autor
WAGNER DE MELLO BRITO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
isbn: 978-85-5548-604-3.
1. Aspectos da empresa 9
Introdução 10
Fase comercial 12
A teoria dos atos de comércio e a confusão conceitual 13
Empresário individual 24
Conceito – Código Civil Brasileiro de 2002 24
Atividades excluídas do contexto empresarial.
Atividade Intelectual – Científica – Artística – Literária 26
Pressupostos para o exercício da Empresa Individual 28
Estabelecimento empresarial 47
Conceito 47
Natureza jurídica 48
Elementos 49
Estabelecimento principal e estabelecimentos secundários.
Filiais, sucursais 55
Negociabilidade do estabelecimento 55
Nome empresarial 83
Espécies 84
Formação 84
Princípios e proteção 84
Alienabilidade 85
Ato constitutivo da sociedade. Contrato social 85
Contrato social. Natureza jurídica 86
Cláusulas essenciais e facultativas 86
Capital social 88
Conceito. Formação. Características 88
Princípios 88
4. Da sociedade limitada 91
Introdução 92
Legislação aplicável 92
Administração 102
Administração 131
Incorporação 132
Olá, tudo bem? Sejam bem-vindos à leitura do livro didático da mais bela dis-
ciplina do ramo jurídico. Embora essa seja a minha percepção sobre o tema, este
livro pretende fazê-lo chegar a essa conclusão ao término de cada capítulo. Neste
livro de Direito Empresarial I será estudada a importância do exercício da empre-
sa, da figura do empresário e das instituições correlatas aos fenômenos econômicos
disciplinados no Código Civil Brasileiro de 2002. O fenômeno empresarial está
presente no dia a dia de todas as pessoas, seja como agente empresarial (empresá-
rios, sócios ou acionistas), seja como empregado ou empregador ou ainda como
consumidores de produtos ou serviços.
Este é um livro didático que, embora reconheça a importância do estudo das
diversas relações contábeis-econômicas-jurídicas empresariais, destina-se a con-
centrar a sua análise nos principais institutos jurídicos específicos do direito de
empresa. Ainda que relevantes, os temas relacionados ao direito das obrigações,
direito dos contratos, direito tributário e direito do trabalho são citados em con-
sonância com cada tema. Entretanto, sobre tais assuntos, serão produzidos livros
específicos relacionados às respectivas disciplinas.
Você estudará nesta edição não apenas os conceitos e normas essenciais à com-
preensão do fenômeno empresarial, mas, também, exemplos reais ou concretos e
jurisprudenciais que ajudarão a entender a aplicação prática da matéria. Ao final
de cada capítulo, você será estimulado a resolver atividades e a refletir sobre o con-
teúdo aprendido, primando-se pela fixação do conteúdo por meio da aplicação de
conceitos e normas a casos concretos e a situações cotidianas.
Nunca é demais destacar que o livro é sempre um canal de acesso inicial e
preparatório do conteúdo ministrado em sala de aula. Ele é o seu primeiro contato
com a disciplina, dando-lhe informações mínimas indispensáveis à compreensão
do tema. O estudo prévio às aulas é o mais recomendável, pois ajuda a com-
preender as discussões realizadas em sala, bem como antecipa questões e dúvidas
pertinentes ao assunto. Após as aulas, o uso do livro é também pertinente para
trabalhar as questões e atividades propostas, assim como aprofundar leituras e
pesquisas jurisprudenciais para colocar em prática e testar seus conhecimentos.
Espero que você aproveite o livro com o mesmo entusiasmo e carinho com
que ele foi feito.
Bons estudos!
7
1
Aspectos da
empresa
Aspectos da empresa.
Introdução
Talvez você não se dê conta, mas a empresa e o direito empresarial estão tão
ligados a sua vida que hoje mesmo você se beneficiou dele e não percebeu.
Caso você tenha acordado, feito e bebido um café e comido um pão com
manteiga, ou algo mais, você já participou de uma variedade de fatos sociais e
econômicos sobre os quais se insere o direito de empresa. O plantio, a colheita, a
secagem e a manipulação do café e do trigo são fatos sociais e econômicos silencio-
sos que fazem parte do café da manhã de muitos brasileiros. A produção, a distri-
buição, o transporte, a estocagem, a venda e o consumo são “figurinos” jurídicos
da atividade econômica que permitem o café da manhã. Dessa maneira, a ideia
de “comércio” foi, e continua sendo, considerada um fato social e econômico que
resulta de uma atividade humana que põe em circulação a riqueza produzida, au-
mentando-lhe a utilidade e o valor. Assim, a atividade econômica é uma ação hu-
mana não só de troca, mas de aproximação dos seres humanos. (SAY, 1803, p. 61)
O vocábulo “comércio” etimologicamente significa “troca de mercadorias por
mercadorias” ou commutatio mercium.
capítulo 1 • 10
fase identifica-se como o direito dos mercadores, pois eles que originaram o direito
mercantil com suas leis e costumes, ao longo da história, a doutrina é dividida em
três períodos:
• Primeiro: do séc. XII ao séc. XVIII período subjetivo dos mercadores;
• Segundo: do séc. XVIII (Código de Comércio Napoleônico de 1807) ao
séc. XX, como núcleo o comerciante e seus atos (objetivos) do Comércio – perío-
do objetivo;
• Terceiro: do séc. XX até os dias de hoje (séc. XXI), cujo destaque legis-
lativo é o Código Civil Italiano de 1942, tendo como o núcleo a empresa. Fase
Mercantil. A organização jurídica do comércio ressurge como decorrência do re-
nascimento da atividade mercantil durante a Idade Média. Iniciou-se neste pe-
ríodo a fase identificada como fase do direito mercantil, por isso, foi chamada de
ius mercatorum, ou seja, direito dos mercadores. O direito dos mercadores cen-
trado nas corporações de ofício. Estas desenvolveram-se a partir de um protecio-
nismo pouco propício à mudança, inibitória da iniciativa individual, à inovação.
Tratava-se de uma estrutura social de predileção, preocupada em oferecer aos seus
membros a entreajuda e o apoio de cada membro precisasse, em contrapartida
de uma submissão ao grupo identificada sob os mais diversos nomes: “mesteres”,
“confrarias”, “comunidades”, “hansas”, “guildas”, “artes”, “companhias”, “escolas”.
capítulo 1 • 11
Em razão do aumento da importância econômica da atividade mercantil – os
mercadores cada vez mais contratavam com não profissionais. Assim, ampliou-se a
abrangência da jurisdição especial, que passou a conhecer de causas que envolviam
relações entre mercadores profissionais e não mercadores. Essas relações foram
chamadas de negócios mistos. Diante desta realidade, surgiu a necessidade de se
determinar o que constituía a matéria comercial, da competência exclusiva dos
tribunais especiais (consulares), a fim de se ditarem quais normas seriam aplicáveis
somente aos mercadores e quais seriam de aplicação comum.
Fase comercial
capítulo 1 • 12
A atividade jurisdicional especial aos comerciantes foi mantida, mas as nor-
mas de direito comercial passaram a ser aplicadas não mais àqueles regularmente
matriculados numa corporação, mas àqueles que praticassem habitualmente atos
de comércio, expressamente enumerados no art. 632 do Código Napoleônico. Ao
longo do século XIX, diversos países seguiram o exemplo da codificação francesa,
promulgando seus Códigos de Comércio, nos quais se adotou a teoria dos atos
de comércio de inspiração francesa, dentre eles o Brasil com o Código Comercial
Brasileiro de 1850 – Cco. – e seu respectivo Regulamento 737/1850.
capítulo 1 • 13
às normas do direito comercial –, sem que aqueles que os praticassem fossem
reputados comerciantes. Entretanto, alguns atos eram tipicamente comerciais: so-
mente poderiam ser praticados por quem exercesse atividade comercial, i.e., fosse
comerciante (incluído, aqui, o comerciante “industrial”).
A atividade agrária, a atividade imobiliária ou a atividade de prestação de ser-
viços, todas com origem em normas herdadas do direito romano, não eram repu-
tadas comerciais. Esse fenômeno se convencionou chamar de “sociedade pós-in-
dustrial”, na qual o percentual de riqueza gerado pelo setor de serviços é superior
àquele gerado pela indústria. Esta guinada para a sociedade pós-industrial ocorreu
na transição da década de 1980 para a de 1990. (BELL, D. 1974)
Com tais características o adjetivo “comercial” foi, gradativamente, perdendo
relevo para o substantivo “atividade”.
Assim, diversas normas surgiram no Brasil, no âmbito do direito comercial
que eram estendidas a pessoas que, embora não fossem comerciantes em sentido
estrito, eram reputadas comerciantes por lei. A lei 4.068/1962, que em seu art. 1o
considerou como comerciantes as construtoras de imóveis, para que estas pudes-
sem sacar duplicatas. A lei 6.404/1976 – Lei das Sociedades Anônimas –, por sua
vez, dispõe em seu art. 2o, § 1o , que, qualquer que seja o objeto da companhia,
ela é tida como mercantil.
De outro modo, havia pessoas que não eram reconhecidas como comerciantes
pelo ordenamento, pois exerciam atividade tida como civil, mas mesmo assim
gozavam da proteção que as leis comerciais liberalizavam em favor dos comercian-
tes –, em manifesta contrariedade, portanto, com a letra do art. 4o do CCo. A lei
4.591/1964 em seu art. 43, III, sujeitou as incorporadoras ao processo falimentar.
Outro exemplo: a lei 8.245/1991, que, em seu art. 51, § 4o, estendeu o direito à
renovação compulsória do contrato de locação, até então instituto tipicamente co-
mercial, às sociedades civis com fins lucrativos e a lei 5.474/1968 que, em seu art.
20, estendeu a faculdade de sacar duplicatas às “empresas, individuais ou coletivas,
fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços”.
A atual noção de empresa surgiu no Código Comercial francês que tinha por
premissa a teoria dos atos de comércio. Este código, em seu art. 632, elencava os
atos considerados de comércio, mas também fazia alusão aos empreendimentos. A
doutrina jurídica, ao tentar explicar a empresa enquanto ato, percebeu que ela não
capítulo 1 • 14
era simplesmente um conjunto de atos, mas um conjunto de atos coordenados, ou
seja, uma atividade organizada.
No Brasil, o art. 19 do Regulamento 737 de 1850, tradução quase literal do
art. 632 do Código Comercial francês, também fazia alusão à empresa reputada de
mercancia (sic), com o que se aludia, pela vez primeira, a certas atividades como
sendo comerciais.
Com a mesma conotação o art. 3o do CCo italiano de 1882, que reputava atos
de comércio diversas espécies de empresas.
Assim, empresa seria um ato de comércio. Qualquer pessoa que realizasse pro-
fissionalmente tais atos de intermediação na troca seria reputada comerciante, tal
qual aquele que exercesse habitualmente empresa seria reputado empresário.
Aqui você deve perceber que a base de construção do conceito de empresa
estava diretamente ligada ao aspecto fático (econômico) da figura do comerciante:
a interposição na troca de coisas móveis e a organização dos fatores de produção,
ou seja, o exercício de empresa. Este é o motivo pelo qual alguns países, inclusive
o Brasil, que tinham códigos de inspiração francesa identificaram o conteúdo ju-
rídico com o conteúdo econômico da empresa.
O autor italiano Cesare Vivante, por exemplo, chegou a afirmar que “empresa
é um organismo econômico que, por seu próprio risco, recolhe e põe em atuação
sistematicamente os elementos necessários para obter um produto destinado à tro-
ca. A combinação de vários fatores, natureza, capital, trabalho, que se associando
produzem resultados impossíveis de conseguir se atuassem separados, e o risco que
o empresário assume ao produzir uma nova riqueza, são os dois requisitos indis-
pensáveis a toda empresa.” (VIVANTE, p. 131)
Dessa forma, a doutrina e o direito italiano adotaram como jurídico, o concei-
to econômico de empresa. Porém, para esta mesma doutrina, nem toda atividade
econômica deveria ser considerado “empresa”, mas sim e tão somente as atividades
previstas não Código Comercial italiano. (VIVANTE, p. 131)
Ainda que tal concepção tenha tido críticas contundentes (ROCCO, p. 178),
a noção de empresa ingressa no mundo jurídico como categoria de atividade de
troca, intermediação ou especulação sobre o trabalho. Entretanto, a partir do mo-
mento em que o comerciante passa a se apropriar dos meios de produção, dá-se o
ingresso na fase do capitalismo industrial e, então, a figura do comerciante entra
em declínio e se obscurece, passando ao primeiro plano a figura do empresário,
reconhecida pelo Código Civil Italiano de 1942, em seu art. 2.082.
capítulo 1 • 15
Com essas informações podemos concluir que:
• Sob a teoria dos atos de comércio, percebia-se a sua insuficiência para deli-
mitar o campo de aplicação do direito comercial. Era visível a enorme dificuldade
em definir o que poderia ser considerado comércio para o direito e como identifi-
car a figura do comerciante;
• No entanto, com a adoção da teoria da empresa, a ênfase passou a ser a
noção de exercício de atividade econômica organizada tendente à produção ou
circulação de bens ou serviços;
• A noção econômica de empresa excede, em muito, a noção jurídica de em-
presa, tendo em vista que certas atividades econômicas organizadas não são consi-
deradas empresas pelo direito;
• Há entre os juristas e legisladores, enorme dificuldade em afirmar, o que não
é empresa e, portanto, quem não é empresário. Diante desta dificuldade é se faz
opção juridicamente arbitrária para afastar determinadas atividades econômicas
do conceito de atividade empresária, o que cria desigualdades jurídicas injustificá-
veis do ponto de vista tributário e do modo de recuperação de empresas.
capítulo 1 • 16
pode ser feita externamente, ao adquirir as matérias-primas processadas e delegar
a distribuição e venda dos produtos a terceiros.
Esta concepção se popularizou no meio acadêmico a ponto de influenciar
legisladores do mundo inteiro.
No Brasil, esta concepção é percebida no Código Civil Brasileiro de 2002 –
art. 966, caput. Entretanto, do ponto de vista jurídico, a ideia de empresa é reflexo
da ideia da intervenção do Estado na economia, ao fazer a atividade empresarial
atender não apenas ao interesse individual, mas também a interesses metaindi-
viduais, atuando também em prol da coletividade. Implica dizer que o conceito
jurídico de empresa já surgiu atrelado ao atingimento de uma finalidade (função)
social.
Não se pode deixar de destacar que a sistematização inicial desta concepção
teve origem regimes políticos totalitários. William Conrad Kessler, em sua obra
The German Corporation Law of 1937, publicado na American Economic Review,
em dezembro de 1938, destacava que a lei alemã de 1937 era instrumento do
partido nacional-socialista para instituir sua filosofia de governo no campo da
atividade econômica. Foram introduzidos dois princípios totalitários no direito
societário alemão: o “bem-estar geral acima do interesse individual” e o “princípio
do líder” ou “Führersprinzip”. (KESSLER, p. 653-662)
A teoria da empresa adotada no Brasil foi muito influenciada pela Constituição
italiana, forjada originalmente sob o regime corporativista e delineada na Carta
del Lavoro de 1927 e também pelo código civil italiano de 1942 que, a partir do
art. 2.082 dispõe que “é empresário (imprenditore) quem exerce profissionalmente
uma atividade econômica organizada com fim de produção ou comércio de bens
ou serviços”.
Esta concepção identifica tanto o trabalho quanto a livre iniciativa como exi-
gências sociais, pois todos se beneficiariam dessas atividades econômicas, caben-
do ao Estado a tutela e controle quanto ao atendimento desses interesses. Dessa
forma, o conceito jurídico de empresa adotado pelo Código Civil Brasileiro de
2002 está imerso no cadinho da função social, verdadeira mescla dos conceitos
de funcionalismo e de solidarismo, no sentido de realização de atividade não em
benefício próprio, mas no benefício social.
capítulo 1 • 17
Autonomia e características atuais
capítulo 1 • 18
• Projeto do Senado Federal – PLS 487/2013. Disponível em: <https://
www25.senado.leg.br/web/atividade/materias>. Acesso em: jul. 2018.
