Você está na página 1de 109

DENDROMETRIA E INVENTÁRIO FLORESTAL

PRINCÍPIOS E UNIDADES DE MEDIDA

1. Preliminares

Segundo Husch et al. (1993), o conhecimento é uma extensão da aquisição e do


acúmulo sistemático de observações ou medições de objetos concretos e de
fenômenos naturais.

No setor florestal, o conhecimento sobre os recursos existentes se dá através da


medição ou estimação de atributos das árvores e das florestas, além de muitas
características das áreas sobre as quais as árvores estão crescendo, por meio
de instrumentos e métodos apropriados. Dentro desse contexto, enquadra-se
a Dendrometria (DENDRO = árvore e METRIA = medição), palavra de origem
grega que representa um ramo da ciência florestal que trata da medição da
árvore, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo (SILVA; PAULA NETO,
1979; CAMPOS, 1993, MACHADO; FIGUEIREDO FILHO, 2003).

2. Tipos de medidas

Segundo Spurr (1952), três fatores governam a escolha das medidas a serem
realizadas nas árvores: a facilidade e a velocidade que as medidas podem ser
realizadas; a exatidão com que podem ser feitas e a correlação entre as medidas
e as características às quais se desejam uma estimativa.

De acordo com Silva e Paula Neto (1979), as medidas podem ser classificadas
como diretas e indiretas. Quando são realizadas medidas diretas, faz-se, na
realidade, uma determinação, enquanto as indiretas se referem
à estimação (medição aproximada).
Como medidas diretas, têm-se os diâmetros e as circunferências dos fustes e
dos galhos das árvores, os comprimentos das toras, a espessura da casca e as
alturas das árvores abatidas, entre outras. Como medidas indiretas, citam
aquelas que estão fora do alcance direto do homem, sendo necessária, muitas
vezes, a utilização de métodos óticos. Como exemplo dessas medidas, podem-
se citar a altura e o volume das árvores em pé.

3. Unidades de medida

No Brasil, o sistema de unidades adotado desde 1962 é o Sistema Internacional


de Unidades – SI. Dessa forma, torna-se necessário que as medidas realizadas
sejam expressas nas unidades pertencentes a esse sistema, evitando, assim,
questionamentos legais com relação a contratos de prestação de serviços e de
compra e venda de madeira, bem como o uso de fatores de conversões para as
unidades desejadas.

As principais grandezas físicas medidas ou estimadas e as respectivas unidades


de medida, em dendrometria, são:

* Unidade de medida em uso com o SI, sem restrição de prazo.


Em algumas situações, as medidas necessitam ser convertidas em outras, haja
vista que:

1. Alguns instrumentos fornecem estimativas no Sistema


Inglês (polegadas, pés etc.).

2. Deseja-se expressar o resultado final de uma operação em uma unidade


diferente daquela originalmente medida (ex.: metro quadrado para
hectare).

3. Há a necessidade de efetuar cálculos envolvendo duas medidas com


unidades diferentes (ex.: diâmetro em centímetros e espessura da casca
em milímetros).

Nesse caso, devem-se utilizar fatores de conversões apropriados, por exemplo:

4. Erros de medição

Em geral, toda grandeza física tem um valor verdadeiro, que é o valor exato da
grandeza. Consequentemente, o erro de uma medição é a diferença entre o valor
da medida e o valor exato da grandeza em questão. Quanto maior a incerteza
sobre o valor da medida, maior o erro de medida.
Para realizar a medida de uma grandeza física qualquer de forma correta, deve-
se:

1. Escolher um instrumento adequado para a medida.

2. Aprender o procedimento de utilização do instrumento.

3. Aprender a ler a escala de medida desse instrumento.

A não-observância desses itens acarreta erros de medição, os quais podem ser


divididos nas seguintes categorias:

1. Erros estatísticos: estes erros são resultantes de variações aleatórias da


medida devido a fatores não controlados. Por exemplo, a presença de
corrente de ar quando se realiza uma medida de massa em uma balança
muito sensível.

2. Erros sistemáticos: estes erros têm causas diversas e influem na medida


sempre num mesmo sentido, para mais ou para menos em relação ao
verdadeiro valor da grandeza. Por exemplo, a falta de calibração de um
instrumento.

3. Erros grosseiros: estes não são considerados erros, do ponto de vista


da teoria dos erros. São considerados enganos que o operador comete
durante a medição ou nos cálculos durante a análise dos dados.

5. Exatidão e precisão de uma medida

A exatidão de uma medida é um conceito qualitativo e refere-se a quanto os


valores medidos se aproximam do verdadeiro valor da grandeza. Quanto maior
a exatidão de uma medida, mais próxima ela estará do verdadeiro valor da
grandeza.
A precisão de uma medida também é um conceito qualitativo e usada para
caracterizar a magnitude dos erros presentes na medida. Quanto menor a
magnitude dos erros, maior a precisão da medida.

Sejam as duas réguas apresentadas na Figura 1.1, na qual se pode verificar que
medidas realizadas com a régua B são mais precisas que pela régua A, dada a
incerteza que a escala desta última proporciona. No entanto, embora as medidas
realizadas com a régua B possam ser precisas, estas podem não ser exatas se
a régua for graduada de forma incorreta, ou seja, apresenta um erro sistemático.

Figura 1.1 - Representação de duas réguas com escalas diferentes.

6. Algarismos significativos

O número de dígitos com que deve ser escrito o número associado ao valor de
uma medida depende da precisão do instrumento. Na Figura 1.1, têm-se duas
réguas com mesmo Fundo de Escala – o valor máximo que o instrumento pode
fornecer – igual a 10 cm, porém com precisões diferentes. Na régua A, a menor
divisão é 1 cm e na régua B, 0,1 cm. Realizando a medida com a régua A,
conclui-se que o comprimento (L) da barra sobre a régua está entre 5 e 6 cm.
Executando-a com a régua B, esse valor estará entre 5,3 e 5,4 cm. Esses
resultados podem ser para a régua A, L = 5, ? cm e para a régua B, L = 5,3 ? cm.
Percebe-se que a fração do valor de L que se pode estimar (aqui representada
pelo dígito ?) depende da escala do instrumento que se utiliza.

Embora o valor de ? não seja conhecido, pode-se estimá-lo fazendo um "chute"


criterioso. Por exemplo, pode-se afirmar que, para a régua A, L é igual a 5,3 cm
e para a régua B, L é igual a 5,34 cm. Outro leitor poderia dizer que as leituras
em A e B são iguais a 5,4 cm e 5,33 cm, respectivamente. Ambas as leituras
estão corretas, e uma avaliação não é melhor ou pior do que a outra, já que toda
avaliação é subjetiva e varia de pessoa para pessoa. O dígito estimado no valor
de uma medida é chamado de algarismo significativo duvidoso. Os demais
dígitos que compõem o valor da medida são chamados de algarismos
significativos exatos. Na medida L = 5,3 cm, o número 5 é o algarismo
significativo exato e o número 3, o algarismo significativo duvidoso. Na medida
L = 5,34 cm, os números 5 e 3 são algarismos significativos exatos e o 4 é o
algarismo significativo duvidoso.
Observa-se que o valor de uma grandeza medida geralmente não possui mais
do que um algarismo significativo duvidoso, pois não faz sentido avaliar uma
fração de um número estimado. Os algarismos significativos exatos mais o
algarismo significativo duvidoso do valor de uma medida definem os algarismos
significativos da medida.

7. Critérios de arredondamento

Quando operações aritméticas são realizadas, frequentemente há a


necessidade de arredondar os resultados obtidos, para que estes reflitam
adequadamente a confiabilidade do valor. Isto é, arredondamentos são
necessários para que os resultados tenham um número apropriado de
algarismos significativos. Esses arredondamentos são efetuados no algarismo
menos significativo de um número, ou seja, naquele algarismo significativo mais
à direita do número.
Entre os critérios de arredondamento mais utilizados, têm-se:

a) Se o algarismo à direita daquele que será o menos significativo do resultado


for igual ou menor do que 4, o resultado deverá ser arredondado para baixo.

b) Se o algarismo à direita daquele que será o menos significativo do resultado


for maior ou igual a 5, o resultado deverá ser arredondado para cima.

Exemplos de arredondamentos:

No primeiro exemplo, deseja-se expressar a medida sem casas decimais. Assim,


como o primeiro dígito após a vírgula é menor que 4, o valor arredondado será
40. No segundo, deseja-se expressar a medida com apenas uma casa decimal.
Dessa forma, o valor será 7,7, uma vez que o segundo dígito após a vírgula é
igual a 5. Já no terceiro, deseja-se expressar a medida com duas casas
decimais. Como o terceiro dígito é igual a 4, a medida será 0,43.

Com a utilização crescente de microcomputadores, pode-se manipular uma


massa de dados extremamente grande, de tal forma que muitas transformações
e operações matemáticas podem ser realizadas de única vez. Em operações
dessa natureza, devem-se utilizar todas as casas decimais, sendo o
arredondamento feito apenas no resultado final. Com isso, consegue-se uma
estimativa final da grandeza em questão mais exata.

8. Símbolos
Em 1959, a International Union of Forestry Research (IUFRO) publicou uma
recomendação para a padronização de símbolos na mensuração florestal. No
Brasil, muitas escolas de floresta utilizam a recomendação da IUFRO. No
entanto, a regionalização e até mesmo aspectos culturais criaram uma
simbologia própria sem, contudo, mudar os aspectos teóricos e práticos
relacionados às medidas.

Como exemplos destes símbolos, têm-se:

C = circunferência qualquer.

Cc/c = circunferência com casca.

Cs/c = circunferência sem casca.

CAP = circunferência com casca medida a 1,30 m do solo.

d = diâmetro qualquer.

dc/c = diâmetro com casca.

ds/c = diâmetro sem casca.

DAP = diâmetro com casca medido a 1,30 m do solo.

Ec = espessura de casca.

h ou H = altura qualquer.

Ht = altura total.

Hc = altura comercial.

Hf = altura do fuste.

N ou n = número de árvores.
AB = área basal por hectare.

N/ha = número de árvores por hectare.

AS = área seccional.

g = área seccional medida a 1,30 m do solo (DAP).

V = volume.

Vc/c = volume com casca.

Vs/c = volume sem casca.

VTc/c = volume total com casca.

VTs/c = volume total sem casca.

V/ha = volume por hectare.

a, b e q = ângulos.

L = comprimento de uma seção do fuste ou distância entre o observador e a


árvore no plano horizontal.

fe = fator de empilhamento.

f = fator de forma.

Q = quociente de forma.
Capitulo 2

DIÂMETRO, CIRCUNFERÊNCIA E ÁREA


BASAL

1. Definição e importância do DAP

Embora seja possível medir vários diâmetros ao longo do fuste de uma árvore,
e até mesmo de galhos, a medida mais usual refere-se ao diâmetro com casca
à altura do peito, denominado DAP.

Há quatro razões para que o diâmetro à altura do peito (DAP) seja de particular
importância:

a) É uma característica que pode ser facilmente avaliada. Em comparação com


outras características das árvores, as medidas são mais confiáveis; erros de
medição e suas causas são reconhecidos e podem ser limitados a um valor
mínimo pela utilização de instrumentos apropriados, pela utilização de métodos
de medição adequados e pelos cuidados nas tomadas das medidas.

b) O diâmetro à altura do peito (DAP) é o elemento mais importante medido em


uma árvore, pois fornece a base para muitos outros cálculos. Ele serve para a
obtenção da área seccional à altura do peito (g), medida importante no cálculo
do volume das árvores e de povoamentos, a qual é dada pela seguinte
expressão:

Uma árvore com DAP igual a 20,0 cm possui área seccional igual a:
Cabe destacar que as expressões anteriores podem ser utilizadas para obter a
área seccional (AS) referente a um diâmetro qualquer (d), sendo redefinidas por:

Observação: A área seccional deve ser expressa pelo menos com quatro casas
decimais.

