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UFRJ - Faculdade de Medicina

IESC – Instituto de Estudos em Saúde Coletiva


Disciplina: Administração e Planejamento em Saúde

Uma introdução ao estudo da


assistência e da gestão hospitalar

Francisco Campos Braga Neto


chicocamposbraga@gmail.com
novembro de 2015
Por que discutir os rumos da assistência
e da gestão hospitalar?
Por que discutir a assistência e a gestão hospitalar?

o Não obstante as mudanças ocorridas no modelo


de atenção à saúde, o hospital segue
desempenhando um papel importante no
processo de cuidado à saúde
o A assistência hospitalar custa caro
o O hospital é uma organização bastante
complexa, que exige um modelo de gestão
singular
“O hospital de hoje está para a medicina como
a catedral para a religião e o palácio para a
monarquia. É o coração da empresa, o local
em que a medicina é praticada no que ela tem
de mais avançado, especializado, inovador e
complexo – e caro ! . . . E são as instituições a
respeito das quais se travam as batalhas da
política médica e da economia: os hospitais
estão sempre no noticiário.” Roy Porter, 2002
Objetivos da aula:

o Debater as mudanças ocorridas no âmbito da


assistência hospitalar no cenário internacional
o Apresentar a presente situação do parque
hospitalar brasileiro
o Discutir as singularidades da gestão de
serviços de saúde, em particular dos hospitais
O hospital: definição
• O termo hospital se refere a um conjunto muito heterogêneo
de estabelecimentos de saúde, unidades de diferentes portes,
que podem oferecer uma variada gama de serviços e
atividades e desempenhar funções muito distintas no âmbito
da rede de atendimento à saúde.

• São vários os tipos de hospitais existentes: hospitais gerais,


hospitais especializados, hospitais de emergência; hospitais de
ensino e pesquisa; hospitais locais, hospitais regionais, hospitais
de referência; hospitais de agudos; hospitais de apoio etc.

• De toda forma, por mais diversificados que sejam, esses


estabelecimentos preservam uma característica em comum:
a prestação de cuidados de saúde a pacientes internados em
leitos hospitalares durante as 24 horas do dia. É essa atividade
peculiar – a hospitalização –, que só pode ocorrer no interior
deste ambiente organizacional, que lhes confere uma
identidade própria.
O hospital: definição

Estabelecimento com instalações para internação e em


condições de oferecer assistência médica e de
enfermagem, em regime contínuo 24h ao dia, para o
diagnóstico, tratamento e reabilitação de indivíduos
adoentados ou feridos que necessitem de cuidados
clínicos e/ou cirúrgicos e que, para tal fim, conta com ao
menos um profissional médico em seu quadro de
funcionários. O hospital também pode prestar
atendimento ambulatorial.

Fonte: EUROWHO/ European Observatory on Health Systems and Policies (2007).Glossary


Introdução
Mudanças recentes referentes ao campo da saúde

o Mudanças demográficas: envelhecimento da


população
o Mudanças epidemiológicas: prevalência das doenças
crônicas
o Mudanças tecnológicas: crescentes inovações na
indústria de equipamentos e medicamentos
o Mudanças na esfera dos sistemas de saúde: restrições
econômicas; pressões pela melhoria da qualidade;
mudanças do modelo de atenção e nas formas de
organização e gestão dos serviços de saúde
Modelo de Atenção à Saúde

“Forma como a sociedade, ante os determinantes


sociais e biológicos da saúde, organiza os seus
recursos humanos, tecnológicos e materiais para
afrontar integralmente os riscos da saúde e
proporcionar os serviços de fomento, prevenção e de
atenção médica, incluindo aquelas modalidades
informais de atenção à saúde estabelecidos pela
própria comunidade” OPAS, 2004
O modelo de atenção hospitalocêntrico

