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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.1. O Tempo e as Decisões Económicas
Decisões económicas: maximização do bem-estar tendo em conta a
escassez de recursos optimização limitada pelas restrições orçamentais.
Muitas decisões económicas implicam escolhas intertemporais: paralelo
entre escolhas intra-temporais (afetar recursos a 2 alternativas presentes,
e.g. consumir hoje o bem A ou B) e escolhas intertemporais (afetar recursos a
2 alternativas, uma presente, outra futura, e.g. consumir todos os recursos
hoje ou, poupando, guardar parte para consumir amanhã).
Restrições orçamentais intertemporais: agentes podem transferir recursos
para o futuro (poupança) ou antecipar a utilização de recursos a criar no
futuro (endividamento). A utilização racional dos recursos implica que,
durante o horizonte de vida finito, o endividamento terá sempre de vir a ser
reembolsado e a poupança irá sempre ser dispendida.
ROI: inter-ligam recursos disponíveis no presente e futuro. 2
3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.1. O Tempo e as Decisões Económicas
Restrições intertemporais dependem de:
Dotações de recursos no presente e no futuro.
No caso do futuro, expectativas: ainda que se conheça os recursos disponíveis
hoje, os disponíveis amanhã são desconhecidos e incertos.
Taxa de juro real (r).
Define o preço intertemporal, 1/(1+r), que avalia uma unidade de Y (C ou S)
no futuro em termos de unidades de Y (C, S) presentes.
Valor implica preço: Recursos (produtos, rendimentos) disponíveis em data
futura têm um valor diferente no presente; o tempo tem valor, daí a noção de
preço intertemporal. A conversão de recursos intertemporalmente implica
descontar valores futuros pelo preço da espera pela sua utilização
(no simétrico, pelo valor da antecipação dos recursos).
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.1. O Tempo e as Decisões Económicas
Pressupostos principais da análise neste capítulo:
1. Tempo tem apenas 2 períodos – 1: hoje (presente); 2: amanhã (futuro).
2. Agente económico representativo é analisado como se vivesse isolado
numa ilha e viesse a ser resgatado depois do período 2 – parábola de
Robinson Crusoe. Agente conhece as dotações de recursos em 1 e 2 –
exógenas – e conhece o preço intertemporal (taxa de desconto do futuro),
pelo que consegue determinar a sua ROI.
3. Expectativas sobre o futuro são racionais e, mais especificamente,
seguem uma hipótese extrema da Hipótese das Expectativas Racionais (HER)
– Perfect Foresight.
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.1. O Tempo e as Decisões Económicas
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.1. O Tempo e as Decisões Económicas
Há hipóteses alternativas sobre a formação de expectativas
Expectativas adaptativas: expectativa é igual à formulada para o período
anterior mais uma proporção do erro de previsão então observado
A troca intertemporal pode ser realizada a uma taxa de juro real (r)
• Para os credores, que poupam e adiam consumo para o futuro, reflecte a
remuneração obtida pelo adiamento do consumo;
• Para os devedores, que pedem empréstimos para consumir hoje por conta de
rendimentos previstos, representa o custo suportado pela antecipação de
consumo;
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.2. Famílias
Y1 = C1 + S1 C1 = Y1 - S1
Se S1 > 0 (S1 < 0 ) o agente pode emprestar essa poupança a outrem (ser
financiado por outrem), pelo que o seu consumo futuro poderá ser maior
(menor) do que o seu rendimento futuro, dado que a poupança será
remunerada à taxa de juro real (r).
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3.2. Famílias
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3.2. Famílias
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3.2. Famílias
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.2. Famílias
Pontos extremos da ROI:
Em D C1=0 C2=Y1(1+ r)+Y2
Em B C2=0 C1= Y1+Y2/(1+ r)
Declive = - [0D]/[0B]
= - [Y1(1+ r)+Y2] / [Y1+Y2/(1+ r)]
= - (1 + r)
Se ∆+ r => ROI mais inclinada: uma
dada S1>0 (S1<0) proporciona um
maior C2 (menor C2).
Rotação da ROI em torno de A (no
ponto de autarcia r é irrelevante)
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.2. Famílias
C2 Y
C1 + = Y1 + 2
1+ r 1+ r
Consumo futuro
D’ C2 Y2
C2
C1 + = Y1 + + Ω1
D
1+ r 1+ r
D’’
Ω1< 0 Ω1> 0
B’’ B B’
Consumo presente C1
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.3. Empresas
Até agora analisou-se a ROI do Consumo admitindo-se troca
intertemporal mas assumindo dotações de recursos consumíveis
exógenas
Se parte dos recursos consumíveis forem poupados e afectos à criação
de capital produtivo, as dotações futuras podem aumentar.
Investimento
Decisão intertemporal: depende do custo de oportunidade do capital (custo do
financiamento, a suportar no presente) comparado com a rentabilidade do
stock de capital adicional esperada no futuro.
