é um dos pontos críticos da operação.
A Figura 3.5 apresenta um esquema simplificado de uma coluna montada com motor de
fundo. Essa figura mostra as duas diferentes trajetórias que a broca pode descrever dependendo
do tipo de acionamento. A seta A indica a trajetória descrita quando a coluna toda é girada, nesse
caso a trajetória segue o eixo da coluna de perfuração. A seta B faz um ângulo com o eixo da
coluna conhecido como ângulo de bent housing. Quando o motor de fundo é acionado, a
trajetória deixa de seguir o eixo da coluna e passa a desenvolver um arco provocado pelo ângulo
de bent housing. Nessa situação a coluna não apresenta rotação e a broca gira acionada pelo
motor de fundo.
44
Figura 3.5.: Perfuração com Motor de Fundo.
Nessa fase, o ajuste do ângulo de tool face é fundamental para que a correção seja efetiva.
Esse ajuste é obtido através do giro da coluna de perfuração. O operador direcional realiza o
ajuste baseado nas informações disponíveis e em sua experiência. Devido ao formato em que as
informações são apresentadas (gráficos 3D, muitas vezes com resolução inadequada), essa tarefa
normalmente consome um tempo excessivo.
Como já foi dito, para se descrever a trajetória real do poço em coordenadas cartesianas em
relação à mesa rotativa, são utilizadas três informações obtidas a partir de técnicas de MWD:
• A distância medida ao longo do poço entre dois pontos de coleta de dados contíguos
(∆PM) representa a variação da profundidade medida;
• O ângulo de inclinação (inc);
• O ângulo de azimute (az);
45
A Figura 3.6 ilustra dois pontos consecutivos de coleta de dados. Note na figura a
localização geométrica das informações necessárias para a descrição da trajetória. O ângulo de
inclinação é medido em relação a vertical, e o ângulo de azimute é medido em relação ao norte.
Devido à coleta desses dados ser feita de forma discreta (pontual), a reconstrução da
trajetória envolve a integração sucessiva desses pontos. Para realizar a integração é necessário,
primeiramente, determinar os incrementos para as coordenadas x, y e z do sistema de
coordenadas cartesiano fixo na mesa rotativa. Os incrementos são determinados a partir das
informações medidas (PM, inc, az).
Uma discussão mais detalhada sobre métodos de cálculo de trajetórias, incluindo uma
análise comparativa entre os métodos, pode ser encontrada em Craig & Randall (1979).
46
A seguir, são apresentados três métodos (tangencial, ângulo médio e mínima curvatura) e
suas respectivas equações. As equações apresentadas consideram os ângulos e as direções
ilustrados na Figura 3.6.
• Método Tangencial
A dedução das equações segue o mesmo raciocínio utilizado para o método tangencial, mas
ao invés de utilizar os ângulos medidos ao final do curso utiliza a média aritmética entre os
ângulos medidos.
47
inc1 + inc 2 az1 + az 2
∆Norte = ∆PM . sen . cos
2 2
inc1 + inc 2 az1 + az 2
∆Leste = ∆PM . sen . sen
2 2
inc1 + inc 2
∆Vert = ∆PM . cos
2
Conjunto de Equações 3.2.: Método do Ângulo Médio.
O método de curvatura mínima assume que o poço no intervalo medido possa ser
representado por uma curva de mínima curvatura (máximo raio). Esse método utiliza os ângulos
medidos no início e no final do trecho.
∆PM
∆Norte = . [ sen(inc1) . cos(az1) + sen(inc 2) . cos(az 2)] . RF
2
∆PM
∆Leste = . [ sen(az1) . sen(inc1) + sen(inc 2) . sen(az 2)] . RF
2
∆PM
∆Vert = . [cos(inc1) + cos(inc 2)] . RF
2
onde :
2 DL
RF = . tg
DL 2
cos( DL) = cos(inc 2 − inc1) − sen(inc1) . sen(inc 2) . (1 − cos(az 2 − az1))
Conjunto de Equações 3.3.: Método de Mínima Curvatura.
Realizando-se a soma ponto a ponto de cada incremento ∆Norte, ∆Leste e ∆Vert é possível
representar a trajetória através de um sistema de coordenadas cartesiano de três eixos
estabelecido na mesa rotativa.
48
A trajetória do poço é geralmente representada através de duas vistas planas, que são
conhecidas por vista de planta e vista de afastamento horizontal. A Figura 3.7 ilustra essas duas
vistas.
Planta
Norte
Oeste Leste
Sul
Afastamento Horizontal
Profundidade
49
3.3. Sistemas de Mud-logging
Para realizar o monitoramento dos parâmetros de perfuração o sistema utiliza vários tipos
de sensores. Esses sensores medem parâmetros mecânicos e hidráulicos. Uma característica dessa
técnica é que todos os sensores estão localizados na sonda e não existe nenhum sensor dentro do
poço. Por esse motivo os dados coletados são muitas vezes chamados de dados de superfície, em
contraste aos dados de fundo de poço que são os coletados por ferramentas como MWD e LWD.
50
3.3.1. Variáveis Monitoradas
51
u. Resistividade do Fluido de Perfuração (na entrada e na saída)
v. Temperatura do Fluido de Perfuração (na entrada e na saída)
w. LAG Time (Tempo gasto pelo fluido para retornar desde o fundo até a superfície)
x. Stand Length (Comprimento da seção de drillpipe)
É importante notar que nem todos os parâmetros monitorados são efetivamente medidos
por um sensor. Alguns parâmetros são na realidade calculados a partir de parâmetros medidos e
informações de natureza geométrica.
52
Como já foi dito os sensores do sistema de mud-logging estão espalhados na sonda em
diversos pontos, cada sensor possui um cabo que o comunica à unidade de mud-logging. Na
cabine, o sinal elétrico referente à leitura do sensor será condicionado e interpretado.
As informações monitoradas em tempo real são exibidas através de monitores que ficam
instalados na cabine da empresa de serviço e também na sala do representante da empresa
contratante na sonda. A forma de apresentação dos dados na tela pode ser configurada pelo
usuário, o sistema permite a exibição em formato de texto e também em formato gráfico. A
Figura 3.9 ilustra um exemplo das telas utilizadas para o acompanhamento.
53
Figura 3.9.: Exemplo de Telas de Acompanhamento Utilizadas.
Fonte: www.geoservices.com
Como já foi dito, nem todas as variáveis são efetivamente medidas, ou seja, não existe um
sensor correspondente a cada uma das informações exibidas pelo sistema. O que ocorre na
realidade é que muitas das informações exibidas são calculadas pelo sistema. Para que o sistema
possa efetuar o cálculo de certas informações ele precisa ser alimentado com parâmetros de
natureza física e geométrica referentes à operação em curso e aos equipamentos utilizados.
54
• Hook Load ou WOH – Weight on Hook (Carga no gancho): A carga no gancho é lida a partir
de um extensômetro que fica instalado na linha morta (dead-line), situação ilustrada na
Figura 3.10. Periodicamente é necessário eliminar um trecho desgastado do cabo de aço que
sustenta o gancho. Esse trecho é descartado através de uma operação conhecida como “correr
e cortar cabo”. O sensor de carga no gancho é recolocado na dead-line toda vez que essa
operação é executada.
