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Realização
GEHIM – Grupo de Estudos de História e Imagens
Apoio
EMAC – Escola de Música e Artes Cênicas/UFG
LUPPA – Laboratório de Produção e Pesquisa Audiovisual/UEG
TECCER – Progr. de Pós-Graduação em Territ. e Expr. Culturais do Cerrado/UEG
PPGH – Programa de Pós-Graduação em História/UFG
Comissão Executiva
Ademir Luiz da Silva
Arnaldo Salustiano
Anna Paula Teixeira Daher
Gyovana de Castro Carneiro
Heloisa Selma Fernandes Capel
Jacqueline Siqueira Vigário
Othaniel Alcântara
Sílvia Zeferina de Faria
ISSN
2447-6676
Periodicidade
Anual
Idiomas
Português/Francês/ Italiano/ Espanhol
ANO
2016
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ANAIS – VI Colóquio de História e Imagens – ISSN 2447 -6676
TEXTOS COMPLETOS
ANA RITA VIDICA - TEMPORALIDADES CRUZADAS: UM OLHAR-ANDANTE
POR OBRAS DE INTERVENÇÃO URBANA COM O USO DA FOTOGRAFIA
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ANAIS – VI Colóquio de História e Imagens – ISSN 2447 -6676
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ANAIS – VI Colóquio de História e Imagens – ISSN 2447 -6676
TEMPORALIDADES CRUZADAS:
UM OLHAR-ANDANTE POR OBRAS DE INTERVENÇÃO
URBANA COM O USO DA FOTOGRAFIA
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Doutoranda do Programa de pós-graduação em História da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Mestre em Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da UFG e Docente do Curso de Comunicação
Social da UFG.
2
A intervenção urbana “Lembrança e esquecimento: memórias de Goiânia”, de autoria de Brunna
Stéphane Pains Santos foi realizada no dia 28 de outubro de 2010. Ela foi desenvolvida como parte do
Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal de Goiás, de título “A (re)criação do espaço na metrópole: uma proposta de
intervenção no centro de Goiânia”, orientado por mim.
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O platonismo está no domínio da representação, ligados às cópias e ícones, ou seja, uma relação
intrínseca a um modelo. A dialética platônica é fundada na rivalidade, pela distinção entre o verdadeiro e
o falso; essência e aparência; inteligível e sensível; original e cópia; modelo e simulacro (DELEUZE,
2009, p. 260). Para Platão, as cópias ou ícones seriam as boas imagens por serem dotadas de semelhança
enquanto os simulacros seriam más cópias, subersas na dessemelhança (ibid., p. 262).
4
A verdade para Deleuze é diferente de Platão. Para o primeiro, a verdade está fundamentada na
diferença e na parcialidade, ao segundo, vincula-se a uma identidade e universalidade.
5
Esse é o conceito-base desta pesquisa, criado por mim. O olhar-andar vincula-se a um olhar-andante.
Parto da observação das obras de intervenção urbana que, a meu ver, estão fundadas em um modo de
olhar que se dá com o corpo em movimento. Esse modo de olhar se remete à relação que se estabelece
com a obra de intervenção urbana, tanto do transeunte quanto do artista. Quanto a obra é colocada na rua,
ela passa a ser olhada com o corpo do transeunte em movimento e que foi criada, anteriormente, pelo
movimento do corpo do artista se movimentando pelas ruas da cidade.
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As obras chegaram até mim por meios diversos. O contato com a obra
“Imagens Posteriores” se deu a partir de um email recebido do lançamento do livro da
mesma, em Brasília, em 2012. O “Giganto” chegou pelo comentário de uma amiga que
tinha visto uma matéria sobre o projeto em São Paulo, em 2013. E, as “Polaroides
(in)visíveis” de uma rememoração do contato que tive com a obra em 2006. A decisão
de trabalhar com as três se deu no encontro dos artistas na exposição “Geração 00: a
nova fotografia brasileira”6.
Percebi que a decisão pelo encontro dos artistas em uma exposição que se
propunha a pensar a fotografia contemporânea estava pautada por um pensamento
representacional, vez que pensava a identificação das obras com a contemporaneidade
fotográfica. Entretanto, ao percorrer os documentos por meios ligados à violência,
foram trazidas questões além do que eu buscava, o que possibilitou o surgimento de um
ato de pensar, um criar que se deu no aprendizado por meio de um olhar-andante.
Chamo de olhar-andante um modo de olhar que se dá no ato de percorrer, de
pensar, de criar a partir dos documentos ou das obras, ocorrendo não só em movimento,
como também no tempo múltiplo e plural que se desdobra a cada momento.
A variação do tempo, para Deleuze (1987), se relaciona com os signos. Ele
coloca que existem quatro signos; os “mundanos”, os “amorosos”, os “sensíveis” e os
“artísticos” que se coadunam, respectivamente, “ao tempo que se perde”, “tempo
perdido”, “tempo que se redescobre” e “tempo absoluto” (original ou complicado).
A correlação entre signo e tempo ocorre por relação de predominância, visto
que cada signo participa do significado de outros. Além da aproximação temporal, cada
signo mobiliza uma faculdade. Os signos mundanos se alinham à percepção, os
amorosos à memória voluntária, os sensíveis à memória involuntária e os artísticos ao
pensamento ativado pelo ato de pensar (ou criar) que envolve as outras três formas.
Percebo que esse olhar-andante ativa as quatro categorias de signo
apontadas por Deleuze (1987), se constintuindo em um fundamento para o meu modo
de acessar essas obras, através dos documentos, mas também faz parte do processo de
6
A exposição “Geração 00: a nova fotografia brasileira” foi organizada pelo curador Eder Chiodetto,
realizada de 16 de abril a 12 de junho de 2011, com o objetivo de mapear as linhas de força da
fotografia brasileira contemporânea da primeira década do século XXI, a partir de obras realizadas de
2001 a 2010. A identificação dessas “linhas de força” culminou na divisão em dois blocos “Limites,
Metalinguagem” e “Documental Imaginário”, apontando as potencialidades da fotografia contemporânea
que aponta às misturas de linguagem e mídias e o esfacelamento de entre ficcional e documental. Fonte:
CHIODETTO, Eder (org.). Geração 00: A nova fotografia brasileira. Edições Sesc São Paulo, 2013.
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criação dos artistas e daqueles que têm contato com as obras, os “espectadores” ou
“espectadores-participadores”.
Os signos “mudanos” se dão no próprio percurso que faço pelas fontes,
pelos artistas e pelos transeuntes, respectivamente, através dos percursos feitos nas ruas
e nas obras expostas no espaço urbano como também nos espaços fechados. Eu poderia
fazer uma correlação com o tempo presente, o tempo que se perde, o próprio ato da ação
de andar, do contato com a obra ou com as fontes.
Os signos “amorosos” se vinculam às memórias voluntárias que surgem
durante o processo, ao rememorar, o próprio contato com as obras, as relações com
outras obras de arte, gerando um pensar anacrônico. Quando Patricia rememora viagens
que geraram as “Imagens Posteriores”, Raquel incita a memória dos seus retratados, ou,
ainda, Tom ao suscitar memórias de lugares da cidade nas “polaroides de interpretação”.
Dessas memórias voluntárias relaciono o passado a um tempo perdido.
Os signos “sensíveis” se alinham à memória involuntária, às sensações que
surgem de forma independente. É o delinear da pesquisa se formando a cada olhar-
andar. Para os artistas são sensações surgidas no processo de criação das obras. E, aos
transeuntes, são as sensações deflagradas ao andar-olhar pelas obras, possibilitando uma
redescoberta do tempo e da cidade, o que pode constituir inclusive em uma ação de
intervenção nas obras. Dessa maneira, o futuro se faz presente por um tempo que se
redescobre.
Por último, mas de modo a englobar, de certo modo, os outros três, os
signos “artísticos” que geram a multiplicidade temporal, a mistura entre os tempos, o
que ele chama de tempo “complicado”. Não se sabe ao certo onde começa um e termina
o outro.
Essa “complicação” temporal, imbuída pelas dimensões heterogêneas dos
tempos presente, passado e futuro, adensam essa mistura, a meu ver, no processo
constante de atualização e virtualização, exposto por Deleuze (2009). O atual se
constitui na presentificação de um ponto, na própria ideia de acontecimento 7 da
7
Considero que as intervenções urbanas são “acontecimentos”, tomando como base a noção de Foucault,
como a irrupção de uma singularidade única e aguda que se dá no momento de sua produção. Em uma
intervenção urbana, o acontecimento se dá no ato de colocação da obra na rua, em cada olhar de quem
passa pela obra e em desdobramentos de ações decorrentes da presença da obra na rua.
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intervenção. É o virtual que não se opõe ao real, mas coloca as obras e fontes em
constante estado de “devir”8.
A percepção dessa multiplicidade temporal chegou a mim como uma
violência, operada por meio do olhar-andante pelas fontes. Considero, portanto, que elas
se constituem como “documentos-signo”.
Desse modo, penso as fontes não só como documentos, conforme
proposição de Paul Veyne (1971) e Le Goff (2003), mas também como signos, uma vez
que me possibilitam o ato de pensar trazendo à tona um processo de criação que se dá
de modo involuntário.
Veyne aponta a mudança trazida pela Escola dos Annales9, que abre à
possibilidade de buscar o “não-acontecimental”, ou seja, “os acontecimentos ainda não
saudados como tais” (1971, p. 30), abrangendo, por isso, o fato histórico como uma
construção que se daria por meio dos indícios, os documentos, que são também
construções humanas.
Le Goff (2003)10 colocará que os documentos são mais do que
construções, são monumentos, uma vez que há uma intenção por trás dos mesmos para
que se “conte uma determinada” história. Ele propõe uma crítica ao documento 11, ou
seja, à concepção do documento enquanto monumento, que é o resultado das relações
de poder existentes na sociedade, ou seja, sempre revestidos de intencionalidades, por
isso a necessidade do historiador desmontá-lo, problematizá-lo (LE GOFF, 2003, p.
8
Para Deleuze “devir” é a propriedade de esquivar-se do presente, uma vez que não distingue o antes do
depois, o passado do futuro (2009, p. 1), aquilo que está entre dois, que emerge em sua multiplicidade.
Platão fazia a distinção dessas duas dimensões. Já o “devir” deleuzeano é ilimitado, matéria do simulacro,
contestando tanto o modelo quanto a cópia (ibid., p. 2).
9
A Escola dos Annales foi inaugurada em 1929, no período entre-guerras, propiciando uma revisão da
teoria da história e da historiografia, contrapondo-se à Escola Positivista do fim do séc. XIX e início do
séc. XX em que o documento é sinônimo de texto (LE GOFF, 2003, p. 527). Além disso, combate uma
história narrativa e do acontecimento e exalta uma “historiografia do problema”.
10
No texto “Documento/Monumento”, Le Goff, historiador francês da ‘Escola dos Annales, analisa o
processo de institucionalização dos monumentos e dos documentos, como fontes pela historiografia e
discute a questão do próprio objeto da História. Inicialmente, ele recupera o conceito tradicional de
monumento e documento. Monumento em latim significa “fazer, “recordar, “avisar”, “iluminar”,
“instruir”, uma herança do passado. Enquanto a palavra “documento” tem um sentido de “prova”, de
“ensino”. Para a história positivista, o documento, fundamentalmente escrito, é o fundamento para o fato
histórico, mesmo que se associe à escolha do historiador. Com isso, o termo “monumento” usado para
grandes coleções de documentos”. No século XX, ao que ele chamou de “Revolução documental”, com a
História Nova há uma ampliação da concepção de documento que deixa de ser somente o oficial e escrito,
possibilitando uma nova unidade de informação, cujo dado leva a uma série e a uma história descontínua.
11
Essa crítica se dá desde a primeira geração da Escola dos Annales com Lucien Febvre e Marc Bloch,
alicerçado na ideia de que o historiador deve interrogar o documento. Nesse sentido, Bloch (2001, p. 67)
expõe que os problemas devem ser formulados de modo correto para que haja um entendimento do
passado, olhando-se no presente.
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538). Este autor propõe, portanto, uma postura crítica diante dos
documentos/monumentos, o que pressupõe olhá-los com objetivos claros buscando-se
respostas às questões colocadas aos mesmos.
Assim como Le Goff, acredito que os documentos não sejam
“inocentes”, uma vez que são construções humanas e devem ser problematizados.
Contudo, fica subjacente na sua proposta a busca por um problema, algo dado a priori,
no qual busca-se a concordância ou discordância, ou seja, uma atividade contemplativa
ligada à recognição, um pensamento representacional.
Não perco de vista esta montagem feita pelo pesquisador ao aproximar
documentos a partir de um questionamento. Entretanto, penso que esta questão com o
qual se olha o documento não é um fim em si, mas se constitui em um pontapé inicial
para que esse de algum modo, também olhe de volta, trazendo outras questões que não
foram, a princípio, pensadas por mim, fazendo surgir algo, de modo involuntário, que
me atravessa e me violenta, como na acepção de signo de Deleuze (1987). Por isso,
proponho a denominação “documentos-signo”12 às fontes visuais, textuais e orais,
relativas às três obras já citadas, que constituem esta pesquisa.
Na verdade, a própria “escolha” das três obras, a meu ver, se deu pelo
princípio do signo, tendo chegado a mim de forma violenta, independente da minha
vontade, como se elas tivessem me escolhido. Como as obras não estão mais no espaço
12
Os documentos-signo que constituem esta pesquisa são: 1) Obra “Imagens Posteriores”: Site
www.patriciagouvea.com, Caderno de notas de Patricia Gouvêa, Fotografia da obra “Imagens
Posteriores”, Livro “Membranas de luz: os tempos na imagem contemporânea”, Livro “Imagens
Posteriores”, Fotografias dos locais das intervenções realizadas no Rio de Janeiro-RJ, Fortaleza-CE e
Brasília-DF, Álbum das Intervenções na página do facebook, Fotografias do Processo da Colagem,
Retratos Afetivos, Fotografias daqueles que passaram pelas fotografias, Fotografias dos participadores,
Vídeo “Imagens Posteriores – Intervenções urbanas”, Parte da palestra de Patricia Gouvêa no CLIF,
Entrevista realizada com Patricia Gouvêa, Entrevista realizada com Daniel Moskito, Entrevista realizada
com Joaquim Torquato Neto, Textos críticos, Clipping da imprensa. 2) Obra “Giganto”: Site
www.projetogiganto.com.br, Textos do Projeto Giganto escritos por Raquel Brust, Vídeo sobre o Projeto
Giganto, Alguns retratos do Giganto, Processo de colagem, Alguns retratos do Giganto nas ruas,
Catálogos, Página do facebook do Giganto, Fotografias daqueles que passaram pelos Gigantos,
Fotografias dos Gigantos se vendo como Gigantos, Postagens publicadas no facebook, Fotografias, vídeos
e jornais mostrando o uso da imagem no processo de produção dos retratos, Trechos do vídeo do
Programa TED, Entrevista realizada com Raquel Brust, Entrevista realizada com Fabiana Laurindo,
Clipping da imprensa. 3) Obra “Polaroides (in)visíveis: Site www.sintomnizado.com.br, Intervenções de
Maio, Um dos cadernos de anotação de Tom Lisboa, Tipologias textuais das Polaroides (in)visíveis,
Iconografia das Polaroides (in)visíveis, Fotografias das Polaroides (in)visíveis coladas na cidade,
Mapeamento e colagem das polaroides (in)visíveis, Convites, Desdobramentos das Polaroides
(in)visíveis, Guias de visitação, Fotografias feitas a partir das Polaroides (in)visíveis, E-mails e vídeos
ligados à recepção da obra, Fotografias das reações das pessoas com a recolocação de algumas Polaroides
(in)visíveis em Curitiba, Oficina Polaroides (in)visíveis, Questionário realizado por Camila Tedesco,
Entrevista realizada com Tom Lisboa, Parte da palestra de Tom Lisboa no CLIF, Clipping Imprensa.
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público, passo a ir atrás dos indícios, dos documentos os quais percebo que também se
comportam como signos.
Vejo que o tempo é uma questão que perpassa as três obras que, se dá, por
um deslocamento, dos artistas, das obras e das pessoas que passam pelo espaço urbano
que, culmina em um deslocamento temporal. A percepção desse deslocamento temporal
só é perceptível a mim quando me ponho a olhar-andar pelos documentos-signo,
chegando de maneira involuntária.
A partir do momento que adentrei o primeiro documento-signo deles, o site
de cada uma das obras, adentrei mundos através dos links e me fizeram buscar os
artistas e me abriram também a outros documentos-signo, levando ao contato com
personagens das obras e espectadores-participadores.
Passo a olhar cada documento-signo buscando o seu “sentido”13. A medida
que vou adentrando os documentos-signo, descrevendo-os e buscando a relação entre
eles, eles se põem a falar, me coloco a escutá-los e pensar14 sobre eles, culminando na
minha interpretação dos documentos-signo das obras ou o “sentido” atribuído a eles,
que se dá na compreensão da história da arte em suas dimensões, conforme Didi-
Huberman (1998, p. 187), genitiva objetiva, o discurso histórico sobre os objetos de
arte, e genitiva subjetiva, o desenvolvimento dos objetos de arte.
Para isso, esse autor trabalha com três categorias do visual. O visível, a
dúvida da objetividade da visão; o legível, ligado a uma leitura anacrônica e o invisível,
vinculado ao conceito de virtualidade.
A primeira categoria se alinha ao método de Panofsky ligado à leitura pré-
iconográfica, no que tange à descrição da imagem. Contudo, diferente de Panofsky,
Didi-Huberman (2014) propõe uma descrição que coloca questões à imagem, uma vez
que o sujeito está diante dela, possibilitando um confronto entre objetividade e
subjetividade de forma complementar, ou seja, abrindo a uma dialética que, na
perspectiva do autor, seria a abertura da dialetização da imagem e do olhar.
13
Deleuze expõe que todo signo pressupõe um sentido, que precisa ser escavado, que se vincula a
associações subjetivas desenvolvidas pelo olhar do sujeito. Esse olhar não parte de um pressuposto, mas é
produzido no ato de pensar quando sofre violência dos signos, no caso, dos documentos-signo.
14
Na perspectiva de um “ato de pensar” conforme Deleuze (1987).
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O distanciamento sujeito-objeto é uma postura epistemológica instaurada na História da arte por
Giorgio Vasari, reestruturado pelo caráter científico de J. Winckelman e fortalecido pelo método de
Erwin Panofsky.
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O projeto Bilderatlas ou Atlas Mnemosyne é constituítdo por pranchas de cartão preto que se funda no
procedimento de associação de imagens. Warburg propôs a montagem de 3 séries de pranchas com 2000
reproduções de obras associadas por temas ligados à psicologia da criação e seus processos de produção.
17
O projeto Passagens fundamentado no conceito de montagem. Benjamin parte do conceito de colagem
cubista da década de 1910, da montage cinematográfica de Sergei Eisenstein (1898-1948) da década
seguinte e do conceito de fotomontagem de John Heartfield (1891-1968), dos anos 1930.
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Didi-Huberman (1998) faz essa proposta a partir da psicanálise aberta por Lacan, em sua dimensão
estrutural, revendo a relação sujeito-objeto que valorize a relação transferencial, psicanálise pela via do
inconsciente, recolocando a questão do desejo.
21
A obra “Imagens Posteriores”, nos espaços fechados, era constituída de dípticos e trípticos (50x75cm) e
solos (100x150cm), impressos em papel algodão. A obra passou pelos locais: Encuentros Abiertos de
Fotografia de Buenos Aires, 2002 (prêmio melhor portfólio); Galeria Lana Botelho Artes Visuais, RJ,
curadoria João Wesley de Souza, 2003 (exposição individual); Fotofestival de Montecchio Emilia, Itália,
curadoria Massimo Mussini, 2003 (exposição individual); Centro Cultural Recoleta, Buenos Aires,
Argentina, curadoria Juan Travnik, 2004 (exposição individual); Galeria do Ateliê da Imagem, curadoria
Claudia Buzzetti, 2012 (exposição individual).
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A série de imagens da obra foi publicada em 2012, no livro “Imagens Posteriores” da Ed. Réptil, Rio de
Janeiro.
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das quais, posteriormente, cinco são escolhidas para ir às ruas do Rio de Janeiro-RJ
(2012), Fortaleza-CE (2012) e Brasília-DF (2013)23.
A questão do tempo é a preocupação central da obra da artista. Ela
concebe a obra, antes de ser intervenção, em torno da questão temporal 24, na qual
propõe discutir sobre “a popularizada noção de que a imagem fotográfica é a morte do
fluxo, congelamento do tempo, instante mumificado da vida” (GOUVÊA, 2011, p. 16).
Por isso, a visualidade apresentada é formada por fotografias borradas, feitas a partir de
registros realizados de percursos de carro, ônibus e barco em viagens em áreas naturais
do Brasil, Uruguai, Argentina e Bolívia, de 2000 a 2010 (Imagem 1).
Imagem 1 – Uma das cinco fotografias colocada na intervenção urbana – colocado no Rio de
Janeiro (2012)
Fonte: Acervo da artista Patricia Gouvêa
Patricia Gouvêa coloca que pelo fato das imagens terem sido feitas no
percurso, em momentos de espera dentro dos meios de transporte, elas são a aparição de
um “tempo quase morto”25. Esse tempo se estende ao adormecer das imagens no
arquivo, sendo reavivadas ao migrarem ao livro e, posteriormente, às ruas das cidades.
Com isso, a intervenção nasce com uma proposta de futuro em direção ao
passado das imagens de arquivo que se presentifica no estar na rua, no olhar de quem as
vê. Assim, o cruzamento de temporalidades se esboça.
Esse esboço se dá no andar à escolha dos lugares para a colagem, tornando
presente nas ruas, o passado do arquivo e possibilitando que o futuro da obra continue
23
A ideia da intervenção nas três cidades no ato de lançamento do livro foi proposta pelo curador Marco
Antônio Portela.
24
A artista faz uma discussão teórica sobre a obra “Imagens Posteriores” no livro “Membranas de Luz”,
resultado do Mestrado em Comunicação e Cultura na linha de Tecnologias da Comunicação e Estéticas da
Imagem com a orientação da Kátia Maciel e co-orientação do Antônio Fatorelli no Programa de Pós-
graduação de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Fala concedida à pesquisadora no dia 12 de março de 2014, no Rio de Janeiro-RJ.
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no olhar do outro que pode até propor a mudança do trajeto da obra, como ocorreu em
Fortaleza.
A obra “Giganto” parece estar pautada pela junção de presente e passado ou
futuro, uma vez que retratos de pessoas anônimas são colocadas de forma agigantada no
espaço urbano (Imagem 2), suscitando a imaginação ou rememoração de suas histórias
de vida. No ato de produção dos mesmos, pela artista Raquel Brust, os retratados
contam estas histórias. E, ao irem às ruas, não haveria a deflagração das origens e as
histórias daquelas pessoas, por quem as vê?
Imagem 2 - Retrato do Sr. Dárcio – colocado nos arredores do Sesc Belenzinho (2011)
Fonte: Acervo do Projeto Giganto
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Nesse processo de caminhada pelo espaço urbano Tom cria os textos por
aquilo que vê no presente. A maioria das polaroides chama a ver o espaço urbano
naquele momento, como na polaroide cujo texto é: “Aqui ao lado, no prédio n o 39, no
quarto andar, à sua direita, uma das janelas está vedada com papelão.”
