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Unidade 10 – 11º Economia

10.1 A Necessidade e diversidade das relações internacionais

Só existe comércio quando ambos os intervenientes beneficiam com a troca de bens ou


serviços

Os países não são auto-suficientes, precisando de efectuar transacções


comerciais com outros países, para que assim possam dispor dos bens e
serviços que não produzem ou para os quais não têm vantagem em
produzir, aumentando deste modo o bem-estar dos seus cidadãos.
Comércio interno e externo
• O comércio externo designa todas as transacções (compra e vendas)
de bens e de serviços entre um país e os restantes, isto é realiza-se
entre unidades residentes e não residentes no país1.
• O comércio externo efectua-se entre países, enquanto o comércio
interno tem lugar dentro de um país envolvendo apenas agentes
económicos residentes nesse país.
• O comércio externo não envolve só a compra e a venda de bens de
serviços entre unidades residentes no país e não residentes, envolve
também os movimentos de capitais. Os empréstimos, os investimentos directos
e em carteira são exemplos de movimentos de capitais.
• O comércio externo possibilita a troca de bens e de serviços entre
países e regiões. Desta forma, as produções em excesso numa região
exportadas para outras e importados os bens produzidos em
quantidades insuficientes ou em falta
• O comércio externo permite aumentar a variedade de bens e de serviços
disponíveis em cada país e aumentar a quantidade produzida por cada
país. Consequentemente, o valor do produto aumenta com o comércio
externo. Este aumento poderá proporcionar o aumento do bem-estar da
generalidade da população

Divisão internacional do Trabalho

A necessidade de comércio internacional deriva dos países serem


diferentes: a nível geográfico, a nível de capital físico e humano, a nível de
clima … etc. Estas diferenças levam a que os países e as regiões tenham
tendência a especializar-se na produção de certo tipo de bens e serviços

Por exemplo, não é possível em Portugal continental fazer plantações de abacaxi, pois o
clima inviabiliza o seu cultivo. Poderia colocar-se a questão da sua produção em estufas, mas
será que esta corresponde à melhor aplicação a dar a esse solo? Será que conseguiríamos
cultivar abacaxis a preços idênticos aos praticados por outros países com clima tropical?

Os países, tal como as pessoas, apresentam características próprias, uma determinada localização
geográfica, um clima, um conjunto de recursos naturais e uma população. Estes aspectos, conjugados
entre si, propiciam níveis de produção mais elevados para certos uns e/ou para a prestação de certos
serviços. Assim como facilitam produção de certos bens, impedem ou dificultam a produção de certos
bens, o que conduz à produção em grandes quantidades de um em e à escassez de outros.

1 Ver critério de residência Unidade 9

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Os países especializam-se na produção de alguns bens, conseguindo produzi-los a preços mais baixos
em termos absolutos ou relativos do que outros países. O que acontece com os países, verifica-se com
as regiões de um país e com cada um de nós, obrigando à compra e à venda dos mais variados bens e
serviços a fim de garantir a continuidade dos processos produtivos e perpetuar a sobrevivência das
sociedades. Este processo de especialização produtiva é baseado numa divisão internacional do
trabalho.

A divisão internacional do trabalho consiste em cada país especializar-se


na produção de alguns bens e/ou prestação de alguns serviços e obter os
outros no mercado externo.

O comércio externo existe porque:


• A produção dos diferentes bens e serviços exige diferentes recursos, os
quais não existem em todos os países, inviabilizando a sua obtenção. Os
recursos estão distribuídos de forma desigual pelos países, condicionando o tipo de bens
a produzir;Por exemplo, o clima do nosso país não é favorável produção
de abacaxi, já a Costa Rica apresenta as melhores condições
climatéricas para o fazer
• As diferenças mundiais na distribuição dos recursos. Os recursos
naturais não são distribuídos de forma igual pelo planeta; por exemplo,
uns países têm petróleo, outros não, uns têm recursos marítimos e
outros não
• Os diferentes graus de especialização dos países. Estes diferentes
graus de especialização podem estar relacionados, por exemplo, com a
formação da sua população activa ou com a inovação tecnológica. Estes
factores influenciam fortemente o tipo de produções em que o país
apresenta maiores vantagens em especializar-se.
• a mobilidade/ deslocação dos factores de produção é reduzida: a
mobilidade/«deslocação dos factores de produção é bastante diferente
entre si; se é possível, em certos casos, falarmos da mobilidade da mão-
de-obra, o mesmo não acontece com as características do solo e com as
riquezas do subsolo. A impossibilidade de deslocar o factor recursos
naturais de uma região para outra, limita a capacidade de produção de
certos bens ou de prestação de certos serviços em determinadas zonas
do planeta.
• As economias de escala – A especialização da produção leva a
economias de escala

T2 Benefícios e tipos de comércio (75)

As trocas entre Estados podem dizer respeito a transacções de bens e


serviços, a deslocações de pessoas e a movimentos de capitais.

No primeiro caso, os países importam e exportam - sendo que as importações permitem ao


consumidor nacional ter acesso a maior número e diversidade de produtos, e as exportações
permitem ao produtor nacional ter acesso a mercados mais vastos e diversificados,
possibilitando-lhe a formação de excedentes mais amplos do que aqueles que lhe seriam
possíveis na dimensão mais confinada do mercado interno.

Quanto às deslocações de pessoas, elas respeitam aos movimentos


migratórios, geralmente feitas por razões económicas.

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Muitas das vantagens que podem alcançar-se com o comércio internacional
de bens e serviços podem ser alcançados também, e ainda
complementadas, pela liberdade de circulação de trabalhadores: tanto
fazendo com que os produtos cheguem àqueles que deles mais necessitam,
e que lhes atribuem, por isso, maior valor, como fazendo com que os
trabalhadores se desloquem para onde são mais necessários, e onde os
esperam, também por isso, as mais elevadas remunerações.

Os movimentos de capitais permitem que haja investimento, poupança,


financiamentos que transcendem as fronteiras nacionais, que a própria
titularidade de recursos produtivos, ou a assunção dos riscos inerentes às
iniciativas empresariais, seja internacionalmente partilhada. De uma forma
extremamente simplificada, dir-se-á que a liberdade de movimentos de
capitais faz pelos capitalistas «lato sensu» bancos, investidores,
especuladores bolsistas, empresas multinacionais - o que a liberdade de
circulação faz pelos trabalhadores, permite que eles se dirijam, com o
mínimo de atritos e de ineficiências, para os seus empregos mais rendosos,
para aqueles pontos dos mercados de factores em que as respectivas
remunerações são mais elevadas o que de novo equivale a dizer onde eles
são mais necessários.

Exemplo sobre as vantagens comparativas, páginas 76 e 77


Para compreender a teoria das vantagens comparativas consideremos dois
países, Portugal e França2:
• cada um produz o mesmo bem, tractores;
• os dois países utilizam a mesma moeda - o euro;
• o mercado de tractores nos dois países é representado pelas curvas da
procura e da oferta;
• o preço do tractor no mercado externo é estabelecido entre os dois
países, garantindo o equilíbrio global do mercado para um preço de 15
000€.

Da observação de F1, página 77, verificamos que o preço de equilíbrio em


Portugal é inferior ao preço de equilíbrio em França. Tal facto possibilita ao
nosso país exportar para França 100 tractores ao preço de 15 000€, valor
inferior ao estipulado pelo preço de equilíbrio em França, 20 000€ por
tractor.

O preço no mercado mundial assegura o equilíbrio global para os 15 000€.


Para este preço, a quantidade exportada por Portugal, 100 tractores, é igual
à quantidade importada pela França.

2 Ver F11, página 77

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A existência de comércio externo possibilita ganhos a ambos os países. O
ganho para Portugal resulta do aumento da produção, através da venda no
mercado externo de 100 tractores, a um preço superior ao obtido
internamente (15 000€ em vez de 10 000€ por tractor internamente). Afinal,
Portugal vendeu mais do que a procura interna, isto é, passou de 100 para
200 tractores anuais (100 tractores no mercado interno e mais 100
tractores no mercado externo).

A França pode comprar uma maior quantidade do bem a um preço mais


baixo do que alcançaria no ponto de equilíbrio, isto é, passou de 200 para
300 tractores a um preço de 15 000€.

A partir do exemplo anterior é possível verificar que o comércio externo


proporciona ganhos aos países intervenientes, mas um dos países surge
como exportador e outro como importador. Neste último caso,
consideramos que o nosso país apresenta uma vantagem absoluta, isto é,
a conjugação dos factores recursos naturais, capital e trabalho permitem a
Portugal produzir cada tractor a um preço inferior ao produtor francês.