Hospital

A C

B Outros serviços de saúde

Fonte: Mc Kee, M.; Healy, J. (eds.). “Hospitals in a changing Europe”. European Observatory
on Health Care Systems Series. Buckingham: Open University Press, 2002.
As origens do modelo hospitalocêntrico
o Durante as primeiras décadas do século XX, o predomínio do julgamento
clínico face ao restrito arsenal de exames disponíveis, associado à
valorização do repouso como condição para a recuperação do
paciente, conferem importância à internação hospitalar, lugar ideal para
o diagnóstico e o tratamento médico;

o dado o alto custo e a pouca portabilidade dos primeiros equipamentos


médicos, o hospital até meados dos anos 60 representa o principal
“locus” de incorporação tecnológica do sistema de atenção e o local
de reunião dos diversos especialistas e saberes;

o ao possibilitar a observação da evolução dos casos e por concentrar a


mais sofisticada tecnologia médica, o hospital também se consagra
como o espaço privilegiado da pesquisa e da formação médica;

o Assim, o hospital assume um lugar central no sistema de saúde,


encarnando o lugar de prestígio, sofisticação, alta tecnologia, conforto,
assistência e segurança para o paciente.
As características do modelo hospitalocêntrico
O hospital dispõe dos melhores e dos mais especializados
profissionais médicos, concentra o equipamento mais moderno e
consome a maior parte do orçamento da saúde (cerca de 60%);

O hospital acaba se ocupando também do atendimento básico,


uma vez que parte dos pacientes procura diretamente esses
serviços, à medida que acreditam ali encontrar uma assistência
de melhor qualidade;

A rede de atendimento básico segue recebendo pouca


prioridade e investimentos, logo, é pouco resolutiva,
encaminhando boa parte dos seus pacientes para os
estabelecimentos hospitalares;

A assistência hospitalar opera em permanente sobrecarga, com


filas seja para o atendimento de urgência/emergência, seja para
a realização de cirurgias eletivas.
As mudanças do papel do
hospital na rede de
serviços
As mudanças na assistência hospitalar
mudanças na concepção e na conformação do
modelo de atenção
emergência de novos saberes, tecnologias e
equipamentos
a diversificação externa dos pontos de atenção: o
hospital torna-se mais especializado
a diversificação interna das atividades hospitalares:
a organização de novas modalidades de
atendimento - o hospital-dia, a cirurgia ambulatorial
Cada vez há menos internações hospitalares;
elas se destinam para os casos agudos, de maior
gravidade, que requerem cuidados intensivos.
São mais breves, mas custam mais caro.
O hospital no modelo de atenção integrada

ORGANIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO EM
PIRAMIDAL REDE

Alta
Compl.
Média APS
Complexidade

Atenção
Básica

Fonte: Mendes, Eugênio Vilaça. “Os grandes dilemas do SUS”. Salvador: Instituto de Saúde Coletiva- UFBA /
Casa da Qualidade Edit. , 2001..
O modelo de atenção integrada e o
funcionamento em rede dos diversos pontos de
atenção:
HOSPITAL

CASA DE
ENFERMAGEM HOSPITAL/DIA

UNIDADE
BÁSICA DE
SAÚDE

AMBULATÓRIO
:
ATENÇÃO
ESPECIALIZADO
DOMICILIAR pacientes / informações

Fonte: Mendes, Eugênio Vilaça. “Os grandes dilemas do SUS”. Salvador: Instituto de Saúde Coletiva- UFBA /
Casa da Qualidade Edit. , 2001..
O sistema integrado de serviços de saúde

o Rede integrada de pontos de atenção à saúde que


permite prestar uma assistência contínua a uma
determinada população – no tempo certo, no lugar
certo, com o custo certo e com a qualidade certa –
e que se responsabiliza pelos resultados sanitários e
econômicos, relativos a esta população.

