RELATÓRIO DE PESQUISA
Niterói
2017
Sumário
2
BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre
Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121 ...............................................................39
DABUL, Lígia. O público em público: práticas e interações sociais em exposições de artes
plásticas. Tese (Doutorado em Sociologia)–Programa dePós-Graduação em Sociologia,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005. ...........................................................................46
DUNCAN, Carol. “The Art Museum as Ritual” in Civilizing Rituals Inside Public Art Museums
........................................................................................................................................................53
FLEURY, Laurent “Os Públicos da Cultura” in: Sociologia da cultura e das práticas culturais,
Editora Senac : São Paulo, 2009 .....................................................................................................58
6. A NEXOS ........................................................................................................................................67
3
1. I NTRODUÇÃO AO OBJETO DA PESQUISA
1
BOTELHO, Isaura e FIORE, Maurício. O Uso do Tempo Livre e as Práticas Culturais na Região
Metropolitana de São Paulo. In CALABRE, Lia (Org.). Políticas culturais: diálogo indispensável. v.2. Rio de
Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008, pág. 4
4
influenciou a relação das pessoas com a cultura. Dessa forma, o setor em que a cultura se
inscreve passa a ser entendido como parte fundamental do conjunto de preocupações
políticas, engendrando assim a necessidade de conhecer as relações entre a população e a
cultura e traduzir essa relação em número comparáveis e quantificáveis, a fim de
aprimorar os critérios de intervenção e “democratização” da cultura.
2
BOURDIEU, Pierre e DARBEL, Alain. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. São
Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo: Zouk, 2003
3
DONNAT, Olivier Democratização da cultura: Fim e Continuação In: BOTELHO, Isaura (Org.) Revista
Observatório Itaú Cultural, n. 12 (maio/agosto), – São Paulo: Itaú Cultural, 2011
5
complementares às abordagens que se fixam em critérios como acúmulo de práticas
culturais, escolaridade, faixa etária, renda familiar e local de residência dos entrevistados
para, somando-se a esses dados, formar um panorama mais aproximado das relações dos
públicos com a cultura.
6
O relatório a seguir buscou identificar em um período de dez anos, os principais
trabalhos que abordavam essa temática em treze eventos em ciências sociais – ANPOCS,
RBS e RBA. No entanto, embora as discussões, mesas e GTs que se reúnem para tratar
as temáticas no entorno da sociologia da arte e da cultura sejam numerosas, os trabalhos
que discutem os públicos são escassos. Dessa forma, busquei identificar os trabalhos
relevantes para essa pesquisa elencando palavras chaves que nortearam a busca e que
perpassam temas de interesse. Assim, embora alguns trabalhos aqui referenciados não
estejam estritamente em sintonia com o tema da pesquisa em si, foram sugeridos
pensando os problemas que abordam e tratam questões pertinentes à investigação que
proponho. Assim, junto com os encontros, debatedores, títulos dos papers e autores,
referencio as palavras chave que funcionaram como motor de busca para tal trabalho.
7
2. MESAS REDONDAS , GT S, SIMPÓSIOS E FÓRUNS TEMÁTICOS EM EVENTOS CIENTÍFICOS
4
Disponível em: http://www.sbs2013.sinteseeventos.com.br/texto.php?id_texto=46
8
No XVI Congresso Brasileiro de Sociologia, encontrei dois GTs relacionados ao
tema com cinco papers na área de investigação.
9
XV Congresso Brasileiro de Sociologia 26 a 29 de julho de 2011, Curitiba-PR5
5
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=169&Ite
mid=171
6
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=51&Itemi
d=171
10
GT Questão Urbana Sem informações Os “usos” da cultura Turismo cultural,
em Niterói: o cidade e cultura,
Caminho Niemeyer e políticas culturais
as políticas de
patrimônio
Margareth da Luz
Coelho (UFF)vii
GT24: Sociologia da Lígia Maria Dabul Gostos na classe e Gosto e classe,
Arte (UFF), Rogério concorrência aliada consumo cultural,
Medeiros (UFRJ) Caleb Faria Alves consumo simbólico
(UFRGS)viii
GT25 - SOCIOLOGIA Sem informações POR UMA NOVA Políticas culturais
DA CULTURA PERSPECTIVA NA
DELIMITAÇÃO DO
SETOR CULTURAL DO
ESTADO DO RIO DE
JANEIRO Janaína
Machado Simões
(UFRRJ e EBAPE/FGV)
Marcelo Milano
Falcão Vieira
(EBAPE/FGV)ix
7
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=143&Ite
mid=171
11
X11 Congresso Brasileiro de Sociologia – 31 de maio a 3 de junho de 2005 – Belo
Horizonte (MG)8
Sem GT dedicado à sociologia da arte, o XII Congresso Brasileiro de Sociologia
recebeu 424 papers distribuídos em 25 GTs, não recebeu nenhum paper na área temática
da pesquisa, com alguns trabalhos dialogando com certa distância com as palavras chave
e temas de interesse, como por exemplo, o trabalho “A identidade cultural: um elemento
de marketing turístico” da autora Magda Vianna de Souza, discutindo as políticas
públicas para o turismo e ressignificação de bens patrimoniais urbanos como
instrumentos de atração turística.
8
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=55&Itemi
d=171
9
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=82&Itemi
d=171
12
Gabrielle Corrêa
Braga (IUPERJ)xi
Com 64 GTs, a 30ª Reunião Brasileira de Antropologia teve dois GTs de interesse,
mas apenas um paper relacionados a temática da pesquisa foi encontrado nesta reunião.
10
Disponível em: http://www.30rba.abant.org.br/simposio/public?ID_MODALIDADE_TRABALHO=2
13
29ª Reunião Brasileira de Antropologia - “Diálogos Antropológicos expandindo
fronteiras” - 03 a 06 de agosto de 2014 Natal-RN
Com 50 GTs aprovados, a 29ª RBA encontrou 5 papers relacionados aos temas
de interesse distribuídos em dois GTs diferentes.
14
experiências dos
públicos das artes
visuais - Lígia Dabul
(UFF/RJ)xvii
Com 57 GTs, a 27ª RBA foram encontrados dois papers relacionados em dois GTs
diferentes.
11
Disponível em: http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_28_RBA/index.html#
12
Disponível em: http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_27_RBA/index.html
15
(UFAM)xx
16
MUSEUS-ESPETÁCULO: LIMITES E Públicos de
TENSÕES NAS EXPOSIÇÕES DE arte, públicos,
DOIS MUSEUS PÚBLICO- práticas
PRIVADOS DO CIRCUITO culturais,
CULTURAL PRAÇA DA LIBERDADE políticas
Clarissa dos Santos Veloso e culturais
Luciana Teixeira de Andradexxii
13
Disponível em: http://anpocs.com/index.php/papers-39-encontro/spg
14
Disponível em: http://anpocs.com/index.php/38-encontro
17
percurso pela
recepção da arte
contemporânea em
Inhotim Juliana
xxv
Veloso Sá
15
Disponível em: http://anpocs.com/index.php/37o-encontro-anual-2013-sp-1400301266
18
Ao longo deste levantamento pude constatar a escassez de pesquisas sobre o
objeto em questão, os públicos e sua relação com as artes e a cultura, no âmbito das
ciências sociais no Brasil. Embora a própria sociologia da arte seja uma área de
investigação relativamente nova, (o GT de sociologia da arte, por exemplo, só é criado na
ANPOCS em 2014)16, a temática dos públicos pode ser encontrada no seio de outros
debates, como o turismo, políticas públicas para a cultura e sociologia da cultura.
16
QUEMIN, Alain e VILLAS BÔAS, Gláucia: França, Brasil e a Sociologia da Arte in Arte e vida social
Pesquisas recentes no Brasil e na Franca, Alain Quemin e Glaucia Villas Boas (orgs), OpenEdition
Press, 2016.
19
Pesquisa 1: Arte
Pesquisa 2: Públicos
20
cultural,estetização do cotidiano, cultura material, entre outros. O objetivo principal é
realizar investigações e levantamentos (empíricos e teóricos), envolvendo professores,
alunos de graduação, pós-graduação e jovens doutores, para construir reflexões
inovadoras que derivem em publicações, afim de contribuir para o adensamento desse
campo de pesquisas no país.
21
Instituição: UFRJ
Área: Sociologia
Líderes: Gláucia Kruse Villas Bôas
Lígia Maria de Souza Dabul
Repercussões:
22
Área: Antropologia
Líderes: Maria Celeste Mira
Enio Passiani
Repercussões:
Instituição: UFC
Área: Sociologia
Líderes: Glória Maria dos Santos Diógenes
Linhas de pesquisa: (1) Antropologia Urbana. (2) Antropologia Visual e da Imagem (3)
Antropologia visual. (4) Arte e intervenções urbanas (5) Arte e Pensamento: Das obras e
suas interlocuções. (6) Arte Urbana, Graffiti e Pixação: Cidade e Ciberespaço. (7)
Comunicação Digital e Interfaces Culturais na América Latina. (8) Convivência
multicultural e políticas públicas de inclusão/integração no espaço urbano. (9) Corpo,
comunicação e arte (10) Cultura e sociabilidade. (11) Culturas juvenis, musicalidades e
25
mercado. (12) Culturas Juvenis. (13) Desenvolvimento regional. (14) Dinâmicas da
cultura e conflitos sociais. (15) Gestão e Políticas da Informação e da Comunicação
Midiática. (16) Imagem e conhecimento. (17) Imagem, Memória e Imaginário. (18)
Narrativas audiovisuais e territorialidades urbanas. (19) Patrimônio, Linguagens e
Memória social (20) Políticas públicas de juventudes (21) Práticas de pesquisas em
Ciências Sociais
26
Linhas de Pesquisa: (1) Arte e alteridade (2) Construindo histórias e acervos: Os arquivos
textuais e bibliográficos do Museu D. João VI
O Grupo de pesquisa reúne professores e pesquisadores que atuam nas áreas da cultura e
da comunicação. Além de pesquisas, participação em eventos acadêmicos e publicações,
o grupo estabelece relações de cooperação com a Faculdade de Políticas Públicas da
UEMG e O PPG em Cultura e Sociedade da UFBA. Seu objetivo é o de acompanhar,
avaliar e produzir informações sobre políticas públicas, ações de proteção e promoção da
diversidade cultural e midiática e formação de gestores culturais.