São dados fundamentais para destacar a autonomia normativa do Direito
Empresarial e que a inserção de normas empresariais no Código Civil Brasileiro
de 2002. Reflete apenas mais uma tentativa de organização no direito privado
brasileiro.
capítulo 1 • 19
Princípios constitucionais norteadores da ordem econômica
capítulo 1 • 20
Princípio da valorização do trabalho humano (CRFB/1988 – art. 1o, IV c/c.
art. 170, caput)
capítulo 1 • 21
Princípio de defesa do consumidor (CRFB/1988 – art. 5o, XXXII c/c art. 170, V)
Princípio que deve ser entendido como uma busca pela “expansão das oportu-
nidades de emprego produtivo” (GRAU, p. 253). Neste sentido, busca-se propi-
ciar trabalho a todos quantos estejam em condições de exercer atividade produtiva
com pleno emprego da força de trabalho capaz. Este princípio se harmoniza com
o princípio da valorização do trabalho humano, pois se impede que o princípio
seja considerado apenas como mera busca quantitativa. O homem que vive sem
capítulo 1 • 22
possibilidades de emprego, em estado de escassez econômica, está impossibilitado
para desenvolver suas capacidades básicas, situação que ofende a dignidade da
pessoa humana, inclusive.
O Código Civil Brasileiro de 2002, em seu Livro II, cuidou “Do Direito de
Empresa”, que abrange os arts. 966 a 1.195. Entretanto, há outros dispositivos no
Código que se referem à matéria: arts. 45, 48, 49, 50, 51, 82, III, 89, 90, 91, 927,
parágrafo único, 931, 932, III, 933, 2.031, 2.033, 2.035, 2.037 e 2.045. Desse
modo, percebe-se o quanto é vasto este assunto. O art. 2.045 do Código Civil
Brasileiro de 2002 revogou expressamente a Primeira Parte do Código Comercial
(lei 556, de 25/6/1850), que abrangia os arts. 1o a 456, dedicados a regular a figura
do comerciante e seus auxiliares (arts. 1o a 120), os contratos e obrigações mercan-
tis (arts. 121 a 286); e as sociedades comerciais (arts. 287 a 353).
Do ponto de vista econômico, a empresa “é um organismo econômico que,
por seu próprio risco, recolhe e põe em atuação sistematicamente os elementos
necessários para obter um produto destinado à troca” (VIVANTE, p. 131). Para
Alberto Asquini, a empresa, em economia, seria “toda organização de trabalho e
de capital tendo como fim a produção de bens ou serviços para troca.” (ASQUINI,
p. 110)
Diante da dificuldade de adaptação do conceito econômico de empresa às suas
implicações jurídicas, sobreveio a obra de Alberto Asquini, demonstrando que
capítulo 1 • 23
ideia de empresa deveria ser encarada pelo direito como um “fenômeno poliédri-
co, o qual tem, sob o aspecto jurídico, não um, mas diversos perfis em relação aos
diversos elementos que o integram” (ASQUINI, p. 109). Assim, o conceito eco-
nômico de empresa recebe, do ponto vista jurídico, várias perspectivas: a figura do
empresário (sujeito), atividade (fato-empresa), e estabelecimento (coisa). Assim, o
Código Civil Brasileiro de 2002 encampou em parte a referida perspectiva jurí-
dica de Asquini: 1. Perfil Subjetivo (Pessoas): Empresário, sociedades e Empresa
Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI); 2. Perfil Objetivo (Coisas);
estabelecimento; 3. Perfil funcional (fato): empresa.
Empresário individual
capítulo 1 • 24
No Brasil, o conceito econômico de empresa (atividade econômica organiza-
da) subjaz ao conceito jurídico de empresário. O que qualifica o empresário é o
exercício de atividade econômica. Dessa maneira, a noção de empresário advém
do conceito de atividade empresarial.
O intuito lucrativo
capítulo 1 • 25
• O respeito ao regime de ingressos e saídas, de modo a possibilitar a conse-
cução de um fim.
Entretanto, para alguns autores, o intuito de lucro não é elemento caracteriza-
dor do empresário (ASQUINI, p. 116), pois a norma do art. 966 não menciona
expressamente o “intuito de lucro”. Ademais, a análise do intuito do lucro só
faz sentido com relação às empresas capitalistas que pertençam ao setor privado.
Entretanto, há sociedades empresárias que, por força de lei, não têm a característi-
ca do intuito de lucro. São as sociedades empresárias do setor público (Sociedade
de Economia Mista – lei 6.404/76 – art. 238). Por outro lado, alguns autores
afirmam que o intuito lucrativo não seria elemento distintivo do empresário em
razão de os profissionais liberais, que não são considerados empresários pelo orde-
namento, também atuarem com o intuito lucrativo. (ALMEIDA, 1999)
capítulo 1 • 26
Elemento de empresa
capítulo 1 • 27
Pressupostos para o exercício da Empresa Individual
Para ser considerado empresário, basta a pessoa física (natural) ter capacidade,
exercício efetivo da empresa (profissionalismo – finalidade de lucro) e ausência de
proibição legal. CCB/02 – art. 972.
O Registro na Junta Comercial não é, em regra, requisito para identificação
do Empresário (Individual). Ainda que pessoa exerça a empresa sem o registro,
será considerada empresária. A pessoa com capacidade que exercer a empresa com
profissionalismo e com finalidade de lucro, ainda que legalmente proibida de exer-
cer a empresa também será considerada empresária.
Assim, os requisitos para caracterização do empresário são: a) plena capacida-
de, b) exercício efetivo da empresa (profissionalismo) e c) ausência de proibição
legal.
• Capacidade
A capacidade civil está disciplinada nos arts. 3o ao 5o do Código Civil. Terá
plena capacidade a pessoa com liberdade para administrar a si própria e aos seus
bens. A plena capacidade se adquire com a maioridade ou pela emancipação.
capítulo 1 • 28
Entretanto, para que um incapaz possa validamente continuar uma empresa
iniciada por alguém plenamente capaz deverá obter autorização judicial CCB/02
– art. art. 974, §1o. Uma vez concedida, essa autorização deverá ser a mesma ar-
quivada na respectiva Junta Comercial – CCB/02 – art. 976.
Pode acontecer de o próprio representante ou o assistente desse empresário
incapaz não ter plena capacidade jurídica, ou ser impedido de exercer atividade
empresarial. Neste caso, deverá, com autorização judicial, nomear administrador
– CCB/02 – art. 975. Essa nomeação não isenta o representante ou assistente do
empresário incapaz da responsabilidade pelos atos do gerente nomeado CCB/02
– art. 975, §2o.
Ademais, o Código Civil criou regra excepcional para proteção do patrimô-
nio não empresarial do incapaz autorizado à empresa – CCB/02 - Art. 974, §2º.
Trata-se de especial hipótese de patrimônio de afetação ou única hipótese de res-
ponsabilidade limitada para este específico empresário individual (GALIZZI e
CHAVES. 2004, pg. 87/88).
capítulo 1 • 29
jurídicos, mas por força de uma vedação expressa na lei ele não pode exercer a
empresa.
Os principais impedidos de exercer a atividade empresarial são:
• Membros da Magistratura – art. 95, PU, I da CF c/c com a LOMAN;
• Membros do Ministério Público – art. 128, §5o, II, (c) da CR/88 c/c lei
8.625/93 (membros do MP) c/c LC 106/03 (LC estadual do MP/RJ);
• Servidores públicos ativos – art. 117, X, c/c. art. 132, XIII da lei 8.112/90.
• Militares da ativa – art. 29 da lei 6.880/80 c/c art. 204 do CPM
(Dl. 1001/69);
• Médicos não podem exercer a atividade farmacêutica – lei 5.991/93 – art.
21 c/c art. 55 c/c. Dec. 20.377/31;
• Devedores do INSS – lei 8.212/91 – art. 95, §2o, (d);
• Prepostos/Empregados – CCB/02 – art. 1170 c/c. Art. 482 CLT;
• Leiloeiro art. 36, alínea a, 1o do Decreto 21.981/32; 10;
• O falido não reabilitado – lei 11.101/2005 – art. 102 c/c. art. 158, III c/c.
art. 159.
Entretanto, a despeito da proibição, se tais pessoas exercerem efetivamente a
empresa, responderão como empresários – CCB/02 – art. 973.
ATENÇÃO
Em relação aos Deputados, não há proibição expressa – art. 54, II, (a) c/c.
art. 29, IX da CRFB/1988.
A situação do estrangeiro
O estrangeiro com visto definitivo pode ser empresário no Brasil, porém tem
que ser domiciliado. Isso porque o estrangeiro com visto provisório não pode ser
empresário individual no Brasil. Lei 6.815/1980 – art. 99.
A questão do registro
capítulo 1 • 30
O Registro, em regra, tem natureza declaratória – lei 8.934/1994 – art. 36. A
realização da inscrição (Registro) do Empresário (Individual) enseja uma presun-
ção relativa de que o sujeito é empresário. A presunção é relativa porque admite
prova em contrário. Nada impede que se prove que apesar do registro, aquele
sujeito nunca exerceu efetivamente a empresa.
Porém exceções, ou seja, existem dois casos em que o Registro será indispen-
sável para que a pessoa adquira a condição de empresário:
• Art. 32, I da lei 8.934/94 = MATRÍCULA. As pessoas nas quais a lei exige
a matrícula são pessoas que só adquirem a condição de empresário após o Registro,
denominado matrícula;
• Art. 971 e art. 984 NCC = ATIVIDADE RURAL. Quem exerce atividade
preponderantemente rural não é considerado empresário. Porém se esta pessoa
optar por se registrar na Junta Comercial, ele terá tratamento de empresário. A
ratio dos arts. 971 e 984 NCC é possibilitar a eventual recuperação da empresa
daquele que explora atividade preponderantemente rural. Se não há o Registro, a
atividade é irregular.
Ainda que irregular, o Empresário (Individual) responde por todas as suas
obrigações, civis, consumeristas, empresárias, trabalhistas, tributárias. Entretanto,
o empresário irregular não poderá:
• Requerer a falência de outro devedor empresário por falta de legitimidade
ativa – lei 11.101/2005 – art. 97, §1o. Somente o empresário regular (devidamen-
te registrado) pode requerer a falência do seu devedor empresário.
• Requerer recuperação judicial – lei 11.101/2005 – art. 48.
• O empresário irregular não pode participar do procedimento licitatório –
art. 28 da lei 8.666/93.
• Não terá direito à proteção ao nome empresarial. Art. 33 da lei 8.934/94
c/c CCB/02 – art. 1.166.
Mesmo sem registro, se o sujeito for plenamente capaz, exercer efetivamen-
te a empresa e não for proibido, ele será considerado empresário, irregular, mas
empresário com todas consequências negativas que isso pode implicar tais como:
capítulo 1 • 31
livros empresariais obrigatórios e; 3) dever de levantar, periodicamente, o balanço
patrimonial e de resultado econômico da empresa.
ATENÇÃO
A falta de escrituração pode produzir consequências motivadoras e consequências
sancionatórias.
• Consequência motivadora: a) impede acesso à recuperação judicial da empresa – lei
11.101/2005 – art. 51, §1o; b) ineficácia probatória dos livros CCB/02 – art. 226;
• Consequência sancionatórias: a) presunção de veracidade de fatos alegados contra o em-
presário – CPC/15 – art. 417; b) tipicidade de crime falimentar – lei 11.101/2005 – art. 178.
capítulo 1 • 32
Exibição dos livros empresariais
capítulo 1 • 33
A prova pode ser contra o Empresário (Individual) se não houver regularidade
ou se a outra parte for hipossuficiente e teve direito à inversão do ônus da prova –
CCB/02 – art. 226 c/c CPC/15 – art. 417.
• Dever de levantar, periodicamente, o balanço patrimonial e de resultado
econômico da empresa.
O Empresário (Individual) também dispõe do dever de levantamento do ba-
lanço patrimonial e de resultado econômico. Estes deverão ser feitos anualmente –
CCB/02 – art. 1.179 c/c 1.180. No caso das sociedades anônimas, que distribuem
dividendos a cada seis meses, o balanço deverá ser semestral – lei 4.595/1964
– art. 31.
O balanço patrimonial serve para demonstrar a situação real da empresa, indi-
cando seu ativo e passivo, ou seja, todos os bens. Já o de resultado acompanhará o
de balanço patrimonial e constarão crédito e débito.
Estas informações são de extrema importância, para que seja avaliada, anual-
mente ou semestralmente, como a empresa está em relação a lucros, dividendos,
bens etc.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 1 • 35
capítulo 1 • 36
2
Empresa
Individual de
Responsabilidade
Limitada - (EIRELI)
e Estabelecimento
Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada - (EIRELI) e Estabelecimento
Introdução
capítulo 2 • 38
individuais que o compõem, de modo que há a necessidade de que a lei assegure
normas aptas a disciplinar esta realidade e as consequências em caso de alienação,
pois neste caso deve-se identificar qual é o bem que se pretende transferir.
OBJETIVOS
Neste capítulo, você vai ter oportunidade de estudar A empresa individual de responsabi-
lidade limitada - EIRELI, seu conceito, natureza jurídica, características, titularidade, patrimô-
nio e suas responsabilidades, bem como terá oportunidade de estudar também o conceito,
natureza e efeitos da negociação do estabelecimento empresarial.
capítulo 2 • 39
Conceito de empresa individual de responsabilidade limitada no Brasil – EIRELI1
Natureza jurídica
Características e distinções
capítulo 2 • 40
indeterminado. Desta distinção é possível afastar qualquer concepção de que a
EIRELI seja sociedade unipessoal.
• O ato constitutivo da EIRELI identifica-se como uma declaração uni-
lateral de vontade. Assim, é espécie do gênero dos negócios jurídicos unilaterais.
Afasta-se, portanto, da ideia de contrato (unilateral, bilateral ou plurilateral).
• A limitação da responsabilidade patrimonial do titular do capital atri-
buído aos negócios realizados pela empresa exercida pela pessoa jurídica. Trata-se
de inovação no direito brasileiro, pois a limitação da responsabilidade pelas obri-
gações decorrentes de uma atividade econômica só era atribuída apenas aos sócios
de determinadas pessoas jurídicas.
• Quem realiza a atividade econômica é a pessoa jurídica, pois a pessoa que
cria a EIRELI não pratica pessoalmente nenhum ato concernente aos fins da em-
presa, mas o faz como se fora ela, na qualidade de ser humano que exterioriza a
vontade da pessoa jurídica.
• Outra característica destacável encontra-se na EXIGÊNCIA DE UM
CAPITAL MÍNIMO. Neste ponto, pouco importa a atividade econômica exer-
cida pela pessoa jurídica e a forma do ato de sua constituição. Como não há “só-
cios”, o capital deixa de ser fracionado em cotas ou ações, para consolidar-se como
um todo indiviso.
• A EIRELI não se confunde com um patrimônio de afetação. Este carac-
teriza-se como um conjunto de bens (patrimônio separado), porém inserido no
patrimônio de um mesmo sujeito de direito, submetido a um regime jurídico pró-
prio, diferente do regime jurídico que incide sobre o restante do patrimônio dessa
mesma pessoa. Ocorre que o legislador atribuiu personalidade jurídica (CCB/02
– art. 44, VI c/c art. 45) a esse novo sujeito (EIRELI), não há como enquadrá-la
assim.
