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5 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 53
2
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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1 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA
Fonte: bravineuropsicologia.com.br
4
época em que, como nos assinalam Kristensen et al (2001), as grandes teorias da
psicologia perdem um pouco de seu poder explicativo à medida que os avanços
científicos foram conduzidos e reciprocamente conduziram a uma enorme
especialização do conhecimento, provocando desse modo o interesse de muitos
pesquisadores, de neurologistas a educadores, que procuram compreender o
funcionamento cerebral por meio do comportamento humano.
Embora o seu campo de estudo envolva áreas como a educação e trabalho, a
neuropsicologia tem também sua atenção voltada principalmente para a área da
saúde, uma vez que a mesma começou ocupando-se das dificuldades cognitivas
ocasionadas por danos neurológicos específicos.
No entanto, suas atividades se expandiram e ela passou a atuar ainda no
diagnóstico diferencial, na profilaxia, e na reabilitação cognitiva de pacientes com
comprometimento tanto neurológico, quanto estrutural e funcional (RANDON, S/D).
Deste modo, percebe-se uma óbvia aplicação da neuropsicologia em contextos de
saúde, principalmente consultórios clínicos e ambientes hospitalares. Contudo, a
atuação da neuropsicologia no Brasil, ao contrário dos grandes centros internacionais
de saúde, ainda é bastante tímida.
A existência da psicologia nos hospitais ainda é recente, passando a ocorrer
somente na década de 50, onde começou com a atuação num modelo herdado do
consultório clínico tradicional. Tal modelo teve dificuldades para efetivar o seu
funcionamento, já que as exigências específicas dos hospitais, como o atendimento
em curtos espaços de tempo, transformavam o modelo clínico tradicional da psicologia
em uma atuação importante, no entanto insuficiente para o contexto hospitalar
(MIYAZAKI et al 2002). Assim, a psicologia hospitalar tentou superar o desafio de
adaptar a sua prática clínica a este novo contexto.
A neuropsicologia, então, entra nos hospitais com a missão de adaptar-se ao
modelo hospitalar que depende tanto de fatores externos, como as mudanças e
avanços no conhecimento e desenvolvimento de tecnologias da área médicas, as
mudanças nos padrões e modelos de gestão em saúde, quanto de fatores internos,
como a capacidade de atender às exigências do contexto (MIYAZAKI et al, 2002).
Compreender as possibilidades da neuropsicologia de se adaptar às
necessidades do contexto, vale sempre analisar como se configura a prática da
neuropsicologia, que cresce se desenvolvendo progressivamente, contribuindo de
5
forma significativa para a avaliação diagnóstica interdisciplinar, de pacientes
portadores de comprometimentos neurológicos e/ou psiquiátrico em várias situações,
aumentando as suas possibilidades de atendimento clínico (MALLOY-DINIZ et al,
2010).
A década de 1990, a chamada “década do cérebro” foi marcada por uma
revolução nos conhecimentos científicos sobre a psicologia e neuropsicologia. Essa
revolução foi provocada pelo paradigma do processamento da informação e da
metáfora computacional, fazendo surgir uma nova a neuropsicologia cognitiva,
formada, por sua vez, pelo diálogo entre neuropsicologia e psicologia cognitiva. De
acordo com o paradigma do processamento da informação, a mente se comporta
como um software, sendo compreendida como um processador com capacidade
limitada, necessitando de um hardware, que seria representado pelo cérebro, uma vez
que esse é responsável por programar operações e atividades mentais cujos
processos devem ser teoricamente detalhados (CAGNIN, 2010).
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A Seleção de pacientes para técnicas especiais: a análise detalhada
de funções permite separar subgrupos de pacientes de mesma
patologia, possibilitando uma triagem específica de pacientes para um
procedimento ou tratamento medicamentoso.
A perícia: auxiliar a tomada de decisão que os profissionais da área do
direito necessitam fazer em uma determinada questão legal (MALLOY-
DINIZ et al, 2010).
