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Circuitos de corrente contínua (CC)

FONTE DE TENSÃO E FONTE DE CORRENTE

A tensão eléctrica pode ser gerada a partir de três mecanismos básicos:


(i) reacção química, subjacente ao funcionamento das baterias;
(ii) acção conjunta de uma força mecânica e de um campo magnético, designadamente através da indução
electromagnética, processo que é subjacente ao funcionamento dos geradores electromecânicos
designados por dínamo (d.c.) e alternador (a.c.);
(iii) efeito fotoeléctrico, nomeadamente pela conversão de uma radiação electromagnética (fotões) em
electrões livres, processo que se encontra na base do funcionamento das células foto-voltaicas
vulgarmente designadas por células solares.
Fontes de tensão e de corrente ideais são fontes que fornecem os valores determinados de tensão ou de
corrente independentemente da carga à qual forem ligadas. É possível construir sistemas retroalimentados
que percebam mudanças na carga e modifiquem os parâmetros físicos da fonte de forma a manter sua
saída constante, embora tais sistemas tenham uma limitação no que diz respeito à velocidade das
mudanças às quais ele pode responder.
O símbolo para a fonte de corrente é um círculo com uma seta dentro que indica o sentido da corrente.
Considere o circuito ecomposto pela bateria e o resistor. Nesse caso a tensão aplicada pela fonte U é igual
à tensão sobre o resistor UR  e a corrente gerada I é a corrente que atravessa o resistor IR. Ou
seja, U/I = R. De que maneira U e I mudam quando a resistência R muda ? Antes de mais nada, observe
que pelo menos uma das grandezas tem de mudar, se a resistência e portanto a razão mudar. Em geral,
num caso real, ambas as grandezas mudam. Há dois casos ideais, extremos, nos quais apenas uma das
grandezas muda, que em muitos casos pode representar bem uma fonte real. Esses casos são: 

 
fig.1b Fonte ideal de corrente:
fig.1 a. Fonte ideal de tensão:
IR = I = constante 
UR = U = constante
UR = U = RI
IR = I = U/R

As fontes reais são classificadas como fontes de tensão ou fontes de corrente conforme se aproximem


mais de um comportamento ou do outro. A forma mais simples de descrever o comportamento de uma

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fonte de tensão ou de corrente reais envolve apenas dois parâmetros, que são a força eletromotriz
(f.e.m) e e a resistência interna r da fonte. A f.e.m é uma característica do processo interno da fonte que
dirige as cargas eléctricas contra a diferença de potencial e converte energia de uma forma em outra, e, no
caso de uma bateria química, é uma constante característica da reação química envolvida . A resistência
interna representa todos os processos dissipativos que ocorrem dentro da fonte e portanto não pode ser
nula num sistema real. Devido ao nosso interesse em explorar a simetria que existe entre as
variáveis U e I estamos tratando da mesma forma a variável resistência interna r nas duas fontes. Isso
entretanto esconde uma diferença fundamental entre o significado de r na fonte de tensão e na fonte de
corrente, que está relacionada à limitação de cada uma delas como fonte real e não ideal. Qual a diferença
entre o que estamos chamando de resistência interna nas duas fontes?  

A corrente I depende da resistência total do circuito, e é


dada por 

 
A tensão fornecida pela fonte U está aplicada sobre o
resistor, e sendo assim está relacionada com a
corrente I que o atravessa por U = RI. Daí,  

 
Figura 1: Uma fonte de real de tensão ou de corrente Se o circuito estiver aberto (R = infinito) a corrente I é
pode ser representada por uma fonte de tensão ideal nula e a tensão entre os terminais da fonte é U = e. Em
que fornece a tensão eem série com uma resistência r. condições de curto-circuito (R = 0) a diferença de
Ao se ligar os terminais da fonte através de um resistor potencial U é zero e a corrente de curto-circuito
de carga com resistência R flue uma corrente I no
é  I = e/r. Para uma resistência R finita haverá uma
circuito.
corrente não nula e com isso uma queda de potencial na
resistência interna igual a rI.

Tanto uma fonte de tensão como uma de corrente podem ser representadas pelo diagrama da
Figura 1: uma fonte de tensão ideal (quer dizer, uma fonte cuja tensão fornecida não varia),
que fornece a tensão e, em série com uma resistência r. Entre os terminais da fonte se pode
ligar um resistor de carga com resistência R fazendo com que flua uma corrente I no circuito. O
que distingue uma fonte de tensão de uma fonte de corrente é a magnitude da razão entre as
resistências interna re externa R. Essa propriedade também as distingue em relação ao uso
que daremos a elas.

