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Para citar trechos de texto lidos no próprio texto ou em resposta de avaliações é preciso
sinalizar isto por meio de aspas. Tal cuidado irá diferenciar as respectivas autorias;
Para anular palavra ou frase em texto manuscrito, utiliza-se um único traço que as perpassa.
O uso de corretivo ou fita branca para apagar palavras é considerado rasura;
Não se escreve fora da pauta (linhas) de uma folha. Em avaliações oficiais, frases que
ultrapassem o número de linhas oferecido ou estejam escritas nas margens são
desconsideradas;
Não faz parte da norma culta da língua portuguesa o gerundismo (Exemplo de inadequação:
“Vou estar lendo a obra”, ao invés de “Lerei a obra”);
Em relação às questões de avaliações que exigem “sim” ou “não” como resposta, deve-se
utilizar após tais termos o ponto final e na mesma linha iniciar a justificativa. (Exemplo de
uso adequado: “Sim. A tirinha apresenta um teor humorístico pelo uso da ironia”.);
Não se começa frases ou textos na modalidade escrita da língua portuguesa com o pronome
“QUE”. (Exemplo de inadequação: “Que a tirinha apresenta um teor humorístico pelo uso
da ironia”, ao invés de “A tirinha apresenta um teor humorístico pelo uso da ironia”);
As formas verbais “seje” e “esteje” não existem e não devem ser usadas em contextos
formais. O adequado é “seja” e “esteja”;
Não se separa o sujeito de seu verbo por meio de vírgula (Exemplo da inadequação: “A
tirinha, apresenta um teor humorístico pelo uso da ironia”);
Toda vez que não fizer uso da ordem direta em frases em língua portuguesa atente-se para a
necessidade de vírgula para sinalizar a antecipação de um termo (Exemplo: “Na FATEC, as
aulas costumam ter início no mês de fevereiro”);
Se for fazer uso da ordem indireta, saiba que deverá aplicar a vírgula que sinaliza a
antecipação de termos que viriam ao final da frase (Exemplo de ordem indireta:
“Atualmente, as aulas de língua portuguesa acontecem na sala C7”);
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MÓDULO I – PORTUGUÊS
Profa. Dra. Suillan Miguez Gonzalez
Toda palavra proparoxítona (a antepenúltima sílaba deve ser tônica) possui acento (Exemplo
de palavras proparoxítonas: lâmpada, médico, matemática, entre outros);
Só se aplica o pronome relativo “onde” (com a função de ligar ideias) quando este fizer
referência a um termo que indique lugar concreto;
Há acento diferencial no verbo “têm” quando estiver flexionado no plural, no singular a sua
forma é “tem”.
ATENÇÃO:
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Linguagem é todo sistema organizado de sinais que serve como meio de comunicação
entre indivíduos. A linguagem é elemento cultural e fator essencial para a construção
dos valores e organização social.
4) Quais são as imagens construídas por meio da linguagem verbal no texto de Cândido Portinari?
Transcreva os trechos que exemplifiquem isso.
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A poesia de Augusto de Campos, filiada à estética concretista, concilia linguagem verbal e não
verbal:
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1) A leitura das palavras e depois da imagem construída por meio delas resulta em uma
metáfora, que
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Profa. Dra. Suillan Miguez Gonzalez
Dialetos são variedades originadas das diferenças de região, de idade, de sexo, de classes ou de
grupos sociais e da própria evolução histórica da língua (ex.: gíria).
Variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de acordo com as condições
sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
Fatores regionais: é possível notar a diferença do português falado por um habitante da região
nordeste e outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há variações no
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Outra possibilidade conceitual para linguagem.
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Profa. Dra. Suillan Miguez Gonzalez
uso da língua. Existem diferenças/marcas entre a língua utilizada por um cidadão que vive na
capital e aquela utilizada por um cidadão do interior do estado.
Fatores culturais: o grau de escolarização e a formação cultural de um indivíduo também são
fatores que colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada utiliza a língua de
uma maneira diferente da pessoa que não teve acesso à escola.
Fatores contextuais: nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que nos encontramos:
quando conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se estivéssemos
apresentando um trabalho científico.
Fatores profissionais: o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de
língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas formas têm uso
praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, químicos, profissionais da área de
direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas, entre outros especialistas.
Fatores naturais: o uso da língua pelos falantes sofre influência de fatores naturais, como idade e
sexo.