Segundo a Resolução Nº002/2004 do Conselho Federal de Psicologia existem
três campos de atuações que são fundamentais na profissão do Neuropsicólogo, o
diagnóstico, no qual através do uso de instrumentos (testes, baterias, escalas)
padronizados para avaliação das funções cognitivas, o Neuropsicólogo irá pesquisar
o funcionamento de habilidades como atenção, percepção, linguagem, raciocínio,
abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da
informação, visuoconstrução, afeto, funções motoras e executivas.
Esse diagnóstico tem o objetivo de coletar os dados clínicos para auxiliar na
compreensão da extensão das perdas e explorar os pontos intactos que cada
patologia provoca no sistema nervoso central de cada paciente. Por meio desta
avaliação neuropsicológica, é possível estabelecer tipos de intervenção, de
reabilitação particular e específica para indivíduos e/ou grupos de pacientes com
disfunções adquiras ou não, genéticas ou não, primariamente neurológicas ou
secundariamente a outros distúrbios (Psiquiátricos).
O tratamento (reabilitação), com o diagnóstico em mãos é possível realizar as
intervenções necessárias junto aos pacientes, para que possam melhorar,
compensar, contornar ou adaptar-se às dificuldades.
Essas intervenções podem ser no âmbito do funcionamento cognitivo, ou seja,
no trabalho direto com as funções cognitivas (memória, linguagem, atenção, etc.) ou
com um trabalho muito mais ecológico, no ambiente de convivência do paciente, junto
de seus familiares, para que atuem como coparticipantes do processo reabilitatório,
junto a equipes multiprofissionais e instituições acadêmicas e profissionais,
proporcionando a cooperação na inserção ou reinserção de tais indivíduos na
comunidade quando possível, ou ainda, na adaptação individual e familiar quando as
mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes ou de longo prazo
(CFPRESOLUÇÃO Nº002/2004).
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A pesquisa, que envolve o estudo de diversas áreas, como o estudo das
cognições, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da
relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral, para tais pesquisas o uso
de testes Neuropsicológicos é um recurso empregado, para assim ter um parâmetro
do desempenho do paciente nas determinadas funções que estão sendo pesquisadas
(CFP-RESOLUÇÃO Nº002/2004).
Na atualidade o uso de drogas específicas, para estimulação ou inibição de
determinadas funções, tem sido usada com frequência para observar o
comportamento e o funcionamento cognitivo dos sujeitos em dadas situações.
Outra técnica que muito tem contribuído nas Neurociências e com grande
especificidade na Neuropsicologia é o uso de neuroimagem funcional por
Ressonância Magnética (FMRI) e tomografia funcional por emissão de pósitrons
(PET-CT) que possibilitam o mapeamento de determinadas áreas relacionadas a
atividades específicas, como por exemplo, recordação de listas de palavras durante o
exame. Portanto, fica claro que a Neuropsicologia é um campo de trabalho e de
pesquisa emergente, tanto para a Psicologia, quanto para as Neurociências,
avançando e contribuindo de forma única para a compreensão do modo como
pensamos e agimos no mundo.
Desta forma, verifica-se que uma das principais atividades da neuropsicologia
é a avaliação neuropsicológica, que tem como objetivo verificar mudanças no padrão
de desempenho dos sujeitos em relação às funções cognitivas e comportamentais,
suspeitando-se de algum tipo de alteração ou disfunção cerebral (ANTUNHA, 1987).
Utilizando-se instrumentos psicométricos, escalas do desenvolvimento e
análise qualitativa da produção do paciente, é possível identificar precocemente
alterações no desenvolvimento cognitivo e comportamental, tornando possível a
avaliação de funções cognitivas importantes, já que os principais objetivos da
neuropsicologia são localizar as lesões cerebrais, responsáveis pelos distúrbios
específicos de comportamento, e permitir uma melhor compreensão das funções
psicológicas complexas (LEFRÉVE, 1998).
Conforme Simonetti (2014), existem várias formas de se avaliar que não seja
com o uso de testes apenas, a observação será um excelente crivo que pode-se
utilizar diante de um paciente. Na avaliação neuropsicológica é utilizado uma série de
10
testes psicológicos, que inclui não somente os testes psicométricos, mas também as
provas que visam analisar funcionalmente a atividade do córtex cerebral.
