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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA VARA FEDERAL DE XXXX

eProc nº XXXXX
XXXXX, devidamente qualificada nos autos, por sua advogada, vem a presença de Vossa
Excelência tempestivamente apresentar RECURSO INOMINADO, em face do INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, diante do inconformismo com a sentença prolatada
por este juízo, para tanto requer que o presente recurso seja conhecido e processado nos
termos das Leis nº 9.099/95 e 10.259/01.
Requer ainda que seja deferida a gratuidade de justiça à recorrente que se declarou
hipossuficiente nos autos do processo e o ratifica neste ato, sob pena de, nã o sendo
deferida, causar prejuízos ao sustento pró prio e de sua família.
Por fim, deixa de juntar preparo por ser a parte beneficiá ria da gratuidade da justiça.
Nestes termos, pede deferimento.
XXX, 04 de julho de 2017.
Ana Luiza Castro
OAB/SC
RAZÕES DO RECURSO INOMINADO
Processo nº xxx
Recorrente: xxx
Recorrido: Instituto Nacional de Seguro Social – INSS
EGRÉ GIA TURMA,
Nobres julgadores,
DOS FATOS
A recorrente, inconformada com a sentença proferida pelo juízo a quo, nã o encontra outra
alternativa a nã o ser utilizar desse instrumento.
A autora, ora recorrente, ajuizou demanda visando aposentadoria por invalidez, tendo em
vista seu grave quadro de saú de, que nã o a permite o exercício de atividade laboral.
Para demonstrar a veracidade de suas alegaçõ es, juntou-se diversos documentos médicos,
dando conta do histó rico de saú de da autora, que se agrava ano apó s ano.
Como informado na exordial, por ser portadora de vasculite, tem seu corpo suscetível a
diversas outras enfermidades, razã o pela qual sofreu de problemas cardíacos e AVC.
Em sede judicial, o perito do juízo, após perícia absurdamente superficial, afirmou de
maneira leviana e irresponsá vel que a recorrente possui capacidade para o labor.
Demonstrou-se para o juízo que o douto perito nem mesmo respondeu aos quesitos
trazidos pela parte autora, requerendo, portanto, nova perícia, realizada por expert na á rea
neuroló gica.
Em sentença, a magistrada a quo entendeu que o pleito por novo exame se tratava de mero
inconformismo, convalidando a desleixada perícia realizada, indeferindo a concessã o do
benefício requerido.
DA SENTENÇA ORA ATACADA
Em sentença, a recorrente teve seu pedido negado sob a alegaçã o de haver capacidade para
o trabalho, tendo em vista o laudo pericial juntado.
Todavia, a sentença proferida merece reforma, uma vez que baseada em uma prova que
contraria toda a documentaçã o médica juntada nos autos. De fato, a perícia judicial foi feita
por médico nã o especialista, que nã o soube avaliar o quadro de saú de da recorrente da
maneira correta.
Veja-se que o laudo pericial sequer atendeu aos quesitos juntados pela parte autora. Muito
embora a documentaçã o médica constante dos autos ateste para sequelas neuroló gicas, o
expert do juízo se limitou a ouvir o coraçã o da recorrente com estetoscó pio.
Ora, os quesitos apresentados pela parte autora foram elaborados por médico perito que,
apó s aná lise profunda da documentaçã o médica, fez questionamentos pertinentes para
auxiliar o juízo na elaboraçã o de sua convicçã o. O douto perito, por sua vez, limitou-se a
responder “nihil” a cada um deles.
Como já noticiado nos autos, a recorrente é portadora de uma doença classificada como
SISTÊ MICA E EVOLUTIVA. Isto significa que pode se manifestar em um vá rios ó rgã os
(SISTÊ MICA), de forma a causar-lhes lesõ es irreversíveis e de forma progressiva
(EVOLUTIVA).
Trata-se de doença inflamató ria que acomete o sistema vascular fazendo com que o ó rgã o
que seria servido por aquelas artérias e veias deixe de receber o sangue e paulatinamente
vá morrendo.
No caso da autora, mulher ainda jovem, o acometimento começou pela pele
(microcirculaçã o) causando necrose (morte) e consequente infecçã o, o que gerou a
necessidade de procedimento cirú rgico para limpeza e retirada do material infectado.
Através da aná lise do material obtido deste ato cirú rgico foi que se conheceu a natureza da
doença da autora: VASCULITE.
Por seu cará ter evolutivo atingiu ó rgã os importantes como coraçã o (ANGINA E POSTERIOR
INFARTO DO MIOCÁ RDIO). Numa mulher jovem e sem nenhum outro fator de risco
adjuvante, a conclusã o é que tais eventos ocorreram em funçã o do cará ter sistêmico da
doença de base (vasculite) mesmo que ela mantenha tratamento adequado.
Emprega-se o mesmo raciocínio quando nos deparamos com episó dio de ACIDENTE
VASCULAR CEREBRAL – A. V. C) na histó ria clínica da autora.
