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Disciplina: Engenharia Sustentável

Aula 6: Gestão Ambiental

Introdução
A Gestão Ambiental visa ao uso de práticas e métodos administrativos para reduzir ao
máximo o impacto ambiental das atividades econômicas nos recursos da natureza.
Ela constitui um elemento que permite:

1. Definir e aplicar a norma ambiental e ecológica às quais devem estar sujeitas as


atividades humanas;
2. Delinear e ditar as políticas e estratégias ambientais e ecológicas;
3. Planejar, programar, orçar e executar obras e ações para preservar o meio
ambiente, juntar e coordenar a participação integrada dos três níveis de governo
e dos diferentes setores da sociedade como um todo;
4. Medir e avaliar os objetivos alcançados; e
5. Ajustar os planos e programas empreendidos para conseguir tal fim de preservar
o meio ambiente.

A monitoração dos parâmetros de sustentabilidade e a identificação do impacto das


ações ecológicas, sociais, econômicas e governamentais se dão pela utilização do
ciclo de indicadores. Os indicadores de desenvolvimento sustentável são instrumentos
essenciais para guiar a ação e subsidiar tanto o acompanhamento quanto a avaliação
do progresso alcançado, vistos como um meio para se atingir o desenvolvimento
sustentável. Valem mais pelo que apontam do que pelo seu valor absoluto e são mais
úteis quando analisados em seu conjunto do que individualmente.
Objetivos
Compreender a definição e aplicação da Gestão Ambiental;
Conhecer os objetivos da prática da Gestão Ambiental;
Analisar os efeitos da prática da Gestão Ambiental.
Gestão Ambiental
Definições
O atual cenário das organizações tem exigido profissionais mais qualificados e
preparados para os desafios do mercado.

O mundo globalizado permite a transferência de informação e conhecimento,


exigindo dos gestores uma visão sistêmica, conhecimento e habilidade para a
solução dos problemas.

O conceito de sustentabilidade nos negócios é reconhecido como um


diferencial competitivo. Com isso, além das dimensões econômicas, empresas
buscam incorporar na gestão de seus negócios as dimensões ambientais e
sociais.

Identificar as necessidades e expectativas das partes interessadas é uma boa


prática para a organização levantar oportunidades e mapear os impactos do
seu negócio no meio ambiente e na sociedade.

A sustentabilidade nos negócios tem relação direta com o atendimento das


partes interessadas (Figura 1).
 Figura 1: Partes interessadas no processo de
Gestão Ambiental. Fonte: elaborada pela autora.

Algumas definições de Sistema de Gestão Ambiental (SGA) podem ser


encontradas na literatura (Figura 2):


O SGA é parte do sistema de gestão da empresa,

englobando a estrutura organizacional, as atividades

de planejamento, as responsabilidades, as práticas, os

procedimentos, os processos e os recursos para

desenvolver, implementar, atingir, analisar


criticamente e manter a política ambiental.

(Coordenadoria de Gestão Ambiental da UFRGS).


 Figura 2: Conceitos de SGA. Fonte: Elaborada
pelo autor.

A Lei nº 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente) aplica-se a


qualquer organização em que possa ocorrer degradação da qualidade
ambiental, resultante das atividades que direta ou indiretamente:

Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população

Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas.

Afetem desfavoravelmente a biota

Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente.

Lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais


estabelecidos.
Nesse contexto se insere a contribuição de um Sistema de Gestão
Ambiental (SGA) que forneça um processo estruturado para alcançar a
melhoria contínua da qualidade ambiental, cujo ritmo e amplitude sejam
determinados pela organização à luz de circunstâncias econômicas e demais
condicionantes.

A integração das questões ambientais com o SGA da organização pode


contribuir para a efetiva implementação do SGA, bem como para a sua
eficiência e a clareza de atribuições.
 Figura 3: Espiral do Sistema de Gestão
Ambiental. Fonte: ISO, 2004.

Histórico da evolução dos


conceitos de Gestão Ambiental

Década de 1960

A década da conscientização
No mundo considerado desenvolvido, a preocupação em conciliar o
desenvolvimento com a qualidade ambiental iniciou-se na década de
1960. Na época, um grupo de cientistas conceituados – reunido no
chamado Clube de Roma e utilizando-se de modelos matemáticos –
desenvolveu uma pesquisa prevenindo sobre os riscos do crescimento
econômico baseado no consumo de recursos naturais esgotáveis. Esse
estudo, publicado posteriormente sob o título Limites do Crescimento,
incluía projeções, em grande parte não cumpridas, e teve o mérito de
conscientizar a sociedade para os limites da exploração do planeta.

