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Tom Zé: Você é o mel (You’re the top)

Meu dom poético é tão patético, que eu não sei mais falar,
e já prefiro até me calar, para não me abalar.
Não acho bom mostrar o meu som, vou ficar só no ABC,
mas se a cantiga é um pouco antiga, talvez lhe diga como é você:

Você é, o Museu do Prado,


você é, meu supermercado;
é a melodia de uma sinfonia de Strauss,
é Copacabana, ode shakespeariana,
é Mickey Mouse.
Paraíso, ou Torre de Pisa,
o sorriso da Mona Lisa…

sou um boy de banco, um cheque em branco, um réu,


mas, meu bem, se eu sou o fel,
você é o mel.

Você é, meu Mahatma Gandhi,


você é, Napoleon Brandy;
luz do sol que vai, quando a noite cai na Espanha,
é uma boa ducha, o cachê da Xuxa,
o melhor champanha;
é um toque de Botticelli,
Hitchcock com Grace Kelly…

sou só um galão do multifilão da Shell,


mas, meu bem, se eu sou o fel,
você é o mel.

Você é, o dry do Martini,


você é, filme de Fellini;
é o novo som que nasceu de Tom Jobim,
Gal, Caetano e Gil, Oswald, "Pau Brasil",
é "Serafim";
Maradona, driblando a zaga,
a sanfona do Luiz Gonzaga…

sou só um Romeu que esqueceu o seu papel,


mas, meu bem, se eu sou o fel,
você é o mel.
Você é, minha Mata Hari,
você é, Life de Pignatari;
é Noel que bisa e bisa em Vila Isabel,
é uma obra-prima, é "Macunaíma",
é "Demoiselle";
Ezra Pound, gamelão de Bali,
é um round do Mohammed Ali…

sou só uma bagana do Havana do Fidel,


mas, meu bem, se eu sou o fel,
você é o mel.

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