27
1 registro que não dialoga com o tema
4. - O S ESPECIALISTAS
28
Prof.ª Maria Celeste Mira (PUC-SP)
Prof.º Caleb Faria Alves (UFRGS)
Prof.ª Carla Costa Dias (UFRJ)
Prof.ª Carolina Martins Pulici (UNIFESP)
Com a obtenção dos nomes dos especialistas foi possível ter acesso, através da
plataforma Lattes, às produções referenciadas e recentes dos pesquisadores em questão.
A partir da análise de tal produção foi possível extrair a bibliografia principal da qual
serão retiradas as referências bibliográficas que fundamentarão a discussão teórica da
pesquisa na dissertação.
29
ALVES, C. F.. A fundação de Santos na ótica de Benedito Calixto. Revista USP, São Paulo, v. 41,
n.1, p. 120-133, 1999.
ALVES, C. F.. O nascimento da crítica de arte no Brasil e sua suposta inocuidade. Plural (USP),
São Paulo, v. 1, n.1, p. 7-24, 2002.
DIAS, C. C.. A imagem do mundo, a natureza e as coisas. Revista Sans Soleil - Estudios de la
Imagem, v. vol.6, p. 37-47, 2014.
DIAS, C. C.. A arte da combinação da matéria. Arte e Cidades Cadernos de Pós Graduação, Escola
de Belas Artes/UFRJ, v. 3, p. 23-50, 1995.
DABUL, Lígia. Sociabilité et sens de l'art : les conversations lors d'expositions. Sociologie de l'Art,
v. OPuS 22, p. 93, 2014.
DABUL, Lígia. Museus de grandes novidades: centros culturais e seu público. Horizontes
Antropológicos (UFRGS. Impresso), v. 14, p. 257-278, 2008.
DABUL, Lígia. Conversas em exposição: sentidos da arte no contato com ela. Arte & Ensaio
(UFRJ), v. 16, p. 55-63, 2008.
MIRA, M. C.. O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura. Revista Margem, São Paulo,
v. 3, p. 131-150, 1994.
PULICI, Carolina. Migração de classe e vergonha cultural: trajetórias ascendentes entre a crítica e
o reconhecimento das hierarquias simbólicas. Pró-Posições (UNICAMP. Online), v. 27, p. 153-178,
2016.
VILLAS BÔAS, Glaucia K.. Estética de ruptura: o concretismo brasileiro. Revista VIS: Revista do
Programa de Pós-Graduação em Arte, v. 13, p. 1-15, 2014.
VILLAS BÔAS, Glaucia K.. A Estética da conversão: o ateliê do Engenho de Dentro e a arte
concreta carioca
A partir(1946 - 1951).daTempo
da análise Social dos
bibliografia (USP. Impresso),
artigos v. 20, p. dos
selecionados 197-219, 2008. foi
especialistas,
. possível extrair a bibliografia fundamental para o tema. Os textos selecionados se deram
em função da repetição e/ou relevância para o tema da pesquisa. Assim, a bibliografia
incontornável para fundamentar a discussão teórica a que cheguei foi:
30
BECKER, Howard S. “arte como ação coletiva” in: uma teoria da ação coletiva. Rio
de janeiro: Zahar, 1976.
BOTELHO, Isaura & Fiori, Maurício. (2005), “O uso do tempo livre e as práticas
culturais na região metropolitana de São Paulo”. Relatório de pesquisa disponibilizado
pelo Centro de Estudos da Metrópole – Cebrap.
BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.).
Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121
BOURDIEU& Darbel, Alain. ([1969] 2003), O amor pela arte: os museus de arte na
Europa e seu público. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk.
DONNAT, Oliver. (1999), “La stratification sociale des pratiques culturelles et son
évolution 1973-1997”. Revue Française de Sociologie, 1 (xl): 111-119.
DUNCAN, Carol. Civilizing rituals: inside public art museums. London: Routledge,
2000.
31
GARCÍA CANCLINI, Nestor. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da
modernidade. São Paulo: Edusp, 1998.
GOFFMAN, Erving Behavior in Public Places. Notes on the social organization of
gatherings. New York: The Free Press, 1969.
Dentro desta primeira seleção foram selecionados cinco textos com o auxílio da
orientadora da dissertação, que me indicou, para além de quatro textos fundamentais
encontrados com o levantamento, mais um, que não apareceu nesta análise. Assim, os
cinco textos finais selecionados foram:
BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.).
Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121
BOURDIEU& Darbel, Alain. ([1969] 2003), O amor pela arte: os museus de arte na
Europa e seu público. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk.
32
DABUL, Lígia. O público em público: práticas e interações sociais em
exposições de artes plásticas. Tese (Doutorado em Sociologia)–Programa dePós-
Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.
DUNCAN, Carol. Civilizing rituals: inside public art museums. London: Routledge,
2000.
FLEURY, Laurent “Os Públicos da Cultura” in: Sociologia da cultura e das práticas
culturais, Editora Senac : São Paulo, 2009
33
5. PARTE 2 – RESUMOS E FICHAMENTOS CONCEITUAIS
Com as referências fundamentais do tema em mãos, essa segunda parte dedica-se a
resumir e expor as ideias centrais dos principais textos pertinentes a pesquisa.
BOURDIEU& Darbel, Alain. ([1969] 2003), O amor pela arte: os museus de arte na
Europa e seu público. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk.
“O Amor pela arte” é fruto de uma pesquisa empreendida por Pierre Bourdieu e o
matemático Alain Darbel em conjunto com uma grande equipe de pesquisadores, que
visava conhecer as características dos públicos de museus na Europa. O livro teve sua
primeira edição publicada em 1966, recebeu uma nova edição ampliada em 1969, sendo
esta última, a qual se baseia a edição brasileira de 2003.
O título do livro, “O Amor pela Arte” ao longo do livro desvela a ironia de que a ideia de
que, no amor pela, o coração obedece à razão, uma vez que, para viver esse “amor” livre
de condicionamentos e limitações, se faz necessário que os amantes possuam algumas
disposições adquiridas lentamente e que exigem dedicação e afinco, sendo assim, produto
do artificial, da educação. A pesquisa desvenda então, as condições sociais de acesso às
práticas cultivadas, o que nos faz ver que a cultura não é um privilégio natural ao alcance
de todos (Catani, 2003:9).
34
essa prática e, ao mesmo tempo, estabelecer um peso relativo a cada um desses fatores na
estrutura das relações que os unem.
Ainda que p nível de instrução apareça ao longo da pesquisa como um fator determinante
em relação aos outros, a constatação de que as classes médias, nem sempre detentores de
títulos escolares elevados, com forte formação autodidata e, por vezes com estudos
interrompidos (como apontado pela sondagem) se declaram com um nível de instrução
mais elevado em relação aos resultados da sondagem se deve ao fato de que eles se
atribuem um nível cultural superior ao que indicam seus diplomas o que exprime sua boa
vontade cultural (Bourdieu, Darbel, 2003:38). Assim, o nível de instrução que o diploma
atesta é por vezes, menos significativo que o nível cultural de aspiração que o visitante se
atribui.
A pesquisa define um conjunto de critérios – idade, diploma, profissão, etc, - que torna
possível calcular a probabilidade de um visitante com idade x, diploma y, profissão z
venha a visitar um museu de arte. Se constata, dessa forma, que a assiduidade de
professores e especialistas de arte é nitidamente superior às outras categorias
profissionais; a precária representação dos agricultores estaria justificada, de acordo com
a pesquisa, a influência desfavorável da atmosfera cultural que o meio rural proporciona,
além do afastamento espacial. De acordo com os dados obtidos, o fato de que essa
profissão seja marcada por um nível de instrução inferior ao das outras categorias, leva a
concluir ainda, que a instrução tenha uma influência específica e determinante que não
pode ser compensada unicamente pelo pertencimento às classes sociais mais elevadas
(Bourdieu, Darbel, 2003:42).
Ainda que os ingressos sejam vendidos a preços amplamente acessíveis, cabe interrogar
se, ainda assim, a renda familiar não exerça uma influência específica à frequentação,
35
uma vez que o custo de uma visita inclua despesas como transporte, alimentação, e neste
caso, se um freio orçamentário não continuaria a agir ainda com a gratuidade das entradas.
Em relação à influência específica do habitat, os autores afirmam que esta não pode ser
isolada (exceção para os rurais) em função dos vínculos estreitos que unem à categoria
sócio-profissional ao nível de instrução. Assim, as desigualdades culturais associadas à
residência estariam ligadas às desigualdades de exclusão e situação social.
A representação das faixas etárias mais jovens –que permanece estável até sessenta e
cindo anos após uma ruptura em torno dos vinte e cinco anos - se explicaria pela influência
da escola; dentre todos os fatores, o nível de instrução pe, de fato, o mais determinante.
(Bourdieu, Darbel, 2003:45). Ainda assim, os autores alegam que o diploma é um
indicador grosseiro do nível cultural, o que leva a pressupor que determinadas diferenças
separariam os visitantes do mesmo nível escolar através da atuação de diferentes
características secundárias. Constata-se que aqueles que recebem uma formação clássica
são sempre mais representados que aqueles que não a tiveram. Para evitar atribuir uma
eficácia cultural misteriosa, os autores afirmam se fazer necessário ver nessa variável,
não um fator determinante, mas um índice de pertencimento a um meio culto, uma vez
que a orientação para tal forma de educação à medida que se sobe na hierarquia social.
Os autores chamam a atenção para o fato de que tipo de estudos secundários não constitui
o fator mais determinantes que explicaria, entre os indivíduos com o mesmo nível de
instrução, a condição necessária de uma frequência assídua a museus. É possível
encontrar grandes variações nas práticas culturais em indivíduos do mesmo nível escolar
ou social segundo o nível cultural de sua família de origem. Nesse sentido, em função da
lentidão do processo de aculturação, sobretudo em matéria de cultura artística,
determinadas diferenças relacionadas à esse processo continuam a separar indivíduos em
situações sociais e níveis escolares semelhantes.
