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BASES

DA
EDUCAÇÃO
CRISTÃ

HAYWARD
aba m o n o
BASES
DA
ÉDUCAÇÃO
i CRISTÃ 1
Todos os direitos reservados. Copyright © 1992 da Junta de Educação
Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira. Direitos cedidos,
mediante contrato, pela Casa Bautista de Publicaciones, El Paso, Texas, USA.
Copyright © 1988 by Casa Bautista de Publicaciones.

Armstrong, Hayward
A735b Bases da educação cristã/Hayward Armstrong. Tradução
de Merval de Souza Rosa. 2.ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994.
176p. 21 cm.
Inclui bibliografia.
Titulo original: Bases de la Educación Cristiana
1. Educação Cristã. I. Titulo
CDD — 268

G tm fíA / 06- 0 OÒ
Coordenação Editorial
Josemar de Souza Pinto
Edição de Arte
Nilcéa Pinheiro
Capas
Queila Mallet
Código para pedidos: 222014
Junta de Educação Religiosa e Publicações da
Convenção Batista Brasileira
Caixa Postal 320 — CEP: 20001-970
Rua Silva Vale, 781 — Cavalcanti — CEP: 21370-360
Rio de Janeiro. RJ — Brasil
3.000/1994
Im p re sso em gráficas p ró p ria s .
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 7

Primeira Parte
BASES BÍBLICAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
1. A educação entre os hebreus .......................................................... 11
2. A educação judaica.......................................................................... 19
3. Jesus como m estre........................................................................... 25
Segunda Parte
BASES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
4. A educação na Igreja Prim itiva................................................... 33
5. Movimentos e instituições antes da R eform a............................ 41
6. Pessoas importantes antes da R eform a........................................ 51
7. Movimentos e pessoas importantes durante o período da
Renascença e da Reform a.............................................................. 57
8. A educação cristã na A m érica..................................................... 69
Terceira Parte
BASES SOCIOCULTURAIS E PSICOLÓGICAS
DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
9. A educação cristã em seu contexto sociocultural.................... 83
10. Influências psicológicas da educação religiosa.......................... 91
Quarta Parte
BASES TEOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
11. O padrão bíblico em nossos d ia s......................................................107
12. Uma filosofia adequada para a igreja.............................................119
5
Quinta Parte
HASES ORGANIZACIONAIS DE UM
PROGRAMA EDUCACIONAL PARA A IGREJA
13. Fatores de desenvolvimento de um programa educacional.....133
14. Materiais educativos ........................................................................ 147
15. Resumo e conclusões....................................................................... 169
Bibliografia selecionada.............................................................................175

6
INTRODUÇÃO

A obediência ao mandamento bíblico de ensinar é de importância


capital para a sobrevivência da igreja. O valor da educação dos crentes
nas igrejas evangélicas da América Latina é inestimável. Um pesquisador
identificou cinco fatores responsáveis pelo crescimento das igrejas evan
gélicas da América Latina, um dos quais é o seu torte programa de
educação cristã.
Muitos pastores e líderes já se conscientizaram da grande neces­
sidade de educar sua congregação. A alguns, entretanto, ainda falta uma
visão completa do que seja o cristianismo, pois deixam de lado a educação
e se preocupam apenas com o trabalho de evangelísmo. A verdade é que
tanto a educação como a evangelização são necessários para o cresci
mento do povo de Deus. É através da educação que atingimos tanto as
crianças como os adultos. É através do ensino que cumprimos a urgente
e importante tarefa de tornar discípulos os seguidores de Cristo. É nos
grupos intimos de instrução que nos conhecemos melhor, pois aqui temos
o ensejo de observar a vida dos semelhantes e compartilhar conheci­
mentos e conceitos. É através do programa educacional da igreja local
que, por assim dizer, adicionamos carne aos ossos do esqueleto que se
forma quando alguém entrega sua vida a Cristo. Tanto os que já são
líderes espirituais como os que estão se preparando para este ministério
devem ter visão clara das bênçãos que receberão por obedecer o manda­
mento de ensinar.
Quando alguém reconhece a importância do ministério educacional
na igreja local, reconhecerá também a amplitude deste ministério e o
importantíssimo papel que desempenha. A educação cristã é muito mais
do que uma hora ou uma hora e meia de aula dominical no templo. É,
isto sim, um sistema formal e informal, dentro de um ambiente cristão,
que ajuda o crente a desenvolver seus conhecimentos das verdades divinas
e a se consagrar ao Senhor. Por ser formal e informal, a educação cristã
se torna uma força integral na vida da igreja e na vida de seus membros.
A igreja ensina em sua escola dominical, mas ensina também através
de modelos humanos — os adultos servindo de modelo para as crianças,
os mais antigos na fé ajudando os mais novos — homens, mulheres e
7
crianças vivendo a Palavra e ensinando com suas próprias vidas* A igreja
ensina também através das relações interpessoais e através de número
ilimitado de métodos, maneiras e situações.
Existem bases e princípios fundamentais que devem servir de
alicerces ao nosso trabalho de educação da igreja. São estes fundamentos
que ocuparão nossa atenção neste livro. São fundamentos bíblicos, histó­
ricos, sócio-psicológicos, teológicos e organizacionais, que nos ajudarão
a compreender melhor qual o objetivo que se tem em mente quando
se fala de educação cristã e a que nos dedicamos quando levamos a sério
a função educativa da igreja.
O livro se divide em cinco partes principais e em cada uma deias
o assunto é discutido em dois ou mais capítulos. Os fundamentos bíblicos
derivam tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Ao tratar destas
bases, o autor tentou sintetizar os ensinos da Bíblia sobre educação, salien­
tando a herança hebraica e judaica á qual a igreja deve muitos dos seus
conceitos educacionais.
Ao estudar as bases históricas, temos por objetivo conhecer algo
de nossa herança e aprender algo das vitórias e derrotas dos movimentos
educacionais e das pessoas que mais contribuíram para o desenvolvi­
mento da educação cristã como ciência. Esta é a divisão mais longa do
livro e traça a história desde a igreja pós-apostólica até nossos dias.
As bases sócio-psicoiógicas não são tão fáceis de definir como os
fundamentos históricos. Tentamos explorar as possibilidades da influência
do contexto social sobre o processo ensino-aprendizagem na igreja local.
Por sua vez, examinamos também algumas das influências psicológicas
que possam estar presentes na educação.
A parte que trata das bases teológicas representa o desejo de contex-
tualizar e aplicar à igreja contemporânea aquilo que a Bíblia diz sobre
o ensino. Nesta subdivisão sugerem-se um modelo bíblico para a educação
religiosa e uma filosofia cristã do processo ensino-aprendizagem.
Na última parte, tudo o que foi exposto se reúne em dois capítulos
práticos: como desenvolver urn programa educacional para a igreja local
e com que material e literatura se conta para tal programa.
O autor não tem a pretensão de haver esgotado qualquer um dos
temas tratados. A educação cristã deve ser dinâmica, mudando sempre,
de acordo com as necessidades. Os assuntos educacionais também não
foram explorados em toda a sua amplitude São estudos relativamente
superficiais, por sua própria natureza introdutória. O propósito do livro
é oferecer ao leitorfa Juno alguns conceitos e conhecimentos básicos e
sugerir tarefas e leituras adicionais, segundo seu interesse e a indicação
de um professor.
X
Primeira Parte
BASES BÍBLICAS
PARA A EDUCAÇÃO CRISTÃ
Capítulo 1
A EDUCAÇÃO ENTRE OS HEBREUS

Introdução
Seria um erro imperdoável tentar estudar a educação cristã sem
antes considerar a educação religiosa que a precedeu, isto é, a educação
dos hebreus do Antigo Testamento e a educação judaica dos períodos
intertestamentário e neotestamentário. Neste capítulo consideraremos
especificamente a educação entre os hebreus.
Todas as grandes idéias associadas asm o Antigo Testamento —
revelação, profecia, sacrifício, ritos, a presença e o poder de Deus, etc
— de uma ou de outra forma estão relacionadas com o sistema educa
cional dos israelitas, o povo escolhido por Deus. Portanto, estas idéias
se relacionam também com nossos propósitos na educação cristã, para
nós que formamos o novo Israel. Neste capítulo consideraremos quatro
áreas específicas da educação entre os hebreus. Estas áreas têm valor
à medida que procuramos desenvolver uma compreensão biblica da
educação com o propósito de relacioná-la a nossos conceitos educado
nais na igreja local.
Eavey, educador cristão norte-americano, disse que “uma história
da educação verdadeiramente cristã indica, através dos tempos, o desen
volvimento da educação que começou com Deus, continuou a centra­
lizar-se em Deus e agora se propaga sob a direção de Deus”. Parece, pois,
que um estudo da educação cristã não deve começar com uma história
mais recente do que a do antigo Israel.
1 CENTROS DE EDUCAÇÃO EM ISRAEL
O lar
Desde a mais remota antigüidade, o lar ou a família tem sido a
instituição educacional por excelência na terra. Quando se lê o Antigo
Testamento ou outra literatura do período veterotestamentário e se começa
a entender os princípios da raça humana da perspectiva hebraica,
compreende-se que 0 plano fundamental de Deus sempre foi o de que
a educação de seu povo deveria começar no lar. Na cultura hebraica as
crianças ocupavam lugar de grande importância (SI 127, 128; Jó 5,25
etc). Pbrtanto, a educação dos filhos era elevada prioridade. Uma das
funções mais importantes dos pais hebreus era a educação adequada e
correta de seus filhos. Vários textos do Antigo Testamento indicam isto:
Ex 12,26,27; Dt 4.9,10; 6.4-7; 11.18,19 etc. A vida começou na familia
e, portanto, o ensino também começou ali.
Na literatura mais antiga não se encontram professores, isto é,
pessoas especificamente encarregadas da comunicação da fé (educação
religiosa) às crianças. Pelo contrário, as crianças eram membros-
participantes de uma comunidade responsável por sua vida, na qual a
tarefa maior cabia as pais. Em geral, as mães cuidavam do ensino das
filhas e os pajs se encarregavam dos filhos. Podemos formar um quadro
mental do ensino diário dos meninos hebreus imaginando as perguntas
que faziam e as explicações que os pais procuravam dar, num intercâmbio
de idéias que formavam parte integral e normal das tarefas cotidianas.
Podemos imaginar que muita aprendizagem ocorria toda noite
enquanto as famílias, especialmente os homens, sentavam-se ao redor
do jardim (as casas eram usadas apenas para dormir) recordando, compar­
tilhando, contando histórias e lendas do passado. É bem provável que
a educação hebraica tenha se concentrado na familia como resultado
de sua longa experiência como nação seminômade.
O templo
Como dissemos, geralmente a instrução se dava no lar. Em geral,
o menino seguia a profissão do pai, aprendendo com ele um oficio com
o qual pudesse aj udá-lo no sustento da família. Sem dúvida, havia ocasiões
em que existiam outras formas de educação. O exemplo mais conhecido
é a história de Samuel, cujos pais o entregaram ao sacerdote Eli para
criá lo e instrui-lo. A história de Samuel não deve ser considerada como
caso isolado. O lato de Samuel ser da tribo de Efraim e não de Levi (a tribo
sacerdotal) indica que existia a preocupação de dedicar alguns filhos a
Deus de forma especial e lhes permitir crescer sob a tutela de um sacerdote.
Além disso, há indícios de que as classes elevadas empregavam amas
ou guardiãs, que se responsabilizavam pela instrução das crianças a seu
cargo (veja-se, por exemplo, Rt 4.16; 2Sm 4.4; 2Rs 10.5; Is 49.23;
Nm 11.12, lCr 27.32).
A sinagoga
Se bem que a sinagoga tenha surgido durante o periodo veterotes-
tamentário (no quinto século antes de Cristo), ela é geralmente considerada
12
como parte da educação muito posterior, judaica. Assim, consideraremos
o ensino da sinagoga como parte da história do Antigo Testamento, mas
sua dimensão mais ampla será apresentada no segundo capítulo, que trata
da educação judaica.
As escolas de profetas
As escolas de profetas constituem um fenômeno extraordinário
quanto ao ensino, entre os hebreus. Há referência a essas escolas em narra
tivas dos ministérios de Elias, Eliseu e Samuel. Alguns estudiosos do
assunto acreditam que tais “escolas" eram instituições organizadas com
instrução programada, mas não há evidências suficientes que justifiquem
essa opinião.
Não há dúvida, no entanto, de que os profetas desempenharam
importante papel na educação do povo. Os profetas, os sacerdotes e os
reis exerciam responsabilidades singulares como figuras nacionais. Em
relação ao sistema religioso de sacrifícios, os sacerdotes tinham a mais
importante função. Em relação à organização politico-religiosa, a função
mais importante era a do rei. Mas, na prática diária, o profeta desem
penhava o papel educacional mais importante. O profeta era a figura
central na educação nacional, por causa de suas constantes exortações
e recordações concernentes ao propósito e vontade de Deus para com
a nação israelita e a necessidade de viver um vida justa e correta.
2 PROPÓSITOS DA EDUCAÇÃO HEBRAICA
Transmitir a herança histórica
Durante todos os anos da vida de Israel, e especialmente durante
os anos formativos, advoga-se com veemência que as gerações futuras
deviam nutrir-se das extraordinárias memórias históricas de tudo o que
havia acontecido no passado. Era fundamental que as gerações apren­
dessem a história dos patriarcas, da escravidão no Egito, dos pactos entre
Deus e o povo através de Abraão, Isaque, Jacó e Moisés, e dos demais
eventos notáveis da história do povo de Deus. Era necessário que em
suas mentes existisse de modo firme o conhecimento dessa herança histó
rica de Israel como povo de Deus. A transmissão dessa herança histórica
foi, portanto, um dos mais importantes propósitos da educação em Israel.
Instruir na conduta ótica
Um segundo propósito importante na educação hebraica é o que
se refere ao ensino sobre o modo de se alcançar a alegria de viver. Na
história hebraica mais antiga, vemos esta ênfase sobre o comportamento
13
ct ico. que determina o grau de alegria que alguém alcança na vida. Esta
verdade é indicada através dos textos da lei (veja-se, por exemplo, Ex 20.12),
bem como da literatura que surgiu logo depois (os Provérbios, por
exemplo).
Assegurar a presença de Deus e sua adoração
No centro da educação hebraica sempre esteve a idéia do conhe
cimento de Deus, a adoração e obediência ao Criador. Através da História,
Deus sempre foi o centro do processo educativo. O homem sempre
procurou saber algo de sua existência, propósito e iugar no universo. Como
povo que se considera escolhido por Deus para a realização de seus propó­
sitos, os hebreus centralizam seu ensino em Deus, mais do que qualquer
outra nação na história dos homens. Os hebreus procuravam viver e
ensinar a santidade perante Deus.

3. CURRÍCULO
A palavra “currículo” é usada de muitas maneiras, Para nosso propó­
sito, significa o conteúdo da relação dinâmica entre ensino e aprendizagem.
Examinaremos vários tipos ou fontes de currículo.
Folclore, simbolismo e ritual
Como fizemos notar anteriormente, entre os hebreus, os assuntos
importan tes passavam de pais a filhos no próprio ambiente do la r. Muito
do que se transmitia era folclore, ou o que se chama também de tradição
oral. O folclore era transmitido principalmente através da celebração de
festividades e cerimônias. Portanto, o calendário hebraico foi uma ferra­
menta educacional importante, porque em determinados dias do ano era
ministrada instrução especial sobre os eventos que se comemoravam.
Havia três festas principais no calendário hebraico (além de outras
menores). Cada festa tinha um significado relativo à vida agrícola e
também um sentido histórico. A Páscoa representava o princípio da
colheita, e comemorava a libertação do povo hebreu da escravidão egípcia.
Pentecostes representava o fim da colheita, e comemorava a chegada dos
hebreus ao Monte Sinai, onde receberam a lei. A festa dos tabernáculos
representava uma época na qual os agricultores viviam em tendas em
seus próprios campos enquanto faziam a colheita, e comemorava os anos
que Israel viveu no deserto.
O significado destes eventos era discutido informalmente e,
enquanto os meninos se sentavam para escutar ou enquanto se realizava
uma festividade especial de comemoração, faziam-se perguntas. Com as
14
perguntas curiosas e suas respectivas respostas as crianças aprendiam
sua herança cultural (veja-se, por exemplo, Dt 6.5,7; Js 4.21,22). Dai por
que os atos simbólicos, as práticas rituais, as festas e a transmissão da
tradição oral se converteram em instrumentos principais da instrução
entre os hebreus. Segundo a lei, o pai tinha a obrigação de explicar a
seu filho o significado das festas e dos rituais que as acompanhavam
(veja-se, por exemplo, Ex 13.8). Essa não era uma tarefa difícil, porque
a curiosidade e o interesse nas atividades de um dia festivo levavam o
menino a fazer perguntas e, ao respondê-las, o pai cumpria sua obrigação.
A lei
O ensino da lei se relacionava muito com o ensino feito através
do folclore, do simbolismo e do ritual. Não se pode menosprezar a
importância da lei como elemento educativo. Os primeiros cinco livros
da Bíblia, os chamados livros de Moisés, constituem os livros da lei. No
idioma hebraico os livros de Moisés eram chamados de Tora (Versão dos
Setenta em grego), palavra ordinariamente traduzida por “lei”. Na reali­
dade, Tora significa “instrução”. Isto quer dizer que a Tora foi o meio
utilizado por Deus neste período histórico para a instrução do seu povo.
Poderíamos dizer, portanto, que a Tora ou a lei foi o elemento central
na educação de Israel. Os adultos aprendiam através da lei e transmitiam
a seus filhos essa aprendizagem.
Atividades cotidianas de ensino
O ensino diário das crianças, além de sua herança histórica, era
basicamente uma forma de treinamento quanto à sua utilidade para a
familia e para a sociedade, mas também constituía um treinamento nas
artes e ofícios. Havia entre os israelitas muitos ofícios a aprender, como,
por exemplo, pastorear ovelhas, trabalhar na agricultura, cozinhar, coser,
fazer pão, tecer, fiar, artes gráficas, música, dança e artesanato (ISm 16.18:
Jz 21.21; SI 137; Jr 31.13; Lm 5.14; 2Sm 13.8; Ex 35.25,26; Gn 29.6;
Ex 2.16).
Literatura de sabedoria
Os livros de Provérbios e Eclesiastes contém uma espécie de peda­
gogia que merece destaque especial por seu valor educativo. (O autor
é cônscio do fato de que há problemas quanto à data de produção destes
livros. É provável que não pertençam ao período hebraico propriamente
e sim ao período seguinte, isto é, ao período do judaísmo.)
Não apresentaremos detalhes; apenas daremos referência, para que
o leitor faça sua própria investigação e estudo. Segundo alguns dos provér-
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bios, há instrumentos que a família pode usar na criação dos filhos. Estes
instrumentos podem ser usados em áreas como:
1. Instrução: Pv 1.8; 6.20,23.
2. Exemplo ou modelo de comportamento: Pv 20.7; 23.26; 13.20.
3. Disciplina: Pv 3.11,12; 19.20; 29.15; 22.15.

4 PRINCÍPIOS E MÉTODOS EDUCACIONAIS DO ANTIGO


TESTAMENTO
Concluímos que no Antigo Testamento encontram-se muitos prin­
cípios educacionais e métodos de ensino. Mencionaremos alguns.
Princípios educacionais
Há no Antigo Testamento, pelo menos, seis principios óbvios:
1. A educação foi um mandamento direto de Deus.
2. O protótipo de todos os mestres foi o próprio Deus. Portanto, o ensino
tem autoridade e sanção divinas.
3. A disciplina é um ingrediente necessário.
4. O ofício de ensinar era considerado sagrado, porque embora Deus
ensinasse, inspirava também o homem a ensinar.
5. A instrução das crianças começava em tenra idade.
6’. O principio fundamental para o ensino, especialmente das crianças,
era o de ensinar gradualmente.
Métodos
Havia três métodos principais para o ensino eficienie:
1. O uso do ensino oral.
2. O uso de procedimentos normativos.
3. O uso de parábolas para a instrução moral,
Conclusão
Quando se fala de educação entre os hebreus, estamos, de fato,
falando sobre educação religiosa. Devemos reconhecer que a educação
entre os hebreus foi quase que exclusivamente educação religiosa. Se
pudéssemos fazer uma paráfrase das palavras de Barclay, concluiríamos
dizendo que, visto que a fidelidade, a obediência a Deus e a importância
de seu lugar na vida do povo israelita foram parte tão relevante da
educação, esta deve ser entendida como educação religiosa.
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Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas;
1. Em que consiste a educação religiosa que precedeu a educação cristã?
2. Segundo o educador Eavey, quem começou a educação?
3. Fbrque seria um erro estudar a educação crista sem levar em conta
os princípios da educação entre os hebreus?
4. Qual a instrução fundamental da educação dos hebreus?
5. Em suas próprias palavras, o que sugerem as seguintes passagens
bíblicas quanto à importância das crianças no lar? Salmos 127 e 128.
6. Em suas próprias palavras, diga o que ensinam as passagens seguintes
sobre a educação dos filhos: Ex 12.26,27; Dt 4.9,10; 6.4-7; 11.18,19.
7. Segundo o exemplo veterotestamentário, qual a responsabilidade
do pai para com seus filhos?
8. Em que sentido foi importante o intercâmbio diário, isto é, as relações
pessoais, na educação dos hebreus?
9. O que significa para você dizer-se que uma criança pertence a uma
comunidade formativa?
10. Samuel é um exemplo de variação do sistema normal de educação.
Diga em que aspecto sua educação foi diferente.
11. O que era uma escola de profetas?
12. Por que foi o profeta a figura central da educação nacional entre
os hebreus?
13. Escreva um parágrafo sobre a função educacional do rei, do sacer­
dote e do profeta.
14. O que significa: “O protótipo de todos os mestres foi o próprio Deus’’,,
15. Quais eram os três propósitos da educação hebraica?
16. Em que sentido o calendário hebraico era um instrumento de ensino?
17. Mencione quatro princípios educacionais encontrados no Antigo
Testamento.
18. Que são parábolas?
Temas para discussão
1. Quais as relações entre o que foi dito neste capitulo com a educação
cristã?
2. Quais são as festas, os dias santificados, os jejuns principais e secun
dários do calendário hebraico e que tinham a ver com a educação?
3. Em que sentido as seguintes pessoas foram os agentes da educação
religiosa?
Pai, rei, sacerdote, profeta.
Em cada caso, que grau de eficiência alcançaram em sua respec
tiva função?
17
Capítulo 2
A EDUCAÇÃO JUDAICA
Introdução
Como foi dito na conclusão do capitulo anterior, toda a educação
hebraica foi educação religiosa. Continuou a ser educação religiosa
enquanto o povo hebreu se desenvolvia, e se estendeu ao povo judeu.
(O judaísmo propriamente dito nasceu com as reformas de Esdras no
sexto século antes de Cristo.) A educação hebraico-judaica não chegou
a ser educação formal até a instituição da sinagoga, no quinto século
a.C. A palavra “escola71, como lugar onde crianças aprendem, não aparece
na Bíblia até o período do Novo Testamento.
Neste capitulo, tentaremos chegar da educação informal veterotes-
tamentária. que consistia predominantemente de tradição oral, até o
tempo em que a escola, ou seja, a educação formal, tornou-se a norma.
Há muitas coisas da cultura judaica que mereciam ser estudadas e que
possivelmente nos ajudariam a melhor compreendê-la. Nossa investigação,
porém, limita-se a um estudo sucinto da sinagoga, a instituição mais im­
portante no que se refere à educação e à sociedade na cultura judaica.
0 estudo da sinagoga cobrirá vários séculos, que abrangem o espaço entre
a educação hebraica e a educação judaica como se apresentava nos
tempos neotestamentários.
1 A SINAGOGA
Princípios
Durante a Diáspora, os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó pre­
cisavam de um lugar onde pudessem cultuar a Deus e aprender a sua
história. O exílio forçou os israelitas a deixar seu templo e sua terra santa,
e desde aquela época embarcaram numa longa e árida jornada como
nação e raça, tentando sempre manter sua identidade como povo de Deus.
Ao encontrar-se na Babilônia sem o templo, sede da relação com Deus,
os israelitas tiveram de encontrar uma alternativa para o seu sistema reli
gioso, que se concentrava no templo. Tal alternativa tomou a forma da
sinagoga local.
19
Fbdemos dizer com certeza que a sinagoga surgiu no terceiro século
antes de Cristo, ou possivelmente antes, A idéia de ter centros locais apro­
priados para o culto, o estudo da lei e o ensino das crianças, foi aceita
não somente pelos judeus da Diáspora mas também pelos que depois
regressaram à Palestina. No começo da era neotestamentária, em cada
cidade importante havia uma sinagoga. Em lugares onde havia grandes
populações judaicas (Jerusalém, Roma, Antioquia, Alexandria, etc) exis­
tiam várias sinagogas. Provavelmente existiam umas 480 sinagogas em
Jerusalém no terceiro século a.C.
Em outros cursos o aluno poderá estudar o significado histórico
e teológico da sinagoga. Em nosso caso, o que importa é salientar a rela­
ção existente entre a lei (instrução) e a sinagoga. Esta relação era tão
intima nos tempos neotestamentários que há sinais de que se pensava
que a sinagoga sempre havia existido como parte da herança judaica
(veja-se At 15.21). Alguns historiadores judaicos, como Josefo e Filo de
Alexandria, diziam que a sinagoga começou na época de Moisés.
Organização
Cada comunidade local era servida por sua sinagoga, e os assuntos
administrados em geral eram tratados por uma junta diretora composta
de três pessoas. Cada sinagoga tinha dois oficiais eleitos. O presidente
íarchesynagogosj tinha a responsabilidade de dirigir o culto, designar as
pessoas para ler, orar e explicar as Escrituras. O servo (hazzan) se encar
regava de guardar os rolos da Escritura e dar sinal para as pessoas
escolhidas pelo presidente para participar do culto. Às vezes, o servo
também se encarregava de ensinar as crianças.
Cabia à sinagoga a responsabilidade de disciplinar as pessoas que
violavam a lei mosaica. Os sacerdotes e escribas aparentemente não
ocupavam lugar de destaque na vida da sinagoga ou na comunidade.
No entanto, quem fosse conhecido como um bom rabi podia ser convi­
dado a expor um texto da Escritura, e um sacerdote, quase sempre presen­
te, pronunciava a bênçào. (Foi este sistema informal que permitiu a Jesus
a oportunidade de pregar nas sinagogas.)
O culto
Era necessária a presença de dez homens para a realização de um
culto de adoração. O culto incluía a confissão a Deus, oração, leitura
das Escrituras e o ensino sobre a vontade de Deus. As orações eram feitas
com a mesma regularidade dos sacrifícios no templo em dias passados.
Os cultos eram realizados nos dias de sábado, segundas e quintas-feiras,
e nos dias de festa.
20
O aluno interessado deve procurar outras fontes para compreensão
mais ampla do interessante conteúdo dos cultos da sinagoga judaica.
O ensino
A instrução geral era constituída basicamente de leitura e expo­
sição das Escrituras. Um ponto interessante a observar é que não era
permitida a recitação das Escrituras de memória, apesar de que todos
memorizavam muitos dos seus textos. Temia-se que, no recitar, ocorressem
alterações inesperadas das palavras sagradas. Qualquer homem da congre
gaçâo podia ler, e geralmente o texto era da Tora. A leitura era feita em
hebraicoe logo se traduzia para oararnaico, a linguagem vernácula. Estas
traduções chegaram a constituir uma tradição oral e tomaram uma forma
escrita ilargum) no quinto século depois de Jesus Cristo. Nos dias de
Jesus estas traduções em forma oral eram comuns. (Por exemplo, Mc
4.12 se refere a Is 6.9,10, mas as palavras aqui correspondem mais ao
targum do que ao texto da Bíblia hebraica.)
Por ocasião do ensino, às vezes havia uma leitura dos profetas depois
da leitura da lei. Muitas vezes o culto ou o período de instrução termi­
nava com esta segunda leitura, ainda que, como dissemos, qualquer
membro masculino da comunidade pudesse fazer a pregação.
Por ser o lugar onde se ensinava a lei, a sinagoga ganhou a repu
tação de ser a “casa de ensino". Como dissemos antes, o ensino era parte
do culto de adoração e, por isso mesmo, acontecia no lugar de adoração.
Havia, porém, um lugar separado para o propósito específico do ensino.
Ali as crianças estudavam a lei guiadas por um mestre. O mestre ocupava
um lugar de respeito e honra.
Um antigo adágio popular dizia que, se o pai e o mestre de
alguém estivessem em perigo, o mestre deveria ser salvo em primeiro
lugar.
O ensino das crianças na sinagoga é mais parecido com nossa escola
primária do que com a escola dominical em nossas igrejas. Além da
instrução primária, os jovens mais desenvolvidos intelectualmente
também estudavam na sinagoga. Sob a tutela dos escribas, esses jovens
aprendiam a expor a lei. O aluno interessado deverá investigar outras
fontes que expliquem os estudos destes jovens e como aprendiam a
interpretar e expor a lei.
Esta apresentação breve e superficial da sinagoga serve para nos
ajudar a compreender a passagem da educação centralizada na familia
para uma educação mais formal. A educação formal do judaísmo será
estudada no próximo capítulo.
21
2. EDUCAÇÃO P RI MÁ RJ A
O leitor deve estar querendo saber por que se deve estudar a
educação formal do judaísmo. Devemos ter em mente que toda a
educação judaica foi educação religiosa e como tal foi a predecessora
da educação cristã.
No Novo Testamento a palavra “escola" é mencionada apenas uma
vez (At 19.9). NoTalmude, porém, vez por outra, a importância das escolas
é enfatizada. Ali, encontramos discussões sobre o salário dos professores,
sobre a competição entre eles, afirmando-se haver 480 sinagogas em Jeru
salém, cada uma com sua escola. As escolas eram tão importantes que
o Talmude indica a destruição das comunidades onde não existam. Há
muito o que aprender sobre educação no Talmude. Mencionaremos aqui
alguns pontos que nos ajudam a compreender melhora educação judaica.
Dois grandes educadores
Barclay, em seu livro Educational Ideais in thc Anciení World
(“Ideais Educacionais no Mundo Antigo”), sugere o estudo de dois nomes
importantes na história educacional dos judeus. São eles: Simão ben-
Shetach e Josué ben-Gamala
Simão ben Shetach viveu no primeiro século antes de Cristo. Era
irmão da rainha Alexandra, da Judéia, mas não se sabe muito sobre sua
vida pessoal. Seu nome é importante porque foi ele que tornou obriga­
tória a escolaridade primária entre os judeus. Simão não foi quem iniciou
as escolas primárias, pois a prática das sinagogas indica que elas já exis
tiam. Mas, numa época em que o helenismo ameaçava o judaísmo, Simão
solicitou uma adesão mais firme a uma prática já existente.
Josué ben-Gamala foi sumo sacerdote de 65 a 65 da era cristã.
Segundo o Talmude, Josué universalizou a educação primária, exigindo
que todos os meninos judeus começassem a estudar aos seis ou sete anos
de idade. A ele se pode atribuir o mérito de haver tornado o sistema edu­
cacional mais eficaz, bem como obrigatório a toda a nação. O Talmude
afirma que sem Josué ben-Gamala provavelmente a lei teria sido esque­
cida em Israel.
Podemos dizer, portanto, que a educação pública entre os judeus
“recebeu de Simão ben-Shetach um novo impeto, e de Josué ben-Gamala
uina forma nova e mais eficiente” (Barclay).
Práticas educacionais — resumo
Já dissemos que a educação de um judeu começava no lar. Come­
çava quase ao mesmo tempo em que a criança aprendia a falar. Como
22
vimos no primeiro capitulo, havia muitas práticas educacionais no lar.
Uma das mais interessantes, talvez, era o uso da mezuzá. A mezuzá era
uma caixa cilíndrica contendo as palavras de Deuteronômio 6.4-9 e
11.13-21. Quando uma pessoa entrava ou saia de casa, tocava numa aber­
tura da caixa, beijava o dedo e pronunciava uma bênção. O menino,
naturalmente curioso, vendo o que todos faziam, começava a fazer pergu­
ntas sobre o que observava. Começava assim sua educação na lei e na
tradição de seu povo, e quando o menino chegava á puberdade, já era
considerado responsável por sua observância. Portanto, antes de ir à escola
o menino judeu já estava aprendendo a respeito da lei.
Ir â escola era o segundo passo em sua formação educacional. Geral
mente, o menino ia à sinagoga, se bem que há evidências de que muitas
vezes as aulas eram dadas na casa do professor. Na escola os aspectos
físicos e emocionais do educando eram levados em conta. Para assegurar
as boas relações entre alunos e professores, existia a prática de limitar
o número de estudantes em cada classe. Em geral, um professor só podia
ter até 25 alunos a seu cargo. Classes com 40 alunos já requeriam um
professor auxiliar, e uma de 50 requeria dois professores.
Os alunos se sentavam no chão, aos pés do mestre, O texto era a
Escritura Sagrada. Por isso a sinagoga era chamada de Beth-Ha-Sepher
(“A casa do livro”). O ensino era teórico e prático. O aluno devia estudar
e praticar a lei.
Quanto aos métodos de ensino, há dois aspectos a considerar.
Primeiro, o ensino judaico se baseava inteiramente na instrução oral.
Segundo, a aprendizagem se dava através da repetiçãoe da memorização.
O aluno judeu tinha que memorizar quantidades enormes de textos. O
minimo que devia memorizar constava de textos como Dt 6.4 9; 11.13 21;
Nm 15.37-41; SI 113-118; Gn 15; Lv 18.
O mestre era muito respeitado e devia possuir elevadas qualidades
morais. Ordinariamente, o mestre se dedicava também a outra atividade.
O mestre tratava o aluno com respeito e paciência, dando-lhe uin bom
exemplo e evitando práticas que pudessem desencorajar o aluno.
Para concluir este capítulo, apresentaremos, em paráfrase, algumas
palavras de Barclay. Ele sugere, com razão, que o ideal por excelência
da educação judaica é a santidade, peculiaridade, separação das demais
nações, para pertencer a Deus. Portanto, o sistema educacional judaico
não foi mais que o instrumento pelo qual foram assegurados sua exis
tência como naçào e o cumprimento de seu destino.
23
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda âs seguintes perguntas:
1. O que foi a Diáspora? Em que sentido a Diáspora contribuiu para
o desenvolvimento da sinagoga?
2. Por que se diz. que existia intima relação entre a lei e a sinagoga?
3. Qual seria a relação ente o targum e a educação?
4. Quais eram as responsabilidades do archesynagogos e do hazzanl
5. Por que é necessáTio usar fontes extrabíblicas para estudar a
educação do tempo do Novo Testamento?
6. Que é o Talmude? Que importância tem para o estudo da educação
religiosa?
7. Qual o costume que permitiu Jesus pregar nas sinagogas?
8. Quais eram os elementos do culto na sinagoga?
9. Que é targum?
10. Por que a sinagoga ficou conhecida como “casa de ensino”?
11. Descreva a mezuzá e seu significado educacional.
12. Existem na educação cristã símbolos de significado educacional
semelhantes à mezuzá ? Quais?
13. Por que se chamava a sinagoga de “a casa do livro”?
14. Para entender o volume de material básico que o aluno judeu tinha
de memorizar, leia as seguintes passagens: Dt 6.4-9; 11.13-21: Nm
15.37-41; SI 113-118, Nm 1-5; Lv 1-8.
15. Psnse em vários princípios da educação judaica que poderiam ser
aplicados à educação cristã. Sugira pelo menos seis princípios.
Temas para discussão
1. Discutir os princípios sugeridos na pergunta número 15.
Quais seriam alguns usos e práticas de tais princípios?
Que passos deveriam ser tomados para emprega los?
Há alguns princípios da educação judaica que não devem ser adap­
tados à educação na igreja local?
2. Se houver um exemplar do Talmude, ou parte dele, seria interes­
sante ler e discutir alguns textos que salientam a importância da
educação na vida dos judeus.

24
Capítulo 3
JESUS COMO MESTRE

Introdução
As duas primeiras partes deste livro tratam dos fundamentos
biblicos e históricos da educação cristã. É necessário insistir no
fato de que Jesus de Nazaré é a base bíblica e histórica personificada
da educação cristã. Isto quer dizer que é muito provável que a
educação hebraica e judaica discutida anteriormente não teria mais
efeito sobre os cristãos de hoje do que qualquer outro sistema edu­
cacional antigo se o Jesus histórico não houvesse entrado em cena.
Foi por meio de Jesus Cristo que a educação hebraica e a educação
judaica começaram a caracterizar-se por longo tempo, assumindo
marcas identificadas como cristãs, formulando assim a educação cristã.
De modo que é importante que o estudante de educação cristã pense
neste fundamento, que permitiu que as influências hebraicas e judaicas
se transformassem em educação cristã para aqueles que decidiram crer
no que Jesus ensinava.
É sabido que Jesus era considerado um mestre. Há muitos exem­
plos disso — seus discípulos o chamavam de mestre; ele ensinou as
multidões com êxito; Nicodemos confessou que Jesus era um mestre vindo
de Deus; e há muitas outras referências a Jesus como alguém que ensi
nava. Só a palavra discípulo (aluno) é usada mais de duzentas vezes com
referência a seus seguidores. Pblo texto bíblico, portanto, não há dúvida
de que Jesus foi um mestre. Se nós que nos rotulamos de educadores
cristãos quisermos cumprir nossa responsabilidade a contento, devemos
aprender com ele que foi o primeiro educador cristão.
Para um estudo mais amplo deste assunto sugerimos a leitura do
livro de J. M. Price — A Pedagogia de Jesus, o Mestre por
£xce/éncia(JUERP). Em sua maior parte, as idéias apresentadas neste
capítulo foram inspiradas por artigo escrito por Valerie Wilson — Christ
the Master Teacher (“Cristo, o mestre por excelência”) —, em Introduc-
tion to Bibiical Christian Education (“Introdução à Educação Bíblica
Cristã”).
25
I AS CARACTERÍSTICAS DE JESUS COMO MESTRE
É muito provável que o menino Jesus tenha estudado na sinagoga
como os demais meninos judeus. Aparentemente seus mestres o ensi­
naram muito bem, visto que, de várias maneiras, ele demonstrava suas
habilidades educacionais. Em primeiro lugar, Jesus praticava as artes lite­
rárias. Ou seja, ele demonstrou sua habilidade de ler (com autoridade)
na sinagoga (Lc 4.16-20); ainda que não tenha escrito livro, nem um
folheto, sequer cartas etc, demonstrava sua familiaridade com a arte de
escrever (Jo 8.6). Suas palavras ditas na cruz (segundo Mt 27.46) indicam
que sabia a lingua aramaica e também o idioma dos patriarcas — o
hebraico. Segundo os evangelistas, especialmente Mateus, Jesus conhecia
profundamente as Escrituras Sagradas, pois delas fazia freqüentes citações
de memória. Jesus acreditava no ensino (Jo 13.13) e foi mestre por exce­
lência. Tudo isto significa que Jesus não foi analfabeto, e que aproveitava
bem tudo aquilo que a educação judaica de seu tempo lhe oferecia. Em
muitos aspectos, ele nào foi diferente dos mestres seus contemporâneos»
se bem que o seu ensino apresentasse um saber próprio e especial.
Além de suas habilidades literárias, Jesus possuía algumas quali
dades especiais que usou em seu ensino. Tinha familiaridade com as
tradições e leis orais de seu povo (Mt 5.21,27,31,38,43). Compreendia
profundamente a natureza humana, o que lhe permitia discernir os pensa­
mentos e sentimentos Íntimos das pessoas com quem mantinha contato
(Mt 9.4; Jo 1,47; 2.25). Jesus ensinava com autoridade (Mt 7.28,29). Os
ensinos dos escribas eram de segunda mão. enquanto que o ensino de
Jesus era original e baseado em sua própria autoridade, E, mais impor­
tante ainda, Jesus encarnava a verdade em sua própria pessoa (Jo 14.61.
Jesus era cem por cento aquilo que ensinava, de modo que inspirava
confiança em tudo o que dizia.

2 OS ALUNOS DE JESUS
Há três pontos importantes que gostaríamos de salientar com
relação às pessoas a quem Jesus ensinava. Em primeiro lugar, os alunos
de Jesus não eram perfeitos. Jesus, como eu e você, teve que ensinar a
pessoas com problemas pessoais, falta de compreensão, com seus pontos
de vista particulares (Pfedro, por exemplo) e com muitos conceitos inade­
quados que tornavam mais difícil a percepção da mensagem.
Jesus não foi bom mestre pelo fato de que seus alunos foram bons
alunos. Jesus foi um bom mestre apesar das limitações deles. Os discí
pulos eram muito limitados, mas, apesar disso, ensinou-lhes conceitos
26
que transformaram o mundo. J. M. Price comenta que “tomar este
pequeno grupo de pessoas pouco desenvolvidas, de indivíduos que pare­
ciam que não teriam êxito, e fazer deles um grupo de pessoas bem
desenvolvidas em todos os sentidos, pessoas que se tornaram inspiração
para o mundo, é uma maravilha da arte de ensinar. Esta maravilha não
foi superada por nenhum outro inestre através dos tempos, e tem sido
uma inspiração e conforto pa ra todos os mestres cristãos existentes desde
então"
Segundo, Jesus ensinou principalmente a adultos, embora não exclu­
sivamente. Quando se pensa tias multidões que o seguiam e que ouviam,
logicamente se pensa em adultos, homens e mulheres. É provável que
tenha sido assim, embora não se possa excluir a presença de crianças
(por exemplo, às vezes abençoava as crianças, e em certa ocasião usou
a merenda de um garoto para alimentar as multidões).
Terceiro, parece que através de seu ministério havia um padrão geral
em seu ensino. Na primeira parte de seu ministério, ensinava principal­
mente a indivíduos, depois ensinou a multidões, e, no fim de seu ministério,
voltou a trabalhar com pessoas individualmente. Talvez o aspecto mais
importante de seu magistério é que soube aproveitar todas as oportu­
nidades que teve para ensinar. Em termos educacionais modernos, ele
aproveitou todos os momentos propicios ao ensino.

