Edição Lisboa • Ano XXXI • n.º 10.

934 • 1,30€ • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos

MIGUEL FERASO CABRAL

Histórias dos que
venceram o vírus:
“Foi horrível”

Técnicos acabaram com visitas

de rotina a crianças em risco
Atendimentos e visitas das comissões de protecção de menores no mínimo: especialistas alertam para
agravamento de riscos com isolamento social • Chamadas para o INEM em queda • Dez médicos internados
nos cuidados intensivos • Covid-19 afecta as pessoas de forma diferente. Porquê? • PR prepara-se para renovar
estado de emergência • UE ainda sem acordo para “coronabonds” • África: escapar à doença e cair na fome
Destaque, 2 a 15 e Editorial • Acompanhe ao minuto em publico.pt/coronavirus ISNN-0872-1548
2 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
INEM com menos 600 a 700
chamadas em alguns dias
Número de pessoas que se recusam a ir a hospital depois de avaliadas por técnicos subiu. Médica alerta para
doentes agudos que não podem deixar de procurar ajuda e os crónicos que têm de continuar a medicação
Patrícia Carvalho
N
ão é o único factor a ter em
conta, mas a covid-19 está a
ajudar a diminuir o volume
de chamadas que diaria-
mente chega ao Instituto
Nacional de Emergência
Médica (INEM).
António Táboas, médico deste
organismo diz que “tem havido uma
diminuição gradual do número de
chamadas ao longo do mês do Mar-
ço, e em alguns dias há menos 600
a 700 chamadas, comparando com
o que acontecia no início do mês ou
com Janeiro”.
A médica Helena Canhão, do ser-
viço de Reumatologia do Hospital
Curry Cabral, em Lisboa, alerta para
casos de doença aguda que não
podem deixar de ir ao hospital e os
doentes crónicos não podem inter-
romper a medicação, apesar da cri-
se do coronavírus — SARS-CoV-2.
As contas de António Táboas são
fáceis de fazer: dos dias habituais em
que ao INEM chegavam 4 mil chama-
das ou mais, passou-se para uma
média que ronda as 3400, 3500 cha-
madas. Ou menos.
“Domingo foi o dia com menos
chamadas de emergência, 2995”,
contabiliza. O médico aponta as pos-
síveis razões para esta tendência
actual, com o receio de ir aos hospi-
tais, por causa da covid-19, entre
elas.
“O que vemos é que aquilo que
eram doentes ligeiros, que ao míni-
mo sintoma ligavam o 112 e preten-
diam ir ao hospital, agora não o
fazem. Também há uma maior per-
centagem de pessoas que, após o
envio de meios para o local, se recu-
sa a ir ao hospital. Neste caso não
tenho números absolutos, mas há
uma diminuição”, diz.
Nem tudo pode ser atribuído à
covid-19, refere. Para a diminuição
do número de chamadas, contribui
a existência de menos acidentes de
viação (porque as pessoas circulam
menos), menos acidentes de traba-
lho (muitos locais estão fechados) e
nas escolas, que estão encerradas.
Por outro lado, o médico diz não ter
a percepção de que “globalmente”
tenham aumentado os acidentes
domésticos.
Já na recusa em ir ao hospital,
após a avaliação dos médicos do
INEM, há que ter também em conta
o facto de muitos portugueses esta-
rem em casa e, por isso, mais dispo-
níveis para acompanhar no domicí-
lio situações de doença que, noutras
circunstâncias, seriam remetidas
para os hospitais, explica.
As informações prestadas pelo
médico do INEM são complementa-
das pelos dados do Serviço Nacional
de Saúde (SNS), que, diariamen-
te, monitoriza o número de episó-
dios de urgência nos hospitais
nacionais. Olhando para os dados,
é fácil ver a queda abrupta destes
DANIEL ROCHA
casos: de 18.926 episódios de urgên-
cia registados a 30 de Janeiro pas-
sou-se, dois meses depois, a 30 de
Março, para apenas 8011. No domin-
go, dia 29, o tal dia que António
Táboas diz ter sido o mais tranquilo
para os telefones do INEM, o núme-
ro registado pelo sistema do SNS é
de 6770 episódios de emergência.
Os números vão ao encontro das
preocupações da médica Helena
Canhão, que se depara com as reper-
cussões da covid-19 mesmo naqueles
que não têm a doença. “Este é um
momento difícil para dar apoio a
toda a gente, e também aos doentes
que já existiam antes da covid-19 e
que continuam a existir. Todos
temos de nos adaptar às circunstân-
cias, porque as nossas vidas não são
iguais ao que eram há três semanas.
Noto que no caso dos doentes agu-
dos (aqueles que adoecem agora),
eles chegam aos hospitais num esta-
do muito mais grave do que chega-
vam antes. E, no caso dos doentes
crónicos, as descompensações são
maiores”, aÆrma.
Os sinais de alerta não podem, por
isso, ser descurados, nem num caso
nem no outro, insiste. Até porque,
nos casos em que existe uma doença
crónica — como na situação do rapaz
de 14 anos que sofria de psoríase gra-
ve e morreu no Hospital de Santa
Maria da Feira, após ter sido conÆr-
mado que tinha covid-19 — “o vírus
aumenta a susceptibilidade para
infecções bacterianas”, diz.
Quanto mais depressa se actuar,
melhor, mas não é isso que está a
acontecer, reforça. “Estão a aconte-
cer casos mais graves em que as pes-
soas Æcam em casa e não levam os
Ælhos ao hospital. Antes disto, se um
pai ou uma mãe tinha uma criança
com uma diarreia durante dois ou
três dias, a desidratar, levava-a às
urgências. Agora têm medo”.
A médica do Curry Cabral deixa
um alerta: “Os doentes agudos, que
adoecem agora, tenham ou não
covid-19, têm de ser vistos na mesma,
obviamente com todos os cuidados.
E as pessoas com diabetes, hiperten-
são, tratamentos para doenças reu-
máticas ou mentais têm de manter a
medicação. Se descompensam, é
muito mais difícil depois”.
patricia.carvalho@publico.pt

Situação em Portugal
Casos por
concelho
Mais de 300
De 150 a 300
De 50 a 149
De 25 a 49 “Há dez médicos” infectados que estão
De 3 a 24 internados nos cuidados intensivos
Sem dados
Alexandra Campos
U
m em cada oito dos infecta-
dos com o novo coronavírus
em Portugal é proÆssional
de saúde. O número de
médicos, enfermeiros, auxi-
liares e outros trabalhadores
de hospitais e centros de saúde con-
tagiados não pára de aumentar e os
dados mais recentes indicam que
representam já mais de 13% do total
dos casos positivos. Dos 835 proÆs-
sionais infectados, 209 são médicos
e 177 são enfermeiros.
A informação
apresentada refere-se Os representantes dos médicos e
ao total de notificações dos enfermeiros estão, porém, con-
clínicas no sistema Sinave, vencidos de que estes números estão
correspondente a 78% dos longe de corresponder à realidade.
casos confirmados. Dados Adiantando que “há já dez médicos
por concelho de ocorrência. Mortes 160 internados nos cuidados intensivos”,
Quando o número de casos Casos
confirmados é inferior a 3, confirmados 7443 o secretário-geral do Sindicato Inde-
por motivos de pendente dos Médicos, Jorge Roque
confidencialidade, não são da Cunha, acredita que os dados
apresentados dados. estão “sub-reportados” e lamenta a
7000
“insensibilidade que o Ministério da
Saúde manifesta em relação aos seus
proÆssionais”, por continuar a ser
AÇORES MADEIRA
6000 obrigatório testar apenas aqueles
que têm sintomas da infecção.
Também há enfermeiros “em esta-
do grave, nos cuidados intensivos”,
5000 diz a bastonária da Ordem dos Enfer-
meiros (OE), Ana Rita Cavaco, sem
precisar quantos são. Por não acre-
ditar igualmente nos números que
4000 têm sido avançados pelo ministério
Infectados
e pela Direcção-Geral da Saúde, a
bastonária colocou ontem no micro-
3354 4089 site da Ordem dedicado à doença um
3000 questionário dirigido a todos os
enfermeiros que “estão na linha de
Recuperados defesa da pandemia da covid-19”.
Óbitos
43 2000
“A OE estima que não sejam ape-
nas 177 os enfermeiros infectados,
como foi revelado, mas também
compreende que é difícil para os
96 64 hospitais estarem, neste momento,
1000
a dar números reais, pelo que a cola-
boração dos enfermeiros é funda-
mental para conseguirmos perceber
0 a situação real”, justiÆca. E contesta
2 Mar. 10 20 31
o “racionamento” dos testes nas uni-
dades de saúde. “Não estão a ser
Fonte: DGS PÚBLICO
cumpridas as orientações da Orga-
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 3
Podíamos ter evitado que
a situação chegasse a este ponto.
Os médicos deviam ser testados
de 15 em 15 dias
Miguel Guimarães
Bastonário da Ordem dos Médicos
nização Mundial da Saúde”. “Podía-
mos ter evitado que a situação che-
gasse a este ponto. E ainda podemos
evitar que se agrave. Os médicos
deviam ser testados de 15 em 15 dias.
Os países que estão a ter sucesso [no
combate à pandemia] fazem isso”,
corrobora o bastonário da Ordem
dos Médicos, Miguel Guimarães. “Já
digo há semanas que os que estão a
tratar doentes nas consultas e nos
serviços de urgência também têm de
ter equipamentos de protecção indi-
vidual, uma vez que estão igualmen-
te expostos”.
No entanto, lembra o presidente
da Federação Nacional dos Médicos,
Noel Carrilho, só desde este domingo
Æcou estipulado, através de uma nor-
ma da Direcção-Geral da Saúde, que
todos os doentes devem usar másca-
ra, tal como todos os proÆssionais de
saúde. “Isto é o mínimo”, enfatiza.
As duas estruturas sindicais que
representam os médicos já coloca-
ram, aliás, nos seus sites minutas
para “a recusa de prestação de actos
médicos enquanto não forem forne-
Governo excluiu cordãoautor@publico.pt
sanitário no Porto
U
m dia depois de a
directora-geral da Saúde,
Graça Freitas, ter anunciado
que estava a ser
equacionada uma cerca
sanitária à volta do Porto, o
secretário de Estado da Saúde,
António Lacerda Sales, quis
ontem enterrar o assunto:
“Neste momento, não faz
qualquer sentido colocar-se
essa situação.” Na conferência
de imprensa sobre o ponto da
situação dos números da crise
pandémica, tratou de esvaziar a
polémica, afirmando que Graça
Freitas falara “em ponderação de
situações de uma forma
generalista, não se referindo
particularmente ao Porto, mas
de um forma generalista
relativamente à possibilidade de
cidos os indispensáveis equipamen-
tos”. São documentos que “funcio-
nam como pressão”, justiÆca Roque
da Cunha.
A elevada taxa de infecção nos
proÆssionais de saúde não é um
exclusivo português. Em Itália e em
Espanha, são milhares os médicos,
enfermeiros e outros trabalhadores
dos hospitais e centros de saúde con-
tagiados e dezenas morreram, entre-
tanto. Percentualmente, Espanha é
o país que se encontra em pior situa-
ção a este nível. Os dados mais recen-
tes adiantados pelo Ministério da
Saúde espanhol (segunda-feira)
apontam para um total de 12.298
proÆssionais de saúde infectados, ou
seja, 14,4% do total dos casos positi-
vos neste país. Em Itália, eram perto
de 9% (6414) os proÆssionais de saú-
de infectados, de acordo com os últi-
mos dados revelados pelo Instituto
Superior de Saúde daquele país, na
sexta-feira. Até este dia, tinham mor-
rido 51 médicos.
acampos@publico.pt
cercas sanitárias”. De acordo
com o boletim da DGS da
véspera, o concelho do Porto
registava no domingo à noite
941 casos de covid-19, mais 524
do que no sábado. Ontem, na
conferência de imprensa, que
não contou com a presença de
Freitas, o subdirector-geral de
Saúde, Diogo Cruz, admitiu que
se registou uma dupla
contagem no Porto. O
presidente da Câmara do Porto,
Rui Moreira, não perdeu tempo:
“Sobre o cerco… tínhamos
razão. Como está comprovado.
Números errados e pré-anúncio
de decisões inúteis. Ainda bem
que prevalece o bom senso e
que alguém esclarece com
clareza”, escreveu na sua página
pessoal do Facebook. M.G.
4 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Com as escolas fechadas e os técnicos em teletrabalho, as crianças em risco ficam mais em risco
Crianças em risco deixam de ter
visitas de rotina dos técnicos
Atendimentos e visitas ao domicílio de comissões de protecção reduzido
ao “estritamente necessário e urgente”. ProÄssionais estão em teletrabalho
Ana Cristina Pereira
T
odos os anos, mais de 60 mil
crianças e jovens em risco
são acompanhadas por 309
comissões de protecção dis-
tribuídas por todo o país, na
esmagadora maioria das
vezes junto da sua família. Para quem
se viram agora, no conÆnamento das
suas casas, se, de rompante ou deva-
garinho, o risco se transformar em
perigo? Deixaram de ver até os téc-
nicos que iam passando por lá para
veriÆcar se estava tudo bem.
Com o país em estado de emergên-
cia, atendendo às medidas preventi-
vas de propagação da doença codiv-
19, as diversas comissões de protec-
ção de crianças e jovens (CPCJ)
restringiram as reuniões, os atendi-
mentos e as visitas ao domicílio ao
“estritamente necessário e urgente”.
“Os técnicos das CPCJ, sempre que
possível, encontram-se em regime
de teletrabalho, tal como o resto da
sociedade, continuando a garantir a
presença rotativa e assegurando em
pleno as suas funções de protecção
dos direitos das crianças e dos
jovens”, declara, por escrito, a pre-
sidente da Comissão Nacional de
Promoção dos Direitos e Protecção
das Crianças e Jovens, Rosário
Farmhouse.
As crianças e jovens em risco que
se encontram na alçada dos tribunais
de família — por a família não ter
Diário daa
mia
pandemia
DANIEL ROCHA
autorizado a CPCJ a intervir, por
haver incumprimento, por a situação
ser demasiado grave, por haver uma
relação especial com a pessoa que
gera o perigo — também não rece-
bem visitas de rotina. Neste momen-
to, segundo o Conselho Superior de
Magistratura, as Equipas Multidisci-
plinares de Assessoria aos Tribunais
só asseguram os “actos presenciais
estritamente essenciais para salva-
guardar a protecção das crianças e
jovens, com especial atenção às
Boom Festival no Verão de 2021
O festival em Idanha-a-Nova foi
reagendado para 22 a 29 de Julho
de 2021. “É uma escolha que nos
abala e irá colocar a organização
numa situação extrema”, dando
conta das famílias e freelancers,
artistas, técnicos e fornecedores
que serão afectados, “mas é a
decisão sensata”.
situações urgentes que careçam de
intervenção imediata”. Todas os
outros decorrem de “formas alterna-
tivas de trabalho e de contacto (tele-
fone, videochamada, entre outros)”.
As equipas dos Centro de Apoio
Familiar e Aconselhamento Parental
(CAFAP) idem.
O momento pode ser crítico. “A
literatura cientíÆca associa períodos
de isolamento social a mais altas
taxas de violência doméstica e de
maus tratos infantis”, alerta Sónia
Rodrigues, investigadora externa da
Faculdade de Psicologia e Ciências
da Educação da Universidade do
Porto, membro do Grupo de Investi-
gação e Intervenção em Acolhimen-
to e Adopção. “O medo, a ansiedade
e o isolamento podem destabilizar
condições psicológicas e situações
familiares já por si frágeis. O risco de
que muitas situações de violação dos
direitos das crianças (maus tratos,
abusos sexuais, negligência, exposi-
ção a violência doméstica) Æquem
por identiÆcar é maior.”
Questionado pelo PÚBLICO, o
gabinete da ministra do Trabalho, da
Solidariedade e da Segurança Social,
Ana Mendes Godinho, que tutela o
sistema de protecção de crianças e
jovens, responde que “não está com-
prometida a vigilância”. “Natural-
mente, estão a ser privilegiadas for-
mas de contacto junto das famílias
que diminuam risco de contágio,
como contacto telefónico e video-
conferência.” Escolas e juntas de
freguesia “têm sido recursos impor-
tantes neste acompanhamento,
nomeadamente quando existem diÆ#
culdades de contacto. As equipas
estão preparadas para intervir pre-
sencialmente e de imediato, sempre
que é necessário”.
Com o passar dos dias, mais espe-
cialistas em protecção se inquietam.
Que garantia de privacidade oferece
uma chamada de voz ou vídeo? “Uma
das estratégias que usamos é entre-
vistar a criança sozinha porque mui-
tas vezes tem receio do que a família
possa fazer”, explica Renata Bena-
vente, perita forense e membro da
direcção da Ordem dos Psicólogos.
“Podemos ter a criança ao telefone,
mas não sabemos se há um adulto
atrás.” Com vídeo, também não. E
há perigos associados a negligência
que as crianças ou jovens podem
nem perceber.
Patrícia Seromenho, provedora
da Santa Casa da Misericórdia de
 Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 5

104
mil euros foram angariados
numa semana por portugueses
em Macau para ajudar Portugal.
Escolas enviam notas
As escolas vão enviar
directamente às famílias, através
de correio tradicional ou de
plataformas informáticas, as notas
dos alunos relativos ao 2.º
período do ano lectivo, que
terminou na passada sexta-feira.
Superior à espera de Junho Fecho nas férias
As aulas práticas no ensino A Federação Nacional de
superior podem ser concentradas Professores exortou o Ministério
no final do ano lectivo se a da Educação a travar
evolução da pandemia de “urgentemente, qualquer tipo de
covid-19 for a esperada e acolhimento” de alunos pelas
estabilizar em Maio. A formação escolas que a tutela decidiu
de profissionais de saúde é a que manter abertas nas férias, pois
merece atenção particular. pode “estar-se a contribuir para o
agravamento da situação”.

Albufeira, não tem ilusões. A sua

equipa do CAFAP continua a acom-
panhar as famílias, fazendo chama-
das e voz, videochamadas, jogos,
mantendo-se a postos para se des-
locar em caso de urgência, mas, “na
verdade, em bom rigor”, julga não
poder aÆrmar que oferece a mesma
garantia. Bem diferente parece-lhe
ser o alcance de uma equipa treina-
da e experiente que passa pela casa
para ver se as crianças dormem o
suÆciente, tomam banho, estão bem
Todo o sistema nas redes sociais ou por telefone.”
Se tudo descambar, há sempre uma
de protecção escapatória: “Se sentires que preci-
sas de ajuda, liga para o 112, para o
de crianças e jovens SOS-Criança 116 111 (número gratuito)
ou envia email para a Comissão
está enfraquecido. Nacional de Promoção dos Direitos
e Protecção das Crianças e Jovens:
A escola era uma cnpdpcj.presidencia@cnpdpcj.pt”.
espécie de posto Estratégias alternativas
avançado Catarina Ribeiro duvida da eÆcácia
de uma “grande mancha de texto”
gram. Em seu entender, é preciso
jogar noutro terreno, o das crianças
da escola em tempo de distancia-
mento social: “Julgo ser fundamen-
e jovens. A sua aposta faz-se em pla-
taformas digitais, sim, mas com
tal dotar os/as professores/as de
estratégias de identiÆcação e sinali-
outra linguagem e outros protago-
nistas — uma mensagem mais curta,
zação de casos suspeitos, para que
possam articular com as entidades
uma linguagem mais visual, mais
próxima da publicidade, recorren-
competentes, como as CPCJ. A esco-
la, mesmo que à distância, pode
do a youtubers e outros ditos desempenhar este papel e assegurar,
influencers.
SoÆa Neves, professora do Institu-
na medida do possível, a protecção
das crianças, uma vez que continua
to Superior da Maia e presidente da
associação Plano i, aponta para a
a estar em contacto com elas.”

alimentadas, não apresentam sinais publicada no Facebook e no Insta- necessidade de reinventar o papel acpereira@publico.pt
de maus tratos.

O recuo da escola
Todo o sistema de protecção de
crianças e jovens está enfraquecido.
A escola é uma espécie de posto
avançado — só as forças de segurança
sinalizam mais casos. Desde o dia 16
de Março, os professores mantêm-se
à distância. E tudo indica que assim
continuarão depois da Páscoa.
Faltam os colegas, os amigos, os
professores e outros adultos de con-
Æança a quem estas crianças e jovens
tendem a recorrer, como salienta
Catarina Ribeiro, perita forense e
professora da Universidade Católica
Portuguesa. “Não há ninguém, que
não a família, a quem o miúdo possa
pedir ajuda. Penso que é um proble-
ma que temos de enfrentar”, torna
Renata Benavente.
Rosário Farmhouse conta com a
vizinhança. “Também estamos cons-
cientes que numa situação inédita
como esta, o risco pode aumentar.
Mas estamos atentos, vigilantes e
solicitamos que cada um assuma o
seu papel, não Æcando indiferente ao
que se passa à sua volta, comunican-
do, se for o caso, à CPCJ o local onde
a criança está a residir.”
Aquele organismo preparou dois
documentos que partilhou no seu
site e nas suas contas de Facebook e
Instagram. Um com informações e
conselhos para as famílias, outros
com informações e conselhos para
as crianças e jovens.
“Estamos numa situação pouco
comum, em que um vírus se está a
espalhar de forma muito rápida,
contagiando muitas pessoas”, lê-se
na nota destinada a crianças e
jovens. “É normal ter medo. Nestas
circunstâncias, os adultos podem
Æcar mais irritados ou tristes. Alguns
podem até Æcar violentos. É muito
importante que mantenhas o contac-
to com os teus amigos e familiares,
6 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
O tempo corre
contra ou a favor
dos “coronabonds”?
A norte mantém-se a recusa de partilhar riscos que não são seus
e a sul teme-se a repetição de ajudas semelhantes às da troika. A
zona euro mostra diÄculdades em caminhar para um consenso
Sérgio Aníbal
A
lguns dizem que a crise
actual é tão séria que é ape-
nas uma questão de tempo
até que a zona euro se deci-
da Ænalmente a avançar
para uma verdadeira mutua-
lização de dívida. Outros respondem
que, pelo contrário, não é possível
dar um passo tão grande e tão com-
plexo como o lançamento de euro-
bonds a tempo de responder à crise
trazida pelo novo coronavírus. A
Europa, mais uma vez, hesita sobre o
que fazer perante a crise e os 15 dias
dados ao Eurogrupo liderado por
Mário Centeno para encontrar uma
solução de consenso parecem, em
simultâneo, serem pouco e demasia-
do tempo.
Em confronto estão duas visões
diferentes sobre como é que os Esta-
dos devem obter o Ænanciamento de
que precisam para tomar as medidas
que limitem a dimensão da crise eco-
nómica já em curso na zona euro.
De um lado, entre os países situa-
dos mais a sul, defende-se, perante
um choque externo comum — que
diÆcilmente poderia ter sido anteci-
pado por alguém — que os fundos
usados pelos Estados deveriam ser
obtidos de forma conjunta, partilhan-
do os encargos e os riscos, como for-
ma de evitar que alguns países em
situação mais frágil Æquem especial-
mente sobrecarregados e comecem
a ser pressionados pelos mercados.
Do outro lado, tendencialmente
mais a norte, a ideia é a de que, embo-
ra com algumas verbas a virem de um
fundo comum, cada país deve assu-
mir, enquanto puder, os custos do seu
próprio Ænanciamento, não fazendo
os parceiros assumirem riscos que
não são seus.
Destas duas visões resultaram dois
tipos de propostas, que, embora com
algumas semelhanças, estão ainda
longe de conseguir gerar o consenso
entre todos os países da zona euro.
Nove países, entre os quais a Fran-
ça, Itália, Espanha e Portugal defen-
dem o lançamento dos “corona-
bonds”, o nome que é dado no con-
texto da actual crise aos já muitas
vezes sugeridos no passado euro-
bonds, títulos obrigacionistas emiti-
dos em conjunto pelos 19 países da
zona euro.
Actualmente, cada um dos Estados
emite a sua própria dívida, a taxas de
juros diferentes, Æcando responsável
pelo pagamento do capital e dos
juros. No caso de uma emissão con-
junta, com uma mutualização da
dívida, todos os países garantiriam
Ænanciamento à mesma taxa de juro
e todos partilhariam o risco de ter de
responder em caso de um dos países
ser incapaz de fazer face aos seus
compromissos.
Em princípio, países como a Itália
e Portugal beneÆciariam de taxas de
juro mais baixas do que as que se pra-
ticam actualmente. Em contraparti-
da, países como a Alemanha ou a
Holanda, actualmente com taxas de
juro negativas a dez anos, poderiam
ver os seus custos agravarem-se ligei-
ramente.
Vários modelos possíveis
Há vários tipos de “coronabonds” que
podem ser pensados. Guntram Wolè,
director do think tank europeu Brue-
gel, em entrevista recente ao PÚBLI-
CO, sugeria uma emissão de pelo
menos um bilião de euros, cujo capi-
tal nunca fosse pago, renovando-se a
dívida sempre, e em que cada país
receberia os fundos e pagaria os juros
de acordo com a sua participação no
capital do BCE. E garantia que é ape-
nas uma questão de tempo (e de agra-
vamento da crise) até que a zona euro
faça alguma coisa do género.
Carlos Costa, governador do Banco
de Portugal, sugeria, por seu lado,
que a emissão, de muito longo prazo,
fosse sendo amortizada, recorrendo
a uma parcela do orçamento euro-
peu, isto é, os países iam pagando a
dívida através das suas contribuições
europeias.
Os opositores
Este tipo de sugestões de mutualiza-
ção de dívida é no entanto recebida
com uma oposição consistente de
quatro países em particular: Alema-
nha, Holanda, Áustria e Finlândia.
Para os responsáveis políticos des-
tes países, a mutualização de dívida
é uma forma de caminhar para uma
união monetária como transferências
permanente e volumosas de rendi-
mento dos países mais ricos e mais
disciplinados orçamentalmente para
os mais pobres e menos disciplina-
dos. Na actual crise, causada por um
factor externo que afectou todos ao
mesmo tempo, dizem-se mais dispos-
tos a conceder apoios, mas a linha
vermelha que traçaram até agora está
mesmo nos “coronabonds”.
Um dos últimos argumentos apre-
sentados é o de que não há tempo
para pôr em prática uma medida tão
complexa. Klaus Regling, o alemão
Ministro das Finanças holandês Wopke Hoekstra e Mário Centeno numa re
que lidera o Mecanismo Europeu de
Estabilidade (MEE), defendeu ontem
em entrevista ao Financial Times que
seriam precisos dois ou três anos para
que a zona euro pudesse concluir
todas as alterações legislativas neces-
sárias para pôr uma nova instituição
europeia a emitir “coronabonds” —
demasiado tempo para que pudesse
ser útil no combate à actual crise.
Do Norte, as propostas de apoio e
solidariedade que surgem são, numa
primeira linha, a utilização Çexível
dos fundos estruturais europeus, a
utilização dos empréstimos do Banco
Europeu de Investimento e, em últi-
ma análise, o recurso, pelos países em
diÆculdades, aos mecanismos de
emergência criados durante a ante-
rior crise e utilizados por países como
a Grécia e Portugal.
Perante a evidência de que o orça-
mento europeu e o BEI nunca terão
uma dimensão sequer próxima daqui-
lo que é exigido pela crise, manifes-
taram abertura para um outro tipo de
solução: a utilização das linhas de
crédito cautelares já existentes no
MEE, podendo cada país aceder, a
taxas de juro reduzidas, a um Ænan-
ciamento equivalente a 2% do seu PIB
Trabalhadores em layoff na crise
da pandemia vão pagar IRS
Os trabalhadores que ficarem em
situação de layoff durante a crise
da covid-19, com os contratos de
trabalho suspensos ou com uma
redução do período laboral,
continuam a pagar IRS sobre os
rendimentos que vão auferir
durante esse período.
(4 mil milhões de euros no caso de
Portugal). Na última reunião do Euro-
grupo, antes da cimeira de líderes,
houve, de acordo com Mário Cente-
no, um acordo “amplo” em relação a
esta proposta, que depois acabou por
ser recusada na cimeira de líderes,
com uma oposição particularmente
forte da Itália.
Regresso ao passado
É uma versão light de mutualização
de dívida, em que, apesar de o valor
total ser relativamente baixo, os Esta-
dos podem realmente beneÆciar de
taxas de juro mais baixas. No entanto,
tem, particularmente na Itália e nos
países com a experiência da troika,
um problema: tem demasiadas seme-
lhanças com os programas de resgate
do passado.
Em primeiro lugar porque, em vez
de todos receberem o dinheiro, cada
país tem de escolher recebê-lo Æcan-
do sujeito a um estigma negativo nos
mercados.
Depois, porque nas linhas de cré-
dito cautelares do MEE está prevista
a imposição de condições aos países.
Na entrevista ao FT, Klaus Regling
garantiu que, dadas as circunstâncias,

