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Rev.Pat. Trop. 14(1): 11-16, jan./fun..

1985

ATTVIDADE "IN VITRO" DE CARRAPATICIDAS EM


TELEÓGINAS DO BOOPHILUS MTCROPLUS DA
BACIA LEITEIRA DE GOIÂNIA-GO*.

José Roberto Carneiro1" Edson Pereira** Ernesto Panicallim Fuad Calil**

RESUMO

Sete canapaticidas foram testados "in vitro" em teleóginas do Boophilus microplus, proce-
dentes da Bacia Leiteira de Goiânia. Observou-se que no final dos testes realizados, os princípios
ativos Decametrina, Flumethrin e o Amitraz alcançaram as maiores médias percentuais de inibição
de postura e eficácia.

INTRODUÇÃO em determinar a morte dos diferentes es-


tágios parasitários.
Os primeiros testes de sensibilidade No Brasil, a resistência dos carrapa-
"m vitro" de carrapaticidas em teleóginas tos aos carrapaticidas foi detectada pela
do Boophilus microplus, foi iniciado por primeira vez em Uruguaiana, no Rio
Arteche, (1972), no Rio Grande do Sul. Grande do Sul, (1950) e Alegrete (1952)
Ao término do trabalho e após análist onde foram encontrados estirpes de Boo-
dos resultados, assinalou 3 fatores como philus resistentes aos arsenicais. Posterior-
responsáveis pelos insucessos das aplica- mente, em 1953 e 1956, foram assinala-
ções dos carrapaticidas na prática: falta de das por Freire também no Rio Grande do
orientação dos fazendeiros, recomenda- Sul, casos de resistência aos organoclora-
ções e uso de carrapaticidas em subdoses dos. A resistência aos organofosforados,
e resistência dos carrapatos a estes produ- só foi assinalada em 1972, por Gonzales e
tos. O critério para evidenciar resistência Silva e Gonzalez et alii, (1973) novamen-
a qualquer produto químico foi conside- te no Rio Grande do Sul, além de Amaral
rado por Wharton & Roulston (1970) et alii (1974) e Patarroyo (1980), em Mi-
como a perda da eficiência deste produto nas Gerais.

* - Trabalho Financiado pelo FIPEC-BANCO DO BRASIL

** - Professores do IPT - UFG.


12 Rev. Pat. Trop. 14 (lJ: ll*}6Jan./jun., 1985
CARNEIRO. J.R.; PEREIRA, E.; PANICALLI, E.; CALIL. F. - Atividade "in vifro" tlc ...

Assim, baseados na auséniia de da- em bovinos em nossa região, são eles: Flu-
7. Cálculo do percentual de viabilidade de De carne trina
methrin, Chloromethiuron, Diazinom,
dos específicos sobre o comportamento eclosão. Flumethrin
Coumaphos, Deltametrina e Amitraz.
Amitraz
do Boophilus microplus frente aos carra-
paticidas, em nossa região, demos início
A eclosão dos ovos era observada a
aos testes preliminares a fim de detectar- 5. Preparo das diluições olho nu. Para o grupo testemunho foi
mos a sensibilidade dos mesmos às drogas
estabelecido um percentual de viabilidade Os carrapaticidas, à base de Diazi-
carrapaticidas. As soluções carrapaticidas usadas de 100%. A estimativa do percentual de non e o Fenvalerato tiveram uma eficácia
nos testes foram preparadas a partir do eclosão tem um forte componente subje- menos evidente em relação aos demais \o
produto comercial e diluídas em água tivo e em vista desta particularidade foi
MATERIAL E MÉTODOS destilada, segundo recomendações dos fa- feita após, apenas um pesquisador, um das pelos fabricantes.
bricantes: mesmo teste. Nesta avaliação observou-se
1. Colheita das amostras ' Além da ação dos produtos, foram
a relação existente entre a massa de ovos
l.Fenvalerato 0,25% inferíeis e a massa de férteis. Esta relação observados durante o trabalho alguns fa-
Foram colhidas teleóginas de bovi- tores responsáveis pelos insucessos das
2. Flumethrin 0,05% é dada em percentagem.
nos naturalmente infestados que não hou- aplicações dos carrapaticidas na prática,
3. Chloromethiuron 3 (4 cloro-zmetil fé-
vessem recebido tratamentos carrapatici- podendo ser resumidos segundo áreas fun-
nil) S. Cálculo da eficácia do carrapaticida
das pelo menos 15 dias antes. Após aco- 1.1 dimetil tioureia- damentais:
lheita, as teleóginas eram colocadas em
0,3% A eficácia do carrapaticida foi cal-
frascos de vidro, previamente identifica-
4.Diazinon 1% culada utilizando-se a fórmula: Pr (grupo
dos e em seguida transportados ao labora-
5. Coumaphos (fosfonato de 0,0 controle)-Pr (Grupo Tratado)xlQQ: Pr
tório.
dimetil-oxi 2.2.2 Tri- (Grupo controle). 1. Dados bibliográficos:
cloroetilo, Ester 3 Inexistência de pesquisas regionais
2. Período do Trabalho
Cloro 4 metil-7 oxi- Pr — Potencial reprodutivo. sobre a bioecologia do carrapato.
cuimarina-0,0-dietil 2. Deficiência de recursos humanos impli-
O trabalho foi realizado no período
tiofosfórico-0,02% Foi considerado eficaz o carrapati- cando, em:
de outubro de 1983 a dezembro de 1984,
6. Deltametrina 0,06% cida que inibiu a eclodibilídade em um a. não divulgação de medidas de
em 20 propriedades localizadas no Muni-
7. Amitraz 0,02% percentual superior a 90%. controle e técnicas que implicam
cípio de Goiânia.
8. Grupo testemunho-As teleóginas do em:
grupo testemunho RESULTADOS E COMENTÁRIOS
3. Manutenção das teleóginas em labora-
eram imersas em 1. erros nas diluições empregadas;
tório
água destilada. As teleóginas colhidas foram identi- 11. aplicações de quantidades insufi-
De cada propriedade foram colhidas ficadas como Boophilus microplus. cientes de solução por animal.
380 teleóginas de pesos variando de 160 a Nos quadros l e 11 estão relaciona- 111. pulverizações incorretas;
300 mg, que são considerados os termos dos os princípios ativos dos carrapaticidas IV. contenção inadequada dos animais,
mais adequados para postura de ovos do com seus respectivos percentuais de eficá- durante a aspersão;
6. Cálculo da inibição de postura fértil
cia e inibição de postura. V. falhas técnicas na direção dos jatos
lioophilus microplus (Bennet, 1974).
Para o cálculo da inibição de postu- dos carrapaticidas;
Após a realização dos testes, verifi- VI. íalta de programação dos banhos as-
4. Carrapaticidas usados ra fértil, utilizou-se as percentagens de de-
camos que os maiores valores médios per- sociada à rotação de pastagens;
sovas do grupo controle e do grupo trata-
Foram empregados nos testes 7 car- do; e o seu valor foi calculado pela dife- centuais alcançados pelos princípios ati- 3. Deficiência estrutural:
rapaticidas mais frequentemente usados rença entre as 2 percentagens. vos na inibição de postura e eficácia, fo- a. Inexistência de banheiros carra-
ram: paticidas.
Rev. Pat. Trop. 14 (1): 11-16, jan./jun., 1985
CARNEIRO, J.R.; PEREIRA, E., PANICALLI, E.; CAUl., F. - Atlvidade "in vilro"de ... 15

