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JACQUELINE MORAND-DEVILLER
Fascinação e intimidação diante da estética, Solicitaram que nesse artigo fosse analisada
se esta regra de conduta, recomendada por Paul a estética em face do direito urbanístico e do d i -
Valery,' seduz o poeta, ela seria conveniente ao reito ambiental, duas disciplinas cujo progresso
jurista? é medido palmo a palmo pela crescente relação
Mas, por que não? Afinal de contas, ensi- entre o patrimônio natural e cultural.
na-se que as grandes decisões do Conselho de Pode-se decretar a estética urbana? A resposta
Estado procedem de uma "revelação", u m tipo é, à primeira vista, afirmativa. Pretender que "o
de deslumbramento diante dos comportamentos belo não se decreta" é cometer uma injúria ao le-
e dos princípios confirmados pelo tempo e nós gislador e ao direito, pois ambos têm como missão
admiramos a prudência, a discrição das altas introduzir a ordem ao "caos social" e à cidade,
jurisdições na redação sutilmente lacónica de uma bela ordem e uma bela cidade. O direito é
suas decisões, tanto como as qualidades que uma prescrição de conduta e de comportamento.
elas não compartilham necessariamente c o m Prescrever o belo é prescrever uma conduta leal
o legislador, frequentemente i n c l i n a d o a se a seu respeito. E pode-se indagar se Aristóteles
deixar fascinar pelo evento que j á ocorreu, do não tinha magistralmente tratado dessa questão
qual restam apenas obscuras claridades, e a não constatando que; " O belo e o justo são interpre-
se conter em suas reformas, entre glosando-se tações tão vastas e tão susceptíveis de erro que
ao excesso. eles não parecem ter sentido em razão da lei e não
por u m efeito da natureza".^
Pode-se julgar o belo? Aqui mais uma vez
* Laville, lepaysage et lebeau, in Archives dephilosophie a resposta é afirmativa. Os julgamentos serão
dudrok-1.40: droit et esthétique. Trad. Solange Teles moderados, prudentes. Proferi-los demandará
da Silva, Raquel Thais Runsche e Cristina Lemos
"uma arte inteira", arte da persuasão, arte da
Lopes, 1996, p. 180-193.
solução, e se a elegância não é a qualidade pri-
1. Nota das tradutoras: a autora refere-se ao texto de
mordial de u m julgamento, nada impede que
Paul Valery (Paul Valéry, Discours sur lesthétique
(1937). Discours prononcé au deuxième congrès ela o impregne.
International d'Esthétique et de Science de l'Art, Os golpes aplicados ao patrimônio seriam
in Variété IV, Nrf, Gallimard, 1939, 265 p., p. 235- rudes se o direito não interviesse. O legisla-
265. Disponível em: lclassiques.uqac.ca/classiques/
Valery_paul/varietes/discours_sur_esthetique_IV/
Discours_sur_lesthetique.pdf]. 2. ÈthiqueãNicomaque, Livre I I , chap. I l l , 2.
dor cumpriu sua missão e os textos que ele nos Dos Burgondes' às "Trinta gloriosas"^ do
ofereceu são - isso merece ser ressaltado - de pós-guerra, a lista dos "autos de f é " ' arquitetô-
qualidade. nicos é longa, história marcada por alguns atos
violentos: foi necessário mais de vinte anos para
O j u i z continua excessivamente tímido, o
reconstruir a abadia de Cluny, o maior monastério
belo o assusta, ele teme versar sobre a subjetivi-
da Europa, e aproximadamente o mesmo tempo
dade, o arbitrário, mas se ele se esquiva do debate
para que as residências reais de Marly, Meudon,
de fundo sobre a estética, ele não correria o risco
Sceaux e a Ilha Adam fossem transformadas em
de assim falhar em sua missão de aplicação e de
pilhas de pedras a edificar. Nessa matéria não é a
interpretação das leis? Ele não correria o risco, seleção natural que se impõe, não são os monu-
sobretudo de deixar perpetuarem-se impune- mentos mais prestigiosos que necessariamente
mente os crimes contra o patrimônio, os crimes sobrevivem.
que lesam o belo?