Fonte: Mendes, Eugênio Vilaça. “Os grandes dilemas do SUS”. Salvador: Instituto de Saúde
Coletiva- UFBA / Casa da Qualidade Edit. , 2001..
As mudanças na assistência hospitalar

Dependendo da disponibilidade (e
distribuição geográfica) de hospitais e leitos:
Fechamento de hospitais
Fusões, consolidações
Redução de leitos hospitalares
(fechamentos parciais)
Diversificação, substituição de práticas
A diversificação e/ou substituição das
práticas assistenciais
Cirugia ambulatorial
Hospital-dia (reabilitação, hemodiálise,
psiquiatria)
Cuidados Progressivos do Paciente (CPP)
Radiologia intervencionista
Programas de aceleração de altas hospitalares
Cuidado domiciliar
Telemedicina
Austrália
Evolução da quantidade de Leitos por 1.000 habitantes. Países da OCDE, 1960-2004. Áustria
Bélgica
14 Canadá
Rep. Tcheca
Dinamarca
12 Finlândia
França
Alemanha
10 Grécia
Hungria
Leitos/ mil hab

Islândia
8 Irlanda
Itália
Japão
6 Coréia
Luxemburgo
México

4 Holanda
Noruega
Polônia

2 Portugal
República Eslovaca
Espanha

0 Suécia
Suíça
1960 1970 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004
Turquia
Ano
Reino Unido

Fonte: OECD Health Data 2006. 1st Edition. Estados Unidos


Evolução do número de leitos por 1.000 habs.
Países da OCDE – 1960-2004
País 1960 1970 1980 1985 1990 1995 2000 2004
Alemanha - - - - 8,3 7,5 6,8 6,4
Austrália 6,5 6,0 6,4 5,3 4,4 4,2 3,8 3,8
Áustria - - - 8,3 7,8 7,2 6,6 6,5
Bélgica - - - - - 5,3 5,0 4,8
Canadá - - 4,6 4,4 4,0 4,2 3,2 -
Coréia - - - - 2,7 3,8 5,2 -
Dinamarca - - 5,3 4,7 4,1 3,9 3,5 -
Espanha - - 3,8 3,7 3,6 3,5 3,0 -
Estados Unidos 3,5 4,1 4,4 4,2 3,7 3,3 2,9 2,8
Finlândia 3,9 4,8 4,9 4,8 4,3 4,0 3,2 3,0
França - - 6,2 5,7 5,2 4,6 4,1 3,8
Grécia - 4,9 4,9 4,3 3,9 3,8 -
Holanda - - - - 3,8 3,4 3,1 -
Hungria 4,6 5,6 6,6 6,8 7,1 7,0 6,3 5,9
Irlanda - - 4,3 4,2 3,3 3,2 3,0 2,9
Itália - - 8,0 7,0 6,2 5,6 4,2 -
Japão - - - - - 12,0 9,6 8,4
Luxemburgo - - - 7,1 6,7 6,2 5,9 5,7
México - - - - - 1,2 1,0 1,0
Noruega - - 5,2 4,7 3,8 3,3 3,1 3,1
Polônia 4,6 5,1 5,6 5,7 6,3 5,8 5,2 4,8
Portugal 3,5 4,2 4,1 3,5 3,4 3,4 3,3 3,0
Reino Unido - - - - - 4,1 3,8 3,6
República
Tcheca - - 8,6 8,6 8,5 7,2 6,6 6,4
Suécia - - 5,1 4,6 4,1 3,0 2,4 2,2
Suíça 8,2 7,1 7,2 6,8 6,5 5,5 4,1 3,8
Turquia - 1,3 1,5 1,6 2,0 2,1 2,2 2,4
Obs: Excluídas as internações de longa permanência. Em alguns países foi usada informação do ano mais próximo quando não encontrada a do ano referência.
Fonte: OECD, 2006
Evolução da Tempo Médio de Permanência de internação em leitos para atendimento a pacientes
agudos. Países da OCDE, 1960-2001. Estados Unidos
Reino Unido

Austrália
20
Áustria

Rep. Tcheca

Dinamarca
Finlândia
15
França

Alemanha

Grécia
dias

Hungria
10
Irlanda

Coréia

Luxemburgo

México
5 Holanda

Noruega

Portugal

Espanha
0 Suécia
1960 1970 1980 1990 2001 Suíça

Fonte: OECD Health Data 2003. 3rd Edition.


