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TEMA VII.

MÉTODOS, INSTRUMENTOS E TÉCNICAS


DE RECOLHA DE DADOS

Dra Mayda Sánchez Tabraue


SUMARIO

Técnicas de recolha da informação.


Técnicas de Auto reportem
O inquérito e a entrevista.
Outros
OBJETIVOS:
Que o estudante seja capaz de:
-Identificar e definir as diferentes técnicas de recolha de
dados e informação.
O debate acerca do papel do pesquisador e suas técnicas
de investigação prepara o terreno para a discussão das
questões envolvidas na coleta de dados. Os passos dessa
coleta incluem recolher informações através de observações
e entrevistas, documentos e materiais visuais, bem como
estabelecer protocolos para registrar e produzir informações.
Os dados são o resultado final dos processos de observação
e experimentação. Sendo assim, a coleta de dados é
um  procedimento lógico da investigação empírica que
consiste em  selecionar técnicas de recolha e tratamento da
informação adequadas, ponderando a sua utilização para
fins específicos.
No entanto, os métodos de coleta de dados, que tradicionalmente são
baseados em observações, entrevistas e documentos, agora incluem um
vasto leque de materiais, como sons, e-mails, álbum de recortes e outras
formas emergentes. Ademais, como veremos adiante neste post, as técnicas
de recolha de dados possuem conjuntos de procedimentos bem definidos,
dos mais gerais aos mais específicos, todos destinados a produzir certos
resultados na coleta e no tratamento da informação requerida pela atividade
investigativa.
1-Análise de dados: procedimentos básicos

Os procedimentos básicos de coleta na pesquisa envolvem quatro tipos:


•Seleção: Exame minucioso dos dados. Verificação crítica que tem por
finalidade detectar falhas ou erros, evitando informações confusas,
distorcidas, incompletas, que podem prejudicar o resultado da pesquisa,
como a grande quantidade de dados desordenados e as instruções mal
compreendidas;
•Codificação: Operação utilizada para classificar os dados que se
relacionam. Com a codificação, os dados são transformados em símbolos,
podendo depois ser tabelados e contados (atribuição de códigos, números
e letras);
• Tabulação: Disposição dos dados em tabelas, quadros e gráficos para
facilitar a verificação das interrelações entre eles
• Análise: Atividade intelectual que busca dar um significado amplo às
respostas, vinculando-se a outros conhecimentos e teorias. Em outras
palavras, trata-se da exposição e interpretação do significado do
material apresentado.
• É preciso ressaltar que a validação dos dados de pesquisa ocorrem em
cada um desses procedimentos básicos. São eles que vão proporcionar
a precisão e a credibilidade dos resultados de análise.
2-A tipologia dos dados

Antes de entrar em campo, os pesquisadores planejam sua coleta de dados.


A proposta deve identificar que tipo de dados o pesquisador vai registrar e os
procedimentos para registrá-los. Como vimos na exposição dos
procedimentos básicos, na interpretação de dados deveremos produzir um
resumo verbal ou numérico ou usar métodos gráficos para descrever as suas
principais características. Mas, o método mais apropriado dependerá da
natureza dos dados, em que podemos distinguir dois tipos fundamentais: os
dados qualitativos e os dados quantitativos.
•Dados qualitativos: “Os dados qualitativos representam a informação que
identifica alguma qualidade, categoria ou característica, não susceptível
de medida, mas de classificação, assumindo várias modalidades.”
(MORAIS, s/d, p. 8).
•Dados quantitativos: “Os dados quantitativos representam informação
resultante de características susceptíveis de serem medidas,
apresentando-se com diferentes intensidades, podendo ser de natureza
descontínua (ou discreta) ou contínua.” (MORAIS, s/d, p. 9).
3-Técnicas de recolha de dado
Antes de adentrarmos em cada uma das técnicas que apresentaremos
abaixo, é preciso mencionar que há adequações procedimentais quanto ao
tipo de dado, podendo ser qualitativo/quantitativo ou documental/não-
documental. Essas diferenças implicam processos distintos em uma
investigação científica.
4-Técnicas Não-Documentais

