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Leonardo Fragoso Marcondes RA 3967911

Introdução às Ciências Socias – Fabio

APS – 1º Semestre

Análise do filme “Daens, Um Grito De Justiça”, proposto na aula 09. Em grupo,


até 4 pessoas. Com base na bibliografia do curso elaborem um texto
dissertativo de até 5 páginas tendo como premissa a Revolução Industrial não
apenas como Revolução Tecnológica, mas sim como Revolução nas Relações
Sociais de Produção. Discorram sobre as formas de trabalho e sobre a
participação popular na política.

No que tange ao entendimento adquirido assistindo o filme “Deans, Um grito de Justiça”,


podemos abordar várias temáticas, sendo em suma maioria consternantes, principalmente no
tocante às questões sociais e políticas.

Podemos verificar que o filme se passa no final do século XIX, momento auge da 2ª
Revolução Industrial, e no berço de seu desenvolvimento, Europa.

Apesar das facetas capitalistas já estarem instauradas pelo mundo, este momento é,
sem dúvida o de maior significância para o contexto atual em que vivemos, haja vista que foi
através de movimentos como o movido pelo padre Deans que a classe trabalhadora operária
alcançou, com muito suor e sangue, benefícios e uma visão mais humanizada por parte de seus
empregadores, no contexto claramente representados pela alta burguesia.

Apesar de o Capitalismo ter surgido em resposta a um modo de produção obsoleto, o


feudalismo, ele traz consigo a soberania de uma classe sobre a outra, distanciando claramente
os valores humanos, sociais básicos para que se mantenha uma sociedade pacífica e ordenada.

A visão deturpada por parte dos empregadores é muito bem retratada na conversa
entre Wooest e os demais empregadores onde o mesmo faz questão de ressaltar a
importância da diminuição dos salários para melhorar a produção, alegando que ainda que
hajam mortes, a classe operária morreria de fato caso a indústria fechasse.

Ora, como pode uma relação trabalhista, onde, apesar de a classe empregadora
possuir toda a propriedade e bens de produção, e ser absolutamente dependente da
classe operária que mantém suas máquinas funcionando a trata de maneira subjulgada?

Apesar dos grande processos migratórios ocorridos neste período, onde


camponeses, iludidos com as falsas promessas de vida propagadas pela burguesia nas
grandes cidades, percebemos que a verdadeira imagem do termo “Trabalho” talvez nunca
esteve tão melhor associada ao seu significado de origem latina “tripaliu” que nada mais é
que um instrumento de tortura.

Quanto às condições de trabalho, a meu ver, eram absolutamente precárias. Sem


considerar que talvez um escravo tivesse melhores condições de alimentação que a classe
operária desta época.

Frio, fome, miséria, eram características clássicas desta ocasião, agregada à falsa
sensação de estar lucrando algo diante de horas afinco de trabalho, observadas com
autoritarismo, violência e abusos.

Neste contexto mundial é que Marx e Engels fomentam sua teoria Comunista. E
não é pra menos. Como, na visão de pessoas devidamente engajadas para com o social,
pode-se conceber um trato humano medíocre e retrógrado, onde, melhores são os animais
que o próprio trabalhador que não possuía o direito por vezes sequer de um enterro digno.

Somado a este contexto, o Partido Católico representado no filme e seu profundo


apoio à Burguesia retrata apenas que o poderio Cristão mantido na idade média apenas foi
compartilhado a essa nova classe insurgente burguesa que desde as Revoluções Inglesas
e Francesas ocupou seu lugar dentre os dominantes.

Misóginos, machistas, desumanos e indubitavelmente amantes do dinheiro e


capital.

Naquela época, e ainda hoje, podemos verificar claramente que quem se opõe a
esta maneira impositiva e desigual de produzir é taxado de Comunista ou Esquerdista.

Seriam então todos os humanistas Comunistas e Esquerdistas?

O pensar diferente e de maneira coletiva, o pensar no social é descaracterizado


pela fome extrema pela conquista.

Foi através de manifestações retratadas no filme como a do padre Deans, que hoje
somos capazes de gozar de melhores condições de trabalho, ainda que estes direitos
estejam sendo destituídos por essa nova onda capitalista chamada Neoliberalismo.

Tomando por comparativo a estas manifestações encontramos a grande passeata


organizada por mulheres operárias realizada em Nova York em 26 de fevereiro de 1909
(ainda em plena Revolução Industrial) e na Rússia em 1917 onde as mulheres entraram
em greve também em resposta a 1ª Guerra Mundial além da fome e melhores condições
de trabalho. Tais manifestações promoveram o surgimento do Dia Internacional das
Mulheres, hoje visto com um olhar muito mais romantizado, bem distante das verdadeiras
razões que o geraram.