Mas também remete a uma ação feita no passado como na frase de uma das
polaroides, colocada na cidade de Curitiba em 2005: “atrás de você, do outro lado da
rua, na parte inferior do prédio bege, há o registro da silhueta de uma casa que foi
demolida ”, ou ao futuro, como na polaroide que só existirá com o posicionamento da
pessoa que a lê, por meio da frase “Para ver a imagem desta polaroid posicione-se
exatamente no vão que existe entre este ponto de ônibus e o próximo e olhe para cima.”
Desse modo, a obra das polaroides em si remete a um cruzamento de
temporalidades, perceptível pelo texto escrito nelas e pelas imagens que surgem, tanto
pela criação do artista quanto por aqueles que passam por elas.
No ato da leitura pode-se remeter também ao passado, presente ou futuro.
Ao ignorar a polaroide, invisibilizando-a no espaço, pode-se pensar em uma supressão
do próprio tempo. Ao levar a polaroide para casa ou a outro lugar, o tempo pode
continuar operando nos três tempos, desde que a imaginação seja acionada. Ou mesmo
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quando as polaroides são recolocadas no espaço urbano, só que agora pelo transeunte 26,
as temporalidades parecem operar de maneira diversa da do artista.
Apesar destes apontamentos iniciais, que se constituem em hipóteses feitas a
partir de um primeiro olhar das três obras, como a mistura de temporalidades é
percebida nas obras? Esta é a pergunta que norteia essa pesquisa. O “como” parte de um
olhar-andante pelos documentos-signo que, pela percepção das categorias visível,
legível e invisível27, culmina em questões ligadas ao cruzamento de temporalidades na
relação com a história da arte e da fotografia.
As obras olhadas por Didi-Huberman são pinturas, filmes, fotografias, obras
que não deixam ver o seu processo de feitura. Já as obras que escolhi além de
apresentarem essa importância do processo, por isso o desdobramento das obras nos
documentos-signo, elas se propõem a se relacionar com o outro.
Com isso, vejo um limite da proposição do referido autor, diante das obras
que me coloco a olhar. Me proponho, portanto, a expandi-la, passando a perceber o
cruzamento de temporalidades, não só no interior das obras, mas no contato com os
olhos dos outros, o que me leva a pensar o cruzamento de temporalidades na relação das
obras com as ruas do espaço urbano.
Ao proceder por um olhar-andante deixando que as obras e os documentos-
signo pelos quais tive acesso também me olhassem e falassem, escrevo sobre elas,
deixando manifestar minhas impressões (suas invisibilidades), sem saber direito onde
iria chegar. Confesso que a angústia em muitos momentos tomou conta, mas continuei a
caminhada. Para mim, por vezes, ficava nítida a perda do controle, como se aquilo que
olhava tivesse, de fato, uma vida própria.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A situação dos menores abandonados no país é tema que deve ser abordado
com delicada sensibilidade, em especial quanto às consequências dela decorrentes. A
questão da violência da criança e do adolescente é, muitas vezes, tratada de maneira
descontextualizada, sem a necessária análise do cenário em que vivem a maioria dos
jovens infratores.
É comum a estigmatização dos jovens abandonados pela mídia através da
perversa dicotomia carência/delinquência e de uma ideologia de correção e ordem que,
como se irá demonstrar, não encontra aplicação em um contexto de tamanhas
desigualdades como o brasileiro.
Diante desse quadro, cabe fazer uma análise social e legal do menor em
situação de rua na conjuntura da Constituição Cidadã de 1988. O atual texto
constitucional distancia-se da concepção individualista que entende o sujeito de direito
como ser econômico, desvalorizado se for incapaz de produzir e se engrenar no sistema
econômico. Ademais, cumpre discriminar o tratamento de direito e de fato reservados à
criança e ao adolescente em situação de desamparo.
A abordagem do tema será feita por meio do personagem Faquinha, do
cartunista Glauco, que personifica os jovens esquecidos pelo Estado. A série de
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Graduada em Direito pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: anasofialambert@gmail.com
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Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.
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Pesquisa divulgada pelo Governo Federal no ano de 2012 mostrou que o Brasil tem quase 24 mil
crianças e adolescentes vivendo nas ruas de 75 cidades com mais de 300 mil habitantes. Disponível em:
<http://www.estadao.com.br/noticias/geral,grandes-cidades-tem-23973-criancas-de-rua-diz-
censo,683929>
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A impunidade é a principal causa de violência na opinião dos brasileiros, conforme dados revelados
pela Secretaria de Pesquisa de Opinião Pública – DataSenado – em levantamento sobre a violência no
Brasil em 2007. A impunidade aparece em primeiro lugar com 30% das citações, o tráfico e o consumo
de drogas em segundo com 26% e, na sequencia, desemprego (16%), falta de ensino (14%), ausência de
Estado (8%), acesso a armas (4%) e outros (1%). Pesquisa disponível em
<https://www.senado.gov.br/senado/dataSenado/pdf/Pesquisa%20Viol%C3%AAncia%20no%20Brasil%
20-%20comunicado%20%C3%A0%20imprensa.pdf>
32
O Instituto Datafolha realizou pesquisa em junho de 2015 para aferir a opinião da população quanto à
possibilidade da redução da maioridade penal, prevista em mais de 50 projetos em tramitação no
Congresso: 87% dos entrevistados mostraram-se favoráveis à responsabilização criminal de jovens a
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Fonte
: GLAUCO – Repositório digital de tirinhas da UOL
Figura. 2 – Faquinha
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Disponível em: <http://www2.uol.com.br/glauco/faquinha.shtml>
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.
Fonte: Glauco - Repositório digital de tirinhas da UOL
Figura.4 – Faquinha
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nível dos ombros, o que possibilitaria uma melhor visualização do seu rosto ou
pormenores da imagem.
O tom irônico que permeia as tirinhas é uma das características mais
marcantes dos quadrinhos de Faquinha. Para tanto, Glauco vale-se de instrumentos
linguísticos e imagéticos específicos, tais quais a constante presença do narrador, uso de
metáforas visuais e utilização de cores mais leves.
Com efeito, a presença da voz narrativa do autor é constantemente
observada no decorrer das tirinhas, como mecanismo de inserção da quebra de
expectativa e contraste entre narração e imagem para a criação do humor.
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Considerações finais
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REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
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Mestranda em Direito Agrário na Universidade Federal de Goiás. Goiânia/GO, Brasil. E-mail:
annamaria93@hotmail.com.
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emprego da técnica de plantio direto e produtos transgênicos, entre outros fatores que
certamente levam ao que o autor chama de “agricultura sem agricultores”.
Portanto, necessário se faz tecer uma crítica sólida e contundente ao modelo
de ambientalismo divulgado como forma de minimizar impactos ambientais, uma vez
que este efetivamente não combate a injustiça social, pois justamente permite a
manutenção de instrumentos e da estrutura dominante, resultando de uma coalisão entre
“as grandes corporações financeiras internacionais, as grandes indústrias-laboratórios de
adubos e fertilizantes, de herbicidas e sementes, as grandes cadeias de comercialização
ligadas aos supermercados e farmácias e os grandes latifundiários exportadores de
grãos” (GONÇALVES, 2004, p.43).
Finalmente, ao tratar da proposta do desenvolvimento que emerge no
contexto do discurso da diminuição do uso de insumos e do impacto ecológico, o autor
pontua que outras tecnologias, talvez ainda mais perigosas, foram desenvolvidas, tais
como os transgênicos e as sementes terminator, sob o pretexto de um certo ganho de
independência dos agricultores com relação aos complexos agroquímicos. No entanto,
como bem destaca, o interesse por esses novos melhoramentos está escondida sob o
pleito já conhecido da lucratividade na forma de pretensas alternativas às velhas
roupagens.
Portanto, é patente a responsabilização por danos causados em terceiros no
caso da geografia desigual dos rejeitos e proveitos apresentada pelo autor, realidade em
muitos países europeus, onde empresas produtoras de transgênicos já abandonaram seu
comércio pela possibilidade de se verem responsabilidazadas pelos danos ocasionados
pelo uso de tais produtos. Diante dos fatos apresentados, faz-se imperioso o resgate dos
conhecimentos tradicionais das diferentes territorialidades por meio da relação com a
natureza, perseguindo-se uma verdadeira mudança na perspectiva convencional da
natureza como recurso para a perspectiva de riqueza, questão que precisa ser discutida e
incorporada pelo direito.
Não é outro o entendimento de Porto Gonçalves:
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os efeitos ecológicos e sociais e o desafio ético que permeia toda a matéria. Nesse
campo, faz-se inevitável a crítica acerca da recuperação desse equilíbrio entre o homem
e a natureza, como novo paradigma de compreensão do funcionamento das dinâmicas
sociais.
Nesse aspecto, verifica-se que até o presente, abordou-se as principais
questões que envolvem o modelo de acumulação, marcado pelo predomínio da
concepção de valor de troca, em torno de uma organização coletiva que existe em razão
quase que exclusiva da prosperação do capital.
De fato, esses fatores que estão e sempre estiveram orientados por uma
racionalidade ocidental linear, fazem prevalecer uma visão de planeta como fonte
inesgotável de exploração a serviço daqueles que possuem condições de exercerem e
garantirem seus interesses. Por isso, consoante linha de raciocínio desenvolvida por
François Houtart, é imperioso que se conceba uma convergência entre as frentes de luta
social, bem como que se proceda à reestruturação das dinâmicas entre os agentes
internacionais.
Ainda sobre o assunto, em meio a todas as questões invocadas, Edgar
Morin, em “Terra Pátria”, trata do desenvolvimento da área técnica, advertindo que esse
processo acarreta a generalização do trabalho fragmentado sem iniciativa, faz
desaparecer a criatividade, a disponibilidade e o ritmo tranquilo de vida. Da mesma
forma, o desenvolvimento descontrolado e cego da técno-ciência invadiu todos os
tecidos das sociedades desenvolvidas, constituindo o núcleo motor da agonia planetária,
entendendo-se a tecno-ciência.
Há, por certo, uma invasão pela lógica da máquina artificial pelo humano,
processo que se vislumbra por meio do desenvolvendo de programas em detrimento de
estratégias, hiperespecialização em detrimento da competência geral, mecanicidade em
detrimento da complexidade organizacional. Nesse contexto, reina o pensamento
mecânico e parcelar, permitindo a consolidação de uma nova barbárie, que se reproduz
pela propagada incapacidade de criação de um pensamento complexoque exista fora da
concepção de progresso tida como aquela apta a justificar todos os meios adotados
ainda que eticamente questionáveis.
Diante das considerações esposadas, urge evidenciar que o agronegócio é
resquício do sistema de colonização europeu-ocidental que historicamente sustentou
suas pretensões meramente exploradoras no país, por meio do estabelecimento de
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estruturas fundiárias que remetem aos diversos níveis de exploração, tanto do homem
quanto da natureza.
Na nova perspectiva que se estende aos olhos de todo o planeta, diante do
risco global que ameaça os limites da espécie humana, esse modelo não pode prosperar
como viável para a realidade brasileira, uma vez que o discurso falacioso e tendencioso
da elite produtora que se reproduz sob justificativas de produtividade e ganhos
econômicos, na realidade, acabam por excluir o meio ambiente e as relações dos povos
tradicionais que com ele sempre coexistiram, extinguindo seus saberes ou colocando-os
como hipótese surreal de meros sonhadores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Membro do Grupo de Estudo de História e Imagem da Universidade Federal de Goiás. Mestranda no
Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Goiás. Bolsista CAPES.
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O nascimento da Vênus (1486, Galleria Degli Uffizi) de Botticelli (1445-1510).
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Figura I
A Pintura (Alegoria) (1892)
José Ferraz de Almeida Jr. (1850-1899)
Óleo Sobre Tela 250 x 125 cm
Pinacoteca do Estado de São Paulo
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anos de idade, em um crime passional que envolveu seu primo e amigo, José de
Almeida Sampaio (? - 1930), e a esposa deste, Maria Laura Sampaio, que também era
amante de Almeida Jr. (1850-1899).
Não se sabe a data exata de início da relação ilícita. Diva Pereira Mendes 37,
neta de Maria Laura, afirma que o romance entre sua avó e Almeida Jr. (1850-1899)
começou logo quando ele voltou da França, em 1882, quando passou a freqüentar a casa
dos Sampaio. Das cartas trocadas entre os amantes, pode-se afirmar que havia um
relacionamento entre eles desde 1892.
Guardadas pelo pintor, as cartas de Maria Laura foram o combustível para a
ira do marido traído que as encontrou e, diante da prova irrefutável de traição, lavou
com sangue a honra ferida, matando Almeida Jr. (1850-1899) e divorciando-se da
esposa.
Partindo do princípio que o historiador, ao trabalhar com as sensibilidades,
tem como ponto de partida a representação das pessoas em distintos momentos
históricos e a partir disso ele interpreta as conexões dessas representações em seu
universo (CORBIN apud SILVA, p. 6, 2012), verificando-se a distância da realidade de
Maria Laura para a dominante e forte figura de mulher pintada por Almeida Jr. (1850-
1899), fica a questão: quem é a mulher do final do oitocentos? É a mulher livre e
segura da obra ou a mulher dominada e massacrada pela ética patriarcal de então?
Para entender essa mulher, é importante lembrar que o período é símbolo de
intensas mudanças, de modernidade, de novos ares, novas ideias, novos valores. O
Brasil caminhava a passos largos para um mundo de intensas novidades que culminaria
com a Belle Époque e a Semana de Arte Moderna de 22, com mulheres pintoras e
transgressoras. Mas, por ser período de transição, fácil é encontrar a mulher como Maria
Laura, que casou pela vontade da família e, ao tentar se libertar, perdeu tudo, como é
possível encontrar mulheres pintoras, escritoras, atuantes, conquistando independência e
espaço.
Embora a nudez não seja comum nas pinturas alegóricas, a alegoria nua de
Almeida Júnior (1850-1899) responde, para alguns à “recuperação mitológica do corpo
e da corporeidade”, como um ato transgressor, relacionado ao desejo sobre a imagem.
Como argumenta Edoardo, esta é uma opção relacionada à cultura:
37
Revista Campo e Cidade. . Edição 67, agosto de 2010 – Almeida Júnior.
46
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38
Outra característica da mulher romântica também lembrada por Coli (COLI, 2004).
39
O corpo representado nunca é um corpo real, ao mesmo tempo, a representação se refere à nossa
experiência vivida; ademais, essa experiência não é apenas visual, já que pode ocupar todos os
sentidos.(BATISTA, Stephanie Dahn. O corpo falante: Narrativas e inscrições num corpo imaginário na
pintura acadêmica do século XIX. 19&20, Rio de Janeiro, v. VI, n. 1, jan./mar. 2011. Disponível em:
http://www.dezenovevinte.net/obras/corpo_academia.htm).
40
O nu desapareceu quase totalmente da história da arte ocidental durante séculos. O corpo aparecia
sempre embaixo dos panos sem relevos, com pregas hirtas e volumes ausentes. Nus, e tampando-se
depois de comer a maçã, Adão e Eva era a única nudez concebível na Idade Média. Os corpos mal
esboçados encontravam-se representados em igrejas ou nas portas e na face dos túmulos (HAYEK, Thais
Fernanda Martins. Transformações do nu feminino no século XIX. Dissertação de mestrado apresentada
ao Programa Interunidades de Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo, 2007, pg. 17).
41
A partir do século XIV, os nus começam a surgir na arte novamente através das representações de
banhos. Nus também apareceram os eleitos do Juízo Final, estes libertos do pecado, porque é esse corpo o
próprio vestuário do homem. (HAYEK, Thais Fernanda Martins. Transformações do nu feminino no
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Figura IV
O nascimento de Vênus (c.1863)
Alexandre Cabanel
Óleo Sobre Tela 130 x 225 cm
Musée D´Orsay - Paris
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No caso das mulheres leitoras, o ato de ler ainda se confunde com situações
de intimidade. Em Leitura, (Figura V, 1895), uma das raras cenas urbanas do artista
(LOURENÇO, pg. 78, 2009), a jovem mulher lê em um balcão, local que embora seja,
de certa forma, público, é parte de seu espaço particular, do seu "universo burguês e
interiorano44". Na cena, vê-se a insinuação de outra pessoa, por meio da capa masculina
que pende precariamente de uma cadeira bem ao canto. Estaria esse homem a observá-
la, flagrando o prazer e a absorção da leitura? E o que leria a moça? Uma obra amena e
delicada, como era recomendada às boas moças de então (MORAIS, 1998)? Ou seria
ela uma transgressora, lendo romances proibidos?
Figura V
Leitura (1892)
José Ferraz de Almeida Júnior
Óleo sobre Tela, 95 x 141 cm.
Pinacoteca do Estado de São Paulo
44
DIAS, Elaine. "Almeida Junior" - 1ª ed - São Paulo: Folha de São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 2013,
p.60.
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Em Moça com livro (Figura VI, sem data) temos uma moça destacada pela
luz, em um contraste com o fundo escuro de um jardim. Deitada na grama, ela marca a
folha do livro com os dedos, interrompendo a leitura e, com os olhos voltados para o
alto, parece ponderar. Mas pondera sobre o que leu? Talvez a cena lida tenha trazido
alguma lembrança, talvez ela pense em outra coisa, que a perturba, e a leitura seja uma
forma de distrair a mente.
Embora possua o moderno hábito de ler, a moça é sensual, com os lábios
avermelhados e as bochechas delicadamente pintadas, usando uma roupa que deixa
entrever o colo alvo e sensual, discretamente a vontade também uma situação de
intimidade, ainda que em um local externo.
A respeito dessa obra, reverbera Maria Cecília França Lourenço
(LOURENÇO, p. 193, 2007) que "as soluções estampadas com riqueza de detalhes por
Almeida Júnior concebem narrativas femininas, sonhos e mistérios, e dificilmente se
imaginaria que seja uma escolar com dificuldades nas lições."
Figura VI
Moça com livro (sem data)
José Ferraz de Almeida Júnior
Óleo sobre Tela, 50 x 61 cm.
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP)
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apoiando a cabeça, o vestido aberto mostrando as rendas de suas roupas de baixo. Uma
figura sensual e, também nesse caso, protegida por sua intimidade.
Coli (2004) lembra que na arte de Courbet a representação do feminino é
enigmática (mas não violenta), um mistério orgânico. A lição sobre o mestre do
realismo francês parece descrever a tela de Almeida Júnior (1850-1899), mesmo se
considerarmos a existência de um livro na obra:
Figura VII
Repouso (sem data)
José Ferraz de Almeida Júnior
Óleo sobre Tela 85 x 115 cm
Coleção Particular, Rio de Janeiro
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Figura VIII
Saudade (1899)
José Ferraz de Almeida Júnior
Óleo sobre Tela, 197x101cm.
Pinacoteca do Estado de São Paulo (PESP)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
45
Apud PEREIRA, Marcelo de Andrade. "Saber do Tempo: tradição, experiência e narração em Walter
Benjamin." Revista Educação e Realidade jun./dez.
46
Apud COSTA, Cléria Botelho,.Resenha de ERTZOGUE, Marina Haizenreder & PARENTE, Temis
Gomes (Orgs.). História e sensibilidades. Brasília: Paralelo 15, 2000. In Rev. Mosaico, v.1, n.1, p.106-
108, jan./jun., 2008
55
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DINIZ, Thais Flores Nogueira, SANTOS, Ariane Souza. Imagens em palavras: as cinco
formas ecfrásticas nos poemas de Shawna Lemayin. In Todas as Letras R., v. 13, n. 2,
2011.
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HEGEL, W. Curso de estética: o belo na arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
LOURENÇO, Maria Cecília França. Espaço para a vida moderna. In Almeida Júnior,
um criador de imaginários. Catálogo da exposição realizada na Pinacoteca do Estado de
São Paulo entre os dias 25 de janeiro e 15 de abril de 2007.
MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. A leitura de romances no século XIX. Cad.
CEDES [online]. 1998, vol.19, n.45 [cited 2013-10-13], pp. 71-85 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
32621998000200005&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 10/09/13.
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PHILIPPOV, Karin. A Saudade de José Ferraz de Almeida Júnior, uma análise dos
aspectos iconográficos. Comunicação apresentada no III Encontro de História da Arte –
IFCH/UNICAMP, 2007. Disponível em:
http://www.unicamp.br/chaa/eha/atas/2007/PHILIPPOV,%20Karin.pdf. Acessado em
23/11/12.
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Cristina Susigan 47
47
Cristina Susigan, Doutoranda em Educação, Arte e História da Cultura do Programa de Pós-Graduação
na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Bolsista Capes. Em suas pesquisas, dedica-se às relações
interartes (ekphrasis), história, teoria e crítica de arte e literatura e cinema. Exerceu a docência no ensino
superior na ESMAE, Portugal. E-mail: csusigan@gmail.com
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trabalhados pelo artista. A análise pictórica de Vermeer faz a união entre a imaginação e
a beleza, amor e poder, criação e mistério.
Datas e Afinidades
Os estudiosos contemporâneos, na sua generalidade, acreditam que Vermeer
pintou Moça com Brinco de Pérola entre 1665-1667, quando ele tinha cerca de 35 anos.
Este foi um período em que também produziu muitos trabalhos como em Senhora
Escrevendo, Moça com Chapéu Vermelho, Senhora e Empregada Doméstica e A Arte
da Pintura. As datas precisas em que as obras primas de Vermeer foram pintadas tem se
revelado de difícil verificação porque nenhum documento assinado comprova uma
ligação direta ao estúdio, e o mestre de Delft apenas datou três dos seus trabalhos,
enquanto assinou outros poucos. Vermeer assinou seu nome, da maneira habitual, no
canto superior esquerdo, de Moça com Brinco de Pérola.
Como não se reconhece a existência dos seus antecedentes, no entanto, e
porque a moça veste roupas cujo modelo não pode ser imputado a uma época em
particular, os estudiosos não têm evidências físicas ou culturais que possam precisar a
data do quadro. Consequentemente, para estabelecer o período acima compreendido,
eles teem se apoiado em uma comparação de técnicas e estilos com outras pinturas de
Vermeer.
Moça com Brinco de Pérola não revela o grosso empasto observado em
outros trabalhos feitos no início de 1660 – pinturas como A Leiteira (1658-1660), A
Ruela (1657-1658), e a Vista de Delft (1661). Mas também não tem a uniformidade, das
figuras relativamente não moduladas, característica padrão das pinturas feitas depois de
1669 – A Rendeira (1670), Mulher tocando Guitarra (1670), e Senhora escrevendo
carta com sua Criada (1670). De acordo com Wheelock, Jr.:
In none of his painting from the 1670s does Vermeer achieve the
softly diffused flesh tones evident here, which he created by layering a
thin, flesh-colored glaze over the flesh tones. The artist also diffused
the contour of [his model’s] check by extending this thin glaze over
the edge of the thicker under layer, a technique during the mid1660s
in painting such… (WHEELOCK, JR, 2000, p. 186).
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revela alguns paralelismos entre Senhora e Empregada doméstica e a Moça com Brinco
de Pérola. No primeiro quadro, a senhora sentada assume um registro visual rígido em
contraste com a criada em pé; ela brilha com a mesma luz difusa que caracteriza a
rapariga do último trabalho e alcança o mesmo sentido de profundidade do cenário meio
escuro.