• Torque (Torque atuando na coluna): Existem medidores de corrente que são instalados nas
linhas elétricas que alimentam o top-drive. A leitura é feita em Amperes e em alguns casos
exibida em Amperes mesmo. Essa leitura de corrente pode ser convertida em torque mediante
a aplicação de uma constante multiplicativa se essa constante for conhecida e estiver
disponível. Em alguns casos essa informação é lida da própria sonda, devido à dificuldade de
se instalar o sensor nos cabos da sonda, ou mesmo porque a sonda já possui um sensor de
torque instalado.
55
perfuração conforme ilustrado na Figura 3.11. Nesse caso é necessária a utilização de um
sensor no top-drive para registrar a compensação do mesmo.
• RPM (Rotação da Coluna): Essa informação geralmente é fornecida pela sonda, mas é
possível instalar sensores de rotação no top-drive ou na mesa rotativa (dependendo de qual
deles está sendo utilizado).
• Choke Line Pressure (pressão no choke): Essa pressão é medida no choke manifold da
plataforma.
56
• Heave (amplitude de oscilação vertical da plataforma): O heave é medido por um sensor
conectado ao pistão do tensionador do riser.
• SPP - Stand Pipe Pressure: Essa é a pressão de injeção de lama, que é medida a partir do
stand pipe (tubo bengala) por um sensor de pressão tipo membrana.
• Total Gas (Concentração total de gás no retorno da lama): Um coletor captura o gás presente
na lama e o envia para a cabine de mud-logging. O aspirador, ilustrado na Figura 3.13, está
instalado o mais próximo possível da flowline (geralmente entrada das peneiras). O gás
coletado é conduzido por uma mangueira até a cabine de mud-logging. Na cabine, o gás é
analisado por um equipamento que fornece a concentração de gás presente na amostra.
• Distribuição da Concentração de Gás (gases pesados e leves): O gás coletado na peneira, que
chega até a cabine, é também analisado por um cromatógrafo. O cromatógrafo mede as
quantidades de C1, C2, C3, e C4 presentes na amostra.
• H2S: Existe um sensor de detecção de H2S no ambiente das peneiras. Sensores de H2S
podem também ser instalados em outros locais na sonda.
• Mud Flow Out (Vazão de Saída de Fluido do Poço): Geralmente é medida por um sensor tipo
pá que fica instalado na flow line. Nesse caso, é comum encontrar a medida em porcentagem.
Em alguns casos quando não é possível usar um sensor na flow line, é utilizado um sensor
57
ultra-sônico na entrada da peneira. Nesse caso, a partir do nível medido na entrada das
peneiras é possível inferir uma vazão correspondente.
• SPM – Strokes per Minute (ciclos por minuto): Sensores de proximidade instalados no pistão
da bomba de lama registram o número de strokes (ciclos) realizados num intervalo de tempo.
A Figura 3.14 ilustra o posicionamento do sensor próximo ao eixo do pistão da bomba.
• Mud weight (Peso de lama na entrada e na saída do poço): Medida por um sensor tipo
membrana (um par de membranas) que ficam imersas no fluido em níveis diferentes (através
do diferencial entre as leituras se calcula o peso da lama). O peso da lama é medido antes de
circular pelo poço (tanques de lama) e logo após passar pelo poço (entrada das peneiras ou
outro ponto mais conveniente).
• Temperatura do fluido de perfuração: A temperatura é medida por um sensor que fica imerso
na lama. Da mesma forma que a resistividade e o peso de lama, a temperatura é medida em
dois pontos. Os sensores de resistividade, temperatura e peso de lama estão geralmente
localizados no mesmo ponto.
58
• Nível de Lama: O nível de fluido no tanque é geralmente medido por um sensor ultra-sônico.
Essa medida é utilizada para calcular o volume de fluido no tanque. A Figura 3.15 apresenta
o sensor instalado acima do tanque de fluido de perfuração.
Existe um conjunto padrão de sensores (tipos de sensores) que é geralmente utilizado para
fazer a instrumentação na sonda. Os sensores utilizados são sensores industriais comuns e não
existe uma linha específica de sensores para aplicações em sondas.
Algumas das variáveis exibidas pelo sistema de mud-logging são calculadas a partir de
parâmetros que estão sendo medidos. Para efetuar esse cálculo, o sistema necessita, em alguns
casos, de um conjunto de informações sobre as características da operação em curso. Essas
informações são fornecidas ao sistema via software. Algumas dessas informações são
previamente conhecidas e outras são determinadas no processo de calibração dos sensores.
A seguir serão apresentadas algumas das variáveis que são calculadas e uma breve
consideração sobre como o cálculo é efetuado.
59
• Depth (Profundidade do poço): Somando a altura do gancho, o BHA, as secções acrescidas na
coluna e feitas às devidas compensações, é determinada a profundidade do poço. Note que
para esse cálculo somente é medida a altura do gancho e a amplitude de variação do
compensador de heave. Logo, o sistema precisa saber, por exemplo, o comprimento do BHA,
o comprimento de cada seção adicionada ao poço, o momento em que cada seção é
adicionada, o peso por metro do drill pipe, etc. O conjunto de informações necessárias é
função da estratégia que foi adotada para o cálculo da profundidade.
• WOB – Weight on Bit (Peso na Broca): É calculado a partir da carga do gancho. Nesse caso o
parâmetro medido é a carga no gancho. O sistema precisa conhecer o peso do top-drive, do
BHA, da coluna, enfim, de tudo que estiver sendo sustentado pelo gancho para efetuar a
subtração e determinar o peso sobre a broca. O peso dos componentes sustentados pelo
gancho é determinado através de uma calibração que é feita antes do início de perfuração da
fase. Note que nesse caso, à medida que avança a perfuração aumenta também o peso da
coluna (novas secções de tubo são adicionadas). Assim sendo, o sistema precisa conhecer o
peso de cada tubo que está sendo adicionado à coluna.
• Mud Flow In (Vazão de Entrada no Poço): A vazão das bombas é calculada a partir do
número de strokes por minuto de cada bomba (parâmetro medido). Para isso o sistema precisa
conhecer o volume da câmara e a eficiência da bomba.
• LAG Time (Tempo necessário para fluido para retornar do fundo do poço à superfície): Esse
parâmetro representa o tempo que o fluido leva para circular do fundo do poço até a
60
superfície. Esse valor é calculado através da vazão de lama e do volume de lama contido no
poço. Note que, para esse cálculo, o sistema precisa conhecer os diâmetros do poço, do
revestimento, dos componentes da coluna, bem como a profundidade do poço (instantânea).
Esse parâmetro é usado principalmente para a coleta de amostras de cascalhos nas peneiras
visto que ele representa a defasagem entre o corte da rocha e a chegada do cascalho
correspondente nas peneiras.
Depois de instalados, alguns sensores precisam ser calibrados e o sistema (software) precisa
receber dados para que possa operar corretamente. Essa etapa é muito importante para que se
obtenha um nível maior de confiabilidade nos valores exibidos pelo sistema. Como foi exposto
na secção anterior, existe uma grande quantidade de informações que devem ser fornecidas e um
erro nessa etapa pode distorcer completamente o monitoramento.
Para confirmar se a calibração dos instrumentos foi bem sucedida, os técnicos buscam,
nessa fase inicial, comparar as leituras obtidas pelo sistema de mud-logging com a leitura feita
por outros sistemas (sistema da sonda, unidade de cimentação, etc.). Caso sejam observadas
distorções correções e ajustes podem ser efetuados.