Diz-se que um país é possuidor de uma vantagem absoluta na produção


de um bem, quando a sua produtividade é maior e é menor o custo de
produção.
Consultando as estatísticas do comércio externo português, verificamos que Portugal surge como
exportador e importador dos mais variados bens. Portugal só exportará produtos em que apresenta
maior capacidade de produção do que os seus parceiros comerciais, isto é, quando Portugal recebe
turistas brasileiros, presta esse serviço preço inferior ao prestado pelo Brasil? Não. Como é possível,
nestas circunstâncias, existir comércio externo?

T5 Vantagem absoluta (77)

Utiliza-se a expressão vantagem absoluta para comparar a produção de


duas pessoas, empresas ou nações. Se um produtor necessita de menores
quantidades de matérias-primas, de trabalho e de capital para produzir um
bem, tem uma vantagem absoluta na produção desse bem. Por exemplo, o
agricultor necessita de 10 horas para produzir um quilograma de arroz, enquanto o pescador
necessita de 15 horas. Então, o agricultor tem uma vantagem absoluta perante o pescador.

Exemplo de vantagens absolutas e vantagens relativas

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Vejamos o seguinte exemplo: Portugal e o Reino Unido produzem ambos batatas e
tecidos. O custo de produção dos bens em cada um dos países é representado
apenas pelo número de horas de trabalho, tal como se apresenta em Q1, página 78
Q1 – número de horas de trabalho necessárias para produzir (78)
Portugal Reino Unido

1 kg de batata 60 80

1 metro de tecido 70 90

Preços Custo batata /custo tecido = 60/70 = 0,86 = 80/110 = 0,73


relativo
s Custo tecido / custo batata = 70/60 = 1.17 = 110/80 = 1,38

Verificamos que a produção quer de batata quer de tecido é mais barata em


Portugal do que no Reino Unido; Portugal apresenta vantagens absolutas na
produção dos dois bens. Comecemos por calcular os preços relativos da batata em
Portugal e no Reino Unido, comparativamente com o tecido.

Em Portugal, a produção de 1kg de batata apresenta um custo correspondente a


0,86 do custo de produção de 1 metro de tecido enquanto a produção de um metro
de tecido tem um custo de 1,17 vezes superior ao custo do quilograma de batata.

Fazendo o mesmo raciocínio para o Reino Unido, constatamos que a produção de


batata é relativamente mais barata do que a produção ou tecido, pois o preço
relativo é menor.

Comparando os preços relativos dos dois países, verificamos que:


• a produção de batata é relativamente mais barata no Reino Unido (o preço
relativo no Reino Unido é de 0,73 e em Portugal de 0,86)
• a produção de tecido é relativamente mais barata em Portugal (o preço relativo
português é de 1,17 e no Reino Unido de 1,38).

Portugal deve especializar-se na produção de tecido, exportando para o Reino


Unido, e importará batata deste país devendo, portanto, o Reino Unido especializar-
se na produção de batata. Os dois países deveram especializar-se de acordo com as
vantagens comparativas.

Diz-se que um país apresenta uma vantagem comparativa na produção


de um bem, se o produz com um custo relativo mais baixo do que outro país

Neste caso a decisão é tomada, não a partir das vantagens absolutas, mas
das vantagens relativas. Cada país deve especializar-se na produção para a
qual o preço relativo seja inferior ao outro país.

T6 MICHAEL JORDAN e o jardim, página 78 – Exemplo da especialização através da


teoria das vantagens relativas
Michael Jordan é um grande atleta, um dos melhores jogadores da NBA pode saltar mais alto
e lançar a bola melhor do que a maioria das pessoas. Certamente também é melhor em
outras actividades, provavelmente corta mais depressa á relva do seu jardim. Mas só porque
corta mais rápido a relva deverá faze-lo?

Digamos que Jordan pode aparar a relva do seu jardim em 2 horas. Nessas duas horas
poderá participar na gravação de um comercial de ténis para a televisão e ganhar 10 mil
dólares. Por outro lado, a sua vizinha Jennifer, poderá cortar a relva em 4 horas Nessas
mesmas 4 horas ela poderia trabalhar no McDonald's e ganhar 20 dólares. Jordan tem uma

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vantagem absoluta no corte da relva porque pode fazer esse trabalho em menos tempo.
Contudo, Jennifer tem uma vantagem comparativa na mesma actividade porque tem um
custo de oportunidade mais baixo.

Os ganhos de comércio neste caso são espectaculares. Em lugar de aparar a relva do seu
jardim, Jordan deve actuar no comercial e contratar Jennifer para cortar a relva. Enquanto ele
lhe pagar mais de 20 dólares e menos do que 10 mil dólares, ambos terão vantagem.

10.2 O registo das relações com o Resto do Mundo - a Balança de


Pagamentos

Em cada momento, os países necessitam de saber o volume das suas transacções


económicas com o Resto do Mundo e a evolução registada pela compra e pela venda de
mercadorias, de serviços ou de capitais. Estes dados são fundamentais para a tomada de
decisão pelo governo, empresas ou pelas instituições bancárias.
Os fluxos de entrada e
de saída de meios de pagamento correspondentes aos fluxos de
mercadorias, serviços e capitais são registados na Balança de Pagamentos
de cada país.

Em Portugal, os registos das transacções entre o nosso país e o Resto do


Mundo são efectuados pelo Banco de Portugal. A actual estrutura da
Balança de Pagamentos portuguesa foi implementada em 1998 e tem em
conta as orientações do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Sistema Europeu de Bancos Centrais garante, a partir de 1998 a harmonização dos processos de
cálculo da Balança de Pagamentos no interior da União Europeia. É esta harmonização (procedimentos
idênticos nos processos de cálculo da Balança de Pagamentos) entre os diversos países que possibilita a
utilização dos dados das respectivas Balanças de Pagamentos na comparação do desempenho das suas
economias e na análise da evolução de cada uma delas ao longo dos tempos.

A Balança de Pagamentos é constituída por três componentes


relativamente homogéneas:
• a Balança Corrente,
• a Balança de Capital
• a Balança Financeira.

Fluxos do Comércio Externo:


• Exportações – Registadas a crédito
• Importações – Registadas a débito

As importações englobam
• Entrada de bens
• A prestação de serviços ao país por partes de agentes económicos
residentes noutro país
• Por compensação dos dois anteriores, leva a saída de moeda para o
exterior

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As exportações englobam:
• Saída de bens
• A prestação de serviços por o país a agentes económicos residentes
noutro país
• Por compensação dos dois anteriores, leva à entrada de moeda do
exterior
No comércio internacional há:
• Um movimento de bens e serviços
• Um movimento de divisas

O estudo da estrutura da Balança de Pagamentos exige o conhecimento dos


tipos de fluxos característicos do comércio externo. Este tipo de comércio
comporta dois tipos de fluxos:
• Exportações de mercadorias, de serviços e de capitais. As
exportações de mercadorias representam a venda ao Resto do Mundo de
mercadorias e o consequente recebimento de divisas, como pagamento
da compra efectuada pelo Resto do Mundo. É o caso da venda aos EUA do
nosso vinho do Porto;
• Importações de mercadorias, de serviços e de capitais. As importações
de mercadorias representam a compra ao Resto do Mundo de
mercadorias e a consequente saída de divisas do país. É o caso da compra
de petróleo à Arábia Saudita, por Portugal.

As exportações dependem dos seguintes factores


• um primeiro factor será o nível de actividade económica dos países que
recebem as exportações portuguesas;
• um segundo factor estará ligado à competitividade das exportações
portuguesas, isto é, à maior ou menor possibilidade das exportações
portuguesas concorrerem, nesses países, com os produtos que ai são
produzidos, ou que para eles podem ser exportados de outros países.

10.2.1 A Balança Corrente


A Balança Corrente é uma das balanças que constituem a Balança de
Pagamentos e regista os fluxos de mercadorias, de serviços, de rendimentos
e de transferências correntes que o território nacional efectua com o Resto
do Mundo.

