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DA
EDUCAÇÃO
CRISTÃ
HAYWARD
aba m o n o
BASES
DA
ÉDUCAÇÃO
i CRISTÃ 1
Todos os direitos reservados. Copyright © 1992 da Junta de Educação
Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira. Direitos cedidos,
mediante contrato, pela Casa Bautista de Publicaciones, El Paso, Texas, USA.
Copyright © 1988 by Casa Bautista de Publicaciones.
Armstrong, Hayward
A735b Bases da educação cristã/Hayward Armstrong. Tradução
de Merval de Souza Rosa. 2.ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994.
176p. 21 cm.
Inclui bibliografia.
Titulo original: Bases de la Educación Cristiana
1. Educação Cristã. I. Titulo
CDD — 268
G tm fíA / 06- 0 OÒ
Coordenação Editorial
Josemar de Souza Pinto
Edição de Arte
Nilcéa Pinheiro
Capas
Queila Mallet
Código para pedidos: 222014
Junta de Educação Religiosa e Publicações da
Convenção Batista Brasileira
Caixa Postal 320 — CEP: 20001-970
Rua Silva Vale, 781 — Cavalcanti — CEP: 21370-360
Rio de Janeiro. RJ — Brasil
3.000/1994
Im p re sso em gráficas p ró p ria s .
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 7
Primeira Parte
BASES BÍBLICAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
1. A educação entre os hebreus .......................................................... 11
2. A educação judaica.......................................................................... 19
3. Jesus como m estre........................................................................... 25
Segunda Parte
BASES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
4. A educação na Igreja Prim itiva................................................... 33
5. Movimentos e instituições antes da R eform a............................ 41
6. Pessoas importantes antes da R eform a........................................ 51
7. Movimentos e pessoas importantes durante o período da
Renascença e da Reform a.............................................................. 57
8. A educação cristã na A m érica..................................................... 69
Terceira Parte
BASES SOCIOCULTURAIS E PSICOLÓGICAS
DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
9. A educação cristã em seu contexto sociocultural.................... 83
10. Influências psicológicas da educação religiosa.......................... 91
Quarta Parte
BASES TEOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
11. O padrão bíblico em nossos d ia s......................................................107
12. Uma filosofia adequada para a igreja.............................................119
5
Quinta Parte
HASES ORGANIZACIONAIS DE UM
PROGRAMA EDUCACIONAL PARA A IGREJA
13. Fatores de desenvolvimento de um programa educacional.....133
14. Materiais educativos ........................................................................ 147
15. Resumo e conclusões....................................................................... 169
Bibliografia selecionada.............................................................................175
6
INTRODUÇÃO
Introdução
Seria um erro imperdoável tentar estudar a educação cristã sem
antes considerar a educação religiosa que a precedeu, isto é, a educação
dos hebreus do Antigo Testamento e a educação judaica dos períodos
intertestamentário e neotestamentário. Neste capítulo consideraremos
especificamente a educação entre os hebreus.
Todas as grandes idéias associadas asm o Antigo Testamento —
revelação, profecia, sacrifício, ritos, a presença e o poder de Deus, etc
— de uma ou de outra forma estão relacionadas com o sistema educa
cional dos israelitas, o povo escolhido por Deus. Portanto, estas idéias
se relacionam também com nossos propósitos na educação cristã, para
nós que formamos o novo Israel. Neste capítulo consideraremos quatro
áreas específicas da educação entre os hebreus. Estas áreas têm valor
à medida que procuramos desenvolver uma compreensão biblica da
educação com o propósito de relacioná-la a nossos conceitos educado
nais na igreja local.
Eavey, educador cristão norte-americano, disse que “uma história
da educação verdadeiramente cristã indica, através dos tempos, o desen
volvimento da educação que começou com Deus, continuou a centra
lizar-se em Deus e agora se propaga sob a direção de Deus”. Parece, pois,
que um estudo da educação cristã não deve começar com uma história
mais recente do que a do antigo Israel.
1 CENTROS DE EDUCAÇÃO EM ISRAEL
O lar
Desde a mais remota antigüidade, o lar ou a família tem sido a
instituição educacional por excelência na terra. Quando se lê o Antigo
Testamento ou outra literatura do período veterotestamentário e se começa
a entender os princípios da raça humana da perspectiva hebraica,
compreende-se que 0 plano fundamental de Deus sempre foi o de que
a educação de seu povo deveria começar no lar. Na cultura hebraica as
crianças ocupavam lugar de grande importância (SI 127, 128; Jó 5,25
etc). Pbrtanto, a educação dos filhos era elevada prioridade. Uma das
funções mais importantes dos pais hebreus era a educação adequada e
correta de seus filhos. Vários textos do Antigo Testamento indicam isto:
Ex 12,26,27; Dt 4.9,10; 6.4-7; 11.18,19 etc. A vida começou na familia
e, portanto, o ensino também começou ali.
Na literatura mais antiga não se encontram professores, isto é,
pessoas especificamente encarregadas da comunicação da fé (educação
religiosa) às crianças. Pelo contrário, as crianças eram membros-
participantes de uma comunidade responsável por sua vida, na qual a
tarefa maior cabia as pais. Em geral, as mães cuidavam do ensino das
filhas e os pajs se encarregavam dos filhos. Podemos formar um quadro
mental do ensino diário dos meninos hebreus imaginando as perguntas
que faziam e as explicações que os pais procuravam dar, num intercâmbio
de idéias que formavam parte integral e normal das tarefas cotidianas.
Podemos imaginar que muita aprendizagem ocorria toda noite
enquanto as famílias, especialmente os homens, sentavam-se ao redor
do jardim (as casas eram usadas apenas para dormir) recordando, compar
tilhando, contando histórias e lendas do passado. É bem provável que
a educação hebraica tenha se concentrado na familia como resultado
de sua longa experiência como nação seminômade.
O templo
Como dissemos, geralmente a instrução se dava no lar. Em geral,
o menino seguia a profissão do pai, aprendendo com ele um oficio com
o qual pudesse aj udá-lo no sustento da família. Sem dúvida, havia ocasiões
em que existiam outras formas de educação. O exemplo mais conhecido
é a história de Samuel, cujos pais o entregaram ao sacerdote Eli para
criá lo e instrui-lo. A história de Samuel não deve ser considerada como
caso isolado. O lato de Samuel ser da tribo de Efraim e não de Levi (a tribo
sacerdotal) indica que existia a preocupação de dedicar alguns filhos a
Deus de forma especial e lhes permitir crescer sob a tutela de um sacerdote.
Além disso, há indícios de que as classes elevadas empregavam amas
ou guardiãs, que se responsabilizavam pela instrução das crianças a seu
cargo (veja-se, por exemplo, Rt 4.16; 2Sm 4.4; 2Rs 10.5; Is 49.23;
Nm 11.12, lCr 27.32).
A sinagoga
Se bem que a sinagoga tenha surgido durante o periodo veterotes-
tamentário (no quinto século antes de Cristo), ela é geralmente considerada
12
como parte da educação muito posterior, judaica. Assim, consideraremos
o ensino da sinagoga como parte da história do Antigo Testamento, mas
sua dimensão mais ampla será apresentada no segundo capítulo, que trata
da educação judaica.
As escolas de profetas
As escolas de profetas constituem um fenômeno extraordinário
quanto ao ensino, entre os hebreus. Há referência a essas escolas em narra
tivas dos ministérios de Elias, Eliseu e Samuel. Alguns estudiosos do
assunto acreditam que tais “escolas" eram instituições organizadas com
instrução programada, mas não há evidências suficientes que justifiquem
essa opinião.
Não há dúvida, no entanto, de que os profetas desempenharam
importante papel na educação do povo. Os profetas, os sacerdotes e os
reis exerciam responsabilidades singulares como figuras nacionais. Em
relação ao sistema religioso de sacrifícios, os sacerdotes tinham a mais
importante função. Em relação à organização politico-religiosa, a função
mais importante era a do rei. Mas, na prática diária, o profeta desem
penhava o papel educacional mais importante. O profeta era a figura
central na educação nacional, por causa de suas constantes exortações
e recordações concernentes ao propósito e vontade de Deus para com
a nação israelita e a necessidade de viver um vida justa e correta.
2 PROPÓSITOS DA EDUCAÇÃO HEBRAICA
Transmitir a herança histórica
Durante todos os anos da vida de Israel, e especialmente durante
os anos formativos, advoga-se com veemência que as gerações futuras
deviam nutrir-se das extraordinárias memórias históricas de tudo o que
havia acontecido no passado. Era fundamental que as gerações apren
dessem a história dos patriarcas, da escravidão no Egito, dos pactos entre
Deus e o povo através de Abraão, Isaque, Jacó e Moisés, e dos demais
eventos notáveis da história do povo de Deus. Era necessário que em
suas mentes existisse de modo firme o conhecimento dessa herança histó
rica de Israel como povo de Deus. A transmissão dessa herança histórica
foi, portanto, um dos mais importantes propósitos da educação em Israel.
Instruir na conduta ótica
Um segundo propósito importante na educação hebraica é o que
se refere ao ensino sobre o modo de se alcançar a alegria de viver. Na
história hebraica mais antiga, vemos esta ênfase sobre o comportamento
13
ct ico. que determina o grau de alegria que alguém alcança na vida. Esta
verdade é indicada através dos textos da lei (veja-se, por exemplo, Ex 20.12),
bem como da literatura que surgiu logo depois (os Provérbios, por
exemplo).
Assegurar a presença de Deus e sua adoração
No centro da educação hebraica sempre esteve a idéia do conhe
cimento de Deus, a adoração e obediência ao Criador. Através da História,
Deus sempre foi o centro do processo educativo. O homem sempre
procurou saber algo de sua existência, propósito e iugar no universo. Como
povo que se considera escolhido por Deus para a realização de seus propó
sitos, os hebreus centralizam seu ensino em Deus, mais do que qualquer
outra nação na história dos homens. Os hebreus procuravam viver e
ensinar a santidade perante Deus.
3. CURRÍCULO
A palavra “currículo” é usada de muitas maneiras, Para nosso propó
sito, significa o conteúdo da relação dinâmica entre ensino e aprendizagem.
Examinaremos vários tipos ou fontes de currículo.
Folclore, simbolismo e ritual
Como fizemos notar anteriormente, entre os hebreus, os assuntos
importan tes passavam de pais a filhos no próprio ambiente do la r. Muito
do que se transmitia era folclore, ou o que se chama também de tradição
oral. O folclore era transmitido principalmente através da celebração de
festividades e cerimônias. Portanto, o calendário hebraico foi uma ferra
menta educacional importante, porque em determinados dias do ano era
ministrada instrução especial sobre os eventos que se comemoravam.
Havia três festas principais no calendário hebraico (além de outras
menores). Cada festa tinha um significado relativo à vida agrícola e
também um sentido histórico. A Páscoa representava o princípio da
colheita, e comemorava a libertação do povo hebreu da escravidão egípcia.
Pentecostes representava o fim da colheita, e comemorava a chegada dos
hebreus ao Monte Sinai, onde receberam a lei. A festa dos tabernáculos
representava uma época na qual os agricultores viviam em tendas em
seus próprios campos enquanto faziam a colheita, e comemorava os anos
que Israel viveu no deserto.
O significado destes eventos era discutido informalmente e,
enquanto os meninos se sentavam para escutar ou enquanto se realizava
uma festividade especial de comemoração, faziam-se perguntas. Com as
14
perguntas curiosas e suas respectivas respostas as crianças aprendiam
sua herança cultural (veja-se, por exemplo, Dt 6.5,7; Js 4.21,22). Dai por
que os atos simbólicos, as práticas rituais, as festas e a transmissão da
tradição oral se converteram em instrumentos principais da instrução
entre os hebreus. Segundo a lei, o pai tinha a obrigação de explicar a
seu filho o significado das festas e dos rituais que as acompanhavam
(veja-se, por exemplo, Ex 13.8). Essa não era uma tarefa difícil, porque
a curiosidade e o interesse nas atividades de um dia festivo levavam o
menino a fazer perguntas e, ao respondê-las, o pai cumpria sua obrigação.
A lei
O ensino da lei se relacionava muito com o ensino feito através
do folclore, do simbolismo e do ritual. Não se pode menosprezar a
importância da lei como elemento educativo. Os primeiros cinco livros
da Bíblia, os chamados livros de Moisés, constituem os livros da lei. No
idioma hebraico os livros de Moisés eram chamados de Tora (Versão dos
Setenta em grego), palavra ordinariamente traduzida por “lei”. Na reali
dade, Tora significa “instrução”. Isto quer dizer que a Tora foi o meio
utilizado por Deus neste período histórico para a instrução do seu povo.
Poderíamos dizer, portanto, que a Tora ou a lei foi o elemento central
na educação de Israel. Os adultos aprendiam através da lei e transmitiam
a seus filhos essa aprendizagem.
Atividades cotidianas de ensino
O ensino diário das crianças, além de sua herança histórica, era
basicamente uma forma de treinamento quanto à sua utilidade para a
familia e para a sociedade, mas também constituía um treinamento nas
artes e ofícios. Havia entre os israelitas muitos ofícios a aprender, como,
por exemplo, pastorear ovelhas, trabalhar na agricultura, cozinhar, coser,
fazer pão, tecer, fiar, artes gráficas, música, dança e artesanato (ISm 16.18:
Jz 21.21; SI 137; Jr 31.13; Lm 5.14; 2Sm 13.8; Ex 35.25,26; Gn 29.6;
Ex 2.16).
Literatura de sabedoria
Os livros de Provérbios e Eclesiastes contém uma espécie de peda
gogia que merece destaque especial por seu valor educativo. (O autor
é cônscio do fato de que há problemas quanto à data de produção destes
livros. É provável que não pertençam ao período hebraico propriamente
e sim ao período seguinte, isto é, ao período do judaísmo.)
Não apresentaremos detalhes; apenas daremos referência, para que
o leitor faça sua própria investigação e estudo. Segundo alguns dos provér-
15
bios, há instrumentos que a família pode usar na criação dos filhos. Estes
instrumentos podem ser usados em áreas como:
1. Instrução: Pv 1.8; 6.20,23.
2. Exemplo ou modelo de comportamento: Pv 20.7; 23.26; 13.20.
3. Disciplina: Pv 3.11,12; 19.20; 29.15; 22.15.
24
Capítulo 3
JESUS COMO MESTRE
Introdução
As duas primeiras partes deste livro tratam dos fundamentos
biblicos e históricos da educação cristã. É necessário insistir no
fato de que Jesus de Nazaré é a base bíblica e histórica personificada
da educação cristã. Isto quer dizer que é muito provável que a
educação hebraica e judaica discutida anteriormente não teria mais
efeito sobre os cristãos de hoje do que qualquer outro sistema edu
cacional antigo se o Jesus histórico não houvesse entrado em cena.
Foi por meio de Jesus Cristo que a educação hebraica e a educação
judaica começaram a caracterizar-se por longo tempo, assumindo
marcas identificadas como cristãs, formulando assim a educação cristã.
De modo que é importante que o estudante de educação cristã pense
neste fundamento, que permitiu que as influências hebraicas e judaicas
se transformassem em educação cristã para aqueles que decidiram crer
no que Jesus ensinava.
É sabido que Jesus era considerado um mestre. Há muitos exem
plos disso — seus discípulos o chamavam de mestre; ele ensinou as
multidões com êxito; Nicodemos confessou que Jesus era um mestre vindo
de Deus; e há muitas outras referências a Jesus como alguém que ensi
nava. Só a palavra discípulo (aluno) é usada mais de duzentas vezes com
referência a seus seguidores. Pblo texto bíblico, portanto, não há dúvida
de que Jesus foi um mestre. Se nós que nos rotulamos de educadores
cristãos quisermos cumprir nossa responsabilidade a contento, devemos
aprender com ele que foi o primeiro educador cristão.
Para um estudo mais amplo deste assunto sugerimos a leitura do
livro de J. M. Price — A Pedagogia de Jesus, o Mestre por
£xce/éncia(JUERP). Em sua maior parte, as idéias apresentadas neste
capítulo foram inspiradas por artigo escrito por Valerie Wilson — Christ
the Master Teacher (“Cristo, o mestre por excelência”) —, em Introduc-
tion to Bibiical Christian Education (“Introdução à Educação Bíblica
Cristã”).
25
I AS CARACTERÍSTICAS DE JESUS COMO MESTRE
É muito provável que o menino Jesus tenha estudado na sinagoga
como os demais meninos judeus. Aparentemente seus mestres o ensi
naram muito bem, visto que, de várias maneiras, ele demonstrava suas
habilidades educacionais. Em primeiro lugar, Jesus praticava as artes lite
rárias. Ou seja, ele demonstrou sua habilidade de ler (com autoridade)
na sinagoga (Lc 4.16-20); ainda que não tenha escrito livro, nem um
folheto, sequer cartas etc, demonstrava sua familiaridade com a arte de
escrever (Jo 8.6). Suas palavras ditas na cruz (segundo Mt 27.46) indicam
que sabia a lingua aramaica e também o idioma dos patriarcas — o
hebraico. Segundo os evangelistas, especialmente Mateus, Jesus conhecia
profundamente as Escrituras Sagradas, pois delas fazia freqüentes citações
de memória. Jesus acreditava no ensino (Jo 13.13) e foi mestre por exce
lência. Tudo isto significa que Jesus não foi analfabeto, e que aproveitava
bem tudo aquilo que a educação judaica de seu tempo lhe oferecia. Em
muitos aspectos, ele nào foi diferente dos mestres seus contemporâneos»
se bem que o seu ensino apresentasse um saber próprio e especial.
Além de suas habilidades literárias, Jesus possuía algumas quali
dades especiais que usou em seu ensino. Tinha familiaridade com as
tradições e leis orais de seu povo (Mt 5.21,27,31,38,43). Compreendia
profundamente a natureza humana, o que lhe permitia discernir os pensa
mentos e sentimentos Íntimos das pessoas com quem mantinha contato
(Mt 9.4; Jo 1,47; 2.25). Jesus ensinava com autoridade (Mt 7.28,29). Os
ensinos dos escribas eram de segunda mão. enquanto que o ensino de
Jesus era original e baseado em sua própria autoridade, E, mais impor
tante ainda, Jesus encarnava a verdade em sua própria pessoa (Jo 14.61.
Jesus era cem por cento aquilo que ensinava, de modo que inspirava
confiança em tudo o que dizia.
2 OS ALUNOS DE JESUS
Há três pontos importantes que gostaríamos de salientar com
relação às pessoas a quem Jesus ensinava. Em primeiro lugar, os alunos
de Jesus não eram perfeitos. Jesus, como eu e você, teve que ensinar a
pessoas com problemas pessoais, falta de compreensão, com seus pontos
de vista particulares (Pfedro, por exemplo) e com muitos conceitos inade
quados que tornavam mais difícil a percepção da mensagem.
Jesus não foi bom mestre pelo fato de que seus alunos foram bons
alunos. Jesus foi um bom mestre apesar das limitações deles. Os discí
pulos eram muito limitados, mas, apesar disso, ensinou-lhes conceitos
26
que transformaram o mundo. J. M. Price comenta que “tomar este
pequeno grupo de pessoas pouco desenvolvidas, de indivíduos que pare
ciam que não teriam êxito, e fazer deles um grupo de pessoas bem
desenvolvidas em todos os sentidos, pessoas que se tornaram inspiração
para o mundo, é uma maravilha da arte de ensinar. Esta maravilha não
foi superada por nenhum outro inestre através dos tempos, e tem sido
uma inspiração e conforto pa ra todos os mestres cristãos existentes desde
então"
Segundo, Jesus ensinou principalmente a adultos, embora não exclu
sivamente. Quando se pensa tias multidões que o seguiam e que ouviam,
logicamente se pensa em adultos, homens e mulheres. É provável que
tenha sido assim, embora não se possa excluir a presença de crianças
(por exemplo, às vezes abençoava as crianças, e em certa ocasião usou
a merenda de um garoto para alimentar as multidões).
Terceiro, parece que através de seu ministério havia um padrão geral
em seu ensino. Na primeira parte de seu ministério, ensinava principal
mente a indivíduos, depois ensinou a multidões, e, no fim de seu ministério,
voltou a trabalhar com pessoas individualmente. Talvez o aspecto mais
importante de seu magistério é que soube aproveitar todas as oportu
nidades que teve para ensinar. Em termos educacionais modernos, ele
aproveitou todos os momentos propicios ao ensino.
4 OS MÉTODOS DE JESUS
Na realidade, as técnicas usadas por Jesus eram, na sua maioria,
muito simples. Uma delas foi simplesmente a de chamar a atenção de
seus ouvintes. Isto ele conseguiu de várias maneiras: iniciando uma
conversa (Jo 4.7-9); fazendo perguntas (Mt 16.13); convidando ao compa
nheirismo (Mc 1.17); chamando as pessoas por seu nome (Jo 1.42); e
empregando palavras que chamavam a atenção do ouvinte.
Todo mestre tem seu próprio estilo, e Jesus não foi exceção a essa
regra. Seu estilo era simples, porém profundo. Usou um estilo que empre
gava muito o simbolismo, mas era também dinâmico e direto. Podemos
demonstrar esse estilo de duas maneiras.
