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J~t\~Guerra

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Prancisco Drratioto
tudo é história
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Exali,., ; por nuus dr '~'>'n sé=ulo, a Guerra do
Paraguai tornou-se mot.oo w? ; .,C". 1 polê.r-ica em
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Coleção Primeiros Passos

Evolução Política do Brasil o que é Geopolítica


Caio Prado J r.

Formação do Brasil
Dernêtrio Magnoli

o que é Guerra
A GUERRA
Contemporâneo
Caio Prado Jr.
Roberto Numeriano
-' po _PARAGU~
Genocídio Americano
Coleção Tudo é História DEDALUS - Acervo - FFLCH-HI
A guerra do Paraguai
905 A guerra do paraguai.
Julio J. Chiavenatto T912
A Guerra Contra o Paraguai
v.138
Da Móparquia â República Julio J. Chiavenatto
M@mentos decisivos
A RevoluçãoFarroupilha 11111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111
Ernília Viotti da. Costa
SandraJatahy Pesavento 21200041176
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TOMBO: 119678

--
SBD-FFLCH-fJSP

editora brasiliense
Copyright © by Francisco Femando Monteo/iva Doratioto, 1991
Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada,
armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada,
reproduz ida por meios mecânicos ou outros quaisquer
sem autorização prévia do editor.
~5
T~~ - ISBN: 85-11-02138-8
'!. ~3g Primeira edição, 1991

'fí\
Preparação de originais: Rosemary C. Machado
Revisão: Ana Marisa Mendes Barbosa
Capa: Qu4tro Design - [uliana Vasconcelos SUMÁRIO

5.t{)t6 58' 3!
50g 5g lJ~-5 r
Introdução
Brasil - Paraguai: -políticas defensivas no Prata..
·9.
15
As políticas externas ativas e convergentes (1842-'
1852) 24
Bf- Os interesses divergentes (1853-1862)
O Paraguai rumo à guerra (1862-1865)
34
42

tA
..

Brasil, Argentina e Uruguai: a Tríplice Aliança
contra o Paraguai (1865)
Considerações finais
Indicações para leitura
62
78
82
Rua da Consolação, 2697
01416 São Paulo SP .
Fone (011) 881-3066 - Fax 881-9980
Telex: (11) 33271 DBLM BR

IMPRESSO NO BRASIL
li I
INTRODUÇÃO

G.presença brasileira na região da Bacia do Rio da


Prata remonta à época colonial. Interessava aos portu-
gueses a navegação pelo Rio da Prata e seus afluentes
_ Rios Paranã, Paraguai e Uruguai - de modo a faci-
litar o acesso às riquezas potenciais do interior do con-
ti~ente,~.e .~Pãra estabelecer sua presença ~ .
na região, os lusitanos fundaram, em 1680, na margem
dõõcidental do Pratã, ã Colônia do Sacramento. Em
frente, na margem oposta: ficava Buenos Aires. Os sú-
ditos portugueses, por meio das incursões dos bandeiran-
tes, para apresar os índios guaranis das missões jesuíti-
cas, chegaram também à Província do Paraguai,
Para conter o expansionismo português e em razão \

Ido áumento da população espanhola na região platina


e do desenvolvimento de atividades agrícolas e pecua-
Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2e visão 11
10

I resto do Brasil(!>~ra o ~araguai, a p.rópria independência

1
rias, a Espanha criou em 1776 o Vice-Reino do Rio da
t Prata. Com sede em Buenos Aires, o Vice-Reino abran- .lI' - que Buenos Aires nao reconhecia - estava ameaça- \
gia, além da capital e adjacências, os territórios de Tu- da. Ademais, localizada estrategicamente na foz do Rio
cumán, Cuyo, Potosí, Santa Cruz de hl' Sierra, Charcas Paranã, Buenos Aires controlava a única saída paraguaia
e do Paraguai, neste a cidade de Assunção como capital para o mar. O país guarani encontrava-~~pois, numa!
provincial. Após longo .período de lutas militares e di-~ posição geopolítica extremamente vulner~. \

I
-l-~om
plomáticas entre Portugal e Espanha, a posse de Sacra--
mento ficou para a Coroa espanhola em 1777.
a proclamação das independências na América
I
Desde então e até 1864, as relações entre Brasil e Pa- I
raguai deram-se a partir de três elementos definidores: a
necessidade de demarcar as fronteiras, que cada país bus-
I Drtína, o Vice-Reino do Rio da Prata desmembrou-se cava segundo critérios que lhe fossem benéficos; a ga-
em repúblicas, enquanto a América portuguesa se man- rantia permanênte de livre navegação do Rio Paraguai
teve unificada sob a forma monárq~ O Paraguai pas- , que o governo imperial
, buscava junto ao governo para-
sou a ser governado por José Gaspar Rodríguez de Fran- guaio, por motivo anteriormente exposto; por último, fa- 11'
cia, um dos líderes do movimento independentista ocor- tor primordial na definição das relações entre Rio de Ja-
rido em 1811, que fçí nomeado, pelo Congresso Geral, neiro e Assunçãova ameaça representada pelo projeto de
Ditador Perpétuo.~ Brasil, D. Pedrol procurou con- Buenos 4-ire'S' de reconstruir, na forma de república, a
lunidade do antigo Vice-Reino do Prata. Quando a polí-
solidar sua autoridade sobre todo o território que com-
punha a antiga América portuguesa, inclusive a Banda
Oriental do Prata - atual Uruguai - que fora anexado
I tica de Buenos Aires apresentava maiores possibilidades
.de sucesso, Brasil e Paraguai estreitavam suas relações.
I
em 1821 por D. João VI, com a desigriação de Província í Quando tal sucesso parecia distante, as relações se tor-
navam menos amistosas, predominando as divergências
da ~s dois países tinham em comum a pre-
vençãtr'contrâ Buenos ~ que ameaçava ter sob sua em tomo da definição das fronteiras e da livre navegação
fl~ . . J
liderança, na forma de um Estado ~ublicano, o territó-
rio do antigo Vice-Rei no do Pratalr,ara o Império bra- CNo início da década de 1860, a possibilidade de Bue-
sileiro, a ameaça pairava sobre a posse da Banda Oriental nos Aires reconstruir a unidade territorial do Vice-Reino I
e a livre navegação dos rios platinas. O caminho fluvial do Prata era remota. Houve; mesmo, uma aproximaçãO!
. formado pelos Rios Paraná e Paraguai era a única forma entre Rio de Janeiro e Buenos 1!Le51 Por sua vez, nas I
relativamente rápida e viável, no plano comercial, de al- relações entre Brasil e Paraguai sobressaíam as divergên- \
cias, num processo que, por iniciativa paraguaia, levou
cançar a Província de Mato GrossoJsolada por terra do"
12 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 21.1 visão 13

os dois países à guerra, em dezembro de 1864. Do con- 1tantes, conforme censo de 1857, dos quais mais de me-
flito também participaram, como aliados do Brasil, a Ar- [tade teria morrido no conflito. A historiadora norte-ame-
gentina e o Uruguai. ricana Vera Blinn Reber, porém, refuta tal número, que I
?-~ Na guerra entre a Tríplice Aliança - Brasil, Argen- exigiria o inverossímel crescimento demográfico anual I
tina, Uruguai - e o Paraguai, a inferioridade deste era de 17%. Usando a metodologia da história demográfica,
enorme nos aspectos econômico.. demo gráfico e militar. com base nas taxas históricas de crescimento populacío-
É o que releva a tabela seguinte: . nal paraguaio e comparando esse crescimento com o do,
resto da América Latina, Reber conclui que o Paraguai
País População Comércio ex- Tropa de linha tinha, rio início da guerra, entre 285 715 e 318 144 ha-
terior em libras bitantes.
Paraguai 318144 560392 12945 'A. gyerra contra-e-Paragaui não teve- apenas implica-
Argentina 1737076 8951621 18000 ções externas. para.o.Brasil. NQ_WM10 interno, serviu co-
Uruguai (número mo çatalis~qora desont!"ªitiçõ~ _CLu~-iévãramà-proçlã-
250000 3607711
simbólico) .mação da.República elll.J]~2., Divergências sobre a con-
Brasil dução da guerra contribuíram para que setores do Partido
9100000 23739898 6000
Liberal se afastassem do Imperador, fragilizando a sus-
tentação política da Monarquia, ao mesmo tempo em que
Quanto maior o número de habitantes de um país, tan-
se fundava o Partido Republicano, em 1870. À-~a
to maior, em princípio, sua capacidade de ampliar o exér-
cito em caso de guerra@ fato demonstra a vulnerabili- também fez com que o Exército se fortalecesse enquanto
dade militar paraguaia, numa época em que e~os nu- força armada e adquinsse nova imageni-desi próprio,
merosos eram fundamentais para vencer gu~. Essa segÚndo a ~al.Qs-niilitares- eram os pafnotas, enquanto
vulnerabilidade se agravava com a posição geográfica do os civis --=-"os casacas" - , na maioria, defendiam mes-
Paraguai, isolado no interior do continente, sem acesso quinhos interesses próprios. Os líderes militares, que der-
ao mar - e, portanto, à aquisição de armas modernas rubaram a Monarquia há um século, haviam lutado no
no exterior -, graças ao bloqueio naval da esquadra bra- . Paraguai.
sileira na foz do Rio' Paranã, intransponível devido à \ "
A- importância da guerra contra o Paraguai para o pro-
aliança do Brasil com Argentina e Uruguai. cesso histórico brasileiro explíca-ít.Xasta bibliografia so-
1 A versão corrente é a de que o Paraguai teria, antes li bre o tema. Este livro pretende contribuir para esclarecer
r da guerra contra seus vizinhos platinos, I 300 000 habi- as origens do conflito. Para tanto, evita personalizar o \
14 Francisco Doratioto

processo histórico, como o fez a historiografia tradicio-


~,
nal, ao apontar as ambições' do ditador Solano L6pez
como causadoras da guerra. (Âo mesmo tempo, discorda
da teoria "imperialista", hoje predominante) O presente
livro vê a guerra entre Tríplice Aliança e o Paraguai co-
,)mo resultado do proce§so de formação e definição do \
I caráter dos Estados nacionais, em que setores da classe
dominante seriam hegemônicos na organização estatal e, ,
portanto, mais beneficiados por ela, na região do Rio da
Prata.
BRASIL - PARAGUAI: POLÍTICAS
DEFENSIVAS NO PRATA

A burguesia mercantil de Buenos Aires, chamada por-


tenha devido à importância do porto da cidade, liderou
a independência do Vice-Reino do Prata contra a Espa-
nha, pondo fim ao monopólio comercial metropolitano.
No plano interno, porém, pretendia estabelecer novo mo-
nopólio, apresentando-se como única intermediária do
comércio do antigo Vice-Reino com o exterior. Valia-se,
para tanto, da posição estratégica de Buenos Aires na
foz do Rio Paranã, que lhe permitia bloquear o contato
marítimo dos territ6rios da região com o resto do mundo.
A antiga Província do Paraguai não aceitou submeter-

I • I
I
se à liderança da burguesia portenha e proclamou-se in-
dependente. Sofreu, em represália, a hostilidade de Bue-
nos Aires que, em 1813, embargou o seu comércio ex-
16 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2ª·visão 17

tenor. Como conseqüência, o líder paraguaio José Gaspar com o paraguai) nomeando Manuel Corre a da Câmara

I de Francia isolou o país para melhor defender sua inde-


pendência. Membros da elite, simpáticos a Buenos Aires
por interesses econômicos, foram esmagados pelo Dita-
l
como cônsul e agente comercial em Assunção. No ano
seguinte, Francia reivindicou a definição dos limites com
o Brasil, invocando a aplicação do Tratado. de Santo Il-
defonso, de 1777, assinado entre as Coroas espanhola e
dor Perpétuo, que, assim, dominou sem resistência o Pa- -;I.!
raguai, até sua morte natural. A Igreja, por sua vez - portuguesa. Pelo critério do uti possidetis de facto, ca-
A' beria a cada país o território que efetivamente estivesse
pelo apoio do Papa Leã~ XII, em 1824, aos esforços de f

ocupando quando da independência, o que levaria As-


Fernando VII para restabelecer sua autoridade sobre as
sunção a perder terras situadas à margem direita do Alto
antigas colônias -, teve suas ordens religiosas expulsas
Paraguai, onde os portugueses tinham se estabelecido.
do país e seus bens, terrase escravos transferidos para
(Chamado de volta ao Rio de Janeiro, onde chegou em
as mãos do Estad0.::J . I
fevereiro de 1826, Câmara foi nomeado, em abril domes-
O isolamento paraguaio implicou um tipo de econo- mo ano, Encarregado de Negócios em Assunção, com ins-
mia com o Estado incipiente como agente principal de truções de firmar um tratado de paz e comércio com o
produção e comércio, além de regulador de todas as atí- Paraguai, garantindo o livre trânsito de cidadãos e mer-
Vidades. Nas terras confiscadas à classe dominante tra- cadorias entre os dois países. Não se fazia referência à
dicional, o governo paraguaio organizou 175 "Estâncias definição das fronteiras)
da Pátria", alugadas a camponeses ou por ele próprio De volta ao Paraguai, Câmara não chegou a ser rece-
\ exploradas com mão-de-obra escrava ou de prisioneiros. bido pelo Ditador Perpétuo. Francia sentiu-se ludibriado
Tanto o aluguel das terras como os tributos eram pagos pelo fato de o Encarregado de Negócios não vir acompa-
em espécie, não se Utilizando moeda. nhado de um barco com armas, sob escolta de navios de
guerra brasileiros, conforme prometera anteriormente em
carta ao ditador. Tal barco, sem escolta, ficara fundeado
em Montevidéu, em decorrência da guerra entre o Im-
D. Pedro I procura estabelecer relações com o pério e as Províncias Unidas do Rio da Prata - que
Paraguai englobava Buenos Aires e as províncias do interior ar-
~ gentino - e da possibilidade de que a Marinha argentina
0 apreendesse no Prata. A fraqueza militar do Império,
(Em 1824, para neutralizar a influência de Buenos Ai- evidenciada nessa guerra, a não entrega das armas pro-
res no Prata, D. Pedro I procurou intensificar relações, 1 metidas e a continuidade da ocupação dos territórios do
18 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2~ visão' 19

