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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 311.712 - SP (2014/0330939-8)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR


IMPETRANTE : FAHD DIB JUNIOR
ADVOGADO : FAHD DIB JUNIOR - SP225274
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA
EMENTA
HABEAS CORPUS . RECONHECIMENTO DE LITISPENDÊNCIA.
IMPUTAÇÃO DO MESMO FATO DELITUOSO EM AÇÕES PENAIS
DISTINTAS. PROCEDÊNCIA.
1. Evidenciado que as ações penais intentadas na Seção Judiciária
de Mato Grosso e na Seção Judiciária de São Paulo tratam de fatos
delituosos idênticos, embora com maior abrangência na primeira, há
que se reconhecer a litispendência entre os feitos.
2. Ordem concedida para determinar a exclusão do paciente do polo
passivo da Ação Penal n. 0008460-28.2007.4.03.6105, da
Subseção Judiciária de Campinas/SP, sem prejuízo do
prosseguimento do feito com relação aos demais réus, devendo ser
remetida cópia dos autos ao Juízo da 7ª Vara Federal de
Cuiabá/MT, para que decida sobre eventual apensamento.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, por unanimidade, conceder a ordem nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro,
Antonio Saldanha Palheiro e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o
Sr. Ministro Relator.
Sustentou oralmente o Dr. Fahd Dib Junior pelo paciente,
Rubeneuton Oliveira Lima.
Brasília, 20 de fevereiro de 2018 (data do julgamento).

Ministro Sebastião Reis Júnior


Relator

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HABEAS CORPUS Nº 311.712 - SP (2014/0330939-8)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR: Em razão de


supostas irregularidades no Convênio n. 2.292/2003, do Ministério da Saúde
com a Casa do Caminho de Indaiatuba/SP, Rubeneuton Oliveira Lima foi
denunciado, perante a 1ª Vara Federal Especializada da Subseção Judiciária
de Campinas/SP, como incurso nos arts. 288 e 317 do Código Penal, e 89,
parágrafo único, da Lei n. 8.666/1993 (Autos n. 0008460-28.2007.4.03.6105).

Pretendendo o reconhecimento da ocorrência de litispendência com


processo em curso na 7ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Cuiabá/MT,
após o improvimento da exceção oposta no Juízo de origem, impetrou-se no
Tribunal Regional Federal da 3ª Região o HC n. 0024231-81.2014.4.03.0000,
tendo a ordem sido denegada, nos termos desta ementa (fl. 28):

PENAL. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. DELITOS DOS


ARTS. 317 DO CÓDIGO PENAL E 89 DA LEI N. 8.666/93. ATO
COATOR. DECISÃO QUE NÃO RECONHECE LITISPENDÊNCIA.
1. Nos autos originários, Ação Penal n. 0008460-28.2007.403.6105,
em trâmite perante a 1a Vara Federal Especializada da Quinta Subseção
Judiciária de Campinas (SP), o paciente foi denunciado pela prática, em
tese, dos delitos do art. 89, parágrafo único da Lei n. 8.666/93 e arts. 288
e 317, c.c. o art. 69, todos do Código Penal. Rubeneuton Oliveira Lima,
então Deputado Federal à época dos fatos, recebeu oferta de vantagem
patrimonial indevida para apresentação de emenda parlamentar ao
orçamento da União que destinasse recursos públicos federais à Casa do
Caminho de Indaiatuba (SP) para aquisição, sem licitação, de ambulância
superfaturada, ao que sucedeu a efetiva celebração do Convênio n.
2.292/03 da União Federal, contemplando a referida entidade, objeto da
denúncia (cfr. fls. 36/44).
2. Na Ação Penal n. 2007.36.00.004380-5, em curso perante a 7a
Vara Federal Criminal de Cuiabá (MT) é narrada a atuação de
organização criminosa, formada por grupo empresarial voltada à
apropriação de recursos públicos preponderantemente originários de
emendas parlamentares, mediante superfaturamento de preços e
manipulação de certames licitatórios destinados à aquisição de unidades
móveis de saúde em diversos municípios brasileiros, sendo Rubeneuton
denunciado pela prática, em tese, dos delitos dos arts. 288 e 317, § 1º,
ambos do Código Penal, art. 1o, V e VII, da Lei n. 9.613/98 e art. 90 da Lei
n. 8.666/93, c. c. os arts. 29 e 69, ambos do Código Penal (cfr. fls. 51/65).
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3. Ordem de habeas corpus denegada.