Se duas árvores possuem DAPs iguais a 5,1 e 5,2cm, respectivamente, as área


seccionais serão:

Neste exemplo, se as duas áreas seccionais fossem expressas com menos do


que quatro casas decimais poder-se-ia concluir diâmetros diferentes geram
áreas seccionais iguais ou até mesmo áreas seccionais iguais a zero.

c) O agrupamento dos diâmetros das árvores em classes (classes de DAP)


define a distribuição diamétrica da floresta, a qual é essencial para a definição
do estoque de crescimento e para análise de decisões econômicas e
silviculturais.

d) Com os diâmetros à altura do peito (DAP), pode-se calcular a área basal do


povoamento, pelo somatório das áreas seccionais das árvores, de acordo com
a expressão abaixo:
A área basal é um importante parâmetro da densidade do povoamento.
Normalmente é expressa em m2/ha, fornecendo o grau de ocupação de
determinada área por madeira.

A preferência da altura do peito como uma referência de altura tem duas razões:

a) À altura do peito, os instrumentos de medição de diâmetros são facilmente


manuseados.

b) Em muitas árvores, as deformações, normalmente presentes na base do fuste


das árvores e que dificultam a medição dos diâmetros e introduzem erros nas
estimativas de áreas seccionais, estão bem reduzidas acima da altura do peito.

O termo “altura do peito” sozinho não é suficiente para definir a altura medida.
Baseando-se no Sistema Internacional de Unidades – SI, no Brasil, o DAP é
medido à altura de 1,30 m sobre o nível do solo. Nos Estados Unidos, o DAP é
medido a 1,37 m; na Inglaterra e em outros países europeus, a 1,29 m; e no
Japão, a 1,25 m. Essas diferentes alturas de medição do DAP implicam
impedimento na comparação de valores de área basal em nível internacional.

Em algumas situações, principalmente devido à escolha do instrumento, no lugar


de medir o DAP, mede-se a circunferência com casca à altura do peito (CAP).
Essa medida também pode ser utilizada no cálculo da área seccional (g), porém
há a necessidade da sua conversão para DAP, conforme será visto à diante, no
item 2.2.

2. Medidas de diâmetro e circunferência à


altura do peito
2.1. A suta

A suta (Figura 2.1) é um instrumento comum para a medição direta do diâmetro.


Ela consiste de uma barra graduada e de dois braços paralelos dispostos
perpendiculares à barra. Um braço é fixo, e o outro se desloca de um lado para
o outro.

Figura 2.1 - Suta.

Três requerimentos básicos devem ser satisfeitos por uma suta:

1. O material deve ser resistente, à prova d’água e fácil de limpar (acúmulo de


resinas, óleos etc.). Especialmente para diâmetros grandes, as sutas devem ser
fabricadas com metais leves (alumínio, de preferência). Sutas de madeira são
extremamente pesadas e sofrem influência climática.

2. Os braços da suta devem se localizar em um mesmo plano e perpendiculares


a barra fixa. No momento da medição, eles devem estar absolutamente
paralelos.

3. A escala de graduação das medidas deve estar calibrada e legível.

Os erros mais frequentes ao se utilizar a suta são:


1) Falta de paralelismo dos braços da suta. A não-observância do paralelismo
dos braços da suta resulta em medidas de diâmetros menores do que os
diâmetros verdadeiros e, consequentemente, em áreas seccionais menores do
que as verdadeiras.

A Figura 2.2 ilustra o erro por falta de paralelismo dos braços da suta, o qual é
dado aproximadamente por:

Figura 2.2 - Erro devido à falta de paralelismo dos braços da suta.

2) Inclinação da suta. Este erro (Figura 2.3) influencia positivamente o cálculo da


área seccional, uma vez que os diâmetros medidos são maiores do que os
verdadeiros.
Figura 2.3 - Inclinação da suta (vista de frente).

3) Não observância da altura de medição. O erro pela não-observância da altura


exata de medição (Figura 2.4) pode ser obtido por:

Figura 2.4 - Erro devido à não-observância da altura correta da medição do


diâmetro.
O erro pode ser positivo ou negativo se o diâmetro for medido acima ou abaixo
do ponto exato de medição. Quanto menos cilíndrico o fuste da árvore, maior o
erro e quanto maior a distância do ponto exato, maior também o erro.

4) Variação da pressão de contato. Uma força excessiva exercida pelos braços


da suta sobre o fuste da árvore resulta em diâmetros menores do que os
verdadeiros. Entre todos os erros citados, sem dúvida, este é o mais difícil de
controlar.

2.2. A fita diamétrica

A fita diamétrica (Figura 2.5) é o instrumento que permite obter tanto o diâmetro
quanto a circunferência do fuste e de galhos.

Figura 2.5 - Esquema das escalas para a obtenção de circunferências e de


diâmetros com uma fita diamétrica.

Normalmente, as fitas são feitas de materiais resistentes, de tal forma que não
sofram variações no seu comprimento devido a variações climáticas e nem
desgaste devido ao contato com a casca das árvores. Elas possuem duas
escalas, uma para obter a circunferência e outra para obter o diâmetro. Uma
unidade de circunferência (C) equivale a 3,1416 (p) unidades de diâmetro (d).
Assim sendo e assumindo essa relação de circularidade, tem-se a seguinte
expressão de conversão da circunferência em diâmetro:
Observação: Se o resultado desta operação matemática for expresso em
metros, deixar quatro casas decimais; se em centímetros, duas casas decimais.

Se uma árvore possui CAP igual a 50,0cm, o seu DAP será igual a:

Os erros de medição com a fita diamétrica são semelhantes aos erros com a
suta, conforme mostrado nos tópicos subsequentes.

1) Inclinação da fita. Sejam as seguintes situações apresentadas na Figura


2.6ab:

Figura 2.6 - Inclinação da fita diamétrica na obtenção de circunferências ou de


diâmetros: vista de frente (a) e de lado (b).

A fita diamétrica descreve, nos dois casos, uma elipse, cujo perímetro é maior
do que o de um círculo (circunferência), tomado na posição correta. Assumindo
que a seção do fuste seja circular, ao dividir o perímetro da elipse por p obtém-
se um diâmetro maior que o diâmetro correto, o que acarreta um efeito positivo
sobre o cálculo da área seccional do fuste da árvore, ou seja, resulta em áreas
seccionais maiores do que as verdadeiras.
2) Não observância da altura de medição. Os erros cometidos com a fita, neste
caso, são semelhantes aos com a suta.

3) Variação da pressão de contato. O erro cometido pela pressão da fita sobre o


fuste das árvores é menor do que o cometido com a suta, tendo em vista o
material empregado na sua confecção e a menor pressão exercida sobre a
árvore (apenas o dedo indicador).

Como complemento, em algumas situações o uso da fita pode causar efeito


positivo sobre a área seccional do fuste das árvores (áreas seccionais maiores),
principalmente se liquens, gomas e partículas não forem removidos da casca.

2.3. Desvio da seção do fuste da forma circular

De maneira geral, a área da seção do fuste de uma árvore assemelha-se muito


à forma circular. No entanto, algumas espécies apresentam área seccional
extremamente irregular ao longo do fuste ou deformações somente na sua parte
inferior. Isso se deve a fatores externos, como inclinação do terreno, direção do
vento, luminosidade e condições da copa das árvores ou fatores internos, como
a própria predisposição genética da espécie.

O desvio da seção do fuste da forma circular pode ser caracterizado pelo déficit
de convexidade e pelo déficit isoperimétrico (igual perímetro). A Figura 2.7 ilustra
os referidos termos:
Figura 2.7 - Formas das seções do tronco. (Fonte: LOETSCH et al., 1973)

O déficit de convexidade é definido como a diferença entre a área encerrada por


uma fita diamétrica e a verdadeira área da seção (área hachurada – Figura 2.7).
O déficit isoperimétrico, por sua vez, é dado em todas as áreas convexas
fechadas (letra a até f), partindo de um verdadeiro círculo. As áreas convexas
fechadas são sempre menores (déficit) do que a área de um círculo de igual
circunferência. Isso significa que se a área seccional for computada para um
círculo, utilizando-se o perímetro de uma figura geométrica que não se aproxima
do círculo, o valor dessa área será sempre maior do que o seu verdadeiro valor.
O teorema postulado por Cauchy, em 1841, diz que “a média aritmética de todos
os possíveis diâmetros de um fechamento convexo (letra a até f) é idêntica ao
diâmetro derivado de circunferências obtidas pelo uso da fórmula da área de um
círculo”. Do ponto de vista prático, isso quer dizer que, em árvores com seções
bem próximas a circulares, tanto faz medir o diâmetro ou a circunferência, por
meio de suta ou fita diamétrica, respectivamente, que as áreas seccionais serão
bem próximas das de um círculo. Em árvores com desvio de forma, se possível,
deve-se tomar mais de um diâmetro em posições perpendiculares no fuste para
o cálculo da média aritmética desses diâmetros, a qual será utilizada no cálculo
da área seccional.
No caso de medidas repetidas no tempo, é conveniente medir circunferências
em vez de diâmetros, pois estas não dependem da posição do operador em torno
da árvore. Como a circunferência é igual a p (3,1416) vezes o diâmetro, um erro
de 1 (um) centímetro em diâmetro acarreta erro de mais de 3 cm na
circunferência, enquanto um erro de 1 cm na circunferência acarreta erro menor
que 0,3 cm em diâmetro.

3. Erros devido a mudanças sazonais do


diâmetro

As medidas de diâmetro, durante o curso de um inventário florestal, são


geralmente obtidas em um período de trabalho que pode durar muito tempo.

Se os diâmetros são medidos durante a estação de crescimento, por exemplo,


as áreas basais determinadas no começo podem diferir daquelas calculadas no
final da estação, devido às condições ambientais. Assim, medições repetidas
periodicamente devem ser realizadas, se possível, no mesmo período do ano e,
de preferência, em épocas de menor crescimento (estação seca).

4. A casca

A casca é definida como parte do corpo da árvore que fica junto ao câmbio. Ao
amostrar a casca, muitas vezes o câmbio se solta e adere sob ela. Do ponto de
vista da mensuração, ele é considerado parte integrante da casca.

Muitas espécies possuem casca macia, podendo ser penetradas facilmente com
diferentes instrumentos. Outras, porém, são extremamente duras, de forma que
a sua espessura deverá ser obtida, retirando-se um pedaço dela com o auxílio
de instrumento cortante.

A estimação do volume e do peso da casca das árvores normalmente é de


importância secundária nos inventários florestais. No entanto, ultimamente esta
tem assumido papel de destaque na geração de energia elétrica, tornando
muitas empresas de transformação do setor florestal auto-suficientes.

Como todas as variáveis dendrométricas, a casca deve ser medida


cuidadosamente. Por exemplo, se ao medir uma casca de 15 mm de espessura,
comete-se um erro de ± 1 mm, isso representará um erro de aproximadamente
7%.

Deve-se destacar, também, a relação entre o diâmetro com casca (dc/c), o


diâmetro sem casca (ds/c) e a espessura da casca (Ec). Caso queira obter o
diâmetro sem casca, deve-se descontar duas vezes a espessura da casca do
diâmetro com casca, de acordo com a expressão a seguir:

Se em um ponto qualquer do fuste da árvore o diâmetro com casca (dc/c) for


igual a 20,0cm e a espessura da casca (Ec) igual a 1,0cm, o diâmetro sem casca
será igual a:

Observação: Nunca descontar a espessura da casca da circunferência. Deve-


se converter primeiro a circunferência com casca em diâmetro com casca para,
depois, descontar duas vezes a espessura da casca.