3 OS OBJETIVOS DO ENSINO DE JESUS


O objetivo por excelência do ensino de Jesus era a mudança da
vida do indivíduo, e não apenas seu intelecto e emoções. Este propósito
geral permeava todos os outros objetivos mais específicos de seu ensino.
Segundo Wilson, há cinco classificações dos objetivos do ensino de Jesus.
Em primeiro lugar, Jesus procurava converter seus alunos a Deus. Foi,
sem dúvida, para isso que Jesus veio ao mundo: iniciar o reino de Deus
na terra através de corações transformados e consagrados. Ein segundo
lugar. Jesus queria que seus discípulos adotassem ideais corretos (Mt 5.48).
Seu ensino exigia uma nova ética e uma nova interpretação das regras
e normas sociais (neste caso, da lei). Terceiro, Jesus se propunha a desen
volver a harmonia entre as pessoas. Na verdade. Jesus proclamou como
segundo mandamento a harmonia com o próximo. A única responsa
bilidade maior do que essa é a harmonia com Deus (Mc 12.28-31). Quarto,
Jesus queria aprofundar as convicções de seus alunos, Usou determí
nadas técnicas para ajudar seus alunos a verificar e reforçar suas crenças
e convicções (Jo 21.15,17). Adotou o método de fazer perguntas para
sondar seus pensamentos esentimentos íntimos e profundos. E, em quinto
27
lugar, Jesus tinha o claro objetivo de treinar seus discípulos para conti­
nuar o ensino depois dele. Deixou-nos até mesmo uma fórmula para
seguirmos seus ensinamentos (Mt 28.19,20).

4 OS MÉTODOS DE JESUS
Na realidade, as técnicas usadas por Jesus eram, na sua maioria,
muito simples. Uma delas foi simplesmente a de chamar a atenção de
seus ouvintes. Isto ele conseguiu de várias maneiras: iniciando uma
conversa (Jo 4.7-9); fazendo perguntas (Mt 16.13); convidando ao compa­
nheirismo (Mc 1.17); chamando as pessoas por seu nome (Jo 1.42); e
empregando palavras que chamavam a atenção do ouvinte.
Todo mestre tem seu próprio estilo, e Jesus não foi exceção a essa
regra. Seu estilo era simples, porém profundo. Usou um estilo que empre­
gava muito o simbolismo, mas era também dinâmico e direto. Podemos
demonstrar esse estilo de duas maneiras.
Em primeiro lugar, Jesus ensinou o desconhecido a partir do conhe­
cido. Quer dizer, Jesus começava seu ensino do ponto em que se
encontravam seus ouvintes e dai os conduzia ao ponto que desejava
alcançar. Empregou linguagem que os ouvintes entendiam, para lhes
ensinar coisas que não compreendiam. Por exemplo, usou a palavra "água”
para lhes ensinar sobre a água viva, istoé, a salvação. Falou-lhes também
sobre a lei, conceito bem entendido por todo judeu, para lhes ensinar
a nova teologia que ainda não compreendiam.
Em segundo lugar, Jesus ensinou conceitos abstratos em termos
concretos. Quer dizer, para ensinar conceitos espirituais abstratos, teve
que usar exemplos concretos entendidos pelos ouvintes. Um exemplo
desta parte de seu estilo pode ser visto no uso da frase “o reino de Deus
é semelhante...”
Seu estilo didático incluía muitas técnicas. Mencionaremos seis
delas, que geralmente se recomendam aos professores de nossos dias.
Primeiro. Jesus usava o método de fazer perguntas. Nos quatro relatos
do Evangelho (Mateus, Marcos, Lucas e João) registramos mais de cem
perguntas feitas por Jesus. Segundo, Jesus contava histórias da vida coti­
diana (parábolas). As parábolas que contou estavam ao nível de
compreensão de seus ouvintes, eram concisas, lógicas e despertavam o
interesse de todos.
Jesus usou também o discurso ou conferência. Há pelo menos três
discursos de Jesus registrados no Novo Testamento: o que se conhece
como Sermão do Monte, o da morada celestial e o do juízo final. Em
quarto lugar, se usarmos a imaginação, podemos dizer que Jesus usou
projetos ou o método de atividades para ensinar. Vários exemplos se eneon
tram no Evangelho de Lucas (5.4; 6.1; 10.1-16; 18.22). Quinto, mais urna
vez com um pouco de imaginação, podemos ver o uso ciue Jesus fez de
recursos visuais. Usou a figura de uma árvore estéril para ensinar a neces­
sidade, da fé (Ml 21.18-22); uma moeda, para ensinar os deveres para com
o governo (Mc 12.13-17); os campos prontos para a ceifa, para ensinar
o princípio da urgência (Jo 4.35-39), e outros, não incluindo, evidente,
mente, os milagres. Sexto. Jesus, mais do que qualquer outro mestre na
história da humanidade, ensinou pelo método de ser ele mesmo um bom
exemplo de tudo aquilo que ensinou. Ele vivia o que ensinava.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Pbr que se diz que Jesus é o fundamento histórico e bíblico
personificado da educação cristã?
2. Mencione algumas razões óbvias pelas quais Jesus é conhecido
como mestre.
3. No texto se diz que Jesus não foi analfabeto. Esta verdade tem
algum significado para você?
4. Mencione três qualidades especiais para o ensino existentes em
Jesus.
5. Em sua opinião, qual o método mais eficaz usado por Jesus?
Pór quê?
6. Defina a palavra “parábola”.
7. Se Jesus foi mestre por excelência, e mestre exemplar, o que
significa para nós dizer se que ele foi cem por cento aquilo que
ensinava?
8. Qual a relação do propósito essencial do ensino de Jesus com
o ensino de nossa igreja?
9. Leia as seguintes passagens e, em suas próprias palavras e
segundo seu entendimento, interprete os termos que indicam
os propósitos educacionais de Jesus: Mateus 5.48; Marcos
12.28-31; João 21.15-17.
10. Qual o método que Jesus usou mais do que qualquer mestre
na história da humanidade?
11. Os capítulos 14-16 de João. 5-7, 24 e 25 de Mateus são exem­
plos de um dos métodos usados por Jesus. Qual é esse método?
12. Explique os seguintes conceitos relativos ao estilo do ensino
de Jesus.
a) Ensinar o desconhecido a partir do conhecido
29
b) Ensinar conceitos abstratos em termos concretos
13. Mencione dois princípios usados pelo primeiro educador cristão
que você pode aplicar em seu ministério atual ou em seu futuro
ministério.
14. Faça um resumo total ou parcial de A Pedagogia de Jesus, o
Mestre por Excelência, de J. M. Price (JUERP).
Temas para discussão
1. Discutir os princípios do ensino de Jesus e sua aplicabilidade
aos professores da igreja local.
2. Analisar ou avaliar o ensino de Jesus. Pbr exemplo: usou ele
métodos eficientes de acordo com a realidade de seus alunos?
Seus propósitos justificavam os métodos e vice-versa? Houve
resultados? Quais são alguns dos resultados específicos?

30
Segunda Parte
BASES HISTÓRICAS
DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Capítulo 4
A EDUCAÇÃO NA IGREJA PRIMITIVA

Introdução
É difícil separar a história da educação da história geral do cristia­
nismo do primeiro século. Geralmente, estuda-se a teologia, ou a atividade
missionária, ou a produção literária deste período, mas não se estuda
especialmente a história da educação. A verdade é que a educação inclui
todas estas coisas, porque a educação do primeiro século foi uma tenta­
tiva de educar as pessoas para o novo caminho.
À medida que a igreja crescia e ganhava mais gentios do que judeus,
essa instrução se tornou ainda mais importante. Devido ao fato de que
não existia literatura escrita sobre educação neste período, temos que
buscar informações no contexto da pregação, da atividade missionária,
do crescimento e expansão da igreja, da produção literária e da exegese
neotestamentária. Obviamente, ao buscar informações nestas fontes para
entender a educação cristã primitiva, enfrentamos o problema de duplicar
dados que os alunos podem encontrar em outros estudos. Assim, os pará­
grafos seguintes apresentam idéias de algumas áreas representativas da
educação neste período.

I O CONTEXTO - A VIDA DIÁRIA DOS CRISTÃOS


O estudo da vida cotidiana dos primeiros cristãos nos indica muitas
coisas concernentes à educação neste período. Baseados em fontes à nossa
disposição, pudemos reconstruir mais ou menos o que era o viver diário
naqueles dias.
Os cristãos se levantavam ao raiar do dia para orar. Geralmente
não comiam pela manhã, gastavam pouco tempo com a higiene pessoal
e não mudavam de roupa para as atividades do dia. Suas roupas e seus
calçados eram simples e modestos. Os homens não se adornavam, pois
consideravam isso uma ofensa à sua aparência.
Os primeiros cristãos não freqüentavam os lugares de divertimento
de seu tempo, tais como o teatro, o circo e a arena. Usavam os banhos
33
públicos (lugares de má reputação moral), porém com muita discrição
pessoal. Segundo os líderes da igreja primitiva, o banho tinha os propó
sitos de limpeza e purificação para as mulheres, enquanto que para o
homem o objetivo era apenas a limpeza. O banho não devia ser visto
como fonte de prazer.
À dieta dos primeiros cristãos era também muito simples, costume
que mudou bastante nos séculos posteriores. Eles dormiam num sofá
simples e não em camas macias como seus contemporâneos gregos e
romanos. Havia muitas profissões nas quais não trabalhavam, por causa
de seu testemunho pessoal. Oravam pelo menos três vezes por dia, à
terceira, sexta e nona horas (quer dizer, às nove da manhã, ao meio-dia
e às três da tarde).
Havia muitas atividades consideradas más, que separavam os
cristãos das demais pessoas da cultura greco-romana. A prática dos cristãos
das primeiras décadas não diferia muito da prática judaica da época,
porque não havia muita diferença entre o cristianismo e o judaísmo. Mas,
ã medida que o cristianismo se desenvolvia e começava a apresentar carac­
terísticas próprias, novas práticas e idéias começavam a se formar. Daí
o nosso propósito de refletir sobre o contexto da vida diária dos cristãos
primitivos. Fbrqueé no desenvolvimento do cristianismo em si que temos
de perguntar: como sabiam os cristãos que deviam agir de modo dife­
rente? Como sabiam quais as diferenças que deveriam demonstrar? Como
sabiam os princípios que deviam marcar a diferença entre eles e seus
vizinhos judeus, gregos ou romanos? Como entendiam a mudança que
sentiam em suas vidas — como vestir-se, como agir, o que comer, o que
sentir? A resposta a tudo isto é bastante óbvia: foi-lhes ensinado. Este
fato é importante para quem estuda as bases da educaçáo cristã, porque
deixa claro que o enfoque principal do primeiro século do cristianismo
foi a educação cristã, que pode ser expressa numa frase: aprendendo a
viver o caminho. Poder-se-ia argüir que alguns de seus conhecimentos
foram adquiridos através de convicção pessoal, da exortação da palavra,
ou de alguma outra fonte Mas a tarefa evangelistico-educacional da igreja
era o fio que permeava todas as atividades, dando-lhes unidade e propósito.

2 A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA COMUNIDADE CRISTÃ


Culto e fraternidade
Não se sabe muito a respeito das reuniões cristãs durante as
primeiras décadas. Geralmente, estudam-se os períodos posteriores com
a intenção de interpolar suas práticas no período primitivo, ou, pelo menos,
para tentar reconstruir as práticas primitivas, Uma coisa que se sabe é
34
que as cerimônias de cullo e de fraternidade do período primitivo eram
instrutivas. Os atos simbólicos como o batismo e a ceia do Senhor apre­
sentavam importantes características educacionais desde o princípio, e
sua relevância educacional se intensificou à medida que a igreja absorvia
mais e mais o elemento pagão (durante os séculos posteriores). Foi através
da ceia e da pregação que a igreja aprendeu de modo objetivo o conteúdo
do evangelhoeo que significava para ela como esposa de Cristo. O batismo
também foi muito instrutivo, direta e indiretamente. O batismo foi o
enfoque do catecismo que togo se desenvolveu para ensinar e treinar novos
convertidos, antes de se tornarem oficialmente membros da igreja.
O comportamento dos primeiros cristãos era também um instru
mento educativo. Tudo tinha a ver com seu modo de viver — a doutrina
dos apóstolos, a comunhão (koinonia), as orações, a observância das orde­
nanças, a caridade fraternal, o amor (agápe) — nada disso chegou de
modo automático aos novos convertidos. Eles tiveram que aprender
através de explicações que lhes foram dadas. Além do mais, muitas das
práticas educacionais e seus respectivos conteúdos tinham raízes hebraicas
e judaicas, e à medida que a igreja penetrava no mundo romano havia
a necessidade de ensinar essas práticas aos pagãos,
A função do ensino
No Novo Testamento, especialmente nas epístolas, e particular­
mente nas de Paulo, os conceitos de mestre e de educação permeiam
a literatura, mas não existe aqui um conceito específico de educação.
E provável que não se considerasse necessário definir as crenças sobre
o ensino, porque isso era subentendido, era parte vital do cotidiano. É
provável também que houvesse dúvida da parle da própria igreja quanto
à especificação de sua função como mestra. Tal incerteza se deve ao fato
de que Cristo foi sempre apresentado como o único mestre e que os outros
“mestres” eram apenas seus discípulos,
A alusão mais direta ao ofício de mestre se encontra na primeira
carta de Paulo aos coríntios (12.28). Na descrição dos dons espirituais
feita nesse texto, os mestres ocupam o terceiro lugar. Aparentemente,
portanto, os mestres formavam um grupo especial na comunidade, pois
a implicação é a de que nem todos possuíam esse dom,
A educação na igreja primitiva tinha duas funções principais ou
duas áreas de maior ênfase. A primeira se relacionava com o batismo.
Precisava se de uma instrução formal, para ajudar o novo crente a
entender o que estava fazendo ao submeter-se ao batismo. Essa instrução
lhe servia durante toda a vida corno modelo para o seu viver cotidiano.
35
Mas, ao fim do segundo século, o processo do batismo e a preparação
que o candidato devia ter eram muito elaborados (incluía uma preparação
que durava irês anos e que permitia ao novo crente um envolvimento
crescente com a vida da igreja}.
Não devemos pensar que esse processo fosse tão complicado na
igreja do primeiro século. Mas é quase impossível imaginar que as mesmas
características da instrução sobre o batismo não tenham feito parte da
igreja primitiva. Portanto, o batismoe a preparação para recebê-lo foram
importantíssimos no desenvolvimento da igreja. Há várias passagens do
Novo Testamento que provavelmente eram fragmentos de catecismos
(ensinos) batismais. Por exemplo, veja-se Cl 3.8—4.6; Ef 4.22—6.19; IPe
1.4-11; Tg 1.1-4,10.
A outra função principal da educação era servir como veículo para
comunicar e conservar uma nova tradição, uma tradição cristã. A seme­
lhança da tradição oral dos judeus, esta nova tradição tinha a ver com
as palavras, ensinos e atos de Jesus, especialmente com respeito à sua
morte e ressurreição. Essas tradições explicavam como Jesus havia
cumprido o Antigo Testamento e esboçavam a maneira de viver para
alguém que se propusesse a ser fiel seguidor de Cristo.
Âs vezes, a nova tradição empregava a mesma terminologia da
tradição oral dos judeus (por exemplo, ICo 15.3,4). Mas, ao contrário
da tradição judaica, essas novas tradições cristãs não eram apenas con tos
passados de geração a geração. Era, isto sim, uma tradição viva a respeito
de um Cristo vivo.
As tradições surgidas sobre Jesus Cristo se apoiavam muito nos
estudos do Antigo Testamento, ou seja, na Bíblia hebraica. O estudo da
base hebraica da história cristã foi muito importante para os gentios
convertidos. Por exemplo, muitas das coisas que Paulo escreveu não teriam
sido compreendidas pelos cristãos gentios se eles não houvessem estu­
dado a escritura judaica. Além destas tradições de como a vida e o
ministério de Jesus se relacionavam com as profecias dos antigos isra­
elitas e com aquelas relativas à sua morte e ressurreição, dava-se também
muita ênfase ao ensinamento ético. Era de fundamental importância que
os novos crentes compreendessem como andar â luz de sua nova fé.
3 A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA LITERATURA
A literatura canônica e extracanônica do período neotestamentárío
se interessava muito pelo ensino. Como dissemos antes, os conceitos educa
cionais na igreja primitiva eram claramente implícitos, porque era lógico
que, para conservar e propagar a doutrina cristã, era necessário que ela
36
fosse ensinada. Como literatura representativa deste período, considera­
remos duas fontes literárias de ensino.

As cartas de Paulo
Do ponto de vista do educador, o propósito por excelência
dos escritos de Paulo foi ensinar. Cada carta que escreveu a seus
irmãos na fé servia para ajudar a conhecer e a entender alguma verdade.
Podemos dizer, por exemplo, que as cartas aos tessalonicenses fotarn
escritas paia corrigir idéias erradas sobre a segunda vinda de Cristo. Aos
coríntios Paulo escreveu com o propósito de corrigir suas condições
éticas e para lhes ensinar algumas normas espirituais que lhes servissem
de guia em suas relações sociais. Escreveu aos gálatas para lhes mostrar
que se pode viver de modo justo e reto pela fé e pelo poder do Espírito
Santo. A carta aos romanos, esse grande tratado doutrinário, ensina que
todos pecaram, que todos estão privados da glória de Deus, e que todos
podem ser justificados por meio da fé. Paulo ensinou aos efésios as
características da verdadeira igreja; aos filipenses ensinou que a expe
riência cristã é uma realidade interna e não depende de circunstâncias
externas; aos colossenses ensinou a verdadeira natureza de Jesus,
a fim de refutar uma doutrina legalista; e a Timóteo e a Tito, o
apóstolo ensinou que a ordem e a disciplina devem prevalecer na
igreja.
Estas últimas cartas, a Timóteo e a Tito, chamadas epístolas pasto­
rais, demonstram especial interesse no ensino. Devemos nos lembrar que
quando Paulo escreveu estas cartas já se encontrava em idade avançada
e se preocupava com a propagação das doutrinas cristãs. Hayes sugere
seis temas gerais nas cartas de Paulo a Timóteo, que salientam a
importância do ensino. Esses temas são os seguintes;
1.0 ensino é essencial para manejar corretamente a Palavra inspi­
rada (2Tm 2.14,15; 3.16,17).
2. O ensino è necessário para a firmeza na fé (ITm 4.6,11,16; 6.3-5;
2Tm 4.3).
3.0 ensino é útil para o estabelecimento de lares harmoniosos (ITm
6 . 1, 2 ).
4. A capacidade para ensinar é um dos requisitos para pastores
e outros líderes espirituais (ITm 3.2; 2Tm 2.24).
5. O ensino é corolário essencial da leitura bíblica, da exortação
e da pregação (ITm 4.13; 2Tm 4.2).
6. O ensino è apresentado por Paulo como sendo indispensável à
perpetuação da fé (2Tm 2.2).
37
 Didaché
A Didaché ou a "doutrina dos doze apóstolos", é um livro extra
canônico, provavelmente escrito no ano 90 da era cristã. Há discussões
quanto à data em que este livro foi escrito, variando as opiniões desde
o ano 60 ao terceiro século A.D., mas a maioria acredita que foi escrito
no primeiro século da era cristã. Este livro diz conter instrução baseada
nas palavras de Jesus, ensinada pelos apóstolos aos pagãos que queriam
seguir a Cristo.
A Didaché nos ajuda a compreender o que a igreja do primeiro
século estava ensinando e como o fazia. A obra se divide em três partes
principais. A primeira aborda a moralidade cristã. Fala de um caminho
da vida e de um caminho de morte, e, naturalmente, exorta os pagãos
a escolher o caminho da vida, que consiste principalmente na prática
das virtudes cristãs, bem como a evitar muitos vícios.
A segunda parte do livro apresenta um resumo dos rituais litúr-
gicos praticados na igreja. Explica o batismo, o jejum, a oração, e sugere
orações especiais para uma ceia do Senhor em caráter privado.
A terceira parte é um esboço da organização e da vida da igreja.
Ensina sobre o lugar dos missionários itinerantes (apóstolos), dos homens
que falam em estado de êxtase (profetas) e dos mestres da igreja. Além
disso ensina princípios sobre hospitalidade, apoio aos profetas (econô­
mico?) e regras para o comportamento dos oficiais da igreja. Exorta os
cristãos a tomar a vida a sério, em vista da perspectiva do juízo vindouro.
Do ponto de vista do educador, este livro é um dos mais impor­
tantes do primeiro século. Nele as palavras de Jesus são facilmente
reconhecidas, além de outras doutrinas que se desenvolveram na igreja
primitiva.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às perguntas seguintes:
1. Descreva algumas práticas diárias dos cristãos do primeiro
século.
2. Na sua opinião, a que se poderia dever a prática diária dos
primeiros cristãos? Seria tudo devido a crenças espirituais?
3. Quais teriam sido algumas das profissões evitadas pelos cristãos
do primeiro século?
4. Por que, no princípio, não havia muita diferença entre o cristia­
nismo e o judaismo?
5. O que levou o cristianismo a se distinguir do judaísmo?
38
6. O que tem a resposla á quarta pergunta a ver com a educação
cristã?
7. Explique a seguinte declaração: “A tarefa evangelistico-
educacional da igreja permeou todas as suas atividades,
dando lhes unidade e propósito.“
8. Por que se pode dizer que a ênfase do primeiro século do cristia­
nismo foi sobre a educação cristã?
9. Em que sentido o convívio fraternal dos cristãos do primeiro
século foi educativo?
10. Em que sentido o culto do primeiro século foi educativo?
11. Por que a igreja primitiva considerava necessário aprender e
ensinar a história dos judeus?
12. Porque há dúvida na igreja primitiva quanto à criação do oficio
de mestre?
13. Até que ponto as ordenanças de Cristo são educativas?
14. Explique o valor educacional do batismo.
15. Tem algum significado especial para você o fato de que o dom
de ensinar ocupe o terceiro lugar na descrição dos dons espi
rituais feita por Paulo? Por quê?
16. Necessitamos hoje de uma instrução especial para que o novo
crente entenda o que faz ao receber o batismo? Em caso afir
mativo, como deve ser o conteúdo deste ensinamento? Deve
durar quanto tempo? Deve ser exigido seu aprendizado?
17. Qual a diferença entre a tradição oral dos judeus e a “nova
tradição” dos cristãos9
18. Qual a diferença entre literatura canônica e ext^acanônica',
19. Usando como guia as seis sugestões de Hayes quanto aos
temas que se encontram nas cartas de Paulo a Timóteo, leia
os textos seguintes procurando entender sua importância
educacional.
a. 2Tm 2.14,15; 3.16,17
b. lTm 4.6,11,16; 6.3-5; 2Tm 4.3
c. ITm 6.12
d. ITm 3.2; 2Tm 2.24
e. ITm 4.13; 2Tm 4.2
f. 2Tm 2.2
20. Em que sentido a velhice de Paulo afetou sua preocupação com
a difusão da doutrina cristã?
21. Leia as páginas 15-21 do livro de Dana — O Mundo do Novo
Tesiamento (JUERP) — e explique a relação entre o que você
leu e a educação cristã do primeiro século.
39
Temas para discussão
1. Discutir o valor educativo do batismo e da ceia do Senhor na
igreja primitiva e em nossas igrejas hoje. Quais as vantagens
e as desvantagens de se exigir classes de preparação para o
batismo?
2. Discutira importância que tem para o programa da igreja local
o reconhecimento da existência do dom espiritual de ensinar.
3. Discutir em grupo o conteúdo da leitura do texto indicado do
livro de Dana.
4. Redigir uma lista, feita pelo grupo em comum, das aplicações
deste capítulo ao programa de educação na igreja local.

40
Capítulo 5
MOVIMENTOS E INSTITUIÇÕES ANTES
DA REFORMA

Introdução
Com base no capítulo anterior, pudemos verificar que a igreja primi­
tiva não apresentava uma estrutura organizada, nem mesmo se
identificava muito com o treinamento formal dos novos convertidos. Mas,
à medida que a igreja se separava mais e mais do judaísmo e desenvolvia
sua própria identidade e características, surgiu a necessidade de desen­
volver um processo de ensino.
Enquanto o Império Romano se enfraquecia durante os pri­
meiros séculos, a igreja se fortalecia. Durante esse período, a igreja
experimentou vários métodos educacionais. Suas várias maneiras
de cumprir suas responsabilidades educacionais incluíam as escolas
de catecúmenos, para preparação dos convertidos ao batismo; as escolas
catequéticas, para instrução avançada; as escolas paroquiais, para
preparação do clero local; os mosteiros, para os que buscavam
uma alternativa de vida, e até universidades, para a educação
superior,
Cada um desses avanços merece nosso estudo e atenção. Mas antes
de considerá-los, devemos nos conscientizar do fato de que esses avanços
não aconteceram no vácuo. Havia muitas coisas no contexto do mundo
grego-romano que influenciaram a igreja no seu intento de educar-se.
Consideraremos algumas delas.

1 INFLUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO DA IGREJA


No crescimento e desenvolvimento da nova igreja começaram a
surgir entre os crentes pessoas muito importantes, intelectuais de formação
greco romana. No contexto cult ural da época predominavam a filosofia
e o intelectualismo. Quando a igreja passou a ter entre os seus membros
pessoas de tal formação, tornou-se difícil instruí-las com ensinamentos

41
simples. Havia diversas influências externas e internas, relacionadas com
o propósito da igreja de enfrentar confrontação deste problema. Consi­
deraremos algumas delas.
Intelectualismo
Nos primeiros séculos da era cristã, como havia acontecido antes,
o movimento intelectual foi a Paideia grega, isto è. 0 contexto grego da
cultura e os ideais rara a vida. Todoo mundo romano havia sido influen­
ciado pelo helenismo e, por isso mesmo, uma perspectiva filosófica grega
penetrava todas as fases da vida, especialmente entre certas classes sociais.
A igreja, portanto, tinha que preocupar-se com a vida intelectual do tempo,
se quisesse alcançar todas as classes sociais para Cristo, Corno resultado,
muitos dos mestres cristãos deste período (século II, III e IV) vieram
para a igreja com esta bagagem cultural e tentaram sintetizar a doutrina
cristã com os ideais filosóficos. Mais adiante voltaremos a esse tema.
Heresias e divisões
Outro fator decisivo no desenvolvimento da educação cristã nos
quatro primeiros séculos foram as diferenças doutrinárias entre os líderes,
que resultaram em heresias e divisões ou cismas. As controvérsias surgidas
na igreja concernentes à doutrina e à prática influenciaram tremenda­
mente o seu magistério. Tais controvérsias como o montanismo, arianismo
e adocionismo são exemplos desse tipo de influência. Ao encarar as here­
sias, a igreja começou a adotar novas normas doutrinárias. Da fé simples
que encontramos no Novo Testamento, as crenças da igreja passaram
a ser algo mais desenvolvido e organizado. Esse fato, combinado com
a separação da igreja cristã do judaísmo, criou a necessidade de informar
ao público as normas estabelecidas da nova fé. Surgiu assim, por conse
qüência, a necessidade de ensinar a fé dentro da igreja e ao mesmo tempo
a de educar de maneira geral a sociedade, para que não houvesse equí­
voco quanto ao significado do cristianismo.
Em muitos casos, o intelectualismo do dia e as heresias e cismas
se combinaram. Um dos elementos mais influentes da igreja primitiva,
por exemplo, foi o movimento intelectual pseudocristão chamado gnos-
ticismo (salvação a través do intelecto ou do conhecimento). A existência
de tais sistemas de pensamento forçou a igreja a desenvolver suas doutrinas
próprias para contestar as doutrinas erradas.
Os apologistas
Com o aparecimento desses problemas e influências, surgiu um
fenômeno educacional dentro da igreja que merece nossa atenção. No
42
segundo século apareceram os cristãos conhecidos na história como apoio
gistas. Esses homens chamaram a si a responsabilidade de delinear e
explicar a natureza filosófica e intelectual do cristianismo a uma cultura
pagã influenciada pelos elementos intelectuais da sociedade e da filosofia
helenistas. Em geral, os apologistas eram homens educados na cultura
clássica e reconhecidos como lideres da igreja. Os documentos que produ­
ziram defendiam a fé cristã das forças internas e externas que queriam
destruí-la. Fbdemos resumir os objetivos das apologias em dois pontos
bastante simples. Primeiro, tentaram negar as acusações feitas aos cristãos.
Segundo, tentaram conservar as doutrinas tradicionais que tinham vindo
da igreja neotestamentária. As apologias, portanto, eram documentos
teológicos, mas eram também documentos educativos, visto que propa­
gavam doutrinas corretas e negavam ensinamentos falsos.
O desenvolvimento da organização da igreja
Outro fator importante no desenvolvimento da educação cristã foi
o aparecimento de uma organização mais definida da igreja. Conside­
raremos dois aspectos da organização da igreja que afetaram muito a
educação.
Um tríplice ministério. No Novo Testamento encontramos três tipos
de ministério; 1) a função inspirada dos apóstolos, profetas e mestres;
2) os que dirigiam os cultos ou prestavam serviços especiais, como presi­
dentes presbileriais, diáconos e viúvas; 3) os responsáveis pela disciplina
e pela administração, os chamados presbíteros (deste grupo seriam nome
ados, logo, os bispos).
Na Didaché, encontramos um duplo ministério, que incluía: 1) os
ministros itinerantes e carismáticos (apóstolos, profetas, mestres), e 2)
os bispos residentes, eleitos pela congregação.
Ao fim do primeira século, quase todas as congregações tinham
um ancião que presidia a congregação e um grupo de diáconos que servia
em assuntos práticos. Aí pela metade do segundo século, o padrão era
mais o de um ministério triplice, composto de bispos, presbíteros e
diáconos. Isso quer dizer que, com muita probabilidade, a igreja havia
desenvolvido uma forma de governo que incluía um conselho de dire­
tores (presbíteros e diáconos), presidido por um bispo.
Ao fim do terceiro século, os bispos haviam-se destacado como
lideres. A comunidade cristã associava o bispo á figura de Cristo,
responsável por tudo o que acontecia na igreja. No quarto século, a igreja
mudou muito, porque se uniu ao Império Romano durante o reinado
deConstantino. A partir dai .começou a longa historiada estreita relação
entre a Igreja Católica Romana e o Estado.
43
O desenvolvimento do ministério e da organização da igreja tem
várias implicações para o progresso da educação cristã. O bispo era a
pessoa-chave no ensino, até que a igreja cresceu tanto que ele precisou
dedicar todo o seu tempo à administração. Os demais oficiais da igreja
só podiam ensinar por delegação do bispo. Os diáconos tinham mais poder
do que os presbíteros até o quarto século, servindo ao bispo na qualidade
de auxiliares. Provavelmente os diáconos ensinavam em conformidade
com sua capacidade de auxiliares do bispo. Os presbíteros quase nunca
ensinavam, pelo menos até ao quarto ou quinto séculos.
Havia outros ministros auxiliares ou subministros,comoas viúvas,
preletores, intérpretes e subdiáconos. A cargo deste último grupo, estavam
os catecúmenos (pessoas sendo preparadas para o batismo).
Aparentemente, portanto, na igreja dos primeiros séculos, havia
apenas duas pessoas ou dois grupos de pessoas capazes e autorizadas
a desempenhar as funções próprias da educação formal: bispos e subdiá­
conos. Quando a função da igreja começou a mudar no quarto século,
por conta da união com o Estado romano, as tarefas e responsabilidades
dos bispos aumentaram de tal modo que não podiam mais ensinar e admi
nistrar. Para melhorar a situação, os presbíteros foram comissionados
como pastores locais (com responsabilidades educacionais), enquanto que
os bispos ficaram apenas com o controle administrativo.
Sucessão apostólica. O fenômeno conhecido como sucessão apos
tólica tem a ver com a autoridade do clero para ensinar. Ao fim do segundo
século, a igreja contava com uma história a que podia recorrer para justi­
ficar a autoridade de seu ensino. Essa autoridade era reivindicada tanto
pela igreja de pensamento ortodoxo como pelos grupos heréticos e cismá­
ticos. É provável que a idéia de sucessão apostólica tenha começado
quando um grupo ou grupos heréticos (possivelmente os gnósticos)
alegaram haver recebido dos próprios apóstolos a autoridade para ensinar.
Como a igreja da ortodoxia achava que tais grupos estava errados, seu
único recurso era argumentar que havia recebido sua autoridade
para ensinar dos próprios apóstolos. Para sustentar seus argumentos, a
igreja traçava seus ensinamentos de um clérigo a outro, de geração a
geração, até chegar a um dos apóstolos de Cristo. Para confirmar essa
idéia, os historiadores eclesiásticos (Eusébio, por exemplo) incluíam em
seus relatos históricos uma linha sucessória, por nomes pessoais, desde
os apóstolos até os líderes eclesiásticos em cada cidade do Império onde
existia urria igreja cristã. O argumento da igreja reclamando sua apos-
tolicidade tinha o propósito de mostrar aos hereges e cismáticos
que na igreja nada se fazia a d hoc , isto é, por conta própria, sem
autoridade.
44
Como guardiães da doutrina, os bispos sabiam determinar o que
era verdade e o que não era. Pela sucessão apostólica, a igreja, através
de seus bispos, garantiu a legitimidade de sua doutrina. Gradualmente
essa autoridade era ratificada pelo rito da ordenação (autoridade passada
pelos bispos a um novo bispo, a fim de que tivesse legítima autoridade
como sacerdote, mestre e guardião da fé).
A importância de tudo isso para a educação cristã não pode ser
ignorada. Através deste processo, o clero se tornou o recipiente da sucessão
da autoridade apostólica. Fbrtanto, cada clérigo era possuidor do dom
da verdades que lhe conferia o direito de ensinar.
2 INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS
Nos quinze séculos que antecederam a Reforma Protestante, a
educação cristã passou por muitas fases. Vimos algumas das influências
dos primeiros quatro séculos na formação de um sistema educacional.
Agora concentraremos nosso estudo nos primeiros anos da vida da igreja,
para ver as várias etapas de desenvolvimento através das quais a igreja
passou.
Escolas de catecúmenos
Em todo o mundo greco-romano em que se encontrava a igreja
cristã, a educação era pagã. Todas as áreas do ensino, todas as
cerimônias educacionais, tudo que era ligado à instrução das crianças
romanas estava saturado da mitologia grega e romana. Assim, pois, as
crianças cristãs corriam o risco de aprender os dois sistemas edu­
cacionais — o cristão e o mitológico. Isso gerou um dilema para os
cristãos O único recurso de que dispunham para enfrentar o problema
era a educação doméstica e a instrução eclesiástica. Sentindo que
toda a educação deve relacionar-se com os ensinamentos cristãos
(o leitor se recorda de que toda a educação judaica era também
educação religiosa), a igreja começou a desenvolver um sistema
educacional.
A principio, a educação na igreja gentia tomou caráter semiformal,
em classes conhecidas como escolas de catecúmenos. O catecúmeno era
um novo convertido que precisava ser instruído em matéria de fé. (“Cate­
cúmeno” é derivado de uma palavra grega que significa instruir, fazer
ruído ao ouvido, instrução rudimentar). As escolas de catecúmenos eram
classes de aulas semiformais ministradas a tais pessoas, entre as quais
filhos de crentes, judeus adultos e gentios convertidos. Os mestres eram
os bispos, diáconos e subdiáconos.
45
Nas escolas de catecúmenos havia três niveis ou estágios de
estudo, dependendo do progresso do aluno. No primeiro nível se
encontravam os “ouvintes” — alunos aos quais era permitido assistir às
aulas. No segundo nível, os que “dobravam os joelhos” — osque ficavam
para um período de orações depois da saida dos ouvintes. O terceiro nível
se constituía de alunos que permaneciam após um longo período de
provas e começavam a se preparar para o batismo. Este sistema alcançou
seu ponto mais alto no quarto século, mas a partir de 450 começou o seu
declínio.
Escolas catequéíieas
Em meio ao desenvolvimento do intelectualismo, da organização
da igreja, e muito relacionada com tudo isso, reconheceu-se a
necessidade de se ter mais do que uma instrução elementar. Para
atender a esta necessidade, apareceram escolas para treinar os
cristãos ao mesmo nível intelectual dos seus críticos. Estas es­
colas vieram a ser as instituições de treinamento para lideres da
igreja.
A primeira e mais famosa escola catequética foi a de Alexan
dria, no norte da África. Esta escola foi fundada no ano de 179
por Panteno e oferecia uma combinação de aprendizagem e pensamento
filosófico gregos com as Escrituras. Seu objetivo era utilizar o
pensamento grego na interpretação das Escrituras e no treinamento de
lideres.
Existiam também outras escolas desse tipo em Antíoquia, Cesa-
réia, Edesa, Jerusalém, Cartagoe out ras cidades. Fbrsua função de treinar
lideres, as escolas catequéticas foram as precursoras das atuais instituições
de educação teológica que existem piara preparar o clero. Foi nestas escolas
que a fé e a doutrina cristã se estruturaram num sistema de pensamento.
Muitos dos grandes mestres da igreja, alguns dos quais vamos estudar
no próximo capítulo, foram influenciados por este sistema científico de
ensino.

Escolas catedrais ou episcopais


À medida que a igreja crescia, especialmente nas áreas urbanas,
e o clero se dividia em termos de suas funções ministeriais, algumas cidades
importantes se desenvolviam como sedes ou residências dos bispos admi­
nistrativos. O território administrado por um só bispo passou a ser
conhecido como bispado, e a igreja nessa cidade a ser conhecida como
46
catedral. As paróquias ao redor da cidade se relacionavam com esta cate­
dral. Por isso. as igrejas centrais se viam obrigadas a suprir clérigos para
estas paróquias (presbíteros) e tais ministros necessitavam de treinamento
para ocupar as funções eclesiásticas. Como resultado surgiram escolas
nas catedrais para o treinamento dos clérigos locais, Pt>r sua relação com
a catedral, estas escolas eram conhecidas como escolas catedrais ou epis­
copais (do bispado).
No quarto século, estas escolas já haviam alcançado um bom nível
de organização. Quando a igreja foi oficialmente reconhecida pelo Estado
e depois quando a ele se uniu, as escolas pagás desapareceram, e as escolas
catedrais se tornaram as instituições educacionais mais importantes no
mundo ocidental. No século VI. até meninos destinados ao ministério
já freqüentavam as escolas episcopais.
A partir do sexto século, parece que a natureza das escolas epis­
copais começa a mudar. Segundo os historiadores, a escola catedral foi
a “mãe” das escolas primárias, que aparecem pela primeira vez naquele
.século. O currículo destas escolas primárias bem simples abrangia a leitura,
escrita, música, matemática, prática religiosa e regras de conduta. Do
sexto ao décimo século, as escolas catedrais existiam ao lado das escolas
monásticas, que logo discutiremos, mas nos séculos XI e Xll as escolas
catedrais surgiram como a instituição educacional mais importante.
O que de melhor havia nestas escolas contribuiu para o desenvol­
vimento das universidades na parte final da Idade Média. Quando as
escolas episcopais cresciam muito, os bispos designavam chanceleres,
como supervisores dos mestres. Assim, um pouco afastados da direção
imediata da igreja, professores e alunos tinham mais autonomia e se
organizavam em grémios. Depois de algum tempo, o termo “'grêmio” foi
mudado para universitas, e aplicado às faculdades e corpos discentes
dessas escolas.
Monasti cismo
Nos primeiros séculos, a igreja crescia, expandia-se e se tornava
cada vez mais poderosa e. também, cada vez mais politica. A igreja se
transformou num Estado hierárquico dentro do Estado romano, e os
oficiais eclesiásticos assumiram mais autoridade política. Devido a estes
acontecimentos, muita gente se desiludiu. Estas pessoas achavam que
os cristãos e a igreja deveriam ter-se mantido separados do mundo,
como no inicio de sua história. Buscavam um meio de retornar a essa
vida separada, para meditação e estudo pessoal. Estas pessoas ficaram
conhecidas como monges.
47
O primeiro mosteiro foi fundado no Egito, no ano de 330. A idéia
foi adotada em outros lugares em poucos anos. e, ao chegar a Idade Média,
o monasticismo havia-se tornado um sistema educacional próprio denlro
da igreja.
Os regulamentosa que os monges estavam sujeitos incluíam leitura
e estudo como parte da atividade diária. Tais regulamentos facilitaram
o caminho para o estabelecimento de um sistema de educação monás
tica. Como resultado, surgiram dois tipos de escolas monásticas. Num
deles os monges ensinavam os meninos destinados a entrar logo na ordem.
O outro tipo aceitava qualquer criança que se desejasse que fosse educada
num sistema de disciplina rígido, jejum e oração.
O ponto importante para nosso estudo é o seguinte. Nas escolas
monásticas ensinava-se as crianças a ler. Para ter o que ler, os noviços
copiavam os manuscritos da igreja primitiva e obras da literatura romana
antiga. Desse modo a literatura bíblica, histórica e secular foi preservada
para a posteridade. Seria errado pensar que o ensino bíblico era priori­
tário nestas escolas. Mas, pelo menos, elas conservaram o ensino e
serviram como terço dos líderes literários, educacionais e teológicos do
período.