Ano Canadá
Notas: excluídas as internações de longa permanência.
Evolução do tempo médio de permanência de internação em leitos para
atendimento a pacientes agudos (dias). Países da OCDE – 1960-2004
Países 1960 1970 1980 1985 1990 1995 2000 2004

Alemanha 28,5 24,6 19,6 18,0 16,7 11,4 9,7 8,7

Austrália 11,5 8,7 7,7 7,4 7,2 6,5 6,1 6,1

Áustria - - 14,5 10,8 9,3 7,9 6,9 6,1

Canadá - - 10,0 10,4 10,2 7,2 7,2 7,3

Coréia - - 10,0 11,0 12,0 11,0 11,0 10,6

Dinamarca - 12,5 8,5 7,8 6,4 4,1 3,8 3,4

Espanha - - - 10,1 9,6 8,8 7,1 6,9

Estados Unidos 7,6 8,2 7,6 7,1 7,3 6,5 5,8 5,6

Finlândia 12,5 12,8 8,8 8,0 7,0 5,5 5,0 4,7

França - - 10,2 8,6 7,0 6,2 5,6 5,5

Grécia - - 10,2 8,9 7,5 6,4 6,2 -

Holanda 20,1 18,8 14,0 12,5 11,2 8,8 7,7 8,6

Hungria 11,3 11,2 11,2 10,6 9,9 9,2 7,1 6,5

Irlanda - - 8,5 7,4 6,7 6,6 6,4 6,5

Islândia - - - - 7,0 5,9 6,1 5,6

Itália - - - - 9,5 8,4 7,0 6,8

Japão - - - - 34,4 33,2 24,8 20,2


Uma aproximação ao caso
brasileiro: os problemas do
parque hospitalar nacional
Desempenho Hospitalar
no Brasil: em busca da
excelência

Bernard F. Couttolenc
Interhealth Ltda
Ênfase na atenção hospitalar

Gasto total em saúde


2006 Unidades
Diagnosti
198 bi R$ (80 bi USD) cas
5%
Unidades
RS 1.064 per capita (488) Ambulator
iais
Hospitais
Gasto hospitalar 28%
67%
representa a maior
parte:
67% (SUS 70%)
% maior que outros
países (OCDE <55%)
Evolução dos leitos hospitalares, públicos e
privados no Brasil: AMS 1976 – 2009
600000

500000

400000

público
300000
privado
total

200000

100000

0
1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1999 2002 2005 2009

Fonte: Coelho, Ivan. “Os hospitais na Reforma Sanitária brasileira”. Apresentação realizada no I Colóquio
Franco-brasileiro de Gestão Hospitalar. Rio de Janeiro, 2013
Evolução dos leitos hospitalares e dos leitos de
terapia intensiva no Brasil: 1992 – 2003
Evolução comparativa do número total de leitos hospitalares e leitos de Terapia intensiva
no Brasil - julho de 1992 a julho de 2003

14000 520000

12000
500000
Leitos de Terapia intensiva

Leitos hospitalares totais


10000
480000

8000
Leitos de UTI
460000
Leitos hospitalares
6000

440000
4000

420000
2000

0 400000
1992/Jul

1993/Jul

1994/Jul

1995/Jul

1996/Jul

1997/Jul

1998/Jul

1999/Jul

2000/Jul

2001/Jul

2002/Jul

2003/Jul
Ano (no mês de julho)
Fonte: Coelho, Ivan. “Os hospitais na Reforma Sanitária brasileira”. Apresentação realizada no I Colóquio
Franco-brasileiro de Gestão Hospitalar. Rio de Janeiro, 2013
Taxas de internação por 1.000 habitantes –
OCDE (2010)e Brasil (CNES 2011)