Fisco desaconselha idosos a
irem aos serviços devido ao IRS
A entrega das declarações de IRS
de 2019 arranca hoje, 1 de Abril.
Como há três meses pela frente
para apresentar o formulário, a
administração tributária está a
aconselhar os cidadãos,
sobretudo idosos, a não irem já
aos serviços de Finanças.
STEPHANIE LECOCQ/EPA
eunião em Janeiro passado
as condições exigidas serão mínimas.
“Deve estar presente um compromis-
so de respeitar os mecanismos de
vigilância europeus, não será mais do
que isso”, aÆrmou.
Esta garantia não convence no
entanto a Itália, que parece ter dese-
nhado a sua linha vermelha claramen-
te atrás desta proposta.
A Mário Centeno, presidente do
Eurogrupo, cabe-lhe a difícil tarefa de
tentar encontrar uma forma de gerar
um consenso, a única maneira de se
poder caminhar para algum tipo de
decisão. Ontem, numa carta enviada
a todos os ministros das Finanças da
zona euro, o governante português,
num primeiro passo para a prepara-
ção da reunião agendada para 7 de
Abril, sinalizou a intenção de ir mais
longe na discussão de modelos de
Ænanciamento comuns entre os Esta-
dos-membros, comprometendo-se
desde já a avançar com novas propos-
tas “concretas, bem justiÆcadas e
efectivas” e traçando como objectivo
que o “inevitável” aumento da dívida
pública em todos os países “não se
torne uma fonte de fragmentação”.
sergio.anibal@publico.pt
2000
candidaturas foram recebidas
ao apoio para microempresas
do turismo desde o arranque, a
19 de Março, anunciou a tutela.
Cem mil
pensões vão
até casa
Ana Brito
O A
s cerca de 370 mil pensionis-
tas que, nos próximos dias,
vão ter os seus vales a paga-
mento, vão ser foco de várias
medidas pelos CTT.
Entre elas, a empresa está
a antecipar a emissão dos vales e a
alargar os prazos de pagamento das
pensões, para tentar evitar um gran-
de número de pessoas idosas a recor-
rer em simultâneo aos pontos CTT no
começo do mês de Abril. Também se
prevê a entrega gratuita de milhares
de pensões ao domicílio.
“Os CTT vão antecipar a emissão e
o pagamento dos vales em dois dias
úteis e fasear a distribuição, durante
oito dias, de modo a minimizar o ris-
co de aÇuência aos locais de paga-
mento e de contágio”, explicou a
empresa, em comunicado. Os vales
serão emitidos hoje, 1 de Abril, e serão
distribuídos até 9 de Abril. Desde a
declaração do estado de emergência,
todas as lojas CTT têm estado a fun-
cionar só durante a manhã. Contudo,
entre 1 e 9 de Abril, em 34 destas lojas,
o horário de atendimento será das
9h00 às 13h30 e das 14h30 às 17h30.
A empresa assegura também que
durante este período de pagamento
de pensões existe em cada município
um ponto de contacto com as popu-
lações, que pode ser uma loja (uma
estação) ou um posto de correio
(onde um parceiro dos CTT presta
este serviço ao abrigo de um contrato
com a empresa).
Outra das medidas adoptadas será
“reforçar o serviço de pagamento de
vales ao domicílio pelo carteiro”, de
forma gratuita. Com isto, a empresa
de correios evitará que “cerca de 100
mil dos 370 mil pensionistas que rece-
bem mensalmente os vales” se deslo-
quem para receber o dinheiro da
pensão. O reforço do serviço é asse-
gurado pela “rede de carteiros dos
CTT” e a empresa assumirá “integral-
mente este custo”.
ana.brito@publico.pt
Berlim suspende dividendos das
cotadas que recebam ajudas
As empresas cotadas alemãs
terão de suspender a distribuição
de dividendos aos seus
accionistas se quiserem
candidatar-se a apoios públicos
para enfrentar a crise. O objectivo
é evitar que o dinheiro público
libertado acabe nos privados.
TAP coloca 90% dos
trabalhadores em layoff
Luís Villalobos
administração da TAP vai
avançar com o processo de
layoè simpliÆcado, com a
“suspensão temporária da
prestação do trabalho para
cerca de 90% dos colabora-
dores” e “uma redução do período
normal de trabalho, em 20%, para os
restantes 10%” dos trabalhadores,
comunicou ontem à tarde a gestão
aos trabalhadores da empresa.
No Ænal do ano passado, a TAP empre-
gava nove mil pessoas — sobre esse
número, o layoè agora em causa visa-
ria 8100 pessoas.
A medida tem início na quinta-fei-
ra, dia 2 de Abril, e por um período
de 30 dias, que pode vir a ser alarga-
do. No primeiro caso, o pagamento
será de 2/3 das remunerações Æxas
mensais, tal como prevê o regime de
layoff, em que 66% é pago pelo Esta-
do e o resto pela empresa (no valor
máximo de 1095 euros).
Já no caso dos funcionários com
redução de horário de trabalho, o
pagamento sobe para 80% das remu-
nerações Æxas mensais, porque, diz
a administração, estes continuam a
trabalhar para assegurar a retoma. A
gestão adianta ainda que todos os
Antonoaldo Neves, presidente executivo da companhia aérea
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 7
funcionários “serão informados indi-
vidualmente, antes da implementa-
ção, sobre a modalidade que lhes será
aplicada”.
Os administradores executivos e
não executivos “propuseram, de for-
ma voluntária, uma redução maior
da sua remuneração, no valor de
35%”, diz o comunicado da empresa
liderada por Antonoaldo Neves.
Aviões em terra
Devido ao congelamento das viagens
provocado pela pandemia do novo
coronavírus, e que tem afectado
directamente sectores como as com-
panhias aéreas e o turismo, a TAP
assiste à “suspensão quase total das
suas operações”.
A partir de hoje, 1 de Abril, e pelo
menos até 4 de Maio, vai voar apenas
para os arquipélagos da Madeira e dos
Açores, de modo a assegurar a conti-
nuidade territorial. Suspendem-se,
por exemplo, as ligações entre a capi-
tal e o Porto, bem como todos os voos
internacionais que ainda subsis-
tiam.
Em relação às ilhas, na rota Lisboa-
Funchal passa-se de dois voos por dia
para dois voos por semana, enquanto
nos Açores o voo diário para Ponta
Delgada vai ser substituído por dois
voos por semanais, e os três voos por
FOTÓGRAFO
Portugal vai emitir mais dívida
As maiores necessidades de
financiamento que o Estado vai
ter devido à crise forçaram o
Tesouro a rever a sua estratégia
de emissão de dívida, reforçando
os montantes colocados no
mercado. Esta quarta-feira deverá
já ser realizada uma emissão
sindicada de dívida a sete anos.
semana para a Terceira passam a ape-
nas a um. Ontem, a gestão aÆrmou
que “procurará ainda garantir pon-
tualmente uma operação extraordi-
nária, focada exclusivamente na mis-
são especíÆca de garantir voos de
repatriamento e de transporte de
carga humanitária”.
A descida da massa salarial vai per-
mitir à TAP uma forte redução dos
custos Æxos, mas diÆcilmente conse-
guirá sobreviver sem outro tipo de
apoios, envolvendo o Estado que é,
aliás, dono de 50% do capital. Há
depois 45% nas mãos do consórcio
formado por David Neeleman e Hum-
berto Pedrosa, cabendo os restantes
5% a trabalhadores.
Conforme noticiou o PÚBLICO, o
regulador da aviação civil, a ANAC
está, a pedido do Governo, a fazer o
levantamento das necessidades das
transportadoras aéreas, onde se des-
taca a TAP. Os apoios estatais terão de
ser articulados com Bruxelas, tal
como sucede nos outros Estados-
membros.
O PÚBLICO questionou a Comissão
Europeia sobre eventuais ajudas à
TAP, tendo fonte oÆcial sublinhado
que não comentava companhias
especíÆcas. No entanto, disse que, no
geral, a Comissão “está consciente da
situação difícil que o sector da avia-
ção enfrenta por causa da crise” do
novo coronavírus”. “O novo enqua-
dramento temporário das ajudas de
Estado permite aos Estados-membros
apoiar as empresas afectadas pela
pandemia, que podem receber com-
pensações pelos prejuízos sofridos e
causados directamente pelo corona-
vírus em múltiplos sectores, nomea-
damente o da aviação”, destacou. Um
dos apoios que está em cima da mesa
são facilidades de Ænanciamento.
Ontem, à TSF, o ministro de Estado
e da Economia, Pedro Siza Vieira,
aÆrmou que “o Estado não deixará
de assegurar a preservação do valor”
que a transportadora “representa a
longo prazo para o país”. com Rita
Siza, Bruxelas
luis.villalobos@publico.pt
8 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Por que é que a covid-19 afecta
as pessoas de forma diferente?
O novo coronavírus parece estar a afectar com menor gravidade as crianças.
A pneumonia que causa também é diferente das outras. Eis alguns enigmas
Teresa Sofia Serafim
U
m inimigo invisível chegou de
rompante às nossas vidas e
obrigou-nos a mudar muitos
hábitos. Mas, em caso de
infecção, como é que o coro-
navírus SARS-Cov-2 nos afec-
ta? Por que é que pode afectar as
pessoas de forma diferente? Ou por
que razão as crianças têm uma forma
menos grave da infecção? Ainda são
muitas as questões sobre o vírus.
Olhando ao pormenor para o SARS-
Cov-2, vê-se que é composto por uma
partícula viral (virião), que é um
milhão de vezes menos volumosa do
que as células que infecta, lê-se numa
newsletter do Instituto de Medicina
Molecular (IMM), em Lisboa. Essa
partícula é formada por uma mem-
brana lipídica, uma cadeia de ARN
(que tem informação genética) e qua-
tro proteínas estruturais. A mais proe-
minente é a da espícula, que tem a
função de detectar uma “fechadura”
(ou seja, de reconhecer o receptor nas
células-alvos, neste caso a enzima
ACE2) e de “abrir a porta” para as
células (isto é, promover a fusão das
membranas da partícula viral e da
célula).
“Como a ‘fechadura’ ACE2 está pre-
sente nas membranas das células
epiteliais pulmonares — as células que
revestem os alvéolos dos pulmões — o
SARS-Cov-2 infecta com eÆcácia o
sistema respiratório inferior, gerando
pneumonias”, refere-se ainda na
newsletter. Já a fusão das membranas
faz com que o ARN viral penetre nas
célula-alvo, o que acaba por resultar
na multiplicação de novas partículas
virais. “Uma célula pode produzir
entre 100 e 1000 viriões, que irão
infectar células adjacentes e iniciando
assim o processo de infecção e doen-
ça aguda.”
O novo coronavírus visto através de microscopia electrónica
Como afecta as pessoas
Como é que a covid-19, a doença cau-
sada pelo SARS-Cov-2, afecta as pes-
soas? Numa entrevista ao jornal bri-
tânico The Guardian, o pneumologis-
ta John Wilson frisou que as pessoas
com covid-19 podem ser divididas em
quatro grandes categorias. Na primei-
ra estão as que têm o vírus, mas não
apresentam sintomas. Noutra estão
as que têm uma infecção no tracto
respiratório superior, “o que signiÆca
que têm febre, tosse e talvez sintomas
mais ligeiros como dor de cabeça ou
conjuntivite”, referiu o também pre-
sidente do Colégio Real Australasiáti-
co de Médicos.
Num terceiro grupo estão as que
mais provavelmente irão a um hospi-
tal. De acordo com John Wilson, apre-
sentam sintomas semelhantes aos de
uma gripe, aqueles que normalmen-
te fazem com que uma pessoa Æque
em casa. Por Æm, há ainda os doentes
com uma forma grave da doença e
têm pneumonia.
NIAID
Por que há casos piores?
Ainda não se sabe bem porque há
casos de covid-19 piores do que
outros. “Penso que vai demorar mui-
to tempo até percebermos o mecanis-
mo de como algumas pessoas Æcam
mais doentes do que outras”, aÆrmou
à revista The Scientist Angela Rasmus-
sen, virologista da Universidade de
Columbia, nos EUA.
Em dados de 45 mil doentes da Chi-
na, menos de 1% das pessoas saudá-
veis morreram, mas a percentagem
era mais alta em pessoas com doen-
ças cardiovasculares (10,5%), diabetes
(7,3%) e com doenças respiratórias
crónicas (6%). A Organização Mundial
da Saúde (OMS) tem avisado que ido-
sos e pessoas com doenças já existen-
tes têm mais probabilidade de terem
uma forma grave da covid-19. Mas
Tedros Ghebreyesus, director-geral
da OMS, já avisou que os jovens “não
são invencíveis”.
Ainda não se sabe bem porque
afecta muito os idosos. Com base no
estudo de outros vírus respiratórios,
especula-se que isso pode estar rela-
cionado com a resposta imunitária.
Ao entrar no tracto respiratório e ao
multiplicar-se, o vírus causa danos,
activa o sistema imunitário e recruta
células imunitárias para combater o
agente patogénico. Os idosos e as pes-
soas com doenças pré-existentes
“devem ter assim sistemas imunitá-
rios disfuncionais, o que pode pôr em
causa a resposta ao agente patogéni-
co”, lê-se no artigo da The Scientist.
Isto pode causar uma resposta des-
controlada do sistema imunitário,
desencadeando a produção em
excesso das células imunitárias e das
suas moléculas sinalizadoras, o que
pode levar a uma tempestade de cito-
cinas (moléculas que transmitem
sinais durante a resposta imunitária)
frequentemente ligadas a uma
“enchente” de células imunitárias
nos pulmões. “É assim que se acaba
com doenças inÇamatórias graves”,
refere Angela Rasmussen.
E por que é que pode estar a causar
mais mortes nos homens? Em Portu-
gal, no último boletim da Direcção-
Geral da Saúde, contabilizavam-se
3354 homens infectados e 4089
mulheres. Quanto às mortes, 96 eram
homens e 64 mulheres. O mesmo se
tem visto noutros países.
Até agora as explicações são só
especulações. Na China, um dos moti-
vos apontados foi o tabagismo, visto
que 50% dos homens fumam e do
lado feminino são apenas 2%.
Pode haver uma combinação de
factores biológicos. AÆnal, as mulhe-
res têm dois cromossomas X, que têm
genes ligados à imunidade, enquanto
os homens têm um. Outras das razões
é a de que os estrogénios (hormonas
sexuais femininas) contribuem para
o fortalecimento do sistema imunitá-
rio. Em experiências com ratinhos ao
coronavírus SARS (parecido com o
Como identificar os sinto
SINTOMAS
FALTA DE AR
DOR DE
CABEÇA
TOSSE
SECA
FEBRE
DOR DE
GARGANTA
DORES NO
CORPO
z
z z FADIGA
NARIZ
ENTUPIDO
DIARREIA
ESPIRROS
Fontes: OMS; Centros para Controlo e Prevenção de Doenças
SARS-Cov-2), a equipa de Stanley Perl-
man, da Universidade do Iowa (EUA),
veriÆcou que os machos eram mais
susceptíveis à infecção do que as
fêmeas. Já quando se removiam os
ovários ou se bloqueavam os estrogé-
nios nas fêmeas infectadas, estas
tinham uma probabilidade maior de
morrer do que as que não tinham sido
intervencionadas.
Crianças versus idosos
Apesar de as crianças serem infecta-
das pelo vírus, os números mostram
que uma menor percentagem delas
tem uma forma grave da doença. Uma
das explicações é a de que, à medida
que o sistema imunitário envelhece,
mais células vão Æcando inactivas e
perde-se assim a capacidade de res-
ponder com eÆcácia à infecção.
A idade do ambiente pulmonar
pode ter inÇuência, aponta Stanley
Perlman. Para que não desenvolvam
asma ou tenham uma resposta exa-
gerada a substâncias no ambiente
(como a poluição), os pulmões mais

mas
CORONAVÍRUS CONSTIPAÇÃO
Comum
Não
(entre ligeira a severa)
Comum
Raro
(entre ligeira a severa)
Comum
(persistente e intensa)
Moderado
Comum Raro
Comum Comum
Às vezes Comum
Às vezes Às vezes
Raro Comum
Raro Não
Não Comum
dos EUA; Governo australiano
velhos têm uma resposta imunitária
em que a inÇamação é menor. Desta
forma, os idosos não vão ter uma res-
posta suÆcientemente rápida quando
são infectados por vírus.
O receptor ACE2 também terá algo
a dizer. Fernando Maltez, director do
serviço de doenças infecciosas do
Hospital Curry Cabral (em Lisboa),
explicou em entrevista ao PÚBLICO
que as pneumonias podem ser graves
porque o vírus entra no organismo
através desses receptores no tecido
pulmonar: “Daí que o quadro clínico
seja essencialmente de pneumonia e,
como estes receptores têm tendência
para aumentar com a idade, também
reside aqui uma justiÆcação para o
facto de as pneumonias serem mais
frequentes no idoso.”
Uma pneumonia diferente
Se tiver só febre e tosse, isto quer
dizer que o doente de covid-19 tem
uma infecção na árvore brônquica —
passagem que guia o ar entre o exte-
rior e os pulmões. Mas a doença pode
GRIPE
Não
Comum
Comum
(normalmente seca)
Comum
Às vezes
Comum
Comum
Às vezes
Às vezes
(nas crianças)
Não
PÚBLICO
ser pior se passar para o Ænal dessa
passagem. “[Se essa zona Æcar infec-
tada], vai libertar-se material inÇama-
tório nos alvéolos, que estão ao fundo
dos pulmões”, explica John Wilson,
adiantando que se os alvéolos Æcarem
inÇamados causarão “a libertação de
material inÇamatório nos pulmões, o
que acaba em pneumonia.” Os pul-
mões são incapazes de obter oxigénio
suÆciente para a corrente sanguínea,
diminuindo a capacidade de o corpo
absorver oxigénio e livrar-se do dió-
xido de carbono.
Christine Jenkins, pneumologista
da Fundação Australiana do Pulmão,
disse ao The Guardian que a pneumo-
nia da covid-19 é diferente da maioria:
“A maior parte dos tipos de pneumo-
nia que conhecemos é bacteriana e
responde aos antibióticos.” Já John
Wilson refere que esta pneumonia
pode ser “particularmente grave”,
tende a afectar todo o pulmão e que
a idade é um factor de risco quer se
seja saudável ou não.
teresa.serafim@publico.pt
DIÁRI DA QUARENTENA, 15
“A minha quarentena é especial.
Passo metade do tempo com a minha avó”
Benjamim
A
minha quarentena é
especial porque passo
metade do tempo com a
minha vizinha do
5.º andar — a minha
avó. Espírito livre de 86
anos que ainda conduz e que
passa a vida na rua. A minha avó
nunca almoça nem janta em
casa. A única maneira de a
convencer a aceitar esta situação
foi passar mais de metade do
meu dia com ela. Não é ideal,
estou sempre com medo de a
infectar com este pesadelo que
aterrou à nossa porta. Mas qual
seria a alternativa? Deixá-la em
casa sozinha durante três meses
e esperar que não fosse à rua,
que vivesse todo este caos
sozinha?
A minha mãe está isolada com
o meu pai, que tem uma saúde
frágil — aquele ingrediente que
torna o vírus mais assustador.
Estamos todos a ajustar-nos
devagar, tentando manter a
calma e a normalidade o melhor
que sabemos.
Maria Emília chega à hora do
almoço, cumprimentamo-nos à
distância, não damos aqueles
beijinhos e abraços que sempre
demos. Ela tem o sofá dela, eu
tenho o meu. Vemos as notícias
juntos, almoçamos, jantamos,
bebemos vinho tinto,
conversamos, arrumamos a
cozinha e às vezes também
discutimos. Há momentos em
que ela se esquece e tenta dar-me
um beijinho, e eu lá tenho de a
relembrar de que o amor só pode
ser verbalizado nos dias que
correm, não há espaço para o
contacto físico.
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 9
O resto do tempo é passado no
meu estúdio, a acabar o meu
próximo álbum sem ter a certeza
de quando será lançado, a
telefonar aos meus amigos e a
esforçar-me por sentir alguma
normalidade. O mundo não vai
acabar e nós temos de continuar a
trabalhar, mesmo que isso
implique não poder sair de casa.
Também ensaio e faço as pazes
com letras que falam de uma
realidade tão distante que parece
exótica.
Algumas quarentenas são
melhores do que outras. Cada vez
que o espírito ameaça ceder à
tristeza, basta-me pensar na sorte
que tenho em estar seguro dentro
de minha casa, com a minha
música, os meus instrumentos, as
canções que tenho de acabar, os
livros, os Ælmes e todos os
confortos que tenho o privilégio
de ter.
Maria Emília chega
à hora do almoço,
cumprimentamo-nos
à distância, não
damos aqueles
beijinhos que sempre
demos. Ela tem o sofá
dela, eu tenho o meu.
Vemos as notícias,
almoçamos,
jantamos, bebemos
vinho tinto, às vezes
também discutimos
Na fronteira entre a Turquia e
a Grécia há uma bomba-relógio
humanitária prestes a explodir,
pessoas que não têm uma casa,
nem água potável, nem esgotos,
nem séries, nem Ælmes, nem
esperança. O vírus também se irá
disseminar entre eles e só lhes
resta esperar que a sorte lhes
reserve o menor impacto
possível. A quarentena deles será
bem menos agradável do que a
nossa.
Nos hospitais, os médicos
preparam-se para o pior para
que possamos ter o melhor
desfecho possível. Milhares de
trabalhadores continuam a
garantir que temos comida em
nossas casas, que o nosso lixo é
recolhido, que a
nossa electricidade dá energia
aos nossos Ælmes e discos —
pessoas que garantem que a vida
continua até à incerteza que aí
vem.
Famílias inteiras têm de passar
a quarentena em casas
minúsculas, tornando a
convivência social uma tarefa
desaÆante. Outras não sabem
como irão pagar a renda do tecto
da quarentena. Nenhum de nós
sabe o que o futuro nos reserva —
mais ou menos privilegiados,
mais ricos ou mais pobres.
Quando me vou deitar, às
vezes bate o medo. Mas depois
penso que todos os candidatos a
ganhar o Prémio Nobel, todos os
líderes mundiais, todas as
mentes brilhantes do mundo
estão a trabalhar para nos safar
deste evento que tem as suas
páginas garantidas nos livros de
História.
Eu já só queria dar um beijinho
à minha avó quando ela apanha o
elevador para ir dormir, abraçar
o meu irmão que está longe, ou
simplesmente ir jantar a casa dos
meus pais.
Músico
10 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Os “recuperados”
da covid-19
Margarida, Manuel e Vasco foram
infectados pelo SARS-Cov-2 numa altura
em que o vírus ainda parecia uma ameaça
longínqua. Hoje, integram a lista de
recuperados da Direcção-Geral da Saúde
Natália Faria
V
asco e a namorada cumpri-
ram o isolamento no mes-
mo quarto. O mecânico de
21 anos, residente na Maia,
está oÆcialmente recupera-
do, ela não. No Porto, a
bancária Margarida Sobral, de 48
anos, foi das primeiras a mergulhar
no inferno do conÆnamento domés-
tico, distanciando-se da Ælha de nove
anos à força de máscaras e de litros
de lixívia, numa altura em que o
cenário com que nos confrontamos
(escolas fechadas, milhares de pes-
soas em casa, deslocações controla-
das, eventos cancelados, moratórias
no pagamento das hipotecas e das
rendas…) parecia admissível, sim,
mas só em Ælmes. “Sentia-me uma
leprosa. Foi horrível”, recorda. Mais
de um mês volvido, quer ela quer o
marido, que Æcou internado por 16
dias no Hospital de São João, estão
oÆcialmente recuperados.
Não muito longe, no Marco de
Canaveses, Manuel Monteiro Moreira,
diabético de 65 anos, também viu os
últimos dois testes darem negativo
para o SARS-Cov-2, depois de dois
dias internado e de semanas conÆna-
do a uma parte reservada da casa.
Aguarda agora “luz verde” para voltar
a pegar nos netos ao colo. Estes são
os testemunhos de três sobreviventes
da covid-19, a doença provocada pelo
vírus que, após ter sido notiÆcado
pela primeira vez em Wuhan na Chi-
na, a 31 de Dezembro de 2019, soma
agora perto de 34 mil mortos e
mais de 720 mil infectados no mun-
do. Em Portugal, com 160 mortes e
RTP lança pacote de apoio
A RTP lançou um pacote de apoio
à produção independente
audiovisual que prevê, entre
outras medidas, pagamentos
antecipados, novas encomendas
e aquisições de conteúdos em
stock. O objectivo é que o pacote
tenha “impacto imediato” num
sector severamente paralisado.
DR
7443 casos conÆrmados, a lista de
recuperados, actualizada diariamen-
te pela Direcção-Geral da Saúde, esta-
cionou nas 43 pessoas, embora os
especialistas acreditem ser muitos
mais. Trata-se, como referiu ontem o
secretário de Estado da Saúde, Antó-
nio Lacerda Sales, de “uma doença
de convalescença lenta” e, por outro
lado, “a maior parte das pessoas são
tratadas em casa, o que pode originar
um hiato maior no reconhecimento
da recuperação que é aferida por dois
testes negativos em 24 horas”.
“Sentia-me uma leprosa.
Manuel
Foi horrível” Monteiro
Margarida Carmo Sobral, bancária de Moreira
48 anos, Æcou infectada juntamente (ao lado)
com o marido, no Ænal de Fevereiro, e Vasco Lopes
numa altura em que, para a maioria (em cima)
dos portugueses, o coronavírus pare- recuperaram,
cia uma ameaça distante. Enquanto mas a
o resto do país pautava o quotidiano covid-19
pelas rotinas de sempre, já este casal ainda
do Porto se tinha abstido de visitar os continua
pais, de frequentar o ginásio e de bem presente
cumprimentar colegas com toques e nas suas
beijos. “Mantivemos algum distancia- vidas:
mento mesmo antes de sabermos enquanto
que tínhamos a doença porque sabía- esperam pela
mos que alguma coisa não estava autorização,
bem. E hoje Æco contente por saber continuam em
que nem eu nem o meu marido con- isolamento
tagiamos outras pessoas”.
Margarida tem as datas bem grava-
das na sua cabeça. No dia 22 de Feve-
reiro, o marido tinha ido correr com
amigo italiano que chegara de Bérga-
mo. No dia 26, estranhou as dores
musculares que teimavam em não
desaparecer. Quando ligou para a
Linha SNS 24, porém, foi descartado