5. Situações práticas de campo


Na ilustração a seguir são apresentadas algumas situações práticas de campo
e os respectivos pontos de medição (PMD).

6. Distribuição diamétrica

Através do agrupamento dos diâmetros das árvores (DAPs) em classes, pode-


se caracterizar a distribuição diamétrica de uma floresta. Para isso, deve-se
definir o diâmetro mínimo de medição, em razão do uso da madeira, bem como
a amplitude da classe de diâmetro para a elaboração de uma tabela de
frequência. A amplitude das classes diamétricas, assim como o número de
classes, varia de acordo com a magnitude dos diâmetros. No Brasil, a maioria
dos trabalhos utiliza amplitudes de classe entre 2 e 2,5 cm, para plantios, e entre
5,0 e 10,0 cm, para florestas inequiâneas (naturais).

A distribuição diamétrica de uma floresta equiânea (árvores de mesma idade),


um plantio, por exemplo, tende à distribuição normal (Figura 2.8), podendo
apresentar diferentes configurações devido ao estágio de desenvolvimento
(idade) e ao local de plantio (capacidade produtiva).

Figura 2.8 - Distribuição diamétrica característica de uma floresta equiânea.

A distribuição diamétrica de uma floresta inequiânea (árvores de diferentes


idades), como a Floresta Amazônica ou a Mata Atlântica, tende a uma
distribuição no formato de J-invertido (Figura 2.9), podendo apresentar, também,
diferentes configurações devido ao seu estágio de desenvolvimento.
Figura 2.9 - Distribuição diamétrica característica de uma floresta inequiânea.

Para ilustrar a elaboração de uma tabela de frequência e de um gráfico de


distribuição diamétrica, têm-se os seguintes dados de DAP (CAMPOS,1993): 6,5
– 8,0 – 11,5 – 7,0 – 16,5 – 13,5 – 6,0 – 8,5 – 16,0 – 12,0 – 10,5 – 11,0 – 9,0 –
13,0 – 9,5 – 14,0 – 11,5 – 11,0.

Considerando uma amplitude de classe de 2,5 cm e um diâmetro mínimo de


medição igual a 5,0 cm, pode-se elaborar a seguinte tabela de frequência:

Para a elaboração da tabela anterior, foi necessário verificar, inicialmente, em


quais classes de diâmetro os DAPsdas árvores se enquadravam. Em seguida,
fez-se a contagem do número de árvores em cada classe (freqüência).
De posse dos dados da tabela de freqüência, pode-se elaborar o gráfico de
distribuição. Para isso, considera-se o centro de cada classe como o eixo das
ordenadas e a freqüência do número de árvores, o eixo das abscissas.

Graficamente, tem-se a seguinte distribuição diamétrica (Figura 2.10):

Figura 2.10 - Distribuição diamétrica do exemplo em questão.

7. Estatísticas associadas ao diâmetro

7.1. Média aritmética

A média aritmética dos DAPs ( ) pode ser calculada de duas formas diferentes:
utilizando os dados individuais dos diâmetros ou os de uma tabela de freqüência,
de acordo com as seguintes expressões:

em que:
DAPi = diâmetro a 1,30 m do solo da i-ésima árvore;

n = número total de árvores;

cli = centro da i-ésima classe de diâmetro; e

fi = freqüência na i-ésima classe de diâmetro.

Considerando os DAPs e os dados apresentados na tabela de freqüência no item


6, a média dos diâmetros é igual a:

Dependendo da amplitude das classes de diâmetro, da dispersão dos diâmetros


em relação ao centro da classe e do número de árvores em cada classe, as
estimativas de calculadas das duas maneiras, podem ser diferentes.

7.2. Média quadrática ou diâmetro médio (q)

A área seccional média, considerando-se os DAPs de um conjunto de n árvores,


pode ser obtida por:

Pode-se utilizar, no entanto, uma alternativa para o cálculo da área seccional


média. Nesse caso, deve-se usar a média quadrática dos diâmetros ou o
diâmetro médio (q).
Semelhante à média aritmética dos diâmetros, o diâmetro médio pode ser
calculado de duas formas diferentes (VAN LAAR; AKÇA, 2007):

Observação: O diâmetro médio (q) é sempre superior ou igual a . Nunca é


menor.

Por analogia, se a área seccional é calculada genericamente por:

a área seccional média pode ser definida por:

Assim, de acordo com a expressão anterior, o diâmetro médio (q) pode ser obtido
de outra maneira:

Para aumentar o entendimento sobre o uso do diâmetro quadrático (q), considere


duas árvores com diâmetros iguais a DAP1 e DAP2 e mesma altura H. Se os
volumes dos fustes destas árvores fossem obtidos por meio da expressão do
volume de um cilindro, então:
O volume médio será obtido por:

Uma vez que:

então o volume médio também pode ser obtido por:

Desta forma, pode-se demonstrar que o que define a área seccional média é
diâmetro quadrático (q) e não a média aritmética dos diâmetros.

7.3. Diâmetro equivalente (deq)

A área basal de um conjunto de árvores pode ser encontrada pelo somatório das
áreas seccionais, calculadas utilizando-se os DAPs dessas árvores. No entanto,
a área basal pode ser obtida usando-se o diâmetro equivalente a essa área
basal, o qual é dado pela seguinte expressão:

Assim, a área basal será obtida por:


8. Exercícios

Com os seguintes dados, pede-se:

1) Calcular os diâmetros sem casca de cada árvore.

2) Considerando os diâmetros com casca (DAPs), calcular:

2.1. A média aritmética dos diâmetros.

2.2. O diâmetro médio ou diâmetro quadrático (q).

2.3. O diâmetro equivalente (deq).

2.4. A área basal de duas maneiras diferentes.

2.5. A área seccional média de duas maneiras diferentes.

Resultados:
1)

2.1)

2.2)

2.3)

2.4)

1º)
2º)

2.5)
Capitulo 3

ALTURA

1. Definição de altura

A altura é outra importante característica da árvore, obtida por medição ou


estimação. Ela serve para computar o volume de árvores individuais e, em
conexão com a idade, determinar a qualidade de um local para a produção de
madeira.

As seguintes definições de altura são utilizadas no inventário florestal (Figura


3.1):

Figura 3.1 - Representação de diferentes alturas das árvores.

a) Altura total: é a distância entre o solo e o final da copa da árvore. A altura total
é utilizada para estimar o volume do fuste, em equações de volume, bem como
para determinar a qualidade do local.

b) Altura da copa: é a distância entre o início e o final da copa da árvore. Seu


começo normalmente é definido pela inserção do primeiro galho vivo. Essa altura
é utilizada para a definição da intensidade da desrama em árvores destinadas à
produção de madeira serrada.

c) Altura comercial: é a distância entre algum ponto na parte inferior do fuste e


um diâmetro comercial, definido por determinado uso, ou a distância entre algum
ponto na parte inferior do fuste e algum defeito ou bifurcação no fuste da árvore.
Em florestas naturais, nos países tropicais esse ponto na parte inferior do fuste
geralmente é definido imediatamente acima de deformações na sua base.

d) Altura do fuste: é a distância entre o solo e o começo da copa da árvore. Em


certas circunstâncias, coincide com a altura comercial.

2. Estimação de alturas

A estimação da altura das árvores é feita utilizando instrumentos


denominados hipsômetros. Os hipsômetros podem ser divididos em duas
categorias, de acordo com o seu princípio de construção:

a) Os que se baseiam no princípio geométrico (relação entre triângulos).

b) Os que se baseiam no princípio trigonométrico (relação entre ângulos e


distâncias).

a) Princípio geométrico

Entre os hipsômetros baseados neste princípio de construção, tem-se o


hipsômetro de Christen, representado na Figura 3.2.
Figura 3.2 - Hipsômetro de Christen.

A principal característica deste instrumento é o fato de que, para a sua utilização,


não há necessidade de se conhecer a distância entre o observador e a árvore.

Para exemplificar o princípio de construção desse instrumento, tem-se a figura a


seguir:

em que:
Dessa forma, tem-se a seguinte relação, por semelhança de triângulos:

Dado que os segmentos e são conhecidos, basta simular várias alturas


( ) para graduar o hipsômetro.

O hipsômetro de Christen possui baixa precisão em árvores muito altas, devido


ao adensamento da sua escala. Para evitar a necessidade de correções nas
estimativas das alturas, deve-se utilizar sempre uma baliza auxiliar do mesmo
tamanho daquela empregada para graduar o instrumento.

Para usar corretamente o hipsômetro de Christen, o observador, segurando o


hipsômetro com os braços esticados e na direção dos olhos, deve se deslocar
até que a árvore se encaixe na abertura do instrumento. Concomitante a isso,
uma baliza, de mesmo tamanho que graduou o hipsômetro, deve ser encostada
na árvore de que se deseja estimar a altura. A altura estimada da árvore é obtida
no ponto de interseção entre o topo da baliza e a escala do instrumento.

b) Princípio trigonométrico

Entre os hipsômetros tradicionais que utilizam esse princípio de construção, têm-


se o Nível de Abney, o Blume-Leiss, o Haga e o Suunto Clinômetro, os quais são
apresentados na Figura 3.3. Além destes instrumentos, existem outros com
tecnologia mais moderna (digital), com destaque para o Vertex IV, o clinômetro
eletrônico Haglof, o CRITERION RD 1000, entre outros.
Figura 3.3 - Nível de Abney (A), Blume-Leiss (B), Haga (C) e Clinômetro Suunto
(D).

Para a utilização correta de instrumentos com esse princípio de construção,


deve-se conhecer a distância entre o observador e a árvore para que as leituras
no instrumento – uma na base da árvore e outra no topo, ou em qualquer outro
ponto superior – sejam feitas corretamente.

A Figura 3.4 ilustra as situações mais comuns na estimação de altura das


árvores, em que os olhos do observador estão visando algum ponto do segmento
do fuste (caso A) ou um ponto abaixo da base da árvore (caso B) ou acima do
seu topo (caso C).
Figura 3.4 - Situações comuns na estimação das alturas das árvores com
hipsômetros.
* Caso (A)

Considerando os ângulos β (beta) e α (alfa), a distância no plano horizontal (L)


e os segmentos e , podem-se escrever as seguintes relações
trigonométricas:

ou que:

A altura da árvore pode ser, então, obtida por:

* Caso (B)

A altura da árvore ( ), nesse caso, é dada pela diferença entre os


segmentos e . Seguindo o mesmo raciocínio da demonstração anterior,
pode-se obter a seguinte relação:

* Caso (C)

A altura da árvore ( ), nesse caso, também é dada pela diferença entre os


segmentos e . Dessa forma, pode-se obter, também, a seguinte relação:
Assim, pode-se definir uma expressão geral para estimar a altura das árvores
(H), quando o hipsômetro fornece os ângulos de leitura:

Existem, no entanto, instrumentos que fornecem as estimativas de altura


diretamente em metros ou em porcentagem da distância entre o observador e a
árvore no plano horizontal. Nesses casos, a expressão geral fica assim
redefinida:

a) Porcentagem

em que: P1 e P2 = leituras inferior e superior, em porcentagem.

b) Leitura direta

em que: h1 e h2 = leituras inferior e superior, em metros.

Regra geral:

A escala do hipsômetro, baseada no princípio trigonométrico, normalmente é


dividida em duas partes, assumindo-se valor zero no centro da escala, valores
positivos à direita do zero e negativos à esquerda. Independentemente da escala
de graduação dos hipsômetros (porcentagem, graus ou metros), se as leituras
forem obtidas em lados opostos da escala (positiva e negativa), elas devem
ser somadas para se obter a altura da árvore. Se forem obtidas no mesmo
lado (mesmo sinal), devem ser subtraídas. No caso A, mostrado anteriormente,
as leituras serão somadas; nos casos B e C, subtraídas.

