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12
DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS
RELATIVAS A ARMADURAS
CARLOS FÉLIX
OUTUBRO / 2013
Departamento de Engenharia Civil
ÍNDICE
12 Disposições construtivas relativas a armaduras 12.1
12.1 Introdução
As armaduras a utilizar no fabrico das peças de betão devem estar de acordo com a
EN10080. Os diâmetros correntes em Portugal são os constantes do Quadro 12.1. A
superfície é nervurada, conferindo uma elevada aderência entre o aço e o betão (ver
Figura 12.1). Podem ser fornecidos com comprimentos diversos, ainda que o mais
corrente seja os 12m para os de maior diâmetro, e de 6m ou 12m para os diâmetros
mais reduzidos.
Diâmetro [mm] 6 8 10 12 16 20 25 32 40
2
Secção [cm ] 0.28 0.50 0.79 1.13 2.01 3.14 4.91 8.04 12.57
A400NR A500NR
No seu armazenamento deve-se ter o cuidado de evitar o contacto com substâncias que
reduzam a aderência, como óleos ou massa consistente, e o contacto com agentes
agressivos que originem camadas de corrosão não aderentes ou facilmente destacáveis.
O corte das armaduras pode ser realizado por tesoura portátil manual (ver Figura 12.2),
tesoura fixa manual ou por tesouras eléctricas, sendo estas últimas mais frequentes em
obras de média ou grande dimensão. Dependendo das suas dimensões, a tesoura portátil
manual só é adequada para diâmetros até 12mm, enquanto que a fixa permite cortar até
25mm.
As armaduras devem ser convenientemente fixadas entre si, com arames ou por
soldadura (ver Figura 12.3), de modo a que a sua posição esteja assegurada durante o
processo de betonagem.
Nos elementos de betão são ainda dispostas outras armaduras adicionais, designadas por
armaduras secundárias, que têm como funções, entre outras:
A armadura de suspensão;
As cintas em pilares;
Deve ser evitada numa mesma obra a utilização conjunta de aços de tipos diferentes,
dada a possibilidade de erros resultantes da incorrecta identificação dos aços. Contudo,
caso esta tenha sido uma opção do projecto, ou da obra, devem ser tomadas todas as
precauções de forma a distinguir-se claramente na obra entre varões rugosos de
diferentes classes, varões de aço natural e endurecido e varões soldáveis dos não
soldáveis.
cmin
cmin
A expressão geral que permite obter o valor de cmin, para ter em conta requisitos de
adequada transmissão das forças de aderência e de durabilidade, é dada por:
cmin max cmin, b ; cmin, dur c dur , c dur , st c dur , add ; 10mm (12.2)
Nas situações correntes, em que não se justifique uma margem de segurança do valor de
cmin,dur (cdur,=0), nem seja de considerar nenhuma das outras reduções (cdur,st=0 e
cdur,add=0), a expressão do recobrimento mínimo que satisfaz simultaneamente os
requisitos de aderência e de condições ambientais poderá ser simplificada do seguinte
modo:
50 anos
10 15 25 30 35 40 45
(Classe S4)
100 anos
20 25 35 40 45 50 55
(Classe S6)
Atendendo a que, nos casos correntes se recomenda cdev=10mm (ver 4.4.1.3 do EC2),
a expressão do recobrimento nominal poderá ser obtida a partir da seguinte expressão:
Agrupamento na horizontal
Agrupamento na vertical
i
n
n
i i
sendo:
Uma distância livre mínima deve sempre ser prevista entre armaduras de forma a
permitir:
ou n
Ch ou Cv dg 5 mm (12.8)
2 0 mm
Cv
Ch Ch
A disposição da armadura na secção transversal da peça deve ser tal que permita uma
betonagem e compactação apropriadas. Em particular, nos casos em que sejam
adoptadas mais do que uma camada de armaduras (ver Figura 12.11b), os varões de
cada camada deverão sobrepor-se em fiadas verticais. Em secções muito armadas, deve
haver o cuidado de serem deixados intervalos entre os varões para a inserção de
vibrador, especialmente no caso de cruzamento de camadas ou da utilização de
agrupamentos de varões (ver Figura 12.12).
