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DIÁLOGOS

E PRÁTICAS
ARQUEOLÓGICAS
E d u a r d o K a z u o Ta m a n a h a
M á r c i o Am a r a l
Mariana Franco Cassino
Cunha Lima
Eduardo Góes Neves
Laura Pereira Furquim
Márjorie Lima
M a u r í c i o An d r é S i l v a
Jaqueline Gomes
Si lvia Carla Gi bertoni Carneiro

SOCIOBIODIVERSIDADE DO AMANÃ 155


DIÁLOGOS E PRÁTICAS
ARQUEOLÓGICAS
E d u a rd o K a z u o Ta m a n a h a
M á rc i o Am a ra l
M a r i a n a F ra n c o C a s s i n o
Cunha Lima
E d u a rd o G ó e s N e v e s
L a u ra P e re i ra F u rq u i m
Márjorie Lima
M a u r í c i o An d ré S i l v a
Jaqueline Gomes
S i l v i a C a r l a G i b e r t o n i C a r n e i ro

Introdução Índio” (TPI), resultantes de ocupações de


longa duração em períodos pré-coloniais,
Identificar sítios arqueológicos na Amazônia são igualmente atraentes por sua fertili-
é uma tarefa bastante simples. Basta pro- dade. De maneira geral, portanto, é possí-
curar pelos assentamentos humanos atuais vel compreender os processos regionais de
– casas isoladas, pequenas comunidades, ocupação humana como uma combinação
vilas ou cidades – para, provavelmente, po- da persistência demonstrada através de al-
der identificar também os vestígios de ocu- gumas escolhas com a constante adequação
pações antigas nesses mesmos locais. A di- a uma paisagem em transformação.
nâmica arqueológica dos sítios amazônicos
segue seu curso, e a história de ocupação do Nossa habilidade no sentido de conceber
local continua sendo construída pelos ribei- analiticamente as coisas-através-do-
rinhos, que mantêm ainda hoje muitos há- tempo, ou a cultura-através-do-tempo,
bitos dos seus antecessores - caçando, pes- depende, em última estância de questões
cando, abrindo os roçados, manejando árvo- acerca de questões sobre visibilidade – o que,
res e cuidando de seus quintais. sobre o passado, podemos concretamente
visualizar no presente. (HECKENBERGER,
Os motivos que levam os atuais moradores 2001, p. 23).
a escolherem seus locais para viver, pro-
vavelmente se assemelham às motivações Com um caráter interdisciplinar, a arque-
passadas. Áreas de encontro de rios e pro- ologia na Reserva de Desenvolvimento
ximidades dos lagos - pela facilidade geo- Sustentável Amanã (RDSA) busca investi-
gráfica que oferecem para a locomoção na gar a história das populações humanas na
área, dependente dos cursos hídricos, e pelo Amazônia segundo o modo como estas se
potencial pesqueiro -, foram e continuam a apropriaram, transformaram e represen-
ser locais recorrentemente procurados. Ao taram a paisagem. A pesquisa adota uma
mesmo tempo, essas populações constan- linha de trabalho que integra estudos so-
temente se aproveitam de transformações bre as mudanças ambientais, padrões de
feitas pelos antigos na paisagem. As chama- assentamento e a chamada cultura mate-
das “capoeira de índio”, ou florestas antró- rial, especialmente aqueles relacionados
picas, geralmente são áreas onde crescem aos ambientes alagáveis e a ambientes cir-
plantas frutíferas que fornecem alimento cunvizinhos ou associados. Investiga, ain-
aos moradores, atraem a caça, e até mesmo da, a variabilidade decorrente da relação
a pesca, no caso das matas inundáveis de entre ambientes alagáveis e de terra firme
igapó. Áreas com a chamada “Terra Preta de com seus artefatos, além da expansão e da