Entretanto, vale salientar que a neuropsicologia não se resume a simples
aplicação de testes, indo a uma análise global e sistemática dos resultados obtidos
pela avaliação neuropsicológica, sejam resultados quantitativos obtidos através dos
testes psicológicos ou qualitativos, oriundos das provas informais, da observação
direta e informações adicionais obtidas em entrevistas com os familiares e
profissionais que atendem o paciente.
Portanto, os testes psicológicos têm apenas um caráter de instrumento auxiliar
na avaliação neuropsicológica e ajuda a traçar um perfil neuropsicológico do paciente.
Vale ressaltar, que os testes são apenas ferramentas que ajudam a entender um
quadro clínico naquele momento específico, como uma fotografia daquele momento
do funcionamento cerebral do sujeito (SIMONETTI, 2014).
Segundo Tirapu Ustárroz (2011), o interesse principal do neuropsicólogo clínico
está em conhecer a amplitude do déficit em um determinado processo ou processos
cognitivos, planejando um programa de reabilitação individualizado, a avaliação
neuropsicológica (ANP) é então um procedimento de investigação que se utiliza de
entrevistas, observações, provas de rastreio e testes psicométricos, a fim de
apresentar diagnósticos e oferecer meios de tratamento.
A escolha dos instrumentos da avaliação deve levar em conta o objetivo do
exame neuropsicológico, idade, sexo, nível sociocultural, grau de comprometimento e
fatores situacionais, como hospitalização ou medicação. Nesse sentido, o
estabelecimento de um plano de avaliação é de muita importância, uma vez que é por
meio dele que o psicólogo poderá alcançar seus objetivos sem perder tempo e
desestabilizar o paciente com testes que não têm uma funcionalidade prática.
Em síntese, o plano de avaliação permite o estabelecimento de recursos que
vão possibilitar um diagnóstico confiável, pois consiste na seleção de testes e técnicas
que é delimitada por determinadas hipóteses diagnósticas (STRAPASSON et al,
2004).
Dessa forma, o desenvolvimento de baterias de testes e protocolos específicos
de avaliação é imprescindível para aqueles que pretendem atuar com
responsabilidade e qualidade em qualquer avaliação neuropsicológica.
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Uma atuação neuropsicológica que tem ganhado reconhecimento é a
reabilitação neuropsicológica nas mais variadas disfunções cerebrais. Segundo
Wilson (2005) a reabilitação neuropsicológica tem o objetivo de minimizar as
alterações cognitivas, para que o paciente atinja seu melhor nível de funcionalidade
possível na vida diária.
Esse tipo de atuação tem como objetivo a melhora da qualidade de vida dos
pacientes, por meio de atividades de Pré treino e compensação de funções cognitivas.
Tais intervenções devem contar com o apoio de familiares e cuidadores dos pacientes
para que bons resultados sejam obtidos, portanto, as pessoas próximas acabam
exercendo uma atuação de co-terapeuta no processo de reabilitação do paciente,
sendo importante que eles também recebam o mínimo de preparo.
Diante disso, percebemos que nas atividades de avaliação e reabilitação, como
a neuropsicologia, é importante se atentar para os diversos contextos do paciente,
não só hospitalar, uma vez que a avaliação neuropsicológica é um tipo de avaliação
apropriada para casos em que há disfunções funcionais relacionadas a um problema
caracteristicamente neurológico (SILVA et al, 2016).
Embora já esteja bastante difundida, ainda é necessário que a avaliação
neuropsicológica seja mais explorada e investigada, já que a maioria dos trabalhos
publicados são diretivos à contribuição da avaliação neuropsicológica para
determinadas patologias e/ou públicos, evidenciando-se, assim, a urgência na
produção de mais estudos na área.
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A avaliação clínica do neuropsicólogo, pois de posse dos dados clínicos,
o neuropsicólogo fará a anamnese, perguntando ao paciente sobre o
início dos sintomas, se utiliza algum medicamento e como se sente em
relação aquela situação.
Aplicação dos métodos neuropsicológicos, com base nas informações
dos profissionais e do paciente, o neuropsicólogo selecionará então o
método mais adequado para a função cerebral em análise. Este pode
ser feito por meio de testes ou baterias neuropsicológicas. Os testes são
utilizados para identificar uma função cognitiva específica e relacioná-la
com as estruturas cerebrais envolvidas. Já as baterias
neuropsicológicas são compostas por um conjunto de testes com o
objetivo de responder dados mais direcionados sobre determinada
função cerebral (CORTEZE, 2016).