36
A questão do turismo chama a atenção dos pesquisadores no sentido em que a prática
turística possa representar uma influência específica na visitação de museus. No entanto,
percebe-se que o turismo só atua de maneira diferencial – se ele poderia incitar indivíduos
menos cultos a visitar museus pela primeira vez - segundo as categorias sociais que já
atuam. É importante notar que o turismo não é independente da instrução, uma vez que a
intensidade, duração e frequência das viagens turísticas são associadas à profissão e à
renda. O turismo cultural dependeria do nível de instrução mais forte que o turismo
comum, e vê-se que a ação específica do turismo se reduz a quase nada, uma vez que a
parcela dos visitantes que conheceram um museu pela primeira vez em decorrência do
currículo é extremante reduzida. A possibilidade de se descobrir o museu pelo turismo,
no entanto, aumenta na medida em que se avança em idade.
Os autores ressaltam que, mesmo a forte relação entre o nível de instrução e a prática
cultural, essa ligação não deve dissimular que só se pode alcançar toda a eficácia da ação
educativa do sistema escolar quando se exerce sobre indivíduos previamente dotados pela
educação familiar a uma relação precoce com o mundo da arte; nesse sentido, a ação da
escola tende a consagrar as desigualdades iniciais em relação a cultura. Dessa forma, se
considerarmos que a parcela daqueles que receberam da família uma iniciação precoce
cresce com o nível de instrução, o que se identifica através do nível de instrução limita-
se a ser o acúmulo dos efeitos da formação longamente adquirida pela ação familiar e das
aprendizagens escolares pressupostas por tal formação (Bourdieu, Darbel, 2003: 54)
37
Conclusão
Assim, para desempenhar sua função de encantamento, basta que passem despercebidas
as condições que permitiram a posse dessa cultura e o desapossamento cultural daqueles
que, sem acesso a tal privilégio, estariam como que condenados por sua “natureza” a
permanecer como tal. Ao deslocar para segundo plano as condições sociais que tornam
possível a apropriação de certas práticas, a burguesia constrói a noção de que à burguesia
é reservada a cultura e o amor pela arte. Ao invés de invocar o direito de sangue,
historicamente recusado pela aristocracia, o herdeiro dos privilégios burgueses faz apelo
à natureza culta e à cultura tornada natureza. A ideia de cultura de nascimento é
estimulada pela escola, instituição que garante e legitima a transmissão da herança
cultural sob a forma de uma democracia de acesso, dissimulando as desigualdades
socialmente condicionadas, transformando em desigualdades de dons as desigualdades
de sucesso.
Fichamento conceitual
[...] a"necessidade cultural" segundo a qual uma disposição duradoura eassídua à prática
cultural não pode se constituir senão por umaprática assídua e prolongada: as crianças
oriundas de famílias cultasque acompanham os pais nas visitas de museus ou
exposiçõesadotam, de alguma forma, essa disposição à prática, depois que tiverpassado
38
o tempo necessário para adquirirem, por sua vez, a disposiçãoà tal prática que surgirá de
uma prática arbitrária e, antes de tudo,arbitrariamente imposta. Pg. 164
Na medida em que ela produz uma cultura (habitus) - que não é senão a interiorização do
arbitrário cultural, a educação familiar ou escolar tem como efeito, pela inculcação do
arbitrário, dissimular cada vez mais completamente o arbitrário da inculcação. Pg. 164
Para que a cultura possa desempenhar sua função de legitimação dos privilégios herdados,
convém e basta que o vínculo - ao mesmo tempo, patente e oculto - entre a cultura e a
educação seja esquecido ou negado. Pg. 166
BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.).
Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121
39
Publicado pela primeira vez como “Goûts de classe et styles de vie” como excerto do
artigo “Anatomie du goût”, o artigo gosto de classe e estilos de vida procede a pesquisa
empírica, de certa forma semelhante àquela empreendida no estudo sobre públicos de
museus de arte na Europa (O amor pela arte, Bourdieu e Darbel, 1966). Bourdieu levanta
correlações estatísticas entre o nível de renda, instrução e práticas culturais (como a
fotografia ou visitas a museus) buscando analisar a relação entre esses aspectos e o
chamado “estilo de vida”, conceito que o autor problematiza ao longo do texto e que se
relaciona as propriedades expressa pelas maneiras que vivem as diversas classes sociais
em função das exigências e urgências da vida material.
Segundo Bourdieu, a expressão das condições de existência (ou estilos de vida) são
produto de um sistema de disposições duráveis e transponíveis, que exprime as
necessidades objetivas das quais são produtos. Esse conceito, o habitus, é um sistema de
esquemas geradores que exprime segundo sua própria lógica, a necessidade dos estilos de
vida em sistemas de preferencias, que reproduzem as diferenças ligadas à posição na
estrutura da distribuição dos instrumentos de apropriação. Sob essa ótima, aparecem
como distinções simbólicas.
A unidade das práticas no interior das classes só está no conjunto das “propriedades” que
cercam os indivíduos – que fica marcado pelos bens que consomem e pelas práticas
sociais, como carros, casas, livros, roupas, esportes, consumo cultural – porque estão no
princípio unificador do habitus, que é gerador de todas essas práticas. Assim, o gosto ou
a propensão à apropriação de uma categoria de objetos é a forma generativa que está no
princípio do estilo de vida.
O Luxo e a necessidade
40
A cada nível de distribuição, o que é raro ou inacessível para os ocupantes do nível
anterior, torna-se banal ou comum e assim, necessário ou evidente que estimula o
aparecimento de novos consumos distintivos. As disposições ajustadas às condições de
classes são sempre referidas às disposições associadas a outras posições. Assim, não há
reivindicação burguesa ao desembaraço ou discrição que não vise às pretensões da
pequena burguesia espalhafatosa e inculta (Bourdieu, 1983:86).
A aptidão para pensar objetos ordinários está fortemente ligada ao capital cultural herdado
ou adquirido escolarmente (Bourdieu, 1983:90). Membros das classes populares recusam
a sofisticação estética quando a encontram em atividades que lhes são familiares. O
princípio dessas recusas está tanto na falta de competência técnica quanto na adesão a um
conjunto de valores “formais” que, vista aos olhos do público com desconfiança, como
quem fala a um não iniciado e exclui os não pertencentes; esse efeito se anuncia através
de um aparelho de distanciamento em que a solenidade dos museus é um exemplo entre
tantos (Bourdieu, 1983:92).
41
De acordo com o autor, as classes sociais se distinguem menos pelo grau que reconhecem
a cultura legítima que pelo grau que a conhece, assim as declarações de indiferença ou
rejeições são excepcionais. Bourdieu observa que um seguro indicio do reconhecimento
da legitimidade reside na propensão dos entrevistados a dissimular sua ignorância e se
esforçar em propor opiniões conformes à opinião legítima. Para a maioria, a cultura
erudita é um universo inacessível e é apenas entre os detentores de título de ensino
superior esse sentimento cessa de ser privilégio.
O gosto, produto de uma educação que é ligada a trajetória social, ao mesmo tempo que
sancionada pela educação escolar é por ela intransmissível; é nesse sentido que Bourdieu
afirma que não é necessário demonstrar que o gosto é produto de uma inculcação precoce,
uma educação dada no seio familiar, verdades que são dissimuladas pela ideologia do
gosto natural que nega as evidências que vê mecanismos sociais geradores de diferenças
de classes; essa ideologia naturaliza as diferenças reais convertendo as diferenças no
modo de aquisição de cultura em diferenças de natureza.
O desapossamento cultural
O autor cita Marx, (pg. 102) para apontar o estigma do estilo de vida, através do qual os
desapossados se denunciam, e que contrasta em todas as esferas de distinção e contribui
com a dialética da pretensão e distinção, que para o autor, se encontra no princípio das
42
mudanças incessantes do gosto. Como se não bastasse o desconhecimento das maneiras
valorizadas socialmente, das habilidades que não tem valor nos mercados do gosto, até
em seu tempo livre, aqueles que mais se sacrificam na alimentação, no vestuário e nos
cuidados com o corpo, que se empenham nos divertimentos e gasto do tempo livre em
atividades vulgares, por essa forma de agir “confirmariam” o racismo de classe que
sofrem.
A relação com a cultura é o elemento mais característico do estilo de vida, e pode ser
deduzido, até certo ponto, pela distância entre conhecimento e reconhecimento onde se
exprimem a posição atual, a trajetória passada e a disposição em relação ao futuro. Essa
distância pode ser percebida no princípio da pretensão cultural, que assume formas
diferentes segundo a origem social e o modo de aquisição da cultura – por exemplo, a
burguesia ascendente que acumula meios saberes relativamente desvalorizados pelas
43
condições de aquisição e que investe seu tempo nas práticas menores de bens culturais
legítimos (Bourdieu, 1983:109).
Assim, a boa vontade cultural estaria expressa nos testemunhos de docilidade cultural
– escolha por espetáculos educativos ou instrutivos – acompanhados por um sentimento
de indignidade. Pouco seguros nas classificações que procedem, esses “aspirantes” fazem
escolhas variadas e destoantes, juntando em um mesmo gosto de dois tipos de bens que
nos extremos do espaço social são exclusivos; essa aparência disparatada do sistema de
preferencias remete à particularidade do modo de aquisição. Esse ecletismo forçado nada
mais é que reflexo dessa boa vontade cultural, construída pelos encontros ao acaso, em
uma mistura de gêneros, confusão de ordens, onde podemos encontrar produtos legítimos
“fáceis”, desvalorizados, logo sem seu valor distintivo, oposto do ecletismo erudito que
vê na mistura de gêneros e estilos uma ocasião para manifestar a onipotência da
disposição estética; esses produtos “médios” do campo da produção em massa, reflete a
imagem de uma cultura pequeno burguesa.