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movimentação das sociedades. Finalmen- mações. Ainda não está claro o quanto de
te, a partir de uma abordagem etnográfica, sua produção foi intencional ou não, mas
também são enfocadas as formas de trans- o fenômeno é interpretado como marca-
missão e de compartilhamento do conheci- dor cronológico, cultural e social, indi-
mento adquirido nesse processo de intera- cando o aumento da densidade demográ-
ção dos pesquisadores com as comunida- fica e o estabelecimento de assentamentos
des locais, que convivem com o patrimônio sedentários na Amazônia, que começam a
arqueológico e, muitas vezes, se envolvem ocorrer por volta do primeiro milênio AC1
nas pesquisas arqueológicas. AC e têm seu ápice por volta do século V DC
(PETERSEN, NEVES e HECKENBERGER,
  2001; ARROYO-KALIN, 2010). Tais solos
apresentam coloração escura, considerá-
A Ecologia das Antigas Sociedades vel índice de matéria orgânica, pH eleva-
do, teores elevados de cálcio, magnésio e
A relação dos antigos grupos humanos fósforo (LEHMANN et al., 2003; FALCÃO
com o ambiente amazônico vem sendo et al., 2008), mostrando-se altamente fér-
discutida há décadas pela arqueologia teis, com grande biodiversidade florística
amazônica, incorporando diversas (FRASER, JUNQUEIRA, CLEMENT, 2011;
disciplinas. (BARLOW et al., 2012; LINS et al., 2015).
CLEMENT e JUNQUEIRA, 2010; DENEVAN,
1992; HECKENBERGER et al., 2003; Mais recentemente, algumas pesquisas
NEVES, 2013). As hipóteses em torno dessa têm focado as transformações humanas
discussão, a grosso modo, se dividiram em ao longo da história da floresta amazônica.
dois blocos: pequenos grupos, com alto Os dados indicam a existência de florestas
grau de mobilidade e baixo impacto sobre antropogênicas com alta densidade e va-
o meio ambiente (MEGGERS, 1954, 1976); riedade de plantas úteis, introduzidas por
e grupos maiores, com ocupações mais práticas agroflorestais (SHEPARD e RA-
duradouras em uma mesma área, e cujas MIREZ, 2011; BALÉE, 2010; JUNQUEIRA et
atividades de subsistência provocaram al., 2010; POLITIS, 1996). Essas pesquisas,
modificações de grande escala na baseadas principalmente em ecologia e pe-
natureza, tanto na fertilidade dos solos dologia, propuseram a ocorrência de gran-
quanto na biodiversidade da floresta des populações sedentárias que maneja-
(HECKENBERGER, 2008; ROOSEVELT,
vam o meio ambiente para sua subsistên-
2014; NEVES, 2013; CLEMENT et. al., 2015;
cia, deixando uma assinatura nas plantas
LEVIS et al., 2017). Segundo o modelo
e nos solos que permanecem na Amazônia
de Meggers (1976), influenciado pelos
até hoje. No entanto, ainda não está claro
conceitos da “cultura de floresta tropical”,
quando essas modificações ocorreram (e.g.
de Steward (1948) e Lowie (1948), o
período da borracha ou período pré-colo-
bioma amazônico não poderia sustentar
nial), qual sua relação com os sítios arque-
sociedades hierarquizadas e sedentárias,
devido à disposição esparsa dos recursos ológicos (PIPERNO, MCMICHAEL e BUSH,
e à dificuldade de obtenção dos mesmos. 2015) e a área de abrangência desse impac-
Em contrapartida, outros arqueólogos to humano (MCMICHAEL et al., 2012).
(LATHRAP, 1970; BROCHADO, 1989;
LATHRAP e OLIVER, 1987; DENEVAN, A escala de impacto humano no ambiente
1996) consideram que a agricultura de amazônico e as formas de subsistência das
várzea e o acesso à proteína aquática populações indígenas ainda abrem muitas
permitiriam um grande adensamento questões a serem esclarecidas, e consti-
demográfico, sustentando sociedades com tuem assuntos centrais para se compre-
alto desenvolvimento cultural. ender a Amazônia no passado e no pre-
sente. Encontra-se, portanto, diante de
Embora com algumas especificidades, am- um bioma com alta diversidade biológica
bas as hipóteses questionam a ideia de um (AB’SÁBER, 2003), onde diferentes es-
ambiente amazônico “natural” e o colocam tratégias de ocupação e manejo ambien-
no centro de uma discussão sobre antropi- tal podem ter sido utilizadas conforme o
zação, que continuamente transforma esse período e a região. Nesse sentido, as pes-
ambiente. Os solos de Terra Preta de Índio quisas em escala regional são úteis para
(TPI), encontrados em toda a Amazônia, identificar padrões localizados e com uma
são um exemplo icônico dessas transfor- cronologia bem definida.