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A Balança Corrente integra:
• a Balança de Mercadorias. Nesta balança registam-se os fluxos
relativos aos recebimentos e pagamentos das mercadorias entre o nosso
país e o Resto do Mundo;
• a Balança de Serviços. Nesta balança registam-se os fluxos relativos
aos recebimentos efectuados pelo Resto do Mundo em resultado dos
serviços de transporte, de prémios de seguros, de viagens e turismo e de
direitos de utilização de activos intangíveis não produzidos e não
financeiros. Estes são os direitos de patentes, as marcas, os «copyright»
e os «franchising» que lhe foram prestados. Da mesma forma, são
registadas como importações as saídas de divisas devido à compra de
serviços ao Resto do Mundo;
• a Balança de Rendimentos. Nesta balança registam-se os fluxos de
entrada de divisas no país correspondentes aos rendimentos do trabalho
e aos rendimentos de investimentos (com excepção dos rendimentos
das transacções de derivados financeiros) de residentes a trabalhar ou a
investir no exterior. De igual modo, são registados como importações os
fluxos de saída de divisas para pagamentos de rendimentos auferidos
por não residentes no país;
• a Balança de Transferências Correntes. Nesta balança registam-se
as transferências públicas como: os fundos correntes da União Europeia,
com excepção dos recebimentos do Fundo de Coesão e do PEDIP e de parte dos
recebimentos do FEDER e do FEOGA – Orientação. Os fluxos financeiros
associados à cooperação entre Estados, como as ajudas militares para a
manutenção da paz, são registados nesta balança. São também
registadas as transferências privadas, como os donativos às famílias, as
remessas dos emigrantes/imigrantes e as indemnizações entre
residentes e não residentes.
Saldo das balanças
Se calcularmos a diferença entre os créditos (exportações) e os débitos
(importações) de cada uma das balanças que referimos anteriormente,
obtemos o seu saldo: Saldo = Crédito – Débito
O saldo obtido pode apresentar três situações:
• um défice C<D: o valor das exportações é inferior ao valor das
importações, não permitindo o pagamento da totalidade das
importações. O país terá de utilizar as divisas ou de contrair
empréstimos para pagar a totalidade das importações;
• um superavit C>D: o valor das importações é inferior ao valor das
exportações permitindo o pagamento da totalidade das importações e a
obtenção de divisas;
• um saldo nulo C=D, ou seja, uma situação de equilíbrio: o valor das
exportações é igual ao valor das importações – o país não obtém nem
utiliza as suas divisas. 3
O gráfico F2, página 80, apresenta a evolução do saldo da Balança Corrente em alguns dos
principais espaços de comércio mundial, entre 2003 e 2006. Assim, verificamos que os EUA
apresentam saldos negativos e de valor absoluto crescente, o que se traduz no agravamento
do défice. Ao contrário dos EUA, verificamos que os restantes espaços apresentam Balanças
Correntes com superavites e de valor crescente. A única excepção a esta regra ocorre com a

3 É muito raro uma Balança apresentar um saldo nulo, em geral apresentam um saldo
deficitário ou superavitário

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Área do Euro. Neste espaço constatamos que o saldo da Balança Corrente melhorou entre
2003 e 2004 e a partir desse ano deteriorou-se, apresentando em 2006 um défice.
Q4 (página 81) Balança Corrente IMPORTANTE
Balança de Mercadorias
Mercadoria
s ou
Comercial

Balança de Prémios de seguro


Serviços
Transportes

Direitos de utilização

Direitos de patentes ou «royalties» de marcas, «copyright» (Direitos de


utilização de propriedade industrial), «franchising»

Viagens e turismo

Balança de Rendimentos do trabalho


Rendiment
os Rendimentos de investimento

Balança de • Transferências correntes


Transferên
cias • Transferências públicas
Correntes
• Indemnizações de guerra

• Ajudas entre países

• Transferências correntes da União Europeia, com excepção do Fundo


de Coesão, PEDIP e parte do FEDER e do FEOGA – Orientação

• Transferências privadas

• Indemnizações de seguros

• Dádivas aos particulares

• Remessas de emigrantes/imigrantes

Divisas. Operações de câmbio. Desvalorização da moeda

• As unidades monetárias e as reservas de ouro utilizadas no pagamento


do comércio internacional são designadas por divisas.

O comércio externo envolve a intervenção dos agentes económicos em dois mercados: o mercado de
bens e de serviços (efectuam compras e as vendas de bens ou de serviços) e o mercado de câmbio
(trocam a unidade monetária interna pela unidade monetária que necessitam para concretizar a
operação anterior).

Os países que possuem moedas diferentes são, portanto, obrigados a


proceder à troca da moeda nacional por moeda estrangeira para
efectuarem os pagamentos das mercadorias, dos serviços e da cedência de

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capitais, recorrendo, por isso, ao mercado cambial. Nesse mercado é
definido o preço da moeda estrangeira, a taxa de câmbio.

A taxa de câmbio dá-nos o preço da moeda estrangeira, isto é, o valor a


que é possível trocar moeda de um país pela moeda de outro país.

Esta taxa de câmbio pode ser calculada de duas formas diferentes:


• pode representar o número de unidades de moeda estrangeira que se
pode comprar com uma unidade de moeda nacional;
• pode ser definida como o número de unidades de moeda nacional que
temos de dar para comprar uma unidade de moeda estrangeira.

Q5 Taxas de câmbio para o euro (2008) (82)


Moedas Divisa Euro/ Divisa
estrangeira /euro estrangeira

Dólar dos EUA 1,577 0,6341

Real do Brasil 2 7199 0,3677

Libera esterlina 0,7857 1,2728

Coroa 7,4594 0,1341


dinamarquesa

De acordo com Q5, página 82, verificamos que:


• são necessárias 0,7857 libras para comprar 1 euro (coluna esquerda);
• são necessários 1,2728 euros para comprar uma libra (coluna direita)

Realizada esta explicação,


vamos passar a utilizar a taxa de câmbio como o
número de unidades de moeda estrangeira que podemos adquirir com um
euro.

Taxas de Câmbio:
• Taxas de Câmbio Flexível - Obtida pelo mercado, sem intervenção do
Estado no mercado cambial, ou seja, a taxa de câmbio é estabelecida
através da procura e oferta de moeda estrangeira.
No regime de câmbios flexíveis, a taxa de câmbio é flexível valor não é
definido oficialmente, mas determinado de acordo com a lei da oferta e a
procura da moeda no mercado de câmbios
No regime de câmbios flexíveis, os desequilíbrios nas transacções no
país com o Resto do Mundo são momentâneos, pois a taxa de os sofre as
alterações necessárias ao ajustamento e à reposição do equilíbrio
No regime de câmbios os flexíveis as alterações na taxa de câmbio
garantem o equilíbrio sistemático das contas externas
Exemplo do equilíbrio da balança comercial num regime de câmbios flexíveis
Suponhamos que a taxa de câmbio da moeda de um país, face real do Brasil, era de 3,2
u. m. por real, em 2002, e que existia equilibro das contas externas. Em 2003, as
exportações desse país, num determinado momento, foram superiores às importações, a
taxa de cambio dessa moeda nacional apreciou-se e assistimos à valorização dessa
moeda face ao real, que passou para 3,4 u. m. por real. Esta situação provocará o
aumento das importações, pois o país dará comprar mais mercadorias ao estrangeiro
com a mesma quantidade em moeda; as mercadorias estrangeiras tornaram-se mais
baratas. As exportações reduziram-se, uma vez que a mercadoria nacional colocada no
mercado externo passou a ter um preço superior em reais, em virtude da alteração dos
preços da moeda nacional. As contas externas deixaram de se apresentar equilibradas. O
país A importou mais mercadorias do que exportou, o que obriga a moeda do país A a
desvalorizar-se face ao real, isto é, a taxa de câmbio passa para 3,05 u. m. por real.

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A existência de câmbios «totalmente» flexíveis raramente ocorre na
realidade, o Estado e/ou os Bancos Centrais nacionais intervêm no
mercado de câmbios comprando e vendendo divisas desta forma
controlando, ainda que de maneira incompleta, o valor da moeda. Se a
moeda nacional está a valorizar-se (a aumentar o seu valor), então o
Banco Central poderá ordenar a venda de moeda nacional por forma a
evitar o aumento da taxa de câmbio, procedendo forma inversa quando
ocorre uma desvalorização.
• Taxas de Câmbio Fixa - Obtida pelo governo Neste caso, o Estado
determina administrativamente uma determinada taxa de câmbio que
vai procurar estabilizar o mercado cambial. O regime de câmbios fixos
ocorre quando as autoridades monetárias interferem no funcionamento
do mercado cambial e há a determinação administrativa da taxa de
câmbio
Regime de câmbios em Portugal
• Em Portugal, durante vários anos, o Banco de Portugal apresentou,
diariamente, as taxas de câmbios indicativas. Estas forneciam
Instituições Financeiras Monetárias uma orientação sobre os valores a
que deviam proceder na compra e venda de moeda estrangeira
• Desde Janeiro de 1999, o Banco Central Europeu passou a coordenar a
política monetária e a política cambial da Zona Euro começando, assim,
a definir a taxa de câmbio do euro e a intervir no mercado cambial por
forma a determinar as taxas de câmbio através compra ou da venda de
moeda estrangeira. Hoje, os Estados da Zona Euro, entre eles Portugal,
não podem utilizar a política de desvalorização, uma vez que as políticas
monetária e cambial são competência do Banco Central Europeu.
• Até meados da década de 90 do século passado, Portugal utilizou, por
diversas vezes, a desvalorização para corrigir o défice da Balança
Comercial e acentuar a competitividade das mercadorias exportadas.
• Com a criação do euro, os governos dos países da zona euro perderam a
possibilidade de controlar a taxa de câmbio nominal através da compra e
da venda de ouros, mas não perderam a possibilidade de alterar a taxa
de câmbio real.
Estamos em presença de uma valorização da moeda quando ocorre um
aumento do seu valor relativamente a outras unidades monetárias. A
desvalorização ocorre quando a moeda perde valor comparativamente
com as restantes