A pretensão e a distinção
A disposição estética é tão legitimada, e essa legitimidade tão reconhecida, que apaga que
o poder de definir o que é arte e assim, a “arte de viver” (o estilo de vida) é um lugar de
luta de classes. Despercebidas pelo ponto de vista dominante, as condições da qual as
diferentes disposições são produto, são objetos de um “mal-entendido” que, segundo
Bourdieu, não é menor quando inspira a intenção de “reabilitação”, ou seja, uma
pretensão em dar valor a práticas em função de um sistema de valores etnocêntrico, que
nega o sistema de valores das quais essas práticas são produto tanto quanto a intenção de
desvalorização.
44
A disposição estética implica em uma indiferença ética no estilo de vida que explica a
repulsa ética em relação ao artista que se manifesta das classes médias. Bourdieu cita
Proudhon, filósofo francês, que condena a autonomia da forma e do artista em controlar
aquilo que, para ele, deveria se restringir na execução, que compensaria uma “nulidade”
no tema e contribuiria para uma moda que onde “as reputações fazem e se desfazem”
(Proudhn, apud. Bourdieu, 1983:120). Nesse sentido, essa arte que se separa da vida
social deveria estar subordinada às suas esferas – ciência, moral, e justiça – e ter como
fim educar ao invés de transmitir impressões pessoais.
Por último, Bourdieu salienta que é necessário ter consciente que a disposição estética
está enraizada nas condições de existência e que ela constitui uma dimensão distintiva de
um estilo de vida; assim, para compreender as relações que as diferentes classes mantem
com a obra de arte, é uma relação de força desigual que movimenta e corrobora para uma
forma irreconhecível de luta de classes.
Fichamento conceitual
45
Pars totalis, cada dimensão do estilo de vida simboliza todas as outras; as oposições
entre as classes se exprimem tanto no uso da fotografia ou na quantidade e
qualidade das bebidas consumidas quanto nas preferência em matéria de pintura ou
de música. Do mesmo modo que a oposi9ao entre bebida e abstinência, intemperança
e sobriedade, 0 bar e 0 lar simboliza todo um aspecto da oposição entre as classes
populares e a pequena burguesia, que identifica suas ambi90es de ascensão e suas
preocupa90es de respeitabilidade na ruptura com tudo 0 que associa ao universo
repudiado, no interior do universo dos connaisseurs, para quem tanto possuir urna
cave selecionada quanto ornamentar suas paredes com quadros dos mestres e uma
questão de honra, a oposi9ao entre champanhe e uísque condensa o que separa a
burguesia tradicional da nova burguesia [...] pg. 84
A “boa vontade cultural” se exprime, entre outras coisas, por uma escolha
particularmente frequente dos mais incondicionais testemunhos da docilidade cultural
(escolha de amigos "que tem educação", gosto pelos espetáculos "educativos" ou
"instrutivos") frequentemente acompanhados de um sentimento de indignidade ou de
demissão ("a pintura e bonita, mas e difícil" etc.) pg. 109
Introdução
46
O trabalho de Lígia Dabul volta-se para a reflexão acerca da presença do público em
exposições de arte, pensando as interações e práticas presentes nessas ocasiões. Assim, a
pesquisa volta-se para “a outra ponta da produção artística” não se interessando pelo
trabalho do artista ou instituições e mediadores, mas ao fluxo e comportamento do público
que comparece a determinadas exposições, na frequência dessas visitas e no discurso
produzido por visitantes a fim de justificar sua ida. Para a autora, a maneira em que aborda
as práticas dos públicos pode contribuir para compreensão da arte como vida social.
A autora constata, num primeiro momento, haver uma tendência nos estudos sobre
públicos, de concebê-los junto à prática da recepção. Nesse sentido, a autora aponta a
dificuldade de recorte que experimentou na pesquisa, imergindo o objeto em
preocupações que pensavam a assimilação e produção de significados sobre as obras
expostas. Uma primeira versão da pesquisa apresentava a proposta de abordar uma
sociologia das visitas, no entanto, a ênfase na forma como o público atribui significados
às obras expostas conduziu a pesquisa a investigar os mecanismos dessa produção.
A autora chama a atenção para o fato de que estudos que pensam a arte como vida social
abordarem a recepção como atividade, prática que explica toda a presença de público nas
exposições; no entanto, a pesquisa dirige-se em outra direção e, ao colocar foco nas
visitas, nas ações sociais, instaura as atenções para o que de fato é feito pelo público no
tempo da visita. Enfoca-se então a presença como significativa para os atores que dela
participam, ocasião propícia para atualizarem-se as sociabilidades, o que consistiria em
práticas nem sempre voltadas principalmente para a compreensão das obras expostas.
Nesse sentido, investiga-se que práticas acompanham a convergência do público em
direção às obras ou ao espaço em que estão expostas.
47
as múltiplas atividades oferecidas no espaço, característica primordialmente dos centros
culturais.
Outra dimensão já comentada é o valor histórico ou estético dos prédios onde residem
centro culturais e museus que, por si só, constituem objetos de visita – a autora vai usar
Duncan (ver) ao longo do trabalho para relacionar a postura que a arquitetura dos museus
inspira no comportamento dos públicos para relacionar essa postura com as interações
reais que ocorrem.
48
a autora se apropria de noções associadas ao conceito de ritual para discutir a presença e
comportamento so público em exposições de arte, atentando paras as especificidades das
situações de exposição de produtos artísticos. No quarto capítulo, encontramos a
descrição das principais práticas observadas pela autora durante a pesquisa, práticas essas
que constituem e dão significado à presença dos atores nas exposições de arte expondo a
maneira que interagem com outros atores e com as obras expostas.
49
consideravelmente constrangedor, sobretudo no caso da autora que, no início do trabalho
de campo optou por não revelar a identidade de pesquisadora.
Assim, a autora opta por iniciar o trabalho de campo no CCBB no Rio de Janeiro, com
eventos gratuitos e em grande maioria tratados pela mídia. No primeiro dia, com três
exposições disponíveis, uma delas de arte contemporânea. Ainda que não constituísse o
foco da pesquisa, a autora se viu atraída pela possibilidade de confrontar categorias
produzidas por atores sociais inseridos no mundo artístico de diferentes maneiras, estando
o público dentre eles. No entanto, o tempo em que as exposições acabariam, ditou a
entrada no campo; sendo que uma das mostras disponíveis acabaria em uma semana, foi
a partir desta que se iniciou o trabalho de campo.
17
Relações públicas é uma categoria utilizada para se referirem às profissionais (em sua maioria
mulheres) que ficam no espaço das exposições para zelas pela segurança das peças (Dabul, 2001:75,
nota de rodapé)
50
espécie de “informantes” para a pesquisa, uma vez que estes relatam casos ocorridos na
ausência da autora e apresentam boas oportunidades de observação. Essa interação
acabou por formar uma relação de cumplicidade com as relações públicas, ambas sabendo
da observação velada aos visitantes.
Fichamento Conceitual
[...] pretendo tratar uma outra ponta da arte, a presença do público nas exposições
de objetos de arte, e de novo partir de práticas e interações efetuadas pelos atores
sociais, agora o público, ao longo delas, tornando a “esquecer” as obras expostas,
apesar delas aparecerem com freqüência, inclusive no discurso de muitos dos que
visitam as exposições, como fundamento de se estar lá. E penso que em principalmente
dois sentidos o modo como tentei abordar o público das exposições neste trabalho, ao
lado das dificuldades que sei ter encontrado, pode contribuir para a compreensão da arte
como vida social. Pg. 14
51
indivíduos, em movimentos e operações concatenadas, quando, por exemplo, fitar o
acompanhante alterna-se ao fitar a obra, e o ritmo estabelecido pelo andar e parar em
frente à obra é intercalado de maneira harmoniosa com as interrupções causadas pela
derivação do assunto que já não mais se refere à obra que ainda pode ser alcançada
com os olhos, e que acabaram de ver. Pg. 185
Mas há ainda um conjunto de itens que podem ser abordados de modo mais detido, em
função desse alargamento do campo de práticas e procedimentos sociais importantes
vinculados à presença de visitantes em exposições de arte. Essa tentativa de ampliar
se traduz, claramente, em considerar agora mais diretamente em nossa reflexão espaços
e tempos outros para além daquele espaço e daquele tempo no qual os atores sociais
deslocam-se pela exposição. Há, nesse processo de análise, a ênfase naquela continuidade
que já temos sublinhado em relação às práticas sociais – como estudo, brincadeira,
aprendizagem, diversão, namoro, convivência etc. – que, dentro de configurações
específicas de situações de excepcionalidade – liminaridade –, são atualizadas de
alguma maneira nas exposições. Pg. 271
Concentrados nos objetos, na sua compreensão direta e análise, ainda quando voltados
para a inferência de elementos da sociedade ou cultura, as ações sociais, e, então,
os atores sociais, tendem a não constituir os focos da investigação. Rituais, assim,
costumam ser estudados bem mais frequentemente mas para a compreensão do
significado embutido nos objetos artísticos e sua função social.[...] Ritual aqui consiste
em conceito estratégico, usado como ponto de impulso, que nos ajuda a perceber traços
da vida social onde aparentemente reina absoluta a liberdade de criação dos artistas e de
escolha e de comportamento do público. Por conta dessa suposta liberdade atribuída à
arte, ela é comumente tomada como fenômeno não afeito a estudos científicos. Se
submetida, no aspecto que nos interessa, à verificação de correspondência com o atestado
por estudos que utilizam o conceito de ritual, talvez a arte possa ser sondada em
dimensões pouco levadas em conta e compreendidas. Pg. 119
52
DUNCAN, Carol. “The Art Museum as Ritual” in Civilizing Rituals Inside Public Art
Museums
O trabalho de Duncan tem como proposta apontar os aspectos rituais gerais que os museus
de arte evocam. Nesse sentido, a autora analisa tanto as práticas que se desenrolam dentro
dos museus, quanto a atmosfera de suspensão que essas construções evocam, no sentido
de uma arquitetura diferenciada, por vezes cercada de jardins ou em espaços históricos,
que tem a função de “separar” o tempo e espaço da vida cotidiana, gerando a ideia de
suspensão. Assim, através da análise desses aspectos, Duncan tece o argumento de que
os museus de arte evocam uma espécie de ritual em seus visitantes, reforçados tanto pelas
características físicas como pelas “normas” dos museus.