Em primeiro lugar, Jesus ensinou o desconhecido a partir do conhe
cido. Quer dizer, Jesus começava seu ensino do ponto em que se
encontravam seus ouvintes e dai os conduzia ao ponto que desejava
alcançar. Empregou linguagem que os ouvintes entendiam, para lhes
ensinar coisas que não compreendiam. Por exemplo, usou a palavra "água”
para lhes ensinar sobre a água viva, istoé, a salvação. Falou-lhes também
sobre a lei, conceito bem entendido por todo judeu, para lhes ensinar
a nova teologia que ainda não compreendiam.
Em segundo lugar, Jesus ensinou conceitos abstratos em termos
concretos. Quer dizer, para ensinar conceitos espirituais abstratos, teve
que usar exemplos concretos entendidos pelos ouvintes. Um exemplo
desta parte de seu estilo pode ser visto no uso da frase “o reino de Deus
é semelhante...”
Seu estilo didático incluía muitas técnicas. Mencionaremos seis
delas, que geralmente se recomendam aos professores de nossos dias.
Primeiro. Jesus usava o método de fazer perguntas. Nos quatro relatos
do Evangelho (Mateus, Marcos, Lucas e João) registramos mais de cem
perguntas feitas por Jesus. Segundo, Jesus contava histórias da vida coti
diana (parábolas). As parábolas que contou estavam ao nível de
compreensão de seus ouvintes, eram concisas, lógicas e despertavam o
interesse de todos.
Jesus usou também o discurso ou conferência. Há pelo menos três
discursos de Jesus registrados no Novo Testamento: o que se conhece
como Sermão do Monte, o da morada celestial e o do juízo final. Em
quarto lugar, se usarmos a imaginação, podemos dizer que Jesus usou
projetos ou o método de atividades para ensinar. Vários exemplos se eneon
tram no Evangelho de Lucas (5.4; 6.1; 10.1-16; 18.22). Quinto, mais urna
vez com um pouco de imaginação, podemos ver o uso ciue Jesus fez de
recursos visuais. Usou a figura de uma árvore estéril para ensinar a neces
sidade, da fé (Ml 21.18-22); uma moeda, para ensinar os deveres para com
o governo (Mc 12.13-17); os campos prontos para a ceifa, para ensinar
o princípio da urgência (Jo 4.35-39), e outros, não incluindo, evidente,
mente, os milagres. Sexto. Jesus, mais do que qualquer outro mestre na
história da humanidade, ensinou pelo método de ser ele mesmo um bom
exemplo de tudo aquilo que ensinou. Ele vivia o que ensinava.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Pbr que se diz que Jesus é o fundamento histórico e bíblico
personificado da educação cristã?
2. Mencione algumas razões óbvias pelas quais Jesus é conhecido
como mestre.
3. No texto se diz que Jesus não foi analfabeto. Esta verdade tem
algum significado para você?
4. Mencione três qualidades especiais para o ensino existentes em
Jesus.
5. Em sua opinião, qual o método mais eficaz usado por Jesus?
Pór quê?
6. Defina a palavra “parábola”.
7. Se Jesus foi mestre por excelência, e mestre exemplar, o que
significa para nós dizer se que ele foi cem por cento aquilo que
ensinava?
8. Qual a relação do propósito essencial do ensino de Jesus com
o ensino de nossa igreja?
9. Leia as seguintes passagens e, em suas próprias palavras e
segundo seu entendimento, interprete os termos que indicam
os propósitos educacionais de Jesus: Mateus 5.48; Marcos
12.28-31; João 21.15-17.
10. Qual o método que Jesus usou mais do que qualquer mestre
na história da humanidade?
11. Os capítulos 14-16 de João. 5-7, 24 e 25 de Mateus são exem
plos de um dos métodos usados por Jesus. Qual é esse método?
12. Explique os seguintes conceitos relativos ao estilo do ensino
de Jesus.
a) Ensinar o desconhecido a partir do conhecido
29
b) Ensinar conceitos abstratos em termos concretos
13. Mencione dois princípios usados pelo primeiro educador cristão
que você pode aplicar em seu ministério atual ou em seu futuro
ministério.
14. Faça um resumo total ou parcial de A Pedagogia de Jesus, o
Mestre por Excelência, de J. M. Price (JUERP).
Temas para discussão
1. Discutir os princípios do ensino de Jesus e sua aplicabilidade
aos professores da igreja local.
2. Analisar ou avaliar o ensino de Jesus. Pbr exemplo: usou ele
métodos eficientes de acordo com a realidade de seus alunos?
Seus propósitos justificavam os métodos e vice-versa? Houve
resultados? Quais são alguns dos resultados específicos?
30
Segunda Parte
BASES HISTÓRICAS
DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Capítulo 4
A EDUCAÇÃO NA IGREJA PRIMITIVA
Introdução
É difícil separar a história da educação da história geral do cristia
nismo do primeiro século. Geralmente, estuda-se a teologia, ou a atividade
missionária, ou a produção literária deste período, mas não se estuda
especialmente a história da educação. A verdade é que a educação inclui
todas estas coisas, porque a educação do primeiro século foi uma tenta
tiva de educar as pessoas para o novo caminho.
À medida que a igreja crescia e ganhava mais gentios do que judeus,
essa instrução se tornou ainda mais importante. Devido ao fato de que
não existia literatura escrita sobre educação neste período, temos que
buscar informações no contexto da pregação, da atividade missionária,
do crescimento e expansão da igreja, da produção literária e da exegese
neotestamentária. Obviamente, ao buscar informações nestas fontes para
entender a educação cristã primitiva, enfrentamos o problema de duplicar
dados que os alunos podem encontrar em outros estudos. Assim, os pará
grafos seguintes apresentam idéias de algumas áreas representativas da
educação neste período.
As cartas de Paulo
Do ponto de vista do educador, o propósito por excelência
dos escritos de Paulo foi ensinar. Cada carta que escreveu a seus
irmãos na fé servia para ajudar a conhecer e a entender alguma verdade.
Podemos dizer, por exemplo, que as cartas aos tessalonicenses fotarn
escritas paia corrigir idéias erradas sobre a segunda vinda de Cristo. Aos
coríntios Paulo escreveu com o propósito de corrigir suas condições
éticas e para lhes ensinar algumas normas espirituais que lhes servissem
de guia em suas relações sociais. Escreveu aos gálatas para lhes mostrar
que se pode viver de modo justo e reto pela fé e pelo poder do Espírito
Santo. A carta aos romanos, esse grande tratado doutrinário, ensina que
todos pecaram, que todos estão privados da glória de Deus, e que todos
podem ser justificados por meio da fé. Paulo ensinou aos efésios as
características da verdadeira igreja; aos filipenses ensinou que a expe
riência cristã é uma realidade interna e não depende de circunstâncias
externas; aos colossenses ensinou a verdadeira natureza de Jesus,
a fim de refutar uma doutrina legalista; e a Timóteo e a Tito, o
apóstolo ensinou que a ordem e a disciplina devem prevalecer na
igreja.
Estas últimas cartas, a Timóteo e a Tito, chamadas epístolas pasto
rais, demonstram especial interesse no ensino. Devemos nos lembrar que
quando Paulo escreveu estas cartas já se encontrava em idade avançada
e se preocupava com a propagação das doutrinas cristãs. Hayes sugere
seis temas gerais nas cartas de Paulo a Timóteo, que salientam a
importância do ensino. Esses temas são os seguintes;
1.0 ensino é essencial para manejar corretamente a Palavra inspi
rada (2Tm 2.14,15; 3.16,17).
2. O ensino è necessário para a firmeza na fé (ITm 4.6,11,16; 6.3-5;
2Tm 4.3).
3.0 ensino é útil para o estabelecimento de lares harmoniosos (ITm
6 . 1, 2 ).
4. A capacidade para ensinar é um dos requisitos para pastores
e outros líderes espirituais (ITm 3.2; 2Tm 2.24).
5. O ensino é corolário essencial da leitura bíblica, da exortação
e da pregação (ITm 4.13; 2Tm 4.2).
6. O ensino è apresentado por Paulo como sendo indispensável à
perpetuação da fé (2Tm 2.2).
37
 Didaché
A Didaché ou a "doutrina dos doze apóstolos", é um livro extra
canônico, provavelmente escrito no ano 90 da era cristã. Há discussões
quanto à data em que este livro foi escrito, variando as opiniões desde
o ano 60 ao terceiro século A.D., mas a maioria acredita que foi escrito
no primeiro século da era cristã. Este livro diz conter instrução baseada
nas palavras de Jesus, ensinada pelos apóstolos aos pagãos que queriam
seguir a Cristo.
A Didaché nos ajuda a compreender o que a igreja do primeiro
século estava ensinando e como o fazia. A obra se divide em três partes
principais. A primeira aborda a moralidade cristã. Fala de um caminho
da vida e de um caminho de morte, e, naturalmente, exorta os pagãos
a escolher o caminho da vida, que consiste principalmente na prática
das virtudes cristãs, bem como a evitar muitos vícios.
A segunda parte do livro apresenta um resumo dos rituais litúr-
gicos praticados na igreja. Explica o batismo, o jejum, a oração, e sugere
orações especiais para uma ceia do Senhor em caráter privado.
A terceira parte é um esboço da organização e da vida da igreja.
Ensina sobre o lugar dos missionários itinerantes (apóstolos), dos homens
que falam em estado de êxtase (profetas) e dos mestres da igreja. Além
disso ensina princípios sobre hospitalidade, apoio aos profetas (econô
mico?) e regras para o comportamento dos oficiais da igreja. Exorta os
cristãos a tomar a vida a sério, em vista da perspectiva do juízo vindouro.
Do ponto de vista do educador, este livro é um dos mais impor
tantes do primeiro século. Nele as palavras de Jesus são facilmente
reconhecidas, além de outras doutrinas que se desenvolveram na igreja
primitiva.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às perguntas seguintes:
1. Descreva algumas práticas diárias dos cristãos do primeiro
século.
2. Na sua opinião, a que se poderia dever a prática diária dos
primeiros cristãos? Seria tudo devido a crenças espirituais?
3. Quais teriam sido algumas das profissões evitadas pelos cristãos
do primeiro século?
4. Por que, no princípio, não havia muita diferença entre o cristia
nismo e o judaismo?
5. O que levou o cristianismo a se distinguir do judaísmo?
38
6. O que tem a resposla á quarta pergunta a ver com a educação
cristã?
7. Explique a seguinte declaração: “A tarefa evangelistico-
educacional da igreja permeou todas as suas atividades,
dando lhes unidade e propósito.“
8. Por que se pode dizer que a ênfase do primeiro século do cristia
nismo foi sobre a educação cristã?
9. Em que sentido o convívio fraternal dos cristãos do primeiro
século foi educativo?
10. Em que sentido o culto do primeiro século foi educativo?
11. Por que a igreja primitiva considerava necessário aprender e
ensinar a história dos judeus?
12. Porque há dúvida na igreja primitiva quanto à criação do oficio
de mestre?
13. Até que ponto as ordenanças de Cristo são educativas?
14. Explique o valor educacional do batismo.
15. Tem algum significado especial para você o fato de que o dom
de ensinar ocupe o terceiro lugar na descrição dos dons espi
rituais feita por Paulo? Por quê?
16. Necessitamos hoje de uma instrução especial para que o novo
crente entenda o que faz ao receber o batismo? Em caso afir
mativo, como deve ser o conteúdo deste ensinamento? Deve
durar quanto tempo? Deve ser exigido seu aprendizado?
17. Qual a diferença entre a tradição oral dos judeus e a “nova
tradição” dos cristãos9
18. Qual a diferença entre literatura canônica e ext^acanônica',
19. Usando como guia as seis sugestões de Hayes quanto aos
temas que se encontram nas cartas de Paulo a Timóteo, leia
os textos seguintes procurando entender sua importância
educacional.
a. 2Tm 2.14,15; 3.16,17
b. lTm 4.6,11,16; 6.3-5; 2Tm 4.3
c. ITm 6.12
d. ITm 3.2; 2Tm 2.24
e. ITm 4.13; 2Tm 4.2
f. 2Tm 2.2
20. Em que sentido a velhice de Paulo afetou sua preocupação com
a difusão da doutrina cristã?
21. Leia as páginas 15-21 do livro de Dana — O Mundo do Novo
Tesiamento (JUERP) — e explique a relação entre o que você
leu e a educação cristã do primeiro século.
39
Temas para discussão
1. Discutir o valor educativo do batismo e da ceia do Senhor na
igreja primitiva e em nossas igrejas hoje. Quais as vantagens
e as desvantagens de se exigir classes de preparação para o
batismo?
2. Discutira importância que tem para o programa da igreja local
o reconhecimento da existência do dom espiritual de ensinar.
3. Discutir em grupo o conteúdo da leitura do texto indicado do
livro de Dana.
4. Redigir uma lista, feita pelo grupo em comum, das aplicações
deste capítulo ao programa de educação na igreja local.
40
Capítulo 5
MOVIMENTOS E INSTITUIÇÕES ANTES
DA REFORMA
Introdução
Com base no capítulo anterior, pudemos verificar que a igreja primi
tiva não apresentava uma estrutura organizada, nem mesmo se
identificava muito com o treinamento formal dos novos convertidos. Mas,
à medida que a igreja se separava mais e mais do judaísmo e desenvolvia
sua própria identidade e características, surgiu a necessidade de desen
volver um processo de ensino.
Enquanto o Império Romano se enfraquecia durante os pri
meiros séculos, a igreja se fortalecia. Durante esse período, a igreja
experimentou vários métodos educacionais. Suas várias maneiras
de cumprir suas responsabilidades educacionais incluíam as escolas
de catecúmenos, para preparação dos convertidos ao batismo; as escolas
catequéticas, para instrução avançada; as escolas paroquiais, para
preparação do clero local; os mosteiros, para os que buscavam
uma alternativa de vida, e até universidades, para a educação
superior,
Cada um desses avanços merece nosso estudo e atenção. Mas antes
de considerá-los, devemos nos conscientizar do fato de que esses avanços
não aconteceram no vácuo. Havia muitas coisas no contexto do mundo
grego-romano que influenciaram a igreja no seu intento de educar-se.
Consideraremos algumas delas.
41
simples. Havia diversas influências externas e internas, relacionadas com
o propósito da igreja de enfrentar confrontação deste problema. Consi
deraremos algumas delas.
Intelectualismo
Nos primeiros séculos da era cristã, como havia acontecido antes,
o movimento intelectual foi a Paideia grega, isto è. 0 contexto grego da
cultura e os ideais rara a vida. Todoo mundo romano havia sido influen
ciado pelo helenismo e, por isso mesmo, uma perspectiva filosófica grega
penetrava todas as fases da vida, especialmente entre certas classes sociais.
A igreja, portanto, tinha que preocupar-se com a vida intelectual do tempo,
se quisesse alcançar todas as classes sociais para Cristo, Corno resultado,
muitos dos mestres cristãos deste período (século II, III e IV) vieram
para a igreja com esta bagagem cultural e tentaram sintetizar a doutrina
cristã com os ideais filosóficos. Mais adiante voltaremos a esse tema.
Heresias e divisões
Outro fator decisivo no desenvolvimento da educação cristã nos
quatro primeiros séculos foram as diferenças doutrinárias entre os líderes,
que resultaram em heresias e divisões ou cismas. As controvérsias surgidas
na igreja concernentes à doutrina e à prática influenciaram tremenda
mente o seu magistério. Tais controvérsias como o montanismo, arianismo
e adocionismo são exemplos desse tipo de influência. Ao encarar as here
sias, a igreja começou a adotar novas normas doutrinárias. Da fé simples
que encontramos no Novo Testamento, as crenças da igreja passaram
a ser algo mais desenvolvido e organizado. Esse fato, combinado com
a separação da igreja cristã do judaísmo, criou a necessidade de informar
ao público as normas estabelecidas da nova fé. Surgiu assim, por conse
qüência, a necessidade de ensinar a fé dentro da igreja e ao mesmo tempo
a de educar de maneira geral a sociedade, para que não houvesse equí
voco quanto ao significado do cristianismo.
Em muitos casos, o intelectualismo do dia e as heresias e cismas
se combinaram. Um dos elementos mais influentes da igreja primitiva,
por exemplo, foi o movimento intelectual pseudocristão chamado gnos-
ticismo (salvação a través do intelecto ou do conhecimento). A existência
de tais sistemas de pensamento forçou a igreja a desenvolver suas doutrinas
próprias para contestar as doutrinas erradas.
Os apologistas
Com o aparecimento desses problemas e influências, surgiu um
fenômeno educacional dentro da igreja que merece nossa atenção. No
42
segundo século apareceram os cristãos conhecidos na história como apoio
gistas. Esses homens chamaram a si a responsabilidade de delinear e
explicar a natureza filosófica e intelectual do cristianismo a uma cultura
pagã influenciada pelos elementos intelectuais da sociedade e da filosofia
helenistas. Em geral, os apologistas eram homens educados na cultura
clássica e reconhecidos como lideres da igreja. Os documentos que produ
ziram defendiam a fé cristã das forças internas e externas que queriam
destruí-la. Fbdemos resumir os objetivos das apologias em dois pontos
bastante simples. Primeiro, tentaram negar as acusações feitas aos cristãos.
Segundo, tentaram conservar as doutrinas tradicionais que tinham vindo
da igreja neotestamentária. As apologias, portanto, eram documentos
teológicos, mas eram também documentos educativos, visto que propa
gavam doutrinas corretas e negavam ensinamentos falsos.
O desenvolvimento da organização da igreja
Outro fator importante no desenvolvimento da educação cristã foi
o aparecimento de uma organização mais definida da igreja. Conside
raremos dois aspectos da organização da igreja que afetaram muito a
educação.
Um tríplice ministério. No Novo Testamento encontramos três tipos
de ministério; 1) a função inspirada dos apóstolos, profetas e mestres;
2) os que dirigiam os cultos ou prestavam serviços especiais, como presi
dentes presbileriais, diáconos e viúvas; 3) os responsáveis pela disciplina
e pela administração, os chamados presbíteros (deste grupo seriam nome
ados, logo, os bispos).
Na Didaché, encontramos um duplo ministério, que incluía: 1) os
ministros itinerantes e carismáticos (apóstolos, profetas, mestres), e 2)
os bispos residentes, eleitos pela congregação.
Ao fim do primeira século, quase todas as congregações tinham
um ancião que presidia a congregação e um grupo de diáconos que servia
em assuntos práticos. Aí pela metade do segundo século, o padrão era
mais o de um ministério triplice, composto de bispos, presbíteros e
diáconos. Isso quer dizer que, com muita probabilidade, a igreja havia
desenvolvido uma forma de governo que incluía um conselho de dire
tores (presbíteros e diáconos), presidido por um bispo.
Ao fim do terceiro século, os bispos haviam-se destacado como
lideres. A comunidade cristã associava o bispo á figura de Cristo,
responsável por tudo o que acontecia na igreja. No quarto século, a igreja
mudou muito, porque se uniu ao Império Romano durante o reinado
deConstantino. A partir dai .começou a longa historiada estreita relação
entre a Igreja Católica Romana e o Estado.
43
O desenvolvimento do ministério e da organização da igreja tem
várias implicações para o progresso da educação cristã. O bispo era a
pessoa-chave no ensino, até que a igreja cresceu tanto que ele precisou
dedicar todo o seu tempo à administração. Os demais oficiais da igreja
só podiam ensinar por delegação do bispo. Os diáconos tinham mais poder
do que os presbíteros até o quarto século, servindo ao bispo na qualidade
de auxiliares. Provavelmente os diáconos ensinavam em conformidade
com sua capacidade de auxiliares do bispo. Os presbíteros quase nunca
ensinavam, pelo menos até ao quarto ou quinto séculos.
Havia outros ministros auxiliares ou subministros,comoas viúvas,
preletores, intérpretes e subdiáconos. A cargo deste último grupo, estavam
os catecúmenos (pessoas sendo preparadas para o batismo).
Aparentemente, portanto, na igreja dos primeiros séculos, havia
apenas duas pessoas ou dois grupos de pessoas capazes e autorizadas
a desempenhar as funções próprias da educação formal: bispos e subdiá
conos. Quando a função da igreja começou a mudar no quarto século,
por conta da união com o Estado romano, as tarefas e responsabilidades
dos bispos aumentaram de tal modo que não podiam mais ensinar e admi
nistrar. Para melhorar a situação, os presbíteros foram comissionados
como pastores locais (com responsabilidades educacionais), enquanto que
os bispos ficaram apenas com o controle administrativo.
Sucessão apostólica. O fenômeno conhecido como sucessão apos
tólica tem a ver com a autoridade do clero para ensinar. Ao fim do segundo
século, a igreja contava com uma história a que podia recorrer para justi
ficar a autoridade de seu ensino. Essa autoridade era reivindicada tanto
pela igreja de pensamento ortodoxo como pelos grupos heréticos e cismá
ticos. É provável que a idéia de sucessão apostólica tenha começado
quando um grupo ou grupos heréticos (possivelmente os gnósticos)
alegaram haver recebido dos próprios apóstolos a autoridade para ensinar.
Como a igreja da ortodoxia achava que tais grupos estava errados, seu
único recurso era argumentar que havia recebido sua autoridade
para ensinar dos próprios apóstolos. Para sustentar seus argumentos, a
igreja traçava seus ensinamentos de um clérigo a outro, de geração a
geração, até chegar a um dos apóstolos de Cristo. Para confirmar essa
idéia, os historiadores eclesiásticos (Eusébio, por exemplo) incluíam em
seus relatos históricos uma linha sucessória, por nomes pessoais, desde
os apóstolos até os líderes eclesiásticos em cada cidade do Império onde
existia urria igreja cristã. O argumento da igreja reclamando sua apos-
tolicidade tinha o propósito de mostrar aos hereges e cismáticos
que na igreja nada se fazia a d hoc , isto é, por conta própria, sem
autoridade.
