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Volume II:
Artigos
Imagem da capa:
https://pixabay.com/pt/coruja-bird-animal-natureza-1996169/
Célia Machado Benvenho
José Dias
Junior Cunha
(Organizadores)
RESSONÂNCIAS FILOSÓFICAS
XXII Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea da UNIOESTE
Volume II:
Artigos
Toledo - PR
2018
Copyright 2018 by
Organizadores
EDITORA:
Daniela Valentini
CONSELHO EDITORIAL:
Dr. Celso Hiroshi Iocohama - UNIPAR
Dr. José Aparecido Pereira – PUC-PR
Dr. José Beluci Caporalini - UEM
Dra. Lorella Congiunti – PUU – Roma
REVISÃO FINAL:
Prof.ª Luciana Bovo Andretto
CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN:
Junior Cunha
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
1. Filosofia.
Editora Vivens
Conhecer é Poder!
Fone: (45) 3056-5596
Celular: (45) 9-9995-9031
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...................................................................................... 11
Os Organizadores
I
RESUMO
INTRODUÇÃO
das ações estéticas com as ações morais não possui propriamente valor
moral. Por exemplo, se alguém afastasse o egoísmo do fundamento de
suas ações não pelo dever de tratar as pessoas como fins em si mesmas,
mas pelo fato de o egoísmo ser uma atitude rude ou grosseira, com certeza
teria ações conformes à moral, mas não teria ações com um valor moral.
Nas palavras de Schiller: “o ético nunca pode ter outro fundamento do
que a si mesmo. O gosto pode favorecer a moralidade da conduta, mas ele
nunca pode produzir algo de moral através de sua influência” (SCHILLER,
2004, p. 55). Diante disso, a chamada utilidade moral diz respeito apenas
à conformidade (ou legalidade) moral das ações e não ao seu valor
propriamente moral. Desse modo, qual é a relevância de afirmar a utilidade
moral dos costumes estéticos?
Aqui convém evidenciar qual é a perspectiva que justifica ou
mesmo torna necessária a preocupação com a legalidade moral das ações
independentemente do seu valor propriamente moral. É justamente um
pessimismo acerca da situação moral dos homens de sua época que faz
Schiller defender a relevância da legalidade moral.
2 Apesar de Schiller não dar esse exemplo, pode-se entender esse argumento como a
relação entre dois elementos (água e óleo) que mesmo quando estão num mesmo
recipiente não se misturam efetivamente (um não tem o poder de dissolver o outro).
A autonomia do campo estético... 21
REFERÊNCIAS
RESUMO
justificar o aborto, mas podem ser alcançados sem ele. Sem embargo, a
adoção de métodos contraceptivos ou de planejamento familiar, são
medidas que contemplam os direitos secundários, mas que só podem ser
exercidos até a concepção. Após a concepção, o direito do nascituro só é
assegurado com seu nascimento. Muitos sustentam que os altos índices de
aborto seriam justa causa para sua realização. A debilidade desse
argumento se constata por analogia, pois o alto índice de roubo de carros
não legitima tal prática. Ainda, a máxima “meu corpo, minhas regras”, a
despeito da autonomia da mulher, não aplica em relação ao aborto, pois
nesse caso há ‘outro’ no corpo da mulher.
INTRODUÇÃO
anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e
II, do Código Penal. (STF. ADPF 54, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-2013
RTJ VOL-00226-01 PP-00011).
Assim, a vida é
O primeiro dos direitos cuja garantia ressalta dos termos do art. 153 é o
direito à vida, que, aliás, pressupõe todos os outros direitos. É de
evidência axiomática – frisa Nogueira Itagiba – que, excluído o direito à
vida, não se necessitaria falar em direito à liberdade, à segurança
individual e à propriedade (MALUF, 1980, p. 392-393).
REFERÊNCIAS
_______. Teoria pura do direito. 4. ed., São Paulo: Martins fontes, 2000, p.
17.
RESUMO
INTRODUÇÃO
A frase decisiva diz: καὶ ἔστι πάντα οὐσία - e tudo isto - a saber, o ente
que provém da φύσις - possui o ser do modo da entidade. A expressão
"entidade" (Seiendheit), bem bruta para a escuta habitual, é a única
tradução adequada para οὐσία. Todavía, também essa expressão não diz
muito, sim, ela quase não diz nada. E é precisamente neste ponto que
reside a sua vantagem: evitamos as outras "traduções" correntes, isto é,
interpretações de οὐσία como "substância" e "essencialidade". Φύσις é
οὐσία, isto é, entidade - aquilo que caracteriza o ente como um tal,
precisamente o ser. (2008, p. 272)
A produção por sua vez ocorre em uma "matéria", "substrato". Mas o que
queremos dizer com "matéria"?
A palavra grega para matéria é ὑλή. Para Heidegger a palavra quer
dizer "floresta", "bosque", a "mata", aquilo no qual está aí, disponível para
o produzir. Produzir é dar uma forma-a. Uma árvore num bosque está
disponível-a. A madeira dela proveniente é um utilizável, como algo que
está a mão e ao dispor da τέχνη como empreendimento humano. Ao modo
da τέχνη a transformação-produção não será por si mesma. Entretanto
buscamos a transformação-produção num outro âmbito - a que é por si
mesma. Heidegger destaca que para Aristóteles a ὑλή é τὸ δυνάμει e
acrescenta que "Δύναμις significa a capacidade, ou melhor, a aptidão para"
(2008, p. 293). O que fornece uma outra chave interpretativa da produção.
REFERÊNCIAS
RESUMO
Apesar da forte ligação ética neste artigo é perceptível que o filósofo Artur
Schopenhauer na obra O livre arbítrio pende para a metafísica em uma
investigação de caráter epistemológico, o objetivo é trazer a debate e
análise um dos temas mais antigos na história da filosofia: “O que se
entende por liberdade?” O autor apresenta três definições distintas:
Primeiro a liberdade física, que consiste na ausência de qualquer obstáculo
material. Se diz que os homens e animais são livres quando não há
impedimento físico para suas ações, podendo assim obedecer a sua
vontade. Segunda a liberdade intelectual, que está mais próxima da
liberdade física, segundo Aristóteles essas podem ser voluntárias,
involuntárias ou ainda mistas, entende-se por involuntárias as ações
cometidas por força ou por ignorância, o ato em que o princípio é exterior
ao indivíduo, diferentemente uma ação voluntaria é quando o princípio
motivador da ação se encontre no indivíduo, que ele conheça as
consequências da ação. Entretanto atos mistos, caracterizam-se pela
consciência plena de que a ação praticada é ruim, porém, devido as
circunstâncias, é necessário tal pratica para evitar algo pior. E por fim a
liberdade moral que equivale ao livre arbítrio. O conceito de livre arbítrio
nos passa a ideia de possibilidade de querer, entretanto o autor também
coloca em evidência este ponto, questionando “e podes também querer o
que queres?” Chegando ao conceito de que a liberdade é ausência de toda
a necessidade; uma noção de caráter negativo, partindo desta definição,
cabe agora entender o que o filósofo define como necessário; o resultado
de uma razão dada, de modo que Schopenhauer chega a uma definição de
liberdade sendo o que não é necessário com relação a toda razão suficiente.
Em outros termos, isto indicaria uma vontade individual e independente.
* Toledo 2017
54 Ressonâncias filosóficas - Artigos
este sentido básico que muito se assemelha ao senso comum que abrange
o que chamamos de liberdade política, quando uma determinada
sociedade está sobre um regime que se sobrepõe ao cidadão este seguira
regras forjadas pelo governo obedecerá a normas que vão conta sua
vontade, afirma Schopenhauer “A liberdade política deve esta, por
conseguinte imanada à liberdade física”3.
Visto que já esmiuçamos o conceito de liberdade física, devemos
nos empenar, não mais em uma visão do significado popular, mas em uma
busca de real cunho filosófico.
O próximo conceito é a liberdade intelectual, Schopenhauer neste
momento faz uso da definição de Aristóteles usando suas palavras os
voluntários e os involuntários. Esta liberdade está próxima à liberdade
física, é citada mais como um complemento a lista, segundo o filósofo da
Grécia antiga essas podem ser voluntárias, involuntárias ou ainda mistas.
Entende-se por involuntárias as ações cometidas por força ou por
ignorância, o ato em que o princípio é exterior ao indivíduo,
diferentemente uma ação voluntária é quando o princípio motivador da
ação se encontre no indivíduo, que ele conheça as consequências da ação.
Entretanto atos mistos, caracterizam-se pela consciência plena de que a
ação praticada é ruim, porém, devido as circunstâncias, é necessária tal
prática para evitar algo pior.
Por fim chegamos a problemática pela qual estamos nos guiando,
a liberdade moral, ou livre arbítrio, facilmente perceptível ao analisarmos
uma situação em que o individuo tem a liberdade física assegurada bem
como a vontade de agir, porém por adversidades não materias ele prefere
não cometer a ação que sua vontade certamente está enclinada, esta recusa
da própria vontade pode ser decorrente das mais variadas causas, medos,
promessas, benefício a longo prazo e outros, assim como na liberdade
física a moral depende da ausência destes agentes limitadores, a escolha
por seguir sua vontade parte da simples analise de qual dentre os motivou
no caso que implicam a ação é mais relevante, na liberdade física ainda que
de forma mais sutil por depende efusivamente da força e estratégias
imanentes portanto a escolha sempre presará pelo motivo oposto mais
forte, se o sujeito em questão tiver capacidade e potencial para tal escolha
determinada por si, analisamos que pasta um motivo ser comparado a um
que vá contra e o sujeito terá que escolher o que lhe parece mais valioso “
como prova disso [...] o mais poderoso entre todos os motivos, na ordem
4 SCHOPENAUER,1944, p33
5 PLATÃO, 2003
6 SCHOPENHAUER, 1944, p35
7 SCHOPENHAUER, 1944, p35
58 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
RESUMO:
Este trabalho tem como fito tematizar a ideia de relações sociais em nossa
sociedade. Procurando compreender como indivíduo chegou a um ponto
crítico de consumir produtos sem se questionar acerca disso trocando suas
relações de amor e afeto por mercadorias. Percebe - se um momento em
que nunca se consumiu tanto e que muitas vezes se perceberam tanto
descontentamentos. Constata-se um mundo de pessoas consumistas,
vivendo em uma sociedade de farturas e, ao mesmo tempo, empobrecida
de afeto. Nesse contexto, pessoas trabalham horas a fio sem se dar conta
disto, por estarem consumindo cada vez mais. Nota-se assim, que o mal-
estar hoje, já não se limita a problemas como a fome, miséria, desemprego,
crenças, depressão, instabilidade financeira entre outros, mas a uma
submissão à lógica de consumo que tende a fortalecer frustrações e
reforçar as relações de opressão. Esses fatores evidenciam uma realidade
de grande contradição e aflição real nesta sociedade.
1 [...] foi no pensamento de Freud que Marcuse parece ter encontrado um dos maiores
instrumentos/referências para desenvolver essa perspectiva de ampliação da perspectiva
emancipatória, buscando, simultaneamente, ampliar tanto temática quanto socialmente
as referências capazes de se contrapor à lógica da sociedade capitalista. Marcuse busca
apoiado de modo especial na teoria freudiana da contraposição entre princípio do prazer
e princípio de realidade, afirma que do que se trata de fato é de desenvolver um outro
princípio de realidade que não o que rege a sociedade atual. Com essa perspectiva a ênfase
de processos emancipatórios pode ser direcionada muito mais aos aspectos qualitativos
pelos quais um princípio de realidade se orienta. A busca de elementos para fundar um
novo princípio de realidade, assim, a orientar a identificar do lugar social da negação. Em
Freud se justifica o caráter repressivo dos instintos pelo fato de esse autor pressupor um
conflito irreconciliável entre o princípio do prazer e o princípio de realidade. Como os
instintos básicos estriam sempre em busca do predomínio de prazer, a luta contra eles
seria um constante no interior da civilização: daí o constante e insuperável mal-estar na
civilização (SCHÜTZ, 2013, p. 702).
64 Ressonâncias filosóficas - Artigos
aos objetos ( homens e coisas) que a sensibilidade pode tornar –se fonte da felicidade,
pois nela, de maneira totalmente imediata, o isolamento do indivíduo é superado, e ele
pode aprender os objetos sem que a mediação essencial deles pelo processo da vida social
e, portanto, seu lado infeliz, seja construtivo da fruição. No processo do conhecimento,
na razão, ocorre precisamente o contrario. Aqui a espontaneidade do indivíduo se choca
66 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
necessariamente contra o objeto como contra uma coisa estranha: a razão tem que
superar essa estranheza e captar o objeto na sua essência: não apenas como ele se dá e
aparece, mas também no seu devir (MAAR in MARCUSE, 1997, p. 171).