Essa fase inicial de instalação e calibração é bastante intensa. Depois que o sistema está
estabilizado, iniciam-se os trabalhos de monitoramento propriamente ditos. Eventualmente pode
existir a necessidade de se substituir algum sensor durante a operação.
61
Os trabalhos de análise litológica são realizados em intervalos de profundidade definidos
pela geologia. Quando a amostra de determinada profundidade está chegando às peneiras, soa um
alarme na cabine alertando para o fato. Nesse momento, o operador de mud-logging solicita ao
funcionário da sonda que recolha uma amostra dos cascalhos presentes na peneira. A amostra é
trazida até a cabine e a análise litológica é feita.
62
Capítulo 4
Três procedimentos independentes são propostos nesse trabalho. A Figura 4.1 ilustra a
natureza dos procedimentos propostos. O primeiro procedimento consiste na utilização de um
sistema de visualização para acompanhamento da perfuração de poços direcionais. O sistema em
questão utiliza as informações coletadas pelo sistema de MWD para produzir uma interface
gráfica, onde é possível acompanhar visualmente e numa escala adequada a situação de desvio da
trajetória do poço. A aplicação desse sistema trará benefícios para as atividades de controle da
trajetória do poço.
63
Dados de Controle da
MWD
Sistema de Visualização
da Perfuração Trajetória
Relatório
Dados de
Mud-logging
Classificação Automática
de Etapas de Perfuração
Detalhado e
Preciso
Identificação
Procedimento de
Dados de
Mud-logging Identificação de Problemas
Precoce de
Problemas
Nas seções seguintes são descritos os três procedimentos. Nessa descrição, busca-se
inicialmente apresentar o contexto de aplicação, descrevendo brevemente as práticas existentes, e
a seguir apresentar o procedimento proposto e os benefícios esperados advindos de sua utilização.
64
4.1. Aplicação de um Sistema de Visualização para Perfuração
Uma das dificuldades relacionadas à execução de um poço direcional é fazer com que a
trajetória real fique o mais próxima possível à trajetória de projeto estabelecida no planejamento
do poço.
A preocupação em aferir a trajetória real do poço surgiu provavelmente nos Estados Unidos
na década de 20. Nessa ocasião percebeu-se que os poços poderiam não ser necessariamente
verticais. Essa constatação gerou várias disputas judiciais na época, uma vez que poços
perfurados numa determinada propriedade poderiam, na realidade, estar produzindo a partir de
reservatórios localizados em propriedades vizinhas, o que estaria causando sérios prejuízos ao
proprietário vizinho.
Os primeiros poços direcionais perfurados, ao menos no que diz respeito ao seu projeto,
eram poços bidimensionais. Ou seja, toda a trajetória do poço estaria contida num plano vertical
que contém a cabeça do poço. A Figura 4.2 ilustra três tipos consagrados de geometrias para
poços direcionais. Os rótulos A, B e C identificam respectivamente os tipos: “continuous build”,
“build and hold”, e “build, hold and drop” ou tipo “S”.
Dessa forma, num primeiro momento, os poços direcionais eram conceitualmente poços
bidimensionais onde o ajuste do azimute era realizado apenas como forma de compensar a taxa
de “bit-walk” do poço. O “bit-walk” é definido como a variação de azimute que o poço sofre
resultante da própria dinâmica do processo rotativo de perfuração. Essa informação é obtida
geralmente a partir de poços de correlação.
66
Os poços tridimensionais, conhecidos como designer-wells, são projetados de forma a
atingir objetivos que não estejam contidos no mesmo plano vertical. A Figura 4.3 apresenta um
exemplo de poço tridimensional.
Os poços de longo afastamento horizontal são conhecidos como ERW (extended reach
wells) e são definidos arbitrariamente como poços onde o afastamento horizontal é superior ao
dobro da profundidade vertical. Esses poços são poços horizontais que podem ser posicionados
em camadas delgadas do reservatório e atingir objetivos remotos dentro do reservatório.
Os poços multilaterais são poços que possuem mais de uma ramificação e constituem
atualmente uma tecnologia em processo de maturação. Com esses poços seria possível posicionar
cada ramificação em uma posição ótima dentro da estrutura do reservatório proporcionando uma
melhor recuperação dos hidrocarbonetos.
67
A evolução do paradigma bidimensional para o paradigma tridimensional foi acompanhada
de perto pelos softwares que dão suporte as atividades de projeto da trajetória do poço. Os
softwares atualmente disponíveis são bastante adequados ao projeto de trajetórias de alta
complexidade, dispondo inclusive de avançadas ferramentas de visualização.
800
850
900
950
1000
1050 PROJETO ORIGINAL
1100
1150
1200
PROJEÇÃO Vistas Planas
1250
1300 POCO PERFURANDO
1350
1400
1450
1500
1550
1600
1650
Planilhas Numéricas
1700
1750
1800
INCLINACÃO
1850
1900 FOTO INCLINAÇÃO TAXA NECESSÁRIA
1950
2000
NECESSÁRIA POR 100 METROS
PV
2050
2100
2150 PROF INCLI Direçâo LADO LADO LADO LADO
2200
2250
2300 MED. NAÇÂO Azimute BAIXO Centro ALTO BAIXO Centro ALTO
2350
2400 1982 12.77 190.22 9.67 11.80 13.89 -0.47 -0.15 0.17
2450
2500
2550
1993 12.02 195.01 9.85 11.99 14.10 -0.33 0.00 0.31
2600
2650 2007 11.04 196.38 10.08 12.24 14.36 -0.15 0.18 0.50
2700
2750
2800
2025 9.99 197.54 10.36 12.55 14.70 0.06 0.40 0.72
2850
2900
2950
3000
3050
3100
3150
3200
3250
3300 AFAST
-1000
-950
-900
-850
-800
-750
-700
-650
-600
-550
-500
-450
-400
-350
-300
-250
-200
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
900
950
1000
1050
68
A Figura 4.5 apresenta o plano que será visualizado através do visualizador gráfico. Nessa
figura, a linha tracejada representa a trajetória de projeto do poço (trajetória nominal). A linha
contínua representa a trajetória real que está sendo realmente perfurada.
69
A visualização a partir de um plano perpendicular à trajetória foi proposta inicialmente em
1968 como uma ferramenta para a análise de colisões. Essa representação ficou conhecida como
Travelling Cylinder e posteriormente foi adaptada para utilizar dados de MWD (Leder et al.,
1995).
Um dos eixos do sistema móvel de coordenadas deve possuir a mesma orientação da coluna
de perfuração. Foi deduzida uma matriz de transformação que permite relacionar o sistema
original ({A}, mesa rotativa) com o novo sistema ({B}, extremidade da broca). A matriz foi
obtida através de transformações aplicadas no sistema original de referência.
70
de perfuração. A Figura 4.7 ilustra as três rotações aplicadas para orientar o novo sistema de
coordenadas.
{A} Y
X
r
{B} Y
Z
X
PA = r + PB
Z
Figura 4.6.: Translação do sistema de coordenadas.
Y α Z'''
X' X' X'''
Y' Y'
X X Y'' X'' β
γ Z''
Z Z Z'' Y''
Figura 4.7.: Rotações aplicadas para alinhar o eixo Y com o eixo da coluna de perfuração.