Três outros trabalhos de Vermeer que são semelhantes e que chegaram até
nós, um deles aceita-se que Vermeer tenha começado mas não completado o
controverso Moça com Flauta. O outro, Moça com chapéu Vermelho é muito pequeno e
a modelo olha para além do observador, para a direção oposta; como característica
principal um invulgar tapete ao fundo. No entanto, a Retrato de uma Jovem (1665-1667)
é conceptualmente tão alinhado com a Moça com Brinco de Pérola que alguns
estudiosos acreditam que eles sejam um par, pintados para revelar contraste.
Os retratos que faziam par com outro semelhante48, eram uma convenção
comum entre os artistas do século XVII que faziam pares de quadros com maridos e
mulheres ou então, de irmãos. Os estudiosos questionam sobre qual dos quadros em
questão são “bustos”49 ou retratos. O primeiro era um termo que os artistas holandeses
deram para caracterizar estudos ou idealizar representações de pessoas para assim poder
divulgar suas qualidades técnicas. Ao demonstrar que podiam executar texturas e
misturas de cores nas pinturas de bustos, por exemplo, os artistas esperavam animar
seus negócios. Como Walter Liedtke, afirma, que os bustos tinham um “intagible our of
the studio”, e significativos “...essays to be appreciated primarily for their artistry and
imagination” (LIDTKE, 2000, p. 393). Os retratos, por outro lado, eram representações
cuidadosas de uma pessoa em particular, usualmente feito através de uma encomenda.
Indiferente a estes propósitos, Moça com Brinco de Pérola parece um quadro que
Vermeer pintou com uma modelo.
Tanto Retrato de uma Jovem como a Moça com Brinco de Pérola são quase
do mesmo tamanho e as modelos, estão sentadas contra o mesmo fundo negro, olhando
ambas por cima do ombro esquerdo e sorrindo levemente. Existem muitas outras
semelhanças, no entanto – o colar branco, os brincos de pérola, o turbante dourado. Mas
também existe pontos diferentes, como o cabelo coberto da moça do primeiro quadro,
fortemente puxado para trás, a sua pérola que é mais pequena, e o incômodo pedaço da
sua mão, que somente é visível na base do quadro, estranha sugestão do uso de um
48
Termo original pendant, do latim pendente.
49
Do original troine.
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manequim. (Lidtke chama este quadro de Vermeer como “elisions of what is know [in
this case anatomy] in favour of what might be seen [depending upon the observer]”)
(LIDTKE, 2001, p. 390-391). Talvez o mais significativo, os lábios da jovem parecem
secos e permanecem fortemente apertados, enquanto que os da tela Moça com Brinco de
Pérola estão úmidos e abertos, expondo seus dentes. A modelo de Retrato de uma
Jovem está envolta em um pesado xaile cor de pérola, talvez para enfatizar sua absoluta
pureza em contraste com a evidente sedução natural da Moça com Brinco de Pérola:
The cascading folds of her raiment glister with Baroque flourishes and
soft decoration as they disappear into the void, complementing the
subdued shadows and muted highlights of the young woman’s face
(LIDTKE, 2001, p. 390-391).
The unusually direct contact between sitter and spectator, and the
slightly parted position of the lips, presents a sense of immediacy so
great as to imply strongly some specific act or identity – such as a
sybil uttering her prophecy or some biblical personage (SLATKES,
1981, p. 69).
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Até mesmo a idade da moça não é certa, “Almost certainly, it is this very
look of a historic or iconographic framework that conveys such immediacy to all who
view her” (WHEELOCK, JR., 1995, p.168).
Das mais de quarenta representações que Vermeer fez de mulheres, a Moça
com brinco de Pérola é o que desperta maiores interpretações, no entanto pouca atenção
é dada para os incidentes biográficos que compõem a fisionomia, primeiro requisito
para um retrato formal naquele tempo.
De qualquer maneira, devido à natureza de intensa intimidade observada nos
quadros de Vermeer, seria natural supor que o mestre holandês representava membros
da sua própria família em suas composições, embora os investigadores defendam que a
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Moça com Brinco de Pérola não é concebido como um retrato do século XVII, segundo
o termo holandês usado na época. Gerard Terbroch, um artista holandês cujos temas e
técnicas refinadas acredita-se ter influenciado o jovem Vermeer, usava frequentemente
membros da sua própria família como modelos, em particular sua meia irmã Gesina.
Talvez este fato em particular adicione o sentimento de ternura das figuras femininas de
Terboch (VERGARA, 2003, p. 237).
De qualquer modo, a candidata apontada com maior frequência como
modelo de Moça com Brinco de Pérola, tem sido a filha mais velha de Vermeer, Maria,
que provavelmente nasceu em 1654. Por conseguinte, Maria teria por volta de doze anos
entre 1665-1667, a data que os investigadores atribuem ao quadro. Montias assinala
que: “only a father can paint such portraits” (MONTIAS, 1998, p. 311).50
Apesar da sugestão de ser a filha de Vermeer a modelo que teria pousado
para o quadro ser atraente, carece de fundamentação. Como não existe nenhuma
evidência que aparentemente comprove esta hipótese, as suposições que os críticos
fazem em torno desta interpretação é, talvez, não menos enigmática que a Mona Lisa de
Leonardo da Vinci.
Outra hipótese é ser a Magdalena, a única filha do principal cliente de
Vermeer, Pieter van Ruijven, a modelo do quadro. Esta suposição pode ser
indiretamente reforçada pela presença em um documento de um par de tronies (a Moça
com Brinco de Pérola é reconhecida pertencendo a esta categoria de pintura própria dos
Países Baixos) feitos por Vermeer e vendidos em 1696, no leilão das obras pertencentes
a Jacobs Dissius em Amesterdã. Está comprovado que Dissius adquiriu estes quadros
através de seu casamento com a filha de Van Ruijven, que provavelmente adquiriu estes
quadros diretamente do próprio Vermeer.
Magdalena era aproximadamente da mesma idade da filha de Vermeer,
Maria. As famílias de Van Ruijven e Vermeer viviam próximas uma da outra em Delft.
R. H. Fuchs, em Dutch Painting (The World of Art Library), frisa:
50
André Malraux em Vermeer in Delft. Paris: 1952, p. 114, menciona Maria em um documento de 18 de
Junho de 1657 (Montias, 311, doc. 268).
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... a jovem que enverga um manto de seda azul, uma saia amarela e
uma coroa de folhas, e que segura um trombone na mão direita e um
livro de capa amarela na esquerda, ... ela é – e nisso não há qualquer
dúvida – a Musa Clio, a Musa da História. O pintor esta a elogiar Clio
e, através dela, a História, ou, para ser mais preciso um acontecimento
histórico particular (SCHNEIDER, 2004, p. 81-82).
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quintaessência holandesa, não pode ser considerada uma completa surpresa. Outros
objetos de origem turca podem ser associados com o pintor. Alguns tapetes que
aparecem cobrindo as mesas nas pinturas de interiores de Vermeer eram de origem
turca. Eles eram muito apreciados por seus motivos florais e pela grande extensão de
um vermelho quente que alegrava e, quando não, pelas simples formas geométricas.
Além disso, no inventário dos bens de Vermeer (29 de Fevereiro de 1676)
feitos logo após a morte do artista relacionava: “a Turkish mantle of the aforesaid Sr.
Vermeer”, “a pair of Turlish trouses” e “a black Turkish mantle”, tudo no “great
hallway” de sua casa. Alguns investigadores sugerem que os dois troines em “Turkish
dress” achados na cozinha possivelmente foram feitos por Vermeer (MONTIAS, 1998,
p. 339-340).
Embora os quadros do mestre de Delft claramente seguirem a tradição do
Norte dos tronies, a jovem de turbante pertence a uma longa linha de pinturas européias
em que extravagantes turbantes jogam como chave iconográfica ou função decorativa.
Uma das mais ilustres pinturas de turbante é o Homem com um Turbante (1422) de Jan
van Eyck, que se acredita ser um autorretrato.
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pintores para seus temas e composições. Lawrence Gowing, o autor de um dos mais
interessantes estudos sobre o artista holandês, declara:
... it would be hard to find a theme of any boldness in his work which
is not based on a precedent; inquiry multiples the evidence that the
majority of his figures motifs were directly derivate (GOWING, 1997,
p. 22).
51
Textura produzida pela espessura do pigmento numa pintura pela aplicação de camadas espessas de
pasta. O empastamento tem por fim dar a pintura mais vigor, mas produz facilmente uma impressão de
peso, de opacidade.
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Mulher com cola de Pérolas, Mulher com Alaúde, O Concerto, Mulher Escrevendo,
Moça com Chapéu Vermelho, Retrato de uma Jovem, Senhora e a Empregada
Doméstica, e Senhora escrevendo carta com sua Criada. Todos estes quadros datam de
meados de 1660.
Pearls are linked with vanity nut also with virginity – a wide enough
iconographic spectrum. The most beautiful pearl in Vermeer’s work is
undoubtedly that worn by the Girl with a Pearl Earring – a massive
creation of highlights and shadows and obscures shadows. The largest
know pearls with a perfect skin or “orient” had a circumference of 4 ½
inches. Artificial pearls were invented by M. Jacquin in France around
this time, thin spheres of glass filled with l’essenced’orient, a
preparation made of white wox and silvery scales of a river fish called
ablette, or bleak, but cultured pearls were also coming in from Venice.
This girl of Vermeer’s seems to be wearing a glass “drop earring”
which has been varnished to look like an immense pearl; such earring
were currently fashionable in Holland, as cue see in paintings by Van
Mieris, Metsu and Terborch. But Vermeer’s pearl is probably could
artificial, having been enlarged to such a size by the painter’s
imagination and desire to adorn the girl with something spectacular
(BAILEY, 2002, p.123-124).
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Vermeer tinha envernizado a tela com uma camada muito fina de anil
misturada com amarelo abaixo do escuro preto pintado. O azul e o amarelo eram ambos
pigmentos de origem orgânica. O anil é uma tinta de um azul profundo derivado de uma
planta denominada anileira, já o amarelo era uma tinta de uma cor natural obtida de
flores de uma planta do sul da Europa, conhecida como o lírio-dos-tintureiros. Parece
que Vermeer utilizou o anil apenas algumas vezes, como salienta o artigo Scientific
Examination of Vermeer’s Girl with a Pearl Earring: “originally, the background must
have been made with a smooth, glossy, hard, translucent green paint, which was made
to look darker and given depth by the underpaint” (GROEN, WERF, BERG and
BOON, 1998, p.175). A justaposição do tom verde provavelmente produzia um efeito
ótico que faz o tom da pele parecer muito mais vibrante do que é hoje.
A técnica e o estilo usado por Vermeer em Moça com Brinco de Pérola é
análogo com outros quadros de mulheres sozinhas do começo e meados de 1660. A
pintura foi composta com uma série de finas camadas e de acordo com um alto critério
ótico. Os contornos são mais esfumados. O tom e o efeito de claro e escuro criam um
sentido de impalpável luminosidade e tom quente. As áreas profundamente sombreadas
dos contornos são extremamente indefinidas quanto sugestivas. Nas palavras de Brian
Jay Wolf:
The key to the painting lies in the turn of the woman’s head. Nowhere
else in Vermeer’s oeuvre is a painting so forcefully organized around
a single axis. The woman’s head rotates around a vertical line, a
shadow, that runs from her left temple to her left shoulder and torso.
She turns her head against the direction of her body, toward the
viewer; her eyes complete a ninety degree pivot that the head by itself
cannot, or will not sustain. The Girl with a Pearl Earring encompasses
Vermeer’s deepest feelings about perception, reduced with
extraordinary brilliance to the spared of iconographies: the rotated
head of a costumed woman. Her turn to the viewer interrupts whatever
bodily narrative she might otherwise tell (WOLF, p. 2001, 138-139)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2002.
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contributions by MIchiel C.Plomp, Danielle H. A. C. Lokin, Quint Gregory. London:
Phillip Wilson Publishers, 2000.
WOLF, Brian Jay. Vermeer and the Invention of Seeing. Chicago: University of
Chicago Press, 2001.
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52
Professora Adjunta da Universidade Federal de Goiás.
53
Graduanda em História da Universidade Federal de Goiás, bolsista de Iniciação Científica do Programa
PROLICEN/UFG.
54
Apuleio intitulou a obra de Metamorfoses (Methamorphoseon Libri xi, também conhecida como
Asinus Aureus), mas alguns tradutores a nomeiam como O Asno de Ouro. Segundo a tradutora do livro
Ruth Guimarães (Apuleio. O Asno de Ouro. Trad. Ruth Guimarães. São Paulo, Ed. Cultrix, s/d), o termo
“de ouro”refere-se a uma história extraordinária, fantástica.
O Asno seria o símbolo do mais baixo corporal e material, segundo Bakhtin, M. Cultura Popular na
Idade Média e no Renascimento. Brasília: UNB, 1999, p.67.
55
Conforme Sérgio Motta, a obra Metamorfoses se caracteriza como uma sátira latina “que possui um
estilo confessional em moldes de uma narrativa de viagem”. Para o autor: a sátira latina utiliza o modelo
idealizante construído pelos os gregos no qual são descritas a sabedoria e a coragem do herói e os mitos
sagrados para contrapor uma representação anti-heróica caricatural dos tipos sociais e morais próximos
do mundo real. (Motta, 2006 p. 162). Entretanto, encontraremos autores que identificam conteúdos
trágicos na obra. A esse respeito ver: TEIXEIRA, Cláudia. O Sentido do Trágico em Apuleio: tradição
e/ou ruptura? Atas do IV Congresso Internacional da Associação Portuguesa de Literatura Comparada.
Estudos Literários/ Estudos Culturais. Évora, 2001. Disponível em
http://www.eventos.uevora.pt/comparada/indice_geral.htm
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para a cidade de Hípata, província de Tessália. Após ouvir histórias sobre feiticeiras e
prática miraculosas de magia que correra em algumas cidades e províncias Gregas,
enche-se de curiosidade e, pelo fato dessas cidades serem conhecidas pelas artes
mágicas, o protagonista Lúcio vai ao encontro com o fantástico, envolvendo-se com a
feitiçaria. Ao chegar a Hípata, hospeda-se na casa de Milão e Panfilia, uma mulher
conhecedora das artes mágicas. Na casa de seus hospedeiros, Apuleio envolve-se com a
escrava Fótis e por uma série de enganos, transforma-se em asno, e não em ave como
era seu plano original.
A curiosidade de Lúcio leva-o a praticar a magia de forma indevida, ou seja,
de forma não ritualizada, e, como um castigo, é transformado em asno, sofrendo
diversas penitências na sua jornada em busca de redenção. Depois de muito sofrimento,
Lúcio recorre à deusa Ísis que se compadece dele e, em um de seus festejos, devolve-o à
forma humana. Agradecido pelo ato bondoso da deusa, Lúcio torna-se seu sacerdote e,
dessa forma, inicia-se na ritualidade dos mistérios de Ísis e Osíris.
Para Nicole Fick (1985, p.133-134), a obra foi escrita antes de 197 d.C.,
bem depois do processo, por magia, a que sofreu o autor, por ter se casado com uma
viúva rica. Ainda, segundo outros autores, (Hidalgo de La Vega, 1986; Phillipe Ward,
1969), se analisadas em conjunto, as obras de Apuleio possuem um sentido único e
apontam para o ensinamento e uma distinção entre a boa e a má magia. Assim, o autor
estaria se justificando como alguém que, adepto das religiões de mistérios, por seu
interesse filosófico, envolveu-se em práticas mágicas.
Quando pensamos em conteúdos com fins pedagógicos, isso nos remete, de
imediato, ao tratamento do trágico na Antiguidade. Sentido, este, que, embora tratado
com diferentes estéticas, foi definido normativamente por Aristóteles na poética 56: na
construção da trama das figuras trágicas ideais, ocorre a mudança da fortuna (metabasis)
e a prática do erro, a ofensa à ordem estabelecida, a chamada hamartia. Assim, a figura
trágica precisava ter grande reputação e fortuna e apresentar traços de similaridade com
os homens comuns para que se permitisse a identificação do público com a personagem.
Sua queda deveria ser na proporção exata e possuir uma conexão causal, para induzir no
público o que ele chama de philantropon, o sentimento de justiça natural. Caso
houvesse um exagero, o conteúdo pedagógico se transformaria em “repulsa moral”, o
que impediria que os objetivos educativos do gênero fossem amplamente alcançados.
56
Poética. Aristóteles. Imprensa Nacional/ Casa da Moeda.
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57
Adaptação do mito de Ísis e Osíris em Apuleio.
58
Na obra MAUSS, Marcel. Esboço de uma Teoria Geral da Magia. Lisboa: Edições 70, 2000.
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inspirada pela piedade. A religião dos romanos foi politeísta e ritualista e não possuía
dogma ou autoridade espiritual, era estritamente ligada às estruturas sociais, ao Estado e
aos seus valores.
Cícero59 vinculou os romanos aos deuses deixando claro que a religião tinha
uma função cívica, sendo baseada na pietas e na religio60. Pietas era o cumprimento dos
deveres religiosos, além de significar, ainda os deveres com a família, e à pátria. A
religio era compreendida como a prática da religio, ou seja, o homem que realiza o
culto pela atenção diligente e serena e não pela superstição, elemento impulsionado pelo
medo, o temor aos deuses. O homem religioso não é o que teme, mas o que “considera
atentamente”. Isso só se faz com o cumprimento de práticas rituais, diligentemente
observadas, mas sem os excessos de escrúpulos temerosos próprios da superstição.
Dessa forma, o culto não deveria ser uma expressão somente privada, mas
uma obrigação da comunidade, dos magistrados que se tornaram membros das classes
sacerdotais. A prática correta do culto garantiria a subsistência do Estado romano. O
cidadão romano deveria participar dos ritos públicos como membro da urbs.
Panfília era uma mulher que manipulava as forças elementais e fazia temer a
cidade. A personagem Birrena adverte Lúcio: “guarda-te, guarda-te energicamente dos
perigosos artifícios e da criminosa sedução dessa Panfília”(Livro II, V). Suas práticas
eram de natureza individual e sem a ética da religio da urbs: Panfília utiliza-se de
práticas mágicas para seduzir amantes e transforma opositores em pedras, carneiros e
outros animais61.
Conforme explicou Durkhein, o aspecto individual da magia leva à prática
imoral, anti-social e desviante, rompendo assim com a função de coesão social e
solidariedade das religiões cívicas62. Mesmo que ocorram práticas mágicas na religião, a
magia laica tem recepção diferente nas sociedades em que é praticada. Diferente das
práticas religiosas em que é preciso um tradutor, um intermediário entre o transcendente
e o adepto, na magia laica, a manipulação das forças divinas é um aprendizado da
59
Marcus Tullius Cicero (106 a.C./43 a.C.), foi um filósofo, orador, escritor, advogado e político romano.
Escreveu De Natura Deorum, livro em que discute teologia.
60
Como nos explica Sanzi, Ennio. Cultos Orientais e Magia no Mundo Helenístico-Romano. Fortaleza:
Ed. UECE, 2006.
61
Apuleio. Livro II, IV.
62
Aspectos que foram trabalhados por Durkheim, E. As Formas Elementares da Vida Religiosa. Lisboa:
Editorial Presença/Martins Fontes, 1977.
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63
46-126 d. C . De Iside et Osiride.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BAKHTIN, M. Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento. Brasília: UNB,
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DURKHEIM, Emile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. Lisboa: Editorial
Presença/Martins Fontes, 1977.
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TEIXEIRA, Cláudia. O Sentido do Trágico em Apuleio: tradição e/ou ruptura? Atas do
IV Congresso Internacional da Associação Portuguesa de Literatura Comparada.
Estudos Literários/ Estudos Culturais. Évora, 2001. Disponível em
http://www.eventos.uevora.pt/comparada/indice_geral.htm
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Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás – UFG.
glaycerocha@gmail.com
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associada com o sagrado, o cosmos e com o homem. Porém, o seu maior significado
está no Cristianismo, baseado na ideia da morte e ressurreição de Cristo, que traz
esperança de redenção e vida eterna, porque a morte de Cristo representa a salvação.
Dessa forma, a cruz possui vários significados, tornando-se um importante elemento da
iconografia funerária na representação de morte.
Os cemitérios de Salobro, Gameleira e Ladeira Vermelha são os maiores,
possuindo uma arquitetura vernacular, com jazigos mais sofisticados e ornamentados
dentro do contexto da região estudada. Mesmo assim, não contam com nenhum tipo de
funcionário e os sepultamentos também são feitos pelos próprios moradores. Também
não possuem nenhuma planta, mas os túmulos são dispostos lado a lado, permitindo
vias de acesso entre eles.
Salobro e Ladeira Vermelha possuem entrada em alvenaria, portão de ferro
e são os únicos murados. Em todos eles os jazigos são semelhantes, desde os mais
simples, uma cova rasa com uma cruz fincada, até os mais adornados com vasos de
flores plásticas coloridas, epitáfios e lápides em bronze.
Nos jazigos mais trabalhados encontramos pequenos altares ou capelinhas,
denominados de nichos, que os familiares decoram e onde criam um espaço íntimo para
rezas e devoção. Nesses pequenos altares encontramos os mais variados objetos que
trazem a lembrança do morto: porta-retratos, terços, santinhos, mensagens bíblicas,
vasos de rosas etc.
A participação familiar na feitura do túmulo é uma das maneiras que se tem
de comprovar a necessidade de melhor elaborar a perda de um ente querido. As pessoas
necessitam de se acercar dos túmulos, criarem um ambiente íntimo e de recolhimento,
para que possam exercitar o ato de devoção, fazer-lhes visitas e embelezá-los com
flores. (BORGES, 2005, p.5)
Também observamos a existência de muitos epitáfios dentro e fora desses
altares, com dizeres bíblicos, frases de fé, esperança, sentimentos pela perda, e cujo
objetivo principal é de tornar viva a lembrança do morto.
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O Canto Fúnebre, enquanto cultura oral faz parte de uma prática quase
universal e tem como finalidade reverenciar e lamentar os mortos. Evidencia-se como
expressão musical, considerado de cunho religioso, do catolicismo popular. Tem como
propósito reunir os parentes e amigos do morto, desde os primeiros momentos da
agonia, até a partida do corpo para o sepultamento. Faz parte do ofício Carpir. São
conhecidos como excelências, inselências ou inselenças.
Goya (2008) explica que inicialmente a função do canto fúnebre era de
despertar no moribundo o horror ao pecado, induzindo-o ao arrependimento, ou para
conduzir o morto ao céu. Ela ressalta que esse ritual faz parte do cotidiano rural e
urbano, sendo que na região Nordeste o morto é velado, geralmente, deitado na rede.
Esclarece que há casos em que as mulheres dividem o trabalho, sendo que uma fica à
porta para receber autoridades, como o padre, que vem para dar ao moribundo a extrema
unção. A recepção é feita pelas mulheres sempre cantando, enquanto outras
permanecem carpindo ao lado do corpo. O canto fúnebre reflete as dores, os
sentimentos, as crenças e a cultura de um grupo social. O ato de carpir busca evidenciar
ao morto o sofrimento dos vivos.