VI
RESUMO:
Suponho, portanto, que todas as coisas que vejo são falsas; persuado-me
de que jamais existiu de tudo quanto minha memória referta de mentiras
me representa; penso não possuir nenhum sentido; creio que o corpo, a
figura, a extensão, o movimento e o lugar são apenas ficções de meu
intelecto1. O que poderá, pois, ser considerado
verdadeiro? Talvez nenhuma outra coisa a não ser que nada há no
mundo de certo (DESCARTES, 1979, p. 91).
1 Tradução nossa.
A metáfora da “carne”... 69
contato mais íntimo com a obra do filósofo, o leitor é lentamente surpreendido por um
jogo de palavras que exprimem a sensibilidade do autor. Supomos que é justamente esta
perspicácia na escrita que conduz o leitor ao entendimento, ou a um sentir mais profundo,
do pensamento merleau-pontyano, uma vez que, para ele, a filosofia não se separa da
sensibilidade.
72 Ressonâncias filosóficas - Artigos
Eis este rosto bem conhecido, este sorriso, estas modulações de voz,
cujo estilo me é tão familiar como eu o sou a mim mesmo. Talvez, em
muitos momentos de minha vida, o outro se reduza para mim a este
espetáculo que pode ser um sortilégio. Mas altere-se a voz, que surja o
insólito na partição do diálogo ou, ao contrário, que uma resposta
responda bem demais ao que eu pensava sem tê-lo dito inteiramente –
e, súbito, irrompe a evidência de que também acolá, minuto por
minuto, a vida é vivida: em algum lugar atrás desses olhos, atrás
A metáfora da “carne”... 75
REFERÊNCIAS
A “MITEZZA” BOBBIANA
RESUMO
INTRODUÇÃO
A moral não deve ser empírica, ou seja, não deve ser baseada na
experiência humana, não deve ter como fundamento a necessidade social
ou individual. Assim, esta pura filosofia moral só poderia ser a priori
(JUNIOR, 2012. p. 113).
razão. Quanto aos fins, sobre a relação da vontade com a lei moral: “age
como se a máxima da tua ação devesse se tornar, pela tua vontade, lei
universal da natureza” (KANT, 2003, p. 52).
Segundo Kant, uma ação para ser moral precisa passar pela prova
da vontade que quer que esta se transforme numa lei universal. Segundo
esse princípio, a vontade está acima da lei, sendo, pois legisladora dela
mesma. Sendo a moral uma lei da natureza então ela só pode ser universal.
Assim como as leis da natureza são superiores aos desejos dos homens, o
mesmo acontece com a moral, ela não pode sucumbir aos caprichos da
temporalidade. Nesse sentido o homem se vê como um gerador de leis
morais, de tal forma que estas se transformem em leis que sejam universais
mesmo que isso lhe acarrete problemas de interesses pessoais relacionados
com as suas inclinações.
Para Kant conservar cada qual a sua vida é um dever, e trata-se, além
disso, de uma coisa para que todos têm inclinação imediata. “Os homens
conservam a sua vida conforme o dever sem dúvida, mas não por dever e se ele
conserva a vida por dever, então a sua máxima tem um conteúdo moral” (KANT,
2003, p, 25). A ação que se volta para a inclinação só tem sentido moral se agir
pelo próprio dever. Garantir a felicidade por propensão não é um dever. Os
desejos devem estar adequados ao dever. O dever é a necessidade de uma ação
por respeito à lei. E se o desejo não estiver de acordo com o dever, cumpre-se a
lei, a boa vontade, e tal máxima precisa se converter em lei universal. O que vale
é o princípio da ação e não a ação, ou seja, a ação se apoia no dever e este por
sua vez na boa vontade.
Kant argumenta que a boa vontade, assim, seria a vontade de ação
que obedece ao dever, que está de acordo com a lei moral, que se baseia
na razão, não na inclinação. Para que a vontade seja boa, ela deve estar de
acordo com a máxima de que a vontade se transforme numa lei universal.
Assim, a boa vontade, a vontade de agir segundo a lei moral, é a vontade
que o desejo de que a máxima da ação se converta em lei universal.
Portanto, a boa vontade gera a boa ação, que está de acordo com a lei
moral, e por isso a ação seria moral também. Assim, “Agir em
conformidade com o dever é agir em nome dos valores morais, mas com
uma finalidade egoísta. Já agir por dever é agir segundo uma ação livre e
autônoma” (FONTANA & MORMUL, 2016, p. 184).
Kant recorre à temperança nas emoções e paixões, da filosofia de
Platão, de que só é boa a boa vontade pelo querer em si mesmo, que
independe do desejo ou da vontade da pessoa, pois ela é uma “jóia” e
dispensa a utilidade. Afirma que a razão pura é para o conhecimento e não
para a ação que seria unicamente exclusividade da boa vontade. “Se em
um ser dotado de razão e vontade a verdadeira finalidade da natureza fosse
a sua conservação, o seu bem-estar, em uma palavra a sua felicidade, não
escolheria a razão, mas os instintos” (KANT, 2003, p. 23). Entende que
se os seres vivos têm uma razão, a vontade é a felicidade. Se for fim,
teleologia dos seres vivos, do que ter razão e vontade como conduta da
felicidade, a razão seria submissão da natureza, desamor, desejo e boa
vontade, em outras palavras, a razão atrapalharia o princípio da felicidade
e se ela não leva a um fim, ela é ruim, o papel dela seria de conduzir o ser
humano à boa vontade. Mas a vontade nasce da razão e não do instinto,
desejo. Só um ser racional possui tal capacidade.
Kant coloca como principio básico e fundamental da moralidade
o imperativo categórico: “Age sempre em conformidade com uma
máxima que desejarias que pudesse ser ao mesmo tempo uma lei
A “mitezza” bobbiana... 83
universal” (KANT, 2003, p.67). Sobre tais juízos morais, as coisas não são
nem positivas, nem negativas em relação ao bem e ao mal. Os interesses
morais nem sempre estão de acordo com as atitudes humanas, mas sim,
ligadas ao que cada indivíduo quer fazer. O imperativo categórico nada
mais é que a manifestação de um princípio imediato de forma incisiva
sobre a vontade, atuando como uma regra geral da razão.
Os imperativos são entendidos como um dever utilizado para
configurar a necessidade de uma lei objetiva da razão com uma vontade,
que subjetivamente não é determinada como algo necessário, mas
extremamente importante no entendimento conceitual do imperativo
categórico. Ele configura uma ação pertinente ao mundo sensível, que leva
o indivíduo a buscar prazeres no campo do sensível e ao mesmo tempo
inteligíveis, mas em relação ao último deve se comportar de acordo com a
razão pura livre dos sentidos.
“Todos os imperativos se expressam pelo dever e mostra assim a
relação de uma lei objetiva da razão com uma vontade, uma obrigação”
(KANT, 2003, p. 44). O imperativo categórico kantiano passa a ser o único
meio de expressão rigorosa da moralidade. Ao invés de se relacionar
substancialmente com a ação material e o que dela resulta, surge como
decorrência de suas partes com o princípio do qual ela mesma determina.
O essencialmente bom na ação está no seu efeito, seja qual for o resultado.
Esse imperativo pode ser denominado de imperativo da moralidade capaz
de conduzir o homem a felicidade.
Portanto, o imperativo categórico kantiano é um preceito para
pensar uma ética rigorosamente racional, sem lançar mão de um discurso
unificador, metafísico, seguindo os determinantes da moral dominante,
numa sociedade cristã, coincidindo com uma moral evangélica. Mas uma
ética que navega nos limites de uma razão que acaba sendo um grande
problema para a filosofia, ainda não resolvido, apesar de um relativismo
que coloca a ética como um mecanismo de alguns notórios do saber.
qualidades desejáveis, mas se o caráter não for bom de nada adianta. Tanto
a boa vontade quanto a serenidade são “os valores da firmeza, da
seriedade, do desinteresse e da abnegação” (DIAS, 2009, p. 69).
No caso da moralidade, Bobbio sugere que uma moral religiosa
fundada nos preceitos de um ser superior, é uma moral heterônoma, pois
segue a regra de que quem dá a norma e quem a cumpre são pessoas
distintas (BOBBIO, 2009, p. 95). O imperativo categórico é aquele que
prescreve uma ação boa em si mesma, sem condição alguma, é o
imperativo da moralidade. Já os imperativos hipotéticos são aqueles que
prescrevem ações como meios para se chegar a certas finalidades, por isso
eles são condicionados e representam as regras do Direito (BOBBIO,
2011, p. 96). A serenidade é uma característica que deve ser inerente a
todos os seres humanos. Afinal, a virtude está acima do próprio Estado,
da res-pública e das próprias leis.
Portanto, pode-se dizer que é a partir de uma universalidade geral
de uma lei que se estabelece o imperativo categórico descrito da seguinte
maneira: “age só segundo máxima tal que possas ao mesmo tempo querer
que ela se torne lei universal” (KANT, 2003, p. 51), a partir disso a
serenidade bobbiana pode ser consagrada como um imperativo
categórico: “age como se a máxima da tua ação devesse se tornar, pela tua
vontade, lei universal da natureza” (KANT, 2003, p. 52).
REFERÊNCIAS
RESUMO
INTRODUÇÃO
8.1 METAS
REFERÊNCIAS
BOITO, JR. A difícil formação da classe operária. São Paulo: Editora, Xamã,
2003. p. 45-78.
Ronaldo de Oliveira*
José Dias**
RESUMO
INTRODUÇÃO
9.1 A DEMOCRACIA
imagina que terá surpresa no mundo laico por estas suas declarações?
Bobbio lhe respondeu com outra pergunta:
Eu queria perguntar qual surpresa pode existir no fato que um leigo
considere como válido em sentido absoluto, como um imperativo
categórico, o “Não matar!”; e me surpreendo que os leigos deixem aos
que creem o privilégio e a honra de afirmar que não se deve matar
(BOBBIO, in: DIAS, 2008, p. 19).
REFERÊNCIAS
DIAS, José Francisco de Assis. Não Matar: O princípio ético não matar
como imperativo categórico no Pensamento de Norberto Bobbio (1909-
2004). Sarandi: Humanitas Vivens, 2008.
RESUMO
ele chega à finalidade: mostrar ao locutor que ele nada sabe sobre a
Verdade. Podemos com isso constatar a gênese da suspensão sobre a
verdade desde os primeiros diálogos, que não possuíam ainda consigo a
formação de um sistema dogmático, que “definia” a questão da verdade
de uma maneira ideal e lógica, semelhante à suspensão cética.
Arcesilau nos dizia que nada pode ser apreendido pelo intelecto
nem pelos sentidos, pois, tais fontes de experiências não possuem nenhum
estatuto da verdade autoevidente, ou seja, uma verdade em si. A verdade
como autoevidência da ideia era uma suposição defendida principalmente
por Platão em seus diálogos, no qual, a verdade poderia ser concebida a
partir da reminiscência das ideias, ou seja, como um condicionamento para
o rememorar de uma ideia que por si mesma é fundante de si. A ideia
platônica parte da noção de permeabilidade, ela é atemporal não no
sentido de estar fora do mundo, mas sim por estar no transcendental, ou
seja, como condição de possibilidade para o fenômeno. Esta noção de
autoevidência platônica foi criticada por Arsesilau e Carnéades, pois eles
diziam que não há possibilidade de existir algo como uma ideia
autoevidente, clara em si mesma, possibilitante do mundo fenomênico,
pois, se fosse possível tal ideia, ela iria pôr-se à luz, apresentaria-se a nós e
não se esconderia. Como dito, para Arsesilau o mundo é visto como uma
eterna ilusão no qual não podemos conceber nada claramente, a
ascendência da ideia pela mente humana é algo impossível para ele,
contrapondo a noção de Platão de que o homem poderia assim como um
fósforo acender-se, intuir a ideia perfeita condicionante da sensibilidade
(doxa). Em uma leitura de Santo Agostinho sobre os neoacadêmicos,
constatamos que o sábio cético é aquele que de fato não assente nada
como certo, verídico e claro, pois, a figura do sábio apresenta-se como
aquele que nada erra, que não cai na vã ilusão dos sentidos e das paixões,
mas que de certa forma nega a possibilidade do conhecimento positivo
sobre algum fen. Tudo torna-se incerto e impreciso:
[...] resulta que o sábio não dá seu assentimento a coisa alguma, porque
ele necessariamente erra – e isto é impróprio ao sábio – ao assentir a
coisa incertas. E não somente afirmavam eles [os acadêmicos] que tudo
é incerto [...] que não se pode apreender a verdade, isto o deduziam de
uma definição do estoico Zenon, segundo a qual só se pode ter por
verdadeira aquela representação que é impressa na alma pela coisa ,es,a
de onde se origina [...] o verdadeiro é reconhecido pelos traços que o
falso não pode ter. Que tais traços não se encontram em nossas
118 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
RESUMO
1 The forms of intuition provide the basis for certain necessary truths, in particular those
of geometry,in the sense that if the forms of intuition were not as they are the ttuths in
question would not hold, and if we did not have a certain insight into our forms of
intuition, we would not know them.