,Alto Paraná por brasileiros levaram Francia a obrigar Câ- então, impor um modelo centralizador de Estado, pelo
mara a retomar ao Brasil em junho de 1829. qual o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo pudes-
A guerra entre o Império e as Províncias Unidas do sem apoderar-se do mando político do país. Grupos do-
Rio da Prata decorreu da decisão do Congresso destas minantes regionais resistiram à imposição com subleva-
de incorporar a Banda Oriental (a "Cisplatina"), onde ções, às quais aderiam as massas populares com deman-
surgira a luta pela independência em relação ao Brasil. das próprias, procurando livrar-se de sua marginalização.
O território, motivo de três anos de guerra, não coube, , Das revoltas provinciais, a que se apresentou talvez
afinal, a nenhum dos dois contendores; tomou-se inde- como o maior desafio ao Rio de Janeiro foi a da Farrou-
pendente, graças à interferência diplomática da Grã-Bre- pilha, no Rio Grande do Sul. Iniciada em 1835, em 1838
tanha. Na Banda Oriental surgiu um país soberano: a proclamou a República Rio Grandense, seguida da Re-
República Oriental do Uruguai, com Buenos Aires e Rio pública Juliana, em Santa Catanna A Farroupilha pro-
de Janeiro assumindo o compromisso de defenderem a moveu uma articulação com o exterior, pela qual os re-
independência e integridade do novo Estado. A interfe- beldes, fugindo ao bloqueio naval da costa gaúcha pela
rência do governo britânico deveu-se aos grandes inte- Marinha Imperial, utilizaram-se de Montevidéu para suas
resses comerciais ingleses na região, cuja prosperidade exportações e para o recebimento de munições. Essa ar-
dependia de paz e de um porto seguro, Montevidéu. ticulação foi possível porque no Prata existia uma pola-
"rização de forças em luta entre si. No Uruguai disputa-
vam o poder os coZorados, ligados aos comerciantes e
às potências européias, aceitando as idéias liberais, e os
As lutas internas no Império e o recuo no Prata bZancos, compostos principalmente de proprietários ru-
rais, herdeiros da tradição autoritária espanhola, que se
I, opunham às intervenções européias no país.
Na década de 1830, inexistiram contatos oficiais entre
os governos brasileiros e paraguaio, pois ambos volta-
I, ram-se para seus problemas internos, ausentando-se do
Confederação Argentina: luta interna e interesses
Prata. Enquanto o Paraguai se isolava para preservar sua
geopolíticos
independência em relação a Buenos Aires, o Império en-
frentava lutas internas. Com a abdicação de b. Pedro I
em 1831, o poder político passou às mãos de brasileiros,
mais especificamente dos proprietários rurais. Tentou-se, I Envolvido na luta uruguaia estava o .governo da Con-
federação Argentina, que em 1831, sob a hegemonia de
Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2e visão 21
20

Buenos Aires e tendo como líder o grande proprietário Juan Manuel de Rosas, da Província de Buenos Aires,
de terras Juan Manuel de Rosas, sucedeu às Províncias era líder dos produtores de charque para exportação, des-
tinada à alimentação de escravas no Brasil e em outras
Unidas do Rio da Prata, dissolvidas em 1829. A carac-
regiões do continente. Contava com o apoio de comer-
terística principal do processo de construção do Estado
ciantes e financistas portenhos, monopolizadores do co-
nacional argentino foi a luta entre unitários e jederalis-
mércio exterior. Tal monopólio prosseguiu com a Lei
tas. Ambos setores da clãsse dominante, unitários e fe-
das Aduanas de 1835. Proibindo a importação de uma
deralistas travavam uma disputa na qual estava em jogo série de produtos estrangeiras, e fechanda a Ria Paraná
o caráter que deveria assumir o Estado argentino. Os à navegação de barcos mercantes de outros países, essa
primeiros, basicamente comerciantes de Buenos Aires, lei favoreceu as manufaturas do interior argentino e, ao
defendiam um modelo centralizado, sob a liderança.da mesmo tempa, a própria burguesia mercantil, concen-
capital do antigo Vice-Reino. Pretendiam impor o mo-· trando toda contato cam o exterior na parto de Buenos
nopólio-do comércio exterior através da parto de Buenos Aires. Canjugada com uma política de farte repressão
Aires, apraprianda-se das rendas provenientes das aos opositores, cujas disputas promovia, a Lei das Adua-
impastos alfandegárias sabre as importações, Já osjede- nas de 1835 permitiu a Rosas estabelecer, sob a aparên-
ralistas, fundamentalmente elites regianais (grandes pro- cia de uma Confederação, um poder centralizado, favo-
prietários), pequenos manufatureiros e camerciantes vin- recendo a hegemania partenha.
culados ao mercado regional, eram favoráveis ao Estado A existência do Estada argentino centralizado permitia'
descentralizado, que lhes garantisse a cantinuidade de e, simultaneamente, exigia, para sua continuidade, que
Sua autonomia local. Além disso, a descentralização evi- Rosas interviesse no Uruguai, pois a porto de Montevi-
taria que a burguesia mercantil partenha se apropriasse, déu representava uma possível alternativa ao de Buenos
por meia de impostos, do excedente econômico gerado Aires para o comércio externa das províncias do litoral
nas províncias e que ficava em mãos dessas oligarquias fluvial argentino - Entre Rias, Corri entes , Santa Fé e
regionais. Córdoba -, assim chamadas por terem acesso ao mar
A luta entre centralizadores e descentralizadores foi par meio dos rios. Tal passibilidade seria afastada com
característica das diferentes países da América Latina, . 'o estabelecimento do "sistema americano", no qual a ca-
com exceção do Paraguai, que vivia sab a ditadura ..de. pital da Confederação submeteria também o Paraguai e
Francia. No Brasil, o Partido Liberal defendeu a descen- o Uruguai. Assim, na guerra civil uruguaia, que se esten-
tralízação, enquanto a Partida Conservador era favorável deu de 1839 a 1851, a Argentina interveio apaiando a
ao projeto centralizador, facção blanca contra os colorados. Estes, por sua vez,
22 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2~ visqo 23

contavam com a apoío das potências européias, a que revolta; a 1º de março de 1845 foi assinada a paz. A
lhes permitiu resistir em Montevidéu ao cerca dos ini- reintegração do Ria Grande ao Império beneficiou .os
migos. O Império brasileira, imobilizado em suas lutas próprias pecuaristas gaúchos. que passaram a contar, en-

I internas, manteve-se compulsoriamente neutro nessa


disputa.
•.
tão, com um governo central forte, ao qual recorreram,
nas anos seguintes, na defesa de seus interesses na Uru-
guai, ande tinham terras. O modelo de Estada nacional
centralizada foi vítorioso sobre as anseias descentraliza-
dares parque mais importante que estes, para os senhores
o fim da Farroupilha e a recomposição da rurais, era a manutenção da estrutura sõcío-econômíca
unidade nacional que as privilegiava. Essa estrutura, escravista, só poderia
ser eficazmente garantida pela poder central, pais apenas
a burocracia imperial dispunha de meios diplomãtícos e
A forte posição de Rasas à frente da Confederação políticos capazes de se oporem às pressões britânicas pa-
Argentina coíocou para o governo imperial a desafia de ra acabar com o trãfico negreiro. Ademais, o poder cen-
exercer uma política de isolamento de Buenos Aires na tral confirmava as prerrogativas dos grandes proprietá-
Ria da Prata. Para tanta, era imprescindível contar com rios rurais e se mostrava eficiente em manter a ordem
a unidade intena brasileira: ao governo forte da Confe- (isto é, seus privilégios) no campo e na cidade e, ao
deração só poderia contrapor-se outro governo forte. A mesmo tempo, arbitrar as divergências entre .os grupos
solução da questão platina era, portanto, uma necessidade dominantes. O bloco do poder passou a ter como núcleo
e, ao mesmo tempo, um instrumento na consolidação da a oligarquia, que se enriquecera com a produção do café
Estada nacional brasileiro centralizado. Com a derrota na vale do Ria Paraíba do Sul e que cimentou o Estado
de Rosas e a preponderância do Império nessa região da que construía na maioridade antecipada de D. Pedro 11.
América da Sul, futuros movimentos rebeldes no Sul da
Brasil seriam inviáveis sem o apoio externo. A hegemo-
nia imperial sobre os países platinos era, portanto, uma.
necessidade para a manutenção domodelo político mo-
nárquica brasileiro. ' ,
Nesse contexto, o fim da Farroupilha era fundamental
e, comandante das forças legalistas no Rio Grande do .
Sul, o Marquês de Caxias esforçou-se para pôr fim à
, li
A Guerra do Paraguai: 2~ visão 25

mo tempo estabeleceu certa autonomia em relação à po-

I
tência hegemônica européia, a Inglaterra, como revela a
recusa em renovar, no início da década de 1840, o Tra-
tado Comercial de 1827, que concedera aos ingleses pri-
vilégios comerciais.
O fato de ser a única monarquia na América levou os
governantes do Império a apontarem o Brasil 'como um
solitário no continente, cercado de potenciais inimigos,
Temia-se o surgimento de uma grande república liderada
AS POLÍTICAS EXTERNAS ATIVAS por Buenos Aires, que poderia vir a ser um centro de
E CONVERGENTES (1842-1852) atração sobre o problemático Rio Grande do Sul e o iso-
lado Mato Grosso. Para o Império, a melhor garantia de
que a Argentina não se tomaria uma ameaça concreta
estavano fato de Paraguai e Uruguai serem países inde-
pendentes, com governos livres da influência argentina,
No início, da década de 1840, tanto no Brasil quanto A existência desses Estados era, também, a segurança de
no Paraguai, ocorreram mudanças que permitiram aos que os rios platinos não seriam nacionalizados por Bue-
dois Estados voltar a participar das questões platinas. Su- nos Aires, o que ameaçaria sua livre navegação. E esta,

I ficientemente estruturados internamente, resolveram re-


tomar uma política para a região, necessária, por sua vez,
para enfrentar Rosas, o inimigo comum em potencial.
Esse contexto levou ao estabelecimento de relações de
co?peração entre Assunção e o Rio de Janeiro.
como foi visto, era essencial ao Rio de Janeiro, pois a
via fluvial era a única forma- de acesso à província de
Mato Grosso; viabilizando sua defesa e seu comércio
com o resto do país.
A ação do Império no Prata foi facilitada pelas lutas
internas nos países da área, em função do caráter que
'A unidade nacional brasileira e a melhoria das finan-
deveriam assumir os respectivos Estados. O governo im- .
, ças imperiais - graças, principalmente, ao desenvolvi-'
perial apoiava a facção que melhor atendesse aos seus
mento da cafeicultura - fortaleceram o Estado monár- interesses, e estes se identificavam com a corrente polí-
qUiCO;permitindO-lhe alterar sua política externa. O go- tica liberal, aberta ao comércio exterior e,' portanto, à
t verno imperial ampliou sua presença no Prata e ao mes- liberdade de navegação dos rios.
26 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2g visão 27

A política externa paraguaia depois de Francia portação era a única forma significativa de essa burgue-
sia obter dinheiro, em contrapartida das mercadorias
agropecuárias que produzia, ou seja, de acumular capital
Em "1840 morreu Francia, o ditador paraguaio. Um

I
na forma monetária."
.•.•., dos representantes do núcleo de sobreviventes dos gran- Carlos López instalou no país uma ferrovia, além de

I
des proprietários rurais, Carlos Antonio López, mano- fundição e arsenal, estimulando também o comércio ex-
brou a situação de modo que o Congresso paraguaio, terior. Para absorver tecnologia moderna, estabeleceu
reunido em 1844, o designou presidente da República. " contato direto com os países da Europa e os Estados
Conseguiu também que o Congresso promulgasse uma Unidos. Na década -de 1850, Francisco Solano Lõpez,
"Lei de Administração Política da República", legalizan- filho do presidente paraguaio, foi enviado ao velho con-
do o sistema político autocrático implantado por Francia. tinente como Ministro Plenipotenciário, ou seja, agente
Consolidou-se, assim, uma extrema centralização do po- diplomático portador de plenos poderes para negociar.
der, permitindo ao presidente fazer praticamente tudo o Na Inglaterra, entrou um contato com a Blyth & CO., à
que desejasse, sob a justificativa de manter a ordem. época unia das companhias tecnologicamente mais avan-
No plano interno, o governo de Carlos López foi uma çadas do mundo. Por seu intermédio, o Paraguai conse-
continuidade da autocracia de Francia, mas nas relações guiu material de guerra e recrutou dezenas de técnicos
I
exteriores foi diferente. O novo chefe de Estado procurou europeus para modernizar o país, ao mesmo tempo em
romper o isolamento do país, e o Congresso, para con- que jovens guaranis iam receber treinamento especiali-
seguir o reconhecimento internacional, proclamou sole- zado 'naquela empresa. "
nemente, em 1842, uma independência que, de fato, era O Estado paraguaio dos López - Francisco Solano
realidade desde a década de 1810. sucedeu ao pai na presidência - implementou, pouco a
A mudança da política externa atendia à necessida- pouco, uma estratégia de "crescimento para fora", essen-
de de viabilizar a dinamização da economia. Na ausência cialmente com base nas exportações agropecuárias para
de um setor social com experiência administrativa e ca- os mercados regional e europeu. Essas exportações só se
pital financeiro para tanto, o Estado assumiu essa dina- I' tomaram viáveis com a liberdade de navegação implan-
mização, passando a representar os interesses da nascente tada no Prata após a derrubada de Rosas. A partir da
burguesia rural, ligados à expansão do regime capitalista, década de 1850 e até 1862 surgiram dois Estados argen;
com base na exploração da agropecuária e mão-de-obra tinos: a Confederaç-ão Argentina e o Estado de Buenos
barata e disciplinada, visando ao mercado externo. A ex- Aires; lutando entre si, não impuseram obstáculos à livre
A' Guerra do Paraguai: 29 visão 29
28 Francisco Doratioto

esse Tratado, assumia também o governo imperial o


navegação no Prata. A estratégia de crescimento do Pa-
compromisso de se empenhar em prevenir hostilidades
raguai teve a originalidade de implantar acelerada mo-
contra o Estado paraguaio e, caso ocorressem, em obter
dernização no país, sem a participação de capitais estran-
a reparação dos ~anos sOfrid?S. O tratado garantia ~ livre
geiros, pagando à vista a tecnologia que importava.
navegação dos nos Paraguai e Paraná e estabelecia que