• A EIRELI não se confunde com fundação. Embora ambas as hipóteses
sejam pessoa jurídica de direito privado (CCB/02 – art. 44, III e VI) passível de
atribuição de direitos e obrigações (personalização – CCB/02 – art. 45), há várias
diferenças entre elas:
a) Fundação deve ter finalidade não econômica (CCB/02 – art. 62)
enquanto a EIRELI pode ser constituída com fim lucrativo empresarial
(CCB/02 – art. 980-A, caput c/c §5o).
b) Além disso, uma vez criada a fundação, esta destaca-se da pessoa do
fundador, ao passo que a EIRELI permanece sempre vinculada ao criador.
capítulo 2 • 41
c) Do mesmo modo, o patrimônio da fundação desprende-se totalmente
da pessoa do instituidor, sem qualquer contrapartida, ao passo que o da-
quela, conquanto autônomo, mantém-se vinculado à pessoa que for titular
do seu capital.
d) A dissolução da EIRELI pode ser determinada a qualquer tempo pelo
titular do seu capital, retornando os bens remanescentes ao patrimônio
do criador ou, por seu falecimento, incorporando-se ao de seus herdeiros.
Diversamente ocorre na fundação, em que a dissolução se dá sem partici-
pação do instituidor, mesmo em caso de morte deste em que também não
afeta a pessoa jurídica (fundação), e os bens dela, em regra, migram para
entidade de fins iguais ou semelhantes (salvo cláusula em contrário).
• A EIRELI não se confunde com estabelecimento empresarial.
Como já afirmado a EIRELI é pessoa jurídica de direito privado (CCB/02
– art. 44, VI). Portanto é passível de ser sujeito titular de direito e obrigações
(CCB/02 – art. 45). O estabelecimento por sua vez caracteriza-se como um con-
junto (complexo) de bens materiais ou imateriais utilizados pelo Empresário
(Individual), sociedade empresária ou pela própria EIRELI para o exercício da
empresa (CCB/02 – art. 1.142). Dessa forma, não se pode falar em transferência
onerosa da EIRELI como se esta fosse objeto de trespasse (CCB/02 – art. 1.145
c/c art. 1.146). O que pode ocorrer e a pessoa jurídica da EIRELI negociar o seu
próprio estabelecimento, dispondo livremente de seus bens, inclusive da totali-
dade deles, dá-los em usufruto ou onerá-los. Neste caso a EIRELI, figura como
parte na relação jurídica que o tenha o estabelecimento como objeto, ressalvada
a hipótese de a EIRELI alienar o próprio estabelecimento para o titular e criador
do seu capital, sendo a EIRELI sujeito ativo ou passivo de uma relação jurídica da
qual participe em polo oposto o seu criador. Esta vedação se dá porque quem ma-
nifesta a vontade da EIRELI é seu próprio do criador da empresa – o que elimina
a caráter intersubjetivo da relação.
O capital da EIRELI pode, desde março de 2017, ser constituído por qual-
quer pessoa: pessoa física (natural) ou pessoa jurídica.
A norma (CCB/02 – art. 980-A) não identifica se a constituição de EIRELI
possa ser feita pessoa física (natural) ou pessoa jurídica que se dedique ao exercício
de atividade própria de empresário ou por sociedade empresária.
capítulo 2 • 42
Ainda que se deva considerar que o instituto tenha sido pensado e concebi-
do com o fim de proteger a atividade econômica e o patrimônio do Empresário
(Individual) para reduzir os riscos do seu negócio (a deve-se ponderar que no
projeto de lei original, que deu origem à lei 12.441/2011 (PL 4.605/2009), a
redação original, propunha a criação da empresa individual constituída “por um
único sócio, pessoa natural”. Entretanto, tal redação foi modificada (sem motiva-
ção), para “por uma única pessoa”, ou seja, a expressão “natural” foi intencional-
mente retirada.
A IN 117/2011 – DNRC (Departamento Nacional de Registro do
Comércio), à época, baixou o Manual de Atos de Registro de Empresa Individual
de Responsabilidade Limitada, no qual admitia a possibilidade da EIRELI ser
constituída por pessoa jurídica, mas, posteriormente, republicou a referida nor-
mativa para vedar essa alternativa.
Ocorre que o DNRC foi substituído pelo DREI (Departamento de Registro
Empresarial e Integração) ligado à Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa
que, a partir de março de 2017, em sua Instrução Normativa no 38/2017, passou
a admitir, que pessoa jurídica constitua EIRELI (DREI – IN no 38/2017 – Anexo
V – item 1.2.5. alínea C).
Muito provavelmente esta mudança de orientação tenha se dado pela força da
norma constitucional que determina que ninguém pode deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei (CRFB/1988 – art. 5o, II). Se a lei (CCB/02 – art.
980-A) não proíbe a constituição de EIRELI por pessoa jurídica, não seria cabível
um ato administrativo (instrução normativa) extrapolar seus limites normativos e
impor tal proibição.
capítulo 2 • 43
Assim, os efeitos desejados pelo criador não serão produzidos se, por exemplo:
• Houver realização parcial do capital.;
• Se houver promessa de integralização futura representada por título
de crédito;
• No caso de integralização com um bem de valor real inferior ao do que for
estimado pelo titular;
• Se o titular do capital, na condução dos negócios da empresa, desviar-se dos
fins a que ela se propõe ou praticar alguma ilegalidade;
• Se não mantiver perfeita separação entre o seu patrimônio e o da empresa
por ele criada - hipótese que conduz à desconsideração da personalidade jurídica
(CCB/02 – art. 50);
• Se o titular do capital atua fora dos padrões de conduta que a lei exige do
administrador, o que acarreta sua obrigação pessoal (CCB/02 – art. 980-A, §6o
c/c. art. 1.053 c/c art. 1.011 c/c. art. 1.016);
• O não recolhimento das contribuições previdenciárias retidas
dos empregados.
Modo de constituição
Nome empresarial
A EIRELI deve ser identificada por seu nome empresarial. Este nome pode
ser uma firma como uma denominação, à semelhança das sociedades limitadas
(CCB/02 – art. 980-A, §1o c/c §6o). Para distingui-la do empresário e da socie-
dade empresária, a lei determina que seja acrescida a expressão “Eireli” no final
do nome que for a ela atribuído. A eventual omissão da sigla “Eireli” na firma ou
denominação implica perda da limitação da responsabilidade da pessoa física que
a gerou. (CCB/02 – art. 1.158, §3o)
capítulo 2 • 44
Objeto
Capital
Administração
capítulo 2 • 45
seu nome. Agindo de boa-fé, com o cuidado e a diligência que todo homem ativo
e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios (CCB/02
– art. 1.011) não se vincula aos atos que pratica em nome dela; age como se fosse a
própria pessoa jurídica. Porém, responsabiliza-se pelos atos de administrador que
culposamente causar dano a terceiros. (CCB/02 – art. 980-A, §6o c/c. Art. 1.053
c/c. Art. 1016 c/c)
Dissolução e liquidação
O Código Civil Brasileiro de 2002 não definiu normas específicas para disso-
lução da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI). Entretanto,
há previsão expressa para aplicação das normas de dissolução das sociedades às
demais pessoas jurídicas (CCB/02 – art. 51, §2o) bem como previsão de aproxi-
mação normativa às sociedades limitadas (CCB/02 – art. 980-A, §6o).
Assim, devem-se aplicar as disposições que regulam a dissolução das sociedades,
naquilo que forem compatíveis com a Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada (EIRELI).
Dessa forma, da análise dos artigos 1.033, 1.034 e 1.044 do CCB/02 pode-se
afirmar que a EIRELI será dissolvida:
• Pelo advento do termo do seu prazo de duração (CCB/02 – art. 1.033, I);
• Pela vontade de seu titular;
• Pela extinção da autorização para funcionar no ramo de negócio que cons-
titui seu objeto (CCB/02 – art., 1.033, V);
• Pela anulação de sua constituição (CCB/02 – art. 1.034, I);
• Pela falência (CCB/02 – art. 1044, fine).
As hipóteses do CCB/02 – art. 1.033, II, III e IV, bem como CCB/02 – art.
1034, II são incompatíveis com a EIRELI tendo em vista a ausência de “sócios” e
“sociedade” associada à EIRELI.
Quanto à liquidação, (procedimento voltado à realização do ativo e o paga-
mento do passivo pendente) esta poderá ser conduzida pelo próprio titular da
EIRELI ou terceiro estranho à atividade econômica (CCB/02 – art. 1038). A rea-
lização do ativo significa a venda dos bens para viabilizar o pagamento das dívidas.
Entretanto, esta operação pode ser dispensada, caso a EIRELI tenha bens suficien-
tes para honrar seu passivo. Uma vez encerrada a liquidação com o pagamento das
dívidas, o titular do capital remanescente não precisará prestar contas a si mesmo.
Entretanto, deverá averbar junto ao Registro Público de Empresas Mercantis um
capítulo 2 • 46
balanço de encerramento da empresa, no qual fiquem demonstrados o ativo rea-
lizado, o passivo satisfeito e o resultado final apurado para fins de obtenção de
cancelamento da inscrição. (CCB/02 – art. 1.109 c/c Art. 51, §3o)
O Código Civil Brasileiro de 2002 determina que à EIRELI devem ser aplica-
das, no que couber, as regras previstas para a sociedade limitada. Nada impede que
sejam aplicadas à EIRELI as normas da sociedade simples, em caráter supletivo
das omissões do regime jurídico da sociedade limitada. (CCB/02 – art. 1.053)
Destas assertivas, fica patente que muitas normas da sociedade limitada são
incompatíveis com a EIRELI. Assim, não se aplicam as normas relativas a cotas so-
ciais, tendo em vista que o capital da EIRELI não é fracionado em cotas (CCB/02
– art. 1.055 a 1.058). Assim como não são aproveitáveis, as disposições referentes
à realização de reuniões, assembleias, quóruns, maiorias para deliberações entre só-
cios (CCB/02 – art. 1.071 a 1.080, 1.085 e 1.086). Também são incompatíveis as
normas relativas à instalação de conselho fiscal quando a EIRELI for administrada
pelo próprio titular. Poderá haver instalação de conselho fiscal quando a EIRELI
for administrada por mais de um administrador e seja conveniente a existência de
órgão fiscalizador.
Entretanto, há normas que podem (ou devem) ser aplicadas à EIRELI:
• No que se refere ao capital a que se refere à fixação de critério de
Responsabilidade patrimonial quanto à integralização. (CCB/02 – art. 1055, §1o);
• A norma que se refere à reposição de lucros e quantias retiradas a qualquer
título, quando distribuídos com prejuízo do capital. (CCB/02 – art. 1.059);
• Normas que dizem respeito à administração. (CCB/02 – art. 1.060 a 1.065);
• Normas referentes a modificação do capital social (CCB/02 – art. 1.081 e
1.082), respeitado seu valor mínimo. (CCB/02 – art. 980-A);
• Normas referentes à dissolução e liquidação. (CCB/02 – art. 1.087).
Estabelecimento empresarial
Conceito
capítulo 2 • 47
se destacam como uma das inovações mais importantes. Em que pese o Código
Civil Brasileiro de 2002 tenha se referido também a expressão “estabelecimento
civil” (CCB/02 – art. 5o, V), você irá estudar os aspectos mais relevantes do es-
tabelecimento empresarial, aqui designado simplesmente como estabelecimento.
O conjunto de bens utilizado pelos agentes econômicos, voltado à satisfação
de necessidades alheias é identificado como instrumento da atividade econômica
(REQUIÃO, 2003) e assume significado técnico e econômico distinto dos bens
individuais que o compõem. Dessa concepção é que se extrai o conceito de estabe-
lecimento como complexo de bens organizados, para o exercício da empresa, por
empresário ou sociedade empresária. (CCB/02 – art. 1.142)
Natureza jurídica
capítulo 2 • 48
No ordenamento positivo brasileiro, o estabelecimento é reconhecido em sua
unidade estrutural e funcional, como um conjunto de bens. Consiste em uma
universalidade, que pode ser objeto unitário de negócios translativos ou consti-
tutivos. (CCB/02 – art. 1142 c/c art. 90)
Ocorre que o estabelecimento tem um regime de circulação próprio, distinto
do regime de circulação das coisas singulares que o compõem (CCB/02 – art.
1.144). Tal fato estabelece a necessidade de averbação à margem do registro do
empresário e de publicação na imprensa oficial para que a alienação do estabe-
lecimento seja eficaz em relação a terceiros. Logo, a análise do estabelecimento
pode ser feita também. Acerca das consequências previstas pelo Código para o
negócio de alienação do estabelecimento (denominado de negócio de trespasse).
Desse modo, o estabelecimento é formado por relações jurídicas patrimoniais,
pois o adquirente do estabelecimento sucede o alienante nas obrigações referentes
ao estabelecimento anteriores à alienação. (CCB/02 – art. 1.146).
Portanto, pode-se chegar a uma concepção intermediária sobre sua natureza
jurídica pois, por um lado, o estabelecimento é um objeto de direito qualificado
como uma universalidade de fato (CCB/02 – art. 1.143 c/c art. 90), pois os bens
que compõem o estabelecimento são reunidos por vontade do agente econômico
(empresário, sociedade empresária, sociedade simples, EIRELI). Trata-se de uma
coisa complexa formada por bens. (CCB/02 – Art. 1.142)
Por outro lado, o Código Civil Brasileiro de 2002 afirmou a noção de esta-
belecimento como um complexo patrimonial (conjunto de relações jurídicas,
chamado pelos italianos de “patrimônio aziendal” (ASQUINI, p. 13) no sentido
de que na sua transferência, o adquirente do estabelecimento sucede o alienante
nas obrigações referentes ao estabelecimento anteriores à alienação. (CCB/02 –
art. 1.146)
Elementos
capítulo 2 • 49
compor também o estabelecimento bens imateriais como o nome do Empresário
(Individual) ou da sociedade empresária, uma marca o título de estabelecimento.
a) Classificação dos elementos:
Não há como definir os elementos do estabelecimento empresarial, pois estes
dependerão da atividade exercida, sendo possível apenas classificá-los:
• Bens corpóreos (ou materiais): são aqueles que podem ser tocados. Ex: ma-
quinário, estoque, veículos. Bens incorpóreos (ou imateriais): nome, marca, pa-
tente, invenção.
Ainda que pairem dúvidas se os contratos possam ou não ser parte integrante
do estabelecimento, pode-se sustentar que eles, os contratos, enquanto fonte de
relações jurídicas que atribuem direitos aos sujeitos, integram o estabelecimento.
Isso se dá porque se deve atentar para a realidade econômica sobre como mui-
tos agentes econômicos exercem a atividade econômica. Em muitos casos, a ativi-
dade econômica é exercida sem que sejam titulares de posição jurídica de direito
real algum, ou seja, não são proprietários de alguns dos instrumentos da atividade.
Muitos empresários celebram contrato de locação comercial (não residencial) de
bem imóvel (sala alugada) para o exercício da atividade. Muitos contratam leasing
de maquinário ou contrato de franquia. Outros ainda adquirem o direito de uso
de marca de titularidade alheia. Nesses e em outros casos, o que os empresários or-
ganizam não são coisas alheias, mas relações jurídicas, isto é, coisas e ações huma-
nas, no sentido de comportamento que as pessoas podem exigir umas das outras.
(GOMES, p. 199)
Há autores que retiram os contratos da estrutura interna do estabelecimento
(REQUIÃO, p. 209). Entretanto, predomina a ideia de que o estabelecimento,
além de ter elementos relativos aos direitos reais (bens ou coisas corpóreas), é
composto também por posições contratuais, relativos ao direito ao arrendamento,
direito ao contrato de trabalho etc. O estabelecimento é composto ainda por bens
imateriais (bens ou coisas incorpóreas) relacionadas a posições jurídicas também
imateriais (incorpóreas), como o direito à firma, a marca ou o pedido do seu regis-
tro e suas respectivas proteções. (CORDEIRO, p. 243)
capítulo 2 • 50
A clientela integra o estabelecimento?
capítulo 2 • 51
O ponto empresarial integra o estabelecimento?
capítulo 2 • 52
Prazo para a propositura da ação
capítulo 2 • 53
• A indenização é devida pelo locador (proprietário) e pelo terceiro propo-
nente da referida melhor proposta, conforme dispõe o art. 75 parte final, da lei
8.245/91;
• Se o locatário (“antigo”) demonstrar que na localidade em que exerce sua
atividade, o valor de mercado está de acordo com a proposta que ele fez para
cobrir a “melhor” proposta de terceiro, já há decisões conferindo a Renovação do
contrato de locação comercial, a fim de se evitar o Abuso do Poder Econômico
e a Concorrência Desleal (art. 173, §4o da Constituição da República de 1988).
capítulo 2 • 54
termos da referida legislação, os direitos de propriedade industrial são considera-
dos bens móveis (lei 9.279/96 – art. 5o) e portanto integram o estabelecimento
como bens imateriais.