128 Ressonâncias filosóficas - Artigos
4 Como o próprio Kant afirma na passagem citada por Parsons: "A primeira mantém-se
simplesmente em conceitos gerais, esta última nada pode fazer com o mero conceito,
mas apressa-se a recorrer à intuição, na qual considera in concreto o conceito, embora não
de modo empírico, mas simplesmente numa intuição que apresentou a priori, isto é,
construiu, e na qual tudo aquilo que resulta das condições gerais da construção deve ser
válido também de uma maneira geral para o objeto do conceito construído." Pois foi
construído conforme esse conceito e garantiu sua significação universal, ainda que
instanciado particularmente, no caso da geometria.
132 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. trad. Manuela Pinto dos Santos
e Alexandre Fradique Morujão. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2008.
RESUMO
INTRODUÇÃO
[...] ora, é justamente meu corpo que percebe o corpo de outrem, e ele
encontra ali como que um prolongamento miraculoso de suas próprias
intenções, uma maneira familiar de tratar o mundo; doravante, como as
partes de meu corpo em conjunto formam um sistema, o corpo de
outrem e o meu são um único todo, o verso e o reverso de um único
fenômeno, e a existência anônima da qual meu corpo é a cada momento
o rastro habita doravante estes dois corpos ao mesmo tempo.
REFERÊNCIAS
RESUMO
INTRODUÇÃO
O único indivíduo que faz o que quer é aquele que não tem necessidade,
para fazê-lo, de pôr os braços de outro na ponta dos seus; do que se
depreende que o maior de todos os bens não é a autoridade e sim a
liberdade. O homem realmente livre só quer o que pode e faz o que lhe
apraz. Eis a minha máxima fundamental (ROUSSEAU, 2015, p. 67).
A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão
para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão-somente pelo
querer, isto é, em si mesma, e, considerada em si mesma, deve ser
avaliada em grau muito mais alto do que tudo o que por seu intermédio
possa ser alcançado em proveito de qualquer inclinação, ou mesmo, se
quiser, da soma de todas as inclinações (KANT, 2011, p. 23).
1 Puro princípio condicionado, não podendo ele ser mal (KANT, 2011, p. 21).
Dignidade humana... 155
racional agir, não somente segundo leis, como ocorre na natureza, mas
segundo representação de leis, isto é, segundo princípios. A boa vontade,
conforme afirma o filósofo, não é boa por aquilo que promove ou realiza,
pela aptidão para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão somente
pelo querer, ou seja, em si mesma. Aqui, a razão teórica aparece como
reguladora do conhecimento (intelecto) e, ao mesmo tempo, como
constituidora de um conhecimento, isso na medida em que tem a
pretensão de fornecer uma matéria para o conhecimento que provém da
sensibilidade e que, por isso, é algo transcendente. Por ser simplesmente
reguladora, a razão tenta buscar o transcendente (do em si) e descobre o
seu verdadeiro caminho, realizando a plenitude dos seus anseios.
Em sentido mais específico, a boa vontade não tem como tarefa
dizer se fez uma boa ação. Cabe a ela dizer, que é condicionada ao querer
(nosso querer, não no sentido adjetivo, mas, no sentido condicionado
levando aos meios, funcionando como um axioma – lógica formal).
Afinal de contas, qual é o conteúdo dessa boa vontade que é boa
em si mesma? A resposta nos parece ser bem simples. Segundo Kant, para
pensar realmente a moral é necessário abrir espaço à ideia de liberdade, ou
seja, a noção de escolha. Para isso, o autor mostra que cada ser humano
aparece como um fim, e não apenas como um meio. O homem é aquele
ser que possui uma dignidade igual a todos os outros e, em razão disso, ele
não pode instrumentalizar ou tratar o outro como uma coisa, uma
realidade que depende da boa vontade de cada um.
Desse modo, ao desconsiderar o egoísmo dos homens, diz Kant:
“[...] precisamos combatê-lo por nossa vontade livre se quisermos levar o
interesse geral do bem comum”. Por isso Kant identifica que, sem a
hipótese da liberdade, essa ideia de ação desinteressada, ou seja, essa ideia
de moralidade desapareceria. Essa maneira de pensar surge a partir de
Rousseau, constando a universalidade como ideal de bem comum e de
superação dos simples interesses. A universalidade não exclui os simples
interesses, mas leva em conta os interesses alheios (da humanidade inteira).
Em Kant, ser livre não é a faculdade natural de escolher, não é o
livre arbítrio. O sujeito tem liberdade quando age obedecendo às leis
morais, como sujeito autônomo que impõe a si mesmo, racionalmente, leis
que dependem só dele.
Ao longo desta exposição analisamos inicialmente o pensamento
rousseaniano, em que o conceito de liberdade e o conceito igualdade
foram utilizados como apoio para avançarmos na questão da dignidade e
da liberdade kantiana. A intenção é mostrar o pensamento kantiano como
156 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
FERRY, Luc. Uma leitura das três “Críticas”. Tradução de Karina Jannini.
3. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2012.
RESUMO
dos demais. Nosso cérebro num acidente, por exemplo, se atingido, afeta
diretamente nossa coordenação motora, memória e até mesmo a
consciência, que só existe a partir da ação cerebral. Desse modo,
totalmente dependente, remetendo ao problema anterior, como distinguir
mente e cérebro, seríamos materialistas e a consciência algo que ainda será
descoberto? Ou apenas a representação do conjunto de um sistema que
ainda não mapeamos por completo? Parece que algumas respostas
dependerão dos próximos avanços neurocientíficos.
3 <https://www.if.ufrgs.br/cref/?area=questions&id=223>
4 Orgão ligado à medula espinhal. Responsável pelo controle das funções vitais, como a
respiração, por exemplo. <http://www.uff.br/WebQuest/pdf/resp.htm>
Do problema mente-corpo... 165
REFERÊNCIAS
RESUMO
Em primeiro lugar, Tales não recorreu ao animismo; isto é, não dizia que
chove porque o deus da chuva está zangado ou que os mares são
profundos porque os deuses assim determinaram. Em segundo lugar, fez
a audaciosa afirmação de que o cosmo era algo que a mente humana
podia compreender. Seu feito mais espetacular, e que provou sua tese,
foi a previsão de um eclipse para 585 a.C. – ele realmente ocorreu. Tales
pôs o mundo intelectual na senda da reflexão sobre o modo como as
coisas funcionavam, uma senda que continua sendo trilhada em nossos
dias.
5 Não havia a distinção entre filósofos e cientistas no período pré-socrático. Por essa
razão, as teorias filosóficas também foram as primeiras interpretações científicas da
natureza. No caso dos pré-socráticos, Juergen Heinrich Maar, renomado historiador da
Química, apresenta-os como os primeiros químicos do Ocidente (Cf. Cap. 2. História
da Química. Primeira parte: dos primórdios a Lavoisier (2.ed.). Florianópolis: Conceito
Editorial, 2008).
Dos pré-socráticos a Aristóteles... 175
Nada tem a ver com a observação. Tomemos, por exemplo, algumas das
teorias acerca da forma e da posição da Terra. Dizia Tales, ao que consta
(A15), “que a Terra é sustentada pela água sobre a qual se move como
6 As teorias dos pré-socráticos também podem ser chamadas de prototeorias, pois já não
são mais interpretações de cunho mitológico e ainda não são teorias genuinamente
científicas. Elas estariam no estágio intermediário.
176 Ressonâncias filosóficas - Artigos
8Cf. POPPER, 2014. Popper faz uma observação em relação aos pitagóricos e a doutrina
que cultuam. Nesse livro, Popper cita inclusive um relato sobre um possível discípulo de
Pitágoras que teria revelado alguns secretos da seita pitagórica e foi morto por isso.
Dos pré-socráticos a Aristóteles... 179
A ideia grandiosa que estes homens transmitiram foi que o mundo à sua
volta era algo que podia ser compreendido, [...]; que o mundo não servia de
local de recreio aos deuses, fantasmas e espíritos que agiam sob o
impulso do momento e mais ou menos arbitrariamente, movidos por
paixões, por ira, por amor e por desejo de vingança, dando livre curso
aos seus ódios e podendo ser apaziguados por ofertas devotas. Estes
homens libertaram-se da superstição e não pactuaram com nada disso.
Encararam o mundo como um mecanismo bastante complicado, que
agia de acordo com leis inatas e eternas, e que eles tinham curiosidade
de descobrir.
9 Popper (2014) fala da exceção que foi a teoria dos atomistas, Leucipo e Demócrito. Para
ele, essa teoria, pelo período em que se encontrava, destacava-se pelas mesmas
características das teorias dos primeiros pré-socráticos, a ousadia em oferecer uma nova
teoria como explicação para a natureza e o uso do método hipotético-dedutivo.
Dos pré-socráticos a Aristóteles... 181
É preciso, com efeito, perseguir a verdade, partindo das cosias que estão
sempre no mesmo estado e não efetuam nenhuma mudança. Tais são as
coisas celestes: estas, de fato, não aparecem, ora com tais caracteres, uma
outra vez, com caracteres diferentes, mas sempre idênticas e sem
participar de nenhuma mudança (ARISTÓTELES, 2006, XI, 6, 1063ª10-
15).
REFERÊNCIAS
BARROS, Roque Spencer Maciel de. Karl Popper: a busca inacabada. In:
PEREIRA, Julio Cesar P. (Org.). Popper: as aventuras da racionalidade.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995.
RESUMO
17.1 A MÁ-FÉ
Ah! Mas eu estou arrependida, meu senhor! Ah! Se vós soubésseis como
estou arrependida! E também minha filha está arrependida, o meu genro
sacrifica uma vaca todos os anos e ao meu neto que vai para os sete anos,
já o educamos no arrependimento: é manso como um cordeiro, muito
loiro e já penetrado pelo sentimento do seu pecado original (SARTRE,
1962, p. 25).
Livre? Eu não me sinto livre. Podes conseguir que tudo isso não tenha
acontecido? Sucedeu qualquer coisa que já não temos a liberdade de
desfazer. Podes impedir que sejamos para sempre os assassínios da nossa
mãe? (SARTRE, 1962, p. 134).
REFERÊNCIAS
_____. A náusea. Trad. Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
RESUMO:
INTRODUÇÃO
18.1 DEMOS
1 Este livro pretende oferecer uma explicação sobre a crescente hostilidade europeia
contra o estado de Israel. Para Milner (apud Mazel, 2007), alguns países europeus hoje
veem o estado judeu como um obstáculo para a Europa expandir sua influência pelo
mediterrâneo e o mundo árabe.
Fabulações em torno da filosofia de Rancière... 205
títulos? Segundo Rancière (2014), não. Para o autor, “a condição para que
um governo seja político é que seja fundamentado na ausência de título
para governar” (RANCIÈRE, 2014, p. 60). Esta é, para Rancière (2014),
uma das razões pela qual Platão não exclui o sorteio de sua lista de títulos.
O título fundamentado na ausência de título provoca uma dúvida sobre a
legitimidade dos outros títulos, traz à tona o fundamento da igualdade
sobre o qual a política constitui-se. Este é o princípio de um governo não
mais atado às diferenças naturais e sociais. Portanto, o princípio de um
governo político.
O autor destaca a necessidade desse título fundamentado na
ausência de título para governar. Trata-se de um título suplementar.