A aproximação entre Brasil e Paraguai


1 os dois países agiriam de comum acordo para garantir
também o livre trânsito de barcos no Prata. No que se
referia aos limites, reconheciam-se aqueles determinados
pelo Tratado de Santo lldefonso e estabelecia-se que se-
ria nomeada uma comissão para demarcar a fronteira .
A necessidade de o Paraguai ampliar contato com o . Além dos interesses geopolíticos, o Império tinha tam-
exterior para se modernizar encontrava obstáculo em Ro- bém os de caráter econômico para ser favorável à inde-
sas, que não reconhecia sua independência e dificultava pendência paraguaia. A erva-mate produzida no Brasil
o comércio guarani com o exterior, ao controlar a nave- .ocupava todos os mercados que o país guarani perdera
gação do Rio Paraná. Assim, o líder da Confederação, durante seu isolamento, sob o governo de Francia. Os
por representar uma ameaça comum, foi poderoso moti- produtos paraguaios exportados eram idênticos aos do
vo de aproximação entre Assunção e o Rio de Janeiro. BrasiL Caso o Paraguai se tornasse província da Confe-
Em 28 de dezembro de 1842, Carlos López enviou uma deração Argentina, seus produtos entrariam nesse mer-
nota ao governo brasileiro, solicitando o reconhecimento cado como nacionais e, o que excluiria os brasileiros,
da independência do seu país. Era a primeira comunica- causando consideráveis prejuízos ao comércio do Impé-
ção oficial que o governo paraguaio endereçava ao Im- rio com o Prata.
pério desde 1828. No ano seguinte, D. Pedro II nomeou Em 1846 chegou ao Rió de Janeiro o primeiro para-
José Antonio Pimenta Bueno como Encarregado de Ne- guaio enviado ao exterior no caráter de Encarregado de
gócios e Cônsul Geral no Paraguai. Em setembro de 1844,

I
Negócios: Juan Andrés Gelly. Nos primeiros dias de 1847,
Pimenta Bueno assinava em Assunção o ato de reco-
apresentou ao governo imperial dois projetos de tratados:
nhecimento da independência paraguaia, firmando, ain-
um de limites e outro de aliança ofensiva e defensiva.
da, um Tratado de Aliança, Comércio, Navegação, Ex-
O tratado de 1844, assinado por Pimenta Bueno com o
tradição e Limites, pelo qual, entre outras coisas, o Im-
Paraguai, não havia sido ratificado pelo governo brasi-
pério se comprometia a fazer gestões para que outros
leiro; este não concordava com o artigo que, na prãtica,
países reconhecessem a independência do Paraguai. Por
30 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 211 visão 31

estabelecia que qualquer país poderia abrir à força a na- o Império e os países do Prata: relações
vegação de rios interiores de outros países. A posição internacionais e política interna
dos governantes imperiais explica-se por ser o tratado
desfavorável ao Brasil e implicar um precedente ao qual
poderiam recorrer outros Estados vizinhos, em prejuízo ' Para neutralizar a situação, que via ameaçadora, Pau-
de territórios incorporados ao Império graças ao expan- lino de Souza tratou de ajudar financeiramente os colo-
sionismo lusitano, se considerado o Tratado de Santo Il- rados no Uruguai. Estes controlavam apenas a capital do
defonso para definir os limites. É importante considerar, país, na luta contra os blancos, cujo líder, Oribe, tinha
também, que o rio Amazonas era mantido fechado à na- \ o apoio, militar inclusive, de Rosas. Além disso, o chan-
vegação internacional, inclusive de embarcações de paí- celer brasileiro aproximou-se de setores que se opunham
ses fronteiriços, enquanto ao sul, paradoxalmente, o Im- a Rosas na Confederação, assinando uma aliança com o
pério defendia a abertura dos rios platinos à mesma na- Paraguai, em 1850. Com os colorados o Império assu-
vegação. Ao aceitar o princípio do tratado assinado por miu, secretamente, o compromisso de colaboração finan-
Pimenta Bueno, estaria o governo imperial abrindo ca- ceira mensal, por intermédio do banqueiro Irineu Evan-
minho para a intervenção, no Norte do país, de potências gelista de Sousa, futuro Barão de Mauá. Evitava-se, as-
européias e dos EU A interessadas na região amazônica. sim, a eventual queda de Montevidéu nas mãos dos blan-
A posição do governo imperial quanto ao Paraguai era COS, o que privaria o Império de sua base de operações

I de apoio discreto, pois o Rio de Janeiro não se via pre-


parado para um enfrentamento direto com Rosas. Ao
mesmo tempo, Paulino de Souza, Ministro dos Negócios
na guerra que se aproximava contra Rosas.
A maior presença do Império nas questões do Estado
uruguaio era, também, uma exigência de estancieiros
Estrangeiros do Império, montava um plano contra o di- gaúchos. Estes reivindicavam a intervenção do Rio de
tador argentino. Esse chanceler procurou construir uma Janeiro contra Oribe, que os havia prejudicado ao proibir
política para o Prata que se contrapusesse às relações a continuidade do contrabando de gado uruguaio para o
amigáveis que Inglaterra e França passaram a manter Rio Grande do Sul. Tais estancieiros passaram a invadir
com o líder da Confederação, fortalecendo-o no final da seguidamente a República vizinha com o fim de prear
década de 1840. Assim, na opinião de Paulino de Souza, gado, bem como de resgatar escravos foragidos que en-
.caso Rosas conseguisse submeter totalmente a oposição contravam refúgio entre os blancos.
interna, anexaria o Paraguai à Argentina, que se tomaria O governo imperial, com o apoio de setores .polítícos
extremamente forte, enquanto o Império estaria isolado internos platinos, preparava-se para uma intervenção no
e vulnerável ao ataque do ditador. , Uruguai e na Confederação. No Uruguai, iria .apoiar o
32 Francisco Doratioto Guerra do Paraguai: 2' visão 33

governo legal, colorado, isolado em Montevidéu, que era de 1851. O objetivo declarado era manter a indepen-
favorável à liberdade de navegação, contra os blancos dência e promover a pacificação do Uruguai por meio
• que dominavam todo o país e se alinhavam com Rosas. da expulsão de Oribe e da força argentina que o apoiava .
Na Confederação, o governo brasileiro .tambérn buscaria No decorrer dos acontecimentos, Urquiza entrou com
se aliar à oposição a Rosas. Assim, a 25 de dezembro suas forças em território uruguaio e em outubro os b/an-
de 1850, o Império assinou com o Paraguai um tratado cos se rendiam. O ditador argentino, em represália, de-
secreto contra Rosas: que também estabelecia a promessa clarou guerra ao Brasil, que, para enfrentá-lo, estabeleceu
de auxílio recíproco para manter livre a navegação do nova aliança com o governo uruguaio e as províncias de
Rio Paraná. O Brasil colocou armase oficiais instrutores Entre Rios e Corrientes. O Rio de Janeiro concedeu um
à disposição do Paraguai, que retribuiu com a promessa empréstimo a Urquiza para financiar a luta, além.de for-
de cavalos. necer material de guerra.
A situação interna da Confederação favoreceu o Im- o Paraguai não aderiu à aliança contra Rosas porque

I
pério. Em maio de 1851, Justo José de Urquiza, gover-
nador de Entre Rios, província que tivera sua economia
atingida por medidas de Rosas, rompeu com este. Quatro
I
Caríos López tinha dúvidas da boa-fé de Urquiza em
relação ao país guarani. Já o governo inglês, ainda que
favorável ao ditador, absteve-se de tomar partido no con-
meses antes, em janeiro, o representante do governo im- flito. A manutenção da ordem que credenciara o líder da
perial em Montevidéu fora procurado por um agente de Confederação aos olhos dos governantes britânicos esta-
Urquiza e, a partir desse contato, as negociações evoluí- va custando a própria ordem, e a única forma de enfren-
ram para uma aliança entre o caudilho entrerriano e o tar os dissidentes apoiados pelo Brasil seria o terror cres-
Brasil, na qual aquele aceitou as condições determinadas cente. Ora, a luta no Uruguai, a guerra civil na Argentina
por Paulino de Souza: rompimento público entre Urquiza e o recrudescimento da repressão política eram prejudi-
e Rosas; garantia por parte do primeiro da mariutenção ciais aos investimentos e ao comércio internacional em
da independência do Uruguai e do Paraguai e, ainda, a Buenos Aires. O governo de Rosas perdera, assim, sua
retirada das tropas argentinas do Uruguai, onde o coto- razão histórica de existir.
rado Eugênuo Garzón deveria ser mantido na presidên- Em combate travado em Monte Caseros, a 3 de feve-
cia. A política do Império no Prata beneficiava-se, assim, reiro de 1852, as tropas aliadas, com vinte e cinco mil
com a velha disputa entre unitários e federalistas na Ar- soldados, dos quais. quatro mil eram brasileiros, vence-
gentina. ram a força de vinte e dois mil homens chefiados por
A aliança ofensiva entre os governos do Império, de Rosas, que se exilou na Grã-Bretanha, onde morreu.
Montevidéu e de Entre Rios foi assinada em 29 de maio
lt
I IA Guerra do Paraguai: 2~ visão 35

l
Buenos Aires, tendo como capital a cidad~ de mesmo
nome.
A posição do Império no Prata era confortável, pois
com a derrota de Rosas rompera-se o equilíbrio de forças
na região em favor do Rio de Janeiro, que pôde, assim,
., tomar-se hegemônico na área. O novo quadro platino
permitiu ao governo imperial estabelecer os tratados de
1851 com o Uruguai, que se tomou quase um protetorado
brasileiro, e a permanecer tranqüilo quanto à continuida-
OS INTERESSES DIVERGENTES de das independências uruguaia e paraguaia, pois contra
(1853-1862) as mesmas não havia uma ameaça argentina imediata. O
" .
governo imperial manteve-se, inicialmente, eqüidistante
nas disputas entre Buenos Aires e a Confederação, não
devido a uma política deliberada, mas em decorrência da
ameaça britânica em apoiar Buenos Aires, caso o Brasil
Derrubado Rosas, os governadores das províncias ar-
ajudasse Urquiza de algum modo. Isso, porém, não im-
gentinas assinaram o Acordo de San Nicolãs, pelo qual pediu que o Império fosse simpático à Confederação,
perdia Buenos Aires a delegação das demais províncias com a qual chegou a assinar, em 1856, um Tratado de
para dirigir a política externa.e as finanças do país. Para Amizade, Comércio e Navegação.
executar tais tarefas foram criados os poderes Executivo
.e Legislativo, ambos de caráter nacional. Enquanto treze
províncias juravam, em 1852, a Constituição, que sacra-
mentava as alterações, a burguesia mercantil portenha Os problemas da fronteira e da navegação do
recusava-se a participar, com Buenos Aires fazendo sua Paraná
própria Constituição em 1854. Passaram a existir, então,
duas unidades políticas independentes entre si; uma, a
Confederação, com capital na cidade de Paranã, tendo A essa altura, colocava-se ao Rio de Janeiro a questão
de definir, de modo favorável a si, as fronteiras tanto
como Presidente o general Urquiza, e outra, o Estado de
\ com a Confederação, quanto com o Paraguai. Faltava,
36 A Guerra do Paraguai: 29 visão 37
Francisco Doratioto

ainda, à diplomacia imperial, consagrar, de acordo com princípio do 'ut! possidetis de facto, pois seus cidadãos
o direito internacional, por meio da assinatura de trata- ocupavam a área. O governo paraguaio, por sua vez, sõ
dos, a livre navegação dos rios internacionais que pas- aceitava o uti possidetis jure, baseando-se na posse legal,
savam pelos territ6rios desses países, existente de fato para o que invocava o Tratado de Santo lldefonso, de
desde 1852. Carlos Antonio L6pez, porém, praticou uma 1777, assinado entre as Coroas espanhola e portuguesa,
política de resistência quanto às demandas do Rio de como definido r das fronteiras. O Império, porém, con-
Janeiro, condicionândo a assinatura de tratados de co- tra-argumentava que o Tratado de Badajoz, de 1801, en-
mércio e de livre trânsito fluvial à definição de limites tre as duas antigas metrópoles, superara aquele do século
favoráveis ao Paraguai. Como conseqüência, durante par- anterior, anulando-o. O governo guarani insistia no Rio
te da década de 1850 as relações brasileiro-paraguaias Branco como limite entre os dois países, por acreditar
caracterizaram-se pelas divergências, que quase levaram que o Apa não significava uma barreira genuína para a
os dois países à guerra. expansão de brasileiros na região. Esse último rio per-
r As relações entre a Confederação e o Paraguai não manecia quase seco, restando-lhe apenas um fio d'água
. eram, em 1856, das mais cordiais. O Congresso da Con- durante metade do ano, não se caracterizando como um
federação recusara-se a ratificar o Tratado de Limites obstáculo sério à referida expansão.
assinado com Assunção em 1852, quando do reconheci- As divergências quanto às fronteiras foram a causa
mento da independência paraguaia, ordenando que Ur- central da deterioração das relações entre o Paraguai e
quiza o renegociasse. A resistência de Carlos L6pez em o Império, a ponto de, em 1853, o governo paraguaio
ceder o Chaco e as Missões, regiões reivindicadas pelo expulsar do país o Encarregado de Neg6cios brasileiro,
governo da Confederação, fez com que esta se conten- Pereira Leal, acusado de provocar a discórdia nas rela-
tasse em assinar, em 1856, um Tratado de Paz, Comércio ções entre Assunção e Buenos Aires e de faltar com o
e Navegação com o Paraguai, deixando em suspenso a respeito para com Carlos L6pez. No ano seguinte, o go-
~questão de limites por seis anos. verno paraguaio proibiu a navegação de navios estran-
Também as relações entre o Rio de Janeiro e Assun- geiros por seus rios, enquanto não fossem definidas as

I
. ção eram problemáticas na década de 1850, devido à
questão da livre navegação do Rio Paraguaí, bem como
a definição das fronteiras. O governo imperial reclamava
os tenit6rios entre os rios Branco e Apa, com base no
fronteiras com o Brasil. Desse modo buscava impedir
que o Império fortalecesse o Mato Grosso, pois era in-
teresse de Carlos López negociar os limites com o Brasil
em uma posição favorável política e militarmente.
38 A Guerra do Paraguai: 2~ visão 39
Francisco Doratioto

