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“Seja qual for o ambiente social em que possa estar, ele sabe como
produzir sobre cada ouvinte um tal efeito que, com frequência, não
há um olho que permaneça enxuto, enquanto muitos não se contêm
e acabam se desfazendo em ruidosos soluços; pois havia algo de
maravilhoso em sua expressão, além da beleza e originalidade das
ideias e do estilo vigoroso como as traduz. Após concluir uma
improvisação desse gênero, prorrompia em sonoras gargalhadas e
caçoava de seus ouvintes a respeito das emoções que ele mesmo
lhes causara.”
Seu problema causou desespero, e fez com que procurasse vários médicos,
até encontrar auxílio do professor da Academia Josefina, Johann Adam Schmidt, que
lhe inspirou confiança e otimismo. Beethoven voltou ao convívio social e demonstrou
amar uma moça, a condessa Giulietta Guicciardi, uma aluna sua de apenas 16 anos.
Ele pensava em casamento, mas tinha consciência que a diferença de classe seria
um empecilho. Apresentava oscilações do seu comportamento melancólico, e
chegou a escrever um testamento (uma impressionante declaração confessional que
mostra tocantes expressões de desespero) a seus irmãos, sugerindo que a morte
estava próxima. Não pela doença que o acometeu, mas na própria carta sugere o
suicídio. Descreve na carta testamento a injustiça feita a ele, por interpretarem-no
mal, e deseja que, pelo menos após sua morte, o mundo possa reconciliar-se com
ele.
O fim desse desespero o introduziu em um período de equilíbrio e
criatividade, que durou até 1812, compondo uma ópera, um oratório, uma missa,
seis sinfonias, quatro concertos, seis sonatas para piano, algumas obras incidentais
para o teatro, vários Lieder, cinco quartetos de cordas, três trios, três sonatas para
cordas, diversas aberturas sinfônicas, e quatro coleções de variações para piano.
Sua reputação internacional só crescia, suas obras estavam entrando no repertório
dos músicos de vários países, embora algumas composições suas recebessem uma
certa desaprovação. O fracasso de sua única ópera causou-lhe um desapontamento
amargo. Também enfrentou conflitos com seus irmãos. O casamento de Caspar Carl
levou Beethoven a se distanciar do irmão.
Em 1804 Beethoven estava revendo sua Terceira Sinfonia, até então
intitulada Bonaparte. Ele pretendia mudar-se para Paris, mas optou por permanecer
em Viena após Napoleão se autoproclamar Imperador. Ludwig nutria uma imensa
admiração por Napoleão quando este era o Primeiro Cônsul. Ao saber da coroação,
Beethoven enfureceu-se e gritou: “Quer dizer, então, que ele também não passa de
um reles ser humano? Agora, ele também tripudiará sobre todos os direitos do
homem e satisfará somente sua ambição […] tornando-se um tirano!” Beethoven foi
à escrivaninha, pegou a primeira página da sua Sinfonia, rasgou e reescreveu o
título, de Sinfonia Eroica. Este foi um exemplo da aversão do artista à tirania.
Essa década também foi marcada por outras tristezas, como a morte de seu
mestre, e a rejeição por parte de Therese Malfatti a uma proposta de casamento.
Teve ainda vários interesses amorosos, mas sem significativo progresso. Desde
Therese até o caso com a suposta Amada Imortal, Beethoven flertou apenas com
Bettina Brentano e Amalie Sebald. Podem muito bem todos os desgostos
vivenciados – audição, política, amor e casamento – por Beethoven serem
sacrifícios à sua carreira como compositor. Parafraseando Schopenhauer: “Se a
paixão de Petrarca tivesse sido saciada, seu canto teria caído no silêncio.”
A existência dessa Amada Imortal foi descoberta após a morte do artista,
quando foi encontrada a única carta puramente de amor de toda sua existência, em
meio aos seus objetos pessoais. Essa carta despertou seu amigo Schindler por
procurar quem seria a pessoa a recebê-la, já que na carta não havia nome. Ficaram
muitas dúvidas sobre isso. Schindler pensou inicialmente que seria Giulietta, ou
talvez Therese Malfatti ou até mesmo Therese Brunsvik. Apenas em 1909, Wolfgang
Amadeus Thomas-San-Galli colocou essa questão em estudo científico, partindo das
provas acumuladas. Após muita investigação, muitas provas, escritos e análises,
conclui-se que a Amada Imortal a quem Beethoven se refere em sua carta é Antonie
Brentano.
Antonie Brentano, de uma família aristocrata, nasceu em 28 de maio de
1780, em Viena. Foi casada com um comerciante de Frankfurt, Franz Brentano,
amigo de Beethoven. Beethoven entrou em conflito consigo mesmo, uma vez que
sua elevada moral não permitiria trair a um amigo, além de sua enorme
incapacidade para casar. Sua angústia é evidente ao declarar-se a ela. Após os
estudos, os pesquisadores chegaram ao consenso de que esse romance teve início
por volta de 1811. Brentano foi a primeira mulher a correspondê-lo amorosamente.
Os anos após 1812 não foram tão produtivos como os anteriores. Nenhuma
sinfonia foi composta entre esse ano e a conclusão da Nona Sinfonia, em 1824;
também não completou nenhum concerto. Beethoven encontrava-se novamente
deprimido com sua audição e também com o estado de saúde de seu irmão Caspar
Carl, que estava nas fases finais da tuberculose (mesma doença que acometera a
mãe deles). Isso tudo fez com que seus pensamentos suicidas retornassem a pairar
sobre sua mente. Schindler relatou:
“Em seu desespero, ele buscou conforto com sua particularmente
respeitada amiga, a condessa Marie Erdödy – em sua residência de
campo em Jedlersee… Depois, entretanto, ele desapareceu e a
condessa pensou que ele tivesse regressado a Viena, quando, três
dias depois, o professor de música da condessa Brauchle, o
descobriu numa parte distante dos jardins do palácio. Esse incidente
foi mantido por muito tempo como um segredo guardado a sete
chaves e só muito tempo depois os que estavam familiarizados com
ele o confidenciaram aos mais íntimos amigos de Beethoven, quando
o romance tinha sido há muito esquecido. Foi associado à suspeita
de que tinha sido intento do infeliz homem jejuar até morrer de fome.”