Transf (r , Z γ , X α , Yβ ) =
cos γ cos β + sen γ sen α sen β + sen γ cos α − cos γ sen β + sen γ sen α cos β rx
− sen γ cos β + cos γ sen α sen β cos γ cos α sen γ sen β + cos γ sen α cos β ry
(4.1)
cos α sen β − sen α cos α cos β rz
0 0 0 1
71
Note que a matriz de transformação depende da posição instantânea da broca e também dos
ângulos de rotação que são determinados através das vistas planas da trajetória. Dessa forma, a
matriz deve ser atualizada a cada novo trecho perfurado.
A Equação (4.2), onde o índice A se refere à base da mesa rotativa e o índice B se refere à
base na extremidade da broca, pode ser interpretada como uma equação de conversão. Essa
equação permite que um ponto conhecido em relação ao sistema de coordenadas da mesa rotativa
seja representado no sistema móvel de coordenadas posicionado na extremidade da broca.
PB = Transf −1 (r , Z γ , X α , Yβ ) * PA (4.2)
72
O eixo Y do sistema de coordenadas móvel, que está alinhado com o eixo longitudinal da
coluna de perfuração, estaria “entrando” no plano de visualização.
Plano XZ Radar
Norte
X
Oeste Leste
Y
Sul
Para o caso de poço direcional (trecho com inclinação superior a 3 graus), o eixo X conterá
a informação de direita-esquerda e o eixo Z a informação de acima-abaixo (lado alto e lado
baixo) de acordo com a convenção expressa na Figura 4.9.
Plano XZ Radar
Acima
X
Esquerda Direita
Y
Abaixo
73
Os pontos P1, P2, P3, P4 e P5 seriam pontos (ou projeções de pontos) correspondentes a
trajetória de projeto localizados respectivamente a 0, 10, 30, 60 e 90 metros a frente do plano do
visualizador.
Acima
P5
P4
P3
P2
P1 ×F4
×
× F3
×F1 F2
Esquerda Direita
Posição do
Tool-Face
Abaixo
74
A aplicação do visualizador como ferramenta de auxílio ao operador de direcional permite
acompanhamento efetivo de trajetórias tridimensionais e torna mais transparente o processo de
controle de trajetória durante a perfuração do poço.
Essas técnicas, que podem ser consideradas equivalentes, foram deduzidas a partir da
combinação de uma série de relações trigonométricas simples. Apesar das relações envolvidas
serem simples, a combinação resultante é complexa do ponto de vista da visualização do
processo. Isso contribui para que a perfuração direcional seja uma tarefa altamente especializada
na qual a experiência do técnico de perfuração, adquirida ao longo de vários anos, é um fator
decisivo.
Os RSS têm a característica de perfurar o tempo todo utilizando o giro da coluna e mesmo
assim manter um determinado ângulo de tool-face. Esses sistemas não apresentam a dificuldade
apresentada pelos motores de fundo para ao ajuste do tool-face, onde o ajuste se dá pelo giro da
coluna perfuração e está sujeito a ação do torque reativo. Nos RSS o ajuste da orientação da
ferramenta é feito através da transmissão de comandos diretos para a ferramenta que se ajusta na
orientação desejada.
Dessa forma, o visualizador poderia ser utilizado para fechar o “loop” e realimentar o RSS.
Tolerâncias de desvios poderiam ser estabelecidas, e toda vez que o desvio excedesse o tolerado a
ferramenta se ajustaria com base na informação de desvio fornecida pelo sistema de visualização.
76
4.2. Sistema Automático de Classificação de Etapas da Perfuração
Devido ao modo como as informações são registradas no boletim, os registros não são
muito precisos do ponto de vista temporal. Uma das dificuldades em se obter um registro
temporal preciso a partir do BDP é a não uniformidade dos intervalos de classificação.
77
Através da análise de uma amostra de boletins de vários poços, foi observado que o menor
intervalo de classificação utilizado é de 30 minutos, enquanto o maior intervalo observado foi de
24 horas. Isso distorce a totalização do tempo gasto em cada operação porque esse tempo passa a
ser influenciado pela partição do intervalo.
Considerando, por exemplo, a última linha da Tabela 4.1, que se refere a um intervalo de
cinco horas que foi classificado como “Perfurando Orientado”, com certeza outras etapas foram
executadas nesse mesmo intervalo. No entanto, como essas etapas não foram individualizadas no
momento do registro, não é possível saber exatamente quais etapas foram nem o respectivo
tempo de sonda consumido.
78
4.2.1. Etapas da Operação de Perfuração
Para esse trabalho, foram identificadas seis etapas básicas. A Figura 4.11 ilustra o processo
de decomposição da operação de perfuração, e apresenta as siglas que serão utilizadas para
identificar cada uma das seis etapas.
Perfuração
PR RR PNR RANR M C
A Tabela 4.2 apresenta uma breve descrição de cada etapa identificada, destacando o modo
rotativo e não-rotativo.
79
Tabela 4.2.: Descrição das Etapas.
Modo Sigla Descrição da Etapa
Perfurando Rotativo: nessa etapa ocorre a perfuração propriamente dita, a broca
avança efetivamente aumentando a profundidade do poço. A coluna está girando e
PR
há circulação de fluido de perfuração. A coluna não está acunhada implicando num
alto nível de carga no gancho.
Rotativo
Repassando: nessa etapa, apesar de existir um nível alto de carga no gancho,
circulação e rotação da coluna, a broca não avança efetivamente aumentando a
RR
profundidade final do poço. É uma situação onde está havendo repasse de um
trecho já perfurado.
Perfurando Não Rotativo (“Orientado”): nessa etapa a broca avança efetivamente
aumentando a profundidade do poço. A diferença aqui é que a coluna está parada
PNR
e o avanço ocorre devido à atuação da ferramenta de fundo (downhole motors).
Não Existe circulação de fluido de perfuração e um alto nível de carga no gancho.
Rotativo Repassando ou Ajustando Ferramenta: nessa etapa a broca não avança
efetivamente aumentando a profundidade final do poço. Existe circulação de fluido
RANR
de perfuração e um alto nível de carga no gancho. Essa condição indica que está
sendo feito um repasse ou que se está orientando a ferramenta de fundo.
Manobrando: essa etapa é correspondente à adição ou subtração de uma secção
- M na coluna de perfuração. Caracteriza-se pelo acunhamento da coluna que implica
num baixo nível de carga no gancho. A coluna permanece sem rotação.
Circulando: nessa etapa não existe ganho de profundidade. É caracterizada pela
- C circulação de fluido, pelo alto nível de carga no gancho e uma rotação mais
moderada da coluna de perfuração.
As etapas foram definidas considerando apenas as fases que são perfuradas com retorno de
fluido de perfuração para a superfície. Nas fases com retorno de fluido para a superfície, o
sistema de mud-logging está totalmente ativo monitorando os parâmetros da operação.
As seis etapas apresentadas podem não ser adequadas para as fases iniciais da perfuração
do poço (perfuração sem retorno para a superfície), bem como para operações especiais no poço
(pescaria, testemunhagem, etc.).
80
seria necessário um ajuste na definição das etapas através da remoção das etapas de perfuração e
repasse não-rotativos.
Para identificar qual a etapa que está sendo executada, o sistema necessita de algumas das
informações coletadas pelos sensores de superfície do sistema de mud-logging. Esse trabalho
propõe o uso de quatro parâmetros:
Os parâmetros, depois de lidos, são interpretados de acordo com um conjunto de regras pré-
estabelecidas. Como resultado, o sistema irá associar, de acordo com o conjunto de regras, uma
etapa para cada conjunto de informações lido.