1
AC = Antes de Cristo; DC = Depois de Cristo

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Arqueologia na RDSA Em 2001, introduziram-se as primeiras
pesquisas arqueológicas na RDSA, pela de-
As pesquisas arqueológicas sistemáticas, manda local dos moradores da comunida-
tanto no âmbito acadêmico quanto nas de Boa Esperança (Figura 23), que, naquele
ações de licenciamento ambiental, têm momento, anteviam o potencial dos artefa-
sido desenvolvidas durante os últimos 20 tos encontrados no solo para explorar ativi-
anos na Amazônia Central (médio Solimões dades de turismo na localidade. Da mesma
e confluência dos rios Solimões e Negro), maneira, eles expressavam a preocupação
resultando em centenas de sítios arque- com a integridade das peças descobertas ao
ológicos identificados. Os levantamentos longo de toda a superfície do solo da comu-
indicam a presença de sítios arqueológicos nidade, devido a ameaças naturais e antró-
de diversas composições e naturezas, tais picas a que estavam expostas (SHEPARD,
como, sítios líticos (só com artefatos de pe- 2001 apud GOMES, 2015). Nesse mesmo
dra), localizados em áreas de campinarana, ano, uma equipe composta por pesquisa-
sítios cerâmicos multicomponenciais (que dores da Universidade Federal de Minas
apresentam vestígios de diferentes perío- Gerais e da Universidade de São Paulo, do
dos de ocupação humana), unicomponen- Instituto de Desenvolvimento Sustentável
ciais (com vestígios de uma única ocupação) Mamirauá (IDSM) e de moradores da RDSA
e sítios históricos (com vestígios da coloni- fizeram um rápido levantamento de sítios
zação europeia). Essa macrorregião apre- arqueológicos, realizando coletas superfi-
senta uma grande variabilidade cultural ciais de vestígios cerâmicos, o que resultou
derivada de grupos com padrões culturais na identificação de quatro sítios: Marajó do
distintos que ali se desenvolveram ao longo Amanã, Bom Jesus do Baré, Boa Esperança
do tempo. Esse quadro, em grande medida, e Kalafate. Todos atualmente localizados
se dá pela abrangência do Projeto Amazônia nas terras das atuais comunidades do lago
Central (PAC) (NEVES, 2013). Amanã (LIMA et al., 2006).

As antigas ocupações humanas no entorno


do médio rio Solimões e baixo rio Japurá –
área onde se localiza a RDSA – estão intrin-
secamente conectadas ao contexto de toda a
bacia do rio Solimões. Existem inúmeros le-
vantamentos, gerais e pontuais, na região do
baixo rio Solimões e na sua confluência com
o rio Negro que possibilitaram configurar
um mosaico regional através da observação
das cronologias das ocupações, das modi-
ficações na paisagem dos sítios (estruturas
artificiais e TPI), de análises arqueométri-
cas e paleobotânicas, dos modos de sepultar
os mortos, entre outros aspectos (NEVES, 2013;
TAMANAHA, 2012; PY-DANIEL, 2009, LIMA,
2008; MACHADO, 2005). Por outro lado, devi-
do ao tamanho dessa região, o médio Solimões
ainda está em estágio inicial em se tratando
do desenvolvimento de pesquisas, em al-
guns casos com a identificação de sítios e o
estabelecimento de cronologias através de
vestígios cerâmicos, ósseos e botânicos. Até
o momento, as pesquisas foram desenvol-
vidas nas proximidades da cidade de Tefé
e na RDSA (FERIZ, 1962; HILBERT, 1968;
COSTA, 2012; SHOCK et al., 2014; GOMES,
2015; BELLETTI, 2015; TAMANAHA et al.,
2015). Somente na RDSA são conhecidos
40 sítios arqueológicos distribuídos por
áreas comunitárias, assentamentos re-
centemente abandonados e roçados dos
atuais moradores. Apesar desse número
ser significativo, a previsão é de que ele
aumente consideravelmente com a imple-
mentação de novos projetos de pesquisa
(ver Figura 22).

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Figura 22 - Localização dos sítios arqueológicos da RDSA.

Fonte: IDSM/Plano de Manejo RDSA, 2015


Baseado em Costa (2012) e Gomes (2015).

O levantamento não interventivo realizado Figura 23 - Escavação de urnas funerárias


no lago Amanã, entre os anos de 2006 e 2008, por moradores do Boa Esperança - 2001.
resultou na identificação e no cadastramen-
to de 32 sítios arqueológicos e três coleções
particulares. Posteriormente, tais coleções
foram organizadas e exibidas na rádio co-
munitária “A Voz da Selva”, (COSTA, 2012).

A avaliação da relevância dos sítios foi feita


com base nos fatores que impactam os ves-
tígios arqueológicos. Os principais impactos
naturais são a erosão fluvial e pluvial a que
estão expostos os vestígios, causando a des-
truição de muitos. Além desse fator, o clima
tropical quente e úmido dificulta a conserva-
ção de vestígios orgânicos. Outros fatores as-
sociados a atividades diárias dos moradores,
como a construção de casas, aterros, poços
artesianos, lixeiras, a limpeza dos terrenos
e o trânsito de pessoas também têm altera-
do os sítios arqueológicos. Essa metodologia
permitiu selecionar os sítios prioritários para
proceder as etapas de intervenção. Até o mo-
mento, são registrdos seis: Boa Esperança,
Bom Jesus do Baré, Cacoal do Amanã, Kala-
fate, Monte Sinai e São Miguel do Cacau.