84
Já foram detidas 84 pessoas por
crime de desobediência,
designadamente por violação
do confinamento obrigatório
DR
da lista de casos suspeitos porque não
tinha nem tosse nem hemorragias
nem falta de ar. “Inicialmente, a linha
de saúde não estava preparada para
identiÆcar estes casos. E, efectiva-
mente, o meu marido só desenvolveu
essa sintomatologia tida como suspei-
ta na fase posterior da doença.” Quan-
do, no dia 4 de Março, foi referencia-
do para fazer um teste, o resultado foi
positivo e o internamento imediato.
“Ligaram-me do Hospital de São João
às quatro da manhã e fui levá-lo de
carro. Acabou por Æcar internado
durante 16 dias.”
Estava já o marido internado quan-
do, a 8 de Março, Margarida, que
entretanto deixara de trabalhar e
estava em casa a cuidar da Ælha de
nove anos, estranhou aquelas que
terão sido as primeiras dores de ouvi-
dos da sua vida. O teste feito no dia
seguinte mostraria que estava tam-
bém infectada. “O meu marido teve
dores musculares, que nunca tinha,
e eu senti dores de ouvidos, que tam-
bém não me lembro de sentir, ou
seja, sintomas que inicialmente não
Nenhum medicamento eficaz
O Infarmed diz que está a
acompanhar diversas empresas
no “desenvolvimento de cerca de
40 opções terapêuticas”, mas
nenhum medicamento provou
ainda eficácia no tratamento da
covid-19. Há ensaios com duas
vacinas. Mas o processo
demorará pelo menos um ano.
estavam associados a este vírus”,
sublinha Margarida, para aconselhar
assim quem receie estar infectado
que policie o seu próprio corpo e
“esteja atento a sintomas que não
lhes são normais”.
ConÆrmado o diagnóstico de
ambos, enquanto o marido lutava no
hospital contra uma infecção que tei-
mava em não regredir, Margarida
iniciou o seu inferno doméstico.
“Como os meus sintomas eram mais
leves e não podia deixar a minha Ælha
aos cuidados dos avós para não os pôr
em risco, fui tratada em casa. O que
me tranquilizava era saber que, se
precisasse, tinha os proÆssionais do
hospital sempre disponíveis. Foram
extraordinários. Telefonavam-me
todos os dias e, com isso, transmiti-
ram-me muita serenidade, o que foi
fundamental porque fomos dos pri-
meiros casos em Portugal e, na altura,
era tudo muito assustador.” Não fosse
isso, a bancária garante que lhe teria
sido muito mais difícil ocultar o medo
e a angústia que a atormentavam da
Ælha de nove anos. “Não podia haver
nem beijinhos nem abraços, na altura
em que ela mais precisava porque
tinha o pai internado no hospital. Foi
preciso uma imensa disciplina para
não me aproximar muito dela e não
me descuidar com a máscara. Diaria-
mente, a minha casa de banho e a dela
eram desinfectadas com lixívia. Sen-
tia-me uma leprosa, foi horrível.”
Apesar de quer ela quer o marido
estarem oÆcialmente recuperados —
os últimos testes de Margarida, feitos
nos dias 23 e 25 de Março deram
ambos negativos —, a quarentena e a
interdição dos abraços deverá man-
ter-se por mais alguns dias. “O pior já
passou, embora nada nos garanta que
tenhamos Æcado imunes”, explica.
“Parecia um prisioneiro
de guerra”
Quando esta pandemia recuar,
Manuel Monteiro Moreira, um mecâ-
nico reformado de 65 anos, a residir
no Marco de Canaveses, vai voltar a
pegar no neto João ao colo e pô-lo,
como costumava, em frente ao volan-
te do carro para o “ensinar a condu-
zir”. “É das coisas que mais me custa:
não poder tocar-lhes e estar com
eles.” Por estes dias, e apesar de os
últimos dois testes laboratoriais que
fez terem dado negativo, o sexagená-
rio continua conÆnado numa parte
da casa e a mulher noutra, sem pode-
rem partilhar as refeições com a Ælha,
os netos e o genro que com eles vivem.
“Estou à espera que o delegado de
saúde me ligue”, conta. E, enquanto
esse telefonema não chegar, o contac-
to familiar vai continuar a fazer-se à
distância, no jardim, nomeadamente
nos momentos em que Manuel sai
para “cortar a erva” e vê os netos ao
longe, a brincar e a andar de bicicleta,
ou via telefone. “A minha Ælha é infec-
ciologista e não me deixa tocar em
nada”, diz, em jeito de brincadeira,
agora que já passou aquele que foi um
dos maiores sustos da sua vida.
“Eu febre nunca tive, tossia volta e
meia e espirrava muito. Um dia acor-
do de noite na cama com uma dor no
peito e um bocadinho de falta de ar.
Foi rápido mas assustou-me. Como a
minha Ælha é médica e tinha tido con-
tacto com infectados fomos, eu a
minha mulher num carro e ela nou-
tro, fazer o teste ao Hospital de São
João, no Porto”. Quando, no dia
seguinte, a Ælha lhe comunica que o
seu teste tinha dado positivo, Manuel
Moreira, que além de estatisticamen-
te idoso é diabético, julgou que mor-
ria. “Acreditei que ia para o hospital e
já não voltava. Até me despedi da
minha mulher e disse aos meus Ælhos
que cuidassem dela”, recorda, para
sublinhar que o cenário com se depa-
rou no hospital não o tranquilizou.
“Os médicos e enfermeiros entravam
no quarto e pareciam extraterrestres.
Eles têm um cuidado extremo com os
infectados. Comecei a achar que o
que tinha era de facto muito perigoso
e, quando tive de sair do quarto para
ir fazer uma TAC, tive de ir no corre-
dor sem tocar em nada e escoltado
com dois homens à frente e dois trás:
parecia um prisioneiro de guerra.”
Manuel Monteiro Moreira garante
que em termos físicos não sentiu
“praticamente nada”. Esteve ainda
assim internado dois dias, saindo
com a recomendação de Æcar conÆ#
nado a uma zona da casa. “Antes de
me darem alta, Æzeram um exame
que deu negativo e, já em casa, vie-
ram fazer-me outro teste que tam-
bém deu negativo.” A quarentena
manteve-se ainda assim até hoje, o
que o leva a aÆrmar que, mais do que
os sintomas da doença, o que lhe dói
no corpo é o isolamento. “Àquilo que
vejo, e ouço os médicos dizer, eu fui
um caso raro de recuperação rápida,
embora seja verdade que eu podia
estar infectado há muito mais tempo
porque a tosse já vinha de há algum
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 11
Farmácias com linha de apoio
As autoridades de saúde alertam:
os doentes crónicos devem ter
meios para receber a medicação
em casa, para não incorrerem em
riscos acrescidos de contrair
covid-19. Ontem, a Associação
Nacional de Farmácias informou
que já está em funcionamento
uma linha telefónica gratuita,
tempo atrás”, sublinha, dizendo-se
satisfeito por a mulher, que está des-
de a mesma altura fechada num
quarto, no andar de cima da casa,
em isolamento proÆláctico, não ter
sido infectada. Principal efeito secun-
dário da doença? “Já não me preocu-
po tanto. Costumava preocupar-me
muito com as coisas da oÆcina [mecâ-
nica], queria fazer tudo ao mesmo
tempo, o que deixava as pessoas irri-
tadas, e isto fez-me parar para pensar
no que realmente importa”
“Não tinha dores nem estava
em sofrimento”
Nem assustado nem particularmente
doente. Quando, no início de Março,
Vasco Lopes começou a sentir-se
constipado, os ecos da covid-19 ainda
soavam longe, pelo que o mecânico
de motociclos, de 21 anos e residente
no concelho da Maia, fez o que faria
numa situação normal: “Tinha algu-
mas dores de garganta, Æquei sem
paladar e sem olfacto. Na clínica exa-
minaram-me e, como não viram nada
de problemático, mandaram-me para
casa com a indicação de que devia
tomar ben-u-ron, se tivesse febre.”
Não lhe colocaram máscara nem
os proÆssionais de saúde que o exa-
minaram a tinham. No dia seguinte,
porém, soube que uma colega de tur-
ma da namorada, na Escola Secun-
dária da Maia, tinha sido infectada
O pior já passou,
embora nada
nos garanta que
tenhamos ficado
imunes
Margarida Carmo Sobral
Bancária, 48 anos
pelo SARS-Cov-2. “Nesse mesmo dia,
eu e a minha namorada fomos con-
tactados por uma enfermeira que me
mandou ir fazer o teste ao Hospital
de São João. Fomos no dia seguinte
— creio que no dia 7 de Março — e já
lá estava montada a tenda. Um dia
depois, recebemos por telefone a
notícia de que estávamos infectados.
através do número 1400, que
pode agilizar esse processo, uma
vez que, refere, “há diversas
modalidades de entregas ao
domicílio garantidas em todo o
país” e elas podem ser
conhecidas através desta linha,
“que funciona no continente e nos
arquipélagos dos Açores e da
Madeira”.
Fiquei um pouco assustado, mas até
mais pelo receio de, sem querer, ter
contaminado outros.”
Enquanto Vasco e a namorada se
preparavam para cumprir quarente-
na fechados no mesmo quarto, a clí-
nica por onde o mecânico passara
fechou as portas, por se ter percebido
que, além de Vasco, mais infectados
tinham passado por lá. E, enquanto
os números dos doentes iam escalan-
do um pouco por todo o país, o casal
entreteve-se com ajuda de séries, tele-
visão e jogos de computador. No seu
caso, Vasco Lopes mal precisou de
recorrer ao paracetamol. “Não tinha
dores nem estava em sofrimento. Os
meus pais é que estavam preocupa-
dos por causa dos meus precedentes
de problemas pulmonares.”
Ao Æm de pouco mais de uma
semana, Vasco e a namorada recebe-
ram em casa a visita de duas enfer-
meiras para serem novamente testa-
dos. “Aconselharam-nos a continuar-
mos isolados e, para garantirem que
o resultado era Æável, voltaram a
fazer-nos novos testes passados dois
ou três dias. No segundo teste, o meu
voltou a dar negativo”. A alegria que
sentiu Æcou, porém, contaminada
pela notícia de que, no caso da namo-
rada, os testes deram positivo. “Foi
aí que tivemos de nos separar, por
conselho médico. A minha preocu-
pação agora é a minha namorada que
está à espera de poder ser observada
porque entretanto Æcou com diarreia
e cuspiu um pouco de sangue.”
Não fosse a preocupação com o
estado de saúde da namorada e o
conÆnamento a que foi forçado, a
covid-19 teria passado pela vida de
Vasco como mais uma constipação.
“Há coisas piores do que Æcar fecha-
do num quarto, não creio que daí,
além da memória que vai Æcar, possa
Æcar nenhum trauma”, relativiza. De
resto, vai manter-se por casa, até por-
que a oÆcina em que trabalha fechou.
“Os fornecedores estão todos fecha-
dos e não se conseguem arranjar as
peças que são precisas”. Dizendo-se
convencido que a vida voltará a ser
o que era, Vasco anseia por poder
retomar as rotinas que, até então,
não valorizava por lhe parecerem
dado adquirido: “Ir à praia, sair para
tomar um café, comer fora. As coisas
normais a que não se dava muito
valor e a que só poderemos voltar
quando houver uma vacina.”
nfaria@publico.pt
12 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Estado de emergência deve prever
recolher obrigatório?
Leonete Botelho
Constitucionalistas apoiam
apertar da malha, com
quarentenas obrigatórias
e mais limites à liberdade
de circulação
O
Presidente da República pre-
para-se para aprovar, entre
hoje e amanhã, o decreto de
renovação do estado de
emergência, depois de ouvir
o Conselho de Estado (esta
tarde) e receber o parecer do Gover-
no, ao qual cabe deÆnir as medidas
concretas para conter a pandemia de
covid-19. Mas nem Marcelo Rebelo de
Sousa nem António Costa quiseram,
até agora, revelar se os termos daque-
la renovação podem ser alterados.
Dois constitucionalistas ouvidos
pelo PÚBLICO, Jorge Bacelar Gouveia
e Paulo Otero, defendem que, nesta
fase, o decreto presidencial deve
apertar a malha, com quarentenas
obrigatórias, mais limites à liberdade
de circulação e reforço do crime de
desobediência, pelo menos.
Paulo Otero é o mais ousado: “É
preciso reforçar a limitação à liber-
dade de circulação das pessoas,
porque tem havido muitas situações
de desobediência, sobretudo dos
mais novos e dos mais velhos.”
Sugere que se avance, por exemplo,
para o “recolher obrigatório, excep-
to para quem garante serviços
essenciais da comunidade”.
Bacelar Gouveia prefere pôr a
tónica no reforço do crime de deso-
bediência. “As polícias andam a
fazer detenções de pessoas que cir-
culam sem motivo atendível, mas,
uma vez presentes a tribunal, o
entendimento é diferente e não é
considerado crime”, diz, lembrando
que actualmente só existe o dever
de conÆnamento no caso de pessoas
infectadas ou em quarentena.
Por isso, acrescenta, “seria impor-
tante haver um reforço e clariÆca-
ção da norma relativa ao desenho
A maior parte dos cidadãos está recolhida, embora ainda haja quem circule sem motivo atendível
do crime de desobediência”. Paulo
Otero concorda que seria necessá-
rio haver “uma maior incidência do
crime de desobediência”.
De acordo estão também os dois
constitucionalistas na necessidade
de prever melhor o enquadramento
das quarentenas obrigatórias. “O
decreto devia especiÆcar a possibi-
lidade de medidas mais drásticas de
conÆnamento em regiões com maior
incidência da doença para não haver
o perigo de pessoas dessas regiões
se deslocarem e infectarem outras”,
defende Bacelar Gouveia.
Paulo Otero advoga, por outro
lado, quarentenas obrigatórias para
todas as pessoas que entrem em
território nacional, sejam portugue-
sas ou estrangeiras. “Considero que
foi infeliz a recomendação da pro-
vedora relativamente às quarente-
nas regionais”, disse, referindo-se
às críticas que Maria Lúcia Amaral
fez às quarentenas decretadas no
Algarve e no Nordeste transmonta-
no, por não estarem enquadradas
numa decisão nacional. “Penso que
o interesse público justiÆca clara-
mente as quarentenas obrigatórias
de quem vem de fora”, frisa.
Mais poderes aos militares?
Neste ponto é que os dois constitu-
cionalistas divergem totalmente.
Paulo Otero quer ver as Forças
Armadas na rua, ao lado dos polí-
cias, no controlo de estradas, pontes
e outros pontos essenciais. “É pre-
ciso chamar os militares a desempe-
nhar funções de protecção civil”,
diz, sustentando essa necessidade
com “o risco de aumento de tensão
social devido aos efeitos do conÆna-
mento” e com a “possibilidade de
vir a haver racionamento de bens”.
Bacelar Gouveia discorda totalmen-
te: “Essa é a grande diferença entre o
estado de sítio e o estado de emergên-
cia: no primeiro, as Forças Armadas
substituem as autoridades civis,
enquanto no estado de emergência o
poder mantém-se nas instituições
civis.” “As Forças Armadas podem
NELSON GARRIDO
‘coadjuvar’, é o que está na lei e o que
hoje estão a fazer: ajudar nas acções
logísticas, na instalação de hospitais
de campanha, no transporte de pes-
soas ou de equipamento, mas nunca
interferindo na relação directa com
os cidadãos”, sustenta.
Para este perito em Direito da Segu-
rança, com uma tese de doutoramen-
to sobre os estados de excepção cons-
titucionais, “é um risco enorme
mudar o padrão para a militarização
sem mudar a natureza do estado de
emergência para o estado de sítio”.
Paulo Otero discorda da necessida-
de dessa condição: “O estado de
emergência já prevê a colaboração
das Forças Armadas; onde hoje está
a polícia amanhã podem estar os mili-
tares, se for preciso. Basta reforçar o
próprio estado de emergência.”
Marcelo Rebelo de Sousa aÆrmou
anteontem que era preciso “calibrar
as medidas”, sugerindo que o estado
de excepção pode estar para durar.
lbotelho@publico.pt
“Manter medidas
de contenção”
O
Presidente da República
não tem dúvidas: “No
futuro imediato, impõe-se
manter as medidas de
contenção [em Portugal].”
Foram elas que permitiram, até
agora, reduzir o aumento diário
do número de novos casos de
covid-19 desde que a
pandemia começou no país.
“Importa manter a pressão
na mola”, essa é “uma
prioridade para o nosso futuro
colectivo imediato”, frisou
ontem Marcelo Rebelo de
Sousa, depois de ouvir os
peritos na sessão sobre a
situação epidemiológica em
que participaram as mais altas
figuras do Estado. Nesse
sentido, acrescentou, foi
“unânime” a opinião dos
especialistas de que as
medidas de contenção devem
ser mantidas nesta fase. “Este
passo dá um fundamento
científico reforçado” para a
decisão de renovação do
estado de emergência,
sublinhou, uma decisão que o
Presidente irá tomar hoje,
depois de receber o parecer do
Governo.
Questionado sobre se a
renovação do estado de
emergência poderá prever
novas medidas, como a
exigência de documentos para
justificar a circulação de
pessoas, Marcelo considerou
ser “prematuro” falar do
conteúdo específico do
decreto, mas lembrou que
todas as medidas em concreto
são definidas pelo Governo.
“O decreto do estado de
emergência apenas define um
quadro dentro do qual o
Governo tem os mais amplos
poderes” de decisão sobre as
medidas a tomar, acrescentou
o Presidente da República.
O Presidente recordou
também que o Governo vai
decidir no dia 9 de Abril se as
escolas vão reabrir para o
terceiro período ou se vão
permanecer fechadas.

Prolongar o estado
de excepção? O que dizem
PSD, BE, CDS e PAN
Marta Moitinho Oliveira
M
arcelo e Costa assistiram
ontem a um novo briefing
sobre a “situação epide-
miológica da covid-19 em
Portugal”. Tem sido com
base nas informações dos
especialistas em saúde que o Presi-
dente da República e o primeiro-mi-
nistro tomam decisões sobre o isola-
mento social e as medidas necessárias
para tentar conter a propagação do
novo coronavírus.
Nesta reunião, que foi a segunda do
género, estando já marcada uma ter-
ceira para 7 de Abril, na qual serão
apresentados dados relevantes sobre
a continuidade do fecho das escolas,
estiveram também presentes os líde-
res dos partidos políticos. Aqui Æca
uma síntese das declarações recolhi-
das pela Lusa feitas pelos dirigentes
partidários que falaram à saída da
reunião aos jornalistas.
O que disse o PSD
O partido mostrou-se disponível
para apoiar um eventual pedido de
renovação do estado e emergência
e reiterou o “espírito de colaboração
com o Governo” para analisar “todas
as medidas necessárias” para com-
bater a pandemia. O deputado
social-democrata Ricardo Baptista
Leite, que esteve presente na reu-
nião (Rui Rio assistiu por videocon-
ferência), aÆrmou que, “natural-
mente, não será pelo PSD que não
será prorrogado” o estado de emer-
gência, se tal for proposto. Remeteu
para o Governo a decisão sobre se
as medidas de restrição devem ser
alteradas, mas manifestou colabo-
ração — até no que respeita ao deba-
te quanto a “um planeamento sobre
como será feita a libertação da qua-
rentena a nível nacional”.
O que disse o BE
Mais estado de emergência, mais
medidas de apoio social. O Bloco de
Esquerda está disponível para apoiar
um eventual prolongamento do esta-
do de emergência, mas alerta que,
nesse caso, as medidas de apoio social
precisam de ser reforçadas. “É preci-
so aprofundar os apoios sociais”,
dado que, se as famílias estiverem
“mais tempo sem os rendimentos”,
o “problema social [será] mais pro-
fundo”, aÆrmou Catarina Martins aos
jornalistas. A líder bloquista aÆrmou
que as medidas de distanciamento
físico para conter o contágio “pare-
cem estar a resultar”.
O que disse o CDS
O líder dos centristas defendeu a
necessidade de uma “testagem maci-
ça” e considerou importante que o
boletim epidemiológico da Direcção-
-Geral de Saúde seja “credível” e
“rigoroso”. Francisco Rodrigues dos
Santos diz ser necessário dar uma
“maior publicidade e visibilidade a
um indicador fundamental que se
prende com o número de testes”.
Quanto ao boletim da DGS, o presi-
dente do CDS argumentou que é
necessário evitar duplicações nas
contagens. Rodrigues dos Santos lem-
brou ainda algumas medidas de apoio
à economia que o partido tem apre-
sentado, como o acesso ao layoè alar-
gado para todos os sócios gerentes. O
presidente do CDS disse ainda que
não se pode “abrandar” as medidas
de contingência tomadas ao nível do
estado de emergência.
O que disse o PAN
O PAN “renovará o seu voto favorá-
vel” num eventual prolongamento
do estado de emergência que venha
a ser decidido esta semana pelo Pre-
sidente da República. O líder do
partido disse que Æcou patente na
reunião de ontem que “têm sido
importante as restrições ao nível
das deslocações e do contacto entre
as pessoas”. André Silva mostrou-se
preocupado com a necessidade de
existirem mais medidas para os gru-
pos mais vulneráveis.
marta.oliveira@publico.pt
15 dias
O estado de emergência não se
pode prolongar por mais de 15
dias, sem prejuízo de renovação
por igual período, se necessário
Questões para a renovação
do estado de emergência
Opinião
Jorge Bacelar Gouveia
1.
Um bom começo
Estamos a chegar ao Æm
do primeiro período de
declaração do estado de
emergência, que tudo leva
a crer seja renovado.
Não têm sido poucas as dúvidas
da construção desta ordem jurídica
de exceção e os poderes públicos
estão de parabéns pela competência
e rapidez com que tomaram as
decisões que se impunham.
Esta avaliação positiva não me
impede, porém, de alertar para
questões que suscitam perplexidades
ou que são erros que carecem de
ponderação ou de correção.
E faço-o sem paternalismos ou
academismos e muito menos sem
qualquer objetivo
político-partidário, o que seria neste
momento de mau gosto.
2. Propriedade privada
e indemnizações cíveis
A questão que por certo tem o
maior impacto respeita à
intervenção do Estado na atividade
económica, sendo o direito de
propriedade privada um dos
direitos parcialmente suspensos.
É verdade que há uma redução
substancial da atividade empresarial
e comercial por força da limitação
da circulação das pessoas. A
propriedade privada, todavia, não
deixou de existir e cabe ao Estado
garantir, por indemnizações justas,
a compensação dos prejuízos que a
aplicação da ordem de exceção
venha a determinar.
Este é bem um exemplo em que a
ocorrência de danos lícitos —
porque cobertos pela declaração do
estado de emergência — merecem
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 13
proteção constitucional por
aplicação do princípio da
responsabilidade civil do art. 22.º da
CRP, que não se encontra suspenso,
nem nunca o poderia ser. O mesmo
se diga do direito de resistência.
3. Atividade dos tribunais
e agentes da Justiça
Outro domínio que tem suscitado
hesitações é o que se passa com o
setor da Justiça. Foram várias e
atabalhoadas as medidas
aprovadas, aliás, fora da ordem de
exceção que vivemos.
Duvida-se que as mesmas se
encontrem legitimadas nesse
quadro de emergência, sobretudo
porque já se percebeu que a
atividade judicial — em grande
medida informatizada — pode
continuar num patamar próximo do
da normalidade.
As peças processuais podem ser
entregues, as sessões de julgamento
podem ser virtuais e as testemunhas
ouvidas e vistas por videoconferência,
os juízes podem, nas suas casas,
serenamente prolatar sentenças.
Só não terão lugar os atos
probatórios que exigem uma
presença física, ou os atos coercivos
no âmbito dos processos executivos.
Daí o exagero de tudo aquilo que
se legislou, dizendo-se que a Justiça
entrou em “regime de férias”...
A confusão é tanta que se chegou
ao cúmulo de se insinuar o fecho
dos escritórios dos advogados, que
se saiba são locais de trabalho não
abertos ao público.
E também há atos que têm de ser
praticados presencialmente sem
aglomeração de pessoas: esclarecer
dúvidas dos clientes, consultar
documentação, organizar processos
e documentos.
4. Liberdade de culto e
proibição de celebrações
Dimensão delicada em que o
estado de emergência
inopinadamente interveio foi a da
limitação da liberdade religiosa
através da proibição das
celebrações com aglomeração de
pessoas.
A diÆculdade é acrescida porque
este é um dos poucos direitos que
nunca podem ser suspensos em
estado de exceção, ainda que se
admita uma curiosa colisão entre
dois direitos insuspensíveis, e um
deles tendo de ceder: a colisão do
direito à vida (e, antes, o direito à
saúde) com o direito à prática
religiosa coletiva.
Ainda assim, não deixa de ser
bizarro que a formulação utilizada
seja muito mais adstringente da que
se escreveu para outras situações em
que a atividade se mantém com uma
reduzida pluralidade de pessoas.
Admite-se que os supermercados
possam funcionar, desde que
cumpridas as distâncias sociais e os
procedimentos de higiene. Mas já se
proíbem as celebrações religiosas
com aglomeração de pessoas, com
exceção dos funerais, mesmo
dentro dos próprios templos
religiosos privados e não abertos ao
público, segundo a letra da norma.
Então aqui já não há a regra da
distância social como medida
proporcionada para permitir a
manutenção da prática religiosa?
Qual a razão para o critério ter sido
o da sua simples proibição nas
igrejas, ao contrário do que sucede
com os supermercados, que
continuam abertos?
Até porque se sabe que as igrejas
não andam propriamente a
abarrotar de gente e têm muito
menos “Æéis” do que os
supermercados e os centros
comerciais...
Com o devido respeito, que é
muito, não esteve bem a hierarquia
católica, que foi mais drástica do
que o poder político, tomando e até
antecipando uma proibição que
nem o próprio Estado teve a ousadia
de aplicar com tanta severidade.
Catedrático de Direito
e advogado
14 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020

DESTAQUE
CORONAVÍRUS
França com 499 mortes em 24h
A França acrescentou ontem 499
mortes ao seu número total de
3523. Foi a maior subida desde o
início da pandemia. Os números
correspondem a vítimas que
morreram em hospitais. No país
havia ontem 52.128 pessoas
infectadas (mais 7578 do que na
véspera).

PALOP: Moçambique,
Escapar à doença para morrer o último a decretar
emergência
à fome em África
O
s países africanos de
língua oficial portuguesa
(PALOP) registam números
ainda números baixos de
infectados com coronavírus e
Sobreviver para muita gente no continente africano é uma questão diária. Mesmo São Tomé e Príncipe é um dos
assim, os governos estão a recorrer ao isolamento social para travar a pandemia seis países de África sem casos
registados. Porém, esta última
A fome foi o argumento usado pelo ter começado no sábado, tenha sido 48 países (o último a entrar para a semana mostra que a curva
António Rodrigues Presidente do Benim para justiÆcar a adiado sine die. Com o preço dos ali- lista, ontem, foi a Serra Leoa), 28 iniciou a fase ascendente que
decisão de não ordenar o isolamento mentos a duplicar, e mesmo tendo deles com transmissão local. se temia, justificando a decisão

A
população do Zimbabwe
vive nas Ælas. Numa econo-
mia depauperada em crise
prolongada, os cidadãos
fazem Æla para conseguir
dinheiro no banco, para
pôr combustível nos automóveis, à
porta dos supermercados que rece-
beram farinha de milho, parte essen-
cial da parca dieta diária das famílias.
Como se mantém “distância social”
num país onde as regras da sobrevi-
vência ditam o contrário?
Mesmo assim, na segunda-feira o
Governo de Emmerson Mnangagwa
ordenou o isolamento das pessoas em
casa por um período de 21 dias. O país
tem registados oito casos de infecção
por coronavírus, que resultaram num
morto, mas, com um serviço de saúde
incapaz de responder às necessidades
mais básicas, será impossível lidar
com um aumento de doentes de
covid-19. Como escrevia o jornal sul-
africano Mail & Guardian, “é difícil
pensar noutro país, fora de uma zona
de guerra, mais mal preparado para
uma pandemia desta dimensão”.
“Apesar de os nossos números se
manterem baixos, existe a possibili-
dade de uma maior propagação e
contágios comunitários. Além disso,
em dois meses, virá o Inverno, crian-
do condições ideais para mais infec-
ções. É preciso tomar medidas neces-
sárias contra a pandemia agora”,
aÆrmou Mnangagwa.
Sam Wadzai, da associação de ven-
dedores, reconheceu, em declarações
à emissora Voz da América, a neces-
sidade de isolamento, salientando, no
entanto, que o Governo tem de criar
mecanismos para as “pessoas sobre-
viverem nesse período” e terá de o
fazer “o mais depressa possível para
as pessoas não morrerem à fome”.
social. Reconhecendo que “a situação
é realmente grave e o risco grande”,
Patrice Talon perguntou: “Quantas
pessoas no Benim têm um salário
para poder aguentar duas, três ou
quatro semanas sem trabalhar?”
Medidas de isolamento geral seriam
contraprodutivas, disse Talon, por-
que iriam “matar à fome toda a gente
e durante muito tempo”. Isso não
quer dizer que o país, com seis casos
(um deles curado), não tenha adop-
tado medidas, isolando 12 comunida-
des até 12 de Abril, criando cercas
sanitárias nas áreas mais atingidas.
Mas, é como se diz em Kinshasa,
obimi te okolia te (quem não sai não
come), daí que o isolamento total
intermitente (levantado de tempos a
tempos para a compra de comida)
decretado pelo Presidente, Félix Tshi-
sekedi, para a capital da República
Democrática do Congo, que deveria
Polícia antimotim controla o estado de emergência no Zimbabwe
anunciado dois meses de água e luz
grátis, as autoridades não quiseram
arriscar.
A RD Congo conta apenas com 83
casos, mais de metade só nesta sema-
na mas alta taxa de letalidade: oito
mortos, seis nos últimos sete dias. Os
números são do Centro de Controlo
de Doenças da União Africana, que
divulgou ontem o relatório semanal
da pandemia. Em África registaram-
-se até agora 5287 casos de covid-19
— com 172 mortos e 383 curados —, em
As zonas mais
afectadas
continuam a ser
o Norte de África
e a África do Sul
AARON UFUMELI/EPA
Somente seis países continuam
ainda sem qualquer caso conÆrmado:
Burundi, Comores, Lesotho, Malawi,
São Tomé e Príncipe e Sudão do Sul.
Também não há nenhum caso conÆr-
mado no Sara Ocidental, território
ocupado por Marrocos. As zonas do
continente mais afectadas continuam
a ser o Norte de África e a África do
Sul, embora a maior percentagem de
mortes (69%) se concentre de Marro-
cos ao Egipto, os sul-africanos tem o
maior número de infectados num só
país: 1326 (dois mortos).
Esta contabilização ainda é relati-
vamente baixa, face a outros conti-
nentes, mas o receio é muito, porque
as autoridades sanitárias já alertaram
que o pior está por chegar. Daí as
medidas drásticas tomadas em mui-
tos países e aplicadas até com recurso
a medidas mais extremas de violência
— com relatos de mortes no Uganda,
no Ruanda (o Governo nega que as
mortes estejam relacionadas com a
covid-19), uso excessivo de força na
África do Sul, no Quénia.
Uma crise sanitária em África é
sempre uma crise de governança,
pois as epidemias mostram o estado
frágil das infra-estruturas de Saúde e
o desespero e a raiva viram-se contra
as elites políticas. Os protestos podem
redundar em violência, repressão e
chegar a derrubar governos.
Mão dura para impor medidas
drásticas é também uma arma de
sobrevivência política para os meses
difíceis que se aproximam, com o
impacto social e económico da pan-
demia. O think tank Overseas Develop
Institute calculou 100 mil milhões de
receitas perdidas este ano só na África
subsariana.
antonio.rodrigues@publico.pt
do Governo moçambicano de
decretar o estado de
emergência a partir das 00h00
de hoje, o último dos PALOP a
fazê-lo.
Os são-tomenses já vivem
em estado de emergência
desde o dia 20 de Março e a
Guiné-Bissau desde dia 27,
decretado logo a seguir à
confirmação dos dois
primeiros casos. Também
Cabo Verde, onde já morreu
uma pessoa entre os seis casos
registados, segundo os dados
divulgados ontem pelo Centro
de Controlo de Doenças da
União Africana, se decidiu por
pôr o país em estado de
emergência à meia-noite de
domingo.
Angola, onde já morreram
duas pessoas, está igualmente
em estado de emergência e é
mesmo considerado um dos
países mais vulneráveis à
pandemia pela agência de
notação financeira Moody’s.
Com enormes encargos com a
dívida pública, sem
investimento e com o preço do
barril do petróleo em queda
abrupta, adivinham-se meses
difíceis para os angolanos.
O preço do barril do petróleo
angolano caiu tanto (estava a
ser comercializado ao final da
tarde de ontem a 21,26 dólares)
que o Governo de João
Lourenço se viu obrigado a
iniciar, na semana passada, o
processo de revisão do
Orçamento do Estado,
elaborado com o preço de
referência de 55 dólares. A.R.

Itália com mais 837 mortos
A Itália teve ontem mais um
boletim de saúde doloroso. Foram
declarados 2107 novos casos (na
véspera tinham sido 1648), e mais
mortos: 837 (812 na véspera),
12.418 ao todo. O país tem agora
77.635 casos positivos — um total
de mais de 105 mil infectados
desde o início da pandemia.
A experiência
arriscada da Suécia
Maria João Guimarães
Escolas, restaurantes e
bares estão abertos. Um dos
argumentos é que os suecos
já fazem, por norma, distan-
ciamento físico e social
N
uma Europa onde a maioria
dos países decidiu impor
grandes restrições na vida
diária, há um que se destaca
pela abordagem menos dra-
coniana: a Suécia. Os bares e
restaurantes continuam abertos — só
não há pessoas sentadas ao balcão.
As escolas também estão a funcionar.
O limite para ajuntamentos em públi-
co é de 50 pessoas — um enorme con-
traste com, por exemplo, a Alema-
nha, que decidiu banir encontros
entre mais de duas pessoas, depois
de tentar em vão apelar ao bom senso
e responsabilidade social e ter ainda
assim esplanadas e parques cheios.
A Islândia seguiu a mesma estraté-
gia de manter abertas escolas, mas
este país assentou a estratégia de con-
trolo do coronavírus em testar o
máximo de pessoas. Na Suécia só são
testados os que têm sintomas tão for-
tes que procuram tratamento hospi-
talar, ou residentes em lares de idosos
que apresentem sintomas, diz a revis-
ta Foreign Policy — o que explica que
o número de casos detectados se
mantenha relativamente baixo.
Na Suécia, registaram-se 4028
casos de infecção e 180 mortes por
covid-19. Comparando com a vizinha
Noruega, usando os dados da Univer-
sidade Johns Hopkins (EUA), o núme-
ro de casos até nem é muito diferente
(4435 infectados) mas o número de
mortes sim (apenas 35 na Noruega).
A abordagem sueca tem várias expli-
cações e foi deÆnida pela autoridade
de Saúde, que toma as decisões sem
interferência política, como dita a
Constituição, uma especiÆcidade do
país. No país há muitas pessoas a viver
sozinhas e há menos contacto entre
gerações do que em países como Itá-
Números a subir no Reino Unido
Ontem foi o dia em que o número
de mortos devido ao coronavírus
mais subiu no Reino Unido: em
24h foram registadas 381 mortes,
um aumento de 27% de um dia
para o outro, num total de 1789
pessoas falecidas no país em
hospitais (as contabilizadas)
desde o início da crise sanitária.
Para alguns especialistas, o Governo sueco está a arriscar demasiado
lia ou Espanha: mais de metade dos
lares suecos são compostos por ape-
nas uma pessoa, a maior proporção
da Europa, segundo dados do Euros-
tat citados pela BBC.
Facilidade no teletrabalho
Há ainda muitos trabalhadores com
Çexibilidade tanto no horário como
no local em que trabalham (dois ter-
ços trabalham em casa pelo menos
uma parte do tempo, segundo a Fun-
dação de Internet da Suécia). E as
empresas desencorajam sempre os
que não se sentem a 100% de ir traba-
lhar, para evitar que, caso estejam
doentes, contagiem os outros.
Os suecos também estão habitua-
dos a distância física nos espaços
públicos, e a seguir as instruções das
autoridades. O apelo feito pelo pri-
meiro-ministro para que não se reali-
zassem visitas a familiares idosos e
para que as pessoas trabalhassem em
casa foi logo cumprido (pelas pessoas
e empresas). As pessoas têm deixado
de ir a cinemas, por exemplo, e de
andar em transportes públicos.
O principal responsável pela políti-
ca de Saúde do país, o epidemiologis-
ta Anders Tegnell, explicou ao britâ-
nico The Observer as razões de algu-
mas decisões: as escolas mantêm-se
abertas, explicou, porque fechá-las
Casos confirmados
no mundo
Valores às 20h00
de 31 de Março
174.115
Recuperados
Fonte: Universidade de Johns Hopkins
JANERIK HENRIKSSON/
deixaria pelo menos um quarto de
médicos e enfermeiros a ter de Æcar
em casa com os Ælhos, e aumentaria
ainda em geral o risco de as crianças
serem deixadas com os avós. Tegnell
diz ainda que não há, a seu ver, provas
de que as abordagens de outros países
tenham resultados diferentes a médio
prazo. “Não Æcaria muito surpreen-
dido se acabássemos por Æcar mais
ou menos na mesma situação, inde-
pendentemente do que estamos a
fazer”, declarou ao Observer. “Não
tenho tanta certeza de que o que esta-
mos a fazer afecte assim tanto a disse-
minação. Mas vamos ver.”
Nem todos os peritos de Saúde sue-
cos concordam com esta abordagem.
Numa carta aberta, dois mil cientistas
pediram à autoridade de Saúde que
imponha medidas mais estritas.
“Quantas mais vidas estão dispostos
a sacriÆcar só para não termos isola-
mento e arriscar efeitos na econo-
mia?”, perguntou Joacim Rocklöv,
professor de Epidemiologia da Uni-
versidade Umea. Ao Financial Times,
Rocklöv diz que o que está a ser feito
no país “é uma enorme experiência”.
“Não fazemos ideia. Pode resultar”,
admitiu. “Mas também pode ir com-
pletamente na direcção errada.”
mguimaraes@publico.pt
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 15
623.238
Casos ainda
activos
838.061
Total de casos 40.708
confirmados Mortes
Comissão vai investigar
decisão da Hungria que dá
plenos poderes a Viktor Orbán
Rita Siza, Bruxelas
A
s medidas de emergência
desenhadas pelos vários
Estados-membros da União
Europeia em resposta à cri-
se do novo coronavírus
devem ser “proporcionais”
e limitar-se “ao que é estritamente
necessário” para combater a pande-
mia, avisou a presidente da Comissão
Europeia, Ursula von der Leyen, que
assinou ontem um comunicado a
lembrar que na Europa “os valores da
liberdade, democracia, Estado de
direito e respeito pelos direitos huma-
nos” nunca se extinguem — nem mes-
mo em “tempos extraordinários”
como os que se vivem actualmente.
Sem mencionar a Hungria, onde a
maioria parlamentar do partido
Fidesz, do primeiro-ministro, Viktor
Orbán, aprovou uma lei que prolonga
indeÆnidamente o estado de emer-
gência e concede poderes plenipoten-
ciários ao Governo, a líder do execu-
tivo comunitário diz que nenhuma
medida nacional pode pôr em causa
“os princípios fundamentais e os valo-
res inscritos nos tratados”, nem pro-
longar-se por um prazo indetermina-
do sem um “escrutínio regular”.
Por cruzar todas estas linhas ver-
Ursula von der Leyen
“É como licitar no ebay”
O governador de Nova Iorque,
Andrew Cuomo, disse que todos
os 50 estados que formam os
EUA, mais a Agência Federal de
Gestão de Emergências, estão a
competir para comprar os
ventiladores no mercado. “É
como licitar no ebay.” E criticou a
falta de uma estratégia nacional.
melhas, o caso húngaro será objecto
de avaliação na reunião semanal do
colégio de comissários de hoje, con-
Ærmou o porta-voz da Comissão Euro-
peia, sublinhando que os serviços da
Comissão vão também “monitorizar
todos os desenvolvimentos na aplica-
ção do diploma pelo Governo”.
Bruxelas faz uma distinção entre as
medidas extraordinárias que garan-
tem que “os governos dispõem dos
instrumentos necessários para agir de
forma rápida e eÆcaz na protecção da
saúde pública e dos cidadãos”, e
acções que, a coberto da crise, põem
em causa os mecanismos democráti-
cos e os direitos humanos.
Com a aprovação do diploma, dese-
nhado pelo Ministério da Justiça da
Hungria, Orbán ganhou autoridade
para governar por decreto, invalidar
a aplicação da lei, suspender a activi-
dade parlamentar e congelar o calen-
dário eleitoral do país. A lei prevê
ainda a criminalização da dissemina-
ção de boatos, fake news e informa-
ções que sejam consideradas suscep-
tíveis de provocar alarme e agitação
social — provisões que várias organi-
zações não governamentais denun-
ciaram como uma validação do regi-
me de censura e perseguição à opo-
sição e aos media no país.
“A democracia não pode funcionar
sem uma imprensa livre e indepen-
dente. O respeito pela liberdade de
expressão e a certeza jurídica são
essenciais nestes tempos de incerte-
za”, aÆrma Ursula von der Leyen.
Para a presidente da Comissão Euro-
peia, “agora é mais importante do
que nunca que os jornalistas possam
fazer o seu trabalho livremente, pre-
cisamente para contrariar a desinfor-
mação e assegurar que os cidadãos
têm acesso a informação crucial”.
A Hungria está já a ser investigada
pela Comissão Europeia, no âmbito
de um processo de infracção aberto
por iniciativa do Parlamento Europeu
por alegado desrespeito do Artigo 7.º
do Tratado de Lisboa, relativo às nor-
mas do Estado de direito.
rsiza@publico.pt
16 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020

ESPAÇO PÚBLICO
Numa altura em que o mundo está
concentrado na luta contra a covid-19, a
Comissão Europeia, que vai investigar a
decisão do Governo húngaro de Orbán de aumentar
os poderes, limitando ainda mais direitos e
liberdades no país, mostrou que não está distraída,
com a presidente a relembrar que na Europa “os
valores da liberdade, democracia, Estado de direito e
respeito pelos direitos humanos” não se extinguem,
Ursula von der Leyen nem nas circunstâncias actuais. (Pág. 15) J.J.M.
O futebol não é só espectáculo, vibração e
alienação — é também um sector que
movimenta muita gente e dinheiro e que, tal
como o resto da economia, também sente
brutalmente a crise ditada pela covid-19. Há clubes a
reduzir salários, mas também há muitos jogadores/
estruturas que ficaram sem salário e em asfixia. A
FIFA desenha um plano para resgatar a modalidade
que terá muitos milhões oriundos das reservas
Gianni Infantino obtidas pelas receitas do futebol. (Pág. 38) J.J.M.