3. Problemas com a declividade do terreno

As expressões gerais, utilizadas para estimar a altura das árvores, levam em


consideração a distância entre o observador e a árvore no plano horizontal (L).
Em declividades menores que 10o, normalmente assume-se que a distância no
plano horizontal seja igual à distância medida no campo (Dcampo). Em
declividades acima desse valor, a distância no plano horizontal (L) será obtida
pela seguinte expressão:

em que: = ângulo de inclinação do terreno, em graus.

Dessa maneira, as expressões para leituras em graus e em porcentagem ficam


assim redefinidas:

Embora seja possível efetuar a correção da altura para hipsômetros com escala
de leitura direta em metros, em virtude da declividade do terreno, o operador
pode se posicionar no campo a uma distância tal que forneça as leituras corretas.
Essa distância é dada pela seguinte expressão:
em que: Dcampo = distância medida no campo, em metros; = ângulo de
inclinação do terreno; e L = distância em um plano horizontal.

Do ponto de vista operacional, para evitar problemas com as estimativas das


alturas, em terrenos com declividade maior que 10o, o operador do hipsômetro
deve se posicionar na mesma cota que a base da árvore, seguindo as curvas de
nível.

Como complemento, alguns instrumentos fornecem a declividade do terreno em


porcentagem. Assim, pode-se utilizar a seguinte expressão para obter ângulo de
declividade em graus:

em que: Arctg = arco tangente; e P = declividade, em porcentagem.

Exemplo:

Para ilustrar essa situação, se a declividade do terreno for igual a 25%, isso
corresponde a um ângulo de inclinação de quantos graus?

= Arctg (25/100) = 14,03o

4. Erros na estimação das alturas

O erro total cometido ao se estimar a altura de uma árvore pode ser devido aos
seguintes componentes:

a) Erros relacionados ao objeto


A altura total de uma árvore só poderá ser corretamente estimada se o topo e a
base da árvore estiverem simultaneamente visíveis. Árvores com copas
semelhantes à apresentada na da Figura 3.5 propiciam estimativas de altura
superestimadas, tendo em vista a dificuldade de se definir o final da copa da
árvore.

Figura 3.5 - Dificuldade de visualizar o final da copa da árvore.

Em florestas densas, sobretudo aquelas com regeneração natural abundante, o


observador tem dificuldade em visualizar a base do fuste da árvore, acarretando
erros na estimação da altura. Nesse caso, pode-se colocar uma vara auxiliar de
tamanho conhecido ao lado do fuste da árvore e proceder à estimação da altura
a partir do topo da vara. A altura da árvore será a estimativa obtida pelo
instrumento somada ao comprimento da vara auxiliar.

Outra situação se refere à estimação da altura de árvores inclinadas (Figura


3.6).
Figura 3.6 - Obtenção de altura de árvores inclinadas.

Se o observador estimar a altura total da árvore baseando-se na distância entre


o final da copa da árvore e a sua projeção no solo ( ), essa estimativa estará
subestimada. Para contornar essa situação, pode-se utilizar o teorema de
Pitágoras, em que a altura da árvore será a hipotenusa do triângulo retângulo (
) e os catetos, a distância entre a projeção da copa da árvore e a base do
fuste ( ) e o seguimento ( ). Assim, a altura da árvore seria obtida por:

Nessa situação, o operador deverá se posicionar de tal forma que a inclinação


da árvore fique à sua direita ou à sua esquerda.

b) Erros relacionados aos instrumentos

Quando são construídos hipsômetros baseados no princípio geométrico, alguns


cuidados devem ser tomados, principalmente em relação à exatidão da escala
de graduação. Loëtsch e Haller (1964), citando L. Mattson (1931), mostraram
que, para o hipsômetro de Christen (abertura de 30 cm e vara auxiliar de 5 m),
havia tendência de subestimação das alturas de árvores menores que 18 m e
superestimação das alturas maiores que essa.

Erros associados aos hipsômetros baseados no princípio trigonométrico se


devem, basicamente, à negligência na manutenção e manuseio dos
instrumentos. Alguns estudos, segundo Loëtsch e Haller (1964), apontaram
erros de até ± 2,4% da altura total da árvore.

c) Erros relacionados ao observador (operador)


A medição da altura de uma árvore requer habilidade do operador. Erros nas
tomadas das medidas de altura podem ocorrer devido a problemas de visão,
técnica incorreta da tomada das leituras nos instrumentos, operação incorreta do
instrumento e distância incorreta entre o observador e a árvore, entre outros.

Nem sempre é possível separar esses componentes, uma vez que suas causas
estão freqüentemente ligadas. Geralmente, a dificuldade de visualização e
definição do final da copa das árvores causa as maiores diferenças entre as
estimativas obtidas pelo hipsômetro e as reais.

5. Exemplos

Sejam os dados referentes à estimação das alturas de cinco árvores, utilizando-


se hipsômetros com escalas diretas em metros, em porcentagem e em graus.

Com as expressões definidas anteriormente, obtiveram-se as seguintes


estimativas das alturas das árvores:

*Árvore 1:

*Árvore 2:
*Árvore 3:

Declividade de 12% = Arctg(12/100) = 6,84o

*Árvore 4:

Declividade = 16o (> 10o) => L = 30.Cos16o = 28,84m

*Árvore 5:

Declividade de 25% = > =Arctg(25/100) = 14,03o

L = 20.Cos14,03º = 19,40m

Observação: Tendo em vista as diferentes subdivisões das escalas dos


hipsômetros, deve-se expressar a altura da árvore com duas casas decimais.

6. Relação altura versus diâmetro

A relação entre as alturas das árvores e seus DAPs define a chamada relação
hipsométrica, cuja curva característica pode ser visualizada na Figura 3.7.
Figura 3.7 - Comportamento gráfico das alturas das árvores em relação aos
seus DAPs.

A expressão da altura da árvore em função do seu DAP é de fundamental


importância nos procedimentos de inventário florestal. Expressando
corretamente essa relação através de modelos de regressão, pode-se estimar a
altura das árvores de um povoamento florestal medindo apenas o seu DAP. Tal
procedimento implica em redução de custo do inventário, porém pode diminuir a
precisão das estimativas das alturas.

Como exemplo de alguns modelos hipsométricos, tem-se:

6.1. Ajuste de uma equação hipsométrica


Para ilustrar o ajuste de uma equação hipsométrica, referente ao modelo 5, do
quadro anterior, têm-se os dados de 24 árvores de eucalipto com 54 meses de
idade, conforme apresentados a seguir:

Considerando-se que o modelo 5 é um modelo linear simples, as estimativas dos


parâmetros β0 e β1 podem ser obtidas pelo Método dos Mínimos Quadrados
Ordinários (MQO), tal que:
em que: X = (1/DAP); e Y = LnH.

Com os somatórios e as médias apresentadas na tabela anterior, podem-se


obter as estimativas de β0 e β1. Assim,

Dessa forma, tem-se a seguinte equação hipsométrica ajustada:

Substituindo-se um DAP igual a 20,0cm, a altura total estimada da árvore será:

No entanto, não basta apenas ajustar a equação (encontrar as estimativas dos


ß`s). Um passo seguinte seria avaliar a significância dos coeficientes da equação
ajustada, as medidas de precisão da equação e o comportamento gráfico dos
resíduos, para definir se a equação hipsométrica pode ou não ser utilizada. Isso
será mostrado no próximo capítulo, para equações volumétricas.
Capitulo 4

VOLUMETRIA

1. Preliminares

Na execução de inventários florestais, torna-se necessário definir a priori a


unidade de medida em que o volume será expresso, bem como as referências
para a obtenção dos volumes, ou seja, os diâmetros mínimos de inclusão das
árvores, e quais as partes destas serão incluídas nas estimativas de volume.

Na maioria dos casos, apenas o volume acima do nível do solo é considerado.


Normalmente, leva-se em conta a estimativa do volume acima da altura do toco
da árvore, que segundo Loetsch et al. (1973), na Europa e nos EUA, varia entre
0,1 m e 0,5 m. Em florestas tropicais naturais, a altura do toco é freqüentemente
mais alta, devido a deformidades no fuste das árvores.

2. Volumes em uma árvore

Uma vez que se podem determinar diferentes volumes em uma árvore, é


necessário definir os seus componentes, a exemplo daqueles apresentados na
Figura 4.1.
Figura 4.1 - Diferentes componentes de uma árvore.

A classificação apresentada pode definir diferentes tipos de volume, entre eles:

0+1+2+3+4 = volume total da árvore;

1+2+3+4 = volume do fuste mais o total de galhos;

1+2 = volume comercial da árvore;

1+3 = volume total do fuste;

2+4 = volume total de galhos; e

3+4 = volume não-comercial da árvore.

Os referidos volumes podem ser expressos com ou sem casca, dependendo do


uso da madeira.
Em espécies que apresentam algum impedimento quanto à utilização dos galhos
para fins comerciais, o volume comercial da árvore será definido apenas
pelo volume do fuste comercial (classe 1) e não pelas classes 1+2. Em algumas
situações, além de o volume comercial se referir a apenas parte do fuste da
árvore, há a necessidade de excluir o volume de casca para se obter uma correta
definição do volume de madeira comercial, a exemplo de quando a madeira é
destinada à produção de celulose, cujo processo de fabricação não envolve a
casca.

3. Formas dos fustes

Antes de iniciar as considerações sobre a obtenção dos volumes dos fustes das
árvores, há a necessidade de tecer alguns comentários e considerações sobre
as formas que os fustes podem assumir, uma vez que os dois assuntos estão
intimamente correlacionados.

Seria muito desejável que os fustes das árvores possuíssem forma cilíndrica,
pois o seu volume poderia ser obtido por:

em que: V = volume do fuste; d = diâmetro em um ponto qualquer do fuste; e L =


comprimento do fuste.

Os fustes, no entanto, podem assumir diferentes formas, assemelhando-se à de


três sólidos revolução ou a um cilindro.
Embora um dos sólidos possa ser utilizado para descrever o perfil do fuste de
uma árvore, os quatro citados podem estar presentes ao mesmo tempo.

Entre os principais fatores que afetam a forma do fuste das árvores, fazendo com
que se assemelhem aos sólidos descritos anteriormente, tem-se:

* Espécie: a forma do fuste das árvores varia de espécie para espécie,


principalmente devido à taxa de crescimento e a características genéticas.

* Idade: a conicidade do fuste das árvores tende a ser menor em árvores mais
velhas.

* Espaçamento: em povoamentos com espaçamento entre árvores mais


reduzido, os fustes tendem a ser menos cônicos.

* Qualidade do local: em locais “piores”, os fustes apresentam crescimento


mais irregular e, conseqüentemente, são mais irregulares.

4. Determinação do volume do fuste

Haja vista que o fuste de uma árvore não é um cilindro perfeito, possuindo
diferentes formas, existem alguns procedimentos para a determinação do seu
volume. Cabe mencionar que alguns dos procedimentos descritos a seguir
também podem ser utilizados para a determinação do volume de outras partes
das árvores como galhos e raízes.
a) Princípio do xilômetro
O xilômetro (Figura 4.2) é um recipiente com água, no qual as toras de madeira
são colocadas e o volume de água deslocado, igual ao volume das toras, é
medido com uma régua graduada.

Figura 4.2 - Representação esquemática de um xilômetro.

