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Constituição da subjetividade e identidade

A subjetividade, a identidade e constituição do sujeito precisam de uma


discussão ontológica para que possam ser verdadeiramente compreendidos. Partindo de
uma perspectiva dialética de entendimento do ser humano e de suas relações sociais, é
possível apontar que a “identidade” pode ser compreendida como constituição do
sujeito, desde que seu significado esteja na direção daquilo que se faz aberto e
inacabado. Nesta perspectiva, a subjetividade é uma dimensão deste sujeito, assim como
a objetividade que, a partir das relações vivenciadas, se faz construtora de experiências
afetivas e reflexivas, capaz de produzir significados singulares e coletivos (MAHEIRIE,
2002).
Muitas vezes não se sabe falar do homem singularmente, indaga-se qual o
conceito utilizar para descrever o processo de constituição daquilo que o faz este sujeito
e não outro. De qualquer maneira e independente do conceito que se possa utilizar,
compreendemos que toda e qualquer concepção de sujeito traz implícita ou
explicitamente uma ontologia que a sustenta. Ou seja, toda teoria traz uma concepção
do ser em geral (homem e coisas), que serve de horizonte para fundamentação e
desenvolvimento de uma concepção do que seja o ser humano (MAHEIRIE, 2002).
Como exemplo, para Sartre, o homem é um ser que se constitui ao mesmo tempo
como corpo e consciência, em que esta só pode ser entendida como sendo relação a
alguma coisa. Por isso sua teoria indica que toda consciência é consciência de alguma
coisa, sendo desprovida de todo e qualquer conteúdo.
Ela é somente “relação”, não tendo interior nem conteúdo, revelando-se, então,
como a dimensão subjetiva do sujeito entendido como a negação do absoluto de
objetividade. Nesta perspectiva, o conceito de consciência em Sartre contempla todo e
qualquer fenômeno da psique humana, desde o mais breve impulso perceptivo de um
recém-nascido, até a mais elaborada das reflexões de um sujeito adulto (MAHEIRIE,
2002).
Logo, o significado que ele atribui à consciência não pode ser confundido com a
noção que em geral se tem a respeito dela, qual seja, como uma modalidade do
conhecimento. A consciência é anterior ao conhecimento, sendo que este é apenas uma
possibilidade daquela (MAHEIRIE, 2002).
Sartre parece romper com o paradigma cartesiano, no qual “existir” corresponde
ao “pensar”. Rompendo com o privilégio da reflexão sobre vivência humana, é possível
romper também com algumas dicotomias, dentre elas, a da razão e da emoção,
colocando a consciência no patamar da existência. Como consequência, temos a
afetividade, imaginação, percepção e reflexão, seja crítica ou não, como consciências,
cada qual com sua especificidade (MAHEIRIE, 2002).
De acordo com o referencial teórico psicodinâmico percebe-se a tentativa de
compreender as formas como estão se dando os processos de subjetivação dos sujeitos,
que terminam esmagados nas suas singularidades, resultando isso nos variados tipos de
manifestações e sintomas presentes na atualidade (OLIVEIRA, 2003).
Baseado neste referencial discute-se a tríade identidade, subjetividade e sintoma
na era contemporânea. Pesquisadores refletem a forma como está sendo construída a
identidade do homem moderno, para podermos assim compreender a crise de
paradigmas e sintomas sociais que vivenciamos na atualidade, e que, por sua vez,
influenciam intensamente na construção das identidades individuais e coletivas
(OLIVEIRA, 2003).
Vive-se em uma era em que do homem é exigido o uso pragmático da razão
sobrepondo-se aos sentimentos e emoções, encontramos o ambiente propício à
manifestação dos mais variados sintomas e enfermidades (OLIVEIRA, 2003).
Quando se fala da doença, sabe-se que esta se manifesta por meio de um corpo
no qual habita. Entretanto, ao evocarmos a noção de corpo, não nos limitamos apenas a
um corpo anatômico, mas a um corpo vivido, dotado de existência, possuidor de
subjetividades (OLIVEIRA, 2003).
Segundo Merleau-Ponty (1962), o corpo do homem não é um simples corpo,
mas um corpo humano, que só pode ser compreendido a partir da sua integração na
estrutura global.
Deste modo, a doença no corpo transcende o físico, o palpável, o orgânico e o
real, e refere-se ao aspecto simbólico, o qual só poderá ser compreendido a partir das
histórias pessoais de cada indivíduo. Daí, a importância da construção de uma
identidade, que vai constituir diferentes e peculiares formas de ser, de existir e de
produzir sintomas e doenças (OLIVEIRA, 2003).

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