Boa Esperança é um sítio de 15 hectares que


pode ser dividido em dois setores. O primeiro Fonte: Shepard, 2001.

SOCIOBIODIVERSIDADE DO AMANÃ 159


é composto por dezenas de vasilhames in- sível observar uma organização do espaço
tactos aflorando na superfície do solo, pos- semelhante à encontrada no sítio de Boa
sivelmente associados a um complexo fune- Esperança, com a concentração das peças
rário. Esse setor, que vem sofrendo severos nas proximidades da margem do lago e com
impactos, acompanha a margem do igarapé um bloco de terra preta situado no centro
Boa Esperança e do lago Amanã, seguindo do terreno. Embora a presença de vestígios
o formato linear da comunidade. O segundo nesta área parece ser significativa, estes não
setor consiste numa mancha de terra pre- estão aflorando à superfície. Assim como no
ta localizada nas áreas de pomar, no fundo sítio Cacoal do Amanã, foi possível identi-
das casas. Esta constitui a maior parte do ficar interações culturais entre duas cultu-
sítio, mas em razão do aumento do número ras cerâmicas diferentes, sendo encontrado
de residências tornou-se menos visível do material de uma cultura (Fase Tefé) dentro
que no momento de sua identificação. Apa- de urna funerária de outra (Fase Caiambé).
rentemente, essa distinção espacial do sítio Adiante, se discute mais detidamente os
se deve a momentos diferentes de ocupação, significados das diferentes fases2 cerâmicas.
mas ainda não se sabe se e como esses gru-
pos interagiram entre si. No sítio Bom Jesus do Baré constatou-se a
ausência de TPI, apesar do número conside-
O sítio Cacoal do Amanã, embora não abri- rável de fragmentos e vasilhas aflorando no
gue atualmente nenhuma comunidade, vi- solo. Não se sabe exatamente se a ausência
nha sofrendo impacto devido à criação de de TPI decorre do fato de se tratar de um sítio
gado bovino no local. O mapeamento con- cemitério ou se a curta ocupação do terreno
cluiu que sua área é de 6 hectares, sendo não teria permitido a formação de um solo
classificado como sítio unicomponencial. mais escuro. Outra possibilidade é que a di-
A análise cerâmica suscitou questões sobre nâmica fluvial do lago, que encharca o solo
a interação entre habitantes das diferentes quase por completo nas cheias, impede a
ocupações, em razão da presença de traços formação da terra preta.
decorativos híbridos e de ausência de mu-
danças significativas nas técnicas de manu- Até o momento, somente quatro sítios ar-
fatura da cerâmica. queológicos tiveram seus contextos datados
por radiocarbono (Tabela 2), mostrando, si-
São Miguel do Cacau possui uma área de multaneamente, diferentes períodos de ocu-
pouco mais de três hectares. Nele, é pos- pação e contemporaneidade em outros.

Tabela 2 - Datação dos sítios arqueológicos na RDSA.

Sítio Data Convencional Data Calibrada -2


Arqueológico AP * sigmas (AC/DC) Referências

Boa Esperança 3.320 ± 30 1.680 AC – 1520 AC Costa, 2012


Boa Esperança 2.800 ± 30 1.010 AC – 900 AC Costa, 2012
Boa Esperança 2.690 ± 30 900 AC – 800 AC Costa, 2012
Boa Esperança 2.500 ± 40 790 AC – 490 AC Costa, 2012
Boa Esperança 2.410 ± 40 750 AC – 690 AC Costa, 2012
Boa Esperança 1.520 ± 30 440 DC – 490 DC Costa, 2012
Boa Esperança 1.220 ± 30 690 DC – 750 DC Costa, 2012
Boa Esperança 1.080 ± 30 890 DC – 1.020 DC Costa, 2012
Bom Jesus do Baré 1.560 ± 30 464 DC – 631 DC Gomes, 2015
Cacoal 1.270 ± 30 670 DC – 780 DC Gomes, 2015
São Miguel do Cacau 2.700 ± 30 895 AC – 793 AC Gomes, 2015
São Miguel do Cacau 1.240 ± 30 926 DC – 924 DC Gomes, 2015
São Miguel do Cacau 990 ± 30 1.025 DC – 1.159 DC Gomes, 2015

Fonte: Costa (2012); Gomes (2015).