O xilômetro deve ser utilizado preferencialmente em toras menores e em


pequena escala operacional, tendo em vista o gasto excessivo de tempo para a
realização das operações de manuseio das toras. Além disso, a água deve ser
trocada ou filtrada quando se turvar, para não propiciar estimativas de volume
incorretas, por causa de mudança de sua densidade e de acúmulo de
sedimentos no fundo do xilômetro.

b) Cubagem rigorosa
A partir do estudo da forma das árvores, algumas expressões matemáticas foram
desenvolvidas para a determinação do volume com ou sem casca do fuste das
árvores, entre elas (HUSCH et al., 2003):

1) Huber
em que: V = volume com ou sem casca da seção, em m3; AS1/2 = área seccional
com ou sem casca, obtida na metade do comprimento da seção, em m 2; e L =
comprimento da seção, em m.

2) Smalian

em que: AS1 e AS2 = áreas seccionais com ou sem casca, obtidas nas
extremidades da seção, em m2.

3) Newton

As expressões de Huber, Smalian e Newton fornecem estimativas do volume de


seções individuais do fuste da árvore. O volume total com ou sem casca de um
fuste pode ser obtido pelo somatório dos volumes (Vi) das nseções do fuste, ou
seja:

As três expressões propiciam estimativas volumétricas diferentes. No entanto,


quanto menor o comprimento da seção, menor a diferença entre as estimativas.
Normalmente, o comprimento das seções varia entre 1,0 e 2,0 m em fustes bem
retilíneos, e a expressão mais utilizada é a de Smalian, devido à facilidade dos
cálculos e à operacionalidade na obtenção dos dados.
Como mencionado, a cubagem rigorosa pode propiciar estimativas precisas do
volume do fuste com e sem casca. Dessa forma, o volume de casca será definido
pela diferença entre os volumes com e sem casca do fuste das árvores. A
porcentagem de casca, por sua vez, pode ser calculada por:

em que: Vc/c = volume com casca; e Vs/c = volume sem casca.

Exemplo:

Para exemplificar o uso das expressões de Huber, Smalian e Newton, seja a


seguinte tora de madeira, cujos diâmetros com casca foram medidos em
diferentes pontos. Assim, os volumes com casca, obtidos pelas três expressões
serão:

* Smalian

- Seção 1
- Seção 2

Volume com casca da tora = 0,1498 + 0,1006


= 0,2504 m3

*Huber

- Seção 1

- Seção 2
Volume com casca da tora = 0,1540 + 0,1083
= 0,2625 m3

*Newton

- Seção 1

- Seção 2

Volume com casca da tora = 0,1526 + 0,1059


= 0,2585 m3

Observação: Os volumes das árvores devem ser expressos com pelo menos
quatro casas decimais.

c) Volume Frankon (ou 4º reduzido)


Embora seja possível obter o volume de partes do fuste de uma árvore pela
aplicação de expressões matemáticas ou pela utilização do xilômetro,
normalmente são utilizadas expressões diversas para a obtenção do volume em
transações comerciais de madeira. Nesse contexto, destaca-se a expressão
para a determinação do volume Frankon (ou 4o reduzido), dado por:
em que: V = volume Frankon com ou sem casca, em m3; C = circunferência com
ou sem casca na metade do comprimento da tora, em m; e L = comprimento da
tora, em m.

Exemplo:

O volume Frankon de uma tora com 5 m de comprimento e 50 cm de diâmetro


com casca na metade do seu comprimento será:

5. Estimação do volume do fuste

5.1. Fator de forma

O volume real do fuste de uma árvore pode ser considerado uma porcentagem
do volume de um cilindro, definido pelo DAP e pela altura total ou comercial das
árvores (Ht ou Hc). A figura a seguir exemplifica essa relação.

Essa relação entre os volumes define o chamado fator de forma (f), expresso
por:
De acordo com a expressão anterior, o volume de uma árvore (real), com ou sem
casca, pode ser estimado multiplicando-se o volume do cilindro, definido
pelo DAP e pela altura da árvore, por um fator de forma médio ( ) com ou sem
casca, apropriado para a espécie.

Observações importantes:

* Normalmente se utiliza a altura total das árvores (Ht) para a geração de fatores
de forma por facilidade de medição, exceto em matas nativas, onde a altura
comercial (Hc) é mais fácil de obter.

* Sempre utilizar a altura correspondente àquela que gerou o fator, ou seja, se o


fator foi gerado utilizando a altura total, o volume do cilindro deve ser obtido com
essa altura.

* Verificar se o fator se refere a um fator de forma com casca ou a um fator de


forma sem casca.

Exemplo:

Considerando um fator de forma médio com casca igual a 0,47, o volume com
casca de uma árvore com 50 cm de DAP e 30 m é:

5.2. Quociente de forma


O decréscimo natural do diâmetro ao longo do fuste define o chamado quociente
de forma, que é uma razão entre diâmetros. Como exemplo de quociente de
forma, tem-se o quociente de forma de Schiffel, dado por:

em que: D1/2H = diâmetro medido na metade da altura total da árvore.

Semelhantemente ao fator de forma, o volume de uma árvore, com ou sem


casca, pode ser obtido multiplicando-se o volume de um cilindro pelo quociente
de forma médio ( ), apropriado para a espécie e para o volume que se deseja
estimar.

5.3. Modelos volumétricos

Como definido anteriormente para o fator de forma, o volume do fuste das


árvores pode ser expresso como uma porcentagem do volume de um cilindro.
Assim, o volume do fuste de uma árvore pode ser obtido por:

Considerando que a expressão é uma constante, denominada aqui


genericamente por β0, pode-se escrever a expressão anterior como:

em que o volume de uma árvore é em função do DAP e de sua altura total.

No entanto, como o volume não é função apenas do diâmetro e da altura da


árvore, ou seja, existem outras variáveis correlacionadas com o volume e que
não estão sendo consideradas, o termo (erro aleatório) deve ser adicionado
à expressão, definindo o modelo de regressão, denominado modelo volumétrico
da variável combinada, assim representado:

O modelo volumétrico da variável combinada apresenta-se muito rígido,


assumindo que o DAP esteja elevado ao quadrado e a altura total das árvores
elevada a 1. Assumindo que as variáveis DAP e Ht estejam associadas aos
parâmetros β1 e β2, os quais podem assumir diferentes valores em função dos
dados amostrais, o modelo anterior fica assim definido:

Esse modelo é conhecido mundialmente como o modelo volumétrico de


Schumacher e Hall, desenvolvido em 1933.

Para facilitar o ajuste e corrigir problemas estatísticos relacionados às


pressuposições básicas da regressão, como a normalidade dos erros e a
heterocedasticidade da variância, o modelo de Schumacher & Hall normalmente
é ajustado na sua forma linear, cuja forma funcional é dada por:

Além dos modelos da variável combinada e de Schumacher e Hall, existem


outros (CAMPOS e LEITE, 2009), como mostrado a seguir:
5.3.1. Ajuste de equações volumétricas

Os dados necessários para o ajuste de uma equação volumétrica vêm da


cubagem rigorosa, ou seja, medições de DAP e altura e dados de volumes (com
ou sem casca). As árvores selecionadas para a cubagem rigorosa devem
representar a distribuição diamétrica da floresta, abrangendo todas as classes
de DAP. Além disso, deve-se cubar um número de árvores suficiente para
caracterizar a variância dos volumes dentro de cada classe diamétrica. Como
critério prático, normalmente são cubadas rigorosamente de cinco a sete árvores
por classe de diâmetro.

O ajuste de um modelo linear pode ser realizado utilizando-se regressão linear,


através do Método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), por meio do
seguinte sistema de equações normais (DRAPER e SMITH, 1981):

Especificamente para o modelo de Schumacher e Hall, na sua forma linear, as


matrizes e vetores do sistema de equações normais são assim definidos:
em que: n = número de observações (árvores); X1 = logaritmo do DAP; X2 =
logaritmo da altura total (Ht); e Y = logaritmo do volume.

Análise de Variância (ANOVA):

Após o ajuste de uma equação volumétrica, deve-se proceder à análise de


variância da regressão. Os elementos que compõem o quadro da análise de
variância da regressão (ANOVA) e os respectivos estimadores são apresentados
a seguir:

em que: p = número de variáveis independentes do modelo e

O teste “F” da análise de variância (ANOVA) testa as seguintes hipóteses:


H0 = β0 = β1 = ... βn = 0

Ha = Pelo menos um dos parâmetros é diferente de zero.

Em termos práticos, se F calculado > F tabelado, a regressão existe; do


contrário, para qualquer valor de X(variável independente), o correspondente
valor de Y será igual à média de Y (variável dependente).

Teste "t" para os parâmetros:

Embora o teste “F” possa indicar que a regressão existe, ele não garante que
todas as variáveis são estatisticamente significativas a um dado nível de
probabilidade. Nesse caso, há a necessidade de se efetuar o teste “t” (Student)
para os parâmetros separadamente, através da seguinte estatística:

cujas hipóteses a serem testadas são:

Ho:. βi = 0

Ha:. βi ≠ 0

em que βi são as estimativas dos parâmetros e , as variâncias dos


respectivos parâmetros, obtidas pela multiplicação do quadrado médio do
resíduo, da análise de variância (ANOVA), pela matriz (X’X)-1 e representadas
pela diagonal principal da matriz resultante da multiplicação.

Se “t” calculado > “t” tabelado, rejeita-se Ho. Então, se βi é estatisticamente


diferente de zero, a variável deve permanecer na equação.
Se algum parâmetro for estatisticamente igual a zero, teoricamente a variável
deveria ser retirada da equação e uma nova equação deveria ser ajustada sem
ela. Contudo, se a variável for não-significativa, porém possuir significado
(realismo) biológico ou tiver caráter explicativo muito forte para o fenômeno, ela
deverá permanecer.

Medidas de precisão:

Uma vez procedido o teste “F” e o teste “t” para os parâmetros e feitas as devidas
análises, deve-se proceder também ao cálculo das medidas de precisão da
equação ajustada:

a) Coeficiente de Determinação (R2): informa a porcentagem da variação dos


dados observados em torno da média que está sendo explicada pela equação
ajustada. É calculado por:

Quanto mais próximo de 100, maior a precisão da equação.

b) Erro-Padrão da Estimativa (Sy.x): de forma bem didática, esta medida de


precisão indica o erro médio associado ao uso da equação.

Quanto menor o valor do erro-padrão da estimativa, menor o erro associado ao


uso da equação.

Análise gráfica dos resíduos:


Embora as medidas apresentadas anteriormente indiquem a precisão do
modelo, uma análise complementar deve ser feita através dos resíduos, obtidos
pela diferença entre os valores observados da variável dependente (volume) e
os valores estimados pela equação. A análise dos resíduos permite inferir sobre
a existência de problemas de heterocedasticidade de variância, mesmo que a
equação seja precisa.

O comportamento desejável de um gráfico de resíduo é aquele em que os


resíduos se apresentam uniformemente distribuídos, independentemente do
tamanho da árvore e próximos de zero. A Figura 4.3 ilustra graficamente esse
comportamento.

Figura 4.3 - Distribuição desejável dos resíduos em função do DAP das árvores.

5.3.2. Equações para formações florestais de Minas Gerais e outros


estados

Equações de volume foram ajustadas pela Fundação Centro Tecnológico de


Minas Gerais (CETEC), em 1995, para o Estado de Minas Gerais e outros
estados.
Clique aqui para acessar as equações!

5.4. Taper e múltiplos volumes

Outras alternativas para estimar o volume do fuste das árvores são os modelos
de taper – os quais descrevem o afilamento natural do fuste da árvore – e
os modelos de múltiplos volumes, que permitem a estimação de volumes de
partes do fuste das árvores para diversos usos.