De acordo com Cascudo (2002), as excelências, muito comuns no Nordeste
brasileiro do século XIX, representavam inicialmente orações musicadas em versos que
eram entoadas exclusivamente por mulheres nas sentinelas. Posteriormente, o termo
passou a representar também a elas próprias. Como vemos, tais canções revelavam o
entendimento da morte, as atitudes dos vivos e o desejo de que, do mesmo modo que o
morto estava sendo velado e cortejado por muitos, elas também tivessem os rituais
mortuários, além de orarem almejando um lugar de descanso no paraíso. Elas
representavam uma herança das carpideiras (CASCUDO, 2002, p. 23-24).
Essas canções e orações expressam uma religiosidade popular, que faz parte
do cotidiano de comunidades tradicionais, que atribuem sentidos a terços, novenas e
ritos domésticos, assumindo diversas funções materializadas em rezas para afastar os
males do tempo e do corpo e fazer a passagem de indivíduos do mundo dos vivos para o
mundo dos mortos.
Na religiosidade, são buscadas histórias de fé e devoção de pessoas comuns,
que participam de rituais e os significam em suas vivências religiosas. Para investigar as
rezas e lamentos, é necessário priorizar as emoções e os sentimentos que emanam das
inselências, orações cantadas em forma de lamentos em uma melodia unívoca e
repetidamente em número de nove a doze. São lamentos que marcam o momento da
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De acordo com informações aqui descritas, esse projeto buscará dados para
compreender a experiência do homem nordestino diante de fatos relacionados à morte.
As inselências informam a preocupação com a morte e principalmente com o medo de
ser esquecido, de não ter assistência. Morrer sem esses ritos significa estar só e
abandonado.
As rezas possuem a função de ligar, e por sua vez reafirmam a teia de
solidariedade que informam a prática de piedade cristã entre a comunidade afetiva. A
busca por tradições e significações da vida religiosa se explica como uma forma de ler e
se relacionar com o tempo, tempo que passa de forma diferente para as pessoas, para os
lugares e para as tradições.
Além de conhecer, analisar, descrever as manifestações religiosas, a estudo
tem como proposta permitir que outras pessoas conheçam expressões culturais que
encantam comunidades inteiras e que experimentam formas de religiosidade e
espiritualidade diversas. É preciso que reconheçamos essas expressões culturais não
como elementos rústicos ou exóticos, mas como manifestações que são constituintes de
uma tradição religiosa e formadoras de identidades e dos sentimentos humanos.
Na sociedade ocidental, só o enterramento ritual confirma a morte. Eliade
(1999) relata que aquele que não é enterrado segundo o costume não está morto. Além
disso, a morte de uma pessoa só é reconhecida como válida depois das cerimônias
funerárias. A preocupação com cemitérios, preservação de cadáveres, honras fúnebres é
comum em nossa sociedade, e isso vem antes da Idade Média. Porém, mesmo que a
morte seja uma realidade para todos, existe uma desigualdade social na morte e no ato
de morrer.
Baseado neste contexto, a este estudo busca analisar os rituais fúnebres do
Nordeste, em especial na região citada anteriormente. Uma investigação sobre os
aspectos relacionados à morte e às características dos cemitérios rurais do povo dessa
região. Com isso, pretendo, através de uma pesquisa histórica, levantar fatos,
documentos, entrevistas para buscar a fundamentação necessária para as repostas desse
estudo.
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Para esta investigação será primordial o estudo de obras de Philip Ariès, tais
como O homem diante da morte (1977), que expressa o homem do Ocidente reagindo a
uma sensibilidade coletiva diante da vida e a morte, um sentimento pertencente a uma
história da cultura global. Ariès trata a morte como um elemento ou código carregado
pelo homem em suas tradições e experiências, que deve ser decifrado para uma
compressão.
Nessa obra, Ariès traz uma discussão importante para esse estudo que
pretendo realizar. O autor dialoga com sentidos e significados sobre a morte, o
sentimento de luto, a tipologia dos túmulos, o rezador, as cruzes sobre os túmulos, os
ex-voto e capelas e jazigos de família.
Outra obra também relevante para este estudo, também de Ariès, é a obra
Sobre a história da morte no Ocidente desde a Idade Média (1989), na qual este
historiador apresenta a passagem da morte familiar “domesticada” na Idade Média, para
a morte repelida, maldita e negada nos dias atuais. Ariès também aborda sobre a
mudança das atitudes diante da morte nas sociedades ocidentais, onde o moribundo é
privado de sua morte, e na qual se verifica uma recusa do luto e a invenção de novos
ritos funerários.
Para tratar sobre morte, representações, medo e atitudes, será utilizada a
obra de Maria Júlia Kovacs, Morte e desenvolvimento humano (2002), onde a autora
traz considerações sobre a representação, o medo e atitudes diante da morte, levando em
conta que desde todos os tempos o homem busca constantemente a imortalidade,
tentando desafiar e vencer a morte.
Para fundamentação desse trabalho, será essencial a pesquisa do site Arte
Funerária no Brasil, da professora e pesquisadora Maria Elizia Borges, bem como
publicações de sua autoria, como Expresiones artísticas de cuño popular en
cementerios brasileños (2005).
Baseado neste contexto, este projeto tem como proposta uma investigação
sobre os aspectos relacionados à morte e às características dos cemitérios rurais do povo
dessa região.
Trata-se também de um tema que Paul Ricoeur (2007) considera como um
ato social, pois não se limita ao ato de enterrar, por não se tratar de um gesto pontual,
mas estende-se além do enterro porque o gesto permanece e a sepultura se transforma
no lugar da marca duradoura do luto.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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preservar a memória dos entes queridos (BA). XXVII Colóquio CBHA, 2008.
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www.ibge.gov.br
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Figura 166
D. João VI ouvindo o padre José Maurício ao cravo.
Henrique Bernardelli
Óleo sobre tela (esboço),
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
65
Gyovana de Castro Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG e doutoranda
em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa – Portugal.
66
Disponível em: http://www.josemauricio.com.br/JM_Q_Por.htm Acesso em 26/10/2015
96
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67
Seu pai, Manuel Antônio da Assumpção, foi músico da Santa Igreja Patriarcal, segundo informa o
Catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal - Marcos Portugal (1762-1830) 250 anos de Nascimento
(2012):13. O seu bisavô, Joaquim Mendes Ferreira, músico no lugar do Freixial (MARQUES, 2012, p.
13).
68
De onde saíram quase todos os melhores músicos portugueses do século XVIII e do primeiro terço do
século XIX (MARQUES, 2012, p.13).
97
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Figura 269
FRANCISCO, C. S. MARCOS ANTONIO PORTUGAL - Comendador da Ordem de Cristo Mestre de Capela de S.M.
o Imperador do Brasil, etc., etc..
Litografia
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
69
Disponível em: http://www.josemauricio.com.br/JM_Q_Por.htm
98
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70
Disponível: http://www.insightinteligencia.com.br/60/PDFs/pdf6.pdf
99
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100
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Mauricio não tinha posses. Desta forma, o seminário foi a forma utilizada para
continuar os estudos. Em 1792 é nomeado padre e, em 1798, mestre-de-capela da Sé no
Rio de Janeiro. Ordenado padre71, consegue a almejada nomeação de mestre-de-capela
do Rio de Janeiro, produzindo enorme quantidade de obras que se caracterizavam, em
um primeiro momento, por um estilo despojado com limitados recursos instrumentais.
Após 1808, quando a vida musical ganha impulso com a chegada da corte
portuguesa trazendo novos músicos e cantores, a música de José Mauricio adapta-se ao
gosto dos nobres portugueses, ganha dramaticidade e colorido com a incorporação de
um efetivo maior de instrumentos (CARDOSO, 2000, Prefácio).
Paralelamente às atividades de compositor, organista e regente, José
Maurício dedicou-se intensamente à atividade didática, tendo mantido durante muitos
anos em sua residência um curso de música na qual ministrava aulas para jovens alunos
gratuitamente. (CARDOSO, 2000, Prefácio). O método de pianoforte do Padre José
Mauricio Nunes Garcia, descritos nas publicações de Draghi (2000) e Fagerlande 72
(1996), é a constatação de sua vocação pedagógica. Por exemplo, o caso do primeiro
método para ensino de instrumento de tecla escrito no Brasil.
Figura 373
Método de Pianoforte (1821) composto por José Maurício Nunes Garcia, Jr
Irmãos Vitale CPM236 (2000)
71
“Sua opção pela vida sacerdotal pode ter sido menos por vocação que por afirmação social e
profissional. Seria este o único caminho que poderia leva-lo ao posto de mestre-de-capela da catedral”
(CARDOSO, 2008, 74)
72
Incluindo a reprodução fac-similar do método original.
73
Disponível em: http://chevalierdesaintgeorges.homestead.com/nunes.html
101
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Figura 474
Sigismund Ritter Neukomm
74
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sigismund_von_Neukomm_(1).jg
102
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logo após a Missão Francesa para ajudar a reatar as relações entre Brasil/França e
Áustria.
Talleyrand foi um dos mais controvertidos e poderosos políticos de seu
tempo, colocando-se contra o apoio de potencias europeias ao processo de
independência de colônias americanas, entre elas o Brasil. A movimentação em relação
a aproximação de Portugal da França orquestrada por Talleyrand era interessante a
Portugal na medida em que colocava a nação portuguesa menos dependente da poderosa
influência inglesa.
A saída da corte portuguesa para o Brasil em 1808 deixou Portugal
fortemente dependente de um único pais, a Inglaterra, para a consecução de seus
objetivos estratégicos. Essa situação de dependência desagradava politicamente a Dom
João, na medida em que colocava o monarca português sem outras opções de apoio
politico em qualquer mesa de negociação, vendo-se sempre a mercê dos interesses
ingleses.
Para escapar desse dilema político, Dom João resolve movimentar as peças
do xadrez europeu, convidando para uma visita de reconhecimento ao Brasil artistas e
personalidades de reconhecido gabarito intelectual para compor a então chamada
Missão Francesa.
Idealizada por Antônio de Araújo Azevedo, o Conde da Barca, a pedido de
Dom João VI, desembarca no Rio de Janeiro em 1816, com a missão de fundar a Real
Escola de Belas Artes, a referida missão artística, composta por personalidades de
reconhecido talento, os pintores Jean Debret (1768 - 1848) e Nicolas Antoine Taunay
(1755 - 1830), escultores como Auguste Taunay (1768 - 1824), arquitetos como
Grandjean de Montigny (1777 - 1850), entre outros.
Passados poucos meses do desembarque no Rio de Janeiro da missão
artística francesa, aporta em terras brasileiras outra comitiva francesa, a do Duque de
Luxemburgo, que tinha como um de seus objetivos o restabelecimento das relações
franco-portuguesas. Junto com os diplomatas ligados ao Duque de Luxemburgo vieram
também, compondo a referida comitiva, o naturalista Auguste de Saint Hilaire (1779 -
1853) e o compositor Sigmund Neukomm. Teve início, dessa forma, a importante
contribuição de Neukomm para o enriquecimento do panorama musical da corte
lusitana instalada no Brasil.
Sigsmund Neukomm chega ao Brasil em 1816 permanecendo no Rio de
Janeiro até 1820. Ministrava aulas de música para a Família Real e para membros da
103
ANAIS – VI Colóquio de História e Imagens – ISSN 2447 -6676
sociedade carioca. Admirava e ajudava talentos brasileiros como Padre José Mauricio e
Francisco Manuel da Silva. O envolvimento de Neukomm com as práticas musicais
brasileiras exerceu também grande influência sobre a vida e a literatura no Rio de
Janeiro. Nômade e talentoso, mantinha uma relação muito próxima com seus mecenas e
patrocinadores, principalmente Charles Maurice de Talleyrand. Várias foram as
suposições acerca da influência política desse compositor75. (Monteiro, 2010, p. 99).
Dados revelados pelos pesquisadores Cardoso (2012) e Cranmer (2012b)
apontam informações sobre a suposta inveja de Marcos Portugal em relação a
Neukomm: o austríaco pretendia abrir um curso de contraponto e harmonia, mas
limitou-se, devido ao ciúme e intrigas de Marcos Portugal, a ensinar os futuros
imperadores e a alguns particulares. Neukomm produziu no Rio de Janeiro obras
musicais com diferentes utilidades e significados: para entretenimento da Família Real,
para saraus da aristocracia e outras com fins didáticos (Cardoso, 2008, 211-212). A
preferência pela música de Marcos Portugal na Capela Real era grande; dessa forma,
Neukomm passou a compor obras para piano e apresentar arranjos para piano a quatro
mãos com o intuito de ver suas obras executadas:
Percebi, então, que não haveria lugar para minha música religiosa e
abandonei o projeto de continuar a Missa de São João. Passaria a
escrever música para piano, música de câmara e sinfonias, gênero para
os quais o meu querido Papa Haydn tão zelozamente me preparou e
que, na Corte do Rio, não se tinha o hábito de praticar.
(LANZELOTTE, 2009, p. 51).
75
“Na verdade, os problemas surgidos entre Talleyrand,Metternich e a polícia austríaca acabaram por
envolver Neukomm. Um estudo sobre as obras para flauta de SigismundNeukomm, publicado pela revista
francesa Traversier, traz no título os epítetos de ‘pianista, flautista e espião’. Jean Orieux, um dos
biógrafos de Neukomm, acrescenta que durante o Congresso de Viena, era comum ver Talleryand e seus
supostos ‘espiões’ reunirem-se durante a noite para ouvir as execuções de Neukomm ao piano. O que
poderia ser um simples passatempo ou mais uma prática cortesã, foi interpretado como uma espécie de
complô contra Metternich e a Áustria”. (Monteiro, 2010, p. 99).
76
Francisco Manuel da Silva (1795 -1865) Fundou o Conservatório do Rio de Janeiro, atual Escola de
Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro e compositor da melodia do Hino Nacional Brasileiro,
além decompor arranjos para piano a quatro mãos de suas próprias obras.
104
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O Rio de Janeiro antes da chegada da corte tinha uma vida cultural quase
inexistente. Padre José Maurício Nunes Garcia viveu nesta época conturbada, mas sua
música se beneficiou dos músicos e da vida da corte. Houve no Rio de Janeiro
oitocentista uma irradiação de novas estéticas, nomeadamente o neoclassicismo, com o
abandono da tradição barroca. O padre pôde então incluir em suas composições recursos
técnicos e humanos, já que o momento colocava a sua disposição novas ideias e novos
instrumentistas. Conhecido e reconhecido como grande compositor, instrumentista,
educador e improvisador, não teve uma vida fácil. Enfrentou como padre, mulato, pobre
e brasileiro, em seu tempo histórico, a vida em uma sociedade escravocrata e
preconceituosa.
A exclusão de Padre José Maurício Nunes Garcia se acentuou com a partida
de Dom João VI em 1821 e com o vazio que este fato produziu na cena musical carioca.
Dom Pedro I, apesar de amante da música e simpático ao padre, não pôde manter a
pensão do compositor e ele teve que encerrar as atividades de sua escola na Rua das
Marrecas no Rio de Janeiro. Frustrado, envelheceu precocemente e morreu em 1830 aos
62 anos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARDOSO, André. A música na corte de D. João VI: 1808 – 1821. São Paulo: Martins
Fontes. 2008.
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DRAGHI, Giulio Edoardo. Método de Pianoforte. Irmãos Vitale. São Paulo. 1999;
TRILHA, Mário.Os solfejos para uso de Suas Altezas. In CRANMER, David (Coord.)
Marcos Portugal: uma reavaliação. Lisboa: Edições Colibri/ CESEM, 2013.
Disponível em <http://www.insightinteligencia.com.br/60/PDFs/pdf6.pdf >. Acesso em
02 jul 2014.
106
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107
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78
Sobre o tema, ver CHAUL, Nasr Fayad. A construção de Goiânia e a Transferência da capital.
Goiânia: Ed. UFG, 1999.
108
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(tímido), foi bastante comum na história da nação, apontando uma leitura dualista da
arte, na qual o erudito e o popular se encontravam em campos opostos, desconsiderando
assim as intersecções.
Evidenciados alguns elementos que favoreceram Goiás ser considerado
(local e nacionalmente) como o Estado que mais promove e exporta cantores sertanejos,
vale entender como se deu a constituição do gênero na localidade, bem como a alcunha
de “celeiro da música sertaneja”.79 Faz-se interessante levantar a discussão já pontuada
sobre a contraditória relação música caipira e música sertaneja, para melhor facilitar o
entendimento do gênero em Goiás.
Parece-nos evidente a essa altura do trabalho, que não é indicado apreender
as duas fases do gênero considerando-as em lugares opostos, como se separadas por um
enorme fosso. Entre as duas fases , ao contrário, o que se percebe são diálogos e
justaposições, elementos que, de algum modo, acompanharam o caminhar da música
sertaneja. Para Marta Ulhôa “o estilo vocal se manteve relativamente estável, enquanto
a instrumentação, ritmos e contorno melódico gradualmente incorporaram elementos
estilísticos de gêneros disseminados pela indústria musical” (ULHÔA, 1993, p.1).
À luz dessa percepção de que a música caipira já começa “híbrida” e que
suas variações são composições que coadunam experiências díspares, é que
analisaremos o gênero em Goiás. Para tanto, utilizarei o conceito de “Música Sertaneja
Tronco” para tratar da música sertaneja desenvolvida no Estado, entre os anos 50/80,
termo este batizado por Francisco Ricardo de Souza em sua autobiografia (2010), na
qual o autor elabora uma árvore genealógica para explicar a expansão do gênero,
segundo sua concepção. A ilustração abaixo (imagem 5), chama a atenção pelo fato de
que, para Francisco Ricardo, há uma distinção entre a música caipira e música sertaneja
raiz; alguns autores estabelecem essa diferenciação.
Segundo Marrequinho, Goiás não vivenciou as duas primeiras fases do
gênero, principiando, portanto, na fase por ele definida como Tronco, fato corroborado
pelos registros das primeiras gravações que se deram no final da década de 1950.
Interessante perceber na imagem explicativa do autor, por meio da representação das
diversas setas, os variados caminhos da música sertaneja, sobretudo se atentarmos para
79
A expressão “celeiro de música sertaneja” direcionada a Goiás enquanto “exportador” do gênero foi
utilizada por Francisco Ricardo de Souza Júnior em seu Trabalho de Conclusão de Curso - A música
sertaneja em Goiás (1950-70): História de um ajuntador de versos (2010). Trabalho apresentado no curso
de História da Universidade Federal de Goiás. Além do autor, a mídia local tende a enfatizar a ideia de
que Goiás constitui-se em “exportador” e “fomentador” de artistas relacionados ao gênero.
109
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os últimos quinze anos. A partir daí, observa-se que o gênero tem se mostrado aberto às
novas influências, levando-nos a conjecturar que, devido à música inscrever-se no
campo social e cultural, se mostra móvel e cambiante. Vale atentar, contudo, para o fato
de que na concepção exemplificada por Marrequinho, a fase por ele definida como
“tronco” sugere caracterizar-se por seu caráter relativamente “puro” e livre de
interferências. Sob tal perspectiva, o compositor desconsidera o fato de que, em certa
medida, as origens da música caipira já foram híbridas.
Fonte: http://blogdomarrequinho.blogspot.com.br
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Chico Mineiro80
(Tinoco e Francisco Ribeiro – composição: 1946)
Cada vez que eu me alembro do amigo
Chico Mineiro, das viagen que nói fazia era
ele meu companheiro. Sinto uma tristeza,
uma vontade de chorar, alembrando
daqueles tempo que não mais hái de vortar.
Apesar de eu ser patrão, eu tinha no
coração o amigo Chico Mineiro, caboclo
bom, decidido, na viola era delorido e era o
peão dos boiadeiro. Hoje porém com
tristeza recordando das proeza da nossa
viagem motim, viajemo mais de dez ano,
vendendo boiada e comprano, por esse
rincão sem-fim. Caboclo de nada temia mas
porém, chegou um dia, que Chico apartou-
se de mim.
80
http://www.vagalume.com.br/tonico-e-tinoco/chico-mineiro.html. Acesso em: 12/10/2015. Álbum:
Warner 25 anos: Tonico e Tinoco - 2001. Faixa 03 do CD Ilustrativo.
111
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112
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81
João Baptista da Silva, mais conhecido pelo apelido João Pacífico, foi um compositor de música
caipira, autor dentre outras, da conhecida canção Cabocla Tereza.
113
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Pagode em Brasília82
Compositores: Teddy Vieira, Lourival Santos
82
http://www.vagalume.com.br/tiao-carreiro-e-pardinho/pagode-em-brasilia.html. Acesso em:
12/10/2015. Álbum: Sucessos de Tião Carreiro e Pardinho - 2002. Faixa 04 do CD Ilustrativo.
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O trecho da canção acima permite perceber certa ligação entre Goiás e São
Paulo, no que se refere à música sertaneja. Sob olhares curiosos são construídas leituras
e intersecções acerca da indústria fonográfica paulista, bem como dos mitos do sertão
goiano (SOUZA JÚNIOR, 2010, p. 28). Compositores paulistas, Teddy Vieira e
Lourival dos Santos fazem referências a alguns estados brasileiros, sobretudo a Goiás e
a capital do País Brasília, enaltecendo a figura de Juscelino Kubitschek pela construção
da capital. A referência ao Bazar Paulistinha83 faz-se no verso: No Bazar do Vardomiro
em Brasília é o soberano, utilizando o nome do proprietário Valdomiro Bariani
Ortêncio como referência. Tal estratégia, segundo o próprio Bariani Ortêncio em
entrevista84, teve como proposta homenagear o Bazar, todavia não era indicado
configurar-se em propaganda. Embora o Bazar tenha sido fundado em Goiânia em 1945,
posteriormente foi ampliado com uma filial em Brasília, constituindo-se no primeiro
revendedor de artigos relacionados à música, discos e instrumentos. O verso evidencia a
popularidade do Bazar Paulistinha no meio artístico local, mas igualmente, em São
Paulo, ponto de referência para a música sertaneja. Musicalmente Pagode em Brasília
se constitui no conhecido ritmo inaugurado por Tião Carreiro o pagode caipira.
Violeiro que gostava de samba, Tião inventara um jeito diferente de tocá-lo na viola, o
83
O Bazar Paulistinha foi fundado pelo paulista radicado em Goiânia, Waldomiro Bariani Ortêncio em
1945 em Campinas, posteriormente em Goiânia com filial em Brasília. No período da fundação o Bazar
curiosamente comercializava aviamentos (a mãe e irmã de Bariani possuíam um Ateliê de costura, tendo
dificuldade para adquirir os respectivos produtos, sendo comprados em Uberlândia e São Paulo). Devido
a constatação da escassez de tais produtos, Bariani resolveu então abrir o negócio. A mudança dos artigos
comercializados (de aviamentos para musicais) se deu devido à constante procura de discos, já que Goiás
não contava com nenhuma loja de revenda de tais produtos.
84
Todos os depoimentos, salvo indicação específica, foram retirados de entrevista realizada pela autora
em 13/10/2014, na casa do folclorista.
115
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estilo ficou conhecido por várias gerações (NEPOMUCENO, 1999, p. 342). A música
se desenvolve sob os solos de viola com acompanhamento do violão, sofrendo poucas
variações em seu andamento.