Conclusão
Todos esses movimentos foram relativamente fracos. A educação
secular em geral, com suas influências gregas e romanas, era, em tese,
mais forte que a educação cristã, e a esta influenciou bastante. Quando
o Império Romano começou a desintegrar-se (século V), com ele caiu
também o ensino e o conhecimento. As primeiras instituições que estu­
damos — escolas de catecúmenos, escolas catequéticas, escolas episcopais
ou catedrais — sofreram muito. A igreja pôde manter viva a educação,
mas, como o resto do mundo, a igreja sofreu estagnação. Os historia­
dores são unânimes em afirmar que a igreja foi a única instituição estável
que permaneceu no mundo romano quando o Império se desfez.
Durante a Idade Média, a idade da ignorância, havia escolas, muitas
delas mantidas pela igreja. Mas as massas permaneciam ignorantes e
analfabetas. Havia muita ignorância quanto à Bíblia, e o próprio clero
não sabia bem o que estava fazendo.
Alguns dariam um triste epíteto à educação cristã da segunda
metade do período que discutimos neste capítulo. Diriam que a igreja
48
propagava a educação religiosa, mas não a educação cristã. Segundo Eavey
havia "bastante da igreja, mas pouco de Deus"
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Qual o problema que a igreja enfrentou quando recebeu como
membros pessoas de formação cultural greco-romana?
2. Descreva a relação ou influência do helenismo no desenvolvimento
da educação cristã.
3. Obtenha informação sobre duas heresias existentes na igreja antes
do Concílio de Nicéia. Identifique as falsas doutrinas e diga o que
a igreja fez para refutá-las.
4. Qual o conteúdo essencial das apologias?
5. Em sua opinião, as heresias ou cismas representaram um fator posi­
tivo ou negativo no desenvolvimento da educação cristã? Justifique
sua resposta.
6. Em que consistiu o valor educacional das apologias?
7. Mencione três tipos de ministério, segundo o Novo Testamento.
8. Mencione dois tipos de ministério, segundo a Didaché.
9. Descreva brevemente o desenvolvimento de um tríplice ministério
na igreja e em que sentido afetou a educação cristã.
10. Em sua opinião, quais poderiam ter sido alguns dos problemas apre
sentados à igreja pela educação grega e romana saturada de
mitologia?
11. Que acontecimento do quarto século mudou o futuro da igreja em
todos os aspectos, inclusive o educacional?
12. Mencione algumas implicações para a educação cristã resultantes
do desenvolvimento do ministério e da organização da igreja.
13. Que relação existe entre ordenação e sucessão apostólica? O que
significa esta relação para a educação cristã?
14. Qual o dilema da igreja, que ensejou o desenvolvimento das escolas
de eatecúmenos?
15. Qual a instituição do segundo sécuto que foi a antecessora das insti­
tuições teológicas de hoje?
16. O que significa “sistema cientifico de instrução”?
17. Descreva brevemente o desenvolvimento da educação superior
(universidade).
18. Que aspecto do desenvolvimento da igreja ensejou o aparecimento
do monasticismo?
49
Temas para discussão
1. Quanto ao ensino da igreja local contemporânea, quem tem auto­
ridade para ensinar? De onde vem essa autoridade? Deve haver um
controle quanto ao que se ensina na igreja? Em caso afirmativo,
como deve ser feito esse controle?
2. Até que ponto a igreja contemporânea deve permitir que a educação
secular e outras coisas do mundo influenciem o programa de
educação cristã? Quais seriam algumas das influências positivas
da educação secular para a educação cristã? E influências negativas?
Outros elementos não-educacionais positivos? E negativos?
3. Qual a semelhança entre o sistema das escolas catedrais com os
seguintes conceitos atuais?
a) Um sistema de multiplicação eclesiástica, com a criaçâode anexos
ou pontos missionários apoiados por uma igreja mãe.
b) Educação teológica por extensão ou correspondência.
c) Seminários teológicos.

50
Capítulo 6
PESSOAS IMPORTANTES
ANTES DA REFORMA

Introdução
Nos primeiros séculos, bem como através de todos os tempos, sempre
houve pessoas que se sobressaíram em seu esforço de propagar o evan
gelho e expandir o ensino e a influência da igreja. Ao estudioso dos
fundamentos históricos da educação cristã será útil pensar nas grandes
personagens da história cuja contribuição no desenvolvimento da
educação cristã deixou uma impressão vasta e duradoura.
Num estudo como este que estamos apresentando não seria possível
mencionar todos os homens cujas vidas influenciaram a história da
educação. Na primeira parte deste capítulo consideraremos algumas
pessoas e suas contribuições como representantes dos quatro primeiros
séculos. Depois veremos em forma mais detalhada três personagens muito
importantes no período seguinte; um foi o pai da igreja mais destacado,
e os outros são representantes dos educadores da Idade Média.
1 PAIS DA IGREJA
Justino Mártir (100—165)
Justino havia sido mestre e filósofo grego antes de converter-se,
e continuou sua profissão depois de convertido. Sua influência educa­
cional se prende à ênfase que deu à natureza filosófica do cristianismo.
Ensinou que o cristianismo se encontrava latente na filosofia grega, e
que através de Cristo ele, como filósofo, havia chegado à filosofia perfeita.
Justino foi um dos apologistas mencionados no capítulo anterior. Muitos
estudiosos o consideram o principal apologista da igreja primitiva. Suas
apologias esclareceram assuntos doutrinários e éticos, e nos dão um
exemplo de como os cristãos primitivos, influenciados pelo helenismo,
interpretavam as Escrituras.
51
Irineu (140-200)
Irineu foi bispo de Lião na Gália. Traçava sua sucessão apostólica
até o apóstolo João, através de Pblicarpo. Irineu acreditava que o ensino
era a ferramenta própria para edificar uma igreja forte. Talvez sua maior
contribuição à educação eclesiástica tenha sido os cinco volumes que
escreveu para refutar o gnosticismo.
Clemente de Alexandria (160—215)
Tito Flávio Clemente foi sucessor de Panteno na escola catequé-
tica de Alexandria. Clemente também foi muito influenciado pela
filosofia grega, que considerava "uma boa preparação para o avanço do
evangelho” (Latourette). Acreditava que o cristão devia aproveitar rodas
as oportunidades de aprender, seja qual fosse o ramo do conhecimento
humano. De todos os seus escritos, os que mais se relacionaram com
a educação são Paidâgogos ('instrutor”), no qual se fala sobre o compor
tamento que o cristão deve demonstrar, e Stromateis “(Miscelâneas”),
que é um trabalho de educação avançada.
Tertuliano (160—220)
A posição de Tertuliano sobre a filosofia representa o oposto da
opinião dos pais da igreja até aqui mencionados. Tertuliano se opunha
fortemente ao uso da filosofia nas discussões teológicas. Gangel e Benson
identificaram três temas dominantes nos escritos de Tert uliano: a atitude
do cristianismo perante o Estado romano e a sociedade romana; defesa
da teologia ortodoxa contra as heresias; e a conduta moral dos cristãos.
Em seus escritos, Tertuliano é muito rígido e inflexível quanto á boa
conduta moral e sobre algumas práticas dentro da igreja, tais como a
disciplina, o jejum e o segundo matrimônio.
Talvez a maior contribuição de Tertuliano à educação tenha sido
a quantidade de escritos que deixou à igreja para uso de seus sucessores
e para teólogos de futuras gerações.
Orígenes (185—254)
Orígenes foi discipulo de Clemente de Alexandria e seu sucessor
como diretor da escola daquela cidade. Sua formação era diferente
daquela dos pais até aqui estudados, visto que era cristão de segunda
geração. Sua família era cristã, e seu pai foi professor de uma escola
secular.
Com seu pai aprendeu a valorizar a educação grega, e achava que
era compatível com a doutrina cristã. Suas contribuições à educação
52
cristã consistem de sua notável erudição e de seus escritos teológicos,
que dominaram a erudição eclesiástica durante os séculos III e IV.
Jerônimo (345—419)
Jerônimo participava freqüentemente de debates nos quais salien­
tava os objetivos morais e ascéticos da educação. Essa ênfase tinha por
objetivo refutar a tendência de mostrar interesse pelas necessidades
humanas. Os ensinos de Jerônimo exerceram grande influência nas
escolas monásticas.
As duas principais contribuições de Jerônimo à educação cristã
foram: 1) sua tradução latina das Escrituras (Vulgata), e 2) sua ênfase
sobre a igualdade do homem perante Deus. Esta última contribuição
preparou o caminho para a futura adoção do princípio da educação
universal.
2. AGOSTINHO DE HIPONA (354-430)
Vida
Aurélio Agostinho, bispo de Hipona (África), é consideradoo mais
ilustre de todos os pais da igreja. Nascido de pai pagão e de mãe cristã,
recebeu excelente educação. Antes de converter-se ao cristianismo, Agos
tinho ensinou retórica em Cartago, Roma e Milão. Pór dez anos seguiu
as doutrinas heréticas do maniqueismo, um sincretismo religioso que se
apresentava como destacado competidor do cristianismo. Converteu-se
durante um período traumático de reflexão sobre sua vida passada.
Passou três anos de estudo solitário (386-389), e dedicou o resto de sua
vida ao ministério na região norte da África.
Contribuição à educação cristã
Agostinho escreveu muitas obras, e suas principais contribuições
à educação são os conceitos encontrados em seus escritos,
Educação cristã é um manual de instrução para clérigos e leigos,
composto de quatro tomos. Os três primeiros oferecem uma base filo­
sófica para a interpretação das Escrituras, e o quarto tomo trata de
técnicas de ensina A importância pedagógica deste manual pode ser vista
no uso que teve durante vários séculos como tratado clássico de peda­
gogia. O elemento-chave desse tratado é o ensino de que toda verdade
é a verdade de Deus. Fora disso não há verdade. Esta é a idéia que enri
queceu em sua totalidade o conceito de educação cristã.
Outra obra, A instrução para os não instruídos, é um manual que
trata da metodologia do professor cristão em sua tarefa de instruir os
53
candidatos ao batismo, Contém auxilio para o professor sobre os prin­
cípios da pedagogia.
Outro trabalho de Agostinho que tem valor para a educação é
Interpretação literal do Gênesis. Nesta obra fica evidente que o conceito
de vontade ocupa lugar saliente em sua teoria educacional.
Agostinho, como outros educadores cristãos já apresentados, pro­
curava conciliar a filosofia com o cristianismo. A sintese do platonismo
com o cristianismo que Agostinho produziu lhe deu um conceito muiío
interessante sobre o que significa ensinar. Demonstrou profundo respeito
ao intelecto e também à singularidade da pessoa humana do aluno.
Considerou que a responsabilidade do professor é estimular e encorajar,
etn vez de uma atitude autoritária. Parte integrante de sua crença era
o conceito de que o mestre cristão devia ser modelo. Como Jesus e Pa ulo.
Agostinho acreditava que o mestre deve possuir qualidades que os
alunos possam observar e seguir.
A influência de Agostinho foi ampla, profunda e duradoura. Sua
presença na história serviu como elo entre dois períodos da história da
igreja. “Agostinho foi o canal através do qual a filosofia grega fluiu para
a Idade Média" (Gangel e Benson).
3. ALCUÍNO (735—804)
No intervalo entre o período de Agostinho e última parte da
Idade Média, a educação cristã e mesmo a secular sofreram muito. Neste
período de decadência educacional encontram se poucas personalidades
de destaque no campo da educação. Algumas pessoas como Columbano
da Irlanda e Bonifácio, apóstolo dos alemães, contribuíram significati­
vamente para o desenvolvimento da educação cristã. Mas talvez o
personagem mais importante deste período tenha sido Alcuino, educador
responsável pelo treinamento do clero e do pessoal administrativo no
reino de Carlos Magno. Para esse treinamento, Alcuino desenvolveu um
currículo baseado nas sete artes liberais, derivadas da educação romana
(gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, astronomia e mú­
sica). Desde a época romana, estes estudos eram agrupados, os' três
primeiros formando o trivium e os quatro últimos formando o quadri
vium. Além disso, Alcuino sugeriu a Carlos Magno que todas as crianças
deviam aprender a escrever, aritmética, música, leitura e a gramática latina.
A importância de Alcuino para o estudo dos fundamentos histó­
ricos da educação cristã é que as reformas educacionais e eclesiásticas du­
rante sua administração e o reino de Carlos Magno deram força à igreja
e à cultura para se manterem durante os anos de trevas que se seguiram.
54
4 TOMÁS DE AQUINO (1225—1274)
Para entender como Tomás de Aquino se enquadra no esquema
da história, é mister entender algo do seu contexto histórico no que se
refere à educação. O movimento educacional que o afetou e que por ele
foi influenciado se chamava escolasticismo.
6 scolasticismo
Podemos dizer, de modo simples, que o objetivo do escolasticismo
era apresentar uma ligação entre a fé e a razão. Os escolásticos assu­
miram a tarefa de promover uma estrutura filosófica suficientemente
forte para vencer qualquer dúvida que pudesse ser levantada quanto à
fé cristã. Queriam demonstrar a um mundo cheio de dúvidas que não
existe antagonismo entre a fé e a razão; que são perfeitamente com­
patíveis.
Do século IX ao século XII, as obras de Platão influenciaram
muito este movimento. Mas no século XII as obras de Aristóteles foram
redescobertas e seus ensinamentos foram aplicados ao sistema escolás­
tico. Segundo Gangel e Benson, o escolasticismo tinha um tríplice
propósito educacional; 1) desenvolver a habilidade de organizar as crenças
num sistema lógico, com argumentos defensivos; 2) sistematizar o conhe
cimento, e 3) prover um processo de proposições e silogismos para ajudar
o indivíduo a aprender o conhecimento sistematizado.
Tomás de Aquino
O escolasticismo era a moda educacional quando Tomás entrou
em cena. A igreja estava preocupada com as contradições entre o dogma
eclesiástico e os resultados do pensamento racional, segundo os ensinos
de Aristóteles. Tomás de Aquino, o escolástico mais importante, dedicou-
se à tarefa de conciliar o pensamento de Aristóteles com os ensina­
mentos da igreja. Queria harmonizar o cristianismo com a ciência e a
civilização. Quer dizer, Tomás de Aquino tentou descobrir ou criar uma
aliança entre a fé e a razão. Para alcançar seu objetivo, teve que recon­
ciliar o dogma da igreja (para ele isto era fé) com os ensinos de Aris­
tóteles (como representante da razão). O resultado de seu trabalho foi
a Suma Teológica, considerada até hoje como a exposição autorizada
da ieologia da Igreja Católica Romana. Com Tomás de Aquino, o esco­
lasticismo deu ânimo ao estudo da teologia e conservou o interesse nos
assuntos intelectuais,
55
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda âs seguintes perguntas:
1. Mencione seis país da igreja que exerceram influência sobre a
educação cristã (antes de Agostinho).
2. Quais sâo os três temas dominantes dos escritos de Tertuliano?
3. Que acha você da crença de Justino segundo a qual o cristianismo
é a filosofia perfeita?
4. Procure encontrar informação específica sobre as influências helé­
nicas na educação.
5. Em que sentido foi a filosofia grega “uma boa preparação para o
avanço do evangelho'?
6. Se você fosse um cristão vivendo ai pelo ano 200 depois de Cristo,
seguiria os ensinos de Clemente de Alexandria ou os de lèrtuliano?
Por quê?
7. Qual o vaior de ter tantos escritos produzidos há tanto tempo?
8. Definir paidagogos e stromaíeis.
9. Qual a relação entre os ensinamentos de Jerônimo e a educação
universal?
10. Descreva a filosofia pedagógica de Agostinho.
11. Quem foi Carlos Magno, e que tinha a ver com a educação cristã?
12. Descreva a contribuição de Alcuíno para a educação cristã.
13. Que evento do século XIII afetou profundamente o movimento
chamado escotasticismo?
14. Descreva, em suas próprias palavras, os três objetivos educacionais
do escolasticismo.
15. Qual a origem do escolasticismo?
Temas para discussão
1. Depois de uma boa explicação do escolasticismo, discutir a neces­
sidade de harmonizar a fé e a razão.
2. Há princípios educacionais, tanto positivos como negativos, que
podemos extrair do resumo feito das vidas de alguns personagens
da história? Quais? Como nos afetam pessoalmente? Como afetam
o programa de educação cristã de sua igreja?
3. Quais são algumas das influências culturais que afetam as pessoas
que hoje servem como mestres “eruditos”, autores e professores?
Quais são as forças culturais que afetam o ensino da escola bíblica,
domingo após domingo? Se há influências negativas, que se pode
fazer para corrigi-las?

56
Capítulo 7
MOVIMENTOS E PESSOAS IMPORTANTES
DURANTE O PERÍODO
DO RENASCIMENTO E DA REFORMA

1. O AMBIENTE
Características do Renascimento
Durante os séculos XIV a XVI, passou a Europa por muitas
mudanças revolucionárias. Entre elas, mudanças econômicas, politicas,
intelectuais e religiosas, As mudanças econômicas se deveram aos prin­
cípios de uma revolução industrial que sacudiu a Europa. A naciona
tizaçâode países da Europa foi a causa de mudanças políticas. Mudanças
religic.as dentro e fora da igreja romana assumiram a forma da Reforma
Protestante e da Contra-Reforma dentro da Igreja Católica. As mudanças
intelectuais ficaram conhecidas na história como Renascimento, e é delas
que nos ocupamos agora.
A época do Renascimento, período de renovação cultural e huma
nismo, caracterizou se por um espirito predominantemente secular. O
espírito secular não representava necessariamente uma tendência ao
ateísmo. Representava mais um esquecimento de Deus, ou, pelo menos,
uma mudança de prioridades, A atenção do homem foi posta mais em
si mesmo e em sua prosperidade do que em Deus. Houve uma nova ênfase
sobre a fruição da vida, na satisfação pessoal, nas aquisições que a nova
riqueza tornava possível. Nas palavras de Gangel e Benson, o Renas­
cimento foi uma época em que “o homem e o seu mundo, e não Deus
e seu céu, tornaram-se o centro do interesse humano”
Outra característica do Renascimento, muito relacionada com o
espírito secular, foi o individualismo. Com a desintegração do sistema
feudal, criaram-se novas carreiras profissionais, e muitas oportunidades,
antes reservadas apenas à nobreza, ficaram ao alcance do homem comum,
O aparecimento do capitalismo tornou possível às classes baixas a
mudança de posição social. Todas essas mudanças prepararam o caminho
57
para o aparecimento do que se convencionou chamar de "homem renas
eido’' — um novo tipo de pessoa aficionada aos esportes, à música, á
literatura e ã ciência — o homem ''total". Era esse tipo de pessoa que
a educação cristã devia atingir.
A resposta da educação cristã
O escolasticismo (capitulo 6) produziu novos pensamentos sobre
Deus e, até certo ponto, tornou claro que o propósito do homem era glori­
ficar a Deus. Mas os líderes do Renascimento, isto é, os intelectuais da
renovação cultural da Europa, encaravam o objetivo por excelência da
vida humana de outra maneira. Para eles, os propósitos do homem eram
glorificar a vida humana e o deleite do homem em seu próprio mundo.
Com uma nova classe média, uma nova posição para a mulher, um novo
materialismo, a invenção da imprensa, e muitas outras coisas, o homem
se tornou mais otimista e confiou mais do que nunca em sua própria
capacidade. Todos os aspectos da vida — a arte, a arquitetura, a litera­
tura, a ciência, a educação — foram afetados por esses fatores. Nosso
interesse aqui, é claro, limita-se à educação.
A educação cristã teve que reagir fortemente para que a igreja,
por mais frágil que fosse, não perdesse sua influência no mundo. O hunia
nismo cristão, resultante da combinação de forças e fatores do
Renascimento, apresentou várias facetas. Consideraremos algumas delas.
Gerardo Groote (1340-1384) é um nome importante para nosso
estudo da educação durante o Renascimento. Groote, advogado, teólogo
e erudito clássico, foi o fundador do movimento chamado Irmãos da Vida
Comum, um grupo evangélico e piedoso. Groote foi um individuo místico
e pregador de avivamento espiritual. Exerceu influência sobre muitas
pessoas, que deixaram a mundanidade das mudanças predominantes
naquela era e passaram a viver uma vida de santidade. As pessoas que
atenderam à pregação de Groote se organizavam em comunidades como
forma de refúgio do mundo. As comunidades se chamavam casas, e nelas
vivia todo tipo de gente. Os membros de uma casa, de qualquer classe
social profissão, trabalhavam juntos, mantinham-se juntos, ajudando os
pobres e ensinando as crianças. Segundo Eavey, "o propósito de seu
trabalho era dar ênfase ao viver cristão nos moldes primitivos" Acre­
ditavam que a vida devia refletir de forma cuidadosa os princípios
ensinados na Bíblia. Mesmo sem deixar a Igreja Católica, ensinavam
os seguidores a ler a Bíblia por si mesmos e pregavam e ensinavam no
idioma vernáculo e não no latim tradicional.
O valor educacional dos Irmãos é múltiplo. Corrigiram a Vulgata,
a Biblia da Igreja Católica. Traduziram a Bíblia para o holandês, sua língua
58
vernácula. Escreveram, traduziram e espalharam porções da Bíblia, livros
didáticos e literatura religiosa, tornando possível o acesso das massas
à literatura cristã. Groote viu nas crianças o futuro da igreja e encorajou
seus seguidores a ensinar nas escolas. A partir de 1450, muitos Irmãos
se tornaram professores das escolas públicas, combinando suas doutrinas
e práticas com a educação secular.
Os Irmãos da Vida Comum exerceram mais influência sobre a
educação do que qualquer outro grupo durante o período do Renasci­
mento e da Reforma. Sua influência se fez sentir através da Reforma,
e até depois, em outros movimentos que vamos estudar. Além de Gerardo
Groote, há outros nomes importantes associados aos Irmãos. João Ceie,
por exemplo, introduziu a idéia de ensinar a Bíblia não somente aos
domingos, mas, também, todos os dias da semana. Ensinava todos os
dias ensinava o Novo Testamento (em lugar do catecismo), na esperança
de que seus alunos aprendessem a ser imitadores de Cristo. Ensinava
também que as orações deviam ser feitas tanto no vernáculo como ern
latim. Outro nome importante é Thomas á Kempis, presumível autor
da Imitação de Cristo, livro devociona! de renome e que reflete o espírito
da sociedade dos Irmãos da Vida Comum.
Talvez a personagem mais importante que saiu das fileiras dos
Irmaos tenha sido Erasmo, “o mais famoso de todos os humanistas e
um dos homens mais influentes de todos os tempos" (Ely). Wich o elogiou
dizendo: “Poucos homens moldaram a educação européia de maneira
tão decisiva como Erasmo. Estimulou um melhor método de ensino e
uma atitude mais tolerante e simpática para com o aluno, e imbuiu os
estudos clássicos com espírito de exatidão, crítica histórica e perspectiva
internacional. Tudo isto permitiu que a filosofia antiga dominasse a huma
nidade até princípios do século XIX.”
Erasmo foi uma voz decisiva no intento de conciliar a fé com a
razão. Mas, ao contrário de outros educadores na tradição de Tomás de
Aquíno, seu antecessor, Erasmo criticou abertamente a Igreja romana.
Nunca rompeu com a Igreja Católica, mas as críticas que fez à sua Bíblia
(Vulgata) foram notáveis. Sua permanência na Igreja apesar de suas diver­
gências é o que o distingue de seu contemporâneo e amigo Martinho
Lutero. As críticas de Erasmo à Igreja romana se estendiam ás igrejas
evangélicas, especialmente quanto à falta de instrução de muitos pastores.
No sentido educacional e filosófico, Erasmo acreditava que o
homem é basicamente bom (uma característica de todos os humanistas),
e, portanto, devia desenvolver suas potencialidades intelectuais. Enquanto
muitos dos movimentos religiosos enfatizavam a depravação do homem,
Erasmo insistia no oposto. A educação que sugeria para o desenvolvi
59
mento do homem abrangia o estudo das obras clássicas, os escritos dos
pais da igreja e a Bíblia. Seu conceito da metodologia que os mestres
deviam usar é uma das maiores influências que deixou para a educação.
Acreditava que a natureza do aluno é muito importante, e que oseu desen­
volvimento é a chave da educação. Portanto, a tarefa do mestre não é
demonstrar sua própria erudição, mas, sim, a de ajudar seus alunos. Além
disso, sua influência principal talvez tenha sido sua ênfase na necessi
dade de um treinamento sistemático dos professores.
Precursores da Reforma
Antes da Reforma, geralmente associada ao trabalho de Martinho
Lutero, houve homens e grupos reformistas que exerceram influência
sobre a educação cristâ. Mencionaremos alguns deles.
1. Os valdenses, da Suíça e da Itália, protestavam silenciosamente
e ensinavam unicamente as Escrituras através dos séculos. Deste grupo
procederam os três personagens que mencionaremos a seguir.
2. John Wycliffe (1330— 1384), da Inglaterra, foi chamado de
“Es'trela matutina da Reforma”. Ele foi o lider de um grupo semimilitante,
os lolardos, e criticou muitas práticas e doutrinas da Igreja Católica, tais
como a transubstanciaçào, as orações pelos mortos, a adoração dos santos
e outros. As maiores influências educacionais do grupo foram duas 1)
ensinaram somente a Bíblia, desprezando as tradições da Igreja, e 2) produ­
ziram uma nova literatura, que chamaram de ‘'tratados".
3. Jan Hus (1372—1415), da Boêmia, foi o fundador dos husitas,
um grupo que traduziu a Bíblia para o vernáculo e desenvolveu um sistema
de escolas, inclusive uma universidade, para promover a prática do cristia­
nismo. A vida de Hus, sua condenação e morte nas mãos da Igreja,
influenciou muito Martinho Lutero.
4. Um mártir italiano, GirolamoSavonarola (1452—1498) é mencio­
nado por Gangel e Benson como figura influente antes da Reforma, por
sua pregação do púlpito católico, em que clamava por um retorno à vida
cristã baseada na Bíblia.
Todas as pessoas e todos os movimentos mencionados até agora
apareceram por influência do Renascimento. O Renascimento foi basi­
camente um movimento cultural, enquanto que a Reforma que o seguiu
foi um movimento teológico. Na verdade, é difícil separar as duas coisas.
Para quem encara o assunto do ponto de vista religioso e educacional,
o humanismo e o teísmo são inseparáveis.
60
2 A REFORMA
Nesta parte do capitulo nos ocuparemos de algumas pessoas cuja
influência no campo da educação decorre de suas atividades reformistas.
Visto que nosso estudo não é da história do cristianismo como tal, não
pretendemos analisar a Reforma senão nos aspectos que podem ajudar
o estudante de educação cristã. Para melhor compreensão desse período
da história, sugerimos a leitura de um livrode história de Igreja. Mencio­
naremos aqui algumas pessoas da maior importância na Reforma
Protestante e a contribuição de seu ministério para a educação.
Martinho Lutero (1483-1546)
A idéia que se tem de Lutero como reformador tende a obscurecer
seu valor no mundo da educação. No começo de seu desapontamento
com a igreja, Lutero, como seu contemporâneo Erasmo, não pretendia
separar-se da Igreja Romana. Promovia uma reforma interna. A amizade
entre os dois rompeu-se quando o in teresse evangelístico do teólogo Lutero
o conduziu além do humanismo do educador Erasmo.
Lutero acreditava que a educação estatal, subordinada à Igreja Cató­
lica, estava corrompendo a juventude com os elementos do escolasticismo,
que mesclava o estudo das obras clássicas com a Bíblia em vez de estudar
somente a Bíblia.
A educação que Lutero promovia se concentrava no lar, como ensina
claramente o Antigo Testamento. Todavia, ele entendia que o lar não
dispunha dos meios para cumprir satisfatoriamente sua missão. O Estado,
portanto, devia assumir a responsabilidade do ensino das crianças e os
pais deviam oferecer um ambiente doméstico que conduzisse à apren­
dizagem.
Além disso, desiludido com a Igreja Católica, Lutero achava
que o clero não tinha capacidade para oferecer boa instrução às
crianças. Neste caso, a educação devia ficar a cargo das autoridades do
Estado.
À semelhança de alguns de seus antecessores. Lutero achava que
a educação devia ser obrigatória para todos, para que todos pudessem
aprender a ler a Bíblia. O currículo que propunha incluía estudos bíblicos,
línguas, gramática, retórica, lógica, literatura, poesia, história, música,
matemática, educação física e estudos da natureza. De todos esses ternas,
sua ênfase sobre a música foi a principal característica de sua filosofia
da educação. Segundo Gangel e Benson, a música ocupava o segundo
lugar em importância, depois da teologia, na filosofia educacional de
Lutero.
61
Talvez a maior contribuição de Lutero à posteridade, no que se refere
à educação, tenha sido sua ênfase sobre a arte de ensinar e a importância
do mestre» Para ele a pregação e o ensino tinham quase o mesmo valor.
Um aspecto relevante para ele no processo ensino-aprendizagem era a
disciplina e a obediência combinadas com amor e moderação. Sua idéia
de disciplinar com amor, em parte, representa uma reação às práticas
dos mosteiros que usavam disciplina e castigos drásticos.
Philipp Melanchton (1497—1560)
Melanchton foi amigo e colega de Lutero. Foi presidente da Univer­
sidade de Wittenberg, e nessa posição exigiu que os professores ensinassem
de acordo com o Credo Apostólico, o Credo de Nicéia, o Credo de
Atanásio e a Confissão de Augsburgo. A adoção desses credos deu â
educação superior condição de ensinar a verdade baseada em princípios
bíblicos, sem receio das tendências modernas. Acima de tudo, os esforços
de Melanchton proporcionaram uma educação superior protestante, talvez
não em sua totalidade, mas pelo menos em seu sentido principal.
Ulrico Zwínglio (1484—1531)
Zwínglio, reformador suíço, foi um educador na tradição huma-
nística de Erasmo. Contribuiu muito para a Reforma ao escrever Breve
Introdução Cristã, na qual descreve a posição dos pastores da Reforma.
Sua história pessoal é muito interessante, mas deixamos seu relato aos
historiadores da igreja.
A maior contribuição educacional do ministério de Zwínglio foi
a fundação de um instituto teológico, o Prophezei. Nesse instituto, mestres
e alunos participavam juntos, como iguais e com respeito mútuo, na busca
da verdade.
João Caivino (1509—1564)
Calvino, outro reformador de renome e conhecido por suas
doutrinas da predestinação, depravação do homem e soberania de Deus,
deixou também contribuições à educação. Dentre elas salientamos as
seguintes: 1) Convocou a igreja a retornar à tarefa de ensinar às crianças.
2) Fundou a Academia de Genebra, que ensinava crianças e adultos.
3) Expôs uma filosofia que indicava que conhecimento e aprendizagem
não eram para satisfazer a curiosidade de ninguém, e sim para poder
ensinar a outras pessoas. Todos os seus alunos na universidade tinham
que fazer confissão de fé. porque Calvino achava não ser conveniente
ensinar a nâo-crentes. 4) Escreveu muitos tratados, catecismos e comen­
tários bíblicos.
62
John Knox (1505— 1572)

Knox, um dos fundadores do presbi teria nismo, fez, pelo menos,


as seguintes contribuições á educação: 1) Promoveu a idéia de que os
objetivos da educação são aprender a ler (para que se possa ler a Bíblia)
e treinar a juventude nas virtudes, preparando-a para ser útil ao mundo
e para glorificar a Cristo. 2) Estabeleceu um sistema nacional de educação
na Escócia, no qual a Bíblia era o tema principal nos três níveis —
primário, secundário e superior.
Inácio de Loyola <1491—1556)
Inácio de Loyola foi o fundador dos Jesuítas, ou seja. da Compa
nhia de Jesus, movimento integrante da Contra-ReformaCatólica. Tinha
algumas das mesmas preocupações dos reformadores protestantes, mas
queria que as mudanças se operassem dentro da Igreja Católica.
Acreditava que a Igreja Católica poderia cumprir melhor sua tarefa
através da educação teológica. O tema central das escolas jesuitas até
hoje é a auto-disciplina.
Os anabatistas
Este grupo de irmãos perseguidos não é reconhecido, geralmente,
como um grupo de educadores. Muitas denominações e grupos evan
gélicos, porém, encontram suas raízes em seus ensinos. O leitor que não
haja estudado o desenvolvimento deste grupo faria bem em conhecer
a herança que os anabatistas legaram a gerações posteriores. Gangel e
Benson os elogiam como educadores, e concordamos com eles: “É nossa
opinião que, embora tenham sido os principais líderes da Reforma que
nos deixaram os fundamentos da educação, foram os anabatistas que
nos ensinaram a viver como Cristo.” Que conceito é mais válido, a teoria
ou a prática?
Eavey resume a influência da Reforma sobre a educação cristã em
cinco pontos:
1. Tradução da Bíblia para idioma vernáculo, com ampla distri­
buição.
2. Avivamento da pregação bíblica e doutrinária.
3. Ensino da Bíblia entre as famílias.
4. Estabelecimento de escolas cristãs para a juventude.
5. Adoção da idéia de que toda educação é ou deve ser uma unidade
(uma mescla de conteúdo religioso e humanista).
63
3 EDUCADORES DO SÉCULO XVII
Durante o século seguinte após os principais movimentos da
Reforma Protestante, muitos foram os educadores influentes. Entre
eles havia crentes e nâo-crentes. Descartes, Locke e Spinoza são
alguns dos nomes associados à educação dessa época. Mas quem deixou
idéias e conceitos que influíram na educação cristã foi João Comênio
(1592-1670).
Comênio foi chamado de “o primeiro educador moderno" e de
“profeta da educação moderna”. Na opinião de muitos estudiosos da
educação, foi ele o primeiro educador que levou a sério o ofício de ensinar
como ciência. Por muitos anos seu trabalho foi quase esquecido, mas.
em anos recentes, seus esforços têm sido elogiados por educadores tanto
cristãos como seculares.
Comênio propunha um processo de integração na educação, quer
dizer, o ensino de todas as matérias como parte da verdade total de Deus,
Em termos filosóficos, sua posição era essencialista queria ensinar
o fundamental, sempre dando ênfase maior aos ideais e princípios cristãos.
Era a mesma posição da maioria das atuais escolas mantidas por igrejas
etou grupos paraeclesiásticos.
Por meio de sua educação essencialista, Comênio quena reformar
a sociedade. Sua perspectiva educacional se chamava pansofismo
(pansofia: ensinar tudo a todos). Segundo ele, a educação deve ser divi­
dida em quatro níveis: "a escola dos joelhos da mãe”; "a escola verná-
cuia"; "a escola de latim” (para alunos adiantados); e "escola de uníver
sidade e viagens”. Desse modo, seu conceito de educação nos leva a seis
axiomas quanto ás escolas. As escolas devem:
1. ser para todos;
2. ensinar tudo que torna uma pessoa sábia, piedosa e virtuosa;
3. dar uma educação completa ao indivíduo antes de ele chegar
à maturidade;
4. ser um ambiente agradável, sem castigo;
5. proporcionar uma educação completa, sem superficialidade;
6. ser accessiveis ou fáceis.
Comênio dividiu sua filosofia de educação em três idéias princi
pais: 1) Toda a raça humana deve ser educada; 2) Todos devem ser
educados em todas as coisas (harmonia, prudência, provisões para o futuro
etc) e 3) Todos devem ser educados em todos os aspectos. Segundo estas
idéias, Comênio nos leva à seguinte conclusão: se todos os homens apren­
dessem todas as coisas, todos seriam sábios e o mundo se encheria de
ordem, luz e paz.
64
4 PIETISMO
O pietismo foi um movimento que combinava as tendências místicas
e práticas nas igrejas luteranas e reformadas. Foi uma reação contra o
formalismo e a doutrina pura enfatizada pela igreja de pensamentos ono
doxo em favor da observância do espirito do evangelho e não da letra.
Podemos dizer que foi um movimento fundamental, combinando as
crenças dos htisitas, valdenses e Irmãos da Vida Cornum.
A crença central dos seguidores desse movimento foi a necessidade
de um retorno à Biblia. Além de propor esiudos bíblicos, auto-exame
continuo e dependência de Deus, observavam também práticas diárias
bastante conservadoras, como a proibição de danças, espetáculos, brin­
cadeiras, literatura secular, enfeites etc. Suas crenças combinavam a ên fase
de Lutero quanto ao estudo das Escrituras, à oração e à fé com a ênfase
de Calvino quanto ao comportamento puritano. Foram influenciados
também pelos trabalhos de Jonh Bunyan e Richard Baxter. Quando a
própria Reforma começou a praticar as reações de Lutero, este movi­
mento já contava com um grande número de igrejas e escolas (mais de
300 igrejas e 3 mil escolas, com cerca de 100 mil membros somente na
Boêmia).
O estudo deste movimento é importante para nós, porque seus segui
dores diziam haver ligação direta entre a teologia e a educação. Para eles.
o propósito da educação é honrar a Deus. Seus fithos foram ensinados
observando o exemplo dos pais, vivendo segundo princípios cristãos em
suas experiências cotidianas. Alguns dos seus membros merecem atenção
especial. Dentre eles, salientamos os seguintes:
Philipp Jacob Spener (1635—1705)
Speneré conhecido pela criação de grupos de renovação espiritual
que chamava de Collegia Pietates. O propósito desses grupos, que podemos
entender como antecessores da “igreja doméstica”, era a promoção de
companheirismo cristão e dos estudos bíblicos. De seu trabalho nos
Collegia Pietates podemos apontar as seguintes contribuições educacio­
nais:
I. Em 1675, publicou o livro Desejos Piedosos, em que advoga
a necessidade de reforma na Igreja Luterana, recentemente estabelecida.
Neste livro solícita, especificamente: 1) estudos bíblicos mais sérios; 2)
participação dos leigos no governo e administração da igreja, 3) um conhe­
cimento cristão prático e não apenas doutrinário; 4) simpatia para com
os irmãos que caíram em pecado, em vez de disciplina; 5) organização
da educação teológica, e 6) pregação prática em vez de retórica.
65
2. Deu ênfase à educação da juventude, reavivando a instrução
catequética.
3. Criticou a educação secular por lhe faltar o ensino da fé cristã
e da vida piedosa.
Augusto Hermann Franche (1663—1727)
Do ponto de vista educacional, Franche foi o pietista mais influente.
De acordo com seu ponto de vista, o maior problema da educação era
a falta de treinamento cristão tanto no lar como na escola. Não concor­
dava com os métodos de ensino de sua época, que consistiam basicamente
em memorização e recitação. Advogava, pelo contrário, a necessidade
de compreensão inteligente em vez de memorização e conhecimento
prático em lugar de mero verbalismo. Estas são algumas das suas contri
buições:
1. Dizia que suas idéias educacionais procediam de Deus e não
de pensamentos de outros homens.
2. Advogava que a santidade, e não o conhecimento, era o objetivo
principal da educação.
3. Ensinava que o viver prático cristão tem prioridade sobre a apren •
dizagem.
4. Dizia que o estudo é nece.ssário, mas a verdade se descobre através
da inspiração.
5. Salientava a utilidade e praticabilidade da educação. Insistia em
que tudo que se faz deve contribuir para a honra de Deus e o bem da
humanidade.
6. Acreditava que o individualismo era importante em educação,
quer dizer, o mestre devia conhecer bem cada aluno como indivíduo e
ensiná-lo a pensar por si mesmo.
Nikolaus Ludwig Von Zinzendorf (1700—1760)
Zinzendorf foi um conde evangélico alemão. Permitiu que grupos
evangélicos insatisfeitos com suas igrejas vivessem em sua propriedade.
Com essa atitude, Zinzendorf começou a formar colônias religiosas através
da Europa, onde os grupos residentes estudavam a Bíblia, oravam e desfru
tavam do companheirismo cristão. Na opinião de alguns estudiosos da
história, essas colônias foram precursoras da escola dominical.
Tais colônias enfatizavam a necessidade da obra missionária.
Criaram estreita relação entre educação e missões. Foram responsáveis
pelo envio de missionários pela Europa e às chamadas índias Ocidentais
(América).
66
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Descreva brevemente a condição da Europa durante os séculos X] V
a XVI.
2. Quais os fatores que contribuíram para o desenvolvimento do indi­
vidualismo no período do Renascimento?
3. Qual o sentido da palavra “casa” entre os Irmãos da Vida Comum?
4. Faça uma lista das contribuições dos Irmãos da Vida Comum.
5. Qual a sua opinião sobre os Irmãos da Vida Comum?
6. Descreva o “homem nascido de novo”.
7. Pbr que é importante que o estudante de educação cristã compre­
enda algo das condições eni que surge a idéia do “homem renas­
cido”?
8. Segundo Erasmo, qual a função do mestre?
9. Avalie as contribuições educacionais de Erasmo.
10. O que se entende por “humanismo”?
11. Que importância indireta tem o grupo chamado valdenses para a
história da educação cristã?
12. Mencione duas contribuições de John Wycliffe para a educação.
13. O que causou o rompimento da amizade entre Lutero e Erasmo?
14. Resuma algumas das contribuições educacionais de Lutero que pode­
riam ser aplicadas a seu próprio ministério de ensino.
15. Qual a importância do livro de Zwínglio, Bveve Introdução Cristã?
16. Identifique Prophezei, Pansofismo e CoIIegia Pietules.
17. Mencione três contribuições de Calvino à educação cristã.
18. Que entende por “integração tia educação” segundo Comênio?
19. Que relação existe entre Comênio e os educadores de hoje no que
se refere a escolas mantidas por igrejas ou grupos paraeclesiásticos?
20. Qual seria a síntese da educação proposta por Comênio?
21. Mencione os seis axiomas de Spener sobre o mundo eclesiástico-
-educacional.
22. Procure informações sobre: o Credo de Nicéia (Melanchtonl; Credo
de Atanásio (Melanchtonl; Confissão de Augsburgo(Melanchton):
John Bunyan (Pietismo); Richard Baxter (Pietísmol.
23. Em que sentido se poderia considerar Zinzendorf como fundador
da escola dominical?
67
Temas para discussão
1. Quais os conflitos que podem existir entre a filosofia educacional
de Franche e os sistemas, pedagogias e metodologias da educação
moderna? Há conflitos entre suas terorias e a educação cristã em
geral? E em sua igreja?
2. Que importância se deve dar ao individualismo em educação cristã?
3. Alguns pietistas deram muita ênfase à relação entre educação e obra
missionária. O movimento evangélico protestante mantém ênfase
saudável nesta área? Sua igreja local tem feito isso? Como? O que
especificamente sua igreja pode fazer para manter um melhor o
equilíbrio neste sentido?