A) Observação

“A observação é sistematicamente organizada em fases, aspectos, lugares e


pessoas, relaciona-se com proposições e teorias sociais, perspectivas
científicas e explicações profundas e é submetida ao controle de veracidade,
objetividade, fiabilidade e precisão.”(AIRES, 2015, p. 25).
O método de recolha de dados por observação é um método em que o
investigador observa os participantes no seu ambiente natural ou contextos
“artificiais” criados para o efeito, como os laboratórios. É uma estratégia muito
valorizada na investigação em educação, já que nem sempre o que as pessoas
dizem que fazem é aquilo que realmente executam. Este método (ou conjunto
de métodos) pode ser utilizado quer em investigação quantitativa, quer em
investigação qualitativa, dependendo do processo utilizado:
Observação Quantitativa: Neste caso, o processo de recolha de dados é
completamente normalizado, tudo é planejadamente regularizado (quem e o
que se observa), existindo grelhas padronizadas de registro, como na
utilização de procedimentos de amostragem ou de ocorrência de
determinado comportamento. Tais procedimentos requerem uma observação
estruturada, ou seja, observação em que o observador sabe o que procura e o
que considera importante e para isso utiliza instrumentos técnicos específicos
para a recolha de dados ou dos fenômenos a observar. Estes procedimentos
são muito utilizados, por exemplo, na observação de comportamentos de
docentes e aprendizes em sala de aula.
Observação Qualitativa: Este tipo de abordagem tem um carácter mais
exploratório e aberto no ato do investigador efetuar anotações de campo, ou
seja, uma observação não-estruturada. Nesse caso, o investigador pode
assumir papeis diferentes, dependendo dos objetivos que ele pretende atingir,
podendo ser mais ou menos participante nesse contexto (participante
completo, participante-como-observador, observador-como-participante ou
completamente observador). Logo, o observador qualitativo também pode se
envolver em papéis que variam de não-participante até integralmente
participante.
De qualquer forma, o pesquisador escolhe um cenário de seu interesse, para
depois tomar notas sobre comportamentos e atividades das pessoas do
cenário escolhido, fornecendo observações múltiplas durante a realização
do seu estudo qualitativo. Para isso também é utilizado um protocolo ou
formulário para registrar as informações, que pode consistir em “uma única
página com uma linha divisória no meio para separar as notas descritivas
[…].” (CRESWELL, 2007, p. 193). Depois de executado essas duas fases, há
o tratamento dos protocolos recolhidos, que consiste “na reflexão teórica
sobre os aspectos observados, bem como na formulação de conexões entre
as diversas dimensões das realidades observadas.” (AIRES, 2015, p. 25-26).
B)Entrevista

A entrevista compreende o desenvolvimento de uma interação de


significados em que as características pessoais do entrevistador e do
entrevistado influenciam decisivamente em seu curso: “A entrevista nasce da
necessidade que o investigador tem de conhecer o sentido que os sujeitos
dão aos seus atos e o acesso a esse conhecimento profundo e complexo é
proporcionado pelos discursos enunciados pelos sujeitos.” (AIRES, 2015, p. 29).
Trata-se de um recurso delicado, em que o entrevistador tem de conseguir
criar uma atmosfera de confiança com o entrevistado, caso contrário, os
resultados obtidos vão ter pouca credibilidade. L. Aires menciona três
características básicas que podem diferenciar as entrevistas:  
“a) as entrevistas desenvolvidas entre duas pessoas ou com um grupo;

b) as entrevistas que abarcam um amplo conjunto de temas (biográficas)


ou que incide em um só tema (monotemáticas); 

c) as entrevistas que se diferenciam consoante o maior ou menor grau de


predeterminação ou de estruturação das questões abordadas.” (AIRES,
2015, p. 28).
Nessa última característica incide o fato de a entrevista poder ser atrelada a
um método quantitativo ou qualitativo:
Entrevistas Quantitativas: São entrevistas padronizadas ou estruturadas, que
usam questões fechadas em que o entrevistado tem um protocolo de
entrevista que é aplicado a todos os participantes. Nesse caso, o protocolo
de entrevista é muito semelhante a um questionário, sendo que a principal
diferença é que as questões são lidas pelo entrevistador (típico nas
entrevistas presenciais ou telefônicas).
 