Surgiram então os primeiros movimentos ambientalistas (que nos anos


1980 seriam chamados de Organizações não Governamentais – ONGs),
motivados pela poluição da água e do ar de países industrializados. Os
acidentes ambientais da época serviram para conscientizar dos perigos
da poluição.
Década de 1970

A década da regulamentação e do controle


ambiental
Na Conferência de Estocolmo (1972), discutiu-se a necessidade de as
nações estabelecerem políticas de controle ambiental, principalmente do
ar e da água, e a preocupação com o consumo de recursos não
renováveis. O evento acelerou, em vários países, a estruturação de seus
órgãos ambientais e o estabelecimento de suas legislações, visando ao
controle da poluição ambiental. No Brasil, após a citada conferência,
foram criados os principais órgãos de Meio Ambiente tanto em âmbito
federal como em estadual.

A crise energética causada pelo preço do petróleo provocou a discussão


da racionalização do uso de energia e a busca por combustíveis
renováveis, e o conceito de desenvolvimento sustentável começou a ser
discutido a partir de então. Em 1978, na Alemanha, surgiu o primeiro
selo ecológico, o Anjo Azul, destinado a rotular produtos considerados
ambientalmente corretos.

Década de 1980

A década do planejamento ambiental


Acidentes ambientais contribuíram para as mudanças nas políticas oficiais
de meio ambiente e nos conceitos de gerenciamento ambiental das
indústrias, além de trazerem para o dia a dia do homem comum a
discussão dos temas ambientais.

Com a publicação da Resolução Conama nº 01/1986, que trata da


obrigatoriedade da realização de estudo de impacto ambiental (EIA), a
proteção ambiental deixou de ser notada apenas do ponto de vista
defensivo e começou a ser considerada uma necessidade. Surgiram em
vários países os Partidos “Verdes” e houve a globalização das
preocupações com a conservação do meio ambiente, externados por
protocolos e convênios internacionais.

A disseminação mundial do conceito de desenvolvimento sustentável se


deu com a publicação do Relatório de Brundtland, publicado em 1987.

Década de 1990

A década da globalização dos conceitos e


da sistematização das ações
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (Cúpula da Terra ou Rio 92) mostrou que a
questão ambiental ultrapassa os limites das ações isoladas e localizadas,
para se constituir em uma preocupação de toda a humanidade.

O setor industrial começou também, dentro de um enfoque global, a


considerar pontos que tangem a proteção ambiental, começando a
atribuir à indústria a responsabilidade pelos efeitos ambientais de seus
produtos e subprodutos, desde a obtenção da matéria-prima até a
disposição final deles como resíduos (conceito “do berço ao túmulo”).

Para as empresas, a questão ambiental deixou de ser problema para se


tornar parte de uma solução maior – a credibilidade da empresa junto à
sociedade.

A introdução de novos conceitos, como Certificação Ambiental, Atuação


Responsável e Gestão Ambiental, ajudou a modificar a postura reativa
das empresas no relacionamento com os órgãos de fiscalização.

Entraram em vigor, em 1992, as normas britânicas BS7750


(especificação para sistemas de gestão ambiental), que serviram de base
para a elaboração de um sistema de normas ambientais.

Passaram a vigorar também as normas internacionais de gestão


ambiental, denominadas de Série ISO 14000, coroando uma longa
caminhada em prol da conservação do meio ambiente e do
desenvolvimento em bases sustentáveis.
SGA segundo a ISO 14001
Trata-se de uma federação mundial (International Standardization
Organization) de entidades nacionais de normalização não governamental que
congrega mais de 100 países. Tem como objetivo principal criar normas
internacionais que representem e traduzam o consenso dos diferentes países
do mundo para a homogeneização de procedimentos, medidas, materiais etc.

A norma ISO 14001 define SGA como: “Parte do Sistema de Gestão Global
que inclui a estrutura organizacional, planejamento de atividades,
responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para o
desenvolvimento, implantação, alcance, revisão e manutenção da política
ambiental”.

A ISO 14001 é a norma da organização não governamental ISO que contém


requisitos para a implantação do SGA.
As normas para modelos de demonstração de
sistemas de gestão servem para facilitar as
organizações na estruturação do sistema,
determinando os elementos que os compõem.