Embora seja uma reunião de bens móveis ou imóveis, ele pode ser descentra-
lizado, ou seja, pode existir uma central com várias filiais ou agências. (CCB/02
– art. 969, parágrafo único)
Negociabilidade do estabelecimento
capítulo 2 • 55
• Requisitos para o trespasse:
Para a realização do trespasse, o empresário deverá pagar ou garantir o pa-
gamento dos credores, caso contrário, será necessária autorização dos credores
(CCB/02 – art.1.145). A anuência dos credores pode ser obtida por meio de no-
tificação judicial ou extrajudicial.
Uma vez notificado expressamente, o silêncio do credor pelo prazo de 30 dias
é considerado anuência tácita.
Dentre as consequências da não observância dos requisitos para o trespasse,
pode haver:
• O pedido de falência (lei 11.101/2005 – art. 94, III, alínea C). Há atos pra-
ticados por quem exerce a empresa que consistem em determinadas atitudes que
levam os credores a desconfiarem da capacidade efetiva do pagamento;
• Em caso de decretação de falência, esta alienação poderá ser considerada
ineficaz em relação à massa falida que é o conjunto de bens do falido que vem a
ser arrecadado, para pagamento dos credores. Neste caso, poderá ser proposta uma
ação no juízo da falência denominada Ação Revocatória (lei 11.101/2005 – art.
129, Inc. VI);
• Esta ação é proposta em face do adquirente do estabelecimento e tem por
fim trazer o bem de volta (revocar) para reintegrar o patrimônio do alienante a fim
de proporcionar o pagamento dos credores.
• Pouco importa a boa-fé do adquirente do estabelecimento, que poderá se
habilitar como credor quirografário no processo falimentar. (lei 11.101/2005 –
art. 136 c/c Art. 86, III)
• Se o alienante tiver bens suficientes para cobrir o seu passivo, a falência po-
derá ser requerida (lei 11.101/2005 – art. 94, III, alínea C). Mas, neste caso, cabe
ao empresário, em defesa, demonstrar que dispõe de bens para solver o seu passivo.
ATENÇÃO
• A venda de um bem isoladamente não é trespasse, mas sim compra e venda comum sub-
metendo-se às regras de direito civil. (CCB/02 – art. 164).
• O empresário (Individual) ainda que casado, qualquer que seja o regime de bens no casa-
mento, poderá alienar o imóvel sem necessidade de consentimento do outro cônjuge (ou-
torga conjugal) (CCB/02 – art. 978). Entretanto, o imóvel deve integrar o estabelecimento.
capítulo 2 • 56
a) Os contratos do alienante e o trespasse
Como já visto anteriormente, muito se discute se os contratos do Empresário
(Individual) ou da sociedade empresária integram ou não o estabelecimento.
Divergências à parte, o fato é que, em caso de trespasse o Código Civil Brasileiro
de 2002 estabelece que haverá sub-rogação (substituição) do alienante pelo adqui-
rente do estabelecimento nos contratos estipulados para a exploração da atividade
econômica (CCB/02 – art. 1.148) se não tiverem caráter pessoal.
b) Os contratos pessoais
O trespasse não envolve os contratos pessoais ou personalíssimos. Contratos
pessoais são aqueles em que a pessoa do contratante tem influência determinante
na manifestação de vontade da outra parte, que considera sua habilidade, idonei-
dade, aptidão ou competência para determinada tarefa. Geralmente geram obriga-
ção de fazer. A título de exemplo, são comuns as hipóteses do chef de cozinha para
administrar um restaurante; de determinado artista para fazer uma apresentação
ou obra de arte.
c) Contratos instrumentais
São aqueles essenciais à atividade econômica – são indispensáveis. Nestes ca-
sos, haverá sub-rogação cujo fim vem a ser viabilizar a continuidade da atividade
econômica.
ATENÇÃO
• a expressão “salvo disposição em contrário” (CCB/02 – art. 1.148).
• A despeito de interpretações respeitáveis (TOKARS, p. 102), a interpretação sistemática
possível da expressão “salvo disposição em contrário” consiste em que a alienação do es-
tabelecimento somente acarretará a sub-rogação do adquirente nos contratos de estabele-
cimento e de empresa caso não haja estipulação legal ou contratual em contrário. Assim
haverá sub-rogação nos contratos, salvo estipulação legal ou contratual em contrário.
• Neste sentido, por exemplo, não haverá sub-rogação automática no contrato de lo-
cação não residencial do imóvel utilizado como sede da empresa (lei 8.245/1991 – art.
13). No mesmo sentido, o Enunciado 234 da III Jornada de Direito Civil do Conselho de
Justiça Federal.
capítulo 2 • 57
• Responsabilidade do passivo do alienante
Tendo em vista que o estabelecimento também é composto por um plexo de
relações jurídicas, a alienação do estabelecimento também acarreta a transferência
das dívidas do alienante (passivo) para o adquirente (CCB/02 – art. 1.146).
Trata-se de mais uma hipótese de Obrigação propter rem, ou seja, aquela que
aquela que deve ser realizada por uma pessoa, por consequência de seu domínio
ou sua posse sobre alguma coisa móvel ou imóvel. (TARTUCE, p. 88)
Adquirente (comprador): responderá pelas dívidas anteriores, ou seja, have-
rá sucessão nas obrigações em razão da aquisição do estabelecimento, desde que
contabilizadas, além das dívidas posteriores. Alienante (vendedor) é responsável
solidário a:
• Dívidas vencidas = responsabilidade solidária até 1 ano da publicação
(CCB/02 – art. 1.144) do trespasse (CCB/02 – art. 1.146);
• Dívidas vincendas = responsabilidade solidária até 1 ano do vencimento
(CCB/02 – art. 1.146, fine).
capítulo 2 • 58
Sucessão das obrigações tributárias (CTN – 133):
capítulo 2 • 59
No que diz respeito à cessão de créditos realizada em operação de trespasse,
esta produzirá efeitos ao devedor desde a data da publicação, com a ressalva da
desoneração do devedor que pagar de boa-fé ao cedente (CCB/02 - Art. 1149, in
fine). Desta forma, a lei reconhece que a cessão não é eficaz em relação ao devedor
pela simples publicação da alienação do estabelecimento, mas da notificação do
devedor, que deverá ser feita por qualquer meio pelo qual se possa comprovar
inequivocamente a ciência da cessão. Desse modo, deve-se combinar a regra do
CCB/02 - Art. 290, pela qual a cessão será eficaz em relação ao devedor quando
a este notificada.
ATENÇÃO
A cessão dos créditos inerentes ao estabelecimento pode configurar hipótese de suces-
são particular em direito controverso (CPC/15 – art. 778, §1o, III).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASQUINI, Alberto. Perfis da empresa. Trad. Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil, no
104.
CORDEIRO, António Menezes. Manual de direito comercial. v. 1, Coimbra: Almedina, 2001.
GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000.
GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. A empresa individual de responsabilidade limitada. São
Paulo. Revista dos Tribunais, v. 915, 2012.
MORAES FILHO, Evaristo de. Do contrato de trabalho como elemento da empresa. São Paulo:
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REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 24. ed. São Paulo: Saraiva, v. 1, 2003.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 2: Direito das obrigações e responsabilidade civil. 9. ed. São
Paulo: MÉTODO, 2014.
TOKARS, Fábio. Estabelecimento empresarial. São Paulo: LTr, 2006.
capítulo 2 • 60
3
Direito Societário:
Introdução.
Direito Societário: Introdução.
O estudo e o conhecimento do direito societário são de extrema importância
para a economia capitalista. Nas últimas décadas, é possível perceber um resgate da
percepção da relevância do direito societário para o desenvolvimento econômico.
Esta percepção, embora não configure ineditismo, foi por muito tempo esque-
cida. A teoria econômica da empresa concebe a empresa como “feixe de contratos”
(nexus of contracts) entre indivíduos (JENSEN e MECKLING, 1976, p. 310)
assim como identifica a sociedade (contrato) e a sua hierarquia (empresa) – e os
fatores determinantes de uma ou outra. (WILLIAMSON, 1985)
Entretanto, a teoria econômica da empresa muito pouco tem a dizer sobre o
direito societário. Isso porque deve ser destacado que as relações internas ao exer-
cício da atividade econômica são estruturadas por meio de ordens hierárquicas
cujo conteúdo e observância, em regra, não são suscetíveis de revisão judicial. Por
outro lado, ao restringir o direito societário a apenas um “feixe de contratos”, a
teoria econômica tende a confinar o direito societário ao direito contratual trivial
(BLACK, 1990), despindo aquele de sua especialidade.
A partir de tais concepções é que se passou a conciliar a natureza eminente-
mente contratual da sociedade com a visão de que o direito (societário) desem-
penha papel fundamental tanto com relação ao invólucro que engloba o feixe
de contratos (a personalidade jurídica) como com relação ao conteúdo (contrato
social) das relações entre os sócios e administradores. No que concerne à análise
puramente contratual, deve ser destacado que as relações contratuais vinculam
tão somente as partes, não alcançando, como regra geral, a esfera jurídica alheia
(res inter alios acta, aliis nec nocet nec prodest). Daí o fundamental papel do regime
legal na atribuição de personalidade jurídica às sociedades. (CCB/02 – art. 45).
Contudo, caberia ainda algumas questões: o que explica a existência de dife-
rentes tipos societários, em vez de uma ou duas estruturas jurídicas? Por que o di-
reito brasileiro contempla tanto a sociedade limitada como a sociedade por ações
(dentre outros tipos previstos por lei, porém quase que esquecidos pela prática ne-
gocial)? Qual a função econômica desempenhada por um e outro tipo societário?
Neste capítulo você vai poder obter estas e outras repostas acerca da estrutura,
das espécies, dos efeitos do exercício da atividade econômica empresarial por meio
de uma sociedade.
capítulo 3 • 62
OBJETIVOS
Neste capítulo, você terá a oportunidade de conhecer o conceito de sociedade, sua na-
tureza jurídica, reconhecer os elementos da personificação das sociedades; conhecer os
elementos essenciais para a desconsideração da personalidade jurídica das sociedades;
identificar as espécies de sociedade de acordo com o Código Civil Brasileiro; Conhecer os
aspectos introdutórios da Sociedade Limitada e da Sociedade Anônima, através de suas ca-
racterísticas e o grau de responsabilidade dos sócios, bem como conhecer os esses agentes
societários: os sócios.
Sociedade conceito
O Código Civil Brasileiro de 2002 regula sete tipos societários, são eles: a)
sociedade simples (estrito senso ou pura) CCB/02 – art. 997; b) sociedade em
conta de participação – CCB/02 – art. 991; c) sociedade em nome coletivo –
CCB/02 – art. 1039; d) sociedade em comandita simples – CCB/02 – art. 1.045;
e) sociedade empresária limitada – CCB/02 – art. 1.052 e f ) sociedade cooperati-
va – CCB/02 – art. 1.093.
• Sociedade simples (estrito senso ou pura) CCB/02 – art. 997
Esta sociedade se contrapõe à sociedade empresária. A sociedade simples é a
sociedade não empresária, ou seja, aquela cuja atividade econômica é predominan-
temente intelectual ou rural (CCB/02 – art. 982 c/c. 966, parágrafo único). Dispõe
o Código Civil Brasileiro de 2002 que a sociedade empresária deve revestir–se de um
capítulo 3 • 63
dos seguintes tipos societários: 1) em nome coletivo; 2) em comandita simples; 3)
em comandita por ações; 4) limitada; e, 5) sociedade anônima. A sociedade simples
pode adotar um desses tipos, com exceção das sociedades por ações (comandita por
ações e sociedade anônima). Caso não o faça, entende-se que se constituirá sob o
tipo de sociedade simples pura. (artigos 997 a 1.038 do NCC)
Dentre as vantagens deste tipo societário em relação a outros, especialmente
sobre a sociedade empresária limitada, destaca-se, dente outras:
1) É o único tipo societário que aceita sócio de serviço;
2) não está sujeita, para efeito de tomada de decisões sociais, à realização de
reuniões e, muito menos, ao formalismo das assembleias, como ocorre, por exem-
plo, na sociedade limitada, particularmente quando esta for composta por mais
de 10 (dez) sócios, com todas as suas regras de convocação e quóruns de insta-
lação e deliberação; 3) por via de consequência, a sociedade simples pura não
está obrigada a manter livros de atas de reuniões ou assembleias, indispensáveis
para a sociedade limitada (CCB/02 – arts. 1.062, 1.067 e 1.075); 4) no tocante
à tomada de contas dos administradores, segue um rito menos formal do que
aquele previsto para a sociedade limitada; 5) a responsabilidade dos sócios pode
ser limitada ou subsidiária-ilimitada, dependendo do que declararem no contrato
social (CCB/02 – art. 997, VIII), não sendo obrigatória a adoção da responsabili-
dade subsidiária e, muito menos, em nenhuma situação, a menos que desejem, da
responsabilidade solidária, diferentemente do que ocorre em relação à sociedade
limitada (CCB/02 – art. 1.052 c/c. art. 1.055, §1o); 6) não está sujeita à falência
conforme (lei 11.101/05 – art. 1o)
Diante de tantos benefícios, é de se concluir que a sociedade simples pura é
um novo tipo societário que merece ser descoberto e utilizado, pois, sobretudo,
proporcionará vantagens aos sócios e seus prepostos (administradores não sócios e
contabilistas), quer sob o aspecto de economia (de tempo e financeira), quer sob
o aspecto de responsabilidades.
• Sociedade em conta de participação – será estudada adiante.
• Sociedade em nome coletivo – CCB/02 – art. 1.039.
É um tipo societário em que todos os sócios dispõem de responsabilidade
solidária com a sociedade, ou seja, a dívida da sociedade pode atingir os bens dos
sócios (CCB/02 – art. 1.039). Esta sociedade é constituída, necessariamente, por
pessoas físicas e sua administração cabe exclusivamente aos sócios, não podendo
um terceiro exercer este papel administrativo (CCB/02 – art. 1.042). Seu nome
deve ser composto por firma social (CCB/02 – art. 1.157).
capítulo 3 • 64
• Sociedade em comandita simples – CCB/02 – art. 1.045
É um tipo societário cuja composição social se dá por dois tipos de sócios:
os comanditários e os comanditados. Os sócios comanditários são aqueles que
respondem de forma limitada (apenas até o valor de suas cotas) pelas obrigações
da sociedade, e podem ser pessoas físicas ou jurídicas que contribuem apenas com
capital subscrito. Por outro lado, tem-se os sócios comanditados, que são pessoas
físicas que respondem solidariamente e de forma ilimitada pelas obrigações so-
ciais (CCB/02 – art. 1.045), podendo contribuir com capital e trabalho. A admi-
nistração desta sociedade pode ser exercida somente pelos sócios comanditados
(CCB/02 – art. 1.047).
• Sociedade empresária limitada – CCB/02 – art. 1.052 – será estudada no
próximo capítulo.
• Sociedade cooperativa – CCB/02 – art. 1.093.
A sociedade cooperativa é uma modalidade especial de sociedade simples, mas
que deve se inscrever na Junta Comercial (lei 8.934/94 – art. 32, Inc. II, alínea A.