Confirmando os distintos olhares direcionados a Goiás e elucidados nas
letras de canções, faz-se imprescindível mencionar o olhar do compositor Goiá. Gerson
Coutinho da Silva, mineiro de Coromandel, chegou a Goiás em 1953 (com o
pseudônimo de Rouxinol) com o propósito de aproximar da “confraria” dos cantores
sertanejos goianos. Segundo Marrequinho, “além de ser bom cantador, tinha ótima
aparência, era muito comunicativo e escrevia versos metrificados e rimados, com
extrema facilidade” (SOUZA, 2010, p.26). Recém-chegado compôs o Trio da Amizade
(Zé Micuim, Zé Geraldo e Rouxinol), posteriormente na segunda formação do trio (Zé
Micuim, Goiá, Goiazinho), Gerson Coutinho deixa o apelido de Rouxinol e em
homenagem ao Estado assume o nome artístico de Goiá (SOUZA, 2010, p.26). O artista
ficou em Goiás por dois anos, em seguida seguiu para São Paulo em busca de
reconhecimento nacional, objetivo alcançado, já que suas canções foram gravadas
sucessivas vezes por cantores de renome nacional, especialmente a canção Saudades da
minha terra (1967). Embora distante, não perdeu o vínculo com Goiás, sobretudo com
os amigos de cantoria, dentre eles, o cantor Marrequinho. O primeiro disco (78 rpm) 85
da dupla Marreco e Marrequinho foi gravado em São Paulo, na RCA VICTOR por
mediação do Goiá que a essa altura adquirira conhecimento e prestígio junto às
gravadoras de São Paulo. Segundo Marrequinho, mesmo distante, Goiá nunca se
esquecera das experiências e dos amigos de Goiás, postura facilmente verificada em
letras de suas canções, dentre elas uma em homenagem ao compositor Marrequinho.
Sobre tal homenagem, Marrequinho em 2000 compõe a música Saudade e nada mais,
suposta resposta e homenagem à composição de Goiá. Dentre as canções de Goiá que
fazem referência a Goiás vejamos: Visita a Goiás e Saudade de Goiás.
Visita a Goiás86
Compositores: Goiá e Sidon Barbosa
85
O Disco 78 rpm (rotações por minuto) comportava uma ou no máximo duas músicas de cada lado (lado
“A” e lado “B”)
86
http://www.vagalume.com.br/belmonte-e-amarai/visita-a-goias.html. Acesso em 24/10/2015. Álbum:
Porque fui te conhecer – 2002. Faixa 05 do CD Ilustrativo.
116
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Saudade de Goiás87
Compositores: Goiá e Amaraí
87
http://www.vagalume.com.br/belmonte-e-amarai/saudade-de-goias.html Acesso em: 24/10/2015.
Álbum: Relembrados por Amaraí e Francis Jr. - 2005. Faixa 06 do CD Ilustrativo.
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A U.A.S.G (União dos Artistas Sertanejos de Goiás) foi a primeira “Associação de artistas sertanejos”
fundada no Brasil (07/01/1958), demonstrando certo pioneirismo do Estado no que diz respeito a música
sertaneja, a segunda foi criada em São Paulo em 1965 (UASP88 – União dos Artistas Sertanejos de São
Paulo).
89
Entrevista concedida a autora em 07 de janeiro de 2016, no Centro Cultural Oscar Niemeyer.
119
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mas a gente passava meio ao largo disso aí, esse pessoal ia lá em São
Paulo e gravava naquele Selo Califórnia, eles enchiam o caminhão de
LP’s e saiam vendendo, assim, eles não estavam preocupados com a
Capital...
90
Ritmo de origem paraguaia, em andamento lento, introduzidas no Brasil a partir do final da década de
1930 e início da década de 40.
91
Apesar das primeiras gravações de música sertaneja em Goiás registrarem-se na segunda metade da
década de 50, cantores e duplas sertanejas já socializavam modas e causos, nos interiores e zona rural,
sendo comum tal experiência musical. Além das experiências “amadoras”, existiam ainda “duplas que se
apresentavam dentro dos padrões estéticos da época, condizentes com o profissionalismo que se esperava
de um músico sertanejo, tais como Campeão e Rouxinol” (SOUZA JÚNIOR, 2010, p. 36). Campeão foi o
120
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gravações com o Trio da Amizade – Zé Micuim (Jorge Batista Ribeiro), Goiá (Gerson
Coutinho da Silva) e Goiazinho, sendo os primeiros artistas sertanejos de Goiás a
gravarem disco em São Paulo (SOUZA, 2010, p. 20). Antes do Trio da Amizade,
entretanto, Zé Micuim, Tiburtino, Jujú e o Chico Onça foram os primeiros artistas
sertanejos que empunharam violas e (violões) e “enfrentaram” um microfone de rádio
(Rádio Clube92) em Goiânia (SOUZA, 2010, p. 20). Segundo Francisco Ricardo de
Souza, a formação de duplas, ou trios era instável, mas isso não impediu a organização
de uma associação dos artistas de música sertaneja:
A associação tinha como objetivo a união dos artistas sertanejos, bem como
fomentar incentivos e facilitar o trânsito dos artistas nas atividades culturais da capital.
Sobre a operacionalização das gravações no período, Bariani Ortêncio esclarece que as
gravações feitas em São Paulo se efetivavam por intermédio do Bazar Paulistinha, já
que para enviar algum artista para gravar em São Paulo fazia-se necessário um custo
autor de grandes sucessos, dentre eles Canoa de Jacarandá, canção de grande sucesso à época (SOUZA,
2010, p. 20).
92
A Rádio Clube foi fundada em Goiânia em 05 de julho de 1942, na gestão do prefeito Venerando de
Freitas Borges.
121
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inicial referente a uma remessa de mil discos, a exemplo da gravação em São Paulo de
Lindomar Castilho93.
Com base no contexto de obstáculos estruturais às gravações em Goiás, o
intento de gravar um disco esteve irremediavelmente condicionado a São Paulo, fator
embaraçoso, visto que à época, grande parte dos artistas (quase todos iniciantes)
encontravam-se em situação econômica precária, com renda incerta. Considerando tal
conjuntura, levar mais de uma dupla a São Paulo se configurava em tarefa difícil e
onerosa. Como Bariani pretendia gravar sete duplas goianas de uma única vez, o
processo se tornaria mais dispendioso ainda. Dessa maneira, por intermédio do
comerciante Bariani Ortêncio, a solução encontrada foi pedir auxílio à gravadora
Chantecler para efetivar a gravação de um LP (Long Play) em Goiás, especificamente
em Anápolis, local que, segundo Bariani teria estrutura para tal projeto. Bariani
esclarece sobre tal dificuldade:
93
Lindomar Castilho, goiano de Santa Helena de Goiás, foi inserido no meio artístico através de Bariani
Ortêncio por intermédio do Bazar Paulistinha. Marrequinho ajudou na preparação da gravação do
primeiro disco do cantor, cuja a gravação do LP oficial (Canções que não se esquecem) se deu em 1962,
com o repertório de Vicente Celestino; sob a coordenação do Diretor da Gravadora Continental Diogo
Mulero “Palmeira” (na ocasião, em visita a Goiânia). (Informações obtidas através de entrevistas com
Bariani Ortêncio em 13/10/2014 e Francisco Ricardo de Souza – Marrequinho – em 13/09/2014).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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qual passou a viver. Essa mudança de atitude pode ser percebida em seus primeiros
trabalhos, como a série de pinturas de afrescos realizados dentro da Igreja Nossa
Senhora do Rosário na cidade de Goiás e em suas pinturas de cavaletes. Em uma
entrevista ao crítico de arte Miguel Jorge, Confaloni rememorou o começo de sua vida
em Goiás, dizendo: "[..] Assim que cheguei em Goiás, procurei retratar aquelas
paisagens: os rios, as lavadeiras, os burrinhos carregando lenha. Foi uma época muito
feliz! Minha pintura tinha cores muito vivas". Assim, Confaloni já havia se afastado do
modelo acadêmico clássico para imprimir a marca singular do humano enfatizado por
meio de figuras contorcidas, pequenas deformações utilizando-se de aspectos pictóricos
(nuances, cores, sombras, traços, pinceladas mais soltas), gerando uma atmosfera
inquieta nas figuras esboçadas em uma espécie de denúncia social. Confaloni buscava
nessas experimentações algo que o ajudasse a construir seu percurso pelo moderno,
usando como pano de fundo essencial o elemento sacro. É neste sentido que as madonas
de Frei Confaloni tornaram-se negras, muitas delas envoltas por tipos sertanejos. Siron
Franco (1982) destacou o amor de Confaloni à negritude e o quanto o artista executava
Nossas Senhoras mulatas. Segundo Siron, o Frei havia contado a ele sobre a experiência
de ter visto um negro pela primeira vez com 16 anos, e encantado ter perseguido a
figura.
Outra atitude muito comentada por pessoas próximas ao Frei era seu
costume de pintar e presentear alunos, amigos, pessoas ligadas a ele, e no período de
construção da Igreja São Judas Tadeu. Idealizada e construída por ele, o artista vendia
seus quadros para angariar fundos para a obra do templo.
Sobre a história que envolve a pintura da Madona negra sabe-se que a obra
foi presenteada à professora Saída Cunha, ex-aluna muito próxima ao Frei. Segundo
Saída Cunha, no ano de 1969 ela havia concluído a construção de sua casa e, encantado
com a ousadia do projeto, Confaloni presenteou-lhe com o quadro de pintura da
Madona, que segundo ele, tinha o mesmo arrojo. Atualmente a obra encontra-se na casa
da artista e sobre o ano em que a obra foi feita, Saída estima que sua datação seja por
volta do ano de 1969, momento em que estava de mudança para casa que idealizara.
Mas o que estaria por trás dessa obra, considerada pelo próprio autor uma
obra feita com espírito de ousadia? Retomo o olhar para pintura da Madona Negra.
Nela vejo claramente a perspectiva espiritual na cosmovisão do frei artista que dá à obra
histórica o conteúdo simbólico inserido nos objetivos da Teologia da Libertação Latino-
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Americana. A imagem da madona negra que ampara o filho é uma mulher de aparência
comum, negra, e contém, ainda, fortes feições indígenas.
Figura 1 - Nazareno Confaloni, (S/d). Óleo sobre tela, Madona Negra, (s/d).
Fonte: Acervo Saída Cunha.
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confaloniano. Vale ressaltar o brilho da cor branca das vestes da Madona e da Criança,
detalhes que revelam um pintor esforçado em representar um retrato essencial que, com
poucos traços e linhas e, apenas o destaque para as cores da paleta consegue jogar com a
forma e o desenho simples, destacando a posição do corpo. A forma como os corpos são
exibidos diz muito, pois expressam sentimentos. São detalhes representados na forma
que caracterizam o movimento conhecido como Novecento Italiano.
O principal efeito expressivo de Confaloni esteve na habilidade artística em
provocar uma terna humanidade nas figuras de suas pinturas, cujos gestos são
cuidadosamente trabalhados. Confaloni trouxe para sua cena pictórica sacra uma Maria
humanizada, de mãos calosas, gigantes, que denotam a grandeza de sua humanidade
histórica como a mãe que acolhe o filho com gestos de proteção. É um gesto de doação,
mas aparenta também um gesto de entrega ao filho, este, por sua vez, de olhos
excessivamente abertos e com o corpo virado para o espectador apresenta o caráter
passivo diante da circunstância que o envolve.
A imagem da Madona revela a grandeza histórica da figura de Maria. Além
das referências dos traços de Maria como figura da Igreja futura da Maria Peregrina, há
ainda a concepção de Maria que congrega a comunidade. Como Mulher e como Ser
Divino, Maria exerce, ao mesmo tempo, um ato de entrega e cuidado e de suplício.
Segundo o Dicionário de Mariologia, continua aberto o discurso sobre a tradução em
termos culturais da nova imagem da Virgem Maria que diz o seguinte:
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obra levou esse nome por ter permanecido por um tempo adornando o túmulo do
Cardeal Barberini, na Igreja Santa Rosália, na Palestrina, próximo a Roma.
A primeira crítica sobre a obra surgiu por volta de 1907 no Diário Des
Beaux Arts que supôs que a obra teria sido concluída por volta de 1550. Em 1939 a obra
foi adquirida para o Museu em Firenze onde já comportava a escultura do Davi e outras
inacabadas do artista. No que tange à produção da obra, pode-se perguntar: qual escultor
teria começado a talhar a Pietà Palestrina que, mesmo inconclusa transmitia tanta
comoção? O fato é que, alguns historiadores que examinam a autoria da obra de
Michelangelo, afirmam que o artista recebeu ajuda durante seu processo de feitura.
Outros afirmam que Michelangelo teria começado a obra e outro artista desconhecido
terminado.
A estrutura da modelagem da obra se concentra no torço do tórax e nas
pernas, especificamente no fêmur e nos joelhos do Cristo morto que é amparado por
duas personagens: Maria Madalena e Maria. Tudo converge e exprime a emoção que
domina o artista e imediatamente é visível na forma, cujo conhecimento anatômico
humano se põe a serviço da arte e da ciência da época. Michelangelo exprime com
muita intensidade a forma e o momento, pois, o corpo atlético de Cristo deixa a vida,
dando sinais de luta, mas ao mesmo tempo de serenidade. Sustentado fisicamente e na
dor visivelmente estampada nas faces e nos gestos das duas figuras femininas e com a
cabeça totalmente inclinada para trás, não há presença de vida, Cristo não é mais que
seu peso morto.
Há um longo caminho histórico transcorrido entre a Pietà Palestrina de
Michelangelo e a Madona Negra de Confaloni. Mas quais poderiam ser as conexões
entre essas duas imagens?
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Figura 1 - Nazareno Confaloni, (S/d). Óleo sobre Figura 2 - Michelangelo di Buonarroti, Escultura
tela, Madona Negra, (s/d). em Marmore, 253cm. Academia Dell'Accademia
Fonte: Acervo Saída Cunha. di Firenze.
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exclusão. É uma imagem que traz o tom de denúncia social. Confaloni inseriu temas e
elementos regionais nessa universalidade.
Em seus constantes refúgios e deslocamentos pode se dar a conhecer o
pensamento de Confaloni por meio do Concílio do Vaticano II, desde a sua inspiração
para pensar a vida e a missão da igreja inserida em um contexto sociocultural político e
econômico de modernidade, penetrando nas preocupações históricas do mundo. A
comparação das duas imagens as aproxima nas linguagens inspiradas na repetição das
formas do modelo clássico, tantas vezes considerados por Waburg que via nos rituais
religiosos e na cultura pagã os gestos dos "impulsos elementares" (pathosformeln)
ressurgirem.
Foi na Renascença que os artistas souberam, de forma impressionante,
trabalhar tais gestos ressignificando-os. Em qualquer situação, e, em especial, nos
estudos de teologia da arte, o espectador é capturado para refletir e sentir a cena do
drama humano e divino da mãe que gerou aquele que veio para encarnar a palavra de
Deus e é oferecido ao sacrifício como um cordeiro humano. Seu gesto na iconografia
cristã clássica, não é de desespero, mas daquela que se coloca sempre de pé, assente
diante de sua provação, pois quando foi escolhida, tudo aquilo faria parte do que ela
teria que viver em sua trajetória de vida, sofrimento e redenção. A Pietà nos dá a prova
de que Maria, na arte Renascentista assume forma divinal, por entender que ela viveu
plenamente a mais humana e terrível das situações de dor como um processo
prospectivo, a revelar o plano divino ao mundo.
Neste sentido, cabe indagar: poderíamos interpretar o gesto da criança
sustentada pelos braços da mãe na imagem de Confaloni e o gesto do Cristo morto na
Pietà Palestrina de Michelangelo, como gestos de dor contendo o mesmo sentido e
significado?
Ao que parece, as escolhas e atitudes artísticas de Confaloni que implicaram
na forma da Madona Negra com a criança tem uma significação sacra que assume um
sentido social. Confaloni reafirma nesse quadro o compromisso sociológico latino-
americano em uma reinterpretação dos gestos da Pietà Palestrina de Michelangelo.
José PX Silveira, fez uma interessante análise sobre as Madonas
Confalonianas em seu relato biográfico sobre o artista. Silveira ressalta o apreço que o
Frei tinha por esse tema e o quanto gostava de pintá-lo. O autor chega a mencionar que,
"era tanta a vida que delas irradia" que quando concluía suas Madonas, muitas vezes, o
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Frei ajoelhava-se e rezava diante delas. Perguntado certa vez por que fazia as madonas
dessa forma, o frei respondeu:
[...] meu caro não tente somente enxergar, tente sentir também.
Nossos olhos só podem ver realmente quando também sentimos. Está
aqui o fundamental, para os olhos que sabem ver e sentir. Porque da
mesma maneira que eu não posso te fazer ver Deus, não posso
também te fazer ver este quadro." (SILVEIRA, 1991, p.84).
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concluo que Confaloni é um artista que esforça em fazer a arte de seu tempo, mas está
marcado pela tradição pictórica italiana que o antecede, aqui expressa na arte do grande
mestre do Renascimento Michelangelo di Buonarroti.
REFERÊNCIAS BBIBLIOGRÁFICAS:
COLI, Jorge. O Corpo da liberdade - Reflexões sobre a Pintura do século XIX. São
Paulo: Ed. CosacNaify, 2010.
FRANCO, Siron. Confaloni por Siron Franco. Revista Goiana de Artes, Goiânia-Go,
V.3, nº1, p.81-86, Jan/Jun. 1982.
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Mestrando e bolsista do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual – UFG
jloures-arte@hotmail.com
96
O Crowdfunding (ou financiamento pela multidão, em tradução literal) é uma modalidade de
investimento onde várias pessoas podem investir pequenas quantias de dinheiro no seu negócio,
geralmente via internet, a fim de dar vida à sua idéia. É o chamado financiamento colaborativo, algo que
está revolucionando o lançamento de Startups mundo afora. Fonte:
http://www.sobreadministracao.com/crowdfunding-o-que-e-e-como-funciona/
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O “jogo de Senat” assim como o “jogo real de Ur”, sofre com a falta de
informações claras sobre a sua mecânica e regras usadas no antigo Egito. Atualmente
existem diversos modos de jogo, inclusive, versões digitais, em que partidas são
97
O “Livro dos Mortos” faz parte da categoria de textos pertencente à Literatura Funerária. Estes textos,
cujo uso é conhecido apenas entre os egípcios antigos, eram de uso exclusivo do morto e serviam para
auxiliá-lo na sua passagem para o outro mundo, com o que o mesmo podia tornar-se um espírito
glorificado ao final de sua jornada. As fórmulas e encantamentos necessários para ultrapassar as
dificuldades dessa viagem encontravam-se inscritos nas paredes das câmaras funerárias, nos caixões, nas
bandagens e nos papiros colocados junto à múmia. Assim o morto teria fácil acesso a estes e poderia
utilizá-los no momento adequado. (BRANCAGLION, 2004, p.48-49 apud BIELESCH, 2010, p.2005).
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será aquele que obtiver o maior número de sementes. Essa é uma forma de se jogar a
Mancala, já que existem centenas de variações do jogo, atualmente voltadas para o
passatempo, outras como ritual. Na Costa do Marfim, o povo Alladians ainda relaciona
a Mancala aos rituais místicos:
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1.3 O Poder do 9
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Johan Huizinga nos traz outro exemplo dos povos germânicos, em que a
origem dos jogos de tabuleiro está ligada à rica mitologia nórdica:
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1.5 Dados
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“O Livro de Durrow” de acordo Eliézer Mikosz: Os monges irlandeses do século 7, inspirados nos
motivos celtas e também no movimento do oceano, criaram páginas ornamentadas com motivos em
espirais no livro de Durrow. A finalidade dessas páginas ornamentais era de favorecer a meditação e a
preparação para o evangelho que se seguiria. (PURCE, 2006, p.85 apud MIKOSZ, 2009, p.194).
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Segundo uma lenda grega, os dados teriam sido inventados pelo herói
Palamede, para distrair suas tropas durante o sítio de Tróia. Também
na Odisseia de Homero – uma das maiores obras literárias da Grécia
Antiga – há uma passagem em que os pretendentes ao casamento com
a rainha Penélope jogam dados sobre peles de boi, em frente ao
palácio real de Ítaca. (OS MELHORES JOGOS DO MUNDO, 1978,
p.5)
99
Os Vedas (que em sânscrito significa “conhecimento”) são os mais antigos escritos da Índia, básicos
para o Brahmanismo e posteriormente, séculos depois, para o Hinduísmo. Foi em torno dos Vedas que se
formou a primitiva literatura religiosa e filosófica da Índia. (LOPES, 2012, p.21-22)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKOS, Margaret. O lazer no Egito antigo, em Fatos e mitos no antigo Egito, Margaret
Bakos, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014.
HUINZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo:
Perspectiva, 2008.
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PENNICK, Nigel. Jogos dos Deuses: A origem dos jogos de tabuleiro segundo a magia
e a arte divinatória. São Paulo: Editora Mercuryo, 1992.
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Maria Clara Capel é co-autora do livro Direito e Arte (Ed. PUC-GO/2012). É mestranda no
programa de pós-graduação de Direito Agrário na Universidade Federal de Goiás.
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fechada na pura análise da lei e dos procedimentos jurídicos. A literatura aparece para
que o Direito seja visto de maneira diferenciada, para que o jurista compreenda e esteja
a par do que está ao seu redor, conferindo-lhe aptidão para, dessa maneira, interpretar a
realidade.
Foi nesse sentido que François Ost se manifestou ao declarar que: “A obra
de arte, como a narrativa de ficção, testemunha, ao contrário, que o próprio real não é,
senão uma modalidade do possível.” (OST, 2009, p. 32). A arte, tal como a narrativa
ficcional, nos mostra, portanto, uma variedade imensurável de realidades que estão ao
nosso redor. Realidades perfeitamente possíveis e passíveis de análise, discussão e
tratamento jurídico. A literatura abre os olhos e amplia os horizontes daquele que estuda
o Direito e deseja se aprofundar em questões de difícil resposta, já que abrangem não só
o Direito em si, mas estudos como os da sociologia, da filosofia, da antropologia e da
história.
A relação da literatura com o Direito no Brasil se torna mais clara quando
percebemos o vasto número de escritores brasileiros que estudaram direito, dentre eles:
Oswald de Andrade, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias, Augusto dos Anjos, Lygia
Fagundes Telles e Clarice Lispector. A lei, por si só, não nos leva a entender as questões
essenciais geradas pelo próprio Direito e a interpretação subjetivada pelo tempo e pela
cultura. Para isso, é necessário que se passe pela sensibilidade dos estudos literários.
Os estudos do Direito e da literatura ramificaram-se em diversos âmbitos.
Um deles é o da natureza ontológico-literária do Direito, da literatura no próprio
Direito. Essa ramificação consiste no estudo dos textos jurídicos como literatura, o
estudo da literatura intrínseca às doutrinas, peças jurídicas e petições. O Direito se
manifesta a partir da técnica discursiva, o que nos leva ao encontro dessa percepção
literária dentro da própria lei. Um de seus fundadores foi Benjamin Nathan Cardozo
(1870), nascido nos Estados Unidos e juiz da Suprema Corte, em Washington. Cardozo
fugiu do papel tradicionalmente definido por Montesquieu como “a boca da lei”. Suas
decisões judiciais eram compostas de persuasão, retórica, estilo e até uma vertente
literária que indicam a vertente educativa e hermeneuta de seus textos.