Comum a todos, mesmo àqueles que nada possuem. Este é o título que
possui o demos. O título anárquico:
2 What anarchy means is the absence of an arkhé. [...] And arkhé is in the same time beginning and a
principle, you know. So, arkhé is what? those who are at the beginning and also those who have the
capacity, the capacity to lead. To lead the community. And I think politics happen with anarchic
disruption. [...] It's an affirmation and a practice of power, that is the power of anybody at all, meaning
precisely the power of those who have no reason to govern (RANCIÈRE, 2013).
208 Ressonâncias filosóficas - Artigos
18.4 IGUALDADE
3 Moreover, it can be seen how the presupposition of equality allows us to conceive of anarchism in a
positive way, without falling into the trap of speaking for others. If the critique of domination is one side
of the anarchist coin, the presupposition of equality is the other. It is because equality is presupposed, that
domination becomes intolerable. The use of power over another is deleterious in that it violates that person’s
equal ability to determine his or her life. This, it seems to me, is the vital nerve of all anarchist thinking
and practice (MAY, 2007, p.25).
Fabulações em torno da filosofia de Rancière... 211
4 “Esta forma morbosa o bestial de la voluntad de poder consiste en el deseo individual de dominar a los
demás en el placer, muchas veces sádico, de doblegar la voluntad ajena, de poner el pie sobre las cabezas
ajenas inclinadas” (FABBRI, 2000, p.51).
214 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
BERGSON, Henri. The Two Sources of Morality and Religion. Garden City:
Doubleday Anchor Books, 1935.
RESUMO
1 Não apenas para compreender a existência do ser-aí, mas também para compreender o
plano geral do tratado Ser e tempo, é necessário que se compreenda um conceito ligado ao
outro. Há aqui uma dificuldade específica da leitura e compreensão da estrutura de Ser e
tempo. Um conceito está intimamente ligado e relacionado ao outro. Não há como falar
de ser-aí sem falar de existência, possibilidades, facticidade, analítica existencial, e assim
por diante. Embora alguns conceitos centrais de Ser e tempo não tenham sido trabalhados
no presente artigo, não quer dizer que não sejam parte do projeto da ontologia
fundamental, pois não há como pinçar um conceito e tratar somente dele, sem
permanecer no contexto geral do pensamento de Ser e tempo. Nesse sentido,
compreendemos uma forte ligação entre o pensamento hermenêutico fenomenológico
de Heidegger e o seu modo de escrita, que nos parece condizer muito com a hermenêutica
enquanto movimento circular. Não se trata, portanto, de um pensamento de causa e
efeito ou que parta de um início para um fim, mas sim de um pensamento envolto no
círculo hermenêutico. E isso do mesmo modo como a forma de escrita que não se pauta
mais em dualismos, mas em um círculo em que todos os constituintes são extremamente
relevantes, pois se complementam e correlacionam.
Fenomenologia enquanto atitude e escrita filosófica... 223
2Assim como o termo ser-aí (Dasein) já havia sido utilizado por Kant e por Hegel, mas
com outro significado.
224 Ressonâncias filosóficas - Artigos
3Ser-aí não é “sujeito”. Não há mais pergunta pela subjetividade (HEIDEGGER, 2009,
p. 230).
226 Ressonâncias filosóficas - Artigos
como das expressões “vida” e “homem” para designar o ente que nós
mesmos somos (HEIDEGGER, 2008, p. 82).
antes de tudo, não deve ser analisado, mas deve ser compreendido em sua
totalidade.
O filósofo trata do modo de ser do homem, não como anthropos,
como psiké ou como bios, como o fazem as ciências empíricas, mas
compreende esse modo de ser como ser-aí. É, portanto, a partir de uma
analítica existencial, que nos mostra a diferença ontológica entre ser e ente,
que podemos compreender o ser-aí como condição de possibilidades e
não como determinações sociais, psicológicas ou mesmo, fisiológicas.
Sendo assim, para o pensamento fenomenológico heideggeriano,
se há uma determinação possível ao ser-aí, ela pode ser única e
exclusivamente condição de poder-ser no mundo. Ora, esse é um
pensamento completamente diferente daquele já cristalizado da tradição
filosófica. Há, portanto, a necessidade de tecer uma crítica à metafísica,
pois a fenomenologia-existencial de Heidegger não permite uma
compreensão pautada em pressupostos causais, deterministas e
subjetivistas, tampouco uma análise (Analyse) que decompõe o ente em
partes para investigações de cunho científico.
O ser-aí é um ente de possibilidades que existe no mundo, um ente
privilegiado que compreende sua existência e pergunta pelo seu sentido,
diferente dos demais entes que estão simplesmente dados. Devido a isso,
o ser-aí não pode ter determinações e não pode ser compreendido como
mera entidade, uma vez que traz consigo a marca do poder-ser possível.
Assim, é possível compreender por meio de uma analítica existencial, que
Heidegger reformula a ontologia e que esta não se pauta mais em
pressupostos tradicionais e positivos, mas apenas na condição de poder-
ser do ser-aí.
Em razão disso, Heidegger não só criticou o equívoco das ciências
naturais, mas também apontou para a necessidade de pensar em uma nova
forma de “olhar” para o fenômeno. Essa nova forma carece de um modo
de investigação diferente das ciências, que seja capaz de compreender o
fenômeno tal como ele se mostra, em sua totalidade. Esse, portanto, é o
papel da fenomenologia em contraposição às ciências e à metafísica.
Heidegger preocupou-se com uma nova forma de compreender o
ser dos entes e a partir da analítica existencial pôde afastar-se das
hipostasias que a metafísica tradicional carregava consigo. No entanto,
além de chamar a atenção para a diferença ontológica e o sentido do ser
dos entes, o pensador alemão propôs um novo “método”: uma ontologia
que fundamentasse todas as demais, pois todo projeto para uma “nova
230 Ressonâncias filosóficas - Artigos
Esse “método” difere dos demais, pois não traz consigo um sujeito
e um objeto em que há a necessidade de um artifício técnico-científico, ou
mesmo de um método analítico, para que um explique o outro. A
fenomenologia se distancia das ciências naturais e se apresenta como uma
ciência dos fenômenos. É a partir dessa “ciência dos fenômenos” que nós
(fenômenos humanos – ser-aí) podemos compreender os entes
(fenômenos) tais como se mostram. Isso significa dizer que por meio da
atitude fenomenológica, devemos ver os entes tais como se revelam.
A fenomenologia, portanto, pretende “deixar e fazer ver o
fenômeno” (HEIDEGGER 2002) sem contar com uma pressuposição
sobre sua aparência, transfigurada ou obscurecida por uma espécie de
representação, seja ela de origem racional ou empírica. As pré-
determinações oriundas das ciências naturais devem ser deixadas de lado,
pois, do contrário, o esforço fenomenológico de ver o ente a partir dele
mesmo se esvai e continuamos a repetir o erro de analisar o ente desde
uma compreensão derivada.
A atitude fenomenológica, no entanto, não é simplesmente um
deixar-se tocar pelo fenômeno, mas, além disso, é um exercício e um
esforço por afastar toda e qualquer determinação e definição que
comprometa o deixar-se mostrar do fenômeno. Devido a isso, “tanto para
Husserl quanto para Heidegger, a fenomenologia está preocupada com a
caracterização dos modos básicos nos quais encontramos as coisas, uma
investigação que é, ao mesmo tempo, uma investigação de como as coisas
tornam-se manifestas para nós” (GREAVES, 2012, p. 24).
Desse modo, compreendemos que tanto Husserl quanto
Heidegger se distanciam dos diferentes métodos utilizados para conhecer
os fenômenos, especialmente aqueles cujo objetivo é explicar (Erklären) e
analisar (Analyse) as suas propriedades. O método explicativo, muito
utilizado anteriormente pelas ciências e pela metafísica clássica, consistia
basicamente em “identificar relações constantes entre fenômenos ou
séries de eventos, cuja regra geral tem a forma lógica da ligação entre causa
e efeito” (GIACOIA JR, 2013, p. 31).
Heidegger entende esse método como específico das ontologias
regionais (ônticas), o que significa que embora ele não sirva para uma
analítica existencial, não é de todo equivocado para as ciências naturais.
Devemos ressaltar que o objetivo de Heidegger não é destruir as ciências
e seus respectivos métodos, mas sim, mostrar que a filosofia, enquanto se
propõe a investigar o sentido do ser dos entes, deve preocupar-se com
232 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo. A existência para além do sujeito: a crise
da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de
uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais.
Rio de Janeiro: Edições IFEN: Via Verita, 2011.
NUNES, Benedito. Heidegger & Ser e tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2002.
RESUMO
INTRODUÇÃO
Isto posto, passamos a discorrer sobre cada uma delas, com fulcro
na análise filosófico-sociológica e midiática, educação e culturas (no plural
mesmo).
Filosofia na web... 239
Fonte: Disponível em
.https://www.facebook.com/colectivo.filosofia/photos/a.359237200930441.
1073741826.359237104263784/683966081790883/?type=3&theater. Acesso em 25 set
2017, 17h10m
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/colectivo.filosofia/photos/a.359237200930441.107
3741826.359237104263784/683964868457671/?type=3&theater Acesso em 25 set
2017, 16h28m
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/colectivo.filosofia/photos/a.359237200930441.1073
741826.359237104263784/678528499001308/?type=3&theater, acesso em 24 set 2017,
15h14m
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/colectivo.filosofia/photos/a.359237200930441.10737
41826.359237104263784/678505209003637/?type=3&theater, acesso em 23 set 2017,
09h58m
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/colectivo.filosofia/photos/a.359237200930441.1073
741826.359237104263784/675892039264954/?type=3&theater, acesso em 23 set 2017,
09h31m
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/coffeephilosophical/photos/pb.419276194761424.-
2207520000.1507568422./1588844747804557/?type=3&theater, acesso em 05 set
2017, 17h11m
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/coffeephilosophical/photos/pb.419276194761424.-
2207520000.1507568422./1586501498038882/?type=3&theater, acesso em 05 set
2017, 16h57m
Filosofia na web... 251
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/coffeephilosophical/photos/pb.419276194761424.-
2207520000.1507568422./1586501308038901/?type=3&theater, acesso em 04 set
2017, 13h45m
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https://www.facebook.com/coffeephilosophical/photos/pb.419276194761424.-
2207520000.1507568422./1582233115132387/?type=3&theater, acesso em 04 set
2017, 13h32m
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/coffeephilosophical/photos/pb.419276194761424.-
2207520000.1507568422./1580501838638848/?type=3&theater, acesso em 01 set
2017, 07h30m
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/485846074767122/photos/a.486712341347162.12510
2.485846074767122/1387091954642525/?type=3&theater. Acesso em 08 Out 2017,
18h22m
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17h14m
Filosofia na web... 257
Fonte: Disponível em
https://www.facebook.com/485846074767122/photos/a.486712341347162.125
102.485846074767122/1236695113015544/?type=3&theater, acesso em 08 out
20h16m
REFERÊNCIAS
RESUMO
Para que uma lei possa valer moralmente, isto é, como fundamento
de uma obrigação, ela precisa se mostrar como uma necessidade absoluta,
válida para todos os homens que partilham de leis propriamente morais,
por conseguinte:
[...] a razão nos foi proporcionada como razão prática, isto é, como algo
que deve ter influência sobre a vontade, então a verdadeira destinação
da mesma tem de ser a de produzir uma vontade boa, não certamente
1 Segundo a definição de Kant (2003, p.67): “É absolutamente a boa vontade que não
pode ser má, e, portanto, quando sua máxima, ao ser transformada em lei universal, não
pode nunca se contradizer”. Nesse sentido, verificamos que a vontade nunca pode entrar
em contradição consigo mesma, portanto, esse imperativo é categórico.
2 Os outros imperativos citados por Kant, por hora, não serão tratados.
Fundamentação da metafísica dos costumes... 265
3Para Kant (2003, p.22): “A boa vontade não é pelo que promove ou realiza, pela aptidão
para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão-somente pelo querer, isto é, em si
mesma. E considerada em si mesma, deve ser avaliada em grau muito mais elevado do
que tudo o que por meio dela puder ser alcançado em proveito de qualquer inclinação
ou, se quiser, da soma de todas as inclinações”.
266 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
LEITE, Flamarion Tavares. 10 Lições sobre Kant. São Paulo: Saraiva, 2015.
HANNAH ARENDT:
uma crítica á noção de progresso a partir de sobre a violência
RESUMO
pois o progresso não é mais válido como parâmetro para se medir e avaliar
a ação humana.
1 A respeito desta discussão ver seu ensaio “A Conquista do Espaço” presente no livro
Entre o Passado e o Futuro.