68
Capítulo 8
A EDUCAÇÃO CRISTÃ NA AMÉRICA

Introdução

Quando os europeus começaram a colonizar o Novo Mundo, irou


xeram suas idéias e ideais educacionais para a América. Na América
do Norte, os protestantes e evangélicos dominaram a cena religiosa e
educacional, enquanto que na América do Sul a conquista ibérica trouxe
consigo o predomínio da Igreja Católica. Por causa da influência cató­
lica, a educação cristã, na forma que se conhece hoje nas igrejas
evangélicas da América Latina, não veio diretamente da Europa após
a Reforma, mas por meio de um desvio, que a levara primeiro à América
do Norte. Isso náoquer dizer que não houve influência evangélica euro­
péia na América Latina. Ftelo contrário, muitos dos primeiros missionários
evangélicos que chegaram ao continente sul-americano eram europeus.
Mas tudo indica que as influências educacionais se devem mais ao que
ocorrera na América do Norte. Portanto, é necessário entender algo da
história da educação nos Estados Unidos da América para seguir-se a
linha de transmissão à América Latina.
I CHEGADA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ À AMÉRICA DO NORTE
Antes de estudarmos a história da educação cristã nas colónias
norte americanas, há algo básico que devemos entender. Primeiro, como
os hebreus há tantos séculos, os colonizadores não faziam distinção entre
educação religiosa e educação secular. Quase todos os colonizadores eram
protestantes, e, devido às suas crenças religiosas, a razão principal de
ensinar a seus filhos a ler era para que pudessem ler a Biblia. Segundo,
os colonizadores, em sua maioria, saíram da Europa em busca de liber
dade religiosa. Isto criou um clima em que a educação cristã devia ter
oportunidade de desenvolver-se. Em terceiro lugar, ao emigrar da Europa
para o Novo Mundo, os grupos protestantes levaram consigo suas congre­
gações completas, o que oferecia base para o desenvolvimento da
educação. E, finalmente, no princípio, o ensino tomou a forma de instrução
69
congregacional através do púlpito. Mas isso mudou logo, e essas
mudanças são precisamente o tema que nos interessa nesta parte de nosso
estudo.
O desenvolvimento da educação cristã era regional, realizando-se
mais ou menos em três regiões — a Nova Inglaterra, as colônias centrais
e as colônias do Sul. Não é nosso propósito elaborar uma história deta
lhada do desenvolvimento da educação cristã nos Estados Unidos. Assim
sendo, apresentaremos essa história apenas em forma de esboço, consi
derando as três regiões.
Educação cristã na Nova Inglaterra
Basicamente, a educação nessa região do Norte seguia o purita
nismo calvinísta, tal como acontecia em todas as áreas da vida. A
compreensão desses colonizadores era de que toda a vida, tudo que se
fazia, estava sujeito à direção de Deus. Há três pontos principais que
devem ser conhecidos, no que se relaciona com a educação.
1. A importância do lar. Cada familia praticava o culto doméstico.
Os pais de família eram obrigados por lei a ensinar os preceitos divinos
aos filhos. Se um casal não cumpria seus deveres de ensinar adequada­
mente seus filhos, a comunidade se reservava o direito de separar deles
as crianças para que encontrassem meios de instrução correta e adequada.
Pbrtanto, os pais geralmente destinavam uma hora por semana aoensino
formal dos filhos. Alérn disso, ensinavam-lhes com o próprio exemplo,
passando bastante tempo junto a eles.
2. Nessa região desenvolveu-se também o sistema de aprendiz
mestre para o ensino de ofícios.
3. O estabelecimento de escolas. Fbr mais ideal que fosse o sistema
de educação das crianças no lar, não era suficiente. De tal modo que
começou a desenvolver se um sistema de escolas, abrangendo os segumtes
passos:
a. Escolas de dama. Uma mulher solteira, na comunidade, se oferecia
para ensinar os rudimentos da educação às crianças de todo o povoado,
por um pequeno salário. A principio isso se fez em base informal, mas
depois de 1647 tornou-se formai. Nesse ano criou-se legislação que obri­
gava cada povoado com mais de cinqüenta famílias a empregar uma dama
para ensinar as crianças. O propósito declarado de tal instrução era “que
Satanás não roube do homem o conhecimento das Escrituras". Em tal
sistema, os textos e o ensino tinham orientação espiritual.
b. Escolas de gramática, Predecessoras da escola secundária, as
escolas de gramatica tinham por objetivo principal preparar jovens para
o ministério.
70
c. Educação superior. Quando a educação católica na América do
Sul já contava com a Universidade de San Marcos, em Lima, Peru, e
quando essa universidade já contava com 85 anos de existência, os protes­
tantes da América do Norte fundaram sua primeira universidade. No
ano de 1636 era estabelecida a Universidade de Harvard, em Cambridge,
Massachusetts, com o propósito específico de preparar jovens para o
ministério. Os jovens, portanto, depois de receberem instrução por
intermédio de uma darna da comunidade e da escola de gramática,
tinham a oportunidade de receber educação superior para o ministério
evangélico.
Educação cristã nas colônias centrais
Nas colônias que ficavam mais ao sul da Nova Inglaterra, a
educação cristã apresentava outro aspecto. Na primeira região havia, um
espírito ecuménico, porque os colonizadores, em geral, eram calvinistas.
Mas na segunda região existiam vários grupos, que, embora evangélicos,
na maioria, refletiam diferentes experiências culturais européias. Certa
mente haviam trazido consigo suas doutrinas, teologias e práticas
peculiares, e por isso foi mais difícil ter um sistema tãocoordenado como
o da Nova Inglaterra.
Deste modo, não havia grande possibilidade de uma escola comum
para todos, nesta região. Pelo contrário, fundaram-se escolas paroquiais
que cada grupo ou denominação protestante oferecia a seus membros,
mantendo, assim, seu próprio sistema educacional.
Nesta região fundaram-se também instituições de nível superior.
Os presbiterianos organizaram a universidade de Princeton, em 1746,
e a Igreja Reformada fundou a Universidadede Rutgers, vinte anos depois.
A primeira Universidade dos Estados Unidos sem filiação religiosa foi
a Universidade de Pensilvâma 11755).
Educação cristã no sul
No sul, a vida era diferente. Enquanto que os que tinham vindo
para o norte e para o centro traziam consigo seus preceitos religiosos
que os orientavam em tudo, inclusive a educação, os que vieram para
o sul não tinham, propriamente, preocupações espirituais. Em geral, os
colonizadores sulinos não tinham emigrado para o Novo Mundo em busca
de liberdade religiosa, mas, sim, das riquezas oferecidas pelos recursos
naturais da região.
Assim sendo, os filhos dos ricos eram educados com a ajuda de
tutores no próprio lar ou em escolas particulares que não recebiam apoio
econômico nem da igreja nem do governo. A mentalidade predominante
era a de que os pobres não precisavam de educação, a não ser o estri­
tamente necessário para o exercício de sua profissão.
Mas o primeiro sistema educacional no sul foi o controlado
pela Igreja Anglicana (1634). Apesar de seus problemas filosóficos
quanto à educação, os sulinos fundaram a segunda universidade na
América do Norte. No ano de 1693 surgia a Universidade de William
e Mary, em Williamsburg, Virgínia, com um duplo propósito: preparar
a juventude para o ministério e providenciar bom treinamento para os
moços.
Vemos assim que as primeiras instituições de nível superior na
América do Norte foram instituições cristãs, fundadas para preparar o
clero evangélico.
Antes de prosseguirmos em nosso esboço da história da educação
até sua chegada á América Latina, vamos resumir os fatos. Até então,
quase toda a educação havia recebido orientação cristã. Tanto na Europa
como na América do Norte, a educação secular e a educação cristã se
desenvolveram juntas, quase inseparáveis. Mas, ao chegarem os séculos
XVII e XVIII, a ênfase cristã começou a desintegrar-se. Vários fatores
contribuíram para isso.
O avanço da ciência e as novas especulações intelectuais levaram
o homem a questionar sua fé e crettça nas coisas sobrenaturais. O conhe
cimento e o cristianismo começaram a separar-se, e surgiram grandes
pensadores como Descartes, Kant, Galileu, Leibniz e outros. As contri­
buições intelectuais criaram um novo individualismo, cientifismo e
modernismo, que ressaltavam o humano em detrimento do divino e do
espiritual. Alguns desses novos modos de pensar até zombavam do cristia­
nismo por suas "superstições" e negavam a possibilidade de uma palavra
inspirada por Deus. Em conseqüência, pela metade do século XVIII a
igreja havia perdido seu controle sobre a educação. Esta situação foi agra
vada nas colônias norte-americanas por causa de uma grande afluência
de imigrantes sem filiação religiosa, na década de 1690, bem como por
um espírito de aventura criado por movimento da população norte-
americana no sentido de expandir suas fronteiras para o oeste.
Deste modo, a educação secular e a educação cristã se separaram,
e assim permanecem até agora, na comunidade evangélica. A educação
cristã, desde então, tem deixado quase sempre a educação secular nas
mãos do Estado, responsabilizando-se apenas pela instrução religiosa dos
membros das igrejas. (Há exceções, mas, em geral, tem sido assim.) A
maior manifestação de instrução religiosa é a escola dominical. Tão impor
tante tem sido o seu papel no desenvolvimento da educação cristã que
um pouco de sua história merece ser abordado.
72
2 HISTÓRIA DA ESCOLA DOMINICAL
Depois da separação entre a educação secular e a educação cristã,
a manifestação mais evidente dessa última é a escola dominical, E bem
verdade que se desenvolveu, além da escola dominical, um sistema
complexo de colégios, universidades e seminários cristãos, que se pres­
taria a um estudo muito interessante. No entanto, nosso objetivo é apenas
construir uma base histórica dos eventos na América do Norte, para
podermos apreciar o que aconteceu na América do Sul.
A separação entre a educação secular e a educação cristã na
América do Norte foi singular. Os Estados Unidos foram o primeiro país,
na era cristã, no qual não existia uma religião do Estado que afetasse
o sistema educacional. Esse. fenômeno se deve principalmente à liber
dade religiosa com a qual se fundou esse grande país. Na América Latina,
pelo contrário, sempre existiu uma estreita relação entre a Igreja Cató­
lica e o Estado. Deste modo, a educação oferecida por seus governos tem
sido quase sempre influenciada por essa igreja. Não obstante, os evan
gélicos da América Latina têm oferecido uma reação, às veœs forte, contra
esse fato. Nas igrejas evangélicas existe maior preocupação, no tocante
à vida espiritual, quanto ao correto ensino bíblico. Para elas não basta
o catecismo que se ensina nas escolas e colégios. Assim sendo, os evan­
gélicos deixam a responsabilidade dos estudos gerais e seculares para as
escolas públicas ou particulares e assumem a do ensino religioso nas igrejas
e nos lares. Seguindo o exemplo das igrejas evangélicas da América no
Norte, os evangélicos dos países sul-americanos têm utilizado a escola
dominical como o meio mais eficiente de realizar o ensino religioso.
De onde vem o conceito de escola dominical? Neste estudo
das bases históricas da educação cristã, torna-se necessário responder.
Faremos isso de modo sucinto.
Surgimento do conceito
Não há certeza sobre quando e como surgiu a primeira escola
dominical. Alguns traçam suas raízes até Zinzendorf, o pietista do século
XVlll. Outros indicariam como fundadoras do movimento pessoas
diversas, entre as quais Wesley, o fundador da Igreja Metodista, e
Daughaday, ministro metodista.
Parece que o conceito teve sua origem na Inglaterra, na segunda
metade do século XVIII, Em 1780, aproximadamente, Robert Raikes,
conhecido como o “pai da escola dominical’’ começou seu trabalho nesta
área em Gloucester, Inglaterra. Raikes foi um jornalista que promoveu
um sistema de aulas para meninos de rua, aos domingos, como meio
73
de evitar a criminalidade. Contratou, por sua conta, um professor, que
ensinava crianças que trabalhavam nas fábricas durante seis dias da
semana e que aos domingos ficavam perambulando pelas ruas, à beira
da delinqüência.
A idéia se expandiu rapidamente e outras cidades inglesas come
çarani a criar escolas dominicais. Em 1785, Wiltiam Fox, batista, fundou
a primeira organização para promover escolas dominicais. Os objetivos
de sua “sociedade” eram os seguintes: “Evitar o vício, encorajar a opero
sidade e as virtudes, debelar as trevas da ignorância, difundir a tu/ do
conhecimento e ajudar o homem a entender seu lugar social no mundo”.
Podemos deduzir desses objetivos que as escolas se destinavam princi
palmente aos pobres e que a idéia era de que eles deviam ser instruídos
dentro de seu contextoe nível sóciaeconômico. No ano de 1797 o movi
mento havia crescido de tal forma que 250 mil crianças já estavam
matriculadas na Inglaterra. As crianças aprendiam a ler, e provavelmente
sua cartilha era a Bíblia.
A idéia de escolas dominicais foi recebida na América com muito
entusiasmo, seguindo mais ou menos a mesma forma e a mesma política
das escolas da Inglaterra. O que começou como movimento para ensinar
os pobres, tornou se o braço forte educacional e evangelístico das igrejas
protestantes e evangélicas. Nos Estados Unidos as escolas dominicais
desempenharam relevante papel no avanço evangélico que acompanhou
a expansão de suas fronteiras. As ‘"sociedades” e agências que promo
viam o conceito de escolas dominicais também promoviam e, às vezes,
subvencionavam a obra missionária em regiões fronteiriças.
No ano de 1872 elaborou-se um plano para adoção de uma série
de lições uniformes e internacionais. A Convenção Internacional de
Escolas Dominicais, que ensejou o inicio de algumas convenções deno-
minacionais, proporcionaria a todo o mundo evangélico um ensino mais
ou menos uniforme. A idéia era a de que em qualquer igreja de qualquer
denominação, em determinado domingo, todos estudassem o mesmo texto
bíblico. O resultado foi positivo. Com o sistema de lições internacionais,
todo o mundo evangélico passou a estudar a mesma lição cada domingo.
As lições internacionais eram distribuídas por meio das organizações
missionárias, e traduzidas no mundo de língua inglesa, para todo idioma
que se possa imaginar (em 1990, essas lições já haviam sido traduzidas
para quarenta idiomas),
O movimento de lições internacionais continua até hoje (embora
com alguns problemas). O movimento geral das escolas dominicais
também se desenvolveu de várias formas. Foi muito influenciado pela
educação secular quanto à teoria, técnica, filosofia e metodologia.
74
Em algumas das grandes denominações a escola dominical sofreu consi­
derável queda. Porém, nas denominações mais ativas do ponto de vista
evangélico, como os Batistas do Sul e os grupos pentecostais, nos Estados
Unidos, a matrícula continua a crescer e há sinais de melhoria no processo
ensino-aprendizagem.
Com essa breve fundamentação histórica, veremos como a educação
cristã chegou à América Latina, E no capítulo 13, estudaremos então
a escola dominical de modo mais amplo.

3 O MOVIMENTO MISSIONÁRIO RUMO A AMÉRICA LATIN A


E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO CRISTÃ
Nosso estudo sobre a educação cristã na América Latina limita-se
às igrejas evangélicas. Não queremos menosprezar a contribuição da Igreja
Católica, nem supor que a educação cristã evangélica tenha se desen­
volvido num vazio educacional. A relação entre a igreja tradicional e
o movimento evangélico, incluindo seus conflitos, desempenhou relevante
papel no desenvolvimento e compreensão daquilo que se deve incluir
num programa educacional religioso. No entanto, este estudo é escrito
por evangélicos e para evangélicos, de modo que não cabe abordar aqui
a história da educação católica, Isto não significa, também, que o autor
imagine que a educação cristã começou com a fundação das igrejas evan­
gélicas. Mas, sim, que acredite que a educação cristã em nossa própria
tradição, que julgamos mais bíblica e correta, começou com a chegada
do cristianismo protestante e evangélico à América do Sul. O que apre­
sentaremos a seguir, portanto, reflete, não só uma perspectiva evangélica,
mas sobretudo batista, denominação a que pertence o autor.
A chegada do empreendimento missionário
Existem boas fontes de informação sobre o empreendimento missio­
nário na América Latina, de modo que delimitamos nosso estudo a
generalidades importantes que nos ajudarão a compreender melhor a
história da educação cristã. Deiros, em seu livro História dei Cristianismo,
inclui dois excelentes capítulos sobre o movimento missionário na América
Latina, aos quais o leitor pode recorrer para os detalhes que forem de
seu interesse.
Dissemos, na introdução deste capitulo, que a educação cristã evan­
gélica veio da Europa através da América do Norte aié chegará América
do Sul. Convém relembrar que estamos falando de educação cristã, e
não necessariamente do movimento protestante em si. Não se deve
75
subestimar a grande influência dos europeus na evangelização da América
Latina. Os primeiros missionários em muitos países sul-americanos eram
europeus, muitos deles emigrando por conta própria e evangelizando em
meio a perseguição e oposição. Demos, porém, faz uma observação signi
ficativa quando explica, num parêntese, que as igrejas protestantes
latino-americanas são “de origem européia pela imigração mas, sobre­
tudo, de origem norte-americana pela obra missionária” (p. 249).
Os missionários imigrantes da Europa certamente trouxeram suas
idéias, doutrinas, práticas e estratégias. Mas havemos de convir que foi
com a chegada de um movimento missionário organizado, odos Estados
Unidos, que viria também uma ação educacional mais organizada e conse­
qüentemente mais decisiva. Foi assim, ao que parece, que a educação
desempenhou importante papel no desenvolvimento e crescimento das
igrejas evangélicas na América Latina.
Segundo Means, em seu livro Advance: A History of Southern
Baptist Missions (“Avanço: Uma História das Missões dos Batistas
do Sul”), o interesse na educação e no desenvolvimento social foi
importante fator no crescimento da obra batista. Construindo, em muitos
casos, sobre as bases lançadas por batistas franceses, alemães, ingleses e
escoceses, os missionários do Sul dos Estados Unidos fundaram escolas
batistas porque não havia escolas públicas. Outras denominações
fizeram o mesmo. Em diversas ocasiões o testemunho evangélico
assumiu o caráter exclusivo de instituições educacionais fundadas pelos
missionários.
Read, Monterrosoe Johnson afirmam que “as instituições missio­
nárias na América do Sul se multiplicaram conforme cuidaram as igrejas
protestantes e as missões tradicionais de evangelizar as classes altas por
meio da educação”. As instituições missionárias, além de serem os veículos
de transmitir a educação cristã, serviam de modelo para melhorar a
educação secular e diminuir a taxa de analfabetismo, apesar de atingir
especificamente apenas uma pequena parte da população. Nos primeiros
anos do século vinte, a falta de uma educação adequada no setor público
nos países latino americanos deu lugar á influência evangélica. Read,
Monterroso e Johnson afirmam: “A educação era a maior necessidade.
Não seria este o chamamento de Deus para aquele período1'’ (os autores
se referem ao periodo de 1900-1916).
Especialmente a partir de I919,à medida que os missionários norte-
americanos iam chegando, traziam consigo suas idéias e tradições
educacionais. Traziam idéias de como instruir os membros de suas igrejas
(escola dominical) e de como preparar os lideres nacionais (instituições
teológicas). Estes métodos de preparação logicamente refletiam as
76
características da educação religiosa norte-americana, porque esta era
a educação que os missionários conheciam.
Um transplante educacional efctu institucional de uma cultura para
outra nem sempre traz os melhores resultados. É provável, até, que outros
métodos de ensino cristão tivessem alcançado maior êxito. Mas não há
dúvida de que a escola dominical se firmou como uma das maiores forças
do desenvolvimento do cristianismo evangélico na América Latina. A
produção e distribuição de materiais curriculares e literatura periódica
para uso da escola dominical e de outras organizações da igreja local
contribuiu significativamente para o desenvolvimento do povo evangélico
na América Latina. A literatura destinada às classes dominicais tem esti­
mulado a linha doutrinária das igrejas batistas, unificando-as e as
instruindo para que possam evangelizar com a certeza de uma base defi­
nitivamente bíblica.
Em resumo, portanto, podemos concluir que: 1) A educação
cristã nas igrejas batistas latino am ericanas (escola dominical,
organizações missionárias etc) é em grande parte um transplante
da educação cristã das igrejas dos Estados Unidos; 2) boa ou má.
esta educação transplantada tem sido usada pelo Senhor; 3) sua força,
apoio maior e crescimento da obra tem sido a produção e distribuição
de literatura, e 4) com os esforços das editoras batistas e de outras
denominações evangélicas para promover uma educação integral, e uma
nova compreensão por parte dos lideres nacionais e missionários
sobre a educação cristã, o programa educacional da igreja local
desempenhará um papel ainda mais importante no crescimento da obra
nos próximos anos.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Qual a principal diferença entreocenário religioso na America
do Norte e na América do Sul?
2. Em que sentido se assemelhava a educação dos colonizadores
norte-americanos com a dos israelitas?
3. Houve três fatores muito importantes no desenvolvimento da
educação cristã entre os colonizadores norte-americanos. Quais
foram?
4. Quais os três pontos principais que devemos reconhecer quanto
à educação cristã na Nova Inglaterra?
5. Na Nova Inglaterra dava-se muita importância ao ensino no
lar. Faça urna avaliação sobre o direito da comunidade
77
interferir nos casos em que as famílias não cumpriam seus
deveres educacionais.
6. Quais seriam algumas das aplicações à educação cristã ou á
educação teológica (preparação de ministros) de um sistema
de aprendiz-mestre?
7. Por que as colônias centrais norte-americanas não organizavam
escolas comuns? Qual foi sua alternativa?
8. Â luz do exame da educação cristã nas colônias centrais, qual
a sua opinião sobre colégios evangélicos na América Latina:
poderiam funcionar bem colégios do u universidades interde
nominacionais, ou não? Por quê?
9. Qual a principal diferença dos colonizadores do Sul e da Nova
Inglaterra para os das colónias centrais? Como isto afetou seu
conceito sobre a educação cristã?
10. Por que se separaram a educação cristã e a educação secular
nos séculos XVIII e XIX?
11. Fbr que se considera Robert Raikes ‘‘o pai da escola dominical"?
12. Quem foi William Fox?
13. Que elemento existia nos Estados Unidos, e que não existe na
América Latina, que influenciou em muito a separação entre
a educação cristã e a educação secular?
14. Devido ao fato de a Igreja Católica controlar, em geral, o sistema
educacional latino-americano, qual o principal instrumento dos
evangélicos para a realização do ensino religioso?
15. Explique o conceito de lições internacionais.
16. Em que sentido o movimento missionário influenciou a
educação secular latino-americana?
17. Explique a importância da produção de literatura cristã no
desenvolvimento e crescimento da obra evangélica.
18. Quais as vantagens e desvantagens do transplante educacional
da cultura norte-americana para uma cultura latina?
19. Mencione, em suas próprias palavras, quatro conclusões que
podemos tirar da influência do movimento missionário no desen­
volvimento da história da educação cristã na América Latina.
Temas para discussão
1. Faça urna comparação entre a mentalidade ou filosofia
educacional dos colonizadores do Sul dos Estados Unidos e a
suposta opressão das massas latino-americanas durante os
últimos cem anos.
vx
2. Haveria outro sistema educacional (fora a escola dominical),
nitidamente latino, que pudesse servir melhor às necessidades
dos evangélicos latinos?
3. Há poucos anos, um conhecido pregador latino-americano disse
que a escola dominical náo poderia ser um instrumento evan
gelístico na América Latina porque o povo deste continente
não participa de pequenos grupos sem participar de grandes
grupos (cultos). Estaria certo esse irmão? A escola dominical:
Tem sido, é ou poderia ser um braço forte da evangelização
em sua igreja? Se sua resposta for positiva, que mudanças seriam
necessárias para que a igreja ganhasse novos membros através
da escola dominical?
4. Qual deve ser a atitude de um cristáo evangélico quanto à contri
buição educacional da Igreja Católica, no passado e no presente?
Quais os problemas que existem em seu pais entre estudantes
católicos e evangélicos ou entre estudantes evangélicos e orien­
tação educacional de inspiração católica? O que se poderia fazer
para solucionar esses problemas?

70
Terceira Parte
BASES SOCIOCULTURAIS E
PSICOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Capítulo 9
A EDUCAÇÃO CRISTÃ EM SEU
CONTEXTO SOCIOCULTURAL

1 O QUE SIGNIFICA SOCIOCULTURAL?


Acontece, muitas vezes, que determinadas palavras começam a lazer
parte do nosso vocabulário, especialmente em círculos profissionais, e nem
sempre estamos seguros quanto ao uso que delas fazemos. Uma dessas
palavras é “■sociocultural”. Todos temos uma idéia sobre sua significação
geral, mas é difícil defini-la em termos específicos. Para que possamos
atingir nosso objetivo neste capítulo, é necessário definir o termo sociocul­
tural, para termos um ponto comum de referência. Assim podemos
pensar nas implicações do meio sociocultural para a educação cristã.

Definições
Sociedade. O Dicionário Larousse define sociedade como um
“estado dos homens e dos animais que vivem submetidos a leis comuns”.
Por sociedade, portanto, podemos inferir tratar-se do que é relativo a um
grupo de pessoas vivendoem conjunto, seja o grupo grande ou pequena
numa área geográfica limitada ou extensa.
Cultura. O conceito de “cultura” é, de fato, muito complexo, e se
poderia gastar muito tempo tentando defini-lo. De modo bastante simples,
define-se cultura como 'desenvolvimento intelectual ou artístico”, mas
veio significar aquilo que caracteriza a sociedade. Uma boa definição
para nossos propósitos seria: os hábitos, crenças, sistemas de valor
e formas de pensamento de determinado povo em dado período de tempo”
(Charles Nicholas, em Graendorf, p. 146).
Tomando por base esses dois conceitos de sociedade e cultura,
podemos dizer que “sociocultural” se refere ao contexto da vida em que
a pessoa se encontra. É importante que o educador cristão estude e
compreenda, na medida do possível, algo da cultura em que exerce seu
ministério.
83
Chamberlain afirma que, de fato, existe estreita relação entre
educação e cultura. Os modelos e filosofias educacionais são condicio
nados pelo cenário cultural e às vezes constituem o seu reflexo. A
educação, incluindo a educação cristã, não se realiza num vazio, senão
dentro de, por causa de, e como reflexo de um contexto sociocultural.
Vejamos, então, quais são as implicações dessa verdade para a igreja,
especialmente no que se refere à sua obra educacional. Antes, porém,
relembremos rapidamente os fatores ou ingredientes da cultura latina
que influem na vida de milhões que vivem nesses países.
Contexto sociocultural da América Latina
A igreja evangélica local, que cumpre seu ministério na América
Latina, terá de levar em conta uma miríade de fatores que constituem
a realidade sociocultural latino-americana. Samuel Escobar, destacado
batista peruano, caracterizou a América Latina como combinação de
populismo, crise econômica e violência revolucionária.
Nida, autoridade em antropologia latina, sugere que os latinos se
caracterizam por tendências contraditórias. Essas tendências são descritas
com os seguintes dualismos; autoridade versus individualismo (perso
nalismo); idealismo (quixotismo) versus realismo (sanchismo); e a
dominação dos homens (machismo) sobre a dependência das mulheres
(feminismo).
Nós, que vivemos tia América Latina, temos de admitir que presen­
ciamos esses casos diariamente ao nosso redor, apesar de não querermos
usar estereótipos que se apliquem a características gerais dos latino-
americanos. Temos de admitir também que assistimos a muita paixão,
inconstância e instabilidade, mas. às vezes, também calma e apatia.
Geyer descreve um contraste entre o que ela chama de “latino
antigo” e “latino moderno’'. O primeiro se caracteriza pela chamada
“síndrome amazônica”, uma falsa esperança sobre as possibilidades do
continente sul americano, que não tem experimentado muito progresso.
O segundo representa um novo tipo de força latina própria, que se carac­
teriza pelo desejo de governar e viver sem influências externas e
paternalismo estrangeiro.
O relatório da IJNELAM de 1970 indicou várias características
das pessoas com que t rabalham nossas igrejas. Dentre outras, mencionou
as seguintes:
1. Massas rurais marginalizadas (em alguns paises, os camponeses
se concentram em comunidade ou bairros marginalizados, devido à urba­
nização nos últimos anos).
84
2. Analfabetismo (aproximadamente 30% da população, segundo
a World Christian Encydopedia (Enciclopédia Cristã Mundial), 1983.
3. Enfermidade e desnutrição.
4. Diversidade demográfica.
5. Economia (este fator se converteu num grande problema, por
causa de inflação, rápida desvalorização das moedas nacionais e a divida
externa desses paises).
O relatório indica ainda outro fator que afeta especificamente o
desenvolvimento da igreja na cultura latina. Diz que: “devemos reconhecer
ter havido um paternalismo que prolongou excessivamente uma situação
de dependência económica, teológica e cultural. Junto com o evangelho,
os missionários nos trouxeram valores de sua própria cultura nacional"
(p. 21).
Sabemos do perigo de analisar a cultura lalina de uma perspectiva
não-latina, mas depois de viver tantos anos em ambiente latino, atrevo-
me a fazê-to. A igreja evangélica não pode ignorar a experiência cultural
de seus membros e seu viver diário, se quiser atender especificamente
às necessidades edesiais e da comunidade. Há de reconhecer que a maioria
da população é católica (pelo menos uma grande porcentagem nunca
disse que nãoè católica). Há de reconhecer que muito do chamado “paga
nismo” e da “idolatria*’ que existe na tradição católica latino-americana
foi passado honesta e fielmente de geração a geração, segundo a tradição
da igreja e tradições, adaptadas, de religiões indígenas e africanas. As
tradições católicas, sejam elas superstições e idolatrias ou não, formam
parte integrante da cultura latina. É uma cultura que seria incompleta
(em sua forma atual) sem o crucifixo, as procissões, as romarias, os mila­
gres. as festas de padroeiros e os santos. São fatores religiosos e culturais
que não podem mudar de repente, se é que uma mudança seria neces­
sária. Este assunto discutiremos mais adiante.
Além das influências católicas, mas condicionadas por elas, há
outras características do viver cotidiano na América Latina. Uma delas
é o emocionalismo, que se manifesta de várias maneiras, como, por
exemplo, nos gestos manuais durante a conversação, o nervosismo e a
impaciência dos motoristas, o volume da música que se ouve, a repetição
de frases e compassos na música popular local, a popularidade dos “con-
nhos” nos cultos evangélicos e o crescimento rápido de grupos
pentecostais.
Outra característica importante é uma filosofia fatalista, que
influencia a vida diária com uma atitude de que as coisas são assim porque
têm que ser. Essa atitude, talvez influenciada pela religião tradicional,
que valoriza mais a recompensa futura do que a atual, está presente no
85
cotidiano. Isto se vê claramente na maneira como é aceita a morte de
crianças. Um pai peruano expressou essa atitude, depois da morte de
um dos seus vários filhos, dizendo que facilmente poderia conceber out ro
filho para ocupar o seu lugar. Esta seria uma atitude positiva ou uma
filosofia fatalista?
Essa filosofia fatalista de que “o que tem que ser será” se manifesta
até mesmo em simples atividades, tais como cruzar a rua sem prestar
atenção aos veículos, não respeitar os sinais de trânsito, gastar o salário
com bebida enquanto os filhos passam fome, desenvolver um negócio
sem planejamento adequado etc. Isso também ocorre na igreja, quando
determinado grupo local procura realizar a obra do Senhor "de qualquer
maneira", sem planejamento, sem estratégia. "O que tem que ser será”.
Voltaremos a falar sobre este assunto.
Como dissemos no início, estas são características, entre muitas
outras, que existem em nossa cultura latina. Em vez de negar sua exis­
tência ou de julgar e criticar, devemos pensar no que se deve fazer para
mudar esta situação, Desta análise, podemos tomar os passos necessá
rios á mudança. Este é, precisamente, o papel da educação na igreja local
em seu contato direto com o meio sociocultural.
2 A EDUCAÇÃO CRISTÃ EM SUA PERSPECTIVA
SOCIOCULTURAL
Como o assunto que acabamos de discutir afeta a educação cristã
realizada pela igreja local? Quais as implicações para a igreja evangélica
que funciona no contexto social de um país latino americano e numa
cultura católica e latina? Vejamos algumas possíveis respostas a essas
perguntas.
Relação entre educação e cultura
Já dissemos que a educação é parte de cada cultura; que a educação
é condicionada pela cultura, e que a cultura pode ser afetada pela
educação. Sob tais influências culturais como as descritas acima, alguns
países latinos experimentaram certa transição em seu sistema educacional
secular. Muitos continuam a usar os métodos tradicionais, isto é. memo­
rização e repetição, na escola primária e secundária. Em muitas
universidades, o ensino consiste apenas em fazer monografias e prestar
exames. Assim, em muitos países latinos, considerados subdesenvolvidos
pelos padrões das sociedades industrializadas do mundo ocidental, a
cultura não condicionou a educação de uma forma que lhe permita ou
estimule avançar. Seja por falta de interesse, de tecnologia, de recursos
económicos ebu humanos, esta parece ser a situação em nosso continente.
86
A educação cristã: instrumento de manutenção mudança e crescimento
A igreja de Cristo é o meio que Deus utiliza para transformar o
inundo. A educação é sempre um agente de mudança, ftirtanto, a
educação cristã pode ser usada por Deus e sua igreja para produzir
mudanças necessárias no meio sociocultural latino, na população ein
gera! e dentro da comunidade cristã.
Na população em geral. A igreja evangélica deve projetar-se no
mundo secular, expressando suas opiniões, gerando mudanças, ensinando
um melhor caminho através de atitudes, ações e testemunho. A igreja
deve envolver-se com os problemas do mundo, buscando e ensinando
soluções para as misérias que existem na sociedade.
Se entendemos que a vida nào é uma existência em duas esferas
uma espiritual e outra física — então o testemunho e ministério da
igreja não devem mudar de rosto, dependendo de onde se encontre a igreja.
Esta, pelo contrário, deve ser a igreja no mundo, apresentando as verdades
e princípios dos quais é portadora, para que os problemas sociais e cultu­
rais sejam solucionados.
Cully diz: “Falar da irmandade dos homens sob a vontade de Deus
não substitui a necessidade de lhes dar acesso ao trabalho, à moradia
e á educação" (p. 26). A igreja evangélica não deve contentar-se em
lamentar a pobreza, o desemprego, a violência e a corrupção no governo.
Pelo contrário, deve envolver-se com os problemas do mundo. Os evan­
gélicos dizem que Cristo é a única esperança. Pbis bem, eles têm que
ensinar isso ao mundo e demonstrar como Cristo soluciona problemas.
As vezes a sociedade é tão apática ou tão letárgica que nào se inte­
ressa pela solução de seus problemas. Alguns membros da sociedade já
se acostumaram tanto aos males ao seu redor que ficaram cegos aos
problemas e à necessidade de mudança. Depois de viver muito tempo
em determinado ambiente cultural, as pessoas se tornam conformistas.
O que é habitual e familiar se torna cômodo, e a mudança se torna difícil.
Às vezes os problemas de uma classe socioeconômica são vantagens para
outra classe, e freqüentemente um grupo ou subcultura pode tirar proveito
de outro. Em tais circunstâncias a igreja deve ter uma base doutrinária
e prática bem fundamentada, permanecer firme em suas convicções e
insistir, com urgência dosada de paciência, que o caminho de Cristo é
o caminho que conduz a soluções. A igreja que não puder ensinar esta
verdade com suas palavras e com sua vida não será o agente de mudanças
que Deus quer que e!a seja.
Na comunidade cristã. Uma vez evangelizado, a única coisa que
falta ao novo crente para viver efetivamente em Cristo é educar-se. Chame-
87
-se a isso o que se quiser: discipular, conversar, inslruir, confirmar, edificar
etc, a maior responsabilidade da igreja depois de evangelizar (e de
importância igual), é promover educação continuada para seus membros.
Se a igreja vai propagar se e se vai enfrentar os problemas sociais e cultu­
rais, tem que ser uma igreja instruida naquilo que crê e em como aquilo
que crê deve afetar a vida cotidiana de seus membros,
A igreja local precisa manter um programa de educação cristã, de
acordo com suas necessidades, para manter-se em meio a uma cultura
que pode ser adversa à sua obra. “Ao exigir que cada geração que surge
seja condicionada e doutrinada por seus anciãos num programa 'educa­
cional’, planejado conscientemente, este ajuda sua continuidade”
íChamberlaín, p. 75). Ê lamentável quealgumas igrejas não se preocupem
em manter-se a si mesmas através de um programa de educação cristã,
e muito menos de usar a educação como instrumento de mudanças e
crescimento da igreja.
Desde o momento da salvação, o cristão se encontra num processo
de mudança. A educação cristã ajuda neste processo. À medida que o
crente aprende e se transforma, ele também influencia mudanças em
outras pessoas. Brown afirma: “A educação é o processo conscientemente
controlado noqualse produzem mudanças no comportamento da pessoa,
dentro do grupo” (p. 165). Pbrtanto, à medida que a igreja mantenha
e realize mudanças nos crentes, realiza também mudanças na sociedade,
como conseqüência normal, A Iguns evangélicos põem muita ênfase sobre
evangelismo, deixando de lado a educação. Defendemos a tese de que
esta posição não é lógica. A educação cristã é o melhor instrumento evan-
gelístico de que dispõe a igreja.
Implicações soeioeulturais para as igrejas latinas
Resta-nos, então, para concluir, recordar algo do que foi ditoe tornar
concretas suas implicações para as igrejas evangélicas locais. Podemos
resumir, repisando alguns pontos:
1. As igrejas evangélicas latinas existem e funcionam num
ambiente sociocultural muito variado, mas com características
bem claras.
2. Estas características, discerniveis, incluem crise econômica,
violência, personalismo, machismo, paixão, analfabetismo,
desnutrição, emocionalismo, fatalismo e uma grande influência
católica.
3. Existe estreita relação ente educação e cultura.
4. A educação é um agente das mudanças que devem ocorrer na
sociedade e na cultura.
5. As igrejas evangélicas latinas devem usar seu ministério de
educação cristã para: 1) manter-se como corpo de Cristo; 2)
efetuar mudanças na cultura e na sociedade, por meio da
promoção de mudanças na vida individual de seus membros,
e 3) levar a Cristo a sociedade da qual ela é parte.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Descreva a relação entre educação e cultura.
2. O que se quer dizer quando se afirma que a educação cristã
não funciona num espaço vazio?
3. Mencione seis características da cultura latino americano consi
derando as sugestões de Escobar e Nida.
4. Defina os seguintes termos, em suas próprias palavras: socie­
dade, cultura, contexto sociocultural, personalismo, quixotismo,
sanchismo. machismo e feminismo.
5. Mencione algumas indicações da existência de uma filosofia
fatalista de vida na América Latina.
6. Considerando todas as características culturais mencionadas
neste capítulo, acrescidas de suas idéias pessoais, cite quatro
dessas características que lhe parecem mais evidentes.
7. Põr que a sociedade resiste às mudanças?
8. Em sua opinião, qual o perigo que correriam as igrejas evan­
gélicas em ignorar a existência de tradições católicas no seu
ambiente sociocultural?
9. Lembrar-se que o povo latino é emotivo ajuda ao educador
cristão? Fbr quê? Como poderia influenciar o ensino na igreja?
10. Analise a atitude "o que tem de ser será”. Existe tal atitude onde
você vive? Que pode fazer a educação cristã com respeito a isso?
11. A educação é sempre um agente de mudanças0 Explique,
12. Como se pode projetar a igreja no mundo?
13. De acordo com o que ficou dito neste capítulo, qual a melhor
ferramenta evangelística de que dispõe a igreja?
14. Quais as três funções principais da educação cristã como parte
de um ambiente sociocultural?
15. Qual a sua reação a esta declaração: L1A igreja evangélica não
deve contentar-se em lamentar a pobreza, o desemprego, a
violência e a corrupção no governo”?
16. Se é verdade que a sociedade resiste a mudanças porque está
acomodada em sua apana, letargia, ou por outro motivo, o que
89
isso nos ensina com relação à subculture que uma igreja evan
gélica constitui?
17. Descreva a relação entre evangelismo e educação.
18. Qual a relação entre a doutrina da santificação e a educação
cristã?
Temas para discussão
1. Quais as ramificações e implicações da teoria de Geyer sobre
o “latino antigo” eo “latino moderno"? Pbde-se discernir a exis­
tência de uma “síndrome amazônica", que se refere à grandeza,
riqueza e esperança latente na América Latina, mas a que falta
desenvolvimento?
2. Em que sentido a cultura é afetada pelo subdesenvolvimento
dos recursos naturais e humanos? Como o subdesenvolvimento
nacional afeta a igreja?Como um subdesenvolvimento próprio,
de seus membros, afeta a igreja?
3. Até que ponto a cultura tolera influências externas? Qual a
diferença entre uma boa influência externa e o paternalismo?
4. Que sinais poderiam indicar que uma mentalidade sacerdotal
do catolicismo invadiu as igrejas evangélicas? (Por exemplo,
divisão entre clérigos e leigos, igrejas centradas no pastor etc).
5. A luz da discussão deste capítulo, qual deve ser a atitude dos
crentes quanto à participação no mundo político?
6. Analise o ambiente sociocultural de seu país. Que algumas
características da população deveriam ser mudadas? Quais as
mudanças que sua igreja deve fazer em seu programa educa
cional, para adaptar-se à realidade sociocultural de seu meio
ambiente?