44
Como guardiães da doutrina, os bispos sabiam determinar o que
era verdade e o que não era. Pela sucessão apostólica, a igreja, através
de seus bispos, garantiu a legitimidade de sua doutrina. Gradualmente
essa autoridade era ratificada pelo rito da ordenação (autoridade passada
pelos bispos a um novo bispo, a fim de que tivesse legítima autoridade
como sacerdote, mestre e guardião da fé).
A importância de tudo isso para a educação cristã não pode ser
ignorada. Através deste processo, o clero se tornou o recipiente da sucessão
da autoridade apostólica. Fbrtanto, cada clérigo era possuidor do dom
da verdades que lhe conferia o direito de ensinar.
2 INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS
Nos quinze séculos que antecederam a Reforma Protestante, a
educação cristã passou por muitas fases. Vimos algumas das influências
dos primeiros quatro séculos na formação de um sistema educacional.
Agora concentraremos nosso estudo nos primeiros anos da vida da igreja,
para ver as várias etapas de desenvolvimento através das quais a igreja
passou.
Escolas de catecúmenos
Em todo o mundo greco-romano em que se encontrava a igreja
cristã, a educação era pagã. Todas as áreas do ensino, todas as
cerimônias educacionais, tudo que era ligado à instrução das crianças
romanas estava saturado da mitologia grega e romana. Assim, pois, as
crianças cristãs corriam o risco de aprender os dois sistemas edu
cacionais — o cristão e o mitológico. Isso gerou um dilema para os
cristãos O único recurso de que dispunham para enfrentar o problema
era a educação doméstica e a instrução eclesiástica. Sentindo que
toda a educação deve relacionar-se com os ensinamentos cristãos
(o leitor se recorda de que toda a educação judaica era também
educação religiosa), a igreja começou a desenvolver um sistema
educacional.
A principio, a educação na igreja gentia tomou caráter semiformal,
em classes conhecidas como escolas de catecúmenos. O catecúmeno era
um novo convertido que precisava ser instruído em matéria de fé. (“Cate
cúmeno” é derivado de uma palavra grega que significa instruir, fazer
ruído ao ouvido, instrução rudimentar). As escolas de catecúmenos eram
classes de aulas semiformais ministradas a tais pessoas, entre as quais
filhos de crentes, judeus adultos e gentios convertidos. Os mestres eram
os bispos, diáconos e subdiáconos.
45
Nas escolas de catecúmenos havia três niveis ou estágios de
estudo, dependendo do progresso do aluno. No primeiro nível se
encontravam os “ouvintes” — alunos aos quais era permitido assistir às
aulas. No segundo nível, os que “dobravam os joelhos” — osque ficavam
para um período de orações depois da saida dos ouvintes. O terceiro nível
se constituía de alunos que permaneciam após um longo período de
provas e começavam a se preparar para o batismo. Este sistema alcançou
seu ponto mais alto no quarto século, mas a partir de 450 começou o seu
declínio.
Escolas catequéíieas
Em meio ao desenvolvimento do intelectualismo, da organização
da igreja, e muito relacionada com tudo isso, reconheceu-se a
necessidade de se ter mais do que uma instrução elementar. Para
atender a esta necessidade, apareceram escolas para treinar os
cristãos ao mesmo nível intelectual dos seus críticos. Estas es
colas vieram a ser as instituições de treinamento para lideres da
igreja.
A primeira e mais famosa escola catequética foi a de Alexan
dria, no norte da África. Esta escola foi fundada no ano de 179
por Panteno e oferecia uma combinação de aprendizagem e pensamento
filosófico gregos com as Escrituras. Seu objetivo era utilizar o
pensamento grego na interpretação das Escrituras e no treinamento de
lideres.
Existiam também outras escolas desse tipo em Antíoquia, Cesa-
réia, Edesa, Jerusalém, Cartagoe out ras cidades. Fbrsua função de treinar
lideres, as escolas catequéticas foram as precursoras das atuais instituições
de educação teológica que existem piara preparar o clero. Foi nestas escolas
que a fé e a doutrina cristã se estruturaram num sistema de pensamento.
Muitos dos grandes mestres da igreja, alguns dos quais vamos estudar
no próximo capítulo, foram influenciados por este sistema científico de
ensino.
Conclusão
Todos esses movimentos foram relativamente fracos. A educação
secular em geral, com suas influências gregas e romanas, era, em tese,
mais forte que a educação cristã, e a esta influenciou bastante. Quando
o Império Romano começou a desintegrar-se (século V), com ele caiu
também o ensino e o conhecimento. As primeiras instituições que estu
damos — escolas de catecúmenos, escolas catequéticas, escolas episcopais
ou catedrais — sofreram muito. A igreja pôde manter viva a educação,
mas, como o resto do mundo, a igreja sofreu estagnação. Os historia
dores são unânimes em afirmar que a igreja foi a única instituição estável
que permaneceu no mundo romano quando o Império se desfez.
Durante a Idade Média, a idade da ignorância, havia escolas, muitas
delas mantidas pela igreja. Mas as massas permaneciam ignorantes e
analfabetas. Havia muita ignorância quanto à Bíblia, e o próprio clero
não sabia bem o que estava fazendo.
Alguns dariam um triste epíteto à educação cristã da segunda
metade do período que discutimos neste capítulo. Diriam que a igreja
48
propagava a educação religiosa, mas não a educação cristã. Segundo Eavey
havia "bastante da igreja, mas pouco de Deus"
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Qual o problema que a igreja enfrentou quando recebeu como
membros pessoas de formação cultural greco-romana?
2. Descreva a relação ou influência do helenismo no desenvolvimento
da educação cristã.
3. Obtenha informação sobre duas heresias existentes na igreja antes
do Concílio de Nicéia. Identifique as falsas doutrinas e diga o que
a igreja fez para refutá-las.
4. Qual o conteúdo essencial das apologias?
5. Em sua opinião, as heresias ou cismas representaram um fator posi
tivo ou negativo no desenvolvimento da educação cristã? Justifique
sua resposta.
6. Em que consistiu o valor educacional das apologias?
7. Mencione três tipos de ministério, segundo o Novo Testamento.
8. Mencione dois tipos de ministério, segundo a Didaché.
9. Descreva brevemente o desenvolvimento de um tríplice ministério
na igreja e em que sentido afetou a educação cristã.
10. Em sua opinião, quais poderiam ter sido alguns dos problemas apre
sentados à igreja pela educação grega e romana saturada de
mitologia?
11. Que acontecimento do quarto século mudou o futuro da igreja em
todos os aspectos, inclusive o educacional?
12. Mencione algumas implicações para a educação cristã resultantes
do desenvolvimento do ministério e da organização da igreja.
13. Que relação existe entre ordenação e sucessão apostólica? O que
significa esta relação para a educação cristã?
14. Qual o dilema da igreja, que ensejou o desenvolvimento das escolas
de eatecúmenos?
15. Qual a instituição do segundo sécuto que foi a antecessora das insti
tuições teológicas de hoje?
16. O que significa “sistema cientifico de instrução”?
17. Descreva brevemente o desenvolvimento da educação superior
(universidade).
18. Que aspecto do desenvolvimento da igreja ensejou o aparecimento
do monasticismo?
49
Temas para discussão
1. Quanto ao ensino da igreja local contemporânea, quem tem auto
ridade para ensinar? De onde vem essa autoridade? Deve haver um
controle quanto ao que se ensina na igreja? Em caso afirmativo,
como deve ser feito esse controle?
2. Até que ponto a igreja contemporânea deve permitir que a educação
secular e outras coisas do mundo influenciem o programa de
educação cristã? Quais seriam algumas das influências positivas
da educação secular para a educação cristã? E influências negativas?
Outros elementos não-educacionais positivos? E negativos?
3. Qual a semelhança entre o sistema das escolas catedrais com os
seguintes conceitos atuais?
a) Um sistema de multiplicação eclesiástica, com a criaçâode anexos
ou pontos missionários apoiados por uma igreja mãe.
b) Educação teológica por extensão ou correspondência.
c) Seminários teológicos.
50
Capítulo 6
PESSOAS IMPORTANTES
ANTES DA REFORMA
Introdução
Nos primeiros séculos, bem como através de todos os tempos, sempre
houve pessoas que se sobressaíram em seu esforço de propagar o evan
gelho e expandir o ensino e a influência da igreja. Ao estudioso dos
fundamentos históricos da educação cristã será útil pensar nas grandes
personagens da história cuja contribuição no desenvolvimento da
educação cristã deixou uma impressão vasta e duradoura.
Num estudo como este que estamos apresentando não seria possível
mencionar todos os homens cujas vidas influenciaram a história da
educação. Na primeira parte deste capítulo consideraremos algumas
pessoas e suas contribuições como representantes dos quatro primeiros
séculos. Depois veremos em forma mais detalhada três personagens muito
importantes no período seguinte; um foi o pai da igreja mais destacado,
e os outros são representantes dos educadores da Idade Média.
1 PAIS DA IGREJA
Justino Mártir (100—165)
Justino havia sido mestre e filósofo grego antes de converter-se,
e continuou sua profissão depois de convertido. Sua influência educa
cional se prende à ênfase que deu à natureza filosófica do cristianismo.
Ensinou que o cristianismo se encontrava latente na filosofia grega, e
que através de Cristo ele, como filósofo, havia chegado à filosofia perfeita.
Justino foi um dos apologistas mencionados no capítulo anterior. Muitos
estudiosos o consideram o principal apologista da igreja primitiva. Suas
apologias esclareceram assuntos doutrinários e éticos, e nos dão um
exemplo de como os cristãos primitivos, influenciados pelo helenismo,
interpretavam as Escrituras.
51
Irineu (140-200)
Irineu foi bispo de Lião na Gália. Traçava sua sucessão apostólica
até o apóstolo João, através de Pblicarpo. Irineu acreditava que o ensino
era a ferramenta própria para edificar uma igreja forte. Talvez sua maior
contribuição à educação eclesiástica tenha sido os cinco volumes que
escreveu para refutar o gnosticismo.
Clemente de Alexandria (160—215)
Tito Flávio Clemente foi sucessor de Panteno na escola catequé-
tica de Alexandria. Clemente também foi muito influenciado pela
filosofia grega, que considerava "uma boa preparação para o avanço do
evangelho” (Latourette). Acreditava que o cristão devia aproveitar rodas
as oportunidades de aprender, seja qual fosse o ramo do conhecimento
humano. De todos os seus escritos, os que mais se relacionaram com
a educação são Paidâgogos ('instrutor”), no qual se fala sobre o compor
tamento que o cristão deve demonstrar, e Stromateis “(Miscelâneas”),
que é um trabalho de educação avançada.
Tertuliano (160—220)
A posição de Tertuliano sobre a filosofia representa o oposto da
opinião dos pais da igreja até aqui mencionados. Tertuliano se opunha
fortemente ao uso da filosofia nas discussões teológicas. Gangel e Benson
identificaram três temas dominantes nos escritos de Tert uliano: a atitude
do cristianismo perante o Estado romano e a sociedade romana; defesa
da teologia ortodoxa contra as heresias; e a conduta moral dos cristãos.
Em seus escritos, Tertuliano é muito rígido e inflexível quanto á boa
conduta moral e sobre algumas práticas dentro da igreja, tais como a
disciplina, o jejum e o segundo matrimônio.
Talvez a maior contribuição de Tertuliano à educação tenha sido
a quantidade de escritos que deixou à igreja para uso de seus sucessores
e para teólogos de futuras gerações.
Orígenes (185—254)
Orígenes foi discipulo de Clemente de Alexandria e seu sucessor
como diretor da escola daquela cidade. Sua formação era diferente
daquela dos pais até aqui estudados, visto que era cristão de segunda
geração. Sua família era cristã, e seu pai foi professor de uma escola
secular.
Com seu pai aprendeu a valorizar a educação grega, e achava que
era compatível com a doutrina cristã. Suas contribuições à educação
52
cristã consistem de sua notável erudição e de seus escritos teológicos,
que dominaram a erudição eclesiástica durante os séculos III e IV.
Jerônimo (345—419)
Jerônimo participava freqüentemente de debates nos quais salien
tava os objetivos morais e ascéticos da educação. Essa ênfase tinha por
objetivo refutar a tendência de mostrar interesse pelas necessidades
humanas. Os ensinos de Jerônimo exerceram grande influência nas
escolas monásticas.
As duas principais contribuições de Jerônimo à educação cristã
foram: 1) sua tradução latina das Escrituras (Vulgata), e 2) sua ênfase
sobre a igualdade do homem perante Deus. Esta última contribuição
preparou o caminho para a futura adoção do princípio da educação
universal.
2. AGOSTINHO DE HIPONA (354-430)
Vida
Aurélio Agostinho, bispo de Hipona (África), é consideradoo mais
ilustre de todos os pais da igreja. Nascido de pai pagão e de mãe cristã,
recebeu excelente educação. Antes de converter-se ao cristianismo, Agos
tinho ensinou retórica em Cartago, Roma e Milão. Pór dez anos seguiu
as doutrinas heréticas do maniqueismo, um sincretismo religioso que se
apresentava como destacado competidor do cristianismo. Converteu-se
durante um período traumático de reflexão sobre sua vida passada.
Passou três anos de estudo solitário (386-389), e dedicou o resto de sua
vida ao ministério na região norte da África.
Contribuição à educação cristã
Agostinho escreveu muitas obras, e suas principais contribuições
à educação são os conceitos encontrados em seus escritos,
Educação cristã é um manual de instrução para clérigos e leigos,
composto de quatro tomos. Os três primeiros oferecem uma base filo
sófica para a interpretação das Escrituras, e o quarto tomo trata de
técnicas de ensina A importância pedagógica deste manual pode ser vista
no uso que teve durante vários séculos como tratado clássico de peda
gogia. O elemento-chave desse tratado é o ensino de que toda verdade
é a verdade de Deus. Fora disso não há verdade. Esta é a idéia que enri
queceu em sua totalidade o conceito de educação cristã.
Outra obra, A instrução para os não instruídos, é um manual que
trata da metodologia do professor cristão em sua tarefa de instruir os
53
candidatos ao batismo, Contém auxilio para o professor sobre os prin
cípios da pedagogia.
Outro trabalho de Agostinho que tem valor para a educação é
Interpretação literal do Gênesis. Nesta obra fica evidente que o conceito
de vontade ocupa lugar saliente em sua teoria educacional.
Agostinho, como outros educadores cristãos já apresentados, pro
curava conciliar a filosofia com o cristianismo. A sintese do platonismo
com o cristianismo que Agostinho produziu lhe deu um conceito muiío
interessante sobre o que significa ensinar. Demonstrou profundo respeito
ao intelecto e também à singularidade da pessoa humana do aluno.
Considerou que a responsabilidade do professor é estimular e encorajar,
etn vez de uma atitude autoritária. Parte integrante de sua crença era
o conceito de que o mestre cristão devia ser modelo. Como Jesus e Pa ulo.
Agostinho acreditava que o mestre deve possuir qualidades que os
alunos possam observar e seguir.
A influência de Agostinho foi ampla, profunda e duradoura. Sua
presença na história serviu como elo entre dois períodos da história da
igreja. “Agostinho foi o canal através do qual a filosofia grega fluiu para
a Idade Média" (Gangel e Benson).
3. ALCUÍNO (735—804)
No intervalo entre o período de Agostinho e última parte da
Idade Média, a educação cristã e mesmo a secular sofreram muito. Neste
período de decadência educacional encontram se poucas personalidades
de destaque no campo da educação. Algumas pessoas como Columbano
da Irlanda e Bonifácio, apóstolo dos alemães, contribuíram significati
vamente para o desenvolvimento da educação cristã. Mas talvez o
personagem mais importante deste período tenha sido Alcuino, educador
responsável pelo treinamento do clero e do pessoal administrativo no
reino de Carlos Magno. Para esse treinamento, Alcuino desenvolveu um
currículo baseado nas sete artes liberais, derivadas da educação romana
(gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, astronomia e mú
sica). Desde a época romana, estes estudos eram agrupados, os' três
primeiros formando o trivium e os quatro últimos formando o quadri
vium. Além disso, Alcuino sugeriu a Carlos Magno que todas as crianças
deviam aprender a escrever, aritmética, música, leitura e a gramática latina.
A importância de Alcuino para o estudo dos fundamentos histó
ricos da educação cristã é que as reformas educacionais e eclesiásticas du
rante sua administração e o reino de Carlos Magno deram força à igreja
e à cultura para se manterem durante os anos de trevas que se seguiram.
54
4 TOMÁS DE AQUINO (1225—1274)
Para entender como Tomás de Aquino se enquadra no esquema
da história, é mister entender algo do seu contexto histórico no que se
refere à educação. O movimento educacional que o afetou e que por ele
foi influenciado se chamava escolasticismo.
6 scolasticismo
Podemos dizer, de modo simples, que o objetivo do escolasticismo
era apresentar uma ligação entre a fé e a razão. Os escolásticos assu
miram a tarefa de promover uma estrutura filosófica suficientemente
forte para vencer qualquer dúvida que pudesse ser levantada quanto à
fé cristã. Queriam demonstrar a um mundo cheio de dúvidas que não
existe antagonismo entre a fé e a razão; que são perfeitamente com
patíveis.
Do século IX ao século XII, as obras de Platão influenciaram
muito este movimento. Mas no século XII as obras de Aristóteles foram
redescobertas e seus ensinamentos foram aplicados ao sistema escolás
tico. Segundo Gangel e Benson, o escolasticismo tinha um tríplice
propósito educacional; 1) desenvolver a habilidade de organizar as crenças
num sistema lógico, com argumentos defensivos; 2) sistematizar o conhe
cimento, e 3) prover um processo de proposições e silogismos para ajudar
o indivíduo a aprender o conhecimento sistematizado.
Tomás de Aquino
O escolasticismo era a moda educacional quando Tomás entrou
em cena. A igreja estava preocupada com as contradições entre o dogma
eclesiástico e os resultados do pensamento racional, segundo os ensinos
de Aristóteles. Tomás de Aquino, o escolástico mais importante, dedicou-
se à tarefa de conciliar o pensamento de Aristóteles com os ensina
mentos da igreja. Queria harmonizar o cristianismo com a ciência e a
civilização. Quer dizer, Tomás de Aquino tentou descobrir ou criar uma
aliança entre a fé e a razão. Para alcançar seu objetivo, teve que recon
ciliar o dogma da igreja (para ele isto era fé) com os ensinos de Aris
tóteles (como representante da razão). O resultado de seu trabalho foi
a Suma Teológica, considerada até hoje como a exposição autorizada
da ieologia da Igreja Católica Romana. Com Tomás de Aquino, o esco
lasticismo deu ânimo ao estudo da teologia e conservou o interesse nos
assuntos intelectuais,
55
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda âs seguintes perguntas:
1. Mencione seis país da igreja que exerceram influência sobre a
educação cristã (antes de Agostinho).
2. Quais sâo os três temas dominantes dos escritos de Tertuliano?
3. Que acha você da crença de Justino segundo a qual o cristianismo
é a filosofia perfeita?
4. Procure encontrar informação específica sobre as influências helé
nicas na educação.
5. Em que sentido foi a filosofia grega “uma boa preparação para o
avanço do evangelho'?
6. Se você fosse um cristão vivendo ai pelo ano 200 depois de Cristo,
seguiria os ensinos de Clemente de Alexandria ou os de lèrtuliano?
Por quê?
7. Qual o vaior de ter tantos escritos produzidos há tanto tempo?
8. Definir paidagogos e stromaíeis.
9. Qual a relação entre os ensinamentos de Jerônimo e a educação
universal?
10. Descreva a filosofia pedagógica de Agostinho.
11. Quem foi Carlos Magno, e que tinha a ver com a educação cristã?
12. Descreva a contribuição de Alcuíno para a educação cristã.
13. Que evento do século XIII afetou profundamente o movimento
chamado escotasticismo?
14. Descreva, em suas próprias palavras, os três objetivos educacionais
do escolasticismo.
15. Qual a origem do escolasticismo?
Temas para discussão
1. Depois de uma boa explicação do escolasticismo, discutir a neces
sidade de harmonizar a fé e a razão.
2. Há princípios educacionais, tanto positivos como negativos, que
podemos extrair do resumo feito das vidas de alguns personagens
da história? Quais? Como nos afetam pessoalmente? Como afetam
o programa de educação cristã de sua igreja?
3. Quais são algumas das influências culturais que afetam as pessoas
que hoje servem como mestres “eruditos”, autores e professores?
Quais são as forças culturais que afetam o ensino da escola bíblica,
domingo após domingo? Se há influências negativas, que se pode
fazer para corrigi-las?
56
Capítulo 7
MOVIMENTOS E PESSOAS IMPORTANTES
DURANTE O PERÍODO
DO RENASCIMENTO E DA REFORMA
1. O AMBIENTE
Características do Renascimento
Durante os séculos XIV a XVI, passou a Europa por muitas
mudanças revolucionárias. Entre elas, mudanças econômicas, politicas,
intelectuais e religiosas, As mudanças econômicas se deveram aos prin
cípios de uma revolução industrial que sacudiu a Europa. A naciona
tizaçâode países da Europa foi a causa de mudanças políticas. Mudanças
religic.as dentro e fora da igreja romana assumiram a forma da Reforma
Protestante e da Contra-Reforma dentro da Igreja Católica. As mudanças
intelectuais ficaram conhecidas na história como Renascimento, e é delas
que nos ocupamos agora.