2 Idem, ibidem, p. 29.
Hannah Arendt... 271
3Cf. ARENDT, H. “A Conquista do Espaço,” p.327 In: Entre o Passado e o Futuro. São
Paulo: Perspectiva, 2003.
272 Ressonâncias filosóficas - Artigos
construção hipotética acerca dos eventos futuros pois aquilo que primeiro
aparece como hipótese dentro de uma fórmula, torna-se em geral, após
algumas linhas, em um “fato.” Isso não é “científico” finaliza Arendt, mas
“pseudocientífico”, pois toda e qualquer ação humana: “para o melhor ou
para o pior, todo acidente, destroem necessariamente todo o modelo em
cuja estrutura move-se a previsão, e no qual ela encontra a sua evidência.”4
Para os adeptos desta perigosa superstição,5 o progresso só faria
sentido se detivéssemos pleno controle acerca das ações humanas, i.e se
elas fossem manipuláveis como eventos físicos. Mas este não é o caso
segundo Hannah Arendt, que concebe a história como sendo composta
de eventos singulares, acontecimentos únicos que se constituem em
rupturas. Não há para a autora, um grande livro da história único e
dialeticamente inteligível, mas sim, um grande livro sobre as múltiplas e
diversas histórias das ações humanas. Bem verdade, a ciência torna-se,
pois, como acusavam sobriamente os movimentos estudantis e as
rebeliões dentro do contexto norte americano, um reduto para as
tecnologias de guerra e para produção de simples objetos de consumo, e
somente em um mundo onde ninguém mais agisse e nada de importante
acontecesse poderia realizar o sonho dos futorologistas.
É nesse sentido preciso que Arendt afirma: “Não preciso
acrescentar que todas as nossas experiências neste século, que sempre nos
confrontou com o totalmente inesperado, estão flagrantes contradição
com estas noções e doutrinas [...].6 De acordo com Arendt, qualquer
concepção ideal de progresso foi simplesmente dissolvida devido a
ascensão do totalitarismo nazista e soviético. E num sentido ainda mais
específico, mesmo a rebelião estudantil inspirada quase em sua totalidade
em questões morais é um exemplo destes eventos inesperados. De acordo
com Arendt (2009, p. 16), querer ordenar a ordem dos assuntos humanos
e os eventos inesperados e imprevistos a partir de padrões filosóficos e
científicos é condená-los à irrelevância, pois tais teorias operam em cima
de teorias que retiram suas evidências de hipóteses aparentemente
consistentes, mas que, impossibilitam a compreensão e o discernimento
devido daquilo que se passa.
REFERÊNCIAS
_______. Crises da república. 2ª. ed. Trad. José Volkmann. São Paulo:
Perspectiva, 2004.
7 Idem, p.30.
Hannah Arendt... 275
RESUMO
Brentano via na alma uma substância que tem sensações – imagens perceptuais e
fantasias, atos de memória, de expectativa ou medo, desejo ou aversão; por substância,
uma entidade na qual outras coisas subsistem mas que, ela mesma, não subsiste em nada,
“o sujeito último”. Nada mais distante do ideal de psicologia empírica do filósofo.
280 Ressonâncias filosóficas - Artigos
4 Huemer (2010, p. 5) observa que a palavra alemã para percepção, Wahrnehmung, significa
literalmente “tomar por verdade(iro)”.
Intencionalidade como princípio... 281
10 A edição inglesa adotada traduz Vorstellung por presentation e, mais raramente, idea ou
thought; vorgestellt, por sua vez, é vertido por presented como uma das variações de to think
of – do verbo alemão vorstellen (Linda McAlister, apud BRENTANO, 2009, p. xxi). No
histórico das traduções de Brentano já foram utilizadas outras alternativas para verter
Vorstellung, tais como representation e contemplation (KRIEGEL, 2014, p. 9). A opção da
edição Routledge acentua o modo representacional próprio do fenômeno da Vorstellung: ele
é um fenômeno psíquico caracterizado pela in-existência “neutra”, diríamos, de seu
correlato intencional, presente à mente como fundamento ou classe mais básica dos
estados de julgamento ou interesse. Cientes de que outras traduções são possíveis no
vernáculo – como, por exemplo, a opção por “presentação” que aparece na obra de
Richard Sokolowski, Introdução à Fenomenologia (Rio de Janeiro: Loyola, 2010) – e
Intencionalidade como princípio... 285
de que os sentidos da palavra alemã variam em Brentano e Freud, optamos por traduzir
Vorstellung, aqui, por representação.
286 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
RESUMO
INTRODUÇÃO
1 Na terceira meditação Descartes (2004, p. 71) afirma que: “[...] já posso estabelecer
como regra geral que: é verdadeiro tudo o que percebo muito clara e muito
distintamente”.
292 Ressonâncias filosóficas - Artigos
3Sobre essa questão Rego (2005, p. 225) complementa que: “[...] o princípio da finalidade
da natureza que não é um entendimento superior, mas a hipótese de um entendimento
superior em relação ao qual a natureza é final, é um princípio ‘heautonomo’ da faculdade
do juízo. Isso significa: um princípio que a faculdade do juízo tira de si mesma – heautou –
e confere a si mesma – heauto. Tirar de si memsa, conferir a si mesma, utilizar, admitir,
servir-se, de, pressupor; o ‘como se’ da finalidade diz que a natureza na multiplicidade de
suas formas pode ou bem ser conforme a um entendimento ou bem não o ser; mas diz,
sobretudo, que nós teremos que nos comportar em relação a ela apostando nessa
conformidade se, e somente se, estivermos comprometidos com a tarefa de conhece-la
exaustivamente. O princípio hipotético, heautonomo e subjetivo da finalidade da
natureza é, assim, um pressuposto de cognoscibilidade”.
Kant e a revalorização da estética... 297
4 A faculdade de juízo reflexiva surge aqui como a reflexão autônoma que apresenta a
colocação da natureza (Entendimento) e da liberdade (Razão) em uma relação harmônica,
realizada a partir de um trabalho complementar que visa fornecer uma lei lá onde as leis
do entendimento (categorias) não alcançam: as tantas formas múltiplas que existem na
natureza também devem poder ser pensadas, ainda que isso não possa ocorrer de modo
objetivo. Essa lei meramente reflexiva diz respeito só à possibilidade de uma natureza em
geral, e não à natureza determinada, tarefa que cabe às as leis dadas a priori pelo
entendimento. Para esse último caso a faculdade de juízo obtém de outro lugar o seu
princípio, a saber, a faculdade de juízo não pode dá-lo para si mesma, já que as categorias
obtidas pelo Entendimento se justificam como as condições universais da experiência do
conhecimento objetivo.
5 Afirma Kant (1995, p.32-33; XLII-XLIII): “Aquilo que na representação de um objeto
é meramente subjetivo, isto é, aquilo que constitui a sua relação com o sujeito e não com
o objeto, é a natureza estética dessa representação; mas aquilo que nela pode servir ou é
utilizado para a determinação do objeto (para o conhecimento) é sua validade lógica. No
conhecimento de um objeto dos sentidos aparecem ambas as relações. Na representação
sensível das coisas fora de mim a qualidade do espaço, no qual nós as intuímos, é aquilo
que é simplesmente subjetivo na minha representação das mesmas (pelo que permanece
incerto o que eles possam ser como objetos em si), razão pela qual o objeto é também
pensado simplesmente como fenômeno; todavia, e independentemente da sua qualidade
subjetiva, o espaço é uma parte do conhecimento das coisas como fenômenos. A sensação
(neste caso, a externa) exprime precisamente o que é simplesmente subjetivo das nossas
representações das coisas fora de nós, mas no fundo o material <das Materielle> (real) das
mesmas (pelo que algo existente é dado), assim como o espaço, exprime a simples forma
a priori da possibilidade da sua intuição; e não obstante a sensação é também utilizada
para o conhecimento dos objetos fora de nós”.
298 Ressonâncias filosóficas - Artigos
10 Para uma exposição detida sobre a importância deste critério estético (realidade
empírica e idealidade transcendental) enquanto elemento de passagem da Estética
transcendental, na Crítica da razão pura, à faculdade de juízo reflexionante estética, na
Crítica da faculdade do juízo, cf: UTTEICH, L. C. 2016, pp. 41-48.
Kant e a revalorização da estética... 301
como é não-espacial), pois o tempo também não é “[...] algo que exista em
si ou que seja inerente às coisas como uma determinação objetiva [...] [mas
é apenas] a condição subjetiva indispensável para que tenham lugar em
nós todas as intuições” (KANT, 1989, p. 72, B; 49). O tempo, enquanto a
condição formal a priori de todos os fenômenos em geral, é unicamente a
forma do sentido interno, ou seja, da intuição de nós mesmos e do nosso
interior. Essas consequências culminam na tese do primado da forma pura
do tempo sobre a do espaço.
O espaço, enquanto forma pura de toda a intuição externa, limita-
se simplesmente a fenômenos externos. Porém, ao tempo pertencem, ao
contrário, todas as representações, quer tenham por objetos coisas
exteriores ou não. Assim, afirma Kant (Ibidem, p. 73; B 50):
Como todas as representações, quer tenham ou não por objeto
coisas exteriores, pertencem, em si mesmas, enquanto determinações do
espírito, ao estado interno, que, por sua vez, se subsume na condição
formal da intuição interna e, por conseguinte, no tempo, o tempo constitui
a condição a priori de todos os fenômenos em geral.
E, assim como espaço, o tempo possui idealidade transcendental
e realidade empírica. Quando Kant (Ibidem, p.74; B 51) diz que “[...] o
tempo é, pois, simplesmente, uma condição subjetiva da nossa (humana)
intuição (porque é sempre sensível isto é, na medida em que somos
afetados pelos objetos) e não é nada em si, fora do sujeito”, isso quer dizer
que o tempo tem realidade objetiva em relação aos fenômenos, enquanto
estes são admitidos como objeto de nossos sentidos. Porém, se
abstrairmos de nosso sujeito (ou de nossa sensibilidade) e falarmos em
coisas em geral, então o tempo perde completamente seu caráter objetivo
(referência a objetos possíveis de serem dados no espaço e no tempo, por
meio de nossa sensibilidade, como fenômenos). Nesse sentido, essas
afirmações dizem respeito à realidade empírica do tempo, que é, diz Kant
(Ibidem, p. 74; B 52) “[...] sua validade objetiva em relação a todos os
objetos que possam apresentar-se aos nossos sentidos”, e à sua idealidade
transcendental:
Como nossa intuição é sempre sensível, nunca na experiência nos
pode ser dado um objeto que não se encontre submetido à condição do
tempo. Contrariamente, impugnamos qualquer pretensão do tempo a uma
realidade absoluta, como se esse tempo, sem atender à forma da nossa
intuição sensível, pertencesse pura e simplesmente às coisas, como sua
conclusões, como no caso da intuição espacial, vão reforçar esse caráter intuitivo e formal
que faz do tempo uma condição da percepção” (BONACCINI, 2012, p.106).
Kant e a revalorização da estética... 303
14Conhecimentos sintéticos são aqueles cujo predicado ampliam o que se sabe sobre o
sujeito. Cf: KANT, 1989, p.43; B10-11.
304 Ressonâncias filosóficas - Artigos
15 Figueiredo (1999, p.161) comenta a esse respeito que: “[...] embora se possa dizer que
[a Crítica da faculdade do juízo] contenha um [tratado do belo], quero dizer, na parte dedicada
à ‘Analítica do Belo’, Kant sem dúvida, produz aí um verdadeiro tratado do belo, a CFJ
a isso não se reduz”.
16 Segundo Ricardo Terra (1995, p.23), na introdução ao pequeno volume no qual publica
17Sobre essa questão Rego (2005, p.225) complementa que: “[...] o princípio da finalidade
da natureza que não é um entendimento superior mas a hipótese de um entendimento
superior em relação ao qual a natureza é final, é um princípio ‘heautonomo’ da faculdade
do juízo. Isso significa: um princípio que a faculdade do juízo tira de si mesma – heautou –
e confere a si mesma – heauto. Tirar de si memsa, conferir a si mesma, utilizar, admitir,
servir-se, de, pressupor; o ‘como se’ da finalidade diz que a natureza na multiplicidade de
suas formas pode ou bem ser conforme a um entendimento ou bem não o ser; mas diz,
sobretudo, que nós teremos que nos comportar em relação a ela apostando nessa
conformidade se, e somente se, estivermos comprometidos com a tarefa de conhece-la
exaustivamente. O princípio hipotético, heautonomo e subjetivo da finalidade da
natureza é, assim, um pressuposto de cognoscibilidade”.