T8, (83) Moeda forte ou concorrência interna acrescida

Uma moeda forte é uma moeda com elevada procura no mercado


internacional: o seu valor aumenta e valoriza-se face às outras moedas.
Num contexto de forte inflação os países vêem com bons olhos a
valorização das suas moedas. Esta política económica pode iniciar um ciclo
de sucessivas valorizações monetárias com as importações de mercadorias
a tornarem-se menos caras, limitando a capacidade de produção das
empresas nacionais e favorecendo a redução da inflação por via da inflação
importada. Para os defensores desta política existem duas razões favoráveis
à aplicação da mesma:
• o combate à inflação que a política proporciona;

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• a necessidade de as empresas nacionais se modernizarem para
concorrerem com os preços dos bens importados.

Vejamos como a desvalorização provoca a alteração dos preços expressos em moeda


estrangeira. Admitamos que um exportador residente no nosso país vendeu cortiça no valor
de 1 milhão de escudos, (utilizamos o escudo em vez do euro, porque o Estado português
factualmente não pode utilizar essa política) à República Checa. O importador checo teve de
converter a coroa checa em escudos. Utilizando a taxa de câmbio de 6,4 coroas checas por
escudo, teve de trocar 6,4 milhões de coroas checas por 1 milhão de escudos.

Após a desvalorização, verificamos que o importador checo não tem necessidade do mesmo
montante em coroas checas para obter um milhão de escudos. A taxa de câmbio passou a
ser de 5,8 coroas por escudo. O importador checo necessita apenas de 5,8 milhões de coroas
para comprar a mesma quantidade de cortiça a Portugal. A desvalorização contribuiu para a
redução do preço da cortiça em coroas checas, o que contribuirá para o aumento das
exportações. Processo inverso acontece com as importações realizadas pelas empresas
residentes em Portugal quando há desvalorização da moeda. O facto do escudo convertido
em coroas checas representar um menor valor vai originar o aumento dos preços dos bens
importados avaliados em moeda nacional e vai contribuir para a redução das quantidades
importadas desses bens.
A competitividade das diferentes economias está associada a vários
factores, entre eles a taxa de câmbio nominal e os preços internos e
externos.
Balança de Mercadorias
A Balança de Mercadorias ou Balança Comercial, como é por vezes
designada, regista os fluxos monetários relativos às transacções de
mercadorias entre um determinado país e o Resto do Mundo, isto é, as
transacções de bens de consumo final, de bens em curso de fabrico e de
matérias-primas e subsidiárias.
O saldo da Balança de Mercadorias resulta da diferença entre as
exportações (créditos) e as importações (débitos).
Análise da Balança de Mercadorias Portuguesa4
• A Irlanda, a Holanda e a Alemanha são três dos países da UE que
apresentam saldos positivos na Balança de Mercadorias
(superavit).O valor das exportações excedeu o valor das importações
de mercadorias possibilitando ao país a entrada de divisas
• Portugal, conjuntamente com a maioria dos países da UE, apresenta um
saldo negativo na balança de mercadorias (défice). O valor das
exportações foi inferior ao valor das importações, o que representa uma
situação desfavorável para o nosso país, uma vez que saíram mais
divisas do as que entraram no país
• A Balança de Mercadorias em Portugal tem registado nos últimos anos
saldos negativos e de valor absoluto crescente. O agravamento do défice
da Balança Comercial entre 1999 e 2000 resultou do aumento dos
preços da energia, com especial incidência do petróleo, da deterioração
dos termos de troca nos mercados externos e do menor crescimento das
exportações.
• A ligeira redução do défice da Balança de Mercadorias, entre 2002 e
2003, resulta da melhoria registada nos termos de troca, do aumento

4 ver: F3 e Q6, página 86, T10 da página 88, gráfico da página 80 ver F4 e Q7 da página 87, F5 da
página 89 e gráfico da página 91

Comércio Externo Página 12


mais acentuado das exportações de mercadorias. No entanto, esta
melhoria, de acordo com as previsões do Banco de Portugal e do INE,
seria transitória, uma vez que em 2004 a taxa de crescimento das
exportações foi inferior à das importações, contribuindo para o
agravamento do défice desta balança.
• Em 2005 e 2006, assistimos a novo agravamento no défice da Balança
de Mercadorias, justificado pelo aumento dos preços do petróleo e pela
perda de competitividade da economia portuguesa.
• Quando analisamos a Balança de Mercadorias portuguesa, verificamos
que grande parte do nosso comércio de mercadorias se efectua dentro
do espaço da UE (comércio intra UE). Esta situação veio a intensificar-se
desde a nossa adesão à Comunidade, em 1986. Em 1960, as
exportações de Portugal para o conjunto dos países da CEE
representavam 21,4% do total das nossas exportações, em 1992 este
valor ascendia a 75,2%, para atingir os 80% em 2004.Idêntica evolução
se verificou no comportamento das nossas importações, sendo o
conjunto dos países da UE os nossos grandes fornecedores.
• Em 2004, cerca de 76% das nossas importações tiveram como origem a
União Europeia,
• Entre 1993 e 2004, as trocas comerciais com os parceiros comunitárias
representaram, em média, 75,8% do total de produtos que entraram na
fronteira nacional e 79,8% da saída de mercadorias.
• Complementarmente, as transacções com países terceiros concentravam
apenas 24,2 % e 20,2%, respectivamente. Todavia, mais recentemente,
nota-se uma ligeira redução da concentração das trocas com os países
da UE, o que indicia uma maior diversificação de mercados.
• A análise das entradas de mercadorias, por países, permite destacar
como fornecedores mais importantes a Espanha, a Alemanha, a França e
a Itália, que concentravam, no conjunto, 58,7% do total, em 2005.
• De realçar a diferente evolução verificada entre 2000 e 2005, pois
enquanto a entrada de produtos franceses, italianos e britânicos
diminuiu, entre um ano e o outro, as mercadorias provenientes da
Espanha e da Alemanha aumentaram
• O valor dos produtos importados de Espanha aumentou 34,7%, o que se
traduziu no reforço da sua posição (peso de 30,7% em 200s, face a
25,9% em 2000).
• Em 2005, os principais mercados de destino dos produtos nacionais
foram a Espanha, a França, a Alemanha e o Reino Unido, os quais
representaram, conjuntamente, 61,3% das saídas. No período entre
2000 e 2005, o valor dos bens vendidos nos mercados alemão e
britânico regrediu, enquanto as exportações de bens para Espanha e
Franca registaram um aumento.
• A Espanha, Alemanha e França tornaram-se os nossos principais
parceiros comerciais, representando, em 2005, cerca de 59% das
exportações e, do lado das importações, destacam-se Espanha, França,
Alemanha e Reino Unido, com 61,3% das importações de mercadoria.

