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Faculdade de Engenharia

Departamento de Engenharia Electrotécnica

Medidas Eléctricas II

FICHA 6 (Teórica)

TRANSDUTORES ELÉCTRICOS: PIEZOELÉCTRICOS E RELÉS

3º Ano de Engª Eléctrotécnica - 2016

1 Elaborado pelo Engº Luís C. Massango


*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
1. Introdução
Para além dos transdutores já estudados, merece destaque outro tipo, cuja sua aplicação na
indústia de automação é bastante indispensável: o transdutor piezoeléctrico.

Trataremos ainda nesta ficha, um dos mais antigos transdutores da história: o relé. O relé,
mesmo tendo ganho novo aspecto em termos de construção, mostra-se relevante pelo que seu
uso continua nos projectos de engenharia.

1.1 Piezoeletricidade

Existem materiais, denominados piezoelétricos, que, quando submetidos a uma deformação


mecânica, geram cargas elétricas que aparecem em suas faces, como mostra a figura 1.

Figura 1.1 – Electricidade a partir da deformação mecânica.

Da mesma forma, se esses materiais forem submetidos a uma tensão elétrica, eles sofrem uma
deformação mecânica, ou seja, podem curvar-se, alongar-se ou mudar sua espessura, conforme
ilustra a figura 2.

Figura 1. 2 – Deformação mecânica a partir da electricidade.

O cristal de quartzo é um material que apresenta essas propriedades, podendo ser usado, por
esse motivo, para gerar sinais elétricos de frequência fixa. De fato, se um cristal de quartzo for
excitado eletricamente, ele tende a vibrar numa única frequência, de forma precisa, dada pelas
suas dimensões e o formato em que ele é cortado.

Na maoria dos casos, os cristais são usados para controlar a frequência de osciladores em
relógios, transmissores, computadores, instrumentos eletrônicos, de modo a se obter um sinal
preciso.

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
Figura 1.3 – Aplicação dos cristais.

2. Transdução Piezoeléctrica
Sendo que a geração da electricidade é possível em resposta a uma pressão mecânica, os
transdutores piezoeléctricos são utilizados na medida de forças, pressões e acelerações variáveis
no tempo, até um limite de frequência de aproximadamente 100 kHz. Estes transdutores têm o
seu princípio de funcionamento baseado no efeito piezoeléctrico existente em determinados
materiais (ex:cristais) que se polarizam electricamente quando são submetidos a esforços
mecânicos, conforme já visto. As duas principais desvantagens dos transdutores piezoeléctricos
estão associadas ao facto de não poderem ser utilizados na medida de grandezas estáticas e de
serem difíceis de calibrar.

Representa-se na figura 2.1 o esquema eléctrico equivalente de um transdutor piezoeléctrico na


medida de força (F), onde Rq corresponde à resistência interna e Cq à capacidade interna do
cristal.

Figura 2.1 - Esquema eléctrico equivalente de um transdutor piezoeléctrico.

No circuito, a fonte de corrente produz uma corrente proporcional à taxa de variação temporal
da grandeza a medir (F), dada por:

onde “ k ” representa a sensibilidade do transdutor e “ dQ/dt ” a taxa de variação temporal da


carga associada à corrente I.

Aplicando a lei de Ohm ao circuito anterior é possível obter:

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
Admitindo que a força a medir é um escalão de amplitude igual a F0, e assumindo condições
iniciais nulas (Cq descarregado no instante t=0), a solução da equação 2.2 é dada por:

onde u(t) representa a função escalão de amplitude unitária e o produto Rq.Cq representa a
constante de tempo do cristal.

No caso de se utilizar o circuito de medida representado na Figura 2.2 para um transdutor


piezoeléctrico, teríamos dois problemas complicados para resolver:

 A resistência interna do voltímetro afectaria significativamente o resultado da medida


pois Rq é da ordem de 1012 Ω, e a aproximação RV>>Rq nunca seria válida;
 Como a constante de tempo do cristal (Rq.Cq) pode ser da ordem das dezenas de
segundo, o tempo de medida poderia ser muito reduzido visto, que nas condições
anteriores (equação 2.3), a tensão U0(t) decai exponencialmente com o tempo.