Por outro lado, o que se tem em vista no presente artigo é o estudo que se
fez do Direito na literatura, pesquisa em que se buscam aspectos jurídicos dentro de
narrativas ficcionais. Esses estudos foram iniciados por John Henry Wigmore (1863),
nascido do estado da Califórnia. Um de seus livros publicados, A List of One Hundred
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exterior e do que está ao seu redor. Por isso, a protagonista existe no mundo sem se
indagar, sem pensar ou perguntar-se sobre sua própria vida, sobre sua própria felicidade.
A personagem apenas existe. Sua história também se compara à história judaica, na
medida em que Macabéa é nordestina, povo que migrou para o sudeste como os judeus
migraram de sua terra. Uma das ausências perceptíveis na personagem é sua falta de
identidade, característica tão buscada pelos judeus espalhados pelo mundo, que após a
migração buscam a união e o reconhecimento de seu povo assim como de seu território.
Macabéa é uma mulher sem rosto.
A própria Clarice era de origem judaica e a questão da origem e do
pertencimento faz parte não só de A Hora da Estrela, como de toda sua obra. Carlos
Mendes de Souza (2000) relata sobre a questão da origem nas obras de Clarice: “é tão
obsessiva que em torno dela pode dizer-se que se enreda toda a prosa da autora".
Benjamin Moser (2009), autor de uma das biografias da autora, começa um de seus
parágrafos com a frase Fun vonen is a yid?, pergunta que a irmã de Clarice fizera a ela,
e que indaga sobre a origem do outro. Não obtivemos uma resposta de Clarice à
pergunta feita pela irmã, mas sim toda sua obra, que trata profundamente da questão.
Macabéa tem saudades de um futuro que nunca poderia ter, tem nostalgia
desse futuro quando vê os navios no cais. Para ela, porém, olhar para o relógio causa
espanto. Isso porque a personagem não se apropria do tempo, não lhe dá sentido. É a
apropriação do tempo que gera sentido às coisas, e Macabéa vive mecanicamente a
eternidade do tempo que a carrega sem que ela perceba. Vive um eterno presente sem
significado, um existir mecânico e sem possibilidades de contestação. As únicas pessoas
que eventualmente a conectam com o mundo são Olímpico, seu namorado, Glória,
estenógrafa que trabalha com ela e seu chefe, Seu Raimundo.
Por mais que essas pessoas a conectem com a vida ao seu redor, a
personagem não se adapta à lógica da cidade do Rio de Janeiro, cidade grande, dotada
de competitividade e de malícia. Também não entende a ambição de Olímpico em
querer ser conhecido, em preferir Glória, loira oxigenada e de quadris de parideira, a
ela. Outra questão que não pode deixar de ser discutida dentro dessa esfera é a questão
da migração nordestina, já mencionada acima. Para isso, temos como referência obra
clássica de João Batista de Andrade, O Homem que Virou Suco, filme de 1891.
Enquanto em A Hora da Estrela nos deparamos com sentimentos e uma
perspectiva interior da personagem, O Homem que Virou Suco traz uma perspectiva
externa do que rodeia Deraldo José da Silva, homem que vem da Paraíba para São Paulo
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http://valdecyalves.blogspot.com.br/2010/11/discriminacao-contra-nordestino-mayara.html
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Mourão Voltado. Autor da canção: Vital Farias.
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art.. 215.
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará
a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional.
§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta
significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração
plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração
das ações do poder público que conduzem à:
I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II - produção, promoção e difusão de bens culturais;
III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas
múltiplas dimensões;
IV - democratização do acesso aos bens de cultura;
V - valorização da diversidade étnica e regional.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Alegoria
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extrai o sagrado naquilo que o símbolo mantém como enigma. A expressão dialética
entre o espiritual e o material faz parte do cenário barroco e que marcou todas as
linguagens humanas inclusive a Escrita, da qual o filosofo alemão se utilizou para
exemplificar sua teoria alegórica, está presente na sua analise sobre os hieróglifos. Outra
fonte utilizada foram os livros de emblema populares no século XVI e XVII, a partir
dos quais Benjamin analisa o exagero ornamental aplicado às imagens e também aos
elementos tipográficos que compõem unicidade da página.
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Hieróglifos
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Caligrafia chinesa
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nos pequenos arraiais e na sede administrativa da Vila Boa que prestavam naquele
período um serviço próximo ao de assistência social aos irmãos participantes. O
objetivo era prover, através de taxas de adesão e pagamentos mensais, serviços de
sepultamento e missas em prol do falecido além de outras demandas de natureza
religiosa, como celebrações e festas ao santo padroeiro da irmandade. Os livros de
regimento eram bastante elaborados visto que eram encaminhados à Lisboa para
aprovação do rei, pois o monarca português continha pelas leis do padroado concedido
pela Igreja Católica a regência das ordens religiosas e militares de Cristo, de São Bento
e S. Thiago da Espada e mais a relação da Coroa portuguesa ao Sagrado Coração de
Jesus cuja representação era presente nas medalhas concedidas aos militares das ordens
citadas.
Portanto, na união dos poderes profanos e sagrados ao regente que aprovaria a
Figura 6-Irmandade das Santas Almas, Vila Boa,1732 criação oficial da irmandade
cabia aos executores dos livros
zelo e refinamento para serem
bem recebidos na representação
do livro aos olhos do rei.
Contudo, esses manuscritos
goianos são indiciários do
contexto histórico de
precariedade e isolamento em que
habitavam essas comunidades
religiosas e mais precisamente os
anônimos artífices das letras. Os
termos de compromisso
apresentam uma rusticidade na
execução caligráfica e ruídos de
uma parca cultura intelectual. Por
exemplo, registros de lápis nas
letras capitulares indicam que
podem ter sido copiadas de um
modelo e não desenhadas
diretamente. Como também a
irregularidade nos traços e nos acabamentos ornamentais. Algumas hipóteses que
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complementam os motivos dessa caligrafia barroca mais simples em sua proposta além
das já citadas encontram apoio também nos impedimentos da Metrópole na
circularidade de livros e ausência de escola nos primeiros 60 anos da capitania, que
posteriormente a sua instalação pela escassez de recursos materiais e humanos também
não estabeleceu ensino de qualidade. As respectivas imagens dos termos de
compromisso da Irmandade de Vila Boa, 1732 e de São Joaquim do Cocal, 1772 - em
detalhe único na pesquisa com iluminura em ouro em algumas páginas, registradas no
acervo do Instituto de Pesquisa e Estudos Históricos do Brasil Central – corroboram
para a pesquisa sobre esses manuscritos como fontes de compreensão da história
colonial e da imersão da cultura escrita entre os goianos.
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Considerações Finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Mestre em História pela UFG, membro do GEHIM.
105
Os Institutos Federais formam a atual rede federal de educação profissional.
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nossas vidas, reavivando em nossas mentes uma espécie de passado preservado, formam
uma lembrança imutável de um certo momento e situação, de uma “certa luz”, de um
determinado tema, “instante congelado” que não desaparece com o passar do tempo,
mas da mesma forma que os fósseis preservados em pedras elas não espelham o real,
apenas o representa.
No grupo sentado em cadeiras, que está em destaque ao posar para a
fotografia, deixando clara a intenção do fotógrafo de conferir-lhes maior importância,
encontra-se o primeiro diretor, Virgílio José de Barros. Ele forma o centro da narrativa;
veste-se com traje mais elaborado que os demais e mantém uma altivez que o destaca no
grupo. O diretor está sentado entre dois personagens também vestidos em ternos, que
estão entre duas mulheres. Pela posição deles ao lado do diretor, devem ser assessores
próximos.
As duas mulheres são minoria no grupo, ou são as professoras, pois, com a
criação dos grupos escolares havia uma preferência por professoras na escola primária
republicana, “A quase totalidade do corpo docente do Grupo Escolar Paula Rocha foi
constituída, [...], por mulheres. Na inauguração do Grupo, em 1907, o corpo docente era
composto por sete mulheres e dois homens, um deles o Professor Francisco Antunes de
Siqueira, que era o diretor [...]” (ROCHA, 2008, p. 96).
As duas mulheres retratadas tinham pele negra, o que não era comum, caso
fossem professoras. Quanto às vestimentas, elas se apresentam com vestidos que
remetem ainda ao século XIX, principalmente a da esquerda. Uma delas não
permaneceu por muito tempo na escola, pois o diretor que assumiu em 1918, em seu
relatório refere-se à professora Maria Henriqueta Peclát. Essa professora não era negra,
pois existem documentos que a descrevem como uma mulher branca, filha de pais
franceses. A outra professora que consta do referido relatório era Obdulia d’Avila,
professora de desenho, da qual não temos a descrição.
Outro ponto que nos chama a atenção, na narrativa expressa na fotografia, é
a pequena presença de alunos negros. Como a população pobre se confundia com a
negra, essa cena nos aponta uma conclusão diferente, pois, se levamos em conta o rol de
critérios exigidos para o ingresso, fica claro que a instituição atenderia aos “[...] filhos
dos desfavorecidos da fortuna[...]”,(DECRETO Nº 7.566/1909). No entanto, a
fotografia do grupo aponta para uma outra prática, pois não é possível identificar, aí,
muitos negros. O que nos faz perguntar: por que de no grupo de alunos só uma minoria
ser negra? Em qual outra escola estariam esses alunos negros? Além do analfabetismo,
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também levantamos aqui a questão do preconceito racial, que pode ser salientada pela
narrativa presente na fotografia.
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meninas, atendendo a um valor cultural de então. No entanto, não era esse o único
controle a que essas construções se prestavam, vez que, dotados de uma só entrada e
saída, era possível manter o controle sobre a movimentação das crianças. Pelos motivos
até agora apresentados associamos a criação e a arquitetura das Escolas de Aprendizes
Artífices a outras escolas do mesmo período espalhadas pelo Brasil.
Para Pandini (2006) as Escolas de Aprendizes Artífices foram criadas
seguindo o modelo do grupo escolar, mas não era só isso. Essa vinculação percebia-se
também pelo fato de ser o governo do Estado o responsável pelo pagamento da
professora. Ela era uma normalista, responsável pela instrução primária. Seu salário era
mantido pelo Governo Estadual. Além da atuação e do vínculo da professora outros
elementos ligam a Escola de Aprendizes de Goiás ao modelo de escola republicana, tais
como móveis, formato da sala de aula, horários definidos para as disciplinas escolares e
o tempo de aulas rigidamente controlado.
Enfim, é importante dizer que mobiliário e utensílios escolares, mesas,
carteiras, cadeiras, piano, escrivaninhas, quadros, mapas, fotografias de diretores,
escarradeiras de louça, lousa etc., ou mesmo os documentos produzidos pelo corpo
docente, como livros de registro da vida escolar dos alunos, fotografias das solenidades
de início e encerramento de cada ano letivo; livro de assinatura de ponto de professores,
estagiários e funcionários; livro de registro de visitas; livro de registro de atividades
escolares; livro de atas de exames, livros de matrículas de alunos etc., tudo isso
aproximava as Escolas de Aprendizes Artífices do modelo de grupo escolar, além, é
claro, dos prédios escolares, a distribuição de seus espaços, o lugar dos alunos e
professores, as turmas seriadas, a repetição das rotinas ano após ano, as cores nas
paredes, os rabiscos, as pichações, o zelo com o prédio ou a falta dele, tudo isso e muito
mais, pode ser objeto de estudo para buscar aproximações entre essas instituições e o
imaginário acerca deles. Pandini (2006) assim se expressa
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Desse modo, o prédio escolar e tudo que compunha seu acervo físico,
inclusive o mobiliário escolar, ganhavam uma importância até então secundarizada, pois
esses itens determinavam as formas de estudar, de ler, de sentar-se, de escrever, de
exercitar-se, de se mover, de estar no espaço da sala de aula (cf. Imagem 7). Porém
outros espaços da escola, tais como pátios, refeitórios, seu entorno, áreas de circulação,
laboratórios etc., isso tudo, sem esquecermos o próprio método de ensino, que
prescrevia a “lição de coisas”, também determinavam a forma de exercitação dos
sentidos dos alunos: tato, olfato, paladar, visão e audição e compunham aspectos do
disciplinamento dos corpos.
No final dos anos 30 do século XX a Escola de Aprendizes é desativada na
cidade de Goiás, mas não é transferida para Goiânia, pois seria inaugurado na capital
um novo prédio para uma nova escola, a Escola Técnica de Goiânia. Ele foi construído
no final da década de 30 e início dos anos 40 do mesmo século. Isto aconteceu em razão
de que a Lei Orgânica do ensino extingue também os Liceus Industriais, que seriam os
substitutos das Escolas de Aprendizes Artífices. Assim, antes de serem criados de fato,
eles viram lei morta. Enquanto isso o antigo prédio na cidade de Goiás, com sua fachada
eclética, mista de Neoclássica e Neocolonial, mesmo que modesta, voltada diretamente
para a rua e totalmente isolada do espaço em volta, torna-se obsoleto e esquecido.
Pouco se falou daquela que já fora um símbolo da escola Republicana em
Goiás. Nasceu como se seus criadores quisessem impermeabilizá-la da contaminação do
mundo incivilizado. No entanto, naquele final dos anos 30, começa a ser descartada,
junto com seu prédio, pois nascia o discurso da modernização, uma nova vertente do
mesmo positivismo que planejou os grupos escolares no passado. A escola novamente é
convocada a exercer o seu papel de mobilizadora de um novo imaginário instituinte,
dirigido agora para outra representação, sobre a modernidade. Para Souza (1998) esse
imaginário sempre é convocado no “projeto de controle da ordem social, a civilização
vista da perspectiva da suavização das maneiras, da polidez, da civilidade e da
dulcificação dos costumes” (p. 27).
Enquanto o imaginário instituinte sobre o papel da escola alimenta novas
representações, seu espaço continua sendo utilizado como instrumento da disciplina.
Para Foucault (1987), a escola é vista como uma instituição de seqüestro, assim como
os presídios, os hospícios e os quartéis. É criada para controlar não só o tempo dos
indivíduos, mas também os seus corpos, para que possa extrair deles o máximo de
produção e de forças. Para o autor isso não é feito claramente e nem instantaneamente,
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mas de maneira gradativa e permanente, por meio da organização espacial, dos regimes
disciplinares, do controle de movimentos e de horários, por meio de rituais de higiene,
de regularização da alimentação, etc. Assim, historicamente, a escola assume a tarefa de
higienizar o corpo, isto é, formá-lo, corrigi-lo, qualificá-lo, fazendo dele um ente capaz
de trabalhar.
Pelo que apresentamos até aqui é possível perceber que a criação da rede de
Escolas de Aprendizes Artífices como representação de uma nova forma escolar,
agrupando e produzindo um rol de imaginários em torno da instituição escolar, buscou
criar uma nova maneira de perceber o trabalho. A escolarização para o trabalho, em sua
fase de legitimação social, buscava produzir e legitimar uma nova escola
profissionalizante no país, com novas idéias e novas práticas, visando, com o processo
de escolarização, à disciplinarização e à legitimação do trabalhador. No entanto essas
escolas são transformadas em Liceus Industriais, em todos os estados. Porém esses
liceus não chegam a ser materializados. No caso do Estado de Goiás, o mais instigante é
o apagamento da memória da Escola de Aprendizes Artífices de Goiás, que sucedeu
após a criação do Liceu Industrial de Goiás.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Decreto nº. 7.566 de 23 de setembro de 1909. Cria nas Capitais dos Estados
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gratuito. Coleções de Leis do Brasil. Imprensa Nacional: Rio de Janeiro, 31 dez. 1909.
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Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas
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18, set. de 1997.
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Othaniel P. de Alcântara Jr. Mestre em Musicologia pela Universidade Federal de Goiás. Professor da
Escola de Música e Artes Cênicas da UFG e Conselheiro Estadual de Cultura. Correio eletrônico:
othaniel.alcantara@gmail.com
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No passado, dizia-se que uma orquestra sinfônica era composta por músicos remunerados enquanto a
orquestra filarmônica era formada por músicos amadores. Também dizem que a diferença está na maneira
como são mantidas. A primeira, pelo poder público, enquanto a segunda, pela iniciativa privada. Esta
definição justifica-se pelo fato de que, no início do Século XIX, comerciantes de algumas cidades da
Europa organizaram sociedades culturais que mantinham orquestras. Atualmente, não existem diferenças,
exceto o nome. Na prática, parte das filarmônicas de hoje não sobreviveriam sem financiamento público.
As orquestras sinfônicas e as filarmônicas possuem uma estrutura definida: naipe das cordas, naipe das
madeiras, naipe dos metais etc. Sua formação pode comportar entre 60 e 120 músicos.
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Instituição fundada na cidade de Campinas/GO, pelas irmãs Franciscanas vindas da Alemanha, em
1921 a pedido dos padres Redentoristas. Elas iniciaram seu trabalho de instrução, educação e
evangelização em janeiro de 1922. Inicialmente, o espaço funcionou como internato para moças e, a partir
de 1926, também como Escola Normal para formação de professoras. Desde a fundação, além das aulas
de canto, ofereceram-se aulas de instrumentos musicais como, por exemplo: piano, órgão e violino.
(ORTENCIO, 2011, p. 215 a 217).
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Zé do Ó (José Ferreira de Araújo) é considerado o músico mais antigo da região. Transferiu-se de
Pirenópolis para a Cidade de Campinas/GO (atual bairro de Goiânia) no final do século XIX. Naquela
cidade histórica, foi instrumentista da Banda de Música “Euterpe”, dirigida pelo ilustre maestro Antônio
da Costa Nascimento (Tonico do Padre). (PINA FILHO, 2002, p.12)
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Ao que tudo indica, o trabalho de Érico Pieper em Goiânia era bastante conhecido e respeitado.
Todavia, não existem muitas informações sobre esse músico. Sabe-se que era um estrangeiro (alemão,
talvez), residente em Goiânia desde 1943 e que por aqui criou conjuntos musicais populares no estilo
orquestra de salão, além de outros semieruditos. Segundo BELKISS (2006, p.31-34), foi proprietário do
Restaurante Bambo, local de importante presença musical em Goiânia naquela época. Na década de 1950,
transferiu-se para Brasília, onde fundou e dirigiu a Orquestra Brasiliense de Salão.
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orquestra em Goiânia. Registra ainda esse musicólogo, que várias das apresentações
promovidas pela entidade “tiveram por finalidade angariar fundos para a aquisição de
instrumentos musicais para a criação da orquestra sinfônica”.
No entanto, o projeto acabou sendo adiado, visto ter a Sociedade Pró-Arte
encerrado suas atividades em 1948. Coube, então, ao violinista Crundwald Costa a
tarefa de manter os músicos em atividade. Em 1948 ou 1949, seu conjunto adotou o
nome “Orquestra de Amadores”. É importante ressaltar que o “Professor Costinha”,
além de violinista na Sociedade Pró-Arte, já havia criado, juntamente com o pianista
Érico Pieper, um curso de música (particular), com sede no Museu de Goiânia, em
1945. Assim, vários de seus alunos, ao longo do tempo, foram sendo integrados ao
grupo remanescente.
No final de 1949 e início de 1950, o grupo do Professor “Costinha”
mostrava-se bem desiquilibrado na sua formação instrumental. Contava, à época, com
21 violinos, um violoncelo, um contrabaixo, uma flauta, uma clarineta, um saxofone,
um trompete, dois trombones e um piano.
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O Conservatório de Música da UFG nasceu como um departamento da Escola Goiana de Belas Artes
(E.G.B.A), em 1955, a partir da iniciativa de seu diretor, prof. Luiz Curado e dos professores de música
Jean Douliez e Belkiss Spencièri. Esse departamento tornou-se autônomo em 1956. Teve seu nome
alterado para Conservatório Goiano de Música e transferiu-se do Museu de Goiânia para o prédio da
antiga Fac. de Direito, na Rua 20, Centro. Em 1957, mudou-se para uma casa alugada na Av. Tocantins.
(PINA FILHO, 2002, p.54). Em 1960, foi anexado à Universidade Federal com o nome de Conservatório
de Música da UFG. Posteriormente, trocou de nome mais três vezes: Instituto de Artes da UFG, em 1971
e Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC/UFG), em 1996. (Site da EMAC/UFG).
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Goyazes é o nome usado para designar os índios homenageados pelos portugueses ao fundar a cidade
de Vila Boa de Goyaz, conhecida atualmente como Goiás Velho, em 1736.
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melhor você me dar seus dois violinos que eu te dou dois revólveres no lugar” (In:
BITTENCOURT, 2008, p.18).
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instrumental contou, naquela data, com 23 instrumentistas. Por motivos até agora
desconhecidos, o grupo não reiniciou seus trabalhos no ano de 1969.
O Conservatório de Música, de acordo com PINA FILHO (2002, p.94), nos
oito anos seguintes, contou apenas com o trabalho contínuo do Professor “Costinha” no
ensino de instrumentos de cordas (violino, viola, violoncelo e contrabaixo), além de
seus ensaios do conjunto estudantil. Com esse grupo de alunos é que provavelmente ele
iniciou mais uma vez, em 1973, um trabalho em prol da Sinfônica. Crundwald Costa
teria convidado o Professor Braz Wilson Pompeu de Pina Filho, segundo seu próprio
relato no livro de sua autoria “Memória Musical de Goiânia”, a assumir a regência da
orquestra de estudantes por ele criada na instituição, esta que, a partir de 1971, passou a
chamar-se Instituto de Artes (IA/UFG).
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Nos restante da década de 1970 e nos anos 1980, estiveram à frente desse
grupo de cordas do IA/UFG, coordenando ou regendo-o, os professores Crundwald
Costa, Braz Wilson Pompeu de Pina Filho, Heloisa Barra Jardim, Maria Lucy da Veiga
Teixeira, Luiz Graciliano Sales e Jorge Armando Nogueira Nunes. Outros grupos foram
formados nas décadas seguintes. Um deles foi organizado no início da década 1990
pelos professores Othaniel Pereira de Alcântara Jr. e Fernanda Albernaz do Nascimento,
com a regência do promissor aluno da Instituição, o clarinetista Marshal Gaioso Pinto.
Apesar do desmanche, Braz de Pina não desistiu de seu objetivo. Apoiado
por Belkiss Spencière, então Diretora do IA/UFG, procurou uma solução para o
problema técnico-financeiro da orquestra. Braz de Pina sabia que Sociedades
particulares não tinham condições de manter um trabalho com essas características.
Com base nisso, passou a antever que a solução para o problema seria um convênio
entre Universidade Federal, Município e Estado. A proposta foi bem aceita. Entretanto,
logo num primeiro momento, esbarrou-se nos entraves burocráticos. Por essa razão, a
realização do sonho foi adiada para o início da década seguinte.