Em 2010, a taxa média de


internação no país foi de
89,26/1.000 hab., a
terceira menor entre os
países da OCDE
Observou-se uma enorme
desigualdade das taxas
de internação entre a
população beneficiária
de planos privados
(137,00) – valor próximo à
média da OCDE e a
população dependente
do SUS ( 75,8)
Taxas de internação por 1.000 habitantes no país,
por Estados (2010)

Há uma enorme
desigualdade das taxas
de internação
observadas nos Estados
da Federação no ano de
2010
Enquanto em Sergipe a
taxa de internação foi de
apenas 49,36/1.000 hab.,
no Paraná esse valor foi
de 95,45.
Entre 2000 e 2010, houve
decréscimo de 5% nas
taxas de internação no
país.
Contudo, muitas internações poderiam ser
evitadas

100%
~ 30% das

Porcentagem das
80%

internações
internações 60%
não requerem 40%
cuidado 20%
hospitalar 0%
Internações Pacientes- Custo
Custo = 10 bi R$ dia
Volume e custos
Não CSAA CSAA
Além disso, a maioria dos hospitais é ineficiente

Eficiência medida
0,9
em score 0-1 (DEA)

Scores de eficiência (0-1)


0,8

0,7
Score médio 0,34 0,6

0,5
Grande dispersão 0,4

0,3
Hospital médio 0,2

produz 1/3 dos 0,1

0
eficientes Geral Federais Estaduais Municipais Filantrop. Lucrativos

Importância da Natureza do hospital

escala Interna Escala Total

Privados > Públicos


A eficiência depende da escala

Eficiência 0,65
diretamente 0,60

Score de eficiência total (0-1)


0,55
relacionada com 0,50
tamanho 0,45
0,40
60% dos hospitais 0,35 Média

< 50 leitos 0,30


0,25
0,20
25-49 Leitos 50-99 Leitos 100-249 250+ Leitos
Leitos

Tamanho do hospital
Porte médio dos estabelecimentos hospitalares
brasileiros, segundo a esfera administrativa – CNES 2011
Esfera Número de Total de Média de leitos
administrativa hospitais leitos por hospital
Federal 72 16.124 224
Estadual 603 68.596 114
Municipal 2.291 80.651 35
Total Público 2.966 165.371 56
Filantrópico 1.505 111.828 74
Privados 2.842 185.857 66
Total privado 4.347 297.714 69
Total geral 7.313 463.085 63
As taxas de ocupação hospitalar são baixas

TMO = 37% (SUS) 80

Ta x a de oc upa ç ã o (%)
70
Ocupação 60
50
associada ao 40 Média
30 SUS
tipo e nível do 20
10
hosp: referência -
e maiores > TO

H
CD
l

Lu p.
Mu u a l

Fi p a l

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at

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cr
ni
Fe

la
Es
Grande

-P
no
si
En
ociosidade dos
Natureza do hospital
hospitais
pequenos (<30%)
Há ociosidade no uso dos recursos técnicos

Cirurgias por
300
sala: 0.67 /24 hs

Num cirurgias /sala /24hs


257
250
208
Mais alta nos 200 175 178

150 Média
hospitais 94
100
maiores 50

Baixíssima nos 0

era
l ual c ip
al
rati
vo
ntro
p
menores Fed E s tad
Mu
ni
Luc Fi l a

Natureza do hospital
Custo: $$$$$
As mudanças nas formas
de gestão dos hospitais
As características da organização hospitalar

