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Técnicas de Reportagens e Entrevistas

Prof. Ma. Aline Pádua


APURAÇÃO
Transformando pautas em
reportagens
Quais os elementos básicos da apuração?

PESQUISA

DOCUMENTAÇÃO OBSERVAÇÃO

ENTREVISTA
“Se uma das pernas faltar – ou estiver curta demais -, a
reportagem não para em pé.
Os dados, apurados, por meio de pesquisa, entrevista,
observação e documentação, devem ser, depois de selecionados
e arrumados, rechecados”
(Pinto, 2014, p.89)
I. PESQUISA
“É comum quem pensa em reportagem negligenciar a pesquisa. A imagem
corriqueira do repórter é a de alguém dependente de fontes e sem acesso
às fontes das fontes – isto é, aos documentos primários de que se origina a
informação levada a público. No entanto, todo repórter, confrontando-se com
assessores de imprensa e entrevistados, já sentiu o desejo de ir adiante,
fuçar papéis e arquivos em busca de verdade mais completa, menos
tendenciosa ou mais conforme o desejo de saber do público”
(Lage, p.59)
Pesquisar para quê?

▪ Levantar o que já foi pesquisado sobre o assunto para: a) recolher


dados; b) não repetir enfoques;
▪ Descobrir pessoas que entendem do assunto.
▪ Entender aspectos técnicos do assunto para entrevistar melhor a
fonte;
▪ Conhecer melhor a vida e a obra do entrevistado;
▪ Reconhecer o entrevistado;
Pesquisar onde?

▪ O arquivo de seu jornal.


▪ Dicionário biográficos, enciclopédias, almanaques, anuários, livros de
referência.
▪ Especialistas na área.
▪ Repórteres que cobrem o assunto.
▪ Arquivos digitalizados de jornais e revistas.
▪ Seu próprio banco de dados.
▪ Internet.
CUIDADO!

“A internet é uma ferramenta valiosa. Nem dá para imaginar como a


gente conseguia fazer jornalismo antes dela. Tudo ficou mais fácil, no
jornal e na nossa vida particular. Mas ela tem deixado muitos
jornalistas míopes: só conseguem enxergar até a distância de um
monitor. O único recurso que conhecem é a rede virtual e, mesmo
assim, não sabem usá-la direito. Dessa forma, ela mais atrapalha do que
ajuda”
(Pinto, 2014. p.90)
DIFICULDADES DE PESQUISA

▪ A consulta a documentos exige conhecer a maneira como foram indexados, ou


seja, compreender processos de arquivamento;
▪ Interpretação de tabelas numéricas (quais são os dados relevantes?);
▪ Restrições ao acesso a informação;
▪ Arquivos e acervos não conservados, incompletos ou fechados ao público;
▪ Pautas e prazos.

(Lage, 2001, p. 59-60)


INVESTIGAÇÃO E INTERPRETAÇÃO

Toda reportagem pressupõe investigação e interpretação. O jornalismo


interpretativo consiste, grosso modo, em um tipo de informação em que se
evidenciam consequências ou implicações dos dados. A interpretação objetiva
oferecer ao leitor os fatos que permitem estabelecer conclusões – sem fechar
essas conclusões (LAGE, 2001).

O gênero interpretativo trata da investigação sobre os antecedentes do fato,


suas significações indiretas e seu contexto (MEDINA, 1988).
INVESTIGAÇÃO E INTERPRETAÇÃO

O jornalismo informativo trata de relatar os fatos conforme já visto na estrutura


da notícia, bastando responder às perguntas clássicas. No texto opinativo trata-
se de mostrar claramente o pensamento do jornal (Editorial) ou do articulista
(matéria assinada). No gênero interpretativo, o objetivo é mostrar ao leitor as
várias consequências que um fato pode gerar, estudando suas origens,
analisando suas implicações. Noticiar o bombardeio dos caças da Otan sobre
Kosovo, na Iugoslávia, é informativo. Condenar esses ataques é opinativo.
Analisar causas e conseqüências da guerra no contexto europeu é interpretativo
(CAMPOS, 2002).
TEMAS COMUNS DE PESQUISA MELHORES FONTES DE PESQUISA

PESSOAS Biografias, perfis, frase e citações

SIGNIFICADOS E CONCEITOS Dicionários e enciclopédias gerais, temáticos e idiomáticos