O passo subsequente foi fortalecer o trabalho realizado no Instituto de Artes,
na área de música de conjunto. Nos anos de 1977 e 1978 foram realizados recitais de
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3. A era do profissionalismo
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Instituto de Artes (atual EMAC/UFG) que, naquela época, ocupava parte das instalações
do prédio da Faculdade de Engenharia, na Praça Universitária. O convite foi feito nas
dependências daquela instituição. Não me lembro o dia da semana ou do mês. Certo é
que, na segunda-feira seguinte, já passei a ensaiar com o grupo no Museu Zoroastro
Artiaga. Alguns dias depois, mais precisamente na noite do dia 16 de outubro, no
Centro de Tradições Goianas (Ed. Parthenon Center), participei de um concerto com a
Sinfônica. Aquela foi a primeira de centenas de apresentações das quais participei até
1991, quando pedi demissão para assumir o cargo de professor na Escola de Música e
Artes Cênicas da UFG (antigo Instituto de Artes).
Com a incorporação de mais alguns músicos, no ano de 1981, a OSG
tornou-se a primeira orquestra, criada em Goiânia, capaz de executar um repertório
verdadeiramente sinfônico.
Contudo, em dezembro de 1985, na Praça Cívica, foi realizado o último
concerto da Orquestra Sinfônica de Goiás, sob a direção de Braz de Pina. Em março do
ano seguinte, o regente divulgou uma carta aberta ao povo goiano e, no final desse
documento, o maestro comunicava que havia solicitado seu afastamento da OSG, a
partir do dia 02 de março. No final desta carta explicitou os motivos: por estar
Desde o ano de 1983, a OSG havia sido absorvida pela Secretaria da Cultura
e Desporto, órgão administrado, à época, pelo Sr. Iron Jayme do Nascimento, indicado
pelo governador Iris Resende Machado. Na referida carta, Braz de Pina apontaria alguns
graves problemas na orquestra originados, principalmente, a partir da extinção da
Fundação Cultural de Goiás. Entre eles estavam a repentina proibição de cumulação de
cargos, a proibição de novas contratações e a defasagem salarial, sendo este, a causa da
visível desmotivação e do afastamento de importantes instrumentistas da orquestra. O
assunto foi abordado com destaque no Caderno 2 do Jornal “O Popular”, edição do dia
16 de março de 1986.
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do Prefeito Pedro Wilson, as temporadas foram dirigidas por Marshal Gaioso Pinto (de
março de 2001 a julho de 2003) e, depois, por Emílio De Cesar (2003/2004). Após esse
período, Joaquim Jayme retomou seu trabalho à frente da Sinfônica Municipal, cargo
que ainda ocupa atualmente.
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Um pouco antes, no início de 2000, o maestro Joaquim Jayme havia sido demitido da Sinfônica de
Goiânia, Orquestra criada por ele em 1993. A decisão pela demissão foi tomada pelo Superintendente da
Fundação Orquestra Sinfônica, Júnior César Bueno, durante a gestão de Pedro Wilson como Prefeito
Municipal.
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Cardoso, que, meses depois, enviou ao Governador uma proposta emergencial com
vistas a ressuscitar a Filarmônica.
Segundo as palavras da própria Ana Elisa, em entrevista para a conclusão
desse trabalho, a proposta previa, entre outros itens, a aquisição de recursos humanos
por meio de um concurso, um novo plano de cargos e salários, além da criação de uma
programação completa, de forma antecipada, para as futuras temporadas de concertos.
Após o período de audições para a contratação dos novos músicos, a nova
orquestra foi apresentada aos goianos em cerimônia realizada no mês de janeiro de
2012, no Palácio das Esmeraldas. Foram realizados aproximadamente 20 concertos na
primeira temporada, todos dirigidos pelos maestros Alessandro Borgomanero e Eliseu
Ferreira, com destaque para a participação de renomados solistas e regentes convidados.
O sucesso do trabalho realizado por Ana Elisa e sua equipe permitiu que
uma nova proposta fosse aprovada pelo Governador Marconi Perillo. Nela constava,
além da expansão do corpo sinfônico, a criação de uma Superintendência da OFG,
sediada no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Tratava-se de uma unidade básica com 65
cargos de músicos, maestros (titular e assistentes), equipes técnicas e de apoio à
Orquestra. Em 2014, foi contratado o inglês Neil Thonsom para o cargo de Regente
Titular, escolhido para o projeto de inserção do grupo no cenário internacional da
música erudita.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Goiânia. Goiânia: Contato Comunicação, 428 p.
MAIA, Viviane. Criação de mais uma orquestra gera polêmica. Jornal O Popular -
Caderno 2. Goiânia, 17 jan. 2001.
MELHORES concertos nacionais de 2015 são eleitos pelo júri e pelo público. Guia
Folha (Site da UOL) - Folha de São Paulo. São Paulo 25/12/2015. Disponível em
<http://guia.folha.uol.com.br/concertos/2015/12/1722365-melhores-concertos-
nacionais-de-2015-sao-eleitos-pelo-juri-e-pelo-publico.shtml>
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______, Belkiss Spencière Carneiro de. Andanças no tempo. 2 ed. Goiânia: Agepel,
2006, 310 p.
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2002. 318 p.
PINHEIRO, José S. Os sons que não estão nas partituras. Jornal O Popular - Caderno
2. Goiânia, 16 mar. 1988.
REGINA, Márcia. Colégio Santa Clara Patrimônio Cultural. In: SILVA, Antônio M.;
GALLI Ubirajara (Org.). Goiânia: Instituto Cultural José Mendonça Teles, Scala
Editora, 2010. p. 63-65.
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Hei por bem e Me Praz, que a sobredita Vila Boa de Goiás do dia da
publicação desta em diante fique erecta em cidade; que por tal seja
que por tal seja havida e reconhecida com a denominação de Cidade
de Goiás e haja todos os Foros e Prerrogativas de outras Cidades dos
Meus Reinos; concorredo [ilegível] ella em todos os atos publicos; e
gozando os Cidadão e moradores della de todas as distinções,
franquezas, privilégios e liberdades, de que gozão os cidadãos de
outras Cidades sem diferença alguma porque assim he Minha Vontade
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Raquel Miranda Barbosa é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal de Goiás e professora da Universidade Estadual de Goiás.
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MUBAN – Museu das Bandeiras na Cidade de Goiás. CORREIO OFICIAL. Anno LXI – 30° da
República – N° 187. Capital de Goyaz – Terça-feira, 17 de setembro de 1918 (p. 01 e 02).
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“A vinda da Corte, se tem por onde afagar a vaidade brasileira, põe a descoberto, de outro lado, com
imenso séquito de funcionários, fâmulos e parasitas que a acompanharam, a debilidade de um domínio
que a simples distância aureolara, na colônia, de formidável prestígio. Além disso, a presença agora, e
naturalmente o convívio e trato forçado, de numerosos estrangeiros, nos ramos mais diversos de
ocupação, há de ajudar os naturais, mesmo quando procedam das classes ínfimas, a julgar os seus
dominadores com melhor senso de realidade. A classe média da colônia, formada praticamente de pés-
de-chumbo, principia agora a enriquecer-se de elementos por ventura mais ativos, ou passa a acolher
ofícios antes desconhecidos, numa espécie de cosmopolismo de que, mesmo em épocas mais tardias, não
se conhecerão muitos exemplos. O fato acha em si mesmo a explicação. De modo que a curiosidade tão
longamente sofreada pode agora expandir-se sem estorvo e, não poucas vezes com o solicito amparo das
autoridades. Nesses poucos anos foi como se o Brasil tivesse amanhecido de novo aos olhos dos
forasteiros, cheio de graça milagrosa e das soberbas promessas com que se exibira ao seus mais antigos
visitantes. Num intervalo de cerca de dois séculos, a terra parecera ter pedido, para portugueses e luso-
brasileiro, muito de sua primeira graça e gentiliza, que agora lhe vinha restituída. Pois é bem certo que
uma familiaridade demasiada nos faz muitas vezes cegos ao que há de insólito em cada coisa, mormente
nessas coisas naturalmente complexas como o são uma paisagem, uma sociedade, uma cultura”
(BARRETO, 2004, p. 11 e 12).
116
Cf. FREITAS, Maria Helena. Considerações acerca dos primeiros periódicos científicos brasileiros. Ci.
Inf., Brasília, v. 35, n. 3, p. 54-66, set./dez. 2006. In: http://www.scielo.br/pdf/ci/v35n3/v35n3a06
Acessado em: 01-07- 2015.
217
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117
“Do barulho incessante vindo das ruas, entre os olhares dos viajantes, entre negros de ganho, mulheres
ambulantes vendedores de frutas e legumes escravos acorrentados carregando cargas, escravos recém-
desembarcados, esquálidos, doentes, seminus; entre homens da elite ilustrada, políticos, militares, clérigos
e nobres (...) em meio a toda essa mistura, o Rio de Janeiro tornava-se uma cidade cosmopolita, dinâmica,
palco de contrastes e eventos importantes para a vida que se formava. Os ventos que trouxeram tantas
transformações à cidade, dificilmente mudariam a direção. Insatisfeitos com os rumos do novo império
Luso-Brasileiro, os portugueses que permaneceram em Portugal exigiram que a antiga ordem se
reestabelecesse. A Revolução do Porto, em 1820, conseguiu levar de volta D. João VI e sua comitiva, que
daqui partiram em 1821. Emancipação, cisão e independência passaram a ser palavras de ordem da elite
brasileira. Para o regente Pedro, mais valia ser Pedro I no Brasil que Pedro IV em Portugal (SANTOS,
2008, p. 41)
118
“Sistema aberto de disposições, ações e percepções que os indivíduos adquirem com o tempo em suas
experiências sociais (tanto na dimensão material, corpórea, quanto simbólica, cultural, entre outras).
O habitus vai, no entanto, além do indivíduo, diz respeito às estruturas relacionais nas quais está inserido,
possibilitando a compreensão tanto de sua posição num campo quanto seu conjunto de capitais. Bourdieu
pretende, assim, superar a antinomia entre objetivismo (no caso, preponderância da estruturas sociais
sobre as ações do sujeito) e subjetivismo (primazia da ação do sujeito em relação às determinações
sociais) nas ciências humanas (ver estratégia). Segundo Maria Drosila Vasconcelos, trata-se de “uma
matriz, determinada pela posição social do indivíduo que lhe permite pensar, ver e agir nas mais variadas
situações. O habitus traduz, dessa forma, estilos de vida, julgamentos políticos, morais, estéticos. Ele é
também um meio de ação que permite criar ou desenvolver estratégias individuais ou coletivas.” Cf.
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/pequeno-glossario-da-teoria-de-bourdieu/Acessado em: 07-
04-2015.
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Segundo Freitas (2004), a imagem tem a peculiaridade de ser “cada vez mais sedutora
em seu processo de estetização do cotidiano e acabam por estimular os debates acerca
do estatuto e da função da arte” (p. 05) que serão, sensivelmente, observadas a partir
deste pensamento do autor. Pensando em dilatar esses horizontes acrescentamos que:
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A vista panorâmica evoca uma cidade acanhada entre a farta natureza que
mescla-se ao casario urbano. O colosso, ao fundo na figura 01, completa a vista que, por
119
Ponto turístico onde encontra-se um suntuoso monumento em estilo barroco, mais conhecido como
Chafariz de Cauda, construído no século XVIII.
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“Após a morte da poetisa, amigos e parentes se reuniram e criaram a Associação Casa de Cora
Coralina. Em 27 de setembro de 1985, entidade mantenedora do Museu Casa de Cora Coralina. É uma
entidade de direito privado, sem fins lucrativos, com objetivo imediato de lutar pela preservação da vida e
da obra de Cora Coralina. O Museu foi inaugurado no dia 20 de agosto de 1989, data comemorativa do
nascimento da escritora. Nos estatutos aprovados constam como finalidade: projetar, executar, colaborar e
incentivar atividades culturais, artísticas, educacionais e filantrópicas visando, sobretudo, à valorização da
identidade sociocultural do povo goiano, bem como preservar a memória e divulgar a obra de Cora
Coralina”. Cf. FOLDER COMEMORATIVO DOS 120 ANOS DE CORA CORALINA E 20 ANOS DE
FUNDAÇÃO DO MUSEU, Cidade de Goiás: 2009. Fonte: Museu Casa de Cora Coralina (distribuição
gratuita).
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avistamos uma passagem semelhante a uma rua, demarcada por quintais do lado direto e
uma residência de esquina, no lado esquerdo. Ali, recostado à parede daquela casa,
encontramos o segundo vulto. Ele parece, despretensiosamente, observar a ação daquele
que pratica interação com o rio que se adequou, intencionalmente, à paisagem urbana da
Cidade de Goiás desde os tempos de sua fundação, conforme vimos anteriormente. A
ação de observar sem pressa não foi uma prerrogativa do segundo vulto. Burchell, de
igual modo, apropriou-se desse habitus local para narrar, visualmente, a poética desse
instante.
Ora, se as ligaduras entre as práticas do sagrado e as artes do fazer foram
suficientes para manter o homem goiano “preso” à sua paisagem, quais razões
justificam o teor escrito nos relatórios dos governadores da Província de Goiás no
século XIX? E os discursos da impressa novecentista? Por que eles reacendem os
debates sobre fronteira e identidade no Brasil Imperial? Os estudos de Rabelo (2010),
Luz (2012) e Magalhães (2004) podem nos ajudar na construção destas respostas.
Antes mesmo da instalação do Império e do advento da Independência, em
1822, a relação entre os poderes central e municipal já era tensa na Cidade de Goiás.
Segundo Rabelo (2010), o século XIX narra um capítulo à parte no que diz respeito à
estruturação e as intervenções políticas no espaço urbano das províncias do império. Na
Cidade de Goiás não foi diferente. Em harmonia com o autor, o caos urbano instalado
no século XIX adveio das medidas punitivas para preservar os interesses que
demandaram a construção da paisagem urbana da antiga Vila Boa de Goyaz. A
explicação, segundo o autor, começa no século XVIII, quando os interesses coloniais,
delegaram às Câmaras Municipais121 a função de administrar e mediar os conflitos
locais visando celeridade às demandas inerentes à vida urbana e, sobretudo, aos
interesses da mineração que não podiam parar. O longo tempo de contato/resposta da
Corte, sobre os assuntos do cotidiano local, certamente, faria diminuir o ritmo da vida e
do trabalho nas minas e pelas minas em Vila Boa de Goyaz. Portanto, estes
entrecruzamentos nos colocam diante das necessidades humanas em relação ao espaço
que, neste caso, consistiram em alteração, legado, resistência, que por sua vez nos
121
“O poder local na colônia era exercido pelas câmaras municipais, que logo se estruturavam onde se
erigia uma vila e, além de desempenhar funções administrativas, também atuavam em defesa dos
interesses locais. A participação politica, a seleção e a legitimação dos membros das câmaras eram
organizadas de modo a assegurar vantagens aos senhores de terra. Desse modo, não obstante, as
Ordenações do Reino procuraram uniformizar a organização das câmaras municipais, aquelas leis eram
bastante flexíveis no tocante aos usos e costumes da terra que poderiam solucionar as questões suscitadas
e que iam, aos poucos, sendo reconhecidas pela corte e pelos governadores” (RABELO, 2010, p.23 e 24).
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Manuscritos avulsos da Capitania de Goiás existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa-
Portugal. Coord. José Mendonça Teles et` al. Goiânia: Sociedade Goiana de Cultura/IPEHBC, 2001.Doc.
nº 26, 11 de Fevereiro de 1736, Provisão Régia de D. João V, dispondo sobre a criação de uma Villa para
sede da Capitania de Goyaz. Transcrição: Milena Bastos Tavares, historiadora, documentalista e
arquivista do Museu das Bandeiras.
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sobrevivências aos dias menos opulentes, foram severamente atingidas pela autoridade
imperial representada na figura dos governadores da província.
Segundo Luz (2012), a noção de paisagem sofre uma mudança significativa
no campo dos sentidos sociais dados a ela, em virtude da ressignificação do espaço e da
função que ele exercia nesse contexto adaptativo do século XIX. Suas análises trazem a
reflexão de que a forma espacial tem dimensão histórica-material quando ela é
“empiricizada”, ou seja, funcionalizada. Sendo assim, concluímos que as práticas
desenvolvidas entre/pela paisagem urbana da Cidade de Goiás, no século XIX, foram
tão contundentes que as medidas adotadas pelo governo imperial, a fim de impor regras
às práticas do fazer, foram tão evidentes que ora nos condiciona a teorizar sobre essa
paisagem pelo jogo da apropriação do espaço em confronto com o poder e as normas.
Tais implicações caminham em direção ao que buscamos confirmar sobre a identidade
da cidade-cotidiano: que seu significado mostrou-se volátil e, portanto, o elo entre a
cidade-esboço e a cidade-ideal.
As disputas e confrontos resultaram num travamento de forças que,
consoante Magalhães (2004), colocou o discurso da salubridade em face das
responsabilidades governamentais que engendrando novos contornos ao campo de
disputas de poder na/pela paisagem urbana da Cidade de Goiás no século XIX:
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população, graças a essas normativas, foi, aos poucos, conquistando a sujeição das
famílias locais (RABELO, 2010, p. 29). Tais determinações imputam, ainda, ao poder
provincial atribuições que cabiam à municipalidade que, por sua vez, afirmava não ter
recursos financeiros para custear a normalização da paisagem urbana da Cidade de
Goiás nos rigores estabelecidos pelo discurso médico inserido nas demandas das
políticas públicas nacionais naquele período. Esse fato ampliou o poder, a atuação e
visibilidade dos presidentes de província na capital, Cidade de Goiás, na mesma
proporção que a população resistia às estratégias de higienização e ao governo
provincial à frente desse processo, inclusive, com violência e enfrentamentos de
natureza diversa por parte dos moradores locais incomodados com as medidas que
tinham, para eles, a conotação de uso e abuso de poder:
123
“A revolta eclodiu durante o governo de Rodrigues Alves (1902-1906), sendo Pereira Passos o prefeito
do Rio. Era uma fase fundamental de transformação da sociedade brasileira, que ainda mantinha
profundas características do período colonial, na sua passagem para uma sociedade burguesa moderna.
Tal transformação não se fez sem elevado custo social. A principal exportação do Brasil era o café,
principalmente o dos fazendeiros paulistas. Eles constituíam a base de sustentação de Rodrigues Alves,
que adotou a política anti-industrialista do antecessor, o presidente Campos Sales (1898-1902),
garantindo assim o funcionamento e até o reforço do modelo agrário-exportador. Tanto a revolta da
população contra uma lei que se destinava a protegê-la quanto os meios violentos que as autoridades
empregaram para impor a medida hoje parecem surpreendentes. A polêmica apaixonou a imprensa da
época (...). Afinal, a varíola, a febre amarela e a peste bubônica dizimavam a população carioca. Mas a
campanha do médico sanitarista Oswaldo Cruz, visando a erradicar o primeiro desses males, foi veemente
mente rechaçada. Confundiu-se com a revolta contra a demolição das habitações populares causada pelas
obras de reurbanização da cidade, a exploração nas fábricas e a prepotência das autoridades. E mesmo
intelectuais, como Rui Barbosa, engajaram-se contra a obrigatoriedade da vacinação. O episódio não
pode, entretanto, ser reduzido a uma reação ao progresso, como pretenderam alguns intelectuais e uma
parte da imprensa da época. A Revolta da Vacina também tem sido interpretada como fruto de
manipulações políticas de segmentos da elite brasileira descontentes com o governo liderado por
Rodrigues Alves. Entre eles, militares ligados a Floriano Peixoto, intelectuais positivistas, republicanos
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radicais, monarquistas e a população atingida pela reorganização do espaço urbano empreendida pelo
prefeito Pereira Passos” (CADERNOS DE COMUNICAÇÃO, Série Memória, p. 11-13).
Cf. http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4204434/4101424/memoria16.pdf Acessado em: 07-04-2016.
124
“O Comandante das Armas Cunha Mattos distingue a alimentação do goiano a partir de dois
universos: o do campo e o da cidade. Os camponeses comiam carne seca, feijão, verduras, milho na forma
de farinhas ou de canjica, cultivados ou criados nos quintais de suas moradas. O passadio urbano, mais
variado por causa da diversidade de produtos negociados nos comércios estabelecidos e ambulantes,
compunha-se de carne seca ou verde (fresca), aves, feijão, farinha de milho ou mandioca, café, hortaliças,
arroz e pouco vinho. Raramente consumia-se farinha de trigo, produto caro adquirido nos mercados de
São Paulo e da Europa, ingerida na forma de pães, peculiarmente. Ainda que se produzisse trigo nas
localidades de Cavalcante e Meia Ponte, como referido no capítulo anterior, não se supriam as
necessidades daqueles que podiam adquiri-lo. Na primeira metade do século XIX, o comércio da capital
era abastecido de mercadorias básicas. Além dos gêneros de produção local e regional, que atendiam à
demanda dos consumidores mais pobres, comercializava-se nas vendas e lojas, artigos sofisticados
provenientes principalmente da praça do Rio de Janeiro. Desse modo, esses estabelecimentos – que
vendiam mantimentos, cachaça, miudezas e variados tipos de tecidos – também proviam os mais
endinheirados de produtos requintados. O escravo e o livre pobre sustentavam-se com os produtos
cultivados localmente, como o milho, o feijão, o arroz e a mandioca, esta ingerida in natura ou na forma
de farinhas” (MAGALHÃES, 2004, p. 85 -89).
125
Cf. BÉGUIN, François. 1992 [1979]. “As maquinarias inglesas do conforto”. Espaço & Debates, São
Paulo, Neru, n°. 34.
233
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
126
A Cidade de Goiás, capital da província de Goiás, sofreu, nesse contexto de estabilização do Império,
as influências culturais, urbanísticas e restauradoras do Rio de Janeiro, capital país nessa época, o qual
possuía uma inclinação elitista.
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BÉGUIN, François. 1992 [1979]. “As maquinarias inglesas do conforto”. Espaço &
Debates, São Paulo, Neru, n°. 34.
FREITAS, Artur. História e Imagem Artística: por uma abordagem tríplice. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, n° 34, julho-dezembro de 2004, p. 3·21.
MARTINS, Luciana de Lima. O Rio de Janeiro dos viajantes (o olhar britânico 1800-
1850). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
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SAINT HILAIRE, Auguste de, 1779-1853. Viagem à Província de Goiás. Trad. Regina
Regis Junqueira; Apresentação de Mário Guimarães Ferri. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia;
São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975.
FONTES
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237
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Raros são os diretores que quiseram ganhar esse título (de cineasta-
historiador). Entre os americanos, temos que voltar a D. W. Griffith
127
Doutoranda em História na Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRGS). Mestre em História
pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Correio eletrônico:
robertahistoriaueg@gmail.com
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para achar alguém que tenha feito tal reinvindicação – e, para ele, a
questão não era apenas pessoal, mas fazia parte de uma teoria mais
ampla que via, no futuro, os filmes como substitutos dos livros como
mídia primária para a transmissão de conhecimento sobre o passado
(...) Um cineasta que chegou a considerar a si mesmo um historiador
foi Roberto Rosselini (...) fez mais de uma dúzia de filmes históricos
(a maioria para televisão). Acreditava que “o filme deveria ser uma
mídia como qualquer outra, talvez mais valiosa do que qualquer outra,
para escrever a história” (2010, p. 169).