Suas características principais estão disciplinadas no CCB/02 – art. 1.094. Elas são
regidas pelo princípio da adesão livre, pois qualquer pessoa que quiser usar seus
serviços e assumir responsabilidade como sócios podem, ou seja, é uma sociedade
aberta a todos. O princípio da mutualidade rege, pois quando há decisões a serem
tomados, considera-se um valor subjetivo da pessoa natural ou jurídica que com-
põem a sociedade, pouco importando a quantidade de sua contribuição material
(bens fungíveis e infungíveis) nos negócios comuns. A responsabilidade pode ser
tanto limitada ao valor das cotas de cada social no capital social como também
pode ser ilimitada (CCB/02 – art. 1.095). A responsabilidade limitada indica que
o sócio só irá responder pelo valor de suas cotas no capital social. É limitada a res-
ponsabilidade na cooperativa em que o sócio responde somente pelo valor de suas
cotas e pelo prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua
participação nas mesmas operações. É ilimitada a responsabilidade na cooperati-
va em que o sócio responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.
Apesar de registrados no Registro Público de Empresas Mercantis, a cooperativa
não se submete ao regime jurídico-empresarial (CCB/02 – art. 1.096). Assim, esta
sociedade não se submete à falência e não pode requerer recuperação judicial ou
extrajudicial (lei 11.101/05 – art. 1o).
Embora o Código Civil Brasileiro de 2002 mencione a Sociedade por ações
(CCB/02 – art. 1.089) e sociedade em comandita por ações (CCB/02 – art. 1.090),
estas espécies societárias são disciplinadas pela lei 6.404/76, que será estudada no
capítulo 3 • 65
capítulo 5, aplicando-se as normas do Código Civil Brasileiro de 2002 somente
quando a lei especial for omissa. O mesmo vale para as cooperativas (CCB/02 –
art.1093-1096) que também é disciplinada por lei especial (lei 5.764/71).
Personificação da sociedade
capítulo 3 • 66
• A Sociedade tem autonomia patrimonial – o patrimônio da sociedade é
separado do patrimônio dos sócios (CCB/02 – art. 44, II c/c art. 1.024);
• Neste aspecto é que se deve destacar que será a sociedade, na qualidade de
devedora, que terá responsabilidade direta ou principal pelos danos causados a
terceiros – CCB/02 – art. 391;
• A Sociedade tem nome próprio – CCB/02 – art. 1.155, parágrafo único. O
nome da sociedade não se confunde com o nome do sócio;
• A Sociedade tem domicilio próprio – CCB/02 – art. 997, II e, por conse-
quência, para propor uma ação em face da sociedade é preciso saber o domicílio
da sede da sociedade – CPC/15 – art. 53, III, A. Ninguém pode demandar uma
sociedade com base no domicílio do sócio;
• A Sociedade tem nacionalidade própria – CCB/02 – art. 1.126. Nada im-
pede que uma sociedade brasileira seja formada por sócios estrangeiros. Uma so-
ciedade brasileira é aquela constituída de acordo com as leis brasileiras e que tenha
no Brasil o seu domicílio (sede social) e o seu principal estabelecimento;
• A Sociedade tem capacidade contratual – a Sociedade pode contratar com
terceiros e a parte contratante será a pessoa jurídica (e não os sócios).
• Neste aspecto, você deve perceber que a sociedade vai se manifestar concre-
tamente por meio de seu(s) administrador(s) – CCB/02 – art. 47;
• A Sociedade tem capacidade processual – CPC/15 – art. 70 e art. 75, VIII.
As sociedades podem demandar e ser demandadas em juízo;
• O sócio poderá ser separadamente inserido também na relação processual
na hipótese de incidente processual de intervenção de terceiro, conhecido como
desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica – CPC/15 – art.
133-137;
• A Sociedade tem capacidade cambiária – art. 42 do Dec. 2.044/08. É a
pessoa jurídica que será credora, devedora ou avalista em um título de crédito.
Uma vez registrado o contrato social (CCB/02 – art. 981 c/c art. 985), a
sociedade surge como nova pessoa (CCB/02 – art. 44, II), distinta das pessoas
que a constituíram (os sócios) e com patrimônio (material e imaterial) distinto do
patrimônio de cada um de seus sócios. Quem vai exercer a atividade econômica
será a sociedade e não seus sócios.
capítulo 3 • 67
Assim, para compreender facilmente o direito societário, é de fundamental
importância distinguir a sociedade, como pessoa jurídica (CCB/02 – art. 44, II),
das seguintes figuras:
• Dos sócios – pessoas naturais (CCB/02 – art. 1o e 2o) ou jurídicas (CCB/02
– art. 44).
• Os sócios, em regra, respondem subsidiariamente pelas dívidas contraídas
pela sociedade (CCB/02 – art. 1.024 c/c. CPC/15 – art. 795), salvo nas hipóteses
em que os sócios optem pela responsabilidade limitada (sociedade limitada, socie-
dade anônima e, ainda que pouco usada, os sócios comanditários da sociedade em
comandita simples).
• Do patrimônio dos sócios – efeito jurídico imediato da personalidade jurí-
dica da pessoa natural (física) ou jurídica.
• Do contrato social – relação jurídica de direito privado (CCB/02 – art.
981) com efeitos e função social (CCB/02 – art. 421).
• Do patrimônio da sociedade – efeito jurídico imediato da personalidade
jurídica da pessoa jurídica.
• Atividade econômica realizada pela sociedade – conjunto de relações (con-
tratos) e situações (status) jurídicas realizadas pela sociedade em atenção à sua
finalidade (objeto e função social).
Estas distinções podem ser sentidas, ainda que sutilmente, na redação do arti-
go 1.024 do Código Civil Brasileiro de 2002. Neste dispositivo, podem ser identi-
ficados a figura do sócio, seu patrimônio, a sociedade e seu patrimônio e as dívidas
contraídas pela sociedade em razão da sua atividade econômica.
A personalidade jurídica pode ser identificada como instituto criado por lei
para separar a pessoa dos sócios da pessoa da sociedade de que fazem parte. A so-
ciedade adquire autonomia em relação aos seus sócios, passando ela própria a ser
sujeito de direitos e obrigações. Partindo dessa concepção, é que se deve começar
o estudo acerca da desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica.
Nos Estados Unidos e na Inglaterra esta teoria é denominada Disregard of
Legal Entity (desconsideração da entidade legal); Piercing the Corporate Veil (sus-
pensão do véu corporativo), Lifting the Coporate Veil (levantamento do véu corpo-
rativo) ou simplesmente Disregard Doctrine. Na Itália Superamento della Personalità
capítulo 3 • 68
Giuridica, Abus de la Noction de Personnalité Sociale (abuso da noção de persona-
lidade social) para os franceses; Durchgriff der Juristischen Personen (execução das
pessoas jurídicas) na Alemanha e Teoria de la Penetración de la personalidade ou
Desestimación de la Personalidad Societaria para os argentinos.
A bem da verdade, não se trata bem da desconsideração da “personalidade ju-
rídica”, mas tão somente da desconsideração da separação (pessoal e patrimonial)
existente entre os sócios e a sociedade quando esta separação estiver sendo usada
de forma abusiva e simulada para fraudar terceiros (credores) em proveito dos
sócios (desconsideração direta) ou a própria sociedade (desconsideração inversa).
Embora seja tema recorrente de direito empresarial, o instituto lida com cate-
gorias básicas do direito praticadas pela sociedade, a saber:
• Fraude contra credores (CCB/02 – art. 158);
• Simulação (CCB/02 – art. 167, §1o, §2o);
• Abuso do direito (CCB/02 – art. 187);
• Enriquecimento sem causa lícita (CCB/02 – art. 884).
capítulo 3 • 69
c/c. 1.024). Então, quando a atividade ilícita realizada pelo sócio é feita sob o “véu”
que recobre a pessoa jurídica e a distingue de seu sócio, tornando-o praticamente
inatingível, cabe ao Poder Judiciário, em casos excepcionais, aplicar a teoria des-
consideração, levantando o “véu” da pessoa jurídica, com o objetivo de atingir e
responsabilizar este último, se presentes os requisitos que a autorizem. Desta manei-
ra, a desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica, não visa anular a
sociedade, mas sim, em determinados casos, ordenar que seja afastada a separação
patrimonial e proteção dos sócios para fraudar credores e praticar o abuso de direito.
Mas a questão que fica é: abuso de qual direito? Direito dos sócios à proteção
pessoal de seu patrimônio?
capítulo 3 • 70
Realität juristischer Personem (Forma jurídica e realidade das pessoas jurídicas) no
ano de 1953 na Universidade de Tübigen, onde firmou os pilares da atual teoria
da desconsideração da personalidade jurídica, a qual denominou Durchgriff der
Juristichen Personen (Penetração de pessoas colectivas). Rolf Serick formula princí-
pios básicos da teoria da desconsideração, condensados na obra de Fábio Coelho
que a identifica como teoria maior. Tais princípios podem ser resumidos da se-
guinte forma: 1) abuso da forma da pessoa jurídica; 2) consideração da autonomia
subjetiva da pessoa jurídica; 3) desconsideração da separação entre sócio e a pessoa
jurídica. Em caso de fraude, abuso de direito ou desvio do fim social, levam-se em
conta as pessoas físicas (natural) que agem em nome da pessoa jurídica; 4) aplica-
ção da norma a quem praticou o ato sobre quem deve recair a responsabilidade.
(COELHO, 2002, p. 36)
Assim, quando a forma da pessoa jurídica se emprega para fraudar credores,
subtrair-se a uma dívida existente, para desviar a aplicação da lei, para constituir
ou conservar um monopólio ou cartel, os tribunais poderão prescindir da forma
com a sociedade foi constituída e considerar que o conjunto de pessoas que par-
ticipam ativamente de tais atos. Assim viabiliza a realização da justiça às pessoas
reais. O que se pretende com a desconsideração não é anular a personalidade jurí-
dica de uma sociedade, mas sim identificar que esta personalidade não tem efeito
em determinadas situações. (REQUIÃO, 2003, p. 378)
Rolf Serick exige maior cautela (teoria maior) e cuidado na utilização do ins-
tituto. Na teoria maior, a desconsideração da personalidade jurídica exige a prova
inequívoca de abuso e/ou fraude.
A aparição da desconsideração na legislação brasileira aconteceu quase dois
séculos após as primeiras decisões norte-americanas. O legislador brasileiro já a
adotou expressamente em quatro Leis e consagrou-a no Código Civil de 2002 –
CCB/02 – art. 50. No mesmo sentido, o artigo 176, §4o da Constituição Federal
de 1988 traz a regra de que a lei deverá tutelar o livre mercado, ou seja, reprimir o
abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da
concorrência e o aumento arbitrário dos lucros. Dentre os instrumentos de pro-
teção, também se encontra a desconsideração da personalidade jurídica da pessoa
jurídica – lei 12.529/2011 – art. 34.
• Enunciado 51 CJF: art. 50: a teoria da desconsideração da personalidade
jurídica – disregard doctrine – fica positivada no novo Código Civil, mantidos
os parâmetros existentes nos microssistemas legais e na construção jurídica sobre
o tema.
capítulo 3 • 71
• Enunciado 146 CJF: art. 50: nas relações civis, interpretam-se restritiva-
mente os parâmetros de desconsideração da personalidade jurídica previstos no
art. 50 (desvio de finalidade social ou confusão patrimonial).
Entretanto, a desconsideração da personalidade jurídica encontra respaldo
desde 1990 na lei 8.078/90 – art. 28 (Código de defesa do consumidor – CDC).
Este dispositivo consagra, para muitos autores, a teoria menor. A teoria menor
exige menos cautela para aplicação do instituto, não sendo necessária prova ine-
quívoca do abuso ou fraude, bastando um mero obstáculo ao ressarcimento. A
teoria menor está prevista no art. 28, §5o do CDC. Como o CDC influenciou
diversas outras disciplinas na década de 1990, a teoria menor também está presen-
te no direito ambiental e administrativo.
No plano da legislação ambiental, a busca da responsabilização civil está con-
sagrada na Lei de Crimes Ambientais, lei 9.605/1998 – art. 4o, que também con-
templa a aplicação da chamada teoria menor da desconsideração da personalida-
de jurídica.
No âmbito administrativo, a doutrina e a jurisprudência vêm firmando enten-
dimento de ser viável a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade
jurídica e a extensão de seus efeitos para afastar a possibilidade de uma empresa
que tenha sido suspensa ou impedida de participar de licitação ou contratar com
a Administração Pública, ou ainda, declarada inidônea, possa ter seus sócios inte-
grando, direta ou indiretamente, outra pessoa jurídica que participe de licitação
com o Poder Público.
capítulo 3 • 72
O sócio, para fugir de dívidas pessoais, transfere seu patrimônio pessoal para
a pessoa jurídica, buscando a autonomia patrimonial. Nesse caso, desconsidera-se
a transferência, trazendo os bens de volta à execução.
Com a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil, algumas discus-
sões que permeavam a aplicação do instituto por nossos tribunais ficaram comple-
tamente superadas.
O Código de Processo Civil de 2015 (CPC/15) admitiu expressamente in-
cidente de desconsideração à personalidade. O instituto será instaurado a pedi-
do da parte, sendo certo que o Ministério Público também terá legitimidade de
agir, como parte ou como custos legais. A nova legislação determina o incidente
da desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial
– CPC/15 – art. 134. Ademais, consta no § 2o que “dispensa-se a instauração do
incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição
inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.” (BRASIL, 2015)
Registra-se ainda que o Código de Processo Civil de 2015 reconhece e esta-
belece a possibilidade de se realizar a desconsideração inversa da personalidade
jurídica – CPC/15 – art. 133, §2o.
Teoria indireta
capítulo 3 • 73
Há ainda referência às sociedades coligadas (que é aquela em que uma é sócia
da outra com mais de 10% do seu capital, sem controlá-la – art. 245, § 1o, da
lei 6.404/1976). Neste caso, exige-se a prévia prova da culpa para responsabi-
lização da sociedade que não agiu perante o consumidor. Nesses casos, não há
propriamente desconsideração propriamente dita, mas tão somente extensão da
responsabilidade das sociedades que mantêm relações entre si. Não há efetiva des-
consideração, mas, sim, consideração de cada uma, em que se aumenta sua esfera
de responsabilidade.
Na desconsideração indireta, consideram-se as demais pessoas jurídicas do
grupo econômico até atingir o que se busca, ou seja, há uma irradiação dos efeitos
para as demais pessoas jurídicas do mesmo controle. Com isso, não adiantaria
criar pessoas jurídicas “laranjas”.
capítulo 3 • 74
A desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica no
Direito Tributário
capítulo 3 • 75
que o sócio ao transferir o bem de família para a pessoa jurídica, ele perde a pro-
priedade do bem. Assim, as faculdades inerentes à propriedade e, dentre elas, a
defesa quanto à sua posse e propriedade e a livre disponibilidade sobre o bem e a
possibilidade de, não sendo cabível a alegação de bem de família.
capítulo 3 • 76
Para atingir os bens dos sócios: uso obrigatório do incidente
processual da desconsideração da personalidade jurídica da pessoa
jurídica
capítulo 3 • 77
Sociedades não personificadas: sociedade em comum e sociedade em conta
de participação
Sociedade em comum
capítulo 3 • 78
Em que pese ilustríssima opinião em contrário (LOPES, 1990) a maioria da
doutrina pátria sustenta que a “sociedade” em conta de participação não se iden-
tifica como sociedade.
É um contrato, mas não de sociedade. A negativa de atribuição de caráter de
sociedade se dá pelas alegações de inúmeras diferenças com as características com
as demais sociedades. Ela se distingue das demais no sentido de que quem exerce
atividade econômica é o sócio (ostensivo) e não a sociedade e, por tal motivo,
quem responde pelos danos causados é também o sócio ostensivo (CCB/02 – art.