Figura 2.2 - Circuito de medida para um transdutor utilizando um voltímetro.

Uma das possibilidades de ultrapassar parcialmente os problemas referidos consiste em efectuar


a interligação do voltímetro através de um amplificador operacional (ver Figura 2.3).

Figura 2.3 - Circuito de medida do transdutor piezoeléctrico utilizando um

AMPOP na interligação do voltímetro.


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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
Neste caso as limitações devidas ao valor finito da resistência interna do voltímetro (R V) são
minimizadas desde que a resistência de entrada do AMPOP seja suficientemente elevada em
relação a Rq. É portanto conveniente a utilização de AMPOP’s com valores reduzidos de
correntes de polarização que têm geralmente transístores J-FET no andar de entrada, em lugar de
transístores bipolares.

Se considerarmos as mesma condições de variação da grandeza a medir (F), a tensão U0(t) é


neste caso dada por:

Ainda que o efeito da resistência interna do voltímetro tenha desaparecido, o decréscimo


exponencial da tensão U0(t) leva a que o circuito anterior tenha pouco interesse prático, sendo o
amplificador de carga, representado na Figura 2.4, o circuito de medida mais utilizado para
transdutores piezoeléctricos.

Figura 2.4- Circuito de medida com base num amplificador de carga para um

transdutor piezoeléctrico.

O valor da capacidade total (CT) resulta da associação em paralelo da capacidade do cristal (Cq),
da capacidade do cabo de interligação (CC) e da capacidade de entrada do próprio AMPOP
(CA), sendo o seu valor dado por:

O valor da resistência total (RT) resulta da associação em paralelo da resistência do cristal (Rq),
da resistência de fugas do cabo de interligação (RC) e da resistência de entrada do próprio
AMPOP (RA), sendo o seu valor dado por:

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
Para que a influência do cabo de interligação e do AMPOP sejam desprezáveis, a interligação do
transdutor deve ser feita com cabos de boa qualidade, geralmente coaxiais, ou em alternativa o
AMPOP deve ser integrado com o próprio transdutor e deverá possuir elevada impedância de
entrada (elevado valor de RA e baixo valor de CA).
Analisando o circuito da Figura 2.4 é possível obter a sua resposta a uma escalão de amplitude F0
cujo valor é dado por:

A tensão de saída tende a ser constante quando Rf tende para infinito (integrador ideal). Nestas
condições, os transdutores piezoeléctricos podem ser utilizados para medir grandezas de variação
lenta no tempo. Representa-se na figura 2.5 as respostas dos circuitos de medida das Figuras 2.3
e 2.4 a um escalão de amplitude F0.

Figura 2.5 - Diagrama temporal das respostas dos circuitos de medidas das Figuras 2.3
e 2.4 a um sinal de entrada com variação em escalão de amplitude F0: (a) sinal de
entrada; (b) resposta do circuito da Figura 2.3; (c) resposta do circuito da Figura 2.4
(Rf=∞).

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
3. Relés
Tendo surgido em torno do século XIX, o Relé é um dispositivo comutador eletromecânico,
formado por um magneto móvel, que se desloca unindo dois contatos metálicos.

Os relés ainda são aplicados na movimentação e proteção contra abertura de portas


nos elevadoresde nossos prédios, estão presentes nos processos de tratamento de água que
bebemos, nos processos de fabricação de alimentos, pães, biscoitos que consumimos. Onde quer
que estejamos tem sempre um relé trabalhando para que algo funcione para nos servir.
São largamente utilizados na linha de montagem de nossos carros, nas linhas de produção das
peças que os compõe, sendo encontrados ainda nos carros movidos a eletricidade, etc.
Conforme a figura 3.1, as partes que compõem um relé eletromecânico são:

Figura 3.1 - Partes que compõem um relé.

 Eletroíman (bobina) - constituído por fio de cobre em torno de um núcleo de ferro macio
que fornece um caminho de baixa relutância para o fluxo magnético;
 Armadura de ferro móvel;
 Conjuntos de contatos;
 Mola de rearme;
 Terminais para conexão - estes podem variar dependendo da aplicação, para Bases (Sockets)
e PCI (Placas de circuito impresso).