5.4.1. Modelos de taper

A literatura apresenta diversos modelos de taper. Entre os mais empregados,


têm-se:

a) Modelo de Kozak et al. (1969):

em que: d = diâmetro com casca ou sem casca em uma altura qualquer (h), em
cm; DAP = diâmetro com casca medido a 1,30 m do solo, em cm; h = altura em
que ocorre determinado diâmetro d, em metros; Ht = altura total, em
m; ß0, ß1 e ß2 = parâmetros do modelo; e = erro aleatório.

b) Modelo de Demaerschalk (1972):

em que: L = Ht – h, corresponde à distância do topo da árvore até um ponto


qualquer no fuste, em metros.
Além dos modelos descritos anteriormente, destacam-se ainda os seguintes
modelos (VAN LAAR e AKÇA, 2007; CAMPOS e LEITE, 2009):

1) Modelo de Ormerod:

2) Modelo de Biging:

3) Modelo de Garay:

Para obter o volume de determinada parte do fuste ou até mesmo o volume total
do fuste, há a necessidade de integrar as funções de taper entre os limites de
altura que se deseja, ou seja:

em que: h1 = limite inferior de altura, acima da qual se deseja estimar o volume


do fuste, em m; h2 = limite superior de altura, abaixo do qual se deseja estimar o
volume do fuste, em m; e d = diâmetro comercial que define o volume a ser
estimado, em cm.

Considerando o modelo de Kozak et al. (1969), tem-se a seguinte expressão


para o volume:
EXEMPLO:

Como exemplo de utilização do modelo de Kozak, considere a seguinte


equação:

Assim sendo, pergunta-se:

a) Para uma árvore com altura total (Ht) igual a 27,0 m e DAP igual a 25,0 cm,
qual o diâmetro com casca do fuste (d) a 19,0 m de altura (h)?

Isolando d da equação acima, tem-se:

b) Para uma árvore com altura total (Ht) igual a 27,0 m e DAP igual a 25,0 cm, a
que altura (h) ocorre um diâmetro (d) igual a 6,0 cm?

Isolando o termo h, obtém-se:

c) Considerando a altura obtida no item b, qual o volume com casca até o


diâmetro (d) de 6,0cm?
5.4.2. Modelo de múltiplos volumes

Este tipo de modelo foi desenvolvido mais recentemente. Entre eles, destaca-se
o modelo desenvolvido por Leite et al. (1995), cuja forma funcional é:

em que: TX é uma variável binária, assumindo valores 0 e 1. Se TX = 0, a


equação fornece o volume com casca; se TX = 1, ela fornece o volume sem
casca.

Se d = 0, a equação ajustada fornece o volume total. Se “d” assumir qualquer


outro valor, a equação fornece o volume até o diâmetro estipulado. Dessa forma,
em vez de ajustar uma equação para cada volume desejado, pode-se utilizar
apenas uma equação para estimá-lo.

O modelo apresentado é um modelo não-linear devido à não-aditividade de seus


parâmetros. Assim, há a necessidade de ajustá-lo através de um processo
iterativo, por meio de programas computacionais específicos.

EXEMPLO:

Para exemplificar o uso de uma equação de múltiplos volume, considere a


seguinte equação ajustada:
Assim sendo, o volume com casca e sem casca até um diâmetro (d) igual a 6 cm,
para uma árvore que possui DAP igual a 25,0 cm e altura total igual a 30,0 m,
bem como o percentual de casca será:

6. Exercício

Ajuste uma equação de volume referente ao modelo de Shumacher e Hall


linearizado e analise a precisão da equação ajustada. Para isso, considere os
dados de cubagem rigorosa de 12 árvores de eucalipto, em que se obtiveram o
volume total com casca (Vc/c), a altura total (Ht) e o DAP de cada árvore.
AJUSTE:

Antes de se proceder ao ajuste da equação de volume, alguns pontos devem ser


ressaltados para um ajuste correto:

* Não transforme os DAPs em metros ou a altura em centímetros para ajustar a


equação. Os dados devem ser utilizados como são obtidos no campo.

* Realize as transformações logarítmicas das variáveis. Ao aplicar o logaritmo


neperiano, deixar pelo menos oito casas digitais depois da vírgula.
* Crie todas as variáveis presentes nas matrizes do sistema de equações
normais , para obtenção dos referidos somatórios.

Observados esses pontos, as matrizes do sistema de equações, para o modelo


de Schumacher e Hall, ficam assim definidas:

Invertendo a matriz (X’ X), obtém-se a seguinte matriz (X’ X)-1:


Procedendo à multiplicação de (X’ X)-1 pelo vetor X’ Y, obtiveram-se as
seguintes estimativas para os parâmetros do modelo:

Dessa forma, a equação volumétrica ficou assim definida:

ANÁLISE DE VARIÂNCIA (ANOVA):

De posse da equação ajustada, procedeu-se à análise de variância ANOVA, cujo


quadro-resumo é o seguinte:

em que:
Como “F” calculado > “F” tabelado (916,54 > 4,26), então rejeita-se Ho, ou seja,
pelo menos um dos parâmetros é estatisticamente diferente de zero.

Assim, efetua-se o teste “t” para cada parâmetro separadamente, como se


segue:

TESTE "t" PARA OS PARÂMETROS

* Teste “t” para β0

Conclusão: / “t” / calculado > “t” tabelado => rejeita-se Ho, ou seja, β0, é
dieferente de zero, pelo teste "t", a 5% de significância.

* Teste “t” para β1


Conclusão: / “t” / calculado > “t” tabelado => rejeita-se Ho, ou seja, β1, é
dieferente de zero, pelo teste "t", a 5% de significância.

* Teste “t” para β2

Conclusão: / “t” / calculado > “t” tabelado => rejeita-se Ho, ou seja, β2, é
dieferente de zero, pelo teste "t", a 5% de significância.

MEDIDAS DE PRECISÃO:

Como todos os parâmetros foram estatisticamente diferentes de zero, a 95% de


probabilidade, então foram calculadas as medidas de precisão da equação:

a) Coeficiente de Determinação (R2)


Interpretação: 99,51% da variação dos volumes em torno da sua média são
explicados pela equação ajustada.

b) Erro-padrão das estimativa (Sy.x)

Interpretação: o erro médio associado ao uso da equação é de ± 0,08219 Ln(m 3).

Exemplo:

O volume com casca de uma árvore com DAP igual a 30,0cm e altura total (Ht)
igual a 27,0m, com a equação ajustada anteriormente, será:

LnVc/c = –9,59071 + 1,74828 Ln(30) + 1,0289 Ln(27)

LnVc/c =-0,25337809

Vc/c = exp(-0,25337809)=0,7762m3
Capitulo 5

VOLUME DE MADEIRA EMPILHADA

1. Volume estéreo

O volume de madeira de uma pilha, obtido por meio da multiplicação das suas
dimensões, define o chamado volume estéreo.

Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial


(INMETRO), o volume estéreo é o volume de uma pilha de madeira roliça, em
que, além do volume sólido de madeira, estão incluídos os espaços vazios
normais entre as toras. Assim, um estéreo consiste na quantidade de madeira
contida em uma pilha de 1,0 m x 1,0 m x 1,0 m, cujas toras variam em área
seccional, curvatura e forma, o que permite a existência de muitos espaços na
pilha, não ocupados por madeira.

Segundo a Portaria do INMETRO n.º 130, de 7 de dezembro de 1999, o volume


de madeira empilhada, em estéreo (st), pode ser obtido genericamente pela
seguinte expressão:

em que: V = volume da pilha, em st; x = comprimento das toras, em m; y =


comprimento da pilha, em m; e z = altura da pilha, em m.

Quando a pilha de madeira apresentar variação em sua altura e as toras não


possuirem o mesmo comprimento, o volume em estéreo da pilha deve ser obtido
utilizando-se a média destas medidas.

2. Fator de empilhamento
O fator de empilhamento (fe) é um fator para a conversão do volume estéreo
em volume sólido, obtido através das seguintes expressões:

O volume sólido pode ser o volume com casca ou sem casca, obtido através do
procedimento da cubagem rigorosa, fornecendo, assim, o fator de empilhamento
com ou sem casca, respectivamente.

Conhecendo o volume em estéreo de uma pilha pela multiplicação das suas


dimensões, o volume sólido de madeira da pilha com ou sem casca será obtido
por:

ou

tal que fe é um fator de empilhamento médio apropriado para a espécie e as


condições do local.

Frequentemente, fatores de empilhamentos médios são utilizados na conversão


do volume de uma pilha em estéreo para metro cúbico. No entanto, vários
aspectos afetam o empilhamento da madeira, por exemplo: o diâmetro e o
comprimento da tora, a espessura da casca, a forma de empilhamento (manual
ou mecanizado), o tempo que a madeira empilhada permanece no campo na
forma de tora, entre outros. Assim, a utilização de um único fator como constante
de conversão do volume estéreo de madeira em volume sólido, em condições
muito variadas de empilhamento, constitui-se em uma justificada preocupação.
Dessa forma, fatores de empilhamento médios devem ser utilizados com critério
para que possam proporcionar estimativas precisas do volume real de madeira.

Em inventários florestais, a determinação do fator de empilhamento (fe) pelo


método tradicional baseia-se na derrubada e seccionamento das árvores
contidas em parcelas representativas das condições da floresta (idade,
espaçamento, qualidade do local etc.), com a finalidade de obter o volume sólido
de madeira (m3) e o volume empilhado (st). Esquematicamente, tem-se a
seguinte sequência para a determinação do fator de empilhamento por parcela:

De posse dos fatores de empilhamento obtidos em diferentes parcelas, pode-se


obter o fator de empilhamento médio do povoamento pelo cálculo da média
aritmética dos fatores.

Como exemplo de fatores de empilhamento para Eucalyptus grandis, tem-se o


trabalho de Rezende (1988), no qual se realizou um estudo para analisar o
comportamento dos fatores de empilhamento por classe de DAP e para
diferentes espaçamentos (Quadro 5.1).

Quadro 5.1 - Número de árvores (N.º) e fatores de empilhamento com casca


(fec/c) observados, por classe de DAP, nos espaçamentos 1 x 1 m, 3 x 1 m e 3 x 2
m

Em trabalho cujo propósito foi contribuir para o maior conhecimento a respeito


do comportamento de algumas espécies de eucalipto no Brasil, permitindo a
melhor seleção de espécies para plantio e indicações sobre características
silviculturais, sobre manejo e uso final, Guimarães et al. (1983) apresentaram
algumas estimativas sobre fatores de empilhamento (Quadro 5.2).

Quadro 5.2 - Fator de empilhamento para diferentes espécies de eucalipto


Além do método tradicional de obtenção do fator de empilhamento, através da
medição das dimensões das pilhas e da cubagem das toras que as compõe,
outros métodos têm sido empregados para determinar o volume de madeira
empilhada, como por exemplo o software Digitora (SOARES et al, 2003).

O Digitora utiliza uma rede de pontos eqüidistantes distribuídos sobre uma


fotografia digital para determinar o fator de empilhamento (Figura 5.1). O volume
sólido de madeira (m3) de uma pilha é obtido multiplicando-se o volume
empilhado pelo fator de empilhamento obtido.
Figura 5.1 – Esquema de distribuição da rede de pontos sobre a pilha de
madeira.

3. Exercício

Em uma pilha de madeira de dimensões de 2,0 m x 3,0 m x 1,5 m, utilizou-se um


fator de empilhamento igual a 0,60 para obter o volume sólido de madeira (m 3).
Assim, pergunta-se:

a) Qual o volume sólido de madeira da pilha?

b) Considerando que a pilha de madeira continha ¼ de espaços vazios, qual


seria o volume sólido de madeira?