O argumento inicial da autora é de que o caráter ritualístico dos museus de arte existe há
tanto tempo quanto os próprios museus de arte e contribui, de certa maneira, para o
cumprimento da proposta do museu. Assim, Duncan argumenta que os museus sempre
foram comparados a templos, ou palácios e, de fato, eles têm sido deliberadamente
pensados para representa-los.
Mesmo que os museus de arte não sejam associados a valores religiosos, pertencendo ao
reino dos valores seculares – não apenas motivados pela prática científica e das
humanidades, mas por preservar também a memória cultural da comunidade – a prática
ritual que se associa à religiosidade também é a eles dirigida, muito embora antitética pela
dicotomia estabelecida entre religioso/secular.
53
arte está estreitamente vinculado às questões sobre quem constitui e define a identidade
de determinada sociedade.
A semelhança entre museus e antigos lugares de culto religioso se dá não só por sua
referência arquitetônica mas também porque são desenhados para a performance ritual;
como qualquer lugar ritual, os museus estão marcados por reservar a necessidade de uma
atenção especial assim como também se espera uma postura ou decoro em seu interior.
Alguns museus têm em seu interior listas com o que é e o que não é permitido no ritual
de comportamento. Duncan enfatiza a semelhança entre museu e templo também através
de sua estrutura; eles geralmente são colocados como que a parte de outras estruturas, sua
arquitetura monumental claramente marca uma ‘aura’ de diferenciação; seus prédios
constantemente são guardados por pares de criaturas, muitos deles são construídos em
áreas afastadas dos centros urbanos, cercados por paisagem natural.
Duncan argumenta que a característica ritual dos museus está relacionada tanto à
experiência no sentido da atenção especial que requer quanto que à noção diferenciada
do tempo e espaço que proporcionam. O ritual, no entanto, também envolve algum
elemento de performance. Essa performance precisa ser, no entanto, algo espetacular; no
caso dos museus, é algo contrário, algo que pode ser performado individualmente, como
de seguir uma rota prescrita, repetir uma prece ou se envolver em uma experiência
estruturada que relata o sentido do lugar. Nos museus de arte, são os visitantes que
perfomam esse ritual. O espaço delimitado, o arranjo das peças a iluminação e detalhes
arquitetônicos providenciam o script e o palco dessa atuação. E finalmente, escreve
Duncan, o ritual deve ter um fim proposto. No caso dos museus, a experiência que
proporcionam é transformadora: Seus visitantes experimentam um sentimento de ser
nutrido, restaurado, iluminado.
54
profissionais não estavam preocupados com a experiência que a arte poderia
proporcionar, mas sim com as questões de gosto e estética. Ao mesmo tempo que a
estética surge como tópico importante de pensamento, cresce o interesse por galerias e
museus de arte. De fato, o surgimento do museu de arte é consequência da descoberta
filosófica do poder da moral e da estética dos objetos de arte. Nesse sentido, se os objetos
de arte exercem melhor sua função quando contemplados, o museu deve prover um
cenário adequado para eles, e isso os torna inútil para qualquer outro propósito.
O surgimento dos museus suscitou uma resposta de seus visitantes que era motivada pelo
sentimento de sacralidade que o impregnava. Goethe escreve sobre suas impressões após
visitar, em 1768, a Dresden Gallery e enfatiza o efeito do ambiente como impressionante.
Segundo ele:
18
DUNCAN, Carol pg. 14
55
redefinindo-os como obras de arte, diminuindo ou obscurecendo sua configuração
original por retirá-los de seu contexto de uso.
Assim, as atribuições do museu de arte vão sendo alteradas; se no início os museus eram
responsáveis por guardar objetos de valor cultural incontestável, agora eles se tornam
lugar de contemplação estética. No entanto, a atmosfera mágica do museu permanece
ainda com a ação da estética, que começa a ser vista como a fonte de uma experiência
prazerosa.
Os museus começam a ser projetados para induzir seus visitantes a essa experiência, que
requer uma absorção profunda. O antropólogo Edmund Leach afirma que cada cultura se
empenha em construir algo que, simbolicamente, contradiga a irreversibilidade do tempo
e da morte; assim, os museus podem ser vistos como “templo” que revisitam momentos
significantes do passado.
A vitória do “museu estético” proporcional ainda alterações na estrutura dos museus, que
passaram a se preocupar com a sensação de imersão, com a concentrar o foco nos objetos
de arte; motivados pela contemplação estética, os museus foram pouco a pouco
aumentando o espaço entre as obras para que o olhar não fosse incomodado por outros
objetos. Logo, quanto mais “estético” as instalações – menos objetos, mais paredes vazias
– mais sacralizado o espaço do museu.
No entanto, essa abordagem faz com que o espaço sacralizador do museu tenha a
capacidade de fazer com que objetos se tornem arte. Dessa forma, qualquer coisa, como
cadeiras, extintores de incêndio, termostatos, enfim, qualquer coisa pudesse ser vista
como arte.
Nesse texto, a autora defende o argumento de que há, em torno dos museus e galerias,
uma atmosfera que suscita a atitude ritual. Essa atmosfera é tão grande que acaba por dar
56
aos museus o poder de transformar objetos em seu interior em arte pelo simples fato de
os expor.
Fichamento Conceitual
Besides introducing the concept of ritual that informs the book as a whole, it
argues that the ritual character of art museums has, in effect, been recognized for as
long as public art museums have existed and has often been seen as the very fulfillment
of the art museum's purpose. Pg 7
What we see and do not see in art museums [...]- is closely linked to larger
questions about who constitutes the community and who defines its identity. Pg. 9
Museums resemble older ritual sites not so much because of their specific architectural
references but because they, too, are settings for rituals.[...] Like most ritual space,
museum space is carefully marked off and culturally designated as reserved for a
special quality of attention - in this case, for contemplation and learning. One is also
expected to behave with a certain decorum. Pg. 10
A ritual site of any kind is a place programmed for the enactment of something
[...]But a ritual performance need not be a formal spectacle. It may be something an
individual enacts alone by following a prescribed route, by repeating a prayer, by
recalling a narrative, or by engaging in some other structured experience that relates to
the history or meaning of the site (or to some object or objects on the site). Some
individuals may use a ritual site more knowledgeably than others - they may be more
educationally prepared to respond to its symbolic cues. Pg. 12
In art museums, it is the visitors who enact the ritual. The museum's sequenced
spaces and arrangements of objects, its lighting and architectural details provide both
the stage set and the script - although not all museums do this with equal
effectiveness. Pg. 12
57
FLEURY, Laurent “Os Públicos da Cultura” in: Sociologia da cultura e das práticas
culturais, Editora Senac : São Paulo, 2009
O debate empreendido no capítulo selecionado para este relatório tem foco em contrapor
as diversas definições de públicos por pesquisadores desta categoria, bem como as formas
de abordagem empreendidas por esses pesquisadores. Ao trazer para o debate
pesquisadores que evidenciam a abordagem de múltiplas práticas constituitivas dos
públicos, Fleury opõe à abordagem proposta por Bourdieu em “O Amor pela arte”
enviesadas pelo conceito de classe. Fleury tenta assim mostrar outras formas de trabalhar
o público através das diversas esferas culturais em detrimento do viés adotado por
Bourdieu.
58
ouvintes enquanto destinatários. Dessa forma, o recurso à categoria “público” no singular,
cristalizou um mito; essa dimensão lembra que a realidade não é apenas real, mas também
imaginada e logo, a categoria de “público” não deixa de ter efeito.
Mesmo as enquetes junto a públicos de festivais constataram que os processos de
identificação individual e coletiva estavam na origem de um “tornar-se” público e
espectador. Além da categoria de destinatário que o público evoca, as políticas de público
oferecem um espaço de identificação coletiva aos indivíduos. Dentro de tal categoria de
público, é necessário ainda estar consciente dos implícitos veiculados por uma outra
noção, a de “não público”.
Essa noção foi introduzida pela primeira vez em maio de 1968 com a reunião de diretores
e homens do teatro e pesquisadores das ciências sociais. A ação cultural, entendida como
um dispositivo de transmissão da cultura erudita a um público privilegiado parece
estagnar, uma vez que os espectadores contemplados se encontram numa faixa da
população que possui meios de obter cultura.
Separando “cultos” e “não cultos” a declaração que emerge de tal encontro postula uma
desigualdade de atitudes culturais dos indivíduos. A noção de “não público” introduz uma
dimensão inédita; a negação que ela sugere já mostra um processo de marginalização e
até mesmo de exclusão.
Pela primeira vez desde o século XVII, quando se constitui o público literário, vê-se
implicitamente negar uma parcela da população a possibilidade formal de fazer parte
disso. Declara-se a intenção de se conduzir esse público ao teatro, mas essa intenção
corresponde a uma negação na medida em que a categoria de “não público” corra o risco
de permanecer enquanto tal; a invenção da noção de “não público” participa da
naturalização de uma construção social.
59
politicamente construído que aparece como o Outro e suas diferenças culturais e sociais
passam para primeiro plano. O discurso realiza em parte aquilo que enuncia.
Quando passa de noção de público em potencial para “não público”, se viaja entre um
universo probabilista e um universo certo. O não público passa por um processo de
desqualificação e marginalização; o não público torna-se o “excluído” o “pobre” de
cultura. Entretanto, não é a pobreza integrada do século XX que convive nos corredores
do Louvre com as demais classes, é a pobreza desqualificada, tal qual escreve Simmel.
60
bibliotecas onde o público constatado não corresponde ao público inventado, quer dizer,
ao bom público. O primeiro, muito mais recorrente, corresponde aos barulhentos,
devoradores de sanduíches e consumidores de latas de cerveja. Dessa forma, o público
constatado sustenta relações complexas com o público inventado, que se designs como
novas camadas de público, definidas por características sociais ou geográficas ou ainda
por uma forma de utopia do espectador.
A esses dois tipos de público, adiciona-se um terceiro, o “público recusado”, aquele “para
quem se produzem procedimentos de domesticação das expectativas, que visam fazer dele
não apenas receptáculo, mas também negar-lhe expectativas ou demandas dos coletivos
efêmeros reunidos em torno de artistas e obras”.