Capítulo um. Ele adorava a cidade de Nova York. Ele idolatrava tudo
fora de proporção. "Não, quero dizer "Ele romantizava tudo fora de
proporção”. Agora... “com ele não importa o que a temporada foi, isso
ainda era uma cidade que existiu em preto e branco e pulsava ao sim
das grandes músicas de George Gershwin”. Ahhh, agora deixe-me
começar de novo. "Capítulo Um. Ele era romântico sobre Manhattan
como era sobre tudo o resto. Ele prosperou na azáfama das multidões
e do tráfego. Capítulo um. “Ele adorava a cidade de Nova York. Para
ele, era um metáfora para a decadência da cultura contemporânea. A
mesma ausência de integridade individual de modo a causar muitas
pessoas a tomar o caminho mais fácil foi rapidamente transformando a
cidade dos seus sonhos em...". Não, vai ser muito enfadonho. Quero
dizer, você sabe... vamos enfrentá-lo, eu quero vender livros aqui
(Allen, 1981).
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Após essa descrição idílica, Beckner não se furta em lembrar que “por volta
de 1960, no entanto, altos impostos e um acentuado índice de criminalidade mancharam
sua imagem, o que desencadeou a fuga da maior parte das empresas com sede na
cidade” (2003, p. 164).
Essa realidade não passou despercebida pelo cinema. Diversos cineastas,
com destaque para Martin Scorsese, conterrâneo e contemporâneo de Allen, sempre
procuraram retratar uma Nova Iorque para além do cartão postal. Toda cidade, por mais
bela e rica que seja, de Paris a Londres, de Berlim a Buenos Aires, certamente passando
por Nova Iorque, possui seu submundo, sempre potencialmente perigoso e violento, não
completamente domado pelas autoridades constituídas. Nesse sentido, essa Nova Iorque
idílica mostrada por Allen contrasta com a visão que Scorsese retratou em filmes como
Taxi Driver (1976), New Iorque, New Iorque (1977) e Gangues de Nova Iorque (2002),
em que relações violentas estabelecem o tom e o clima da narrativa, tendo, da mesma
forma, Nova Iorque como um tipo de personagem simbólico.
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Schickel: Bom, até que ponto Taxi Driver realmente brota daquele
período de Nova Iorque, em que muitos de nós que amamos a cidade e
adoramos morar aqui estávamos realmente anojados com a cidade...
Scorsese: Ah, isso foi horrível.
Schickel: Quer dizer, havia uma sensação de que a cidade estava
simplesmente descendo em espiral para ao inferno naquele momento.
Scorsese: Aquilo foi só o começo. Mas sou de Nova Iorque então
quando a cidade começa a cair, parece parte do ciclo. (...) Em Taxi
Driver, não gostei de filmar naquelas áreas de categoria X. A sensação
de chafurdar naquilo era, para mim, sempre cheia de uma tensão e de
uma extraordinária depressão (2010, p. 165 – 166).
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profissionais que promovessem uma onda de crimes ainda maior. Inegavelmente, apesar
da controvérsia, a “Tolerância Zero” foi um sucesso, atingindo suas metas. Os índices
de criminalidade despencaram. Um exemplo disso é que o metrô de Nova York, antes
considerado inseguro e um foco de violência, tendo sido assim retratado no filme
Bananas (1971), em que curiosamente Allen é agredido por um Sylvester Stallone em
início de carreira, transformou-se no símbolo da política de segurança da cidade.
Os atentados de 11 de setembro de 2001 representaram uma catástrofe nesse
ambiente urbano que Woody Allen tanto festejou. A cidade de Nova Iorque jamais seria
a mesma.
Na cerimônia do Oscar de 2002, Woody Allen surpreendeu a todos quando
apareceu para falar sobre o assunto, assumindo seu status de ícone da cidade. Entrou no
palco inesperadamente, sem ninguém saber, a não ser a produtora da cerimônia Laura
Ziskin. O segredo foi uma das condições de Allen para aceitar o convite. Tanto que ele
não passou pelo tapete vermelho, chegou apenas meia hora antes de sua apresentação e
foi embora do Teatro Kodak assim que a terminou. Anunciado pela apresentadora,
Whoopi Goldberg, recebeu uma grande ovação de pé de todos os presentes. Muitos ali
ganharam ou foram indicados ao Oscar trabalhando sob seu comando. O registro em
vídeo de sua fala está disponível na internet. Nele Woody Allen, assumindo sua imagem
pública ao mesmo tempo tímida e espirituosa, conta que
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comunidade negra da cidade, ou filmes que emulam sua visão da cidade, como Harry &
Sally, que foi chamado pela crítica de um filme de Woody Allen que não foi feito por
Woody Allen.
Porém, embora tenha participado dessa homenagem a Nova Iorque, como
explica Neusa Barbosa, “Woody não é patriota nem nacionalista de forma assimilável à
primeira vista e isso gera desconfiança em muitos americanos, especialmente em
momentos de autoestima nacional sensível, como o pós-atentado de 11 de setembro de
2001” (2002, p. 188). E é possível que sua resistência em produzir um filme que tratasse
especificamente do tema tenha reforçado essa imagem.
De fato, na concepção idealizada de Nova Iorque de Woody Allen, e em
função de sua visão de mundo fundamentalmente centrada nos problemas individuais e
nos pequenos incidentes domésticos, num contraponto às grandes tragédias, o tema do
11 de setembro escapou de sua zona de interesse artístico. Woody Allen, mesmo diante
de um tema potencialmente épico e desafiador, optou por continuar com sua estética
baseada em cenas cinematograficamente simples, embora repletas de camadas
interpretativas, idealizando Nova Iorque, vendo-a não como uma cidade eminentemente
trágica, mas como uma cidade que passou por uma tragédia e que a superou ou deve
superar.
Gilbert Durante afirmou que “qualquer método de investigação científica
justifica-se de duas maneiras. – pela sua ‘oportunidade’ histórica / - pela sua adequatio
(a sua pertinência) relativamente ao seu objetivo (o seu ‘objecto’)” (1996, p. 146).
Acreditamos que estudar a visão acerca da cidade de Nova Iorque presente na obra no
cineasta norte-americano Woody Allen contempla os dois casos. Primeiro porque Allen
é comumente visto como um dos mais importantes artistas que possuem o nome ligado
a cidade. Sua fama deve-se em grande parte a Nova Iorque. Em segundo lugar porque
foi justamente nessa cidade que ocorreu os principais desdobramentos de um dos mais
socialmente impactantes eventos do século XXI: os atentados de 11 de setembro de
2001. Temos aqui a “oportunidade” de analisar a interpretação desse cineasta para tais
eventos, o que nos parece de extrema “pertinência”, dado seu grau de relação com a
cidade. Sobretudo se levarmos em conta que Allen criou, sobretudo em seus filmes das
décadas de 1970 e 1980, um imaginário bucólico sobre Nova Iorque.
De acordo com Rosenstone, o cineasta-historiador é um artista que “faz” um
discurso sobre a história, visando seu consumo por grandes públicos, normalmente
públicos consideravelmente mais vastos do que os que têm acesso a um texto de história
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momento de sua obra até aqui, cita de maneira explícita os atentados em seus filmes.
Numa perspectiva simplista, é como se não tivessem ocorrido.
Pode-se perguntar: mas qual a relevância de citá-los? É tão importante
assim? Talvez a resposta para essa pergunta deva ser dada pela tradição cinematográfica
norte-americana. O cinema americano, do qual Woody Allen jamais tentou se afastar,
considerando-se um cineasta da tradição americana que dialoga com modelos estéticos
europeus, sempre retratou os episódios de crise de sua história. A Guerra de Secessão
está nas origens do nascimento da linguagem cinematográfica, sendo o tema do filme O
nascimento de uma nação (1915), de D.W. Griffith, reaparecendo em diversas
produções menores e depois no épico ...E o vento levou (1939), assinado por Victor
Fleming. A conquista do oeste, com tudo que teve de “heroico” e sangrento, tornou-se
um gênero cinematográfico por si só, que gerou desde filmes de matinê até obras-
primas, como O homem que matou o facínora (1962), de John Ford, e Rio Vermelho
(1948), de Howard Hawks.
O mesmo aconteceu com a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã.
Conveniente notar que praticamente todo grande cineasta realizou pelo menos um filme
sobre esses temas. Francis Ford Coppola, por exemplo, fez Apocalipse Now (1978) e
Stanley Kubrick realizou Nascido Para Matar (1987) para discutir esses grandes temas
de seu tempo. Considerando ainda que a verdadeira natureza humana surge nos
momentos extremos, esses cineastas transformaram tais catástrofes em matéria-prima
para suas reflexões artísticas acerca da sociedade.
Nesse sentido, é sim, relevante, perguntar-se acerca dessa negação de
Woody Allen em tratar explicitamente da Nova Iorque do submundo, bem como dos
impactos de um atentado terrorista de grande porte.
Diversos filmes trataram desse segundo tema. Alguns deles foram
explícitos, como o documentário 11/9, dos irmãos Jules e Gedeon Naudet e James
Hanlon, que registrou a única imagem conhecida do primeiro avião atingindo a primeira
torre. Também se fez ficção como os dramas WTC – por trás do 11 de setembro, de
Antonia Bird, Voo 93 (2006), de Paul Greengrass, e As Torres Gêmeas (2006), de
Oliver Stone. Outros filmes usaram os atentados como pano de fundo para melodramas,
como Tão forte, tão perto (2011), de Stephen Daldry.
Sobre o 11 de setembro, o criador do “Tolerância Zero”, Rudolph Giuliani
afirmou que: “A cidade vai sobreviver, nós vamos passar por isso, e será muito, muito
difícil. Eu não acho que saibamos a dor que vamos sentir quando descobrirmos o que
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perdemos, mas a única coisa que temos que focar agora é fazer essa cidade passar por
128
isso, e sobrevivermos e sermos mais fortes por ela” . Podemos interpretar que
“tornar-se mais forte” significa aqui fortalecer ainda mais a política do “Tolerância
Zero”, uma vez que “as épocas de crise de um poder serem também aquelas em que se
identifica a produção de imaginários sociais concorrentes e antagônicos, e em que as
representações de uma nova legitimidade e de um futuro diferente proliferam e ganham
difusão e agressividade” (BACZÓ, 1995, p. 310), sendo que essa nova realidade pode
ser usada para justificar posturas repressivas e, ao mesmo tempo, “culmina na
fabricação do carisma do grande chefe” (p. 350), como se verificou com a ampliação da
fama de Rudolph Giuliani após o 11 de setembro.
Durante o lançamento do filme Melinda e Melinda (2004), que narra a
mesma história pelo ponto de vista da comédia e da tragédia, um site português
chamado “P”, noticiou no dia 01/07/2005 que “Realizador desvaloriza acontecimento:
11 de Setembro não interessa a Woody Allen”. Lemos na nota que
Woody Allen não parece querer perder tempo com o ataque do dia 11
de Setembro de 2001. O realizador de “Melinda e Melinda” vê o
ataque da Al-Qaeda como um desastre menor comparado com outros
acontecimentos históricos.
“Como realizador, não estou interessado no 9/11. É demasiado
pequeno. A história do mundo é do tipo: ele mata-me, eu mato-o, mas
com diferente maquilhagem e com diferentes 'castings'. Em 2001, uns
fanáticos mataram uns americanos, e agora uns americanos estão a
matar uns iraquianos. E na minha infância, uns nazis mataram judeus.
E agora, alguns judeus e alguns palestinianos estão a matar-se.
Questões políticas, se recuarmos milhares de anos, são efémeras, não
importantes. A história repete-se uma e outra vez”, concluiu Allen.129
128
http://www.quemdisse.com.br/frase.asp?frase=95651. Acesso dia 19 de agosto de 2014).
129
(http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/11-de-setembro-nao-interessa-a-woody-allen-1227179.
Acessado em 12 de agosto de 2014)
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livro sobre os atentados, Plano de Ataque. Para Sant’ Anna, embora a principal
motivação do 11 de setembro tenha sido religiosa, o fundamentalismo islâmico contra a
civilização judaica-cristã ocidental, sem dúvida os desdobramentos políticos do evento
foram igualmente fundamentais enquanto perspectiva explicativa.
Contudo, no “universo de Woody Allen, a política é deixada em segundo
plano: o ponto de vista é psicológico ou existencial” (Vartzbed, 2012, p. 54).
Aparentemente, essa minimização do 11 de setembro parece trazer em si muito mais
uma perspectiva pessoal do cineasta, que de fato pouco se mostrou interessado em
problematizar a questão da guerra em sua obra pregressa, do que necessariamente um
desprezo ou desinteresse pelo acontecimento em si, uma vez que ele se mostrou crucial
para o desenvolvimento das relações sociais na cidade de Nova Iorque.
A questão das consequências urbanas pós-11 de setembro estão muito bem
trabalhadas no filme Nova Iorque eu te amo (2008), uma coletânea de curtas que
retratam as tensões e aproximações entre as diversas comunidades nova-iorquinas,
desde judeus, árabes até os WASPS tradicionais. Em Nova Iorque eu te amo fica
evidenciado que tudo mudou após o 11 de setembro. Por que não para a Nova Iorque de
Woody Allen? Ou o contrário: para Woody Allen realmente não mudou? Ou essa
mudança é implícita, está nas entrelinhas? Será que o título de filmes como Tudo Pode
dar Certo (2009), com o qual Woody Allen marcou seu retorno a Nova Iorque após sua
primeira passagem pela Europa, contêm referências tanto quanto aos personagens
retratados quanto sobre a cidade como um todo?
As respostas podem estar nas entrelinhas das obras de Allen, no sentido de
que suas perspectivas acerca dos eventos que moldaram a urbanidade de Nova Iorque
passarão diretamente por sua subjetividade enquanto artista e, sobretudo, enquanto
cineasta-historiador. Ubiratan Paiva de Oliveira observa que no citado trecho de
abertura de Manhattan (1979) não existe apenas apologia, mas uma sutil crítica.
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VARTZBED, Éric. Como Woody Allen pode mudar sua vida. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2012.
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130
Mestranda da Universidade Estadual de Goiás – TECCER - Anápolis. Integrante do GEHIM – Grupo
de Estudos de História e Imagem. CNPq/UFG. Orientador: Dr. Ademir Luiz da Silva.
131
Em sua crônica O tesouro do Morro Canta Galo narra o mapa do tesouro do reinol rico e militar D.
João de Almeida, enviado pela S. Majestade Imperial para abrir inquérito sobre agressão ao Padre
Perestelo, que foi libertado pela Ordem dos Bufantes do julgado de Catalão. Esse reinol passou a residir
em Vila Boa e deixou um mapa sobre o seu tesouro (MARQUES, 1977:236).
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traçar os contornos das linhas compondo uma “invenção” do que foi perdido na
destruição da edificação de uma arquitetura e preservado em sua literatura.
A “tradição” foi uma característica em seu cotidiano no transitar nas ruas de
sua cidade “mãe”, em seus casarios coloniais, que foi comentada pelo jornalista
Alexandre Konder (1949). O jornalista descreveu o seu primeiro encontro com Octo
Marques na Cidade de Goiás, a “terra do Anhanguera”, pintada e escrita pelo seu
sentimento apaixonado ao ver a paisagem da natureza, como a Serra Dourada, copiando
para suas pinturas essas belas paisagens, velhas ruas, edifícios das velhas igrejas e da
Cruz de Bartolomeu Bueno, que somente sua cidade podia oferecer. Classificou o
escritor como pintor em toda “extensão da palavra”, que, como dizia não se preocupava
com bens materiais e era de uma alma pura: “sem ambições do materialismo, que
durante minha jornada nessa terra pátria já encontrei”(KONDER, 1949:1).
A estudiosa Aline Figueiredo (1979) também enfatiza esse traço no pintor.
Segundo ela “uma presença solitária do escritor em meados dos anos cinquenta,
realizando uma pintura realista e ingênua, que retratou sua antiga capital e com cenas
ainda estão presentes na Cidade de Goiás” (FIGUEIREDO, 1979:96). O escritor
Bernardo Élis (1987), por sua vez, enfatizou os paineis da reconstituição da rua Moretti
Foggia de 1915, para a churrascaria “Pito Aceso”, pintando a Cruz do Anhanguera, o
Palácio do Conde dos Arcos132 e o Largo do Chafariz.
Elder Rocha Lima (2009) diferenciou a pintura e a literatura de Octo
Marques, mas enfatizou que ambas estiveram centradas na Cidade de Goiás. O mesmo
ocorreu com a análise de Miguel Jorge (1998), que considerou que sua vida e produção
se misturaram com sua cidade natal, enquanto Sá Peixoto (1998) destacou ainda que em
sua pintura ingênua, a arquitetura prevalecia associada aos moradores da cidade.
A manutenção patrimonial da Cidade de Goiás foi classificada pela autora
Rosi Meire Corrêa (2003) nos três artistas renomados: Veiga Valle, Octo Marques e
Goiandira do Couto. Corrêa destacou três correntes das artes plásticas, classificando a
primeira linha como “preservacionista”. A que envolveu a pintora Goiandira do Couto e
outros, que se destacaram na pintura arquitetônica. A segunda como expressão popular
de Octo Marques e outros representantes que captaram “sombras e gente simples”. A
terceira vertente, que a autora considerou como de “Outros olhares” são daqueles que
estão na margem e expressam uma preocupação social e estética.
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Tombado em 1951, inscrição no Livro do Tombo das Belas Artes, volume I, folhas 77.
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relevância para a cidade. Além do teatro ou da imprensa escrita, o escritor iniciou seu
primeiro inventário histórico “Antigas ruas da Cidade” (Quadro IV), publicado em seu
livro Casos de Vila Boa (1977). Octo Marques analisou uma planta do Arraial de
Sant’Ana, feita pelo Capitão-General Dom Luís da Cunha Menezes. Nessa planta
relacionou os nomes das ruas antigas e os seus nomes atuais. Citou as primeiras
chácaras e seus moradores antigos e os atuais, além de alguns prédios públicos.
Ao inventariar as antigas denominações das avenidas, observa a mudança
dos nomes dos logradouros que não rompem com a tradição, como exemplo a “Rua dos
Médicos”, a primeira denominação, depois ficou conhecida como a “Rua do Horto” e
hoje, Félix de Bulhões (Quadro IX). Nessa rua fica o monumento do Museu e a Igreja
da Boa Morte. Essa relação do inventário das antigas denominações dos logradouros da
antiga Vila Boa relaciona-se com a invenção da tradição, um novo nome e o destaque do
prédio tombado.
Ainda nessa obra, com o título “Vila Boa numa gravura de Pohl”,
destacado no Quadro V, Octo Marques interpretou uma gravura do viajante João
Emanuel Pohl (1817-1821), que desenhou Vila Boa de Goiás, em 23 de janeiro de 1819.
O escritor Octo Marques enfatizou vários monumentos: Palácio do Governo, as Igrejas
da Boa Morte, da Abadia, Santa Bárbara, do Rosário e a Cruz do Anhanguera.
Em referência à publicação anterior, em sua crônica “A Serra da carioca e
os Mirantes da Cidade-Mãe”, no Quadro IV, o escritor destacou a importância do
turismo e o monumento da Igreja de Santa Bárbara. Enquanto na segunda produção
literária “Cidade-mãe: casos e contos” (Quadro V), publicada em 1985, Octo Marques
discorreu sobre o “Vandalismo hereditário” (Quadro VI). O escritor criticou a falta do
cuidado patrimonial pelos órgãos públicos e da sociedade. Referiu-se à construção, no
século XIX, do caminho para chegar a Igreja Santa Bárbara e a destruição da Pedra
Goiana, em meados dos anos sessenta.
As suas crônicas e contos ilustraram a função de um pesquisador que
averiguava a importância de sua cidade, seja no patrimônio edificado e na continuação
de uma cidade viva ao transitar pelo acervo arquitetônico.
Essa representação preservacionista compreende, ainda, a arte imaterial.
Octo Marques escreveu a crônica “Um dançador da Congada”, como se pode observar
no Quadro VII. Nela narrou à história de uma descendente africana, Leocádia, e de seu
neto, Lípidio. Leocádia se lembrava do seu esposo “Nhonhô” que foi monarca de tais
festas africanas e de suas músicas:
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Quadro I
Publicação: Jornal Cidade de Goiás Ano: 1946 Local: Vila Boa
Patrimônio:
Quadro II
Publicação: Jornal Cidade de Goiás Ano: 1948 Local: Vila Boa
Jornal : Cidade de Goiás. Título: “Goiás”
Patrimônio:
- quinzenário “Goiás”
Quadro III
Publicação: Gráfica O Popular Ano: 1977 Local: Vila Boa
Livro: Casos e Lendas de Vila Boa. Título da crônica: Antigas ruas da cidade
Patrimônio: 1782 – planta do “Arraial de Sant’Ana mandada pelo Capitão-General Dom Luis da Cunha Menezes,
governador da Capitania de Goiás e depois copiada pelo soldado Manoel Ribeiro Guimarães, da guarnição dos Dragões’.
Vias públicas com denominações familiares:
Rua do Marinho – hoje Rua Doutor Couto de Magalhães;
Rua Nova do Sertão – ponte do Carmo até findar-se na rua da Boa Vista em direção do morro das Lages;
Rua Nova dos Barros - hoje Rua da Abadia e depois Rua do Ouvidor e também das Relações;
Rua do Bessa iniciava acima do Largo da Cadeia da metade da atual Rua Hermógenes Coelho;
Rua dos Médicos passou para Rua do Horto e hoje, Félix de Bulhões;
Rua Última - hoje, Rua 15 de Novembro ou rua da Estrada ou rua Doutor Cruz Machado;
Rua do Pintor - hoje, no final do Beco da Cachoeira Grande, nas imediações do cemitério local;
Rua 13 de Maio -hoje Coronel Joaquim de Bastos ou Rua dos Mercadores, rente à Igreja de Nossa Senhora da Lapa;
Rua do Jogo da Bola depois Rua d’Água ou Rua Professor Ferreira;
O prédio do Hospital de Caridade São Pedro D’Alcântara era o Açougue ou Mercado da sede da Capitania.
Chácara de Joaquim Apolinário;
Chácara do cirurgião-mor Lourenço da Neiva – cultivo da uva e fabrico do vinho;
Chácara do José Moreira - hoje, Largo do Moreira ou atual Praça Coronel Manoel Alves;
Chácara Anlonica hoje residência do senhor Levídio Berquó, esquina da Praça Tiradentes;
Quadro IV
Publicação: Gráfica O Popular Ano: 1977 Local: Vila Boa
Livro: Casos e Lendas de Vila Boa Título da crônica: Vila Boa numa gravura de Pohl
Patrimônio:
- As Igrejas da Abadia, Santa Bárbara, do Rosário Boa Morte (1779) e inclusive a ora extinta Capela de Nossa Senhora da
Lapa, hoje a Cruz do Anhanguera.
Quadro V
Publicação: Gráfica O Popular Ano: 1977 Local: Vila Boa
Livro: Casos e Lendas de Vila Boa. Título da crônica: A Serra da Carioca e os Mirantes da Cidade-Mãe
Patrimônio:
- Igreja de Santa Bárbara;
- Casa da Fundição.
Quadro VI
Publicação: CERNE e Fundação Legionárias do Bem-Estar Social Ano: 1985 Local: Vila Boa
Livro : Cidade-mãe: casos e contos Título da crônica: Vandalismo hereditário
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Patrimônio:
Quadro XI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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