CONCLUSÃO females originated from dairy


forms in Goiânia.
Dos carrapaticidas testados, os se-
guintes alcançaram os maiores valores
percentuais de eficácia e inibição de pos- QUADRO II
tura, em relação aos demais: Decametrina,
Flumethrin e Amitraz. At the end of the tests there were Valores percentuais de inibição de postura das amostras de teleóginas do Boophilm
observed that Decametsina, Flumethrin Microplus, sob acáo de carrapaticidas, oriundos de 20 fazendas situadas na Bacia Lei-
SUMMARY and Amitraz, active principies achieved teira de Goiânia. Período 1983-1984.
the highest average percentage of inhibi-
Seven types of acaricides were tion concernig laying eggs and its effí-
tested "in vitro" in engorged ciency. FAZENDAS CARRAPATICIDAS
AMI- FLUME DELTA- CHLORO- COUMA- DIÂZI FENVA-
QUADRO I
TRAZ THRIN METRINA METIURON PHOS NON LERATO
Valores percentuais da eficácia dos carrapaticidas sobre as amostras de teleóginas do
Boophitus Microplus oriundas de vinte (20) fazendas situadas na Bacia Leiteira de I 098 097 098 100 100 060 023
Goiânii. Período 1983-1984. II 091 100 100 054 087 067 031
FAZENDAS CARRAPATICIDAS III 100 100 100 066 089 097 032
AMI- FLUME- DELTA- CHLORO- COUMA- DIAZI- FENVA-
LERATO
IV 091 100 100 072 093 033 038
TRAZ THRIN METRINA HETIURON PHOS NON
I 100 097 100 100 100 078 039 V 096 100 100 089 095 079 011
II 100 100 098 100 098 097 082 VI 093 100 099 072 059 010 003
III 100 100 098 099 099 100 097
VII 091 100 085 090 091 057 090
IV 100 100 100 094 100 054 035
V 100 100 100 100 100 093 035 VIII 100 100 098 091 087 063 006
VI 100 100 100 098 096 030 049 XIX 098 100 100 098 098 079 100
VII 100 100 098 100 100 097 091 x 096 100 100 058 069 050 097
VIII 100 100 100 100 100 087 015
XI 100 100 100 091 098 073 080
IX 100 100 100 100 100 096 100
x 100 100 100 096 086 084 098 XII 100 095 100 094 080 041 023
XI 100 100 100 100 100 097 051 XIII 100 091 100 071 061 057 090
XII 100 100 100 100 100 087 053 XIV 100 099 100 074 088 033 023
XIII 100 100 100 097 072 960 097
XV 097 090 100 051 100 011 011
XIV 100 100 100 100 100 071 082
XV 100 100 100 100 061 049 XVI 095 100 100 091 085 100 041
099
XVI 100 100 099 100 099 040 002 XVII 098 096 096 074 089 067 031
XVII 100 097 100 100 100 097 082 XVIII 100 100 098 089 095 096 090
XVIII 100 100 100 100 100 054 053
XIX 095 091 100 091 091 079 023
XIX 100 100 100 100 100 100 092
XX 100 100 100 099 094 087 015 XX 092 100 100 072 087 062 006
MÉDIA 100 99,7 96,6 99,1 97,2 80,3 60,8 MÉDIAS 96,5 97,9 98,7 79,4 87,1 60,7 42,4
16 Rev. Pat. Trop. 14 (l): 11-16,jan. Ijun., 1985

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