Comércio Externo Página 13


• Nos últimos anos assistimos à alteração na especialização produtiva das
exportações portuguesas de mercadorias. Os produtos tradicionais como
«vestuário e calçado», «peles, couros e têxteis» e «madeira, cortiça e
papel», baseados na utilização intensiva de mão-de-obra a baixo custo,
têm vindo a perder peso no conjunto das exportações portuguesas. Este
decréscimo resulta do lento crescimento da procura destes bens no
mercado mundial e do aparecimento dá novos países exportadores. A
concorrência acrescida das economias emergentes, no Sudeste Asiático
e na antiga Europa de Leste, resulta do reduzido custo da mão-de-obra,
da escassa protecção laboral e desses horários de 12 horas, em média,
de trabalho por dia, tornando os custos de produção bastante baixos e
facilitando a colocação destes bens nos mercados internos dos
diferentes países a preços mais competitivos.
• A maior concorrência no mercado mundial é também explicada pela
crescente liberalização do comércio mundial (através da Organização
Mundial do Comércio) e pelos ganhos de competitividade dos países
exportadores (economias emergentes e em transição) em resultado da
forte desvalorização das moedas destes países, na sequência da crise
que atravessam.
• O decréscimo das indústrias tradicionais no conjunto das exportações é
compensado pela crescente importância das indústrias de produção de
«máquinas» e de imaterial de transporte». A importância crescente
destas indústrias está associada ao forte investimento estrangeiro nesta
área. É o caso da AutoEuropa em Setúbal No entanto, denota-se já um
crescimento real mais lento, 5%, em 2002, inferior ao ocorrido nos anos
anteriores.
• Apesar das mudanças na estrutura das exportações ocorridas nos
últimos anos, Portugal continua a ser um país em que o peso das
exportações dos sectores tradicionais é superior à média do conjunto dos
países da União Europeia.
• Outra análise que importa efectuar é a da composição dos nossos
parceiros comerciais, isto é, conhecermos o valor e a composição das
nossas importações e exportações por áreas geográficas e por países.
• Em 2005 o peso das exportações de baixa tecnologia representava o
valor mais elevado do conjunto apresentado (35,9%). Se juntarmos as
exportações de baixa e média-baixa tecnologia, verificamos que estas
representam 56,9% do total das nossas exportações.
• O défice comercial constitui um traço característico do comércio externo
português. Contudo, existem algumas excepções quando analisado o
período desde 1935 até ao presente. Entre 1935 e 1940, assistiu-se a
uma evolução favorável das trocas comerciais, sem que no entanto se
atingisse um saldo comercial positivo com efeito, apenas entre 1941 e
1943, a balança comercial portuguesa registou saldos positivos, facto a
que não será alheia a Segunda Grande Guerra Mundial. A este período, e
até ao final dos anos 40 do século XX, seguiu-se uma fase de
deterioração do saldo comercial, que sofre nova recuperação nos anos
50 (com excepção do ano de 1961, a taxa de cobertura das importações
pelas exportações foi sempre superior a 50%, embora nunca atingisse os
100%).

Comércio Externo Página 14


• Os anos 70 marcam uma nova fase de défices comerciais acentuados em
particular no período entre 1974 e 1977, o que volta a verificar-se no
inicio dos anos: (1961 e 1982) Um novo pico é atingido em 1985 e 1986,
momento da adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia,
com a taxa de cobertura das importações pelas exportações a atingir
75%. Desde então e até ao presente, aquela taxa tem-se situado entre
60% e 70%.
• Da análise de Q10, verificamos que a Balança Corrente portuguesa
apresentou, entre 2000 e 2004 um saldo negativo, entre 2003 e 2004 de
valor absoluto crescente e entre 2001 e 2003 de valor decrescente. Esta
melhoria verificada no saldo da Balança Corrente entre 2001 e 2003
resulta, segundo o Banco de Portugal, da desaceleração da actividade
económica portuguesa, associada ao aumento da poupança das famílias
e da retracção do investimento. A recuperação dos fundos da União
Europeia contribuiu para a menor necessidade de financiamento da
economia portuguesa. Podemos também afirmar que a melhoria do
défice da Balança Corrente neste período resulta da redução do défice
da Balança de Mercadorias, como verificámos anteriormente. O
agravamento do saldo da Balança Corrente entre 2003 e 2004 deve-se
ao agravamento dos saldos das Balanças de Mercadorias, de
Rendimentos e de Transferências Correntes. A situação reflecte também
o aumento dos preços do petróleo. Ver F7, página 94
• A Balança de Capital Portuguesa tem registado nos últimos anos saldos
positivos devido ao afluxo de capitais provenientes da União Europeia a
partir dos fundos estruturais. Entre 1996 e 1999, os saldos da Balança
aumentaram; em 2001 e 2002, os saldos da Balança Corrente
deterioraram-se devido a atrasos na implementação do novo Quadro
Comunitário de Apoio, o que provocou uma redução acentuada na
entrada de capitais no país.
• O saldo da Balança Corrente atingiu novo máximo em 2003 e a partir
desse ano decresceu. A entrada dos novos Estados-membros na UE e os
atrasos na implementação dos Quadros Comunitários de Apoio explicam
esse decréscimo
• A Balança Financeira portuguesa, entre 2004 e 2006, apresentou saldos
positivos. Para este valor do saldo contribuiu, sobretudo, o crescimento
do investimento directo do exterior em Portugal, (ver Q12e F8 da página 97)
O aumento da posição devedora de Portugal face ao exterior deve-se à
necessidade da economia colocar dívida junto de não residentes, que
não tem sido compensada pelos afluxos de investimentos directos e em
acções do exterior em Portugal, F9 e F10, página 97
• A Balança de Rendimentos portuguesa tem registado défices de valor
absoluto crescente entre 1998 e 2001 e de 2003 a 2005; a excepção
ocorreu em 2002 e 2003. Este facto resultou, segundo o Relatório do
Banco de Portugal, da descida das taxas de juros.
• A Balança de Transferências Correntes portuguesa registou, entre 1996
e 2004, saldos positivos, mas de valor crescente até 2000, a partir deste
ano de valor decrescente. Este comportamento está associado a uma
retracção registada pelas remessas dos emigrantes e ao aumento das
remessas dos imigrantes, em virtude do forte fluxo de trabalhadores do
Leste da Europa, como podemos constatar em Q11, página 93
Estrutura das importações e das exportações portuguesas
Para além de conhecermos a evolução do saldo da Balança de Mercadorias
é ainda importante analisar a estrutura das importações e das exportações

Comércio Externo Página 15


portuguesas, pois permite-nos obter diversas informações, nomeadamente
o grau de competitividade das nossas exportações, o grau de especialização
da nossa economia, ou seja, qual o tipo ou tipos de produtos com que
concorremos nos mercados externos. Esses produtos são de elevada
especialização, que incorporam alta tecnologia? Ou, pelo contrário, produtos
de baixa especialização, que utilizam muita mão-de-obra e reduzido recurso
a tecnologia?
Taxa de cobertura
A taxa de cobertura é um indicador económico utilizado para avaliar a
situação existente no comércio externo de mercadorias de um país. Este
indicador é calculado, apenas, para o comércio de mercadorias, utilizando-
se a expressão:
taxa de cobertura=Valor das exportações Valor das importações ×100
A taxa de cobertura pode apresentar um valor:
• inferior a 100%; o que significa que o valor obtido com as exportações
de mercadorias apenas permite pagar parte do valor das importações
efectuadas pelo país, o que reflecte uma situação de défice da Balança
de Mercadorias. É necessário utilizar as divisas existentes e/ou contrair
empréstimos externos para cobrir o défice. No caso da taxa de cobertura
ser igual a 75%, o défice corresponde a 25% do valor das mercadorias
adquiridas ao Resto do Mundo;
• superior a 100%: o que significa que o valor obtido com as exportações
permite pagar a totalidade das importações de mercadorias, ou mesmo
excedendo, e o país acumula divisas, o que reflecte uma situação de
superavit da Balança de Mercadorias. No caso da taxa de cobertura ser
igual a 100%, o excedente corresponde a 120% do valor das
mercadorias adquiridas ao Resto do Mundo;
• igual a 100%: a Balança Comercial está equilibrada, o valor das
exportações é igual ao das importações e o país não utilizou nem obteve
mais divisas
Utilizando os dados apresentados no quadro Q9, página 91, vamos exemplificar o cálculo da
taxa de cobertura e da sua interpretação.

Q9 BALANÇA DE MERCADORIAS EM 2005 (Milhões de dólares)


Países Valor das Valor das Taxa de
exportações importações cobertura

Portugal 34,983 53,776 65,1%

Espanha 178,960 249,813 71,2%

Alemanha 914,839 717,431 127,5%

A taxa de cobertura de Portugal, em 2005, foi de 65,1%, o que permite


afirmar que o saldo da Balança de Mercadorias foi negativo, sendo
necessário utilizar divisas acumuladas em anos anteriores ou contrair
empréstimos externos para financiar o défice. A Balança de Mercadorias de
Espanha apresenta, tal como a portuguesa, um défice, mas o mesmo já não
acontece com a alemã. Neste caso o saldo da Balança de Mercadorias é
positivo, permitindo à Alemanha acumular divisas.

Processo de cálculo da taxa de cobertura em Portugal, em 2005

Comércio Externo Página 16


taxa de cobertura=Valor das exportações Valor das importações
×100=34,98353,776×100=65,05%
Balança de Serviços

A Balança de Serviços regista os fluxos entre residentes e não residentes,


de seguros, de transportes, de direitos de utilização, de viagens e de
turismo A Balança de Serviços apresenta, geralmente, em Portugal, um
saldo positivo pela influência do turismo.