Prenúncio de guerra e acordos precários mais de 600 toneladas, nem transportassem mais de oito
canhões cada um. Tais medidas, contudo, segundo cláu-
sula do tratado, só entrariam em vigor quando houvesse
À expulsão de Pereira Leal e estabelecimento de obs- um acordo definitivo sobre a questão dos limites entre
táculos à navegação seguiu-se uma exibição de força por os dois países. A missão de Ferreira de Oliveira foi um
o
parte do Império. Almirante Pedro Ferreira de Oliveira desastre diplomático que pode ser explicado pelo fato de
partiu do Rio de Janéiro para Assunção em caráter de En- Carlos L6pez não pensar em recuar, já que não temia a
carregado de Neg6cios no Paraguai, acompanhadode uma esquadra imperial, pois tomara conhecimento das ordens
esquadra de vinte navios, 130 canhões e cerca de 2 000 do Almirante de abster-se de qualquer violência.
homens. Tinha instruções no sentido de conseguir a re- O governo imperial não ratificou o acordo assinado
paração de atitude do governo paraguaio com respeito à por Ferreira de Oliveira, já que não se obteve o livre
referida expulsão, bem como garantir a livre navegação trânsito do Rio Paraguai, conforme estabelecido, impli-
dos rios Paranã e Paraguai com base no artigo 32 da \ citamente, pelo tratado de 1850. Preparou-se então o Im-
Convenção de dezembro de 1850. Deveria ainda o Al- pério para usar a força para abrir aquela via fluvial à
mirante obter um tratado de -comércío e limites com o navegação, mas Carlos L6pez, procurando ganhar tempo,
país vizinho. enquanto se fortalecia militarmente, enviou um Ministro
Não chegou a haver choque armado entre a esquadra Plenipotenciário ao Rio de Janeiro em 1856, para tratar
e as forças paraguaias. Ferreira de Oliveira, de um lado, dos assuntos pendentes. Em 6 de abril do mesmo ano,
não podia fazer operações de guerra, pois, paradoxal- o enviado paraguaio assinou com o Império o Tratado
. mente, tinha ordens de se abster de qualquer ação vio- de Amizade, Comércio e Navegação, no qual se adiava
lenta, e, ademais, o rebaixamento das águas do Rio Pa- por seis anos a definição de limites e garantia a livre
raguai imobilizara a força naval à altura da fortaleza de navegação do Rio Paraguai para os barcos brasileiros.
Humaitá. Carlos L6pez, por sua vez, não dispunha, ainda, Desse modo, em 1862, Assunção deveria retomar a di-
de forças suficientespara um enfrentamentocom o Brasil. fícil questão de limites, simultaneamente com os vizinhos
As duas partes não querendo luta, houve negociação brasileiro e argentino, com os quais tinha compromissos
e chegou-se a um acordo. O governo paraguaio concor- assinados nesse sentido. Tal coincidência seria um risco
dou com o trânsito de navios mercantes por seus rios, para o Paraguai, na medida em que oferecia aos dois

I sujeitos, porém, a prévia autorização; e de apenas dois


vasos de guerra, juntos ou não, desde que não pesassem
países um motivo para agirem em conjunto nos assuntos
relacionados a Assunção.
40 A Guerra do Paraguai: 29 visão 41
Francisco Doratioto

. Confederação. Tal fato intimidou Carlos L6pez, levan-

I
Apesar do acordo assinado, o governo de Carlos Ló-
do-o a adotar uma posição de prudência e a aceitar as
pez continuou a dificultar, por 'meio de regulamentos, a
pretensões brasileiras qúanto à navegação. No mês se-
passagem dos navios brasileiros que rumavam para Mato
guinte, o Ministro Plenipotenciário do Império assinou
Grosso. Em resposta, o chanceleer imperial, José Maria
com o representante paraguaio, Francisco Solano López,
da Silva Paranhos, partiu para Assunção, passando antes
um acordo que liberou os rios à navegação e, por pro-
por Buenos Aires e por Paraná, onde assinou com a Con-
tocolo anexo, definiu a Baía Negra como.limite ociden-
federação vários acórdos, entre os quais um em que o
tal, no Chaco, entre os dois países:
Brasil concedia um novo empréstimo e um protocolo re-
Assim, no final dos anos 1850 e início da década se-
servado. Por este, a Confederação, juntamente com o
guinte, a hegemonia do Império só não era completa no
Uruguai, reclamaria a abertura do Rio Paraguai à livre Prata devido à resistência do governo de Assunção. Era
navegação, coincidindo a demanda com a presença de a ameaça à independência do Estado guarani que fizera,
Paranhos em Assunção. Não se chegou a estabelecer uma no passado, as relações brasileiro-paraguaias centrarem-
, aliança militar contra o Paraguai porque o enviado im- '
se nos aspectos convergentes. Afastada tal ameaça, em
perial não aceitou as pretensões argentinas quanto à de- decorrência das lutas internas argentinas, passaram a pre-
c
t<Y7.:
finição de limites com esse país vizinho'. Ainda assim, dominar naquelas relações as divergências, potencializa-
Qi'f-etQC.Q!O estabelecia a possibilidade de cooperação mi- das no início da década de 1860, quando se definiu o
litar entre1'araná e Rio de Janeiro, em caso de guerra contexto que levaria à guerra entre o Paraguai e o Brasil,
contra o Paraguai. Neste caso, a Confederação forneceria em dezembro de 1864.
6 000 homens, enquanto ao Império caberia acrescentar
mais 8 000 soldados, além de forças navais para o blo-
queio fluvial, ataque a posições paraguaias e transporte
de suprimentos e tropas. Caso não participasse do con-
flito, caberia ao governo de Paraná permitir que as forças
imperiais passassem pelo território de Corrientes, en-
quanto o Brasil se comprometia a impedir, com sua Ma-
rinha, eventual ataque de Buenos Aires à Confederação.
Em janeiro de 1858, Paranhos encontrava-se em As-
sunção, onde circulavam, convenientemel!te, os rumores
do protocolo reservado que assinara com o governo da
li
A Guerra do Paraguai: 2~ visão 43

Governos liberais em Buenos Aires e no Rio de


Janeiro: as bases de uma aliança

. A reunificação argentina em 1862 se deu após uma.


guerra entre a Confederação e Buenos Aires. As forças
portenhas, comandadas por Bartolomé Mitre e com o
apoio de colorados uruguaios, venceram aquelas chefia-
das pelo líder político e maior fortuna da província de
o PARAGUAI RUMO À GUERRA Entre Ríos, Justo José Urquiza. O governo da Confede-
(1862-1865) ração coube, interinamente, a Mirre, que terminou eleito,
em outubro de 1862, presidente da República Argentina,
como passou a ser designado o país. Assim, a burguesia
mercantil e financeira de Buenos Aires conseguiu impor
sua hegemonia às províncias do interior argentino. Como
f O ano de 1862 foi um marco no processo histórico. conseqüência, venceu o projeto liberal de um Estado cen-
que levaria à guerra envolvendo os Estados platinos. tralizado, tendo Buenos Aires como epicentro político e
Nestes ocorreram, então, mudanças políticas internas, econômico. Até a década de 1870, principalmente no pe-
que repercutiram nas relações internacionais no Rio da ríodo da guerra contra o Paraguai, ocorreram sublevações
Prata. No Paraguai ascendeu ao poder Francisco Solano Iocalízadas à supremacia portenha sobre o resto do país,
López; na Argentina houve a reunificação sob a liderança mas eram os últimos estortores de uma época e não uma
de Buenos Aires e, no Brasil, o Partido Liberal substituiu contestação séria à nova realidade.
~
o Conservador no governo. Tais mudanças coincidiram O novo Estado argentino não constituía preocupação
com o fim da moratória para a definição dos limites, ao Império, pois suas relações com a Confederação ti-
estabelecido pelo Paraguai com o Império e com a Con- nham perdido densidade, devido ao fato de Urquiza não
federação na década anterior. assimilar a recusa de apoio militar e de novo empréstimo
Ipor parte do governo brasileiro. Além disso, Buenos Ai-
1res não mais se apresentava como ameaça. Por tratado,
assegurou ao governo imperial que os armamentos de
44
Francisco Doratioto I A Guerra do Paraguai: 2g visão 45

Martín Garcia - ilha que, fortificada, poderia controlar Francisco Solano López e a ofensiva paraguaia no
a navegação do Prata - não tinham por fim opor obs- Prata
táculos ao livre trânsito dos rios Paraná e Paraguai por
países neutros, nem o objetivo de ameaçar a 'inde-
pendência uruguaia. A burguesia mercantil e financeira No mesmo ano de 1862 faleceu o presidente paraguaio
de Buenos Aires tinha interesse na paz com o Império, de Carlos Antonio López, substituído na chefia do Estado
modo a evitar obstãculos externos à sua consolidação no pelo filho, Francisco Solano López. O Paraguai era, en-
poder. Ademais, uma guerra com o Brasil significaria, tão, um país unificado, que, graças à presença de técnicos
em decorrência de eventual bloqueio do Rio da Prata, estrangeiros, fizera alguns avanços técnológicos. Essa
promovido pela Marinha imperial, a perturbação do cres- modernização, todavia, era de caráter militar ou defen-
cente e 'promissor comércio externo argentino. sivo, pelo fato de que o país não tinha fronteiras defini-
Após décadas de posições contrárias, as políticas do das com seus vizinhos e continuava a desconfiar das in-
Império - desde 1862 governado por um gabinete libe- tenções de Buenos Aires. Na área produtiva não houve
ral - e Buenos Aires começavam a encontrar uma base a mesma modernização, com o camponês paraguaio uti-

I
comum. O liberal Bartolomé Mitre era favorável à livre lizando ainda técnicas de cultivo de dois séculos atrás.
navegação e no Uruguai tinha ligações com os colorados, O Estado paraguaio era dono de quase 90% do território
de hist6ricas afinidades com o Império. Já a oposição nacional e da quase totalidade das atividades econômi-
federal àquele presidente, para se contrapor ao poder cen- cas. Para manter seu ritmo de desenvolvimento, possível
tral argentino, buscou estreitar relações com os blancos com a importação de tecnologia estrangeira, a economia
no país oriental e com o governo paraguaio. Ao Rio de paraguaia necessitava ampliar o comércio externo, de
Janeiro não passava despercebida a posição favorável de .modo a conseguir recursos, Tal quadro levou o Paraguaí
Mitre à livre navegação, bem como sua proximidade dos a sair de seu relativo isolamento e a projetar-se cada vez
colorados uruguaios, tradicionais aliados do Brasil. O mais para fora de suas fronteiras, intervindo nas lutas
Partido Liberal não chegava a ter uma política definida políticas do Prata.
para o Prata, mas, por outro lado, durante a década em A ação no sentido de aumentar sua presença no Prata
que esteve na oposição, criticara a política antiargentina colocava Assunção em rota de colisão com o Império.
para a região do Partido Conservador. Estava, portanto, Este buscava manter a correlação de forças entre os paí-
despido de maiores preconceitos em relação ao novo go- ses platinos, cujo desequilíbrio era favorável ao Brasil,
verno argentino. hegemônico na área por ter sido até então vitorioso em
46 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2~ visão 47

influir .sobre os Estados da região por meio de um siste- Liga Progressista, com maioria na Câmara, causando a
ma de alianças, do qual o Paraguai deixara de fazer parte.
A falta de definição de limites, ao cabo dos seis anos de
adiantamento estipulado em 1856, era elemento visível
Iqueda do Conservador, presidido pelo Marquês de Ca-
xias, O período entre 1862 e 1868 viu a constituição de
seis gabinetes liberais, seqüência causada por divergên-
de tensão entre essa República e o Império. cias na própria Liga e pela falta de apoio do Parlamento.
Além das questões de limites e de navegação, ligadas Tais lutas tiveram repercussão no Prata, onde também a
entre si pela política do governo paraguaio, aprofundava ação da diplomacia brasileira passou a ser ditada visando
a rivalidade brasileiro-paraguaia a disputa pela posse de a fortalecer o grupo político que ocupava o gabinete.
terras de produção de erva-mate e dos mercados de con- A nova postura do Paraguai, de participar dos assuntos
sumo de suas exportações. No ano de ascensão de Solano platinas, alterou igualmente suas relações com a Argen-
López ao poder havia a superabundância de mate no Pra- tina. Nesta, apesar da vitória do prdjeto centralizado r de
ta, desvalorizando o produto quando Assunção necessí- Estado, decorrente de derrota militar de U rquiza em
tava de maiores recursos. A ampliação das exportações 1862, restavam resistências federalistas nas províncias,
paraguaias de mate teria que ocorrer, obrigatoriamente, especialmente em Entre Ríos e Corrientes. Para combater
às custas do mate brasileiro. Era mais um fato a contri- o recém-nascido governo central, procurou a oposição

J buir para o agravamento das relações entre o Império e


o Paraguai. .
argentina articular-se com as forças platinas contrárias a
Buenos Aires. Tais forças eram os blancos, que estavam
no poder no Uruguai, onde os opositores à ditadura de
Rosas, como Mitre, estiveram exilados sob a proteção
dos colorados. e o próprio Paraguai, que, procurando fa-
o Império diante das novas pretensões paraguaias
zer-se ouvir no Prata, aproximava-se do governo de
Montevidéu para buscar uma saída para o oceano.
No Brasil; o ano' de 1862 assistiu à ascensão de um
gabinete liberal, rompendo o domínio estabelecido desde
1848 pelo Partido Conservador. Nas eleições legislativas
Colorados e blancos e as relações internacionais no
de 1860 vencera a chapa liberal, dando início a um mo-
vimento vigoroso rumo ao poder, alterando o quadro par- Prata
tidário. Na Câmara surgiram três grupos políticos: o con-
servador puritano, o conservador moderado e o liberal. ~ O elemento cataIisador dé todas essas divergências foi
Estes dois últimos grupos compuseram-se, formando a , a situação política no Uruguai, desde 1860~sob a presi-
49
48 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2~ visão