Pode-se ser mais indulgente quando o demo-
O direito urbanístico e o direito ambiental lidor se faz perdoar, construindo sobre o mesmo
são, em direito piiblico, terrenos de predileção da local uma nova obra-prima: no início do século
estética e é necessário agradecer a essa sacra união X I I o abade Suger reconstruiu pela terceira vez
que o período contemporâneo fortemente selou. a abadia de Saint-Denis, e a catedral de Saint
A reflexão sobre a cidade, a paisagem e o belo Etienne de Bourges foi reconstruída cinco vezes
sem ser finalizada.
obrigam a descer das alturas especulativas para
apresentar os progressos e as insuficiências do No entanto, as sucessões de obras-primas
direito positivo quanto à proteção e à valorização tornaram-se, ao longo dos anos, cada vez mais
do patrimônio. raras, ao passo que a obstinação de destruir nunca
se enfraqueceu; a sobrevivência da estação de
Essa análise ordenar-se-á em torno de três
trem Orsay, bem como da fachada dos fundos da
missões a cumprir. Proteger: o belo se insurge Ópera cómica, ocorreu em razão de afortunados
contra o vandalismo; legislar: o belo luta contra a concursos de circunstâncias políticas que não
indiferença; julgar: o belo desafia o imperialismo pouparam os Halles de Baltard, o Palácio rosa
e a covardia. de Boni de Castellane ou o Castelo Beranger de
Guimard.
I. PROTEGER: O BELO CONTRA O VANDALISMO
A complexa psicologia dos vândalos se apoia
A ) O vandalismo destruidor em motivos confessáveis e não confessáveis.
Entre os últimos, os mais frequentes seriam
O estigma do vandalismo teria sido criado pelo o instinto brutal de destruição: vingança de u m
abade Gregoire,^ cuja sensibilidade se assustava ao Caliban raivoso contra o que foi edificado com
constatar as destruições revolucionárias: " E u criei ternura por Ariel; a ganância; a intolerância e o
a palavra para matar a coisa", dizia o deputado da fanatismo; os "sans-culottes"** pediam a destrui-
região da Lorena aos Estados gerais, que se tomou
em seguida bispo constitucional de Blois. 5. Nota das tradutoras: bárbaros que invadiram a França
(principalmente na região da Borgonha) a partir da
Tão enraizado no temperamento dos homens
Antiguidade até a Alta Idade Média, quando se esta-
e das sociedades como é a guerra, o vandalismo é beleceram definitivamente.
"algo" também tão antigo quanto ela e permanente 6. Nota das tradutoras: "Trinta gloriosas", décadas de
pela vida. A história do vandalismo, história dos verdadeira revolução silenciosa, o período entre 1957
monumentos destruídos da artefrancesa, foi tema de e 1974, constituiu um período de forte crescimento
económico e urbanização em uma maioria de países
u m notável estudo de Louis Réau, recentemente
desenvolvidos.
reeditado e reatualizado.''
7. Nota das tradutoras: cerimónia de destruição pelo
fogo durante o período da Inquisição.
3. Nota das tradutoras: a autora refere-se a Henri Gre- 8. Nota das tradutoras: de acordo com os aristocratas,
goire, antigo bispo de Blois, que apresentou relatórios "sem-calçâo" era a expressão que designava os artesãos,
sobre L a bibliographie, la destruction du patois e trabalhadores e pequenos proprietários participantes da
1'excès du vandalisme (1974), relatório apresentado Revolução Francesa a partir de 1771, pelo fato de não
à Convenção Nacional (Assembleia). usarem elegantes trajes que a nobreza vestia ("culot-
4. R. Laffont, Bouquins, 1. ed. 1958,2. ed. 1994. tes"), mas sim uma calça de algodão grosseira.
82 j A t . Q L I I J . M , M o R A M J - D l V I l . l fl!
comunais que conjuga seus malefícios àqueles todas as obras (demolição, restauração, reparação)
nascidos do gosto medíocre e conquistando certos realizadas em u m monumento tombado.
gestores culturais.'" Trata-se de u m procedimento enérgico e
"Tempus edax, homo edacior." C o m sua bela eficaz que permite ao Ministro da Cultura i n -
concisão, o adágio romano o constata: "O tempo tervir junto à autoridade competente para dar a
morde os monumentos, mas o pior inimigo é o autorização de construir - geralmente o prefeito.
homem". Aqui, ainda, como constatou G i r a u - O O l y m p i a , local reconhecido de m u s i c - h a l l
doux, "os verdadeiros vencidos são os mortos, mas parisiense, bem como o Fouquet's, restaurante
os vivos são para sempre mutilados"'. célebre na Champs Elysées, foram assim recen-
O homem pode, assim, ser amigo dos monu- temente protegidos.
mentos e ele inventou regras protetoras, as quais O regime do tombamento tem u m alcance
serão analisadas a seguir. tão amplo que ele foi estendido, por uma lei de
1943, ao entorno dos monumentos históricos.