Realize a leitura do diálogo entre o grande intelectual brasileiro Ruy Barbosa e um ladrão de
galinhas, e, depois, responda às questões:
Um conhecido conto popular retrata um ladrão surpreendido pelas palavras de Ruy Barbosa ao
tentar roubar galinhas em seu quintal:
1) Ruy Barbosa expressa sua indignação não tanto pelo frango que quase foi roubado, mas por
qual motivo?
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3) Reescreva toda a fala de Ruy Barbosa, adaptando a linguagem culta para a linguagem
popular.
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Leia, atentamente, a crônica do escritor João Ubaldo Ribeiro que compartilha com seu público-
leitor memórias preciosas sobre o vestibular de antigamente:
O Verbo For2
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo
de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido
antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o
vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de
controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até
desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao
dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro
matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do
curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que
não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com
citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até
hoje sei o comecinho.
Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram
inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio,
insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente
espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito
Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário),
o mestre não perdoava.
— Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra — dizia ele ao entanguido vestibulando.
— "Catilina, quanta paciência tens?" — retrucava o infeliz.
Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem
pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.
— Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que
pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!
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A crônica foi publicada no jornal "O Globo" (e em outros jornais) na edição de 13 de setembro de 1998 (domingo) e
integra o livro O Conselheiro Come, Edição Nova Fronteira, 2000, p. 20.
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Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as
unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral.
Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno
em seu elenco.
O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo
"dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O
professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
— Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
— As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
— Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?
— Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma
anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem
te adora." Se pusermos na ordem direta...
— Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da
Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu
tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com
aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal
de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima.
Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se
perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante.
Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício,
peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir".
Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que
Deus quiser.
— Esse "for" aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo,
depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
— Verbo for.
— Verbo o quê?
— Verbo for.
— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
— Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num
posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como
marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que
correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza,
não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
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A coincidência de formas entre o verbo “ser” e o verbo “ir” pode ser percebida na tabela
abaixo:
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2) No texto, o verbo “For” foi interpretado como uma forma verbal existente de nossa língua.
Que característica deste verbo fez o vestibulando entendê-lo como infinitivo?
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Monjolos e moinhos
A julgar pelo corpo que temos, somos uma espécie que deveria ter desaparecido da face da
Terra milhares de anos atrás. Tudo é desajeitado... Começando pela pele, delicadinha, que não
agüenta nem sol nem frio, não pode ser comparada nem com os invejáveis casacos dos ursos ou
com as sólidas carapaças ambulantes das tartarugas e tatus. Olhe para suas unhas. Para que servem,
além de ajuntar sujeira, crescer e quebrar? Claro que para coçar alguma mordida de carrapato, coisa
que tem inegável valor erótico, mas pouco contribui para a sobrevivência. Veja, por contraste, um
tatu cavando o seu buraco. Suas unhas são verdadeiras cavadeiras. Ou os gatos e parentes felinos,
com unhas-navalha que rasgam o couro mais duro. As pernas valem também muito pouco. Os
prodígios de um João-do-Pulo não podem ser comparados ao cotidiano das pulgas, dos gafanhotos e
dos cangurus. E se a questão é correr, qualquer formiga corre mais a pé do que um carro Fórmula
Um, guardadas as devidas proporções. Isto tudo, além de sermos aleijados, visto não dispormos de
coisas utilíssimas como cascos, o que nos aliviaria de despesas com sapatos, além de nos faltarem
rabos e chifres...
Se sobrevivemos foi porque descobrimos maneiras de melhorar o corpo. Fomos, aos poucos,
construindo próteses para compensar as faltas, como fazemos dentaduras para substituir os dentes.
Sapatos, roupas, chapéus, facas, enxadas, óculos, casas, bicicletas e todas as coisas a que damos o
nome de técnica não passam de melhorias e transformações de um corpo desajeitado e fraco, que
morreria se entregue às suas modestas possibilidades físicas. Foi a fraqueza do corpo que acordou a
inteligência. O pé que dói por causa de um espinho está pedindo um sapato, o que não aconteceria
se dispusesse de um casco. E se corrêssemos como as formigas, é certo que Mr. Henry Ford não
teria inventado o automóvel, a não ser que as trombadas entre pedestres se tornassem perigosas por
causa da velocidade das pernas, forçando a descoberta de uma geringonça mecânica que nos
permitisse andar mais devagar. Nossa força cresceu no lugar da nossa fraqueza. A incompetência
biológica convidou a inteligência. E é só por isto que estamos vivos ainda - por causa deste acidente
da natureza. Inteligência: palavra que se presta a confusões. Alguns pensam que é uma coisa que
uns têm mais e outros menos. Coisa parecida com gordura e altura. As pessoas seriam gordas ou
magras, altas ou baixas, com muita inteligência ou pouca... Os psicólogos até inventaram coisa
semelhante a uma balança ou fita métrica para medi-la: o QI. Ocorre que não é bem assim. Há tipos
de inteligência que não podem ser misturados. Até inventei uma historiazinha para ilustrar a
questão.