Vibrador Vibrador
Øm
Micro-fissuração
O EC2 estabelece valores mínimos para o diâmetro do mandril, a fim de evitar danificar a
armadura, função do diâmetro Ø da própria armadura. Por exemplo, no caso de
dobragens para realizar cotovelos, ganchos ou laços, os valores indicados são os
seguintes:
Ø ≤16mm Øm ≥ 4Ø
Ø >16mm Øm ≥ 7Ø
2 Fbt
p
m p
Ø
ab
Tracção
Øm transversal
Fbt ab
Fbt
A
Zona de potencial
destacamento do recobrimento
Fbt 1 1
m (12.9)
fcd ab 2
em que:
A verificação deste requisito pode ser dispensado, conforme definido no EC2, desde que
se verifique simultaneamente as seguintes condições:
Caso contrário, o diâmetro do mandril deverá ser aumentado conforme expressão (12.9).
Exemplo:
2
Fbt fyd
4
2 fyd 1 1
m 2 0.5
4 fcd 2 2
O Quadro 12.3 resume os valores obtidos com a aplicação da expressão (12.9) para
diversas condições de posicionamento do varão a dobrar e diferentes tipos de materiais,
admitindo que no início da dobragem o varão está submetido ao esforço máximo.
Quadro 12.3 – Diâmetro mínimo do mandril (*) a fim de evitar a rotura do betão, Ø m,min.
12.9 Aderência
Trajectórias de compressão
Ø
Fs
Trajectórias de tracção
lb,req
Fs
0 lb,req x
b) Forças de tracção na armadura
fb
Diagrama real das tensões
de aderência
fbm
Valor médio das tensões de
aderência
0 lb,req x
c) Tensões de aderência
Figura 12.16 – Desenvolvimento das tensões de aderência num ensaio de arrancamento.
lb,req
Fs 0 fb u dx (12.10)
sendo:
O EC2 distingue os varões que estão em condições de boa aderência dos que estão em
condições de fraca aderência, de acordo com o esquematizado na Figura 12.19. São
Caso contrário, deve considerar-se que os varões estão em condições de fraca aderência.
h
250mm
300mm
h
h
O valor de cálculo da tensão de rotura da aderência, para varões de alta aderência, pode
ser considerado igual a:
em que:
fctd é o valor de cálculo da resistência do betão à tracção, que não deve ser
considerado superior a 6.2MPa;
O Quadro 12.4 apresenta os valores de fbd obtidos a partir da expressão (12.12), para
condições de boa e de fraca aderência.
fck [MPa] 12 16 20 25 30 35 40 45 50
fbd A 1.7 2.0 2.3 2.7 3.0 3.4 3.7 4.0 4.3
[MPa] B 1.2 1.4 1.6 1.9 2.1 2.4 2.6 2.8 3.0
A – Condições de boa aderência; B – Condições de fraca aderência.
As armaduras devem ser amarradas de modo a assegurarem uma boa transferência para
o betão das forças de aderência, evitando a fendilhação longitudinal ou o destacamento
do betão. Conforme adiante se referirá, poderá ser conveniente em certos casos a
utilização de armadura transversal de cintagem, melhorando o comportamento desta
zona de transmissão de esforços.
Amarração por
prolongamento recto
Cotovelo
Amarrações curvas
Gancho
Laço
Incorrecto:
Zona com Fs
perigo de
destaque
2 (12.13)
Fs sd
4
onde:
sd
lb,rqd (12.15)
4 fbd
onde:
1 a 5 são coeficientes que têm em atenção diversos factores que podem ser
favoráveis à amarração das armadura (ver 8.4.4 do EC2), como por
exemplo, a forma dos varões, o efeito do recobrimento de betão, da
cintagem com armaduras transversais ou eventual existência da pressão
ortogonal ao plano de fendilhação ao longo do comprimento da amarração;
sendo:
O Quadro 12.5 resume os valores arredondados de l b,eq para varões, para diferentes
classes de betão, tipos de aço e condições de aderência, admitindo 1 = 1.0 e que a
armadura está sujeita à sua tracção máxima - sd=fyd na expressão (12.15). Estes
valores deverão ser multiplicados por 0.7 no caso de amarrações curvas em tracção.