II. LEGISIJ\R: O BELO CONTRA A INDIFERENÇA Nenhuma obra de demolição ou restauração pode
ser efetuada sem o acordo prévio dos "Arquitetos
Após o grande elã das ideias românticas e de dos Prédios da F r a n ç a " " quando essas constru-
um relatório célebre ao Rei de Guizot, os primei- ções situem-se no "círculo estiipido e maldito" de
ros inventários do patrimônio foram constituídos quinhentos metros de raio no entorno do monu-
graças à ação de Prosper Mérimée e da Comissão mento. O mesmo regime aplica-se aos sítios.
dos Monumentos Históricos, criada em 1837. A
gestão precedeu a regra. 2. O patrimônio futuro
Foi necessário esperar, na realidade, meio
O legislador contemporâneo - graças a Deus
século para que o legislador se decidisse a intervir
- manteve esses textos em vigor. Mas ele teve, de
a fim de estabelecer u m regime de proteção mais
modo bastante oportuno, a possibihdade de adotar
enérgico que aquele existente, estabelecido por
outros mecanismos que não se aplicam apenas às
meio de circulares.
autorizações individuais, mas se estendem a uma
reflexão e a uma dimensão mais global: a de uma
A) A lei, a estética, o patrimônio natural e
planificação cuja principal mola propulsora é - os
cultural
textos são sem ambiguidade - estética.
Ela protege melhor o patrimônio antigo que Trata-se de uma parte de u m sistema de "se-
o patrimônio futuro. tores protegidos" estabelecidos pela Lei Malraux
de 04.08.1962, feliz reação contra a desastrosa
I . O patrimônio antigo política dita de "renovação urbana", que condu-
zia à demolição de centros antigos das cidades
As boas e velhas leis de 1887 e 1913 sobre os para "construir o novo", o que provocou a perda
monumentos históricos, 1906 e 1930 para os sítios irremediável de certas fachadas e elementos de
não possuem sequer uma ruga. Elas cumpriram decoração repletos de charme, substituídos por
plenamente seu papel de proteção do patrimônio calamitosas banalidades.
e continuam a fazê-lo. Alteradas aqui e ali por re-
Conduzido por u m arquiteto responsável do
formas coerentes, o essencial de seus dispositivos
setor e inspirado por uma estreita colaboração
sobreviveu, os quais distinguem entre o regime
entre os serviços prestados pelo Estado, pela
da inscrição e aquele do tombamento.
comuna e pelos proprietários, a reabihtação ope-
O primeiro assegura à administração a i n - ra-se pacientemente, de acordo com u m "plano
formação sobre as obras que os proprietários dos de proteção e valorização", tendo como uma das
monumentos históricos, sejam eles pessoas de prioridades a conservação e a restauração desse
direito ptiblico ou privado, pretendem empre- patrimônio, seguramente menor, mas extrema-
ender sobre seus bens. O segundo é muito mais mente cativante como o prova a transformação
protetor, pois ele submete à autorização prévia radical da condição social dos habitantes desses
do Ministro competente das questões culturais bairros outrora em ruína e frequentados pelos
10. VerJ.-L.Harouel,Cu!tureeícon(re-cuiíure, Paris: PUF, 11. Nota das tradutoras: funcionários piiblicos pertencen-
1994. tes ao corpo dos Arquitetos e Urbanistas do Estado.
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são sempre esteve negligenciada pelos textos que restauração que, ela, deveria observar algumas
deveriam ter lhe dado u m espaço. dessas obrigações.