A época do Renascimento, período de renovação cultural e huma
nismo, caracterizou se por um espirito predominantemente secular. O
espírito secular não representava necessariamente uma tendência ao
ateísmo. Representava mais um esquecimento de Deus, ou, pelo menos,
uma mudança de prioridades, A atenção do homem foi posta mais em
si mesmo e em sua prosperidade do que em Deus. Houve uma nova ênfase
sobre a fruição da vida, na satisfação pessoal, nas aquisições que a nova
riqueza tornava possível. Nas palavras de Gangel e Benson, o Renas
cimento foi uma época em que “o homem e o seu mundo, e não Deus
e seu céu, tornaram-se o centro do interesse humano”
Outra característica do Renascimento, muito relacionada com o
espírito secular, foi o individualismo. Com a desintegração do sistema
feudal, criaram-se novas carreiras profissionais, e muitas oportunidades,
antes reservadas apenas à nobreza, ficaram ao alcance do homem comum,
O aparecimento do capitalismo tornou possível às classes baixas a
mudança de posição social. Todas essas mudanças prepararam o caminho
57
para o aparecimento do que se convencionou chamar de "homem renas
eido’' — um novo tipo de pessoa aficionada aos esportes, à música, á
literatura e ã ciência — o homem ''total". Era esse tipo de pessoa que
a educação cristã devia atingir.
A resposta da educação cristã
O escolasticismo (capitulo 6) produziu novos pensamentos sobre
Deus e, até certo ponto, tornou claro que o propósito do homem era glori
ficar a Deus. Mas os líderes do Renascimento, isto é, os intelectuais da
renovação cultural da Europa, encaravam o objetivo por excelência da
vida humana de outra maneira. Para eles, os propósitos do homem eram
glorificar a vida humana e o deleite do homem em seu próprio mundo.
Com uma nova classe média, uma nova posição para a mulher, um novo
materialismo, a invenção da imprensa, e muitas outras coisas, o homem
se tornou mais otimista e confiou mais do que nunca em sua própria
capacidade. Todos os aspectos da vida — a arte, a arquitetura, a litera
tura, a ciência, a educação — foram afetados por esses fatores. Nosso
interesse aqui, é claro, limita-se à educação.
A educação cristã teve que reagir fortemente para que a igreja,
por mais frágil que fosse, não perdesse sua influência no mundo. O hunia
nismo cristão, resultante da combinação de forças e fatores do
Renascimento, apresentou várias facetas. Consideraremos algumas delas.
Gerardo Groote (1340-1384) é um nome importante para nosso
estudo da educação durante o Renascimento. Groote, advogado, teólogo
e erudito clássico, foi o fundador do movimento chamado Irmãos da Vida
Comum, um grupo evangélico e piedoso. Groote foi um individuo místico
e pregador de avivamento espiritual. Exerceu influência sobre muitas
pessoas, que deixaram a mundanidade das mudanças predominantes
naquela era e passaram a viver uma vida de santidade. As pessoas que
atenderam à pregação de Groote se organizavam em comunidades como
forma de refúgio do mundo. As comunidades se chamavam casas, e nelas
vivia todo tipo de gente. Os membros de uma casa, de qualquer classe
social profissão, trabalhavam juntos, mantinham-se juntos, ajudando os
pobres e ensinando as crianças. Segundo Eavey, "o propósito de seu
trabalho era dar ênfase ao viver cristão nos moldes primitivos" Acre
ditavam que a vida devia refletir de forma cuidadosa os princípios
ensinados na Bíblia. Mesmo sem deixar a Igreja Católica, ensinavam
os seguidores a ler a Bíblia por si mesmos e pregavam e ensinavam no
idioma vernáculo e não no latim tradicional.
O valor educacional dos Irmãos é múltiplo. Corrigiram a Vulgata,
a Biblia da Igreja Católica. Traduziram a Bíblia para o holandês, sua língua
58
vernácula. Escreveram, traduziram e espalharam porções da Bíblia, livros
didáticos e literatura religiosa, tornando possível o acesso das massas
à literatura cristã. Groote viu nas crianças o futuro da igreja e encorajou
seus seguidores a ensinar nas escolas. A partir de 1450, muitos Irmãos
se tornaram professores das escolas públicas, combinando suas doutrinas
e práticas com a educação secular.
Os Irmãos da Vida Comum exerceram mais influência sobre a
educação do que qualquer outro grupo durante o período do Renasci
mento e da Reforma. Sua influência se fez sentir através da Reforma,
e até depois, em outros movimentos que vamos estudar. Além de Gerardo
Groote, há outros nomes importantes associados aos Irmãos. João Ceie,
por exemplo, introduziu a idéia de ensinar a Bíblia não somente aos
domingos, mas, também, todos os dias da semana. Ensinava todos os
dias ensinava o Novo Testamento (em lugar do catecismo), na esperança
de que seus alunos aprendessem a ser imitadores de Cristo. Ensinava
também que as orações deviam ser feitas tanto no vernáculo como ern
latim. Outro nome importante é Thomas á Kempis, presumível autor
da Imitação de Cristo, livro devociona! de renome e que reflete o espírito
da sociedade dos Irmãos da Vida Comum.
Talvez a personagem mais importante que saiu das fileiras dos
Irmaos tenha sido Erasmo, “o mais famoso de todos os humanistas e
um dos homens mais influentes de todos os tempos" (Ely). Wich o elogiou
dizendo: “Poucos homens moldaram a educação européia de maneira
tão decisiva como Erasmo. Estimulou um melhor método de ensino e
uma atitude mais tolerante e simpática para com o aluno, e imbuiu os
estudos clássicos com espírito de exatidão, crítica histórica e perspectiva
internacional. Tudo isto permitiu que a filosofia antiga dominasse a huma
nidade até princípios do século XIX.”
Erasmo foi uma voz decisiva no intento de conciliar a fé com a
razão. Mas, ao contrário de outros educadores na tradição de Tomás de
Aquíno, seu antecessor, Erasmo criticou abertamente a Igreja romana.
Nunca rompeu com a Igreja Católica, mas as críticas que fez à sua Bíblia
(Vulgata) foram notáveis. Sua permanência na Igreja apesar de suas diver
gências é o que o distingue de seu contemporâneo e amigo Martinho
Lutero. As críticas de Erasmo à Igreja romana se estendiam ás igrejas
evangélicas, especialmente quanto à falta de instrução de muitos pastores.
No sentido educacional e filosófico, Erasmo acreditava que o
homem é basicamente bom (uma característica de todos os humanistas),
e, portanto, devia desenvolver suas potencialidades intelectuais. Enquanto
muitos dos movimentos religiosos enfatizavam a depravação do homem,
Erasmo insistia no oposto. A educação que sugeria para o desenvolvi
59
mento do homem abrangia o estudo das obras clássicas, os escritos dos
pais da igreja e a Bíblia. Seu conceito da metodologia que os mestres
deviam usar é uma das maiores influências que deixou para a educação.
Acreditava que a natureza do aluno é muito importante, e que oseu desen
volvimento é a chave da educação. Portanto, a tarefa do mestre não é
demonstrar sua própria erudição, mas, sim, a de ajudar seus alunos. Além
disso, sua influência principal talvez tenha sido sua ênfase na necessi
dade de um treinamento sistemático dos professores.
Precursores da Reforma
Antes da Reforma, geralmente associada ao trabalho de Martinho
Lutero, houve homens e grupos reformistas que exerceram influência
sobre a educação cristâ. Mencionaremos alguns deles.
1. Os valdenses, da Suíça e da Itália, protestavam silenciosamente
e ensinavam unicamente as Escrituras através dos séculos. Deste grupo
procederam os três personagens que mencionaremos a seguir.
2. John Wycliffe (1330— 1384), da Inglaterra, foi chamado de
“Es'trela matutina da Reforma”. Ele foi o lider de um grupo semimilitante,
os lolardos, e criticou muitas práticas e doutrinas da Igreja Católica, tais
como a transubstanciaçào, as orações pelos mortos, a adoração dos santos
e outros. As maiores influências educacionais do grupo foram duas 1)
ensinaram somente a Bíblia, desprezando as tradições da Igreja, e 2) produ
ziram uma nova literatura, que chamaram de ‘'tratados".
3. Jan Hus (1372—1415), da Boêmia, foi o fundador dos husitas,
um grupo que traduziu a Bíblia para o vernáculo e desenvolveu um sistema
de escolas, inclusive uma universidade, para promover a prática do cristia
nismo. A vida de Hus, sua condenação e morte nas mãos da Igreja,
influenciou muito Martinho Lutero.
4. Um mártir italiano, GirolamoSavonarola (1452—1498) é mencio
nado por Gangel e Benson como figura influente antes da Reforma, por
sua pregação do púlpito católico, em que clamava por um retorno à vida
cristã baseada na Bíblia.
Todas as pessoas e todos os movimentos mencionados até agora
apareceram por influência do Renascimento. O Renascimento foi basi
camente um movimento cultural, enquanto que a Reforma que o seguiu
foi um movimento teológico. Na verdade, é difícil separar as duas coisas.
Para quem encara o assunto do ponto de vista religioso e educacional,
o humanismo e o teísmo são inseparáveis.
60
2 A REFORMA
Nesta parte do capitulo nos ocuparemos de algumas pessoas cuja
influência no campo da educação decorre de suas atividades reformistas.
Visto que nosso estudo não é da história do cristianismo como tal, não
pretendemos analisar a Reforma senão nos aspectos que podem ajudar
o estudante de educação cristã. Para melhor compreensão desse período
da história, sugerimos a leitura de um livrode história de Igreja. Mencio
naremos aqui algumas pessoas da maior importância na Reforma
Protestante e a contribuição de seu ministério para a educação.
Martinho Lutero (1483-1546)
A idéia que se tem de Lutero como reformador tende a obscurecer
seu valor no mundo da educação. No começo de seu desapontamento
com a igreja, Lutero, como seu contemporâneo Erasmo, não pretendia
separar-se da Igreja Romana. Promovia uma reforma interna. A amizade
entre os dois rompeu-se quando o in teresse evangelístico do teólogo Lutero
o conduziu além do humanismo do educador Erasmo.
Lutero acreditava que a educação estatal, subordinada à Igreja Cató
lica, estava corrompendo a juventude com os elementos do escolasticismo,
que mesclava o estudo das obras clássicas com a Bíblia em vez de estudar
somente a Bíblia.
A educação que Lutero promovia se concentrava no lar, como ensina
claramente o Antigo Testamento. Todavia, ele entendia que o lar não
dispunha dos meios para cumprir satisfatoriamente sua missão. O Estado,
portanto, devia assumir a responsabilidade do ensino das crianças e os
pais deviam oferecer um ambiente doméstico que conduzisse à apren
dizagem.
Além disso, desiludido com a Igreja Católica, Lutero achava
que o clero não tinha capacidade para oferecer boa instrução às
crianças. Neste caso, a educação devia ficar a cargo das autoridades do
Estado.
À semelhança de alguns de seus antecessores. Lutero achava que
a educação devia ser obrigatória para todos, para que todos pudessem
aprender a ler a Bíblia. O currículo que propunha incluía estudos bíblicos,
línguas, gramática, retórica, lógica, literatura, poesia, história, música,
matemática, educação física e estudos da natureza. De todos esses ternas,
sua ênfase sobre a música foi a principal característica de sua filosofia
da educação. Segundo Gangel e Benson, a música ocupava o segundo
lugar em importância, depois da teologia, na filosofia educacional de
Lutero.
61
Talvez a maior contribuição de Lutero à posteridade, no que se refere
à educação, tenha sido sua ênfase sobre a arte de ensinar e a importância
do mestre» Para ele a pregação e o ensino tinham quase o mesmo valor.
Um aspecto relevante para ele no processo ensino-aprendizagem era a
disciplina e a obediência combinadas com amor e moderação. Sua idéia
de disciplinar com amor, em parte, representa uma reação às práticas
dos mosteiros que usavam disciplina e castigos drásticos.
Philipp Melanchton (1497—1560)
Melanchton foi amigo e colega de Lutero. Foi presidente da Univer
sidade de Wittenberg, e nessa posição exigiu que os professores ensinassem
de acordo com o Credo Apostólico, o Credo de Nicéia, o Credo de
Atanásio e a Confissão de Augsburgo. A adoção desses credos deu â
educação superior condição de ensinar a verdade baseada em princípios
bíblicos, sem receio das tendências modernas. Acima de tudo, os esforços
de Melanchton proporcionaram uma educação superior protestante, talvez
não em sua totalidade, mas pelo menos em seu sentido principal.
Ulrico Zwínglio (1484—1531)
Zwínglio, reformador suíço, foi um educador na tradição huma-
nística de Erasmo. Contribuiu muito para a Reforma ao escrever Breve
Introdução Cristã, na qual descreve a posição dos pastores da Reforma.
Sua história pessoal é muito interessante, mas deixamos seu relato aos
historiadores da igreja.
A maior contribuição educacional do ministério de Zwínglio foi
a fundação de um instituto teológico, o Prophezei. Nesse instituto, mestres
e alunos participavam juntos, como iguais e com respeito mútuo, na busca
da verdade.
João Caivino (1509—1564)
Calvino, outro reformador de renome e conhecido por suas
doutrinas da predestinação, depravação do homem e soberania de Deus,
deixou também contribuições à educação. Dentre elas salientamos as
seguintes: 1) Convocou a igreja a retornar à tarefa de ensinar às crianças.
2) Fundou a Academia de Genebra, que ensinava crianças e adultos.
3) Expôs uma filosofia que indicava que conhecimento e aprendizagem
não eram para satisfazer a curiosidade de ninguém, e sim para poder
ensinar a outras pessoas. Todos os seus alunos na universidade tinham
que fazer confissão de fé. porque Calvino achava não ser conveniente
ensinar a nâo-crentes. 4) Escreveu muitos tratados, catecismos e comen
tários bíblicos.
62
John Knox (1505— 1572)
68
Capítulo 8
A EDUCAÇÃO CRISTÃ NA AMÉRICA
Introdução
70
Terceira Parte
BASES SOCIOCULTURAIS E
PSICOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Capítulo 9
A EDUCAÇÃO CRISTÃ EM SEU
CONTEXTO SOCIOCULTURAL
Definições
Sociedade. O Dicionário Larousse define sociedade como um
“estado dos homens e dos animais que vivem submetidos a leis comuns”.
Por sociedade, portanto, podemos inferir tratar-se do que é relativo a um
grupo de pessoas vivendoem conjunto, seja o grupo grande ou pequena
numa área geográfica limitada ou extensa.
Cultura. O conceito de “cultura” é, de fato, muito complexo, e se
poderia gastar muito tempo tentando defini-lo. De modo bastante simples,
define-se cultura como 'desenvolvimento intelectual ou artístico”, mas
veio significar aquilo que caracteriza a sociedade. Uma boa definição
para nossos propósitos seria: os hábitos, crenças, sistemas de valor
e formas de pensamento de determinado povo em dado período de tempo”
(Charles Nicholas, em Graendorf, p. 146).
Tomando por base esses dois conceitos de sociedade e cultura,
podemos dizer que “sociocultural” se refere ao contexto da vida em que
a pessoa se encontra. É importante que o educador cristão estude e
compreenda, na medida do possível, algo da cultura em que exerce seu
ministério.
83
Chamberlain afirma que, de fato, existe estreita relação entre
educação e cultura. Os modelos e filosofias educacionais são condicio
nados pelo cenário cultural e às vezes constituem o seu reflexo. A
educação, incluindo a educação cristã, não se realiza num vazio, senão
dentro de, por causa de, e como reflexo de um contexto sociocultural.
Vejamos, então, quais são as implicações dessa verdade para a igreja,
especialmente no que se refere à sua obra educacional. Antes, porém,
relembremos rapidamente os fatores ou ingredientes da cultura latina
que influem na vida de milhões que vivem nesses países.
Contexto sociocultural da América Latina
A igreja evangélica local, que cumpre seu ministério na América
Latina, terá de levar em conta uma miríade de fatores que constituem
a realidade sociocultural latino-americana. Samuel Escobar, destacado
batista peruano, caracterizou a América Latina como combinação de
populismo, crise econômica e violência revolucionária.
Nida, autoridade em antropologia latina, sugere que os latinos se
caracterizam por tendências contraditórias. Essas tendências são descritas
com os seguintes dualismos; autoridade versus individualismo (perso
nalismo); idealismo (quixotismo) versus realismo (sanchismo); e a
dominação dos homens (machismo) sobre a dependência das mulheres
(feminismo).
Nós, que vivemos tia América Latina, temos de admitir que presen
ciamos esses casos diariamente ao nosso redor, apesar de não querermos
usar estereótipos que se apliquem a características gerais dos latino-
americanos. Temos de admitir também que assistimos a muita paixão,
inconstância e instabilidade, mas. às vezes, também calma e apatia.
Geyer descreve um contraste entre o que ela chama de “latino
antigo” e “latino moderno’'. O primeiro se caracteriza pela chamada
“síndrome amazônica”, uma falsa esperança sobre as possibilidades do
continente sul americano, que não tem experimentado muito progresso.
O segundo representa um novo tipo de força latina própria, que se carac
teriza pelo desejo de governar e viver sem influências externas e
paternalismo estrangeiro.
O relatório da IJNELAM de 1970 indicou várias características
das pessoas com que t rabalham nossas igrejas. Dentre outras, mencionou
as seguintes:
1. Massas rurais marginalizadas (em alguns paises, os camponeses
se concentram em comunidade ou bairros marginalizados, devido à urba
nização nos últimos anos).
84
2. Analfabetismo (aproximadamente 30% da população, segundo
a World Christian Encydopedia (Enciclopédia Cristã Mundial), 1983.
3. Enfermidade e desnutrição.
4. Diversidade demográfica.
5. Economia (este fator se converteu num grande problema, por
causa de inflação, rápida desvalorização das moedas nacionais e a divida
externa desses paises).
O relatório indica ainda outro fator que afeta especificamente o
desenvolvimento da igreja na cultura latina. Diz que: “devemos reconhecer
ter havido um paternalismo que prolongou excessivamente uma situação
de dependência económica, teológica e cultural. Junto com o evangelho,
os missionários nos trouxeram valores de sua própria cultura nacional"
(p. 21).
Sabemos do perigo de analisar a cultura lalina de uma perspectiva
não-latina, mas depois de viver tantos anos em ambiente latino, atrevo-
me a fazê-to. A igreja evangélica não pode ignorar a experiência cultural
de seus membros e seu viver diário, se quiser atender especificamente
às necessidades edesiais e da comunidade. Há de reconhecer que a maioria
da população é católica (pelo menos uma grande porcentagem nunca
disse que nãoè católica). Há de reconhecer que muito do chamado “paga
nismo” e da “idolatria*’ que existe na tradição católica latino-americana
foi passado honesta e fielmente de geração a geração, segundo a tradição
da igreja e tradições, adaptadas, de religiões indígenas e africanas. As
tradições católicas, sejam elas superstições e idolatrias ou não, formam
parte integrante da cultura latina. É uma cultura que seria incompleta
(em sua forma atual) sem o crucifixo, as procissões, as romarias, os mila
gres. as festas de padroeiros e os santos. São fatores religiosos e culturais
que não podem mudar de repente, se é que uma mudança seria neces
sária. Este assunto discutiremos mais adiante.
Além das influências católicas, mas condicionadas por elas, há
outras características do viver cotidiano na América Latina. Uma delas
é o emocionalismo, que se manifesta de várias maneiras, como, por
exemplo, nos gestos manuais durante a conversação, o nervosismo e a
impaciência dos motoristas, o volume da música que se ouve, a repetição
de frases e compassos na música popular local, a popularidade dos “con-
nhos” nos cultos evangélicos e o crescimento rápido de grupos
pentecostais.
Outra característica importante é uma filosofia fatalista, que
influencia a vida diária com uma atitude de que as coisas são assim porque
têm que ser. Essa atitude, talvez influenciada pela religião tradicional,
que valoriza mais a recompensa futura do que a atual, está presente no
85
cotidiano. Isto se vê claramente na maneira como é aceita a morte de
crianças. Um pai peruano expressou essa atitude, depois da morte de
um dos seus vários filhos, dizendo que facilmente poderia conceber out ro
filho para ocupar o seu lugar. Esta seria uma atitude positiva ou uma
filosofia fatalista?
Essa filosofia fatalista de que “o que tem que ser será” se manifesta
até mesmo em simples atividades, tais como cruzar a rua sem prestar
atenção aos veículos, não respeitar os sinais de trânsito, gastar o salário
com bebida enquanto os filhos passam fome, desenvolver um negócio
sem planejamento adequado etc. Isso também ocorre na igreja, quando
determinado grupo local procura realizar a obra do Senhor "de qualquer
maneira", sem planejamento, sem estratégia. "O que tem que ser será”.
Voltaremos a falar sobre este assunto.
Como dissemos no início, estas são características, entre muitas
outras, que existem em nossa cultura latina. Em vez de negar sua exis
tência ou de julgar e criticar, devemos pensar no que se deve fazer para
mudar esta situação, Desta análise, podemos tomar os passos necessá
rios á mudança. Este é, precisamente, o papel da educação na igreja local
em seu contato direto com o meio sociocultural.