Por fim, assim como Weber recusava, em termos de método, o emprego de coneitos
coletivos mas reconhecia seus valores na explicação da orientação da ação social, é
preciso evitar substancializar o público.
Entre 1973 e 1997, por exemplo, observou-se a ascensão do audiovisual onde observa-se
que o consumo de audiovisuais tem sua expressão mais visível no aumento do tempo
19
Os dados estatísticos foram retirados da enquete “As práticas culturais francesas” de 2003 do INSEE –
para mais ver Fleury, 2009:61
61
dedicado ao consumo de programas de televisão, videocassetes, discos, etc.; dessa forma,
observou-se a intensificação e aumento na duração da escuta e a cultura televisiva. A
ascensão da televisão e dos aparelhos de som abriram uma nova era audiovisual,
acentuando as práticas audiovisuais no espaço doméstico. O movimento de aumento do
consumo televisivo e musical, no entanto não acompanha o mesmo ritmo, o aumento da
audição de discos foi mais importante em 1970, no momento em que os aparelhos
domésticos dedicados a reprodução sonora eram ainda limitados; o aumento do tempo
dedicado ao consumo televisivo foi mais marcado na década de 1980 e, é possível
constatar o declínio da leitura de livros.
Como interpretar o recuo no número de livros lidos? Esse declínio conhece diversas
interpretações, em primeiro lugar as de concorrência no espaço-tempo, a participação
mais frequente em atividades artísticas e de lazer, bem como os consumos audiovisuais
são fatores de erosão na quantidade de livros lidos.
20
63% dos franceses compraram um exemplar nos últimos 12 meses contra 51% em 1973 e a proporção
de associados a bibliotecas dobrou, se comparado a 1973
62
adolescente. O livro torna-se emblemático do mundo ultrapassado em frente as
tecnologias emergentes.
O teatro conhece seu público pelas enquetes que se referem a uma instituição particular e
pelos trabalhos sobre festivais. Uma enquete do Festival de Avignon conduzida desde
1996 busca medir os efeitos sociomorfológicos em relação a transformação e constituição
dos públicos de teatro fora dos equipamentos culturais tradicionais (aqui, se inclui o
próprio Festival). Esse conjunto de estudos mostra até que ponto dinâmicas culturais dos
públicos na prática festival constitutiva de sua própria experiência e personalidade
cultural. Uma enquete precedente mostrou que a participação cultural em festivais está
longe de limitar-se ao contato entre público e obra.
Para a ópera, o estudo dos públicos revela que só uma fração muito minoritária da
sociedade procura basear sua identidade social em práticas líricas. Os traços que
singularizam essa prática, por sua raridade de oferta e implantação constitui um ponto
cego para a sociologia da cultura que privilegia noções de “classes dominantes”, uma vez
que as pr[áticas líricas estão mais estritamente relacionadas aos rendimentos financeiros
que às formações escolares ou familiares.
63
A construção dos universos culturais
Visando ultrapassar os limites das abordagens da prática e abordar o tema da cultura pela
vertente cognitiva, Donnat elaborou um questionário com 65 personalidades que
cobririam o conjunto das formas de expressão artísticas das mais vanguardistas às mais
populares, tentando confrontar a competência do gosto em matéria artística e perguntar-
se sobre categorias de vulgar e distinto. Assim, ele distingue categorias de artistas entre
“patrimoniais”, “populares” “célebres” ou ainda os que se referem ao primeiro ou
segundo “círculo da alta cultura”, mas dentro destes mantém categorias como
“consagrados” e “consagráveis”, o que permite indicar classismo ou modernismo desses
artistas.
Os grupos de franceses que o autor indica são: “excluídos”, que conhecem somente os
“patrimoniais” ou “populares”, os “desprovidos” que apontam uma recusa de gosto aos
“patrimoniais”, o “cruzamento da média” com pessoas que se encontram no centro das
lutas simbólicas engajadas, “avisados” que compartilham os gostos da maioria e os
“antenados” que dispõem de capital informacional mais diversificado.
21
Oliver Donnat, Les français face à la culture: de l’exclusion à l’écletisme (Paris,: La Découverte, 1994)
64
A cultura juvenil: Conjunto da geração entre 15 e 20 anos, e, ainda que os jovens ajam de
maneira diferenciada, variando em razão de gênero, trajetória escolar, residência entre
outros fatores, o contato com as mídias tende a estruturar seu tempo extraescolar; tanto a
audição quanto a desconfiança em relação às formas consagradas de cultura os caracteriza
igualmente.
A tipologia elaborada apresenta três tipos de limites: O risco de reificação, que tende a
congelar a representação das atitudes e comportamentos, a delimitação desse o universo
que corre o risco de mascarar as trajetórias que esboçam curvas dinâmicas em matéria
cultural e a objetificação, que ameaça petrificar que é, na verdade, movimentação.
Embora fique clara a construção de ferramenta tipológica que não abarque a totalidade
do real das categorias propostas por Donnat, há o risco de recusa teórica pela construção
hierarquizada de suas categorias. O autor tende a consolidar o modelo que critica, uma
vez que a dinâmica hierarquização e legitimação se revela típica da teoria da distinção. O
ecletismo dos antenados já aparecia no âmago do modelo onívoro proposto pela
sociologia americana, que afirma que as classes superiores se distinguem agora a partir,
menos de sua tendência ao erudito/clássico do que pelo ecletismo de seu gosto.
Fichamento conceitual
65
do singular como uma ingenuidade do senso comum: não existe um público, mas
públicos, e há tanto a existência de gêners artísticos quanto “expectativas” afetivas e
intelectuais dos indivíduos. Pg. 49
22
Citação de Francis Jeanson, “Déclaration de Villeurbanne”, em L’action culturelle dans la cité (Paris:
seuil, 1972) pp. 119-120. Grifo: Fleury
66
6. A NEXOS
i
As Feiras de Arte Contemporânea no Rio de Janeiro e em São Paulo: entre a exclusividade e a
democratização Daniela Stocco
Resumo: Se a fascinação causada pela arte é inquestionável, sua autonomia enquanto esfera da vida
social não o é. Para muitos sociólogos, a arte é, como toda atividade humana, socialmente construída
e não está ligada apenas a elementos essencialmente estéticos. Dentro desta perspectiva, artistas,
especialistas em geral, galeristas e compradores têm seu espaço e sua influência no mercado primário
de arte contemporânea. O objetivo da tese de doutorado é compreender como funciona o mercado de
artes plásticas no Rio de Janeiro e em São Paulo entre 2010 e 2013. Através do circuito de produção
e circulação das obras, analisar-se-á quem são seus integrantes, a influência que exercem na
divulgação e legitimação de artistas e obras e a relação que cultivam entre si. Além disso, serão
apontadas semelhanças e diferenças entre os mercados carioca e paulistano em relação ao mercado
em outras cidades no exterior, principalmente o de Paris.
Palavras-chave: Sociologia da arte; mercado de artes plásticas; galerias de arte; compra e venda de
obras de arte; circulação de obras de arte.
ii Políticas Públicas e Mercado das Artes Visuais: O Programa Brasil Arte Contemporânea e seus
desdobramentos Mariana Queiroz Fernandes
Resumo: O Programa Brasil Arte Contemporânea (BAC) foi uma política pública implementada
pelo Ministério da Cultura (MinC) em 2007 com o objetivo de estabelecer instrumentos para a
internacionalização da arte contemporânea brasileira e, pontualmente em 2008, promover a
participação das galerias brasileiras na 27ª Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madri,
chamada Arco’08. Investigarei como o MinC durante o governo do PT, autor de políticas públicas de
clara e decidida opção por ações que contemplem os segmentos sociais desfavorecidos (as classes
populares, as minorias étnicas etc.), se dispôs a patrocinar espaços comerciais que beneficiam
quase exclusivamente, comerciantes de arte que servem clientelas economicamente ricas.
iii
Públicos de cinemas em foco: interações, sociabilidades e os significados do estar lá vendo e
sendo visto Bianca Salles Pires
Resumo: No presente artigo analiso as interações e sociabilidades que ocorrem entre os frequentadores
de cinemas nos dias atuais. A partir da perspectiva de que a ida ao cinema abrange mais do que o ir
assistir ao filme, incluindo: encontros “ao acaso”, flertes, conversas, avaliação dos objetos artísticos,
redes de conhecidmos que se estabelecem nos ambientes das salas, registros fotográficos,
67
partilhamento das experiências na internet, entre outros. Para tanto, me antenho aos dados das
pesquisas etnográficas realizadas junto aos públicos de três cinemas no bairro de Botafogo, Rio de
Janeiro. Ao dar foco às sociabilidades presentes nos cinemas, percebemos a existência de “novas”
diferenciações e distinções, que se tornam perceptíveis a partir da observação dos significados que o
“estar lá, vendo e sendo visto” adquirem para os públicos e como atualmente se estendem às redes
virtuais.
iv
Políticas públicas de cultura e governamentalidade: as dimensões de participação
e controle nos editais de ação afirmativa Alexandre Barbalho, Jocastra Holanda
Bezerra, Rachel Gadelha
Resumo: O trabalho propõe discutir o tema das políticas públicas de cultura à luz do conceito
de governamentalidade de Michel Foucault. Como objeto de reflexão, utiliza-se uma importante
política de financiamento à cultura, implementada nos Governos Lula e Dilma: os Editais Públicos
e, especialmente, os editais de ação afirmativa. Nesse âmbito, o Ministério da Cultura criou
um conjunto de editais voltados para a cultura afrodescendente, incentivando pesquisadores,
produtores e criadores negros. Para além do reconhecimento de suas contribuições e de
representar uma conquista histórica dos movimentos sociais, busca-se problematizar a inclusão
desses novos segmentos e práticas culturais a partir da análise das relações de poder que se
instauram nas políticas públicas de cultura. O argumento central é que, ao mesmo tempo em que
estimula à participação social de grupos minoritários e historicamente de resistência, a política
cultural, pelo seu caráter indutor de valores e linguagens artísticas, atua como dispositivo de disciplina
e controle da produção cultural.
