Skocpol (1985) se propõe a analisar a questão das revoluções sociais –
especificamente na França, na China e na Rússia – sob uma perspectiva diferente dos
demais teóricos que se debruçaram sobre o tema. Para superar as concepções teóricas fundadas sob o enfoque da psicologia do conflito, do marxismo e do conflito político, bem como dos autores que fazem uma teoria geral das revoluções sociais, a autora insere na sua perspectiva analítica a questão estrutural. Uma das suas teses desenvolvidas ao longo da obra é de que “foi o colapso das estruturas do Estado das antigas monarquias agrárias que criou a crise que abriu caminho ao processo revolucionário que produziu, depois, novas estruturas sociais e políticas” (DE FÁTIMA BONIFÁCIO, 1988, p. 494). Skocpol (1985) tem como ponto de partida a constatação de que as revoluções sociais, de forma geral, partem não só dos conflitos de classes em relação ao estamento socioeconômico, mas também resultam – em especial as que ela analisou – em uma mudança estrutural no Estado. E é por isso que seu esforço teórico é de elucidar o Estado e a estrutura político-institucional como elementos analíticos complementares ao estudo das revoluções sociais. Assim, a autora não constrói uma teoria sobre Estado, mas caracteriza-o para utilizá-lo como categoria analítica no estudo das revoluções. Para tanto define o Estado a partir de concepções weberianas e marxistas. Considera-o como uma organização administrativa, uma macroestrutura que reúne administrativamente forças coercitivas que são coordenadas por uma autoridade administrativa (SKOCPOL, 1985), que por meio do gerenciamento dessa coerção responde às situações de disputa e de conflito de interesses socioeconômicos em duas esferas, a nacional e a internacional. Nisso, Skocpol interpreta o Estado como uma organização dotada de certa autonomia e não o correlaciona exclusivamente aos interesses da classe dominante, mas também não exclui a perspectiva do interesse de classe ao destacar que “Tal como os marxistas salientam, os Estados têm frequentemente a função de preservar as estruturas econômicas e de classe existentes, pois é esse normalmente o meio mais brando de manter a ordem” (1985, p. 43). Skocpol (1985) faz uma análise baseada no método da sociologia histórico- comparada, e por isso, assim como Bendix (1977), perpassa sua investigação por duas etapas: um momento anterior à revolução e um momento posterior à revolução. Nesse sentido, nos três casos analisados – França, Rússia e China –, define como era o Estado antes da revolução social e como ele se constitui depois dela. A autora aponta que as condições sócio-políticas estruturais dos três casos são comuns nos dois momentos da análise, o anterior e o posterior, compartilhando de condições semelhantes no papel desempenho pelo Estado em suas conjunturas. Antes das revoluções sociais, França, Rússia e China tinham Antigos Regimes autocráticos, majoritariamente agrários, que não sofreram com a dominação colonial, mas que, por outro lado, sofriam com as pressões de nações estrangeiras mais desenvolvidas tanto econômica quanto militarmente; essas condições geraram as crises políticas estruturais que culminaram no processo revolucionário. Já no momento posterior, os três casos analisados também incorreram de uma condição comum ao papel desempenhado pelo Estado, em que o Estado revolucionário instituído constituiu organizações singulares, caracterizadas pela centralização do poder, pela operacionalização da burocracia institucional e pela incorporação das massas à estrutura institucional, resultando em Estados que emergiram mais poderosos e autônomos em relação ao campo internacional. REFERÊNCIAS
BENDIX, R. Nation-building and citizenship: studies o four changing social order.
Berkeley: University of California Press, 1977.
DE FÁTIMA BONIFÁCIO, Maria. A sociologia histórica de Theda Skocpol. Análise Social, v.
24, n. 100, 1988, pp. 489–510. Disponível em: <www.jstor.org/stable/41010765>. Acesso em: 14 jun 2018.
SKOCPOL, Theda. Estados e revoluções sociais: análise comparativa da França, Rússia e
Representações Do Princípio de Nacionalidade Na Doutrina Internacionalista Do Século Xix Na Construção Do Princípio de Autodeterminação Dos Povos: Continuidades e Rupturas em Um Discurso Liberal