90
Capítulo 10
INFLUÊNCIAS PSICOLÓGICAS DA
EDUCAÇÃO RELIGIOSA
1 A PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO
Ronald Gray afirma: “O campo da psicologia adquiriu muito
respeito nas últimas décadas. Portanto, um estudo da educação seria
incompleto se não levassem em conta os princípios aceitáveis sobre o
crescimento e o desenvolvimento humanos” (in Sanner e Harper,
ed., p. 118).
Neste capítulo queremos o desafio que esta afirmação apresenta,
ainda que de forma introdutória. Devemos estudar alguns dos princípios
a que se refere o doutor Gray, as teorias do desenvolvimento humano,
e o efeito e a relação que tais teorias têm sobre a educação. O educador
cristão que leva a sério sua responsabilidade de fazer todo o possível para
assegurar boa instrução ao povo de Deus não pode deixar de lado os
conhecimentos psicológicos capazes de ajudá-lo em sua tarefa. Nosso
propósito ao fazer um breve estudo da psicologia educacional não é mera­
mente acadêmico. Pelo contrário, o que aprendemos deve nos ajudar a
cumprir nossa função no plano da educação da igreja local.
Cabe salientar que não se torna necessário justificar um estudo
psicológico numa série de estudos desta índole nem pedir desculpas por
fazê-lo. Reconhecemos claramente a orientação do Espírito Santo quanto
ao que precisamos aprender sobre Deus e as verdades espirituais, e por
isso somos agradecidos. Mas é também nossa convicção de que, quando
o Senhor põe a nosso alcance conhecimentos humanos que nos ajudam
a entender ou ensinar verdades divinas, é de seu agrado que aproveitemos
tal oportunidade. Como no capitulo anterior, seria útil começar nosso
estudo definindo alguns termos básicos.
Definições de psicologia
Define-se a psicologia, geralmente, como estudo ou ciência do
comportamento humano, islo é, o estudo de como agem os seres humanos.
91
Mas a psicologia não trata apenas do comportamento externo do indi
víduo, senão também dos impulsos internos que o levam a fazer o que
faz. A psicologia inclui o estudo da consciência do homem, o porquê
de suas ações, bem como as próprias ações. Ao psicólogo interessa saber
o que existe na consciência do homem, talvez mesmo em sua alma. que
determina seu comportamento observável. É importante lembrar que
a psicologia não é mero processo de especular sobre os pensamentos e
atitudes de uma pessoa e a relação que isso possa ter com seu compor
tamento. Mais do que isso, é uma ciência precisa baseada em experiências
controladas, em dados científicos e com indicações suficientes para
formular teorias sobre o comportamento humano.
À educação do ponto de vista psicológico
Uma pergunta-chave para o educador, mesmo para o educador
cristão, é: que tem a psicologia a ver com a educação? Ê bastante claro
que existe relação entre os dois campos, A psicologia é a ciência do
comportamento humano, e vimos no capitulo anterior que uma função
da educação é mudar a conduta do ser humano. Portanto, a psicologia
e a educação são interdependentes. Esta intima relação entre psicologia
e educação é que se chama de psicologia educacional. A psicologia educa
cional se define precisamente como “a aplicação de crenças e
conhecimentos psicológicos relevantes á teoria e prática da educação”
(Lefrançois, p. 10).
Esta aplicação se faz em várias áreas dos estudos psico-educacionais.
Um estudo dessas áreas ultrapassaria os limites de nossa introdução. O
aluno interessado deverá procurar materiais que o ajudem a aprofundar
o assunto. Mencionaremos, de forma resumida, as áreas da psicologia
educacional.
!. Teorias da aprendizagem. A maioria dos psicólogos educacio
naisconcorda que há três teorias gerais da aprendizagem (cada uma delas
constituindo amplo campo de estudo).
O hehaviorismo ou comportamentismo, desenvolvido pelos
doutores Watson e Skinner, é o estudo dos estímulos (o que causa o
comportamento) e as respostas (o comportamento ern si). Esta teoria da
aprendizagem se baseia em normas cientificas mais ou menos rígidas,
que pretendem demonstrar que todo comportamento humano pode ser
condicionado, usando-se estímulos que produzem as respostas desejadas.
A teoria cognitiva da aprendizagem pretende explicar como o ser
humano desenvolve sua compreensão de si mesmo e do mundo. Nessa
teoria se valoriza o uso da razão na tomada de decisões e na organização
e processamento da informação.
92
O humanismo se refere mais aos aspectos emocionais ou atitudi
nais do comportamento humano. Os psicólogos humanistas têm interesse
em saber como as pessoas sentem e percebem o seu mundo.
2. Teorias do ensino. Embora o estudo detalhado das teorias do
ensino inclua muitas divisões, mencionaremos três categorias gerais desta
area da psicologia educacional. Estas teorias não falam tanto como o
indivíduo aprende; mas de como a aplicação das teorias da aprendizagem
afeta o ensino. A instrução que visa a obter respostas cognitivas é a que
tem a ver especialmente com c processo de informação, isto é, de ter conhe­
cimento, O ensino destinado a obter respostas afetivas é o que busca
mudança de atitudes do aluno. A instrução para obter respostas psico­
motoras procura ensinar habilidades fisicas.
3. Teorias do desenvolvimento. As teorias do desenvolvimento no
campo da psicologia educacional se interessam pelas mudanças seqtien
ciais que ocorrem no desenvolvimento humano, Tradicionalmente, essas
teorias explicam etapas do comportamento das pessoas, de acordo com
sua idade, Ein anos mais recentes, esta área se estendeu a ponto de incluir
o desenvolvimento moral do indivíduo e ate mesmo o desenvolvimento
da fé. Mais adiante veremos algo sobre as supostas etapas da fé.
4. Teorias da motivação. Segundo Lefrançois, a teoria motivacional
levanta quatro perguntas: J) O que inicia a ação? 2) O que dirige a ação?
31 Rir que se aprende o comportamento? 4) Por que cessa o comporta
mento? Um estudo detalhado da motivação incluiria uma consideração
sobre os instintos, o hedonismo e as necessidades e impulsos do indivíduo.
Mesmo um estudo simples como este deve incluir uma menção
à teoria da motivação de Abraham Maslow. A hierarquia das necessi­
dades apresentadas por Maslow, há trinta anos, é exemplo de um estudo
clássico que permaneceu e influenciou muitos estudos psicológicos poste­
riores. Sua hierarquia abrange quatro categorias: necessidades fisiológicas
(comida, água, abrigo); necessidade de segurança (ambiente saudável e
ordenado); necessidade de amar e de pertencer (ser parle de um grupo
social), e necessidade deauio-estima (desenvolvimentode uma boa opinião
sobre si mesmo).
A relação entre psicologia e educação
Esperamos que algumas das relações entre a psicologia e a educação
tenham ficado bastante claras nas discussões anteriores. Se pudermos
descobrir como a pessoa aprende; o que a ajuda a aprender melhor; quais
as etapas do desenvolvimento da vida que influem em sua aprendizagem;
por que se aprende, e por que uns aprendem mais do que outros, podemos,
como educadores, influir em sua aprendizagem. Mesino na igreja, na
93
educação cristã, podemos fazer isso. Como dissemos antes, é o Espírito
Santo que nos- orienta em nossos esforços educacionais na igreja, mas
não devemos de modo algum deixar de lado os conhecimentos que nos
podem ajudar a ser servos mais eficientes do Senhor em sua igreja.
Seria interessante que o educador cristão conhecesse algumas das
teorias da aprendizagem sobre as quais se apóia a literatura que lhe é
fornecida pela editora de sua denominação. Isto lhe ajudaria, por exemplo,
a explicar a seus professores de escola dominical o porquê da inclusão
de certas atividades nas sugestões didáticas de sua revista. Isso também
lhe ajudaria a analisar seu próprio ensino para ver se a resposta que
deseja é pura informação ou se busca mudança de atitudes. Essa análise
seria importante mesmo para um pregador no planejamento de seus
sermões. A compreensão das teorias do desenvolvimento ajudaria o
educador cristão a analisar seu programa educacional para ver até que
ponto este atende às necessidades de todos os membros de sua igreja,
dentro da qual existe variedade de idades. Saber algo sobre o que motiva
as pessoas ajudaria o educador cristão na promoção de suas idéias e
programas.
Queremos tomar uma dessas idéias, a do desenvolvimento humano,
e ampliá-la, levando em consideração especialmente suas implicações
educacionais para a igreja.
2 O DESENVOLVIMENTO HUMANO
Teorias do desenvolvimento humano
Muitos são os que contribuíram para oestudo do desenvolvimento
humano. Limitaremos nossa discussão ao resumo e esboço das desco­
bertas de alguns dos teóricos mais conhecidos.
Piaget. Jean Piaget, nascido na Suiça em 1896, tem sido elemento
de grande importância nesta área por muitos anos. Seu trabalho foi realí
zado principalmente em relação ao desenvolvimento da criança. Piaget
sugere que há quatro etapas do desenvolvimento da criança, sem variação.
O que varia é a idade em que a criança passa de uma para a etapa seguinte.
Eis as etapas do desenvolvimento sugeridas por Piaget (esboço adaptado
de Klausmeir, p. 143):
1. Sensório motor (O — 2 anos). Nesta etapa da vida a criança
aprende principalmente através dos cinco sentidos, experimentando com
eles o seu ambiente.
2. Pré-operacional (2— 7 anos). A criança aprende uma linguagem,
experimenta e atua de urna perspectiva egocêntrica, desenvolvendo
conceitos de modo bastante limitado.
94
3. Operações concretas (7 — 11 anos). A criança nesta etapa pode
pensar logicamenete, é mais social do que egocêntrica, e entende conceitos
e a relação de conceitos. O termo operações é usado para significar
que nesta etapa as ações cognitivas se organizam num sistema de
inteligência.
4. Operações lbrmais (11 anos — adulto). O adolescente nesta últi­
ma etapa pode pensar logicamente não apenas nas coisas concretas, mas
pode lidar também com conceitos abstratos.
Kohlberg. Laurence Kohlberg estudou o desenvolvimento moral
entre seres humanos de várias culturas. Estabeleceu um sistema hierár
quico de seis etapas no desenvolvimento moral do indivíduo. Kohlberg
acredita que essas etapas são universais (para todas as culturas) e que
a seqüência das etapas é invariável. Descrevemos, a seguir, o sistema de
Kohlberg.
1. Etapa de moralidade heterônoma, A criança de aproximada
mente 2 a 6 anos de idade se encontra numa etapa de pré-moralidade.
Suas ações, boas ou mós, são determinadas principalmente pela esperança
ou pelo temor, de recompensa ou castigo.
2. Etapa das trocas instrumentais. A pessoa que se encontra na
segunda etapa de seu desenvolvimento moral ainda depende muito de
regras de controle externo, mas reconhece também as necessidades de
outros ao tomar suas decisões morais.
3. Etapa das relações interpessoais mútuas. Nesta etapa, a pessoa
sente que está agindo corretamente, se assim lhe parece aos “outros signi­
ficativos" de sua vida. Essa etapa não se limita necessariamente aos
adolescentes, cujas ações são determinadas pela moda.
4. Etapa de um sistema social e de uma consciência. Esta etapa
é uma extensão da terceira, incluindo não somente os valores de “outros
significativos”, mas também os valores de toda a sociedade.
5. Etapa de contrastes sociais e direitos individuais. Esta etapa de
moralidade respeita as normas sociais pelo bem da maioria.
6. Etapas de princípios éticos universais. Esta etapa representa um
compromisso com os princípios éticos. Poucas pessoas, segundo Kohl
berg, alcançam esta fase de desenvolvimento moral; somente pessoas da
estatura de um Ghandi ou Martin Luther King.
Erickson. As etapas da vida sugeridas por Eric Erickson são talvez
as mais conhecidas, Esses estágios se descrevem, com seus respectivos
significados, por contraste. Existe uma tensão dinâmica entre os dois
conceitos de cada estágio.
1. Confiança básica versus desconfiança básica (até 18 meses).
Quando existe mais confiança, a tensão resulta em esperança.
95
2. Autonomia versus vergonha e dúvida (2 — 3 anos). Quando
há mais autonomia, a tensão resulta em vontade.
3. Iniciativa versus culpa (3 — 6 anos). Quando há mais iniciativa,
a tensão resulta em propósito.
4. Habilidade versus inferioridade (7 — 12 anos). Quando há mais
habilidade, a tensão resulta em competência.
5. Identidade versus confusão do papel a desempenhar (13 — 21
anos). Quando há mais identidade, a tensão resulta em fidelidade.
6. Intimidade versus isolamento (21 — 35 anos). Quando há inti­
midade, a tensão resulta em amor.
7. Generatividade versus estagnação 135 — 60 anos). Quando há
mais generatividade. a tensão resulta em interesse.
8. Integridade versus desespero (60 em diante). Quando há mais
integridade, a tensão resulta em sabedoria.
Há outros sistemas parecidos, mas esses três nos dão uma idéia
do que pensam os teóricos sobre o desenvolvimento humano. Com esses
três exemplos temos uma base para determinar algumas implicações
educacionais.
Implicações educacionais
Ao ler idéias principais dessas teorias, nãoé difícil captar seu signi
ficado, e isso nos traz à mente um quadro de pessoas que conhecemos
e a quem poríamos num ou noutro estágio. Apesar de ser perigoso este­
reotipar todas as pessoas de acordo com sua idade, fazendo-as amoldar-se
a certo estágio, para o educador é útil ter conhecimento das possíveis
etapas do desenvolvimento humano e que pessoas geralmente se enqua­
drariam em determinado estágio.
Os estágios sugeridos por Piaget quanto ao desenvolvimento da
criança ajudam o educador a entender por que um menino reage como
reage a seus colegas de turma e por que alguns métodos de ensino
funcionam e outros não. Ajudam a entender que seria inútil apresentar
â criança pequena determinados conceitos complexos que amda não pode
captar e entender. Ajudam a saber, talvez, como disciplinar positiva­
mente a criança, compreendendo que seu egoísmo ou outro "mau"
comportamento é manifestação de seu estágio evolutivo. Muitos profes­
sores se desesperam rapidamente porque não entendem que podem existir
certas ações ou atitudes de seus alunos que apesar de parecerem más
podem ser normais como parte de seu desenvolvimento físico, emocional
e social.
As idéias de pesquisadores como Kohlberg também podem ser úteis
ao educador. Essas teorias sobre o desenvolvimento moral, combinadas
96
com Lógica e senso c-omum, nos mostram que o ensino de princípios éticos
e morais não se faz do dia para a noite. Uma criança não desenvolverá
um sistema completo de valores pessoais, apesar dos numerosos sermões
pregados por seus pais e mestres. R>r sua vez, não se pode desprezar a
importância de moldar continuamente a criança com valores concretos,
tornando-a uma pessoa de boa conduta e integridade moral.
Uma adequada compreensão da terceira etapa sugerida por Kohl-
berg evitaria muitas horas de angústia e falta de comunicação entre os
pais e mestres e os adolescentes com que devem relacionar-se. A iden­
tificação com os companheiros é um desejo normal no processo de
desenvolvimento do adolescente. O pai ou mestre sábio compreenderá
isso, sem deixar de lado a importante função de ensinar ao adolescente
que muitas vezes os companheiros têm idéias erradas, moral e eticamente.
As teorias clássicas, formuladas por Erickson, são também muito
úteis. As qualidades que Erickson menciona — esperança, vontade, propó­
sito, competência, fidelidade, amor, interesse, sabedoria — são conceitos
dignos de serem ensinados em qualquer ambiente ed ucacional. O professor
atento à presença de qualidades negativas nas tensões dinâmicas dos está­
gios evolutivos sugeridos por Erickson poderá tomar medidas em sua
metodologia ou no conteúdo de suas aulas que reforcem as qualidades
positivas.
Implicações para a igreja local
Todas as implicações de cunho educacional sugeridas têm valor
para o programa educativo da igreja local. Não é necessário que os proles
sores de sua escola dominical sejam psicólogos e que conheçam a fundo
essas teorias e outras semelhantes, mas o ensino da escola dominical será
mais eficiente se os professores tiverem uma compreensão básica do desen­
volvimento j)sicológico da pessoa. Breves e simples explicações sobre a
psicologia da criança, por exemplo, poderiam sensibilizar os professores
de pré escolares no sentido de evitar traumas na classe.
Uma compreensão das etapas do desenvolvimento humano nos
ajuda a entender por que na igreja algumas crianças de idade escolar
compreendem os conceitos de pecado, arrependimento e salvação, e outras
não entendem. Isso nos adverte quanto ao cuidado que devemos ter de
não pressionar as crianças a se comprometerem com um conceito que
ainda não entendem. Algumas não teriam a idéia do que seja compro­
misso, e muito menos de pecado e salvação. Por outro lado, o
conhecimento psicológico nos ajuda a compreender que devemos deixar
aberta a porta para aqueles que já se encontram num estágio de desen­
volvimento que lhes permite entender estes conceitos.
07
Além disso, a compreensão destes princípios psicológicos nos ajuda,
como iideres da igreja, a reconhecer a existência de isolamento, estag­
nação e desesperança entre os membros da comunidade cristã. Alguns
de nossos membros precisam de atividades, instrução e estímulo para
combater esses males e poder experimentar o gozo da salvação em Cristo.
fbderiamos prolongar este assunto, mas não julgamos necessário
fazê-lo. O que desejamos transmitir é que a psicologia pode ser útil à
igreja. Existem, certamente, outros aspectos da psicologia que não são
importantes para nós, mas se a tornarmos um instrumento útil, sem
permitir que ela nos use, a psicologia poderá ser um instrumento efetivo
para nosajudar a desenvolver um programa eficaz de educação na igreja.
3, A FÉ COMO EXPERIÊNCIA PSICOLÓGICA
Há outra área da psicologia que influi muito sobre a educação reli­
giosa. É a relação entre a fé e o desenvolvimento psicológico. Em muitos
círculos educacionais e teológicos atuais, fala-se da igreja cristã como
comunidade de fé, e assim deve ser. Se tal afirmação é verdadeira, a igreja
deve preocupar se em ensinar a fé. Mas isso é possível? Pbde se ensinar
a fé, ou a fé consiste em algo que se desenvolve por si mesmo depois
de havermos assumido um compromisso com Deus? A questão teoló­
gica não nos preocupa, neste estudo. Mas, sim, examinar a possibilidade
de que a fé, na comunidade cristã, seja vista como um processo educa
cional e, portanto, como processo psicológico.
Antes de abordarmos a fé como experiência psicológica, é conve­
niente estabelecermos uma relação entre ciência e fé.
Ciência e fé
Há sempre pessoas, pri ncipalmente en tre os in telectuais, q ue neces­
sitam de um sistema de crença mais racional do que aquele que a simples
fé pode proporcionar. Relembremos o movimento de Tomás de Aquino
e o Escolasticismo, de como procuraram explicar a realidade de Deus
por meio da razão humana. Recordemos também, por outro lado, os
audazes avanços da ciência durante os séculos 18 e 19, que tentaram
provar cientificamente que Deus não era uma realidade. No psiquismo
humano sempre existe a possibilidade de tensão entre uma fé cega e a
necessidade de explicação lógica e científica das coisas.
Sobre essa possível tensão, queremos dizer que a teologia que prati­
camos na tradição evangélica nos leva a aceitaras verdades divinas pela
fé. Alguns aspectos de nossa crença podem ser logicamente explicados,
mas outros não. Estes últimos não são contestáveis simplesmente por
falta de evidências externas.
98
Gray explica o assunto quando afirma que “os educadores cristãos
não negamos os resultados da pesquisa psicológica cuidadosa, mas ques­
tionamos qualquer de suas conclusões que pareçam cont radizer a verdade
biblica e os princípios cristãos" (Sanner e Harper, p. 121).
Assim sendo, a atividade de um educador cristão sério deve ser
cautelosa para não ser iludido por um sistema de pensamento que contra
diga o ensino da Bíblia, ftir outro lado, o educador deve ter uma atitude
aberta e disponível, capaz de incorporar novas idéias que lhe possam
ajudar no desempenho de seu ministério,
Etapas da fé
No campo da psicologia do desenvolvimento humano e sua relação
com a experiência religiosa e com a educação cristã, surgiu em anos
recentes um novo conceito de fé. James Fowler, psicólogo cristão norte-
am ericana elaborou um sistema para definir o desenvolvimento da fé,
em tennos semelhantes aos das teorias dos estágios do desenvolvimento
humano.
Sua teoria se apóia em pesquisas amplas e sérias. As conclusões
resultantes formam um sistema intricado e complexo que se propõe a
difinir o sistema de fé adotado por alguém, seja a fé religiosa ou de outra
natureza. Neste capitulo, não nos propomos ao estudo detalhado do
trabalho de Fowler, pois isso nos tomaria bastante tempo para se poder
fazer justiça ao autor. Todavia, em nossa opinião, todo estudante do
processo da educação cristã deve ter conhecimento, ainda que
limitado, das etapas da fé e das implicações dessa teoria para a educação
cristã.
Fowler divide o desenvolvimentoou progressão da fé em seis etapas,
como uma pré-etapa. A seguir, apresentamos essas etapas, acompanhadas
de breves explicações, extraídas de seu livro Stages of Faith (“Etapas
da Fé").
Pré-etapa: Infância c fé indiferenciada. Nesse estágio, as sementes
de confiança, esperança, amor e valor chegam à criança do mesmo modo
como lhe chegaram as ameaças. É nessa etapa que estas qualidades (ou
ameaças) servem de base- para tudo que vier a acontecer â pessoa em
termos do desenvolvimento de sua fé, ou seja, a fé que se desenvolve
nessa pré-etapa fornece o alicerce para a confiança básica que a criança
terá em suas relações futuras.
Etapa 1: Fé intiiitíva-projetiva. Nessa etapa a fé se encontra cheia
de fantasias. O menino, como imitador, nesse estágio, "pode ser infiuen
ciado poderosa e permanentemente por exemplos, disposições, ações e
relatos da fé dos adultos com quem mantenha relações” (p. 133).
99
Etapa 2: Fé mltica-literal. Nessa etapa, “a pessoa adapta por si
mesma as narrações, crenças e observações que simbolizam sua parti
cipação na comunidade" (p. 149). Nesse estágio, as crianças (às vezes,
adolescentes e adultos) são muito influenciadas por materiais simbólicos
e dramáticos. A etapa se chama literal porque a criança (escolar) crê tudo
literalmente. Chama-se mitica porque a criança descobre que, pelo uso
do drama, histórias e mitos “pode encontrar coerência para sua expe­
riência” (p. 149).
Etapa 3: Fé sintética-convencional. Nesse estágio, “a experiência
da pessoa se estende além da familia. Várias áreas exigem atenção: família,
escola ou trabalho, companheiros, turma de rua, meio em que vive e
talvez religião. A fé deve oferecer uma orientação coerente em meio dessa
amplitude de compromisso mais complexa e diversificada. A fé deve sinte­
tizar valores e informações; deve prover uma base para identidade e
perspectiva” (p. 172). Essa é a etapa de conformismo, e muitos param
por aqui.
Etapa 4: Fé individualisfa-reflexiva. Esse estágio é crítico, porque
é aqui que o “adolescente ou o adulto deve começar a levar a sério o
peso da responsabilidade de seus compromissos, estilo de vida, crenças
e atitudes” (p. 182). Nesse estágio a pessoa se encontra vivendo em meio
a tensões: individualidade versus membresia de grupo; subjetividade versus
objetividade e reflexão critica; auto-realizaçâo versus serviço aos outros;
relatividade versus absolutismo. A força desse estágio reside em “sua capa
cidade para reflexão crítica sobre identidade (ego) e perspectiva (ideologia)".
Etapa 5: Fé conjuntiva. Fowler admite a dificuldade em definir a
quinta etapa do desenvolvimento da fé. É uma etapa muito complexa,
em que a pessoa, geralmente de meia-idade, encontra-se incorporando
dentro de si mesma e de sua perspectiva algo que havia suprimido ou
que não havia reconhecido antes, devido a seu desejo de viver com certeza
própria e realismo. O indivíduo se encontra refazendo sua vida passada,
refletindo e criticando os mitos, preconceitos e ideais que antes faziam
parte de seu sistema de valores pessoais.
Etapa 6: Fé universal. Segundo Fowler, é muito raro alguém chegar
a esse estágio. A pessoa que o atinge é uma “encarnação” disciplinada
dos “imperativos do amor absoluto e da justiça absoluta” (p. 200). A
descrição que Fowler fez dessas pessoas raras é significativa: por sua
compreensão superior, sacodem os alicerces sobre os quais construímos
nossa segurança. “Muitas pessoas nesta etapa se modificam menos do
que se espera. As pessoas raras, descritas nesse estágio, têm uma graça
especial que as faz parecerem mais lúcidas, mais simples e às vezes mais
completamente humanas do que as demais” (p. 201).
100
É bem verdade que essas idéias são complexas e nào é de se esperar
que o leitor entenda todo o significado da obra de Fowler com esta simples
exposição de sua teoria. Existe, certamente, uma relação entre essa teoria
e as que examinamos antes. Mas, uma diferença significativa è que, do
ponto de vista cristão, as etapas da vida sugeridas por Fowler são está
gios não somente da vida psicológica do individuo, mas também de sua
vida religiosa.
É precisamente aqui que tudo isso começa a fazer sentido para
o educador cristão. Nós, que somos chamados por Deus para ensinar
o seu povo, temos a grande responsabilidade de alimentar a comunidade
de fé, e nem todos na comunidade se encontram no mesmo nível de desen
volvimento espiritual. As implicações para nós são múltiplas e
importantíssimas.
É importante que o educador cristão não faça uso das idéias de
Fowler de modo ingênuo. Mas se adotarmos suas idéias com seriedade,
elas nos podem ajudar a entender algo da peregrinação dos que parti
cipam de nosso programa educacional. Devemos entender que “a tarefa
do educador é muito mais do que ensinar o ‘conteúdo' da tradição da
fé. Nossa tarefa é nutrir o povo, com ajuda da graça de Deus, na sua
capacidade de permanecer na fé. Ser e tornar-se uma pessoa de fé cristã
é um processo de formação e de maturação” (Groome, p. 66). Nossa respon
sabilidade como educadores cristãos é prover o conhecimento e o ambiente
necessários para uma boa formação. É importante que usemos a infor­
mação a nosso dispor para que nos ajude a cumprir a tarefa de modo
mais eficiente.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Defina, com suas próprias palavras: a. Psicologia, b. Psicologia
da educação.
2. O que se quer dizer quando se afirma que a psicologia é uma
ciência exata?
3. Qual a relação da psicologia com a educação?
4. Mencione três subáreas da psicologia educacional,
5. Quem formulou a teoria behaviorista?
6. Às vezes o behaviorismo é chamado de teoria E R (estímulo-
-resposta). Por que se diz que esta é uma designação apropriada?
7. Contraste as teorias cognitivas com as humanistas.
8. Em que aspectos o processo ensino-aprendizagem tem a ver
com as teorias de ensino?
101
9. De acordo com as teorias de ensino, qual seria o objetivo do
ensino cognitivo? E do ensino afetivo? E do ensino psicomotor?
10. Qual o significado do nome de Abraham Maslow para este
estudo?
11. As teorias da motivação, em geral, colocam quatro questões.
Quais são?
12. O queé hedonismo? O que tem a ver a motivação com a igreja?
13. Em sua opinião, qual a relação mais evidente entre a psicologia
e a educação?
14. Apresente as várias maneiras pelas quais os conhecimentos
psicológicos podem ajudar o educador cristão evangélico em
sua tarefa na igreja local.
15. Que relação poderia haver entre as teorias da aprendizagem
e a homilética?
16. Descreva a relação entre Espirito Santo, o educador cristão e
a psicologia educacional.
17. Faça um resumo das principais ideias da teoria de Piaget.
18. Mencione os oito estágios da vida segundo Erickson.
19. Na sua opinião, a terceira etapa do desenvolvimento moral da
teoria de Kohlberg nos indica algo sobre o comportamento
juvenil na igreja? O quê?
20. Faça uma avaliação dos membros das classes (ou departamentos)
da escola dominical de sua igreja, segundo a teoria de Erickson.
Por exemplo: entre os adultos de 21-35 anos, há mais intimi
dade ou isolamento? Que se pode fazer quanto a isso?
21. Avalie o conceito de igreja como comunidade de fé.
22. Em que sentido a igreja ensina a fé?
23. Baseado no pouco que leu, qual é sua opinião pessoal sobre
a importância da teoria das etapas da fé?
24. Em que sentido o desenvolvimento da fé é um processo psico
lógico?
25. Analise a declaração: "A tarefa do educador é muito mais do
queensinar o ‘conteúdo’da tradiçãoda fé. Nossa tarefa é nutrir
o povo, com ajuda da graça de Deus, na sua capacidade de
permanecer na fé”.
Temas para discussão
1. Considere a hierarquia das necessidades apresentadas por
Maslow. Se. tais necessidades são comuns a todas as pessoas,
quais delas a igreja pode ajudar a satisfazer e como?
li).’
2. Compare e contraste as teorias de Piaget, Kohlberg, Erickson
e Fowter. Se possível, apresente o de uma forma sinótica.
3. Faça uma monografia, com três a cinco laudas, consistindo
numa conversa imaginária entre você, Kohlberg, Erickson e
Fowler a respeito do desenvolvimento humano.
4. Em sua classe ou seminário, procure entender de forma geral
as etapas da fé e discuta o seu significado para a igreja e para
a educação cristã.

103
Quarta Parte
BASES TEOLÓGICAS
DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Capítulo 11
O PADRÃO BÍBLICO DE NOSSOS DIAS

Introdução
Nesta unidade procuraremos entender a relação entre os conceitos
teológicos que dirigem a vida da igreja e a função educativa dentro desta
vida eclesiástica. Depois, no capítulo 12, apresentaremos uma filosofia
educacional que o autor considera adequada para a igreja, levando em
conta sua base teológica.
Neste capítulo abordaremos especificamente uma teologia da
educação cristã. Não é a teologia da educação cristã que vamos estudar.
Ftassivelmente tal coisa não existe. Apresentaremos, isto sim, uma teologia
ou talvez alguns pensamentos que conduzem a uma teologia da educação
cristã.
A palavra teologia é usada de várias maneiras. Diz-se, por exemplo,
que num seminário, num instituto ou centro de extensão se ensina e se
aprende teologia. Fala-se de teologia sistemática e teologia bíblica. Em
determinados meios eclesiásticos, fala-se muito, atualmente, de teologia
da libertação. O título desta quarta parte do livro trata dos fundamentos
teológicos da educação cristã, e este capitulo pretende abordar uma pers­
pectiva teológica.
Afinal, o que é teologia? È um campo de estudo religioso? Uma
área educacional para religiosos intelectuais? È um curso de uma insti­
tuição teológica? O teólogo batista Fisher Humphreys é provavelmente
o autor que melhor expressa o sentido exato do que vem a ser teologia.
O título de uma das suas obras — Thinking A bout God (“ fòisando sobre
Deus”) — é a sua definição de teologia. O fato nâo é propriamente que
estudamos teologia, nem que aprendemos teologia, ou lemos obras teoló­
gicas, mas, sim, que fazemos teologia. Pensamos sobre Deus e, ao fazê-lo,
fazemos teologia. Portanto, cada pessoa tem sua própria teologia (natu­
ralmente, com muitas influências externas), porque cada indivíduo tem
seus próprios pensamentos sobre Deus,
Mas que é que tais pensamentos têm a ver com a educação cristã?
A resposta é que, se o objetivo da educação cristã é nutrir, edificar.
107
conservar e disciplinar a comunidade cristã sob a orientação de Deus,
0 que pensamos sobre Deus tem a ver com o que ensinamos na igreja.
É importante que o educador cristão tenha uma teologia da
educação cristã, isto é, pensamentos sobre Deus que lhe indiquem como
fazer educação. Enquanto o educador faz sua teologia, ele faz também
sua educação cristã, e entre essas duas coisas não deve haver conflito.
Neste capitulo vamos estudar algumas das possibilidades que nos
conduzem a uma teologia da educação cristã. Para tanto, examinaremos
algumas passagens bíblicas que falam do ensino espiritual e que nos
ajudarão a pensar mais claramente sobre o modo como Deus quer que
façamos a educação teológica; e, em seguida, sugerimos algumas de suas
implicações para a função educacional da igreja.
1 PASSAGENS BÍBLICAS FUNDAMENTAIS
Muitas passagens bíblicas nos podem ajudar na elaboração de uma
teologia da educação cristã. Sem a pretensão de esgotar o assunto, o autor
escolheu três trechos, que serão estudados com algum detalhe: um do
Antigo Testamento, um dos Evangelhos, e um das Epístolas de Paulo.
Deuteronômio 6.4-9
Os hebreus chamavam esta passagem de Shemá (“ouve’’), a primeira
palavra de sua confissão de fé. Se os judeus tivessem de escolher a
passagem mais importante dos livros da lei. provavelmente a escolha
recairia sobre este texto. Estas palavras indicaram como transmitir a seus
filhos e ás gerações posteriores o que Jeová havia feito por eles. Neste
sentido, o Shemá foi a base do sistema educacional dos hebreus/judeus,
o povo escolhido de Deus.
A ordem aqui dada aos hebreus de passar os preceitos de Deus
a seus filhos chegou num momento crítico da história do povo de Israel.
Moisés, o líder dos hebreus naquela época, que recebia reveiaçóes e pala­
vras diretamente de Jeová, que conheceu pessoalmente Jeová numa sarça
ardente e que recebeu os mandamentos de Deus para seu povo em contato
quase direto com Deus, esse mesmo Moisés, que foi a figura principal
das narrativas encontradas nos livros de Êxodo, Ijevitico e Números, ao
fim do Deuteronômio morreria. O povo então precisava de uma forma
de preservar seu passado histórico sagrado. O povo precisava de uma forma
de transmitir sua fé, de transmitir a seus filhos a Palavra de Deus, os
mandamentos, as leis e os princípios que transformassem suas vidas.
Foram palavras ditas a Israel, o povo de Deus. Nelas encontramos,
portanto, principios e direção para a educação cristã, a função educa
108
cional do novo povo de Deus — a igreja. No Shemá encontramos uma
prefiguração da metodologia usada por Jesus no seu trato com as pessoas
e seu compromisso com o Pai para transformar as vidas de seus seguidores.
Larry Richards, em seu livro A Theology oi Christian Education
(“Teologia da Educação Cristã”), sugere e desenvolve três princípios que
formam a base do ensino ao povo de Israel, conforme o texto em foco,
e aponta paralelos na educação cristã. Apresentaremos agora tais prin­
cípios, e ao final deste capítulo nos ocuparemos de seus paralelas.
Em primeiro lugar, os versículos 3-6 desta passagem chamam nossa
atenção para a figura do mestre. Quem ensina deve ter uma relação de
amor pessoal com Deus. Além disso, esse amor terá que revelar-se e
cumprír-se na interiorização da Palavra de Deus (“estas palavras (....)
estarão em teu coração”).
Em segundo lugar, o Shemá ensinou aos israelitas que a educação
religiosa se transmite no lar, de pais a filhos, ou seja, a transmissão eficaz
da fé, das verdades divinas, ocorre num ambiente familiar onde geral
mente há estabilidade, amor. intimidade e o compartilhar variável, mas
estreitamente entrosado, de seus componentes. O quadro que o Shemá
nos apresenta éo de edificação dentro de relações interpessoais saudáveis.
Em terceiro lugar, os versículos 7-9 indicam que o ensino se realiza
no contexto da vida. Lembra-se da mezuzá , que mencionamos no capí­
tulo 2? O uso da mezuzá foi o cumprimento da ordem contida no versículo
9. Apesar de os israelitas haverem tomado estes mandamentos literal­
mente, qual era o seu significado? E que na vida do individuo deve existir
evidência da lei em seu coração e que se deve aproveitar toda oportu
nidade para ensinar as verdades divinas.
Em resumo, o Shemá ensina que a instrução do povo de Deus nas
verdades divinas se faz de três maneiras principais: com um modelo ou
exemplo, com relações interpessoais, e dentro do contexto da vida.
Lucas 6.40
Tradicionalmente este versículo tem trazido algumas dificuldades
aos intérpretes, porque parece isolado do contexto, segundo alguns eruditos
(veja-se explicação dada por Barclay). Sem dúvida, Leon Morris, em seu
comentário da série Tyndale, propôs um sentido contextuai aceitável.
Em sua versão do Sermão da Planície (do Monte, em Mateus), Lucas
apresenta aos ouvintes princípios de um sistema de valores radicalmente
diferente dos valores do mundo. Lucas começa com as bem-aventuranças
no versículo 20, e prossegue descrevendo a vida do súdito do reino, de
modo semelhante ao de Mateus. Morris sugere que, a partir do versículo
38, Jesus está falando da responsabilidade que tem o discípulo de lazer
109
outros discípulos. Com tal responsabilidade, é de suma importância que
o súdito do reino viva corretamente, de acordo com valores elevados.
Para realçar a importância do viver correto, Jesus usa três metáforas:
um cego não guia outro cego, o discípulo não é maior do que seu mestre,
e o contraste entre a trave e o argueiro.
O objetivo de um discipulo no tempo do ministério terreno de Jesus
era ser como seu mestre. A palavra corresponde a “instruído” ou ‘'aper­
feiçoado”, em grego, significa “ser remendado” algo que está quebrado
ou rasgado, sejam redes, animais ou homens. Aqui temos, pois, a figura
de um processo de consertar um homem quebrantado, isto é, fazer crescer
e amadurecer uma pessoa que até então havia sido mera criatura de Deus,
para que se torne um verdadeiro filho de Deus. vivendo de acordo com
os princípios que Jesus apresentou como características do súdito do reino.
Esta maturidade se realiza à medida que alguém segue seu mestre, cuja
vida, por sua vez, já deve demonstrar as características de súdito do reino
de Deus.
Assim sendo, o versículo 40 deve abalar nossa compreensão
obtusa da função educacional da igreja. Na teologia pessoal deste
autor existe a firme convicção de que nesse versículo Deus nos
quer dizer algo muito importante quanto ao modo como seu povo
deve ser educado. É uma compreensão que pode ser revolucionária
para nossos programas acomodados de educação A passagem nos
passa três lições que nos ajudam em nossa busca de uma teologia
da educação:
1. Aquele que segue a Cristo deve ter por objetivo ser como
ele foi.
2. As pessoas a quem Deus conferiu a resjxmsabilidade de guiar,
instruir e discípular outros devem ser imitadoras de Cristo, vivendo
com elevados princípios e m aturidade espiritual, porque os seus
discípulos ou alunos têm também por objetivo serem iguais ao instrutor
ou professor.
3. A idéia de que o objetivo da educação do povo de Deus é apre­
sentar dadose instrução cognitiva sobre Deusé um conceito incompleto
e inadequado, do ponto de vista bíblico.
Essas três idéias podem ser resumidas observando-se as palavras
do versículo 40: “será como”. Note-se que o texto não diz: “saberá
o que o seu mestre sabe” mas “será como o seu mestre". Que res­
ponsabilidade para aquele a quem Deus colocou como mestre diante
de seu povo!
Falaremos um pouco mais sobre este assunto na última parte deste
capitulo.
110
Eíésios 4.12
Este versículo se encontra no contexto de uma das discussões de
Paulo acerca da diversidade de dons dentro do corpo de Crista que resulta
na unificação do corpo. Depois de mencionar alguns ministérios ou dons
na igreja, Paulo diz que o propósito da existência de tais ofícios é “o aper
feiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do
corpo de Cristo”, isto é, as responsabilidades daqueles que instruem o
povo de Deus na igreja, através da pregação, da interpretação da vontade
de Deus, do ministério pastoral e do ensino espiritual, fazem parte de
um processo evolutivo visando à maturidade do povo de Deus.
A palavra “aperfeiçoar”, aqui, tem a mesma raiz da palavra usada
para "remendar”, que vimos em Lucas 6.40. Parece, portanto, que Paulo
está dizendo â igreja em Éfeso que o propósito desses dons e a respon­
sabilidade dessas pessoas é guiar o povo de Deus em um processo de
preparação para a sua utilização no ministério (serviço) da igreja, para
que esta seja edificada, reforçada, amadurecida.
Dois aspectos interessantes queremos enfatizar nesta passagem, Um
é que Paulo parece estar falando de uma edificação do corpo dentro do
corpo, como forma de desenvolvimento interno através da qual a igreja
amadurece. O outro é que no contexto desta passagem encontramos a
organização da igreja primitiva, que abrange ofícios diversos para dife­
rentes responsabilidades, cada um dos quais contribuindo para a edificação
da igreja. Tal organização nos dá a entender que Deus aprova, se é que
não ordena, um sistema organizado e ordenado, segundo as indicações
do Espírito Santo, para efetuar a instrução de seu povo. Vejamos, a seguir,
algumas das conseqüências de tal pensamento para nossa teologia da
educação.

2. IMPLICAÇÕES PARA A IGREJA


Destas passagens, extraímos alguns pensamentos que nos ajudam
a começar a formular uma teologia da educação cristã. Havemos de convir
que uma teologia baseada apenas em três passagens bíblicas será parcial,
mas oferece a base suficiente para uma elaboração maior. Uma teologia
da educação não deve ser estática, mas sempre dinâmica, em busca de
novas formas de expressão. No estudo que fizemos na primeira parte
deste capítulo distinguimos, pelo menos, cinco implicações para a função
educacional da igreja, Vamos analisá-las, a seguir, sob os seguintes
aspectos: modelo, ou exemplo; relações interpessoais; contextualização;
discipulado; organização.
Modelo, ou exemplo
Como vimos em nosso estudo do Shemá, Deus quer que um pai
seja bom exemplo para seu filho. De igual modo, a pessoa de maior fé
deve ser um bom modelo para aquela de menor fé. Para que a igreja possa
crescer, é necessário ter a Palavra em seu coração e viver a Palavra.
A educação na igreja se realiza, pelo menos, em dois níveis — a
educação formal, através da escola dominical, sociedades missionárias,
estudos bíblicos etc; e a educação informal, que se realiza toda vez que
nos reunimos no templo ou fora do templo. Quando uma pessoa conhece
Cristo, e assiste aos cultos, e se batiza para fazer parte da família cristã,
como aprende no que deve crer, como deve agir, viver, cultuar? Na
educação formal, é verdade; no entanto, mais do que isso: ela aprende
com os demais crentes com os quais mantém contato. Os demais cristãos,
mais amadurecidos (teoricamente) do que essa pessoa, lhe servem de
modelo. Que tremenda responsabilidade, não é mesmo?
A paráfrase de uma afirmação de Richards chama nossa atenção
para esta responsabilidade: na educação ensinamos o que sabemos, mas
na educação cristã ensinamos o que somos. Todo educador cristão, todo
pastor, enfim, todo cristão deve examinar sua vida e perguntar: “Quero
eu. tal como sou, ser modelo para aqueles que minha igreja espera ganhar
para Cristo?" Ou: “ Posso eu, tal como sou, ser um exemplo digno para
minha congregação ou minha classe?"
O processo de ensino empregado por Jesus baseava se em seu
conceito de ser modelo para os seus discípulos. Jesus disciplinava seus
seguidores ensinando-os com sua própria vida. Ele disse: ‘‘Porque eu vos
dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15).

