no estilo coloquial e “frammentista” de um descendente dos “crepuscolari”,
constituem um monumento da indiferença da alma popular em plena
guerra. Em última análise, essa guerra parecia absurda; e absurdas serão as suas conseqüências. Assim as descreverá o eminente crítico literário Borgese103, no romance Rubé: um intelectual pequeno-burguês, que tremeu de medo na trincheira, começou depois a gostar da vida moralmente menos disciplinada dos militares; desmobilizado em 1918, já era incapaz de reincorporar-se na vida civil; morreu num motim de rua, luta política para a qual não o levou nenhuma convicção ideológica. É o absurdo perfeito; é presságio das atitudes do fascismo. O pendant humorístico, genialmente humorístico, é o “soldado Švejk”, de Hašek104: o soldado checo, o antiherói, forçado a servir no exército austríaco contra os irmãos eslavos, ilude os oficiais, fingindo-se idiota; e como idiota pode dizer, com a cara mais ingênua, verdades subversivas, enquanto pagando a franqueza pela humilhação sem vergonha. É a epopéia picaresca da guerra e uma das grandes obras satíricas da literatura universal, muito lida mas ainda não bastante apreciada. Enfim, venceram a indignação e a revolta aberta, da qual o grande documento é Le Feu, de Barbusse105. Em geral, essa obra emocionante costuma ser interpretada à luz das convicções ideológicas, comunistas, que Barbusse adotou mais tarde; mas o ponto de partida da 103 Giuseppe Antonio Borgese, 1882-1952. Rubé (1921); – Storia della critica romantica in Italia (1920). E. Roditi: “G. A. Borgese”. (In: Sewanee Review, L., 1942.) 104 Jaroslav Hašek, 1882-1923. As aventuras do soldado Švejk (1920). Obras completas, 20 vols. Praha, 1955. E. A. Langen: Joroslav Hašec. Praha, 1928. P. Selver: Introdução da tradução inglesa de The Good Soldier Švejk. London, 1930. Zd. Ancik: Joroslav Hašek. Praha, 1961. S. Vostokova: Joroslav Hašek. Moscou, 1964. 105 Henri Barbusse, 1873-1935. L’Enfer (1908); Le Feu. Journal d’une escouade (1916); Clarté (1919), etc. H. Hertz: Henri Barbusse. Son oeuvre. Paris, 1919. L. Spitzer: Studien zu Henri Barbusse. Bonn, 1920. J. Duclos e J. Fréville: Henri Barbusse. Paris, 1946. 2532 Otto Maria Carpeaux interpretação só pode ser o estilo do qual Barbusse se serviu: o mesmo estilo em que escreveu seu primeiro grande romance, L’Enfer, e que também adotou em Le Feu: o naturalismo. Barbusse é, com efeito, um dos últimos discípulos de Zola, e um dos mais fiéis. Mas o seu naturalismo não é exatamente o do mestre; passou pela fase do populismo; em L’Enfer sente-se a vizinhança de Charles-Louis Philippe. O unanimismo tampouco deixou de influenciá-lo, o que ainda se revelou em Clarté, no romance desse título, e no homônimo movimento pacifista do pós-guerra imediato; só depois veio a fase comunista. Barbusse sempre revelou mais emoção do que a doutrina naturalista permitia, emoção diferente da ênfase hugoniana de Zola: a sua também é patética, mas sombria. Em Le Feu, essa emoção explodiu; é uma grande obra lírica; e é significativo fato que o único grande romance de guerra, que foi escrito durante a própria guerra, é um romance lírico. O lirismo constitui a força e a limitação das poucas grandes obras escritas durante a guerra; quase só poesia lírica em formas tradicionais, apesar da mentalidade de revolta. Jean-Marc Bernard106 formara-se em tradições poéticas francesas; fora “fantaisiste” e poeta anacreôntico em Sub Tegmine Fagi, antes de a trincheira lhe arrancar o grito de De Profundis. No desespero, Bernard lembra os seus companheiros de geração do outro lado do canal da Mancha, os poetas “georgianos”; estes, porém, tinham que abandonar as suas tradições, procurando outras, para exprimir as experiências inesperadas. Assim o jovem Isaac Rosenberg107, que morreu em Flandres nos últimos dias da guerra; seu realismo poético, já não “georgiano”, justificava as maiores esperanças. A