Não se pode, de fato, espantar-se com o Entre as ocasiões que faltaram, não se deve
seguinte paradoxo: quanto mais os conjuntos esquecer a lei de orientação para a cidade de
imobiliãrios são massivos, monumentais e des- 1 8 . 0 7 . 1 9 9 1 , que, ainda que proclamando de
tinados a acolher u m maior número de pessoas, maneira fanfarrona u m "direito à cidade" e à
mais discretos, senão ausentes, são os dispositivos "diversidade de moradia", não refletiu sobre uma
sobre a sua qualidade arquitetônica e sua inser- mínima relação com a estética, apesar de que
ção no meio ambiente. Coloca-se em discussão: tivesse por objetivo promover para u m grande
os grandes conjuntos habitacionais, as grandes número a qualidade de estar e de viver em uma
superfícies comerciais e as construções públicas, cidade, como se o direito à beleza, passante e elitis-
vários exemplos - basta levantar o nariz para se ta, devesse permanecer u m privilégio reservado a
convencer - de realizações de uma deplorável alguns monumentos e territórios extraordinários
feiura. e ignorar os outros.
reforço no art. L . 131-2 do Código das Comunas, Poder pensar o particular como contido no
que faz da "boa ordem", ao lado da trilogia tra- universo ( K a n t ) , a faculdade de julgar deve se
dicional: segurança, salubridade, tranquilidade defender contra dois perigos: o imperialismo e
pública, uma finalidade de polícia administrativa. a covardia.
Essa "boa ordem" pode ser interpretada como
O primeiro perigo vem dos homens das artes,
uma "bela ordem", impondo-se às autoridades de
o segundo ameaça os juízes. U n s e outros são
polícia administrativa das comunas e dos departa-
confrontados ao universal concreto: aquele do
mentos" a obrigação de velar, a título preventivo,
veredicto majoritário.
pelo seu respeito, com o risco de lhes acordar o
mesmo direito ao erro (não manifesto) que aquele
A) O julgamento dos homens das artes
que lhes é acordado em todos os domínios onde
eles dispõem de u m poder discricionário. E por O imperialismo seria aquele dos homens
que não ir até erigir uma missão de preservação das artes. O cuidado de julgar soberanamente as
da estética em missão de serviço público? obras a serem reaUzadas nos monumentos e nos
O principal perigo permanece o da indife- sítios tombados é confiada a "corpos" fechados
rença contra o qual as administrações quase não pouco conhecidos do grande público, cujo efe-
se defendem. A administração da infraestrutura tivo é muito limitado e tem o temível poder de
continua bem tímida em relação à estética, mesmo decidir sozinho.
se ela tem entre suas atribuições a arquitetura. E o Os arquitetos chefes dos monumentos histó-
que dizer da atitude das autoridades administrati- ricos preservaram cuidadosamente u m numerus
vas representantes do Estado nos departamentos, clausus de fato. E m número de cerca de cinquenta,
em sua missão de controle da legalidade: três ações eles dividem a gestão das obras sobre os monu-
mentos de competência do Ministério da Cultura
de suas respectivas revisões serão progressivamente e é sobre essas obras numerosas que recebem uma
substituídos pelos P L U . Tanto os POS como os P L U ajuda financeira do Estado. Sua remuneração
são documentos de urbanismo regulamentares que repousa sobre uma porcentagem do montante
determinam a afetação do solo de acordo com o seu dessas obras e eles podem, além disso, ter uma
uso principal que deve ser realizado no território de
clientela particular.
uma ou várias comunas e constituem documentos
oponíveis a terceiros. "Soldados do patrimônio", os Arquitetos
15. A L e i de 14.03.1919 estabeleceu os primeiros do- dos Prédios da França são menos cobiçados. Eles
cumentos de planificação urbana descentralizada, aportam sua contribuição aos arquitetos chefes
qualificando-os de "Projetos de ordenamento, de para controlar o estado dos imóveis tombados ou
embelezamento e de extensão", e destaca a relação entre
inscritos e intervêm apenas em obras "de con-
o embelezamento e o ordenamento territorial.
servação e reparações ordinárias". A maior parte
16. Dalloz, 1927,Chr.,p. 17.
do seu tempo é consagrada a uma tarefa pesada
17. As autoridades administrativas dos departamentos
- "Preféts" - viram-se atribuídas de competência para
e ingrata: a de conceder o parecer prévio a toda
tomar as medidas referentes à "boa ordem" pela Lei autorização de construir sobre u m monumento
de 02.03.1982 (art. 34-111). tombado ou u m imóvel situado no "entorno".