Relações interpessoais
O quadro didático entre pais e filhos apresentado no Shemá é de
estabilidade, amor e intimidade. Este mesmo ambiente familiar deve existir
na igreja enquanto desempenha sua função educativa. Devemos promover,
estimular e apoiar a educação cristã no lar e, ao mesmo tempo, com a
ajuda do Espírito Santo, criar um ambiente familiar dentro das atividades
educacionais da igreja. Qualquer outra educação pode ser eficaz sem
amor, mas, no caso da educação cristã, isso não é possível.
Deus nos indica de forma direta, através do Shemá , que os pais
têm a responsabilidade de ensinar os preceitos divinos a seus filhos. À
educação familiar não é um ramo da educação espiritual separado da
igreja. É. isto sim, parte integral da função educativa da igreja, porque

112
se nâo existe no lar uma relação de amor que edifique a família cristã,
seus efeitos se farão sentir em toda a vida da igreja. O culto ou o devo-
cional doméstico pode afetar profundamente o nível espiritual da igreja.
Os que ocupam lugares específicos de responsabilidade na educação
formal da igreja devem conhecer seus alunos para que se estabeleça um
clima familiar em sua classe. Devem visitá-los em seus lares, saber os
seus nomes, orar por eles, conhecer seus familiares e as circunstâncias
de sua vida diária, para que estes conhecimentos os ajudem a estabelecer
um ambiente familiar em sua classe dominical.
Jesus alcançou êxito em seu ministério porque mantinha intimo
relacionamento com seus discípulos. Andava com eles, corri ia com eles,
orava com eles; pregava, chorava, alegrava-se' e falava do futuro com eles.
É difícil imaginar que os discípulos não sentissem uma irmandade, um
ambiente familiar em suas relações interpessoais com Jesus como mestre.
Contextualização
Os judeus tomavam os mandamentos do Shemá literalmente.
Levavam as palavras de Deuteronômio 6.5 em fílactérios, nos braços e
na testa. O uso da mezuzá foi também forma literal de obediência ao
mandamento. A curiosidade das crianças em observar diariamente o ritual
relacionado com a mezuzá dava aos pais a oportunidade perfeita de
ensinar aos filhos a lei de Deus.
A significação destes atos deve ser tão real para a igreja como era
a interpretação literal que lhe davam os judeus. Deve haver na igreja
uma evidência da realidade das verdades espirituais e da bondade de Deus
que penetre em todas as esferas de sua vida A igreja tem a função de
ensinar a Palavra, mas este ensino não deve ser isolado da vida. Não
é algo que se limite a uma hora de aula, numa dependência do templo,
a cada domingo, É parte integrante da vida e deve adentrar cada aspecto
da vida da igreja. Mas a palavra “igreja” não é usada aqui apenas no
sentido de vida institucional, constituída de uma programação ministe­
rial e educacional. Mais do que isso, refere-se ao que nós. a igreja, nós,
o povo de Deus, o corpo de Cristo, fazemos no templo, e também o que
nós, a igreja, o povo de Deus, o corpo de Cristo, fazemos fora do templo.
A igreja deve aproveitar todas as oportunidades que lhe .são oferecidas
no contexto de sua vida de igreja (em todos os sentidos) para ensinar
as verdades de Deus.
Discipulado
A palavra “discipulado” se tornou parte do vocabulário de muitas
igrejas evangélicas na América Latina nos últimos anos, principalmente
devido a obras como Segue-me, de Ralph Neighbour, e outras. É uma
palavra muito importante, pelo simples fato de representar um conceito
inevitável para a igreja, que tem de encontrar a maneira mais bíblica
de reproduzir-se educacional e evangelisticamente.
A passagem representativa que estudamos antes (lx 6.40) nos ensina
que o principio implícito no conceito de discipulado é que o seguidor
(o aluno) chegue a ser como o líder (o mestre). É fundamental para nossa
teologia da educação cristã entender este princípio em seu sentido dupla
Por um lado, para que o aluno possa vir a ser como seu mestre, deve
ter a oportunidade de conhecê-lo bem, num relacionamento interpessoal,
estreito, no contexto da comunidade de fé e em sua extensão ao mundo.
À igreja terá de criar circunstâncias, ambiente e motivação para incen­
tivar o aluno em sua peregrinação rumo ao alvo de tornar-se como seu
mestre. Naturalmente, todos nós aspiramos vir a ser como o Mestre, Jesus
Cristo. Mas, em Lucas 6.40, Jesus está falando também de mestres
terrenos. Quando Paulo discipulava Timóteo, ele próprio, Paulo, embora
seguidor de Cristo, deu a Timóteo o exemplo para sua formação na fé
e no ministério. Paulo exortava e motivava Timóteo, constantemente,
no sentido de observar seu exemplo pessoal e por este aprender.
Esta luta continua por parte do aluno indica, como conseqüência
natural, o outro sentido do princípio do discipulado. É que o mestre
deve ser um exemplo digno de ser seguido. Nossa teologia da educação
cristã deve incluir a compreensão de que, se buscarmos na Bíblia os
preceitos sobre os quais basearemos nosso ensinamento, vamos verificar
que o mestre cristão tem a responsabilidade de ensinar seus alunos
a seguir seu próprio exemplo como cristão. “Muito da educação consiste
em ajudar as pessoas a saber o que os seus mestres sabem. A educação
cristã consiste em ajudar as pessoas a ser o que seus mestres são”
iRichards, p. 30),
Se nosso propósito na igreja como educadores cristãos, seja como
pastores, mestres ou outra qualquer função, é levar as pessoas a serem
como nós somos, que grande parâmetro, este, para o nosso próprio andar
no Senhor! A igreja que levar a sério tal princípio, como parte de sua
teologia da educação, estará atingindo uma profundidade em suas ativi­
dades educacionais que se aproxima do padrão que Jesus deixou para
a igreja. É um padrão de santidade em que aquele que ensina compar­
tilha santidade com outros na comunidade de fé, através do intercâmbio
de idéias, conhecimentos e compreensões, que obteve pela experiência
de viver na Palavra e em viver a Palavra. A igreja que cumpre sua função
educacional dessa maneira supera a mentalidade de que a educação se
faça somente aos domingos de manhã.
114
Organização
Alguns cristãos evangélicos acham que não há necessidade de um
programa educacional organizado. Mas, se uma teologia da educação
cristã não incluir a necessidade de organização ou sistematização, teríamos
que suprimir algumas passagens bíblicas, como Efésios 4.12, por exemplo.
Sabemos, por experiência, que quando algo é organizado, a proba
bilidade de êxito é maior. Isso é verdade no mundo comercial, é uma
norma pedagógica, e o próprio Deus providenciou um sistema organi­
zado para o funcionamento da igreja.
Se o principio de organização é bíblico, não temos que lutar contra
ele, Devemos usar a organização como meio de tornar mais fácil e efici­
ente a função educacional da igreja. A organização de nenhuma forma
substitui a obra do Espírito Santo em mudar as atitudes e influenciar
os pensamentos dos homens. Além disso, o Espírito Santo nos toca mais
facilmente quando tudo está em ordem e nosso espirito e mente não ficam
distraídos pela desordem que prevalece em nossa vida. Deixemos que
a organização desempenhe seu papel na instrução do povo de Deus, e
permitamos que o Espirito Santo use a organização como veiculo através
do qual nos possa ensinar.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda âs seguintes perguntas:
]. Por que não se deve usar a expressão: “a teologia da educação
cristã”?
2. Mencione vários sentidos em que se usa a palavra "teologia".
3. Segundo sua própria compreensão, avalie a definição de teologia
dada por Humphreys.
4. Como é que fazemos teologia?
5. Como você definiria “teologia da educação cristã”?
6. Em que sentido o Shemá era a base do sistema educacional
hebreu/judaico?
7. Qual o contexto histórico em que foi manifesto o Shemá?
8. Concorda com a declaração: “Encontramos no Shemá uma
prefiguração da metodologia de Jesus”? Explique a resposta.
9. Mencione três princípios educacionais encontrados no Shemá,
segundo Richards.
10. Que significavam interiormente os sinais externos do uso da
mezuzá e dos filactérios?
11. A que se refere a “interiorização da Palavra de Deus"?
I 15
12. Quais as características que tornam o lar um bom ambiente
para a transmissão de verdades espirituais?
13. Qual a relação da mezuzá com o Shemá ?
14. Descreva o súdito do reino de Deus, segundo Lucas 6.38-41,
e indique a relação dessa descrição com o ensino cristão.
15. Quais as três conclusões principais que se tiram de Lucas 6.40
quanto a uma teologia da educação cristã?
16. Baseado em Efésios 4.12, em que sentido o ensino espiritual
é evolutivo?
17. Quais as cinco áreas de implicações teológicas para a educação
cristã analisadas neste capitulo?
18. Que significa “deve viver a Palavra’?
19. De que modo o novo crente aprende as práticas da igreja?
20. Como o culto doméstico afeta o nível espiritual da igreja?
21. Mencione três coisas que sua igreja esteja fazendo para criar
um ambiente familiar em suas atividades de educação.
22. O que significa “contextualização”? Que tem a ver com a
educação cristã?
23. Como os hebreus/judeus contextualizavam seus ensinamentos
espirituais?
24. Qual o duplo significado do princípio do discipulado?
25. Em sua opinião, qual a necessidade de organização do programa
educacional da igreja?

Temas para discussão


1. Usando uma concordância bíblica e comentários, faça um
estudo do uso bíblico das seguintes palavras:
aprender discipulado entender
ensinar discipular mestre
instruir conhecer aluno
2. Faça um estudo mais amplo do que o que se encontra neste
capitulo sobre as três passagens bíblicas citadas. Use comen
tários â Biblia e outros elementos auxiliares. Opine se o autor
deste livro interpretou corretamente as referidas passagens
bíblicas, segundo o seu modo de ver. Em que áreas elas pode
riam tornar mais clara a sua busca de uma teologia da educação
cristã?
3. Com base neste capitulo, bem como em suas próprias idéias,
no estudo das palavras acima sugeridas e num exame mais
profundo das passagens bíblicas citadas, como você exporia
a sua própria teologia da educação cristã?
4. Avalie sua própria vida, verificando se nela existe algo que não
deveria existir na vida de alguém que se propõe ser um exemplo
ou modelo para os outros. O que poderia ser feito para que ocor­
ressem as mudanças acaso necessárias?

117
Capítulo 12
LIMA FILOSOFIA ADEQUADA
PARA A IGREJA

Introdução
Alguém poderia perguntar: por que uma filosofia da educação
cristã, quando já temos uma teologia? Vimos que teologia é pensar sobre
Deus. Filosofia é “amor á sabedoria”. Todo educador precisa desenvolver
uma filosofia pessoal da educação, ou seja, um modo sábio que o conduza
á prática de seus conhecimentos sobre educação. Se for um educador
cristão, esta filosofia pessoal será influenciada por aquilo que pensa sobre
Deus.
Alguns educadores não entendem a relevância do estudo da filo­
sofia para a obra cristã. Pensam que a filosofia não é prática, que è
abstrata, ou que é um estudo muito intelectual. Um estudo relativamente
profundo da filosofia clássica, porém, ajuda o educador a ampliar os hori­
zontes de sua compreensão do mundo e do significado da vida. O estudo
da filosofia da educação mostra o que é a educação, de que maneira nos
afeta e como fazemos educação.
Neste capítulo, não temos por objetivo fazer um estudo profundo
da filosofia da educação. Demandaria muito tempo e teria de ser um
estudo seletivo, pois se trata de campo muito vasto. Queremos apenas
abordar de modo panorâmico algumas das filosofias educacionais clás­
sicas, para podermos compreender, ainda que superficialmente, o que
alguns educadores, através dos séculos, têm pensado sobre a educação
e suas funções. Mas, para que este estudo simples não seja um mero exer
cicio acadêmico, falaremos também das implicações de cada filosofia para
o ministério educacional da igreja. Com base nesse estudo, e relacionado
com a teologia que apresentamos no capitulo anterior, sugeriremos, poste­
riormente, uma filosofia educacional que consideramos adequada à igreja
contemporânea.
Uma das dificuldades em começar o estudo da filosofia da educação
é que existem muitas maneiras — métodos, esquemas etc — de se
sificar as idéias filosóficas que buscam explicar a educação. Se formos
pesquisar nos livros de filosofia da educação, provavelmente encontra­
remos um esquema de classificação mais ou menos assim:
Filosofias Clássicas
Idealismo
Realismo
Pragmatismo
Filosofias Contemporâneas
Ferenalismo
Progressivismo
Essencialismo
Reconstrutivismo
ou talvez assim:
Idealismo
Realismo crítico
Teismo dualista
Empirismo lógico
Existencialismo
Filosofia analítica
Experimentalismo
Outros esquemas talvez incluíssem uma espécie de combinação
das classificações acima indicadas. Outros mais, ainda, apresentariam
uma perspectiva diversa para descrever a filosofia educacional, e seu
quadro incluiria as seguintes categorias:
Liberal
Humanista
Progressivísta
Radical
Analítica
Muitas outras classificações poderiam ser mencionadas. Muito
confuso, não é verdade? Isso mostra o quanto a filosofia da educação
é um assunto complexoe, por causa das inúmeras teorias existentes, não
se pode considerá-la uma ciência exata.
O esquema que vamos adotar neste capítulo, para termos uma idéia
das filosofias tradicionais da educaçào, é o seguinte:
Idealismo
Realismo
Neotomismo
Pragmatismo
Existencialismo
120
Evidentemente, não poderemos estudar esses lemas em profundi
dade; mas uma breve abordagem de cada um deles nos ajudará a entender
por que a educação tem sido feita nos moldes em que se desenvolveu.
1 CINCO ESCOLAS FILOSÓFICAS TRADICIONAIS
Idealismo: Resumo

A filosofia educacional mais antiga se explica pelo seu próprio nome


— idealismo. E uma filosofia que afirma que a única realidade verda
deira é a que se encontra na esfera das idéias. É uma filosofia altamente
teórica, que não nega o mundo físico, mas o considera instável e mutável,
enquanto que as idéias permanecem constantes e estáveis,
O idealismo afirma que por trás de cada objeto físico existe uma
idéia. A idéia é mais importante e verdadeira do que o símbolo de sua
existência, que vemos como objeto físico. Platão, o formulador deste
conceito, pensava que se pudéssemos juntar todas as idéias que estão
por trás de todos os objetos que vemos, possuiríamos, então, a realidade
máxima e abstrata. Logo, dizem outras filosofias, se existe uma realidade
absoluta, então deve existir também uma “Mente Absoluta” que se ocupa
de pensar as idéias. Foi baseado neste conceito que Hegel, idealista cristão,
sugeriu que “a história é o pensamento de Deus”.
Do ponto de vista educacional, o idealismo se interessa em entender
e assimilar idéias. A educação idealista seria vaga e geral, tendo como
objetivo ampliar nossa visão do mundo e do que nele existe. Seria uma
educação abstrata e acadêmica, sem destaque para a prática.
O objetivo do mestre neste esquema é ser um modelo para seus
alunos. Deve saber mais que seus alunos para poder comunicar-lhes os
dados que sabe ou as idéias que adquiriu, a fim de ajudá-los em seu desen­
volvimento como pessoas. O currículo é aquele que ajuda o aluno a
desenvolver sua habilidade de pensar, o que geralmente se considera um
currículo tradicional. Os métodos de ensino numa educação idealista
incluiriam conferências, leituras, escrita, recitação e periodos de pergu­
ntas e respostas.
Idealismo: Implicações para a educação religiosa
Esta filosofia exerce grande influência sobre tudo o que se faz nas
igrejas evangélicas como nome de escola dominical. Podemos mencionar
algumas implicações positivas deste fato. Primeira o idealista cristão toma
a Bíblia como o manual para ensino, porque ela é tradicional, porque
ele acredita que a Bíblia contém o reflexo das idéias absolutas e verda­
deiras, e porque ela possui uma quantidade vasta de ciência objetiva que
121
o povo cristão pode aprender. Segundo, Jesus, como mestre exemplar,
é o modelo por excelência, digno de ser imitado. Terceiro, há outros
modelos na história da igreja e na atualidade dignos também de serem
imitados. Quarto, muitos mestres, na classe bíblica dominical, dão aulas
com base nos conhecimentos especializados que possuem.
De um ângulo negativo, quando a igreja adota essa filosofia, não
há muita motivação da parte dos alunos, porque o mestre é que faz tudo.
Além disso, cria-se na igreja a idéia de que uns poucos possuem todos
os conhecimentos, conceito que nào deixa lugar para aplicações pessoais
do estudo da Bíblia à vida de cada um.
Realismo: Resumo
O realismo é uma filosofia mecanicista e prática, que sustenta que
a realidade, a ciência e os valores existem independentemente da mente
humana. Se não estivéssemos aqui para presenciar a realidade, ela exis­
tiria de qualquer modo, porque o que é físico e tangível é “real" ou
verdadeiro. Para o realista, o mundo é um mundo de “coisas1'. Aristóteles,
o primeiro a postular uma filosofia realista, dizia que tudo o que existe
pode ser posto num sistema lógico de forma e matéria (mente e corpo),
e que todas as coisas são coisas porque têm esses dois ingredientes. A
pureza de uma coisa é determinada de acordo com a proporção de exis­
tência dos dois, sendo a pureza maior determinada por mais forma (mente).
A ciência moderna modificou essa teoria, argumentando que tudo
o que acontece neste mundo ocorre por causa de leis naturais, que desco­
brimos através da ciência. Assim, o realista compararia o cosmos a uma
grande máquina cujos movimentos são controlados por leis fisicas. Nosso
lugar neste universo é o de espectador diante dessa máquina. Por meio
da inteligência humana podemos conhecer mais e mais acerca do seu
funcionamento.
Do ponto de vista educacional, cabe ao realista descobrir (literal­
mente des cobrir) tudo o que é real, para melhor entendê-lo. Ele se interessa
pelo que a ciência e a razão lhe podem ensinar, enquanto observa o que
é (o que existe).
O mestre, neste esquema, desempenha o papel de demonstrador,
como um elo na cadeia entre o aluno e a natureza. O mestre realista
rião é tão importante como o mestre idealista. O conteúdo é o mais impor
tante. Enquanto apresenta o conteúdo ao aluno, o mestre mantém uma
posição neutra. O aluno, segundo o realismo, precisa de um sistema orga­
nizado e ordenado (como a máquina do cosmo) para que sua aprendizagem
se torne eficaz. Devido á sua ênfase na natureza, os cinco sentidos são
importantes no processo de ensino-aprendizagem.
122
0 currículo da educação realista se apóia nas ciências: biologia,
geologia, quimica, matemática etc. Presume que, se se aprende através
das ciências exatas, nâo há necessidade de se especular sobre o signifi­
cado das coisas, porque tudo possuí seu significado exato. Os métodos
adotados para ensinar esse currículo podem ser múltiplos, mas serão
sempre para ajudar o aluno a absorver dados e informações quantita
tivas. A mente do aluno é considerada como um receptor de informações,
que deve encher-se de dados. Os métodos de avaliação mais comuns são
os que requerem que o aluno responda a perguntas ou pratique ativi­
dades, devolvendo ao professor dados específicos segundo o que este lhe
haja ensinado.
Realismo: Implicações para a educação cristã
Mencionaremos quatro implicações da filosofia realista para a
educação cristã. É possível que haja muitas outras implicações, mas estas
são as mais evidentes.
Primeira, esta filosofia criou uma mentalidade entre alguns evan
gélicos de que o mais importante no estudo da Bíblia é o domínio dos
dados biblicos. É uma mentalidade que estimula o risco de se crer que
o conhecimento frio de dados é suficiente, sem a aplicação á vida diária
de cada um.
Segunda, esta filosofia se reflete na arrumação física de muitas
classes de escola dominical, nas quais o professor se coloca diante dos
alunos, que se sentam em fileiras, olhando para ele. É uma disposição
conveniente para o mestre, que vê sua função como sendo a de apenas
passar informação.
Terceira, os métodos exatos e científicos têm influído muito no trei­
namento de líderes latino-americanos por instrução programada, muito
utilizada em educação teológica por extensão. A filosofia realista diz que
os lideres necessitam especificamente adquirir informações. A instrução
programada, ao que se supõe, assegura que o aluno retenha todos os dados
necessários à sua função no ministério.
Quarta, podemos notar a influência de uma filosofia realista no
novo sistema de ensino sugerido pelo currículo integrado de algumas
editoras batistas, representando uma combinação de filosofias, mas sendo
a sua ênfase, sobre o preenchimento dos espaços vazios e o desenvolvi
mento de atividades em aula, uma filosofia realista.
Neotomísmo: Resumo
A filosofia neotomista deve o seu nome a Tomás de Aquino, de
quem já falamos no capítulo 6. Baseia-se na união entre a fé e a razão,
123
que Tomás de Aquino e o escolastícismo promoveram no século 13.
Podemos dizer que o neotomismo é, basicamente, o realismo visto por
uma perspectiva religiosa. É a filosofia que domina a educação na Igreja
Católica. Tomás de Aquino postulava que se pode conhecer Deus por
meio da razão. O que se pode saber pela fé. dizia ele, pode-se confirmar
pela razão. Tomás de Aquino ampliou a idéia de Aristóteles de forma
e matéria, dizendo que uma combinação de forma e matéria traduz a
essência de uma coisa; esta essência combina-se então com outra esfera,
que é a existência, para caracterizar um ser. Dizia ele também que Deus
é a origem de toda forma e matéria, porque sua essência e existência
formam o ser perfeito (compare-se com Êx 3,14).
O neotomismo, portanto, afirma que o universo tem sua base na
matéria física e está sujeito a leis físicas, mas deve sua existência a um
Criador todo-poderoso que o criou com objetivos específicos. Os seres
humanos têm o direito de escolher seu modo de reagir a seu mundo, mas
devem fazê-lo através do intelecto e da vontade (Griese, p. 80).
Do ponto de vista educacional, o neotomismo se interessa pela aqui­
sição de um conhecimento permanente e absoluto de uma verdade
permanente e absoluta. O sistema educacional é uma sistema lógico, disci
plinado, que ajuda o aprendiz a "afinar-se”, a receber “sinais” da realidade,
conhecendo mais e mais de seu próprio mundo. A verdade que se
aprende pode ser verdade sintética (científica), que se prova cientifica
mente, ou verdade analítica, que se prova com o intelecto ou com a
intuição humana.
O mestre, neste sistema, é aquele que disciplina a mente de seu
aluno com a razão. Ao mesmo tempo, age como guia espiritual. Tal como
o idealista, o mestre neotomista é a fonte de informação para os alunos,
e sua responsabilidade é fornecer aos estudantes dados que lhes permitam
desenvolver a capacidade de raciocinar. O aluno se desenvolve com proce­
dimentos intelectuais através dos quais se torna um intelectual. Aprende
melhor num ambiente onde se ensina que não encontrará a verdade senâo
depois de um treinamento cuidadoso e disciplinado de sua mente.
O currículo neotomista é constituído de disciplinas como mate­
mática, línguas, dogma e doutrina. Estas matérias, ao que se supõe,
explicam ao aluno a realidade de seu mundo. Qualquer método de caráter
acadêmico e disciplinar é aceitável para o ensino deste currículo.
Neotomismo: Implicações para a educação religiosa

Esta filosofia, naturalmente, influenciou muito a educação religiosa


na tradição católica, pois é a expressão educacional de sua teologia. Na
América Latina, de países predominantemente católicos, podemos
observar estas influências na educação estatal, com ênfase na memori­
zação, repetição e outros métodos de disciplina intelectual.
Mas a influência dessa filosofia estende-se também à educação evan
gélica. Em muitas igrejas ou denominações dá-se muita ênfase à disciplina
mental. As “sabatinas" bíblicas, os concursos de conhecimentos da Bíblia
e a memorização de versículos são exemplos dessa influência. Muitos
materiais educacionais de editoras evangélicas podem ser usados como
aulas orais ou ditadas, método que pode ser eficiente, dependendo do
sistema de avaliação,
Esta filosofia desenvolve algumas habilidades importantes, como
relembrar, facilidade no uso de palavras, raciocinar e cultivo da memória
(por exemplo, recordar dados bíblicos).
Pragmatismo: Resumo
Esta filosofia, que dá maior ênfase â prática do que à teoria, toma
o seu nome de uma palavra que pode significar ação ou trabalho. Advoga
que a pessoa deve buscar aquilo que serve aos seus propósitos, isto é.
deve-se fazer o que seja mais pragmático ou prático.
O pragmatismo diz que a realidade da vida se encontra na expe
riência. Se a pessoa experimenta algo. isso é real e verdadeiro para ela.
Tudo o que se experimenta através dos cinco sentidos é válido, e é das
experiências diárias por meio dos sentidos que aprendemos do que se
[rata a vida,
Do ponto de vista educacional, o pragmatisia diria que a apren­
dizagem é um processo sem fim, determinado pela experiência. Diria
mais: muitos conceitos e idéias sâo ‘'candidatos” a ser verdades, mas
nenhum deles o é. A verdade, portanto, é o que funciona, e a inteligência
não é uma posição mental, mas a habilidade de fazer alguma coisa.
No esquema desta teoria, o aluno ocupa o centro do processo ensino-
-aprendizagem. O que se ensina deve estar de acordo com os seus interesses.
Em vez de se ensinar o que convém ao mestre ou a um currículo, ajuda-
se o aluno a desenvolver seus interesses para que aprenda de suas próprias
experiências, O mestre tem a responsabilidade de ser co-aprendiz com
seus alunos. É ele que dirige o processo ensino aprendizagem, mas não
se atém a fornecer dados e conhecimentos a seus alunos. Apresenta os
problemas e indica algumas possíveis maneiras de solucioná-los.
O currículo pragmático consiste mais na solução prática de
problemas do que num sistema de dados e fatos. A psicologia e a ética
seriam bons exemplos de matérias num currículo pragmático. Uma
matéria não é válida para o currículo se não se adapta a uma situação
real na experiência, na qual se pode pôr em prática aquilo que se aprende.
O método mais conhecido para a aprendizagem é o chamado método
científico ou de solução de problemas. É o método em que a pessoa iden-
tifica um problema, procura todos os dados a ele relacionados, busca
as possíveis soluções, escolhe a melhor e age no sentido de resolvê-lo.
Pragmatismo: Implicações para a educação cristã
Esta filosofia, do século 20, pode ser aplicada à igreja de várias
maneiras. Em primeiro lugar, uma atitude pragmática na educação cristã
daria maior ênfase ao ministério prático do que a uma doutrina teórica,
fbr exempla em vez de ensinar que todos os cristãos têm, segundo Mateus
28.19,20, uma responsabilidade evangelistica, o pragmatista procuraria
encontrar formas de treinar seus alunos no evangelismo prático dentro
do meio ambiente do aluno.
O pragmatismo pode influenciar também a educação cristã de outras
maneiras. Reduzo autoritarismo do mestre, com resultados lanto posi­
tivos quanto negativos. Faz com que a aprendizagem de verdades bíblicas
seja feita através de atividades práticas. Afeta os papéis do mestre e do
aluno, que não mais se encontram em seus papéis tradicionais em que
o mestre sabe tudo e o aluno não sabe nada. Adaptada à educação reli­
giosa, esta filosofia põe o cristão no centro. Isto será uma influência
positiva, se o aluno estiver no centro, não a instituição; negativa, se o
aluno estiver no centro, não Cristo.
Para algumas igrejas, esta filosofia carecerá de uma estrutura
adequada à aplicação, principalmente no caso das que desenvolvem toda
a sua atividade educacional durante apenas uma hora aos domingos.
Existencialismo: Resumo
O existencialismo é uma filosofia relativamente nova. Baseia-se no
individualismo, e se opõe. a todas as outras filosofias, interessa-se exclu­
sivamente pela existência e autonomia do indivíduo no mundo.
Este sistema de pensamento afirma que o cosmo existe sem
mudanças, e que a humanidade é chamada à existência dentro do cosmo.
O que acontece ás pessoas na vida depende do modo como elas agem
através de suas opções na vida diária.
Do ponto de vista educacional, o existencialismo advoga que a
pessoa pode aprender em duas esferas. A primeira tem a ver com a cons­
ciência do mundo existencial. A segunda, quase impossível de definir,
tem a ver com a consciência da consciência do mundo existencial, É
uma educação não-formal e não-tradicional. É difícil de ser praticada
numa sala de aula. É mais uma educação que se realiza a partir da expe­
riência da vida, à medida que o indivíduo reflete e atua sobre sua existência
126
no mundo. É uma filosofia que concorda com movimentos como a
chamada teologia da libertação, que busca a liberdade do indivíduo.
O propósito do mestre, neste tipo de educação, é somente despertar
no aluno o senso de identidade, para que, com base neste, possa ele mesmo
descobrir o seu m unda O aluno é, assim, inteiramente responsável pelo
êxito da aprendizagem ou qualquer resultado que tenha. O ponto chave
da aprendizagem é o “momento existencial”, em que o aluno se descobre
a si mesmo pela primeira vez. É um “sistema” radical de educação, baseado
em conceitos estranhos à educação tradicional.
Existencialismo: Implicações para a educação cristã
Nãoé fácil dizer se como essa filosofia influencia a educação cristã.
Talvez tenha maior influência com alguns de seus conceitos radicais, como
dissemos antes. Já foi sugerido que esta filosofia tem as seguintes impli­
cações para as igrejas evangélicas: Primeira, como diz a filosofia, cada
aluno cristão deve estar completamente imbuido da matéria que está
estudando— a Bíblia. Segunda, tal como insiste o existencialismo, a igreja
cristã sustenta que a educação espiritual seja autêntica. Isto significa
tanto a autenticidade do mestre como a do aluno. Terceira, do mesmo
modo que um aluno num “sistema” existencial, um existencialista cristão
diria que o aluno crente deve responsabilizar-se completamente por suas
crenças e por seu trabalho cristãos. Não há dúvida de que o cristão 6
responsável por suas próprias ações, mas, segundo a teologia que suge
rimos anteriormente, existe uma comunidade de fé que também é
responsável por ele,
2. UMA NOVA FILOSOFIA
O educador funciona, sabendo ou não segundo uma filosofia educa
cional. É provável que o leitor adote uma das filosofias acima descritas
ou uma combinação de duas ou mais delas. É mais provável que seja
a combinação de mais de uma, porque não existem muitos “puristas”
educacionais.
Queremos agora sugerir outra filosofia, que entendemos ser apro­
priada para a educação na igreja. Ao fazê-lo, levamos em conta algumas
vantagens das filosofias clássicas e, principalmente, a teologia educacional
do discipulado e das relações interpessoais, sugerida no capítulo anterior.
A filosofia que sugerimos se baseia num novo conceito de diálogo.
Em geral, a palavra diálogo nos traz á mente a imagem de duas pessoas
conversando ou “dialogando”. É uma imagem correta. Mas existe um
sentido mais amplo e talvez mais completo de “diálogo”. O diálogo entre
127
pessoas pode conter muito mais que meras palavras. Pode-se entender
como “diálogo” tudo aquilo que se relaciona com o intercâmbio indi­
vidual entre duas pessoas. Por isso, a filosofia que desejamos propor é
uma filosofia do diálogo, isto è, uma filosofia educacional que se baseia
fundamentalmente nas relações interpessoais entre as membros do corpo
de Cristo, à medida que ensinam e aprendem através dos métodos conven­
cionais e das experiências de seu viver cotidiano.
As filosofias clássicas, tradicionais e contemporâneas têm muito
a nos ensinar. Mas nenhuma delas, por si mesma, ê adequada para o
educador cristão. Algumas se preocupam mais com fazer proselitismo
ou propagar dogmas do que com o ensino propriamente dito. Num sistema
educacional orientado por tais filosofias, os alunos sairiam meras cópias
de seus mestres, pensando exatamente como eles pensam e agindo preci­
samente como eles agem. Até certo ponto isso não seria ruim, porque
segue alguns dos princípios de exemplificação e discipulado que encon­
tramos no Novo Testamento. O sistema falha, porém, quando o aluno,
ao pensar e agir exatamente como seu mestre, não se desenvolve a si
mesmo como pessoa digna diante de seu Criador, da comunidade de fé
e do mundo. Tais sistemas de ensino dogmático não oferecem liberdade
ao aluno para questionar, perguntar, interpretar, tirar conclusões e agir
segundo a vontade de Deus para a sua vida. São, portanto, sistemas áridos,
impessoais e baseados em estímulos externos, em lugar de serem sistemas
de incentivo interno para se aprender e aplicar verdades espirituais.
Outras dessas filosofias comuns funcionam de acordo com a
“síndrome do funil”: os que ensinam acreditam que sabem tudo e os
alunos nada sabem; e que a melhor solução, portanto, é derramar todos
os conhecimentos bíblicos no cérebro do aluno através de um "funil educa­
cional”, a fim de que tenha o necessário para viver a vida cristã. Sem
oferecer oportunidade ao diálogo interpessoal, essas filosofias negam que
o aluno tenha experiências de vida aplicáveis ao que está aprendendo
em sua instrução biblica.
Algumas das filosofias funcionam também de acordo com a teoria
“bancária”, sugerida pelo brasileiro Paulo Freire. É um conceito que diz
que os mestres depositam idéias ou informações nas mentes dos alunos
como se fossem pequenos bancos de dados. Os mestres esperam, então,
que um dia os alunos prestem contas daquilo que neles foi depositado,
Vemos também nessas filosofias tradicionais o conceito de que tudo
o que o aluno precisa conhecer já existe de modo latente em seu cérebro,
e o aluno ou a instituição educadora (no caso a igreja) tem apenas a respon
sabilidade de estimular e “bombear” estes conhecimentos, trazendo-os
à superfície.
128
Ao analisar tudo isso, verificamos que as filosofias tradicionais põem
ênfase num dos três elementos do processo ensino-aprendizagem: na
pessoa do mestre, na pessoa do aluno, ou no conteúdo do ensino. Gosta
ríamos de afirmar que essas três coisas são de suma importância: o mestre,
como exemplo de quem já tem a experiência na vida cristã; o aluno, como
o que necessita de ajuda em sua peregrinação na fé; e o conteúdo inspi­
rado por Deus, que encontramos nas Escrituras Sagradas. Queremos
afirmar, porém, que por mais que essas três coisas sejam tão importantes.,
não se deve dar ênfase a uma em detrimento das outras. Gostaríamos
de sugerir a alternativa que coloca o diálogo como prioridade no processo
cristão de ensino-aprendizagem, porque assim o mestre, o aluno e o
conteúdo assumem seus respectivos lugares de forma correta e apropriada.
A filosofia do diálogo mudaria o tratamento entre mestres e alunos; as
relações interpessoais entre os membros de nossas congregações; a orga­
nização e o tamanho das classes formais de estudo bíblico; a metodologia
empregada para apresentar as verdades espirituais; o tipo de ambiente
que se cria no processo ensino-apredizagem; a aplicação do que se aprende
em conjunto nas comunidade de fé, e um sem-número de outras implica­
ções. Não permitamos que a educação em nossas igrejas seja tão acadê­
mica que não haja calor e intercâmbios significativas entre professores
e alunos, e entre os próprios alunos. Deixemos que o Espírito de Deus
use nossas diferenças e nossas semelhanças, e tudo o que somos com rela­
ção aos outros componentes do povo de Deus, para que, através disso,
auscultando sua Palavra, aprendamos a funcionar na comunidade de fé.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Em sua opinião, é necessário que o educador cristão tenha uma
filosofia pessoal de educação?
2. O pragmatismo é também chamado de experimentalismo. Pbr
que seria essa designação apropriada para tal filosofia?
3. Para o idealista cristão, quem seria a Mente Absoluta?
4. Existe um requisito muito importante para o mestre no esquema
idealista. Qual?
5. Mencione quatro implicações positivas do idealismo para a
educação cristã.
6. Mencione uma implicação negativa do idealismo para a
educação cristã.
7. O realismo tem relação com o behaviorismo, que estudamos
no capítulo 10. Por quê?
129
8. Mencione quatro implicações do realismo para a educação
cristã.
9. Explique a declaração feita por Hegel de que “a história é o
pensamento de Deus”.
10. Considere o programa educacional de sua igreja: com o conhe­
cimento que você tem agora de algumas filosofias educacionais,
acha que tal programa se inclina mais para uma filosofia do
que pana outras? Explique sua resposta,
11. Faça um estudo exegético de Êxodo 3.14. Que tem a ver esse
texto com as teorias de Tomás de Aquino sobre a essência e
a existência?
12. Mencione alguns possíveis programas educacionais para a igreja
com caráter pragmático.
f 3. Cite os cinco passos do método científico (método de solucionar
problemas).
14. O método cientifico teria algum valor para a igreja? Dê alguns
exemplos.
15. A que se refere a palavra “diálogo", neste capítulo?
16. Faça uma avaliação da filosofia do diálogo,
Temas para discussão
!. Kenneth O. Gangel, em seu livro Leadcrship forChurch Educa-
tion (“Liderança Pára a Educação na Igreja”), sugere os seguintes
pontos principais de sua filosofia de educação para a igreja:
1) Sua metafísica (perspectiva da realidade) deve ser teocên-
trica.
2) Sua epistemologia (perspectiva da verdade) deve ser centrada
na revelação.
3) Sua antropologia deve ser imagocêntrica*
4) Sua axíologia (sistema de valores) deve ser centrada na eter­
nidade.
5) Seu objetivo deve ser cristocêntrico.
6) Seu currículo deve ser a Bíblia.
7) Sua metodologia deve ser a interação.
8) Sua disciplina deve basear-se no amor.
9) Seus mestres devem ser espirituais.
10) Sua avaliação deve basear-se no crescimento.
Avalie essa filosofia.
2. Quais seriam algumas das implicações a longo prazo, se nossas
igrejas adotassem uma filosofia do diálogo em seu programa
educacional?
* Deve basear-se no conceito de homem como imagem e semelhança de Deus |N. do T.).