Resposta:

a)

V = 2,0 x 3,0 x 1,5 x 0,6 = 5,4 m3


b)

V = 2,0 x 3,0 x 1,5 x (3/4) = 6,75 m3


Capitulo 6

BIOMASSA E CARBONO

1. Definição de biomassa

Segundo Odum (1986), biomassa pode ser definida como a massa orgânica
produzida por unidade de área, podendo ser expressa em peso de matéria seca,
peso de matéria úmida e peso de carbono. Sua medição é um instrumento útil
na avaliação de ecossistemas, em virtude da aplicação na análise da
produtividade, conversão de energia, ciclagem de nutrientes e absorção e
armazenagem de energia solar, entre outros (CAMPOS, 1991; CARBONERA
PEREIRA et al., 1997).

2. Quantificação da biomassa e carbono

As quantidades de biomassa e carbono presentes na parte aérea e sistema


radicular de uma árvore podem ser obtidas através do método destrutivo ou do
método indireto (SALATI, 1994; SANQUETTA et al., 2002).

2.1. Método destrutivo ou direto

A utilização deste método implica, necessariamente, na seleção e derrubada de


árvores-amostra para obtenção dos dados.

2.1.1. Seleção das árvores-amostra

A seleção de árvores-amostra para obtenção de dados para o estudo da


biomassa da parte aérea e do sistema radicular baseia-se, fundamentalmente,
em três procedimentos básicos:
a) Seleção de um número de árvores igualmente repartidas em classes ou
categorias de tamanho relativo às características do povoamento (DAP, altura,
classe de copa, ...).

b) Seleção de um número de árvores, proporcionalmente às respectivas


freqüências nas classes ou categorias de tamanho.

c) Seleção de árvores baseadas em parâmetros fitossociológicos, no caso de


florestas tropicais naturais.

Avaliando a produção de biomassa do tronco de cinco espécies de eucalipto,


Silva (1983) distribuiu as árvores do povoamento em três classes de copa:
árvores dominantes, co-dominantes e dominadas. Em cada classe foi escolhida
uma árvore de altura média, para determinação da biomassa do tronco. Ferreira
(1984), avaliando a produção de biomassa e a ciclagem de nutrientes da parte
aérea e radicular de povoamentos de Eucalyptus grandis, em diferentes idades
e sítios, e Finke Herrera (1989), em estudo sobre a densidade da madeira e
equações de peso de matéria seca da madeira de eucalipto, estratificaram o
povoamento em classes de DAP e selecionaram de três a cinco árvores por
classe de diâmetro. Semelhantemente, Pereira (1990) e Molica (1992)
selecionaram, respectivamente, duas e três árvores de diâmetros médios para
avaliar a produção de biomassa, a ciclagem de nutrientes e a eficiência
nutricional de diferentes espécies de eucalipto. Porém, Souza (1989), avaliando
o efeito de dois espaçamentos na produção em peso e volume de Eucalyptus
grandis, estratificou o povoamento em classes de diâmetro e selecionou um
número de árvores proporcional ao número destas na respectiva classe.

2.1.2. Amostragem da parte aérea


Compreendem como parte aérea das árvores o conjunto de galhos e folhas, o
tronco (constituído pela madeira e pela casca) e os frutos e as flores, se
presentes.

A seqüência de passos que devem ser seguidos para permitir determinar a


biomassa de folhas em uma árvore é:

1. Abater a árvore e pesar todo o conjunto de folhas para obter o peso total
úmido no campo – PU(c).

2. Retirar uma amostra de peso conhecido do conjunto de folhas – PU(a).

3. Levar a amostra de folhas ao laboratório para a determinação do peso da


matéria seca – PS(a). A secagem deve ser realizada em estufa de circulação
forçada de ar em temperatura menor que 100 oC, para que não haja
combustão do material. Este deverá permanecer na estufa até a estabilização
do peso de sua matéria seca.

A seqüência de passos para a determinação da biomassa de galhos é a mesma


nas folhas. Porém, no caso dos galhos, a amostra que será levada ao laboratório
deverá ser composta de fragmentos de galhos localizados em diferentes
posições da copa da árvore. Além disso, a temperatura de secagem dos galhos
deverá ser de aproximadamente 103 ± 2 oC. Quanto à amostragem de flores e
frutos, segue-se o mesmo passo para a determinação da biomassa de folhas.

Embora existam diferentes metodologias para a determinação da biomassa do


fuste, incluindo a madeira e a casca, a seguinte metodologia apresenta maior
operacionalidade, bem como menor custo na coleta de dados. Assim, tem-se a
seguinte seqüência de operações:

1. Cubar rigorosamente o fuste da árvore para obter o volume com casca, o


volume sem casca e o volume de casca.
2. Retirar discos de madeira de 2,5 cm de espessura a 0, 25, 50, 75 e 100%
da altura comercial da árvore.

3. Retirar, de cada disco, amostras (cunhas) contendo casca e madeira para


a determinação, em laboratório, da densidade básica média da madeira e da
casca em cada ponto de amostragem do fuste.

2.1.3. Amostragem do sistema radicular

A amostragem do sistema radicular de árvores individuais, além de propiciar o


conhecimento da produção de biomassa de diferentes espécies florestais,
normalmente também é feita com o intuito de verificar a eficiência nutricional de
plantas e observar o desenvolvimento de suas raízes em condições climáticas
desfavoráveis ao crescimento (FERREIRA,1984; GOMES,1993).

O método direto ou destrutivo, segundo Bohm (1979), é o mais apropriado para


o estudo de quantificação de biomassa do sistema radicular, uma vez que
permite a pesagem imediata e a medição das raízes após sua retirada do solo,
podendo-se, com isso, obter o peso das raízes por classe de tamanho. Os
métodos diretos mais utilizados no estudo de raízes, segundo esse autor, são a
escavação, a amostragem por monólitos e a tradagem.

A escavação consiste em expor total ou parcialmente o sistema radicular, por


meio da remoção cuidadosa do solo, para não causar danos às raízes. Além de
quantificar o sistema radicular, permite estudar a distribuição natural das raízes
no solo, bem como sua forma e cor. A principal desvantagem desse
procedimento está no fato de haver um grande dispêndio de tempo para a sua
realização (BOHM, 1979).

A amostragem por monólitos, segundo Bohm (1979), consiste na retirada de


blocos de solo, contendo raízes, os quais podem ser de formas retangular,
quadrada ou circular, sendo utilizado aquele de maior facilidade de uso e mais
apropriado. A principal vantagem desse método, segundo aquele autor, é que
ele permite fazer uma avaliação precisa da distribuição vertical e horizontal do
sistema radicular, bem como obtenção da massa de raízes por classe de
tamanho. Entretanto, apresenta como desvantagem o dispêndio muito grande
de tempo na movimentação e peneiramento de terra.

A tradagem consiste na retirada de amostra de solo – raiz, por meio de trados,


sem a abertura de valas ou trincheiras. Como os trados possuem diferentes
tamanhos e diâmetros, podem-se retirar amostras em diferentes profundidades
e de diferentes volumes, sendo, portanto, ajustável conforme a espécie vegetal
e as condições de experimentação. O método de tradagem é muito eficiente para
a determinação da biomassa de raízes finas, fácil de ser empregado, causa
pouco distúrbio na área de estudo e economiza tempo e mão-de-obra; contudo,
apresenta limitações quando usado em solos pesados, compactados ou
pedregosos, não permite o estudo da morfologia dos sistemas radiculares e tem
inconveniente operacional quando utilizado em profundidades superiores a 1,0
m (BOHM,1979).

Como metodologia para obtenção de dados de biomassa de raízes em plantios,


seja a seguinte seqüência de operações:

1. Escavar (1/4) da área útil da árvore.

2. Retirar toda a terra até não encontrar mais raízes.

3. Peneirar toda a terra para separar as raízes.

4. Pesar todas as raízes encontradas e extrapolar para a área útil da planta


(multiplicar por 4).

5. Abater a árvore e retirar e pesar a raiz pivotante, quando ela estiver


presente.
6. Do total de raízes (itens 4 e 5), retirar amostra contendo raízes finas e
grossas – PU(a).

7. Secar a amostra de raízes em estufa de circulação forçada de ar a


aproximadamente 100 oC – PS(a).

2.1.4. Determinação da biomassa

Uma vez realizadas a coleta dos dados de campo e as análises laboratoriais, a


biomassa de folhas, galhos e raízes das árvores-amostra pode ser obtida pela
seguinte expressão (SILVA, 1983; FERREIRA, 1984; PEREIRA, 1990;
MOLICA,1992; SOARES, 1995):

em que: PS(c) = biomassa, em kg; PU(c) = peso de matéria úmida de folhas,


galhos e raízes, em kg; PU(a) = peso de matéria úmida da amostra levada ao
laboratório, em kg; e PS(a) = peso de matéria seca da amostra, em kg.

A biomassa da madeira e da casca dos fustes das árvores-amostra, por sua vez,
pode ser obtida pela seguinte expressão (VITAL et al., 1985; FINKE HERRERA,
1989; SOUZA, 1989):

em que: PS(c) = biomassa da madeira ou da casca, em kg; V = volume de


madeira ou da casca, em m3; DBMT = densidade básica média da madeira, em
kg/m3; e DBC = densidade básica da casca, em kg/m3.
2.1.5. Conversão da biomassa em carbono

O teor de carbono de diferentes partes da árvore pode ser obtido através de


análises químicas. No entanto, segundo a literatura, o teor de carbono elementar
presente na constituição da matéria seca (biomassa) de diferentes partes da
árvore está em torno de 50%, isto é, para cada tonelada de matéria seca, cerca
de 0,5 tonelada é carbono.

Higuchi e Carvalho Jr. (1994) encontraram um teor médio de carbono na manta


orgânica de uma floresta tropical úmida densa de Terra-Firme igual a 39,3%. Em
plântulas menores que 50 cm de altura, em mudas (indivíduos com altura maior
que 50 cm e menores que 5,0 cm de DAP) e em galhos finos, os teores médios
de carbono foram de 46,5%, 49,3% e 46,8%, respectivamente. Esses mesmos
autores encontraram também os teores médios de carbono na base e topo dos
fustes de diferentes espécies arbóreas da região. Em média, o teor de carbono
na base dos fustes foi igual a 48,5% e no topo, igual a 48,2%, com um mínimo
de 46% e máximo de 53%, na base dos fustes da espécie vulgarmente
denominada breu.

Assim, a conversão das estimativas de biomassa de árvores individuais e de


povoamentos, obtidas com base no peso de matéria seca, em estimativas de
carbono, pode ser realizada satisfatoriamente pela aplicação da seguinte
expressão:

Cabe mencionar que as amostras levadas ao laboratório para determinação do


peso de matéria seca das diferentes partes das árvores podem ser utilizadas
para determinar o teor de carbono, resultando em maior precisão das
estimativas. Contudo, há de se mencionar, também, que isso pode encarecer
muito o processo, tornando-o, às vezes, inviável economicamente, devido ao
elevado número de amostras.
2.2. Método não destrutivo ou indireto

O método indireto é preferencialmente utilizado para facilitar o trabalho de campo


e diminuir o custo de coleta de dados. Para isso, são utilizados modelos de
regressão, lineares ou não-lineares, cujas variáveis independentes são as
características diretamente mensuráveis das árvores-amostra (diâmetro, altura,
...) e as variáveis dependentes, a biomassa expressa pelo peso de matéria seco
dos seus componentes e a quantidade de carbono.

Para estimar a biomassa de árvores individuais, segundo Campos e Valente


(1993), as variáveis independentes mais utilizadas nos modelos são o diâmetro
com casca a 1,30 m (DAP), a altura total e o volume. Outras variáveis são
ocasionalmente utilizadas, como a idade, o índice de local e a largura da copa.
De acordo com Satoo e Madgwich, citados por Ferreira (1984), essas variáveis
não são suficientes para estimar a biomassa dos componentes da copa da
árvore, tornando necessário incluir no modelo o comprimento da copa e o
diâmetro do tronco na sua base, uma vez que este último está muito relacionado
à resistência requerida para suportar o peso da copa da árvore.