Lei de ohm :

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Associação de receptores

U IT RT

Série UT = U1 + U2 +. .. + Un IT = I1= I2 =... = In RT = R1 + R2 + ... + Rn


1 1 1 1
   ... 
Paralelo UT = U1 = U2 =. ..= Un IT = I1 + I2 + ... + In RT R1 R2 Rn

Divisor de tensão

Num circuito série, cada resistência produz uma queda de tessão V, igual à sua parte proporcional da tensão
aplicada.

Divisor de corrente

O divisor de corrente, é uma técnica de projecto utilizada para regular uma corrente em relação a outra, mais comumente,
com uma associação paralela de resistores. Quando se tem uma associação de resistores em paralelo, por vezes torna-se
necessário determinar as acorrentes em termos individuais num circuito em paralelo, se forem conhecidas as resistências
e a corrente total e se não for dada a tensão através do banco de resistências. Quando se considera somente dois ramos,
a corrente num ramo será uma fracção da corrente total e a de valor mais elevado flui para a resistência de valor mais
baixo. Observe que a equação para a corrente em cada ramo tem o R oposto no numerador.

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Circuito aberto e curto-circuito

Um aberto em qualquer parte de um circuito é, na verdade uma resistência extremamente alta que implica ausência de
fluxo de corrente através do circuito. Quando houver uma interrupção na linha principal (x na figura), a corrente não
chegará a nenhum dos ramos em paralelo

Um curto em qualquer parte do circuito é na verdade, uma resistência extremamente baixa. Como o fio é um excelente
condutor, o curto circuito oferece um percurso paralelo com uma resistência extremamente baixa. Como consequência, flui
uma corrente muito alta pelo curto circuito. Suponha que um fio condutor seja ligado na figura entre os pontos a e b.
Praticamente toda a corrente irá passar por esse caminho. Como a resistência do curto circuito é praticamente zero, a
queda de tensão através de ab será praticamente zero. Dessa forma os resistores R 1, R2 e R3, não consumirão a sua
corrente normal.

Técnicas de análise de circuitos

1. Introdução

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As técnicas de análise de circuitos CC são de grande valia quando se quer calcular parâmetros de
circuitos que possuem mais de uma fonte de energia, como é o caso de vários sistemas electrônicos e
eléctricos de potência.

Um circuito genérico possui nós e ramos. Um nó é um ponto de junção de dois ou mais elementos do
circuito. O nó principal é aquele que conecta pelo menos três elementos do circuitos e possui uma
equação nodal considerável. O nó secundário conecta apenas dois elementos e é um nó trivial. Qualquer
caminho entre dois nós é chamado de ramo.

Então, baseados nas definições acima, nós podemos dizer que um circuito é complexo se há duas ou mais
fontes de energia em ramos diferentes do circuito.

A seguir serão descritos os principais métodos de análise de circuitos, ferramentas importantes para a
simplificação de redes e cálculo dos principais parâmetros das mesmas.

2. Análise através das Leis de Kirchhoff

– Lei de Kirchhoff da Tensão (LKT) e Lei de Kirchhoff da Corrente (LKC)

As leis de Kirchhoff, devidas ao físico Gustav Robert Kirchhoff são a base do estudo de circuitos
eléctricos.

A Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT):

"a tensão aplicada a um circuito fechado é igual à soma das quedas de tensão naquele circuito", isto é:

Tensão aplicada = soma das quedas de tensão.

Para o circuito da figura 1, por exemplo, onde temos três resistores conectados em série, pode-se
escrever, de acordo com a LKT:

 onde V é a tensão aplicada e V1, V2 e V3 são as quedas de tensão ao longo do circuito fechado.

A LKT simplesmente pode ser escrita na forma:

(1)

 A equação (1) aplicada ao circuito da figura 1 fornece:

   (2)

5
   

Figura 1 – Ilustração da fórmula

A Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC) :

"a soma das correntes que entram em um nó deve ser igual à soma das correntes que saem deste
mesmo nó".

 (3)

2.1 – Método das correntes nas malhas ou ramos

Uma malha é qualquer percurso fechado de um circuito . Ao se resolver um circuito utilizando as correntes
nas malhas, é preciso escolher previamente os percursos que formarão as mesmas. Em seguida, para
cada malha é designada a sua corrente, sendo utilizado, por conveniência, o sentido horário. Aplicando-se
a LKT ao longo dos percursos de cada malha, encontram-se as equações que determinarão as correntes
de malha desconhecidas.

Na figura 2 tem-se um circuito com duas malhas (1 e 2). O procedimento para se determinar as correntes
I1 (malha 1) e I2 (malha 2) é:

Figura 2 - Um circuito CC com duas malhas.