Formas de financiamento disponíveis:
Capitais alheios - Mercado de capitais (obrigações, crédito bancário)
Capitais próprios – Emissão de acções, lucros retidos pelas empresas;
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.3. Empresas
Se produtivo, o Investimento aumenta as possibilidades de Consumo,
i.e. altera a ROI do setor privado como um todo famílias são as
proprietárias das empresas beneficiárias da utilização produtiva das
suas poupanças, pelo aumento do valor das empresas que detêm.
Empresas calculam, em cada período, o montante de Investimento (i.e.
de ∆K) que assegura o seu objetivo – maximização do lucro –, tomando em
conta os rendimentos futuros esperados do novo capital F(K) e o custo de
oportunidade do capital (user cost of capital)
[Teoria neoclássica do investimento]
Restrição técnica de base para a produtividade do Investimento:
Função de Produção
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3.3. Empresas
Função produção
F(K): relação entre a quantidade de
capital utilizada no período 1 (I1=K) PMgK
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3.3. Empresas
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.3. Empresas
Tecnologia produtiva
R (lucro até A; além de A
perdas)
Produto
Y =F(K )
A
Ganho de formar K é Y=F(K)
no próximo período
0 Stock de Capital
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3.3. Empresas
R Tecnologia não
produtiva
(nenhum nível de
Investimento
Produto
permite lucro
económico)
Y =F(K )
0 Stock de
Capital
3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.3. Empresas
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado consolidado
Admita-se agora que se poupa uma parte da dotação inicial
D
Consumo futuro
Y2 A
0 Y1 B Consumo presente
3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado consolidado
E Admita-se, em concreto, que se
D poupa K, de Y1
Consumo futuro
Y =F(K )
É como se a dotação inicial fosse E em
vez de A desde que o projecto de
investimento tenha um valor presente
(V) positivo, o I aumenta a riqueza
Y2 A
K
0 C1 Y1 B Consumo presente
3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado consolidado
D´
E O Investimento aumenta a riqueza
D
Consumo futuro
0 C1 Y1 B B´ Consumo presente
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setor Privado consolidado
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado consolidado
A NOVA ROI do setor privado consolidado tem agora 2 partes:
Y
1. Valor presente da dotação original: Y 1 + 2
1 + r
2. Valor presente da riqueza criada pelo valor líquido do investimento: V
que é dado por:
V = F (K )
− I 1
1 + r
A função produção é a origem da nova riqueza. É relevante se se financia
I e K com capitais próprios (equity) ou capitais alheios (bonds)?
Neste modelo de família-empresa é indiferente. Ω depende de: dotação Y1+Y2 ;
montante de I; F(K); r. Não da origem dos recursos (S1 >0 vs S1 <0).
Nota: teoria (e alguma evidência) nesse sentido: Teorema de Modigliani-
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.4. Estado
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.4. Estado
Presente (1):
• Estado cobra impostos T1, compra bens/serviços G1 e paga juros pela dívida
acumulada até ao início do período S g 1 = T1 − G1 − rg D0
Défice pode ser decomposto em Défice primário G1 − T1 e juros da dívida rg D0
Futuro (2):
• Estado cumpre integralmente a sua ROI: o saldo primário tem de compensar o
saldo orçamental primário do presente mais os eventuais juros sobre a dívida
que esse saldo possa ter originado (se deficitário) mais o serviço integral
(reembolso e juros) da dívida eventualmente existente no início do presente
(dívida inicial avaliada em unidades de consumo do período 1 (D1 = (1+rg)D0):
T2 − G 2 = (1 + rg )(G1 − T1 ) + (1 + rg ) D1
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.4. Estado
T2 − G 2 T2 G2
⇔ D1 = (T1 − G1 ) + ⇔ D1 = T1 + − G1 +
(1 + rg ) (1 + rg
) (1 + rg
)
n o v a d iv id a
declive = −(1+rG )
Deficit primário do
0 Estado presente
declive = −(1+rG )
− (1+ rG ) ( D1 + (G1 − T1 ) ) = G2 − T2
3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado e Público consolidados
[Admitindo que não há possibilidade de I numa tecnologia produtiva
(I=K=F(K)=0) nem existe dívida pública inicial (D0=D1=0) nem
heranças/dívidas privadas iniciais (Ω0=Ω1=0)]
C2 Y − T2
ROI do setor privado: C1 + = Y1 − T1 + 2
(1 + r ) (1 + r )
G2 T2
ROI do setor público: G1 + = T1 +
(1 + rg ) (1 + rg )
O que é igual a…
1 + rg G 2 1 + rg T2
G1 + = T1 +
1 + r (1 + r g
) 1 + r (1 + r g
)
Manipulando a ROI
do setor público,
G2 rg − r T2 rg − r
obtém-se: G1 + + G 1 = T1 + + T1
(1 + r ) 1 + r (1 + r ) 1 + r
(cont…) 33
3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado e Público consolidados
T2 G2 rg − r
[G 1 − T1 ]
O que é equivalente a: T1 + = G1 + +
(1 + r ) (1 + r ) 1 + r