130
Quinta Parte
BASES ORGANIZACIONAIS
DE UM PROGRAMA
EDUCACIONAL PARA A IGREJA
Capítulo 13
FATORES NO PLANEJAMENTO DE
UM PROGRAMA EDUCACIONAL

Neste capítulo, queremos abordar algumas noções práticas que


reflitam as idéias teóricas apresentadas em capítulos anteriores. Uma
pergunta-chave para o educador cristão é: como pôr em prática sua
teologia e filosofia de educação, e como usar o que sabe da história e
da cultura? Observa-se freqüentemente que a teoria sem prática não vale
muito. Assim é com a educação cristã na igreja local. Se não se faz algo,
0 que se sabe não beneficia o povo cristão. Pbr isso, neste capitulo daremos
uma idéia geral de seis fatores que devem ser levados em conta ao se
pôr em prática um programa educacional na igreja local: administração;
planejamento e avaliação; pessoal; divisão em grupos; instalações e equi
pamento; currículo.
1 ADMINISTRAÇÃO
O lugar do pastor
Duas proposições quase paradoxais devem ser apresentadas quanto
ao papel do pastor no programa educacional da igreja. Em primeiro lugar,
o pastor deve conhecer a fundo as necessidades educacionais de sua comu­
nidade e as atividades de sua igreja visando a atendê-las. Em muitos casos,
de vido à sua educação teológica, o pastor é a única pessoa na igreja que
tem conhecimento dos princípios educacionais que podem ser aplicados
ao ministério da igreja. Terá de ser a pessoa principalmente encarregada
do planejamento e execução do programa educacional. Sua preocupação
com o crescimento espiritual dos membros da igreja lhe dará uma visão
do que deve ser feito para a edificação de sua congregação.
O pastor deve ter conhecimentos básicos que o ajudem a sugerir
os melhores ingredientes para o programa de sua igreja. Deverá preocupar-
-se em ler, além de seus livros exegéticos e teológicos, algumas obras sobre
princípios educacionais.
133
O pastor ensina, em sua pregação. Notará, portanto, como o ensino
é inadequado em tão pouco tempo. 0 ensino que o pastor ministra, em
sermões e outras oportunidades, é de grande importância para a função
educacional da igreja, por sua autoridade e inspiração espiritual; mas
ele há de observar que isso não é suficiente para atender a todas as neces­
sidades da igreja. Deverá então preocupar-se com um programa mais
amplo, planejá-lo e ajudar a administrá-lo.
Paradoxalmente, o pastor não tem que ser forçosamente a pessoa
encarregada do programa educacional da igreja. Em alguns casos, espe­
cialmente em igrejas pequenas, talvez seja melhor que isso ocorra. Ein
outros casos, porém, seria melhor que o pastor delegasse as responsa­
bilidades educacionais a pessoas capacitadas nessa área. O pastor se veria
livre, assim, de tentação de acumular funções, quando tem outras respon­
sabilidades como a de pregar, visitar, orar e aconselhar. Por sua vez, a
pessoa ou as pessoas que se encarregam da educação podem crescer,
enquanto aprendem seu oficio dou exercem seu dom ou habilidade. O
pastor que faz tudo porque teme que outros falhem, ou que faz tudo
por superioridade intelectual ou prática, nunca terá o privilégio de traba­
lhar em estreita relação com os lideres de sua igreja, porque nela nunca
haverá lideres.
O diretor de educação
Algumas igrejas podem contar com uma pessoa, em quem o pastor
e a congregação confiam, que se encarregue totalmente do programa
educacional, sob coordenação do pastor. Pode ser alguém, por exemplo,
com preparo teológico, um ministro “profissional", que receba salário,
ou um leigo, voluntário, treinado, nesse caso, pelo próprio pastor; pode
ser o superintendente, ou o diretor, da escola dominical ou responsável
por qualquer outra atividade educacional que a igreja execute.
Note-se que em muitas igrejas evangélicas o dirigente de escola
dominical (superintendente ou diretor) tem uma tarefa muito limitada,
que consiste apenas em presidir a abertura e o encerramento das aulas,
aos domingos. Na realidade, seu trabalho deve ser muito mais do que
isso. Sugerimos aqui algumas das responsabilidades deste “braço direito”
do pastor:
1. Ser um exemplo na visitação.
2. Treinar e promover oportunidade de treinamento para os profes
sores da igreja.
3. Apresentar à igreja relatórios semanais, mensais e anuais.
4. Prever as necessidades materiais da escola dominical.
134
5. Coordenar com o tesoureiro da igreja a aquisição de materiais,
equipamentos, literatura e utensílios necessários às aulas.
6. Assessorar as classes, todo domingo, com o propósito de
conhecer e resolver problemas e corrigir situações desfavoráveis.
7. Manter um registro de freqüência e outros dados relevantes
para a igreja Ise a igreja for relativamente grande, o dirigente
poderá ser auxiliado por um secretário).
8. Estar atento a qualquer necessidade que não serido atendida
venha a prejudicar o crescimento e o bom funcionamento da
escola.
9. Trabalhar em estreita relação com o pastor.
No caso em que o superintendente ou diretor da escola não esteja
apto a atender a alguma destas áreas, deverá preparar-se assistindo a cursos
ou simpósios que o ajudem, ter e estudar obras referentes à área e pedir
a ajuda do pastor e de outras pessoas qualificadas no setor.
Comissões e juntas
Algumas igrejas locais contam com uma comissão ou coordena
doria própria de educação cristã, que assessora etou planeja o ministério
educacional, A prática não é comum entre os batistas, mas, se convém
â igreja, nada impede que seja adotada. As responsabilidades da comissão
seriam semelhantes às do dirigente da escola dominical, mencionadas
acima. A comissão deverá coordenar seus esforços com os dos dirigentes
da escola, para um programa coeso.
Paul Dirks (em Graendorf, p. 260) sugere algumas funções para
uma comissão local de educação cristã. São as seguintes: estudar as neces­
sidades educacionais da igreja local; estabelecer objetivos; desenvolver
programas; aprovar o currículo; assessorar os obreiros; providenciar
espaço; desenvolver um interesse educacional entre os membros da igreja;
estimular a cooperação entre o lar e a igreja; avaliar os progressos.
2 PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO
Sem entrar em discussão detalhada, convém salientar que o pastor,
o ministro de educação religiosa e outras pessoas envolvidas na obra educa
cional cristã têm a responsabilidade de planejar o funcionamento e sucesso
do programa educacional da igreja.
Segundo Barnard e Rice, "planejar é projetar o curso de ação”
(Sanner e Harper, p. 372). Um bom programa de educação não surge
por acaso nem se mantém sem planejamento e contínua avaliação. Como
já dissemos, os responsáveis deverão analisar as necessidades da igreja
e fazer planos específicos para atendê-las. Tais planos deverão incluir deta
lhes como: quanto custará? qual o pessoal necessário? quais são os
objetivos? como será avaliado o programa? qual o grupo da igreja que
se quer atingir? quais os métodos a adotar? com que currículo se conla
para este programa?, e outros detalhes considerados necessários.
A análise das necessidades da igreja é muito importante por várias
razões. Em primeiro lugar, permite â igreja reconhecer o que é adequado
e inadequado nos programas existentes. Segundo, ajuda a igreja a entender
que a educação cristã é muito mais do que uma simples hora dominical
(lembre-se de nossa teologia e filosofia). Em terceiro lugar, essa análise
dá à igreja oportunidade de ser criativa, à medida que trata de desen
volver programas que possam atender especificamente suas necessidades
próprias, de igreja local. Em quarto lugar, jiermite à igreja conhecer as
necessidades de grupos minoritários, tais como analfabetos, deficientes
físicos ou mentais etc. Por exemplo, se a igreja usa a literatura do currí­
culo básico da JUERP ou de outra editora, que provisão poderia fazer
para os irmãos analfabetos9 Finalmente, a análise poderá levar a igreja
a aproveitar melhor os recursos humanos e materiais com que conta e
pouco utilizados até então.
Ao analisar suas necessidades educacionais, com base numa teologia
e numa filosofia que se pretende praticar, a igreja poderá verificar que
existem muitas falhas na instrução espiritual. Planejar cuidadosamente
a fim de poder corrigir essas falhas, poderá mudar por completo a fisio­
nomia da igreja. Planejamento e avaliação são partes da organização,
que, por sua vez, é uma parte integral da teologia que estudamos no
capítulo 11.
3. PESSOAL
Outro importante fator na organização do programa educacional
é a procura e o uso dos recursos humanos necessários ao seu funcio
namento. Relacionados com recursos humanos, há dois assuntos de igual
imjwrtância; recrutamento e treinamento.
Recrutamento
Uma forma comum de recrutamento de pessoal é a que se poderia
chamar de método casual. O programa educacional, digamos, já conta
com pessoal que o vem servindo há alguns anos e não se pensa em avaliar
sua efetividade. Surge então uma necessidade, e o pastor eòu outros
nomeiam alguém para assumir o cargo. Este sistema, por mais utilizado
que seja, nãoé recomendável, Nossa teologia da educação nãoo permite.
136
porque não se presta a uma análise das relações interpessoais e da exem­
plificação no comportamento, e porque também não representa um
processo organizado.
O método mais recomendado nos manuais eclesiásticos é o uso
de uma comissão de indicação. Essa comissão pode ser a própria comissão
de educação, se a igreja a tiver, ou pode ser outra, nomeada pela igreja,
ou nomeada pelo pastor e referendada pela igreja. A função dessa comissão
é estudar os cargos que precisam ser preenchidos e recrutar pessoas para
exercê-los. Esse trabalho segue os passos seguintes:
1. Rever as necessidades e os cargos que devem ser ocupados.
2. Considerar todos os membros da igreja e a diversidade de seus
dons. talentos e habilidades.
3. Sugerir entre si os membros da igreja que poderiam servir nas
áreas específicas das necessidades detectadas.
4. Entrevistar pessoas sugeridas para saber de sua capacidade,
disponibilidade e desejo de servir nas funções para as quais foram
consideradas.
5. Recomendar à igreja a eleiçào dessas pessoas dispostas a servir.
Algumas igrejas poderão alegar que utilizam o método da comissão
de indicação, quando, na realidade, usam uma combinação deste e do
primeiro método. Para que a comissão de indicação funcione eficiente­
mente, deverá levar a sério sua responsabilidade. Deverá trabalhar sob
a orientação do Espírito Santo, e isso significa que todo o processo deverá
ser acompanhado de oração. Se levar seu trabalho a sério, a comissão
não irá esperar até o último instante para começar seu trabalho. É neces­
sário começá-lo com meses de antecedência para que haja tempo suficiente
para as entrevistas.
Rara alguns, o sistema de. comissões de indicação é por demais roti­
neiro e não leva em conta suficientemente o aspecto dos dons espirituais
e o desejo dos membros da igreja de exercer seus dons. Se este for o caso
em sua igreja, o autor recomenda um método que combina a organização
de uma comissão de indicação com uma flexibilidade espiritual que leva
em conta os dons e os desejos dos membros da igreja, de forma mais
direta. O autor teve experiências favoráveis com este método em duas
igrejas de duas diferentes culturas.
Para começar, a igreja nomeia uma comissão de indicação cuja
responsabilidade é canalizar os dons dos seus membros. A comissão não
trabalha com idéias preconcebidas sobre quem deve ou não ocupar cargos
de responsabilidade no programa educacional. Ela prepara uma relação
dos cargos e responsabilidades que deverão ser assumidos, permitindo
também que o Espírito Santo guie um irmão a sugerir um novo cargo
137
ou ministério. A comissão pede então à igreja que ore muito pelas várias
responsabilidades existentes.
Numa data marcada, ou dentro de determinado prazo, qualquer
membro da igreja poderá comunicar á comissão em qual ou quais dos
cargos existentes está apto e pronto a servir, de acordo com a orientação
do Espírito Santo em sua vida e segundo os dons espirituais que tem
e as responsabilidades que deve exercer. Essa comunicação poderá ser
feita de modo informal e pessoal a qualquer dos membros da comissão,
ou mediante o preenchimento e a entrega de um formulário, elaborado
pela comissão para essa finalidade.
Depois de receber as manifestações de disponibilidade para o
trabalho, a comissão correlaciona pessoas e cargos, sempre autorizada
pela igreja a fazer sugestões em casos de duplicação ou outros problemas
que se apresentem. No formulário, ou pessoalmente, o membro da igreja
poderá também comunicar à comissão seu desejo de ocupar um novo
cargo ou exercer um novo ministério, ainda não existente.
A comissão estuda todas as propostas e leva suas recomendações
à igreja, tanto das pessoas indicadas para os cargos já existentes, como
para os novos ministérios.
Pode ser que este sistema não funcione em todas as igrejas, espe­
cialmente se os membros ignoram seus dons espirituais. No entanto, numa
igreja que leva a sério a responsabilidade de educar seus membros, este
método evita a luta, que muita comissão de indicação enfrenta, para preen
cher todos os cargos em sua lista. Acima de tudo, este método respeita
a orientação do Espírito Santo na vida dos membros da igreja. Se for
acompanhado de muita oração, não faltará pessoal para o funcionamento
do programa educacional.
Treinamento
O pessoal nomeado deve ser treinado para bem cumprir sua tarefa.
O treinamento deve ser feito de quatro maneiras: por orientação inicial,
oportunidades especiais de aprendizagem, treinamento contínuo e
mediante relações interpessoais com o pastor efou o ministro de educação
religiosa. Vamos examinar rapidamente cada um deles.
Orientação inicial. Antes de começar o ano eclesiástico, o ministro
de educação religiosa efou pastor deverá reunir-se com todo o pessoal
envolvido no programa educacional. O propósito desta reunião é m úl tiplo.
É para estimular, inspirar, planejar, esclarecer responsabilidades, orientar
quanto ao uso da literatura, apresentar sistemas, programas, horários
e abordar qualquer outro assunto que ajude a se obter um bom começo
do programa educacional daquele ano.
138
Oportunidades especiais de aprendizagem. Durante o ano, ;i igreja
deve oferecer a seus professores e líderes envolvidos no programa educa­
cional oportunidades especiais de aprendizagem pedagógica. Para se
conseguir melhores resultados, essas oportunidades podem ser oferecidas
sob a forma de seminários práticos. Se se puder convocar alguém na deno­
minação, especializado em educação cristã, seria bom solicitar sua
participação em conferências ou clinicas. Talvez se possa contar, até, com
uma equipe de treinamento, da denominação, cuja especialidade seja
planejar etou participar de tais eventos.
Treinamento continuo. Além destas oportunidades, que talvez
envolvam também os de fora da igreja local, é aconselhável a realização
de reuniões periódicas dos professores e líderes envolvidos no programa
de educação. A freqüência destas reuniões é assunto a ser resolvido pela
própria igreja. Algumas têm reuniões trimestrais, em que avaliam o
trimestre anterior e planejam o próximo. Outras têm reuniões bimestrais
ou mensais. Todavia, se a igreja reunir o seu corpo educacional sema­
nalmente, ou duas vezes por mês, colherá mais benefícios. Se a igreja
for relativamente pequena e dispuser de muitas atividades durante a
semana, talvez não seja possível manter reuniões com tanta freqüência.
De qualquer modo, quanto mais freqüentes forem, mais coeso será o
programa,
Lowell E. Brown sugere quatro ingredientes fundamentais para a
reunião periódica: estudo bíblico relacionado com a vida dos professores:
atividades que visem a melhorar as habilidades pedagógicas; estudo ante­
cipado da unidade, ou da lição (em Graendorf, p. 279,280),
As reuniões devem ser inspiradoras, para que os participantes não
fiquem entediados. Devem ser práticas, para que se melhore o ensino.
Devem estar relacionadas com as faixas etárias das respectivas classes
dos professores presentes, já que os seus alunos crianças, jovens e adultos,
como se sabe, recebem o seu ensino de modos diferentes.
Relações interpessoais com o ministro de educação religiosa etou
pastor. Muito do que um professor ou outro líder educacional da igreja
precisa aprender, para o seu desenvolvimento, obterá informalmente em
seu relacionamento pessoal com os dirigentes do programa, É importante
que o pastore o ministro de educação religiosa, tanto quanto os profes­
sores e lideres educacionais, procurem cultivar a amizade entre si, para
que possam aprender uns dos outros. A amizade fraterna entre líderes
dá coesão ao programa, e ajuda a todos os que nele estão envolvidos
a ter uma visão uniforme do que o programa pode significar para o cres­
cimento da igreja.
139
4. DIVISÃO EM GRUPOS
Estudos da psicologia humana indicam que o ensino pode ser mais
eficaz quando os alunos são agrupados por faixa etária. No capítulo 10,
vimos diferentes esquemas de classificação de pessoas de acordo com
a idade do u desenvolvimento. Na educação formal praticada na igreja,
estas normas de desenvolvimento devem ser seguidas, na medida do
possível, para que as crianças estejam com crianças, os jovens com jovens,
e os adultos com adultos.
Na educação informal na igreja, estas divisões não têm muita
importância, pois cada membro, independentemente de sua idade, tem
algo a compartilhar com os outros membros. Já num programa orga­
nizado com o fim especifico de educar, essas divisões são importantes.
Cada igreja tem a liberdade de agrupar suas classes, de acordo com
suas necessidades, os professores disponíveis e o espaço de que dispõe.
Mesmo as igrejas bem pequenas devem procurar dividir sua escola
dominical em dois grupos; crianças, e jovens&dultos, ou, se possível, jovens
e adultos devem também ficar separados. A igreja que usa a literatura
de sua denominação deve usar, se possível, as divisões sugeridas pelas
revistas. As igrejas batistas e evangélicas brasileiras, que usam a litera­
tura da JUERP, poderão dividir sua escola dominical da seguinte forma:
0 a 2 anos Maternal
3 e 4 anos Jardim de Infância
5 e 6 anos Pré-escolar
7 e 8 anos Escolar 1
9— 11 anos Escolar II (antigos juniores)
12—17 anos Adolescentes
18—35 anos Jovens
36— Adultos
Devemos observar que essas divisões são suscetíveis de alterações,
dependendo da situação da igreja. Se a escola dominical é muito pequena,
podemos modificar algumas classes e escolher a literatura que melhor
lhes convier. Se for bastante grande e não puder funcionar apenas com
oito classes, qualquer dos grupos pode tornar-se um departamento, para
subdividir-se no número de classes que se tornem necessárias.
E também importante levar-se em conta o número de alunos de
cada classe, Há diferentes opiniões sobre o assunto, mas o autor sugere
que nas classes de crianças o número ideal para que haja boa aprendi­
zagem é de 10 alunos, e que o máximo em qualquer classe deve ser de
140
15 alunos, As classes de jovens e adultos são mais flexíveis. Para estas
classes um número médio razoável seria de 15 a 20 alunos, com máximo
de 25. Este, porém, é um esquema considerado ideal. Embora a realidade
das igrejas no Brasil demonstre falta de recursos, deve se esforçar para
um aperfeiçoamento constante.
Algumas igrejas entendem que todos os jovens e todos os adultos
devem estar juntos, quer pelo companheirismo, quer pelo estímulo de
ser parte de um grupo mais numeroso, ou por qualquer outro motivo.
Em parte, este conceito é razoável. Fbr outro lado, a experiência nos ensina
duas verdades quanto a grupos menores. Em primeiro lugar, uma classe
menor favorece a participação ativa de mais alunos durante a aula. Em
segundo lugar, a classe maior que se divide em duas progride mais rapi
damente como duas classes do que como uma só. Também deve-se levar
em consideração que a dinâmica do jovem è diferente da dinâmica do
adulto. Assim sendo, este fator corrobora para que tenhamos classes sepa­
radas.
Outro aspecto que deve ser levado em conta na maneira de agrupar
as classes é a questão do sexo. Não há regras específicas sobre o assunto,
mas o autor faz as seguintes sugestões. As crianças pré-escolares se dividem
melhor por idade porque seu desenvolvimento è muito variado durante
os seis primeiros anos de vida. As crianças de idade escolar geralmente
reagem melhor quando separadas por sexo. Os adolescentes e jovens
deverão estar certamente em classes mistas, sendo estas, por sua vez,
divididas por idade, como 12 e 13, 14 e 15, 16 e 17, 18 a 25 e 26 a 35.
Jovens e adultos casados, até 35 ou 40 anos, geralmente rendem mais
se os casais puderem ficar juntos, na mesma classe, mas depois dos 40
parece não haver muita diferença entre classes mistas ou separadas por
sexo.

5 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS
Tudo o que foi sugerido quanto a agrupamentos vai depender das
instalações e mobiliário à disposição da igreja. Nas igrejas batistas e
algumas outras evangélicas do Brasil, a realidade é bem diferente do ideal.
A economia é fator determinante na construção ou instalação de
ambientes adequados para o ensmo eficiente.
Como meta para o planejamento, no entanto, falemos do ideal.
Segundo Dobbins (em Graendorf. p. 298), o espaço ideal para a educação
formal na igreja deve incluir os seguintes aspectos: Maternais devem dispor
de berços, colchões e outros utensílios, em sala completamente separada
dos lugares onde os pais se reúnem. O ambiente deve ser tal que os pais
141
não tenham receio de deixar ali os seus filhos. As crianças das- classes
de Jardim de Infância e Pré-Escolar precisam de um espaço relativa
mente grande e aberto, onde possam respirar ar puro e ter movimentos
livres nas atividades para eles planejadas (aproximadamente l,50mJ por
criança). São crianças de uma idade inquieta, não se pode esperar que
fiquem sentadinhas e bem comportadas durante todo o tempo da aula.
Os Escolares I devem estar em salas amplas, suficientemente espa
çosas para permitir atividades de grupos grandes etou a divisão em grupos
menores para a realização de algumas atividades. Os meninos nessa idade
não se incomodam muito com o barulho que possa haver, causado por
vários grupos trabalhando no mesmo ambiente.
Escolares II e Adolescentes agem melhor em salas menores, onde
possam sentar-se para estudar com maior tranqüilidade. É conveniente
que existam mesas e»u cadeiras onde possam ficar bem acomodados
enquanto estudam a Palavra, talvez de lápis e caderno à mão.
Jovens e Adultos são mais flexíveis quanto ao lugar de reunião,
mas, de qualquer modo, precisam de salas cômodas, tanto para grupos
maiores quanto para classes menores.
Em todas as situações, os móveis são importantes. O uso de cadeiras
ou bancos individuais, em todas as idades, é melhor que o uso de carteiras
ou bancos corridos, pela simples razão de poderem ser movimentados,
oferecendo, portanto, maior flexibilidade. Um professor que queira criar
um ambiente familiar em sua classe poderá fazê-lo mais facilmente arru­
mando cadeiras em círculo do que com carteiras dispostas em fileiras.
Se a classe tem entre 6 e 10 alunos, uma mesa ao redor da qual os alunos
possam sentar será excelente para o ensino. Em geral, nossas classes são
maiores em função de nossas igrejas não disporem de uma estrutura mais
completa para educação religiosa,
A classe deve ter um quadro-negro e objetos como giz, lápis, carto­
linas, tesouras e marcadores, que se façam necessários. As classes dos
pequeninos devem ter jogos atou brinquedos, materiais coloridos e objetos
atrativos que os ajudem a se sentir alegres e felizes.
Talvez sua igreja não disponha de muitas dessas coisas. É provável,
até, que tenha paredes de taipa, piso de chão batido e bancos feitos de
troncos. Não desanime. Essas coisas, tanto quanto possível, deverão ser
providenciadas. O mais importante, porém, é que a Palavra seja ensinada
da melhor maneira possível; que cada igreja se esforce no sentido de
oferecer a seus alunos a melhor educação possível e que seja criativa
com o que tem à sua disposição, para que seu programa educacional agrade
a Deus. O que agrada a Deus é o nosso melhor esforço, seja este uma
sala de pau-a-pique, com alunos sentados no chão, seja um edifício de
142
quatro andares com cadeiras dobradiças e equipamento eletrônico de
última geração.

5 CURRÍCULO
O currículo deve centralizar se na Bíblia, sem exceção. Deve ser
um currículo que forneça informação e dados cognitivos, mas prático
e aplicável à vida diária. Um curriculo que se preste a métodos de ensino
que favoreçam a participação ativa dos alunos. E, mais do que isso, um
curriculo cujo propósito por excelência seja a transformação de vidas.
Há vários tipos de currículos de educação religiosa. Alguns são
preparados por um sistema em que todas as classes da escola dominical
estudam o mesmo tema. Outros prevêem para estudo na escola dominical
o mesmo texto bíblico, mas com diferente enfoque ou tema para cada
grupo. Outros, ainda, são currículos abertos, apresentando vários temas,
e o aluno, não importa sua idade, pode escolher o assunto que deseja
estudar. Existem, além disso, currículos mais ou menos radicais em sua
metodologia, porque quebram alguns preceitos conservadores quanto
às características de uma educação religiosa. Os educadores que promovem
esses sistemas radicais procuram relacionar seus currículos verdadeira­
mente com sua teologia e filosofia da educação, e com eles poderíamos
aprender bastante. Infelizmente, porém, um estudo mais profundo dessas
idéias extrapola os limites do presente livro.
A igreja pode escolher o tipo de currículo que lhe convenha. Não
havendo literatura disponível para o tipo de curriculo que deseja oferecer,
pode preparar seu próprio material, se houver pessoas qualificadas na
igreja para fazê-lo. Todavia, é mais fácil usar a literatura já elaborada.
No próximo capítulo analisaremos um currículo e sua respectiva litera­
tura. Vamos estudar o que a JUERP e outras instituições oferecem e
como se pode usar esse material na igreja local.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda ás perguntas seguintes:
1. Quais as duas situações paradoxais quanto ao papel do pastor
na administração da educação cristã?
2. Ror que é importante que o pastor estude princípios educacio­
nais?
3. Ftor que a pregação é insuficiente para o ensino completo na
igreja?
143
4. Por que o pastor que procura fazer tudo sozinho na igreja se
coloca em desvantagem?
5. Faça uma lista das responsabilidades de um superintendente
ou diretor de escota dominical.
6. Faça uma lista das responsabilidades que sua igreja espera que
o superintendente ou diretor da escola dominical cumpra.
7. Quais são algumas das perguntas que a igreja deve formular
em seu planejamento educacional?
8. Mencione cinco razões pelas quais se devem analisar as neces­
sidades educacionais da igreja.
9. Sua igreja poderia se beneficiar com as atividades de uma
comissão de educação? Explique por quê.
10. Em sua opinião, se temos o Espírito Santo que nos guia em
toda a obra, por que é necessário planejar9
11. Conhece algum ministério educacional próprio para grupos
minoritários numa igreja evangélica? Se conhece, descreva-o
sucintamente.
12. Existem pessoas em sua igreja numa dessas categorias de grupo
minoritário? Cegos; surdos-mudos; analfabetos; pessoas que não
falam a língua portuguesa; pessoas presas ao leito ou em cadeira
de rodas; deficientes mentais. Seria possível à sua igreja desen­
volver um ministério especial para essas pessoas dentro do seu
programa educacional? Explique de que modo.
13. Fbr que não é recomendável a seleção de pessoal por um método
casual?
14. Explique sucintamente o processo seguido por uma comissão
de indicação.
15. Neste capítulo sugerimos uma alternativa à tarefa tradicional
da comissão de indicação. Avalie essa alternativa à luz da reali­
dade de sua igreja.
16. Qual o propósito da orientação inicial do pessoal envolvido no
programa educacional da igreja?
17. Se sua igreja promove reuniões regulares para seus obreiros,
quais são os benefícios decorrentes dessas reuniões? Se não as
tem, como ajudaria seu programa se começasse a tê-las?
18. Quais são as vantagens de usar cadeiras ou bancos individuais
em vez de carteiras ou bancos corridos nas classes de escola
dominical?
14-4
Temas para discussão
1. Que relação existe entre planejamento, avaliação, recrutamento
e treinamento e a teologia da educação que uma pessoa adota?
Que relação tem este assunto com a filosofia educacional da
pessoa?
2. Quais as relações existentes entre agrupamentos de classes,
espaço e instalações e a base psicológica da educação cristã?
3. Que relação deve existir entre o currículo e as bases socio-
culturais das igrejas no Brasil?
4. Que mudanças poderiam ser feitas em sua igreja, de acordo
com suas possibilidades econômicas, que representassem melhor
uso do espaço e das instalações que possui? Se você acha que
essas mudanças ajudariam no programa educacional, procure
conversar com os líderes de sua igreja para verificar a possi­
bilidade de serem realizadas as mudanças que forem necessárias.

145
Capítulo 14
MATERIAIS EDUCATIVOS*
1. PANO RAM A DA LITERATURA DO S BATISTAS
Há muitas opiniões divergentes entre educadores sobre a pergunta:
em que consiste um currículo? Alguns dizem que o currículo é o conteúdo
daquilo que se ensina formalmente a um aluno. Outros afirmam que
o currículo é qualquer instrumento usado por uma instituição para, de
alguma forma, transformar seus alunos. Alguns argumentam que o curri
culo é o texto ou textos usados como recursos de onde se extraem
informações e dados, enquanto que outros acham que os materiais escritos
são apenas instrumentos utilizados ou não no currículo. Para alguns o
currículo é um sistema estruturada que serve a um programa educacional,
por determinado tempo. Para outros, é mais geral, incluindo o diálogo,
as interações interpessoais e o contexto cotidiano; coisas presentes num
processo continuo da formação de uma pessoa.
Tal ve/ fosse interessante passar algum tempo especulando sobre
estes conceitos, suas implicações e ramificações. O campo de estudo dos
conceitos curriculares é muito interessante, e o educador cristão deve
estender seu conhecimento e visão educaciona l examinando o que dizem
os especialistas em educação.
As igrejas precisam de um currículo para o ensino da Bíblia, mas
não tão acadêmico como o de um colégio ou de um instituto bíblico. Um
currículo usado na igreja deve atender a todas as necessidades dos seus
membros. Deve tornar possível a aprendizagem sobre a Bíblia e sobre
Deus, mas deve também tornar possível a interiorização dos princípios
da Bíblia e a transformação das pessoas através do conhecimento pessoal
de Deus,
O processo de ensino-aprendizagem do programa educacional da
igreja local deve incluir o estudo da Bíblia, até mesmo seu estudo cien­
tífico. Mas esse processo deve abranger muito mais do que o mero estudo
da Palavra. Deve estimular os seus participantes a porem em prática diária
’ Este capitulo recebeu material adicional c sofreu adaptações substanciosas feitas por
Josué Ebenén t de Sousa Soares (Coordenador do Departamento de Publicações
ftriódicas da JVERPt, a fim de adequar-se à realidade brasileira.
147
os ensinos bíblicos, a serem transformados diariamente por aquilo que
estão aprendendo através do sistema educacional da igreja. Tudo o que
se disse nas lições anteriores aponta para este fato; as bases bíblicas, teoló
gicas, filosóficas e socioculturais indicam que a educação cristã deve ser
uma educação integral, que atinja o indivíduo em todos os aspectos de
sua vida.
Ao publicar material educacional para uso das igrejas, as editoras
de literatura cristã obedecem aos seus próprios conceitos de currículo.
Rir isso, alguns materiais dão ênfase aos conhecimentos bíblicos, enquanto
outros destacam a aplicação dos seus princípios.
No ano de 1988 surgiu na JUER P. a editora que produz a maioria
da literatura de educação religiosa utilizada pelos batistas e outras deno­
minações, o desejo de uma reformulação de seu currículo com vistas
a um melhor atendimento às necessidades das igrejas. Para tanto foi cons­
tituído um grupo de trabalho composto de 40 pessoas envolvidas com
a educação religiosa, que, após vários estudos, apresentaram um
documento, aprovado na 70a Assembléia Anual da Convenção Batista
Brasileira, em Fortaleza, Ceará.
Por outro lado, esta mesma assembléia convencional incumbiu o
Conselho de Planejamento e Coordenação da CBB de realizar: “Um sério
estudo quanto aos programas das organizações para as faixas etárias de
juniores, adolescentese jovens, cada uma, respectivamente, formulando
proposta-opção para as igrejas que desejam ter apenas uma organização
para cada uma dessas faixas etárias de modo a atender às ênfases missio
nárias e de treinamento'’. (Livro do Mensageiro da 71? Assembléia da
CBB — Belo Horizonte — MG, 1990, p. 53).
Tal estudo se fez necessário em função da estrutura atual de
educação religiosa da CBB. Por esta estrutura existem várias organiza­
ções batistas que têm programa e editam literatura destinada à educação
religiosa das igrejas. São elas: JUERP, JUMOC, UFMBB e UMMBB.
O que estava acontecendo é que várias dessas organizações publicavam
material destinado à mesma faixa etária, o que gerava um acúmulo de
organizações, principalmente para as faixas ESCOLAR II e ADOLES
CENTES.
A eoordenadoria de Educação Religiosa do Conselho apresentou
uma proposta para resolver o problema de excesso de organizações nas
faixas ESCOLAR II e ADOLESCENTES, que foi aprovada em Belo
Horizonte (1990). Segundo esta proposta, os segmentos etários de 9 a
12 anos (ESCOLAR II) e de 13 a !7 anos (ADOLESCENTES) tiveram
uma equiparação curricular no que tange às ênfases dc Missões e Trei­
namento. Desse modo, as revistas Mensageiras do Rei, O Embaixador,
148
Vivendo-Treinamento e Diálogo e Ação passaram a ter um currículo abran
gendo tanto missões quanto treinamento. Assim sendo, a igreja pode optar
entre ter as organizações de Embaixadores do Rei e Mensageiras do Rei
ou ter apenas União de Juniores, O mesmo sendo verdade para a faixa
etária de adolescentes. A igreja é que faz a opção, não precisando, neces­
sariamente, ter as três organizações. Dessa forma, a denominação
continuará oferecendo os programas e as literaturas apropriadas paras
estas faixas etárias, sendo que caberá à igreja adequá-los a sua realidade.
Segundo a proposta de organograma aprovada pela Assembléia
Anual de Belo Horizonte, o Departamento de Educação Religiosa da
igreja será estruturado em duas divisões; Divisão de Escola Biblica
Dominical e Divisão de Crescimento Cristão. Para cada uma destas
divisões existe uma série de publicações objetivando alcançar as diversas
faixas etárias.
O programa geral de educação religiosa da Convenção Batista Brasi­
leira está dividido em duas partes principais, como vimos. O programa
de estudo bíblico atende a Divisão de Escola Bíblica Dominical. O
programa de Crescimento Cristão atende a Divisão de Crescimento
Cristão, que é um programa complementar que se realiza no horário antes
destinado às uniões de treinamento. A metodologia sugerida pelos mate­
riais didáticos inclui instrução em três áreas gerais de ensino da psicologia
educacional, atendendo as várias necessidades do aluno.
O programa de Crescimento Cristão foi elaborado com o propósito
de ajudara igreja a preparar cada pessoa para que descubra, desenvolva
e use seus dons nas oportunidades de serviço que o Senhor lhe ofereça.
É um programa prático que ajuda o participante no programa de estudo
biblico a tornar pragmática sua aprendizagem.
Além desses dois programas principais, há literatura para novos
convertidos, Escola Bíblica de Férias, estudos especiais etc.
2. RESUMO DA LITERATURA EXISTENTE
O PROGRAMA DA Dl VISÃO DE ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL
Maternal
Para os professores de crianças da faixa de 0 a 2 anos, a JUERP
oferece a revista BRINCANDO. É uma publicação trimestral, que oferece
três unidades de estudo, abrangendo os 13 domingos do trimestre. Explica
como se pode organizar o trabalho desta faixa etária, para que a hora.
ou as horas, da escola dominical seja(m) um tempo de aprendizagem para
os pequeninos e nâo um simples berçário onde as crianças são confi­
nadas enquanto os pais assistem às suas classes.
149
Cada unidade de estudo contém várias lições. Cada lição está divi
dida eni duas partes principais: uma, orientada para atividades fisicas
(sempre relacionada com a lição), e outra, denominada Sessão Prolon­
gada, que acontecera no período em que os pais assistem ao culto.
A primeira parte, voltada para atividades físicas, será desenvolvida
em diversos centros instalados na sala. São eles: Centro de Blocos, Centro
do Lar, Centro de Livros. Centro de Joguinhos, Centro da Natureza e
Centro de Artes. As crianças desta faixa etária nào se concentram com
facilidade. Assim os professores devem aproveitar as oportunidades que
surgirem nos diversos centros para contar a história da lição e cantar
corinhos que reforcem o tema.
A Sessão Prolongada oferece oportunidade de ida ao banheiro,
lanche para as crianças, descanso e repetição das atividades do dia como
reforço á aprendi/agem.
Os professores desta faixa etária ainda contam com dois excelentes
recursos para a sua aula: o Suplemento Didático e o Suplemento Didá­
tico Complementar. Estes suplementos trazem ilustrações, histórias,
cânticos e jogos que enriquecem as aulas no trimestre.
Jardim de Infância
Para as classes de crianças de 3 e 4 anos, existe a revista CRES­
CENDO. em forma de conjunto de folhas de trabalho avulsas, para as
crianças utilizarem a cada domingo. Estas folhas trazem basicamente
dois recursos: a história do domingo e uma atividade prática para as
crianças. A folha é recheada de ilustrações, que a criança irá colorir e
levar para casa.
Trata-se, também, de uma publicação trimestral que se subdivide
em três unidades abrangendo os 13 domingos do trimestre. As atividades
para as crianças .são simples, tais como pintar, desenhar e relacionar idéias.
São atividades que ajudam no desenvolvimento físico, inental e intelec­
tual da criança, ao mesmo tempo que integra conceitos espirituais à sua
vida.
Os professores deste grupo têrn a seu dispor um guia que lhes indica
a melhor maneira de usar as folhas de trabalho ordenadamente, para
que sirvam de instrumento de aprendizagem e não como meras ativi­
dades para preencher o tempo. Este guia é a Edição do Professor da revista
CRESCENDO, que traz orientações diversas para o trabalho em classe.
Esse trabalho está dividido em duas etapas: Atividades nos Diversos
Centros: Centro do l^r. Centro de Livros, Centro de Blocos, Centro de
Jogos. Centro de Artes; e Reunião em Conjunto. É. nesta reunião em
conjunto que os cânticos, as orações e a história bíblica estarão em
150
evidência e as crianças serão orientadas a uma disciplina de convívio
com o grupo.
Os professores desta faixa etária contam com os seguintes recursos
para a melhoria da aula: Suplemento Didático e Suplemento Didático
Complementar; que trazem histórias, ilustrações, cânticos e jogos para
uso no decorrer do trimestre.
Prè-Escolar
As classes de crianças de 5 e 6 anos possuem a revista CAMI­
NHANDO, de periodicidade trimestral, contendo 13 lições dominicais
divididas em irês unidades de ensino. As atividades para estas crianças
continuam simples, exigindo pouco delas, pois ainda estão em fase pré-
-escolar, iniciando-se no conhecimento das letras e das palavras. Pintar,
desenhar e relacionar idéias são algumas das atividades que as crianças
serão estimuladas a desenvolver, sempre relacionadas a um conteúdo
bíblico.
A revista CAM INHANDO é oferecida com as lições ern folhas
duplas avulsas Isem grampo) para que o professor possa entregar aos
alunos no dia da aula. Vejam bem que este método é diferente das outras
faixas em que o aluno leva a revista para casa. Neste caso, a criança só
terá contato com o tema da lição, as atividades e ilustrações quando a
professora entregar-lhe o material no domingo. A idéia por trás deste
novo conceito é tornar as aulas mais dinâmicas pelo fator novidade e
dar aos pais a tarefa do reforço da aprendizagem já que as crianças rece­
berão o material trabalhado em classe, inclusive a lição da revista, para
levar ao lar.
Os professores deste grupo tem como recurso para um melhor
preparo do ensino a Edição do Professor, que vem em separado e não
em forma de encarte na revista do aluno como antes. Esta edição apre­
senta ao professor o objetivo da lição, propõe-lhe uma reflexão pessoal
e tem pequeno comentário bíblico sobre a lição do domingo. A parte
de atividades sugere as músicas a serem cantadas e as atividades em can­
tinhos e reuniões em conjunto.
Estas Atividades em Cantinhos seguem a idéia dos diversos cen­
tros apresentados nas faixas etárias menores, com alguns aperfeiçoa­
mentos: Cantinho de Artes. Cantinho de Música, Cantinho de Blocos
e Cantinho de Jogos.
Como recurso adicional, os professores desta faixa etária dispõem
do Suplemento Didático com jogos, histórias e ilustrações relativos aos
temas do trimestre.
151
Escolar 1
Temos AP REN DEN DO, para crianças de 7 e 8 anos e seus profes­
sores. Como para todas as idades, alé para os adultos, o material consiste
sempre de revista do aluno e edição do professor. A revista do aluno para
esta idade não é muito diferente da que se usa para os pré-escolares. A
diferença principal é que estas crianças, já como escolares, têm que exer­
cer suas novas habilidades de ler, escrever e fazer contas, para realizar
algumas atividades.
A edição do professor de APRENDENDO leva o mestre passo
a passo através da lição, seguindo atividades introdutórias, músicas, me­
morização de versículos e projetos especiais. Também oferece as etapas
para a Reunião em Conjunta, quando as crianças receberão o ensino
através dos cânticos e da história bíblica. Para o seu preparo em casa,
o professor dispõe de reflexão, comentário bíblico e roteiro da aula.
Outro recurso que o professor dispõe é o Suplemento D idático com
ilustrações e jogos que enriquecerão o trimestre.
Escolar II

A revista para crianças na faixa etária de 9 a 12 anos é VIVEN­


DO. Ela traz mais detalhes e um nível de dificuldade maior por se trata
rem de crianças mais avançadas no seu nível escolar. Este material re
quer que as crianças usem seus conhecimentos de matemática, geogra
fia e que façam pesquisas bíblicas. Elas deverão escrever, preencher
lacunas, consultar a Bíblia, emitir opiniões, responder perguntas e me­
morizar um versículo a cada domingo.
A revista do aluno obedece a currículo de quatro anos, abrangendo
o periodo que a criança passará neste Departamento. O currículo é cíclico
e ao término do quarto ano reinicia-se novamente a partir do primeiro.
Outra característica do currículo para os Escolares II é a interde­
pendência entre as unidades. Sendo assim, em qualquer trimestre que
a criança entrar no Departamento poderá ter bases bíblicas, sem a
exigência de um conhecimento bíblico anterior como pré-requisito.