Considerando-se essas premissas, este artigo tem o objetivo de compilar algumas linhas
conceituais de relevância para as ciências humanas (sobretudo para a Sociologia) no que diz
respeito ao espaço urbano e suas significações, à luz das transformações contemporâneas. Ou
seja, pretendemos nas próximas páginas promover um breve debate de como algumas abordagens
recentes buscam refletir sobre o advento da globalização, seus efeitos no espaço urbano, bem como,
tentam refletir sobre as significações sociais daí decorrentes.
vi
Recife Blues Sessions: processos de identificação, formação de público e valoração Manoel
Sotero Caio Netto
68
Resumo: A problematização da Música tem sido profícua nas perspectivas sociológicas. Os estudos
sobre Música permitem variações bastante complexas. A partir da incursão sociológica no tema
da música, proponho estudar a movimentação Blues na cidade do Recife, cartografando seus
roteiros, estruturação, formação de público, sustentabilidade, entre outros aspectos. Procuro
examinar de que maneira as práticas musicais e discursivas dos artistas e gente de apoio do Blues
operam na produção de sentidos de agrupamento no âmbito da cidade do Recife. Busco compreender
esse acontecimento através da investigação dos discursos desses agentes sobre sua própria
produção cultural, mas também analisando os elementos de formação de público. Busco ainda
compreender os elementos estratégicos de valoração do Blues, bem como processos de identificação,
estilos de vida e distinções sociais operadas nessa configuração.
vii
Os “usos” da cultura em Niterói: o Caminho Niemeyer e as políticas de Patrimônio Margareth
da Luz Coelho
Resumo: A cidade de Niterói (RJ), embora tenha sofrido ao longo de sua história Várias intervenções
urbanas, é a partir de 1989 alvo de um projeto de “revitalização” que aposta na Cultura como “ativo”
cujo gerenciamento pode promover o desenvolvimento urbano e tornar a cidade competitiva, atraindo
investimentos privados e incentivos do Estado. As práticas culturais são, a partir desse novo modelo
de governabilidade, redefinidas em função de sua integração aos circuitos de produção e consumo.
Nesse contexto, o patrimônio é concebido como “recurso” (YÚDICE, 2004) local para a formulação
de projetos de desenvolvimento cultural, Renovação urbana e valorização da identidade municipal.
Sob a rubrica do patrimônio são elaboradas estratégias de city marketing para promover o turismo
cultural e lutar contra as tendências culturais “englobantes” da metrópole vizinha, o Rio de Janeiro
viii
Gostos na classe e concorrência aliada Caleb Faria Alves
ix
Por Uma Nova Perspectiva Na Delimitação Do Setor Cultural Do Estado Do Rio De Janeiro
69
Janaína Machado Simões e Marcelo Milano Falcão Vieira
Resumo: O tema cultura vem despertando um crescente interesse tanto por parte do meio
acadêmico quanto por parte de organizações públicas e privadas no Brasil. Duas temáticas têm
se destacado nesse cenário: a crítica da apropriação da cultura como negócio e o desenvolvimento da
cultura como setor econômico. O Estado do Rio de Janeiro, por apresentar um contexto de análise
marcado pela complexa relação entre Estado, Município e União, tem sediado boa parte dessas
discussões. Apesar disso, pouco se tem avançado no intuito de definir e estabelecer limites para o que
se denomina setor cultural. Nesse sentido, partindo de uma perspectiva Metodológica qualitativa,
o objetivo deste trabalho é analisar o desenvolvimento do setor cultural do Estado do Rio de Janeiro,
propondo a discussão sobre a construção de critérios que auxiliem na sua delimitação e que
considerem outras dimensões além da econômica.
x
Distinção E Enobrecimento Urbano: Os Centros Culturais E O Mercado De Bens
A iniciativa do Banco do Brasil em abrir centros culturais se inscreve, por outro lado, no contexto de
mudanças que ao longo das últimas décadas vem sendo objeto de estudos no campo das ciências
humanas e sociais. As análises produzidas tratam do surgimento de um novo cenário
socioeconômico e cultural, característico do processo de acirramento ou de mutação do capitalismo,
que pode ser sintetizado na questão da pós-modernidade e da globalização econômica.
A partir do estudo de caso da iniciativa do Banco do Brasil, o trabalho propõe uma leitura dos
caracteres culturais e econômicos do período que convergiram no fenômeno dos centros culturais
e na disputa, nos anos 90, das capitais brasileiras para receber da Empresa o mesmo tratamento
dispensado à capital fluminense
xi
Museus E Público No Rio De Janeiro: Mapeando Serviços E Qualidade Gabrielle Corrêa Braga
Nos perguntamos: qual o papel do museu no Brasil? Os museus são em sua maioria, mais de 80% do
total, instituições públicas, o que significa que estão inseridos num projeto político geral do
Estado e que se sustentam com verba pública. Então, o que leva o governo a continuar
sustentando uma instituição que não cumpre seus objetivos, sejam eles ideológicos,
disciplinadores ou civilizadores, porque têm poucopúblico? É certo que os museus guardam e
resguardam o patrimônio histórico e cultural, mas o Estado, como a empresa que gere os bens
públicos, não pode mal administrar suas verbas e o descaso público para com os museus é
vergonhoso. Como pode uma instituição pública ser tão insensível a sua função social? Constrói-
se um ciclo vicioso que envolve poucos recursos, patrimônio mal cuidado, funcionários
70
desmotivados, museografias caducas, público mal informado e desconfiado. Para quem e para
que serve um patrimônio aquartelado?
xii
A Bienal de São Paulo: pós - colonial ou neo-colonial ? Reflexões para uma etnografia da arte
contemporânea no Brasil - Amélia Siegel Corrêa
71
Resumo: o presente artigo propõe uma reflexão acerca do desafio contemporâneo de pensarmos
políticas e gestões públicas voltadas para a diversidade cultural. Traçamos uma breve análise de como
a diversidade cultural vem sendo tratada como objeto de políticas culturais e gestões públicas no
Brasil, como também no campo epistêmico (pluri, multi e interculturalismo). Avançamos no sentido
de pensar o caráter relacional das diferenças que a diversidade cultural demanda e, para isso,
encontramos nos estudos descoloniais um horizonte crítico que nos possibilita vislumbrar paradigmas
outros que nos ajudam a enfrentar o desafio posto. Um paradigma outro que reclama uma perspectiva
intercultural para as políticas e a gestão da cultura, onde exercer os direitos culturais é também exercer
o direito de ser e pensar diferente, combatendo a hegemonia de uma monocultura moderna colonial.
No centro dessa questão está a necessidade de um estado pluriétnico e pluricultural que reconheça a
diversidade de etnias e culturas que conformam uma nação e que precisam ser pensadas e
desenvolvidas equitativamente através de políticas e gestões públicas interculturais.
xiv O Popular E A Política Cultural: Uma Análise Crítica Do Discurso Da Cultura Popular
xv
Usos e sentidos da cultura nas políticas públicas de turismo
Daniela Caruza Gonçalves Ferreira Joyce Kelly da Silva Oliveira Bruna Lorrany de Castro Araújo
Júlia Maria Dias Carvalho Paes
Resumo: Como um emergente projeto de desenvolvimento que vem se consolidando nas últimas
décadas no país, o turismo proclama como um de seus elementos centrais a diversidade cultural.
Contudo, cabe refletir: como a cultura é tratada nos discursos e práticas predominantes no
turismo? A “cultura”, com tantas aspas que possamos empregar pela variedade de usos que admite
dentro desse contexto, pode se configurar tanto como produto consumível (por parte do turista) e
72
explorável (e com relativo baixo custo, por parte dos empresários e da administração pública), quanto
como objeto de políticas públicas e instrumento de resistência local. O que podemos perceber é que,
em diferentes situações e dependendo dos atores envolvidos, são acionados diferentes conceitos
de cultura e atribuídos diferentes valores à diversidade cultural no processo de desenvolvimento
turístico. Nossa questão central é, portanto, compreender como se articulam essas diferentes
dimensões nas políticas públicas de turismo no Brasil. Para isso, analisamos a legislação vigente,
documentos oficiais e publicações específicas do Ministério do Turismo, bem como algumas ações
de programas e projetos desenvolvidos para o setor.
xvi
A cultura em questões
Resumo: O setor de serviços e as políticas públicas têm feito um uso cada vez mais intenso
do conceito de cultura. Proliferam cursos de gestão, programas de governo e pesquisas que se
apresentam como diretamente concernentes a esse campo. Os dois últimos procuram, no entanto,
suporte nas enquetes investigativas. Esta apresentação abordará comparativamente o conteúdo desse
termo, explícito ou não, em algumas dessas enquetes no Brasil e América Latina. Como primeiro
passo procuramos destacar os condicionantes pressupostos ao consumo de bens culturais nas enquetes
e o quanto eles estão ligados ao próprio campo cultural. Ou seja, entender as mudanças nas formas
como a cultura é usada como acessória a preocupações que lhe são externas. Um parâmetro
importante é destacar o quanto o gosto aparece enquanto elemento de imposição distintiva e não
apenas como possibilidade gerada por uma faixa de renda. Num segundo momento procuramos
verificar como os setores público e privado se articulam na produção e uso desses dados,
mantendo o foco nas definições. Nessa etapa, entra em pauta também a academia e as
redefinições recentes do papel dos intelectuais.
xvii
Sociabilidade e significado: experiências dos públicos das artes visuais: Lígia Dabul
73
outras. Ao mesmo tempo, na tentativa de esgarçar a demarcação do que vem a ser o contato ou acesso
do público à arte e ao cinema, pretendemos descrever e analisar o quanto essas interações viabilizam
também a produção de sentido sobre a própria prática de frequência a essas ocasiões sociais, incidindo
sobre a experiência dos indivíduos com a arte, por meio de percepções, por exemplo, sobre “estar lá”,
“vendo e sendo visto”, em exposições e sessões de cinema.
xviii
O Estado da arte: debates acerca das políticas culturais em Belo Horizonte Pedro Gondim
Davis
Resumo: Pretendo apresentar aqui os primeiros passos de uma investigação que tem por fim a
compreensão de um momento singular no contexto dos recentes debates acerca das políticas
públicas para cultura em Belo Horizonte. Dado o ensejo criado a partir do cenário geral de
disputa, de contestação e de conflito no que tange a condução das políticas culturais da atual
gestão municipal, observou-se nos últimos anos uma série de articulações e de proposições em torno
(e partindo) dessa temática. Contudo, para além das questões normativas que o cercam, pretendo
discutir aqui as concepções de cultura que estão sendo forjadas e postas em jogo, algumas das
dimensões a elas atreladas, e as maneiras pelas quais os atores envolvidos no debate concebem
imagens de Estado que sejam passíveis de serem julgadas – e responsabilizadas – pela formulação,
pela implementação e pela avaliação de tais políticas.
xix
Performances, Estética E Políticas Culturais: Arte E Identidade Nos Maracatus Cearenses
Danielle Maia Cruz – UFC/Ceará e Lea Carvalho Rodrigues – UFC/Ceará
74
Palavras-chave: Maracatus. Identidades. Editais municipais.
