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FACULDADE DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE

TANGARÁ DA SERRA

Componente Curricular: Psicologia e Políticas Públicas II


Docente: Sebastian Ramos
Discente: Alessandra Pereira da Silva

A sociedade individualizada – Zygmunt Bauman

As coisas são ordenadas se elas se comportam como você espera, não podendo levar em
conta no planejamento de ações. Elas estão em ordem se não se preocupa com a ordem das
coisas. Quando começa a se pensar na ordem, descobre-se que sente falta de uma distribuição
de probabilidades clara e legível. É a aparente falta de qualquer vínculo entre o que você faz e
o que acontece com você, entre o “fazer” e o “sofrer”, que torna o caos odioso, repugnante e
aterrador. Qualquer tentativa de tentar colocar as coisas em ordem fica reduzida a manipular
as probabilidades dos eventos.
A manipulação das probabilidades, e assim a conjuração da ordem a partir do caos, é o
milagre realizado todos os dias pela cultura. A cultura manipula as probabilidades dos eventos
por meio da atividade de diferenciação. É a atividade de fazer distinções, classificar, segregar
e marcar fronteiras.
Por causa de conexões insípidas, porém íntimas, com o estado da incerteza, a
“impureza” das classificações, a nebulosidade e a porosidade das fronteiras são fontes
constantes de medo e agressividade inseparáveis dos esforços de criar e manter a ordem. A
dominação é alcançada ao remover as regras que impediam nossa própria liberdade de
escolha, enquanto se impõe o máximo de restrições possível sobre a conduta de todos os
demais. Quanto menos liberdade de escolha tenho, mais fracas são minhas chances na luta
pelo poder.
Os conceitos de ordem se diferenciam de várias maneiras. A ordem para pessoas no
poder, parece estranhamente o caos para as pessoas quem elas comandam. A nova desordem
mundial chamada de globalização tem um efeito revolucionário, a desvalorização da ordem.
No mundo que se globaliza, a ordem se transforma no índice de falta de poder e subordinação.
A nova hierarquia de poder está marcada, no topo, pela capacidade de se mover com rapidez e
sem aviso. Fuga e evasão, leveza e volatilidade, estas características substituíram a presença
pesada e ameaçadora como técnica principal de dominação.
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O caos deixou de ser o inimigo número um da racionalidade, civilização, da civilização


racional e da racionalidade civilizada. O tempo e o espaço têm sido alocados de maneira
distinta nos degraus da escada ao poder global. Aqueles que podem se dar ao luxo vivem
apenas no tempo. Os que não podem vivem no espaço. Para os primeiros, o espaço não
importa. O segundo grupo luta para fazer com que o espaço importe.
Quando dizemos que coisas ou situações são ambivalentes, desejamos dizer que não
podemos estar certos do que vai acontecer nem saber como nos comportar, tampouco prever
resultado de nossas ações. No fenômeno da ambivalência, as dúvidas da razão e a indecisão
da vontade encontram-se e se misturam.
O mundo é sólido como uma rocha e não inspira dúvidas quando se trata de ações
habituais, rotineiras. Consideramos o mundo turvo quando ações rotineiras falham e não
podemos mais nos apoiar no corrimão do hábito. Quanto menos posso fazer e quanto menos
posso querer, mais diretos são os fatos da vida. A capacidade e o desejo podem se misturar em
uma firme resolução de atuar, mas muitas vezes não se superpõem. A ambivalência é o
primeiro sinal de falta de ajuste entre eles.
Na articulação de Freud, a ordem é, uma espécie de compulsão de repetir que um
regulamento, quando é estabelecido para sempre, decide quando, onde e como algo deve ser
feito, de modo que em circunstâncias similares somos poupados da hesitação e da indecisão.
O segredo da libertação individual está no poder coercitivo da lei estabelecida
societariamente. Ser livre significa querer o que se pode, desejar fazer o que se deve e nunca
desejar o que não se pode obter. Um indivíduo adequadamente socializado é aquele que não
experimenta a discrepância nem o conflito entre desejos e capacidades, sem querer fazer o que
não pode fazer, mas querendo fazer o que deve fazer.
Como tantos outros aspectos da sociedade contemporânea, os perigos da ambivalência
sofreram um processo de desregulamentação, e a tarefa de lidar com os resultados foram
privatizados. A ambivalência pode ser um fenômeno social, mas cada um de nós o enfrenta
sozinho, como um problema pessoal. Somos – a maioria de nós – livres para aproveitar nossa
liberdade, mas não para evitar as consequências desse desfrute.
Muitos indícios característicos da vida contemporânea contribuem para um sentimento
esmagador de incerteza, para uma visão do futuro do mundo como tal e do mundo privado, o
mundo próximo, como incontrolável e aterrorizante.
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Tudo pode acontecer e tudo pode ser feito, mas nada pode ser feito apenas uma única
vez e durar para sempre, e seja lá o que for que aconteça, chega sem anunciar e vai embora
sem avisar. Neste mundo, os laços são segmentados, as identidades, em máscaras usadas
sucessivamente, a história de vida, em uma série de episódios que perduram apenas na
igualmente efêmera memória. E assim, há pouco no mundo que possamos considerar sólido e
confiável, nada que lembre um tecido rústico no qual possamos tecer nosso próprio itinerário
de vida.
A humanidade contemporânea fala por meio de muitas vozes e sabemos que continuará
a fazer isso por um longo tempo. A questão central é como reforjar essa polifonia em
harmonia e impedir que se degenere em uma cacofonia. O medo de estrangeiros, a militância
tribal e a política de exclusão se originam na polarização da liberdade e da segurança. Isso
ocorre porque, para vastos setores da população, essa polarização significa impotência e
insegurança crescentes, que impedem na prática o que o novo individualismo saúda na teoria
e prometer entregar mas falha: a genuína e radical liberdade de auto constituição e
autoafirmação.

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