2 A EDUCAÇÃO CRISTÃ EM SUA PERSPECTIVA
SOCIOCULTURAL
Como o assunto que acabamos de discutir afeta a educação cristã
realizada pela igreja local? Quais as implicações para a igreja evangélica
que funciona no contexto social de um país latino americano e numa
cultura católica e latina? Vejamos algumas possíveis respostas a essas
perguntas.
Relação entre educação e cultura
Já dissemos que a educação é parte de cada cultura; que a educação
é condicionada pela cultura, e que a cultura pode ser afetada pela
educação. Sob tais influências culturais como as descritas acima, alguns
países latinos experimentaram certa transição em seu sistema educacional
secular. Muitos continuam a usar os métodos tradicionais, isto é. memo
rização e repetição, na escola primária e secundária. Em muitas
universidades, o ensino consiste apenas em fazer monografias e prestar
exames. Assim, em muitos países latinos, considerados subdesenvolvidos
pelos padrões das sociedades industrializadas do mundo ocidental, a
cultura não condicionou a educação de uma forma que lhe permita ou
estimule avançar. Seja por falta de interesse, de tecnologia, de recursos
económicos ebu humanos, esta parece ser a situação em nosso continente.
86
A educação cristã: instrumento de manutenção mudança e crescimento
A igreja de Cristo é o meio que Deus utiliza para transformar o
inundo. A educação é sempre um agente de mudança, ftirtanto, a
educação cristã pode ser usada por Deus e sua igreja para produzir
mudanças necessárias no meio sociocultural latino, na população ein
gera! e dentro da comunidade cristã.
Na população em geral. A igreja evangélica deve projetar-se no
mundo secular, expressando suas opiniões, gerando mudanças, ensinando
um melhor caminho através de atitudes, ações e testemunho. A igreja
deve envolver-se com os problemas do mundo, buscando e ensinando
soluções para as misérias que existem na sociedade.
Se entendemos que a vida nào é uma existência em duas esferas
uma espiritual e outra física — então o testemunho e ministério da
igreja não devem mudar de rosto, dependendo de onde se encontre a igreja.
Esta, pelo contrário, deve ser a igreja no mundo, apresentando as verdades
e princípios dos quais é portadora, para que os problemas sociais e cultu
rais sejam solucionados.
Cully diz: “Falar da irmandade dos homens sob a vontade de Deus
não substitui a necessidade de lhes dar acesso ao trabalho, à moradia
e á educação" (p. 26). A igreja evangélica não deve contentar-se em
lamentar a pobreza, o desemprego, a violência e a corrupção no governo.
Pelo contrário, deve envolver-se com os problemas do mundo. Os evan
gélicos dizem que Cristo é a única esperança. Pbis bem, eles têm que
ensinar isso ao mundo e demonstrar como Cristo soluciona problemas.
As vezes a sociedade é tão apática ou tão letárgica que nào se inte
ressa pela solução de seus problemas. Alguns membros da sociedade já
se acostumaram tanto aos males ao seu redor que ficaram cegos aos
problemas e à necessidade de mudança. Depois de viver muito tempo
em determinado ambiente cultural, as pessoas se tornam conformistas.
O que é habitual e familiar se torna cômodo, e a mudança se torna difícil.
Às vezes os problemas de uma classe socioeconômica são vantagens para
outra classe, e freqüentemente um grupo ou subcultura pode tirar proveito
de outro. Em tais circunstâncias a igreja deve ter uma base doutrinária
e prática bem fundamentada, permanecer firme em suas convicções e
insistir, com urgência dosada de paciência, que o caminho de Cristo é
o caminho que conduz a soluções. A igreja que não puder ensinar esta
verdade com suas palavras e com sua vida não será o agente de mudanças
que Deus quer que e!a seja.
Na comunidade cristã. Uma vez evangelizado, a única coisa que
falta ao novo crente para viver efetivamente em Cristo é educar-se. Chame-
87
-se a isso o que se quiser: discipular, conversar, inslruir, confirmar, edificar
etc, a maior responsabilidade da igreja depois de evangelizar (e de
importância igual), é promover educação continuada para seus membros.
Se a igreja vai propagar se e se vai enfrentar os problemas sociais e cultu
rais, tem que ser uma igreja instruida naquilo que crê e em como aquilo
que crê deve afetar a vida cotidiana de seus membros,
A igreja local precisa manter um programa de educação cristã, de
acordo com suas necessidades, para manter-se em meio a uma cultura
que pode ser adversa à sua obra. “Ao exigir que cada geração que surge
seja condicionada e doutrinada por seus anciãos num programa 'educa
cional’, planejado conscientemente, este ajuda sua continuidade”
íChamberlaín, p. 75). Ê lamentável quealgumas igrejas não se preocupem
em manter-se a si mesmas através de um programa de educação cristã,
e muito menos de usar a educação como instrumento de mudanças e
crescimento da igreja.
Desde o momento da salvação, o cristão se encontra num processo
de mudança. A educação cristã ajuda neste processo. À medida que o
crente aprende e se transforma, ele também influencia mudanças em
outras pessoas. Brown afirma: “A educação é o processo conscientemente
controlado noqualse produzem mudanças no comportamento da pessoa,
dentro do grupo” (p. 165). Pbrtanto, à medida que a igreja mantenha
e realize mudanças nos crentes, realiza também mudanças na sociedade,
como conseqüência normal, A Iguns evangélicos põem muita ênfase sobre
evangelismo, deixando de lado a educação. Defendemos a tese de que
esta posição não é lógica. A educação cristã é o melhor instrumento evan-
gelístico de que dispõe a igreja.
Implicações soeioeulturais para as igrejas latinas
Resta-nos, então, para concluir, recordar algo do que foi ditoe tornar
concretas suas implicações para as igrejas evangélicas locais. Podemos
resumir, repisando alguns pontos:
1. As igrejas evangélicas latinas existem e funcionam num
ambiente sociocultural muito variado, mas com características
bem claras.
2. Estas características, discerniveis, incluem crise econômica,
violência, personalismo, machismo, paixão, analfabetismo,
desnutrição, emocionalismo, fatalismo e uma grande influência
católica.
3. Existe estreita relação ente educação e cultura.
4. A educação é um agente das mudanças que devem ocorrer na
sociedade e na cultura.
5. As igrejas evangélicas latinas devem usar seu ministério de
educação cristã para: 1) manter-se como corpo de Cristo; 2)
efetuar mudanças na cultura e na sociedade, por meio da
promoção de mudanças na vida individual de seus membros,
e 3) levar a Cristo a sociedade da qual ela é parte.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Descreva a relação entre educação e cultura.
2. O que se quer dizer quando se afirma que a educação cristã
não funciona num espaço vazio?
3. Mencione seis características da cultura latino americano consi
derando as sugestões de Escobar e Nida.
4. Defina os seguintes termos, em suas próprias palavras: socie
dade, cultura, contexto sociocultural, personalismo, quixotismo,
sanchismo. machismo e feminismo.
5. Mencione algumas indicações da existência de uma filosofia
fatalista de vida na América Latina.
6. Considerando todas as características culturais mencionadas
neste capítulo, acrescidas de suas idéias pessoais, cite quatro
dessas características que lhe parecem mais evidentes.
7. Põr que a sociedade resiste às mudanças?
8. Em sua opinião, qual o perigo que correriam as igrejas evan
gélicas em ignorar a existência de tradições católicas no seu
ambiente sociocultural?
9. Lembrar-se que o povo latino é emotivo ajuda ao educador
cristão? Fbr quê? Como poderia influenciar o ensino na igreja?
10. Analise a atitude "o que tem de ser será”. Existe tal atitude onde
você vive? Que pode fazer a educação cristã com respeito a isso?
11. A educação é sempre um agente de mudanças0 Explique,
12. Como se pode projetar a igreja no mundo?
13. De acordo com o que ficou dito neste capítulo, qual a melhor
ferramenta evangelística de que dispõe a igreja?
14. Quais as três funções principais da educação cristã como parte
de um ambiente sociocultural?
15. Qual a sua reação a esta declaração: L1A igreja evangélica não
deve contentar-se em lamentar a pobreza, o desemprego, a
violência e a corrupção no governo”?
16. Se é verdade que a sociedade resiste a mudanças porque está
acomodada em sua apana, letargia, ou por outro motivo, o que
89
isso nos ensina com relação à subculture que uma igreja evan
gélica constitui?
17. Descreva a relação entre evangelismo e educação.
18. Qual a relação entre a doutrina da santificação e a educação
cristã?
Temas para discussão
1. Quais as ramificações e implicações da teoria de Geyer sobre
o “latino antigo” eo “latino moderno"? Pbde-se discernir a exis
tência de uma “síndrome amazônica", que se refere à grandeza,
riqueza e esperança latente na América Latina, mas a que falta
desenvolvimento?
2. Em que sentido a cultura é afetada pelo subdesenvolvimento
dos recursos naturais e humanos? Como o subdesenvolvimento
nacional afeta a igreja?Como um subdesenvolvimento próprio,
de seus membros, afeta a igreja?
3. Até que ponto a cultura tolera influências externas? Qual a
diferença entre uma boa influência externa e o paternalismo?
4. Que sinais poderiam indicar que uma mentalidade sacerdotal
do catolicismo invadiu as igrejas evangélicas? (Por exemplo,
divisão entre clérigos e leigos, igrejas centradas no pastor etc).
5. A luz da discussão deste capítulo, qual deve ser a atitude dos
crentes quanto à participação no mundo político?
6. Analise o ambiente sociocultural de seu país. Que algumas
características da população deveriam ser mudadas? Quais as
mudanças que sua igreja deve fazer em seu programa educa
cional, para adaptar-se à realidade sociocultural de seu meio
ambiente?
90
Capítulo 10
INFLUÊNCIAS PSICOLÓGICAS DA
EDUCAÇÃO RELIGIOSA
1 A PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO
Ronald Gray afirma: “O campo da psicologia adquiriu muito
respeito nas últimas décadas. Portanto, um estudo da educação seria
incompleto se não levassem em conta os princípios aceitáveis sobre o
crescimento e o desenvolvimento humanos” (in Sanner e Harper,
ed., p. 118).
Neste capítulo queremos o desafio que esta afirmação apresenta,
ainda que de forma introdutória. Devemos estudar alguns dos princípios
a que se refere o doutor Gray, as teorias do desenvolvimento humano,
e o efeito e a relação que tais teorias têm sobre a educação. O educador
cristão que leva a sério sua responsabilidade de fazer todo o possível para
assegurar boa instrução ao povo de Deus não pode deixar de lado os
conhecimentos psicológicos capazes de ajudá-lo em sua tarefa. Nosso
propósito ao fazer um breve estudo da psicologia educacional não é mera
mente acadêmico. Pelo contrário, o que aprendemos deve nos ajudar a
cumprir nossa função no plano da educação da igreja local.
Cabe salientar que não se torna necessário justificar um estudo
psicológico numa série de estudos desta índole nem pedir desculpas por
fazê-lo. Reconhecemos claramente a orientação do Espírito Santo quanto
ao que precisamos aprender sobre Deus e as verdades espirituais, e por
isso somos agradecidos. Mas é também nossa convicção de que, quando
o Senhor põe a nosso alcance conhecimentos humanos que nos ajudam
a entender ou ensinar verdades divinas, é de seu agrado que aproveitemos
tal oportunidade. Como no capitulo anterior, seria útil começar nosso
estudo definindo alguns termos básicos.
Definições de psicologia
Define-se a psicologia, geralmente, como estudo ou ciência do
comportamento humano, islo é, o estudo de como agem os seres humanos.
91
Mas a psicologia não trata apenas do comportamento externo do indi
víduo, senão também dos impulsos internos que o levam a fazer o que
faz. A psicologia inclui o estudo da consciência do homem, o porquê
de suas ações, bem como as próprias ações. Ao psicólogo interessa saber
o que existe na consciência do homem, talvez mesmo em sua alma. que
determina seu comportamento observável. É importante lembrar que
a psicologia não é mero processo de especular sobre os pensamentos e
atitudes de uma pessoa e a relação que isso possa ter com seu compor
tamento. Mais do que isso, é uma ciência precisa baseada em experiências
controladas, em dados científicos e com indicações suficientes para
formular teorias sobre o comportamento humano.
À educação do ponto de vista psicológico
Uma pergunta-chave para o educador, mesmo para o educador
cristão, é: que tem a psicologia a ver com a educação? Ê bastante claro
que existe relação entre os dois campos, A psicologia é a ciência do
comportamento humano, e vimos no capitulo anterior que uma função
da educação é mudar a conduta do ser humano. Portanto, a psicologia
e a educação são interdependentes. Esta intima relação entre psicologia
e educação é que se chama de psicologia educacional. A psicologia educa
cional se define precisamente como “a aplicação de crenças e
conhecimentos psicológicos relevantes á teoria e prática da educação”
(Lefrançois, p. 10).
Esta aplicação se faz em várias áreas dos estudos psico-educacionais.
Um estudo dessas áreas ultrapassaria os limites de nossa introdução. O
aluno interessado deverá procurar materiais que o ajudem a aprofundar
o assunto. Mencionaremos, de forma resumida, as áreas da psicologia
educacional.
!. Teorias da aprendizagem. A maioria dos psicólogos educacio
naisconcorda que há três teorias gerais da aprendizagem (cada uma delas
constituindo amplo campo de estudo).
O hehaviorismo ou comportamentismo, desenvolvido pelos
doutores Watson e Skinner, é o estudo dos estímulos (o que causa o
comportamento) e as respostas (o comportamento ern si). Esta teoria da
aprendizagem se baseia em normas cientificas mais ou menos rígidas,
que pretendem demonstrar que todo comportamento humano pode ser
condicionado, usando-se estímulos que produzem as respostas desejadas.
A teoria cognitiva da aprendizagem pretende explicar como o ser
humano desenvolve sua compreensão de si mesmo e do mundo. Nessa
teoria se valoriza o uso da razão na tomada de decisões e na organização
e processamento da informação.
92
O humanismo se refere mais aos aspectos emocionais ou atitudi
nais do comportamento humano. Os psicólogos humanistas têm interesse
em saber como as pessoas sentem e percebem o seu mundo.
2. Teorias do ensino. Embora o estudo detalhado das teorias do
ensino inclua muitas divisões, mencionaremos três categorias gerais desta
area da psicologia educacional. Estas teorias não falam tanto como o
indivíduo aprende; mas de como a aplicação das teorias da aprendizagem
afeta o ensino. A instrução que visa a obter respostas cognitivas é a que
tem a ver especialmente com c processo de informação, isto é, de ter conhe
cimento, O ensino destinado a obter respostas afetivas é o que busca
mudança de atitudes do aluno. A instrução para obter respostas psico
motoras procura ensinar habilidades fisicas.
3. Teorias do desenvolvimento. As teorias do desenvolvimento no
campo da psicologia educacional se interessam pelas mudanças seqtien
ciais que ocorrem no desenvolvimento humano, Tradicionalmente, essas
teorias explicam etapas do comportamento das pessoas, de acordo com
sua idade, Ein anos mais recentes, esta área se estendeu a ponto de incluir
o desenvolvimento moral do indivíduo e ate mesmo o desenvolvimento
da fé. Mais adiante veremos algo sobre as supostas etapas da fé.
4. Teorias da motivação. Segundo Lefrançois, a teoria motivacional
levanta quatro perguntas: J) O que inicia a ação? 2) O que dirige a ação?
31 Rir que se aprende o comportamento? 4) Por que cessa o comporta
mento? Um estudo detalhado da motivação incluiria uma consideração
sobre os instintos, o hedonismo e as necessidades e impulsos do indivíduo.
Mesmo um estudo simples como este deve incluir uma menção
à teoria da motivação de Abraham Maslow. A hierarquia das necessi
dades apresentadas por Maslow, há trinta anos, é exemplo de um estudo
clássico que permaneceu e influenciou muitos estudos psicológicos poste
riores. Sua hierarquia abrange quatro categorias: necessidades fisiológicas
(comida, água, abrigo); necessidade de segurança (ambiente saudável e
ordenado); necessidade de amar e de pertencer (ser parle de um grupo
social), e necessidade deauio-estima (desenvolvimentode uma boa opinião
sobre si mesmo).
A relação entre psicologia e educação
Esperamos que algumas das relações entre a psicologia e a educação
tenham ficado bastante claras nas discussões anteriores. Se pudermos
descobrir como a pessoa aprende; o que a ajuda a aprender melhor; quais
as etapas do desenvolvimento da vida que influem em sua aprendizagem;
por que se aprende, e por que uns aprendem mais do que outros, podemos,
como educadores, influir em sua aprendizagem. Mesino na igreja, na
93
educação cristã, podemos fazer isso. Como dissemos antes, é o Espírito
Santo que nos- orienta em nossos esforços educacionais na igreja, mas
não devemos de modo algum deixar de lado os conhecimentos que nos
podem ajudar a ser servos mais eficientes do Senhor em sua igreja.
Seria interessante que o educador cristão conhecesse algumas das
teorias da aprendizagem sobre as quais se apóia a literatura que lhe é
fornecida pela editora de sua denominação. Isto lhe ajudaria, por exemplo,
a explicar a seus professores de escola dominical o porquê da inclusão
de certas atividades nas sugestões didáticas de sua revista. Isso também
lhe ajudaria a analisar seu próprio ensino para ver se a resposta que
deseja é pura informação ou se busca mudança de atitudes. Essa análise
seria importante mesmo para um pregador no planejamento de seus
sermões. A compreensão das teorias do desenvolvimento ajudaria o
educador cristão a analisar seu programa educacional para ver até que
ponto este atende às necessidades de todos os membros de sua igreja,
dentro da qual existe variedade de idades. Saber algo sobre o que motiva
as pessoas ajudaria o educador cristão na promoção de suas idéias e
programas.
Queremos tomar uma dessas idéias, a do desenvolvimento humano,
e ampliá-la, levando em consideração especialmente suas implicações
educacionais para a igreja.
2 O DESENVOLVIMENTO HUMANO
Teorias do desenvolvimento humano
Muitos são os que contribuíram para oestudo do desenvolvimento
humano. Limitaremos nossa discussão ao resumo e esboço das desco
bertas de alguns dos teóricos mais conhecidos.
Piaget. Jean Piaget, nascido na Suiça em 1896, tem sido elemento
de grande importância nesta área por muitos anos. Seu trabalho foi realí
zado principalmente em relação ao desenvolvimento da criança. Piaget
sugere que há quatro etapas do desenvolvimento da criança, sem variação.
O que varia é a idade em que a criança passa de uma para a etapa seguinte.
Eis as etapas do desenvolvimento sugeridas por Piaget (esboço adaptado
de Klausmeir, p. 143):
1. Sensório motor (O — 2 anos). Nesta etapa da vida a criança
aprende principalmente através dos cinco sentidos, experimentando com
eles o seu ambiente.
2. Pré-operacional (2— 7 anos). A criança aprende uma linguagem,
experimenta e atua de urna perspectiva egocêntrica, desenvolvendo
conceitos de modo bastante limitado.
94
3. Operações concretas (7 — 11 anos). A criança nesta etapa pode
pensar logicamenete, é mais social do que egocêntrica, e entende conceitos
e a relação de conceitos. O termo operações é usado para significar
que nesta etapa as ações cognitivas se organizam num sistema de
inteligência.
4. Operações lbrmais (11 anos — adulto). O adolescente nesta últi
ma etapa pode pensar logicamente não apenas nas coisas concretas, mas
pode lidar também com conceitos abstratos.
Kohlberg. Laurence Kohlberg estudou o desenvolvimento moral
entre seres humanos de várias culturas. Estabeleceu um sistema hierár
quico de seis etapas no desenvolvimento moral do indivíduo. Kohlberg
acredita que essas etapas são universais (para todas as culturas) e que
a seqüência das etapas é invariável. Descrevemos, a seguir, o sistema de
Kohlberg.
1. Etapa de moralidade heterônoma, A criança de aproximada
mente 2 a 6 anos de idade se encontra numa etapa de pré-moralidade.
Suas ações, boas ou mós, são determinadas principalmente pela esperança
ou pelo temor, de recompensa ou castigo.
2. Etapa das trocas instrumentais. A pessoa que se encontra na
segunda etapa de seu desenvolvimento moral ainda depende muito de
regras de controle externo, mas reconhece também as necessidades de
outros ao tomar suas decisões morais.
3. Etapa das relações interpessoais mútuas. Nesta etapa, a pessoa
sente que está agindo corretamente, se assim lhe parece aos “outros signi
ficativos" de sua vida. Essa etapa não se limita necessariamente aos
adolescentes, cujas ações são determinadas pela moda.
4. Etapa de um sistema social e de uma consciência. Esta etapa
é uma extensão da terceira, incluindo não somente os valores de “outros
significativos”, mas também os valores de toda a sociedade.
5. Etapa de contrastes sociais e direitos individuais. Esta etapa de
moralidade respeita as normas sociais pelo bem da maioria.
6. Etapas de princípios éticos universais. Esta etapa representa um
compromisso com os princípios éticos. Poucas pessoas, segundo Kohl
berg, alcançam esta fase de desenvolvimento moral; somente pessoas da
estatura de um Ghandi ou Martin Luther King.
Erickson. As etapas da vida sugeridas por Eric Erickson são talvez
as mais conhecidas, Esses estágios se descrevem, com seus respectivos
significados, por contraste. Existe uma tensão dinâmica entre os dois
conceitos de cada estágio.
1. Confiança básica versus desconfiança básica (até 18 meses).
Quando existe mais confiança, a tensão resulta em esperança.
95
2. Autonomia versus vergonha e dúvida (2 — 3 anos). Quando
há mais autonomia, a tensão resulta em vontade.