Sobreveio, então, este habeas corpus , no qual se reitera a tese de


litispendência com processo anteriormente distribuído.

Sustenta-se que a exordial acusatória ofertada pelo Representante


do Ministério Público Federal oficiante em Campinas-SP apoia-se no mesmo
suporte fático atribuído na ação penal que tramita perante a 7ª Vara Federal
de Cuiabá-MT (fl. 3). Argumenta-se, nesse sentido, que, no que diz respeito
aos fatos articulados no feito processual de Campinas-SP, referente ao
convênio nº 2.292/03, entre o Ministério da Saúde e a Casa do Caminho de
Indaiatuba/SP, tal fato encontra-se relacionado na denúncia ofertada perante
o r. Juízo Federal Criminal de Cuiabá-MT, e vem sendo exaustivamente
debatido no curso da instrução probatória (fl. 15).

Requer-se, em liminar, a suspensão do andamento da Ação Penal


n. 0008460-28.2007.4.03.6105 e, no mérito, o encerramento do feito, apenas
em relação ao ora paciente, com a remessa dos autos para a Sétima Vara
Federal Criminal de Cuiabá-MT, devendo ser apensado ao feito processual n.
2007.36.00.004380-5 (fl. 23).

Indeferi o pedido liminar.

Depois de prestadas informações, os autos seguiram ao Ministério


Público Federal, que opinou nos termos do parecer assim resumido (fl. 173):

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. INCOMPETÊNCIA.


PRECEDENTES DO STJ. NÃO CONHECIMENTO. LITISPENDÊNCIA.
ART. 110 DO CPP. INEXISTÊNCIA DE IDENTIDADE FÁTICA ENTRE
OS FATOS DESCRITOS NAS AÇÕES PENAIS EM TRÂMITE PERANTE
JUÍZOS DISTINTOS.
– 1ª Preliminar: não conhecimento de habeas corpus originário,
substitutivo de recurso ordinário/especial.
– 2ª Preliminar: conhecimento de ofício; impossibilidade, ausência de
competência.
– Precedentes: STJ (HC 245.731/MS; HC nº 248.757/SP).
- Mérito: inexistência de identidade fática entre os fatos descritos nas
denúncias das duas ações penais; ausência de litispendência.

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- Parecer, em preliminar, pelo não conhecimento deste habeas corpus.

É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (RELATOR):


Da atenta análise dos presentes autos, verifica-se que, de fato, o paciente foi
denunciado duas vezes em razão da prática dos mesmos fatos delituosos.

Na Ação Penal n. 2007.36.00.004380-5, da Subseção Judiciária de


Cuiabá/MT, cuja denúncia foi apresentada em 23/8/2007, o Ministério Público
federal imputou as seguintes condutas ao acusado (fls. 74/85 – grifo nosso):