o organizações extremamente complexas


o organizações cujo funcionamento envolve
saberes, tecnologias e especialistas diversos
o organizações multi-produtos
o organizações de operação extremamente
cara
o organizações tradicionais, com uma
arraigada cultura institucional
As organizações de saúde são distintas das
demais organizações
1- A definição e a mensuração dos resultados é difícil;
2- O trabalho realizado é considerado como altamente variável e
mais complexo do que em outras organizações.
3- A maior parte do trabalho tem natureza de emergência;
4- O trabalho em saúde permite pouca tolerância para a
ambiguidade e o erro;
5- As atividades são altamente interdependentes, sendo necessário
alto grau de integração entre os grupos profissionais;
6- Parte importante dos membros da organização é extremamente
profissionalizada e sua principal lealdade junto aos seus pares
7- Existe pouco controle gerencial sobre o grupo responsável pelo
desenvolvimento do trabalho: os médicos;
8- Particularmente nos hospitais, existe uma dupla linha de autoridade,
criando problemas de coordenação;

Fonte:Shortell S.M., Kaluzny A.. Health Care Management: a text in Organization Theory and Behavior. New
York: Delmar Pub., 1988
As Configurações organizacionais de Mintzberg
TIPO DE ORGANIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS DOMINANTES

EMPREENDEDORA Líder carismático/autoritário. Estrutura


simples, pouca hierarquização. Organização
em desenvolvimento ou em crise.
MECANICISTA Burocracia centralizadora. Trabalho
formalizado. Comum nas organizações de
produção em massa.
DIVERSIFICADA Componentes quase autônomos. Centro
controla os resultados. Comum nas
organizações de produção variada
PROFISSIONAL Dependência dos profissionais
INOVADORA Pouca formalização. Funcionamento por
projetos. Descentralização.
MISSIONÁRIA Forte sistema de valores e crenças .
POLÍTICA Jogos de poder substituem o sistema formal
de coordenação. Alta prevalência de conflitos
A Burocracia profissional
Tecnologia/Processo de trabalho

trabalho variável, complexo, interdependente,


e de difícil mensuração através do qual se processam
pessoas;
o resultado desse trabalho depende essencialmente dos
profissionais, que atuam com autonomia;
a coordenação do trabalho se dá mediante
a padronização de conhecimentos e habilidades
(externa à organização) e o ajustamento mútuo.


Por que burocracia profissional ?

Tecnologia/Processo de trabalho

O Centro operacional funciona como um arquivo de


problemas-padrão, . . .
entretanto...
muitos julgamentos são necessários
o processo de classificação não elimina a incerteza
logo, o profissional necessita trabalhar com
autonomia, de poder discricionário, para estabelecer e
ajustar a sua conduta
nem o dirigente, nem o analista dispõem de
expertise, de autoridade ou de legitimidade para
interferir sobre esse processo de trabalho
As preocupações com a gestão hospitalar não
são recentes
“ . . . à medida que o hospital aumentava em tamanho e complexidade,
que o desenvolvimento da medicina exigia o uso de equipamentos
custosos, que as condições sociais e econômicas em mudanças
alteravam o financiamento da atenção médica e criavam novos
padrões de utilização hospitalar, as relações organizacionais dentro do
hospital foram perturbadas e tornaram-se instáveis (...). Tendo-se tornado
uma organização em larga escala, o hospital exige uma divisão
organizacional de trabalho mais explícita e uma gestão mais eficiente e
responsável. (...) A expectativa é de que uma crescente racionalidade
administrativa caracterizará o desenvolvimento do hospital e que a
prática do médico estará sob a contínua vigilância dos outros, não
somente de seus colegas profissionais (...) Na verdade a própria natureza
da organização em larga escala coloca problemas de eficiência
administrativa e racionalidade, produtividade e responsabilidade de
todo o pessoal, inclusive dos médicos” George Rosen, 1979 – pp. 369
Entretanto, há pressões cada vez maiores para
um melhor gerenciamento dos hospitais