A nação vai mesmo precisar de ser salva?

preocupação a salvação de vidas e a
protecção da saúde. Quando os
consensos sobre o conÆnamento
social ou o apoio aos trabalhadores
que Æcaram sem emprego ou vão
Manuel Carvalho para layoè se romperem e a
Editorial pluralidade de opiniões sobre os
nesta questão em concreto, há
razões para aplaudir a forma
responsável como todos os agentes
do sistema político e partidário se
estão a comportar. Mas há menos de
uma década vimos um Ælme que
também começou assim — quando,
Passos Coelho, não dispõe de uma
maioria parlamentar para governar
numa conjuntura que se adivinha ser
especialmente difícil. Dizer que esse
grau de diÆculdade impedirá António
Costa de governar recorrendo à sua
tradicional habilidade para envolver

H
á um detalhe na entrevista de
Rui Rio à RTP, esta semana, que
é politicamente tão relevante
como a ideia de um mais do
que provável regresso de um
governo de salvação nacional que
admitiu. É o momento em que Rui
Rio prevê que esse regresso pode
acontecer: “Quando vier a economia
para o primeiro lugar.” Esta previsão
obriga-nos a reÇectir com realismo
sobre o que será o país depois da
devastação da covid-19. Quando
deixarmos de ter como primeira
rumos do país reemergirem. Quando
as decisões do Governo deixarem de
ser apoiadas em nome da união
indispensável para travar o vírus.
Quando a política democrática
regressar e for necessário dar
respostas difíceis para uma crise
económica e social que se anuncia.
O Presidente da República tem
razão ao recusar “congeminar sobre
um futuro longínquo ou sobre o
Governo que estará em funções
daqui a não [sabe] quanto tempo”.
Porque, de facto, a prioridade “é
resolvermos este problema”. E,
primeiro, os maiores partidos
assinaram o memorando de
entendimento que permitiu o
resgate económico e Ænanceiro do
país e a entrada em cena da troika.
Sabemos o que veio a seguir: o país
caminhou para um clima de natural
crispação política imposta pela
severidade da crise e para a também
natural divergência de opiniões
sobre a melhor forma de a combater.
Não tenhamos dúvidas que esse
clima de severa oposição vai
regressar, com uma diferença:
António Costa, ao contrário de Pedro
a esquerda é pura especulação.
AÆrmar que a crise que aí vem vai
impor o regresso do bloco central é
igualmente especulação pura. O que
vale a pena notar é que Rui Rio não
receia prever o mais do que provável
cenário de crise e de austeridade,
nem dispor o seu partido para a
necessidade de integrar um governo
estável. Na política, como na vida, as
visões a prazo ajudam por vezes a
encontrar respostas aos obstáculos
que se adivinham.
manuel.carvalho@publico.pt

As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar e
eventualmente reduzir os textos não
solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: cartasdirector@publico.pt
Telefone: 210 111 000
CARTAS AO DIRECTOR
Apelo aos bastonários
Senhor bastonário da Ordem dos
Médicos e senhora bastonária dos
Enfermeiros, arrumem o bastão
por uns tempos, peguem no
estetoscópio e apresentem-se na
linha da frente a ajudar os vossos
representados. Seja o governo da
cor que for, não é altura de lhe dar
bastonadas. Sigam o exemplo do
líder da oposição. Se conseguir-
mos derrotar o inimigo, depois
fazemos o balanço, e então logo
veremos se o Governo merece
palmas ou “bastonadas”.
Quintino Silva, Paredes de Coura
UE e Liga Hanseática
– construção
e desintegração
europeias
A História representa o único
património de experiência do que
foi o passado e permite-nos fazer e
enganarmo-nos nas comparações,
porque o passado não é o
presente. Mas às vezes apetece
voltar ao passado para
compreender o futuro. No
momento em que se fala, a
propósito da covid-19, de uma
possível desintegração da União
Europeia, por falta de
solidariedade dos países do centro
e Norte da Europa para com a
Itália e Espanha, é bom lembrar
que este não é o primeiro projecto
de integração económica
europeia. Entre os sécs. XVI e
XVII, a Liga Hanseática, uma
aliança que chegou a abranger
cerca de 100 cidades mercantis, de
início com carácter essencialmente
económico (incluindo a adopção
de uma moeda própria, o witen)
mas que se transformou
posteriormente numa aliança
política, estabeleceu um
monopólio comercial sobre quase
todo o Norte da Europa e Báltico
até Veneza e Génova no Sul da
Europa. Quem foi a primeira
cidade a abandonar a Liga
Hanseática e estar na origem do
seu declínio? Londres. Quem foi o
primeiro país a sair da União
Europeia, e a pré-anunciar
porventura a desintegração do
projecto europeu? O Reino Unido.
Há mesmo ironias na História!
Carlos Antunes, Parede
Miranda Calha
Gostaria de render a minha
homenagem ao dr. Miranda Calha,
recentemente falecido. Quando foi
secretário de Estado da Defesa, o
ministro delegou-lhe a área do
Pessoal. Dado que, à altura, eu era
director-geral do Pessoal,
tornei-me seu subordinado directo.
Não pude deixar de notar a sua
profunda noção de serviço público.
Dedicou-se com empenho ao seu
trabalho, sendo ele quem iniciou o
processo de apoio aos antigos
combatentes, que não pôde
concluir, porque o PS perdeu as
eleições. Paulo Portas, após ser
empossado como ministro da
Defesa, tentou demonstrar que tinha
sido o autor da ideia, o que não é
verdade. Miranda Calha foi um chefe
exigente, mas sempre aberto, leal e
pronto a colaborar. A sua postura
contrastava com a de alguns
membros do gabinete do ministro,
mais interessados em gerir as suas
carreiras através de vetos de gaveta e
espetarem facas nas costas de quem
procurava cumprir a sua missão,
como era o meu caso. Admirou-me
sempre o facto de nunca ter sido
nomeado ministro da Defesa.
Estava, sem dúvida, mais bem
preparado do que muitos que
ocuparam o cargo e pouco Æzeram,
como foi o caso do ministro com
quem foi secretário de Estado.
José Augusto V. Oliveira Simões,
Oeiras
 Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 17

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

Augusto Santos Silva
Em plena pandemia, a situação dos portu-
gueses no estrangeiro não pode ser esquecida
e aí, apesar das muitas críticas sobre a falta de
informação ou o trabalho dos consulados, o Ministério
dos Negócios Estrangeiros tem feito um trabalho
apreciável para ajudar a regressar quem viu fronteiras
e espaços aéreos fechados. São milhares os cidadãos
nacionais para quem se encontrou soluções de
repatriamento e em que às vezes foi preciso pôr a
diplomacia a funcionar. (Pág. 21) J.J.M.
A Casa Branca está a tentar usar a ameaça da
covid-19 para mudar as regras do jogo na
Venezuela, prometendo o levantamento das
sanções económicas, caso Nicolás Maduro aceite
um governo de transição democrática, do qual o
Presidente venezuelano não faria parte, bem como
Juan Guaidó, e com isso pretende convencer os
aliados do chavista. A improbabilidade de Maduro
aceitar o plano proposto pelo secretário de Estado
Mike Pompeo Mike Pompeo é enorme. (Pág. 29) J.JM.

ESCRITO NA PEDRA
O trabalho do pensamento humano deve resistir
O bem
ao teste da realidade nua e brutal. Se não consegue,
é inútil. Provavelmente apenas valem a pena as coisas português
que preservam a sua validade aos olhos de um
homem ameaçado de morte instantânea
Czeslaw Milosz (1911-2004), Nobel da Literatura

SEM COMENTÁRIOS VÍTIMAS DE COVID-19 AGUARDAM IDA PARA A MORGUE JUNTO A HOSPITAL DE BROOKLYN

N
Miguel Esteves Cardoso
JUSTIN LANE/EPA

EM PUBLICO.PT
A Vizinho e Cãopanhia ajuda
pode apoiar a passear o cão
A Associação de Estudantes da Faculdade
de Medicina Veterinária da Universidade de
Lisboa criou a Vizinho e Cãopanhia, uma
plataforma online publico.pt/p3
Saúde!, era um tinto e um
branco à porta de casa, sff:
vinhos ao domicílio
Veja opções de lojas e serviços de entrega
que têm promoções para quem não passa
sem um bom vinho publico.pt/fugas
Aeroportos desertos e aviões
parados em todo o mundo
Há zonas de convívio vazias e aviões
estacionados. Os aeroportos de Berlim,
Londres, Colónia, Brisbane ou Singapura
estão quase desertos publico.pt/fugas
Ainda ontem
ão é só gostar dos italianos: eu
seria incapaz de gostar de alguém
que não tivesse uma grande
ternura pelos italianos.
É um alívio que o coronavírus
esteja a abrandar na Itália.
Comoveu-me o cuidado que os
italianos tiveram — até os mais
aÇitos — de avisar os outros países,
instigando-os a proteger-se mais
cedo do que eles puderam. É por isso que me
envergonha que os italianos tenham pedido
ajuda e que não a tivéssemos dado quando
mais precisavam.
Tudo isto da solidariedade e da entreajuda
é mais antiga do que a conversa dos
“coronabonds”. Não é só a União Europeia
que está em causa: é a Europa. Nem é só
simpatia e admiração. Aprendemos muito
com os italianos, tanto no pretérito como no
presente do verbo.
Foi a Itália que assustou Portugal. Os nossos
médicos identiÆcam-se com os italianos. Há
até um certo complexo de inferioridade na
questão — mas quem não é inferior aos
italianos? E haverá maiores peritos em
complexo de inferioridade do que nós
portugueses?
Pensámos: “Se é este inferno em Itália,
imagine-se o que vai ser em Portugal. Sendo
eles mais ricos, populosos e experientes do
que nós, a nossa única maneira inteligente de
reagir é fazer como eles fazem, com a
vantagem de estarmos mais atrasados na
pandemia.”
Assim Æzemos, porventura com o zelo
acrescido do bom aluno. Nunca percebi qual
era a vergonha de ser bom aluno. Vergonha é
não reconhecer e não agradecer os bons
professores que se teve.
Ainda bem que não caímos na asneira de
tentar uma via original para o coronavírus,
daquelas “bem portuguesas”.
18 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
Sim, manter a quarentena
Maria João Marques
Quanto mais depressa se agir
nas medidas de contenção,
Q
mais depressa nos vemos
livres da pestilenta covid-19
uando me convidaram para
escrever uma coluna de opinião
no PÚBLICO já pairavam no ar
as maldosas gotículas com
coronavírus. Mas não imaginei
que iria escrever a primeira
numa espécie de ambiente de
crónica em tempos de cólera.
Num cenário distópico em que
até os meus pais — que se
recordam vagamente da Segunda Guerra
Mundial quando crianças — descrevem
prosaicamente com um “nunca vimos nada
assim”. Uma doença que parece saída da
imaginação de um cientista louco nazi em
busca de produzir a raça perfeita
descartando os Æsicamente mais frágeis:
ataca os mais velhos, os que sofrem de um
rol de doenças, os que têm imunidade
comprometida. Um político ou um
economista psicopata bateriam palmas —
aÆnal, o coronavírus está decidido a trazer
poupanças às estafadas seguranças sociais
europeias e aos sistemas de saúde,
livrando-os das despesas com pensões dos
mais velhos e tratamentos dos doentes
crónicos. Inevitavelmente — que a natureza
humana tem o lado lunar, como diz o cantor
— surgiu quem contestasse a quarentena
geral em que vivemos em prol dessa missão
nobre de que nenhum de nós tinha ouvido
falar há um par de meses: achatar a curva. E
não esgotar a capacidade de resposta do
SNS. E, em resultado, menos mortes.
Não tenho vontade de ser lírica. A
quarentena generalizada tem custos
económicos grandes, e não pode
permanecer pelos catastroÆstas seis meses,
ou 18 meses, que alguns epidemiologistas
de sofá aventam. (Desde logo porque a
saúde mental do continente europeu
inteiro não resistiria.)
A melhor parte é que provavelmente não
terá de se manter o atual estado draconiano
de coisas por muito tempo. Wuhan
precisou de sete semanas para conter o
contágio do coronavírus depois de impor
quarentena estrita. Os países mais rápidos a
reagir — Hong Kong, Taiwan e Singapura —
não necessitaram de impor quarentena
obrigatória. (Pelo menos, ainda não.) Em
Hong Kong as aulas foram suspensas, os
funcionários públicos colocados em
teletrabalho. Taiwan fechou as escolas por
duas semanas somente. As memórias do
ADRIANO MIRANDA
descartáveis os mais fracos. No mundo
onde a criatividade e as capacidades
intelectuais são os marcadores de
diferença, a diabetes ou uma condição
cardíaca não são deÆciências proÆssionais.
Num tempo em que a memória histórica
de épocas tenebrosas — ou das risonhas
que se lhes seguiram — é fundamental para
lidar com as ameaças populistas e
nacionalistas, como podemos prescindir
casualmente das lições, testemunhos e
experiências dos mais velhos? (E, já agora,
quais os custos económicos para as mães e
pais de retirar o apoio cuidador que avós,
dos dois sexos, dão aos netos? De
numerosos lutos simultâneos? De um
evento com número avassalador de
mortos que se torna num trauma
coletivo?)
Nos Estados Unidos, quando Trump
declarou que queria a economia a
funcionar pela Páscoa, que o país não foi
feito para Æcar parado e demais conversa
do nacionalismo-contabilista — entretanto
já inÇetiu em variadas direções —, um
governante do Texas veio prontamente
declarar na Fox News que os mais velhos
deviam estar dispostos a morrer para não
prejudicar a economia. A expressão
“matar a avozinha pelo mercado de
capitais” foi abundantemente usada no
Twitter para descrever tão feliz ideia. Em
tempos, pediu-se aos jovens para
morrerem pelos ideais democráticos (ou
SARS em 2003 garantiram que todos se Kellogg School of Management, publicou assim diziam). Agora, numa evolução
esforçassem por parar o contágio. por estes dias, com outros dois civilizacional, recomendam aos idosos que
Isolamento social, máscaras, desinfeção de economistas, o estudo The Macroeconomics se sacriÆquem no altar da bolsa de valores
mãos, medição de temperatura em todo o of Epidemics, onde concluíam que os custos de Nova Iorque.
lado, vigilância de económicos de manter a quarentena, Por cá também já vários comentadores
quem está em levantando-a gradualmente quando as contestaram nos media a quarentena geral
quarentena através taxas de infeção baixassem de modo a criar e a paragem da economia. Li, de um,
de apps. Moral imunidade de grupo, eram menores que os elogios à coragem de Bolsonaro (de
aparente dos factos: de uma pandemia sem medidas de proferir as insanidades que até o seu
quanto mais conÆnamento, ou com o levantamento Governo boicota, presumo). Outro
A quarentena depressa se agir nas abrupto da quarentena antes da imunidade reclama que quarentena não é vida. De
é péssima, medidas de adquirida. Usaram valores económicos facto, quem aguenta estar 15 dias sem
concedo(e contenção, mais
leve a pancada do
normalmente aceites para uma vida
humana, bem como a diminuição no
jantar fora? Outro ainda garante que a
covid-19 é menos mortal que a gripe
suspiro quase vírus e mais consumo e nas horas trabalhadas (i.e., a comum — viva, já temos negacionistas do
em desespero). depressa nos vemos
livres da pestilenta
crise) que a doença, sem quarentena,
geraria. Concluem ainda que no longo
coronavírus, que não somos menos que os
outros. Era inevitável no tempo das redes
Mas é o que covid-19. Por mim, prazo uma economia com quarentena sociais. A Coreia do Sul é brandida como
temos. E as vou manter a recupera melhor que uma economia onde exemplo — não se referindo que as escolas
esperança nos dois ocorreu grande número de mortos. estão fechadas desde o início do ano nem
respostas meses. Ficaram de fora os custos da reorganização a pequeníssima participação das mães no
alternativas Porém, talvez a de trabalho que as mortes obrigam ou os mercado de trabalho, podendo assim Æcar
são muito mais quarentena geral
faça sentido até
custos das famílias e do Estado com os
tratamentos de muitos mais infetados.
em casa com os Ælhos sem perturbar as
empresas onde já normalmente não estão.
custosas economicamente. Há muitas cogitações ÆlosóÆcas por aí A quarentena é péssima, concedo (e
Os custos sobre as mudanças que esta experiência de suspiro quase em desespero). Mas é o que
económicos de uma pandemia nos trará. Calhando, pode servir temos. E as respostas alternativas são
pandemia à solta para mostrar, deÆnitivamente, que não muito mais custosas. Inclusive com o
também são de estamos no tempo dos critério do índice da bolsa.
monta. O português caçadores-recoletores, sendo o vigor físico
Sérgio Rebelo, da a maior medida de valor de uma pessoa, e Economista. Escreve à quarta-feira

Força e
solidariedade
Paula Teixeira da Cruz
Mil anos e um dia
Haja força. Vamos
conseguir, se nos
A
afastarmos do nosso
egoísmo. Todos juntos
covid-19 veio de algum modo
unir a humanidade no combate
contra esta nova calamidade,
lembrar que estamos todos no
mesmo barco, pela simples
razão que, europeus ou
asiáticos, homens ou mulheres,
ricos ou pobres, temos como
denominador comum a
pertença a uma mesma
espécie. Um momento único de unidade na
História do ser humano!
Durante um período transitório, o
primado do económico e do utilitarismo
cede perante a ameaça grave, invisível e
omnipresente da pandemia, e a nossa
admiração pelas grandes realizações
humanas concentra-se no esforço hercúleo,
abnegado e muitas vezes heróico dos
cientistas, dos médicos e do pessoal de
saúde. Mais, os Estados e os bancos centrais
respondem à ameaça que (também) paira
sobre a atividade produtiva com medidas
monetárias e Ænanceiras inéditas e
heterodoxas para manterem as unidades
empresariais vivas e os trabalhadores
impossibilitados de trabalhar com um
rendimento que lhes permita viver com
dignidade, apesar da crise.
O papel do Estado irá transitoriamente
alargar-se, como é próprio de períodos em
que as decisões racionais das entidades
privadas, baseadas na avaliação do risco e
das vantagens das ações a empreender, são
impossibilitadas pelo aparecimento de uma
absoluta e radical incerteza.
O que virá aí, uma vez extinta esta ameaça,
mais uma, das muitas observadas ao longo
da História do ser humano, porventura o
mais resiliente e adaptativo de todos os seres
que existem à face da Terra?
Tudo indica que será necessário um
esforço enorme de reconstrução da
economia e da sociedade e que a situação
terá algum paralelo com a que se viveu no
pós-II Guerra Mundial. Teremos algumas
nacionalizações temporárias, decorrentes
da necessária capitalização pelos Estados
de algumas grandes empresas brutalmente
afetadas pela crise. Teremos provavelmente
um retorno a um nível de inÇação
relativamente elevado, em virtude da
redução das capacidades globais da oferta e
da criação monetária maciça pelos bancos
centrais. Teremos quase certamente um
grande programa de reconstrução das
economias mais ou menos devastadas pela
covid-19 que terá de resultar de um esforço
comum, no caso europeu, por parte da
União Europeia. Teremos, creio, uma pausa
ou mesmo um retrocesso saudável da
globalização, repondo na Europa uma parte
das capacidades estratégicas de produção
deslocalizadas para países com baixos
custos por virtude de uma concorrência
levada ao extremo.
Daremos uma maior prioridade ao
investimento na saúde, em todas as suas
vertentes, e os mecanismos de solidariedade
e de inclusão serão reforçados e adaptados
aos novos desaÆos, incluindo os da transição
digital e da robótica. A aposta na igualdade
de oportunidades e na recompensa justa do
trabalho e do mérito virão sobrepor-se aos
excessos das desigualdades que a
globalização não criou, mas ajudou muito a
atingirem proporções obscenas.
A ajuda aos países menos desenvolvidos
deve retomar o nível de Çuxos Ænanceiros
que já teve nos anos 60 e 70 do século XX e
em boa medida
substituir os Çuxos
emigratórios
desordenados que
empobrecem esses
Este é um países em recursos
humanos pela
momento criação de riqueza e
único de postos de trabalho
locais.
unidade na Para isso, é
História do ser necessário que os
focos de conÇitos
humano! armados em várias
áreas do mundo
sejam extintos ou
bem controlados.
E, ao Æm de um
longo período de
conÆnamento e
distanciamento
social, por certo o desejo de estreitar
relacionamentos, de esbater velhos
conÇitos inter-humanos, de voltar a
estarmos juntos e próximos, irá conviver
com a ânsia de liberdade e de democracia
que constituem os pilares centrais de uma
sociedade decente e avançada. Um período
em que o humanismo volte a inspirar a
marcha da sociedade.
Tudo isto, claro, até que a natureza do ser
humano volte à superfície e o egoísmo, a
vaidade e inveja (além de outros pecados
capitais) voltem a ditar as suas regras!
Haja força. Vamos conseguir, se nos
afastarmos do nosso egoísmo. Todos juntos.
Advogada. Escreve quinzenalmente
à quarta-feira
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 19
ESPAÇO PÚBLICO
Tocata para um
ministro à distância
V
— Fixe horários nacionais para o ensino à
Santana Castilho distância. Este tempo de crise tem sido
invasivo da privacidade dos alunos, das
êm aí longas semanas de ensino à famílias e dos professores, com um enorme
distância. Importa pois analisar a excesso de solicitações e exigências. Se há
que distância está o Ministério da paradigma já evidente é o da servidão digital.
Educação (ME) da realidade. Sem horário de actividades, tanta diligência e
Incapaz de produzir orientação desrespeito pela privacidade alheia
séria, o ministro começou por transformarão pais, professores e alunos em
proclamar que “os professores simples plataformas humanas à deriva, no
não estão de férias”. A maioria meio das plataformas digitais.
das escolas e demasiados — Anule imediatamente as provas de
professores, apostados em aferição, marcadas para Maio, e os exames
mostrar que não estavam de férias, tomaram Ænais do 9.º ano. As primeiras porque, de
iniciativas cujo volume, diversidade e duvidoso sentido desde o início, são agora
fragmentação conferiram ao sistema a redobradamente inúteis. Os segundos
incoerência característica do “salve-se quem porque, sendo praticamente irrelevantes para
puder”. Em vez de desenhar um quadro de a progressão dos alunos, ocupariam recursos
intervenção pedagógica e deÆnir os recursos e tempo necessários para iniciativas
digitais para o executar, o ME arrebanhou prioritárias, em tempo de crise.
tudo o que mexia na Internet e despejou — Mande redeÆnir os conteúdos
sobre as escolas, para ajudar à balbúrdia. programáticos dos exames nacionais do
Quando surgiram os primeiros reparos para a ensino secundário (as provas devem ser
falta de computadores e de banda larga ao limitadas ao que foi leccionado
alcance de muitos alunos, o ministro Tiago presencialmente) e mande reformular, em
chamou carteiros, escuteiros e professores conformidade, os
reformados. Receei que se seguisse a respectivos
requisição civil dos pombos-correios. Mas enunciados. Claro
seguiu-se um roteiro, ora banal, ora prolixo, que isto o obriga a
que transfere para as escolas e para os adiar o calendário
professores as responsabilidades centrais.
Saia do dos exames e a
Agora, é preciso aproveitar estas estranhas
férias da Páscoa para pensar com serenidade. marasmo,
coordenar com o seu
colega do superior a
O sistema não tem recursos para o ministro Tiago, acomodação destas
funcionamento do ensino à distância na escala
que é requerida. O ME não pode contar com os e faça, pelo
mudanças no
processo de acesso
seus equipamentos obsoletos, sem capacidade menos, isto. ao ensino superior.
de memória, nem com a sua Internet, que ora
Se precisar — Incumba um
é lenta, ora sucumbe, ora não existe. Só o pequeno grupo de
salvam os equipamentos dos pais e dos de ajuda, diga. pessoas sensatas
professores, que pagarão as contas de energia
e de Internet. Os problemas logísticos que o
Vou trabalhar (tem de procurar fora
do seu círculo) de
ensino à distância coloca vão aprofundar as consigo, desenhar, desde já,
desigualdades sociais entre os alunos. Muitos
(50 mil só no ensino básico) não dispõem de
pro bono um plano de regresso
à actividade
um computador nem de Internet em casa. presencial, que
Muitos encarregados de educação não têm as preveja cuidados de
condições e formação necessária para vigilância e
acompanhar os Ælhos nas tarefas escolares. resguardo para uma
Saia do marasmo, ministro Tiago, e faça, eventual segunda
pelo menos, isto: onda da covid-19
— DeÆna já como se processa e como se (reduzir o número de
avalia o trabalho do 3.º período, oÆcializando alunos por turma, para aumentar o seu
o que todos sabem oÆciosamente. distanciamento em sala; redeÆnir normas de
— Desista do ensino online para crianças do utilização de espaços comuns,
1.º e 2.º ciclos, que não têm preparação para designadamente recreios, e generalizar
tal. Para estas e para todas as que não têm artefactos de higienização das pessoas e dos
computador nem Internet, recorra à televisão. objectos). Aquando da reentrada, devem
Siga o exemplo da sua colega de Espanha, que estar previstos apoios pedagógicos
reuniu recursos de 14 editoras e nove portais suplementares para quem deles necessite.
educativos e partiu para emissões de cinco Se precisar de ajuda, diga. Vou trabalhar
horas diárias de TV educativa. Reserve consigo, pro bono.
o online para o 3.º ciclo e secundário, com
identiÆcação das plataformas digitais mais Professor do ensino superior.
eÆcazes e a sua disponibilização gratuita. Escreve quinzenalmente à quarta-feira
20 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
POLÍTICA
Militares desinfectam, montam
tendas e camas e dão alimentos
Do IPO do Porto às administrações regionais de saúde, dos hospitais aos centros de saúde, da Protecção
Civil ou serviços prisionais aos lares, as Forças Armadas recriam a sua missão de apoiar os portugueses
Forças Armadas
Nuno Ribeiro
Desde a declaração do estado de
emergência, os militares das Forças
Armadas passaram a envergar camu-
Çados e a ser requeridos para as mais
variadas acções de apoio ao comba-
te ao novo coronavírus.
Entre 14 e 29 de Março, este domin-
go, segundo os números do Ministé-
rio da Defesa, especialistas desinfec-
taram dois lares de idosos, da Santa
Casa da Misericórdia de Resende e da
Nossa Senhora das Dores, em Vila
Real, onde o vírus infectou utentes e
funcionários daquelas instituições.
Colaboraram com câmaras munici-
O “Hospital Porto”, dedicado à covid-19, deve começar a funcionar dentro de uma semana e será gerido pela Ordem dos Médicos
pais na distribuição de alimentos em
Lisboa aos sem-abrigo, como ocorreu
com os soldados do Exército de Que-
luz. Montaram 49 tendas junto a cen-
tros de saúde, de norte a sul do país.
Reforçaram a capacidade de oferta
de hospitais com a montagem de um
total de 387 camas e 49 tendas.
Percorreram também a geograÆa
das urgências colaborando com as
mais diversas entidades. Da
Direcção-Geral de Reinserção e Ser-
viços Prisionais, onde, na zona
do Hospital Prisão de Caxias, mon-
taram duas tendas, à câmara da capi-
tal, onde, em terrenos da cidade
universitária, adaptaram um hospi-
tal de campanha com 140 camas
junto ao Hospital de Santa Maria.
Também reforçaram a capacidade
dos pólos da Cruz Vermelha de Mace-
do de Cavaleiros e de Mogadouro,
com a montagem de uma tenda adi-
cional em cada uma daquelas locali-
dades. E apoiaram o Instituto Portu-
guês de Oncologia do Porto com
quatro tendas, bem como a Adminis-
tração Regional de Saúde do Norte
através do transporte de doações.
Ainda no Porto, à porta do Pavilhão
Rosa Mota, o maior pavilhão da cida-
de, homens e mulheres do Exército,
auxiliados por polícias e trabalhado-
res da autarquia, ajudavam ontem de
manhã a descarregar os camiões
cheios de estrados de camas, col-
chões, almofadas, lençóis. Davam
forma ao “Hospital Porto”, o hospital
de missão para a covid-19 que a câma-
ra criou neste equipamento dos jar-
dins do Palácio de Cristal. Ontem
montavam-se estruturas metálicas
debaixo da gigante cúpula do pavi-
lhão, improvisando enfermarias.
Daqui a uma semana, haverá aqui
300 camas para receber “doentes
O Exército
ajuda a montar
o hospital
que a Câmara
do Porto decidiu
criar no Pavilhão
Rosa Mota
PAULO PIMENTA
assintomáticos” que não tenham pos-
sibilidade de fazer isolamento nas
suas casas ou “idosos que precisem
de assistência médica”, mas tenham
sintomas ligeiros.
No mapa de Portugal, os pontos em
que as Forças Armadas participaram
no combate à covid-19 são tantos que
lembram o despontar de cogumelos.
À Administração Regional de Saúde
do Centro, em Coimbra, por três
vezes colunas militares procederam
a transporte de doações e material.
Os militares montaram, por exem-
plo, 50 camas a pedido da Câmara
Municipal de Arganil, outras 60 para
a Protecção Civil das Caldas da Rai-
nha, mais 40 por solicitação da Pro-
tecção Civil de São Pedro do Sul.
Não houve instituição ou entidade
que Æcasse à margem. Ao SEF (Ser-
viço de Estrangeiros e Fronteiras) foi
facilitada uma tenda para apoiar no
controlo fronteiriço rodoviário entre
Espanha e Portugal, em Castro
Marim. Também foi facultado aloja-
mento à Protecção Civil de Lagos ou
ao Serviço Regional de Protecção
Civil da Madeira.
No apoio às regiões insulares,
com o tráfego aéreo muito limitado
ou cortado com o continente, a For-
ça Aérea Portuguesa fez três mis-
sões de transporte de material
diverso, entre o qual, medicamen-
tos e material protector para os
proÆssionais de saúde. No Hospital
de Ponta Delgada foi montada uma
tenda e no Hospital Dr. Nélio Men-
donça, no Funchal, outra tenda e
mais oito camas. A Marinha, no pas-
sado Æm-de-semana, participou
também, em Lisboa, junto ao Cais
do Sodré, na distribuição de duas
refeições aos sem-abrigo.
E, por Æm, existe a retaguarda de
camas dos hospitais das Forças
Armadas do Porto e de Lisboa, bem
como a reabilitação em curso, junto
a Belém, de uma antiga unidade de
saúde militar.
O primeiro-ministro visitou as
obras (que podem ter uma duração
de três semanas) deste antigo
Hospital Militar de Belém, na Ajuda,
na segunda-feira. com Mariana
Correia Pinto
nribeiro@publico.pt