Sistema Conjunto de
Regras
81
identificada. Dessa forma, a classificação produzida apresentará a mesma freqüência dos dados
de entrada.
A classificação obtida pode ser utilizada para gerar um relatório das etapas executadas de
maneira automática, gerando dessa forma um histórico cuja precisão reflete a freqüência dos
dados de entrada.
É importante ressaltar que a leitura dos parâmetros de mud-logging, além de ser realizada
online na sonda, poderia também ser realizada a partir de registros armazenados. Ou seja, o
sistema poderia ser utilizado na sonda em tempo real para gerar automaticamente o histórico das
operações, ou também poderia ser utilizado para realizar a classificação de uma base de dados
referente a poços já perfurados.
82
A etapa “Manobrando”, por exemplo, estará caracterizada quando não houver variação na
profundidade, não houver rotação da coluna, houver um nível baixo de carga no gancho e um
nível baixo de pressão no stand pipe.
A definição dos níveis “Alta” e “Baixa” depende dos equipamentos que estão sendo
utilizados. Nesse trabalho foram considerados os seguintes valores:
Essa informação é vital para estudos que busquem minimizar tempo não-produtivo (NPT) e
aumentar a eficiência da operação de perfuração. A utilização racional do tempo durante a
perfuração é particularmente relevante na exploração offshore onde os custos são fortemente
afetados pela variável tempo.
Através da análise dos relatórios de diversos poços será possível estabelecer análises
comparativas e identificar casos onde o gasto de tempo esteja sendo excessivo. Poderia, por
83
exemplo, ser definida uma nova etapa para identificar o tempo gasto em problemas de
perfuração.
Uma vez identificado casos onde houve gasto excessivo de tempo, essa informação pode
ser utilizada no planejamento de novos poços. Dessa forma, durante o planejamento desses novos
poços, ações preventivas podem ser adotadas visando eliminar o gasto excessivo de tempo em
determinada etapa. Essas ações dependerão da natureza do problema observado e podem incluir
desde ajustes no programa de perfuração até modificações no projeto de novos poços.
Outra aplicação possível seria a utilização do sistema para determinar o impacto, em termos
de tempo de sonda, decorrente da introdução de novas ferramentas ou tecnologias. O sistema
permitiria medir a real economia proporcionada por novas ferramentas ou procedimentos.
Devido à precisão e ao nível de detalhamento, a classificação obtida pode ser bastante útil
para análises de benchmark envolvendo diferentes equipes, sondas, campos, etc. Poderia ser
utilizada, por exemplo, para realizar uma análise comparativa do desempenho de diferentes
sondas em relação ao tempo gasto em manobras, ou ao tempo gasto para realizar conexões. Dessa
forma seria possível identificar casos com um desempenho abaixo da média e desenvolver ações
específicas para a melhoria de desempenho.
84
4.3. Procedimento para Identificação de Problemas de Perfuração
O excesso de complexidade pode ser melhor traduzido como falta de praticidade. Alguns
sistemas exigem processos extensos de entrada de dados e de calibração que devem ser repetidos
a cada nova fase. O alto índice de alarmes falsos faz com que esses sistemas percam credibilidade
e, no decorrer do tempo, passem a ser ignorados pela equipe de sonda.
Ciente dessas dificuldades pode-se deduzir que uma ferramenta de detecção antecipada de
problemas de perfuração deve apresentar duas virtudes básicas: facilidade de operação e baixo
índice de alarmes falsos.
85
4.3.1. Procedimento de Identificação de Problemas
A Tabela 4.4 apresenta as observações de superfície que poderiam ser interpretadas como
indícios de problemas no poço. A primeira coluna indica o problema, a segunda coluna indica a
condição do fluido de perfuração, e finalmente a terceira coluna indica qual seria a manifestação
esperada na superfície para cada problema.
86
A “assinatura” consiste numa configuração especial assumida pelos parâmetros de
perfuração frente a cada um dos problemas. Uma vez determinada a “assinatura” do problema,
um sistema automático poderia ser empregado para inspecionar os dados em busca das
assinaturas dos problemas.
Dessa forma o procedimento pode ser resumido nos dois passos descritos a seguir:
87
Podem ser criados níveis gradativos de alarmes dependendo da maior ou menor certeza em
relação à ocorrência do problema. Por exemplo, na presença de um indício fraco, um nível
amarelo de alarme pode ser acionado. Um indício mais forte, ou mesmo a repetição de níveis
amarelos, provocaria um nível vermelho de alarme.
88
formação. Devido à obstrução do espaço anular ocorre também um aumento na pressão registrada
no stand pipe.
As causas que provocam a ocorrência de packer são as mesmas que provocam o acúmulo
de cascalhos no anular do poço. Esse acúmulo pode ser provocado por desmoronamentos da
parede do poço e principalmente por má limpeza do poço.
89
Figura 4.13.: Redução de Velocidade na Transição BHA - Tubo de Perfuração.
O rat-hole corresponde a um pequeno trecho da fase (fundo do poço) que não é revestido
nem preenchido por cimento. Sua formação não é intencional e resulta da dificuldade de se
descer o revestimento até o fundo do poço. Dessa forma, a lama que fica abaixo da extremidade
do revestimento permanece “trapeada” e não é deslocada pelo cimento.
90
Figura 4.14.: Redução de velocidade no rat-hole.
91
Figura 4.15.: Carregamento do Anular durante a perfuração de uma seção.
Em casos mais severos o parâmetro Torque pode também ser afetado. A seguir é descrito o
comportamento esperado para esses parâmetros:
92
• Pressão no Stand Pipe - SPP: como resultado do acúmulo de cascalhos a resistência
hidráulica oferecida pelo espaço anular aumenta provocando uma pressão maior no stand
pipe. Essa pressão deve aumentar progressivamente à medida que o anular do poço vai
sendo carregado de cascalhos. No momento da obstrução do anular um pico de pressão
deve ser observado no stand pipe.
O comportamento descrito para os parâmetros pode ser interpretado como sintomas que
estão relacionados ao problema packer hidráulico. Considerando apenas os parâmetros SPP e
WOH, o algoritmo da Figura 4.16 poderia ser utilizado para o monitoramento.
93
Início
Aumento Não
SPP ok
sustentado?
Sim
Diminuição Não
sustentada? WOH ok
Sim
Alerta Risco
de Packer
Hidráulico
94
Capítulo 5
Resultados
Nesse capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos através da utilização dos
procedimentos propostos no Capítulo 4.
Para a obtenção dos resultados foram utilizados dados de três poços perfurados numa
mesma região. Esses poços foram perfurados no mar e serão identificados como Poços A1, A2 e
A3. Para cada poço foi aplicado um procedimento específico para ilustrar os benefícios
produzidos.
Essas duas fases foram perfuradas utilizando a técnica de perfuração através de motor de
fundo. Durante a perfuração da fase 2 foi utilizada uma broca tricônica; na fase 3, foram
utilizadas três brocas, sendo uma PDC e duas tricônicas.
95
Figura 5.1.: Desenho Esquemático do Poço A1.
Aproximadamente 140 leituras (fotos) foram efetuadas pelo sistema de MWD ao longo da
perfuração desse poço.