[...]
RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA, com vontade livre e consciente,
associou-se de forma estável e permanente com propósito de praticar
crimes, bem como solicitou e recebeu, para si, direta e indiretamente, em
razão da função parlamentar, vantagem indevida e, ainda, ocultou e
dissimulou a natureza, origem e localização de valores provenientes de
crime praticado por organização criminosa e contra a Administração
Pública.
O denunciado, ainda, induziu e determinou, a frustração, mediante
ajuste e combinação, do caráter competitivo de vários procedimentos
licitatórios realizados em municípios do Estado de São Paulo, com o
intuito de obter, para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do
objeto da licitação.
Constam do presente caderno informativo contundentes provas da
associação do denunciado RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA com a
organização criminosa desarticulada pela denominada "Operação
Sanguessuga".
Como integrante dessa quadrilha, especializada na apropriação de
recursos públicos preponderantemente originários de emendas
parlamentares direcionadas para a área da saúde, mediante
superfaturamento de preços e/ou inexecução parcial dos ajustes,
decorrentes da manipulação de certames licitatórios destinados à
aquisição de unidades móveis de saúde em diversos municípios
brasileiros, cabia ao denunciado, na condição de deputado federal,
propor emendas parlamentares ao orçamento geral da União, com
vistas a obter e direcionar as verbas necessárias à realização da
fraude.
Nesse passo, cumpre proceder a uma análise geral do modus
operandi adotado pela organização criminosa, e após enfatizar a conduta
do denunciado, essencial à garantia de sucesso da atividade criminosa.
[...]
Da análise da trajetória percorrida pelos recursos públicos
fraudulentamente amealhados pela quadrilha, depreende-se que o
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esquema para tanto concebido perpetuou de forma linear por mais de
cinco anos. Durante referido lapso temporal foram aplicadas semelhantes
fraudes, cujo "trâmite" segmenta-se em cinco fases distintas, a saber:
[...]
Com a anuência do prefeito, tem início, então, a segunda fase: a
obtenção de recursos. Então, acordava-se a confecção de emendas
parlamentares ao orçamento geral da União, com vistas à destinação
de verbas para aquisição, por Municípios e entidades diversas, de
unidades móveis de saúde. Tais verbas eram direcionas aos
Municípios, e, em alguns casos, a Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público (OSCIPs), previamente determinados pela quadrilha.
Nesta etapa, a organização criminosa contou com a participação de
dezenas de parlamentares federais e respectivos assessores, dentre
os quais o denunciado RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA, então
deputado federal.
[...]
Com esse método, a quadrilha conseguiu fornecer mais de 1.000 (mil)
unidades móveis de saúde, ao preço médio de R$ 110.000,00 (cento e
dez mil reais), movimentando recursos federais da ordem de R$
110.000.000,00 (cento e dez milhões de reais), apenas neste específico
segmento das suas atividades.
Para que tamanho esquema pudesse se estabelecer e operar
satisfatoriamente, fez-se necessária a ramificação da organização, cuja
estrutura final era composta por quatro núcleos, cada qual especializado
em determinada etapa de execução da fraude.
[...]
O quarto núcleo era o braço político da organização. É o ramo ao
qual se agregaram o denunciado RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA e
cerca de um terço de seus pares da Câmara dos Deputados,
responsáveis por garantir recursos orçamentários e canalizá-los a
Municípios e entidades de interesse do grupo. [...]
Conforme apurado no Inquérito Policial; a organização criminosa
contou com um núcleo parlamentar indispensável para a consecução de
verbas destinadas às prefeituras e às OSClP's envolvidas, possibilitando,
assim, a tais entes, adquirirem de forma superfaturada as unidades
móveis da PLANAN e outras empresas de fachada. Exatamente neste
núcleo parlamentar que figurou o denunciado RUBENEUTON OLIVEIRA
LIMA. Pois bem.
As investigações demonstraram que RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA
associou-se de forma estável e permanente à organização criminosa em
tela, cabendo-lhe a apresentação de emendas parlamentares
direcionadas a abastecer os cofres da quadrilha.
Restou apurado que, a despeito da apresentação de emendas
orçamentárias ser atividade parlamentar lícita, o denunciado
privilegiou proposições destinadas à aquisição de unidades móveis
de saúde, a fim de beneficiar a si mesmo e aos demais integrantes
da organização criminosa a que pertencia. É patente que a prática
desses atos deu-se com grave violação de deveres funcionais primários,
tais como impessoalidade e moralidade.
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Registre-se que no ano de 2002 o denunciado realizou um acordo com
a organização criminosa através do qual receberia 10% sobre o valor das
