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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE OVAR Escola Secundária C/ 3º CEB José Macedo Fragateiro

PORTUGUÊS – 11º

Ficha 2 – Educação Literária – “OS Maias”


GRUPO I
A
Apresente as tuas respostas de forma bem estruturada.
Leia o texto atentamente

Mas quando ela se acomodou ao lado da viscondessa, gravezinha e com as mãos no regaço – Carlos
veio logo estirar-se ao pé dela, meio deitado para as costas do canapé, bamboleando as pernas.
– Vamos, filho, tem maneiras – rosnou-lhe seca D. Ana.
– Estou cansado, governei quatro cavalos – replicou ele, insolente e sem a olhar.
De repente, porém, de um salto, precipitou-se sobre o Eusebiozinho. Queria-o levar à África,
combater os selvagens e puxava-o já pelo seu belo plaid de cavaleiro da Escócia, quando a mamã acudiu
aterrada:
– Não, com o Eusebiozinho não, filho! Não tem saúde para essas cavaladas… Carlinhos, olhe que eu
chamo o avô!
Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão, soltando gritos medonhos. Foi um
alvoroço, um levantamento. A mãe trémula, agachada junto dele, punha-o de pé, sobre as perninhas
moles, limpando-lhe as grossas lágrimas, já com o lenço, já com beijos, quase a chorar também. O
delegado, consternado, apanhara o boné escocês, e cofiava melancolicamente a bela pena de galo. E a
viscondessa apertava às mãos ambas o enorme seio, como se as palpitações a sufocassem.
O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi; e a severa senhora, com um fulgor
de cólera na face magra, apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se a repelir o Carlinhos,
que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda do canapé, ria, arreganhando para o Eusebiozinho
um lábio feroz. Mas nesse momento, davam nove horas, e a desempenada figura do Brown apareceu à
porta.
Apenas o avistou, Carlos correu a refugiar-se por detrás da viscondessa, gritando:
– Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar!
Então Afonso da Maia, que não se movera aos uivos lancinantes do Silveirinha, disse de dentro, da
mesa do voltarete, com severidade:
– Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama.
– Ó vovô, é festa, que está cá o Vilaça!
Afonso da Maia pousou as cartas, atravessou a sala sem uma palavra, agarrou o rapaz pelo braço, e
arrastou-o pelo corredor – enquanto ele, de calcanhares fincados no soalho, resistia, protestando com
desespero:
– É festa, vovô… É uma maldade!… O Vilaça pode-se escandalizar… Ó vovô, eu não tenho sono!
Uma porta fechando-se abafou-lhe o clamor. As senhoras censuraram logo aquela rigidez: aí estava
uma coisa incompreensível; o avô deixava-lhe fazer todos os horrores e recusava-lhe então o bocadinho
da soirée…
– Ó sr. Afonso da Maia, porque não deixou estar a criança?
– É necessário método, é necessário método – balbuciou ele, entrando, todo pálido do seu rigor.
Eça de Queirós. Os Maias. 2015. Porto: Livros do Brasil.

1. Indique três traços da personalidade de Carlos, com base no seu comportamento.


2. A entrada de Brown acontece entre dois momentos relevantes demonstrativos do posicionamento
educacional do avô em relação ao neto.
2.1. Justifique a afirmação.
3. Clarifique o sentido do segmento “todos os horrores”, tendo em conta a informação fornecida pelo
texto.

Leia o seguinte texto.

O velho levou muito tempo a procurar, a tirar a luneta de entre o colete com os seus pobres dedos
que tremiam; leu o papel devagar, empalidecendo mais a cada linha, respirando penosamente; ao findar
deixou cair sobre os joelhos as mãos, que ainda agarravam o papel, ficou como esmagado e sem força.
As palavras por fim vieram-lhe apagadas, morosas. Ele nada sabia…O que a Monforte ali assegurava, ele
não podia destruir… Essa senhora da rua de S. Francisco era talvez na verdade sua neta… Não sabia
mais…
E Carlos diante dele vergava os ombros, esmagado também sob a certeza da sua desgraça.
O avô, testemunha do passado, nada sabia! Aquela declaração, toda a história do Guimarães aí
permaneciam inteiras, irrefutáveis. Nada havia, nem memória do homem, nem documento escrito, que
as pudesse abalar. Maria Eduarda era, pois, sua irmã!… E um defronte do outro, o velho e o neto
pareciam dobrados por uma mesma dor – nascida da mesma ideia.
Por fim Afonso ergueu-se, fortemente encostado à bengala, foi pousar sobre a mesa o papel da
Monforte. Deu um olhar, sem lhes tocar, às cartas espalhadas em volta da caixa de charutos.
Depois, lentamente, passando a mão pela testa:
– Nada mais sei… Sempre pensámos que essa criança tinha morrido… Fizeram-se todas as pesquisas…
Ela mesmo disse que lhe tinha morrido a filha, mostrou já não sei a quem um retrato…
– Era outra mais nova, a filha do italiano, disse o Ega. O Guimarães falou-me nisso… Foi esta que
viveu. Esta, que já tinha sete ou oito anos, quando havia apenas quatro ou cinco que esse sujeito
italiano aparecera em Lisboa… Foi esta.
Eça de Queirós. Os Maias. 2015. Porto: Livros do Brasil.

4. Todos os gestos e pequenas ações de Afonso da Maia são lentos e penosos.


4.1. Explicite as razões que os justificam.

5. Refira sucintamente as implicações, ao nível da intriga principal, provocadas pela informação da


última fala do texto.