No caso do infarto do miocá rdio o vaso atingido (artéria coroná ria) foi reparada com um
procedimento cirú rgico.
No caso do A. V. C nã o há reparo possível e pelo cará ter evolutivo da doença: novas á reas
do cérebro também poderã o ser atingidas mesmo mantido tratamento medicamentoso.
Assim como atingiu estes ó rgã os vitais, atingiu também outras á reas do organismo como os
mú sculos (miosites), articulaçõ es (artrites), dentre outros, tal qual informado no laudo
(MARCHA E POSTURA ATÍPICA, segundo o perito observou).
A irresignaçã o se dá pelo fato de que o exame médico pericial tenha sido realizado, além de
uma anamnese exígua de dados, de forma tã o superficial e pouco analítica em relaçã o à
complexidade que o caso requer.
Inegá vel a necessidade de nova perícia, dessa vez realizada por médico especialista,
disposto a de fato examinar a autora.
Nota-se que a jurisprudência nã o apenas autoriza como encoraja a realizaçã o de nova
perícia quando o exame original é insuficiente:
PREVIDENCIÁ RIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ OU AUXÍLIO-DOENÇA.
INCAPACIDADE. NECESSIDADE DE REALIZAÇÃ O DE NOVA PERÍCIA MÉ DICA. BAIXA DOS
AUTOS À ORIGEM. REABERTURA DE INSTRUÇÃ O. REALIZAÇÃ O DE LAUDO. 1. Consoante
estabelece o artigo 437 do CPC, o juiz pode determinar a realizaçã o de nova perícia quando
a matéria nã o lhe parecer suficientemente esclarecida. A segunda perícia, segundo estatui o
artigo 438 do CPC, "tem por objeto os mesmos fatos sobre que recaiu a primeira e destina-
se a corrigir eventual omissã o ou inexatidã o dos resultados a que esta conduziu", sendo
certo que ao julgar o feito, cabe "ao juiz apreciar livremente o valor de uma e outra"
(pará grafo ú nico do art. 439 do CPC). 2. A realizaçã o de nova perícia pressupõ e reabertura
da instruçã o processual, e, consequentemente, julgamento da causa com consideraçã o do
elemento de prova agregado aos autos. Quando o feito está no Tribunal de apelaçã o, assim,
havendo necessidade de outra perícia, só resta a anulaçã o da sentença, pois necessá ria
também a manifestaçã o do juiz de primeiro grau acerca dos novos elementos de convicçã o
que a Corte ad quem reputou essenciais para o adequado julgamento da causa. 3. Hipó tese
em que se impõ e anular a sentença para determinar a reabertura da instruçã o processual,
com a realizaçã o de nova perícia. (TRF4, AC 2009.72.99.000244-3, QUINTA TURMA,
Relator para Acó rdã o RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, D. E. 19/04/2010)
DIREITO PREVIDENCIÁ RIO. PLEITO DE CONCESSÃ O DE APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ, RESTABELECIMENTO DE AUXÍLIO-DOENÇA OU CONCESSÃ O DE AUXÍLIO-
ACIDENTE. SENTENÇA DE IMPROCEDÊ NCIA. APELO DA AUTORA. PEDIDO DE PRODUÇÃO
DE NOVA PERÍCIA EM RAZÃO DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO CONTRÁRIO Á
CONCLUSÃO PERICIAL. LAUDO QUE ATESTA A INEXISTÊ NCIA DE INCAPACIDADE.
IMPUGNAÇÃ O À PERÍCIA QUE CITOU OUTROS DOCUMENTOS. EXAME DE DOPPLER NO
DIA ANTERIOR À PERÍCIA JUDICIAL, APRECIADO PELO EXPERT, SUGERINDO
COMPRESSÃ O ARTERIAL E ESTENOSE. FATO QUE, POR SI SÓ , NÃ O DERRUI AS
CONCLUSÕ ES DO PERITO. POSSIBILIDADE DE EXISTÊ NCIA DE DOENÇA NÃ O
INCAPACITANTE. ATESTADO FIRMADO PELO MÉ DICO QUE ACOMPANHA A REQUERENTE
DESDE 2011 INDICANDO O AFASTAMENTO DO LABOR POR TEMPO INDETERMINADO EM
RAZÃ O DA AVALIAÇÃ O DO QUADRO E DO EXAME DE DOPPLER REALIZADO NAQUELE
DIA. DUAS CONCLUSÕ ES DIVERSAS QUANTO AO MESMO EXAME. ATESTADO PARTICULAR
QUE CAUSA DÚ VIDA NO JULGADOR QUANTO AO REAL QUADRO CLÍNICO DO SEGURADO.