A Figura 5.2 apresenta uma vista espacial da geometria do poço. Note que são
apresentadas duas trajetórias na figura. A linha contínua sem marcadores representa a trajetória
nominal ou de projeto, enquanto a linha contínua com marcadores representa a trajetória real do
poço. Os círculos marcadores na trajetória real representam os pontos exatos onde foram
efetuadas as fotos de MWD.
96
15ª Foto
50 ª Foto
115 ª Foto
15ª Foto
15ª Foto
50 ª Foto 50 ª Foto
115 ª Foto
115 ª Foto
A Figura 5.4 apresenta a imagem produzida para o ponto referente à foto de número 15.
Note que nesse ponto o poço ainda é vertical, ou seja, possui inclinação menor que 3 graus. O
centro do radar corresponde à posição instantânea da broca.
A inspeção da imagem permite concluir que o desvio existente nesse momento é da ordem
de 10 metros. Os pontos da trajetória de projeto estão todos agrupados ao norte da broca.
Também é possível notar que para a correção do desvio é necessário ajustar a posição do tool-
face para a direção norte.
Norte (m)
Sul (m)
Figura 5.4.: Trecho Vertical - Visualização para o ponto referente à 15ª foto.
A Figura 5.5 apresenta a imagem produzida para a foto de número 50. Nesse ponto o poço
é direcional. Nesse caso o desvio existente é da ordem de 15 metros e a trajetória de projeto está
abaixo da posição instantânea da broca.
98
Para a correção do desvio é necessário “descer o poço”, ou seja, direcionar o tool-face para
baixo e iniciar perfuração orientada. Mas por outro lado, note que as posições futuras da trajetória
de projeto estão se aproximando progressivamente da broca. Isso indica que ao continuar
perfurando rotativo o desvio irá diminuir e que talvez o mais indicado neste momento seja
continuar perfurando rotativo ao invés de realizar uma correção.
Supondo que seja iniciada perfuração orientada com o tool-face indicado no radar, essa
decisão somente iria agravar a situação de desvio.
Lado Lado
Esquerdo (m) Direito (m)
Figura 5.5.: Trecho Direcional - Visualização para o ponto referente à 50ª foto.
A Figura 5.6 apresenta a imagem produzida para a foto de número 115. Nesse caso o
desvio existente é mais expressivo e é da ordem de 45 metros. A trajetória de projeto está acima e
a direita da posição da broca. Nesse caso para a correção do desvio seria necessário defletir o
poço para cima e para a direita. Para tanto, um ajuste fino no tool-face seria apropriado.
99
Lado Alto (m)
Lado Lado
Esquerdo (m) Direito (m)
Figura 5.6.: Trecho Direcional - Visualização para o ponto referente à 115ª foto.
Por exemplo, para o caso apresentado na Figura 5.6, apesar do visualizador indicar que é
preciso corrigir o poço defletindo-o para cima a fim de eliminar o desvio, é necessário ponderar
também os efeitos que essa correção produziria em termos de dogleg e ondulações no poço.
100
Sistema Automático de Classificação de Etapas da Perfuração
101
Figura 5.8.: Afastamento Horizontal do Poço A2.
Foram classificadas as etapas executadas entre 06:00h do dia 07/09 e 00:00h do dia 10/09,
nesse período o poço avançou aproximadamente 600 metros. No total foram 3960 classificações
efetuadas.
A Tabela 5.1 apresenta uma pequena amostra da classificação produzida para um intervalo
de três horas a partir da 01:00h do dia 08/09. Na primeira coluna são apresentados os rótulos
utilizados para identificar as etapas. A terceira coluna apresenta o tempo em minutos que foi
consumido por cada etapa dentro do intervalo considerado. Para a situação ilustrada pode-se
notar que a maior parte do intervalo de tempo foi gasta em etapas não-rotativas.
102
Tabela 5.1.: Etapas Realizadas entre 01:00h e 04:00h do dia 08/09.
A Figura 5.9 apresenta a classificação produzida num formato gráfico. Nessa figura são
apresentadas informações relativas às mesmas três horas de operação consideradas na tabela
anterior. Os quatro primeiros perfis representam os dados de mud-logging utilizados para
determinar a classificação. O último perfil representa a classificação automática produzida pelo
sistema de classificação, de acordo com os rótulos definidos para cada etapa.
Note que, conforme a classificação atribuída pelo sistema, nesse intervalo ocorreu apenas
uma manobra para adição de secção. É possível também observar que antes da manobra foi feito
o repasse da última seção no modo não-rotativo.
103
Figura 5.9.: Séries Temporais e Classificação de Etapas entre 01:00h e 04:00h do dia 08/09.
104
Figura 5.10.: Séries Temporais e Classificação de Etapas entre 00:00h e 07:00h do dia 09/09.
Note que através dessa figura é possível observar indícios de má qualidade nos dados
utilizados. No perfil de profundidade da broca , os dois trechos destacados representam variações
105
bruscas da ordem de 20 metros na profundidade da broca. Essas variações, provavelmente, não
ocorreram fisicamente no poço e devem ter sido causadas por erros na medição do parâmetro ou
na calibração do software de mud-logging. No perfil de RPM é possível observar um valor de
aproximadamente 270rpm, enquanto a faixa comum de RPM observada foi de 0 a 60rpm.
Figura 5.11.: Séries Temporais e Classificação de Etapas entre 12:00h e 19:00h do dia 07/09.
106
A má qualidade dos dados prejudica o adequado funcionamento do sistema de classificação
e pode induzir erros. Dados de má qualidade resultarão numa classificação igualmente de baixa
qualidade. Para que isso não afete a qualidade da classificação final seria necessário melhorar a
qualidade dos dados utilizados ou mesmo utilizar um procedimento de validação dos dados antes
de sua utilização.
Esse procedimento de validação funcionaria como um filtro que impediria que valores
irreais fossem fornecidos ao sistema de classificação. Apesar da utilização do filtro impedir a
classificação de dados inválidos, para o sistema de classificação, o ideal seria que o processo de
aquisição dos dados fosse melhorado de forma a produzir dados de melhor qualidade.
107
Tabela 5.2.: Comparação entre a classificação automatizada produzida pelo sistema e a
classificação registrada no BDP.