O que, substituído na ROI do setor privado, resulta na seguinte expressão para a
ROI consolidada do setor privado e Público:
C2 Y2 − G 2 r − rg
C1 + = (Y1 − G1 ) + + ( G1 − T1 )
1424 1 + r
3 144 42444 1 + r
3 1442443 1 + r
valor presente valor presente dos recursos
do Consumo privados liquidos da despesa valor presente da vantagem
pelo Sector Publico de financiamento
do Sector Publico
1. O setor privado apenas pode consumir o produto que o S. Público não utiliza
2. Num efeito imediato, mais G reduz a riqueza privada;
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado e Público consolidados
(cont…) C2 Y2 − G 2 r − rg
C1 + = (Y1 − G1 ) + + ( G1 − T1 )
ROI consolidada
1424 1 + r
3 144 42444 1 + r
3 1442443 1 + r
do setor privado valor presente
do Consumo
valor presente dos recursos
privados liquidos da despesa valor presente da vantagem
pelo Sector Publico de financiamento
e Público: do Sector Publico
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setor Privado e Público consolidados
0 (Y1-G) Y1 B´ B
Consumo presente
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setor Privado e Público consolidados
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado e Público consolidados
10 year
Country Corporate bonds
Government bonds
Australia 6.36 8.80
Britain 4.71 7.45
Canada 3.81 N/A
Denmark 4.39 5.61
Japan 1.64 1.84
Sweden 4.06 4.71
Switzerland 3.07 3.10
United States 3.86 5.97
Euro area 4.18 5.32
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setor Privado e Público consolidados
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setor Privado e Público consolidados
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setor Privado e Público consolidados
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setor Privado e Público consolidados
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setor Privado e Público consolidados
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Restrição total ao crédito
D
Se as famílias têm o crédito
Consumo futuro
declive = −(1+r )
0 (Y1-G1) B
Consumo presente
Estado pode ultrapassar as restrições ao crédito:
D
(Y2-T2) A´
declive = −(1+r )
0 (Y1-G1) (Y1-T1) B
Consumo presente
Restrições de crédito sob a forma duma taxa de juro
superior cobrada ao setor Privado
D
Se as restrições ao crédito assumem a
forma duma taxa de juro superior nos
Consumo futuro
declive = −(1+r´ )
declive = −(1+r )
0 (Y1-G1) B´ B
Consumo presente
Estado pode aliviar restrições de crédito do setor
Privado:
D
Consumo futuro
(Y2-T2) A´
declive = −(1+r´ )
declive = −(1+r )
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Evidência sobre
o P.E.R.
Average Gross
setoral Saving
1997-2005
(% of GDP)
1. Correlação entre
défices públicos
e SBN
Média de países
seleccionados durante
1997-2005 não
aparenta correlação,
o que é consistente
com PER
3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado e Público consolidados
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setor Privado e Público consolidados
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
setor Privado e Público consolidados
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.5. Balança Corrente e ROI da Nação
A consolidação das ROI dos setores Público e Privado pode ser vista como
a ROI da Nação
Admitindo que (i) a taxa de juro do setor privado é igual à do setor público, (ii)
existe produção com tecnologia produtiva e, para já, (iii) a economia está
fechada ao exterior, essa ROI consolidada é:
C2 G2 Y2 F (K )
C1 + G1 + I1 + + = Y1 + +
1 + r 1 + r 1 + r 1 + r
Olhe-se agora para a ROI da Nação em duas perspetivas alternativas
1. Perspetiva da Balança de Pagamentos
2. Perspetiva dos Recursos / Empregos pela Nação
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.5. Balança Corrente e ROI da Nação
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.5. Balança Corrente e ROI da Nação
{ = PCA
CA {+ rF
{
balança balança rendimentos
corrente corrente líquidos de
primária investimento
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.5. Balança Corrente e ROI da Nação
Os saldos da CA primária (PCA) deverão ser tais que permitam compensar o valor
do stock F (com Sext = CA) e os respetivos juros, para além de saldarem os
sucessivos saldos da PCA.
PCA2
No modelo com 2 períodos: PCA1 + = − F1
144244 1 +3 {
r valor presente
valor presente da dívida externa
da balança corrente líquida inicial
primária
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.5. Balança Corrente e ROI da Nação
Y2 + F (K ) − C − G
(Y 1 − C1 − G1 − I1 ) + 2 2
= − F1
1 + r
A ROI da Nação pode então ser escrita em termos da Balança Corrente primária:
Y2 + F (K ) − C − G P C A2
(Y 1 − C 1 − G 1 − I1 )+
2 2
= P C A +
1 + r 1 + r
1
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3. As Restrições Orçamentais intertemporais
3.5. Balança Corrente e ROI da Nação