Augusto Santos Silva foi ouvido no Parlamento por Skype
Regressaram 2249
portugueses que
estavam fora do país
Fronteiras
Nuno Ribeiro
Dos 420 estudantes
Erasmus que pediram
apoio, 353 já voltaram
ao país, garantiu Augusto
Santos Silva ao Parlamento
Dos 3641 pedidos de apoio de viajan-
tes ocasionais portugueses surpreen-
didos pelos efeitos da crise do novo
coronavírus pelo fecho de fronteiras
ou do espaço aéreo, 2249 são casos
resolvidos, ou seja, já regressaram,
aÆrmou ontem o chefe da diploma-
cia portuguesa, Augusto Santos Silva,
na comissão parlamentar de Assun-
tos Europeus.
Numa audição via Skype, o minis-
tro dos Negócios Estrangeiros reve-
lou, ainda, que dos 420 pedidos de
apoio de estudantes do programa
Erasmus, em 353 casos já estava
resolvida a situação, ou seja, os alu-
nos tinham voltado a Portugal.
No dia em que foi resolvida a situa-
ção dos portugueses retidos no Peru,
através de uma missão europeia
coordenada por Portugal, Santos
Silva fez o balanço destas actuações
sob a égide da União Europeia, no
total de 200 missões. O ministro con-
gratulou-se com o trabalho realizado,
argumentando que, segundo os
dados das agências de viagens, dos
30 mil portugueses que se encontra-
vam ocasionalmente no estrangeiro
antes da crise da pandemia do covid-
DANIEL ROCHA
19, 27.500 já regressaram ao nosso
país. Augusto Santos Silva destacou,
contudo, outros casos. Os referentes
a concidadãos que estão nos países
de língua oÆcial portuguesa, com os
quais através de voos regulares da
TAP foi possível resolver as questões
que existiam em Angola, Cabo Verde
e Guiné-Bissau. “Estão planeados
voos para Moçambique”, anun-
ciou.
“Para Timor-Leste, está em curso
uma operação especíÆca”, revelou a
propósito da situação de 200 profes-
sores portugueses devido ao fecho das
escolas pela suspensão temporária do
ensino. “Deixei muito claro ao meu
homólogo que esta situação não põe
em causa a cooperação na Educação
entre os dois países”, acentuou.
Admitiu que está a ser negociado
o repatriamento de técnicos portu-
gueses que trabalham numa base
aérea de Djibuti através de negocia-
ções com a França. “Aproveitamos
voos europeus dirigidos por outros
países para neles integrar cidadãos
portugueses”, explicou.
Como, aliás, foi feito por Portugal
quando liderou o repatriamento do
Peru e, há algumas semanas, os voos
de Marrocos, nos quais também
seguiram cidadãos europeus e de
outras nacionalidades.
Finalmente, sobre a situação de
trabalhadores temporários que, pela
crise, perderam o seu posto de tra-
balho, como aconteceu no Luxem-
burgo, Santos Silva assegurou o
reforço dos apoios sociais às comu-
nidades.
Breves
SEF
Partidos querem
esclarecer homicídio
no aeroporto
O PSD pediu esclarecimentos
ao Governo sobre a morte de
um cidadão estrangeiro no
Centro de Instalação
Temporária do Aeroporto de
Lisboa, da qual são suspeitos
três funcionários do Serviço
de Estrangeiros e Fronteiras
(SEF). Na pergunta do PSD,
dirigida a Eduardo Cabrita, os
deputados pedem ao Governo
que esclareça “que instruções
ou ordens específicas têm
sido dadas ao SEF no que
respeita ao procedimento de
‘barramento’ de cidadãos
ilegais” que procuram entrar
no em Portugal. O Bloco de
Esquerda, por seu turno,
entregou um requerimento a
pedir a audição do ministro da
Administração Interna à
distância.
OE 2020
Orçamento já foi
publicado e entra
hoje em vigor
O Orçamento do Estado de
2020 (OE 2020) foi ontem
publicado em Diário da
República e entra hoje em
vigor, dia 1 de Abril, tal como
tinha antecipado o ministro
das Finanças, Mário Centeno.
“A presente lei entra em vigor
no dia seguinte ao da sua
publicação”, pode ler-se no
final das 192 páginas de
legislação do OE 2020, a que
se juntam os Mapas anexos, as
Grandes Opções do Plano e o
Quadro plurianual de
programação orçamental para
os anos de 2020 a 2023. Em 23
de Março, o Presidente da
República, Marcelo Rebelo de
Sousa, promulgou o
Orçamento para 2020, mas
avisou que “a sua aplicação vai
ter de se ajustar ao novo
contexto vivido” com a
pandemia da covid-19.
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 21
PCP e PSD
questionam Governo
sobre libertação
de reclusos
Parlamento
Sociais-democratas
pedem plano de
contingência para prisões.
Comunistas querem ouvir
a ministra da Justiça
O PCP pediu ontem a audição, no
Parlamento, da ministra da Justiça
para “apreciar as medidas que o
Governo tenciona tomar” para com-
bater a pandemia de covid-19 no
sistema prisional português. Sem
chamar Francisca van Dunem à
Assembleia da República, o PSD
requereu ao Governo que revele
todo o plano de contingência apli-
cado às prisões e desaÆou o execu-
tivo a explicar a sua posição sobre a
hipótese de libertar reclusos.
Numa pergunta dirigida à minis-
tra da Justiça, o PSD refere que
“uma das medidas que têm sido
amplamente faladas é a da possibi-
lidade de virem a ser libertados
reclusos que estão na etapa Ænal do
cumprimento da pena ou em situa-
ção de especial vulnerabilidade
devido a doenças crónicas ou com
idade superior a 70 anos”.
“Bem sabemos que essa é uma
medida que já está a ser aplicada
noutros países, nomeadamente em
Itália, Espanha, França, Irão e nal-
guns estados dos Estados Unidos da
América, e a ser equacionada por
outros países, nomeadamente o nos-
Ministra da Justiça foi chamada
ao Parlamento pelo PCP
POLÍTICA
so, pelo que importa saber qual é a
posição do Governo português sobre
esta matéria”, apelam os sociais-de-
mocratas, numa pergunta em que
não expressam o que pensa o PSD
sobre o assunto.
A ministra da Justiça, Francisca
Van Dunem, remeteu no domingo
para esta semana a tomada de posi-
ção do Governo sobre a libertação
de reclusos mais vulneráveis, quan-
do for feita a “avaliação da execução
das medidas do estado de emergên-
cia”, que termina amanhã e que,
para ser prolongado, terá de ser
renovado.
Na pergunta, o PSD salienta que
“já são conhecidos casos positivos de
covid-19 nas prisões portuguesas” e
questiona o Governo sobre “o teor
integral do plano de contingência
aplicável às prisões portuguesas”.
Para o PCP, é importante ouvir a
ministra Francisca Van Dunem
sobre este assunto e propõe que tal
aconteça numa reunião de mesa e
coordenadores da comissão de
Assuntos Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias.
O requerimento, assinado pelo
deputado António Filipe, refere que
a ministra disse que o Governo vai,
“a muito breve prazo, anunciar um
conjunto de medidas destinadas a
combater o possível impacto da
pandemia” nos estabelecimentos
prisionais.
“É unânime a consciência da gra-
vidade que pode assumir a dissemi-
nação da pandemia nos estabeleci-
mentos prisionais e da necessidade
de serem tomadas medidas que
impeçam ou mitiguem as suas con-
sequências”, lê-se no texto do
requerimento.
O deputado António Filipe subli-
nhou ainda que “a avaliação do tipo
de medidas a tomar, que poderão
passar pela deÆnição de critérios
para a libertação de reclusos” em
Ænal de pena, justiÆca que esta ques-
tão “seja acompanhada pela Assem-
bleia da República”.
O Governo está neste momento a
avaliar a situação, sobretudo ao nível
da recomendação das Nações Uni-
das, para a libertação imediata de
alguns reclusos mais vulneráveis” e,
segundo disse Francisca van Dunem
numa entrevista à SIC, tomará uma
decisão esta semana, quando for
feita a “avaliação da execução das
medidas do estado de emergência”.
PÚBLICO/Lusa
22 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
SOCIEDADE
Quem era o ucraniano que terá
sido morto por agentes do SEF?
Autópsia revela “homicídio” mas SEF comunicou morte por epilepsia. Mulher quer indemnização do Estado.
Amigo na Ucrânia diz que Ihor vinha a Portugal de passagem e trabalhava na construção civil na Bélgica
Crime
Joana Gorjão Henriques
Tudo o que a mulher de Ihor
Homenyuk quer é que o corpo do
marido chegue à Ucrânia. O desejo
seguinte é que o Estado português e
os inspectores do SEF suspeitos de
assassinarem o marido no dia 12 de
Março respondam pela morte do
marido e por terem deixado dois
Ælhos menores. Por isso irá pedir uma
indemnização ao Estado, diz José Gas-
par, o advogado que irá representar a
família. Com a pandemia da covid-19,
os voos directos foram cancelados e a
embaixada aguarda que retomem ou
que seja feito um voo especial. A
mulher, Ælhos, irmã, pai e amigos de
Ihor Homenyuk não podem velá-lo.
Muitas são as questões por respon-
der sobre o homem que chegou a
Portugal a 11 de Março, mas foi barra-
do pelo SEF, que não acreditou no seu
visto de turista. Quem era Ihor
Homenyuk? O que vinha fazer a Por-
tugal? A quem é que ele ligou nesse
dia, depois de ser detido no Centro de
Instalação Temporária (CIT) do Aero-
porto de Lisboa, onde retiram a quem
entra os objectos pessoais e deixam
fazer uma curta chamada? O que se
passou entre o dia 11 e 12 de Março, dia
do seu óbito, anunciado pelo SEF
como “epilepsia”? Quem assistiu à
morte no CIT, local que a provedora
de Justiça já chamou de “no man’s land
contemporâneo”? E quem era este
homem antes de ser morto?
A PJ saberá responder a algumas
destas perguntas, a outras não. O que
sabe foi suÆciente para deter os três
inspectores do SEF com 42, 43 e 47
anos, o que levou à demissão da
direcção de Lisboa do SEF. Também
o juiz que os ouviu anteontem encon-
trou “fortes indícios” de que serão
eles os responsáveis. Colocou-os em
prisão domiciliária, com proibição
de contactos, explica uma nota da
procuradoria, por causa “do período
pandémico”. O PÚBLICO sabe que
a autópsia mostra claramente que
houve “homicídio”, com lesões
inÇigidas intencionalmente, que terá
sido o Instituto de Medicina Legal
(IML) a alertar a PJ e que na descrição
o SEF comunicou ao IML que a causa
DR
de morte tinha sido epilepsia. As
informações oÆciais revelam pouco.
Formam peças soltas de um puzzle
nem sempre com sentido. Um amigo
de Ihor que não quis revelar a sua
identidade, chamemos-lhe “Pietr”,
contou uma versão ao PÚBLICO, em
conference call, com tradução de
Pavlo Sadokha, presidente da Asso-
ciação dos Ucranianos em Portugal.
Diz ser seu amigo há 16 anos, e viver
na mesma localidade, Novoiavorivsk,
a 45 minutos de Lviv, próximo da
fronteira com a Polónia.
A história que montámos com o
que conta é a seguinte: era suposto
esta ser uma viagem com destino Ænal
na Bélgica, uma das várias que Ihor
Æzera nos últimos anos. Trabalhador
na construção civil, com 40 anos, pai
de uma rapariga de 14 e de um rapaz
de 8, costumava ausentar-se em tem-
poradas, sobretudo na Primavera e
no Verão, atravessando as fronteiras
da Ucrânia em direcção à Polónia,
Rússia ou Bélgica.
Com pouca bateria no telemóvel,
despediu-se a última vez da mulher
no aeroporto da cidade próxima de
onde vive. Ainda parou em Istambul,
em escala para Portugal, como fazem
tantos ucranianos a caminho de Lis-
boa. Estaria acompanhado de outros
dois homens que viriam trabalhar na
mesma empresa que ele e que tinha
uma empreitada na Bélgica. O plano
era chegar, assinar o contrato e depois
seguir até ao destino Ænal, onde iria
passar os próximos seis meses. Essa
viagem Æcaria por conta da empresa.
Por volta de Setembro, regressaria.
A família está em choque, relata
“Pietr”. A mãe de Ihor morreu há pou-
cas semanas, e o pai está ainda mais
destroçado. “Não há palavras”, diz. “É
uma tragédia.” A mulher de Ihor, pro-
fessora na escola básica, e os Ælhos
não querem “contactar ninguém”.
Ihor tinha uma irmã que está igual-
mente em choque. “Pessoas tão boas
como ele… é preciso procurar. Todos
os que o conheciam tinham boa opi-
nião dele.” Não imagina o amigo a ser
agressivo com quem quer que seja.
Com 53 anos, “Pietr” chegou a passar
temporadas de trabalho com Ihor em
locais fora da Ucrânia, partilhando
quartos com mais cinco trabalhado-
Ihor Homenyuk, de 40 anos, deixa dois filhos menores res, e nunca testemunhou um
momento de agressividade. “Teria
dado para perceber.” “Pietr” diz que
os dois outros trabalhadores entra-
ram, mas não há conÆrmação oÆcial
de que ele viesse acompanhado.
... ou turista?
Esta não é a versão oÆcial. O cônsul
da embaixada ucraniana, Volodumyr
Kamarchuk, conta que foram infor-
mados pelo SEF a 11 de Março de que
Ihor tinha sido barrado porque não
tinha documentos que provassem
que vinha como turista. “Provavel-
mente, não tinha voo de regresso
nem hotel ou dinheiro suÆciente”,
comenta. Este contacto é obrigatório
ser feito nestas circunstâncias, diz o
cônsul, que mantém a versão de que
veio como turista.
O voo, via Turquia, é o mais barato,
por isso é normal que tenha parado
lá, aÆrma o cônsul, que explica que o
SEF o queria mandar de volta no dia
seguinte. Mas tudo mudou: “A 12 de
Março, às 23h45, recebo um curto
email a dizer que este cidadão estava
morto”, revela. “Fizemos uma cha-
mada para o inspector, que nos disse
que ele tinha tido um ataque epilép-
tico e que morreu antes de o INEM
chegar. Não havia indícios de que
alguma coisa estivesse errada.”
Na embaixada Æzeram o procedi-
mento habitual, ligando para a polícia
ucraniana de modo a encontrarem a
família. Sobre a sua saúde, relata: “A
família disse que ele nunca tinha tido
um ataque epiléptico.” Também o
amigo ucraniano nega que Ihor tives-
se problemas de epilepsia, conhece-
lhe problemas cardíacos. Foi depois
de ver a reportagem na TVI que a
embaixada ucraniana percebeu que
o SEF tinha “omitido a verdade”.
Turista ou trabalhador na constru-
ção civil, quem era Ihor? Alguém dedi-
cado à família, relata “Pietr”. Católico
bizantino, na Ucrânia passava a maior
parte do tempo com os Ælhos, organi-
zava viagens. Gostava de bricolage em
casa e na construção civil a sua espe-
cialidade era a fachada de prédios.
Jogava futebol e era adepto do Karpaty
Lviv, era “patriota, apoiava a Ucrânia
contra a agressão russa”, mas não era
membro de nenhum partido.
jgh@publico.pt

Juízes de execução de penas
admitem perdão para tirar
1500 pessoas da prisão
Justiça
Ana Dias Cordeiro
Ministra vai anunciar nos
próximos dias medida para
minimizar o perigo da
propagação da covid-19 no
sistema prisional
O sistema prisional português tinha
no Ænal de 2019 perto de 12.800 reclu-
sos em 49 estabelecimentos. Com
celas individuais ou camaratas, os
presos cruzam-se, contactam-se de
muito perto e partilham os mesmos
espaços onde fazem a higiene e se ali-
mentam. Muitos presos são Æsicamen-
te vulneráveis, têm idades avançadas
ou padecem de doenças crónicas.
Neste contexto, os próprios juízes
de execução de penas, que frequen-
temente medem o pulso ao ambiente
que se vive nas prisões, pela frequên-
cia com que contactam com os pre-
sos, nos conselhos técnicos em que
são decididas as liberdades condicio-
nais ou as saídas de alguns dias a casa,
defendem a redução da população
prisional — dando um perdão a 1500
— com efeitos imediatos na situação
de emergência que o país atravessa.
No próprio meio judicial reconhe-
ce-se que o sistema prisional, a ser
atingido pela covid-19, será não ape-
nas um foco de tensão e descontro-
lo, mas será “uma bomba-relógio”
pela rapidez com que a doença se
propagaria.
Assim, e numa altura em que se
aguarda uma tomada de posição da
ministra da Justiça, Francisca van
Dunem, sobre a matéria, como a
própria garantiu em entrevista à
SIC no domingo, uma solução deve-
ria passar por ponderar o respeito
pela saúde dos reclusos e a seguran-
ça da sociedade, explicou ao PÚBLI-
CO um magistrado que fala em
nome dos cerca de 20 juízes de exe-
cução de penas enquanto ponto de
contacto junto do Conselho Supe-
rior da Magistratura.
Criar mais espaço entre os reclu-
sos que Æcam dentro da prisão, ali-
viando os números dos presos que
Æcam, seria um dos objectivos, mas
também garantir, para aqueles que
não pudessem sair, uma zona restri-
ta onde tenham maior protecção os
mais velhos ou vulneráveis.
Seria um perdão de pena baseado
nas questões humanitárias e de saúde
O sistema prisional português tinha no final de 2019 perto de 12.800 reclusos
pública, e que excluiria os condena-
dos por violência doméstica, o abuso
de menores e restante criminalidade
sexual, o homicídio, os tráÆcos de
droga agravados, bem como a crimi-
nalidade altamente organizada.
Não seria uma amnistia, mas um
perdão com base legislativa, sempre
sujeito ao crivo judicial. “Como deci-
são jurisdicional, teria de passar pelo
controlo dos tribunais”, diz o juiz de
execução de penas.
Um leque de situações
No leque de situações das pessoas
potencialmente abrangidas por este
perdão, estariam em primeiro lugar
todas aquelas que cumprem penas
subsidiárias, de substituição de mul-
ta por pena de prisão. Só isso permi-
tiria retirar 300 ou 400 pessoas.
A estes juntar-se-iam todas as
penas de reclusos a poucos meses de
Perdão de pena
excluiria,
por exemplo,
os condenados
por violência
doméstica e abuso
de menores
serem libertados. Além disso, e como
existem muitas penas curtas (por
exemplo 10 ou 12 meses), as pessoas
que já tivessem cumprido parte delas
seriam abrangidas por uma medida
de clemência deste tipo. Somando-se
estas situações, poder-se-ia apontar,
segundo a mesma fonte, para uma
redução de 1500 reclusos num uni-
verso de cerca de 12.800.
Haveria ainda os reclusos que já
transitaram para uma pena em regi-
me aberto, em que saem para traba-
lhar e dormem na prisão, ou os que
deixam por uns dias a sua cela em
saídas precárias, defende Manuel
Almeida dos Santos, fundador e pre-
sidente da Obra Vicentina de Auxílio
aos Reclusos que venceu o Prémio
dos Direitos Humanos da Assembleia
da República de 2018.
A expectativa é grande entre os
familiares dos reclusos, como diz
Manuel dos Santos, e também para
pessoas como ele, com um trabalho
no terreno de muitos anos através das
visitas e apoio aos presos.
“Alguns já manifestam a sua insa-
tisfação e revolta face a uma medida
que só beneÆcie uma parte”, diz
Manuel dos Santos, que interrompeu
as visitas às cadeias mas mantém con-
tactos telefónicos com presos.
A diferença no tratamento seria
percepcionada como uma injustiça,
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 23
ADRIANO MIRANDA
insiste. Por isso, exorta os decisores
políticos a ponderarem uma iniciativa
legislativa que teria o mesmo efeito
de reduzir a população prisional, mas
inclusiva, ou seja, que retire a todos
uma mesma percentagem da pena,
que “podia ser 25% ou 50%”, diz.
Uma medida destas resultaria, da
mesma forma, na saída dos que cum-
prem penas mais curtas.
Uma decisão destas contribuiria
para solucionar um problema na
situação de emergência que o país
atravessa, mas também para tirar
Portugal do topo da lista dos países
europeus com as penas mais longas.
De acordo com as mais recentes
Estatísticas Penais Anuais do Conse-
lho da Europa, publicadas em Março
de 2018, mas relativas a Dezembro
de 2016, Portugal apresentava os
tempos médios mais longos dos paí-
ses do Conselho da Europa. Entre
todos, a média era de 8,5 anos. A
lista de países com duração média
mais longa de prisão era encabeçada
por Portugal (30,7 meses).
O juiz ouvido pelo PÚBLICO não
considera tal medida possível. Terá
de ser “um perdão aplicado com pon-
deração, sem matar a Ænalidade das
penas” e sem esquecer uma aceitação
aos olhos da sociedade.
acordeiro@publico.pt
SOCIEDADE
Breves
Justiça
Portugal condenado
por violação de direito
de acesso a tribunal
O Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem (TEDH)
considerou que foi violado o
direito de acesso ao tribunal,
após acções de dois cidadãos
portugueses, e condenou o
Estado a pagar 3300 euros a
cada um dos requerentes.
Numa decisão tornada
pública ontem, o TEDH
considerou que, nos dois
casos, o Constitucional
demonstrou “formalismo
excessivo” na aplicação das
disposições legislativas nos
recursos, tendo privado “os
requerentes do seu direito de
acesso a um tribunal”. No
caso que opõe Santos Calado
ao Estado português, foi
decidido que a abordagem do
TC foi “excessivamente
formalista”.
Felgueiras
GNR apreendeu
armas em caso de
violência doméstica
A GNR anunciou ontem que
apreendeu duas armas de
fogo e munições a um
homem de 58 anos, por
violência doméstica, no
concelho de Felgueiras. Em
comunicado, aquela força
policial revelou que a acção
foi efectuada no seguimento
de uma denúncia a relatar
que estariam a decorrer
agressões numa residência.
“Os militares foram ao local
onde estavam o suspeito e as
vítimas, ex-mulher e filha,
sem que, no entanto, se tenha
verificado qualquer incidente
durante a sua presença”,
lê-se no comunicado. No
seguimento das diligências
foram apreendidas, como
medida cautelar, duas armas
de fogo, uma arma de ar
comprimido, 750 munições e
um coldre.
24 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
LOCAL
Carnaxide tem um pequeno
pulmão que dá para todos
Cidadãos de Oeiras estão a movimentar-se para proteger a serra de Carnaxide, argumentando que a sua
mancha verde é fundamental para toda a Grande Lisboa. Câmara planeia lá plantar 12.500 árvores
Oeiras
João Pedro Pincha
A subida começa sem grande esforço,
por entre pinheiros baixos, e vai-se
tornando progressivamente mais
íngreme à medida que também a
vegetação muda e os pinheiros dão
lugar a arbustos. Ao atingir uma
pequena clareira, Eugénio Sequeria
põe-se a remexer no solo com as mãos
e depois vira-se para um carrasco,
arbusto aparentado a carvalho que
por ali há em abundância, e rouba-lhe
uma folha. O grupo faz uma pausa na
caminhada, repousa o corpo e o olhar
consola-se: o estuário do Tejo mostra-
se em pleno.
“A serra de Carnaxide é vital”, resu-
me Eugénio Sequeira, especialista em
solos e ambiente que durante muitos
anos esteve à frente da Liga para a
Protecção da Natureza. A pausa pro-
longa-se, enquanto a paisagem se
entranha. Com um gesto de mãos,
Daniel Martins acrescenta: “À volta
desta área temos um terço da popula-
ção portuguesa. Isto não é uma ques-
tão local, é uma questão nacional.”
Daniel é o primeiro subscritor da
petição “Preservar a Serra de Carna-
xide”, lançada em Dezembro no site
da Assembleia da República e mais
recentemente na plataforma Petição
Pública. Habituado a ter a serra como
vizinha, este consultor informático
começou há vários anos a movimen-
tar-se para forçar os poderes públicos
a comprometerem-se por aquela
área, uma das poucas na Grande Lis-
boa onde a urbanização não chegou
ainda em força. “Há aqui uma opor-
tunidade de acção. Este espaço é
necessário para as populações e não
só para meia dúzia de pessoas.”
Partilhada entre os concelhos de
Oeiras e Amadora, a serra de Carnaxi-
de está já urbanizada na vertente nor-
te (Amadora), onde está a nascer o
empreendimento habitacional SkyCity
e outros estão previstos. Mas a sul con-
tinua relativamente “selvagem”, ainda
que também por aqueles terrenos
exista um grande apetite imobiliário.
Desde 1994 que a Câmara de Oeiras
tem em vigor o Plano de Urbanização
do Parque Suburbano da Serra de Car-
naxide, que prevê um parque de cam-
Já em tempos de quarentena, um retroescavadora andou a abrir caminhos para plantar árvores
pismo, um parque aquático, um hotel,
um centro hípico, uma zona de lazer,
uma exploração agro-pecuária, zonas
para equipamentos e uma zona habi-
tacional. De tudo isto apenas a última
foi construída.
A autarquia, que garante que “ao
longo dos anos já adquiriu cerca de
40 hectares” da serra e “tem vindo a
desenvolver acções para a preserva-
ção” do espaço, agendou para a sema-
na passada a plantação de 12.500
árvores, que entretanto foi adiada
devido à crise da covid-19. Um dia
antes da data prevista, uma retroes-
cavadora andou pela serra a abrir
caminhos e dezenas de marcos de
madeira foram colocados no chão,
“Há três zonas
que ainda
mantêm alguns
ecossistemas
naturais: a serra
de Sintra, Monsanto
e Carnaxide”
relata Daniel Martins. A câmara diz
que foi um trabalho preparatório para
a plantação. A Inspecção-Geral da
Agricultura, do Mar, do Ambiente e
do Ordenamento Território (IGA-
MAOT) conÆrmou ao PÚBLICO ter
recebido uma denúncia, reencami-
nhada para a autarquia e para a
Comissão de Coordenação e Desen-
volvimento Regional (CCDR).
Importância metropolitana
“Independentemente do anúncio da
plantação de árvores, que é positivo,
a nossa agenda e foco não mudam”,
garante Daniel Martins, que conse-
guiu trazer para a sua luta várias Ægu-
ras de proa da defesa do ambiente
em Portugal. Uma delas é Filipe
Duarte Santos, especialista em alte-
rações climáticas e presidente do
Conselho Nacional do Ambiente e do
Desenvolvimento Sustentável , que
atribui grande importância à serra
de Carnaxide dentro da Grande Lis-
boa. “Há três zonas que ainda man-
têm alguns ecossistemas naturais: a
serra de Sintra, Monsanto e Carnaxi-
de. Os três formam uma linha, repre-
sentam um corredor ecológico.”
DR
A serra tem “espécies interessantes
do ponto de vista da botânica e da
fauna” e é “reconhecida há muito
tempo como importante pelos seus
solos e recursos hídricos”, aponta
Duarte Santos, acrescentando que,
com o panorama climático que se
avizinha, “a probabilidade de haver
chuvas mais pronunciadas é elevada
e uma excessiva urbanização aumen-
ta o risco de inundações e cheias”.
É também o alerta de Ana Estela
Barbosa, engenheira do Ambiente.
“Sempre que impermeabilizamos
excessivamente, estamos a potenciar
situações de cheia e a sobrecarregar
as ETAR, porque toda a água precisa
de ser tratada”, diz. “As zonas verdes
têm de ser mantidas, preservadas e
geridas. Há um usufruto indirecto ao
nível da saúde pública e um directo,
pois cria-se uma zona de lazer e
aprendizagem ambiental, o que em
termos de justiça social é muito
importante, porque nem todos têm
a possibilidade de se deslocar muito
longe para terem espaços verdes.”
A pneumologista Cecília Longo tra-
balha no Hospital Amadora-Sintra, no
sopé da serra, e olha para ela como “o
pequeno pulmão” de uma zona em
que o betão domina por completo.
Nestes dias atarefados a combater a
pandemia, a médica sublinha a impor-
tância do contacto com a natureza
para reduzir os níveis de stress, melho-
rar a concentração, fazer exercício e,
mais simples, respirar ar puro. “A nível
de saúde pública só há benefícios.”
De Deus e dos homens
No lado oeirense da serra conhece-
se, para já, a intenção de construir
um complexo do SL BenÆca com
pavilhão de artes marciais e ginásti-
ca, um campo de râguebi com pista
de atletismo, um centro de massa-
gens, uma pista de corrida indoor,
uma piscina, um pavilhão desporti-
vo, um campo de futebol, restauran-
te, centro de reuniões, clínica, giná-
sio e um silo de estacionamento
com 540 lugares para automóveis.
Outros projectos foram anunciados
ao longo dos anos e até aprovados
pela autarquia, como é o caso da
Villa Cavallia, um empreendimento
de grande dimensão que teria um
hotel, apartamentos, comércio, lar
de idosos, clínica e um centro hípi-
co. Até agora, no entanto, nenhum
se concretizou.
Antes que isso aconteça, Daniel
Martins quer que o Estado tome uma
posição. “Acredito que haja muitos
decisores que, se tiverem todos os
dados em cima da mesa, podem
tomar decisões de preservação”, diz
Ana Estela Barbosa, lamentando que
“não esteja a haver uma integração
de valores reais” no debate público e
nas decisões tomadas.
Filipe Duarte Santos nota que “há
um distanciamento progressivo entre
as pessoas e a natureza”, pois aquelas
“têm pouca disponibilidade para
actuar, para se mobilizarem e para se
comprometerem”. É por isso, acres-
centa Daniel Martins, que tem promo-
vido constantes passeios e outros
eventos na serra. “A melhor defesa da
serra é as pessoas conhecerem-na.”
Antes de seguir caminho serra aci-
ma, Eugénio Sequeira sacode as mãos
e lança nova olhadela ao estuário, lá
em baixo. “Deus perdoa, os homens
às vezes, a natureza nunca”, vaticina.
joao.pincha@publico.pt