306 Ressonâncias filosóficas - Artigos
18A faculdade de juízo reflexiva surge aqui como a reflexão autônoma que apresenta a
colocação da natureza (Entendimento) e da liberdade (Razão) em uma relação harmônica,
realizada a partir de um trabalho complementar que visa fornecer uma lei lá onde as leis
do entendimento (categorias) não alcançam: as tantas formas múltiplas que existem na
natureza também devem poder ser pensadas, ainda que isso não possa ocorrer de modo
objetivo. Essa lei meramente reflexiva diz respeito só à possibilidade de uma natureza em
geral, e não à natureza determinada, tarefa que cabe às as leis dadas a priori pelo
entendimento. Para esse último caso a faculdade de juízo obtém de outro lugar o seu
princípio, a saber, a faculdade de juízo não pode dá-lo para si mesma, já que as categorias
obtidas pelo Entendimento se justificam como as condições universais da experiência do
conhecimento objetivo.
Kant e a revalorização da estética... 307
REFERÊNCIAS
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Trad. Valério Rohden. São Paulo:
Abril Editorial, 1989.
KANT, Immanuel. Dissertação de 70. In: Escritos pré-críticos. São Paulo: Editora
Unesp, 2005.
Kant e a revalorização da estética... 311
TERRA, Ricardo. “Introdução”. In: Duas introduções à Crítica do Juízo. São Paulo:
Iluminuras, 1995.
Péricles Ariza*
RESUMO
[...] o homem não deve atribuir sua origem ao céu mas à terra, não a
Deus mas à natureza, que o homem deve iniciar sua vida e seu
pensamento com a natureza, que a natureza não é o efeito de um ser
diverso dela mesma mas sim, como dizem os filósofos, é a causa dela
mesma, que ela não é uma criação, fabricada ou tirada do nada mas sim
autônoma, compreensível por si mesma, só derivável de si mesma, [...]
(FEUERBACH, 1989. p. 148)
4 É preciso destacar que quando Feurbach se refere a natureza egoísta do homem, refere-
se ao instinto de auto-preservação da vida e, portanto, não se refere ao egoísmo no
sentido vulgar.
5 Rubens Alves assim descreve em sua apresentação da obra Prelações sobre a essência da
REFERÊNCIAS
Primárias
Secundárias
Diogo Massochin*
RESUMO
porque ela sempre está no começo – sempre nasce e sempre vem a ser, e
assim sempre será. Assim, se sempre será, estabelece-se uma dependência
do ser criado com o criador. Há, assim, um ponto de contato entre ambos8.
Mestre Eckhart ainda caracteriza Deus como o próprio intelecto e
assim o fundamento de seu próprio ser. Mas Deus não é ser, porque se o
fosse, na visão de Mestre Eckhart, ele seria confundido com a própria
criação. Não havendo o ser em Deus, Eckhart declara haver uma total
dependência da criação para com o criador. Há uma completa distinção,
entre as criaturas finitas e o ser criador9.
Há ainda a questão da Trindade no pensamento de Mestre Eckhart
– vamos a um breve comentário sobre o tema. Como se passaria do Uno
para o múltiplo? Para o Mestre, todos os filhos são gerados na geração do
Filho de Deus, Jesus: “no processo de geração do Filho, sua imagem
absoluta, o Pai gera igualmente todos os demais seres”10. Ao sermos
gerados juntamente com o Filho de Deus, Jesus, eternamente não
constituímos em realidades diferentes. Somos eternos ao voltarmo-nos
para Deus; podemos, também, voltarmo-nos para o mundo – logo, temos
duas faces possíveis. Na Trindade – ou Unitrindade, como nomeia Mestre
Eckhart –, tudo é Deus, apesar da distinção de pessoas: Pai e Filho são
eternos, ligados pelo Espírito Santo: o múltiplo continua no Uno11.
Destarte, conclui-se que o pensamento de Mestre Eckhart centra-
se na ideia do nascimento de Deus na alma. Dar-se-ia assim o despertar da
fé no fiel: devendo ser inteligível a este. E, ao nascer Deus na alma, prova-
se que Deus nos ama – mas este amor, por parte dos homens, deve ser
desinteressado; uma vez que os que amam desinteressadamente
comungam santamente com o próprio Deus12. Vale relembrar aqui o que
foi dito acima: o amor desinteressado gera o amor mais puro! Essa dialética
é o sentido da fé cristã que podemos atribuir a Mestre Eckhart: Deus, em
sua perfeição total, não precisa nos provar nada; ao agirmos cegamente,
veremos Deus de forma melhor; ao amar desinteressadamente,
receberemos todo o seu amor; ao contemplarmos a sua grandeza em
silêncio, pronunciaremos as mais altas odes em seu louvor – em resumo:
a alma, a “centelha da alma”, e como imergi-la no amor de Deus é o ponto
8 Idem., p. 526.
9 RASCHIETTI, M. Meister Eckhart e o Paradisus anime intelligentis. Mirabilia, v. 12,
jan-jun 2011, p. 83-8.
10 MESTRE ECKHART, ibid., p. 34.
11 MESTRE ECKHART, ibid., p. 33-5.
12 FISCHER, N. Fé e razão: sua relação em Agostinho, Mestre Eckhart e Emanuel Kant.
REFERÊNCIAS
RESUMO
2 Kant refere-se ao conceito de mundo, na Crítica da Razão Pura, como a “soma total de
todas as aparências” (CRP, B535).
3 Kant denomina de metafísica “toda a filosofia pura, compreendendo a crítica, para
abranger tanto a investigação de tudo o que alguma vez pode ser conhecido a priori, como
também a exposição de que constitui um sistema de conhecimentos filosóficos puros
dessa espécie, mas que se distingue de todo o uso empírico como também do uso
matemático da razão” (CRP, B869).
332 Ressonâncias filosóficas - Artigos
4 É importante ressaltar que as três questões são tematizadas, exclusivamente, por Kant,
nos seguintes textos: A questão “Que posso saber?” aparece na Crítica da Razão Pura (1781),
Primeiros Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza (1786) e Crítica da Faculdade do Juízo
(1790). Textos os quais aborda a possibilidade de conhecimento dos organismos e que,
de maneira breve, implica uma finalidade (THOUARD, 2004, p.105). Já a questão sobre
“Que devo fazer?” é desenvolvida na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), Crítica
da Razão Prática (1788), Metafísica dos Costumes – Doutrina do Direito e da Virtude
(1796/1797), e a Paz Perpétua (1795) (THOUARD, 2004, p.106). Enquanto que a terceira
questão “Que me é permitido esperar?” é trabalhada na Crítica da Razão Prática (1788), Crítica
da Faculdade do Juízo (1790), Religião nos Limites da Simples Razão (1793), e O Fim de Todas as
Coisas (1794). Nos quais se apresenta a relação do sujeito e, ao mesmo tempo, as
expectativas que ele pode nutrir (THOUARD, 2004, p.106).
5 O sumo bem como o fim total de toda a razão só é possível pela ligação sintética e a
O plano que fiz há muito tempo para o trabalho que quero empreender
no campo da filosofia pura se direcionava à solução dos três problemas:
1) o que posso (kann) saber? (Metafísica) 2) o que devo (soll) fazer?
(Moral) 3) o que me é permitido (darf) esperar? (Religião); questões às
quais deve seguir por último a quarta: o que é o homem? (Antropologia)”
(Briefwechsel, AA11:429).
de Vista Pragmático (1798), e Crítica da Faculdade de Juízo – sentimento estético (1790). Obras
que resumem o sujeito e sua relação com o mundo (THOUARD, 2004, p.106).
Nota sobre os conceitos escolástico e cósmico... 335
REFERÊNCIAS
_____. Briefwechsel. In: Kants gesammelte Schriften, hrsg. von der Deuschen
Akademie der Wissenschaften, Bde. X-XIII. Berlin und Leipzig: de
Gruyter. 1928. Tradução de Arnulf Zweig. New York: Cambridge
University Press, 1999.
RESUMO
INTRODUÇÃO
1A partir desse ponto, a referida obra de Rousseau será chamada nesse estudo apenas
como segundo discurso.
O bom selvagem e o cidadão civilizado... 339
[...] tal como deve ter saído das mãos da natureza, vejo um animal menos
forte do que uns, menos ágil do que outros, mas, em conjunto,
organizado de modo mais vantajoso do que todos os demais. Vejo-o
fartando-se sob um carvalho, refrigerando-se no primeiro riacho,
encontrando seu leito ao pé da mesma árvore que lhe forneceu o repasto
e, assim, satisfazendo a todas as suas necessidades (ROUSSEAU, 2005,
p. 58).
Os dois sexos começaram, assim, por uma via um pouco mais suave, a
perder alguma coisa de sua ferocidade e de seu vigor. Mas, se cada um
em separado tornou-se menos capaz de combater as bestas selvagens,
em compensação foi mais fácil reunirem-se para resistirem em comum
(ROUSSEAU, 2005, p. 91).
REFERÊNCIAS
RESUMO
Isso ocorre por que no seio dessa tradição a linguagem é mascarada por
meio de “relações intramundanas e ônticas”, de modo que a experiência
própria da fala não merecera uma dignidade ontológica em relação à
ordem do pensamento, exercendo diante desse, tão somente a função de
mero acessório. Dessa forma, é recusada à linguagem uma significação
filósofica, fazendo dela um problema unicamente técnico (SILVA, 2009,
p. 94).
REFERÊNCIAS
RESUMO:
INTRODUÇÃO
Pode soar um pouco estranho, mas para ele todo ser que existe é
um ser percebido e não é possível que exista um que não seja percebido
por alguém. Diante dessa afirmação surgem muitos questionamentos, por
exemplo: uma árvore que caia no meio de uma floresta e não tenha
nenhum ser com sensações para que possa ver ou ouvir a árvore caindo
quer dizer que ela não existe? Aqui Berkeley inclui a existência de Deus e
outras formas espirituais eternas que não são visíveis aos olhos. Para
responder isso, Berkeley diz que algum ser perceberia, mesmo que este
não fosse um ser sensível. Este ser pode ser Deus ou alguma outra forma
de espírito eterno (como anjos, por exemplo). Esta é a principal afirmação
de sua filosofia e foi o que o deixou conhecido, principalmente entre os
nobres de seu país.
Mesmo os materialistas afirmas que as sensações não estão nos
próprios sentidos, mas no indivíduo que percebe, assim também Berkeley,
no entanto “se temos algum conhecimento de coisas exteriores, deve ser
por meio da razão, inferindo sua existência a partir do que é imediatamente
percebido pelos sentidos (BERKELEY, 2010, p. 69). O que confere a
existência, como dito, é o indivíduo por meio de sua razão fundamentada
na percepção dos sentidos.
Posso ter controle sobre meus pensamentos formulando uns a
partir de outros como queira, no entanto, as ideias não surgem da vontade.
“Seja qual for o poder que eu possa ter sobre os meus pensamentos, noto
que as ideias efetivamente percebidas pelos sentidos não têm igual
dependência de minha vontade” (BERKELEY, 2010, p. 76). Por exemplo,
os sentidos se utilizam dos órgãos sensoriais para perceber e o perceber
não depende do meu querer. Quando abro meus olhos, ver não é algo que
passa pela minha vontade. Após abri-los eu necessariamente tenho que
366 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
RESUMO
INTRODUÇÃO
em nenhum ente determinado e não poder ser nunca definido, pois ambos
determinam o todo de nossa existência:
REFERÊNCIAS
FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo de. A existência para além do sujeito: a
crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade
de uma clínica psicológicas com fundamentos fenomenológicos-
existenciais. 1 ed. Rio de janeiro: Edições IFEN: Via Verita, 2011.
Daniel Du
RESUMO:
conhecimento conquistado, livre das mãos que controlam o que deve ser
ignorado e o que deve ser conhecido, numa amplitude mais aberta do
pensamento do autor.
O ensino universal não é nem pode ser um método social. Ele não pode
ser difundido nas instituições da sociedade, nem por iniciativa delas. Não
que os emancipados não sejam respeitosos da ordem social; eles sabem
que, de toda maneira, ela é menos nociva do que a desordem. Mas é tudo
o que lhe concedem, e decerto nenhuma instituição poder-se-ia
contentar com tão pouco. Não é suficiente que a desigualdade se faça
respeitar: ela quer ser objeto de crença e de amor. Ela quer ser explicada.