*AP – Antes do presente, considerando-se como “presente” o ano de 1950.

2
Classificação arqueológica dos vestígios cerâmicos a partir de atributos estilísticos.

160 SOCIOBIODIVERSIDADE DO AMANÃ


O sítio Kalafate possui um contexto seme- associados à cerâmica da Fase Amanã, iden-
lhante ao de Bom Jesus do Baré. Na área mais tificada durante escavações realizadas no
próxima à margem do lago é possível obser- sítio Boa Esperança, na RDSA, datada entre
var grande número de fragmentos cerâmicos 1.610 AC e 930 AC (COSTA, 2012). Cerâmicas
e vasilhas na superfície. No entanto, o grau de da Fase Amanã estavam depositadas em um
preservação do sítio é baixo, estando restrito buraco (feição) associado à ocupação poste-
a uma área de 0,2 hectares. rior (Fase Pocó). A interpretação para esse
enterramento sugere indícios da formação
O sítio Monte Sinai possui uma área de 2,2 do que Barreto (2013) chamou de “bolsão
hectares, com pacote arqueológico forma- de memória”, um processo simbólico de
do por pequenas quantidades de cerâmica e enterrar qualquer evidência de antigos ocu-
terra mulata, caracterizado por um solo an- pantes a fim de garantir o seu esquecimento
tropogênico mais claro que a terra preta, pro- ou a sua invisibilidade para os novos ocu-
vavelmente associado a atividades de plantio pantes (COSTA, 2012).
no passado. Dos sítios escavados que pos-
suem vasilhas estruturadas ou parcialmente Ao final do primeiro milênio AC, há evidên-
estruturadas, observa-se diversas questões cias das primeiras ocupações cerâmicas as-
de interesse. De maneira geral, a pergunta- sociadas à TPI, conhecida como cerâmica
-base dirige-se à existência de áreas (sítios) Pocó, e que está na base de vários sítios ar-
específicas para enterrar os mortos - onde queológicos encontrados no baixo e médio
as vasilhas são urnas funerárias ou artefatos Solimões. Nesse momento, existem evidên-
que acompanham os sepultamentos -, sua cias visíveis e intensas de alterações antró-
frequência ao longo do lago Amanã e sua va- picas da paisagem, tendo como correlato o
riabilidade. Dos sítios estudados, o Bom Jesus início da formação da terra preta, entre 300
do Baré tem um contexto diferenciado e leva AC - 360 DC, no baixo Solimões, e entre 830
à especulação sobre se haveria uma área es- AC - 410 AC para o lago Amanã. Essa cerâmi-
pecífica para os sepultamentos (COSTA et al., ca é caracterizada por decorações pintadas e
2012). Se esse for o caso, há aí a manutenção plásticas, flanges3 labiais e mesiais e uso do
de alguns espaços sociais. Segundo os auto- cauixi e caraipé como antiplástico (NEVES,
res, além do Bom Jesus do Baré, também fo- 2013). A cerâmica Pocó pode ser encontrada
ram identificados sepultamentos em urnas nas bacias dos rios Negro, Japurá/Caquetá,
no sítio de São Miguel do Cacau (COSTA et al., Branco, Amazonas, Trombetas e Tapajós,
2012). Outros questionamentos mais especí- sendo possível correlações com as cerâmi-
ficos sobre a forma de sepultar, sobre a cro- cas Saladóides da bacia do rio Orinoco, nas
nologia desses episódios e sobre a existência Guianas. Sua ampla dispersão pelas princi-
pais bacias amazônicas, associada ao início
conjunta de vestígios associados a cemitérios
da formação da terra preta, indica um modo
podem revelar aspectos de como esses an-
de vida já mais sedentário e um possível de-
tepassados viveram, embora os dados a esse
senvolvimento da agricultura, fatores que
respeito ainda sejam lacunares.
alguns autores interpretam como correlato
material da expansão dos grupos falantes
Com esse quadro, as pesquisas se concentra- de língua Arawak (NEVES et al., 2014; HOR-
ram na identificação e caracterização dos sí- NBORG, 2005; HECKENBERGER, 2002). De
tios arqueológicos da região. Do ponto de vista toda forma, as cerâmicas das Fases Amanã
teórico, as informações produzidas desenca- e Pocó marcam apropriações diferentes dos
dearam discussões relevantes sobre os pro- espaços em relação às ocupações pré-colo-
cessos pré-coloniais de ocupação humana, niais posteriores, e no caso particular da Fase
sobretudo no que se refere à sua antiguidade, Pocó, dos hábitos de vida dessas populações.
variabilidade cultural e modos como esses
diferentes grupos interagiam, bem como em
Nos séculos seguintes, observa-se uma in-
termos de ocupação dos lugares e forma de
tensificação na formação das terras pretas,
materialização dessas relações. associadas aos estilos regionais vistos nas ce-
râmicas. No médio Solimões esse período foi
denominado arqueologicamente como Fase
Caiambé (HILBERT, 1968; GOMES, 2015).
A Longa e Contínua História de Ocupação
da RDSA Definida por Hilbert (1968), a Fase Caiam-
bé está vinculada à Tradição Borda Incisa
Resumindo-se, os vestígios arqueológicos (TBI), que tem manifestações desde o bai-
mais antigos evidenciados nessa região estão xo Amazonas até a região do médio Orinoco