GRUPO II

Leia o texto seguinte.

À (re)conquista do mundo
Recentemente divulgada, a lista das PME Líder 2015 dá conta da existência de 6131 empresas que se
distinguem pelo seu desempenho superior ao nível da sustentabilidade financeira e de risco. Trata-se de
empresas enquadradas nos mais diversos setores de atividade, algumas herdadas de uma longa tradição
familiar, outras jovens e sedentas de um percurso brilhante. Em comum têm o empenho, o trabalho, a
ambição, a resiliência e a certeza de que, para perdurarem, têm de se ajustar, encontrar oportunidades
e arriscar. São negócios feitos de portugueses determinados e destemidos. Por isso, para aqueles que
dizem “já fomos tão grandes e agora somos tão pequenos,” aqui fica a prova de que nas veias do povo
luso corre ainda o sangue de grandes navegadores como Vasco da Gama, Bartolomeu Dias […].
Então, como agora, houve sempre quem se recostasse na descrença e na dificuldade, enquanto
outros, munidos de conhecimento e de fé inabalável em que não há impossíveis, rumavam à glória.
Folheando as páginas desta edição do Guia Empresarial, dificilmente restarão dúvidas de que
continuamos “Grandes” e de que, todos os dias, há quem parta à descoberta e encontre o sucesso.
Senão vejamos o exemplo da Autoviação Feirense, que passados 80 anos da sua fundação, hoje viaja por
toda a Europa […] Poderíamos enunciar milhares de casos, tão merecedores de distinção como este, e,
todos eles atestariam a excecionalidade do povo português.
É verdade que as condições não são as melhores (mas alguma vez o foram?) e que muito mais
poderia ser feito a nível político e económico para não dificultar ainda mais a cruzada destas empresas,
mas também é verdade que é preciso querer e trabalhar para o sucesso, com a consciência de que
existirão grandes provações, obstáculos e sacrifícios, mas desistir não é opção. Na sua jornada, estas
empresas, líderes na sua classe, enfrentam os mesmos mares revoltos e ventos enfurecidos do que
todas as outras, mas lutam e acreditam!
Podemos sempre desejar um barco melhor, devemos até exigi-lo, mas não nos podemos esquecer de
que somos nós que comandamos o leme. Há grandeza em nós, uma grandeza que nos é reconhecida lá
fora, mas que, nós próprios, tendemos a ignorar. Não podemos, assim, desresponsabilizarmo-nos do
nosso destino, atirando as culpas para as circunstâncias da vida.
Aqueles que fizeram a história e os que hoje continuam a escrevê-la sabem que somos tão grandes
quanto a nossa ambição e, aí, cada um tem a sua… Mas o mundo está de portas abertas, para quem o
quiser conquistar!
Andreia Amaral. Jornal de Notícias, 18-12-2015 (adaptado).

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

1. Para a autora do artigo, Portugal continua a ter “grandes navegadores,” porque


(A) continuamos decididos e sempre prontos a arriscar.
(B) sabemos gerir com determinação as empresas herdadas da família.
(C) somos ambiciosos, trabalhadores, ousados e adaptamo-nos às circunstâncias.
(D) somos jovens e corremos atrás das oportunidades.

2. Há portugueses que facilmente abdicam do sucesso devido


(A) à burocracia que lhes é exigida.
(B) à displicência do poder político e económico.
(C) às crises recorrentes no setor económico.
(D) à falta de confiança em si mesmos.

3. Segundo a jornalista, para continuarmos a gesta heroica dos nossos antepassados, basta
(A) assumirmos o nosso destino.
(B) sabermos ultrapassar os “mares revoltos.”
(C) trabalharmos tanto cá dentro como trabalhamos lá fora.
(D) querermos, acreditarmos e nunca desistirmos.

4. A forma verbal “recostasse” encontra-se no


(A) pretérito perfeito do indicativo.
(B) pretérito imperfeito do conjuntivo.
(C) presente do conjuntivo.
(D) futuro do conjuntivo.

5. Os parênteses em “(mas alguma vez o foram?)” funciona como


(A) um comentário.
(B) um desenvolvimento.
(C) uma observação.
(D) uma explicação.
6. O segmento “líderes na sua classe” exerce a função sintática de
(A) predicativo do sujeito.
(B) modificador apositivo.
(C) modificador restritivo.
(D) predicativo do complemento direto.

7. Quanto ao processo de formação, a palavra “enfurecidos” é


(A) composta por conversão.
(B) derivada por prefixação.
(C) derivada por prefixação e sufixação.
(D) derivada por parassíntese.

8. Refere a classe e a subclasse do vocábulo sublinhado no segmento “e os que hoje continuam”.

9. Classifica a oração “Mas o mundo está de portas abertas”.

10. Indica quatro palavras do campo lexical de “navegação”, presentes no texto.

GRUPO III

Como se envelhece rápido, como a sabedoria nada tem a ver com a idade: não nos tornamos sábios,
apenas conscientes de que os riscos são inerentes a qualquer ação. (…) Mas eu sei que os jovens, no
profundo de suas almas, […] pressentem que respeitar os velhos e achá-los plenos de sabedoria é uma
das armas para enfrentar no futuro a flacidez de seus próprios músculos, a errática forma da memória,
os frios súbitos em pleno verão.
Murilo Carvalho. O Rastro do Jaguar. 2009. Leya.

Num texto organizado, de duzentas a duzentas e cinquenta palavras, escreve uma exposição sobre o
tema “Cada idade tem a sua sabedoria”.

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