Boletim Diário Classificação Automática
Num da
Linha
(hr)
Descrição do Boletim Rotativo Rotativo M C O
PR RR PNR RANR
1 7/9/03 7:00 2.5 PERFURANDO ORIENTADO. 37% 5% 33% 19% 3% 0% 3%
2 7/9/03 9:30 1.5 PERFURANDO COM GIRO DA COLUNA. 73% 8% 3% 9% 6% 1% 0%
3 7/9/03 11:00 1 PERFURANDO ORIENTADO. 22% 5% 43% 23% 2% 0% 5%
4 7/9/03 12:00 0.5 PERFURANDO COM GIRO DA COLUNA. 80% 3% 0% 17% 0% 0% 0%
5 7/9/03 12:30 1.5 PERFURANDO ORIENTADO. 0% 12% 0% 78% 4% 0% 6%
6 7/9/03 14:00 1 PERFURANDO COM GIRO DA COLUNA. 28% 18% 33% 20% 0% 0% 0%
7 7/9/03 15:00 1 PERFURANDO ORIENTADO. 0% 0% 50% 38% 7% 2% 3%
8 7/9/03 16:00 1 PERFURANDO COM GIRO DA COLUNA. 40% 10% 17% 33% 0% 0% 0%
9 7/9/03 17:00 1 PERFURANDO ORIENTADO. 0% 0% 27% 58% 10% 0% 5%
10 8/9/03 18:00 1.5 PERFURANDO COM ROTAÇÃO DA COLUNA. 40% 17% 27% 16% 0% 1% 0%
11 8/9/03 19:30 1.5 PERFURANDO ORIENTADO. 16% 3% 50% 22% 4% 0% 4%
12 8/9/03 21:00 2 PERFURANDO COM ROTAÇÃO DA COLUNA. 53% 18% 0% 25% 3% 1% 1%
13 8/9/03 23:00 1 PERFURANDO ORIENTADO. 17% 8% 50% 23% 2% 0% 0%
14 8/9/03 0:00 0.5 PERFURANDO COM ROTAÇÃO DA COLUNA. 40% 27% 0% 17% 17% 0% 0%
15 8/9/03 0:30 0.5 PERFURANDO ORIENTADO. 20% 0% 57% 23% 0% 0% 0%
16 8/9/03 1:00 0.5 PERFURANDO COM ROTAÇÃO DA COLUNA. 27% 3% 27% 43% 0% 0% 0%
17 8/9/03 1:30 0.5 PERFURANDO ORIENTADO. 0% 0% 60% 23% 13% 0% 3%
18 8/9/03 2:00 0.5 PERFURANDO COM ROTAÇÃO DA COLUNA. 37% 23% 3% 37% 0% 0% 0%
19 8/9/03 2:30 0.5 PERFURANDO ORIENTADO. 0% 0% 77% 20% 0% 0% 3%
20 8/9/03 3:00 0.5 PERFURANDO COM ROTAÇÃO DA COLUNA. 30% 3% 13% 33% 0% 0% 20%
21 8/9/03 3:30 1 PERFURANDO ORIENTADO. 3% 7% 53% 25% 7% 0% 5%
22 8/9/03 4:30 0.5 PERFURANDO COM ROTAÇÃO DA COLUNA. 60% 7% 13% 20% 0% 0% 0%
23 8/9/03 5:00 0.5 PERFURANDO ORIENTADO. 0% 0% 73% 23% 0% 0% 3%
24 8/9/03 5:30 0.5 PERFURANDO COM ROTAÇÃO DA COLUNA. 27% 20% 13% 30% 0% 0% 10%
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
108
Note pela tabela que a classificação do BDP e do sistema automático se tornam mais
próximas quando o intervalo de tempo considerado é menor. Isso acontece porque para intervalos
menores o BDP consegue fornecer informações mais precisas sobre as etapas executadas. Na
prática, para intervalos maiores, onde geralmente é executado um número maior de etapas, o
fiscal atribui ao intervalo a classificação que ele julga ser mais relevante (a que ocupou a maior
parte do intervalo de tempo, ou a que foi mais produtiva, por exemplo). Dessa forma, informação
detalhada a respeito das etapas executadas é perdida e não pode mais ser recuperada a partir dos
registros do BDP.
A Tabela 5.2 permite também observar que uma pequena percentagem dos dados não foi
classificada. A coluna “O” representa a parcela dos dados que não foram classificados pelo
sistema. A existência de dados não classificados pode ser atribuída a dois fatores.
109
definidas de forma que cada etapa corresponde a uma configuração particular de parâmetros.
Configurações inesperadas de parâmetros podem prejudicar a classificação.
Por exemplo, na etapa “Manobrando”, pode ocorrer um atraso entre o desligamento das
bombas de fluido e o acunhamento da coluna. Durante esse atraso será gerada uma configuração
inesperada de parâmetros que não será reconhecida pelo sistema. A melhoria da qualidade dos
dados de mud-logging e das regras será capaz de reduzir a porcentagem de dados não
classificados.
Utilizando a classificação produzida pelo sistema é possível consolidar num único gráfico a
distribuição do tempo gasto na operação de perfuração. A Figura 5.12 apresenta o tempo
consumido por cada etapa durante as 66 horas de operação classificadas.
Conforme a distribuição, apenas 0,4 % do tempo foi gasto com a etapa “C-Circulando”,
isso é positivo, visto que essa etapa é geralmente considerada não-produtiva. Não foram
observados problemas de perfuração durante o período classificado.
110
O tempo gasto nas etapas “RR - Repassando Rotativo” e “RANR - Repassando ou
Ajustando Não-Rotativo” apresenta-se elevado, principalmente se considerarmos que durante
essas etapas não ocorre aumento na profundidade do poço. Mas é preciso lembrar que parte dos
repasses é na verdade programada, como por exemplo o repasse ao final da secção antes de
realizar a manobra.
Analisando a classificação correspondente aos patamares para este intervalo, vê-se que o
NPT destacado corresponde sobretudo a repasses, manobras e ajuste de ferramenta. Assim sendo,
nesse intervalo o NPT observado pode ser considerado tempo não-produtivo planejado. O último
NPT destacado é uma exceção, trata-se de NPT não planejado, sua causa devem ser investigada a
fim de evitar a repetição desse evento nesse poço e em poços futuros.
111
Figura 5.13.: Identificação de Tempo Não-Produtivo.
Considerando a situação ilustrada na Figura 5.13 um ponto que poderia ser melhorado é a
redução do tempo gasto para ajustar a ferramenta de perfuração. No Poço A2 a tecnologia
empregada foi perfuração com motor de fundo, possivelmente, a utilização de RSS (Rotary
Steerable Systems) nos próximos poços reduzirá o tempo gasto para ajuste de ferramenta.
112
Identificação Antecipada de Problemas de Perfuração - Packer Hidráulico
O packer ocorreu durante a perfuração da terceira fase de um poço offshore que será
chamado de Poço A3. O poço A3 é um poço pioneiro localizado numa lâmina de água de
aproximadamente 1800 metros. O poço é vertical.
113
A terceira fase foi perfurada com fluido catiônico e broca tricônica. Após cortar a sapata do
revestimento de 13 3/8’’, foi perfurado um trecho de poço aberto para realizar teste de absorção.
Após o teste de absorção, iniciou-se a perfuração da fase de 12 1/4". Aproximadamente 12 horas
após perfurar seis seções ocorreu o packer. Nesse momento a broca estava a 2625 metros de
profundidade. O packer causou elevação de 400 psi na pressão de stand pipe (SPP) e provocou
perda de circulação.
Para investigar a existência de uma assinatura característica para esse caso, foram
analisados os dados coletados pelos sensores de mud-logging nas horas que antecederam a
ocorrência do packer. O packer ocorreu pontualmente as 18:30 h.
Observando o perfil de profundidade da broca para esse mesmo trecho podemos ver que o
aumento da SPP coincide com o repasse. Como se pode notar, o sondador vinha realizando um
repasse ao final de cada seção perfurada antes de efetuar a manobra. Dessa forma, a obstrução do
anular ocorreu após a perfuração de mais uma seção quando o sondador puxou a coluna para
executar o repasse.
114
Figura 5.15.: Dados referentes às horas que antecederam a ocorrência do packer.
115
O perfil superior representa a profundidade da broca, nesse perfil os vales indicam os
repasses que foram feitos ao final da perfuração de cada seção.Como se pode observar, após cada
vale ocorre um pequeno patamar que corresponde à adição de uma seção de tubos e
consequentemente marca o início de uma nova seção.
