Você está na página 1de 10

Certificado digitalmente por:

LAURO LAERTES DE
OLIVEIRA

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6, da Vara Cível, da


Fazenda Pública, Acidentes do Trabalho, Registros
Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial da Comarca
de Rio Branco do Sul
Relator: Lauro Laertes de Oliveira
Agravante: Leonardo Cândido da Silva
Agravado: Município de Rio Branco do Sul

Trata-se de agravo de instrumento contra


decisão interlocutória que, nos autos nº 0002186-
63.2016.8.16.0147, não concedeu os benefícios da assistência
judiciária gratuita ao agravante e determinou o pagamento das
custas processuais no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de
cancelamento da distribuição.

1. O agravante aduz, em síntese, que:


a) é idoso e aposentado, por isso sua situação financeira no
momento é irreversível; b) recebe benefício de R$ 1.105,00
(mil, cento e cinco reais) e tem empréstimo consignado de
parcelas no valor de R$ 154,00 (cento e cinquenta reais); c)
não apresentou extratos da sua aposentadoria, porque o valor é
imutável, ou seja, só incide correção monetária; d) reside em
zona rural e, por esse motivo, não obteve extrato do banco
referente ao ano de 2016 em tempo; e) por ser idoso e
enfermo, bem como em razão de custear sua alimentação,

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 1 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

energia elétrica e afins, não possui carro e nem moto e é isento


do pagamento do Imposto de Renda; f) de acordo com o artigo
4º da Lei nº 1.060/50, basta a afirmação de que não possui
condições de arcar com as custas e honorários, sem prejuízo
próprio e de sua família, para a concessão do benefício; g) o
indeferimento do pedido de concessão da gratuidade da justiça
fere o preceito constitucional que garante a todos o acesso à
Justiça. Requer a concessão do efeito suspensivo para
determinar o prosseguimento da ação até ulterior julgamento e,
afinal, o provimento do recurso a fim de que seja deferido o
pedido de gratuidade da justiça.

É O RELATÓRIO.

2. A controvérsia cinge-se à concessão


dos benefícios da assistência judiciária gratuita.

3. Em primeiro lugar, ressalta-se que,


no tocante ao preparo, se houver no recurso pedido de
concessão da gratuita da justiça, o artigo 99, § 7º, do Código de
Processo Civil de 2015 dispensa a sua comprovação, que
somente será exigida, no prazo a ser fixado pelo relator, caso o
benefício não seja concedido.

2ª Câmara Cível – TJPR 2

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 2 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

4. Ademais, insta mencionar que


desnecessária no presente caso a intimação da parte agravada
para apresentar resposta ao recurso interposto, uma vez que a
discussão travada no feito não lhe acarretará qualquer efeito
prático, seja ele positivo ou negativo.

5. Em segundo lugar, dispõe o artigo 98


do Código de Processo Civil de 2015 que “a pessoa natural ou
jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos
para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei”
e, na sequência, o artigo 99, caput, do mesmo diploma ressalta
que o pedido pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, bem como no recurso ou eventual petição para
ingresso de terceiro.

6. Daniel Amorim Assumpção Neves,


ao versar sobre o tema, discorre que:

“A concessão dos benefícios da gratuidade


da justiça depende da insuficiência de recursos da parte para o
pagamento das custas, despesas processuais e honorários
advocatícios no caso concreto. Como não há no Novo Código de
Processo Civil o conceito de insuficiência de recursos e com a
expressa revogação do art. 2º da Lei 1.060/50 pelo art. 1.072,
2ª Câmara Cível – TJPR 3

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 3 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

III, do Novo CPC, entendo que a insuficiência de recursos


prevista pelo dispositivo ora analisado se associa ao sacrifício
para manutenção da própria parte ou de sua família na hipótese
de serem exigidos tais adiantamentos.” (Manual de direito
processual civil – Volume Único. 8. ed. Salvador: Editora
JusPodivm. 2016. p. 232).

7. Pois bem. Embora o artigo 99, § 3º, do


Código de Processo Civil de 2015 reconheça a presunção de
veracidade da alegação de insuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural, tal presunção é relativa,
pois esta não pode se sobrepor ao livre convencimento
motivado do juiz, principalmente se as provas produzidas
contrariarem a aludida declaração. Tanto é assim que o próprio
artigo 99, § 2º, permite ao Magistrado indeferir o benefício da
gratuidade da justiça se os requisitos para a sua concessão não
restarem comprovados.