emendas destinadas para a área de saúde, para a aquisição de unidades
móveis de saúde. O denunciado e os demais políticos envolvidos, após
(ou mesmo antecipadamente) a execução de sua parte no pacto
delituoso, recebiam suas comissões pelo ilícito perpetrado.
Com efeito, no curso dos anos de 2002 a 2004, o denunciado
apresentou 05 cinco emendas na Área de Saúde, todas destinadas à
aquisição de unidades móveis de saúde ou equipamentos [...]. Referidas
emendas resultaram em 15 (quinze) Convênios, nos quais o valor total
pago sem contrapartida foi de R$ 2.727.441,00 (dois milhões e
setecentos e vinte e sete mil e quatrocentos e quarenta e um reais),
conforme informações extraídas dos documentos de fls. 154 e 451/460.
Basta um breve lanço de vistas sobre o relatório da CPMI wdas
Ambulâncias" e a planilha da Controladoria Geral da União (fls. 144/154)
para perceber que, não por acaso, a quase totalidade das licitações
co-respectivas foram vencidas por empresas integrantes da quadrilha,
quais sejam, Suprema Rio Com. de Equip. de Seg. Ltda, Planam Com. e
Rep. Ltda, Unisau Com. e Ind. Ltda, Delta Veículos Esp. e Klass Com. e
Rep. Ltda. Confira quadro sinóptico:
[...]
2003 - 36170002 - Casa do Caminho - 2292/03 - Planam Com. e
Rep. Ltda - 204/209
[...]
Até mesmo quando da execução dos Convênios n.s 2292/03 e
1845/03 os quais ocorreram à revelia de certame licitatório, as empresas
integrantes do grupo criminoso foram as responsáveis pelo fornecimento
das unidades móveis de saúde superfaturadas (fls. 154 e 456).
[...]
Em detida análise das referidas transcrições forçoso concluir que as
empresas integrantes do grupo criminoso eram responsáveis pela
execução dos Convênios gerados a partir de recursos originários de
emendas apresentadas no curso dos anos de 2002 a 2004 de
titularidade do denunciado. Verifica-se, ainda, que dados e senhas
relativos aos pré-projetos e projetos dos referidos Convênios, não por
acaso, eram possuídos pelo grupo criminoso.
[...]
O veículo, bem como os valores suso mencionados referem-se aos
pagamentos realizados em favor do ex-parlamentar, ora denunciado, a
título de "comissão", pela apresentação de emendas, destinadas à
aquisição de ambulâncias por entidades e municípios do Estado de São
Paulo. Note-se que os pagamentos ocorreram entre os anos de 2002
e 2003, época em que Neuton Lima, de fato, apresentou grande parte
das emendas destinadas à satisfazer o interesse do grupo
criminoso.
Não bastasse tais evidencias, soma-se ao exposto o depoimento
prestado por Darci José Vedoin, o qual delineou a atuação do denunciado
junto a organização criminosa. Na ocasião, afirmou que cuidou de tratar
pessoalmente com o denunciado acerca do direcionamento de emendas
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na área de saúde em benefício das empresas do Grupo Planam,
mediante pagamento de propina de 10% sobre o valor das mesmas (fls.
149 e 323).
Averba-se ainda o depoimento prestado por Luiz Antônio T. Vedoin às
fls. 145/147 e 331/333, o qual traz minucioso relato da participação do
denunciado na empreitada criminosa, corroborado por diversos
documentos, em especial pelos comprovantes de depósitos e
transferências bancárias creditados na conta corrente do próprio
denunciado e da sua assessora "Dina" (31/45 e 586).
[...]
Consoante observa-se, a conduta do denunciado efetivamente não
se limitou a solicitar ou receber propina para eventual apresentação
de emendas parlamentares destinadas aos objetivos da quadrilha. A
bem da verdade, como apurado, mostrou-se verdadeiro parceiro da
família Trevisan Vedoin, sendo que o próprio denunciado conversou
pessoalmente com os prefeitos dos municípios do Estado do Rio de
Janeiro para acertar os detalhes sobre o direcionamento das licitações,
passando informações técnicas necessárias para o direcionamento do
certame licitatório, determinando e/ou induzindo a frustração do caráter
competitivo das aludidas licitações.
O denunciado figurou como verdadeiro aliado da quadrilha, a ponto de
se poder afirmar ter agido como co-mentor intelectual dotado de função
específica, de fundamental importância para a consecução dos objetivos
ilícitos.
E mais, o denunciado RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA maquiou os
créditos oriundos da inconfessável negociata, depositando alguns valores
em conta de terceiro (assessora) objetivando disfarçar a titularidade,
dificultar a localização e ocultar a movimentação dos valores recebidos
em decorrência da atividade criminosa da quadrilha em que figurava.
Ex positis, encontra-se o denunciado Rubeneuton Oliveira Lima
incurso nas sanções dos artigos 288 e 317, § 1°, ambos do Código
Penal, artigo 1°, incisos V e VII, da Lei 9.613/98 e artigo 90 da Lei n°
8.666/93, este na forma do artigo 29 do Código Penal, aplicando-lhe as
penas em que haja incorrido cumulativamente, consoante ao que
estabelece o artigo 69 do Código Penal, razão pela qual requer este
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL seja a presente denúncia recebida e
autuada, instaurando-se a competente ação penal [...].