Trabalhando com Quercus ilex, Canadell et al. (1988) perceberam que o DAP da
árvore era uma variável muito forte na predição da biomassa da parte aérea da
planta, mas melhores estimativas foram obtidas quando se incluíram a variável
altura da copa e a projeção do seu diâmetro nos modelos logarítmicos.

Como exemplo de modelos para estimar a biomassa de diferentes partes das


árvores (tronco, galhos, folhas e raízes), tem-se:
Em que: Log = logaritmo base 10; Y = biomassa, em kg; H = altura total ou
comercial, em metros; DAP = diâmetro com casca medido a 1,30 metro do solo,
em centímetros; I = idade, em meses; β0 a β2 = parâmetros do modelo.
Como exemplo de equações para estimar a biomassa e o carbono de
componentes da parte aérea de árvores de Eucalyptus grandis aos 77 meses de
idade, têm-se as desenvolvidas por Soares (1995) e Soares e Oliveira (2002):
em que: Y = biomassa ou carbono, em kg; DAP = diâmetro com casca medido a
1,30 m, em centímetros; e Ht = altura total, em metros.
Santos (1996) publicou as seguintes equações para estimar a biomassa da parte
aérea de árvores (em toneladas) na Amazônia central:

AMARO (2010) ajustou a seguintes equações para estimar o carbono estocado


no fuste das árvores com (CFcc) ou sem casca (CFsc), em uma Floresta
Estacional Semidecidual no município de Viçosa, Minas Gerais, em função do
DAP e da altura total (Ht) e do fuste (Hf):
3. Acúmulo de biomassa pelas florestas

As florestas acumulam biomassa através da fotossíntese. O acúmulo é diferente


em cada local onde ela é medida, refletindo uma variação causada por diversos
fatores ambientais e por fatores inerentes à própria planta. Segundo Kramer e
Kozlowski (1972), citados por Campos (1991), o acúmulo de biomassa é
influenciado por todos aqueles fatores que afetam a fotossíntese e a respiração,
a exemplo luz, temperatura, concentração de CO2 do ar, umidade e fertilidade
do solo, fungicidas, inseticidas e doenças, além de fatores internos, que incluem
a idade das folhas, sua estrutura e disposição; a distribuição e o comportamento
dos estômatos; o teor de clorofila; e a acumulação de hidratos de carbono
(CARBONERA PEREIRA et al., 1997).

Durante a fase inicial do desenvolvimento de uma floresta, grande parte de


carboidratos é canalizada para a produção de biomassa da copa.
Posteriormente, quando as copas começam a competir entre si, a produção
relativa de tronco aumenta e a de folhas e ramos diminui, gradativamente
(CROMER, 1975; LARCHER, 1984; REIS; BARROS, 1990; CALDEIRA et al.,
2000).

A avaliação do potencial produtivo de um sítio ou local, por meio da produção de


biomassa, é fundamental no manejo e planejamento das indústrias de base
florestal, especialmente quando se tem conhecimento da distribuição de
biomassa nos componentes da árvore, em seqüência de idade (REIS et al.,
1985; PEREIRA, 1990).

A título de exemplo, Santos (1996) apresentou as seguintes estimativas sobre a


produção de biomassa acima do nível do solo em florestas da Amazônia
brasileira:
Um exemplo de estimativas de biomassa nos plantios de eucalipto em diferentes
idades e regiões são os dados do Quadro 6.1 (Clique aqui para acessar o
Quadro 6.1). De acordo com as estimativas médias apresentadas, a parte aérea
contribui, em média, com 70,95% do estoque de biomassa. Somente o fuste sem
casca é responsável por 47,64% do total, enquanto as raízes colaboram, em
média, com 18,95% do total e a manta orgânica, com 10,10%.
Na região do Médio Rio Doce, em Minas Gerais, Drumond (1996) encontrou as
seguintes estimativas para a produção de biomassa acima do nível do solo e
manta orgânica para diferentes tipos de vegetação:

Além disso, o referido autor estimou a produção de biomassa acima do solo, em


toneladas por hectare, das 10 espécies predominantes na Mata Natural I
(Quadro 6.2).
Quadro 6.2 - Médias dos diâmetros e das alturas e biomassa, por hectare, em
diferentes componentes das árvores das 10 espécies predominantes na Mata
Natural I

Amaro (2010) estimou o seguinte estoque de carbono em diferentes


compartimentos de uma Floresta Estacional semidecidual em Viçosa, Minas
Gerais (Quadro 6.3):

Quadro 6.3 - Estoque total médio de carbono (t ha-1) na Mata da Silvicultura


Capitulo 7

PRINCÍPIO DE BITTERLICH

1. O princípio de Bitterlich

Walter Bitterlich, engenheiro florestal austríaco, idealizou um método para obter


estimativas da área basal por hectare em povoamentos florestais sem medir os
diâmetros das árvores e nem lançar parcelas de área fixa. Para isso, ele
inventou, a princípio, a barra de Bitterlich, composta por uma haste de 1 m de
comprimento, tendo um visor numa extremidade e na outra uma mira de 2 cm de
largura (CAMPOS, 1993). Mais tarde, o método foi aperfeiçoado de maneira que
ele fornecesse estimativas de volume por hectare, além de outros parâmetros
populacionais.

O princípio ao qual Bitterlich chamou de “prova de numeração angular” baseia-


se no seguinte postulado: “dando-se um giro de 360o, as árvores que
apresentarem DAP superior ou igual a um ângulo conhecido e constante devem
ser qualificadas. O número de árvores qualificadas (n) multiplicado por uma
constante (K), denominada fator de área basal, fornecida por um instrumento
apropriado, fornece diretamente a área basal por hectare (B/ha)”.

Para ilustrar esse postulado, tem-se a seguinte situação, na qual em um ponto


de amostragem, dando-se um giro de 360o, apenas três árvores foram
qualificadas por apresentar DAP superior ou igual ao ângulo de visada (n=3):

Supondo que o fator de área basal (K) utilizado foi igual a 1, a área basal por
hectare naquele ponto de amostragem será:

B/ha = n . K

B/ha = 3 . 1 = 3 m2/ha
1.1. Instrumentos

a) Barra de Bitterlich: este instrumento é simples de ser construído e consiste de


uma haste de comprimento L com um visor em uma das extremidades e uma
mira na outra, com uma abertura “d” (Figura 7.1).

Figura 7.1 - Representação de uma barra de Bitterlich.

Para uma barra com d=2 cm e L=100 cm, o fator de área basal (K) será igual a
1, ou seja, cada árvore qualificada representa 1 m2/ha.

b) Relascópio de espelho: este instrumento (Figura 7.2) pode ser utilizado em


terrenos com qualquer declividade. Ele apresenta pequenas dimensões (13,0 x
6,5 cm) e pesa cerca de 400 g. Além da obtenção da área basal do povoamento
em m2/ha, ele permite obtenção de alturas, diâmetros ao longo do fuste,
distâncias horizontais e declividade do terreno. Além disso, possui vários fatores
de área basal, que podem ser utilizados em função das características da floresta
(declividade, densidade populacional, ...).
Figura 7.2 - Relascópio de espelho.

1.2. Determinação do fator de área basal (K)

Seja a seguinte situação, em que apenas uma árvore (n = 1) com DAP = D foi
qualificada com uma barra de Bitterlich, em um giro de 360o (Figura 7.3).
Figura 7.3 - Representação da determinação do fator de área basal (K).

em que: R = distância máxima do observador até o centro da árvore para que


esta seja qualificada (distância crítica), em m; d = abertura da mira, em cm; L =
comprimento da barra de Bitterlich, em cm; g = área seccional, em m2; e A = área
da parcela imaginária definida por R, em m2.

Tal que:

Analisando a Figura 7.3, pode-se estabelecer a seguinte relação:

Tradicionalmente, a área basal por hectare em uma parcela de área fixa é obtida
pela seguinte expressão:

Uma vez que no exemplo em questão apenas uma árvore foi qualificada dentro
da parcela circular imaginária, definida por R, a área basal por hectare será igual
a:

como , a expressão anterior fica assim definida:


Como apenas uma árvore foi qualificada (n=1), pode-se reescrever esta
expressão da seguinte maneira:

De acordo com o postulado de Bitterlich, a área basal por hectare é dada


por: B/ha = n . K

Como n = 1, conclui-se que o fator de área basal (K) pode ser obtido por
.Dessa forma, para uma barra com d = 2 cm e L = 100 cm, o fator de área basal
(K) deste instrumento será igual a 1, como mencionado anteriormente.

1.3. Definição da relação: B/ha = n . K

Para definir a relação: B/ha = n . k, considere que n árvores com DAPs iguais a
D1, D2, ...Dn, sendo D1 ≠ D2 ≠ ... ≠ Dn, foram qualificadas em um ponto de
amostragem com uma barra de Bitterlich e que R1, R2, ..., Rn e A1, A2, ..., An,
sejam raios e áreas das parcelas circulares imaginárias referentes às n árvores
qualificadas (Figura 7.4).
Figura 7.4 - Representação do princípio de Bitterlich para a qualificação
de n árvores com DAP diferentes.

Considerando as n árvores qualificadas, a área basal por hectare será obtida


por:
Como é uma relação válida para qualquer DAP (D), uma vez que todas
as árvores foram qualificadas com mesma barra de Bitterlich, tem-se que:

Comprovando o princípio idealizado por Bitterlich.

1.4. Definição do número de árvores e volume por hectare

De acordo com o princípio da “prova de numeração angular”, cada árvore


contada representa uma quantidade em m2/ha, dependendo do fator de área
basal (K) utilizado. Dessa forma, se for qualificada apenas uma árvore de área
seccional (g) com fator K = 1 (d = 2 e L = 100 cm), a área basal será B = 1.1 = 1
m2/ha. No entanto, o número de árvores por hectare que cada árvore qualificada
representa (N/ha) será:

O volume por hectare que cada árvore qualificada representa é dado, por sua
vez, através da seguinte expressão:

em que é o volume estimado da árvore qualificada.

1.5. Árvores que apresentam DAPs iguais à abertura da barra de Bitterlich


ou às larguras das faixas no relascópio
Em algumas situações, quando o observador está qualificando as árvores
através do método de Bitterlich, os DAPs de algumas árvores se apresentam
iguais ao tamanho da abertura da barra de Bitterlich ou à largura da faixa no
relascópio, de tal forma que qualquer pequeno movimento causa dúvida se
realmente a árvore será qualificada ou não.

Nessas situações, o observador deverá medir inicialmente o DAP da árvore em


dúvida para calcular a distância crítica (R), através das seguintes expressões:

* Barra de Bitterlich:

* Relascópio:

Depois, o observador deverá medir a distância dele até o meio da árvore


(distância no campo). Se a distância no campo for maior que a distância crítica,
a árvore não será qualificada; se menor, a árvore será qualificada.

Há casos em que a distância no campo pode ser igual à distância crítica. Nesse
caso, a árvore deverá ser qualificada como “meia”, ou seja, se o fator de área
basal (K) for igual a 2, a árvore qualificada representará apenas 1 m2/ha.
Conseqüentemente, o número de árvores e o volume por hectare também serão
divididos por 2.

2. Exemplo
Sejam os dados referentes a um ponto de amostragem obtidos com um fator de
área basal (K) igual a 1:

Utilizando a seguinte equação de volume para as árvores qualificadas:

bem como as expressões anteriormente apresentadas para os cálculos de área


seccional, área basal, número de árvore e volume por hectare, obteve-se o
seguinte arquivo de dados:
Além dos dados apresentados anteriormente, podem-se, ainda, obter as
estimativas de altura média e diâmetro médio ou quadrático (q) no ponto de
amostragem por:

Você também pode gostar