 - 1º passo: escolher as malhas e mostrar as correntes respectivas no sentido horário, indicando a


polaridade de tensão para cada resistor, de acordo com o sentido adoptado para a corrente. O fluxo
convencional de corrente num resistor produz uma polaridade positiva onde a corrente entra e negativa,
onde a corrente sai.

 - 2o passo: aplicar a LKT ao longo de cada malha, percorrendo cada malha no sentido da corrente da
malha. Pelo facto de haver duas correntes diferentes que fluem em sentidos opostos num mesmo resistor,
aparecem dois conjuntos de polaridades para o mesmo (no caso da figura 1, no resistor R 2).

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Percorrendo a malha 1 no sentido abcda e aplicando a equação
tem-se:
geral
 + VA – I1R1 – I1R2 + I2R2 = 0
+ VA – I1.(R1 + R2) + I2R2 = 0
I1.(R1 + R2) - I2R2 = VA      (4)
Para a malha 2, percorrendo a mesma no sentido adefa:
- I2R2 + I1R2 – I2R3 – VB = 0
I1R2 – I2.(R2 + R3) = VB       (5)
o
- 3 passo: calcular as correntes I1 e I2 através das Equações (4) e (5).
- 4o passo: com as correntes conhecidas, calcular todas as quedas de tensão através dos resistores
utilizando a Lei de Ohm.
- 5o passo: verificar a solução das correntes das malhas percorrendo a malha abcdefa (malha mais
externa que engloba as malhas 1 e 2): 
VA – I1R1 – I2R3 – VB = 0          (6)

3. Método das tensões nos nós

Um outro método para se resolver um circuito com correntes de malhas utiliza as quedas de tensão para
determinar as correntes num dado nó. Escreve-se as equações dos nós para as correntes, satisfazendo a
LKC (Lei de Kirchhoff das Correntes). A cada nó, num circuito, se associa uma letra ou um número.

Na Figura 3, A, B, G e N são nós, e G e N são nós principais ou junções. Uma tensão de nó é a tensão de
um dado nó com relação a um determinado nó chamado de nó de referência, o qual é o nó onde está
representado o terra do circuito.

Assim VAG é a tensão entre os nós A e G; VBG é a tensão entre os nós B e G e VNG é a tensão entre os nós
N e G. Como o nó G é um nó de referência comum, pode-se identificar simplesmente estas tensões como
VA, VB e VN.

Figura 3 - nós num circuito com duas malhas.

O número de equações necessárias é igual ao número de nós principais (n) menos 1, isto é:

Equações necessárias = n – 1.

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Os passos necessários para se escrever as equações tendo como base a figura 3 são:

 - 1o passo: adoptar o sentido das correntes como mostrado e indicar os nós (A, B, N e G). Identificar a
polaridade da tensão em cada resistor de acordo com o sentido considerado para a corrente.

 - 2o passo: aplicar a LKC para o nó principal e resolver as equações para determinar V N.

,    (7)

 Pela Lei de Ohm, as correntes I1, I2 e I3 são facilmente encontradas por:

Substituindo-se I1, I2 e I3  em (7) encontra-se:

         (8)

4. Técnicas gerais de análise de circuitos: Teoremas de Norton e Thévenin.

O Teorema de Thèvenin permite determinar a tensão e a corrente aplicadas em um determinado bipolo de


um componente num circuito (ou parte de um circuito), sem a necessidade de se calcular outros
parâmetros (tensões e correntes) nos demais componentes, ou de se repetir todo o processo para cada
mudança de parâmetros em um componente do circuito.
Esta simplificação do circuito pode ser feita através da aplicação do Teorema de Thévenin.

Teorema de Thévenin

Qualquer circuito linear de dois terminais de saída (bipolo A e B) que tenha uma ou mais fontes de tensão
e/ou de corrente, pode ser representado (substituído, simplificado) por uma fonte de tensão real, ou seja,
por uma fonte de tensão em série com uma resistência, chamada Equivalente de Thèvenin”.

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Figura 4

RTH: é a resistência vista por trás dos terminais da carga quando todas as fontes são curto-circuitadas

Os parâmetros do Equivalente Thévenin, Tensão de Thèvenin V th e Resistência de Thèvenin Rth, devem


ser determinados da seguinte forma:
•Tensão de Thèvenin (Vth): é a tensão entre os terminais A e B do circuito quando eles estiverem em
aberto.
•Resistência de Thèvenin (Rth): é a resistência total existente entre os pontos A e B em aberto, (sem a
carga), com todas as fontes desactivadas (anuladas).
A fonte de tensão é anulada com um curto-circuito.
A fonte de corrente é anulada anulada com um circuito aberto.