3
Extensões externadas da borda (flange labial) ou do corpo da vasilha (flange mesial), formando uma pequena superfície horizontal na peça.

SOCIOBIODIVERSIDADE DO AMANÃ 161


(MEGGERS e EVANS, 1961). As cerâmicas da Figura 24 - Fragmento de urna funerária
Fase Caiambé (Figura 24) têm algumas ca- da Fase Caiambé encontrado no sítio de Boa
racterísticas gerais daquelas associadas à Esperança.
TBI, como a presença de apliques modela-
dos zoomorfos e antropomorfos, decoração
incisa com motivos retilíneos, pintura e en-
gobo4 vermelho e a presença de flanges la-
biais. Suas particularidades residem na pre-
sença de policromia (pintura preta e verme-
lha sob engobo branco), aplicação do cauixi
com caraipé e o constante uso de incisões
duplas nas decorações plásticas (HILBERT,
1968; GOMES, 2015). Além disso, não há uma
marcada ruptura entre a formação dos de-
pósitos Caiambé e a formação dos depósitos
associados à Fase Tefé, típica da Tradição
Fonte: Fidelix, 2015.
Policroma da Amazônia (TPA). Muitas vezes,
os elementos dessas cerâmicas se combinam
nos sítios do médio Solimões (lago Tefé), de-
monstrando que o processo de convivência
entre os grupos que as produziram baseou-se a sítios distantes entre si alguns milhares de
na manutenção de relações amistosas. quilômetros (BOOMERT, 2004; ALMEIDA e
NEVES, 2014; TAMANAHA e NEVES, 2014;
Os depósitos da cerâmica Caiambé estão as- BELLETTI, 2015).
sociados a grandes extensões de terra preta,
urnas funerárias globulares com carenas5 A Fase Tefé também foi definida por Hilbert
próximas das bordas e locais específicos (1968), podendo ser caracterizada pela pre-
para os seus enterramentos. Embora o tema sença de aspectos como: policromia (pintu-
abranja momentos significativos da história ra vermelha, preta e amarela sobre engobo
humana pré-colonial, com exceção dos tra- branco), flanges mesiais, rolete reforçado
balhos de Hilbert, até o momento, existem nos lábios, decoração plástica acanalada
apenas três pesquisas sobre ocupações (COS- e sepultamentos em urnas antropomor-
TA, 2012; GOMES, 2015; BELLETTI, 2015) fas (COSTA, 2012; NEVES, 2013; OLIVEIRA,
identificando, no lago Amanã, alguns sítios 2016). Sua ocupação está associada à última
arqueológicos sem terra preta, e com deze- camada dos sítios arqueológicos multicom-
nas de bojos superiores aflorando à super- ponenciais. Em contextos unicomponen-
fície (COSTA, 2012). As datações disponíveis ciais, é representada por uma camada de até
indicam um período de ocupação que começa 50 cm de profundidade, com presença de
em 600 DC e se prolonga até 1.000 DC. terra preta. As datações indicam um perío-
do entre 500 DC e o período colonial (século
XVII) (COSTA, 2012; BELLETTI, 2015).
O período que antecede a chegada dos euro-
peus na Amazônia é marcado pela Fase Tefé,
associada à Tradição Policroma da Amazônia
(TPA). É importante ressaltar que sítios com
cerâmicas da Tradição Policroma têm uma
ampla distribuição pela Amazônia e podem
ser encontrados desde o alto rio Napo, no
sopé dos Andes equatorianos e no baixo rio
Ucayali, no Peru, até a ilha de Marajó, na foz
do Amazonas. Os vestígios cerâmicos – prin-
cipalmente as peças produzidas na Amazônia
central e ocidental – guardam uma grande
padronização formal e estilística, que per-
mite fácil identificação, mesmo pertencendo

4
Técnica decorativa utilizada na superfície da cerâmica que consiste na aplicação de uma fina camada de argila colorida (vermelho,
branco, laranja, etc.), formando uma película com aspecto mais liso e uniforme. Normalmente é utilizado com base para aplicação de
outras pinturas (e.g.: embobo branco por baixo e pinturas vermelhas por cima).