I dência do blanco Bernard Berro. O porto de Montevidéu


tre, porque lhe facilitaria consolidar o Estado unitário.
Ao Brasil, porque atenderia aos reclamos dos fazendeiros
fazia concorrência ao porto de Buenos Aires, pois Entre
gaúchos e lhe permitiria pressionar, diplomática e mili-
Ríos e Corrientes dele se utílizavam para suas exporta-
tarmente, o Paraguaí, de modo a forçã-lo a aceitar a linha
ções. Desse modo, a República uruguaia estabeleceu re-
lações com a resistência federalista contra Mitre. Ao de fronteira no Rio Apa.
Estado centralizado que Buenos Aires procurava conso- Na busca de um aliado externo, já em 1862 o governol
lidar, os blancos contrapunham um entendimento entre uruguaio tinha enviado José de Herrera a Assunção para
o seu país, o Paraguai e aquelas duas províncias argen- o estreitamento de relações entre os dois países: A ini-
tinas. ciativa uruguaia não produziu resultados imediatos, mas
significou um primeiro passo que teria conseqüências im-
Em relação ao Brasil, o presidente Berro procurou en-
fraquecer a hegemonia imperial em seu país. O governo portantes. Isso porque em 1863 José de Herrera tomou-se
Ministro de Relações Exteriores do Uruguai e implernen-
uruguaio recusou-se renovar o Tratado de Comércio e
tou uma política independente, verdadeiramente nacio-
Navegação, quanto este expirou em 1861, eliminando os
nal. Tratou de romper com a postura pendular uruguaia
privilégios comerciais do Império. Atingindo os interes-
diante da Argentina e do Brasil, na qual quando um des-
ses de estancieiros gaúchos, Montevidéu instituiu o im-
tes países ameaçava o governo oriental, buscava-se a pro-
posto sobre as exportações de gado em pé para o Rio
teção no outro. Como a política paraguaia parecia estara I
I Grande. Os estancieiros gaúchos não apenas importavam
estruturada no sentido de enfrentar as pressões tanto do
gado vivo uruguaio para transformã-lo em charque, co-
Rio de Janeiro quanto de Buenos Aires, o novo chanceler
mo, ainda, eram proprietários de fazendas no país vizi-
uruguaio preconizou uma aliança com o Paraguai, esta-
nho, onde utilizavam trabalho escravo. Este trabalho ba-;
belecendo um sistema de equilíbrio de poder. Ao eixo
rateava a produção de charque em prejuízo dos produ-
Montevidéu-Assunção deveriam somar-se as províncias
tores uruguaios desse tipo de carne, que, por utilizarem
argentinas que desejavam a autonomia, mas que estavam
trabalho livre, tinham custos maiores de produção. Berro
dispostas a participar de uma espécie de novo Vice-Rei-
tomou, então, medidas no sentido de evitar o uso de mão-
. no do Prata, desde que fragmentado em nacionalidades
de-obra escrava, o que atingiu ainda mais os interesses
dos estancieiros gaúchos. independentes.
A implantação dessa nossa política uruguaia teve a
O presidente Berro, desse modo; indispôs-se tanto
.• I
I com a Argentina, quanto com o Império, passando a in-
teressar a<?sdois países o fim do governo blanco. A Mi-
justificá-Ia e a acelerá-Ia os novos acontecimentos de
1.863. Em abril desse ano, o caudilho colorado Venâncio I
50 A Guerra do Paraguai: 2ª visão 51
Francisco Doratiom

Flores invadiu o Uruguai com tropas recrutadas e orga- tivamente as propostas de aliança. O presidente para-
nizadas em Buenos Aires e com o beneplácito do gover- guaio deu instruções a seu cônsul em Paranã no sentido
no argentino. Tanto os colorados quanto os seguidores de que Urquiza deveria marchar contra Buenos Aires,
de, Mitre eram liberais, vinculados economicamente ao explicitando, porém, ao mesmo tempo, que não apoiaria
comércio exterior. Tinham a uni-Ias, ainda, os laços esta- uma tentativa de separatismo. A postura no sentido da
belecidos à epoca da ditadura de Rosas, quando os libe- manutenção da integridade territorial argentina, em 1863,
rais argentinos, inclusive Mitre, se refugiaram em Mon- explica-se pelo fato de que López a encarava como con-
tevidéu. Frente a esse quadro, hostilizado por seus po- dição para o equilíbrio no Prata, sem o que o Império
derosos vizinhos - pois o governo imperial protestara se imporia na área.
em relação a violências cometidas contra súditos seus em A exacerbação gradual e controlada dos atritos dentro
território uruguaio - e enfrentando a revolta colorada, da Argentina e desta com os blancos no Uruguai poderia
Bernardo Berro aproximou-se do Paraguai, enviando a criar urna situação de equilíbrio platino. O governo uru-
I Assunção Octavio Lapido. Lápido tinha instruções no
guaio e os federalistas argentinos interpretavam a ambi-
sentido de convidar Solano Lépez para uma aliança, sob
güidade do líder paraguaio como a de um aliado em po-
o argumento de que apenas com a união dos dois países,
tencial, resistente em assumir um compromisso formal,
I'
haveria um equilfbrío no Prata de modo a conter as am-
mas que o faria com o desenrolar dos acontecimentos.
bições argentinas e brasileiras. Quase simultaneamente à
missão uruguaia, Solano Lõpez recebeu, pelo cônsul pa- Para Solano López a possibilidade dessa aliança signifi-,
raguaio em Paranã, a proposta do líder entrerriano Ur- cava ampliar o peso, o cacife para barganha, de seu país
quiza de uma aliança ofensiva e defensiva composta por frente a Buenos Aires e, também, ao Rio de Janeiro.
Entre Ríos e os Estados paraguaio e uruguaio. Desse modo, o Paraguai se tomaria presença indispen-
sável na solução dos problemas platinas e assim apare-
/' ceria também para os governos argentino e brasileiro.
Jogando, pois, com uma aliança não concretizada, mas
A estratégia paraguaia: em busca do equilíbrio no sempre possível, Assunção estabeleceria o equilíbrio re-
Prata gional, pondo fim à hegemonia do Império na área e
afastando a ameaça histórica de uma ação da Argentina
contra -o Paraguai. Além disso, este obteria condições
Solano López evitou comprometer-se quer com Mon- favoráveis para negociar as' fronteiras com-seus dois vi-
tevidéu, quer com Urquiza, embora não rechaçasse taxa- zinhos.
52 , Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 29 visão 53

Para o equilíbrio de poder no Prata seria necessário levou a modificar sua postura. Além de conciliador, mos-
que entre o Paraguai, a Argentina e o Brasil houvesse trou-se, ao mesmo tempo,decidido a adotar uma política
igualdade de condições. Ora, era enorme a inferioridade incisiva de defesa dos interesses paraguaios na, região.
demo gráfica, econômica - a produção agrícola e ma- Em carta dirigida a Mitre demonstrou á possibilidade de
nufatureira argentina e brasileira eram superiores - e o Paraguai tomar posição mais decidida nas questões pla-
militar, quer em homens, quer em qualidade do material tinas, em favor de seus aliados, O presidente argentino
bélico, do Paraguai. Apenas a forte rivalidade entre Bue- não se intimidou, respondendo que a política externa de
nos Aires e Rio de Janeiro permitiria a Sol ano López seu país não se alteraria em razão da postura paraguaia.
ocupar uma posição em pé de igualdade com os dois Valendo-se das lutas políticas platinas, Solano López
vizinhos que, na tentativa de neutralizar um ao outro, procurara estabelecer a influência do seu país, apresen-
disputavam a simpatia de Assunção. Além disso, o Pa- tando o Paraguai como parte legítima no quadro regional
raguai contaria adicionalmente com a ascendência que e fator de pacificação e estabilidade na área. Para a Ar-
possuía sobre os blancos uruguaios e federalistas argen-
gentina, contudo, o governo paraguaio era um intruso,
tinos para justificar-se como parte importante nas ques-
cuja presença no Prata sentia como ameaça.
tões platinas.

Uruguai: a ameaça brasileira e a aliança almejada


A aliança entre Brasil e Argentina e o fracasso da
estratégia paraguaía com o Paraguai

A marcha dos acontecimentos, porém, foi outra. O go- Enquanto isso, no Brasil, o ânimo popular era, desde
verno argentino não necessitava de intermediação para- 1863, d~.exacerbado patriotismo, decorrente da questão
guaia. Acusado oficialmente pelo Uruguai de ser insti- Christie (bloqueio inglês do porto do Rio de Janeiro, que
gador da revolta colorada, com o fim de anexar o país, obrigou o Império a pagar, sob protesto, a indenização
explicou-se, a pedido do Brasil, negando procedência na que a Inglaterra exigia pelo saque ao Prince of Wales,
naufragado no sul). Houve, por iniciativa do Rio de Ja-

l
acusação, o que tranqüilizou o Rio de Janeiro. O enten-
dimento brasileiro-argentino frustrou a tentativa de SQ- neiro, o rompimento de relações diplomáticas com a In-
lano López apresentar-se como árbitro no Prata, o que o glaterra, após trinta anos de tensões crescentes. A humi-
54 A Guerra do Paraguai: 2~ visão 55

de um ultimatum a Montevidéu. Inicialmente o enviado


I lhação das represálias inglesas na barra do Rio de Janeiro
criara um clima belicoso no país. Notícias sobre violên-
cias, que cidadãos brasileiros estariam sofrendo no Uru-
brasileiro estabeleceria negociações com os governantes
uruguaios para ganhar tempo, enquanto era organizada e
guai, agravavam o clima de indignação popular. Ao mes- distribuída a força imperial na fronteira.
mo tempo, os pecuaristas gaúchos denunciavam supostas O cuidado do Império em criar condições políticas 1
desordens na fronteira, criadas pelo governo uruguaio, e para intervenção no Uruguai explica-se pelo fato de esta-
buscavam o apoio governamental. O gabinete liberal, rem rompidas suas relações com a Inglaterra. Esta sem-
chefiado por Zacarias, temia perder o controle da situa- pre se interessara pela independência uruguaia, e uma
ção ante a possibilidade de os estancieiros gaúchos - intervenção brasileira poderia ser interpretada como ten-
sentindo-se desamparados pelo Rio de Janeiro na defesa tativa de anexã-Io, o que não era o caso. A própria Ar-
de seus interesses - tomarem a iniciativa de fazer guerra gentina também se interessava por tal independência, de
a Montevidéu. Para tanto, bastava que criadores de gado modo que o governo imperial não poderia intervir pura
sulinos se articulassem diretamente com os colorados do e simplesmente no Uruguai, sob pena de levar o Brasil
Uruguai. Tal fato poderia reavivar os sentimentos gaú- a uma indesejável posição de isolamento.
chos contra o governo imperial, pois o Rio Grande não Para acompanhar Saraiva em sua missão, foi enviada
havia esquecido os sonhos de autonomia. urna poderosa esquadra sob o comando do vice-almirante
Assim, no Rio de Janeiro, em 1864, o ambiente favo- Tamandaré. O presidente Atanasio de Ia Cruz Aguirre
recia a ação intervencionista do Império no Uruguai. Para - político b/anco que substituíra Bernardo Berro na pre-
sidência ao fim do seu mandato -, contudo, não se dei-
\ o gabinete imperial, por sua vez, tal intervenção era útil
à luta política interna, por fortalecer os liberais históricos, xou intimidar pela pressão brasileira, pois pensava contar
e atendia a um objetivo de Estado, o deter no Uruguai com o respaldo paraguaio. O Conselheiro Saraiva, en-
um governo simpático ao Império. Em abril de 1864, o quanto ganhava tempo para que se preparasse a invasão
governo imperial enviou em missão ao Uruguai o Con- . do Uruguai, acabou por convencer-se de que poderia
selheiro José Antonio Saraiva, com instruções de exigir atingir seus objetivos promovendo a paz interna na Re-
do governo local- o respeito aos direitos dos brasileiros pública. Tal paz implicaria uma reestruturação do gover-j
residentes no país e a punição dos funcionários uruguaios no uruguaio, na qual o enviado agiria, por certo, no sen-
que teriam abusado de sua autoridade. Na realidade, o tido de afastar os membros que mais se opunham aos
Rio de Janeiro tratava de criar condições para justificar interesses dos estancieiros gaúchos no país. Autorizado
a invasão da república vizinha, sendo Saraiva portador pelo governo imperial a promover a paz na República
56 Francisco Doratioto 57
A Guerra do Paraguai: 2e visão

vizinha, buscou Saraiva entender-se nesse sentido com sada a tentativa de pacificação, o gabinete liberal passou
Buenos Aires. Em encontro realizado no dia 11 de julho a ter interesse em provocar a intervenção no Uruguai,
de 1864, o Conselheiro ouviu de Mitre que seu governo que era pedida pela opinião pública do Rio de Janeiro.
não via no Brasil objetivos que não fossem justos e com- \
Esse sentimento foi realimentado e ampliado pelo gabi-
patíveis com a independência e a integridade uruguaias. nete como forma de fortalecer-se perante a população
O presidente argentino manteve-se formalmente neutro, melindrada com a questão Christie. O Prata era uma vál-
o que, de um lado, deixava o Império livre para pressio- vula de escape, onde, para efeito de política interna, se
nar Aguirre para que mudasse a composição de seu go- poderia fortalecer o Partido Liberal, apresentando-se co-
verno e, de outro, não provocava reação contrária de Ur- \ mo competente para enfrentar os problemas externos.
quiza, caudilho de Entre Ríos que tinha ligações com os Ademais, em setembro de 1864, o Brasil viu surgir a
blancos e com Solano L6pez. mais profunda crise comercial e financeira do século pas-
'Enquanto Saraiva tratava de compor-se tacitamente sado, devido à falta de crédito e dinheiro na praça. lni-
com Buenos Aires, o presidente Aguirre, por seu turno, ciou-se a crise quando a Casa Souto e Cia., a maior casa
\ fez o mesmo com Assunção. No mesmo mês de julho, bancária brasileira, fechou seus guichês, provocando vio-
Antonio Contreras foi enviado por M0n.~vidéu em mis- lenta corrida a outras instituições, com sérias perdas para
são especial ao Paraguai, onde afirmoil {f Solano López o comércio e depositantes. Uma ação no Uruguai tam-
que o Brasil pretendia anexar uma porção do território bém era uma forma de desviar a atenção da opinião pú-
uruguaio e que à Argentina, em contrapartida, caberia o blica dessa questão, desgastante para o governo, mais
uma vez apresentado como incompetente pela oposição,
que sobrasse, ou, então, o controle do governo uruguaio.
acusado de não tomar a tempo medidas para evitar ou
Assim, se Mitre conseguisse submeter as províncias ar-
minorar a crise.
gentinas, acrescentou o enviado, surgiria uma ameaça pa-
Em 4 de agosto, ainda em 1864, o enviado imperial
ra o Paraguai, que s6 poderia ser afastada pela separação
apresentou um ultimatum ao governo uruguaio, dando-
entre essas províncias e Buenos Aires.
lhe o prazo de seis dias para atender as exigências bra-