Concluir o Parque das Nações vai custar
25,5 milhões de euros e estão previstas uma
escola, pontes e uma linha de eléctrico
Lisboa
João Pedro Pincha
Com a Jornada Mundial
da Juventude a dois anos
de distância, a câmara
aprovou o plano para a área
que vai receber o evento
Estender o Parque do Tejo e do Tran-
cão até ao limite do concelho, reabi-
litar a estação ferroviária de Saca-
vém, construir ciclovias, uma linha
de eléctrico e duas pontes sobre o
Trancão. São estes os objectivos de
uma operação de reabilitação urba-
na que a Câmara de Lisboa aprovou
na semana passada para o topo nor-
te do Parque das Nações.
O plano, que se prevê concluído
daqui a oito anos, vai custar pelo
menos 25,5 milhões de euros e será
quase totalmente financiado pelo
orçamento municipal. A excepção é
a modernização da estação de Saca-
vém, que é responsabilidade das
Infra-Estruturas de Portugal e deverá
rondar os 1,5 milhões de euros.
Desde antes da realização da Expo-
-98 que está deÆnido que o Parque
do Tejo e do Trancão deve crescer
até às margens deste último e aí inter-
ligar-se com o parque que a Câmara
de Loures está a projectar para os
antigos terrenos da Petrogal. A deci-
são de realizar ali a Jornada Mundial
da Juventude ( JMJ), um evento cató-
lico que se espera que venha a atrair
um milhão de peregrinos, veio impor
mais urgência às duas autarquias.
Ao delimitar uma área de reabili-
tação urbana (ARU) num local em
que os poucos edifícios são relativa-
mente recentes e não precisam de
obras, a câmara quer sobretudo ter
nas mãos a arma legal que lhe permi-
ta ultrapassar burocracias mais facil-
mente.
O desaÆo maior a curto prazo, ali,
é a estabilização e reabilitação “pro-
funda” do aterro sanitário de Beiro-
las, por cima do qual vai nascer o
novo parque verde. Ele ocupará uma
parte substancial dos 92 hectares da
ARU. Segundo o documento agora
publicado em Boletim Municipal, a
intervenção no aterro e a construção
da primeira fase do que falta do par-
que deverão custar cerca de 6
milhões de euros.
Mas a fatia de leão do investimento
vai para a criação da já anunciada
Desde antes da realização da Expo-98 que está definido que o Parque do Tejo e do Trancão deve crescer
linha de eléctrico entre Santa Apoló-
nia e Sacavém, que dentro desta área
rondará os 14 milhões de euros. “Esta
nova ligação, que atravessa a área de
intervenção entre os seus limites sul
A linha de eléctrico e norte, permitirá assegurar ligações
rápidas e directas ao longo do corre-
entre Santa dor da frente ribeirinha oriental,
Apolónia ligando-se também às linhas Verme-
lha e Azul do metropolitano e com a
e Sacavém linha ferroviária nacional na Gare do
“permitirá Oriente e em Santa Apolónia”, lê-se
no documento.
assegurar ligações A sua concretização, no entanto,
rápidas e directas ainda não se vislumbra no futuro
próximo, porque a câmara tenciona
ao longo do primeiro levar a linha de eléctrico a
corredor da Santa Apolónia a partir da Baixa e só
depois ao Parque das Nações. Acon-
frente ribeirinha tece que não vai fazer essa obra sem
oriental, ligando-se que esteja construído um dos dois
grandes túneis de drenagem anun-
também ao ciados em 2015, cujo troço Ænal é
metropolitano precisamente em Santa Apolónia.
Para a criação da linha de eléctri-
e à linha co “é necessário coordenar a sua
ferroviária” entrada no concelho de Loures, por
Sacavém, estruturando um nó inter-
Boletim Municipal modal de âmbito local e suburbano
na Estação Ferroviária de Sacavém”,
argumenta o relatório da ARU, pon-
do muita ênfase na reabilitação des-
ta estação. Situado na linha do Nor-
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 25
RUI GAUDÊNCIO
te e servido pelos comboios da linha
da Azambuja, este é o apeadeiro fer-
roviário mais próximo da futura
zona da JMJ e também a Câmara de
Loures se tem batido para que tenha
obras até ao arranque do evento.
Outra obra necessária para a JMJ é
a construção de duas pontes sobre o
Trancão — uma rodoviária e outra
ciclo-pedonal. No plano apresentado
ao Vaticano, o recinto do evento está
localizado em ambas as margens, com
palco do lado de Lisboa e as zonas de
campismo e estacionamento do lado
de Loures. Estas duas pontes, que a
autarquia lisboeta se compromete a
erguer, têm um custo estimado de
quatro milhões de euros.
Não contabilizada no orçamento
já disponível, mas prevista no docu-
mento está também uma escola EB
2/3 para um dos lotes vagos.
A delimitação da ARU e os termos
da operação de reabilitação urbana
foram aprovados na câmara com a
abstenção de PCP e BE e o voto favo-
rável dos restantes partidos. Segue-
-se agora um período de consulta
pública e, no Æm, a assembleia muni-
cipal tem de pronunciar-se. Para já,
todos os trabalhos da assembleia
estão suspensos devido ao surto de
covid-19.
LOCAL
Batalha
faz queixa
contra
descargas
Ambiente
Cristiana Rocha Rodrigues
A denúncia identifica
potenciais responsáveis
por descargas poluentes
no concelho, sobretudo
na ribeira da Calvaria
Recentemente, foram registadas
duas fortes descargas com conse-
quências “devastadoras” para a fau-
na e Çora existentes na ribeira da
Calvaria, aÇuente do rio Lena. Para
o presidente do município da Bata-
lha, Paulo Batista Santos, “aproveitar
a situação de emergência nacional
face à covid-19, que está a mobilizar
todos os recursos das autoridades,
para realizar crimes ambientais des-
ta gravidade é inaceitável”.
A participação municipal já foi
apresentada junto do Serviço de Pro-
tecção da Natureza e do Ambiente
(Sepna) da Guarda Nacional Republi-
cana e seguirá queixa-crime para o
Ministério Público, esclarece a autar-
quia em comunicado. A denúncia
identiÆca potenciais responsáveis por
descargas poluentes no conselho,
sobretudo na ribeira da Calvaria.
Para além da responsabilização
criminal, o município quer que as
entidades licenciadoras do Ministé-
rio da Agricultura determinem a
cessação da actividade das explora-
ções “que estão a prejudicar grave-
mente o ambiente e a pôr em risco a
bacia hidrográÆca do Lis, principal
fonte de captação de água para o
consumo humano”.
“A declaração de estado de emer-
gência não signiÆcará a suspensão da
democracia e também não signiÆca
que estamos num Estado sem regras
ou valores ambientais”, aÆrma o
autarca. Paulo Batista Santos assegu-
ra que o município tudo fará para
que os responsáveis sejam crimina-
lizados e para que as suas condutas
sejam denunciadas, não só perante
a Justiça mas também perante a opi-
nião pública, “que tem o direito de
saber quem são estes empresários
sem escrúpulos que, numa fase mui-
to difícil da nossa vida colectiva,
aproveitam para ganhar dinheiro
sem qualquer respeito pela humani-
dade que os rodeia”. Texto editado
por Ana Fernandes
cristiana.rodrigues@publico.pt
26 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
ECONOMIA
“A pessoa tem um pé-de-meia
mas ele acaba”
As ondas da crise económica provocada pelo novo coronavírus
ainda só agora começaram a agitar-se, mas há já quem
sinta na pele efeitos dramáticos. Entre todos, aqueles que
estão em situações de maior precariedade laboral
Reportagem
João Pedro Pincha
A Rua da Senhora do Monte Æcou
silenciosa de um dia para o outro.
Os tuk-tuks percorriam-na de
manhã à noite a caminho do
famoso miradouro lisboeta, mas
desde há semanas que os turistas
quase desapareceram e as Ælas já
não são de triciclos, mas de
pessoas para o supermercado.
No clima como no turismo,
Março costuma ser um mês
morno: desperta frio e vai
aquecendo até se tornar ameno.
“A partir de meados do mês,
começava a animar um
pouquinho, vinham os primeiros
barcos de cruzeiro, os autocarros
de turismo, os espanhóis para a
Páscoa. Este ano, não vamos ter
nada”, prevê Rosa Pequeno.
Motorista de tuk-tuk em Lisboa há
quatro anos, Rosa decidiu há dois
lançar-se por conta própria e
comprou o seu próprio veículo,
que ainda está a pagar. A
pandemia de covid-19 apanhou-a
na pior altura.
“O Inverno é tramado na nossa
actividade. Não consegui fazer
almofadinha”, relata, dando conta
de três meses em que a procura
deu para ir vivendo e pouco mais.
“Janeiro ainda conseguimos
trabalhar de acordo com a
expectativa, que nunca é grande,
mas em Fevereiro já se notou uma
quebra e a primeira semana de
Março foi quase nula. Ainda
consegui fazer uns quatro
serviços, mas a cidade estava
vazia. E havia já uma retracção de
aproximação.”
Rosa decidiu encostar o tuk e ele
assim tem estado, não sabe
até quando. Num Março normal,
conseguiria mil e poucos
euros de facturação. “Neste
momento, estou sem nenhuma
fonte de rendimento”, diz, com
um riso nervoso, porque o
dinheiro não entra, mas as
despesas não param. Este ano
contava fazer uma amortização do
empréstimo que contraiu para
comprar o veículo. Perspectiva
agora que tal venha a ser
impossível. E, entretanto, as
prestações continuarão a cair
mensalmente. “Eu estou a prever
recomeçar a trabalhar em meados
de Maio”, aÆrma. É quando o
pé-de-meia se esgota.
Trapézio sem rede
As ondas da crise provocada pelo
novo coronavírus ainda só agora
começaram a agitar-se, mas
há já quem sinta na pele efeitos
dramáticos. Trabalhadores a
recibos verdes Æcam de repente
sem trabalho e empregados
de empresas são mandados
para casa em layoff, enquanto
outros são pressionados a tirar
férias ou mesmo despedidos,
numa crise que penaliza
primeiro os mais precários.
A situação de Iraci Bale é ainda
mais bicuda. Empregada
doméstica em casas de Oeiras e do
Janeiro ainda
conseguimos
trabalhar segundo
a expectativa, que
nunca é grande,
mas em Fevereiro
já se notou
uma quebra
e a primeira
semana de Março
foi quase nula
Rosa Pequeno
Motorista de tuk-tuk
Restelo, em Lisboa, está como
muitas das suas colegas de
proÆssão: não tem contrato, não
passa recibos, um dia tem trabalho
e no outro Æca descalça. Foi o que
lhe aconteceu este mês. “A maioria
das casas deixei a semana passada,
porque na maioria há idosos.
Neste momento, só estou indo a
uma”, conta. Resumo: “Se você
não vai, você não recebe.”
Numa semana normal, Iraci
passa as manhãs de segunda a
quinta na casa de um patrão e à
tarde vai a outras. Faz ainda
limpezas numa academia
desportiva. Ao Æm do mês,
consegue levar para casa uns 650
euros — agora evaporados. O
marido, que trabalha num
restaurante em Belém, está de
férias até meio da próxima semana
por indicação do patrão e
regressará no início de Abril para
servir refeições em regime de
take-away. Não é o cenário ideal,
pois está em casa desocupado,
mas sempre mantém algum
rendimento à família. “A renda é
cara, energia tem de se pagar na
mesma, está complicado”,
desabafa Iraci.
Se a sua angústia já era grande,
tem vindo a piorar nos últimos
dias. “Tenho uma viagem marcada
para o Brasil no dia 3. Ontem
Æquei uma hora e meia no telefone
para saber se tenho voo. Ninguém
atende. Vou ter de ir para o
aeroporto e ver o que acontece”,
lamenta.
Numa grande incógnita vive,
por estes dias, o assistente de
bordo Alfredo Martinho, que
habitualmente trabalha nos bares
dos comboios. “Fomos
dispensados do serviço no dia 19
por telefone”, diz, sublinhando
que ainda está à espera de saber
como será o seu futuro imediato.
O ordenado integral do mês de
Março está garantido porque a
folha salarial “fecha no dia 20”,
mas se a empresa suspender os
contratos (layoff), como Alfredo

Turismo começou
a ressentir-se
da falta de procura
antes do estado
de emergência
RUI GAUDÊNCIO
está convencido de que
acontecerá, o que vai receber em
Abril? Ou Maio? “Temos estado
constantemente a ligar para o
sindicato”, revela. Luís Trindade,
coordenador do Sindicato de
Hotelaria, Turismo, Restaurantes
e Similares do Sul, conÆrma que
tem recebido muitos telefonemas
de trabalhadores com dúvidas e
queixas.
Perdas abruptas
A suspensão dos contratos de
trabalho tem um efeito dominó.
“Já comunicámos às pessoas que
vai acontecer, a dúvida é quando
vamos activar”, diz um gestor de
recursos humanos que, por
motivos proÆssionais, prefere não
se identiÆcar. No caso do seu
sector, o das telecomunicações,
começam por entrar em layoff
“todos os trabalhadores do
retalho, das lojas”, que foram as
primeiras a parar totalmente por
força da declaração de estado de
emergência. “Fechando as lojas,
não precisamos de ter tanta gente
no departamento Ænanceiro”,
prossegue.
E aí por diante, talvez deixando
apenas de fora as pessoas que
fazem um trabalho técnico
especializado, indispensáveis para
manter os serviços mínimos.
Durante este período, a empresa
“paga a totalidade do ordenado ao
trabalhador [na realidade são dois
terços] e depois a Segurança
Social vem ressarcir”, explica a
mesma fonte, referindo-se aos
apoios às empresas que foram
publicados em Diário da
República. Sem expectativa de
receitas nos tempos mais
próximos, gerir a tesouraria da
empresa é um exercício de
equilibrismo. O mesmo se aplica,
neste caso especíÆco, aos
trabalhadores, sobretudo os das
lojas. Só o pagamento do
salário-base pode signiÆcar um
rombo de monta, pois a maioria
ganha o ordenado mínimo e conta
com uma parte variável, por via
das comissões de vendas, para
compor o rendimento ao Æm do
mês.
“Esta é uma daquelas situações
em que Æcamos todos a perder,
empresa e funcionários”, diz este
gestor de recursos humanos.
Igualmente à espera de apoio da
Segurança Social está Luísa, nome
Æctício de uma psicóloga que
trabalha para três instituições nos
distritos de Porto e Braga. O seu
caso é o típico “falso recibo
verde”, pois todas as semanas
presta serviço nas três entidades e
não tem vínculo contratual com
nenhuma. Como todas elas estão
relacionadas com crianças, as três
fecharam nas últimas semanas e
Luísa Æcou sem trabalho. Está
habituada a que assim seja
durante o Verão, quando termina
o calendário escolar; mais
preocupante é que isso aconteça a
meio do ano e quando já não falta
assim tanto para o Æm das aulas.
Ou seja, uma paragem de poucas
semanas pode converter-se num
interregno de meses.
“Se esta situação se mantiver
por muito mais tempo, vai ser
muito difícil de gerir”, admite
Luísa, mãe de uma menina com
menos de um ano — que agora está
em casa porque a creche fechou.
“Nem sei como é com a
mensalidade do próximo mês.
Ainda não recebemos qualquer
informação”, lembra-se, para
constatar de seguida que “os
encargos continuam”, apesar das
circunstâncias.
Já com a certeza de que não vai
ter remuneração em dois dos seus
empregos e sem direito a subsídio
de desemprego, Luísa espera que
o Estado a possa ajudar. “Vou
candidatar-me ao apoio a
trabalhadores independentes,
mas não é uma situação muito
fácil porque já sabemos como são
estas coisas, o tempo que
demoram a responder”, comenta.
A esperança na incerteza
Hoje, 1 de Abril, é também o dia
por que espera Sara Soares, stylist
de moda. É quando Æcarão
disponíveis os formulários da
Segurança Social para apoio
extraordinário aos trabalhadores
independentes que “se
encontrem em situação
comprovada de paragem da sua
actividade ou da actividade do
respectivo sector em
consequência do surto”.
É o caso de Sara. O seu trabalho
é vestir modelos para sessões
fotográÆcas ou Ælmagens, que
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 27
Há meses mais
complicados
e outros mais
favoráveis, actualmente “foram todas
estamos sempre suspensas”. A vida é-lhe sempre
uma viagem atribulada porque
no limbo. nunca sabe quantos clientes virão
Estou um pouco bater à porta. “Há meses mais
complicados e outros mais
assustada porque favoráveis, estamos sempre no
se isto durar limbo. Estou um pouco assustada,
porque se isto durar algum tempo
algum tempo vai vai ser complicado”, admite.
ser complicado. “A pessoa tem um pé-de-meia,
mas ele acaba.” O que a deixa mais
A pessoa tem tranquila, para já, é saber que
um pé-de-meia, ainda tem valores por receber de
trabalhos que já fez, porque
mas ele acaba geralmente é paga a 90 ou a 120
dias. “Quando começou este
Sara Soares
período de isolamento, tinha
Stylist de moda
uma sessão marcada para um
cliente chinês. Até queriam que eu
fosse a um centro comercial
A renda é cara, escolher roupas, mas já não fui.
a energia tem de se O meu trabalho é muito
presencial, é preciso ir a sítios,
pagar na mesma, mexer em coisas.”
está complicado Sara Soares tem também alguma
esperança de que a crise
Iraci Bale económica que se avizinha possa
Empregada doméstica até ser uma oportunidade. “Se
outros mercados começarem a
precisar da nossa ajuda, isso pode
ser bom para os proÆssionais que
trabalham as marcas.”
joao.pincha@publico.pt
PUBLICIDADE
CAIXA - BANCO DE INVESTIMENTO, S.A.
Sede: Av. João XXI, n.º 63, 1000 - 300 Lisboa
Capital Social: € 81.250.000,00
Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Lisboa com o número de
matrícula e de pessoa coletiva 501 898 417
Nos termos do disposto no artigo 110.º do Regime Geral das Ins-
tituições de Crédito e Sociedades Financeiras, aprovado pelo De-
creto-Lei n.º 298/92, de 31 de dezembro, publica-se a relação de
acionistas cuja participação excede 2% do capital social do Caixa
- Banco de Investimento, S.A..
Caixa Geral de Depósitos, S.A., titular de 76.415.985 ações corres-
pondentes a 94,050% do capital social.
Caixa - Participações, SGPS, S.A., titular de 4.645.066 ações cor-
respondentes a 5,717% do capital social.
Lisboa, 1 de abril de 2020
O Conselho de Administração
ESCOLHA OS FACTOS.
APOIE O PÚBLICO
Aponte para aqui a câmara
ou aplicação do seu
telefone e carregue
no link que aparece

OU CONTACTE-NOS
publico.pt/assinaturas/verdade

A verdade
assinaturas@publico.pt
808 200 095
(DIAS ÚTEIS DAS 9H ÀS 18H)

faz-nos
mais fortes
Quando os dias são de incerteza, o jornalismo do PÚBLICO é o
porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor.
Dê força à informação responsável que o ajuda a entender
o mundo, a pensar e a decidir. Escolha os factos.

Pense bem,
pense Público

EUA levantam sanções se Maduro
aceitar um governo de transição
Washington propõe executivo de unidade nacional, sem o Presidente e sem Guaidó, e eleições no Äm
do ano. Crise económica e ameaça do coronavírus são argumentos para convencer aliados do chavista
Venezuela
António Saraiva Lima
Uma semana depois de ter acusado
Nicolás Maduro, e outros dirigentes
venezuelanos, de envolvimento no
tráÆco de droga internacional e de
pôr sobre a cabeça do Presidente uma
recompensa de 15 milhões de dólares,
o Departamento de Estado norte-
americano apresentou ontem um
plano de transição democrática para
a Venezuela, que envolve a junção de
membros do Partido Socialista (PSUV,
no poder) e de adversários do regime
no mesmo governo e o aliviar das san-
ções económicas ao país.
A Administração Trump exige que
Maduro saia de cena e que permita
que a Assembleia Nacional — contro-
lada pela oposição ao chavismo e
liderada pelo autoproclamado presi-
dente interino, Juan Guaidó — “eleja
um governo de transição inclusivo e
aceitável para as principais facções”,
e organize e supervisione a convoca-
ção de eleições “livres e justas” nos
próximos seis a 12 meses.
O plano dos Estados Unidos sugere,
no entanto, que Guaidó não faça par-
te desse executivo de unidade nacio-
nal. Mas insta-o a candidatar-se ao
lugar de Maduro nas próximas elei-
ções. Até porque, sublinhou o secre-
tário de Estado norte-americano,
Mike Pompeo, a Casa Branca conti-
nua a reconhecer o presidente da
Assembleia Nacional como chefe de
Estado legítimo — tal como Portugal
— e vê-o como o candidato ideal.
“É o político mais popular da Vene-
zuela, se as eleições fossem hoje,
acredito que lhe correriam incrivel-
mente bem”, aÆrmou Pompeo.
“Quando iniciámos este caminho até
à democracia, trabalhámos aprofun-
dadamente com ele.”
Mais directo, o representante espe-
cial dos EUA para a Venezuela, Elliot
Abrams, revelou: “O nosso plano pre-
vê um governo de transição até às
eleições, nas quais Guaidó será o can-
didato dos partidos democráticos.”
Sobre a possibilidade de Maduro
também concorrer nessa eleição, des-
crita como “teoricamente” possível
por Abrams, num artigo de opinião,
publicado no Wall Street Journal,
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 29
MIGUEL GUTIERREZ/EPA
Pompeo foi claro: “Já deixámos bas-
tante claro, há algum tempo, que
Nicolás Maduro não voltará a gover-
nar a Venezuela.”
À escuta estava Juan Guaidó, que
no Æm-de-semana já tinha apresenta-
do a sua própria proposta para um
governo nacional de emergência, que
pudesse dar uma resposta à ameaça
do novo coronavírus na Venezuela.
“Falei com o secretário Pompeo
para agradecer o apoio dos EUA à
formação de um governo de emer-
gência e de um conselho de Estado
para resolver a crise”, escreveu no
Twitter. E apontou as baterias a Madu-
ro: “Que o usurpador assuma agora a
sua responsabilidade e aceite a oferta
da comunidade internacional.”
Covid-19 assusta
Intitulado Enquadramento de Transi-
ção Democrática para a Venezuela, o
plano americano propõe ainda a reti-
rada de “todas as forças de segurança
estrangeiras do país” — numa referên-
cia aos cubanos e russos que apoiam
Maduro —, a libertação dos “presos
políticos” e a substituição dos mem-
bros do Supremo Tribunal e do Con-
selho Nacional Eleitoral.
Face à enorme improbabilidade de
o Presidente aceitar estes e os outros
termos, os EUA procuram convencer
deputados e dirigentes do PSUV, bem
como os militares, a considerá-la.
O Departamento de Estado sugere
a criação de uma “comissão da verda-
de e da reconciliação” e promete aca-
Já deixámos
bastante claro, há
algum tempo, que
Nicolás Maduro
não voltará a
governar a
Venezuela
Mike Pompeo
Secretário de Estado dos EUA
Nicolás Maduro dificilmente aceitará a proposta dos EUA
MUNDO
bar com as sanções individuais aos
membros do Governo, se estes abdi-
carem dos seus cargos, mas aceita
que as cheÆas militares e os dirigentes
políticos estaduais e municipais pos-
sam manter os seus postos durante o
período de transição.
A grande arma de pressão norte-
americana é, ainda assim, a promes-
sa de levantamento das sanções à
economia venezuelana e, principal-
mente, as que incidem especiÆca-
mente sobre a exploração petrolífera
estatal — a principal fonte de rendi-
mento do país.
E face à crise sanitária que se avizi-
nha na Venezuela, por causa do novo
coronavírus, a Casa Branca acredita
no efeito de uma alteração das cir-
cunstâncias a seu favor.
Apontada há muito tempo como
um dos países da América do Sul mais
vulneráveis à propagação do corona-
vírus, devido à grave crise económica,
social e humanitária em que se encon-
tra, à Venezuela falta-lhe quase tudo
para combater a pandemia.
Há escassez de medicamentos nas
farmácias, o sistema de Saúde está
muito debilitado pela falta de meios
e de investimento e a capacidade do
Estado para impor medidas de qua-
rentena e de isolamento social à
população adivinha-se complicada,
tendo em conta a quantidade de pes-
soas que depende da economia infor-
mal para sobreviver.
Todos estes riscos são potencial-
mente multiplicados quando a pobre-
za em algumas cidades e regiões do
país é extrema, quando as condições
de habitabilidade são reduzidas,
quando há falhas de distribuição e
produção alimentar e quando o Çuxo
de movimentações internas e exter-
nas é elevado — as organizações de
direitos humanos estimam que cinco
milhões de venezuelanos abandona-
ram o país nos últimos cinco anos.
“[O plano pretende] ajudar os
venezuelanos a escaparem da crise
nacional que a queda do preço do
petróleo e o coronavírus vieram apro-
fundar”, escreveu Abrams, no Wall
Street Journal. “Talvez esta pressão
possa levar a uma discussão séria
dentro do regime.”
antonio.lima@publico.pt
30 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020

CULTURA
Rodrigo Guedes de Carvalho:
“Como não desatar a chorar?”
Pela primeira vez em Portugal, um romance chega em formato digital antes da edição em papel. Mariana
Espantada é o novo livro do pivô que por estes dias admite um tom “mais coloquial” — mas sem moralismo
DANIEL ROCHA

Livros
Isabel Lucas
Com o mercado editorial e livreiro
quase parado, Rodrigo Guedes de
Carvalho surgiu ontem com um
romance novo em formato digital —
e-book e audiobook — e ainda sem data
para lançamento em papel. A inicia-
tiva é inédita em Portugal e só acon-
tece por se estar a viver um momento
de excepção. “Isto é tudo terrível,
mas acho que o formato áudio do
meu livro acabou por ganhar uma
relevância que provavelmente não
teria se estivéssemos na nossa vida
normal”, diz o jornalista e escritor
que tem estado em destaque neste
momento pouco “normal” enquanto
pivô do Jornal da Noite da SIC.
O romance chama-se Margarida
Espantada e tinha lançamento agen-
dado para este mês, numa edição
conjunta em papel e digital. A crise
gerada pela covid-19 alterou os pla-
nos, mas não inviabilizou a possibili-
dade de leitura do livro. “Estava tudo
previsto antes da hecatombe”, conta
Rodrigo Guedes de Carvalho, que, no
comunicado enviado pela editora aos
meios de comunicação social, descre-
veu o livro desta forma: “É sobre famí- O jornalista da SIC garante que não se tornou “um actor das notícias”: “Estou a dar as recomendações da Organização Mundial de Saúde”
lia. Sobre irmãos. É sobre violência
doméstica e sobre doença mental. É nos estão a acontecer e perguntarmos estou a dar as recomendações da de senso comum, de humanidade. intuitiva e confortável para mim.”
sobre um efeito dominó.” como é possível não desatar a chorar Organização Mundial de Saúde.” Dizer ‘Æque em casa se puder’ é mora- Não quis, por isso, actores nem
Ao PÚBLICO, é mais preciso: “Já o dia inteiro, não nos deixarmos cair Quanto à emoção, admite que “já lismo? Por amor de Deus!” declamadores. “Muitas vezes a poesia
tinha falado de violência doméstica de joelhos e desistir. Temos a capaci- houve um dia mais difícil”: “Mas acho é estragada por declamadores que
em dois romances, Canário [2007] e dade de prosseguir, como se vai veri- que me aguentei”, ressalva. “Não sou “Uma coincidência” transformam aquilo numa coisa mais
Mulher em Branco [2006], em casais Æcar agora com o que estamos agora um actor das notícias. Eventualmen- Dado o protagonismo que assumiu sobre eles do que sobre o texto, estão
que vinham de uma zona social mais a viver. Ela vive um acontecimento te, o que as pessoas estão a retirar de na casa dos portugueses nestes dias viciados em registos. Há a coincidên-
baixa. Aqui é a violência que vem da que a faz Æcar em carne viva e já não mim é mais um tom a que não estão de quarentena, é difícil descolar o cia de eu fazer audiovisual há muitos
alta burguesia e exploro os efeitos da consegue seguir.” habituadas. Não está tanto no conteú- jornalista do autor no momento em anos e ter prática de leitura — e depois
violência doméstica nos Ælhos; per- A menção àquilo que “estamos ago- do, mas na forma. Posso falar do que publica o seu sétimo romance. eu sei como é que se lê o livro.”
petuam-na ou lutam contra ela?” A ra a viver” remete necessariamente número de mortos e do número de Rodrigo Guedes de Carvalho diz tra- As gravações foram feitas no início
ideia ocorreu-lhe quando estava a ver para o papel de Rodrigo Guedes de infectados num tom que não soe a tar-se de uma coincidência, “feliz ou de Fevereiro, o livro foi impresso, e
“um documentário em que se falava Carvalho enquanto pivô do Jornal da sirene, e podem-se dizer as coisas infeliz”. “Escrevi o livro de Agosto a perante a decisão de não o distribuir
de doença mental” e alguém usou Noite da SIC em plena crise de covid- sem manipulação. O único caminho Novembro e entreguei-o na Dom surgiu a ideia de o disponibilizar digi-
uma expressão que Æxou: “Não se 19. Louvado por uns, criticado pelos que temos é andar no meio destas Quixote. Não gosto de editar no talmente. São seis horas e meia de
trata de estar desligado da realidade; que o acusam de estar a pisar as fron- duas coisas: sim, isto é muito grave, e Natal, mas para a Feira do Livro”, som em registo áudio, corresponden-
trata-se de uma pessoa assoberbada teiras do jornalismo, recorre ao exem- sim, isto um dia vai passar. Com per- conta, referindo que a ideia de fazer tes a cerca de 300 páginas escritas,
pela realidade ou pelo excesso de rea- plo internacional. “A grande maioria das, com sangue, com cicatrizes, mas um audiobook surgiu em Dezembro, que surgem numa altura em que se
lidade; vê tudo aquilo que nos vamos dos anchors — e quando digo anchors vai passar.” em conversa com os editores. A úni- discutem modos alternativos de dis-
habituando a ver, seguindo em frente. digo pessoas que fazem parte da vida O tom “mais coloquial” que admite ca exigência era que fosse ele a dar tribuição e de acesso não apenas a
Ela, a certa altura, é incapaz de seguir do espectador — está até a ser mais ter assumido não foi deliberado, voz ao romance. “Gosto de ler poe- livros, mas às artes no geral. E em que
em frente.” Chama-se Margarida, “a dura do que eu, com alertas de dedo sublinha. “Começou a sair e que acho sia e prosa em voz alta. Sempre que se equaciona se esta crise é momen-
tal Margarida espantada”. mais esticado. Não acho que o faça. que não tem nenhum problema. Não termino um capítulo, leio em voz tânea ou se veio alterar de modo mais
Que espanto aÆnal é o dela? “O Se as pessoas se derem ao trabalho de há nenhuma alteração de factos, não alta e apanho muitas malhas de substancial o modo de se ser especta-
espanto de olhar para as coisas que descodiÆcar o que digo, vêem que há nenhuma opinião. Há declarações escrita. Tornou-se uma coisa muito dor/leitor, e criador/distribuidor.