991, caput e parágrafo único). Seu contrato social não precisa ser formalizado
(CCB/02 – art. 992) nem ser registrado, mas tais fatos não são proibidos. Se o
contrato social for formalizado ou registrado, o registro do contrato social produz
efeitos somente entre os sócios (CCB/02 – art. 992) e, portanto, não se atribui
personalidade jurídica (CCB/02 – art. 993). A estrutura de conta em participa-
ção, ainda que exerça atividade econômica empresarial, não pode falir, pois quem
pode ter sua falência decretada é apenas o sócio ostensivo ou o sócio participante
(CCB/02 – art. 994, §2o, §3o). E por fim, a estrutura de conta em participação
não pode ter nome, nem firma nem denominação (CCB/02 – art. 1162).
Quanto ao objeto
capítulo 3 • 79
Quanto à responsabilidade dos sócios
capítulo 3 • 80
ações (CCB/02 – art. 1.091 c/c. lei 6.404/76 – art. 281), nelas a responsabilidade
é limitada para uns sócios, e ilimitada para outros.
capítulo 3 • 81
Assim, em determinadas sociedades é relevante a confiança acerca das caracte-
rísticas individuais dos sócios, suas qualidades subjetivas influem de forma deter-
minante no modo de atuação da sociedade, enquanto em outras, as características
individuais do sócio não são relevantes, por exemplo, em uma sociedade anônima
de capital aberto.
Portanto, todas as sociedades podem ser de pessoas ou de capitais, depen-
dendo do que dispuser o contrato ou o estatuto social. Entretanto, predomina na
doutrina o entendimento de que pode ser de acordo com o que dispuser o contra-
to social, sociedades de pessoas ou de capital, as seguintes: a sociedade limitada,
sociedade em nome coletivo e a sociedade em comandita simples. Da mesma
forma, serão sempre constituídas na forma de sociedades de capital, as sociedades
em comandita por ações e as sociedades anônimas. (COELHO, 2016)
Em caso de omissão ou contradição do contrato social, deve-se atentar ao que
dispuser a lei para cada tipo social.
capítulo 3 • 82
deve prevalecer o princípio da função social da empresa e o da menor onerosidade
ao devedor, podendo a penhora das cotas ser levada a efeito mediante a excussão
unicamente dos lucros ou dos juros sobre o capital próprio da sociedade na pro-
porção das cotas do executado. (BRANCO, 2015)
Neste sentido enunciado no 387 da IV Jornada de Direito Civil – “A opção
entre fazer a execução recair sobre o que ao sócio couber no lucro da sociedade, ou
na parte que lhe tocar em dissolução, orienta-se pelos princípios da menor onero-
sidade e da função social da empresa.”
A morte do sócio
Nome empresarial
CONCEITO
O Código Civil Brasileiro de 2002 determina que toda pessoa tem o direito ao nome nele
compreendidos o prenome e o sobrenome (CCB/02 – art. 16). A pessoa pode ser classi-
ficada em pessoas naturais ou pessoa jurídica. Logo, se aplicam ao dispositivo as pessoas
jurídicas (CCB/02 – art. 52). A indicação do nome é obrigatória no ato do registro da pessoa
jurídica e, no caso das sociedades empresárias e da cooperativa no ato de arquivamento
perante a Junta Comercial (lei 8.934/94 – art. 32, III).
Assim, pode-se conceituar o nome empresarial como o elemento de identificação da
sociedade empresária e do empresário individual ou, nos termos do Código Civil Brasileiro
de 2002 “a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este capítulo, para o
exercício da empresa” (CCB/02 – art. 1.155).
capítulo 3 • 83
Espécies
Formação
Princípios e proteção
Consequências
capítulo 3 • 84
acionista, ou pessoa que, por qualquer outro modo, tenha concorrido para o êxito
da empresa” (CCB/02 – art. 1.160, parágrafo único; lei no 6.404/76, art. 32, § 2o).
O princípio da novidade, ao seu turno, representa a garantia de exclusividade
do uso do nome empresarial (CCB/02 – art. 1.166). O primeiro empresário que
arquivar firma ou denominação, na Junta Comercial, tem o direito de impedir
que outro adote nome igual ou semelhante, já que isso importaria desrespeito
à novidade.
O primeiro empresário pode exercer a prerrogativa na esfera administrativa,
opondo-se ao arquivamento do ato constitutivo do concorrente, ou por via ju-
dicial. A última via é mais comum, em vista da brevíssima duração dos prazos
fixados na lei no 8.934/94, para o arquivamento de ato constitutivo de socieda-
de empresária.
Ouso indevido de nome empresarial caracteriza crime de concorrência desleal
(lei no 9.279/96 – art. 195, Inc. V), cabendo a responsabilização civil do usurpa-
dor, pelos danos derivados do desvio de clientela. (lei no 9.279/96 – art. 209)
Alienabilidade
capítulo 3 • 85
Contrato social. Natureza jurídica
capítulo 3 • 86
II); e) em se tratando de sociedade limitada, há necessidade de declaração de que a
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas cotas, mas que todos res-
pondem solidariamente pela integralização do capital social; f ) o prazo de duração
da sociedade deverá ser indicado a data de término do prazo da sociedade, quando
o mesmo for determinado, ou declarado que o prazo da sociedade é indetermina-
do (CCB/02 – art. 997, II); g) as pessoas naturais incumbidas da administração
da sociedade, e seus poderes e atribuições (CCB/02 – art. 997, VI); h) quando for
o caso, qualificação do administrador não sócio, designado no contrato; i) partici-
pação de cada sócio nos lucros e nas perdas (CCB/02 – art. 997, VII). Em regra,
a participação nos lucros e perdas se dá pela participação na sociedade. Não é
permitida a exclusão de sócio na repartição de lucros ou prejuízos (CCB/02 – art.
1.006, 1.007 e 1.008) ; j) foro.
Há cláusulas que são facultativas por disciplinarem matérias relativas a:
• Reuniões de sócios (CCB/02 – art. 1.072 CC/2002); a) previsão suple-
tiva das sociedades limitadas pelas normas de sociedades anônimas (CCB/02 –
art. 1.053, parágrafo único); b) exclusão de sócios por justa causa (CCB/02 –
art. 1.085); c) expressamente autorização da pessoa não sócia ser administrador
(CCB/02 – art. 1.061); d) instituição de conselho fiscal (CCB/02 – art. 1.066); e)
outras, de interesse dos sócios.
capítulo 3 • 87
Capital social
O capital social pode ser definido como a cifra correspondente ao valor dos
bens que os sócios transferiram ou se obrigaram a transferir à sociedade (BORBA,
2003). A existência de sociedade está diretamente relacionada à necessidade de
um patrimônio inicial próprio e este patrimônio será composto pelas contribui-
ções apresentadas pelos sócios frente à sociedade (CCB/02 – art. 981). O pano de
fundo que se cria para a formação econômica da sociedade é que todos os sócios
devem contribuir (CCB/02 – art. 1.004). Essa contribuição pode ser igual ou
desigual.
Portanto, esses valores transferidos pelos sócios servem para formar o patrimô-
nio inicial da sociedade, também servem como garantia mínima para os credores
sociais e poderá servir de parâmetro para a atribuição dos lucros ou prejuízos aos
sócios. Essa contribuição pode ser em dinheiro ou em qualquer espécie de bens.
(CCB/02 – art. 997, III)
O capital social pode ser formado por qualquer espécie de bens suscetíveis de
avaliação econômica. CC art. 997, III.
Na sociedade limitada é vetada a contribuição que consista em prestação de
serviços (CCB/02 – art. 1.055, §2o). O sócio que, a título de quota social, trans-
mitir domínio, posse ou uso, responde pela evicção; e pela solvência do devedor,
aquele que transferir crédito. (CCB/02 – art. 1.005)
Princípios
Princípio da intangibilidade
capítulo 3 • 88
Salvo as limitações apresentadas, a sociedade pode usar livremente
os demais recursos disponíveis na exploração da empresa
Princípio da realidade
Por este princípio procura-se garantir que o capital tenha efetiva relevância
prática e não venha a se transformar em mera cifra contábil. Assim, os bens e
créditos que compõem o capital social devem refletir exatamente o valor das cotas
ou ações no ato da subscrição e nos seus momentos posteriores. Demonstra-se
por esse princípio a necessidade de realmente existir no patrimônio da sociedade
os bens prometidos a título de capital social e a necessidade de que tais aportes
tenham o exato valor indicado no ato da subscrição. (CCB/02 – art. 1055, §1o)
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2018.
capítulo 3 • 90
4
Da sociedade
limitada
Da Sociedade Limitada
Introdução
OBJETIVOS
Neste Capítulo você terá a oportunidade de estudar os elementos da personificação das
sociedades; reconhecer os elementos essenciais para a desconsideração da personalidade
jurídica das sociedades; - Identificar uma das espécies de sociedade do Código Civil Brasi-
leiro - a Sociedade Limitada, conhecer suas características, o grau de responsabilidade dos
sócios, sua organização interna e a forma de sua extinção.
Legislação aplicável
capítulo 4 • 92
especiais do capítulo da sociedade limitada e o contrato social forem omissos, apli-
cam-se, subsidiariamente as normas da sociedade simples (CCB/02 – art. 1.053
c/c art. 997 a 1.032). Se, porém, os sócios estipularem expressamente no contrato
social que o regime de regência supletiva de sua sociedade limitada será o das so-
ciedades anônimas, aplicam-se as normas da lei 6.404/76 (LSA).
A regência supletiva pelas normas das sociedades simples ou das anônimas im-
porta, na verdade, a criação na lei de dois subtipos de limitadas, que serão tratadas
mais à frente (item 6).
capítulo 4 • 93
estabelecia o regulamento anterior, inclusive no que concerne à responsabilidade
pelo valor exato atribuído aos bens. (CCB/02 – art. 1.055, §1o)
Em caso de ausência de integralização (total) do capital social, todo cotista
responde solidariamente pela mora dos demais, como se fosse “fiador” dos mes-
mos. Desse modo, poderá qualquer cotista ser obrigado a dispor de seus bens par-
ticulares para solver eventual inadimplência de outro cotista, ainda que ele tenha
cumprido rigorosamente a sua própria obrigação, na época devida.
Entretanto, a responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade limi-
tada está sujeita a limites como sugere a nomenclatura. Se os bens da sociedade
não são suficientes para responderem pelo valor total das dívidas sociais, os credo-
res só poderão satisfazer suas pretensões com os bens dos sócios, até o valor total
do capital social não integralizado.
capítulo 4 • 94
econômica e a exploração empresarial dos negócios, conhecido como função so-
cial da empresa (CRFB/1988 – art. 170). Se o insucesso de certa empresa pudesse
pôr em risco todo o patrimônio dos agentes econômicos e investidores, pondo
mais risco que o negócio já proporciona, é natural que pouca gente teria coragem
de investir e participar de uma atividade econômica organizada, em detrimento
do desenvolvimento nacional (CRFB/1988 – art. 3o, II). Assim, o prejuízo seria
de todos nós, já que os bens necessários ou úteis à vida de todos e podem propor-
cionar redução das desigualdades sociais produzem-se em empresas (CRFB/1988
– art. 1o IV, fine c/c. art. 170, VII).
capítulo 4 • 95
• Da mesma forma, é vetada ao sócio administrador a intervenção em decisão
social da qual tenha interesse direto e conflitante com os interesses da organização
(CCB/02 – art. 1.017, parágrafo único c/c art. 1074, 2o).
• CCB/02 – art. 1.010, §3o: sócio administrador responde, também, pela
prática de atos que sabe, ou deveria saber, que contrariam a decisão da maioria dos
demais sócios.
• CCB/02 – art. 1.064: responsabilidade pelo uso indevido da razão social da
empresa – é de se admitir que no pleno exercício de suas funções, o sócio admi-
nistrador faça uso regular do nome da sociedade. Contudo, o mesmo não se pode
dizer do uso da razão social da empresa para atender interesses eminentemente
pessoais do sócio administrador, o que seria indevido. Em ocorrendo tal irregula-
ridade – abuso ou uso indevido da razão social da empresa – o sócio administrador
responde civilmente pelos prejuízos que causar à sociedade.
• CCB/02 – art. 1.036: a liquidação de uma sociedade implica interrupção
da continuidade de novas operações empresariais (CCB/02 – art. 51), as quais
ficam limitadas tão somente aos atos absolutamente indispensáveis ao encerra-
mento das contas. Se, contudo, os sócios não se abstiverem da realização de novos
negócios, durante a fase de liquidação da empresa, responderão, pessoalmente, de
forma ilimitada e solidariamente, pelos seus atos.
capítulo 4 • 96
da sociedade. Nesses casos, são dispensáveis qualquer formalidade. Entretanto,
o CCB/02 – art.1071 enuncia, exemplificativamente, matérias que constituem
objeto de deliberação dos sócios: a) aprovação das contas da administração; b)
designação dos administradores, quando feita em ato separado do contrato social;
a destituição dos administradores; o modo de remuneração, quando não estabe-
lecido no contrato; c) modificação do contrato social; d) a incorporação, a fusão
e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação; e) nomeação
e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas e o pedido de con-
cordata. Trata-se de rol meramente exemplificativo, pois o contrato social poderá
indicar outras matérias, sujeitas à reunião ou assembleia de sócios, por exemplo a
expulsão de minoritário por justa causa. (CCB/02 – art. 1.085)
Órgãos de deliberação
capítulo 4 • 97
Convocação
Instalação
ATENÇÃO
É obrigatória a realização de uma assembleia a cada ano, para tomar as contas dos ad-
ministradores, votar o balanço patrimonial e de resultados e eleger administradores (CCB/02
– art. 1.078). Se a sociedade tiver conselho fiscal, os seus membros serão eleitos também
nessa oportunidade (CCB/02 – art. 1.066, in fine)
Os sócios podem ser representados na assembleia por outro sócio, ou por advogado,
mediante outorga de mandato com especificação dos atos autorizados, devendo o instru-
mento ser levado a registro, juntamente com a respectiva ata da assembleia (CCB/02 – art.
1074, §1o). A assembleia ou reunião de cotistas é normalmente ambiente restrito aos sócios,
não devendo ser permitida, em tese, a presença de terceiros estranhos ao quadro social,
salvo expressa aprovação dos sócios.
Funcionamento
capítulo 4 • 98
ou da reunião, após autenticada pelos administradores, ou pela mesa, deverá ser
apresentada ao Registro Público de Empresas Mercantis para arquivamento e aver-
bação, nos vinte dias subsequentes à reunião (CCB/02 – art. 1.075, §1o e §2o).
Todo sócio tem direito de receber, sempre que solicitado, cópia autenticada da ata
de assembleia ou reunião. (CCB/02 – art. 1.075, §3o)
capítulo 4 • 99
b) A incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade (CCB/02 – art.
1.071, VI).
c) A cessação do estado de liquidação (CCB/02 – art. 1.071, VI fine).
ATENÇÃO
Em caso de empate – quando ocorrer empate nas deliberações sociais, considerado
cada voto de acordo com a participação do sócio no capital social, o desempate poderá ser
obtido por meio da apuração de voto por cabeça, ou pelo número de sócios, e, persistindo o
empate, por decisão do juiz (CCB/02 – art. 1010, §2o c/c. Art. 1.072)
capítulo 4 • 100
Direito de retirada e apuração de haveres
capítulo 4 • 101
o alcança também na condição de mandatário de outro sócio (CCB/02 – art.
1.074, §2o). Outra hipótese de proibição do sócio de votar refere-se ao laudo de
avaliação do patrimônio da sociedade de que faça parte, na operação de fusão de
sociedades. (CCB/02 – art. 1.120, § 3o)
Com o mesmo fundamento identifica-se como impedimento legal a hipó-
tese que se refere aos administradores e membros do conselho fiscal, discussão e
aprovação das contas dos administradores (CCB/02 – Art. 1078, §2o). A mesma
consequência haverá quando houver aprovação, sem reserva, do balanço patrimo-
nial e do balanço de resultado econômico, quando tal deliberação for tomada con-
trariamente à lei e ao contrato social. (CCB/02 – art. 1.078, §3o c/c. art. 1.080)
Nessas hipóteses, as deliberações estarão eivadas de vício se foi obtida com o
concurso de voto conflitante com o interesse social, sendo, portanto, passível de
anulação (CCB/02 – art. 171), ressaltando-se ainda que a responsabilidade ilimi-
tada aos sócios quando as deliberações forem tomadas em violação às disposições
da lei e do contrato social. (CCB/02 – art. 1.080)
Administração
capítulo 4 • 102
quartos) do capital social. A exigência do quórum qualificado se justifica em face
dos riscos maiores derivados da escolha de administrador que não os próprios
sócios, assumindo o legislador que tal tipo societário tem o caráter de sociedade
de pessoas.