É a norma internacional sobre SGA pertencente à Série de Normas ISO


14000. A área da ISO responsável pela Série ISO 14000 é o Comitê Técnico-
Ambiental 207, chamado ISO/TC207, fundado em 1993. Seu correspondente,
na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é o Comitê Brasileiro de
Gestão Ambiental, o CB-38.

Em 2004, a norma internacional sobre SGA foi revisada (ISO 14001:2004) e


publicada em português pela ABNT como NBR ISO 14001:2004.

A norma ISO 14001 aplica-se a qualquer organização que


desejar:

• Implementar, manter e aprimorar um SGA;

• Assegurar-se de sua conformidade com a política ambiental definida;

• Demonstrar tal conformidade a terceiros;

• Buscar certificação ou registro do seu SGA por uma organização externa;

• Realizar uma autoavaliação e emitir autodeclaração de conformidade com


essa norma.

O SGA representa um ciclo contínuo de planejamento, implementação, revisão


e melhoria das ações da organização para que possam ser cumpridas as
obrigações ambientais. A maioria dos modelos de gerenciamento baseia-se no
princípio de melhoria contínua no conhecido ciclo da qualidade ou PDCA –
do inglês, Plan, Do, Check, Act ou Adjust, Planejar, Fazer, Verificar e Agir
– (Figura 4):
 Figura 4: PDCA e a Gestão Ambiental.

O sistema cria um estímulo para a percepção da qualidade ambiental da


organização estabelecendo um procedimento estruturado que permita o
controle dos efeitos ambientais, bem como a melhoria do desempenho
ambiental nas atividades, nos produtos e serviços da organização.

O reconhecimento da responsabilidade ambiental da organização está no início


de um círculo de direção, controle e auditoria, com a obrigação de checar e
avaliar periodicamente a eficácia das medidas, bem como a constante
adequação das metas e medidas de proteção ambiental, sendo o círculo
novamente fechado pela alta administração.

O objetivo desse processo é a melhoria do desempenho


ambiental, no qual se consideram resultados mensuráveis

relativos ao desempenho ambiental causados pela

organização, e não propriamente à melhoria do SGA.

As melhorias não precisam necessariamente acontecer em todas as áreas da


atividade simultaneamente, cabendo à organização indicar as prioridades.
Efeitos da prática da Gestão
Ambiental
São efeitos da prática da Gestão Ambiental:

Desempenho ambiental (DA): estágio alcançado por uma organização


no trato das relações entre todos os aspectos das suas atividades e seus
riscos e efeitos ambientais significantes;
Indicador de desempenho ambiental (IDA): valor ou a descrição
específica do desempenho ambiental em determinada área de avaliação;
Avaliação de desempenho ambiental (ADA): processo para medir,
analisar, avaliar e descrever o desempenho ambiental de uma
organização contra determinado critério acordado, visando ao
gerenciamento apropriado.
 Figura 5: Ações para implantação do SGA.

Razões para adoção do SGA:


Externas

Pressão da comunidade local;


Atendimento à legislação ambiental;
Novas regulamentações, regras e normas;
Redução das despesas com multas e descontaminações;
Prevenção de ações judiciais;
Marketing, clientes e consumidores;
Vantagens competitivas;
Prevenção de acidentes ecológicos;
Pressões de bancos financiadores;
Pressões de seguradoras;
Pressões de organizações do terceiro setor.

Internas
Custos de redução, reciclagem, remoção, tratamento e disposição dos
resíduos;
Diminuição de custos de matérias-primas e de produção;
Atualização tecnológica;
Otimização na qualidade dos produtos acabados;
Diretrizes e normas da empresa para a produção com qualidade total;
Diretrizes e normas para a gestão ambiental;
Obtenção de cultura organizacional interna política e ecologicamente
correta.

É esperado que o SGA permita a uma


organização:
Estabelecer uma política ambiental apropriada para si;
Identificar os aspectos ambientais decorrentes de atividades, produtos ou
serviços da organização, passados, existentes ou planejados, para
determinar os impactos ambientais significativos;
Identificar os requisitos legais e regulamentares aplicáveis;
Identificar prioridades e estabelecer objetivos e metas ambientais
apropriados;
Estabelecer uma estrutura e programa(s) para implementar a política e
atingir os objetivos e as metas;
Facilitar as atividades de planejamento, controle, monitoramento, ação
corretiva, auditoria e análise crítica, de forma a assegurar que a política
seja obedecida e que o SGA permaneça apropriado;
Ser capaz de adaptar-se às mudanças das circunstâncias.
Etapas da Implementação do SGA

Comprometimento e definição da política ambiental

Comprometimento e liderança da alta administração;


Avaliação ambiental inicial;
Política ambiental;
Elementos da política ambiental.