DATAS E FATOS Almanaques, cronologias e historiografias

LUGARES Diretórios, guias e mapas

NÚMEROS Anuários estatísticos, censos e balanços

LEGISLAÇÃO Códigos e coletâneas de leias

IMAGENS Catálogos de arte


II. OBSERVAÇÃO
O olhar atento traz vantagens ao repórter:

▪ Ele descobre contradições entre o discurso e a realidade


▪ Ele descobre novos enfoques e novas pautas
▪ Ele recolhe mais detalhes, mais informação, o que enriquece o texto

Atenção!
Observação não é um recurso útil apenas em reportagens mais frias, cujo
objetivo é descrever uma situação, mas também nas apurações quentes, do dia-
a-dia.
UMA HISTÓRIA
Uma repórter famosa por sua capacidade de observação é Laura Capriglione. Em
2006, Laura ganhou o prêmio Folha de Jornalismo com a reportagem “Preso içado
pelo teto expõe caos em prisão”, que relatava a situação da penitenciária de
Araraquara.
Ela descobriu uma história que ninguém viu. Quando chegou à cidade e foi ao
presídio, a maior parte dos jornalistas estava sentada sob uma árvore, esperando
as ações da tropa de choque. Em vez de se juntar aos colegas, reparou que logo
adiante havia uma lanchonete chamada Liberdade. “Poxa, uma lanchonete chamada
Liberdade em frente a uma prisão não pode ser por acaso”, conta ela.
Atravessou a rua e foi conhecer o lugar. Lá conheceu familiares de detentos que
contaram como estava a situação dentro da penitenciária e conseguiu as fontes de
que precisava para escrever sua história.
(Pinto, 2014, p103)
UMA HISTÓRIA
CADÊ OS CAVALOS?
Olhar em volta e procurar pelo que não é óbvio foi o que fez Gregg
McLachlan, do jornal canadense Simcoe Reformer.
Ele estava cobrindo um tornado. Foi a uma fazenda e viu todos os prédios
destruídos. Sim, parece óbvio, um tornado destrói edifícios. Mas Gregg
também notou que não havia nenhum animal na fazenda. Humm, era uma
fazenda de animais, estranho, né? Perguntou aos fazendeiros e descobriu
que todos os cavalos tinham sido encontrados mortos, a 100 km de
distância. Esse foi o mote da história.
(Pinto, 2014, p105)
A observação sozinha segura uma reportagem?
Não. Tome cuidado: sem pesquisa, a observação pode leva-lo pela pista errada.

Exemplo 1: Exemplo 2:
Por que tantas mulheres na fábrica? Por que nem todas as operárias estão usando máscara?
Porque elas são mais cuidadosas. As máscaras estão disponíveis. Mas, como não são obrigatórias,
Não é porque o salário delas é menor do que o dos homens? nem todas usam.
Não. Nós pagamos por cargo. Num mesmo cargo, homens e Mas essa poeira não provoca danos a saúde?
mulheres ganham a mesma coisa. A informação que temos é que não. É poeira vegetal, por isso é
eliminada normalmente do organismo.
Como tornar a observação mais eficiente?

Com pesquisa e entrevista.


Antes de sair para a pauta, o repórter deve fazer o possível para ter
informação sobre o que vai cobrir; pesquisar banco de dados; ouvir quem
entende do ramo; consultar colegas que cubram a área.
Se durante a cobertura a observação crítica nos levar a dúvidas novas, é
preciso pensar sobre o que perguntar.
III. ENTREVISTA
“O termo entrevista jornalística faz referência a duas práticas. Ela pode
estar ligada ao procedimento de apuração ‘junto a uma fonte capaz de
diálogo’ (LAGE, 2001). Ou seja, ela envolveria a obtenção de respostas pré-
pautadas por um questionário ou roteiro com um personagem que seja
notável ou possua informações de interesse público. Mas a entrevista
também pode fazer referência a um gênero jornalístico em que a
apresentação das informações se estrutura pelo modelo de pergunta-
resposta (MARQUES DE MELO, 1985)”.
(PEREIRA, 2017)
Para Nilson Lage (2001),

A entrevista é o procedimento clássico de apuração de informações


em jornalismo. É uma expansão da consulta às fontes, objetivando,
geralmente, a coleta de interpretações e a reconstituição de fatos.
A palavra entrevista é ambígua. Ela significa (a) qualquer procedimento
de apuração junto a uma fonte capaz do diálogo; (b) uma conversa de
duração variável com personagem notável ou portador de
conhecimentos ou informações de interesse para o público; (c) a
matéria publicada com as informações colhidas em (b).
TIPOLOGIA DAS ENTREVISTAS: NILSON LAGE (2001)

Quantos aos OBJETIVOS:


Rituais: são geralmente breves. O ponto de interesse está mais centrado na exposição
(da voz, da figura) do entrevistado do que no que ele tem a dizer. Entrevistas de
jogadores ou técnicos após a vitória ou a derrota, ou de visitantes ilustres, logo após sua
chegada, costumam ter essa característica.