8. Sobre o tema, o Superior Tribunal de


Justiça se manifestou recentemente :

“Recurso especial. Gratuidade de justiça.


Necessidade de recolhimento prévio do preparo ou de
renovação do pedido para manejo de recurso em que se
discute o direito ao benefício. Desnecessidade. Aferir
2ª Câmara Cível – TJPR 4

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 4 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

concretamente, se o requerente faz jus à gratuidade de


justiça. Dever da Magistratura Nacional. Indício de
capacidade econômico-financeira do requerente.
Indeferimento, de ofício, com prévia oportunidade de
demonstração do direito à benesse. Possibilidade. Reexame
do indeferimento do pedido. Óbice imposto pela súmula 7/STJ.
1. Por ocasião do julgamento do AgRg nos
EREsp 1.222.355/MG, relator Ministro Raul Araújo, a Corte
Especial pacificou, no âmbito do STJ, o entendimento de que
"[é] desnecessário o preparo do recurso cujo mérito discute o
próprio direito ao benefício da assistência judiciária
gratuita".
2. Consoante a firme jurisprudência
do STJ, a afirmação de pobreza, para fins de obtenção
da gratuidade de justiça, goza de presunção relativa de
veracidade. Por isso, por ocasião da análise do pedido, o
magistrado deverá investigar a real condição econômico-
financeira do requerente, devendo, em caso de indício
de haver suficiência de recursos para fazer frente às
despesas, determinar seja demonstrada a
hipossuficiência.
3. Nos recentes julgamentos de leading
cases pelo Plenário do STF - RE 249003 ED/RS, RE 249277
ED/RS E RE 284729 AgR/MG -, relatados pelo Ministro Edson
Fachin, aquele Órgão intérprete Maior da Constituição
2ª Câmara Cível – TJPR 5

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 5 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

Federal definiu o alcance e conteúdo do direito fundamental


à assistência jurídica integral e gratuita prestada pelo Estado,
previsto no art. 5º, LXXIV, da CF, conferindo interpretação
extensiva ao dispositivo, para considerar que abrange a
gratuidade de justiça.
4. Por um lado, à luz da norma
fundamental a reger a gratuidade de justiça e do art. 5º,
caput, da Lei n. 1.060/1950 - não revogado pelo CPC/2015 -,
tem o juiz o poder-dever de indeferir, de ofício, o pedido, caso
tenha fundada razão e propicie previamente à parte
demonstrar sua incapacidade econômico-financeira de fazer
frente às custas e/ou despesas processuais. Por outro lado,
é dever do magistrado, na direção do processo, prevenir o
abuso de direito e garantir às partes igualdade de tratamento.
5. É incontroverso que o recorrente tem
renda significativa e também aposentadoria oriunda de duas
fontes diversas (previdências oficial e privada). Tal fato já
configuraria, com base em regra de experiência (arts. 335
do CPC/1973 e 375 do novo CPC), indício de capacidade
financeira para fazer frente às despesas do processo, a
justificar a determinação de demonstrar-se a
incapacidade financeira. Como não há também apuração de
nenhuma circunstância excepcional a justificar o deferimento
da benesse, é descabido, em sede de recurso especial, o
reexame do indeferimento do pedido.
2ª Câmara Cível – TJPR 6

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 6 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

6. Recurso especial não provido.

Do inteiro teor se extrai:

“Outrossim, embora seja certo que o


Novo CPC estabelece, em seu art. 99, que o pedido de
reconhecimento do direito personalíssimo à gratuidade
de justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no
processo ou em recurso - estabelecendo uma presunção
de veracidade e de boa-fé por parte do requerente -,
acolhe, no parágrafo 2º, a jurisprudência consolidada do
STJ, no sentido de que o juiz pode indeferir a benesse, de
ofício, contanto que, antes de indeferir o pedido, propicie
à parte requerente a comprovação do preenchimento dos
pressupostos legais.
Ademais, o CPC/2015 não revogou o art.
5º, caput, da Lei 1.060/1950, que prevê que o juiz deve
indeferir, de ofício, o pedido de gratuidade justiça, caso tenha
fundadas razões.
Dessarte, segundo entendo, contanto que
não seja exercido de modo a ferir a necessária imparcialidade
inerente à magistratura, permanece sendo plenamente possível
que o magistrado exerça, com base em indício, mesmo que de
ofício, o controle acerca da "insuficiência de recursos para pagar
2ª Câmara Cível – TJPR 7