86 JACQI^KLINI; MORAND-Df-Vll.l.i:ii
Esta tlltima função é cada vez mais mal per- No entanto, a alta jurisdição não se engajou
cebida pelos construtores e eleitos, irritados de nessa via, estimando que o prefeito - "maire" - de
ver seus projetos atrasados por tergiversações dos Toulouse havia excedido seus poderes ao subme-
Arquitetos dos Prédios da França. Uma reforma se ter os projetos de túmulos à autorização prévia a
vislumbra, a qual, como já ocorre com as Z P P A U , fim de controlar sua concepção estética.'''
teria a instituição de uma comissão de apelação
O belo parece aterrorizar o juiz, que se refugia
das decisões desfavoráveis dos Arquitetos dos
atrás do risco da subjetividade. E se deve anuir à
Prédios da França, reforma com a qual, em geral,
sua prudência reservada, não se pode admiti-la
concordam esses últimos.
quando ele se esquiva do debate de fundo, ainda
Quanto menos u m poder é compartilhado, que a violação de uma disposição estética - e elas
mais ele apresenta riscos de ser arbitrário. são nuinerosas - seja invocada.
O poder de julgar sobre a proteção e a va-
Aqui, ainda, os progressos se esboçam. O art.
lorização do patrimônio permanece reservado
R. 111-21 possibilita aqui e lá enérgicas anula-
a uma elite muito restrita, cujo julgamento era
ções. A título de exemplo, destaca-se o recente
até o presente momento sem apelação, exceto
caso do parque de Rentilly. E m uma decisão de
a apelação para o Ministro da C u l t u r a , o que
27.01.1994, a Corte Administrativa de Apela-
apenas deslocava o problema, pois esse último
ção de Paris anulou a autorização de construir
também pode, contra todos os pareceres, decidir
u m vasto conjunto imobiliário, fundando sua
sozinho: o caso das colunas de Buren'® é u m bom
convicção ao mesmo tempo na importância do
exemplo.
projeto "qualquer que seja sua qualidade arqui-
Nesse sentido, é significativo ver atualmente
tetural... não obstante a natureza ordinária" das
outros homens das artes: historiadores de arte,
construções desse género (hotel e imóveis de "alto
conservadores do patrimônio.... rebelarem-se
padrão") e no interesse extraordinário dos locais
contra os golpes (devido ao mau gosto) ao patri-
vizinhos (parque do século X V I I , sítio inscrito e
mônio perpetrados por alguns arquitetos chefes,
sítio tombado na proximidade).
a exemplo da disputa de Vézelay.
U m debate se alimenta, o qual favorece a O caso está diante do j u i z civil e retornará
expressão de opiniões diversas e de onde o belo talvez ao j u i z administrativo, invocando a res-
e o universal saem fortalecidos. ponsabihdade do estabelecimento público de
Mame-la-Vallée e do Estado por culpa na entrega
B) A sentença dos juízes de uma autorização ilegal: o respeito da estética
torna-se assim útil e rentável... a fim de preservar
O j u i z administrativo, quanto a ele, jamais as finanças do Estado.
versou no imperialismo e ilustra-se mais por
Caso deseje-se ir mais longe com a análise,
u m excesso de timidez, u m comportamento u m
observar-se-á que não se pede ao j u i z que ele
pouco pusilânime.
se pronuncie sobre o belo, matéria sobre a qual
Basta relembrar o caso do cemitério de
ele não tem vocação de estabelecer os critérios.
Cornebarieu em Toulouse, pelo qual o prefeito
Demanda-se que ele recuse a feiura.
- "maire" - tinha tentado fazer prevalecer certa
concepção de estética em relação ao arranjo dos Além disso, seu papel continua moderado.
túmulos. O comissário do governo, J . K a h n , E l e apenas rejeitará a agressão à beleza se as
propunha dar às autoridades locais os meios para ameaças ultrapassarem certo patamar, se elas são
preservar seu domínio público contra "aflitiva manifestas, evidentes para u m espírito normal-
feiura", e os mais jovens membros do Conselho mente esclarecido. Ele responde assim à chamada
de Estado engrandeciam seus comentários, decla- dos textos e a esse instinto do injusto, da incoe-
rando que "a procura do belo é u m dos aspectos rência, da desarmonia que vem das profundezas
da melhor utilização do domínio público". do corpo social.
18. Nota das tradutoras: conhecidas como colunas de 19. Conselho de Estado, 18.02.1972, Chambresyndicoledcs
Buren, a escultura criada por Daniel Buren intitulada industries artisanales ãe Haute-gawnne, A.J.D.A. abril
Les Deux Plateaux (1986) encontra-se no grande 1972, crónica de jurisprudência por D. LabetouUe,
pátio do Falais Royai. p.215.
88 | ; U Q U r i J N I ' , M O R A N D - D l V i l I.IÍH