Breves
Música
Orquestra do Norte
com salários em
atraso desde Janeiro
Os 38 funcionários da
Orquestra do Norte têm em
atraso os salários de Janeiro,
Fevereiro e Março, denunciou
a comissão de trabalhadores,
pedindo à ministra da Cultura
que “não deixe acabar a
instituição”. A direcção da
Associação Norte Cultural,
entidade gestora da orquestra,
adiantou entretanto que “na
próxima semana haverá
condições” para pagar os
salários de Janeiro e Fevereiro,
e que tem feito esforços para
resolver as dificuldades de
tesouraria, fixando um valor
mínimo de contribuição dos
associados, na sua maioria
municípios. Em Janeiro, a
Norte Cultural já pedira um
reforço do apoio do Estado
“com carácter de urgência”.
Património
Sítios subaquáticos
dos Açores são
património europeu
O património cultural
subaquático dos Açores
recebeu ontem a classificação
de património europeu, pela
sua importante ligação “a
vários aspectos da história e
do comércio europeus do
século XVI ao XX”. A posição
estratégica do arquipélago na
rota da prata para a América
do Sul, no mercado de
escravos transatlântico, em
conflitos como a guerra da
independência americana e as
duas guerras mundiais, e
ainda a emigração para a
América foram alguns dos
aspectos valorizados pela
Comissão Europeia. O
património cultural
subaquático açoriano consiste
numa rede de 30 zonas de
mergulho centradas em
destroços datados entre os
séculos XV e XX.
As vendas da edição da Antígona terão descido “80%” após a publicação do livro do Clube do Autor
Edição “pirata” de 1984 gera
disputa entre duas editoras
Livros
Isabel Coutinho
A Antígona, que tem os
direitos de publicação em
Portugal até final do ano,
interpôs uma providência
cautelar ao Clube do Autor
Em livrarias online portuguesas como
a Wook, a Fnac.pt ou a Almedina,
estão disponíveis, ambas por 16
euros, duas edições do romance dis-
tópico 1984, de George Orwell, como
o PÚBLICO ontem conÆrmou. Uma
delas é da Antígona, que, explica o
editor Luís Oliveira, “editou este livro
em 1990, sendo detentora dos direi-
tos autorais, exclusivamente para
Portugal, até 31 de Dezembro de
2020”. A outra foi lançada em Março
pela editora Clube do Autor com um
prefácio do escritor José Rodrigues
dos Santos. Para fazer valer os seus
direitos, a Antígona já interpôs uma
providência cautelar a pedir a retira-
da do livro de circulação, impedindo
a sua venda.
“Esta edição é pirata. O decreto
sobre a entrada no domínio público
de um autor, depois de passarem 70
anos após a sua morte [Orwell mor-
reu a 21 de Janeiro de 1950], não con-
tém nenhuma ambiguidade, é claro.
[A obra] passa ao domínio público no
Æm do ano em que se completam os
70 anos da morte do autor”, explica
Luís Oliveira, citando o artigo 31.º do
Código do Direito de Autor e Direitos
Conexos (Decreto-Lei n.º 63/1985), e,
mais especiÆcamente, o artigo 3.º do
Decreto-Lei n.º 334/1997, que acres-
centa que “a caducidade só opera
após o dia 1 de Janeiro do ano seguin-
te àquele em que o prazo se comple-
tar”.
Luís Oliveira adiantou ao PÚBLICO
que recebeu ontem do seu advogado,
Francisco Teixeira da Mota, a infor-
mação de que o Clube do Autor “já foi
citado” e que está agora a decorrer o
prazo de dez dias para esta editora se
opor à providência cautelar. Acres-
centa que, com o aparecimento da
edição do Clube do Autor, a Antígona
teve “uma quebra imediata de 80%
nas vendas”. Para o editor, “esta mon-
tagem do Clube do Autor é uma afron-
ta à Antígona, que há 30 anos se dedi-
ca à obra de George Orwell acrescen-
tando em cada livro documentos,
prefácios, estudos, ensaios”. O catá-
logo da editora de Luís Oliveira tem
sete títulos deste autor, além de uma
biograÆa escrita pelo autor inglês
John Newsinger. “Dediquei muitos
anos a ler e a reÇectir sobre a obra
monumental de Orwell, tendo pros-
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 31
DR
seguido, com paixão, a publicação de
outros títulos, muitos deles desconhe-
cidos dos leitores portugueses”, subli-
nha o editor. “Em síntese, houve uma
dedicação do editor a um autor que
o apaixonou e continua a apaixoná-
lo”, acrescenta ainda.
Antes da declaração do estado de
emergência actualmente em vigor, a
edição em papel do Clube do Autor
chegou a estar à venda Æsicamente
nas livrarias. No entanto, já ontem, a
pesquisa pelo nome do autor ou pelo
título do livro no site oÆcial do Clube
do Autor revelava-se improcedente,
não havendo qualquer referência à
obra ou ao autor britânico no catálo-
go online da editora.
O PÚBLICO tentou ouvir durante
toda a tarde de ontem o responsável
pelo Clube do Autor sobre este assun-
to, mas tal não foi possível, uma vez
que estava incontactável em reunião.
Mais tarde, a assessoria de imprensa
da editora não atendeu os telefone-
mas do PÚBLICO, nem respondeu às
mensagens.
A partir de Janeiro, quando a obra
de George Orwell entrar no domínio
público, outras editoras portuguesas
vão reeditar 1984, entre elas a Relógio
D’Água, que já o anunciou publica-
mente.
isabel.coutinho@publico.pt
CULTURA
Morreu a
linguista
Maria Helena
Mira Mateus
Obituário
A linguista e professora catedrática
Maria Helena Mira Mateus morreu
anteontem, aos 88 anos. Jubilada da
Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa (FLUL), chegou a ser vice-
reitora da instituição entre 1986 e
1989.
Nascida em Carcavelos a 18 de
Agosto de 1931, Maria Helena
Farmhouse da Graça Mira Mateus
licenciou-se em Filologia Românica
na FLUL, em 1954, e doutorou-se em
Linguística Portuguesa na mesma
universidade em 1974, tendo concluí-
do quatro anos mais tarde a sua agre-
gação. Ali leccionou entre 1965 e
2000.
Ao longo da sua carreira, interveio
em várias áreas, entre as quais as
políticas da língua e o ensino do por-
tuguês, quer como língua materna
quer como língua não materna e em
contexto multilinguístico. Foi funda-
dora e presidente da direcção da
Associação de Professores de Portu-
guês, da Associação Portuguesa de
Linguística e do Instituto de Linguís-
tica Teórica e Computacional
(ILTEC), e dirigiu a Revista Interna-
cional de Língua Portuguesa desde o
seu primeiro número, publicado em
1988, até 1997. Deve-se-lhe a criação,
no âmbito do ILTEC, do grupo Lín-
Maria Helena
Mira Mateus
foi vice-reitora
da Faculdade
de Letras
da Universidade
de Lisboa
gua e Diversidade Linguística, que
desenvolveu, entre outros, o projec-
to A Turma Bilingue.
Co-autora da Gramática da Língua
Portuguesa que teve a sua primeira
edição em 1983, publicou em 2018
um livro de memórias, Uma Vida
Cheia de Palavras (Edições Colibri),
em que passava em revista a sua vida
pessoal e familiar, mas também a sua
autodescoberta enquanto linguista
”num país onde a tradição impunha
a análise Ælológica” — da escolha da
fonética enquanto área de estudo
privilegiada à inÇuência de Noam
Chomsky, o teórico da Gramática
Generativa, linha de investigação a
que viria também a dedicar-se.
PÚBLICO/Lusa
32 • Público ClassiÄcados • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
 Público ClassiÄcados • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 33

Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares
e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Câmara Municipal de Valongo
Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional, especificamente Aviso (Extrato)
constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e EDITAL N.º 46
cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país. Procedimento concursal comum de recrutamento urgente para
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio “Plano de Mobilidade Urbana Sustentável - Correção de
domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade. descontinuidades - Rua Nossa Senhora do Amparo - Alfena” preenchimento de 1 (um) posto de trabalho na categoria de
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento assistente da carreira médica, na área da medicina geral e familiar
mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais José Manuel Ribeiro, Presidente da Câmara Municipal de Valongo,
recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, faz público que:
– especialidade de Medicina Geral e Familiar
efeitos, profilaxia e tratamentos.
Nos termos do art.º 21.º da Lei n.º 168/99, de 18 de Setembro Faz-se público que se encontra aberto o seguinte procedimento concursal co-
Contactos: (Código de Expropriações), foi no passado dia 09 de março de mum, de recrutamento urgente, para constituição de relação jurídica de emprego
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
2020, realizada a vistoria “ad perpetuam rei memoriam” à parcela privado sem termo, cujo contrato será celebrado nos termos do Código do Tra-
Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa designada por “2” pertencente a Manuel Andrade Martins e Rosa balho e demais legislação laboral privada aplicável:
Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia Rocha da Veiga Martins, pelo que se encontra nesta Edilidade,
2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org disponível para consulta na Divisão de Projetos, Obras e Mobilidade, 1 - Entidade contratante: Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira, E.P.E.;
Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim o respetivo relatório da vistoria. 2 - Número e Caracterização do posto de trabalho a ocupar: 1 (um) posto de
- Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente Nestes termos, vai proceder-se em conformidade com o preconizado trabalho, para a categoria de assistente da carreira médica, da área da medici-
n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org na citada lei, a fim de se efetuar a posse administrativa da parcela na geral e familiar – especialidade de Medicina Geral e Familiar, cujo conteúdo
Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês, Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal
- Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org acima, com vista à concretização da obra. funcional corresponde ao estabelecido no n.º 1 da cláusula 11.ª do Acordo de
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha 3810 Aveiro, Telefone: 234 940 480
- E-mail: geral.aveiro@alzheimerportugal.org Valongo e Paços do Concelho, aos 19 de março de 2020 Empresa publicado no JORAM, n.º 4, III.ª série, de 17 de fevereiro de 2016 e no
Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional
da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal, Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org O Presidente - Assinatura Ilegível n.º 1 do artigo 7.º-B do DL n.º 176/2009, de 4 de agosto aditado pelo DL n.º 266-
D/2012, de 31 de dezembro.
3 - Área de formação académica e/ou profissional exigida: licenciatura ou mestra-

✝
Cova da Piedade do integrado em Medicina e grau de especialista em Medicina Geral e Familiar,
ter concluído o respetivo internato médico na época setembro/outubro de 2019 e
ter ocupado uma vaga preferencial pertencente à Região Autónoma da Madeira,
bem como ter inscrição como membro efetivo na Ordem dos Médicos com a
AVISO situação devidamente regularizada;
4 - Prazo de candidatura: A candidatura deverá ser efetuada por correio eletróni-
Venda da participação do sector público no capital social da empresa co, no prazo de 5 (cinco) dias úteis contados da publicação do presente aviso na
Naval Canal – Estaleiros de Construção e Reparação Naval, Lda. 2.ª Série do Diário da República, para o seguinte endereço de correio eletrónico:
dgrh@sesaram.pt;
A Portos dos Açores, S.A. informa que, de acordo com o Anúncio n.º 5 - Publicação Integral: O Aviso Integral encontra-se publicado no Diário da Re-
1/2020/A, publicado no Diário da República, 2.ª Série – Parte F, n.º 62, pública, 2.ª Série, n.º 64, de 31 de março de 2020, como Aviso n.º 13/2020/M e
de 27 de março de 2020, se aceitam propostas, em carta fechada e la- disponibilizado na página eletrónica do SESARAM, E.P.E., em www.sesaram.pt
crada, até às 17:00 horas do dia 13 de maio de 2020, para compra das - Documentos – Recursos Humanos – Ofertas de emprego.
três quotas, no valor nominal agregado de € 25.000,00, representativas
de 100% do capital social da Naval Canal – Estaleiros de Construção
e Reparação Naval, Lda., sita em Estaleiro Naval – Porto da Madalena,
freguesia e concelho da Madalena, ilha do Pico (Açores), na titularida-
de desta administração portuária dos Açores.
EMPREGO
Manuel António Valente de Almeida
As ‘Condições Gerais’ que regem o procedimento negocial e demais
FALECEU
IATESTORE, LDA, participa o falecimento de seu Sócio Gerente e que
o funeral se realizou dia 31/03/2020 pelas 14:00 horas da igreja Matriz -
documentação encontram-se à disposição dos interessados na sede
da Portos dos Açores, S.A., sita na Avenida Gago Coutinho e Sacadura
Cabral, n.º 7 – 9900-062 Horta, efetuando-se a abertura das propostas,
em sessão pública, no dia 14 de maio de 2020, às 15:00 horas, no
PESQUISE EMPREGO AQUI
Cova da Piedade para o Cemitério de Almada. A IATESTORE agradece
a todos aqueles que de alguma forma manifestaram o seu pesar.
mencionado edifício sede da Portos dos Açores, S.A.. INSCREVA-SE EM EMPREGO.PUBLICO.PT
30 de março de 2020
Agência Funerária Borges
EM PARCERIA COM
Servilusa - Número Verde Grátis 800 204 222
Serviço Funerário Permanente 24 Horas O Presidente do Conselho de Administração
Miguel António Moniz da Costa

CONHEÇA AS NOSSAS COLECÇÕES DE

MÚSICA, LITERATURA, CINEMA, BANDA DESENHADA, HISTÓRIA E VINHOS

MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010

FARMÁCIAS
Lisboa - Serviço Permanente Nova Portas de Benfica , Vaz Martins Ansião - Carrasqueira (Montalvo) Coruche - Montemor-o-Novo - Novalentejo Montijo - Sucrs Santiago do Cacém - Jerónimo São
Morais Sarmento - Rua St Marta, 16-A - Tel. Medeiros (Avelar) , Rego (Chão de Couce), Misericórdia Covilhã - Mendes Cuba - Da Nova Circular Mora - Canelas Pais (Cabeção) , Brás de Alportel - São Brás Sardoal -
213546490 Palma (Arco do Cego - Estefânia) - Pires (Santiago da Guarda) Arraiolos - Vieira Misericórdia Elvas - Costa Entroncamento - Falcão, Central (Pavia) Moura - Rodrigues Passarinho Serpa -
Rua D. Estefânia, 197 B-C - Tel. 213547088 Arronches - Batista , Esperança (Esperança/ António Lucas Estremoz - Godinho Évora - Mourão - Central Nazaré - Ascenso , Maria Central Sertã - Farinha (Cernache do
Sacramento (Chelas - Av. Dr. Aug.) - Rua Actriz Arronches) Arruda dos Vinhos - Da Misericórdia Faro - Almeida , Da Penha Ferreira Orlanda (Sitio da Nazaré) Nisa - São Damião Bonjardim) , Confiança Sesimbra - Leão
Palmira Bastos, Castro Lote 42 - Tel. Misericórdia Avis - Nova de Aviz Azambuja - do Alentejo - Singa Ferreira do Zêzere - Óbidos - Vital (Amoreira/Óbidos) , Senhora da Setúbal - Marques , Tavares da Silva Silves -
218590904 Sírius (Bairro Azul) - Rua Fialho de Dias da Silva , Miranda, Peralta (Alcoentre), Graciosa , Soeiro, Moderna (Frazoeira/Ferreira Ajuda (Gaeiras), Oliveira Odivelas - Central Edite Sines - Monteiro Telhada (Porto Covo) ,
Almeida, 38-A - Tel. 213876700 Ferreira Camilo (Manique do Intendente) do Zezere) Figueiró dos Vinhos - Campos Odivelas , de Caneças (Caneças) Oeiras - Central Sintra - Central (Cacém) , Idanha
Outras Localidades - Serviço Permanente Barrancos - Barranquense Batalha - Moreira (Aguda) , Correia Suc. Fronteira - Costa Coelho Sacoor Oleiros - Martins Gonçalves (Estreito - (Idanha), Vitória (Mem Martins) Sobral Monte
Abrantes - Silva Alandroal - Santiago Maior , Padrão , Silva Fernandes (Golpilheira) Beja - Fundão - Diamantino Gavião - Mendes (Belver) Oleiros) , Garcia Guerra, Xavier Gomes Agraço - Moderna Sousel - Mendes Dordio
Alandroalense Albufeira - Albufeira Alcácer do Oliveira Suc. Belmonte - Costa , Central (Caria) , Pimentel Golegã - Lusitano Grândola - Costa (Orvalho-Oleiros) Olhão - Rocha Ourique - (Cano) , Andrade Tavira - Central Tomar -
Sal - Misericórdia Alcanena - Ramalho Benavente - Miguens Bombarral - Franca Idanha-a-Nova - Andrade (Idanha A Nova) Nova (Garvão) , Ouriquense Pedrógão Grande Central Torres Novas - Central Torres Vedras -
Alcobaça - Holon Alcobaça Alcochete - Borba - Central Cadaval - Central Caldas da Lagoa - Lagoa Loulé - Nobre Passos (Almancil) - Baeta Rebelo Penamacor - Nova Peniche - Torreense Vendas Novas - Santos Monteiro
Cavaquinha , Póvoas (Samouco) Alenquer - Rainha - Maldonado Campo Maior - Central , Avenida, Maria Paula (Quarteira) Loures - Proença Pombal - Paiva Ponte de Sor - Varela Viana do Alentejo - Viana Vidigueira - Costa
Nobre Rito Aljustrel - Dias Almada - Magalhães Cartaxo - Central do Cartaxo Cascais - Das Saraiva , Lourenço (Sacavém) Lourinhã - Dias Portalegre - Chambel Suc. Portel - Vila de Rei - Silva Domingos Vila Franca de
Herd. Almeirim - Correia de Oliveira Fontainhas , da Madorna (Madorna), do Quintans (Foz do Sousa) , Liberal (Reguengo Misericordia Portimão - Arade Porto de Mós - Xira - Eduardo A. César , Estevão (Brejo) Vila
Almodôvar - Aurea Alpiarça - Aguiar Alter do Junqueiro (Parede) Castelo Branco - Ferrer Grande) Mação - Saldanha Mafra - Rolim (S. Lopes Proença-a-Nova - Roda , Daniel de Nova da Barquinha - Tente (Atalaia) , Carvalho
Chão - Alter , Portugal (Chança) Alvaiázere - Castelo de Vide - Freixedas Castro Verde - Cosme) , Nogueira (Venda do Pinheiro) Matos (Sobreira Formosa) Redondo - Holon (Praia do Ribatejo), Barquinha Vila Real de
Ferreira da Gama , Castro Machado (Alvorge), Alentejana Chamusca - Santa Catarina Marinha Grande - Central Marvão - Roque Redondo Reguengos de Monsaraz - Paulitos Santo António - Carmo Vila Velha de Rodão -
Pacheco Pereira (Cabaços), Anubis (Maçãs D. (Carregueira) , Joaquim Maria Cabeça Pinto Mértola - Nova de Mértola Monchique - Rio Maior - Ferraria Paulino Salvaterra de Pinto Vila Viçosa - Duarte Alvito - Baronia
Maria) Alvito - Nobre Sobrinho Amadora - Constância - Vila Farma Constância , Moderna Monforte - Jardim Magos - Martins Santarém - Francisco Viegas Ansião - Moniz Nogueira Ourém - Avenida
34 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020
FICAR
CINEMA
Terminal de Aeroporto
Fox Movies, 13h13
Inspirado num caso real, o Ælme
de Steven Spielberg narra a
história de Viktor Navorski (Tom
Hanks), cidadão de um país de
Leste que vai a caminho de Nova
Iorque. Quando desembarca no
Aeroporto Internacional JFK,
descobre que houve um golpe de
Estado no seu país e vê-se dessa
forma sem um passaporte válido.
Sem autorização para entrar nos
EUA, começa então a improvisar
os seus dias no terminal do
aeroporto.
O Dia a Seguir
TVCine Top, 18h05
O ano é 1946. Rachel Morgan
(Keira Knightley) chega a
Hamburgo para se reunir com o
marido, Lewis ( Jason Clarke), um
coronel inglês encarregue da
reconstrução daquele lugar, quase
totalmente destruído pelos
bombardeamentos da II Guerra
Mundial. Está estipulado que o
casal vá viver para um palacete
que foi propriedade de Stephen
Lubert (Alexander Skarsgård), um
alemão viúvo que ali tem vivido
com a Ælha pequena. Decidido a
fazer algo pelo futuro do país que
está a ajudar a reerguer, Lewis
toma a decisão de deixar Stephen
e a criança viverem com eles.
Contudo, este gesto de
generosidade trará consequências
devastadoras e irrevogáveis para
si e para a sua família. Um drama
de época realizado por James
Kent, cujo argumento, da autoria
de Joe Shrapnel e Anna
Waterhouse, tem por base a obra
homónima publicada, em 2013,
por Rhidian Brook.
DOCUMENTÁRIO
Hitler vs. Picasso: A obsessão
nazi pela arte
TVCine Edition, 15h25
O Ælme relata as pilhagens de
obras de arte levadas a cabo por
toda a Europa, durante a II
Guerra Mundial, por ordem de
um coleccionador compulsivo:
Hitler. Um dos mais ambiciosos
planos do líder nazi — que não
chegou a concretizar — era a
criação de um Führermuseum em
Linz, a sua cidade natal. Narrado
pelo actor Toni Servillo e
realizado por Claudio Poli, Hitler
vs. Picasso abre o Especial Cultura
Italiana. Seguem-se Tintoretto —
Um Rebelde em Veneza (às 17h05),
Michelangelo InÆnito (18h40),
Beautiful Things (20h20) e
Palombella Rossa (22h).
Os mais vistos da TV
Segunda-feira, 30
Jornal da Noite
Nazaré
Terra Brava
Televisão
lazer@publico.pt
Primeiro Jornal
Direito de Antena
FONTE: CAEM
RTP 1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da
Alegria 13.00 Jornal da Tarde 14.19
Outras Histórias 15.01 Solteira e Boa
Rapariga 15.29 A Nossa Tarde 17.30
Portugal em Directo 19.09 O Preço
Certo 19.59 Telejornal 21.00 Especial
Estado de Emergência 21.34 Joker
22.27 Cá por Casa com Herman José -
Especial Nélio e Idália 23.21 Cá por
Casa com Herman José - O Melhor da
Bambochata 0.12 Zulu 2.39 Janela
Indiscreta 3.33 Grande Entrevista:
Carlos Moedas 4.28 Televendas 5.59
Manchetes 3
RTP 2
6.32 Repórter África - 2.ª Edição 7.00
Espaço Zig Zag 13.06 Os Daltons 13.21
A Ilha dos Desafios 13.43 Chovem
Almôndegas 13.54 Folha de Sala 14.00
Sociedade Civil: Mentira 15.00 A Fé dos
Homens 15.34 Nada Será como Dante
16.00 Selva Viva 16.54 Espaço Zig Zag
20.37 Merlí 21.30 Jornal 2 22.04 Folha
de Sala 22.11 Não Há Segundas
Oportunidades 23.04 A Dança das
Máscaras 0.17 Alemanha 86 1.02
Sociedade Civil 2.03 Vígil 2.17 Euronews
5.27 Lisboa Azul 5.49 Os Nossos Dias
SIC
6.00 Edição da Manhã 9.05 Alô
Portugal 10.10 O Programa da Cristina
13.00 Primeiro Jornal 14.55 Amor
Maior 16.15 Júlia 18.15 Amor à Vida
19.15 Amigos Improváveis Famosos
19.57 Jornal da Noite 21.50 Nazaré
22.25 Terra Brava 23.20 Amor de Mãe
0.15 Passadeira Vermelha 2.00 Alô
Portugal 2.55 Amigos Improváveis
Famosos 3.40 Televendas
TVI
6.00 Batanetes 7.00 Notícias 8.00
Diário da Manhã 10.12 Você na TV!
13.00 Jornal da Uma 14.43 Destinos
Cruzados 16.15 A Tarde É Sua 19.13 Ver
p´ra Crer 19.57 Jornal das 8 21.47 Quer
o Destino 22.40 Na Corda Bamba
23.30 Casos da Vida 1.18 1000 à Hora
2.32 Mundo ao Contrário 3.00 Louco
Amor 3.28 Doce Tentação 3.58 Saber
Amar 4.30 TV Shop
TVCINE TOP
11.00 Operação Hummingbird 12.50
Johnny English Volta a Atacar 14.20 O
% Aud. Share
SIC 17,9 28,4
SIC 17,4 28,6
SIC 14,1 27,6
SIC
RTP1
12,7
11,3
28,0
19,7
Predador (2018) 16.10 Correio de
Droga 18.05 O Dia a Seguir 19.55 O
Muro 21.30 Uma Traição Necessária
23.15 Mile 22 0.55 Peppermint 2.40 O
Mistério da Ilha Flannan 4.30 O Último
Amor de Casanova
FOX MOVIES
9.46 Fort Bliss 11.32 Whiskey Tango
Foxtrot 13.13 Terminal de Aeroporto
15.20 Nunca Digas Nunca 16.45 A Vida
Acontece 18.17 Ride - Na Onda 19.46 A
Chefe 21.15 À Prova de Bala 22.59
Corruptor 0.49 Colateral 2.37 Patriota
4.04 Morte Súbita
CANAL HOLLYWOOD
9.10 O Verão da Minha Vida 10.45 Os
Simpsons: O Filme (VO) 12.15 Coração
de Cavaleiro 14.30 Peso Pesado (2012)
16.15 Crónica 17.40 Os Três Duques
19.30 Armadas e Perigosas 21.30 Thor
23.25 The Grey - A Presa 1.20 Jacuzzi -
O Desastre do Tempo 3.00 Como Ser
Solteira 4.50 300
AXN
13.17 Mentes Criminosas 14.02 Chicago
Fire 15.37 V de Vingança 17.49 Red 2 -
Ainda Mais Perigosos 19.45 Homem de
Aço 22.05 The Rookie 22.57
Reckoning: Ajuste de Contas 23.42 No
Limite da Ilusão 1.32 Chicago Fire 3.02
The Brave 5.10 Mentes Criminosas
AXN MOVIES
13.44 Hancock 15.30 Anaconda 17.00
Capitão Phillips 19.12 Limite Vertical
21.15 O Lado Selvagem 23.42 Depois
da Terra 1.21 Distrito 9 3.04 Machete
4.42 Frankenstein de Mary Shelley
AXN WHITE
13.01 The Halcyon 13.51 Flores de Aço
(2012) 15.21 Namorando com o Perigo
(2016) 16.49 A Girl Like Me: The Gwen
Araujo Story 18.24 Mentes em Conflito
19.55 Inesquecível 21.25 The Halcyon
22.15 TalhotBlond 23.46 The Halcyon
0.36 Flint 2.05 A Teoria do Big Bang
3.17 Inesquecível 4.02 O Mentalista
5.32 Young Sheldon
FOX
9.37 Hawai Força Especial 11.08
Chicago P.D. 14.12 Investigação
RTP1 11,2%
% INFORMAÇÃO
RTP2 1,1
SIC 20,1
TVI 13,4
Cabo 39,0
Criminal: Los Angeles 15.44 Hawai
Força Especial 17.16 C.S.I. Miami 18.52
Investigação Criminal: Los Angeles
20.27 Hawai Força Especial 22.15 FBI
23.05 Segurança Nacional 0.00
Predadores 1.54 C.S.I. Miami 4.47
Investigação Criminal: Los Angeles
FOX LIFE
9.48 Nora Roberts: Fumo Azul 11.24
Anatomia de Grey 12.56 The Resident
13.43 Chicago Med 14.25 Vow of
Violence 15.53 Nora Roberts: Tributo
17.29 Romance Retreat 19.07 Lei &
Ordem: Unidade Especial 20.41 The
Resident 21.29 Chicago Med 22.20
Anatomia de Grey 23.10 The Resident
0.04 Kidnapped: The Hannah
Anderson Story 1.40 Lei & Ordem:
Unidade Especial 3.00 The Resident
3.42 Chicago Med 4.24 Star 5.08
Rainha do Sul
DISNEY
15.00 Gabby Duran Alien Total 15.25 A
Raven Voltou 16.11 Acampamento
Kikiwaka 16.57 A Irmã do Meio 17.44
Miraculous - As Aventuras de Ladybug
18.29 Os Green na Cidade Grande
19.15 Gravity Falls 20.06 Sadie Sparks
20.55 Gabby Duran Alien Total 21.18
Coop & Cami 22.05 Acampamento
Kikiwaka 22.54 A Raven Voltou 23.18 A
Irmã do Meio 23.40 Miraculous - As
Aventuras de Ladybug
DISCOVERY
17.30 Alasca: A Última Fronteira 19.15
NASA, Ficheiros Secretos 21.00
Controlo de Fronteiras 22.00 A
Autobahn A2 23.50 Controlo de
Fronteiras 0.40 A Autobahn A2 2.15
Curiosidades da Terra 3.00 A História
do Universo 4.30 Guerra de
Propriedades 5.25 Pesca Radical
HISTÓRIA
17.25 Forjado no Fogo 18.07 Não
Identificados 20.49 Em Busca de...
22.15 Grandes Descobertas 1.15 Não
Identificados 2.35 Forjado no Fogo
ODISSEIA
17.30 A Herança 18.23 Resgate na Praia
19.06 Perigo Extremo 19.54 Guerreiros
do Ar 3.15 Perigo Extremo 4.02
Sobreviventes 5.36 Primeiros Passos
Grande Entrevista: Carlos
Moedas
RTP3, 23h05
Unida ou dividida: como está a
Europa a enfrentar a pandemia?
Para tentar responder a esta
pergunta, o jornalista Vítor
Gonçalves chama à Grande
Entrevista o ex-comissário
europeu Carlos Moedas. Repete
na RTP1, às 3h33.
SÉRIES
Spides
Syfy, 22h15
Estreia. Em Berlim, a jovem Nora
acorda de um coma e não se lembra
de nada da sua vida. A perda de
memória parece ter origem numa
droga que também está ligada ao
desaparecimento de vários
adolescentes. As investigações
conduzem ao mais surpreendente e
aterrorizador dos cenários: aquela
substância é a porta de entrada de
uma invasão extraterrestre. Com
Rosabell Laurenti Sellers, d’A Guerra
dos Tronos, no papel principal, o
thriller conta também com Falk
Hentschel, Florence Kasumba,
Damian Hardung, Désirée Nosbusch
e Kimberly Leemans.
Hinterland
Fox Crime, 22h55
No começo da segunda
temporada, Tom Mathias (Richard
Harrington) regressa à acção para
deslindar o caso de um incêndio —
fogo posto? — numa quinta
isolada, que deixou em estado
grave uma mulher e uma criança.
Hinterland é uma série de crime
noir passada em Aberystwyth, no
País de Gales, onde um detective
se refugia em busca de sossego,
mas acaba por se deparar com
uma sucessão de mistérios
arrepiantes.
INFANTIL
As Aventuras de Tintin:
O Segredo do Licorne (V. Port.)
AXN Movies, 12h
Tintin é arrastado para uma
aventura em busca de algo
inesperado. Com a ajuda de Milou,
do capitão Haddock e da dupla
Dupond e Dupont, o repórter vai
atravessar desertos e tempestades
na busca de um navio afundado que
contém um valioso tesouro e uma
terrível maldição. Com realização de
Spielberg, o Ælme baseia-se na
carismática personagem criada por
Hergé, em 1929. Jamie Bell, Daniel
Craig, Andy Serkis, Simon Pegg e
Nick Frost dão vida às personagens.
 Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 35

FICAR (EM CASA)

EM DESTAQUE
Saúde mental

Conversas no Manicómio
Um escritor, um artista plástico e
uma psiquiatra juntam-se esta
noite, às 21h30, no Facebook, para
conversar sobre a “loucura da
quarentena em Portugal e no
mundo”. O desaÆo é de O
Manicómio, um projecto social e
cultural cujo objectivo é legitimar
artistas com doenças mentais. Os
convidados são o escritor Valter
Hugo Mãe, o artista plástico Pedro
Cabral Santos e a psiquiatra Ana
Matos Pires e o objectivo é falarem
sobre as “incertezas do presente e
das ‘certezas’ do futuro, de uma
forma irónica, imaginativa, realista
e… louca”, diz O Manicómio em
comunicado. Estas conversas foram
baptizadas o “Fim do Mundo, em
formato irónico” e a ideia é reÇectir
sobre se esta época de pandemia e
de isolamento social será um
tempo a partir do qual se
desenhará um ser humano melhor,
se esta é uma “nova oportunidade”
para um novo começo. O
Manicómio é o primeiro espaço de
criação de arte em Portugal, onde
se conjuga a criação e a
aproximação dos artistas residentes
que experienciaram ou
experienciam doença mental ao
público, num único espaço de
inovação e criatividade. As
Conversas no Manicómio
começaram em 2019 e serão agora
por streaming, com um ciclo de três
conversas a cada duas semanas.