5
Porção angular no contorno do corpo de uma vasilha cerâmica, que forma um ponto de inflexão, podendo ocorrer uma ou mais vezes
em uma mesma peça.

162 SOCIOBIODIVERSIDADE DO AMANÃ


Figura 25- Gráfico de ocupação das quatro fases cerâmicas identificadas na RDSA, representadas
em AC e DC.
Cronologia da ocupação na RDSA

Tefé
Fases cerâmicas

Caiambé

Pocó

Amanã

-2000 -1500 -1000 -500 0 500 1000 1500 2000

Anos
Fonte: Tamanaha, 2015.

As sociedades que produziram a cerâmi- A violência foi usada de maneira recorrente,


ca Tefé foram as últimas a ocupar o médio valendo-se de diversos métodos para garan-
Solimões e, provavelmente, as mesmas que tir o recrutamento e a permanência da mão
entraram em contato com os primeiros co- de obra indígena nas frentes da exploração da
lonizadores europeus, no século XVI DC. borracha (KOCH-GRÜNBERG, 2005 [1909];
As descrições realizadas por esses explo- TAUSSIG, 1993; WEINSTEIN, 1993). No mes-
radores e viajantes demonstram que todo mo período, iniciou-se um processo migra-
o curso do médio Solimões era habitado tório em larga escala, com levas de campo-
por diferentes povos de línguas distintas neses nordestinos se deslocando em direção à
(HEMMING, 2007), que praticavam um in- Amazônia, sendo, mais tarde, absorvidas pela
tenso comércio, assim como a guerra entre empresa seringalista, que as submeteriam a
os povos, tanto entre vizinhos como com tratamento similar àquele reservado aos in-
populações mais distantes. Essas redes de dígenas (OLIVEIRA, 1979).
interação interétnicas foram desestrutu-
radas após o longo período de contato com
os europeus, criando-se uma nova dinâ-
mica social e política na bacia amazônica
(VIDAL, 2000). As doenças trazidas pelos Relação entre os Atuais Moradores e os
europeus e a caça aos escravos deixaram Vestígios Arqueológicos
um imenso vazio ao longo das margens dos
lagos e rios, impactando toda dinâmica po- Em toda a Amazônia existem múltiplas for-
lítica e comercial existente, abrindo espa- mas estabelecidas de relação entre as popu-
ço para que outros povos ocupassem essas lações atuais e seus objetos, transformados
novas áreas, como é o caso dos Tikuna no em vestígios arqueológicos pelas pesquisas
alto e médio Solimões (OLIVEIRA, 2002). A (BEZERRA, 2011, 2013, 2014; CARNEIRO,
cronologia de ocupação na RDSA pode ser 2014a, 2014b; SILVA, 2015). Para um maior
observada na Figura 25. entendimento dessas relações, os objetos
arqueológicos devem ser identificados a
Durante os séculos XIX e início do XX, os des- partir da sua apropriação pelas comunida-
locamentos forçados dos povos indígenas des, à medida que lhes são atribuídas sig-
continuaram devido à demanda de mão de nificâncias no presente. Portanto, ainda é
obra para os seringais. A exploração das áre- difícil estabelecer uma definição homogê-
as centrais de terra firme, onde alguns povos nea para o chamado patrimônio, uma vez
haviam se refugiado após o primeiro momen- que esse conceito incorpora múltiplos sig-
to da ocupação colonial, resultou em contatos nificados, que podem variar de acordo com
desastrosos. Na segunda metade do século as identidades de caráter pessoal ou social.
XIX, o aumento da demanda pela borracha Essas, por sua vez, são identidades cotidia-
intensificou a busca pela mão de obra indí- namente construídas e reelaboradas pelos
gena por parte de seringalistas e caucheiros. indivíduos e seus grupos sociais.