Temáticas: são entrevistas abordando um tema, sobre o qual se supõe que o


entrevistado tem condições e autoridade para discorrer. Geralmente consistem na
exposição de versões ou interpretações de acontecimentos. Podem servir para ajudar na
compreensão de um problema, expor um ponto de vista, reiterar uma linha editorial com o
argumento de autoridade (a validação pelo entrevistado) etc.
Testemunhais: trata-se do relato do entrevistado sobre algo de que ele
participou ou a que assistiu. A reconstituição do evento é feita, aí, do ponto
de vista particular do entrevistado que, usualmente, acrescenta suas
próprias interpretações. Em geral, esse tipo de depoimento não se limita a
episódios em que o entrevistado se envolveu diretamente, mas inclui
informações a que teve acesso e impressões subjetivas.

Em profundidade: o objetivo da entrevista, aí, não é um tema particular ou


um acontecimento específico, mas a figura do entrevistado, a
representação de mundo que ele constrói, uma atividade que desenvolve
ou um viés de sua maneira de ser, geralmente relacionada com outros
aspectos de sua vida. Procura-se construir uma novela ou um ensaio sobre o
personagem, a partir de seus próprios depoimentos e impressões.
Quanto às CIRCUNSTÂNCIAS DE REALIZAÇÃO:
Ocasionais: são entrevistas não programadas - ou, pelo menos, não combinadas
previamente - em que o entrevistado é questionado sobre algum assunto. O resultado
é eventualmente interessante porque, sem se ter preparado e preso ao compromisso
de veracidade e relevância de qualquer conversa, o entrevistado pode dar respostas
mais sinceras ou menos cautelosas do que se se tivesse programado
anteriormente.

Confrontos: são entrevistas em que o repórter assume o papel de inquisidor,


despejando sobre o entrevistado acusações e contra-argumentando, eventualmente
com veemência, com base em algum dossier ou conjunto acusatório. O repórter atua,
então, como promotor em um julgamento informal. A tática é comum em jornalismo
panfletário, quando se pretende "ouvir o outro lado" sem lhe dar, na verdade,
condições razoáveis de expor seus pontos de vista.
Coletivas: o entrevistado é, aí, submetido a perguntas de vários repórteres, que
representam diferentes veículos, em ambiente de maior ou menor formalidade. Entrevistas
coletivas são comuns quando há interesse geral por algum (ou alguns) personagens
que acabam de participar de ou assistir a um evento interessante. São também
programadas como parte da promoção de espetáculos, eventos culturais ou vendas de
produtos que embutem alguma criação ou tecnologia. Altas autoridades, situadas em um
centro de decisões, costumam dar entrevistas coletivas periodicamente

Dialogais: são as entrevistas por excelência. Marcadas com antecipação, reúnem


entrevistado e entrevistador em ambiente controlado - sentados, em geral, e, de
preferência, sem a interveniência de um aparato (como uma mesa de escritório) capaz de
estabelecer hierarquia (quem se senta diante das gavetas da mesa assume, de certa
forma, posição de mando). Entrevistador e entrevistado constroem o tom de sua
conversa, que evolui a partir de questões colocadas pelo primeiro, mas não se limitam a
esses tópicos: permite-se o aprofundamento e detalhamento dos pontos abordados.
Referências
CAMPOS, P. C. O texto interpretativo. Observatório da Imprensa. Edição 166. Abril de 2002.
Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/primeiras-edicoes/o-texto-
interpretativo/
MEDINA, C. Notícia, um produto à venda, São Paulo, Summus, 1988.
LAGE, N. A reportagem: teoria e técnica da entrevista e pesquisa jornalística. Rio de
Janeiro: Record, 2001.
Pinto, A. E. de S. Jornalismo diário: reflexões, recomendações, dicas e exercícios. São
Paulo: Publifolha, 2014.

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