I
Confiando no respaldo paraguaio, Aguirre recusou-se sileiras e ameaçando-o com a entrada de tropas imperiais
a afastar do ministério os blancos, tidos como radicais, no Estado oriental para garantir os direitos dos súditos
e a nomear, em substituição, políticos colorados. Tal do Império. Feito isso, Saraiva retirou-se para Buenos
acordo tinha sido conseguido por Saraiva, juntamente Aires, onde se encontrou com o chanceler argentino Ru-
com o chanceler argentino Rufino de Elizalde e pelo re- fino de Elizalde. Ambos declaram, em nome de seus paí-
presentante inglês em Buenos Aires, Thornton. Fracas- ses, que a paz no Uruguai era indispensável para que
58 Francisco Doratioto g
A Guerra do Paraguai: 2 visão 59

suas questões internacionais fossem solucionadas. Para No mês seguinte, em 20 'de outubro, Tamandaré, chefe
alcançar essa paz, os governos argentino e brasileiro ex- da força naval nas costas uruguaias, que substituíra Sa-
pressaram que qualquer um deles .poderia agir contra raiva, de volta ao Rio de Janeiro, assinou o Acordo de
Montevidéu, de acordo com Q direito internacional - Santa Lúcia com Venâncio Flores, pelo qual se estabe-
do qual, à época, não fazia' parte o princípio da não-in- lecia a cooperação entre esse líder colorado e as forças
'tervenção '- e sempre respeitando a integridade territo- do Império. Em 10 de novembro, o vapor Marquês de
rial e independência do-Estado oriental. o linda , embarcação de uma companhia brasileira que fa-
Em Montevidéu, os blancos ficaram contentes com a zia o serviço de navegação pelos rios Paraná e Paraguai
situação criada pelo ultimatum. Ao que tudo indicava, até Corumbã, foi aprisionado pela canhoneira paraguaia
para o governo uruguaio, seria o ensejo para o Paraguai Tacuari, horas após ter saído de Assunção rumo a Mato
assumir decididamente a aliança sonhada por Herrera. Grosso; estavam rompidas as relações entre o Império e
No dia 30 de agosto, o governo paraguaio protestou junto o Paraguaí.
à legação imperial - hoje se diria embaixada - em A eventual suspeita de Solano López de que o governo
Assunção contra qualquer ocupação do território uru- do Rio de Janeiro tencionava lançar-se numa guerra de
guaio por forças de mar e terra do Brasil, porque seria conquista em relação ao Uruguai não explica a declara-
contra o equilíbrio entre os Estados do. Prata e afirmou ção de guerra de Assunção ao Brasil e, posteriormente,
~.não assumir a responsabílidadepelas conseqüências, de, à Argentina. Registre-se que antes da Missão Saraiva, o
qualquer ato brasileiro. Tal ameaça pão foi -levada a sétio Paraguai, já em março de 1864, preparava-se militarmen-
pelo governo imperial, que sequer acreditava estar o Pa- . te, ao instalar o importante acampamento de C erro León
raguai disposto a romper com o Rio de Janeiro em de- e ao convocar, de imediato, todos os cidadãos submeti-
corrência do ultimatum a Montevidéu, opinião compar- dos ao serviço militar obrigatório, ou seja, aqueles entre
tilhada pelo governo argentino. 17 e 40 anos. Há que se considerar também, para refutar
a idéia de que a causa da guerra fosse unicamente o
interesse de Assunção em conservar a independência
uruguaia, o fato de que o governo paraguaio não forne-
o prelúdio da guerra
ceu ajuda de nenhuma espécie a Montevidéu, sequer fi-
nanceira, que estava a seu alcance. A referida inde-
,Em 12 .de setembro de".l864;uma brigada .btasileira, pendência foi um pretexto para Solano López implemen-

I penetrou no Uruguai, como ato de represália decorrente-


do ultimatum, e retomou dias depois ao território gaúcho.
1
tar um plano que, bem-sucedido, tomaria seu país um
pólo de poder regional. /
60 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2g visão 61

A gravidade do quadro levou o gabinete liberal a en- que tenham ocorrido tanto o conflito contra o país gua-
viar em missão ao Prata um conhecedor da região, o rani, quanto a queda de Aguirre, é farta a documentação
político conservador José Maria da Silva Paranhos, que demonstrando que o governo imperial não queria uma
negociara com o governo platino, nos anos 1850. Tinha guerra contra o Paraguai. Quanto à intervenção no Uru-
instruções no sentido de buscar uma aliança com Buenos guai, no início, não tinha como fim principal derrubar o
Aires para uma intervenção conjunta nó Uruguai, em governo blanco, pretendendo antes impedi-Io de romper,
apoio a Flores. Essa união era necessária porque o Brasil a dependência uruguaia em relação ao Brasil; ao mesmo
não tinha forças suficientes para atacar, sozinho, a cidade tempo, atendia aos reclamos dos pecuaristas gaúchos e
, de Montevidéu e porque havia a hipótese remota, segun- procurava levar a opinião pública brasileira a esquecer
do a opinião do gabinete, de uma invasão paraguaia do a humilhação sofrida de parte da Inglaterra.
território brasileiro. Paranhos procurou ampliar o caráter Em 23 de dezembro de 1864, Solano López iniciou a
dessa aliança, de modo a englobar uma ação comum en- guerra contra o Brasií - apanhando o Império de sur-
tre o Império e a Argentina contra o Paraguai. A aliança presa -, ao enviar duas expedições, uma fluvial e outra
proposta foi recusada pelo presidente argentino, que, ain- terrestre, contra Mato Grosso. O governo argentino, até
da assim, manifestou votos pela vitória do Brasil. a invasão de Mato Grosso, não tinha motivos para crer
que seu território fosse atacado por Assunção. A possi-
Mitre não podia aliar-se formalmente com o Império,
bilidade, porém, ainda que remota, não poderia ser des-
corno o governo brasileiro desejava, devido à reação in-
prezada a partir de janeiro de 1865. Nesse mês, Solano
terna que tal ato provocaria, especialmente em Entre Ríos
López pediu autorização a Buenos Aires para passar com
e Corrientes. No entanto, classificava de "justas recla- .
tropas pela: Província de Comentes para atacar as forças
mações" as exigências feitas por Saraiva ao governo de
brasileiras no Rio Grande do Sul e Uruguai, recebendo
Montevidéu.
resposta negativa.
O fato de grupos políticos liberais ocuparem o poder
simultaneamente no Brasil e na Argentina, enquanto os
governos de Assunção e Montevidéu eram contrários a
tal ideologia, facilitou a aproximação e, depois, a aliança,
entre Buenos Aires e Rio de Janeiro. A aliança em si
teve a cimentá-Ia, em 1865, a agressão paraguaia ao Bra-
sil e, em seguida, à Argentina, fato que, pela. primeira
\ vez, criou um inimigo comum aos dois países. Ainda
A Guerra do Paraguai: 2ª visão 63

Com esse acordo, Paranhos conseguiu a capitulação


.I de Montevidéu sem luta, evitando elevado custo em ho-
mens para as forças brasileiras. Além do mais, Flores
,. comprometeu-se a atender todas as exigências do ulti-
matum de 4. de agosto -do ano, anterior, e Q Império ga-
•. I ~ . .'",

nhou uma base vital para as operações contra o Paraguai.


O novo presidente suprimiu a representação diplomática
oriental em Assunção, colocou novamente em vigência
os tratados de 1851 com à Brasil e pôs-se ao lado do
BRASIL, ARGENTINA E URUGUAI: Império na luta contra Solano López, como se compro-
metera anteriormente. Em contrapartida, o governo co-
A TRÍPLICE ALIANÇA CONTRA O
lorado recebeu do Rio de Janeiro apoío político e mate-
PARAGUAI (1865) rial, que lhe permitiu manter-se no poder.
Com o protocolo assinado por Paranhos em 20 de fe-
vereiro, estavam garantidas a independência e a integri-
dade" territorial uruguaias, aspectos cuja defesa fora .in-
Enquanto isso, no Uruguai, a sucessão de Aguirre - ~'vocada por Solano Lópezpara a,ta~~r.:o Império/Isolado.
cujo mandato presidencial findava - foi disputada por no interior do continente, o Paraguaisó podia ser atacado
duas facções do partido blanco. Venceu a facção que por forças brasileiras em pontos defensáveis: pelo Rio
desejava a paz com o Império, influenciada pelos comer- Paraguai, cuja chave, a fortaleza de Humaitá, estava em
ciantes, em sua maioria composta por estrangeiros, te- poder de Assunção, e a sudoeste. As contradições in-
merosos dos prejuízos ao comércio que adviriam do blo- ternas argentinas possivelmente manteriam a neutralida-
queio de Montevidéu e de seu porto, declarado em 2 de de do país vizinho, impossibilitando uma eficaz ação mi-
fevereiro de 1865 por Tamandaré. No dia 15 do mesmo litar do Império contra Assunção, por carecer o Brasil
mês, o novo chefe do Executivo uruguaio, Villalba, ini- de meios e base de operações "no Prata para um conflito
ciou negociações com Paranhos. Em 20 de fereveiro Pa-

I
',j
p.rolongado~.Port~tQ,graças.à posição geogrãfícédo seu
ranhos assinava, com a concordância argentina, o Proto-
't

~ país, Sol ano LÓpez poderia buscar, em condiçõesque


colo de Paz de Vila União, pelo. qual Venâncio Florés
lhe eram favorãveis, uma solução negociada para o con-
assumia a presidência da República. ,'.
64 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2~ visão 65

flito que iniciara contra o Brasil, devido à impossibili- de 1864 era promovido o recrutamento detropas para-

. .
dade de este atacar o Paraguai. Ao que tudo indica, tal
solução não era de mteresse do chefe de Estado para-
guaias, pois Solano López antevira a guerra para a qual
esperava contar com o navio encouraçado, última palavra
guaio que a inviabilizou de vez ao atacar a Argentina. em tecnologia naval, em construção na Inglaterra pela
Aparentemente, Solano Lopéz convencera-se de que, casa Blyth. Os planos desse chefe de Estado com relação
após a queda de Montevidéu, o governo argentino se à guerra favorecem diferentes interpretações. A docu-
voltaria contra o Paraguai, passando a acreditar que o mentação existente permite concluir que o plano era de
Brasil, ao aliar-se com Flores, servia à política de Buenos que a invasão da indefesa província de Mato Grosso apa-
Aires. Na recusa argentina de autorizar a passagem de recesse como vitória suficiente para promover o levan-
tropas paraguaias por Corrientes, o chefe de Estado gua- tamento de forças políticas oposicionistas argentinas em
rani pensou ver a demonstração de que Mitre havia pac- favor do Paraguai. Além do que, tomado Mato Grosso,
tuado uma aliança secreta com o Brasil. Diante disso, aumentaria o poder de barganha de Assunção frente
ofereceu apoio para que o governador de Entre Ríos, ao Império. O Brasil estaria impedido militarmente de
retomar o território invadido, por não ter uma base de
Urquiza, derrubasse _o presidente argentino e ocupasse
operações no Prata: em dezembro -de 1864 a Argentina
seu lugar. López sabia que as questões pendentes trariam
era neutra - Urquiza continuava sendo um aliado pa-
a guerra mais dia, menos dia, e o momento lhe era apa-
raguaio em potencial- e Paranhos ainda não assinara
rentemente propício: dispunha de apoio popular no inte-
o acordo que garantia uni governo amigo do Império
rior argentino e esperava que, aos primeiros êxitos mili-
em Montevidéu. Desse modo, o Rio de Janeiro se
tares paraguaios, levantar-se-iam, sob sua liderança, os
tomaria receptivo a negociações que redefinissem o
opositores de Buenos Aires.
quadro platina nos moldes desejados pelo governo
paraguaio.
Os planos do chefe de Estado paraguaio fracassaram,
Por que o Paraguai foi à guerra? basicamente, por dois motivos. De um lado, Urquiza fal-
tou aos compromissos que contraíra com Solano L~pc~"
privando-o de apoio efetivo dentro da Al'l~l~lllil1a. POI' ou
o governo de Assunção se preparou e tomou a ini- tro, no Uruguai, os blancos não se mantlvcram numu
ciativa de começar a guerra. Como foi visto, já no início resistência prolongada em Montevldéu, como era cspc
66 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2e visão 67·

rado, devido ao convênio de 20 de fevereiro, negociado A assinatura do Tratado da Tríplice Aliança


por Paranhos.

Ao atacar o território argentino, Sol ano López fazia o


jogo de Buenos Aires, onde se preparava desde o ano
Tropas paraguaias na Argentina: uma invasão anterior uma aliança com o Império. Em 18 de agosto
concedida de 1864, no encontro entre Elizalde e Saraiva, em Puntas
del Rosário, chegou-se a um acordo sobre a necessidade
de uma aliança argentino-brasileira para a solução pací-
fica das questões platinas, embora se decidisse que a efe-
A declaração de guerra à Argentina foi deliberada
tivação da mesma caberia ao imperador e a Mitre. Isto
pelo Congresso paraguaio nas sessões de 5 e 18 março significava, na prática, uma alteração no quadro de rela-
de 1865 e Corrientes foi invadida em 13 de abril. Em- ções internacionais do subsistema platino. A partir de
bora a nota comunicando a declaração de guerra só uma nova concepção, idealizada por Mitre e aceita pelo
chegasse a Buenos Aires em 8 de abril, Mitre já era governo brasileiro -em grande parte devido à dinâmica
conhecedor do seu conteúdo. A documentação diplo- dos acontecimentos -, das relações Brasil-Argentina,
mática argentina e brasileira demonstra que o governo em lugar de se rivalizarem, os dois países passariam a
argentino sabia que o território do seu país seria ata- exercer uma hegemonia compartilhada na região. A
cado pelo Paraguai e não tomou qualquer medida para aliança não se estabeleceu de imediato, mas foi construí-
desestimular tal ato. Com a invasão, o governo de Mi- da gradativamente nos meses seguintes, em resposta aos
tre poderia apresentar-se à opinião pública como de- problemas comuns ao Rio de Janeiro e a Buenos Aires.
fensor da integridade nacional ameaçada, isolando a Assim, Assunção, ao manter contato com a oposição ao
oposição. Esta teria de pôr fim ãs ligações com Solano governo central argentino e ao ordenar a invasão de Mato
López; com tais vinculações, ele era uma ameaça para Grosso, acelerou o movimento de aproximação argenti-
a consolidação do Estado centralizado argentino: Ao no-brasileira. Não fosse isso, talvez essa aproximação
contrário do que ocorrera com Solano López, a opção não conseguisse se impor sobre as seculares desconfian-
de Mitre no processo decisório mostrou-se acertada no ças mútuas. Para enfrentar o agressor paraguaio, ·os go-
decorrer dos acontecimentos, considerando-se os fins vernos argentino, brasileiro e uruguaio assinaram, em 1º
propostos. de maio de 1865, o Tratado da Tríplíce Aliança.
68 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 29 visão 69