Já na Ação Penal n. 0008460-28.2007.4.03.6105, que tem curso na


Subseção Judiciária de Campinas/SP e cuja denúncia foi apresentada no dia
12/7/2011, o Ministério Público estadual afirmou que (fls. 65/70 – grifo nosso):

[...]
Investigações encetadas através de cerca de 70 (setenta) inquéritos
policiais instaurados no âmbito da SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO
DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL EM MATO GROSSO,
particularmente nos autos n.º 2004.36.00.001534-6 (quatro volumes e 16
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apensos digitalizados consignados na mídia magnética de fl. 90),
certificou que a organização criminosa atuou preponderantemente
com recursos provenientes de emendas parlamentares direcionadas
à área de saúde pública, notadamente programas para a compra de
ambulâncias e equipamentos hospitalares de alta complexidade.
[...]
Consigne-se, por fim, que a presente denúncia resume-se apenas à
persecução dos fatos relacionados ao Convênio n.º 2292/2003 entre
o MINISTÉRIO DA SAÚDE e a CASA DO CAMINHO DE
INDAIATUBA/SP, sendo os demais fatos narrados, inclusive o crime de
quadrilha para os denunciados DARCI JOSÉ VEDOIN, CLÉIA MARIA
TREVISAN VEDOIN, LUIZ ANTÔNIO TREVISAN VEDOIN e MARIA
ESTELA DA SILVA, objeto de denúncia própria perante a 2ª VARA
FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO MATO GROSSO.
Assim, em uma sucinta descrição dos agentes com atuação relevante
para os fatos objeto da presente denúncia:
[...]
f) RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA - vulgo "NEUTON LIMA", era
Deputado Federal no mandato 2003/2006, à época dos fatos, e aderiu de
modo consciente ao esquema, recebendo através de transferências
bancárias das contas do grupo cerca de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil
reais) e apresentado emendas para aquisição de unidades móveis de
saúde no valor total de R$ 2.497.000,00 (dois milhões, quatrocentos e
noventa e sete mil reais) para os Municípios de JARINU, INDAIATUBA,
ITAQUAQUECETUBA, PEDRA BELA, VOUPURANGA, LEME, FERRAZ
DE VASCONCELOS, BRAÚNA, MONTE MOR e para as entidades CASA
CRIANÇA JESUS NAZARÉ, LAR DE VELHOS EMMANUEL,
ASSISTÊNCIA SOCIAL ASSEMBLÉIA DE DEUS, APAE – INDAIATUBA
e CASA DO CAMINHO DE INDAIATUBA [...]
Em data ignorada, DARCI JOSÉ VEDOIN e LUIZ ANTÔNIO
TREVISAN VEDOIN, com a ciência e integral consentimento de CLEIA
MARIA TREVISAN VEDOIN, cooptaram o então Deputado Federal
RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA para o esquema de aquisição de
unidades móveis de saúde que instalaram, nos modelos descritos acima,
em âmbito nacional, prometendo valor da ordem de 10% a 15% do valor
dos recursos liberados.
[...]
A proposta objetivava a celebração de termo de convênio com o
MINISTÉRIO DA SAÚDE para aquisição de uma unidade móvel de
saúde, no valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) e utilizaria recursos
orçamentários oriundos de Emenda Individual do denunciado
RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA.
[...]
Em razão do quanto exposto, oferecendo vantagem a servidores
públicos, aceitando a promessa de vantagem para praticar atos,
dispensando indevidamente procedimento licitatório, incorreram OS
DENUNCIADOS nos crimes seguintes:
[...]
g) RUBENETOU OLIVEIRA LIMA, os crimes do art. 317 do Código
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Penal (corrupção passiva) e art. 89, parágrafo único, da Lei n.º 8.666/93
(beneficiar-se de dispensa indevida de licitação), e crime do art. 288 do
CP (quadrilha ou bando), todos em concurso material (art. 69 do CP) [...]