O valor deste serviço regista, por vezes, flutuações acentuadas devido aos
períodos de recessão ou de crescimento económico. Em períodos de forte
expansão económica, a tendência é para aumento das receitas do turismo.
Para além do desempenho e económico dos diferentes países, também a
existência de paz e de segurança a nível mundial favorece o turismo,
possibilitando o aumento das receitas do mesmo.

A Balança de Serviços portuguesa registou nos últimos anos saldos positivos


de valor crescente5.

Balança de Rendimentos
A Balança de Rendimentos regista os fluxos de rendimentos do trabalho
e do investimento.
Balança de Transferências Correntes
A Balança de Transferências Correntes regista fluxos sem retorno, isto é,
sem qualquer contrapartida de mercadorias, de serviços ou mesmo de
aplicações financeiras e de investimentos.
A Balança de Transferências Correntes regista:
• As remessas de emigrantes e de imigrantes;
• As pensões e as reformas dos migrantes que regressam definitivamente
ao seu país;
• Algumas das transferências correntes com a União Europeia;
• Os fluxos financeiros associados à cooperação com outros Estados,
• As dádivas (doações) e as indemnizações.
Balança Corrente
A Balança Corrente portuguesa registou nos últimos anos saldos negativos,
o que significa que o total dos créditos foi inferior ao total dos débitos. O
país, para financiar esses défices, teve de utilizar as divisas ou contrair
empréstimos externos para efectuar o pagamento do excesso de
importações relativamente às exportações.
T13 Balança Corrente página 94
O saldo da Balança Corrente é o mais significativo da Balança de
Pagamentos e traduz, mais do que qualquer outro, a situação de uma economia
perante o Resto do Mundo. Este saldo é fundamental porque nos dá a forma
como a actividade anual da economia se desenvolve face ao Resto do
Mundo. Um saldo positivo significa que a actividade corrente é suficiente
para gerar receitas que cobrem os encargos face ao exterior dessa
actividade.
10.2.2 A Balança de Capital

5 Ver Q2 e T10, da página 92

Comércio Externo Página 17


A Balança de Capital regista os fluxos de capitais entre residentes e não
residentes num determinado país. A Balança de Capital regista as
transferências de capital que não dão origem a um fluxo futuro de
pagamento de rendimentos em sentido oposto.
Os fluxos de capitais são constituídos pelas:
• transferências de capitais, como os fundos provenientes da União
Europeia, e neles estão incluídos os recebimentos dos fundos de Coesão
e do PRODIP e parte dos fundos provenientes do FEDER e FEOGA-
Orientação;
• aquisições/cedências de activos não produzidos, não financeiros,
isto é, as transacções (compra e venda) de activos intangíveis (patentes,
marcas, copyright e franchising) e outras transacções de activos
tangíveis (aquisição de terrenos e habitações por embaixadas e
instituições internacionais)..
10.2.3 A Balança Financeira
A Balança Financeira regista os fluxos que envolvem mudança de
titularidade entre residentes e não residentes de activos/passivos
financeiros e os fluxos de criação/extinção de activos/ passivos financeiros
sobre o Resto do Mundo.
A Balança Financeira comporta cinco tipos de operações:
• investimento directo: este fluxo regista do lado do crédito a compra
ou a criação de uma nova empresa por um investidor não residente
(investimento directo do exterior em Portugal). No fluxo do lado do
débito regista-se a aquisição ou a criação por residentes de empresas
localizadas fora do espaço da União Europeia (investimento directo de
Portugal no exterior);
• investimento de carteira: este tipo de investimento refere-se à
compra de produtos financeiros no exterior por residentes no nosso país
e à compra de produtos financeiros na Bolsa de Valores de Lisboa por
parte de não residentes;
• derivados financeiros: este tipo de fluxo representa a compra de derivados por não
residentes na Bolsa de derivados e vice-versa;
• outro investimento: este fluxo corresponde aos créditos comerciais e aos activos não
considerados reserva, incluindo também a obtenção por residentes de empréstimos ou a
constituição de depósitos em bancos não residentes;
• activos de reservas: inclui a crédito os activos das autoridades monetárias considerados reserva,
isto é, activos de não residentes na Zona Euro e expressos em moedas de países de fora da Zona
Euro. Temos, como exemplo, os títulos do Banco de Portugal denominados em euros e emitidos por
entidades residentes fora da Zona Euro.

Comércio Externo Página 18


T14 Balança Financeira página 96
A Balança Financeira regista do lado das entradas o investimento realizado
por agentes económicos estrangeiros no país, assim como os empréstimos
concedidos por esses agentes nacionais. As saídas envolvem o investimento
pelo país no estrangeiro e os créditos concedidos ao estrangeiro. Quanto aos
activos de reserva, estamos a falar da variação dos activos das autoridades monetárias,
Banco de Portugal, face a não residentes na Zona Euro e denominados em moedas que não o
euro. É igualmente importante salientar que todos os fluxos da balança
financeira, ao contrário da balança de capital, dão origem, no futuro, a
contrapartidas de rendimentos no sentido inverso, sejam lucros de
investimentos sejam juros de empréstimos.
10.3 As políticas comerciais e a organização do comércio mundial
O comércio externo proporciona a melhoria do bem-estar das populações, em geral,
comparativamente com a ausência de comércio. A ser verdade a afirmação anterior, então
por que motivo os países aplicam medidas projeccionistas? Quais as razões para as políticas
de controlo das importações? Terão elas sentido?

Proteccionismo e livre-cambismo
O comércio livre / livre-cambismo, beneficia as
sociedades como um todo, mas existem em cada
sociedade grupos que ganham com a realização
do comércio externo, enquanto outros perdem
com a realização do mesmo. Os governos, ao
criarem entraves à entrada de bens e de serviços
provenientes do Resto do Mundo, respondem aos
desejos dos grupos da sociedade, que perdem
com o comércio externo.
Consideremos a seguinte situação, representada pelas curvas da procura e da oferta
agregadas de telemóveis em Portugal, e situemos o preço no mercado externo ao preço
mundial de 80€.
Com a abertura da economia portuguesa ao comércio, passamos de uma situação de
equilíbrio E (preço de 120€ e quantidade de 80 unidades) para uma situação de excesso de
procura interna (qD qS), a qual vai ser satisfeita pela importação (oferta mundial) de
telemóveis (70 telemóveis).

Os consumidores portugueses passam a consumir mais, de 80 passam para 120 telemóveis,


com a vantagem de o fazerem a um preço inferior ao preço de equilíbrio do mercado interno,
passando de 120€ para 80€ por telemóvel. Esta situação apresenta em simultâneo aspectos
negativos. Os produtores internos assistem à produção da quantidade transaccionada no
mercado e à redução do preço, o que provocará, certamente, a redução do número de horas
trabalho e o consequente encerramento de algumas empresas, as menos competitivas.

Podemos assim confirmar a ideia inicial de que o comércio proporciona o


aumento do rendimento do país. No entanto, em cada quantidade, há
grupos que ganham (no nosso caso os consumidores) e há grupos que
perdem (no nosso caso os produtores)6

6 Ver t15, página 101

Comércio Externo Página 19


Existe também a ideia de que as indústrias necessitam, na fase de
instalação e até alcançarem a maturidade, de condições ideais, entre elas
uma menor concorrência, que deve ser garantida através do recurso e da
implementação de medidas projeccionistas. Assim, o Estado deverá
proteger as indústrias durante a sua «infância» e, posteriormente, eliminar
essas barreiras.

A expressão comércio livre / livre-cambismo diz respeito a todas as trocas


efectuadas sem a aplicação de qualquer barreira à circulação dos bens
entre países.

T16 (102) «infant industry»

A argumentação foi apresentada no fim do século XVIII por Hamilton para


justificar a protecção dos Estados Unidos e é retomada hoje pelos países em
desenvolvimento que querem industrializar-se e também invocada pelos
países desenvolvidos quando encontram dificuldades em certos ramos
novos (electricidade, informática).

Proteger a indústria na infância através dos direitos aduaneiros equivale a


fazer financiar o crescimento do ramo pela colectividade (que suporta o
custo da protecção). Ora, não é certo que seja o melhor procedimento, no
plano da eficácia económica.

Barreiras alfandegarias
Os governos, para responderem aos interesses de algumas empresas nacionais e de grupos
sociais, aplicam impostos sobre a importação de mercadorias ou estabelecem a
contingentação das importações. Também através da sua acção os governos limitam o
comércio externo.

As barreiras à livre circulação das mercadorias são utilizadas sempre que


existe proteccionismo. Segundo esta perspectiva, comércio é nocivo para as
sociedades e deve ser limitado através criação de barreiras legais ao
mesmo7.