Resumo: O turismo é um tema que, ao longo dos últimos anos, ganhou seu lugar dentro das discussões
nas ciências sociais, seja no campo da antropologia ou sociologia e até mesmo na ciência política.
Com isso percebemos a presença dos diversos agentes sociais que fazem parte de forma direta
ou indireta desta atividade promovida pelos órgãos públicos, empresas privadas e o mercado
informal. Este trabalho busca analisar as diversas maneiras pelas quais os turistas são “guiados” por
esses agentes sociais que estão envolvidos, de alguma forma, com a atividade turística na cidade de
Manaus/AM, especificamente no centro histórico. A participação de vendedores ambulantes,
funcionários de restaurantes, motoristas de táxis, seguranças, entre outros é mais presente nas
práticas turísticas do que muitas vezes se imagina. Quem nunca pediu alguma informação à
dessas pessoas? Onde encontrar uma boa comida típica da região, assistir a um bom espetáculo,
comprar artesanato e dicas de lugares que se deve visitar quando se quer conhecer a cidade, são
questões que figuram esse universo e estreitam as relações sociais entre o turista e os agentes sociais
que estão envolvidos com o turismo. A partir desta realidade busca-se compreender ainda a relação
dos visitantes com os bens imóveis da cidade considerados “pontos turísticos” e as formas de
apropriação dos mesmos.
xxi
Indicador de Oferta Cultural para a cidade do Rio de Janeiro Daniele Cristina Dantas
Neste artigo, a abordagem sobre o modo como são as exposições dos museus-espetáculo,
tomando como objeto de análise o Memorial Vale e o MMM, problematiza a seleção de temáticas e a
sua diversidade, bem como a possibilidade das exposições de dar voz a sujeitos e grupos ligados aos
temas expostos e de fomentar a reflexão crítica. Trata também, considerando o caso específico
75
desses dois museus, de conflitos entre as equipes de expografia e de curadoria no processo de
criação das exposições.
xxiii
Jovens universitários e a música clássica: um estudo de caso sobre o gosto musical e as
práticas culturais no Canadá
xxiv
Cultura, mercado e turismo: blocos, maracatus e a política de editais em Fortaleza Danielle
Maia Cruz
Introdução Este artigo propõe uma reflexão sobre os recentes processos de mudança nas festas
carnavalescas de Fortaleza. Com base em uma pesquisa de caráter etnográfico, o objetivo é analisar
como as recentes políticas culturais municipais de fomento aos festejos carnavalescos,
implementadas na gestão da prefeita Luizianne Lins, sobretudo em seu segundo mandato, entre
2009 e 2012, operaram na lógica composicional de manifestações carnavalescas tradicionais na
cidade, como os blocos de pré-Carnaval e os maracatus.
xxv
Por entre a espacialidade e os espectadores: um percurso pela recepção da arte
contemporânea em Inhotim Juliana Veloso Sá
O espaço de Inhotim é um elemento central na identificação que o próprio Instituto faz de si.
Inhotim é centro de arte e jardim botânico, mas também se ocupa de questões ligadas à cidadania e
inclusão social, ao desenvolvimento sustentável e à educação. Em uma tentativa de abarcar essa
76
diversidade de forma sintética, a instituição recorre à ideia de “lugar único” para traduzir o que é o
Inhotim.
xxvi
Classes sociais, práticas e cultura Edilson Berconcelo
Estudos de classe recentes na sociologia brasileira podem ser distribuídos (a despeito de seus
distintos fundamentos teóricos e orientações metodológicas) ao longo de uma dimensão que opõe, de
um lado, aqueles que enfocam a construção de esquemas de posições de classe baseados em critérios
objetivos, teoricamente fundamentados (e definidos a priori), e a investigação dos efeitos das
relações entre tais posições sobre aspectos diversos da vida social e individual, e, por outro
lado, aqueles estudos que concebem as classes como coletividades sociais constituídas nos
planos material e cultural e que dão ênfase à investigação de como fronteiras sociais e simbólicas
emergem das práticas (e disputas classificatórias) dos agentes. Os primeiros estudos estão
associados a abordagens neomarxistas e neoweberianas. Os outros são mais fortemente influenciados
por uma abordagem bourdieusiana. Um dos principais objetivos neste trabalho é sustentar a
segunda abordagem, perseguindo uma linha de pesquisa empírica que sublinha uma concepção
de classes como coletividades sociais e o papel da cultura na conformação e reprodução das
relações de classe. Antes disso, gostaria de delinear muito brevemente os principais contornos
da produção sociológica brasileira no tocante à análise de classe de forma a elucidar as principais
disputas teóricas.
xxvii Hierarquias simbólicas e legitimação de estilos de vida na sociedade juiz-Forana Joana Brito
de Lima Silva
Como as hierarquias simbólicas são forjadas e quem as legitima? Em que medida os estilos de vida
retratados nas colunas sociais exercem a função de prescrever condutas e valores seguidos
socialmente? Qual o papel do colunista social nesse processo de legitimação dos padrões de
comportamento? Através dessas questões, a proposta dessa pesquisa de caráter exploratório é
compreender a formação das hierarquias simbólicas presentes na sociedade juiz-forana. De certo
modo, as colunas sociais divulgam padrões de conduta considerados legítimos e reconhecidos
socialmente, pois a maior parte das notícias mostra um estilo de vida almejado e admirado por
muitos e vivenciado por alguns poucos. Tais conteúdos ocupam um lugar de destaque nos cadernos
de cultura dos jornais por oferecerem informações sobre pessoas e acontecimentos acessíveis
somente a uma parcela da sociedade. Porém, esse mundo aparentemente inacessível pode ser
facilmente acessado através dessas publicações. Trata-se de uma seção voltada a acontecimentos muito
peculiares porque relatam publicamente fatos e assuntos da vida particular de pessoas
selecionadas criteriosamente pelo colunista.
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xxviii
O Discurso Terapêutico na Radio e na TV: Notas sobre as práticas culturais e o gosto de seus
participantes Maíra Muhringer Volpe
A cadeia de produção das emissões televisivas é composta tanto por profissionais contratados
formalmente (vindos de grupos sociais remediados) quanto por informais. Entre estes últimos,
estavam, sobretudo, mulheres de meia idade, já fora do mercado de trabalho, com baixa escolaridade
e residentes em bairros periféricos da cidade de São Paulo e região metropolitana. Algumas atuavam
junto à equipe de produção, auxiliando na busca de possíveis convidados do palco; outras trabalhavam
na produção da plateia, integrando-a ou sendo responsável por arregimentar esse grupo. Para essas
três funções, respectivamente, “contato”, “integrante da plateia” e “caravanista”, recebiam uma
remuneração das emissoras ou em bens materiais (entre eles, dinheiro) ou simbólicos. Dessa complexa
cadeia produtiva, portanto, são ressaltadas aqui considerações a respeito de algumas dessas
integrantes, bem como participantes da plateia da rádio. Os grupos estudados – da TV e da rádio –
abarcavam pessoas heterogêneas, porém, quando contrastados, era clara a diferença de volume e
estrutura do capital de ambos, isto é, possuíam condições econômicas e sociais muito distintas,
bem como gostos e estilos de vida diferentes.
xxix
Brasil: da identidade à marca Maria Celeste Mira
Resumo: Ao longo da nossa história, a ideia de Brasil tem sido objeto de diversas elaborações,
em geral, combinando aspectos estéticos e políticos. No entanto, a partir da virada do milênio, este
processo se acelerou, ampliou sua abrangência e assumiu novos contornos. Se, antes, a
apropriação e reelaboração da ideia de Brasil podia ser acompanhada por períodos, de uma ou
duas décadas, agora, elas se multiplicaram. As iniciativas estão por toda a parte, alcançando os
diversos setores da produção cultural e artística, a mídia e, sobretudo, o mercado. Esta é a principal
diferença entre os movimentos do século XX e as atuais elaborações do conceito de Brasil: o
deslocamento do interesse político para o mercadológico, bem como da ênfase da identidade nacional
para a diversidade cultural. Desta maneira, BRASIL torna-se uma marca associada, sobretudo no
mercado mundial, à riqueza de um país que sabe conviver com sua diversidade cultural. O objetivo do
texto é apresentar os resultados da pesquisa realizada sobre o tema ao longo dos anos 2000.
xxx
Padrões de consumo e estilos de vida da “nova classe média” Celia Lessa Kerstenetzky,
Christiane Uchôa, Nelson do Valle Silva
Resumo: Contra o pano de fundo da redução da pobreza no mundo e no Brasil, em particular, este
artigo se dedica a investigar, via marcadores de estilo de vida baseados em pesquisa sobre
percepção sobre a classe média e com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF/IBGE)
de 2008-2009, o perfil socioeconômico dos domicílios brasileiros que emergiram da pobreza e têm
sido identificados pelo critério de renda como integrantes de uma nova classe média. As evidências
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indicam que o perfil da assim chamada “nova classe média” não exibe a maior parte dos
critérios reconhecidamente distintivos de uma classe média.
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