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Hoje, reconhecemos que a estrutura social brasileira está repleta de rachaduras que
dificultam o desenvolvimento pleno de uma grande parcela da população. Podemos especificar
os negros e as mulheres como os mais prejudicados pelo desenvolvimento histórico social
brasileiro. Em nossos dias ainda vemos nas populações mais pobres uma predominância de
negros, e as mulheres ocuparem a maioria de empregos e setores de menor importância ou
quando não se ocupam exclusivamente do afazeres domésticos, como algo que está escrutado
em nosso ethos social. Evidente que essa ordem de coisas não se processou da noite para o dia,
quando olhamos para tais fenômenos sociais não podemos perder vista seu desenvolvimento
histórico, para com isso empreendermos uma correta análise e obter sua devida importância.
Portanto, como compreender o complexo entrelaçamento histórico que nos levou as situações
exemplificadas acima? Alguns autores e estudiosos do desenvolvimento social brasileiro nos
fornecem caminhos para começarmos a empreender essa tarefa. E o primeiro passo importante
é afirmar o período escravocrata, mais especificamento em seu final, como o momento decisivo
para o desenvolvimento social posterior do Brasil — seguimos a aqui os passos analíticos de
Caio Prado Jr, pois esse período interessa por dois motivos, primeiro: “ele nos fornece, em um
balanço final, a obra realizada por três séculos de colonização e nos apresenta o que nela se
encontra mais característico e fundamental”. Segundo: “constitui uma chave, e chave preciosa e
insubstituível para se apanhar e interpretar o processo histórico posterior“.
Mas como aponta Caio Prado Jr, a abolição “não veio mais que reconhecer uma situação de
fato”, pois para este autor o evento que realmente significou possibilidade de mudanças
profundas foi a proibição do tráfico negreiro, já que o que se seguiu foi uma intensa liberação de
capitais e surgimento de grandes empreendimentos e o definhamento do trabalho escravo no
Brasil. Fora a controvérsia sobre qual o exato evento foi decisivo para o efetivo de
desenvolvimento brasileiro em direção a sociedade de mercado, o que vemos é uma série de
mudanças que fazem a estrutura social brasileira, aos poucos, mudar de patamar e trazendo
consequências diversas para os grupos aqui estudados.
Clóvis Moura observa que o negro não viveu estático e passivo por todo período
escravista, em seu livro “Rebeliões na senzala” demonstra que os negros participavam
ativamento dos movimentos e rebeliões e nos movimentos emancipatórios via grandes
possibilidades abolicionistas. O em seu livro conclui que as rebeliões escravas dinamizava a
sociedade escravista e o quilombo sendo a referência que negava todo o sistema possibilitava o
vislumbre por uma nova organização social, mesmo que inconscientemente. Por outro a lado, a
situação da mulher foi bastante diferente, como mencionado anteriormente, a pouca instrução e
o confinamento não possibilitou à mulher brasileira um horizonte de grandes mudanças, por
isso mesmo Heleieth Soffioti chega a afirmar que a mulher era mesma a raiz do
conservadorismo na sociedade. Descreve Saffioti: a mulher
“Permaneceu, pois, alheia à agitação da opinião pública urbana da últimadécada do
Império em torno da abolição da escravatura. Como o movimento abolicionista fermentou nos meios
letrados, a mulher brasileira não pôde sequer ver nele a oportunidade para um enfoque crítico de sua
condição existencial.”