Cinema
Festa
do Cinema
Italiano, agora
na televisão
A 13.ª edição da festa estava
agendada para os próximos dias,
em várias cidades portuguesas.
Enquanto não há novas datas para
a sua exibição nas salas de
cinema, e para abrir o apetite aos
cinéÆlos, a mostra passa para
outros ecrãs. A partir de 1 de
Abril, há mais de uma centena de
Ælmes italianos online e na
televisão, numa parceria com a
Filmin e os canais TV Cine. A abrir
está um Especial Cultura Italiana
com uma mão-cheia de títulos a
passar no TVCine Edition: Hitler
vs. Picasso: A Obsessão Nazi pela
Arte (às 15h25), Tintoretto — Um
Rebelde em Veneza (às 17h05),
Michelangelo InÆnito (às 18h40),
Beautiful Things (às 20h20) e
Palombella Rossa, de Nanni
Moretti (às 22h00). A partir de
sexta, dia 3, na plataforma Filmin
(com subscrição mensal de
6,95€), são exibidas obras
recentes (caso de Dogman, de
Matteo Garrone e Noites Mágicas,
de Paolo Virzì), Ælmes premiados
(como Almas Negras, de Francesco
Munzi) e clássicos assinados por
Bernardo Bertolucci ou Fellini,
entre outros. Na grelha, destaque
ainda para SelÆe, documentário
de Agostino Ferrente, e A Febre
Ferrante, de Giacomo Durzi.
C.A.M.
Dança
Dança para
ficar em casa
A CDCE — Companhia de Dança
Contemporânea de Évora sai do
palco e leva as sapatilhas ao
espaço de cada um. O programa
CDCE em Casa propõe a
transmissão semanal de algumas
das suas peças, em canal aberto,
para que não se percam as
dinâmicas e a dança não Æque no
vazio. A abertura é feita com Terra
Chã, coreograÆa de Nélia Pinheiro
que junta dança contemporânea
às modas alentejanas e à poesia
de Florbela Espanca (de 1 a 8 de
Abril). Seguem-se, também com
autoria da fundadora da
companhia, Tristão e Isolda (9 a 15
de Abril), Eros e Psiquê (16 a 22 de
Abril) e Raízes (22 a 30 de Abril).
Para acompanhar em
www.cdce.pt. C.A.M.
Actividades
Desafios
do Oriente
#FicaEmCasa: a ordem vem do
Museu do Oriente e insta todos os
visitantes a cumprir o isolamento,
mantendo a proximidade via uma
série de sugestões semanais. Nas
dicas para os próximos dias,
temos um livro, um desaÆo e uma
refeição em família. Para os
tempos de leitura sugerem O Culto
do Chá, de Wenceslau de Moraes
(disponível gratuitamente em
www.bnportugal.gov.pt), “um
registo elegante e sensível,
marcado pela admiração do autor
pela cultura japonesa, que relata
aspectos como o ciclo de
produção, a preparação, a história
e importância social do chá”. O
desaÆo criativo vem da dupla de
ilustradores Nic e Inês, que
convida a criar uma Paisagem em
Casa, um livro-acordeão com
que é, asseguram, o primeiro
drive-through livreiro do mundo.
“Entendemos que os livros têm
sempre um papel fundamental na
vida das populações, ainda mais
assumem um papel insubstituível
neste período difícil em que
vivemos”, refere o comunicado.
Na impossibilidade de ter o
emblemático espaço portuense
aberto ao público, a livraria
inaugura um serviço que permite
a compra de livros sem sair do
carro. Funcionará de segunda a
sexta, entre as 10h e as 12h, e para
usufruir do serviço é necessária a
inscrição até às 18h do dia
anterior, através do email
info@livrarialello.pt. A entrega é
monumentos e casas típicas
portuguesas, para imprimir e
feita por um colaborador da
livraria, que seguirá as normas
colar à medida da imaginação de
cada um (acessos no Facebook do
exigidas de higiene e segurança.
Para os leitores, há ainda um
museu e da Casa Nic e Inês). Para miminho: todos os dias é
aguçar e saciar o palato, a oferecido um livro da colecção da
especialista em alimentação Lello. C.A.M.
ayurvédica Maria
ria Leonor Braga
partilha uma receita a de
ceiita de feijoada
fe
de legumes. C.A.M.
A.M.
A. M
Livros
E se pudesse
desse
comprar ar
em
livros sem
sair do
carro?
A ideia vem da
Livraria Lello e traz
direitos de autor
or pelo
36 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020

JOGOS

CRUZADAS 10.934 TEMPO PARA HOJE

Horizontais: 1. Mentira. 2. Nocivo. Prefixo Verticais: 1. Matizar. Desejo ardente. 2.
(montanha). Sétima nota musical. 3. Fase Despido. Insistir (fig.). 3. Regressei.
correspondente ao nível de alerta e res- Preposição que designa posse. Tântalo
posta mais elevado no combate ao novo (s.q.). 4. Governador árabe. Pastar. 5. Viana do Bragança
coronavírus. 4. Antes do meio-dia. Falar com hesitação. 6. O dobro de um. Castelo 5º 12º
Motejo. 5. Unidade de irradiação absorvi- Gálio (s.q.). O tio dos americanos. 7. Filme 7º 14º
da (Física). Comissão Europeia. 6. Palavra de e protagonizado por Ben Affleck. Braga
utilizada por António Costa para classifi- Unidade monetária da Samoa. 8. Lega. 5º 14º Vila Real
car um discurso do ministro holandês Tombar. 9. Obstruir-se. 10. Que tem saú- 5º 14º
13º Porto
Wopke Hoekstra. 7. Autoridade Tributária de. Marta (...), Ministra da Saúde. 11.
e Aduaneira. Rebordo do chapéu. Conjunto de atuns. Canção que dá nome 6º 15º
Parcela. 8. “Em” + “esse”. Deixou de usar o ao álbum de Pedro Abrunhosa gravado Viseu
termo “vírus chinês” e passou a elogiar a nos EUA com músicos e técnicos de 3º 12º Guarda
1-1,5m Aveiro
China. 9. Artigo antigo. “Fique em (...) e Prince (1996). 2º 8º
continue a ler o Público, nós levamos o 6º 15º Penha
jornal do dia até si”. Caritativo. 10. Douradas
Relativo ao lado. Idem (abrev.). 11. Coimbra -2º 6º
Discursar. A cor da casca da castanha. 4º 14º
Castelo
Branco
Leiria 2º 12º
3º 14º

Santarém
Portalegre
Horizontais: 1. Urna. Acidez. 2. Sublime. Uno. 3. Amaina. Fora. 4. Do. Surge. ED. 5. 3º 15º
2º 11º
Ramo. MUDA. 6. Para. Tira. 7. RAM. Néon. Ra. 8. Atito. Ria. 9. Peru. Online. 10. Anedota.
Pua. 11. Raso. Arpoar. Lisboa
Verticais: 1. Usado. Rapar. 2. Rumo. Patena. 3. NBA. Ramires. 4. Alisar. TUDO. 5. 6º 14º
Inumano. 6. Amaro. Ota. 7. CE. Tornar. 8. Feminil. 9. Duo. Ur. Aipo. 10. Enredar. Nua. 11.
Zoada. Alear. Setúbal
Lema: Tudo Muda. 6º 14º Évora
2º 14º
AMANHÃ

14º Beja
BRIDGE SUDOKU Sines
8º 14º
3º 13º

Dador: Sul adversários a ter essa carta? Sair à Dama Problema 1-1,5m
Vul: Todos resultará na presente configuração. O
Rei do morto fará a vaza, mas Oeste fi- 9642
Sagres
cará na disposição de poder alinhar Dificuldade: 8º 17º
Faro
NORTE quatro vazas a paus, logo que tenha a
Ƅ K1083 mão, seja no Ás de espadas, seja no Rei
Fácil 6º 16º
Ɔ QJ9 16º
de copas.
Ƈ 954 1-1,5m
Mas, e se o morto tiver apenas dois paus
ƅ K84 de Rei e o declarante três paus de Açores
Valete? Corvo
A saída à Dama seria um desastre! Nessa Graciosa
OESTE Terceira
ESTE altura, a saída a um pequeno pau derro- Solução do Flores
Ƅ A94 Ƅ 7652 taria o contrato. S. Jorge 13º 15º
problema 9640 12º 17º
Ɔ K86 Ɔ 753 A resposta correcta é: o Ás de paus!
Ƈ 102 17º
Ƈ J86 Com isso terá a possibilidade de ver o 17º Pico
ƅ AQ1052 ƅ 963 morto antes de decidir que carta jogar 2,5-3m
de seguida. A ver três paus de Rei, a car- Faial
ta a jogar a seguir deverá ser a Dama, 13º 16º
5-5,5m S. Miguel
SUL para “carcomer” um Valete do cartea-
dor (ou do parceiro) e forçar a saída do 11º 16º
Ƅ QJ Ponta
Ɔ A1042 Rei. Sul tem três paus de Valete, e en-
17º Delgada
Ƈ AKQ73 tão? Nenhuma defesa será efectiva nes-
se caso. E se aparecer um Rei à segunda 2,5-3m
ƅ J7
no morto (doubleton), basta continuar
Madeira Sta Maria

com um pequeno pau.

Porto Santo
Acontecerão situações similares quan- Problema
do for o Valete a aparecer no morto. 13º 19º
Bem saído! 9643 19º

Oeste Norte Este Sul Dificuldade:

Considere o seguinte leilão:
1ST
Oeste Norte Este Sul
Média Funchal
2-3m
passo 3ST Todos passam 0,5-1m 14º 19º
1Ɔ passo 2Ɔ 19º

Leilão: Qualquer forma de bridge. passo 2ST passo ?

Sol Lua Quarto
Carteio: Saída: ? Qual a carta correcta O seu parceiro fez uma tentativa de minguante
partida (trial bid), ao prometer uma Nascente 07h22
para sair? Poente 20h00
mão balançada forte e sem necessitar Solução do 08 Abr. 8h17
Solução: Nem toda a gente escolheria de uma ajuda específica. Como res- problema 9641
ponderia com a seguinte mão?
abrir num sem trunfo a mão de Sul, mas
esperaríamos que o contrato final fosse
Marés
este, fosse qual fosse a abertura. Ƅ6532 ƆQ104 ƇA10752 ƅ2
Leixões Cascais Faro
Oeste sabe que deverá ter todas as
grandes honras do seu campo. A única Resposta: Marque quatro copas. Um Ás
lateral, o singleton a paus e uma honra a Preia-mar 09h03 2,6 08h41 2,6 08h42 2,5
carta que Este poderá ter para ajudar a
defesa é o Valete de paus, e Oeste não trunfo…Se em vez do Ás fosse um Rei, a 21h38 2,6 21h18 2,7 21h24 2,6
deve basear a sua defesa nessa possibi- minha sugestão seria desistir em três
Baixa-mar 02h40 1,4 02h19 1,5 02h11 1,4
lidade. Paus é certamente o naipe certo copas.
para sair, mas a qual? 15h05 1,5 14h44 1,6 14h38 1,5
Qualquer carta de paus servirá, se o par- João Fanha/Pedro Morbey
ceiro tiver o Valete; mas e se for um dos (bridgepublico@gmail.com) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com Fonte: www.AccuWeather.com
NÃO SERÁ TODO O ALTRUÍSMO EGOÍSTA?
A COLECÇÃO
WATCHMEN:

A Teoria dos Super-Homens desencadeia uma verdadeira corrida mundial ao
armamento meta-humano, e um conflito de proporções gigantescas começa a
ganhar forma. Enquanto isso, Adão Negro oferece asilo em Kahndaq a todos os
super-heróis rejeitados pelos seus governos ou forçados a servi-los. Estará ele a
criar o seu próprio exército meta-humano? E porque quer tanto Veidt salvar o mundo?
Sofrerá ele, como acusa Batman, da síndrome do herói? Para evitar o Apocalipse, é
preciso questionar todas as motivações. Afinal, “o desejo de salvar a humanidade é
quase sempre um disfarce para o desejo de controlá-la.” Para coleccionar, todos os
sábados, uma obra de uma extraordinária densidade psicológica e a mais definitiva
desconstrução das histórias de super-heróis de sempre.

Pretende receber o seu livro em casa?

Encomende online em loja.publico.pt, ou através de coleccoes@publico.pt e 808 200 095/ 210 111 020
Quer saber quais os pontos de venda activos na sua área de residência? Ligue para 808 200 095/ 210 1 11 020

VOL. 8
NÃO HÁ DEUS
Inclui os capítulos 5-7 de Doomsday Clock

+9,90€
SÁBADO, 4 ABR
COM O PÚBLICO

EM
C A PA D U R A IA S
R
E C O M H IS TÓ EM
IN ÉD ITA S TM & © 2020 DC Comics. All Rights Reserved.
P O R TU G U ÊS

A MAIS ACLAMADA NOVELA GRÁFICA DE TODOS OS TEMPOS

Colecção de 10 volumes, 6 dos quais inéditos em português. PVP unitário: 9,90 €. Preço total da colecção:99 €.
P e r i o d i c i d a d e s e m a na l a o s á b a d o, e n t re 1 5 d e Feve re i ro e 1 8 d e A b r i l d e 2 0 2 0. S to c k l i m i ta d o.
38 • Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020

DESPORTO
FIFA vai gastar parte da sua
fortuna para resgatar o futebol
O organismo presidido por Gianni Infantino está a avaliar o impacto, a curto e médio prazo, do novo
coronavírus no futebol mundial e planeia usar parte das suas reservas na revitalização da modalidade
ARND WIEGMANN/ REUTERS

Futebol internacional
David Andrade
Para já não passam de estudos e pla-
nos que começam a serem traçados
nos gabinetes de FIFA em Zurique,
mas perante a crise provocada
pela pandemia do novo coronavírus
de proporção ainda difícil de adjec-
tivar, o organismo que tutela o fute-
bol a nível mundial será forçado a
redireccionar parte dos 2,5 mil
milhões de euros que tem nos seus
cofres para o saneamento da moda-
lidade. O fundo, que terá que ainda
de ser aprovado pelo Conselho da
FIFA, órgão executivo do organismo
presidido por Gianni Infantino, ser-
virá para apoiar a indústria de fute-
bol através de empréstimos ou sub-
sídios de emergência.
Depois de no Ænal da última sema-
na ter reunido um grupo de trabalho
composto por representantes seus,
das seis confederações continentais,
das federações, dos clubes, das Ligas
e dos jogadores para deÆnir as orien-
tações e recomendações que serão
dadas às federações para “mitigar as
consequências das interrupções cau-
sadas pela covid-19”, a FIFA prepara
já o passo seguinte, que passará, ine-
vitavelmente, pela injecção de dinhei-
ro no futebol mundial.
Em declarações à Reuters, um
porta-voz da FIFA aÆrmou ontem
que o organismo estava ciente de
que há “sérios problemas Ænancei- Gianni Infantino, presidente da FIFA, tem mostrado disponibilidade para utilizar parte do dinheiro que o organismo tem guardado
ros provocados pelo surto do novo
coronavírus”, que ameaçam “per- tem disponíveis na economia do fute- da liderança da FIFA, evitando assim mais 80% do que no ciclo anterior.
turbar e prejudicar a capacidade bol, para, dessa forma, minimizar os o risco de este plano ser contaminado De acordo com seu último relató-
das federações Æliadas na FIFA e danos provocados pela pandemia. por questões políticas que assolam o rio anual, publicado no ano passa-
outras organizações de futebol, mundo do futebol — as relações entre do, a FIFA aumentou as suas receitas
como ligas e clubes, de desenvolver, Fundo sem interferências Gianni Infantino e alguns dos líderes durante o período de 2015 a 2018,
Ænanciar e administrar actividades O dinheiro O formato exacto e os detalhes do das seis confederações continentais quando facturou 5,9 mil milhões
de futebol em todos os níveis do plano de assistência não terão sido não são as melhores. de euros, mesmo depois do escân-
jogo, incluindo proÆssionais, não da FIFA é da FIFA, ainda decididos, mas ainda nesta Eleito presidente da FIFA em 2016, dalo de corrupção de 2016 que dani-
proÆssionais e camadas jovens”. não é o dinheiro semana serão realizadas mais con- Infantino disse durante a campanha Æcou a imagem do organismo e cul-
“Prevê-se que em muitas partes do sultas junto das federações Æliadas eleitoral para a presidência da orga- minou na expulsão do então secre-
mundo um número considerável de do presidente da FIFA, das confederações conti- nismo sediado na Suíça ter “planos tário-geral, Joseph Blatter.
pessoas envolvidas no futebol, da FIFA nentais e outras partes interessa- para distribuir os recursos da organi- No início deste ano, a FIFA já tinha
incluindo homens e mulheres joga- das. O objectivo é que este “fundo zação”, acrescentando que “o dinhei- anunciado um investimento superior
dores, seja colocado em condições Gianni Infantino de assistência ao futebol” Æque ro da FIFA é da FIFA, não é o dinheiro a mil milhões de euros no “desenvol-
económicas extremamente difíceis”, Presidente da FIFA fechado a curto prazo. do presidente da FIFA”. vimento do futebol e outra parte
acrescentou a mesma fonte. A ajuda da FIFA, que pode passar Cerca de três anos e meio depois, substancial no desenvolvimento do
Segundo o New York Times, a estra- por empréstimos ou subsídios direc- o fundo de reserva que o italo-suíço futebol feminino”.
tégia da FIFA passará por injectar par- tos, será, segundo o jornal norte-ame- tem para gerir neste momento de
te dos 2,5 mil milhões de reservas que ricano, gerida independentemente crise é de 2,5 mil milhões de euros, dandrade@publico.pt

Breves
Motores
Autódromo do Algarve
apto a acolher treinos
e corridas de F1
O Autódromo Internacional do
Algarve (AIA) recebeu a
homologação grau 1 da
Federação Internacional do
Automóvel (FIA) e está pronto
para receber corridas e testes
de Fórmula 1, algo que deverá
acontecer em Novembro, com
os primeiros treinos privados
de uma das dez equipas do
actual pelotão de F1. “Já
vínhamos tentando desde o
ano passado, quando tivemos
uma inspecção feita ainda
pelo falecido [britânico]
Charlie Whiting e por Eduardo
Freitas. As alterações pedidas
pela FIA foram feitas e agora
recebemos o grau máximo de
certificação”, explicou Paulo
Pinheiro, administrador da
Parkalgar, empresa detentora
do AIA.
Basquetebol
Liga dos Campeões
decidida numa final
a oito em Outubro
A Liga dos Campeões de
basquetebol desta temporada
vai ser decidida numa final a
oito, a ser disputada entre 30
de Setembro e 4 de Outubro,
devido à pandemia de
covid-19, anunciou ontem a
organização da prova, que
confirmou o adiamento das
restantes partidas que
estavam agendadas para Abril
e Maio, e optaram por realizar
uma final com oito jogos, em
local a designar, para decidir o
campeão de 2019/20. Para
essa fase final, estão
qualificadas as equipas que
iriam disputar os “quartos”
(Saragoça, Burgos, AEK
Atenas, Hapoel Jerusalém,
Nymburk e Turk Telecom) e os
vencedores dos duelos JDA
Dijon-Nizhny Novgorod e
Iberostar Tenerife-Filou
Oostende.
Ajax assume
rescisões
com vários
jogadores
Futebol internacional
Um dos afectados é Nouri,
que esteve quase três anos
em coma. Bruno Varela,
que estava emprestado pelo
Benfica, regressa à Luz
O Ajax conÆrmou ontem que não vai
renovar contrato com todos os fute-
bolistas que terminavam o vínculo no
Ænal da temporada, incluindo Abde-
lhak Nouri, que sofreu uma lesão
cerebral e estava em estado vegetati-
vo desde 2017.
Na segunda-feira, a imprensa
holandesa tinha avançao que o Ajax
iria finalizar o contrato com Nouri,
que termina em 30 de Junho deste
ano, e ontem o actual campeão holan-
dês conÆrmou essa situação.
“É verdade que o Ajax não vai
renovar contrato com Abdelhak
Nouri, entre outros. O Ajax fez o
mesmo com todos os jogadores que
terminam contrato em 30 de Junho,
incluindo o Klaas-Jan Huntelaar e o
Ryan Babel”, explicou o emblema de
Amesterdão, em comunicado envia-
do às redacções.
O Ajax, clube em que actua o guar-
da-redes português Bruno Varela,
manteve o contrato que tinha com
Nouri desde o início de 2017, altura
em que o médio sofreu uma lesão
cerebral, após ataque cardíaco,
durante um jogo particular com o
Werder Bremen, na Áustria.
O futebolista de origem marroqui-
na passou os últimos três anos em
coma, mas este mês acordou e apre-
sentou algumas melhorias, tendo
mesmo saído do hospital.
De acordo com imprensa holande-
sa, Nouri continua a receber vários
tratamentos em casa e o Ajax quer
continuar a ajudar monetariamente
o jogador, informação essa que não
foi conÆrmada pelo clube.
Os veteranos Klaas-Jan Huntelaar,
de 36 anos, e Ryan Babel, de 33, vão
igualmente abandonar o Ajax no Ænal
de Junho, já que, nos Países Baixos,
os contratos são automaticamente
renovados e com os mesmo termos a
partir de 1 de Julho, caso não sejam
revogados pelos clubes ou pelos pró-
prios jogadores até 31 de Março.
Bruno Varela também termina a
sua ligação ao Ajax no Ænal da tem-
porada, mas está emprestado pelo
BenÆca. Lusa
Pedro Proença, presidente da Liga, quer que o futebol tenha o mesmo respeito de outra qualquer indústria
Pedro Proença admite layoff
e jogos à porta fechada
Futebol
David Andrade
O presidente da Liga
de clubes está confiante
de que será possível
terminar os campeonatos
profissionais de futebol
Pedro Proença, presidente da Liga
de clubes, aÆrmou ontem que con-
Æa que as competições de futebol
possam voltar “rapidamente à nor-
malidade” em Portugal, admitindo
que os clubes proÆssionais podem
recorrer ao layoff de forma a com-
baterem os efeitos económicos pro-
vocados pela pandemia da covid-19.
Acreditando “que vai ser possível
jogar esta temporada”, o dirigente
adverte que “jogar à porta fechada
é uma possibilidade”.
Em entrevista à rádio TSF, Proen-
ça admitiu que o futebol continua
“dependente das instâncias gover-
namentais” e das “próprias entida-
des internacionais”, que estão a dar
“linhas importantes” de orientação:
“Na reunião de hoje na UEFA temos
a expectativa de receber instruções
sobre o futuro das provas interna-
cionais. Mas os clubes estão com o
espírito de que as competições
devem recomeçar o mais depressa
possível. Temos três meses para esta
Público • Quarta-feira, 1 de Abril de 2020 • 39
retoma com a época a terminar a 30
de Junho e estamos a trabalhar dia-
riamente para, assim que puder-
mos, regressarmos de forma ime-
diata.”
Reforçando a ideia de que “é fun-
damental que as Ligas nacionais
terminem as épocas desportivas”,
uma vez que isso “permitirá con-
cluir esta época com a normalidade
possível e preparar a próxima com
tudo o que isso envolve”, o presi-
dente da Liga mostrou conÆança de
que haverá “campeão e equipas a
subir e a descer”, uma vez que “sem
Europeu [adiado para 2021]” haverá
“mais 45 dias”, o que “vai permitir
um calendário diferente”.
Sacrifícios para todos
Sobre os problemas Ænanceiros que
a paragem pode provocar nos clu-
bes, Proença disse que o impacto
provocado pela pandemia depende-
rá “do tempo que vai demorar a
retoma da actividade”, mas, saben-
do que todos terão “de fazer sacrifí-
cios”, advertiu que o futebol vai “ter
de se regenerar e reinventar”, não
descartando a implementação do
layoè no futebol português: “Há
instrumentos que o Governo coloca
à disposição das empresas e o fute-
bol também terá de colocar em cima
da mesa todas as possibilidades.”
“Temos conseguido garantir os
prazos e as obrigações que temos de
DESPORTO
RICARDO CASTELO/NFACTOS
cumprir perante entidades tercei-
ras, mas temos a noção de que, se o
tempo esticar e não voltarmos com
alguma rapidez à normalidade, há
instrumentos que o futebol terá de
utilizar. Esperemos que não seja
necessário, mas, se as receitas dimi-
nuírem, os clubes poderão ter de
utilizar esses instrumentos
[layoff].”
Quanto a possíveis cortes nos
salários dos jogadores, medida já
tomada por alguns clubes europeus,
Proença assegurou que o organismo
a que preside está “a criar condições
para evitar” que surjam “processos
de ruptura”.
Considerando que se está “a atra-
vessar uma decisão histórica por
razões negativas”, uma vez que pela
“primeira vez foi preciso suspender
a actividade por tempo indetermi-
nado”, Proença elogiou o futebol
por ter tido “a capacidade de perce-
ber o momento de crise”. “Estamos
todos na expectativa de passar esta
fase negra, que vai ter consequên-
cias para tudo e todos.”
A concluir, o presidente da Liga
comentou as palavras do primeiro-
ministro, António Costa, que aÆr-
mou que o futebol não era uma
prioridade. Proença não quer trata-
mento especial, mas diz que a
modalidade “tem de ser tratada com
o mesmo respeito por qualquer
outra indústria”.
Quarta-feira, 1 de Abril de 2020

BARTOON LUÍS AFONSO

CONSOANTE MUDA

Nasceu a primeira ditadura da UE. Parabéns aos pais!

planos antigos de consolidação do Hungria, e depois de anos em que menor quando se mudam as leis março de 2013, há oito anos. Mas
poder. foi adormecendo os restantes eleitorais para se assegurar uma houve quem não quisesse ouvir. A
Acabou assim a farsa da Governos nacionais à sua volta maioria de 2/3 dos deputados com nível europeu, o Partido Popular
“democracia iliberal” de Viktor com a sua asÆxia da democracia menos de metade dos votos em Europeu, que ainda conseguiu não
Orbán: agora percebe-se que já em passos graduais, como uma urna. Mas o que não falta na expulsar o Fidesz do seu grupo. A
nem democracia é, ainda que o jibóia a asÆxiar a vítima com toda a história são exemplos de ditaduras nível nacional, os principais
Rui Tavares

C
nome ainda seja usado. A paciência. aprovadas em parlamento. Esse é cúmplices são o PSD e o CDS, de
“democracia iliberal” de Orbán é Chegamos agora ao ponto, aliás o caso clássico de aprovação Paulo Rangel e Nuno Melo no
om a notícia de que o tão democracia como foram as contudo, em que o que se passa na de poderes ditatoriais, que se Parlamento Europeu, que
primeiro-ministro Viktor “democracias populares” do Leste Hungria já é evidente para todos os aplica como uma luva a Viktor sonsamente foram deixando
Orbán, da Hungria, europeu. Também elas tinham que o queiram ver. Só os que estão Orbán. Todos os Governos acontecer o que havia para
conseguira fazer passar um parlamentos e uns arremedos de apostados em não ver podem europeus estão a braços com a acontecer, limitando-se a um voto
estado de emergência por partido políticos; também elas continuar a Ængir. pandemia. Nenhum aprovou um perfunctório para “suspender” o
tempo indeterminado que tinham democracia no nome; Sim, é verdade que vários outros estado de emergência tão Fidesz para umas avaliações que
lhe dá plenos poderes para também elas prometiam ser um países europeus aprovaram aberrante quando este. Nenhum conseguiram ainda não produzir
governar por decreto e alterar leis tipo de democracia especial, como também leis de emergência nos sentiu que precisaria de ser uma quaisquer resultados. Um
aprovadas pelo Parlamento, pode Orbán promete uma democracia últimos dias, face à pandemia do ditadura para confrontar esta monumento à hipocrisia que acaba
levar para a prisão por cinco anos com características húngaras; novo coronavírus. Mas ninguém ameaça. Mas Orbán não é um agora com a democracia num país
aqueles que divulgarem “fake também elas prometiam até ser que as queira comparar pode democrata e agora sente que não europeu. Parabéns aos pais.
news” (conforme determinado mais democráticas do que as verdadeiramente achar que se precisa mais de manter a farsa. E agora o que fazer? O Conselho
pelo Governo) ou criticar as democracias, populares naquele trata da mesma coisa. Portugal tem Como se sabe, não é que não Europeu, que primou pela inação
medidas do Governo, incluindo caso, nacional no caso de Orbán. um estado de emergência que só tenha havido alertas suÆcientes em tudo isto, tem Ænalmente de
estas, e que suspenderá o Também todas elas eram pode ser decretado pelo desde há quase uma década para o tomar uma posição: impor um
Parlamento e adiará eleições democracia coisa nenhuma. E Presidente da República, que nem que se iria passar na Hungria. A prazo para o regresso à
enquanto o período de emergência Orbán, que demonstra ter é da mesma família política do primeira resolução do Parlamento normalidade democrática, ou no
durar (ou seja, enquanto Orbán aprendido bem com elas enquanto Governo, e tem de ser aprovado de Europeu, alertando contra a asÆxia mínimo a um estado de
quiser) houve muito quem lhes fazia oposição enquanto quinze em quinze dias por uma da imprensa naquele país, é de emergência razoável e
declarasse que a democracia jovem, parece querer imitá-las em assembleia onde o Governo não 2010. O meu relatório sobre o proporcional, ou avançar para a
húngara acabara de ser a primeira tudo menos na fragilidade. Orbán tem maioria. O Parlamento não foi Estado de direito e direitos aplicação do artigo 7 que retira os
vítima do coronavírus. Isto é acha que inventou o crime suspenso e as eleições não foram fundamentais na Hungria, que diz direitos de voto a um governo que
claramente inexato. Neste caso, perfeito, o golpe de estado à vista adiadas até ao dia em que o claramente que há um padrão de viole os valores fundacionais da
não é o coronavírus que têm a de toda a gente, durante uma primeiro-ministro tiver vontade de comportamento sistemático do UE. A UE é suposta ser uma união
culpa. O coronavírus foi pandemia, numa fase em que as as realizar. Governo húngaro que resultará de democracias. As ditaduras não
meramente o pretexto para Orbán instituições europeias se E sim, é verdade que no caso inevitavelmente num risco de podem ter direito de voto nela.
fazer o que sempre quis, o veículo encontram assoberbadas com húngaro estas leis foram aprovadas violação grave e persistente dos
onde Orbán pendurou os seus problemas maiores do que a no Parlamento, aliás um feito valores fundacionais da UE, é de Historiador

Esta informação não dispensa a

consulta da lista oficial de prémios Euromilhões 12 17 24 30 36 1 9 1.º Prémio
29.000.000€
Contribuinte n.º 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410 | Conselho de Administração - Presidente: Ângelo Paupério Vogais: Cláudia Azevedo, Ana Cristina Soares e João Günther Amaral
E-mail publico@publico.pt Estatuto Editorial publico.pt/nos/estatuto-editorial Lisboa Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial
210111006; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Rua Júlio Dinis, n.º270, Bloco A, 3.º, 4050-318 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213; Publicidade,
Distribuição 226151011 Madeira Telef.: 963388260 e/ou 291639102 Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia. Capital Social €4.050.000,00.
Detentor de 100% de capital: Sonaecom, SGPS, S.A. Impressão Unipress, Travessa de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350 Arcozelo, Valadares; Telef.: 227537030; Empresa Gráfica Funchalense,
SA, Rua da Capela de Nossa senhora da Conceição, nº. 50- Morelena – 2715-029 Pêro Pinheiro Telf.: 219677450 Distribuição VASP – Distribuidora de Publicações, SA, Quinta do Grajal - Venda
Seca, 2739-511 Agualva Cacém, Telef.: 214 337 000 Fax : 214 337 009 e-mail: geral@vasp.pt Assinaturas 808200095 Tiragem média total de Março 26.671 exemplares Membro da APCT

PUBLICIDADE

P GLOBAL Saber mais

sem fronteiras
CONHEÇA AQUI
pglobal.publico.pt
210 111 902 / pglobal@publico.pt