3. Iniciativa versus culpa (3 — 6 anos). Quando há mais iniciativa,
a tensão resulta em propósito.
4. Habilidade versus inferioridade (7 — 12 anos). Quando há mais
habilidade, a tensão resulta em competência.
5. Identidade versus confusão do papel a desempenhar (13 — 21
anos). Quando há mais identidade, a tensão resulta em fidelidade.
6. Intimidade versus isolamento (21 — 35 anos). Quando há inti
midade, a tensão resulta em amor.
7. Generatividade versus estagnação 135 — 60 anos). Quando há
mais generatividade. a tensão resulta em interesse.
8. Integridade versus desespero (60 em diante). Quando há mais
integridade, a tensão resulta em sabedoria.
Há outros sistemas parecidos, mas esses três nos dão uma idéia
do que pensam os teóricos sobre o desenvolvimento humano. Com esses
três exemplos temos uma base para determinar algumas implicações
educacionais.
Implicações educacionais
Ao ler idéias principais dessas teorias, nãoé difícil captar seu signi
ficado, e isso nos traz à mente um quadro de pessoas que conhecemos
e a quem poríamos num ou noutro estágio. Apesar de ser perigoso este
reotipar todas as pessoas de acordo com sua idade, fazendo-as amoldar-se
a certo estágio, para o educador é útil ter conhecimento das possíveis
etapas do desenvolvimento humano e que pessoas geralmente se enqua
drariam em determinado estágio.
Os estágios sugeridos por Piaget quanto ao desenvolvimento da
criança ajudam o educador a entender por que um menino reage como
reage a seus colegas de turma e por que alguns métodos de ensino
funcionam e outros não. Ajudam a entender que seria inútil apresentar
â criança pequena determinados conceitos complexos que amda não pode
captar e entender. Ajudam a saber, talvez, como disciplinar positiva
mente a criança, compreendendo que seu egoísmo ou outro "mau"
comportamento é manifestação de seu estágio evolutivo. Muitos profes
sores se desesperam rapidamente porque não entendem que podem existir
certas ações ou atitudes de seus alunos que apesar de parecerem más
podem ser normais como parte de seu desenvolvimento físico, emocional
e social.
As idéias de pesquisadores como Kohlberg também podem ser úteis
ao educador. Essas teorias sobre o desenvolvimento moral, combinadas
96
com Lógica e senso c-omum, nos mostram que o ensino de princípios éticos
e morais não se faz do dia para a noite. Uma criança não desenvolverá
um sistema completo de valores pessoais, apesar dos numerosos sermões
pregados por seus pais e mestres. R>r sua vez, não se pode desprezar a
importância de moldar continuamente a criança com valores concretos,
tornando-a uma pessoa de boa conduta e integridade moral.
Uma adequada compreensão da terceira etapa sugerida por Kohl-
berg evitaria muitas horas de angústia e falta de comunicação entre os
pais e mestres e os adolescentes com que devem relacionar-se. A iden
tificação com os companheiros é um desejo normal no processo de
desenvolvimento do adolescente. O pai ou mestre sábio compreenderá
isso, sem deixar de lado a importante função de ensinar ao adolescente
que muitas vezes os companheiros têm idéias erradas, moral e eticamente.
As teorias clássicas, formuladas por Erickson, são também muito
úteis. As qualidades que Erickson menciona — esperança, vontade, propó
sito, competência, fidelidade, amor, interesse, sabedoria — são conceitos
dignos de serem ensinados em qualquer ambiente ed ucacional. O professor
atento à presença de qualidades negativas nas tensões dinâmicas dos está
gios evolutivos sugeridos por Erickson poderá tomar medidas em sua
metodologia ou no conteúdo de suas aulas que reforcem as qualidades
positivas.
Implicações para a igreja local
Todas as implicações de cunho educacional sugeridas têm valor
para o programa educativo da igreja local. Não é necessário que os proles
sores de sua escola dominical sejam psicólogos e que conheçam a fundo
essas teorias e outras semelhantes, mas o ensino da escola dominical será
mais eficiente se os professores tiverem uma compreensão básica do desen
volvimento j)sicológico da pessoa. Breves e simples explicações sobre a
psicologia da criança, por exemplo, poderiam sensibilizar os professores
de pré escolares no sentido de evitar traumas na classe.
Uma compreensão das etapas do desenvolvimento humano nos
ajuda a entender por que na igreja algumas crianças de idade escolar
compreendem os conceitos de pecado, arrependimento e salvação, e outras
não entendem. Isso nos adverte quanto ao cuidado que devemos ter de
não pressionar as crianças a se comprometerem com um conceito que
ainda não entendem. Algumas não teriam a idéia do que seja compro
misso, e muito menos de pecado e salvação. Por outro lado, o
conhecimento psicológico nos ajuda a compreender que devemos deixar
aberta a porta para aqueles que já se encontram num estágio de desen
volvimento que lhes permite entender estes conceitos.
07
Além disso, a compreensão destes princípios psicológicos nos ajuda,
como iideres da igreja, a reconhecer a existência de isolamento, estag
nação e desesperança entre os membros da comunidade cristã. Alguns
de nossos membros precisam de atividades, instrução e estímulo para
combater esses males e poder experimentar o gozo da salvação em Cristo.
fbderiamos prolongar este assunto, mas não julgamos necessário
fazê-lo. O que desejamos transmitir é que a psicologia pode ser útil à
igreja. Existem, certamente, outros aspectos da psicologia que não são
importantes para nós, mas se a tornarmos um instrumento útil, sem
permitir que ela nos use, a psicologia poderá ser um instrumento efetivo
para nosajudar a desenvolver um programa eficaz de educação na igreja.
3, A FÉ COMO EXPERIÊNCIA PSICOLÓGICA
Há outra área da psicologia que influi muito sobre a educação reli
giosa. É a relação entre a fé e o desenvolvimento psicológico. Em muitos
círculos educacionais e teológicos atuais, fala-se da igreja cristã como
comunidade de fé, e assim deve ser. Se tal afirmação é verdadeira, a igreja
deve preocupar se em ensinar a fé. Mas isso é possível? Pbde se ensinar
a fé, ou a fé consiste em algo que se desenvolve por si mesmo depois
de havermos assumido um compromisso com Deus? A questão teoló
gica não nos preocupa, neste estudo. Mas, sim, examinar a possibilidade
de que a fé, na comunidade cristã, seja vista como um processo educa
cional e, portanto, como processo psicológico.
Antes de abordarmos a fé como experiência psicológica, é conve
niente estabelecermos uma relação entre ciência e fé.
Ciência e fé
Há sempre pessoas, pri ncipalmente en tre os in telectuais, q ue neces
sitam de um sistema de crença mais racional do que aquele que a simples
fé pode proporcionar. Relembremos o movimento de Tomás de Aquino
e o Escolasticismo, de como procuraram explicar a realidade de Deus
por meio da razão humana. Recordemos também, por outro lado, os
audazes avanços da ciência durante os séculos 18 e 19, que tentaram
provar cientificamente que Deus não era uma realidade. No psiquismo
humano sempre existe a possibilidade de tensão entre uma fé cega e a
necessidade de explicação lógica e científica das coisas.
Sobre essa possível tensão, queremos dizer que a teologia que prati
camos na tradição evangélica nos leva a aceitaras verdades divinas pela
fé. Alguns aspectos de nossa crença podem ser logicamente explicados,
mas outros não. Estes últimos não são contestáveis simplesmente por
falta de evidências externas.
98
Gray explica o assunto quando afirma que “os educadores cristãos
não negamos os resultados da pesquisa psicológica cuidadosa, mas ques
tionamos qualquer de suas conclusões que pareçam cont radizer a verdade
biblica e os princípios cristãos" (Sanner e Harper, p. 121).
Assim sendo, a atividade de um educador cristão sério deve ser
cautelosa para não ser iludido por um sistema de pensamento que contra
diga o ensino da Bíblia, ftir outro lado, o educador deve ter uma atitude
aberta e disponível, capaz de incorporar novas idéias que lhe possam
ajudar no desempenho de seu ministério,
Etapas da fé
No campo da psicologia do desenvolvimento humano e sua relação
com a experiência religiosa e com a educação cristã, surgiu em anos
recentes um novo conceito de fé. James Fowler, psicólogo cristão norte-
am ericana elaborou um sistema para definir o desenvolvimento da fé,
em tennos semelhantes aos das teorias dos estágios do desenvolvimento
humano.
Sua teoria se apóia em pesquisas amplas e sérias. As conclusões
resultantes formam um sistema intricado e complexo que se propõe a
difinir o sistema de fé adotado por alguém, seja a fé religiosa ou de outra
natureza. Neste capitulo, não nos propomos ao estudo detalhado do
trabalho de Fowler, pois isso nos tomaria bastante tempo para se poder
fazer justiça ao autor. Todavia, em nossa opinião, todo estudante do
processo da educação cristã deve ter conhecimento, ainda que
limitado, das etapas da fé e das implicações dessa teoria para a educação
cristã.
Fowler divide o desenvolvimentoou progressão da fé em seis etapas,
como uma pré-etapa. A seguir, apresentamos essas etapas, acompanhadas
de breves explicações, extraídas de seu livro Stages of Faith (“Etapas
da Fé").
Pré-etapa: Infância c fé indiferenciada. Nesse estágio, as sementes
de confiança, esperança, amor e valor chegam à criança do mesmo modo
como lhe chegaram as ameaças. É nessa etapa que estas qualidades (ou
ameaças) servem de base- para tudo que vier a acontecer â pessoa em
termos do desenvolvimento de sua fé, ou seja, a fé que se desenvolve
nessa pré-etapa fornece o alicerce para a confiança básica que a criança
terá em suas relações futuras.
Etapa 1: Fé intiiitíva-projetiva. Nessa etapa a fé se encontra cheia
de fantasias. O menino, como imitador, nesse estágio, "pode ser infiuen
ciado poderosa e permanentemente por exemplos, disposições, ações e
relatos da fé dos adultos com quem mantenha relações” (p. 133).
99
Etapa 2: Fé mltica-literal. Nessa etapa, “a pessoa adapta por si
mesma as narrações, crenças e observações que simbolizam sua parti
cipação na comunidade" (p. 149). Nesse estágio, as crianças (às vezes,
adolescentes e adultos) são muito influenciadas por materiais simbólicos
e dramáticos. A etapa se chama literal porque a criança (escolar) crê tudo
literalmente. Chama-se mitica porque a criança descobre que, pelo uso
do drama, histórias e mitos “pode encontrar coerência para sua expe
riência” (p. 149).
Etapa 3: Fé sintética-convencional. Nesse estágio, “a experiência
da pessoa se estende além da familia. Várias áreas exigem atenção: família,
escola ou trabalho, companheiros, turma de rua, meio em que vive e
talvez religião. A fé deve oferecer uma orientação coerente em meio dessa
amplitude de compromisso mais complexa e diversificada. A fé deve sinte
tizar valores e informações; deve prover uma base para identidade e
perspectiva” (p. 172). Essa é a etapa de conformismo, e muitos param
por aqui.
Etapa 4: Fé individualisfa-reflexiva. Esse estágio é crítico, porque
é aqui que o “adolescente ou o adulto deve começar a levar a sério o
peso da responsabilidade de seus compromissos, estilo de vida, crenças
e atitudes” (p. 182). Nesse estágio a pessoa se encontra vivendo em meio
a tensões: individualidade versus membresia de grupo; subjetividade versus
objetividade e reflexão critica; auto-realizaçâo versus serviço aos outros;
relatividade versus absolutismo. A força desse estágio reside em “sua capa
cidade para reflexão crítica sobre identidade (ego) e perspectiva (ideologia)".
Etapa 5: Fé conjuntiva. Fowler admite a dificuldade em definir a
quinta etapa do desenvolvimento da fé. É uma etapa muito complexa,
em que a pessoa, geralmente de meia-idade, encontra-se incorporando
dentro de si mesma e de sua perspectiva algo que havia suprimido ou
que não havia reconhecido antes, devido a seu desejo de viver com certeza
própria e realismo. O indivíduo se encontra refazendo sua vida passada,
refletindo e criticando os mitos, preconceitos e ideais que antes faziam
parte de seu sistema de valores pessoais.
Etapa 6: Fé universal. Segundo Fowler, é muito raro alguém chegar
a esse estágio. A pessoa que o atinge é uma “encarnação” disciplinada
dos “imperativos do amor absoluto e da justiça absoluta” (p. 200). A
descrição que Fowler fez dessas pessoas raras é significativa: por sua
compreensão superior, sacodem os alicerces sobre os quais construímos
nossa segurança. “Muitas pessoas nesta etapa se modificam menos do
que se espera. As pessoas raras, descritas nesse estágio, têm uma graça
especial que as faz parecerem mais lúcidas, mais simples e às vezes mais
completamente humanas do que as demais” (p. 201).
100
É bem verdade que essas idéias são complexas e nào é de se esperar
que o leitor entenda todo o significado da obra de Fowler com esta simples
exposição de sua teoria. Existe, certamente, uma relação entre essa teoria
e as que examinamos antes. Mas, uma diferença significativa è que, do
ponto de vista cristão, as etapas da vida sugeridas por Fowler são está
gios não somente da vida psicológica do individuo, mas também de sua
vida religiosa.
É precisamente aqui que tudo isso começa a fazer sentido para
o educador cristão. Nós, que somos chamados por Deus para ensinar
o seu povo, temos a grande responsabilidade de alimentar a comunidade
de fé, e nem todos na comunidade se encontram no mesmo nível de desen
volvimento espiritual. As implicações para nós são múltiplas e
importantíssimas.
É importante que o educador cristão não faça uso das idéias de
Fowler de modo ingênuo. Mas se adotarmos suas idéias com seriedade,
elas nos podem ajudar a entender algo da peregrinação dos que parti
cipam de nosso programa educacional. Devemos entender que “a tarefa
do educador é muito mais do que ensinar o ‘conteúdo' da tradição da
fé. Nossa tarefa é nutrir o povo, com ajuda da graça de Deus, na sua
capacidade de permanecer na fé. Ser e tornar-se uma pessoa de fé cristã
é um processo de formação e de maturação” (Groome, p. 66). Nossa respon
sabilidade como educadores cristãos é prover o conhecimento e o ambiente
necessários para uma boa formação. É importante que usemos a infor
mação a nosso dispor para que nos ajude a cumprir a tarefa de modo
mais eficiente.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda às seguintes perguntas:
1. Defina, com suas próprias palavras: a. Psicologia, b. Psicologia
da educação.
2. O que se quer dizer quando se afirma que a psicologia é uma
ciência exata?
3. Qual a relação da psicologia com a educação?
4. Mencione três subáreas da psicologia educacional,
5. Quem formulou a teoria behaviorista?
6. Às vezes o behaviorismo é chamado de teoria E R (estímulo-
-resposta). Por que se diz que esta é uma designação apropriada?
7. Contraste as teorias cognitivas com as humanistas.
8. Em que aspectos o processo ensino-aprendizagem tem a ver
com as teorias de ensino?
101
9. De acordo com as teorias de ensino, qual seria o objetivo do
ensino cognitivo? E do ensino afetivo? E do ensino psicomotor?
10. Qual o significado do nome de Abraham Maslow para este
estudo?
11. As teorias da motivação, em geral, colocam quatro questões.
Quais são?
12. O queé hedonismo? O que tem a ver a motivação com a igreja?
13. Em sua opinião, qual a relação mais evidente entre a psicologia
e a educação?
14. Apresente as várias maneiras pelas quais os conhecimentos
psicológicos podem ajudar o educador cristão evangélico em
sua tarefa na igreja local.
15. Que relação poderia haver entre as teorias da aprendizagem
e a homilética?
16. Descreva a relação entre Espirito Santo, o educador cristão e
a psicologia educacional.
17. Faça um resumo das principais ideias da teoria de Piaget.
18. Mencione os oito estágios da vida segundo Erickson.
19. Na sua opinião, a terceira etapa do desenvolvimento moral da
teoria de Kohlberg nos indica algo sobre o comportamento
juvenil na igreja? O quê?
20. Faça uma avaliação dos membros das classes (ou departamentos)
da escola dominical de sua igreja, segundo a teoria de Erickson.
Por exemplo: entre os adultos de 21-35 anos, há mais intimi
dade ou isolamento? Que se pode fazer quanto a isso?
21. Avalie o conceito de igreja como comunidade de fé.
22. Em que sentido a igreja ensina a fé?
23. Baseado no pouco que leu, qual é sua opinião pessoal sobre
a importância da teoria das etapas da fé?
24. Em que sentido o desenvolvimento da fé é um processo psico
lógico?
25. Analise a declaração: "A tarefa do educador é muito mais do
queensinar o ‘conteúdo’da tradiçãoda fé. Nossa tarefa é nutrir
o povo, com ajuda da graça de Deus, na sua capacidade de
permanecer na fé”.
Temas para discussão
1. Considere a hierarquia das necessidades apresentadas por
Maslow. Se. tais necessidades são comuns a todas as pessoas,
quais delas a igreja pode ajudar a satisfazer e como?
li).’
2. Compare e contraste as teorias de Piaget, Kohlberg, Erickson
e Fowter. Se possível, apresente o de uma forma sinótica.
3. Faça uma monografia, com três a cinco laudas, consistindo
numa conversa imaginária entre você, Kohlberg, Erickson e
Fowler a respeito do desenvolvimento humano.
4. Em sua classe ou seminário, procure entender de forma geral
as etapas da fé e discuta o seu significado para a igreja e para
a educação cristã.
103
Quarta Parte
BASES TEOLÓGICAS
DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Capítulo 11
O PADRÃO BÍBLICO DE NOSSOS DIAS
Introdução
Nesta unidade procuraremos entender a relação entre os conceitos
teológicos que dirigem a vida da igreja e a função educativa dentro desta
vida eclesiástica. Depois, no capítulo 12, apresentaremos uma filosofia
educacional que o autor considera adequada para a igreja, levando em
conta sua base teológica.
Neste capítulo abordaremos especificamente uma teologia da
educação cristã. Não é a teologia da educação cristã que vamos estudar.
Ftassivelmente tal coisa não existe. Apresentaremos, isto sim, uma teologia
ou talvez alguns pensamentos que conduzem a uma teologia da educação
cristã.
A palavra teologia é usada de várias maneiras. Diz-se, por exemplo,
que num seminário, num instituto ou centro de extensão se ensina e se
aprende teologia. Fala-se de teologia sistemática e teologia bíblica. Em
determinados meios eclesiásticos, fala-se muito, atualmente, de teologia
da libertação. O título desta quarta parte do livro trata dos fundamentos
teológicos da educação cristã, e este capitulo pretende abordar uma pers
pectiva teológica.
Afinal, o que é teologia? È um campo de estudo religioso? Uma
área educacional para religiosos intelectuais? È um curso de uma insti
tuição teológica? O teólogo batista Fisher Humphreys é provavelmente
o autor que melhor expressa o sentido exato do que vem a ser teologia.
O título de uma das suas obras — Thinking A bout God (“ fòisando sobre
Deus”) — é a sua definição de teologia. O fato nâo é propriamente que
estudamos teologia, nem que aprendemos teologia, ou lemos obras teoló
gicas, mas, sim, que fazemos teologia. Pensamos sobre Deus e, ao fazê-lo,
fazemos teologia. Portanto, cada pessoa tem sua própria teologia (natu
ralmente, com muitas influências externas), porque cada indivíduo tem
seus próprios pensamentos sobre Deus,
Mas que é que tais pensamentos têm a ver com a educação cristã?
A resposta é que, se o objetivo da educação cristã é nutrir, edificar.
107
conservar e disciplinar a comunidade cristã sob a orientação de Deus,
0 que pensamos sobre Deus tem a ver com o que ensinamos na igreja.
É importante que o educador cristão tenha uma teologia da
educação cristã, isto é, pensamentos sobre Deus que lhe indiquem como
fazer educação. Enquanto o educador faz sua teologia, ele faz também
sua educação cristã, e entre essas duas coisas não deve haver conflito.
Neste capitulo vamos estudar algumas das possibilidades que nos
conduzem a uma teologia da educação cristã. Para tanto, examinaremos
algumas passagens bíblicas que falam do ensino espiritual e que nos
ajudarão a pensar mais claramente sobre o modo como Deus quer que
façamos a educação teológica; e, em seguida, sugerimos algumas de suas
implicações para a função educacional da igreja.
1 PASSAGENS BÍBLICAS FUNDAMENTAIS
Muitas passagens bíblicas nos podem ajudar na elaboração de uma
teologia da educação cristã. Sem a pretensão de esgotar o assunto, o autor
escolheu três trechos, que serão estudados com algum detalhe: um do
Antigo Testamento, um dos Evangelhos, e um das Epístolas de Paulo.
Deuteronômio 6.4-9
Os hebreus chamavam esta passagem de Shemá (“ouve’’), a primeira
palavra de sua confissão de fé. Se os judeus tivessem de escolher a
passagem mais importante dos livros da lei. provavelmente a escolha
recairia sobre este texto. Estas palavras indicaram como transmitir a seus
filhos e ás gerações posteriores o que Jeová havia feito por eles. Neste
sentido, o Shemá foi a base do sistema educacional dos hebreus/judeus,
o povo escolhido de Deus.
A ordem aqui dada aos hebreus de passar os preceitos de Deus
a seus filhos chegou num momento crítico da história do povo de Israel.