Toda instituição é uma explicação em ato da sociedade, uma encenação
da desigualdade. Seu princípio é e será sempre antiético ao do método
fundado sobre a opinião da igualdade e da recusa das explicações. O
ensino universal pode ser dirigido a indivíduos, jamais a sociedades (p.
146).
REFERÊNCIAS
O PAUPERISMO DA FILOSOFIA:
a questão da objetividade nas ciências sociais e a
crítica ao racionalismo crítico de Karl Popper
RESUMO
* E-mail: mcdmp@uol.com.br
390 Ressonâncias filosóficas - Artigos
1 Mesmo n’A ideologia alemã, a dubiedade que origina as duas concepções de ideologia
manifesta-se. Em passagem cortada do manuscrito, Marx afirma: “As representações aceitas
por estes indivíduos são idéias quer sobre suas relações com a natureza, quer sobre as relações que
estabelecem entre si ou quer sobre sua própria natureza. É evidente que, em todos estes casos, tais
representações constituem a expressão consciente – real ou imaginária – das suas
relações e da sua atividade reais, da sua produção, do seu comércio, do seu
(organização) comportamento político e social” [grifo nosso, p. 25).
392 Ressonâncias filosóficas - Artigos
33.2 POSITIVISMO
1). Em diversas passagens de outros escritos, Marx usa, às vezes, a expressão “relações
sociais”, o que permitiria uma abordagem menos economicista.
O pauperismo da filosofia... 393
33.3 HISTORICISMO
33.4 MARXISMO
4 “Sobre as diferentes formas de propriedade, sobre as condições sociais, maneiras de pensar e concepções
de vida distintas e peculiarmente constituídas. A classe inteira as cria e as forma sobre a base de suas
condições materiais e das relações sociais correspondentes.”. Observa-se aqui uma concepção
materialista porém não economicista das ideologias, embora as vincule às classes sociais.
Ao invés de compreender o pensamento como um produto das relações econômicas ou
das relações sociais de produção, Marx o situa sobre as formas de propriedade e
condições sociais, sobre as condições materiais e relações sociais (sem limitá-las, neste
texto, à produção).
O pauperismo da filosofia... 399
5 Karl POPPER. A lógica das ciências sociais. Apud Michael LÖWY. Op cit. p. 59.
O pauperismo da filosofia... 401
os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem;
não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com
que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A
tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o
cérebro dos vivos” (MARX, 1978, p. 17).
REFERÊNCIAS
LÊNIN, Vladimir Ilyich. Que fazer?. São Paulo: Hucitec. 1979. 149 p.
LÖWY, Michael. Método dialético e teoria política. 3a ed. Rio de Janeiro : Paz
e Terra, 1985. 141 p.
MARX, Karl. O dezoito Brumário. 4a ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1978.
328 p.
WEBBER, Max. Os pensadores. São Paulo : Abril Cultural, 1975. v. 37. 272
p.
408 Ressonâncias filosóficas - Artigos
XXXIV
RESUMO
REFERÊNCIAS
RESUMO
Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no
coração do homem. E se não encontras senão a tua natureza sujeita a
mudança, vai além de ti mesmo. Em te ultrapassando, porém, não te
esqueças que transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirigi-te à
fonte da própria luz da razão (AGOSTINHO, 2002, p. 72).
REFERÊNCIAS
RESUMO
INTRODUÇÃO
Ressalta-se que com essa nova lei o direito a guarda unilateral foi
mantido, mas passou a ser uma exceção, devendo ser decretado somente
em casos confirmado de maus tratos, abandono ou quando um dos pais
abrem mão da guarda do filho em prol do outro.
REFERÊCIAS
MACEDO, Lino de. Guarda de filhos. Isto É. São Paulo, n.2, Fev.2002.
INTRODUÇÃO
sobre suas ocupações e seus estudos, sendo que começavam essa vigília
com oração, e terminavam com um lanche frugal. Essas reuniões de jovens
tão ajuizados eram uma novidade em Oxford, onde, naquela época, longe
de prevalecer a virtude, reinavam a incredulidade e o relaxamento dos
bons costumes. Por escárnio, os demais estudantes chamavam a sociedade
“o clube dos santos”, e os seus membros receberam o apelido zombeteiro
de “metodistas”, por causa da metodologia e regularidade com que
cumpriam seus deveres religiosos.
John Wesley era a “alma” daquela sociedade fraternal, e mereceu
o título de “procurador do clube dos santos”, conforme a juventude
universitária o designou maliciosamente. Sua superioridade intelectual, a
madureza singular de seu espírito e a aptidão organizadora que já possuía
em alto grau, valeram-lhe uma notável ascendência sobre seus amigos.
Devido à sua influência, os jovens metodistas de Oxford, estando na
aurora da autêntica piedade, dedicavam uma grande parte do tempo à
pratica de boas obras, visitando famílias pobres, organizando cultos nos
cárceres, patrocinando escolas primárias e distribuindo aos necessitados
tudo quanto conseguissem tirar dos seus escassos proventos. John era um
exemplo disso. Sua caridade não tinha outros meios senão os seus próprios
recursos; abstinha-se de tudo quanto era supérfluo, considerando-o algo
furtado dos pobres. Não era menos consciencioso no emprego do tempo
do que no uso do dinheiro. Tendo notado que não passava uma única
noite sem acordar uma vez, deduziu que permanecia na cama mais tempo
do que a natureza exigia e, em consequência de uma série de experiências
e observações, descobriu que a única maneira de dormir sem interrupção
era abreviar as horas em seu leito e levantar-se as quatro da manhã.
Sessenta anos depois de ter adotado essa regra, escreveu em seu diário:
“Desde aquela data, tenho me levantado diariamente, com a ajuda de
Deus, às quatro da manhã e, tirando uma média geral de todos os anos,
posso dizer que não tenho tido quinze minutos de insônia durante o
mês”.2
Enfim, em meio à um ambiente hostil e degradante e diante de
uma educação familiar baseada na disciplina e num estilo metódico, John
Wesley cresceu e se desenvolveu. Em 1725, estando com vinte e três anos
de idade, Wesley leu o livro do Bispo Taylor, “Regra e Exercícios de Viver e
Morrer Santo". Ele relata o que aconteceu com ele: “Lendo várias partes
deste livro, eu fui, sumamente, afetado, por aquela, em particular, que
3 WESLEY, Jonh. Um Claro Relato da Perfeição Cristã. Editado por George Lyons -
Wesley Center for Applied Theology at Northwest Nazarene College (Nampa, ID), 1725.
p. 2
444 Ressonâncias filosóficas - Artigos
http://www.ultimato.com.br/pg=show_artigos&secMestre=752&sec=769&num_edic
ao=287 (04 de dezebro de 2008).
5 CLOUSE, Robert G. Dois Reinos. São Paulo: Mundo Cristão, 2003, p.390
6 CLOUSE, Robert G. Dois Reinos. São Paulo: Mundo Cristão, 2003, p.391
7 WESLEY, John. Trechos do diário de John Wesley. São Paulo: J.G.E.C. da Igreja
Como consequência disso, o que quer que faça em sua vida, tudo
é para a glória do seu Deus. Todos os seus empreendimentos visam a
glória de Deus, e não apenas isso, em todo seu olhar ele busca alcançá-Lo.
Seu trabalho e seu refrigério, tanto quanto suas orações, tudo serve à
grande finalidade. Tanto ficando em casa, como caminhando pela rua;
tanto se deitando, como se levantando, ele está fomentando, em tudo o
que ele fale ou faça, o único trabalho de sua vida. Tanto ele coloque seus
adornos, ou trabalhe, ou coma, ou beba, ou se distraia, também, do
trabalho debilitante, tudo tende à vantagem da glória de Deus, pela paz e
boa-vontade entre os homens. Sua regra constante é: O que quer que eu
faça, em palavra ou ação, faça tudo em nome de Jesus Cristo, agradecendo
a Deus; sempre, ao Pai, através dele (referência bíblica: Colossenses 3:17).
1981, p. 22
12 Obras: "Minutos de conversações tardias", quarta-feira, 17 de junho de 1747 (VIII,
293-96).
448 Ressonâncias filosóficas - Artigos
por isso, agir tolamente. Pode ainda estar exibindo quaisquer, e talvez
muitas,
13 OUTLER, Albert. John Wesley. Nova Iorque: Oxford University Press, 1964, p. 257
14 BURTNER, Chiles, 1960, p.187
15 I Tessalonicenses 5:23 – Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2001, p. 947 e
948.
Perfeição cristã e santificação... 449
Palavra no Tradução
Analítico17
grego Interlinear16
δὲ E Conjunção coordenativa
1987, p. 627.
450 Ressonâncias filosóficas - Artigos
ἐν Em Preposição, dativo
Fonte: o autor.
21 PFEIFFER, Charles F. (ed.). Comentário Bíblico Moody. São Paulo: IBR, 1991, p. 237
22 AIRHART, Arnold E. Comentário Bíblico Beacon. Kansas City: Casa Nazarena de
Publicações, 1985, p. 525
23 DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1963, p. 1304
24 The interpreter’s bible. New York: Abingdon Press, 1955, vol. 11, p. 314 e 315
25 CLARKE, Adam. The New Testament of our Lord and Saviour Jesus Christ. New
outro lado nota-se uma clara posição de John Wesley a favor da perfeição
cristã sem, no entanto, negar a santificação progressiva. Sendo assim, é
sobremodo importante relembrar da questão a que esse trabalho se propôs
a responder: A perfeição cristã é totalmente oposta à santificação progressiva ou há
alguma possibilidade de complementação entre elas na teologia Wesleyana? A reposta
a esta questão é positiva no sentido de que elas são complementares. Ou
seja, foi possível verificar, através do estudo realizado, que existe
possibilidade de complementação entre as duas teorias na teologia
Wesleyana.
A perfeição cristã pode ser observada como possibilidade nas
escrituras, embora a experiência cristã demonstre que ela não seja
alcançável. Ou seja, a análise de algumas passagens bíblicas, como I
Tessalonicenses 5:23, permite uma interpretação positiva acerca da
perfeição cristã, porém, não se pode esquecer de contextualizar toda a
escritura com o intuito de alcançar uma conclusão equilibrada em relação
a qualquer tema teológico. Nessa linha de análise, entende-se que a
perfeição cristã serve como um marco perfeito que dá sentido a uma
caminhada numa existência imperfeita.
Como remate é importante frisar que o próprio Wesley negou ser
completamente santificado e explicou, categoricamente, que aquele que
quiser desenvolver nos crentes a mudança gradual deverá insistir
fortemente na mudança instantânea. Dessa forma, ele explica que a
perfeição e a santificação progressiva se complementam na medida em que
a primeira é o estímulo para viver a segunda de forma a buscar uma
crescente santificação. O próprio apóstolo Paulo diz em Filipenses 3:12-
14:
Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas
prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo
Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma
coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando
para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio
do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os
santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja
edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento
do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da
plenitude de Cristo”. Efésios 4:11-13.
REFERÊNCIAS
CLARKE, Adam. The New Testament of our Lord and Saviour Jesus Christ.
New York: Abingdon-Cokesbury Press, [s.d.].
LELIÈVRE, Mateo. John Wesley – Sua vida e obra. São Paulo: Vida, 1997.
The interpreter’s bible. New York: Abingdon Press, 1955, vol. 11.
Sites
http://www.ultimato.com.br/pg=show_artigos&secMestre=752&sec=7
69&num_edicao=287 acesso em Dezembro de 2008.
XXXVIII
INTRODUÇÃO
REFERÊNCIAS
LOCKE, John. Carta acerca da tolerância (1689). São Paulo: Abril Cultural,
1978.
investigação deve ter seu início. É a partir de Austin com sua forma de
analise que a investigação sobre o exame dos diversos usos da linguagem
ganha novos contornos. Com essa abertura de mentalidade priorizando
aspectos que envolvem o discurso, a ação faz com que a linguagem seja
endereçada para uma nova ótica, realizando uma inversão de prioridades.
A preocupação se volta para a linguagem e sua aplicação em um campo
prático onde os atores participam e interagem. A ação como aspecto
fundamental em um discurso quando proferido um ato de fala, pois
permite entende-lo.