A Guerra do Paraguai: uma nova interpretação coloradismo, algo quase religioso. Construiu-se, assim,
a "santíssima trindade" Lõpez-Caballero-Stroessner, an-
tes de este ser derrubado da chefia do Estado em 1989.
Durante muito tempo, a historiografia tradicional bus-
Culpar a Iriglaterra pelo início do referido conflito sa-
cou as causas da guerra mais nas características da per-
crifica a objetividade histórica, mas satisfaz a distintos
sonalidade de Solano López que no contexto da época. '
interesses políticos. Para alguns, trata-se de mostrar a
Nas últimas duas décadas-impôs-se um revisionismo his-
possibilidade de construir na América Latina um modelo
tórico, atribuindo a responsabilidade do conflito ao im-
de desenvolvimento econômico não dependente, apon-
perialismo inglês, do qual o presidente Mitre e o impe-
tando incorretamente o precedente do Estado paraguaio
rador Pedro 11teriam sido meros instrumentos. Para essa
interpretação, a luta foi o resultado do confronto entre no século passado. Essas mesmas pessoas, no entanto,
uma premeditada estratégia de crescimento auto-susten- acabam por negar a referida possibilidade, na medida em
tado, de parte do Paraguai, e outra, baseada no ingresso que apresentam a potência central- a Grã-Bretanha-
de recursos financeiros e tecnológicos estrangeiros, ado- como onipotente, capaz de impor e dispor de países pe-
tada pelo Brasil e Argentina. Os dois países teriam sido ,riféricos. Assim, o leitor desavisado pode concluir que a
utilizados pela Inglaterra para acabar com o modelo de história do continente não se faz ou não se pode fazer
desenvolvimento paraguaio, de modo a evitar que o mes- aqui, pois os países centrais tudo decidem inapelavel-
mo fosse seguido por outros países do continente, aba- mente. Os latino-americanos, nessa perspectiva, deixam
lando o domínio britânico. de ser o sujeito de sua própria história, ou, na melhor
Essa teoria imperialista, conspirativa, passou a ter hipótese, vêem negado seu potencial de' ser tal sujeito.
grande difusão junto à esquerda latino-americana. Já no Estudos recentes, com base em farta documentação,
Paraguai, tal explicação tornou-se, paradoxalmente, a demonstram que a essência da política inglesa com res-
ideologia do coloradismo: tentando legitimar a ditadura I peito ao Paraguai consistiu em impedir que Solano Lõpez
do general Stroessner, apresentou-o como continuador da utilizasse a Grã-Bretanha nas disputas com países vizi-
obra do general Bernardino Caballero, fundador do Par- .nhos e, ao mesmo tempo, em assegurar ° livre acesso
tido Colorado em 1877 e, nos anos da guerra, valente dos navios de bandeira inglesa aos rios Paranã e Para-
oficial de confiança de Solano L6pez. A visão mani- guai. Afinal, foi a Inglaterra que mais capitalizou com
queísta do ditador paraguaio como vítima de uma cons- o auge econômico paraguaio, visto que os projetos de
piração internacional, que preferiu morrer a ceder a pres- infra-estrutura guarani foram atendidos por bens de ca-
sões externas, confere um caráter épico às origens do pital ingleses e os técnicos estrangeiros que os imple-
70 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2~ visão 71

mentaram eram, em sua maioria, britânicos. As manufa- os governos argentino e brasileiro, ambos nas mãos de
turas oriundas da Inglaterra cobriam 75% das importa- liberais, convergiam ideologicamente e, pela primeira
ções paraguaias, quase todas originadas de Buenos Aires, vez, havia interesses comuns concretos - neutralizar os
em operações controladas por comerciantes ingleses ali blancos uruguaios e Solano López. Contudo, mais que
instalados, que praticavam a política de concessão de cré- o propósito imediatista de solucionar a guerra civil uru-
dito de oito meses para o pagamento das mercadorias. guaia em favor dos colorados e de isolar Solano López,
Ademais, a guerra atingiu os interesses comerciais bri- retirando o respaldo externo dos que lhe faziam oposição
tânicos no Paraguai, com o bloqueio naval do Prata im- dentro da Argentina, concebia Mitre uma política de lon-
posto pela Marinha imperial. go alcance. Por esta, Buenos Aires e Rio de Janeiro, em
As causas da guerra devem ser buscadas na própria lugar de disputarem entre si a hegemonia no Prata, pas-
dinâmica da construção dos Estados nacionais na região sariam a compartilhá-Ia, sendo a rivalidade entre os dois
do Rio da Prata. Ao estreitar relações com Urquiza e países substituída pela colaboração. Ao se tomarem par-
com o governo blanco uruguaio, que também tinha liga- ceiros, Argentina e Brasil favoreceriam a paz na região
ções com o líder entrerriano, Solano López tomou-se um platina, estabelecendo nova correlação de forças não só
obstáculo à consolidação da república argentina, unida nas relações intracontinentais, como também nas relações
sob a liderança da burguesia portenha. A ligação Assun- com as potências européias. O projeto foi inviabilizado
ção-Montevidéu também entrava em rota de colisão com porque seus opositores ascenderam ao poder nos dois
o Brasil. Devido às reclamações dos pecuaristas do Rio países em 1868: no Brasil o Partido Liberal foi subs-
Grande do Sul- que, três décadas antes, haviam tentado tituído pelo Conservador e na Argentina Sarmiento as-
separar-se do Império -, prejudicados por medidas do sumiu a presidência.
governo blanco, o governo brasileiro adotou uma ação o. presidente Mitre foi, portanto precursor, em mais
intimidatória contra os blancos. Desse modo, pela pri- de um século, da idéia de uma política de colaboração
meira vez no Rio da Prata, Buenos Aires e Rio de Janeiro argentino-brasileira, hoje existente por outros motivos .
.tinham o mesmo interesse: apoiar os colorados que se A guerra iniciada em 1865 interessava, por diferentes
sublevaram contra os blancos no poder, em MOntevidéu. motivos, a todos os Estados envolvidos. Os govemantes
No Uruguai cruzavam-se, pois, os interesses dos go- desses Estados, com base em informações parciais ou
vernos argentino, brasileiro e paraguaio. Ante a tentativa falsas do contexto platino, antcviram um conülto rãpído,
de Montevidéu estabelecer aliança com Assunção, tratou cujos objetivos seriam alcançados r()1I\ () menor custo
o presidente Mitre de compor-se com o Império. Afinal, possível, exatamente por sua suposta curta duração. Dos
72 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2~ visão 73

erros de análises dos govemantes envolvidos o de maior Sul, planejada desde antes do tratado de I º de maio e
conseqüência foi o de Solano López, pois seu país viu-se contando com o apoio das populações de Corri entes e
materialmente arrasado no final da guerra. Entre Ríos.
O isolamento no Prata, que Solano López planejara Por insistência de Francisco Octaviano de Almeida
para o Império, acabou por ocorrer em relação a si mes- Rosa, negociador brasileiro do Tratado da Tríplice Alian-
mo. Colho resultado de suas agressões contra o Mato ça, este, em seu artigo nono, determinava que, terminada
Grosso e Corrientes, foi ássinado em Buenos Aires um a guerra, seria garantida a independência paraguaia. O
tratado, de conteúdo secreto, entre Argentina, o Império Império desconfiava de que a Argentina tivesse intenção \
de, derrotado Solano López, anexar o Paraguai. Pelo tra-
e o Uruguai, constituindo-se, assim, a Tríplice Aliança
tado, os aliados se comprometiam também a não depor
para enfrentar e vencer o Paraguai. Pelo tratado, termi-
as armas senão em comum acordo e depois da derrubada
nada a guerra, o governo paraguaio deveria pagar inde-
do chefe de Estado paraguaio, proibida qualquer inicia-
nização a particulares, por prejuízos causados com a in-
tiva de paz em separado, por um dos países aliados.
vasão dos territórios brasileiro e argentino, e ressarcir as
Pelo Tratado da Tríplice Aliança, o comando-em -che-
despesas aliadas com a guerra. Além disso, deveriam ser
fe dos exércitos aliados caberia ao presidente Mitre, en-
destruídas as fortificações nas margens do Rio Paraguai quanto as operações se dessem em território argentino
e proibido o levantamento de outras, como garantia de ou paraguaio. Caso as operações fossem em território
sua livre navegação. Ficaram estabelecidos, também, os uruguaio ou brasileiro, era garantida a reciprocidade para
limites do Paraguai com o Brasil e a Argentina, favorá- aquela alta função militar. A nomeação do presidente ar-
veis aos dois últimos. gentino para o comando supremo das forças terrestres
Para Solano López, a Tríplice Aliança representa uma aliadas foi um ato político do governo imperial. Evitava
catástrofe, que a inércia da oposição argentina descon- que outros países vissem o Brasil como uma ameaça,
tente com Mitre tornou viável. Nesse contexto, duas com ambições sobre o Paraguai, caso um brasileiro ocu-
eram as opções para o chefe de Estado paraguaio: recuar passe aquela posição.
suas tropas de volta a seu país e negociar a paz em in- A notícia da assinatura do Tratado da Tríplice Aliança
ferioridade, na defensiva, fazendo concessões; ou tentar, foi recebida friamente no Rio de Janeiro. Pensava-se que
temerariamente contando com a sorte, uma operação bé- para vencer o Paraguai seria necessário apenas (111(' BIH'
lica de grande impacto psicológico no inimigo, permi- nos Aires não embaraçasse a ação das fon;/I~ IHilslklrll
tindo melhores condições de negociação. Sob esta hipó- O menosprezo pelo poder militar dI' ~1I1i1110 1,(11WI NU
tese, foi lógica a invasão paraguaia do Rio Grande do compartilhado pela Argcntlnu, Mil!'!' 11101111'11'111(11'rll\hli
74 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2f visão 75

co, após a invasão paraguaia do território argentino: "em eram débeis e desunidas. Sob essa lógica, a política ex-
24 horas ao quartel, em quinze dias em Corrientes, em tema do Partido Conservador visava à hegemonia brasi-
três meses em Assunção". O otimismo argentino e bra- leira na América do Sul, com intuitos defensivos: evitar
sileiro foi amargamente desmentido pelos cinco anos de um ataque externo - e, para tanto, a superioridade naval
guerra. do Império era ponto-chave - e çonsolidar como bra-
O Tratado da Tríplice Aliança foi duramente criticado, sileiro o território herdado do expansionismo colonial lu-
no Brasil, pela oposição 'conservadora. Apontou-se que sitano.
a demarcação das fronteiras argentino-paraguaias no O Partido Liberal, quando na oposição, criticara a po-
Chaco Boreal contrariavam a política imperial de manter lítica dos conservadores para o Prata. Octaviano, ante as
não só a independência do Paraguai, como também a críticas dos conservadores de que o Tratado da Tríplice
parte de seu território necessária para separar Mato Gros- Aliança rompia com tal política, manteve suas convic-
so do território Argentino. Já que o tratado de aliança ções. Afirmou que a política conservadora resultara para
reconhecia como argentina também a área das Missões, O Brasil em decepções e guerras no Prata, além do.
os conservadores viam ameaçada a independência do Pa- "espantoso" crescimento da dívida pública. Só defendiam
ragu aí , colocado num "abraço apertado" da Argentina sua continuidade, quando se podia fazer a paz duradoura
pelos dois lados. com.Buenos Aires, segundo Octaviano, aqueles que não
Francisco Octaviano defendeu-se das críticas da opo- presenciavam os sofrimentos dos brasileiros na guerra
sição conservadora. Para ele, a política tradicional, por contra o Paraguai. Por esses motivos, declarava pertencer
meio de suspeitas e diminuição da Argentina, alimentava "à escola dos que hão de aconselhar o Brasil a paz com
discórdias da época colonial, como se o Império só pu- seus vizinhos, desprendendo-se das pretensões dos trata-
desse prosperar na América se as repúblicas à sua volta dos portugueses". Estava convencido de que a Tríplice
-t I
fossem fracas e pequenas. Essa era, de fato, a política Aliança estabelecia a base "para uma reconciliação e
do Partido Conservador para o continente: os países vi- amizade entre as duas raças. que tanto se odiaram".
zinhos eram vistos como inimigos potenciais, prevenções O Tratado da Tríplice Aliança foi assinado em mo-
antiportuguesas da época colonial, somadas ao fato de mento crítico para o Brasil. O Império estava rompido
serem repúblicas, em contraposição à monarquia existen- com a Inglaterra, isolado em relação às repúblicas vizi-
te no Brasil. Solitário no continente em sua condição nhas por questões de limites e, ao mesmo tempo, única
monárquica e cercado de vizinhos hostis, o Brasil só não monarquia na América, era alvo de atitude suspeita dos
era alvo de agressão porque as repúblicas sul-americanas Estados Unidos. Nesse contexto, compreendem-se as
76 Francisco Doratioto A Guerra do Paraguai: 2~visão 77

.concessões territoriais feitas por Francisco Octaviano à cional política de conter o projeto expansionista que atri-
Argentina. Ademais, pensava ele, o território do Chaco buía a Buenos Aires. Assim, esses novos governos im-
não teria maior significado sequer no século XX. plementaram diretrizes de política externa que, já em
Apesar das intenções de Octaviano e Mitre, a rivali- 1869, comprometeram a continuidade da Aliança e, nos
dade entre Brasil e Argentina não foi superada. Desde o anos 1870, quase levaram à guerra os dois Estados, na
início os aliados alimentavam mútuas desconfianças so- disputa pela hegemonia sobre o Paraguai.
bre a sinceridade na realização dos objetivos do Tratado
de 12 de Maio. A aliança entre Rio de Janeiro e Buenos
Aires não conseguiu ultrapassar a mera conveniência
ocasional, cessando com a vitória militar sobre Solano
López e a consecução dos objetivos específicos de cada
11\
um dos países aliados. Não foi efetivado o potencial da
. aliança: ser o marco de uma nova fase das relações ar-
gentino-brasileiras em dimensão continental. Isso teria si-
do possível porque o Império e a Argentina, juntos, ti-
nham fronteiras com todas as nações da América do Sul.
A unidade de propósitos entre os dois Estados teria
constituído o eixo do equilíbrio internacional na Amé-
rica do Sul.
A consolidação da aliança entre a Argentina e o Brasil
teria levado a uma nova correlação de forças não só nas
relações intracontinentais, como também nas relações
com as potências européias. Mitre e os liberais brasileiros
quase conseguiram inverter a histórica rivalidade nas re-
lações entre seus países. Contudo, em 1868, o sucessor
de Mitre, Domingo Faustino Sarmiento, foi adversário
da aliança. No Império, os liberais não aprofundaram a
opção pela cooperação com a república argentina em vir-


tude da reação contrária do Partido Conservador. Este,
assumindo o poder também ém 1868, retomou à tradi-
A Guerra do Paraguai: 2g visão 79