SOCIOBIODIVERSIDADE DO AMANÃ 163


164 SOCIOBIODIVERSIDADE DO AMANÃ
© Adriano Gambarini

SOCIOBIODIVERSIDADE DO AMANÃ 165


O sentido plural de patrimônio também diz SANTOS e COSTA, 2014).
respeito ao meio no qual se desenrolam as
relações humanas, entendido enquanto lo- O modo mais eficaz de abordar as ativida-
cal criado e transformado a partir de expe- des arqueológicas é definindo pesquisas
riências humanas. Portanto, a construção para conhecer a história do lugar, amplian-
e significação desses lugares é eminente- do a visão local da arqueologia como área
mente antrópica. Os lugares devem ser ana- de conhecimento exclusivo da história dos
lisados de uma perspectiva arqueológica, a índios (GOMES, 2015). Essa abordagem foi
partir da noção de paisagem patrimonial, corroborada pelo diagnóstico de musealiza-
sendo paisagem, por definição, um “fenô- ção (BARRETO, 2012). Dessa forma, os tra-
meno da cultura […] que reflete a sutileza balhos realizados em áreas reocupadas ao
dos arranjos socioculturais imersa na ex- longo do tempo por grupos distintos apon-
periência de viver o lugar de pertencimento tam caminhos desafiadores no que tange
ao longo do tempo” (SILVEIRA e BEZERRA, às diferentes interpretações dos habitantes
2007, p. 91). Entende-se que essa noção de locais, instigando o campo da arqueologia a
pertencimento é uma condição particular- considerar novos olhares e distintas práti-
mente importante em áreas de proteção cas patrimoniais.
ambiental, nas quais, muitas vezes, o senti-
do espacial é transformado pela própria ló-
gica de proteção, que passa a alterar a per-
manência e o uso nessas áreas.
Considerações Finais
Na RDSA, através do diagnóstico patrimonial
(BARRETO, 2012), identificou-se algumas Ao longo de dois milênios, registros de ocu-
situações de desconhecimento dos morado- pações humanas pré-coloniais foram en-
res acerca do significado arqueológico dos contrados para a região do médio Solimões,
sítios e de sua correlação com o patrimônio habitada por distintas culturas, de diferen-
da União; de não compreensão de formas e tes dimensões populacionais. Nesse sentido,
ações de preservação in situ; além de rejeição conforme exposto ao longo do texto, ainda
com relação ao passado indígena ou à exis- não está claro de que maneira essas popula-
tência de vínculos com os antigos habitantes ções interagiram, manejaram, modificaram
da região. Esses são os principais fatores que e transformaram o meio ambiente.
levam ao descaso e/ou destruição do patri-
mônio arqueológico local. Apesar disso, em Apesar de todo colapso estrutural que ocor-
todas as comunidades, há moradores inte- reu com as sociedades ameríndias após a
ressados nesses vestígios, mesmo que ape- chegada dos europeus, vários aspectos cul-
nas demonstrando sua curiosidade natural turais e conhecimentos gerados sobre o bio-
pela antiguidade, ou outras vezes, antevendo ma amazônico acabaram por ser incorpora-
o valor turístico/econômico que essas peças dos e/ou transformados ao longo do tempo
possam representar. Nesse sentido, são co- pelos novos moradores (europeus, africanos,
muns as formulações e representações dos nordestinos, etc.). No entanto, a produção e
moradores locais acerca dos artefatos en- reprodução contínua desse conhecimento,
contrados, além de outros tipos de reações que pode ter origens pré-coloniais, repre-
e de usos que podem ser suscitados, contri- sentam um conjunto de saberes e práticas
buindo para ampliar os debates patrimoniais situados ambiental e localmente, e deno-
e preservacionistas nesse campo. minados genericamente por conhecimentos
tradicionais (PERALTA, 2012). Observa-se
A título de exemplo, sobre as urnas encon- que muitas dessas práticas, principalmen-
tradas em abundância nos terrenos, há uma te em seus aspectos florísticos, continuam
narrativa local detalhada sobre a forma de vivas entre as populações atuais (POLITIS,
sepultamento dos índios que ali viveram, 1996; CLEMENT et al., 2003).
destacando-se a posição de cócoras do cor-
po, que era acompanhado de objetos ou pra- Não obstante, a relação das comunidades
tos com farinha. O curioso é que nas análi- ribeirinhas com os vestígios arqueológicos
ses de arqueologia funerária esta proposição encontrados é variada, podendo despertar
é de certa forma corroborada, já que foram colecionismo, curiosidade, interpretações
encontrados indícios de sepultamento pri- locais para os contextos arqueológicos,
mário dentro de urnas acompanhadas com medo de visagens, entre outros (GOMES,
pertences dos mortos (COSTA et al., 2012). SANTOS e COSTA, 2014). Essas distintas re-
Dessa maneira, cabe ressaltar a importância lações com os vestígios trazem novos desa-
das formulações nativas e de que modo de- fios para a prática da arqueologia e, sobre-
vem estas devem ser consideradas na produ- tudo, para as estratégias de socialização do
ção do conhecimento arqueológico (GOMES, patrimônio arqueológico.

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