Era uma vez um povo que morava numa montanha, onde havia muitas quedas d'água. Moer
o grão nos pilões era uma dureza. Um dia, o moço coberto de suor de tanto trabalhar, olhou para a
queda d'água onde se banhava diariamente. E uma idéia o iluminou como um raio: acabava de
inventar o monjolo. Foi aquela revolução. Tudo mudou. E logo surgiu um grupo novo de
profissionais, mecânicos e especialistas em consertar monjolos. Isto eles faziam melhor que o
inventor... Acontece que uma tribo guerreira invadiu a montanha e aquele povo teve de fugir para as
planícies a beira-mar. Com muito esforço levaram seus monjolos, indo descobrir que não tinham
nenhuma utilidade lá embaixo, já que não havia quedas d'água. Os mecânicos e especialistas
perderam o trabalho. E não teve outra saída: voltaram os pilões. O tempo passou. Até que um
homem cansado de fazer força viu o vento sacudir as árvores. E, de novo, o milagre aconteceu.
Uma iluminação momentânea: nasceu assim o moinho de vento. Nova revolução. Nova classe de
mecânicos, especialistas no conserto de moinhos de vento...
Há um tipo de inteligência criadora. Ela inventa o novo e introduz no mundo algo que não
existia. Quem inventa não pode ter medo de errar, pois vai se meter em terras desconhecidas, ainda
não mapeadas. Há um rompimento com velhas rotinas, o abandono de maneiras de fazer e pensar
que a tradição cristaliza. Pense, por exemplo, no milagre do iglu. Como teria acontecido?
Compreender que aquele espaço é protegido, que é possível usar o gelo para preservar o calor...
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Perceber as vantagens estruturais daquela forma de hemisfério. Fazer uso dos materiais disponíveis.
Tudo imensamente simples, inteligente, adaptado, eficaz. Nenhuma importação é necessária... A
gente encontra o mesmo tipo de inteligência no artista que faz uma obra de arte, no cientista que
visualiza na imaginação uma nova teoria científica, no político-sonhador que pensa mundos
utópicos, considerados impossíveis pelo mecânico. O criador está convencido de que existe algo de
fundamentalmente errado no que existe e que é necessário começar tudo de novo. Já o mecânico
pensa diferente. Tudo está bem. Foi apenas um pequeno defeito. Trocar uma peça, fazer um
ajustamento... Trilha velhos caminhos e as necessidades práticas cortaram-lhe as asas da
imaginação. Fazer como sempre fez, de acordo com o manual de instruções. Há receitas para tudo.
Há respostas certas para tudo. Claro que estes dois tipos de inteligência se aplicam a situações
diferentes. Se o meu monjolo quebrou e a queda d'água está lá, quero mais é que um bom mecânico
o conserte. Mas se o monjolo está em perfeito estado e a queda d'água secou, o mecânico não vai
servir para nada.
Acontece que a inteligência se parece com sementes. Não basta que a semente seja boa. Ela
precisa de terra para germinar, brotar e crescer. A questão que se coloca é se o nosso sistema
educacional, regido pela lógica dos vestibulares, tem lugar para a inteligência criativa... Negativo.
Tudo é preparado como se houvesse somente mecânicos neste mundo. Não há lugar para o
desenvolvimento da capacidade de perguntar - o fator mais importante no desenvolvimento da
inteligência e da ciência. O aluno aprende que existe sempre uma resposta certa entre as alternativas
apresentadas, e que precisa apenas dar a solução para determinada questão preparada por outro.
Se o dano se restringisse à ciência, até que seria suportável. Mas quando a imaginação é castrada, só
resta à inteligência trilhar o caminho dos mecânicos. Assim, quando a crise política pede que
apareçam visionários utópicos, com idéias novas e criativas, só aparecem os mecânicos tentando
consertar o que não tem conserto. Não é esta a essência da crise que nos envolve? Eles tentam fazer
funcionar monjolos numa planície onde não existem quedas d'água...
Rubem Alves
Educador e psicanalista
Texto extraído do livro de
Estórias de quem gosta de ensinar, Editora Papirus.
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