IMPERIOSA NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA, MEDIANTE A REALIZAÇÃO DE
NOVA PERÍCIA MÉDICA. ESCLARECIMENTOS IMPRESCINDÍVEIS PARA O DESLINDE DA
CAUSA. AUSÊ NCIA DE ELEMENTOS SEGUROS DE CONVICÇÃ O SOBRE A EXISTÊ NCIA,
EXTENSÃ O OU CONSOLIDAÇÃ O DAS LESÕ ES. SENTENÇA ANULADA. RETORNO DOS
AUTOS À ORIGEM. APELO DA AUTORA PROVIDO. RECURSO DO RÉ U PREJUDICADO. (TJSC,
Apelaçã o Cível n. 0300307-62.2015.8.24.0016, de Capinzal, rel. Des. Carlos Adilson Silva, j.
23-05-2017).
AÇÃ O DE RESTABELECIMENTO DE BENEFÍCIO. AUXÍLIO DOENÇA E/OU APOSENTADORIA
POR INVALIDEZ. IMPROCEDENCIA. PRELIMINAR DE NULIDADE EM RAZÃ O DA NÃ O
INTIMAÇÃ O DO INSS PARA SE MANIFESTAR SOBRE O PEDIDO DE DESISTÊ NCIA DA AÇÃ O.
REJEITADA. PEDIDO DE DECLARAÇÃ O, INCIDENTER TANTUM, DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3º DA LEI 9469/97. REJEITADO. PRELIMINAR DE
NULIDADE POR TER SIDO A PERICIA MÉDICA REALIZADA POR PERITO NÃO
ESPECIALISTA. ACOLHIMENTO. DESATENDIMENTO AO QUE DISPÕ E O ART. 145 E
PARÁ GRAFOS DO CPC. DESIGNAÇÃ O DE NOVO PERITO. NECESSIDADE. SENTENÇA
ANULADA. RECURSO DA PARTE AUTORA PROVIDO. Assim, dou provimento ao recurso da
parte autora, para anular a sentença, devendo os autos retornarem ao juízo de origem, para
realizaçã o de nova perícia. (Classe: Apelaçã o, Nú mero do Processo: 0100559-
69.2008.8.05.0001, Relator (a): Cynthia Maria Pina Resende, Quarta Câ mara Cível,
Publicado em: 18/11/2015 )
PREVIDENCIÁ RIO. BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE. ANULAÇÃ O DA SENTENÇA.
NECESSIDADE DE NOVA PERÍCIA MÉ DICA. REQUERIMENTO DE OFÍCIO PELO JUIZ. ART.
130 DO CPC. 1. Ao juiz incumbe a direçã o do processo, determinando até mesmo de ofício a
produçã o de prova pericial, quando imprescindível à soluçã o da causa, como no presente
caso. 2. Anulada a sentença, para que seja realizada nova perícia médica. (TRF4, AC
2001.72.07.000841-2, SEXTA TURMA, Relator JOÃ O BATISTA PINTO SILVEIRA, DJ
29/09/2004)
Nã o podemos esquecer também de alguns princípios como o IN DÚ BIO PRO MISERO E DA
FUNÇÃ O SOCIAL DA PREVIDÊ NCIA, e, basta a aná lise da documentaçã o médica juntada nos
autos para verificar a complexidade do caso: a recorrente padece de consequências
neuroló gicas causadas pela doença vasculite que a acomete. Como é possível, através de
uma escuta de coraçã o e pulmõ es, concluir-se sobre o estado neuroló gico e neuropsíquico
sem recorrer a nenhum método de avaliaçã o específico destas á reas?
Neste diapasã o, a nobre julgadora a quo nã o concedeu aposentadoria por invalidez, mesmo
depois de todos os documentos apresentados que comprovam a incapacidade. O perito
nomeado nã o respondeu claramente aos quesitos, sendo inegá vel a contradiçã o entre as
anomalias, os laudos de “verdadeiros peritos” (médicos que acompanham a recorrente há
anos), e o laudo do dito perito do juízo.
Por fim, nã o soa justo nem razoá vel atribuir-se efeito a referida sentença, sem o
estabelecimento do benefício, eis que a recorrente nã o pode retornar ao trabalho.
É necessá ria, ante todo o exposto, a reforma na sentença para conceder aposentadoria por
invalidez à recorrente, ou, ao menos, a realizaçã o de nova perícia, a ser perfectibilizada por
médico especialista.
DOS PEDIDOS
Isto posto, aguarda recorrente a decisã o dessa Turma Recursal, requerendo o acolhimento
do presente recurso, procedendo à reforma da r. Sentença a fim de ajustá -la ao melhor
direito, reformando-a para:
I - conceder aposentadoria por invalidez, em razã o da incapacidade permanente para o
labor;
II - alternativamente, caso seja de entendimento desta Turma, anular a sentença proferida e
determinar a realizaçã o de nova perícia médica, por médico especialista na á rea de
neurologia.
Nestes termos, pede deferimento.
xxxx, 04 de julho de 2017.
Ana Luiza Castro
OAB/SC

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