3.1 Funcionamento dos Relês


Podemos considerar o funcionamento dos Relés bem simples, eles trabalham da seguinte forma:

 Quando uma corrente circula pela bobina, esta cria um campo magnético que atrai um
ou uma série de contatos fechando ou abrindo circuitos;

 Ao cessar a corrente da bobina o campo magnético também cessa, fazendo com que os
contatos voltem para a posição original.

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
Figura 3.2 - Representação de um relê.

A figura 3.2 ilustra-nos que nas proximidades de um electroíman é instalada uma armadura móvel
que tem por finalidade abrir ou fechar um jogo de contactos. E quando a bobina é percorrida por
uma corrente eléctrica, é criado um campo magnético que actua sobre a armadura, atraindo-a.

Contudo, uma representação mais simbolica pode ser vista a partir da figura 3.3:

Figura 3.3 – Esquema eléctrico do um relê.

Nos referimos ao facto dos relés poderem apresentar um mecanismo de accionamento constituido
por mais de um contacto, e a figura 2.4 procura mostrar a forma como este conjunto pode ser
accionado eléctro-mecanicamente.

Figura 3.4 – Mecanismos de accionamento dos relés.

Na atracção que se verifica, ocorre um movimento que activa os contactos, os quais podem ser
abertos, fechados ou comutados, dependendo da sua posição.

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
Isso significa que, através de uma corrente de controlo aplicada à bobina de um relé, podem-se
abrir, fechar ou comutar os contactos de uma determinada forma, controlando assim as correntes
que circulam por circuitos externos.

Assim, os relés podem ter diversas configurações quanto aos seus contatos: podem ter contactos
NA (normalmente aberto), NF (normalmente fechado) ou ambos, neste caso com um contato
comum ou central (C).

Os contatos NA são os que estão abertos enquanto a bobina não está energizada e que fecham,
quando a bobina recebe corrente.

Figura 3.5 – Contatos NA.

Em quanto que os NF abrem-se quando a bobina recebe corrente, ao contrário dos NA.

Figura 3.6 – Contatos NF.

Quando os contatos são NA e NF simultaneamente, o elemento central(C) é o comum, ou seja,


quando o contato NA fecha é com o C que se estabelece a condução, ocorrendo o contrário com o
NF.

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
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Figura 3.7 – Contatos NF.

Quando a corrente deixa de circular pela bobina do relé, o campo magnético criado desaparece e,
com isso, a armadura volta à sua posição inicial pela acção da mola.

 Os relés dizem-se energizados quando estão a ser percorridos por uma corrente na bobina
capaz de activar os seus contactos; e
 Dizem-se desenergizados quando não há corrente a circular pela bobina.

Uma aplicação mais imediata de um relé com contacto simples pode ser analisada a partir da
figura 3.8, que representa o controlador de rotações.

É que na realidade, em muitos projectos de tecnologia é necessário para controlar a rotação em


ambos os sentidos, um pequeno motor elétrico dc.

Tal controle pode ser feito com uma chave ou por um interruptor duplo cruzado, mas também
podemos fazê-lo com um relé. Onde a bobina do relé é ligado à bateria por meio de um botão
NO (normalmente aberto) que designamos com a letra “P”.

Figura 3.8 – Rotação no sentido anti-horário.

O motor está conectado aos contatos fixos do relé como se fosse um interruptor duplo. Os dois
pólos do relé estão conectados ao terminal de bateria:

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.
 Nesta situação, a corrente do motor vai chegar ao terminal direito se formos à esquerda.
Isso fará o motor girar no sentido anti-horário (figura. 3.8).

 Ao pressionar o botão P (figura. 3.9), estaremos a dar um poder para a bobina do relé,
tornando-se os contatos móveis mudar de posição, que a corrente atinge o motor deixou
o terminal e você faz venda de Recho girando no sentido horário.

Figura 3.9 – Rotação no sentido horário.

FIM

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*função degrau, função descontínua com valor zero quando o seu argumento é negativo e valor unitário quando o
argumento é positivo.

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