No caso de amarração por prolongamento recto esta armadura deve ser prevista nas
seguintes situações:
A armadura transversal utilizada para outros fins, como é o caso dos estribos em vigas e
das cintas nos pilares, é em geral suficiente para esta finalidade. Caso se pretenda a sua
quantificação, deve ser respeitado o previsto no EC2 em termos de áreas e de localização
de tais armaduras.
cintas
Fs Fs
Tracção Ø (diâmetro de
Desfasar conforme
Øn≥32mm cada varão —
Figura 12.25
interrompido)
Øn<32mm —
Outros tipos de amarração estão previstos no EC2, ainda que de utilização menos
frequente, como a amarração por meio de varões soldados e através de dispositivos
mecânicos.
Soldadura;
Figura 12.27 – Sobreposição de varões por prolongamento recto (a), gancho (b) e
cotovelo (c).
PLANTA CORTE
l0
Armadura transversal
necessária ao equilíbrio
Figura 12.28 – Transmissão de forças entre varões numa emenda por sobreposição.
Em que os parâmetros 1, 2, 3, 5, e lb,rqd têm o significado referido anteriormente, l0,min
é dado por:
l0,min max 0.3 6 lb,rqd; 1 5; 2 0 0mm (12.20)
E 6 é dado por:
l (12.21)
6
25
Com,
de 6 por aplicação das expressões (12.21) e (12.22). Valores intermédios poderão ser
obtidos por interpolação.
II
III
IV
A – secção considerada
Neste exemplo as emendas dos varões II e III estão fora
da secção considerada, pelo que l=50% e 6=1.4
O valor assim obtido poderá eventual ser multiplicado por 0.7 no caso de sobreposições
curvas em tracção (situação em que 1=0.7)
sem outras justificações, que as armaduras transversais necessárias por outros motivos
são suficientes para equilibrar as forças de tracção transversais.
Quando o diâmetro, ø, dos varões sobrepostos for igual ou superior a 20mm, a armadura
transversal deverá ter uma área total, ΣAst (soma de todos os ramos paralelos à camada
dos varões emendados) não inferior à área As de um dos varões da sobreposição
(ΣAst ≥ 1.0As). Os varões transversais deverão ser colocados perpendicularmente à
direcção da sobreposição e entre esta e a superfície do betão.
Para agrupamentos de dois varões com um diâmetro equivalente Øn<32 mm, os varões
poderão ser sobrepostos sem desfasamento. Neste caso, o diâmetro equivalente deverá
ser utilizado para calcular l0.
Para agrupamentos constituídos por dois varões com um diâmetro equivalente Øn≥32mm
ou por três varões, a interrupção de cada varão deverá ser desfasada na direcção
longitudinal de, pelo menos, 1.3l0, como representado na Figura 12.32, em que l0 é o
comprimento de sobreposição para um varão. Neste caso, é utilizado um quarto varão
(varão nº 4) como o varão de sobreposição. É necessário assegurar que não há mais do
que quatro varões em qualquer secção de sobreposição. Os agrupamentos com mais de
três varões não deverão ser sobrepostos.
Diâmetro a usar no
Geometria do agrupamento Desfasamento
cálculo de l0
Øn<32mm Sem necessidade Øn
2 varões
Øn≥32mm Desfasar de pelo menos 1.3l0, Ø (diâmetro da cada
3 varões conforme Figura 12.32 varão)
Nas situações em que se utilize redes electrossoldadas como armadura principal devem
ser observadas nas sobreposições as regras previstas no EC2.
2 varões na
direcção principal
Fs
Fs
ø≤6
l0≥150m
m
Figura 12.33 – Sobreposição de fios em armaduras secundárias para ø≤6mm.
12.15 Bibliografia
Betão Armado. Armaduras. Volume I – Aspectos gerais. J. D’Arga e Lima. LNEC. 1988.