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BEIGUELMAN, Paula. Cultura acadêmica nacional e brazilianismo. In: BOSI, Alfredo. (org.

)
Cultura brasileira: temas e situações. 2. ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 199-207.

p. 199
3. O brazilianismo (...) surge referido a um amplo projeto que toma forma em fins dos anos 50
e principalmente a partir dos anos 60.
4. Paralelamente à fermentação política que aqui ocorria, estruturavam-se na universidades
norte-amerianas, sob os auspícios das fundações, centros destinados a um acompanhamento
de nossa situação, nos quais inclusive se discutia a melhor estratégia em termos de
ingerência.
5. (...) presença de um grande contingente de jovens universitários norte-americanos (...).

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1. (...) para sentir o clima in loco.
2. Pois o brazilianismo se insere (...) num projeto de desestabilização política (...) de controle
e acompanhamento da performance da ditadura (...).
5. (...). Vários conhecidos scholars tiveram oportunidade de manifestar a professores
brasileiros de passagem pelos Estados Unidos espanto pelo fato de que um país soberano
abrisse, por exemplo, a pesquisadores estrangeiros seus arquivos de polícia política vedados
a estudiosos brasileiros.

p. 201
2. Mas o pior (...) é que a nossa história passou a ser feita pelos pesquisadores norte-
americanos; e, em vista das circunstâncias e das fontes de financiamento, resultou uma
absolutamente inaceitável tentativa de reescrevê-la de uma perspectiva não-nacional.
3. (...). Pois se a universidade se voltava mais para problemas metodológicos, dedicando-se a
uma tomada de consciência nacional por parte dos professores, enquanto intelectuais e
cidadãos, fora da universidade, desde meados dos anos 50, fermentava intenso trabalho de
discussão, esclarecimento e compreensão de nossos problemas contemporâneos, com um
pertinaz acompanhamento do aqui e agora. Depois de 64, censurada essa discussão,
resultou que, sob o patrocínio das fundações, a análise dos nossos problemas passou a ser
privilegiadamente feita da perspectiva imperialista, que até podia coincidir com a de certos
setores locais, mas com graves danos para a nossa historiografia e para a compreensão dos
nossos problemas atuais.

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1. Um determinado livro foi especialmente festejado ao ser traduzido aqui, marcando época.
(...).
2. Nele se pretende (...) retraçar, numa ordenação extensiva dos fatos mais espetaculares, a
história econômica e política do Brasil no período compreendido entre 1930 e o 31 de março
de 1964 (...). E eis que (...) é apresentada como objetiva e neutra a visão e versão do
imperialismo.

p. 203
2. No exame do período de Kubitschek é elogiado um programa de estabilização financeira
que se tentou encetar. (...). Toda a discussão nacionalista a respeito do problema da inflação
é simplesmente ignorado. (...).
3. Para o brazilianista, prometer maior participação na prosperidade econômica e uma política
econômica mais nacionalista é pejorativamente chamado de populismo. E a postura
nacionalista, quando não ignorada, é simplesmente recriminada por incluir uma
regulamentação mais severa para com o investimento estrangeiro “quando não um verdadeiro
confisco” (sic) e uma atitude mais agressiva em relação às exigências de estabilização feitas
pelos credores externos.
4. Com referência ao período João Goulart, somos friamente informados de que ao governo
(...) é imposta, como condição para o auxílio no pagamento da dívida externa, a apresentação
2
de provas concretas de estar cumprindo a promessa de deter a inflação, pelos métodos
ortodoxos, evidentemente. (...).

p. 204
1. Por fim, a política econômica do imediato pós-31 de março de 1964 é elogiada,
principalmente pelo bom entendimento estabelecido com as autoridades financeiras
internacionais e principais credores, o que obviamente significa um rigoroso programa
antiinflacionário na perspectiva desses organismos.
2. Em seminário como os patrocinados pelos centros universitários e estudos de relações
internacionais, os brazilianistas ficam ainda mais à vontade (...).

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1. Tomemos agora um livro publicado nos Estados Unidos em 1979 e logo traduzido no Brasil,
versando sobre o chamado tripé: multinacionais, estatais e capital nacional. Evidentemente
houve o apoio das fundações e dos centros de estudos de relações internacionais.

p. 206
4. É, pois, de tal perspectiva que os brazilianistas percebem e interpretam nossos problemas
cruciais.
5. Agora, consumada a internacionalização, diminuiu o interesse pelo Brasil por parte das
fundações.
6. Mas persiste, é claro, a existência dos jovens e até bem-intencionados excedentes das
universidades norte-americanas em busca de um lugar ao sol; acrescente-se o fato de que
alguns dos nossos professores locais estabeleceram laços no exterior, além de ansiarem por
se projetar fora do País.
7. Informa-nos os reavaliadores do brazilianismo que atualmente os interesses de pesquisa
são outros: cultura popular, religiosidade, futebol. Se bem que alguns novos brazilianistas
ainda tentem deslumbrar os nativos jogando dados no computador para descobrir, por
exemplo, com respeito à origem econômico-social da representação política no Legislativo,
em épocas diversas, informações corriqueiras para qualquer brasileiro medianamente
informado.
8. Nada temos, insistimos, contra a atividade curricular normal e legítima de integrantes dos
departamentos universitários norte-americanos destinados a fornecer aos estudantes
evetualmente interessados conhecimentos sobre uma região como a América Latina e,
evidentemente, o Brasil.

p. 207
1. Já quanto ao brazilianismo... A nossa história, para nós, tem que ser estudada e escrita do
nosso próprio ponto de vista.

Bibliografia
2. Os livros examinados a título de exemplificação da postura brasilianista são:
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964). 5. ed. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1976.
ROETT, Riordan. O Brasil na década de 70. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.
EVANS, Peter. A tríplice aliança. 2. ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.

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