Vê-se que, não obstante a ressalva contida na segunda denúncia, a


providência ali proposta – persecução dos fatos relacionados ao Convênio n.
2.293/2.003 entre o Ministério da Saúde e a Casa do Caminho de Indaiatuba
(fl. 66) – já está abrangida pela primeira denúncia. Com efeito, na ação penal
em curso na Seção Judiciária de Mato Grosso, imputa-se ao paciente também
os crimes de corrupção passiva, fraude a licitação e associação criminosa,
tudo em razão da conduta de propor emendas parlamentares ao orçamento
geral da União, com vistas à destinação de verbas para aquisição, por
Municípios e entidades diversas, de unidades móveis de saúde (fl. 76), entre
as quais a do Convênio n. 2.293/2003, tal como expressamente indicado na
respectiva peça acusatória (fls. 79/80).

Observo que o fato de as irregularidades relativas ao Convênio n.


2.292/2003 não terem sido tratadas de forma específica na primeira denúncia,
mas em conjunto com semelhantes irregularidades ocorridas em vários outros
convênios, não autoriza a instauração de novo processo penal para apuração
daquela fraude em particular. Em se tratando de fatos interligados, devem ser
julgados em um mesmo contexto.

Pelo exposto, concedo a ordem para determinar que o ora paciente


seja excluído do polo passivo da Ação Penal n. 0008460-28.2007.4.03.6105,
da 1ª Vara Federal Especializada da 5ª Subseção Judiciária de Campinas/SP,
sem prejuízo do prosseguimento do processo com relação aos demais réus,
devendo ser remetida cópia dos autos ao Juízo da 7ª Vara Federal de Cuiabá,
para que decida sobre eventual apensamento.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2014/0330939-8 PROCESSO ELETRÔNICO HC 311.712 / SP


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00084602820074036105 00242318120144030000 1066232014036105


10662320144036105 200736000043805 200736000175204 200761050084600
201403000242314 242318120144030000 84602820074036105
EM MESA JULGADO: 20/02/2018

Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. CARLOS FREDERICO SANTOS
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : FAHD DIB JUNIOR
ADVOGADO : FAHD DIB JUNIOR - SP225274
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA
CORRÉU : CLÉIA MARIA TREVISAN VEDOIN
CORRÉU : DARCI JOSÉ VEDOIN
CORRÉU : LUIZ ANTONIO TREVISAN VEDOIN
CORRÉU : MARIA DE FATIMA SAVIOLI ANGELIERI
CORRÉU : MARIA ESTELA DA SILVA
CORRÉU : IZILDINHA ALARCON LINARES
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra a Administração em
Geral - Corrupção passiva

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr. FAHD DIB JUNIOR, pela parte PACIENTE: RUBENEUTON OLIVEIRA LIMA
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, concedeu a ordem de habeas corpus, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro e
Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator.

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