Moisés, o líder dos hebreus naquela época, que recebia reveiaçóes e pala
vras diretamente de Jeová, que conheceu pessoalmente Jeová numa sarça
ardente e que recebeu os mandamentos de Deus para seu povo em contato
quase direto com Deus, esse mesmo Moisés, que foi a figura principal
das narrativas encontradas nos livros de Êxodo, Ijevitico e Números, ao
fim do Deuteronômio morreria. O povo então precisava de uma forma
de preservar seu passado histórico sagrado. O povo precisava de uma forma
de transmitir sua fé, de transmitir a seus filhos a Palavra de Deus, os
mandamentos, as leis e os princípios que transformassem suas vidas.
Foram palavras ditas a Israel, o povo de Deus. Nelas encontramos,
portanto, principios e direção para a educação cristã, a função educa
108
cional do novo povo de Deus — a igreja. No Shemá encontramos uma
prefiguração da metodologia usada por Jesus no seu trato com as pessoas
e seu compromisso com o Pai para transformar as vidas de seus seguidores.
Larry Richards, em seu livro A Theology oi Christian Education
(“Teologia da Educação Cristã”), sugere e desenvolve três princípios que
formam a base do ensino ao povo de Israel, conforme o texto em foco,
e aponta paralelos na educação cristã. Apresentaremos agora tais prin
cípios, e ao final deste capítulo nos ocuparemos de seus paralelas.
Em primeiro lugar, os versículos 3-6 desta passagem chamam nossa
atenção para a figura do mestre. Quem ensina deve ter uma relação de
amor pessoal com Deus. Além disso, esse amor terá que revelar-se e
cumprír-se na interiorização da Palavra de Deus (“estas palavras (....)
estarão em teu coração”).
Em segundo lugar, o Shemá ensinou aos israelitas que a educação
religiosa se transmite no lar, de pais a filhos, ou seja, a transmissão eficaz
da fé, das verdades divinas, ocorre num ambiente familiar onde geral
mente há estabilidade, amor. intimidade e o compartilhar variável, mas
estreitamente entrosado, de seus componentes. O quadro que o Shemá
nos apresenta éo de edificação dentro de relações interpessoais saudáveis.
Em terceiro lugar, os versículos 7-9 indicam que o ensino se realiza
no contexto da vida. Lembra-se da mezuzá , que mencionamos no capí
tulo 2? O uso da mezuzá foi o cumprimento da ordem contida no versículo
9. Apesar de os israelitas haverem tomado estes mandamentos literal
mente, qual era o seu significado? E que na vida do individuo deve existir
evidência da lei em seu coração e que se deve aproveitar toda oportu
nidade para ensinar as verdades divinas.
Em resumo, o Shemá ensina que a instrução do povo de Deus nas
verdades divinas se faz de três maneiras principais: com um modelo ou
exemplo, com relações interpessoais, e dentro do contexto da vida.
Lucas 6.40
Tradicionalmente este versículo tem trazido algumas dificuldades
aos intérpretes, porque parece isolado do contexto, segundo alguns eruditos
(veja-se explicação dada por Barclay). Sem dúvida, Leon Morris, em seu
comentário da série Tyndale, propôs um sentido contextuai aceitável.
Em sua versão do Sermão da Planície (do Monte, em Mateus), Lucas
apresenta aos ouvintes princípios de um sistema de valores radicalmente
diferente dos valores do mundo. Lucas começa com as bem-aventuranças
no versículo 20, e prossegue descrevendo a vida do súdito do reino, de
modo semelhante ao de Mateus. Morris sugere que, a partir do versículo
38, Jesus está falando da responsabilidade que tem o discípulo de lazer
109
outros discípulos. Com tal responsabilidade, é de suma importância que
o súdito do reino viva corretamente, de acordo com valores elevados.
Para realçar a importância do viver correto, Jesus usa três metáforas:
um cego não guia outro cego, o discípulo não é maior do que seu mestre,
e o contraste entre a trave e o argueiro.
O objetivo de um discipulo no tempo do ministério terreno de Jesus
era ser como seu mestre. A palavra corresponde a “instruído” ou ‘'aper
feiçoado”, em grego, significa “ser remendado” algo que está quebrado
ou rasgado, sejam redes, animais ou homens. Aqui temos, pois, a figura
de um processo de consertar um homem quebrantado, isto é, fazer crescer
e amadurecer uma pessoa que até então havia sido mera criatura de Deus,
para que se torne um verdadeiro filho de Deus. vivendo de acordo com
os princípios que Jesus apresentou como características do súdito do reino.
Esta maturidade se realiza à medida que alguém segue seu mestre, cuja
vida, por sua vez, já deve demonstrar as características de súdito do reino
de Deus.
Assim sendo, o versículo 40 deve abalar nossa compreensão
obtusa da função educacional da igreja. Na teologia pessoal deste
autor existe a firme convicção de que nesse versículo Deus nos
quer dizer algo muito importante quanto ao modo como seu povo
deve ser educado. É uma compreensão que pode ser revolucionária
para nossos programas acomodados de educação A passagem nos
passa três lições que nos ajudam em nossa busca de uma teologia
da educação:
1. Aquele que segue a Cristo deve ter por objetivo ser como
ele foi.
2. As pessoas a quem Deus conferiu a resjxmsabilidade de guiar,
instruir e discípular outros devem ser imitadoras de Cristo, vivendo
com elevados princípios e m aturidade espiritual, porque os seus
discípulos ou alunos têm também por objetivo serem iguais ao instrutor
ou professor.
3. A idéia de que o objetivo da educação do povo de Deus é apre
sentar dadose instrução cognitiva sobre Deusé um conceito incompleto
e inadequado, do ponto de vista bíblico.
Essas três idéias podem ser resumidas observando-se as palavras
do versículo 40: “será como”. Note-se que o texto não diz: “saberá
o que o seu mestre sabe” mas “será como o seu mestre". Que res
ponsabilidade para aquele a quem Deus colocou como mestre diante
de seu povo!
Falaremos um pouco mais sobre este assunto na última parte deste
capitulo.
110
Eíésios 4.12
Este versículo se encontra no contexto de uma das discussões de
Paulo acerca da diversidade de dons dentro do corpo de Crista que resulta
na unificação do corpo. Depois de mencionar alguns ministérios ou dons
na igreja, Paulo diz que o propósito da existência de tais ofícios é “o aper
feiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do
corpo de Cristo”, isto é, as responsabilidades daqueles que instruem o
povo de Deus na igreja, através da pregação, da interpretação da vontade
de Deus, do ministério pastoral e do ensino espiritual, fazem parte de
um processo evolutivo visando à maturidade do povo de Deus.
A palavra “aperfeiçoar”, aqui, tem a mesma raiz da palavra usada
para "remendar”, que vimos em Lucas 6.40. Parece, portanto, que Paulo
está dizendo â igreja em Éfeso que o propósito desses dons e a respon
sabilidade dessas pessoas é guiar o povo de Deus em um processo de
preparação para a sua utilização no ministério (serviço) da igreja, para
que esta seja edificada, reforçada, amadurecida.
Dois aspectos interessantes queremos enfatizar nesta passagem, Um
é que Paulo parece estar falando de uma edificação do corpo dentro do
corpo, como forma de desenvolvimento interno através da qual a igreja
amadurece. O outro é que no contexto desta passagem encontramos a
organização da igreja primitiva, que abrange ofícios diversos para dife
rentes responsabilidades, cada um dos quais contribuindo para a edificação
da igreja. Tal organização nos dá a entender que Deus aprova, se é que
não ordena, um sistema organizado e ordenado, segundo as indicações
do Espírito Santo, para efetuar a instrução de seu povo. Vejamos, a seguir,
algumas das conseqüências de tal pensamento para nossa teologia da
educação.
Relações interpessoais
O quadro didático entre pais e filhos apresentado no Shemá é de
estabilidade, amor e intimidade. Este mesmo ambiente familiar deve existir
na igreja enquanto desempenha sua função educativa. Devemos promover,
estimular e apoiar a educação cristã no lar e, ao mesmo tempo, com a
ajuda do Espírito Santo, criar um ambiente familiar dentro das atividades
educacionais da igreja. Qualquer outra educação pode ser eficaz sem
amor, mas, no caso da educação cristã, isso não é possível.
Deus nos indica de forma direta, através do Shemá , que os pais
têm a responsabilidade de ensinar os preceitos divinos a seus filhos. À
educação familiar não é um ramo da educação espiritual separado da
igreja. É. isto sim, parte integral da função educativa da igreja, porque
112
se nâo existe no lar uma relação de amor que edifique a família cristã,
seus efeitos se farão sentir em toda a vida da igreja. O culto ou o devo-
cional doméstico pode afetar profundamente o nível espiritual da igreja.
Os que ocupam lugares específicos de responsabilidade na educação
formal da igreja devem conhecer seus alunos para que se estabeleça um
clima familiar em sua classe. Devem visitá-los em seus lares, saber os
seus nomes, orar por eles, conhecer seus familiares e as circunstâncias
de sua vida diária, para que estes conhecimentos os ajudem a estabelecer
um ambiente familiar em sua classe dominical.
Jesus alcançou êxito em seu ministério porque mantinha intimo
relacionamento com seus discípulos. Andava com eles, corri ia com eles,
orava com eles; pregava, chorava, alegrava-se' e falava do futuro com eles.
É difícil imaginar que os discípulos não sentissem uma irmandade, um
ambiente familiar em suas relações interpessoais com Jesus como mestre.
Contextualização
Os judeus tomavam os mandamentos do Shemá literalmente.
Levavam as palavras de Deuteronômio 6.5 em fílactérios, nos braços e
na testa. O uso da mezuzá foi também forma literal de obediência ao
mandamento. A curiosidade das crianças em observar diariamente o ritual
relacionado com a mezuzá dava aos pais a oportunidade perfeita de
ensinar aos filhos a lei de Deus.
A significação destes atos deve ser tão real para a igreja como era
a interpretação literal que lhe davam os judeus. Deve haver na igreja
uma evidência da realidade das verdades espirituais e da bondade de Deus
que penetre em todas as esferas de sua vida A igreja tem a função de
ensinar a Palavra, mas este ensino não deve ser isolado da vida. Não
é algo que se limite a uma hora de aula, numa dependência do templo,
a cada domingo, É parte integrante da vida e deve adentrar cada aspecto
da vida da igreja. Mas a palavra “igreja” não é usada aqui apenas no
sentido de vida institucional, constituída de uma programação ministe
rial e educacional. Mais do que isso, refere-se ao que nós. a igreja, nós,
o povo de Deus, o corpo de Cristo, fazemos no templo, e também o que
nós, a igreja, o povo de Deus, o corpo de Cristo, fazemos fora do templo.
A igreja deve aproveitar todas as oportunidades que lhe .são oferecidas
no contexto de sua vida de igreja (em todos os sentidos) para ensinar
as verdades de Deus.
Discipulado
A palavra “discipulado” se tornou parte do vocabulário de muitas
igrejas evangélicas na América Latina nos últimos anos, principalmente
devido a obras como Segue-me, de Ralph Neighbour, e outras. É uma
palavra muito importante, pelo simples fato de representar um conceito
inevitável para a igreja, que tem de encontrar a maneira mais bíblica
de reproduzir-se educacional e evangelisticamente.
A passagem representativa que estudamos antes (lx 6.40) nos ensina
que o principio implícito no conceito de discipulado é que o seguidor
(o aluno) chegue a ser como o líder (o mestre). É fundamental para nossa
teologia da educação cristã entender este princípio em seu sentido dupla
Por um lado, para que o aluno possa vir a ser como seu mestre, deve
ter a oportunidade de conhecê-lo bem, num relacionamento interpessoal,
estreito, no contexto da comunidade de fé e em sua extensão ao mundo.
À igreja terá de criar circunstâncias, ambiente e motivação para incen
tivar o aluno em sua peregrinação rumo ao alvo de tornar-se como seu
mestre. Naturalmente, todos nós aspiramos vir a ser como o Mestre, Jesus
Cristo. Mas, em Lucas 6.40, Jesus está falando também de mestres
terrenos. Quando Paulo discipulava Timóteo, ele próprio, Paulo, embora
seguidor de Cristo, deu a Timóteo o exemplo para sua formação na fé
e no ministério. Paulo exortava e motivava Timóteo, constantemente,
no sentido de observar seu exemplo pessoal e por este aprender.
Esta luta continua por parte do aluno indica, como conseqüência
natural, o outro sentido do princípio do discipulado. É que o mestre
deve ser um exemplo digno de ser seguido. Nossa teologia da educação
cristã deve incluir a compreensão de que, se buscarmos na Bíblia os
preceitos sobre os quais basearemos nosso ensinamento, vamos verificar
que o mestre cristão tem a responsabilidade de ensinar seus alunos
a seguir seu próprio exemplo como cristão. “Muito da educação consiste
em ajudar as pessoas a saber o que os seus mestres sabem. A educação
cristã consiste em ajudar as pessoas a ser o que seus mestres são”
iRichards, p. 30),
Se nosso propósito na igreja como educadores cristãos, seja como
pastores, mestres ou outra qualquer função, é levar as pessoas a serem
como nós somos, que grande parâmetro, este, para o nosso próprio andar
no Senhor! A igreja que levar a sério tal princípio, como parte de sua
teologia da educação, estará atingindo uma profundidade em suas ativi
dades educacionais que se aproxima do padrão que Jesus deixou para
a igreja. É um padrão de santidade em que aquele que ensina compar
tilha santidade com outros na comunidade de fé, através do intercâmbio
de idéias, conhecimentos e compreensões, que obteve pela experiência
de viver na Palavra e em viver a Palavra. A igreja que cumpre sua função
educacional dessa maneira supera a mentalidade de que a educação se
faça somente aos domingos de manhã.
114
Organização
Alguns cristãos evangélicos acham que não há necessidade de um
programa educacional organizado. Mas, se uma teologia da educação
cristã não incluir a necessidade de organização ou sistematização, teríamos
que suprimir algumas passagens bíblicas, como Efésios 4.12, por exemplo.
Sabemos, por experiência, que quando algo é organizado, a proba
bilidade de êxito é maior. Isso é verdade no mundo comercial, é uma
norma pedagógica, e o próprio Deus providenciou um sistema organi
zado para o funcionamento da igreja.
Se o principio de organização é bíblico, não temos que lutar contra
ele, Devemos usar a organização como meio de tornar mais fácil e efici
ente a função educacional da igreja. A organização de nenhuma forma
substitui a obra do Espírito Santo em mudar as atitudes e influenciar
os pensamentos dos homens. Além disso, o Espírito Santo nos toca mais
facilmente quando tudo está em ordem e nosso espirito e mente não ficam
distraídos pela desordem que prevalece em nossa vida. Deixemos que
a organização desempenhe seu papel na instrução do povo de Deus, e
permitamos que o Espirito Santo use a organização como veiculo através
do qual nos possa ensinar.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda âs seguintes perguntas:
]. Por que não se deve usar a expressão: “a teologia da educação
cristã”?
2. Mencione vários sentidos em que se usa a palavra "teologia".
3. Segundo sua própria compreensão, avalie a definição de teologia
dada por Humphreys.
4. Como é que fazemos teologia?
5. Como você definiria “teologia da educação cristã”?
6. Em que sentido o Shemá era a base do sistema educacional
hebreu/judaico?
7. Qual o contexto histórico em que foi manifesto o Shemá?
8. Concorda com a declaração: “Encontramos no Shemá uma
prefiguração da metodologia de Jesus”? Explique a resposta.
9. Mencione três princípios educacionais encontrados no Shemá,
segundo Richards.
10. Que significavam interiormente os sinais externos do uso da
mezuzá e dos filactérios?
11. A que se refere a “interiorização da Palavra de Deus"?
I 15
12. Quais as características que tornam o lar um bom ambiente
para a transmissão de verdades espirituais?
13. Qual a relação da mezuzá com o Shemá ?
14. Descreva o súdito do reino de Deus, segundo Lucas 6.38-41,
e indique a relação dessa descrição com o ensino cristão.
15. Quais as três conclusões principais que se tiram de Lucas 6.40
quanto a uma teologia da educação cristã?
16. Baseado em Efésios 4.12, em que sentido o ensino espiritual
é evolutivo?
17. Quais as cinco áreas de implicações teológicas para a educação
cristã analisadas neste capitulo?
18. Que significa “deve viver a Palavra’?
19. De que modo o novo crente aprende as práticas da igreja?
20. Como o culto doméstico afeta o nível espiritual da igreja?
21. Mencione três coisas que sua igreja esteja fazendo para criar
um ambiente familiar em suas atividades de educação.
22. O que significa “contextualização”? Que tem a ver com a
educação cristã?
23. Como os hebreus/judeus contextualizavam seus ensinamentos
espirituais?
24. Qual o duplo significado do princípio do discipulado?
25. Em sua opinião, qual a necessidade de organização do programa
educacional da igreja?
117
Capítulo 12
LIMA FILOSOFIA ADEQUADA
PARA A IGREJA
Introdução
Alguém poderia perguntar: por que uma filosofia da educação
cristã, quando já temos uma teologia? Vimos que teologia é pensar sobre
Deus. Filosofia é “amor á sabedoria”. Todo educador precisa desenvolver
uma filosofia pessoal da educação, ou seja, um modo sábio que o conduza
á prática de seus conhecimentos sobre educação. Se for um educador
cristão, esta filosofia pessoal será influenciada por aquilo que pensa sobre
Deus.
Alguns educadores não entendem a relevância do estudo da filo
sofia para a obra cristã. Pensam que a filosofia não é prática, que è
abstrata, ou que é um estudo muito intelectual. Um estudo relativamente
profundo da filosofia clássica, porém, ajuda o educador a ampliar os hori
zontes de sua compreensão do mundo e do significado da vida. O estudo
da filosofia da educação mostra o que é a educação, de que maneira nos
afeta e como fazemos educação.
Neste capítulo, não temos por objetivo fazer um estudo profundo
da filosofia da educação. Demandaria muito tempo e teria de ser um
estudo seletivo, pois se trata de campo muito vasto. Queremos apenas
abordar de modo panorâmico algumas das filosofias educacionais clás
sicas, para podermos compreender, ainda que superficialmente, o que
alguns educadores, através dos séculos, têm pensado sobre a educação
e suas funções. Mas, para que este estudo simples não seja um mero exer
cicio acadêmico, falaremos também das implicações de cada filosofia para
o ministério educacional da igreja. Com base nesse estudo, e relacionado
com a teologia que apresentamos no capitulo anterior, sugeriremos, poste
riormente, uma filosofia educacional que consideramos adequada à igreja
contemporânea.
Uma das dificuldades em começar o estudo da filosofia da educação
é que existem muitas maneiras — métodos, esquemas etc — de se
sificar as idéias filosóficas que buscam explicar a educação. Se formos
pesquisar nos livros de filosofia da educação, provavelmente encontra
remos um esquema de classificação mais ou menos assim:
Filosofias Clássicas
Idealismo
Realismo
Pragmatismo
Filosofias Contemporâneas
Ferenalismo
Progressivismo
Essencialismo
Reconstrutivismo
ou talvez assim:
Idealismo
Realismo crítico
Teismo dualista
Empirismo lógico
Existencialismo
Filosofia analítica
Experimentalismo
Outros esquemas talvez incluíssem uma espécie de combinação
das classificações acima indicadas. Outros mais, ainda, apresentariam
uma perspectiva diversa para descrever a filosofia educacional, e seu
quadro incluiria as seguintes categorias:
Liberal
Humanista
Progressivísta
Radical
Analítica
Muitas outras classificações poderiam ser mencionadas. Muito
confuso, não é verdade? Isso mostra o quanto a filosofia da educação
é um assunto complexoe, por causa das inúmeras teorias existentes, não
se pode considerá-la uma ciência exata.
O esquema que vamos adotar neste capítulo, para termos uma idéia
das filosofias tradicionais da educaçào, é o seguinte:
Idealismo
Realismo
Neotomismo
Pragmatismo
Existencialismo
120
Evidentemente, não poderemos estudar esses lemas em profundi
dade; mas uma breve abordagem de cada um deles nos ajudará a entender
por que a educação tem sido feita nos moldes em que se desenvolveu.
1 CINCO ESCOLAS FILOSÓFICAS TRADICIONAIS
Idealismo: Resumo
130
Quinta Parte
BASES ORGANIZACIONAIS
DE UM PROGRAMA
EDUCACIONAL PARA A IGREJA
Capítulo 13
FATORES NO PLANEJAMENTO DE
UM PROGRAMA EDUCACIONAL
5 INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS
Tudo o que foi sugerido quanto a agrupamentos vai depender das
instalações e mobiliário à disposição da igreja. Nas igrejas batistas e
algumas outras evangélicas do Brasil, a realidade é bem diferente do ideal.
A economia é fator determinante na construção ou instalação de
ambientes adequados para o ensmo eficiente.
Como meta para o planejamento, no entanto, falemos do ideal.
Segundo Dobbins (em Graendorf. p. 298), o espaço ideal para a educação
formal na igreja deve incluir os seguintes aspectos: Maternais devem dispor
de berços, colchões e outros utensílios, em sala completamente separada
dos lugares onde os pais se reúnem. O ambiente deve ser tal que os pais
141
não tenham receio de deixar ali os seus filhos. As crianças das- classes
de Jardim de Infância e Pré-Escolar precisam de um espaço relativa
mente grande e aberto, onde possam respirar ar puro e ter movimentos
livres nas atividades para eles planejadas (aproximadamente l,50mJ por
criança). São crianças de uma idade inquieta, não se pode esperar que
fiquem sentadinhas e bem comportadas durante todo o tempo da aula.
