9º ANO
Texto 1
Antes que elas cresçam
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos. É que as crianças
crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir
licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com alardeada arrogância. Mas não
crescem todos os dias, de igual maneira, crescem de repente. Um dia sentam-se perto de você no
terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas
daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha, que você não percebeu? Cadê a pazinha de
brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do maternal? A criança
está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E agora você está ali, na porta
da discoteca esperando que ela não apenas cresça, mas também apareça… Ali estão muitos pais ao
volante, esperando que saiam esfuziantes e cabelos longos, soltos.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com o uniforme de sua
geração. Esses são filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas
das notícias e da ditadura das horas. E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo
com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não se repitam.
Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos filhos. Não mais os pegaremos
nas portas das discotecas e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante das próprias vidas. Deveríamos ter ido mais à
cama deles ao anoitecer para ouvir suas almas respirando conversas e confidências entre os lençóis da
infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas,
e discos ensurdecedores. Não os levamos suficientemente ao playcenter, ao shopping, não lhes demos
suficientes hambúrgueres e refrigerantes, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que
gostaríamos de ter comprado.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo nosso afeto.
No princípio iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, Natais, Páscoas,
piscinas e amiguinhos. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, pedidos de chicletes
e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento,
pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados. Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram, mas de repente, morriam de saudades daquelas
“pestes”. Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito para que eles
acertem nas escolhas em busca da felicidade. E que a conquistem do modo mais completo possível. O
jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não
exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão desmensurados e
distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso é preciso fazer alguma coisa a mais antes que eles cresçam…”
Texto 2
Disponível em: <http://iemai.com.br/tag/tirinhas/>. Acesso em: 17 fev. 2019.
1. (1,0) INDIQUE o que o autor quer dizer quando informa que “os pais vão ficando órfãos dos próprios
filhos”:
2. (1,0) ASSINALE o elemento que permite classificar o texto 1 como uma narrativa.
a) Defende um tema.
b) Tenta convencer o leitor.
c) Apresenta foco narrativo.
d) Conta uma história antiga.
4. (1,0) DETERMINE a função sintática dos termos “seus filhos” e “um vazio” na oração inspirada no
texto 1:
a) Predicativo do sujeito.
b) Predicativo do objeto.
c) Objeto direto.
d) Adjunto adverbial de tempo.
5. (1,0) INDIQUE a morfossintaxe do termo “hoje”, retirado do texto 2:
a) A palavra é um adjetivo que cumpre função sintática de predicativo do sujeito (ou núcleo do
predicativo do sujeito).
b) A palavra é um substantivo que cumpre função sintática de predicativo do sujeito.
c) A palavra é um advérbio que cumpre função sintática de adjunto adverbial.
d) A palavra é um adjetivo que cumpre a função sintática de adjunto adnominal.
“Por isso os avós são tão desmensurados e distribuem tão incontrolável carinho.”
a) Há um período no trecho.
b) Há quatro períodos no trecho.
c) Há três períodos no trecho.
d) Há dois períodos no trecho.
“Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos”,
a) vão
b) órfãos
c) filhos
d) próprios
8) (1,0) Armandinho, no texto 2, pergunta à sua mãe: “Que horas eu vou ser criança?”. ASSINALE a
opção com o fragmento do texto 1 que dialoga diretamente com a pergunta do menino.
10) (1,0) OBSERVE e MARQUE a classificação correta em relação aos sujeitos dos verbos sublinhados
no trecho do texto 1:
1. (1,0) D
2. (1,0) C
3. (1,0) B
4. (1,0) C
5. (1,0) C
6. (1,0) A
7. (1,0) B
8. (1,0) D
9. (1,0) D
10. (1,0) A