O exercício da função de administrador pode terminar pela destituição, a
qualquer tempo, do seu titular, ou pelo término do prazo que tenha sido fixado
no contrato social ou em ato separado e não tendo havido a recondução (CCB/02
– art. 1.063). Entretanto, se o administrador for sócio, a sua destituição somente
ocorrerá se for aprovada por sócios detentores de cotas representativas de, no mí-
nimo, de 3/4 (três quartos) do capital social. (CCB/02 – art. 1.063, § 1o)
Todas essas regras relacionadas à cessação do exercício do cargo de administra-
dor são extremamente relevantes, porquanto voltadas às pessoas que se relacionam
com a companhia, prevenindo situações de vinculação de pessoa que se desligou
da administração social.
O uso da firma ou denominação social é privativo dos administradores,
aos quais o contrato social tenha reservado os respectivos poderes. (CCB/02 –
art. 1.064)
Deve-se destacar ainda que o administrador tem a obrigação de prestar contas
de sua administração (CCB/02 – art. 1.020). O administrador responde pelos
danos causados à sociedade (CCB/02 – art. 1.016). Em consequência, ao término
de cada exercício social, proceder-se-á ao levantamento do inventário, do balanço
patrimonial e do balanço de resultado econômico (CCB/02 – art. 1.065). A apro-
vação sem reservas das contas dos administradores exonera a sua responsabilidade,
salvo erro, dolo ou simulação. (CCB/02 – art. 1.078, §3o).
capítulo 4 • 103
quando compatíveis com o seu objeto. Se o ato ou contrato são estranhos às fina-
lidades da pessoa jurídica, devem ser imputados à pessoa física de quem agiu em
nome dela, normalmente ao administrador.
É admissível a contratação de pessoa não sócia para administrar a sociedade
(CCB/02 – art. 1.061), outorgando-lhe mandato com poderes específicos sufi-
cientes para o exercício desse mister. Há entre a sociedade e o mandatário um
negócio jurídico de mandato, instrumentalizado pela procuração (CCB/02 –
art. 653) que outorga poderes específicos de atuação de uma ou mais pessoas
naturais como administrador da pessoa jurídica. Quando o mandato é aceito,
o mandatário é obrigado a realizar todos os atos de acordo com as instruções
dos sócios (CCB/02 –art. 668), empregando na sua execução a diligência que
um administrador ativo e probo costuma desempenhar na gerência de seus pró-
prios negócios e sendo devedor da prestação de contas embutida nessa obrigação.
(CCB/02 – art. 667)
Entretanto, se o terceiro que, depois de conhecer os poderes do mandatário,
com ele celebrar negócio jurídico exorbitante do mandato, não tem ação contra
o mandatário, salvo se este lhe prometeu ratificação do mandante ou se respon-
sabilizou pessoalmente (CCB/02 – art. 673). Nesse caso, há causa de exclusão da
responsabilidade do mandatário.
Deve-se ressaltar que a sociedade limitada pode estar sujeita à regência suple-
tiva do regime das anônimas (CCB/02 – art. 1.053, parágrafo único). Logo, será
a sociedade, e não o administrador, quem responderá por todos os atos praticados
em seu nome, podendo, por certo, ressarcir-se dos prejuízos em regresso contra o
administrador que excedeu seus poderes.
capítulo 4 • 104
Conselho fiscal
Ainda que mais frequente nas sociedades de médio e grande porte é possível
que o contrato social preveja a instauração e funcionamento de um conselho fiscal
na sociedade limitada tendo em vista que somente se justifica tal conselho quando
houver número considerável de sócios. Em regra, não é conveniente ou economi-
camente justificável sua instalação e funcionamento.
O conselho deve ser constituído por, no mínimo, três membros efetivos e
respectivos suplentes, sócios ou não sócios. Há impedimento para os membros da
administração da própria sociedade ou de outra, por ela controlada, empregados
de ambas ou dos respectivos administradores, bem assim os cônjuges ou parentes
até terceiro grau destes. Os membros do conselho fiscal serão escolhidos na assem-
bleia anual (ou em reunião, se prevista em contrato social) pelo voto da maioria
dos sócios presentes. A lei assegura aos que discordarem dos conselheiros fiscais
escolhidos pela maioria, o direito de eleger, em separado, um membro e respectivo
suplente, desde que sejam titulares pelo menos um quinto do capital social.
O membro do conselho fiscal exerce as suas atribuições de forma individual
e, por tal motivo pode ser responsabilizado por eventual dano gerado pelo abuso
dos seus poderes.
A partir do novo Código Civil de 2002, os sócios que optarem pela constitui-
ção de sociedade limitada podem escolher entre duas formas de regência supletiva
(CCB/02 – art. 1.053 e parágrafo único). Isso significa que, em regra, a regência
direta e principal da sociedade limitada é o contrato social. Entretanto, se os sócios
optarem, ou em caso de omissão do contrato, a sociedade poderá ser regida ou
pelas normas da sociedade simples ou pelas normas das sociedades por ações (lei
6.404/76).
As sociedades limitadas sujeitas à regência supletiva das sociedades simples
(CCB/02 – art. 1.053) estabelecem entre os sócios um vínculo que pode ser rom-
pido com maior facilidade, isso em função das hipóteses em que é cabível a disso-
lução parcial (resolução da sociedade em relação a um sócio). Assim, a dissolução
parcial cabe em cinco casos:
a) Liquidação de cotas a pedido de credor de sócio (CCB/02 – art. 1.026).
b) Morte de sócio (CCB/02 – art. 1.028, caput).
c) Retirada imotivada (CCB/02 – art. 1.029, primeira parte).
capítulo 4 • 105
d) Retirada motivada (CCB/02 – art. 1.029, parte final c/c art. 1.077).
e) Expulsão de sócio (CCB/02 – art. 1.085).
Nas sociedades limitadas sujeitas à regência supletiva das sociedades por ações,
o vínculo existente entre os sócios não pode ser rompido com tanta facilidade.
Nela, o vínculo entre os integrantes da sociedade é mais estável. (COELHO,
2016)
capítulo 4 • 106
ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais).
Nesse caso, a sociedade limitada submete-se às mesmas regras que a lei fixa para a
sociedade anônima relativamente à escrituração e elaboração das demonstrações
financeiras e, ao término do exercício, a sociedade limitada de grande porte deve
levantar as mesmas demonstrações financeiras a que se obrigam as companhias
fechadas em geral. (lei 6.404/76 –art. 176, I a III)
Reorganização societária
Transformação
capítulo 4 • 107
Incorporação
Fusão
A fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar
sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações (lei 6.404/76
– art. 228). Nela, haverá a extinção das sociedades que se unem, para formar
capítulo 4 • 108
sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações. (CCB/02 –art.
1.119)
O instituto da fusão apresenta complexidade maior, pois se apresenta com três
elementos fundamentais e básicos: a transmissão patrimonial integral e englobada,
com sucessão universal; a extinção (dissolução sem liquidação) de, pelo menos,
uma das empresas fusionadas e o ingresso dos sócios da sociedade ou das socieda-
des extintas na nova sociedade criada.
Para que a operação de fusão tenha sucesso, é essencial que: a) cada pessoa ju-
rídica resolva a fusão em reunião dos sócios (CCB/02 – art. 1.120) ou em assem-
bleia geral dos acionistas (lei 6.404/76 – art. 228, §1o) e aprove o projeto de ato
constitutivo (CCB/02 – art. 1.120, §1o) ou de estatuto (lei 6.404/76 – art. 228,
§2o) e o plano de distribuição de ações, nomeando os peritos para avaliação do pa-
trimônio das sociedades que serão alvo da fusão; b) constituída a nova sociedade e
eleitos os seus primeiros diretores, estes promovam o arquivamento e a publicação
de todos os atos relativos à fusão, incluindo a relação com a identificação de todos
os sócios ou acionistas. (CCB/02 – art. 1.121)
Cisão
Pode-se definir a cisão como a operação pela qual a companhia transfere parcelas
do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já
capítulo 4 • 109
existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu pa-
trimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão. (lei 6.404/76 – art. 229)
A cisão constitui negócio plurilateral, que tem como finalidade a separação
do patrimônio social em parcelas para a constituição ou integração destas em
sociedades novas ou existentes. Do negócio, resulta ou não a extinção da socie-
dade cindida. O objetivo será a obtenção de economias de escala pela junção ou
disjunção de específicas divisões de empresas diversas, que se somam para tal fim.
(CARVALHOSA, p. 290)
No instituto da cisão, há fragmentação da sociedade, dividindo-se em duas ou
mais parcelas. Das parcelas patrimoniais fragmentadas (ativos e passivos) poderá
resultar nova(s) sociedade(s) como se juntar em sociedade(s) existente(s). No pri-
meiro caso, não haverá protocolo, pois todo o processo se desenvolverá no âmbito
interno da sociedade cindida. No segundo, como as parcelas patrimoniais serão
incorporadas por outras sociedades, entre estas e a cindida deverá haver protocolo.
capítulo 4 • 110
Na hipótese de cisão parcial, haverá sucessão apenas quanto aos direitos e às
obrigações relacionados no ato da cisão. Assim, a sociedade cindida que subsistir
e as sociedades que receberem parte de seu patrimônio serão solidariamente res-
ponsáveis pela satisfação das obrigações da sociedade cindida anteriores à cisão (lei
6.404/76 – art. 233) e, em caso de cisão parcial, o protocolo pode estipular que
não haverá solidariedade, respondendo cada sociedade apenas pelas obrigações
transferidas na cisão (lei 6.404/76 – art. 233, parágrafo único). Neste último caso,
atribui-se ao credor o direito de opor-se à estipulação de ausência de solidariedade
a fim de protegê-lo da diminuição da garantia que seu crédito teria caso houvesse
a solidariedade. Logo, a oposição do credor importa somente na existência de soli-
dariedade entre as companhias exclusivamente com relação ao crédito do opositor,
de forma a garantir a solidariedade entre as companhias, não tendo o condão de
anular o ato de cisão como um todo, suspender sua eficácia ou de impedir sua
consecução. (LOPES, p. 256)
Portanto, o credor não tem legitimidade processual para pleitear a suspensão
ou anulação da cisão, que é matéria interna das sociedades envolvidas a ser delibe-
rada em assembleia geral.
As obrigações da sociedade cindida, anteriores à cisão, serão suportadas de for-
ma solidária pelas sociedades resultantes do processo de cisão. Assim, quando hou-
ver versão total do patrimônio da cindida, as sucessoras responderão em condições
iguais. Já, quando houver cisão parcial, as sucessoras responderão com a cindida
de forma solidária. Entretanto, na cisão parcial pode-se amenizar essa obrigação
dos sucessores, estabelecendo que estas respondam somente pelas obrigações que
lhes forem transferidas, afastando a solidariedade com as demais sociedades envol-
vidas no processo.
Outras configurações
capítulo 4 • 111
Extinção da sociedade
Uma vez constituída a sociedade a mesma passa a ter existência legal a partir
do seu registro (CCB/02 – art. 45). Uma vez constituído o CS, os sócios possuem
obrigações até a efetiva liquidação da sociedade. (CCB/02 – art. 1.001)
A extinção da sociedade, também conhecida como dissolução social, por sua
vez, pode ser estudada conforme dois grandes critérios:
• Quanto à forma: sob este aspecto a dissolução pode ser: a) dissolução extra-
judicial (de pleno direito) ou b) judicial;
• Quanto à extensão dos efeitos: sob este aspecto a dissolução pode ser: a)
dissolução parcial (resolução do vínculo de um ou mais sócios); b) dissolução total
(extinção da sociedade).
Dissolução
capítulo 4 • 112
A dissolução judicial, que pode ser total ou parcial, poderá ocorrer quando:
a) falta grave no cumprimento de suas obrigações (CCB/02 – art. 1030, 1ª parte)
; b) por incapacidade superveniente (CCB/02 – art. 1030, 2ª parte); c) o sócio
for identificado como falido (CCB/02 – art. 1.030, parágrafo único); d) quando
a cota do sócio for objeto de execução e liquidação nos termos do art. 1.026;
e) quando anulada a sua constituição (CCB/02 – art. 1.034, Inc. I); f ) quando
exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade. (CCB/02 – art. 1034,
Inc. II)
O código de processo civil de 2015 prevê também o procedimento para a
dissolução das sociedades empresárias contratuais ou simples (CPC/15 – art. 599
a 609) assim como disciplina de modo expresso o cabimento da dissolução parcial
em relação às sociedades anônimas de capital fechado. (CPC/15 – art. 599, §2o)
capítulo 4 • 113
(CCB/02 – art. 1.104) e sua atribuição envolve representar a sociedade e praticar
todos os atos necessários à sua liquidação. (CCB/02 – art. 1.105)
A principal atribuição do liquidante é o pagamento das dívidas sociais propor-
cionalmente, sem distinção entre vencidas e vincendas, mas, em relação a estas,
com desconto (CCB/02 – art. 1.106). Após o pagamento, cabe ao liquidante con-
vocar assembleia dos sócios para a prestação final de contas (CCB/02 – art. 1.108)
e, se forem aprovadas, encerra-se a liquidação e se extingue a sociedade, devendo
ser averbada a ata da assembleia no registro próprio. (CCB/02 – art. 1.109)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPINHO, S. O direito de empresa à luz do novo Código Civil. Renovar ed. Rio de Janeiro: [s.n.].
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Campinas: Bookseller,
1998.
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. São Paulo: Saraiva, 2002.
LOPES, Mauro Brandão. A cisão no direito societário. Revista dos Tribunais, 1980.
capítulo 4 • 114
5
Direito Societário
Direito Societário
Introdução
capítulo 5 • 116
Noções históricas
capítulo 5 • 117
ATENÇÃO
• Alterações da lei 6.404/76 (lei no 9.457/97) – diminuição dos direitos dos acionistas
minoritários, com o objetivo de facilitar o processo de privatização de S/A que estavam em
poder do Estado.
• Alterações da lei 6.404/76 (lei no 10.303/2001) – restauração dos direitos dos acionistas
minoritários, para o mercado de capitais ficar mais atraente aos investidores.
Características
ATENÇÃO
Responsabilidade do acionista controlador
As normas de conduta do acionista controlador estão contidas no art. 116, parágrafo
único e no art. 117, §1o da lei 6.404/76.
Modesto Carvalhosa destacou a estrutura excessivamente rígida do texto legal. Na sua
concepção, “na constituição da prova do dano material efetivo, ainda que a intenção dolosa
não transpareça naturalmente, deverá o juiz e as autoridades administrativas simplesmente
se fixarem no elemento objetivo (...). Consequentemente, o elemento intencional do ato ou
do fato atribuído ao controlador, ainda que figure na letra da lei, não pode sobrepor-se ao
elemento material consistente no prejuízo efetivo sofrido pelas pessoas e instituições rela-
cionadas com a companhia.” (CARVALHOSA, 2011)
capítulo 5 • 118
Fabio Konder Comparato, outro crítico do dispositivo, observa que eram dolosas as mo-
dalidades abusivas descritas no primeiro parágrafo do art. 117, sendo que algumas delas
(alíneas b e c) exigiam do agente dolo específico. Acrescenta ainda que em certas hipóteses
“a prova (...) revela-se diabólica, a não ser recorrendo a presunções hominis, fundadas em
indícios e circunstâncias; ou então admitindo, para efeitos civis, que a culpa grave ao dolo se
equipara.” (COMPARATO; SALOMÃO 2014)
Mauro Brandão Lopes destacou a imprecisão legislativa (lei 6.404/76) dada ao tema abu-
so de poder pelo acionista controlador, assinala a impossibilidade de oposição de diretor à
vontade do controlador, conclui que, com a imprecisão conceitual da responsabilidade do con-
trolador, “a lei tornou muito mais precário para o lesado voltar-se contra ele.”. (LOPES, 1978)
capítulo 5 • 119
Responsabilidade dos administradores das instituições financeiras
A regra do art. 39 da lei no 6.024/74 regula uma hipótese de responsabilidade contra-
tual; a do art. 40 da mesma lei, uma hipótese de responsabilidade extracontratual.