Os Escolares I devem estar em salas amplas, suficientemente espa
çosas para permitir atividades de grupos grandes etou a divisão em grupos
menores para a realização de algumas atividades. Os meninos nessa idade
não se incomodam muito com o barulho que possa haver, causado por
vários grupos trabalhando no mesmo ambiente.
Escolares II e Adolescentes agem melhor em salas menores, onde
possam sentar-se para estudar com maior tranqüilidade. É conveniente
que existam mesas e»u cadeiras onde possam ficar bem acomodados
enquanto estudam a Palavra, talvez de lápis e caderno à mão.
Jovens e Adultos são mais flexíveis quanto ao lugar de reunião,
mas, de qualquer modo, precisam de salas cômodas, tanto para grupos
maiores quanto para classes menores.
Em todas as situações, os móveis são importantes. O uso de cadeiras
ou bancos individuais, em todas as idades, é melhor que o uso de carteiras
ou bancos corridos, pela simples razão de poderem ser movimentados,
oferecendo, portanto, maior flexibilidade. Um professor que queira criar
um ambiente familiar em sua classe poderá fazê-lo mais facilmente arru
mando cadeiras em círculo do que com carteiras dispostas em fileiras.
Se a classe tem entre 6 e 10 alunos, uma mesa ao redor da qual os alunos
possam sentar será excelente para o ensino. Em geral, nossas classes são
maiores em função de nossas igrejas não disporem de uma estrutura mais
completa para educação religiosa,
A classe deve ter um quadro-negro e objetos como giz, lápis, carto
linas, tesouras e marcadores, que se façam necessários. As classes dos
pequeninos devem ter jogos atou brinquedos, materiais coloridos e objetos
atrativos que os ajudem a se sentir alegres e felizes.
Talvez sua igreja não disponha de muitas dessas coisas. É provável,
até, que tenha paredes de taipa, piso de chão batido e bancos feitos de
troncos. Não desanime. Essas coisas, tanto quanto possível, deverão ser
providenciadas. O mais importante, porém, é que a Palavra seja ensinada
da melhor maneira possível; que cada igreja se esforce no sentido de
oferecer a seus alunos a melhor educação possível e que seja criativa
com o que tem à sua disposição, para que seu programa educacional agrade
a Deus. O que agrada a Deus é o nosso melhor esforço, seja este uma
sala de pau-a-pique, com alunos sentados no chão, seja um edifício de
142
quatro andares com cadeiras dobradiças e equipamento eletrônico de
última geração.
5 CURRÍCULO
O currículo deve centralizar se na Bíblia, sem exceção. Deve ser
um currículo que forneça informação e dados cognitivos, mas prático
e aplicável à vida diária. Um curriculo que se preste a métodos de ensino
que favoreçam a participação ativa dos alunos. E, mais do que isso, um
curriculo cujo propósito por excelência seja a transformação de vidas.
Há vários tipos de currículos de educação religiosa. Alguns são
preparados por um sistema em que todas as classes da escola dominical
estudam o mesmo tema. Outros prevêem para estudo na escola dominical
o mesmo texto bíblico, mas com diferente enfoque ou tema para cada
grupo. Outros, ainda, são currículos abertos, apresentando vários temas,
e o aluno, não importa sua idade, pode escolher o assunto que deseja
estudar. Existem, além disso, currículos mais ou menos radicais em sua
metodologia, porque quebram alguns preceitos conservadores quanto
às características de uma educação religiosa. Os educadores que promovem
esses sistemas radicais procuram relacionar seus currículos verdadeira
mente com sua teologia e filosofia da educação, e com eles poderíamos
aprender bastante. Infelizmente, porém, um estudo mais profundo dessas
idéias extrapola os limites do presente livro.
A igreja pode escolher o tipo de currículo que lhe convenha. Não
havendo literatura disponível para o tipo de curriculo que deseja oferecer,
pode preparar seu próprio material, se houver pessoas qualificadas na
igreja para fazê-lo. Todavia, é mais fácil usar a literatura já elaborada.
No próximo capítulo analisaremos um currículo e sua respectiva litera
tura. Vamos estudar o que a JUERP e outras instituições oferecem e
como se pode usar esse material na igreja local.
Perguntas para revisão
Depois de ler o texto, responda ás perguntas seguintes:
1. Quais as duas situações paradoxais quanto ao papel do pastor
na administração da educação cristã?
2. Ror que é importante que o pastor estude princípios educacio
nais?
3. Ftor que a pregação é insuficiente para o ensino completo na
igreja?
143
4. Por que o pastor que procura fazer tudo sozinho na igreja se
coloca em desvantagem?
5. Faça uma lista das responsabilidades de um superintendente
ou diretor de escota dominical.
6. Faça uma lista das responsabilidades que sua igreja espera que
o superintendente ou diretor da escola dominical cumpra.
7. Quais são algumas das perguntas que a igreja deve formular
em seu planejamento educacional?
8. Mencione cinco razões pelas quais se devem analisar as neces
sidades educacionais da igreja.
9. Sua igreja poderia se beneficiar com as atividades de uma
comissão de educação? Explique por quê.
10. Em sua opinião, se temos o Espírito Santo que nos guia em
toda a obra, por que é necessário planejar9
11. Conhece algum ministério educacional próprio para grupos
minoritários numa igreja evangélica? Se conhece, descreva-o
sucintamente.
12. Existem pessoas em sua igreja numa dessas categorias de grupo
minoritário? Cegos; surdos-mudos; analfabetos; pessoas que não
falam a língua portuguesa; pessoas presas ao leito ou em cadeira
de rodas; deficientes mentais. Seria possível à sua igreja desen
volver um ministério especial para essas pessoas dentro do seu
programa educacional? Explique de que modo.
13. Fbr que não é recomendável a seleção de pessoal por um método
casual?
14. Explique sucintamente o processo seguido por uma comissão
de indicação.
15. Neste capítulo sugerimos uma alternativa à tarefa tradicional
da comissão de indicação. Avalie essa alternativa à luz da reali
dade de sua igreja.
16. Qual o propósito da orientação inicial do pessoal envolvido no
programa educacional da igreja?
17. Se sua igreja promove reuniões regulares para seus obreiros,
quais são os benefícios decorrentes dessas reuniões? Se não as
tem, como ajudaria seu programa se começasse a tê-las?
18. Quais são as vantagens de usar cadeiras ou bancos individuais
em vez de carteiras ou bancos corridos nas classes de escola
dominical?
14-4
Temas para discussão
1. Que relação existe entre planejamento, avaliação, recrutamento
e treinamento e a teologia da educação que uma pessoa adota?
Que relação tem este assunto com a filosofia educacional da
pessoa?
2. Quais as relações existentes entre agrupamentos de classes,
espaço e instalações e a base psicológica da educação cristã?
3. Que relação deve existir entre o currículo e as bases socio-
culturais das igrejas no Brasil?
4. Que mudanças poderiam ser feitas em sua igreja, de acordo
com suas possibilidades econômicas, que representassem melhor
uso do espaço e das instalações que possui? Se você acha que
essas mudanças ajudariam no programa educacional, procure
conversar com os líderes de sua igreja para verificar a possi
bilidade de serem realizadas as mudanças que forem necessárias.
145
Capítulo 14
MATERIAIS EDUCATIVOS*
1. PANO RAM A DA LITERATURA DO S BATISTAS
Há muitas opiniões divergentes entre educadores sobre a pergunta:
em que consiste um currículo? Alguns dizem que o currículo é o conteúdo
daquilo que se ensina formalmente a um aluno. Outros afirmam que
o currículo é qualquer instrumento usado por uma instituição para, de
alguma forma, transformar seus alunos. Alguns argumentam que o curri
culo é o texto ou textos usados como recursos de onde se extraem
informações e dados, enquanto que outros acham que os materiais escritos
são apenas instrumentos utilizados ou não no currículo. Para alguns o
currículo é um sistema estruturada que serve a um programa educacional,
por determinado tempo. Para outros, é mais geral, incluindo o diálogo,
as interações interpessoais e o contexto cotidiano; coisas presentes num
processo continuo da formação de uma pessoa.
Tal ve/ fosse interessante passar algum tempo especulando sobre
estes conceitos, suas implicações e ramificações. O campo de estudo dos
conceitos curriculares é muito interessante, e o educador cristão deve
estender seu conhecimento e visão educaciona l examinando o que dizem
os especialistas em educação.
As igrejas precisam de um currículo para o ensino da Bíblia, mas
não tão acadêmico como o de um colégio ou de um instituto bíblico. Um
currículo usado na igreja deve atender a todas as necessidades dos seus
membros. Deve tornar possível a aprendizagem sobre a Bíblia e sobre
Deus, mas deve também tornar possível a interiorização dos princípios
da Bíblia e a transformação das pessoas através do conhecimento pessoal
de Deus,
O processo de ensino-aprendizagem do programa educacional da
igreja local deve incluir o estudo da Bíblia, até mesmo seu estudo cien
tífico. Mas esse processo deve abranger muito mais do que o mero estudo
da Palavra. Deve estimular os seus participantes a porem em prática diária
’ Este capitulo recebeu material adicional c sofreu adaptações substanciosas feitas por
Josué Ebenén t de Sousa Soares (Coordenador do Departamento de Publicações
ftriódicas da JVERPt, a fim de adequar-se à realidade brasileira.
147
os ensinos bíblicos, a serem transformados diariamente por aquilo que
estão aprendendo através do sistema educacional da igreja. Tudo o que
se disse nas lições anteriores aponta para este fato; as bases bíblicas, teoló
gicas, filosóficas e socioculturais indicam que a educação cristã deve ser
uma educação integral, que atinja o indivíduo em todos os aspectos de
sua vida.
Ao publicar material educacional para uso das igrejas, as editoras
de literatura cristã obedecem aos seus próprios conceitos de currículo.
Rir isso, alguns materiais dão ênfase aos conhecimentos bíblicos, enquanto
outros destacam a aplicação dos seus princípios.
No ano de 1988 surgiu na JUER P. a editora que produz a maioria
da literatura de educação religiosa utilizada pelos batistas e outras deno
minações, o desejo de uma reformulação de seu currículo com vistas
a um melhor atendimento às necessidades das igrejas. Para tanto foi cons
tituído um grupo de trabalho composto de 40 pessoas envolvidas com
a educação religiosa, que, após vários estudos, apresentaram um
documento, aprovado na 70a Assembléia Anual da Convenção Batista
Brasileira, em Fortaleza, Ceará.
Por outro lado, esta mesma assembléia convencional incumbiu o
Conselho de Planejamento e Coordenação da CBB de realizar: “Um sério
estudo quanto aos programas das organizações para as faixas etárias de
juniores, adolescentese jovens, cada uma, respectivamente, formulando
proposta-opção para as igrejas que desejam ter apenas uma organização
para cada uma dessas faixas etárias de modo a atender às ênfases missio
nárias e de treinamento'’. (Livro do Mensageiro da 71? Assembléia da
CBB — Belo Horizonte — MG, 1990, p. 53).
Tal estudo se fez necessário em função da estrutura atual de
educação religiosa da CBB. Por esta estrutura existem várias organiza
ções batistas que têm programa e editam literatura destinada à educação
religiosa das igrejas. São elas: JUERP, JUMOC, UFMBB e UMMBB.
O que estava acontecendo é que várias dessas organizações publicavam
material destinado à mesma faixa etária, o que gerava um acúmulo de
organizações, principalmente para as faixas ESCOLAR II e ADOLES
CENTES.
A eoordenadoria de Educação Religiosa do Conselho apresentou
uma proposta para resolver o problema de excesso de organizações nas
faixas ESCOLAR II e ADOLESCENTES, que foi aprovada em Belo
Horizonte (1990). Segundo esta proposta, os segmentos etários de 9 a
12 anos (ESCOLAR II) e de 13 a !7 anos (ADOLESCENTES) tiveram
uma equiparação curricular no que tange às ênfases dc Missões e Trei
namento. Desse modo, as revistas Mensageiras do Rei, O Embaixador,
148
Vivendo-Treinamento e Diálogo e Ação passaram a ter um currículo abran
gendo tanto missões quanto treinamento. Assim sendo, a igreja pode optar
entre ter as organizações de Embaixadores do Rei e Mensageiras do Rei
ou ter apenas União de Juniores, O mesmo sendo verdade para a faixa
etária de adolescentes. A igreja é que faz a opção, não precisando, neces
sariamente, ter as três organizações. Dessa forma, a denominação
continuará oferecendo os programas e as literaturas apropriadas paras
estas faixas etárias, sendo que caberá à igreja adequá-los a sua realidade.
Segundo a proposta de organograma aprovada pela Assembléia
Anual de Belo Horizonte, o Departamento de Educação Religiosa da
igreja será estruturado em duas divisões; Divisão de Escola Biblica
Dominical e Divisão de Crescimento Cristão. Para cada uma destas
divisões existe uma série de publicações objetivando alcançar as diversas
faixas etárias.
O programa geral de educação religiosa da Convenção Batista Brasi
leira está dividido em duas partes principais, como vimos. O programa
de estudo bíblico atende a Divisão de Escola Bíblica Dominical. O
programa de Crescimento Cristão atende a Divisão de Crescimento
Cristão, que é um programa complementar que se realiza no horário antes
destinado às uniões de treinamento. A metodologia sugerida pelos mate
riais didáticos inclui instrução em três áreas gerais de ensino da psicologia
educacional, atendendo as várias necessidades do aluno.
O programa de Crescimento Cristão foi elaborado com o propósito
de ajudara igreja a preparar cada pessoa para que descubra, desenvolva
e use seus dons nas oportunidades de serviço que o Senhor lhe ofereça.
É um programa prático que ajuda o participante no programa de estudo
biblico a tornar pragmática sua aprendizagem.
Além desses dois programas principais, há literatura para novos
convertidos, Escola Bíblica de Férias, estudos especiais etc.
2. RESUMO DA LITERATURA EXISTENTE
O PROGRAMA DA Dl VISÃO DE ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL
Maternal
Para os professores de crianças da faixa de 0 a 2 anos, a JUERP
oferece a revista BRINCANDO. É uma publicação trimestral, que oferece
três unidades de estudo, abrangendo os 13 domingos do trimestre. Explica
como se pode organizar o trabalho desta faixa etária, para que a hora.
ou as horas, da escola dominical seja(m) um tempo de aprendizagem para
os pequeninos e nâo um simples berçário onde as crianças são confi
nadas enquanto os pais assistem às suas classes.
149
Cada unidade de estudo contém várias lições. Cada lição está divi
dida eni duas partes principais: uma, orientada para atividades fisicas
(sempre relacionada com a lição), e outra, denominada Sessão Prolon
gada, que acontecera no período em que os pais assistem ao culto.
A primeira parte, voltada para atividades físicas, será desenvolvida
em diversos centros instalados na sala. São eles: Centro de Blocos, Centro
do Lar, Centro de Livros. Centro de Joguinhos, Centro da Natureza e
Centro de Artes. As crianças desta faixa etária nào se concentram com
facilidade. Assim os professores devem aproveitar as oportunidades que
surgirem nos diversos centros para contar a história da lição e cantar
corinhos que reforcem o tema.
A Sessão Prolongada oferece oportunidade de ida ao banheiro,
lanche para as crianças, descanso e repetição das atividades do dia como
reforço á aprendi/agem.
Os professores desta faixa etária ainda contam com dois excelentes
recursos para a sua aula: o Suplemento Didático e o Suplemento Didá
tico Complementar. Estes suplementos trazem ilustrações, histórias,
cânticos e jogos que enriquecem as aulas no trimestre.
Jardim de Infância
Para as classes de crianças de 3 e 4 anos, existe a revista CRES
CENDO. em forma de conjunto de folhas de trabalho avulsas, para as
crianças utilizarem a cada domingo. Estas folhas trazem basicamente
dois recursos: a história do domingo e uma atividade prática para as
crianças. A folha é recheada de ilustrações, que a criança irá colorir e
levar para casa.
Trata-se, também, de uma publicação trimestral que se subdivide
em três unidades abrangendo os 13 domingos do trimestre. As atividades
para as crianças .são simples, tais como pintar, desenhar e relacionar idéias.
São atividades que ajudam no desenvolvimento físico, inental e intelec
tual da criança, ao mesmo tempo que integra conceitos espirituais à sua
vida.
Os professores deste grupo têrn a seu dispor um guia que lhes indica
a melhor maneira de usar as folhas de trabalho ordenadamente, para
que sirvam de instrumento de aprendizagem e não como meras ativi
dades para preencher o tempo. Este guia é a Edição do Professor da revista
CRESCENDO, que traz orientações diversas para o trabalho em classe.
Esse trabalho está dividido em duas etapas: Atividades nos Diversos
Centros: Centro do l^r. Centro de Livros, Centro de Blocos, Centro de
Jogos. Centro de Artes; e Reunião em Conjunto. É. nesta reunião em
conjunto que os cânticos, as orações e a história bíblica estarão em
150
evidência e as crianças serão orientadas a uma disciplina de convívio
com o grupo.
Os professores desta faixa etária contam com os seguintes recursos
para a melhoria da aula: Suplemento Didático e Suplemento Didático
Complementar; que trazem histórias, ilustrações, cânticos e jogos para
uso no decorrer do trimestre.
Prè-Escolar
As classes de crianças de 5 e 6 anos possuem a revista CAMI
NHANDO, de periodicidade trimestral, contendo 13 lições dominicais
divididas em irês unidades de ensino. As atividades para estas crianças
continuam simples, exigindo pouco delas, pois ainda estão em fase pré-
-escolar, iniciando-se no conhecimento das letras e das palavras. Pintar,
desenhar e relacionar idéias são algumas das atividades que as crianças
serão estimuladas a desenvolver, sempre relacionadas a um conteúdo
bíblico.
A revista CAM INHANDO é oferecida com as lições ern folhas
duplas avulsas Isem grampo) para que o professor possa entregar aos
alunos no dia da aula. Vejam bem que este método é diferente das outras
faixas em que o aluno leva a revista para casa. Neste caso, a criança só
terá contato com o tema da lição, as atividades e ilustrações quando a
professora entregar-lhe o material no domingo. A idéia por trás deste
novo conceito é tornar as aulas mais dinâmicas pelo fator novidade e
dar aos pais a tarefa do reforço da aprendizagem já que as crianças rece
berão o material trabalhado em classe, inclusive a lição da revista, para
levar ao lar.
Os professores deste grupo tem como recurso para um melhor
preparo do ensino a Edição do Professor, que vem em separado e não
em forma de encarte na revista do aluno como antes. Esta edição apre
senta ao professor o objetivo da lição, propõe-lhe uma reflexão pessoal
e tem pequeno comentário bíblico sobre a lição do domingo. A parte
de atividades sugere as músicas a serem cantadas e as atividades em can
tinhos e reuniões em conjunto.
Estas Atividades em Cantinhos seguem a idéia dos diversos cen
tros apresentados nas faixas etárias menores, com alguns aperfeiçoa
mentos: Cantinho de Artes. Cantinho de Música, Cantinho de Blocos
e Cantinho de Jogos.
Como recurso adicional, os professores desta faixa etária dispõem
do Suplemento Didático com jogos, histórias e ilustrações relativos aos
temas do trimestre.
151
Escolar 1
Temos AP REN DEN DO, para crianças de 7 e 8 anos e seus profes
sores. Como para todas as idades, alé para os adultos, o material consiste
sempre de revista do aluno e edição do professor. A revista do aluno para
esta idade não é muito diferente da que se usa para os pré-escolares. A
diferença principal é que estas crianças, já como escolares, têm que exer
cer suas novas habilidades de ler, escrever e fazer contas, para realizar
algumas atividades.
A edição do professor de APRENDENDO leva o mestre passo
a passo através da lição, seguindo atividades introdutórias, músicas, me
morização de versículos e projetos especiais. Também oferece as etapas
para a Reunião em Conjunta, quando as crianças receberão o ensino
através dos cânticos e da história bíblica. Para o seu preparo em casa,
o professor dispõe de reflexão, comentário bíblico e roteiro da aula.
Outro recurso que o professor dispõe é o Suplemento D idático com
ilustrações e jogos que enriquecerão o trimestre.
Escolar II
152
No quadro abaixo podemos observar o currículo para o Departa
mento de Escolar II:
168
Capítulo 15
RESUMO E CONCLUSÕES
176
"A obediência ao mandamento bíblico de ensinar
è vital para a sobrevivência da igreja. O valor da
educação dos crentes no movimento evangélico na
América Latina é inestimável. Um pesquisador desco
briu cinco fatores de crescimento nas igrejas
evangélicas da América Latina, um dos quais é um
forte programa de educação cristã."
Com esta afirmação, o autor procura estabelecer
desde o princípio que a educação cristã não é uma
hora de entretenimento cada domingo, mas um
programa integral da igreja que fará a grande diferença
em seu ministério.
Por essa razão, neste estudo se desenvolvem as
bases imprescindíveis para um programa educativo
sério nas igrejas locais. Analisam-se as bases bíblicas,
históricas, sócio-culturais, psicológicas e organiza
cionais da educação cristã. Não se tratade um estudo
meramente teórico; há uma referência permanente
à vida prática das igrejas em que o autor experimentou
os princípios expostos nesta obra.
Eis, pois, um livro de leitura necessária para aqueles
que buscam um modelo sério para a educação cristã,
no programa de crescimento integral de suas igrejas.