Teorema de Norton

Qualquer circuito linear de dois terminais de saída (bipolo A e


B) que tenha uma ou mais fontes de tensão e/ou de corrente,
pode ser representado (substituído, simplificado) por uma
Fonte de Corrente Real, ou seja, por uma fonte de corrente em
paralelo com uma resistência, chamada Equivalente de Norton.
Figura 5

Atenção:

•A Corrente de Norton não é a corrente total do circuito;


•A Resistência de Norton (Thèvenin) não é a resistência equivalente do circuito.

Os procedimentos a serem tomados na aplicação dos dois teoremas estão resumidos no quadro:
Passo Thevenin Norton
1 Desligar a resistência de carga: circuito aberto Ligar um curto-circuito
Calcular a tensão em vazio: é a tensão de Calcular a corrente em curto-
2
Thevenin. circuito: é a corrente de Norton.
Retirar o curto-circuito na carga ;
3 Substituir as fontes pelas resitências internas. Substituir as fontes pelas resitências
internas.
Calcular a resistência em circuito aberto: é a Calcular a resistência em circuito
4
resistência de Thevenin. aberto: é a resistência de Norton.

Um equivalente Thèvenin pode ser transformado num equivalente Norton através da trasformação de
fontes de tensão reais em fontes de corrente reais e vice-versa.

Teorema da Superposição

Numa rede com duas ou mais fontes, a corrente ou a tensão para qualquer componente é a soma

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algébrica dos efeitos produzidos por cada fonte actuando independentemente."  A fim de se usar uma
fonte de cada vez, todas as outras fontes são retiradas do circuito. Ao se retirar uma fonte de
tensão, faz-se no seu lugar um curto-circuito; ao se retirar uma fonte de corrente, esta é
substituída por um circuito aberto.
Passos (veja o circuito com duas malhas ao lado):

1) Calcule as correntes produzidas somente pela fonte de tensão V 1;

2) Calcule as correntes produzidas somente pela fonte de tensão V 2; Figura 7 - Circuito com duas
3) Some algebricamente as correntes individuais para determinar as malhas (aplicação do Teorema
correntes produzidas pelas duas fontes V 1 e V2. da Superposição).
Correntes:

Teorema da Máxima Transferência de Potência

"A potência máxima é fornecida pela fonte de tensão e recebida pelo resistor de carga, se o valor
do resistor de carga for igual ao da resistência interna da fonte de tensão".
Seja o circuito de uma fonte de tensão V, cuja resistência interna é R i , mostrado a seguir:
Para a máxima transferência
de potência,  RL  Ri
A Potência que chega na carga
é:
PL  I 2 RL
Figura 6 e a corrente que circula na
malha, 
V
I
Ri  RL
V
A corrente de curto circuito (ICC) será dada por:  I cc  R ;  RL  0
i

Ponte de Wheatstone

A ponte de Wheatstone  (circuito da Figura 8) pode ser usada para se medir uma resistência
desconhecida Rx. A chave S2 aplica a tensão da bateria aos quatro resistores da ponte. Para equilibrar
a ponte, o valor de R 3 é variável. O equilíbrio ou balanceamento é

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indicado pelo valor zero lido no galvanômetro G quando a chave S 1 estiver fechada. Para a ponte
equilibrada, os pontos B e C têm o mesmo potencial. Logo,

IxRx=I1R1    (1)   e   IxR3=I1R2     (2)


Dividindo (1) por (2):
Fig.8 - Circuito da ponte de Wheatstone.
Redes

Redes em Y e em Triângulo ou Delta

A rede da Figura 9a é chamada de rede em T ou rede em Y em virtude de sua forma.


A rede da Figura 9b é c hamada de rede em π (pi) ou em Δ (delta) pela sua forma. Ao
se analisar as redes é muito útil converter o t ipo Y em Δ e vice-versa, para simplificar
a solução.

la (a) e em
Figura 9 - Rede em Estr Triângulo (b).

CONVERSÕES DE REDES 

Conversão Delta em Y :
A resistência de qualquer ramo de uma rede Y é igual ao produto dos dois lados
adjacentes da rede Δ dividido pela soma das três resistências em Δ.

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Conversão Y em Delta (Δ): A resistência de qualquer ramo de uma rede Δ é igual à
soma das resistências da rede em Y, multiplicadas duas a duas, e dividida pela
resistências do ramo oposto da rede Y.
R R  Rb Rc  Ra Rc
R1  a b
Rc
R R  Rb Rc  Ra Rc
R2  a b .
Ra
R R  Rb Rc  Ra Rc
R3  a b
Rb

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