Outro ponto curioso a ser ressaltado é a postura da Igreja Católica Apostólica


Romana retratada no filme. É evidente que todo o poderio econômico da classe Burguesa
encanta, sustenta e agracia a Igreja sob a égide do domínio da massa. Favorecer a
diferença entre as classes constrói a imagem do antigo servo feudal que trabalhava
silencioso cumprindo com seus deveres financeiros e dogmáticos.
Sobre isto, relatarei uma passagem extraída do site https://pt.churchpop.com/, que
explica 5 (cinco) razões cujas quais impedem um padre de ser Comunista, e dentre elas está a
razão abaixo:

A desigualdade é natural e fruto da sabedoria de Deus

Ao analisarmos o universo percebemos que ele é hierárquico e desigual, indo desde um mineral, passando pelos
vegetais animais, homens e os anjos, há uma hierarquia que promove harmonia, cosmos. Se todo universo é regido
pela ordem que atravessa a desigualdade dos seres, tal lei natural passa também pelos homens. Nos seres humanos
também há desigualdades naturais dos quais não decorrem direitos (baixos, altos, gordos, magros, negros, brancos,
carecas, cabeludos, fortes e fracos) e desigualdades dos quais decorrem direitos (virtuosos, pecadores, ladrões,
honestos, professores, alunos, trabalhadores, vagabundos, pais e filhos). Isto quer dizer que um homem não tem
direito sobre o outro por ser alto ou baixo, entretanto possui se é pai e o outro filho, ambos possuem direitos
equivalente às suas prerrogativas.

O magistério da Santa Igreja já se manifestou diversas vezes sobre tal assunto, mas encontramos em Leão XIII
(Quod Apostolici Muneris e Humanum Genus) algo mais direto, ele diz que no homem também há desigualdades
naturais e acidentais, desta forma os homens são semelhantes e não iguais. Estes possuem a mesma natureza, logo
os mesmos direitos naturais. Quando os homens se aperfeiçoam, isso gera desigualdade e querer impor a maior
igualdade possível entre os homens é querer que eles não se aperfeiçoem, mas decaiam. A igualdade só se pode
realizar pelo nível mais baixo. Com relação a isso, Deus criou tal desigualdade exatamente para fomentar a
cooperação mutua entre os homens, lembremos: a lei de Deus é o amor

Creio ser desnecessário tecer algum comentário, haja vista que o texto é
explicativo por si só.

Daí percebe-se as razões que motivaram o Papa Leão XIII, retratado no filme, à
decisão que foi tomada, além de ter ficado evidente a manipulação política que existia e de
certa forma ainda existe, quando Wooest diz que já fazia tempo que não tomava a benção
do Santo Papa, num momento em que ele articulava para tirar os direitos de Deans em
meio as manifestações que o mesmo estava realizando.

Absotulamente contra o contexto religioso, Marx apresentou o seguinte


pensamento:

“A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria
real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de
situações sem alma. A religião é o ópio do povo. A abolição da religião, enquanto felicidade ilusória dos
homens, é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua
condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois,
o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.

A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem fantasias ou
consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da
ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e
reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro
sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de
si mesmo”
Karl Marx (2005). Crítica da filosofia do direito de Hegel
O que resume qualitativamente meu entendimento sobre o filme Deans é a
mensagem humanista.

O que ao meu ver o Padre Deans buscava eram melhores condições, salários
e um cuidado humano por parte da classe Empregadora, pouco distante da visão
Comunista, ainda e embora eles tenham unido forças em um dado momento para
destituir um inimigo comum.

Ao engrenar na política Deans deixa claro que não adianta possuir valores,
conceitos, dogmas se não houver prática. E este é outro ponto que o conecta ao
pensamento Marxista, o conceito Práxis.

Mas é evidente que Deans não carrega bandeiras, nem Capitalista e nem
Socialista, mas sim humanitária.

Ao término do filme isto se evidencia quando, impedido pelo Padre de realizar o


velório do pequeno Jefke, Deans rasga sua batina na idéia de que não é uma roupa
que o impedirá de realizar seu papel de homem e cidadão digno, coberto de valor e
virtude.

Esta mensagem deve ser interpretada cautelosamente para que não permeie o
Anarquismo.

Por enquanto, resta-nos a capacidade de interpretar estes ensinamentos e


racionaliza-los de maneira que irascivelmente exerçamos nosso papel de cidadãos e
sejamos capazes de promover as mudanças necessárias que não necessariamente
deponham do poder as figuras tidas como dominantes, mas equilibre de maneira digna
a imensa massa degenerada pelo sistema chamada de dominados. A questão é,
quem se acha dominado e quem se acha dominadante, são coisas tão fundidas que
colocam na teia de nossa realidade valores falsos como os apresentados no filme,
onde o ato de poder comprar e possuir lhe dá a sensação de ser superior aos demais.
Enquanto esta desigualdade estiver dentre a própria classe dominada, não haverá
mudança, haverá desunião e por consequência dominação.

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