o pressões de ordem econômica, em razão da


elevação contínua dos custos assistenciais e dos
problemas de sustentabilidade dos sistemas
nacionais de saúde;
o pressões no sentido de um funcionamento mais
articulado – melhor coordenação – da rede de
serviços de saúde
o pressões com vistas à melhoria da qualidade e à
segurança do paciente, dadas as crescentes
evidências de problemas na prestação de
cuidados
A emergência de novas formas de financiamento e
gestão dos hospitais

o mudanças na forma de financiamento dos hospitais,


com o emprego de modalidades de pagamento que
incentivam uma maior eficiência no uso dos recursos

o mudanças do modelo de governança e de gestão dos


hospitais

introdução de contratos de gestão junto aos


prestadores hospitalares

adoção de novos arranjos organizacionais, que


conferem maior autonomia de gestão aos hospitais

profissionalização dos gerentes

surgimento da gestão da clínica


Arranjos Organizacionais Fazem Diferença

Arranjos Organizacionais
(governança)

Responsabilização, prestação de contas


e política de incentivos

Práticas de Gestão

Desempenho
e Impacto
Mosaico Organizacional
Arranjos Organizacionais nos Hospitais Brasileiros
(CNES,2005)
Classificação Arranjo No. %
Públicos
Administração Federal, Estadual, Municipal
• 2585 35
Direta
Administração •Autarquia 62
Indireta •Fundação Pública 75
2
•Serviços sociais autônomos 6
Administração •Empresa Pública 19
<1
“Autônoma” •Organizações sociais 17
Privados
•Fundações privadas 107
Não Lucrativo •Associações ou sociedades 1700
25
filantrópicas e beneficentes
•Cooperativas e sindicados 44
Lucrativo Corporativos
• 2765 37
TOTAL 7426 100
49 Modelo de Gestão:
“ O conjunto de práticas administrativas empregadas
em uma dada Instituição com vistas a se alcançar os
objetivos que lhe foram fixados . . .
. . . O método de gestão compreende o
estabelecimento das condições de trabalho, a
organização do trabalho, a natureza das relações
hierárquicas, o tipo de estruturas organizacionais, os
sistemas de avaliação e controle dos resultados, as
políticas em matéria de gestão de pessoal e os
objetivos, os valores e a filosofia de gestão que o
inspiram.” (J-F.Chanlat, 1996)
As insuficiências do atual modelo de gestão
dos hospitais públicos

Não há ênfase no desempenho;


Matriz da Não há instrumentos de incentivo à
Administração qualidade;
Direta
Verticalização da Estrutura;
Pouco espaço de Rigidez decisória;
definição autônoma
de estratégias para Baixa autonomia;
a gestão da força Pouca clareza de objetivos;
de trabalho, Baixa remuneração;
compra de bens e
serviços e Perda da força de trabalho
gestão financeira especializada;
Falta de concursos públicos;

Fonte: SEGES/MPOG. Apresentação; Brasília,nov 2005


Limitações dos Arranjos Organizacionais Tradicionais

Gestores têm pouca autoridade para


RH - recrutamento, sanção, demissão, definição do quadro
de pessoal, definição de níveis de remuneração
Preparação/modificação de compras, licitações, contratos
Definição da oferta de serviços
Gestores são pouco responsabilizados
Funções não definidas
Performance não exigida
“Administração” do orçamento
Financiamento passivo
Falta de informação para gestão
Sistemas de informação com foco nos serviços produzidos,
não nos resultados ou desempenho
Ausência de avaliação de resultados
Ausência de informação de custos e qualidade
Perguntas para reflexão:
• Afinal, a melhoria do desempenho dos
hospitais públicos no país requer a adoção
de novos modelos de gestão?
• Estes novos arranjos organizacionais podem
ser públicos? Ou, tal solução só pode se dar
mediante o emprego de soluções privadas?
• Que outras medidas se fazem necessárias
para que estes estabelecimentos funcionem
melhor?
FIM

Francisco Campos Braga Neto


chicocamposbraga@gmail.com
Instituto de Estudos em Saúde Coletiva
Universidade Federal do Rio de Janeiro

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