As barreiras alfandegárias, como mencionamos anteriormente, são:


• as tarifas alfandegárias, que consistem na aplicação de impostos tos
sobre os bens importados, provocando o aumento dos preços dos bens e
dos serviços no mercado interno;
• a contingentação, que consiste na determinação de um limite máximo
para a importação de um bem ou de um serviço:
• os subsídios às exportações, que
consistem na atribuição
benefícios sobre os bens e os
serviços exportados
proporcionando a redução dos
custos de produção dos bens e
dos serviços exportados.

7 Ver t16, página 102

Comércio Externo Página 20


Consideremos a situação retratada em F12, página 102, no qual estão
representadas as curvas da procura e da oferta agregadas de rádios
Lusitânia e é definido o preço no mercado externo. O país, perante esta
situação, seria obrigado a importar 35 rádios. A aplicação da
tarifa de 5 unidades monetárias por rádio provoca a redução
da procura interna para 60 rádios. Daqui resulta a redução
da quantidade importada, passando de 35 para 18 rádios.

Analisemos de seguida a aplicação da contingentação.


Consideremos mercado de produção de tractores agrícolas:
as curvas representadas em F13, página 103, colocam em
evidência a procura e a oferta anual de anual na Lusitània. A
intersecção das curvas da procura e da oferta da Lusitânia
permite-nos verificar que o preço de equilíbrio no mercado
interno seria de 55 unidades monetárias, admitindo a não
existência de comércio externo.

Consideremos que o país abre as fronteiras aos tractores estrangeiros, mas


limita o número de tractores que o país pode importar a 20 tractores anuais.

Os consumidores passam a dispor de menos unidades do bem para


consumir, passam de 70 para 60 tractores anuais e pagam por cada um
mais 5 unidades monetárias. A aplicação da contingentação traduz-se para
o consumidor numa perda e funciona de forma idêntica à da aplicação de
uma tarifa. O mesmo já não ocorre para o governo. Este, ao fixar o número
máximo de tractores a importar pelo país, não arrecadou qualquer receita
fiscal.

Os produtores de tractores são os únicos beneficiados com esta medida,


uma vez que podem aumentar a produção (37 para 40 tractores) e passam
a receber um preço mais elevado por cada tractor comercializado no
mercado interno. (T17, página 103)

Outra medida proteccionista aplicada pelos países consiste na atribuição de


subsídios às exportações de bens e de serviços. Neste caso o governo, a fim
de garantir o emprego de alguns trabalhadores decide conceder subsídios
às exportações. Por vezes estes não assumem uma forma tão imediata, mas
são realizados através de linhas de crédito bonificado à exportação ou à
produção de certas mercadorias Estas medidas conduzem à redução do
preço do bem no mercado mundial estimulando o aumento da quantidade
procurada pelo resto do Mundo, isto é, as exportações.

A atribuição de subsídios às exportações é designada dumping consiste na


existência de dois preços para o mesmo bem, um preço interno mais
elevado e outro externo mais baixo. Esta, dualidade de preços é objecto de
condenação por parte dos organismos internacionais que procuram
regulamentar o comércio mundial, como a Organização Mundial do
Comércio (OMC).

Comércio Externo Página 21


Para além dos obstáculos ao comércio externo, que acabamos de estudar,
existem outros, por vezes menos conhecidos, mas com efeitos tão ou mais
gravosos nos entraves que criam ao comércio, como barreiras não
tarifárias.

As barreiras não tarifárias são constituídas por conjuntos de normas, nos


quais se incluem a burocracia, que o país exportador deve respeitar. As
normas podem ser regras sanitárias, exigência de regras de qualidade dos
bens transaccionados ou formas de embalar e conservar os produtos Desta
maneira, o país importador reduz ou retarda a importação de certos bens
protegendo as empresas residentes.

Um exemplo de barreiras não tarifárias são as normas de poluição,


sanitárias ou técnicas (incluindo a burocracia), adaptadas por um país,
muitas vezes, mais destinadas a impedir os produtos estrangeiros de
penetrar no mercado doméstico do que a proteger o mercado nacional. Se
os produtores não residentes podem adaptar-se às normas sem suportarem
um custo elevado, as normas apenas têm efeito temporário. Com efeito, por
vezes, as normas são tais que o fluxo de importação é totalmente
suprimido, sendo o custo de adaptação proibitivo.

A atribuição ao Estado, o monopólio de certos produtos é também em


muitos casos uma forma de criar uma barreira não tarifária.

T18 Comércio mundial página 104


Entre 1960 e 1969, o comércio mundial multiplicou-se por 2,5 e entre 1969 e 1978 quase
quintuplicou, ainda que em ambos os períodos, e sobretudo no segundo, a inflação mundial
tenha contribuído em muito para tão espectacular evolução

E claro que este impressionante crescimento das trocas não foi homogéneo. Os países
desenvolvidos, em especial o Japão, beneficiaram de ritmos de expansão muito mais
favoráveis do que o Terceiro Mundo. O mundo industrializado realiza mais de 70% do
comércio mundial contra cerca de um quarto dos países em desenvolvimento, enquanto os
países da antiga Europa de Leste viram a sua participação passar de 10% para 3% em 1992.

Constatámos anteriormente que os países, por variadas razões abandonam o livre-cambismo


para aplicarem medidas proteccionistas, de maior ou menor abrangência, e essa tendência
coincide com os períodos de maiores dificuldades nessas economias. Mesmo os países mais
desenvolvidos em períodos de recessão justificam o reforço das medidas proteccionistas com
o aumento do desemprego ou a quebra na procura de bens produzidos por empresa
residentes. Foi assim com o aço em 2001, nos EUA com o reforço das tarifas aduaneiras. Por
vezes, o proteccionismo é tão óbvio, pelo que são aplicadas barreiras não tarifárias,
contingentes à importação.

Portugal durante anos definiu, a exemplo da União Europeia, limites à entrada de automóveis
japoneses Os países tradicionais entre produtores e exportadores de têxteis devido à forte
concorrência dos Novos Países Industrializados forçaram as barreiras não tarifárias. T18,
página 104

Organização Mundial do Comércio (OMC)

A Organização Mundial do Comércio (OMC) nasceu, em 1993, na conferência


de Marraquexe. Nesta conferência, 117 países concordaram na criação da
OMC, como sucessora do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT),

Comércio Externo Página 22


com as competências de administrar o Acordo Geral e os códigos de
liberalização do comércio alcançados nas Rondas de Tóquio e do Uruguai.
T19, página 104

Graças aos acordos assinados no seio do GATT/OMC, os direitos aduaneiros


passaram de 40% em 1947, para 3% em 2000.

A OMC apresenta como objectivos: elevação dos níveis de vida e dos


rendimentos, a obtenção do pleno emprego e o crescimento da produção e
do comércio na óptica da utilização óptima dos recursos naturais.

A OMC intervém em áreas como:


• a redução tarifária, introduzindo o conceito de direito "consolidado". Este
ocorre quando um país, depois de ter reduzido um direito, se
compromete a não o elevar no futuro;
• a redução das subvenções concedidos à produção de bens agrícolas,
• a redução das barreiras à livre circulação de têxteis e de vestuário;
• a introdução no comércio externo dos serviços da cláusula da Nação
mais favorecida;
• a introdução no comércio externo da propriedade intelectual da cláusula
da Nação mais favorecida.

Para além das áreas de implementação e redacção dos acordos


multilaterais de comércio, a OMC dispõe de mecanismos para resolução de
diferendos e de conflitos8.

A OMC coopera com outros organismos das Nações Unidas, como Banco
Mundial e o Fundo Monetário internacional, na construção de uma política
económica global.

Para proporcionar a liberalização das trocas, a OMC aplica os seguintes


princípios:
• da reciprocidade: de acordo com este princípio, se um concede
facilidades no acesso ao seu mercado por parte bens provenientes de
outro, então este deverá proporcionar o inverso;
• da não discriminação: sempre que um país concede mais facilidades
no acesso ao seu mercado aos bens provenientes de outros, então esta
situação deverá estender-se a todos os restantes países a quem adquire
bens.

Actualmente os conflitos comerciais opõe geralmente:


• Países desenvolvidos /países subdesenvolvidos
• União Europeia / EUA

Muitos dos actuais conflitos ou mesmo os do passado estão associados à


política de ajudas à produção agrícola. No passado e à medida que a União
Europeia foi garantindo a sua auto-suficiência alimentar, de zona carenciada

8 Ver t20, página 106

Comércio Externo Página 23


em bens agrícolas passou a exportadora - competindo com os Estados
Unidos da América. Esta mudança contribui para a agudização do conflito.

