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O que acontece no coração

de uma criança que não é


amada
27 de outubro de 2017

Nenhum pai está disposto a admitir que


não ama o seu filho. No entanto, isso
acontece com mais frequência do que
deveria. Ao encontrarmos uma criança
que não é amada, logo notaremos os
vestígios marcantes da falta de carinho.
Existe uma diferença muito grande entre
uma criança que é aceita e amada e aquela
que não é.

Existem muitas razões para essa falta de


amor. Talvez a decisão de ter filhos não
tenha sido um desejo consciente e
suficientemente fundamentado. Não
havia um lugar no coração para essa
criança e, portanto, era impossível aceitá-
la.

Quando uma criança é o resultado da falta


de amor, desenvolve comportamentos que
expressam o seu desconforto e o seu mal-
estar. Ela mesma não compreende o que
está acontecendo, especialmente se ainda
for muito pequena. Uma criança que não
é amada percebe o mundo como um
lugar ameaçador, se sente sozinha e faria
qualquer coisa para mudar tudo.

A situação se complica quando os pais se


recusam a admitir conscientemente que
rejeitam a criança. Nesses casos,
desenvolvem uma série de racionalizações
para justificar a rejeição ou os maus-tratos.
Dizem que toda agressão ou toda
indiferença é para o bem da criança. Dessa
forma, a criança acaba ficando confusa e
acredita que é ela quem age
constantemente de uma forma reprovável.

“Nunca é tarde demais para ter uma infância


feliz”.
-Tom Robbins –

A criança que não é amada e a culpa

Existem mães que dizem à criança que


ela a irrita ou que ela é “insuportável”.
Obviamente, estas mães estão estressadas;
no entanto, muitas delas já estavam com
um nível de estresse muito alto antes de
começarem a interagir com a criança.

Algo parecido ocorre quando fazem


exigências que as crianças não conseguem
corresponder, seja porque são muitas, mal
enunciadas, ou requerem mais
habilidades do que as que correspondem
ao seu grau de desenvolvimento e idade:
querem que a criança fique quieta por
muito tempo, preste atenção por um
longo período ou arrume a mesa com a
habilidade de um adulto. Nesses casos,
são os próprios pais que, com sua falta de
visão, geram a sua própria frustração e o
que é pior, fazem com que a criança se
sinta frustrada e incompetente.

Uma criança que não é amada percebe


que tudo o que ela faz irrita os seus pais.
E que nada que ela faça é suficiente para
agradar. Como ela ainda não tem a
capacidade de avaliar objetivamente essa
situação, desenvolve um forte sentimento
de culpa por tudo isso. Criará uma
autopercepção negativa e desenvolverá
um desamparo aprendido: ela tem a
sensação de que não importa o que faça,
o resultado será sempre o mesmo e,
portanto, incontrolável.

As marcas da falta de afeto

Quando uma criança não é amada, o seu


coração se quebra. Como não consegue
entender o sofrimento que experimenta,
o manifesta de uma maneira indireta.
Desenvolve comportamentos ou ideias
cuja função é liberar a angústia e a dor
que está vivenciando.

Alguns dos comportamentos que revelam


a falta de carinho em uma criança são os
seguintes:

Desenvolve medos e fobias: medo


do escuro, de alguns objetos ou
animais, de determinadas situações.
Torna-se muito impulsivo. Não
consegue conter a raiva, o choro, o
riso ou qualquer emoção. As suas
expressões emocionais são sempre
muito exageradas.
É instável. Hoje querem uma coisa e
amanhã outra. Elas também mudam
de comportamento de um momento
para outro, algo comum em crianças,
mas naquelas crianças que percebem
que não são amadas, esse traço é
mais pronunciado.
Desenvolve comportamentos
ansiosos, como não ser capaz de ficar
quieto ou ser curioso o tempo todo,
ou qualquer outro tipo de
comportamento repetitivo.
Tem dificuldade de concentração,
prestar atenção e isto acarreta
problemas escolares.
Torna-se invisível ou, pelo menos,
tenta. Está lá, mas é como se não
estivesse. Tenta se esconder, se
proteger, “não existir”.
Tem poucas habilidades
sociais: se sente desconfortável ou
muito agressivo quando está com
outras crianças ou adultos.

Uma criança que não é amada e não


recebe carinho torna-se muito
desconfiada. Mostra muitos sinais de
confusão e inquietação. Às vezes são
muito bobas e, outras vezes,
extremamente formais para a sua idade.
Em geral, elas parecem tristes, servis e
ansiosas por atenção.

O ser humano precisa de carícias, abraços


e palavras amorosas ao longo da sua vida.
Especialmente nos primeiros anos, essas
demonstrações de afeto são o alimento
emocional necessário para se
desenvolver de forma saudável: é uma
necessidade básica, como comer ou
dormir. Nenhum pai é perfeito, mas
quando se tem um filho, é preciso
trabalhar para que ele se sinta desejado e
acolhido na família em que irá viver e
crescer.

Imagem de capa: Shutterstock/Yuliya


Evstratenko

TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É


MARAVILHOSA

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