116
O perfil inferior representa a SPP. Os segmentos de reta sobrepostos ao perfil de SPP
representam a mediana (segundo quartil) da SPP em cada seção. O comprimento de cada
segmento representa a duração da perfuração da respectiva seção.
Conforme se pode observar através da Figura 5.16, a partir da segunda seção a SPP
começa a apresentar um comportamento característico de aumento sustentado de pressão. Isto é, a
pressão aumenta à medida que a seção vai sendo perfurada, refletindo o acúmulo de cascalhos no
interior do poço. Após o repasse, que permite limpar um pouco o poço, a pressão diminui no
início da seção e volta a aumentar no final.
Observando o pico de pressão que permitiu identificar o packer ao final da sexta seção, e
comparando com o pico de pressão observado ao final da segunda seção, pode-se concluir que
ambos foram motivados pelo movimento ascendente da coluna de perfuração. Ao puxar a coluna
os cascalhos suspensos atuam obstruindo o anular. Dessa forma, a ocorrência de picos de pressão
ao puxar a coluna no final da seção também pode ser um indicativo de acúmulo de cascalhos no
poço.
117
Ao final de cada seção pode-se observar um pico de carga no gancho, como por exemplo os
picos destacados no final da segunda e quinta seções. Esses picos, conhecidos por drag, são um
indicativo de dificuldade para puxar a coluna. Valores elevados de drag também podem indicar
acúmulo de cascalhos no poço.
118
Finalmente, na Figura 5.18 está representado o comportamento do torque para as seções
que antecederam a ocorrência do packer.
Diferentemente do observado para a SPP e para a carga no gancho, o torque não apresenta
tendências claras de aumento ou de redução ao longo da seção. O que pode se observar é um
aumento progressivo nos valores de torque de uma seção para outra. Esse aumento pode ser
percebido através da elevação dos valores medianos. Comparando a mediana da primeira seção
119
com a mediana da quinta e sexta seções, é possível observar um aumento de aproximadamente
30%.
Após analisar esses três parâmetros (SPP, WOH e Torque) é possível concluir que para o
caso estudado existiu um comportamento particular dos parâmetros nos momentos que
antecederam a ocorrência do packer hidráulico. Esse comportamento pode ser reconhecido como
uma assinatura do problema packer hidráulico.
Infelizmente, para esse caso não foi possível analisar outros parâmetros, como vazão de
retorno e rotação da coluna, porque esses dados estavam indisponíveis. O boletim diário relata
que no momento de ocorrência do packer não houve retorno de lama para a superfície. A análise
da vazão de retorno talvez pudesse ser útil para delimitar melhor a assinatura do packer. Uma
outra medida que seria bastante útil seria a vazão de retorno de cascalhos para a superfície, mas
esse parâmetro não é habitualmente medido.
Uma análise numérica para esse mesmo caso é apresentada na Tabela 5.3. A última linha
da tabela apresenta o resultado que seria produzido utilizando o algoritmo de detecção proposto.
Apenas o exame dos valores médios não permite uma interpretação mais profunda. O
algoritmo de detecção nesse caso teria emitido alarmes nas seções 03 e 04, identificando
precocemente um contexto de packer hidráulico. A adoção de medidas corretivas diante dos
alarmes possivelmente evitaria a ocorrência do packer.
120
Observando particularmente a evolução da média da taxa de penetração (ROP), ilustrada na
Figura 5.19 pode-se concluir que houve um aumento significativo da ROP e conseqüentemente
na taxa de geração de cascalhos.
121
Capítulo 6
Conclusão
Através desse trabalho foi possível concluir que os dados de perfuração atualmente
disponíveis representam uma fonte bastante rica de informação, e que essa informação, quando
interpretada e analisada, pode ser utilizada para melhorar o processo de construção de poços de
petróleo.
123
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126
Anexo I.
Esse anexo apresenta a utilização do Método “Ouija Board” para a correção da trajetória
durante a perfuração de poços de petróleo.
ϕ: Ângulo de tool face da ferramenta direcional (medido em relação ao lado alto do poço);
β: Mudança de ângulo produzida pela ferramenta num trecho perfurado;
inc1: inclinação referente a posição atual do poço (última foto registrada);
az1: azimute referente a posição atual do poço (última foto registrada);
inc2: inclinação desejada após perfurar certo trecho do poço (inclinação no alvo);
az2: azimute desejado após perfurar certo trecho do poço (azimute no alvo).
Dessa forma, é necessário determinar qual deve ser a orientação da ferramenta direcional
para que o alvo seja atingido. A orientação da ferramenta é expressa através do ângulo de tool-
ϕ) que pode ser determinado através de uma das
face ou ângulo de face da ferramenta direcional (ϕ
duas equações abaixo:
sen(inc 2 ) . sen(∆az )
ϕ = arcsen (I.2)
sen(β )
Quando o ângulo β for pequeno (β < 5 graus), a orientação da ferramenta pode ser obtida
de forma gráfica através de um ábaco. A solução gráfica recebe o nome de Método de “Ouija
Board”.
127
Para ilustrar a utilização das equações e do método gráfico, consideraremos o exemplo a
seguir:
Durante a perfuração de um poço sabe-se através dos dados de MWD que a inclinação e o
azimute da última foto são respectivamente 10° e 20°. Sabe-se também que a ferramenta
direcional que está no poço proporciona uma variação de ângulo de 3° a cada 30 metros
perfurados. Determinar o ângulo ϕ com o qual ferramenta deve ser orientada para que o poço
atinja a inclinação de 12,3° e o azimute de 30° depois de perfurados 30 metros.
cos (inc1) . cos (β ) − cos (inc 2 ) cos (10° ) . cos (3° ) − cos (12,3° )
ϕ = arccos = arccos ⇒ ϕ ≈ 45º
sen (inc1) . sen (β ) sen (10° ) . sen (3° )
Para a solução gráfica pelo Método de Ouija Board é necessária a utilização da Figura I.1.
O eixo horizontal da figura representa o lado alto do poço e em sua escala é marcada a
inclinação atual do poço (referente à última foto). Os semicírculos concêntricos representam os
diferentes valores do ângulo β, variando de β = 1° no semicírculo menor até β = 5° no
semicírculo maior.
Para a solução do exemplo, primeiro marcamos a inclinação atual do poço (inc1 = 10°) no
eixo horizontal a partir do ponto O, com isso determinamos o ponto A.
O segundo passo consiste em determinar o ponto B. Isso pode ser feito traçando-se uma
reta a partir do ponto A cuja inclinação em relação ao eixo horizontal correspondente a variação
azimutal desejada (∆az = 30°- 20° = 10°). O ponto B será determinado da interseção dessa reta
com o semicírculo correspondente ao ângulo β proporcionado pela ferramenta utilizada, para o
exemplo β = 3°.
128
O ponto B pode ser também determinado através de um ajuste de reta. Note que o segmento
de reta AB possui comprimento numericamente igual à inclinação final desejada. Ou seja, para
determinar o ponto B bastaria ajustar uma reta de comprimento igual a inc2 entre o ponto A e o
semicírculo correspondente a β = 3°.
12,3°
Inc2 =
B ϕ = 45°
∆az = 10°
A
O
16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
β = 3°
Inc1 = 10°
Maiores detalhes sobre o Método de Ouija Board podem ser encontrados em Bourgoyne et
al. (1986) e Rocha et al. (2006).
129