152
No quadro abaixo podemos observar o currículo para o Departa
mento de Escolar II:

1° TR1 2o TR1 3o TRI 4° TRI

A Jesus, o A Biblia, A Vida Cristã Deus


N Filho de A Palavra Promete
0 Deus de Deus e Envia o
t Messias

A Seguidores Jesus, Cartas que Mensageiros


N de Jesus o Salvador se Tornaram Especiais
0 Livros de Deus
2

A Regras Para Jesus, A Vitória 0 Valor do


N um Viver o Messias de da Igreja de que Cremos
0 Feliz Deus Cristo
3

A Quem é Deus? Deus Procura Os Ensinos Grandes e


N Adoradores de de Jesus Belas Passa­
0 Verdade gens da Bíblia
4

A Edição do Professor para esta idade traça planos que o professor


deve seguir na preparação para a classe e contém as atividades que po
dem ser realizadas. Inclui, ainda, artigos de interesse para o professor
de crianças nesse estágio de desenvolvimento, bem como sugestões de
livros, músicas etc. O roteiro dos estudos apresenta três etapas: Ativida
des Iniciais, Atividades em Conjunto e Estudo em Pequenos Grupos.
Como recurso adicional, o professor dispõe do Suplemento Didá­
tico, com histórias, ilustrações, painéis, jogos e músicas relacionadas ao
tema do trimestre.
Adolescentes
A JUERP oferece a revista Reflexão e Vida para os alunos de 12
a 17 anos, sendo que as idades limites 12 e 17 sâo flexíveis. O aluno de
153
12 anos, se desejar, pode permanecer com os de 9 a 12 anos, no Depar­
tamento Escolar II; o aluno de 17 anos, se preferir, pode ficar no
Departamento de Adolescentes ou unir-se aos jovens. E oferecida esta
opção tendo em vista a oscilação de desenvolvimento físico-emocional
•intelectual de uni júnior ou adolescente para outro.
A revista do aluno obedece a currículo de seis anos, abrangendo
todo o período em que o adolescente passará neste Departamento.
A grade curricular para esta faixa etária é a seguinte:
1? ANO -
1.D Trimestre — A História da Salvação (Gênesis a Malaquias)
2.° Trimestre — Parábolas Vivas
3.° Trimestre — A Vida em Sociedade á Luz da Bíblia
4.° Trimestre — Vidas que Ensinam (Enfoque Biográfico)
2? ANO
1,° Trimestre — A Mensagem dos Profetas (Profetas Maiores)
2? Trimestre — A Família no Plano de Deus
3o Trimestre — A Vida e os Ensinos de Cristo (Abordagem
Cronológica)
4P Trimestre — A História do Povo de Deus (Livros Históricos)
3o ANO
1.° Trimestre — Jesus e os Dez Mandamentos
2.° Trimestre — Salmos Para o Mundo de Hoje
3o Trimestre. — Gênesis: O Livro dos Começos
4o Trimestre — O Evangelho de João (A Teologia de João)
4.” ANO
1.° Trimestre — Provérbios que Ensinam
2.° Trimestre — A Mensagem do Apocalipse
3." Trimestre — A Relevância do Amor na Vida Cristã
(João 1, 2, 3)
4.° Trimestre — Vidas que Ensinam (Realce das qualidades de
Personagens Bíblicos)
5° ANO
l ú Trimestre — Doutrinas Bíblicas
2o Trimestre — A Atualidade dos Profetas (Profetas Menores)
3o Trimestre — A História da Salvação (Mateus aApocalipse)
4," Trimestre — Fé e Comportamento (Tiago)
154
6.“ A N O
1.° Trimestre — Os Evangelhos Sinóticos
2° Trimestre — O Êxodo e Suas Lições
3.c‘ Trimestre — Conselhos Para o Viver Cristão (Cartas Paulinas)
4o Trimestre — A Igreja do Novo Testamento (Atos e Apocalipse)
O currículo para os adolescentes busca um equilíbrio entre o Anti­
go e o Novo Testamentos, sem seguir necessariamente uma ordem crono
lógica, dando ao adolescente uma visão biblica mais diversificada, em
qualquer momento que ele passe a participar desse currículo. Por outro
lado, atende aos interesses do adolescente, através de estudos que vão
ao encontro de suas necessidades essenciais, dentro de uma perspectiva
não só espiritual, mas também biopsicossocial.
Sendo uma publicação trimestral, a revista Reflexão e Vida üferece
13 estudos para os alunos, além de seções de Curiosidades Bíblicas, Pala­
vras Cruzadas e Avaliação do Trimestre. Ao final de cada lição há um
versículo bíblico para memorização.
A Edição do Professor, que vem em forma de encarte na revista
do aluno, apresenta informação geral sobre o tema, como a base bíblica,
a justificação do estudo e sugestão quanto ao objetivo do ensino
aprendizagem. Depois, há outras sugestões que permitem que o profes­
sor faça seu próprio estudo de base bíblica do tema em preparação para
a classe. Além disso, existem auxílios didáticos em forma de plano de
aula, consistindo dos seguintes procedimentos: Técnica de Ensino,
Material Didático, Atividades Previstas Para os Alunos, Verificação e
Aplicação da Aprendizagem, Tarefa e Chamada Para o Próximo Estudo.
O professor também conta com Comentários Adicionais que o ajudarão
na exposição da aula.
A revista do aluno apresenta as lições em forma de textos expo­
sitivos. Já o plano de aula, sugerido na Edição do Professor, está
coordenado com a revista do aluno, para que o professor oriente seus
alunos nas atividades de aprendizagem sugeridas. Algumas atividades
são planejadas para o indivíduo, e outras podem ser feitas pela classe
inteira. Irá depender do plano de aula sugerido. O professor coordena
as atividades, de acordo com seu plano de aula, acrescentando explica­
ções, dados adicionais e dirigindo discussões, segundo as necessidades
que apareçam.
Jovens
A literatura para os jovens segue a mesma forma da dos adoles­
centes. Os alunos jovens, na faixa de 18 a 35 anos, dispõem da revisia
155
ALU I DE. Esta publicação vem em formato agradável e apresenta uma
programação visual que condiz com aquilo que os jovens esperam de
uma publicação de seu interesse. A revista é rica em ilustrações e conteú­
dos que introduzem o jovem no estudo da Bíblia.
A revista ATITUDE, como as demais, apresenta uma edição do
aluno e outra do professor. A edição do aluno, sendo trimestral, obedece
basicamente a três divisões: um artigo introdutório apresentando unia
reflexão para a vida do aluno, as 13 lições para os domingos e uma seção
chamada Opinião, em que se dá um testemunho sobre o valor daqueles
ensinos para a vida.
Cada lição apresentada na revista do aluno odedeceá seguinte estru­
tura básica: são estudos semí-indutivos em que o aluno estará sendo
estimulado à pesquisa, leitura, confrontação de dados e consulta bíblica.
Esta é a grande diferença desta revista em relação ás demais oferecidas
pela JUERP A estrutura interna década liçãoé: roteiro de estudos, comen­
tários bíblicos e box com ilustrações e curiosidades.
O aluno, então, poderá aprofundar-se no tema seguindo os passos
sugeridos no roteiro de estudos, enriquecer-se com os comentários bíblicos
e ter informações complementares através dos boxes de cada lição.
O currículo de estudos para jovens na EBD abrange um período
de oito anos. Ele oferece um equilíbrio entre o Antigo e Novo Testa­
mentos e entre o estudo de livros, o estudo de tópicos e o estudo de
unidades históricas. Trata-se de um currículo que obedece a uma seqüên­
cia: na história do Antigo Testamento — de Gênesis a Malaquias; e
na história do Novo Testamento — com ênfase sobre a vida de Cristo.
Neste currículo todas as doutrinas bíblicas são analisadas.
A grade curricular para jovens é:
1.° ANO
1? Trimestre - Gênesis
2? Trimestre — Os Ensinos de Jesus
3.° Trimestre — A Doutrina do Homem
4.° Trimestre — Atos
2." ANO
1° Trimestre — História do Povo de Deus: Moisés e o Êxodo
2.° Trimestre — O Evangelho de Lucas
3.“ Trimestre — O Culto
4.ü Trimestre — Epístolas Gerais L
(Hebreus; l,2Psdro; l,2,3João e Judas)
3? A N O
1° Trimestre - História do Povo de Deus: Conquista e Juizes
2.° Trimestre -- O Discipulado Cristão
3.° Trimestre - Epístolas Gerais II
(Tiago)
4.° Trimestre A Doutrina de Deus
4° ANO
1.° Trimestre História do Pbvo de Deus: Reino Unido e Dividido
2° Trimestre O Evangelho de Marcos
3.° Trimestre Profetas da Monarquia
(Joel, Jonas, Amós, Oséias, Isaías, Miquéias.
Sofonias, Jeremias, Naum e Habacuque)
4o Trimestre Apocalipse
5.° ANO
Io Trimestre História do Povo de Deus: O Exílio,
A Restauração, o Periodo lnterbiblico
2.° Trimestre - O Evangelho Segundo Paulo: Romanos
3.° Trimestre Profetas do Exílio
(Daniel, Ezequiel e Obadias)
4.° Trimestre A Igreja — Sua Natureza e Missão
6U ANO
I o Trimestre A Oração
2° Trimestre O Evangelho de Mateus
3? Trimestre Projeto da Restauração
(Ageu, Zacarias e Malaquias)
4? Trimestre O Espírito Santo e a Vida Cristã
7o ANO
1? Trimestre Os Livros Poéticos l
(Salmos e Provérbios)
2° Trimestre - A Vida de Jesus
3° Trimestre Cartas às Igrejas Novas
(l,2Tessalonicenses, l,2Coríntios, Gálatas)
4° Trimestre Doutrinas Básicas
8° ANO
10 Trimestre -- Os Livros Poéticos II
(Jó, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos)
2? Trimestre O Evangelho de João
3? Trimestre O Sermão do Monte
4o Trimestre - Cartas de Fé e Vida
(Tito. Efésios, l,2Timóteo, Filipenses,
Colossenses, Filemom)
157
A Edição do Professor vem encartada na revista do aluno e traz
material substancioso para o preparo do professor, que são: Notas Sobre
os Textos e Sugestões Didáticas. Além disso, há uma seção intitulada
Em Cartaz que traz sugestões de livros e cursos.
Adultos
A revista COM PROM ISSO é destinada à faixa etária que se segue
a partir dos 36 anos. Sua estrutura básica é a mesma das antigas revistas
JOVENS E ADULTOS e PALAVRA E VIDA. É uma revista de estudos
com 13 lições para os domingos do trimestre, estimulando o aluno ao
estudo bíblico.
O método utilizado na revista CO M PRO M ISSO é a exposição
do tema da lição em texto corrido, geralmente subdividido em três tópicos
e conclusão. Para a consecução dos objetivos propostos para a classe de
adultos são oferecidas algumas motivações prévias. Estas motivações
incluem leituras biblicas diárias com atividades simples, que se completam
ao ler o texto indicado. Isto estimula os membros da classe a ler a Bíblia
diariamente e a fazê-lo com objetivo determinado,
O currículo é o mesmo destinado à classe de jovens, seguindo a
mesma seqüência e objetivos. A forma de abordagem é que difere: para
os jovens apresenta-se um roteiro de estudos; para os adultos a lição vem
em forma expositiva.
A Edição do Professor vem em forma de encarte na revista do
aluno e, como a revista para jovens, apresenta duas abordagens básicas:
Notas Sobre os Textos (com aprofundamento exegétíco bíblico) e Sugestões
Didáticas (para dinamização do ensino).
Tanto para os professores de jovens quanto para os de adultos a
JUERP ainda oferece duas publicações complementares que visam
reforçar os professores com material de apoio ao ensino.
PONTOS SALIENTES é uma literatura de periodicidade anual,
abrangendo todo o currículo de jovens e adultos para o ano a que se
destina, com aprofundamentos nos temas propostos e comentários de
autores diferentes dos apresentados em ATITXJDE e COM PROM ISSO,
a fim de que os professores possam cotejar os conteúdos e auferir maiores
recursos para as suas aulas.
Não se trata de uma literatura para utilização do aluno, como
algumas igrejas têm utilizado. PONTOS SALIENTES destina-se tão-
somente aos professores, líderes e pastores. Entretanto, o formato e a
periodicidade têm levado algumas igrejas a utilizarem PONTOS
SALIENTES em classe. Este é um uso incorreto. Os alunos são os mais
158
prejudicados ao não receberem as revistas ATITUDE e COMPRO­
MISSO, segundo suas faixas etárias.
A JUERP também oferece o JORNAL EBD, de periodicidade
trimestral, um ótimo recurso que não pode faltar nas mãos de profes­
sores, líderes e pastores. Ele é útil não somente para professores de jovens
e adultos (pois traz artigos complementares que abordam os temas dos
currículos dessas faixas etárias), mas também para todos os demais profes­
sores porque analisa a situação da educação religiosa no Brasil, trazendo
também matérias informativas sobre o que está acontecendo no pais.
O PROGRAMA DA DIVISÃO DE CRESCIMENTO CRISTÃO
Esta linha de literatura pode ser usada num programa de treina
mento e missões mantido pela igreja, com classes que se reúnam no horário
antes destinado às Escolas de Treinamento e Missões, agora não mais
existentes porque foram aglutinadas nesse programa único chamado Cres­
cimento Cristão; ou mesmo de outra maneira que a igreja ache
conveniente. As revistas se destinam às diversas faixas etárias e são mais
flexíveis em seus currículos, procurando atender com estudos as datas
especiais, sejam cívicas, sejam religiosas.
Uma característica própria deste programa é que ele é elaborado
por várias organizações; diferentemente do que ocorre com o material
da EBD que é feito somente pela JUERE O programa de Crescimento
Cristão é produzido pelas seguintes entidades: JUERP, JUMOC (Junta
de Mocidade da CBB), UFMBB (União Feminina Missionária Batista
do Brasil) e UMMBB (União Masculina Missionária Batista do Brasil).
Doravante usaremos as siglas dessas entidades para identificar sua lite­
ratura.
Rol de Bebês
A faixa etária considerada Rol de Bebês abrange de 0 a 3 anos,
e o trabalho é coordenado pela UFMBB. Na realidade, não existe uma
literatura em forma de revista trimestral para esta faixa etária; nem mesmo
algo que se possa chamar de currículo.
Recentemente (1991) a UFMBB lançou um livro A Criança de 0
a 3, com orientação para o ensino nesta faixa etária. Nos traz um currí­
culo com atividades práticas para utilização dominical, porém oferece
conteúdos ricos em informação sobre a criança nesta fase, suas carac­
terísticas e como trabalhar com ela.
O trabalho tem a direção da Sociedade Feminina da igreja e como
recursos possuem livretes de orientação, tais como: Os Pequeninos
Crescem (Mental e Emocionalmente), Os Pequeninos Crescem (Espiri-
159
tualmente), Os Pequeninos Crescem (Fisicamente) e Visiladoras de Bebês.
Também há uma série de acessórios, como: caderneta, cartão de visita etc.
No programa de Crescimento Cristão esta faixa etária está mais
afeita ao berçário da igreja. Ainda se faz necessário o desenvolvimento
de material mais especifico para um melhor atendimento dentro deste
Programa.
Sociedade de Crianças
Para a faixa etária de 4 a 8 anos a UFMBB oferece a revista O
Pequeno Missionário. Uma publicação trimestral que apresenta em três
unidades uma série de atividades para as crianças dessa faixa etária. A
revista destina-se às líderes das Sociedades de Crianças. Ela traz sugestões
didáticas e atividades ein pequenos centros para serem desenvolvidas
pelas crianças, sob orientação das professoras.
Além dessa revista, a UFMBB publicou dois livretes com orien­
tações para ensinar a Bíblia a esta faixa etária. São: Como Ensinar a
Biblia (ás crianças de 4 e 5 anos) e Como Ensinar a Bíblia (às crianças
de 6 a 8 anos). Ambos oferecem dicas válidas para o lider trabalhar na
Sociedade de Crianças.
Duas outras publicações permanentes contribuem para o enri
quecimento do trabalho do líder de crianças. São elas: Atividades
Bíblicas e Missionárias para Crianças e Acampamento Diurno para
Crianças
União de Juniores
A faixa etária de 9 a 12 anos no Programa de Crescimento Cristão
conta com a publicação da JUERP chamada Vivendo-Treinamento. De
periodicidade trimestral, esta revista traz 13 estudos distribuídos em três
unidades. A dinâmica dos estudos obedece á seguinte subdivisão: Para
Começar, 2 ou 3 tópicos, e Para Terminar. No corpo da revista, seguem
orientações para o líder desenvolver o trabalho com o grupo. O nome
desta revista deverá sofrer alteração, porque, como jà foi dito, já não existe
mais a Escola de Treinamento, e, sim, Divisão de Crescimento Cristão,
abarcando as ênfases de treinamento e missões.
Mensageiras do Rei
Para meninas de 9 a 15 anos, a UFMBB publica uma revista missio
nária chamada Mensageira do Rei. Este programa visa desenvolver nas
meninas um conhecimento e despertamento de vocações missionárias.
A revista apresenta estudos e programas especiais sempre voltados para
missões. Também traz seções diversas como: passatempos, concursos.
160
dicas, correio da amizade, opiniões e outras informações para a menina
desta faixa etária. De acordo com a nova proposta da Convenção Batista
Brasileira, este programa e o de Embaixadores do Rei está abrindo o seu
currículo para as outras ênfases que não missões a fim de que as igrejas
possam fazer a opção de ter todas estas organizações ou optar entre uma
e outra.
Embaixadores do Rei
A revista O Embaixador foi planejada para uso das organizações
de Embaixadores do Rei nas igrejas. Esta revista é uma publicação trimes
traída UMMBB e procura atender os meninos e rapazes de 9 a 15anos.
A revista ainda está muito carregada de conteúdo missionário, porém,
como já temos dito, a idéia é que ela alcance outras facetas da vida dos
embaixadores, a fim de que a igreja possa fazer a sua opção. O Embai­
xador traz seções de. cartas, cursos para conselheiros, experiências
missionárias, curiosidades e duas unidades de estudo: uma para embai­
xadores juniores e outra para embaixadores adolescentes.
União de Adolescentes
Para a consecução dos objetivos desta organização a JUERP publica
trimestralmente a revista Diálogo e Ação. Trata-se de uma revista bastante
dinâmica que oferece para os adolescentes da faixa de 12a 17anosopor
tunidades de crescimento cristão e companheirismo.
Diálogo e Ação procura alcançar os adolescentes em suas peculia
ridades, respeitando o seu perfil psicológico e atendendo a esta fase da
vida em que a curiosidade está aguçada e se está ávido por novidades.
A revista traz seções interessantes, como: Entrevista, Cantinho do Poeta,
Pare e Pbnse, Ponto de Vista, Humorizando. Passatempo Bíblico e Correio
da Amizade. O adolescente tem oportunidade de participaçãoe expressão
de suas idéias. Também a revista apresenta 12 estudos distribuídos em
três unidades para explanação nos domingos do trimestre.
O líder de adolescentes dispõe de uma Edição do Líder que vem
encartada na revista do aluno. Este suplemento especial para o lider oferece
uma série de recunsos para ajudar o líder na condução dos objetivos da
União de Adolescentes. São sugestões de livros, troca de experiências,
maratonas de eficiência, atividades especiais e artigos de interesse. Também
a Edição «lo Lider traz um plano de aula para cada estudo da revista
do aluno. A estrutura básica desses planos é: Técnica de Ensino. Recursos
Visuais, Desenvolvimento e Tarefa.
161
Sociedade de Moças
A UFMBB publica para a jovem cristã a revista Desafio M issio­
nário. Esta publicação segue orientação voltada para a ênfase de missões,
procurando despertar na jovem a consciência missionária e o desperta
mento de vocações. Trata-se de um programa não conflitante com a
proposta de trabalho para jovens desenvolvidas pela JUMOC, em função
de sua especificidade missionária.
Desafio M issionário é de edição trimestral e oferece vários conteú
dos para as moças. Em termos de trabalho em grupo, a revista oferece
estudos para as suas reuniões mensais. Como a organização Sociedade
de M oças reúne-se uma vez por mês, só são oferecidos três programas
para os respectivos meses do trimestre. Atém disso, a revista oferece
diversas seções para edificação e informação da jovem: Intervalo, Espaço
Livre, Reflexão, Um POuco de Missões, Vida Cristã, Coisas da Vida etc.
G rupo de Ação Missionária

Para o G rup o de Ação M issionária, também conhecido como


GAM, a UMMBB publica a revista Comunicação M issionária. A publi
cação destina-se aos rapazes da igreja e tem sua ênfase também voltada
para missões, á semelhança de Desafio M issionário para as moças.
A revista ê de publicação trimestral e traz três estudos mensais para
atender as reuniões do GAM. Traz, também, uma série de reportagens
sobre o trabalho da organização em nivel nacional e uma série de artigos
adicionais para edificação do jovem.
Unijovem
A Unijovem (União de Jovens) conta com a publicação Unijovem
(a revista traz o nome do grupo para reforçar a sua proposta) para aten­
dimento de seu programa voltado para os jovens das igrejas, A revista
é uma publicação trimestral da JUMOC e desenvolve programa bem
específico visando englobar todos os jovens da igreja local.
A estrutura da revista segue a proposta pela Junta de Mocidade
para funcionamento das Uni jovens, ou seja, está subdividida em: GEB
(Grupo de Estudo Bíblico), GDI (Grupo de Discipulado e Integração),
GDC (Grupo de Desenvolvimento Cultural) e GÍJG (Grupo de Programas
Gerais).
Assim sendo, a revista traz estudos específicos para atender a estes
diversos grupos que, segundo a estrutura proposta, podem funcionar em
locais e horários combinados entre os próprios componentes do grupo.
Além dos estudos, a revista Unijovem oferece diversas seções: Entrevista,
162
Cartas Jovens, Ministérios, Opinião, Vida e Vocação, Espaço Aberto,
Sexualidade, Para Ler e Pensar e Amigos Fazem Amigos.
Para os líderes da Unijovem a JUMOC edita Juventude Liderança
e Líder Capaz. A revista Juventude Liderança trata basicamente do
aspecto didático-pedagógieo da programação da Unijovem. Orienta o
líder na consecução dos programas sugeridos e como dinamizar os estudos.
Já a revista Líder Capaz, também de edição trimestral, está voltada
para a pessoa do lider. Esta publicação traz uma série de artigos, infor­
mações e estatísticas que contribuem grandem ente para o
aperfeiçoamento do líder. Algumas das seções de Líder Capaz são:
Claquete, Bastidores, Fterfil. Sugestando, Praxis, Checkup, O Que Vem
Por Ai, O Que Vai Por Ai, Trocando em Miúdos e Missões.
Numa tentativa de alcançar o mesmo público com um só produto,
a JUMOC fundiu as revistas Juventude Liderança e Líder Capaz numa
só, preservando, porém, as duas logomarcas, e publicando os mesmos
conteúdos descritos acima.
União de Jovens Casados
Uma das mais recentes organizações da igreja, a União de Jovens
Casados conta com a revista Casal Feliz para dar conseqüência ao seu
programa.
Também de edição trimestral, e uma publicação da JUMOC, a
revista Casal Feliz aborda assuntos de grande relevância para a realidade
do jovem casal, numa ênfase bastante atual e contextualizada.
Além de ser uma revista de consumo do casal jovem, em família,
ela oferece subsídios para o desenvolvimento de estudos e programas no
contexto das Uniões de Jovens Casados, Algumas das seções de Casal
Feliz são: Vida a Dois, Filhos, Vida Espiritual, Família e Mídia, Sexo,
Noivos, Gravidez, Psicologia, Adolescentes, Medicina e Saúde, Divor
ciados e Economia Familiar.
A revista oferece um encarte para desenvolvimento de programas
e estudos nos Grupos de Casais das igrejas.
Sociedade Feminina Missionária
Para o programa de missões envolvendo as senhoras da igreja a
UFMBB edita trimestralmente a revista Visão Missionária. Trata-se de
uma publicação com grande carga missionária, embora alcance ainda
várias facetas da vida da mulher e da família.
A revista traz uma série de estudos para o programa mensal da
Sociedade Feminina Missionária, bem como artigos de interesse geral
das senhoras. Traz também programas especiais e seções como: Vida
163
Cristã, Evangelismo, Denominação e Vida a Dois. Visão Missionária
também oferece muito material informativo e ilustrativo da obra missio­
nária e do trabalho da União Feminina Missionária Batista do Brasil.
Sociedade Masculina Missionária
O trabalho masculino dispõe da publicação trimestral da UMMBB,
denominada Homem Batista. Esta revista traz três estudos bíblicos para
cada encontro mensal da organização no trimestre. Além destes estudos,
oferece material adicional para edificação e crescimento dos homens
batistas.
A revista possui forte ênfase missionária e traz amplas reportagens
sobre o que está acontecendo nas Sociedades Masculinas Missionárias
por este Brasil afora.
União de Adultos
A União de Adultos da igreja local conta com a revista Realização
para consecução do seu programa de trabalho. Esta é uma publicação
trimestral da JUERPeobjetiva basicamente fornecer estudos para desen­
volvimento dominical nas Uniões.
A revista está estruturada em três unidades de estudo, uma para
cada mês do trimestre, oferecendo, portanto, 13 estudos bíblicos. Além
destes estudos, oferece sugestões de programas especiais, artigos de inte­
resse e idéias para uma melhor dinâmica da União.
A revista Realização, porém, vem de substituir a antiga Fé & Ação,
numa tentativa de atender melhor o público adulto de nossas igrejas.
Mais do que ser a revista da União de Adultos, Realização pretende ser
a revista do adulto cristão. Assim sendo, sua proposta foi reformulada,
sendo mais abrangente e trazendo artigos e seções que atendem a áreas
de interesse da vida adulta: filantropia, tiobby, terceira idade, ação social,
saúde, lazer, cultura etc.
Culto Doméstico
Para a edificação da família e a sua integração e crescimento através
do Culto Doméstico, a UFMI3B publica trimestralmente duas revistas.
A primeira, Manancial, é uma publicação que oferece meditações
diárias para a familia estar reunida e poder crescer junta no conhecimento
da Palavra de Deus. Também oferece, oportunidades de oração em favor
da obra missionária e missionários aniversariantes. A revista oferece
artigos voltados para as crianças, o adolescente, a família, o louvor etc.
A outra publicação, mais recente, é a revista Sorriso, destinada
â vida devocíonal e entretenimento das crianças de 5 a 9 anos. Ela traz
164
historinhas, brincadeiras, passatempos e muitas curiosidades para o
público infantil.
Educação Musical
A revista trimestral Louvor se destina a todas as pessoas na igreja
que têm responsabilidade na preparação efou direção dos cultos da igreja
ou de suas organizações. Contém artigos inspirativos e materiais rela­
cionados com o ministério musical em nossas igrejas.
A revista, uma publicação da JUERR visa aos ministros de música,
regentes, pianistas, organistas, coristas, pastores, comissão de música e
grupos musicais, Inclui artigos de enriquecimento espiritual, técnicos,
práticos, novas composições e outras matérias relativas ao programa de
música da igreja local
Louvor traz um encarte semestral com sugestões didáticas para
iniciação musical na igreja e auxilio ao bom funcionamento do Depar­
tamento de Música da igreja.
Material Administrativo
Para a boa administração da igreja e suas organizações, a JUERP
publica uma série de materiais como: livros de contabilidade e registro
de membros, fichários, cadernetas de relatórios etc. Entretanto, há também
uma excelente literatura editada trimestralmente pela JUERP chamada
Administração Eclesiástica.
A revista Administração Eclesiástica destina-se a pastores e lideres
que querem se assessorar de informações e conteúdos que ajudem a
realizar melhor o seu ministério.
Administração Eclesiástica está dividida em seções que abordam
os seguintes temas: Denominação, EBD, Educação, Igreja, Liderança,
Música, Planejamento, Serviço, Treinamento e outras.
Além dessa revista, está sendo implementado o projeto Consultoria
em Administração Eclesiástica que visa atender, através de módulos e
fasciculos mensais, os lideres e suas necessidades básicas no que se refere
aos aspectos administrativos da igreja.
Ministério com Estudantes
Há duas publicações especificas voltadas para os estudantes da
igreja. A JUMOC desenvolve este Ministério com Estudantes e edita
estas literaturas.
A revista Sensação, publicação trimestral, está voltada para os estu
dantes secundaristas. Trata-se de uma revista de leitura e entretenimento,
com artigos de edificação e contextualizaçáo do estudante cristão.
165
A outra revista, também de edição trimestral, é a Campus. Esta
revista tem como público alvo os estudantes universitários e apresenta
uma proposta bastante dinâmica, de inserção no campus e preparo do
estudante cristão para oenfrentamento desta etapa e deste espaço da vida.
Campus traz seções como: Mão Dupla. Em Pauta, Campus Varieda
des. Biblioteca Universitária, Dicas, Conhecendo a Palavra, Intervalo e
outras. Traz também artigos de interesse e edificação para o universitário.
Mulher Cristã
Para o desenvolvimento social, intelectual e espiritual da mulher
cristã, a UFMBB edita trimestralmente a revista M ulher Cristã Hoje.
Trata-se de uma revista de leitura com artigos contextualizados à reali­
dade brasileira, objetivando a formação da mulher cristã.
A revista conta com um corpo de redatores especializados que asses­
sora e dinamiza suas seções. São elas: Entrevista, Medicina, Terapia
Infantil, Pediatria. Decoração, Psicologia, Estudo Bíblico, Social, dentre
outros.
Área Educacional
Para os educadores a JUERP publica a revista O Educador. Esta
publicação possui três enfoques básicos: Educação Religiosa, Educação
Teológica e Educação Secular.
Com uma proposta bastante atual, O Educador visa alcançar pro­
fessores dos educandários batistas e outros de ensino religioso da rede
pública, professores de seminários e instituições teológicas e os que
militam na área da educação religiosa na igreja e na denominação.
O Educador está dividida em seções com artigos de interesse e
informações que desafiam os amantes do saber.
Programa para Novos Convertidos
Visando alcançar a gama de novos convertidos que se achegam
às igrejas a cada mês, a JUERP edita um programa de estudos intitulado
Série Nova Criatura.
A Série Nova Criatura é um programa anual publicado em quatro
revistas trimestrais, que vão se aprofundando no conteúdo bíblico grada-
tivamente para que o novo convertido não-familiarizado com a linguagem
e o conteúdo da Bíblia possa ir assimilando-os aos poucos.
As quatro revistas da série são: Primeiros Passos, Crescimento em
Cristo, Firmando a Fé e Conhecendo a Bíblia. Cada revista está dividida
em 13 lições, onde o aluno pode, de forma dinâmica, desenvolver o seu
estudo através de consulta à Bíblia e resposta de exercícios.
166
Cada uma destas revistas possui uma Edição do Professor, que
traz sugestões didáticas e planos de aula para a consecução dos estudos
em classe.
Currículos Alternativos
Para melhor atender as múltiplas necessidades das igrejas espalha­
das no Brasil, levando em consideração as diferentes realidades do pais,
e diversidades no que tange à cultura, socialização, formação acadêmica,
desenvolvimento teológico etc, a JUERP elaborou dois currículos alter
nativos para suprir as igrejas. São eles:
Currículo livro por livro da Bíblia
Este currículo visa oferecer estudos bíblicos que abrangem do
Gênesis ao Apocalipse, fazendo um passeio pela narrativa bíblica e ofere
cendo ao aluno conteúdos que vão da história dos começos, passando
pela formação do povo de Israel e sua história, chegando aos profetas
e inserindo-se no Novo Testamento, pela história da igreja e doutrinas
apostólicas.
Este Currículo Livro Por Livro abrange um período de 15 anos
e vem resolver um problema do currículo normal, que é de apenas 8 anos
e dá a impressão de que os conteúdos se repetem muitas vezes.
Este currículo está sendo publicado em revistas sem data, de modo
a serem utilizadas de acordo com a administração da educação religiosa
encetada pela igreja local. Ainda há poucos títulos nas livrarias, porém
o plano é oferecer um leque de opções de estudos bíblicos, do Gênesis
ao Apocalipse, que a igreja possa usar.
Currículo temático
Com a supressão do 3.° trimestre de Atualidades no currículo nor­
mal para jovens e adultos, a J UERP está oferecendo este currículo, visan
do atender temas de interesse para o estudo das igrejas e que não são
cobertos pelo Currículo Livro Por Livro da Bíblia.
O Currículo Temático também é oferecido em forma de revista sem
data e abrange temas como; Família. Evangelismo e Missões, O Valor
da Vida Humana (abordando drogas, aborto, pena de morte etc), Herme
nêulica, Seitas, Igrejas, ítobreza, A Igreja e o Mundo. A Pessoa e Obra
do Espírito Santo, dentre outros.
Trata-se de um currículo que pode ser acrescentado de novos titulos
á medida que se fizer necessário.
167
Temas para discussão
1. Qual o seu conceito de currículo? Seu conceito de currículo
está de acordo com aquilo que sua igreja pratica sob o nome
geral de educação?
2. Avalie a utilidade do Programa da Divisão de Escola Bíblica
Dominica] da Convenção Batista Brasileira do ponto de vista
curricular e de uma perspectiva prática, segundo o uso do ma
terial didático de sua igreja. (Não o faça cegamente, sem
examinar pessoalmente o material.)
3. Indique, para sua análise própria, as vantagens e desvantagens
tanto teóricas como práticas, de usar folhas de trabalho na
Escola Biblica Dominical, em vez de revistas.

168
Capítulo 15
RESUMO E CONCLUSÕES

Quando se chega ao fim do estudo de um livro, é sempre bom se refletir


sobre o que se leu e o que se ouviu. Ao fazê-lo, várias perguntas devem
ser formuladas, entre as quais estão as seguintes: Em que concordo com
o material lido e ouvido? Em que discordo? O que devo fazer como resul­
tado do estudo?
A esperança do autor é de que o leitor deste trabailio, quer o tenha
utilizado pessoalmente, quer tenha estudado e discutido em curso ou
simpósio, não o tenha feito apenas com finalidade académica. Se o estudo
não incentivou à ação, o autor falhou em seu propósito. A ação poderá
ser ativa, sob a forma de mudanças que devam ser feitas, ou passiva,
sob a forma de afirmação de que o programa educacional no qual o leitor
se acha engajado está funcionando de acordo com princípios adequados.
O importante é que haja ação. que o leitor tenha sido estimulado e que
se tenha disciplinado a refletir sobre o seu ministério educacional na igreja.
Em alguns círculos educacionais de nossos dias, usa-se muito a palavra
praxis para indicar um processo de reflexão e ação sobre o mundo de
alguém e como esse mundo pode ser transformado através de edu­
cação. Este estudo deve procurar um processo de reflexão/ação,
apesar do modo simples como foram tratados os temas e os problemas
e eles relacionados. Mais do que isso, o resultado do processo reflexão/
ação do leitor deve estimular processo semelhante entre a parcela do
povo cristão com que trabalha. O que Cristo busca é a transformação
das pessoas; e a transformação do mundo através de indivíduos
transformados por um amor supremo deve ser o que busca a igreja.
Isto só é possível quando refletimos sobre nossa condição, sobre
as nossas necessidades e as do nosso próximo, sobre o que podemos fazer
pessoalmente para atender a essas necessidades. Assim, pois, espera-se
que o leitor haja refletido e continue a fazê-lo, para que possamos cumprir
com maior eficiência a tarefa educacional que o Senhor nos entregou.
Como se disse na Introdução, levar a sério a tarefa educacional da igreja
é vital para a sobrevivência desta.
169
Apresentamos a seguir uma recapitulação do que foi exposio nas
páginas anteriores, a fim de terminarmos o estudo com um panorama
geral que nos incentive a refletir e que nos estimule à ação.
A educação cristã começou com a educação dos hebreus, antecessores
espirituais da igreja primitiva. A educação hebraica, que foi em sua tota
lidade educação religiosa, por causa do conceito que os hebreus tinham
de si como o povo de Deus, realizava se principalmente no lar. mas também
no templo e, durante e depois do exílio, na sinagoga. Havia exceções e
essa regra, mas de um modo geral era assim. O propósito da educação
hebraica era tríplice: transmitir sua herança histórica como povo de Deus.
instruir na conduta ética e assegurar a presença e a adoração de Deus.
Seu currículo consistia principalmente da tradição oral, da lei e das ativi­
dades diárias.
Quando os ideais religiosos dos hebreus se transformaram num sistema
mais formal de crenças, houve também a necessidade de formalizar os
métodos de ensino desses ideais. Assim sendo, a educação judaica passou
a realizar-se mais na sinagoga do que rio lar ou no templo. A educação
doméstica desempenhava urn importantíssimo papel na vida da criança.
Foi complementada, porém, por uma educação mais formal, aos pés de
mestres preparados e num ambiente educacional.
O elo entre a educação hebraico-judaica e a educação cristã foi o
primeiro educador cristão, o fundador do crist ianismo, Jesus de Nazaré.
O Mestre dos mestres deve ser o exemplo de todo mestre cristão. Por
isso, estudamos suas qualidades de mestre, mencionando sua capacidade
acadêmica e experimental, mas dando ênfase á sua habilidade de viver
pessoalmente aquilo que ensinava. Estudamos também algumas carac­
terísticas dos discípulos de Jesus, para podermos relacionar nossa
experiência de mestres com a dele. Dissemos que o objetivo de seu ensino
era a transformação da vida de seus ouvintes, uma reflexãoàção por parte
daqueles. Finalmente, para ajudar a entendermos melhor o que Jesus
fez como mestre, expusemos sua metodologia.
Dessas bases bíblicas, passamos a examinar o desenvolvimento da
educaçãoo cristã através dos séculos, ao mesmo tempo que a igreja se
tornava elemento reconhecido, importante e decisivo na história mundial.
Vimos como os cristãos da igreja primitiva aprendiam e praticavam sua
fé através do contato diário uns com os outros, em suas atividades coti­
dianas e no culto, simbolismo que caracterizava suas reuniões. A educação
cristã deste período primitivo tinha como funções principais instruir os
novos crentes sobre o batismo, preparando-os para esse ato, e conservar
a nova tradição religiosa, que já não era mais hebraica, mas cristã. A
literatura produzida nesse período ajudava muito nesta última função.
170
Nos séculos que se seguiram, entre a era apostólica e a Reforma Protes
tanie, muitos fatores influíram no desenvolvimento da educação cristã,
entre os quais: o intelectualismo de adeptos procedentes de regiões do
Império Romano, as heresias que surgiram enquanto a igreja lutava para
definir claramente suas doutrinas, o aparecimento dos apologistas para
defender aquilo que a igreja definia, e o desenvolvimento organizacional
da igreja. Este último elemento influiu muito no desenvolvimento dos
sistemas de educação cristã, os quais, por sua vez, levaram à fundação
de instituições educacionais.
Durante a mesma época, surgiram nomes importantes para o desen
volvimento de educação cristã. Analisamos rapidamente a contribuição
de pais da igreja, como Agostinho, Alcuíno e Tomás de Aquino, por sua
influência duradoura na vida da igreja e, portanto, na educação cristã.
O mais importante foi talvez Tomás de Aquino, cujo pensamento está
ligado às práticas da Igreja Católica Romana e a uma filosofia da
educação, o neotomismo.
Os cristãos evangélicos de hoje devem muito aos acontecimentos dos
séculos XIV-XVI na Europa. Vimos em nosso estudo a evidência de um
transtorno sócio-politico-cultural e a reação da igreja frente a esse fato.
Mencionamos as contribuições de homens e movimentos que agiram
para salvar a dignidade e valor da igreja num mundo “progressista” que
não tinha lugar para as coisas de Deus. Estes homens e movimentos,
como Groote e Os Irmãos da Vida Comum. Thomas à Kempis, Erasmo,
os reformadores eclesiásticos como Lutero, Calvino, os anabatistas e
outros, deixaram a marca polêmica em sua época. Cada qual. com sua
preocupação de manter pura e bíblica a doutrina cristã, iniciou ou influen­
ciou o rumo da educação cristã até hoje. Sugerimos a existência de cinco
influências principais na educação cristã durante o período da Reforma.
No mesmo capítulo, constatamos que, depois deste período de
mudanças bruscas e fortes, quando o mundo se. acalmava e progredia
mais tranqüilamente rumo à era contemporânea, outros homens, mais
como educadores do que como teólogos, deixaram também sua marca.
Com eles a educação cristã começou a ser mais ciência do que antes,
uma parte da vida cristã que se devia organizar devidamente e para a
qual se devia preparar adequadamente. Mas o pensamento de homens
como Comênio, Spener, Franche e Zinzendorf dava ênfase também à
necessidade da espiritualidade e dependência de Deus, na educação.
Estudadas essas contribuições, passamos âs bases históricas nasquais
o desenvolvimento da educação cristã nos trouxe até os dias de hoje.
Vimos a chegada do cristianismo ao Novo Mundo, através do protestan­
tismo na América do Norte e do catolicismo na América Latina.
Deixando de lado o que corresponde à educação católica, acompanhamos
educação cristã de tradição evangélica desde sua chegada à América do
Norte e, dali, em sua extensão à América do Sul através do movimento
missionário. Ao mesmo tempo, mencionamos algumas das características,
positivas e negativas, da educação crisiã nos Estados Unidos da América
e, depois, os aspectos positivos e negativos do movimento missionário
em relação â educação. Herança importantíssima desse período foi o
começo e desenvolvimento da escola dominical.
Ao terminarmos o estudo referente às bases históricas, apresen­
tamos outro fundamento da educação cristã, este relacionado com o
contexto sociocultural da educação e as influências psicológicas
sobre o processo educacional. Procuramos caracterizar o contexto
sociocultural latino, a fim de levar o leitor a refletir sobre as possíveis
mudanças que devem ocorrer em seu próprio contexto. Abordamos a
relação entre educação e cultura, mostrando ser a mesma inevitável,
podendo ser a educação, portanto, instrumento de manutenção, trans­
formação e crescimento da cultura. Como tal, a educação serve á
população em geral e, mais importante para nós, serve também â comu­
nidade cristã. Terminamos esse estudo apontando cinco implicações
socioculturais para a educação cristã.
No capítulo 10, delineamos a estreita relação entre os estudos psico­
lógicos e a educação. Afirmamos que a psicologia, especialmente em sua
função de explicar o desenvolvimento do ser humano, é a ciência do
comportamento humano, e que a educação tem por função a mudança
desse comportamento. A psicologia e a educação são, portanto, inter­
dependentes. Falamos a respeito das teorias de aprendizagem, ensino,
desenvolvimento e motivação, como parte do estudo e da explicação psico­
lógica do comportamento humano em sua busca de conhecimento.
Enfocamos algumas das principais teorias do desenvolvimento humano,
como as de Piaget, Kohlberg e Erickson, apontando suas implicações
para a igreja local. Finalmente, sugerimos a possibilidade de a fé ser consi­
derada uma experiência psicológica. Nesse caso, o educador cristão teria
a responsabilidade de entender suas implicações para ele e para o seu
trabalho na igreja.
Na quarta parte do livro, procuramos oferecer bases teológicas e filo­
sóficas para a educação cristã. O capitulo 11 apresentou alguns
pensamentos sobre teologia da educação. Foi um estudo baseado em tex­
tos fundamentais, embora não exclusivamente da Bíblia, e que nos
ajudaram a desenvolver uma teologia da educação. Do estudo bíblico
relacionado com a educação, sugerimos que o que se realiza sob o nome
de programa educacional na igreja deve incluir os seguintes elementos:
172
modelo de comportamento cristão, relações interpessoais, contextuali-
zações, discipulado e organização.
Com respeito a tuna filosofia da educação adequada para a igreja,
apresentamos cinco escolas filosóficas tradicionais e sugerimos implicações
de caráter religioso e educacional em cada uma delas. Deixou claro o
autor, no entanto, que nenhuma dessas filosofias é adequada à função
educacional da igreja e. portanto, sugeriu adotar-se urna nova filosofia.
Essa nova filosofia, intrinsecamente relacionada com a teologia da
educação, e apresentada no capítulo anterior, é uma filosofia baseada
no diálogo interpessoal.
A última parte do livro, que inclui o antepenúltimo e o penúltimo
capítulos, pretende ser mais prática do que teórica em sua orientação.
Tratou das bases organizacionais da educação. O capítulo 13 apresentou
vários fatores que se devem levarem conta ao se pôr em prática o progra
ma educacional da igreja local: adiministração, planejamentoe avaliação,
recursos humanos, agrupamento de classes, espaço, instalações e equi
pamento e currículo, No penúltimo capítulo, o faior currículo foi analisado
em detalhes. Corno parte da análise, apresentou-se um resumo da maior
parte da literatura publicada pela Convenção Batista Brasileira, através
de suas Juntas, com o propósito de levar o leitor a refletir sobre as neces­
sidades curriculares de sua igreja e analisar se deve ou não usar a literatura
sugerida pela CBB para as igrejas batistas.
Você leu. Estudou. Possivelmente, discutiu. Pbde ser que esteja de
acordo; pode ser que não. Espero que haja refletido. Espero que aja.
lèmas para discussão
1. Há conceitos apresentados neste capítulo que ainda não
entende? Que poderia fazer para esclarecê-los9
2. Há conceitos neste capitulo com os quais não concorda? Qual
a sua alternativa? Pode justificá-la?
3. Que pontos do livro o interessou pessoalmente, por causa das
evidentes necessidades de sua igreja? Que pensa fazer sobre o
assunto? Que linha de ação seguirá?
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

BARCLAY, William. El Nuevo Testamento comentado. Vol. 4 Lucas.


Buenos Aires: La Aurora, 1973.
COLEMAN, Lucien. Como ensinar a Bíblia. Rio de Janeiro: JUERP,
1988.
COLOMBATTl, Hugo. Factores de crecimiento en la iglesia. Tese de
Mestrado, não publicada. Cali, Colombia: Seminário Bautista
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176
"A obediência ao mandamento bíblico de ensinar
è vital para a sobrevivência da igreja. O valor da
educação dos crentes no movimento evangélico na
América Latina é inestimável. Um pesquisador desco­
briu cinco fatores de crescimento nas igrejas
evangélicas da América Latina, um dos quais é um
forte programa de educação cristã."
Com esta afirmação, o autor procura estabelecer
desde o princípio que a educação cristã não é uma
hora de entretenimento cada domingo, mas um
programa integral da igreja que fará a grande diferença
em seu ministério.
Por essa razão, neste estudo se desenvolvem as
bases imprescindíveis para um programa educativo
sério nas igrejas locais. Analisam-se as bases bíblicas,
históricas, sócio-culturais, psicológicas e organiza­
cionais da educação cristã. Não se tratade um estudo
meramente teórico; há uma referência permanente
à vida prática das igrejas em que o autor experimentou
os princípios expostos nesta obra.
Eis, pois, um livro de leitura necessária para aqueles
que buscam um modelo sério para a educação cristã,
no programa de crescimento integral de suas igrejas.

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