Após tratar alguns aspectos importantes em Austin passo para o
segundo momento da nossa reflexão, fazendo uma exposição de alguns
aspectos das implicaturas convencionais e conversacionais e o principio de
cooperação de Grice em a Lógica da conversação mostrando a pertinência
dessa temática acerca da linguagem o que irá contribuir para o nosso
propósito. Nesse sentido, a sua abordagem referente ao tema proposto
para essa investigação terá uma grande relevância para o nosso foco de
estudo. Ele propõe a sua forma de analise da linguagem investigando as
implicaturas1 e o processo cooperativo acerca desse universo pragmático.
Ao apontar para as implicaturas, Grice apresenta dois tipos: as
implicaturas convencionais e as implicaturas conversacionais. Grice faz
uma reflexão acerca dos significados comunicados em uma fala, mas não
ditos. A partir desse primeiro enfoque, ele estabelece uma distinção entre
esses aspectos que não são ditos, mas estão indicados pelo material
linguístico, que estão em acordo com uma convencionalidade. Esse é um
tipo de implicatura apresentada de maneira convencional, em que os
elementos estão condicionados a certa estrutura linguística. “No sentido
em que estou usando a palavra dizer, o que alguém disse está intimamente
relacionado ao significado convencional das palavras (da sentença) que
está usando” (GRICE, 1982, p. 84).
Para exemplificar essa proposta de implicatura, Grice faz menção
à frase “Ele é um inglês” como uma implicatura convencional. Isso porque
ela remete à bravura: ele é, portanto, um bravo. Percebe-se que há uma
relação do que é dito com o material linguístico, que pressupõe essa
conexão, de maneira a seguir certa convenção. Aqui é apresentada a
primeira forma de implicatura, que culminará com a elaboração da
Esse exemplo nos deixa claro que o que fora citado não está
constituído de uma frase explicativa do que é dito, mas de um conjunto de
elementos presentes em uma situação conversacional. Nota-se que o que
é comunicado não está propriamente no que foi dito, nem está presente
uma indicação dada para os elementos linguísticos, o que torna necessário
que se conheça os elementos ligados a essa realidade situacional para
entender o seu significado. Grice afirma estar interessado em estudar esse
tipo de implicatura, salientando, ainda, que embora reconheça a
importância de saber que o significado dos enunciados, anunciados acima,
depende do contexto, preocupa-se com quem faz a enunciação, a intenção
do enunciado e como o interlocutor recebe essa enunciação, não se
limitando em dizer que, ao se conhecer o contexto, se conhece o
significado.
O que se percebe é que as implicaturas estão conectadas com
traços gerais do discurso, o que permite pressupor que existem leis ou
máximas que regulam o discurso em uma língua numa conversação.
É essa aproximação conectiva entre locutor e interlocutor que
possibilita a aplicação das leis ou máximas, e a partir disso se constrói o
significado para além do que foi dito. Aqui se percebe que tanto locutor
quanto interlocutor tem papéis importantes. "Aquele que diz" tem papel
importante na conversação, por causa da sua intencionalidade, mas o
interlocutor também é fundamental nesse processo, pois é ele que realiza
o cálculo para desvendar o que está subentendido no discurso do sujeito
476 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
RESUMO
REFERÊNCIAS
Ademir Menin*
RESUMO
INTRODUÇÃO
sua porta, que são as mesmas que imprimem no espírito humano as suas
marcas. Essas impressões são aquelas que realmente permanecem e que
fazem a diferença no ser de cada pessoa, ou seja, são elas as responsáveis
pela construção daquilo que costumeiramente chamamos de consciência
e autoconsciência.
O tempo também entra nesse jogo de experiências internas ao ser.
Aqui não estamos falando do tempo cronológico, pois este tem um
compasso monótono enquanto é constituído de partes iguais e serve para
uma organicidade cósmica de todas as coisas. O tempo de que trata
Agostinho é o da vivência da alma, o qual independe da cronologia.
Segundo Brachtendorf (BRACHTENDORF, 2008, p. 240-241), o
XI Livro das Confissões é uma exegese do primeiro livro do Gênesis, pois é
propriamente ali que se fala do tempo, enquanto relacionado à criação
divina do mundo no tempo. Deve-se notar que na visão agostiniana, a qual
está em conformidade com a doutrina cristã, o tempo teve um início, assim
como terá um fim. Esse início ocorreu exatamente no momento em que
Deus criou o mundo, ou seja, Deus é eterno, fora do tempo, e criou o
mundo e o tempo no mesmo instante. Desse modo, o tempo é dependente
da eternidade: para falar do tempo é preciso partir da eternidade divina e
do seu Ser Absoluto enquanto criador de tudo.
O ponto de partida de Agostinho é a curiosidade de alguns que
queriam o que Deus fazia antes de criar o mundo e o tempo
(AGOSTINHO, 2017, p. 293-294). A partir dessa questão, o filósofo
explica que, se Deus é eterno, não pode estar no tempo. Além do mais,
esclarece a confissão de termos ao redor de eternidade e perpetuidade. A
pergunta sobre o que Deus fazia antes de criar o mundo dá a entender que
quem a faz pensa na eternidade como uma quantidade imensurável de
tempo. No entanto, isso não se constitui em eternidade, mas em uma
extensão de tempo que ultrapassa a capacidade humana de mensurar. A
eternidade, por outro lado, é a totalidade do ser em um só momento; essa
tal característica pode ser atribuída somente a um ser que se revela como
ato puro, ou seja, imutável, eterno.
O ponto central da reflexão de Agostinho sobre o tempo se
encontra em Confissões XI, 14 (AGOSTINHO, 2017, p. 295-296), onde ele
declara ser o tempo o objeto mais corriqueiro, pois está presente em todas
as conversações, mas que ao mesmo tempo é algo de difícil compreensão.
O filósofo não esconde a sua ignorância em relação ao tema, quando diz:
“O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se
quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei” (AGOSTINHO,
502 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
RESUMO
INTRODUÇÃO
1 Parlamentares integrantes des ta bancada são pagos por toda a população, mas
governam somente para aqueles que compartilham da mesma crença que eles.
516 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
RESUMO
INTRODUÇÃO
conhecimento e verdade.
Considera-se relevante estudar e conhecer tal autor uma vez que o
assunto referente ao papel de premissas filosóficas e seus efeitos sobre o
desenvolvimento da ciência não é muito discutido e/ou refletido. Fox
(2008) comenta que muitos estudiosos frequentemente não declaram os
pressupostos básicos de sua teoria, abraçando diversas perspectivas (como
uma colcha de retalhos sem necessariamente considerar as divergências
entre estas), ou simplesmente confiam em dados brutos sem ponderar
sobre tais fatos (estratégia contraria ao programa de pesquisa científica, e
que provavelmente não leva a nenhuma inovação). Tal posição
(irreflexiva) pode dificultar o desenvolvimento coerente e progressivo do
conhecimento, pois teorias e seus pressupostos filosóficos guiam a
construção e a avaliação da fundação do desenvolvimento científico.
O conceito “teoria” possui uma variedade de significados e
interpretações, este artigo, ao tratar e discorrer sobre Popper, se posiciona
a partir de sua definição, considerando teoria aquelas declarações que são
relativamente precisas e têm escopo relativamente amplo de
conhecimento. O beneficio das teorias se encontra em sua economia
conceitual e em sua capacidade de orientação para enfrentar novos
problemas, além de evitar que um programa científico se torne
desorganizado e incoerente.
A filosofia da ciência tem valia neste quadro de reflexões ao
oferecer uma forma de orientar as possibilidades de construção de uma
ciência e sua utilidade, uma vez que existem diversas situações em que uma
teoria particular pode encontrar dificuldade em ser reconhecida, podendo,
por exemplo, ser criticada por estudiosos que não reconhecerem o critério
de fundamentação empírica ou filosófica; ou por não reconhecerem tais
dados enquanto compatíveis com o sistema de compreensão de seus
membros; ou ainda por considerarem que outra posição teórica pode
explicar os mesmos dados de forma mais satisfatória; entre outras
situações. Todas as situações previamente descritas podem ser causadas
pela não especificação clara dos pressupostos básicos filosóficos,
podendo-se assim observar o benefício e “produtividade” na discussão das
premissas filosóficas no desenvolvimento científico.
A próxima seção tem como objetivo expor a posição de Pepper
referente ao debate dos pressupostos filosóficos na ciência, suas visões de
mundo e metáforas raiz, tal como apresentado em seu livro World
Hypotheses (1942).
526 Ressonâncias filosóficas - Artigos
43.1.1 Formismo
43.1.2 Mecanicismo
43.1.3 Organicismo
43.1.4 Contextualismo
REFERÊNCIAS
_______. The Basis of Criticism in the Arts. 5th ed. Cambridge, MA:
Harvard University Press. 1963.
Libanio Cardoso*
2 Para além dos pontos que mencionamos, Frede (in NUSSBAUM & RORTY, 1992, p.
93) afirma que o estudo da concepção aristotélica de alma “help us to identify more
clearly some o four preconceptions concerning both the mental and the physical”.
3 De fato, a descoberta dessa passagem se mostrou o ponto central da pesquisa.
Uma introdução à filosofia... 537
5 “[…] the soul is that in virtue of which an animate thing is alive; it is also characterized
by his rejection of the assumption that the soul is an entity distinct from the body it
animates […]”. FREDE, in NUSSBAUM & RORTY, 1992, p. 103).
6 “Evidently, I could not translate it as ‘mind’, since my ambition is to contrast ‘mind’
7Cf. a ênfase de Charles Lefevre quanto à unidade hilemórfica, em LLOYD & OWEN,
1975; especialmente p. 35-36.
542 Ressonâncias filosóficas - Artigos
que a parte ativa produz a partir das imagens reunidas pelo intelecto
passivo. Todavia não está claro, com esse tratamento dos conceitos, que a
imaginação não pode ser uma passividade, um recipiente, e por isso, o
intelecto dito passivo é eminentemente ativo. Sua ação consiste sem
separar, do sensível, o que não é matéria, bem como em distinguir
“aspectualmente” momentos do assim separado, como que perspectivas
categoriais do mesmo. Esse problema não havia sido tocado pelo
comentário de Zingano. Vejamos aonde nos leva a “descoberta da
imaginação”.
Imaginar é, em Aristóteles, separar do que foi dado pela
sensibilidade o que não é matéria, e considerar, p.ex., um conjunto de
objetos percebido à minha frente como sendo múltiplo, quantitativamente
(são três lápis), semelhante na coloração (são lápis azulados),
substancialmente oferecendo-se como lápis. A fantasia, i.é., a imagem
separa quantidade, qualidade e substância da matéria junto à qual
unicamente se dão e podem ser percebidas; em separando, permite a
concepção da coisa ou estado de coisas em sua unidade, por composição
– a imaginação permite, pois, a síntese mediante a análise, mas também
permite o inverso, já que somente a imagem una, eliminando a matéria,
fundamenta o dividir dos momentos para toda síntese. Vê-se claramente
que, apesar de toda a obscuridade do processo mesmo por que se dá tal
separação, ainda estamos no âmbito preparatório para que a distinção dos
momentos “formais” (as perspectivas categoriais imaginadas do ente
percebido) ponham-se à disposição de um poder de elaborá-las, conjugá-
las, dividi-las já sem a imaginação prévia, ligada à sensibilidade: formação
de juízos e de saber universal. Porém, resta um problema: Aristóteles
afirma “Para a alma capaz de pensar, as imagens subsistem como
sensações percebidas. [...] É por isso que a alma jamais pensa sem imagem”
(DA, 431ª14-16). Jamais – escreve Aristóteles, e ao final do tratado
(estamos em pleno Livro III, 7, depois, portanto, dos trechos analisados
por Zingano). Ora, se o intelecto, ou alma, ou pensamento, jamais se dá
sem imagem, sem fantasia, a intelecção dita “pura”, aquela que se ergue a
partir das imagens é ainda, de algum modo, passividade, uma vez que as
imagens são dependentes da sensação, são como que “sensação sem
matéria”? Mais grave: se a compreensão de um indivisível como a
substância ou forma (eidos) de um ente separa-a da matéria e a
compreende como fora do tempo (as formas não são modificadas
temporalmente) o que, precisamente, resta de imagem aí? Observo a roda
de um carro que passa. A roda é no tempo, a passagem do carro obedece
544 Ressonâncias filosóficas - Artigos
REFERÊNCIAS
LLOYD, G.E.R. & OWEN, G.E.L. (Editores). Aristotle on mind and the
senses. Cambridge: Cambridge University Press, 1979.
VERIFICAR A IGUALDADE:
as ocupações estudantis pensadas à luz da filosofia de Rancière
REFERÊNCIAS