À historiografia tradicional se contrapôs o revisionis-


mo, na década de 60. Seu expoente, o historiador argen-
tino Leõn Pomer, buscou no "imperialismo inglês" a cau-
sa da guerra. A luta resultou do confronto entre estratégia
de crescimento autônomo do Paraguai, sem vinculações
com o exterior, e outra, adotada pelo Brasil e Argen-
tina, com base no ingresso de recursos financeiros e tec-
nológicos estrangeiros. Os dois países teriam sido mani-
pulados pela Inglaterra para aniquilar o modelo de de-
CONSIDERAÇÕES FINAIS senvolvimento paraguaio, de modo a evitar que servisse
de exemplo a outros países do continente, abalando o
. domínio britânico. À Inglaterra interessaria, ainda, o
acesso ao mercado consumidor do Pa ragu ai, bem como
ao algodão que este país produzia, matéria-prima da qual
A guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai quase carecia a indústria têxtil inglesa. Essa linha interpretativa
sempre tem sido tratada de forma apaixonada e, por isso é a vertente antiimperialista da chamada teoria da depen-
mesmo, mitificadora. A historiografia tradicional buscou dência, a qual buscou, de forma original e rica, explicar
o motivo do conflito na personalidade de Solano López. a relação países desenvolvidos/América Latina (cen-
Apontado, por alguns, como desequilibrado - daí atacar tro/periferia). Contudo, tal vertente não considera a di-
o Mato Grosso e a Argentina - , para outros o líder nâmica própria nas relações entre os países periféricos,
paraguaio foi desmedidamente ambicioso nesses ataques. tendo-as como mero reflexo dos interesses do centro.
Essa linha explicativa personaliza a história e constrói Explicar a Guerra do Paraguai como tendo sido resul-
personagens maniqueístas: cruéis e sanguinários, do lado tado da ação do imperialismo inglês carece de base do-
paraguaio, civilizados e justos dentre os aliados. É uma cumental. É, antes, resultado de bandeiras das lutas po-
interpretação insuficiente, sem dúvida. O papel do indi- líticas dos anos 60 e70 - como o antiamericanismo e
víduo na história deve ser considerado, porém não como o terceiro-mundismo -, projetadas na análise do passa-
causa determinante. Ao nosso ver, o perfil dos personagens do, em busca de fundamento histórico. A explicação ca-
polítícos e militares envolvidos na guerra explica a forma rece, também, de lógica, pois se afirma que a Inglaterra
e o ritmo dos acontecimentos, mas não 'a sua motivação. induziu à guerra para ter acesso ao mercado paraguaio,
80 Francisco Doraiioto A Guerra do Paraguai: 2g visão 81

como explica que Londres tenha permitido a destruição guerra contra o Paraguai, a qual, no Brasil, até então era
desse mercado pela própria guerra? Mesmo a premissa quase exclusivamente motivo para comemorações, nas
é falsa, pois a modernização tecnológica paraguaia, sob datas das grandes batalhas, e de referência ao se buscar
Carlos López e Francisco Solano, usou técnicos e equi- as origens da construção do Exército que derrubaria a
pamentos ingleses. Ademais, uma questão "factual" foi Monarquia em 1889.
esquecida pela explicação.Imperialista: no início da guer- Buscou-se demonstrar neste livro que as causas da
guerra contra o Paraguai estão na própria dinâmica da
ra em dezembro de 1864 e, ainda, no estabelecimento
construção dos Estados nacionais na região do Rio da
da Tríplice Aliança, em maio de 1865, o Império brasi-
Prata. A conclusão se fundamenta em vasta documenta-
leiro estava de relações diplomáticas rompidas com a In-
ção, que não é a última palavra sobre o tema, pois a
glaterra.
história está constantemente sendo reescrita, quer pela
O revisionismo, que critica corretamente a falta de ob-
descoberta de documentos inéditos, quer porque cada
jetividade e a construção de mitos por parte da historio-
época se volta sobre o passado para esclarecer novos
grafia conservadora, acaba ele mesmo sendo vítima da
temas, que angustiam ou ou despertam a curiosidade no
falta de objetividade e construindo novos mitos. Destes, presente. Não podemos .esperar explicações finais e in-
o maior talvez seja o de representar Solano López quase contestes em história, mas devemos cobrar que elas se
como um líder antiimperialista, arrojado e decidido na baseiem em sólida, séria e científica análise de documen-
busca do desenvolvimento autônomo e da justiça social tos. Assim o fizemos e com paixão, mas com a paixão
no Paraguai. Solano López foi, sim, um ditador, sem pro- de procurar desvendar e reconstruir, com a maior obje-
jeto econômico autônomo, mas com a,tilSpiração de trans- tividade possível, o processo que levou a uma guerra que
formar o Paraguai em potência no Prata. Estava à frente teve imensas repercussões sobre a história, não só bra-
de um país no qual também havia escravidão e tratava sileira, mas também dos demais países platinos.
o Estado como um assunto de família, a ponto de sua
companheira, a francesa Madame Lynch, ter um imenso
patrimônio imobiliário, resultado da "compra" de enor-
mes extensões de terras públicas.
Cabe, porém, ao revisionismo o mérito de demonstrar
a fragilidade da historiografia tradicional sobre o tema e
questionar a utilização dessa guerra na construção de mi-
tos, Enfim, o revisionismo fez ressurgir o interesse pela
A Guerra do Paraguai: 2!1 visão 83

cogni e Ivan Bôris; Um Estadista no Império: Nabuco de Araújo, de Joaquim


Nabuco; A Campanha do Uruguay, memórias de general Bormann; De Aspi-
rante a Almirante; Minha Fé de Officio Documentada, memórias do barão
de Jaceguai; Cartas de Francisco Otaviano, de Wanderley Pinho; Recordações
da Campanha do Paraguai, de Rodrigues da Silva; A Guerra da Tríplice
Aliança contra o Governo do Paraguay, de Luiz Schneider (anotado pelo
Barão do Rio Branco), e História da Guerra entre a Tríplice Aliança e o
Paraguai, do General Tasso Fragoso, num total de cinco volumes, em que O
primeiro aborda os antecedentes da guerra.
Embora não disponíveis no mercado editorial brasileiro, vale citar duas
obras recentes, de estudiosos paraguaios, cuja linha explicativa também coin-
cide com a deste livro. São elas: La Segunda República Paraguaya; 1869-
1906 (Editorial Arte Nuevo, Assunção), de Ricardo Caballero Aquino, que
INDICAÇÕES PARA LEITURA trata, no primeiro capítulo, do período anterior a 1869, e Gran Bretaãa y Ia
Guerra de Ia Triple Alianza (Editorial Arte Nueva), de Juan Carlos Herken
Krauer e Maria Isabel Gimenez de Herken. Em inglês, nas bibliotecas uni-
versitárias, The Rise and Fali of theParaguayan Republica; 1800-1870 (Uni-
versity of Texas at Austin), do historiador norte-americano John Hoyt Wil-
. liams.
Há muitos livros publicados em português sobre a guerra contra o Para- Por último, uma sugestão cinematográfica: o filme A Guerra do Brasil,
guai, a maioria de edições já esgotadas. Um excelente trabalho sobre o tema, de Sílvio Back, disponível em vídeo. .
que se e~contra -nàs 'livrariaS, é O Expansionismo Brasileiro (Philobiblion),
de autoria de Moniz Bandeira, cuja linha explicativa coincide com a deste
livro. Dentro em breve minha dissertação de mestrado estará nas livrarias com
o título Em Busca da Hegemonia: as Relações entre o Império do Brasil e
o Paraguai (1822-1889). Cabe lembrar ainda Guerra da Paraguai: Escravos
e Cidadania na Formação do Exército (paz e Terra, 1990), de Rieardo Salles.
Dos livros que defendem a teoria de que o imperialismo inglês foi o
culpado da guerra contra o Paraguai, o mais interessante é A Guerra do Pa-
raguai: a Grande Tragédia Rioplatense (Global), do historiador argentino
Le6n Pomer, que também escreveu Os Conflitos da Bacia do Prata (Brasi-
liense) e Nossa Guerra contra esse Soldado (Global). E ainda: Genocidio
Americano, A Guerra do Paraguai (Brasiliense) e A Guerra contra o Paraguai
(Brasiliense), do jomalista Júlio José Chianevato e O Mito do Herôi Nacional,
de Paulo Miceli (Contexto).
Sobre o tema, dois interessantes livros de memórias: A Retirada da Laguna
(Editora da UnB eBiblíotecado Exército Ed~tora), doVisconde de Taunay,
·e Reminiscências da Campanha do Paraguai, do General Dionísio Cerqueira
(Biblioteca do Exército Editora). Em "sebos" ou grandes bibliotecas certa-
mente serão encontrados Solano Lôpez, o Napoleão do Prata, de Man1io Can-
•. - I
HISTÓRIA
.,
4 2~
DA AMÉRICA
tudo é história '-
semestre de 1991
MODERNA
(Séc. XV a XVIII)
* 1MPÉRIO
(1822-1889)
ANTIGA
A Comuna de Paris 24 -I< A Eti- A Abolição da Escravidão 17 {>
(Perfodo Pré-Colombiano)
queta no Antigo Regime 69 -I< A Balaiada I 16 {> A Crise do Es-
O lIuminismo e os Reis Filóso- cravismo e a Grande Imigração
A Pré-História 135
fos 22 {> A Inquisição 49 -I< 2 {> A Economia Cafeeira 72 {>
A América Pré-Colombiana 16
Mercantilismo e Transição 7 -I< A Guerra Contra o paraguai 131
As Revoluções Burguesas 8 -I< {> A Guerra contra o Paraguai:
MODERNA A Revolução Inglesa 82 2~ visão -I< Nordeste Insurgen-
(Séc. XV a XVIII) te (1850-1890j 10 -I< Os Quilom-
bos e a Rebelião Negra 12 -I< A
Afro-América 44 {> A rebelião CONTEMPORÂNEA Revolta dos Parceiros I Ia -I< A
de Tupac Amaru I I 9 {> Guerra (Séc. XVIII a XX) Revolução Farroupilha 101
Civil Americana 40
Apartheid 102 {> Argélia: A guer- REPÚBLICA
CONTEMPORÂNEA ra e a independência 73 -I<A Di- (1889- )
(Séc. XIX e XX) tadura Salazarista 106 {> A For-
mação do 3 ~ Mundo 35 -I< A Burguesia Brasileira 29 -I< A
Guiné-Bissau 77 -I< História da
Sobre o autor Caribe 108 {> O Caudilhismo
Ordem Internacional 126 {> l0n-
Campanha do Petróleo 109 {>
A Cidade de São Paulo 78 {> Ci-
118 {> Haiti 104 -I< As Indepen-
dências na América Latina 1 {> dres e Paris no séc. XIX 52 {> A dadelas da Ordem 128 {> A Oo-
Luta Contra a Metrópole 3 -I< O
Francisco Femando Monteoliva Doratioto nasceu em Atibaia (SP) em 13 O Militarismo na América Lati- luna Prestes 103 -I< Constituin-
Nascimento das Fábricas 51 -I< tes e Constituições Brasileiras
de novembro de 1956. Formado em Ciências Sociais e História pela USP, na 46 {> Movimento Operário
Oriente Médio e o Mundo dos 105 {> O Coronelismo 13 {> O
Argentino 95 {> O Populismo na
obteve o título de mestre em História pela UNB com a tese "As Relações América Latina 4
Árabes 53 -I<Paris 1968: As Bar- cotidiano de trabalhadores 130
entre o Império do Brasil e a República do Paraguai (1822-1889)". ricadas do Desejo 9 {> A Poesia -I< Cultura e Participação nos
Árabe Moderna e o Brasil 50 -I< Anos 60 41 -I< A Escola e a Re-
SÉRIE NOSSA AMÉRICA A Redemocratização Espanho- pública 127 -I< O Estado Novo
la68 -I<A República deWeimar 114 {> O Governo Goulart e o
Bolfvia 137 -(:( Chile 136 -(:( e a Ascensão do Nazismo 58 -I< Golpe de 64 48 -I< O Governo Jã-
A Revolução Alemã 90 {> Revo-

-
SBD/FfLCH/)jSP -
HISTÓRIA GERAL lução e Guerra Civil na Espanha
31 {> A Revolução Industrial 11
nio Quadros 30 -I< O Governo
Juscelino Kubitscheck 14 -I< His-
tória da Música Independente

A~~~.;=rm0~
-I< A Revolução Russa 61 124 {> A Industrialização Brasi-
ANTIGA
(Até o séc. V) \eira 98 {> Juventude Operária
.SEÇ~~. Católica 97 'I> A Uberdade Sin-
HISTÓRIA DO BRASIL
O Egito Antigo 36 -I< O Mundo dical no Brasil 113 -I< Mata Ga-
Antigo: f;conomia e Sociedade -19gos 129 -I< Movimento Gmvista
39 {> A Reforma Agrária na .Ro- no Brasil 120 -I< Partido Repu-
COLONIA blicanO Federal 115 -I< A Procla-
ma Antiga 122 "'," (1500-1822) mação da República 18 -I< Rs-

i o~~ ....~.~..~~ ....., ro~BO...I.!..9..l.j:T.__ MEDIEVAL


(Séc. V a XV) -
Bandeirantismo: Verso e Rever-
se 47 {> Barroco Mineiro 123 -I<
voIuçAo de 30: A Dominação
Oculta 42 {> São Paulo na Pri-
meira República 125 {> A Sego.
A Civilização do Açúcar 88 -I< O
rança Nacional 112· -I< Tio sam
A Caminho da Idade Médiá Continente do Rio Grande 111 chega ao Brasil 91
117 -(:( As Cruzadas 34 -« -I< O Escravo Glúcho 93 {> A
O Feudalismo 65 -(:(O Im- Famnl. Brullelr. 71 '" Forma- BIOGRAFIAS

li pério Bizantino 107


~UiSiÇãO 49
arolfnglo 99

O Mundo

A In- çlo do ElPIÇO Agrário Bralll.I-
ro 132 {> O Fumo no 8rull
lOnl1 121
ce- Frledrich Nletzsche
mund Freud 133
134 -I< Sig-

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