Ambas as normas, porém, estabelecem a responsabilidade subjetiva do administrador de
instituições financeiras ou consórcio. Para que se possa imputar responsabilidade objetiva,
é necessária a previsão expressa, que a lei no 6.024/74 não contém. O art. 40 meramente
complementa o art. 39, estabelecendo solidariedade que ele não contempla.
A lei no 6.024/74, todavia, autoriza a inversão do ônus da prova, de modo que compete
aos administradores da instituição demonstrar que atuaram com o devido zelo, impedindo sua
responsabilização pelos prejuízos causados.
Não tendo sido conferida aos réus a oportunidade de comprovar sua ausência de culpa,
é necessária a anulação do processo para que o processo ingresse na fase de instrução,
devolvendo-se os autos ao juízo de primeiro grau. Recurso especial provido. (STJ – Resp. 44
7939SP – DJ 25/10/2007. Rel. Min. Nancy Andrighi, grifo nosso). (????)
capítulo 5 • 120
societário, a companhia, era a valorização do fim negocial a ser realizado (o ob-
jetivo social), bem como da instituição constituída para realizá-lo, colocando em
segundo plano a pessoa daqueles que, investindo na sociedade, contribuem para a
viabilidade de sua existência e, via de consequência, para a concretização dos fins
sociais. Mais do que sócios (o que não deixam de ser), são compreendidos como
acionistas, isto é, como titulares de partes ideais do patrimônio da companhia.
(MAMEDE, 2004, p. 384)
O estatuto da S/A pode limitar a transferência, estabelecendo, por exemplo,
direito de preferência a outros sócios, mas não pode impedir a livre negociação.
Como consequências de a S/A ser uma sociedade de capital, temos que as
ações de determinado acionista podem ser penhoradas por suas dívidas. Além
disso, no caso de falecimento de um acionista, seus sucessores não poderão ser
impedidos de ingressar no quadro social, nem tampouco poderão requerer a apu-
ração de haveres do sócio falecido.
A S/A é regida pelo estatuto social, que é aprovado pela assembleia de fun-
dação da sociedade e levado à registro na Junta Comercial, dando início à pessoa
jurídica.
Pode-se afirmar que tal sociedade tem natureza institucional porque, o que
importa é o objeto social a ser atingido, pouco importando a qualidade dos sócios.
O estatuto da S/A não tem natureza contratual. Diferentemente das socie-
dades contratuais, em que os sócios pactuam as cláusulas do contrato social, nas
S/A os novos acionistas aderem a um estatuto já existente – ou a um projeto de
estatuto, no caso de constituição por subscrição pública.
As normas do estatuto social formam um sistema jurídico particular da com-
panhia. A lei 6.404/76 dispõe no art. 83 que o estatuto social: “deverá satisfazer a
todos os requisitos exigidos para os contratos das sociedades mercantis em geral e
aos peculiares à companhia, e conterá as normas pelas quais se regerá a companhia”.
Nesse sentido, o estatuto social compreende as normas particulares ou indi-
viduais criadas pelas partes do contrato de companhia, como ocorre em qualquer
outro contrato. Entretanto, devem-se destacar duas peculiaridades:
• A lei 6.404/76, além de regular o contrato de companhia, é a legislação de
organização das companhias.
capítulo 5 • 121
• As suas normas são genéricas, pois não são dirigidas a pessoas identificadas.
Essa peculiaridade resulta da característica de que os direitos e as obrigações dos
acionistas são definidos no estatuto como elementos das ações, com abstração de
seus titulares.
A S/A será sempre empresária, qualquer que seja seu objeto, de acordo com
Código Civil Brasileiro – art. 982, parágrafo único c/c lei 6.404/76 – art. 2o, §1o.
Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrá-
rio à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
§1o. Qualquer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis
e usos do comércio.
capítulo 5 • 122
Valores mobiliários são títulos emitidos pela S/A para captar, junto ao mer-
cado, os recursos necessários à consecução de seu objeto social. São eles: ações,
debêntures, partes beneficiárias, bônus de subscrição, certificados de depósitos de
ações e commercial papers.
Companhia fechada
A companhia fechada é aquela que não tem autorização para que seus valores
mobiliários sejam ofertados ao público na lei 6.404/76 de valores. Seu capital
advém da contribuição de seus acionistas, que podem ou não ser em pequeno
número. Consequentemente, nas palavras de Marcelo Bertoldi, “os interesses da
companhia e de seus sócios são regulados no âmbito do ‘contrato de sociedade’,
sendo dispensada a tutela do interesse público.” (BERTOLDI, 2003)
Constituição da companhia
capítulo 5 • 123
Se a subscrição for em bens (tudo que não seja dinheiro), deve-se ter em men-
te a dificuldade de mensuração do valor do bem subscrito – o que pode colocar
em risco a realidade do capital social, afetando acionistas e terceiros que contratem
com a companhia.
Nesse caso, a lei prescreve diversas formalidades, destinadas a inibir frau-
des a fim de assegurar, da melhor maneira possível, que o bem corresponda à
sua avaliação.
Exemplos de normas criadas com esse fim são:
• Avaliação do bem por três peritos (art. 8o e 170, §3o, lei 6.404/76) escolhi-
dos pelos subscritores ou acionistas.
• Laudo fundamentado, com indicação de critérios e elementos de compara-
ção adotados. (art. 8o, §1o, lei 6.404/76)
• Subscritor que confere bens não pode votar o laudo de avaliação. (art. 115,
§1 , lei 6.404/76)
o
capítulo 5 • 124
são aquelas que conferem todos os direitos à qualidade de
partícipe em sociedades empresárias. Seu surgimento advém
das origens companhias, quando não havia outras espécies de
ações. São de classe única nas companhias abertas e podem
ser de classes diversas na companhia fechada, em função, uni-
AÇÕES camente, da
ORDINÁRIAS • Conversibilidade em ações preferenciais.
• Exigência de nacionalidade brasileira de acionistas.
• Direito de voto em separado para a eleição de determina-
dos cargos de órgãos administrativos. (art. 15, §1o; art. 16, lei
6.404/76)
Acionista controlador
capítulo 5 • 125
previamente concertadas, quer por força de um acordo de acionistas, quer em
decorrência de um controle em comum.
A lei das sociedades anônimas não confundiu o acionista majoritário com o
acionista controlador. Modesto Carvalhosa destacou a inovação em relação à lei
antecedente, pois “fundava-se o antigo diploma em critério diverso, qual seja o
de acionista majoritário. E para o mesmo não criava responsabilidade específica.”
(CARVALHOSA, 2011). Desde 1976, adota-se conceito diverso, pois o poder
político do acionista avalia-se não mais segundo a mera quantidade de ações que
detenha, mas sim segundo o efetivo exercício desse poder. Eis aí a razão para a
exigência do legislador, de que o controlador da companhia possua maioria per-
manente na assembleia, eleja a maioria dos administradores e use efetivamente seu
poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento da companhia
– que seja, em última análise, o responsável pela organização da atividade econô-
mica da sociedade.
Acordo de acionista
capítulo 5 • 126
autor que se trata de acordo parassocial, impondo a lei a sua observância e res-
peito, pela companhia, somente se arquivado em sua sede e averbado no livro de
registro de ações da companhia. (WALD, 2000)
capítulo 5 • 127
Espécies de debêntures
As debêntures podem ser com garantia real; debêntures com garantia flutuan-
te; debênture não preferencial; debênture subordinada aos demais credores da
companhia; debênture com garantia cumulativa.
Debênture com garantia real resulta da obrigação assumida pela sociedade, na
escritura de emissão, de não alienar ou onerar tais bens.
Debêntures com garantia flutuante são aquelas em que em face de eventual
concurso de credores, é assegurado privilégio geral sobre o ativo da companhia,
não impedindo, porém, a negociação de bens que compõem esse ativo, em se
tratando de privilégio. Assim, os debenturistas com garantia flutuante se colocam
acima dos credores quirografários, ficando, entretanto, abaixo dos créditos garan-
tidos com direito real e dos créditos com privilégios especiais, nos termos da lei
de falências.
ATENÇÃO
Observe-se que as garantias reais ou flutuantes podem ser constituídas cumulativamen-
te. Assim, além do privilégio especial sobre determinados bens da sociedade, que constituem
a garantia real, as debêntures ficam garantidas também com o ativo da sociedade, portanto,
uma segurança bem maior para o debenturista.
Debêntures não preferenciais (quirografárias) são aquelas que não gozam de nenhuma
garantia específica, seja real ou flutuante. Na realidade, tais debêntures são também garanti-
das, mas sua garantia é a do patrimônio comum da sociedade, excluídos os direitos preferen-
ciais sobre obrigações assumidas por essa (menos credores quirografários).
Debêntures subordinadas aos demais credores da companhia são aquelas a que se re-
conhecem apenas a preferência em relação aos acionistas, em caso de liquidação da so-
ciedade, ficando tais debenturistas no último escalão dos que devem receber seus créditos.
Debêntures com garantia cumulativa são aquelas que, com duas ou mais garantias aqui
arroladas, podem servir de base à sua emissão.
Os juros conferidos às debêntures podem ser fixos ou variáveis. Cabe à assembleia geral,
no momento em que delibera a emissão de tais títulos, determinar qual a modalidade que
terão esses referidos juros.
capítulo 5 • 128
Fixos são os juros que se expressam por determinada porcentagem, à qual os debentu-
ristas terão direitos sempre, em época determinada para seu pagamento.
Variáveis serão os que, apesar de determinados quando da emissão dos títulos, ficam a
depender de eventos futuros. Ao estabelecer juros variáveis, a companhia em regra os subor-
dina a acontecimentos que podem ocorrer, alterando a sua situação financeira.
A lei permite que as debêntures sejam conversíveis em ações, desde que essa circuns-
tância venha estabelecida na escritura de emissão. Nesta (escritura), segundo for deliberado
na assembleia geral, deverá ser especificada a base dessa conversão, seja em número de
ações em que poderá ser convertida cada debênture, seja como relação entre o valor nominal
da debênture e o preço da emissão das ações.
Deve a escritura de emissão, ainda, dispor sobre a espécie e classe de ações em que a
debênture poderá ser convertida. Igualmente a escritura de emissão especificará prazo ou
época para o exercício do direito de conversão.
A emissão de debêntures conversíveis em ações significa um ato que redundará, ob-
viamente, no aumento do capital. E, como os acionistas têm preferência para subscrição de
ações quando o capital é aumentado, a lei lhes dá, igualmente, preferência para aquisição
dessas debêntures na proporção das ações possuídas.
A lei atual, inspirando-se principalmente no direito anglo-americano, criou o agente fi-
duciário dos debenturistas, que será o representante legal destes perante a sociedade, com
direitos e deveres fixados na lei e participação obrigatória em certos e determinados atos.
Tem, registre-se, o agente fiduciário poderes para convocar a assembleia especial dos
debenturistas, mediante as mesmas solenidades previstas para convocação da assem-
bleia geral dos acionistas, estendendo-se lhes os requisitos relacionados com o quórum
de deliberação.
Partes beneficiárias
capítulo 5 • 129
pode atribuir outros direitos, tais como o voto e também não podem ser eternos:
máximo de 10 anos no caso de serviços prestado.
Bônus de subscrição
São títulos emitidos pela sociedade anônima que confere aos seus titulares o
direito de conversão em ações. Apresenta como característica o direito de prefe-
rência de compra de uma ação.
Commercial papers
Assembleia geral
capítulo 5 • 130
nos quatros primeiros meses seguintes ao fim do exercício social. Caso este pra-
zo transcorra sem que esta seja realizada, a apreciação dos temas continua sendo
necessária e consoante o entendimento da doutrina majoritária, sua realização
intempestiva não a torna extraordinária. De qualquer forma, vale observar que,
independentemente da espécie adotada, o atraso na realização do conclave pode
acarretar responsabilização dos administradores por eventuais prejuízos (art. 155),
bem como sanções à companhia impostas pela comissão de valores mobiliários.
Segundo o caput do art. 133 da lei 6.404/76, além da obrigação de convocar
a AGO, os administradores deverão disponibilizar aos acionistas os documentos
que serão objetos de deliberação, com antecedência mínima de 1 mês à realização
da assembleia, bem como publicá-los em órgãos da imprensa. A necessidade da
publicação é dispensada nas companhias fechadas de que cuida o art. 294 – lei
6.404/76 (patrimônio líquido inferior a R$ 1.000.000,00), desde que os docu-
mentos sejam arquivados no registro de comércio, juntamente com a ata da AGO
cinco dias antes da reunião.
Administração
capítulo 5 • 131
Transformação de Sociedade Anônima
Incorporação
capítulo 5 • 132
Fusão de Sociedade Anônima
A cisão das sociedades pode ser vista como reorganização societária que ob-
jetiva maior organização administrativa. Esta reorganização visa otimizar funções
da empresa, tornando-a mais competitiva no mercado por meio da transferência
de capital de uma sociedade para outra(s); sendo que, a sociedade que absorve tal
capital sucede a cindida nos direitos e nas obrigações correspondentes à parcela
absorvida, em que se pode falar então em cisão total ou cisão parcial. Cisão total
ocorre quando todo o capital de uma empresa é dividido entre duas ou mais socie-
dades, que absorvem o capital e a sucedem em direitos e obrigações, extinguindo-
se a sociedade cindida.
Na cisão parcial, ocorre apenas transferência de parcela do patrimônio que
é distribuída para outras sociedades, sendo que cada uma será responsável em
capítulo 5 • 133
relação à parte absorvida do patrimônio. Destacamos que para a absorção da par-
cela de capital que receberá, a sociedade empresária pode ser preexistente ou ainda
pode ser criada exclusivamente para receber tal capital.
O legislador mostrou-se preocupado em coibir a tentativa da cisão se trans-
formar em instrumento de fraude contra os credores. A lei 6.404/76 em seu art.
234 estabelece que na cisão total, os direitos e as obrigações se transferem para a
nova sociedade, legítima sucessora daquela que se extinguiu. Caso o capital tenha
sido dividido em diversas empresas, cada qual responderá na proporção do capital
absorvido. Na cisão parcial, isto é, quando subsiste a empresa cindida, as empresas
que absorveram o capital passam a sucedê-la apenas nos direitos e nas obrigações
que serão relacionados quando da efetivação da cisão. Destaca-se que pode haver
sócios dissidentes na sociedade, que poderão se retirar se assim o solicitarem. Se
este fizer uso da sua faculdade, irá receber o valor correspondente às suas ações e
poderá exercer seu direito de retirar-se da sociedade somente quando da efetivação
da operação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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comercial, direito societário. 2. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais.
CARVALHOSA, Modesto. (2011). Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 4. ed. São Paulo.
CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil: direito de empresa. São Paulo: Saraiva:
2003.
COMPARATO, Fabio Konder, SALOMÃO FILHO, Calixto. (2014). O Poder de Controle na
Sociedade Anônima. Rio de Janeiro. 6. ed.
LOPES, Mauro Brandão. (1978). Responsabilidade Civil de Administradores de Instituições
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MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro, v. 2: direito societário: sociedades simples e
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WALD, Arnoldo. 2000. O Acordo de Acionistas e o Poder de Controle do Acionista Majoritário.
Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais. vol. 8. São Paulo: Ed. RT.
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ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 135
ANOTAÇÕES
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