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 7 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

as custas, as despesas processuais e os honorários


advocatícios", exigida pelos arts. 98, caput, do Novo CPC e 5º,
LXXIV, da CF, à gratuidade da justiça.
Em suma, à luz do novel diploma
processual, e da norma constitucional/processual que
deve orientar a interpretação das normas
infraconstitucionais acerca da gratuidade de justiça,
permanece plenamente possível que o magistrado, tendo
dúvida acerca da incapacidade econômica do requerente
de fazer frente às custas e/ou despesa(s) processuais,
determine a demonstração da alegada hipossuficiência.”
(REsp nº 1.584.130/RS– Rel. Min. Luis Felipe Salomão – 4ª
Turma – DJe 17-8-2016). Destaquei.

9. Em terceiro lugar, consoante se extrai


da decisão agravada, o juízo de origem indeferiu a concessão da
gratuidade da justiça sob o argumento de que os documentos
apresentados pelo autor não foram suficientes para comprovar o
preenchimento dos requisitos legais para a obtenção do
benefício (mov. 14.1).

10. Note-se que intimado a comprovar a


condição de hipossuficiência com a juntada de comprovantes de
rendimentos e sua última declaração de imposto de renda (mov.
9.1), o agravante cumpriu a determinação (mov. 12.1)
2ª Câmara Cível – TJPR 8

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 8 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

declarando que é aposentado, que não possui veículo automotor


em seu nome, que sua residência é simples, que possui gastos
com medicamentos e que em razão de contrato de empréstimo
consignado, são realizados descontos mensais do seu benefício
previdenciário.

11. Da análise dos recibos de pagamentos


do agravante juntados na petição inicial (mov. 1.8 a 1.12),
referentes ao período em que trabalhou como guardião antes da
aposentadoria, verifica-se que o autor recebeu no mês de
maio/2014 o valor líquido de R$ 880,55 (oitocentos e oitenta
reais e cinquenta e cinco centavos).

12. Ademais, de acordo com o extrato de


pagamento da Previdência Social (fls. 26-27/TJ), infere-se que o
valor líquido do benefício previdenciário do agravante em 24-6-
2014 era de R$ 1.105,00 (mil e cento e cinco reais).
Comprovada, portanto, a condição de hipossuficiência da parte
autora.

13. Esta Câmara já se manifestou no


sentido de que se presume a condição de hipossuficiência
daqueles que obtiverem renda líquida mensal inferior a R$
3.800,00 (três mil e oitocentos reais). Confira-se:

2ª Câmara Cível – TJPR 9

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 9 de 10
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADO DO PARANÁ

Agravo de Instrumento nº 1.584.136-6

“Agravo Regimental no Agravo de


Instrumento. Assistência judiciária. Decisão monocrática que
indeferiu a benesse, conforme entendimento anterior desta
Câmara. Atual posicionamento. Assistência judiciária concedida
mediante comprovação da remuneração líquida, desde que não
ultrapasse o valor máximo de R$3.800,00 (três mil e oitocentos
reais). Recurso provido.” (Agravo Regimental nº 1.431.291-
3/01 – Rel. Des. Stewalt Camargo Filho – 2ª Câmara Cível – Dje
26-1-2016).

14. Desse modo, impõe-se a concessão da


assistência judiciária gratuita ao agravante.

Assim sendo, dou provimento ao recurso


para deferir os benefícios da assistência judiciária gratuita ao
agravante.

Posto isso, com fulcro no artigo 932 do


Código de Processo Civil de 2015, dou provimento ao recurso,
nos termos supra.
Oficie-se.
Intime-se.
Curitiba, 23 de setembro de 2016.

Lauro Laertes de Oliveira


Relator
2ª Câmara Cível – TJPR 10

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE

Página 10 de 10

Você também pode gostar