Actualmente, no centro do diferendo continuam questões como comércio


mundial de produtos agrícolas, as ajudas aos agricultores europeus e
americanos, a par dos subsídios à exportação, que são contestadas pelos
grandes produtores agrícolas dos países em desenvolvimento, como o Brasil
ou a China.

Para além deste diferendo, existe a preocupação dos países industrializados


de que a liberalização do comércio de têxteis e de vestuário possibilite
uma concorrência desleal entre as suas empresas e as correspondentes nos
países em desenvolvimento. Esta preocupação resulta da ausência ou da
reduzida implementação das leis laborais e do facto de estas não serem tão
restritivas quanto as europeias as americanas. A necessidade da redução
das tarifas no comércio de têxteis ser acompanhada da aplicação da
cláusula social (obrigação dos produtores dos países em desenvolvimento
de respeitarem os direitos dos trabalhadores) tem criado alguns conflitos
entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento.

Outra área polémica, entre países desenvolvidos e países em


desenvolvimento, diz respeito aos direitos de propriedade intelectual,
importantes para as grandes multinacionais devido aos prejuízos causados
pelas falsificações. Mas, nesta área, a UE e os EUA chegaram a acordo
pontual, ao possibilitarem aos países mais pobres acesso aos medicamentos
genéricos, a baixos preços, para o tratamento de pandemias como a SIDA
ou a malária. Os países em desenvolvimento, criadas as devidas condições,
poderão produzir os genéricos e os restantes poderão importá-los a baixos
preços.

Comércio Externo Página 24


10.4 As relações de Portugal com a UE e com o Resto do Mundo

• Como sabemos, a Balança de Mercadorias portuguesa apresenta desde a


Segunda Guerra Mundial um saldo negativo: Portugal importou, ao longo
destes anos, valores superiores aos exportados
• O défice não apresentou sempre o mesmo peso comparativamente com
o PIB: cresceu em alguns períodos, como, por exemplo, 1996 e 1997, e
decresceu noutros, como 1999 e 2002. (F18 e Q13, página 109)
• O comércio com a UE representa mais de 75% das transacções de
mercadorias entre Portugal e o Resto do Mundo, F19 e F20, página 110.
• Dentro da UE, em 2006, os principais compradores de mercadorias são a
Espanha, a Alemanha, a França e os principais fornecedores a Espanha,
a França e a Alemanha, F21 e F22 página 110.
• A Espanha tornou-se no principal parceiro de Portugal, registando-se um
défice na nossa Balança de Mercadorias com aquele país.
• Os principais produtos exportados são as máquinas e aparelhos, têxteis
e materiais de transportes, enquanto do lado das importações temos as
máquinas e aparelhos, o material de transporte e os produtos minerais,
F23 e f24 da página 111 .
• Portugal é dos quatro países da coesão o que apresentava, em 2004, na
estrutura das exportações de mercadorias, o maior peso relativamente
aos produtos de baixa tecnologia.
• A Balança Corrente apresentou, nos últimos anos, saldos negativos.
Situação também registada pela maioria dos países da União Europeia a
25 Estados-membros. O país com maior défice na balança corrente em
percentagem do PIB é a Estónia. O Luxemburgo é o país com maior
superavit. Fora da UE, a Noruega é o país que apresenta maior superavit
em percentagem do PIB. Este Superavit na Noruega, em parte deve-se
às receitas do petróleo
• Da observação de F28, página 112, verificamos que Portugal é um dos países da
União que registam maior participação do comércio intracomunitário na
Balança de Mercadorias.
T23 (109) BALANÇA DE MERCADORIAS

A situação privilegiada de Portugal levou a um forte choque positivo sobre a


economia, devido à melhoria dos termos de troca, que registou o seu
máximo em 1941 e 1942. Verificou-se, com efeito, uma subida dos preços
das exportações (conservas, têxteis, calçado e volfrâmio) – cerca de 40%
em relação ao período que antecedeu os preparativos da IIGM. O volfrâmio,
as conservas, os fios e os tecidos de algodão, os vinhos e a cortiça
representavam cerca de 60% do total das exportações. O preço do
volfrâmio subiu cerca de 30 vezes desde 1938, atingindo um máximo em
1942. O total das exportações cresceu 3,5 vezes entre 1938 e 1943. Mas os
preços dos bens importados também subiram: em particular, o preço do
petróleo subiu 5,1 vezes entre 1939 e 1943. A partir de 1943, a subida dos
preços das importações ultrapassou a subida dos preços das exportações,
fazendo regressar o termo de troca à situação anterior à guerra. As
dificuldades de abastecimento fizeram pela primeira vez neste século a
balança comercial registar saldos positivos (1941-43).

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Mateus, Abel, Economia Portuguesa, desde 1910 (adaptado)

Nesta unidade vimos que:

• O comércio externo designa as trocas (compras e vendas) de bens, de


serviços e de capitais entre agentes económicos residentes e não
residentes no país;
• O comércio interno tem lugar dentro de um país, envolvendo agentes
económicos residentes;
• A existência do comércio externo resulta da especialização produtiva dos
países ou das regiões. Os países apresentam características próprias,
uma determinada localização geográfico, um conjunto de recursos
naturais e uma população. Estas características possibilitam a produção
de alguns bens a preços mais baixos (em termos absolutos ou relativos)
do que outros países, em simultâneo, provocando a escassez ou falta de
outros bens e obrigando à compra dos mais variados bens e serviços;
• Um país é possuidor de uma vantagem absoluta quando a sua
produtividade é maior e menor do que os custos de produção e um país
apresenta vantagem comparativa se produz o bem com custo relativo
mais baixo do que outro pais;
• O registo dos fluxos monetários correspondentes às vendas e às
compras efectuadas ao Resto do Mundo é realizado na Balança de
Pagamentos de cada país;
• A Balança Corrente integra as transacções entre residentes e não
residentes de mercadorias, de serviços, de rendimentos do trabalho e de
investimentos e de transferências de natureza corrente;
• A Balança Comercial regista as exportações e as importações de
mercadorias. Nos últimos anos, assistimos ao decréscimo das indústrias
tradicionais e ao acréscimo das indústrias de produção de «máquinas» e
de «material de transporte» no conjunto das exportações portuguesas. A
União Europeia é o principal importador e exportador de mercadorias
para a economia nacional. Espanha e Alemanha tornaram-se os nossos
principais parceiros comerciais;
• A Balança de Serviços regista as exportações e as importações de
serviços, nomeadamente transportes, seguros, viagens e turismo;
• A Balança de Rendimentos regista as exportações e as importações de
rendimentos do trabalho e de investimento;
• A Balança de Transferências Correntes regista as transferências públicas
e as transferências privadas;
• A Balança de Capitais regista os fluxos entre residentes e não residentes
de transferências de capitais e as aquisições/cedências de activos não
produzidos, não financeiros;
• A Balança Financeira regista todos os fluxos que envolvem mudança de
titularidade entre residentes e não residentes de activos/passivos f e os
fluxos de criação/extinção de activos financeiros sobre o Resto do
Mundo;

Comércio Externo Página 26


• Qualquer uma das balanças pode apresenta e das três situações: um
défice, um superavit ou uma situação de equilíbrio;
• As moedas e as reservas de ouro utilizadas para os pagamentos do
comércio internacional são designadas por das por divisas;
• A taxa de câmbio permite converter uma unidade monetária noutra e
representa o preço de uma moeda estrangeira;
• Os países que possuem moedas diferentes da do país vendedor são
obrigados a proceder à troca da moeda nacional por moeda estrangeira
para efectuarem os pagamentos relativos ao comércio externo;
• A taxa de cobertura é um indicador do comércio externo do país,
calculada, apenas, para o comércio de mercadorias;
• O comércio livre/livre-cambismo consiste nas trocas efectuadas entres
agentes económicos residentes não residentes sem a aplicação de
qualquer barreira à circulação dos bens entre países
• As políticas projeccionistas consistem na aplicação de barreiras à livre
circulação dos bens e serviços, limitando a entrada de bens e de serviços
produzidos noutros países;
• A OMC procura definir regras para o comércio externo e controlar a sua
aplicação;
• A economia portuguesa tem como principal comprador a Alemanha e
fornecedor a Espanha no conjunto dos países da União Europeia. Fora da
Europa, os EUA são o nosso principal parceiro comercial, quer do lado
das importações quer no lado das exportações;
• O conjunto dos têxteis continuam a ser o produto que maiores receitas
proporciona à economia portuguesa, enquanto os materiais de
transporte apresentam as principais compras da economia ao exterior.

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