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F. Amador
Universidade Aberta
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All content following this page was uploaded by F. Amador on 06 July 2015.
1. Introdução
Quando os documentos oficiais fazem uso neste momento do termo “metas” existe
subjacente uma ideia de quantificação, operacionalizada através de indicadores que se
pretendem objetivos. A ênfase colocada nos resultados obtidos em testes
estandardizados, como o PISA, assim o justifica em grande parte. Sempre que são
conhecidos novos resultados destes estudos eles são discutidos nos media e usados
como forma de suportar uma determinada política ou de a criticar.
Nesta breve análise, consideramos ser importante começar por procurar compreender o
nível, essencialmente político, para de forma gradual se chegar a outras dimensões.
Estamos interessados em particular no ensino da Geologia, e, em procurar compreender
se existe consensualização da existência de metas ou mesmo se esta é desejável.
Neste texto começamos por debater e enquadrar o termo “metas”, partindo para esse
efeito de um significado que julgamos abrangente. Afinal, quais são as grandes
finalidades e metas do ensino? Quais os objetivos das aprendizagens? O que devem os
estudantes aprender? Será que essa consensualidade continuará a existir se
aprofundarmos o assunto e se procurarmos os alicerces teóricos que enformam hoje o
significado deste termo?
Com uma perspectiva em grande parte semelhante, Nussbaum (2010) faz referência a
uma “crise silenciosa” de grandes proporções e significado global. Uma crise na
educação que tem como causa mudanças radicais na forma como nas sociedades
democráticas se ensinam os jovens, a qual está condicionada por modelos que aspiram a
aumentos constantes nas taxas de produtividade e um consequente crescimento das
economias. Privilegia-se, por isso, a aquisição de competências que permitam aos
estudantes que no futuro sejam rapidamente competitivos no mercado global.
No que refere à União Europeia verificamos que o programa Horizonte 2020, que
estabelece as prioridades da estratégia da Europa para o período entre 2014 e 2020,
destaca a economia baseada no conhecimento e inovação. Estabelece-se como objectivo
o crescimento sustentável, baseado numa economia hipocarbónica que gira os recursos
de forma eficiente mas que em simultâneo também seja competitiva. Se nos centrarmos
no âmbito mais restrito da educação, surgem apenas dois objectivos: reduzir o abandono
escolar e aumentar a percentagem de diplomados.
Na primeira parte deste trabalho procura-se enquadrar a discussão do tema num nível
mais global. Porém, torna-se agora necessário abordar o assunto a escalas de menor
dimensão.
De acordo com Van den Akker (2003) os processos de desenvolvimento curricular são
indicadores privilegiados de mudança societais. Os currículos espelham as ideologias
dominantes e exercem uma censura real sobre os temas que são tratados em contextos
formais de ensino (Amador et al., 2012).
Os resultados da análise realizada a esta amostra permitiu verificar que existem três
temas dominantes: “Terra e vida”, “recursos naturais” e “Terra em profundidade”. Por
outro lado, há três assuntos que só de forma muito residual são abordados: “oceanos”,
“Terra e saúde” e “megacidades” (fig. 3). A pouca valorização atribuída a estas
temáticas, principalmente a primeira, em países às vezes com zonas costeiras alargadas
e vasto domínio sobre grandes áreas de plataforma continental é interessante de ser
testemunhada e pode fazer-nos refletir sobre os motivos que justificam esta ausência.
Por sua vez, as questões ligadas à Geomedicina são um tema a exigir maior atenção.
Aparentemente parece que os grandes focos programáticos, em termos gerais, se
continuam a centrar na Paleotonlogia, recursos naturais e no estudo da dinâmica da
litosfera.
Figura 3 – Distribuição das áreas temáticas do AIPT nos currículos (adapatado de Amador et al.,
2012).
Figura 4 – Os 10 temas do AIPT nos vários programas (cada cor refere-se a um tema distinto).
5. Nota final
AIPT, (2008) - Planeta Terra – Ciências da Terra para a Sociedade, Comité Português
para o Ano Internacional do Planeta Terra – 2008, Comissão Nacional da UNESCO,
disponível online: http://www.igcp.org.pt/aipt/ (acesso a 22/02/2015).
Amador, F., Vasconcelos, C., Silva, E., Torres, J., 2012. “As Ciências da Terra nos
currículos do Ensino Básico. Um estudo comparativo realizado com base numa amostra
de países” em Estrela, Teresa et al., Revisitar os Estudos Curriculares. Onde estamos e
para onde vamos? Lisboa: EDUCA/Secção Portuguesa da AFIRSE. ISBN: 978-989-
8272-14-0
Nussbaum, M. (2010). Not for Profit. Why Democracy Needs the Humanities.
Princeton e Oxford, Princeton University Press.
Sen, A. (2001). Development as Freeddom. Oxford, Oxford University Press.
Van Den Akker (2003). “Curriculum perspectives: an introduction” em Van Den Akker
et al. (eds.), Curriculum Landscapes and Trends. Dordrecht/Boston/London, Kluwer
Academic Publishers.