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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA DE FILOSOFIA LETRAS E CIENCIAS HUMANAS

RESENHA: ANDREW WHEATCROFT – INFIÉIS O CONFLITO ENTRE


A CRISTANDADE E O ISLÃ 638-2002. CAPÍTULO 12 “DE TURBANTE E
CIMITARRA”

DEBORAH DE OLIVEIRA MAGAGNA


RA 112.914
NOTURNO

GUARULHOS
2017
Resenha: Andrew Wheatcroft – Infiéis O conflito entre a Cristandade e o
Islã 638-2002. Capítulo 12 “De Turbante e Cimitarra”

O autor começa seu capítulo descrevendo uma gravura na qual é possível


ver naquele século quem era alfabetizado por meio de uma criança que lia um
jornal. No entanto o autor contrapõe que desde o começo da imprensa embora
apenas alguns atores sociais soubessem ler havia algo que era de alcance de
todos, a imagem.
Nem todos possuíam acesso e alfabetização para ler um complexo livro,
como o de Foxe, porem a interpretação das imagens era algo comum a todos.
As gravuras deste livro mostravam a opressão católica. Os turcos eram
representados como bárbaros, selvagens e violentos enquanto os protestantes
eram vistos como mártires.
Quando não mostrados sob ótica da violência, as ilustrações mostravam
a ostentação e o caráter exótico dos Otomanos.
Esse tipo de interpretação fez com que fosse criado no imaginário europeu
uma visão dicotômica de ora admiráveis e curiosas e ora selvageria e barbárie
dos Turcos e muçulmanos.
O autor ressalta que muitas vezes a representação também era falha na
visão ocidental e os europeus (com sua visão eurocêntrica) os pintavam como
cavaleiros ocidentais. Só era possível distinguir um sarraceno pela coroa ou pelo
emblema em seus escudos.
A imprensa, segundo o autor, sempre moldou a concepção oriental e por
mais que novos elementos eram introduzidos na representação do mundo
oriental a essência de “inimigo infiel” sempre permanecera. Muitas vezes a
ilustração era mais agressiva que o próprio texto.
As relações entre as imagens e os textos mudaram com o passar dos
séculos, bem como as representações. A partir do século XIX o turco que era o
infiel, passou a ser visto como o “verdadeiro beduíno”. O herói do deserto passou
a ter características de selvagem nobre que nos séculos anteriores não era
aplicada ao Otomano.
O autor se utiliza do exemplo da cimitarra para mostrar como a imagem
se antecipa muitas vezes as palavras. Segundo Wheatcroft, a primeira vez que
se tem registro do uso da palavra cimitarra na língua inglesa é de 1548, porem
as representações do Turco violento, utilizando-se de tal espada, são muito
anteriores a essa data (WHEATCROFT, 2004, p.300)
Tanto o turbante quanto a cimitarra passaram a ser símbolos muito
enraizados na representação Turca, perpassando por diversos séculos. A
cimitarra não somente retratava o Turco Violento, para além disso, em 1922 foi
retratada como símbolo da degradação e da ruina da civilização, por um cônsul
americano.
Ou seja, para o autor o conjunto cimitarra e turbante era mais uma forma
rasa de retratação de toda uma cultura e população que Turca que mais uma
vez caminhava na dualidade entre o exótico e o selvagem não civilizado.
Outro exemplo utilizado pelo autor para retratar a visão Europeia da
civilização Otomana são as tulipas. Flores exóticas e até então desconhecidas
no ocidente que adquiriram esse nome por sua similaridade com os turbantes.
Logo disseminou-se a moda da retratação do ocidental trajado em formas
orientais. Desta vez não era o violento, o turbante tinha uma branda
representação, porém beirando o exótico. Este exótico também perpassou,
segundo o autor por vários séculos, ilustrando capas de livros (mesmo quando
nada tinha a ver com a história) e em representações renascentistas “curiosas”
acerca do Oriente. As pinturas apesar de terem sido feitas no oriente carregam
muito do preconceito e costumes do ocidental.
No Século XVIII o Livro de D´Ohsson tenta mostrar ao ocidente um oriente
no qual as imagens e as palavras se conversassem de forma mais sincronizada.
O projeto do autor era bastante ambicioso, porém segundo Wheatcroft, foi uma
obra sem o sensacionalismo do imaginário ocidental. O livro pouco retratava o
oriente como exótico, porém a ideia de se opor a visão hegemônica fracassou,
nos séculos seguintes o discurso hegemônico continuou e o Oriente continuo
sendo retratado sob a ótica ocidental.
O autor no capitulo décimo segundo do seu livro, retrata diversos
momentos da história em que são criados o imaginário do Oriental pelo Ocidental
com todos os preconceitos intrínsecos e enraizados da visão ocidental que
advém de tempos remotos de conflitos religiosos. O turco ou otomano é visto
recorrentemente como selvagem ou bárbaro desprovido de civilidade, os
símbolos da cultura do Oriente são colocados como símbolos dessa barbárie e
violência desde as primeiras representações que se tem registro. Essa visão da
violência Turca caminha concomitantemente com a visão da excentricidade
oriental e dos mistérios das Civilizações Otomanas.
Segundo o autor, o imagético é bastante forte nesses casos e muitas
vezes imaginário construído do ocidental em relação as culturas orientais são
prioritárias a um texto lido. Pensa-se primordialmente na imagem do Oriente
antes mesmo de ler um texto sobre o assunto, por exemplo.
Essa força da imagem para o autor advém de uma forma de construção
muito antiga e perpassa por séculos. Para entender uma imagem primeiro é
preciso entender o ver, o socialmente construído da forma de ver, o olhar
também possui uma história em si. Os olhares Ocidentais retrataram, de diversas
formas, a cultura oriental, porém sempre se embebendo da mesma base fixa (e
socialmente construída) como “uma imagem fotografada quimicamente fixada e
tornada permanente” (WHEATCROFT, 2004, p.311)

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