Elaboração do plano/planejamento

Aspectos ambientais e impactos associados;


Requisitos legais e corporativos;
Critérios internos de desempenho;
Objetivos e metas ambientais;
Plano de ação e programa de gestão ambiental.

Implementação e operacionalização
Assegurando a capacitação;
Alocação de recursos humanos, físicos e financeiros;
Estrutura e responsabilidade;
Conscientização ambiental e motivação;
Responsabilidade técnica e pessoal;
Conhecimentos, habilidades e treinamento;
Ações de apoio;
Comunicação e relato;
Documentação do SGA;
Controle operacional – programas de gestão específicos;
Preparação e atendimento às emergências.

Avaliação periódica – medição e avaliação

Medições e monitoramento (desempenho contínuo);


Não conformidade e ações corretivas e preventivas;
Sistema de registros do SGA e gestão da informação;
Auditoria do SGA.

Revisão do SGA e implantação de melhorias

Revisão do SGA (análise crítica);


Implementação de melhorias (melhoria contínua).
Atividades
1. São benefícios da adoção de uma Gestão Ambiental, exceto:

a) Melhor visibilidade.
b) Controle de processos.
c) Menor risco de impacto ambiental.
d) Abertura de mercados (competitividade).
e) Relacionamento com comunidades.

2. Assinale a afirmativa INCORRETA com relação a indicadores


socioambientais:

a) São medidores qualitativos apenas.


b) A inserção de indicadores ambientais tem como objetivo melhorar a
comunicação da sociedade.
c) Um dos objetivos dos indicadores é avaliar condições e tendências
com o componente ambiental, social e econômico.
d) São parâmetros que ajudam a balizar o antes e o depois de ações
sustentáveis e/ou projetos socioambientais.
e) Podem colaborar para um planejamento ambiental, atribuindo a um
modelo econômico sustentável.
3. Qualquer que seja a empresa, indústria ou prestadora de serviços, no
instante em que inicia sua instalação e/ou operação, inicia também sua
deterioração e, em consequência, a do seu entorno. Essa degradação é
conhecida como:

a) Passivo ambiental associado.


b) Ativo ambiental.
c) Sistema de gestão ambiental.
d) Desmonte residual.
e) Assolação.

Referências

CALDAS, R.M. Gerenciamento dos aspectos e impactos ambientais. São Paulo:


Pearson, 2015.

MORAES, C.S.B. de (Org.).; PUGLIESI, E. (Org.). Auditoria e certificação


ambiental. 1 ed. Curitiba: Intersaberes, 2014.

MORAES, C.S.B. de; QUEIROZ, O.T.M.M.; MAUAD, F.F. Planejamento e gestão


ambiental: diretrizes para o turismo sustentável. 1 ed. Curitiba: Intersaberes, 2017.

SILVA, C.; PRZYBYSZ, L.C.B. Sistema de gestão ambiental. 1 ed. Curitiba:


Intersaberes, 2014.

Próximos Passos

Apresentar o ciclo da água;


Observar que esse ciclo biogeoquímico é de extrema importância para a
manutenção da vida no planeta Terra. É por meio do ciclo hidrológico que ocorre
a variação climática, a criação de condições para o desenvolvimento de plantas e
animais e o funcionamento de rios, oceanos e lagos;
Abordar também que, devido à funcionalidade desses ciclos da água,
conseguimos obter energia limpa ou renovável e, dessa forma, ajudar um pouco
mais o meio ambiente, levando uma vida mais sustentável.
Explore mais

Assista aos vídeos:

“Gestão Ambiental - Aula 01 - Introdução: Meio Ambiente e a Crise


Ambiental <https://www.youtube.com/watch?v=VIDlWuiYd6M> ”.
“Gestão Ambiental - Aula 02 - Gestão Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável <https://www.youtube.com/watch?v=Vx7cpcKJlEY> ”.
“Gestão Ambiental - Aula 03 - Modelos e Sistemas de Gestão Ambiental
<https://www.youtube.com/watch?v=QW9U0G-fM3E> ”.

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