Entrevista Qualitativa: São entrevistas baseadas em perguntas abertas,
podendo estas dividirem-se em 3 tipos: conversação informal (mais ou
menos estruturada), guia de entrevista/semi-estruturada (inclui um
protocolo, que não tem de ser aplicado de forma ordenada), aberta
padronizada, em que a formulação das questões pode ser alterada,
bastando para tanto que se extraia as visões e as opiniões dos participantes.
Ou seja, não se trata de um simples registro de falas já que “o papel do
entrevistador deve ser reflexivo, pois a renegociação permanente das regras
implícitas ao longo da interacção conduz à produção de um discurso
polifónico.” (AIRES, 2015, p. 32).
O protocolo de entrevista pode incluir os seguintes componentes  básicos:
“cabeçalho, instruções iniciais para o entrevistador, as principais questões
de pesquisa, instruções para aprofundar as principais perguntas, questões
alternativas para o entrevistador, espaço para registrar os comentários  e
espaço no qual o pesquisador registra notas reflexivas.” (CRESWELL, 2007, p.
194)
C) Questionário
O questionário, um dos métodos mais usados na área dos estudos
educacionais, é um instrumento de recolha de dados por meio de um
numero limitado de perguntas que são autopreenchidas pelos
participantes. Como muitas questões são mais abstratas e não podem ser
respondidas binariamente, ou seja, por meio de sim e não, foi construída
as escalas de Linkert, em que o sujeito pesquisado pode responder
levando em conta os critérios objetivos e subjetivos dos questionamentos
realizados. Normalmente, o que se deseja medir é o nível de
concordância ou não concordância à afirmação. O formato típico das
escalas de Likert é constituído por 5 níveis: 
1.Não concordo totalmente
2.Não concordo parcialmente
3.Indiferente
4.Concordo parcialmente
5.Concordo totalmente
D)Testes

Esta técnica de recolha de dados está relacionada com a investigação


quantitativa, uma vez que os objetivos deste tipo de investigação se
concentram principalmente com a “testagem” de hipóteses e de correlações
estatísticas e causais entre fatos. É considerada uma técnica poderosa, visto
que existem inúmeros testes validados, de domínio público, que permitem a
recolha de dados numéricos. O recurso a esta técnica incluem testes, cujas
características apresentam pontos em comum, nomeadamente as medidas
padronizadas, como nos testes de aptidão e de personalidade.
E) Estudo de Caso
O estudo de caso é um dos mais relevantes métodos de pesquisa qualitativa.
Este recurso consiste em uma pesquisa sobre um determinado indivíduo,
família, grupo ou comunidade que seja representativo de um determinado
espaço e tempo, com o intuito de examinar aspectos variados da vida. Essa
modalidade pode ser dividida em várias etapas como: formulação do
problema, definição da unidade-caso, determinação do número de casos,
elaboração do protocolo, coleta de dados, avaliação e análise dos dados e
preparação do relatório. Com relação à coleta de dados, o método de estudo
de caso pode ser considerado o mais completo dentre todos os outros, pois se
vale tanto de dados de pessoas quanto de dados documentais. Assim, são
inúmeros os estudos que podem ser classificados sob essa técnica.
5-Técnicas Documentais
Segundo L. Aires, podemos levantar dois tipos de documentos a serem
pesquisados para a recolha de dados: os documentos oficiais e os
documentos pessoais. Os documentos oficiais proporcionam “informação
sobre as organizações, a aplicação da autoridade, o poder das instituições
educativas, estilos de liderança, forma de comunicação com os diferentes
actores da comunidade educativa, etc. Já os documentos pessoais integram
as narrações produzidas pelos sujeitos que descrevem as suas próprias
acções, experiências, crenças, etc.” (AIRES, 2015, p. 42).
A)História de Vida
A história de vida é um tipo de relato que apresenta um carácter geral e é
suscitada pelo investigador para fazer “uma análise da realidade vivida pelos
sujeitos, conhecer a cultura de um grupo humano ou compreender aspectos
básicos do comportamento humano e das instituições.” (AIRES, 2015, p. 41). As
fases mais importantes de análise da informação são: “1) depois de produzidos
e registados, os relatos são transcritos e analisados; 2) através da leitura do
documento, o protagonista corrige, completa e interpreta a sua narrativa sob a
orientação do investigador e a seguir, auto-critica-a.” (AIRES, 2015, p. 41-42).
B)Material Audiovisual

Técnica denominada Photovoice, por exemplo, envolve um processo que


utiliza imagens fotográficas captadas pelos participantes da investigação de
pessoas com baixo poder sócio-econômico, em que se procura avaliar as
necessidades de uma comunidade e induzir a mudança por meio da
veiculação da informação aos responsáveis políticos. Por meio da
documentação sobre o próprio mundo dos participantes torna-se possível
discutir criticamente com os responsáveis políticos as imagens produzidas
pelos participantes, e estes podem assim lançar bases para uma mudança
social.
O método Photovoice tem como premissa teórica os pilares da fotografia
documental baseada na comunidade, sobretudo no que se refere à voz e à
participação dos vulneráveis. Para mais informações sobre esta técnica
acesse https://photovoice.org/

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