Sabe-se que os instrumentos neuropsicológicos são ferramentas fundamentais
e necessárias no processo de avaliação neuropsicológica, e a escolha dos testes pode
mostrar maior qualidade nos resultados. A escolha desses instrumentos utilizados irá
depender das dificuldades apresentadas, tais como sintomas ou qualquer suspeita de
diagnóstico anterior.
O avaliador utiliza as informações encontradas com a avaliação, o
conhecimento da doença em questão, o conhecimento da anatomia e funções
cerebrais, além de conhecimento de aspectos do desenvolvimento evolutivo, a fim de
que seja possível prover uma interpretação acertada dos resultados observados nos
instrumentos (MEDEIROS, S/D).
Os testes cognitivos são bastante utilizados pela neuropsicologia, mas eles são
apenas um dos quatro pilares da avaliação neuropsicológica, que são compostos
também pelas etapas da entrevista, da observação comportamental e das escalas de
avaliação de sintomas. Eles auxiliam no diagnóstico, na compreensão da extensão
das perdas funcionais, no estabelecimento dos tipos de intervenções específicas e
adequadas, e a desenvolver um plano de reabilitação (MEDEIROS, S/D).
Segundo Carazza (2018), a visão da avaliação neuropsicológica reduzida ao
uso mecânico dos testes tem sido bastante difundida.
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Entretanto, mensurar quantitativamente as funções e sintomas não é suficiente
para se estabelecer um diagnóstico correto. E uma das justificativas para isso é que
não existe um instrumento neuropsicológico autossuficiente para avaliar um
determinado componente cognitivo. Desta forma, cabe ao neuropsicólogo escolher os
instrumentos que poderão auxiliar na investigação da hipótese diagnóstica e no
esclarecimento dos possíveis déficits apresentados pelo paciente.
Isso porque um bom diagnóstico precisa, necessariamente, responder a uma
série de perguntas (hipóteses).
Por exemplo, se as características comportamentais são traços do indivíduo
ou é algo que ele apresenta naquele momento em decorrência de alguma alteração
neuropsicológica ou mesmo consequência de situações contextuais.
Alguns testes padronizados e validados utilizados para população
brasileira úteis na avaliação neuropsicológica:
NEUPSILIN-inf- Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve
Infantil:
Trata-se de um instrumento neuropsicológico breve que avalia componentes
de oito funções neuropsicológicas, por meio de 26 subtestes: orientação, atenção,
percepção visual, memórias (de trabalho, episódica, semântica), habilidades
aritméticas, linguagem oral e escrita, habilidades visuoconstrutivas e funções
executivas. O NEUPSILIN-INF permite aos profissionais dimensionarem não só a
avaliação e o diagnóstico, mas também o prognóstico e o delineamento terapêutico.
O seu principal objetivo é identificar e caracterizar o perfil de funcionamento de
processos neuropsicológicos visando a descrição cognitiva associada a diagnósticos
em transtornos do neurodesenvolvimento, em geral, e da aprendizagem, em
particular, quando aliado ao resultado de outros instrumentos e demais procedimentos
no processo de avaliação neuropsicológica. O Público-alvo é crianças do primeiro ao
sexto ano escolar do Ensino Fundamental (considerando anos de estudo formal), com
idades entre 6 e 12 anos e 11 meses. A sua aplicação é individual, sem limite de
tempo, sendo que a maioria das aplicações leva em média 50 minutos (SALLES et al.,
2016).
WISC IV - Escala Wechsler de Inteligência para Crianças:
É um instrumento clínico de aplicação individual que tem como objetivo avaliar
a capacidade intelectual das crianças e o processo de resolução de problemas.
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Faixa etária: 6 anos e 0 meses a 16 anos e 11 meses. É composto por 15
subtestes, sendo 10 principais e 5 suplementares, e dispõe de quatro índices, à saber:
Índice de Compreensão Verbal, Índice de Organização Perceptual, Índice de Memória
Operacional e Índice de Velocidade de Processamento, além do QI Total
(WECHSLER, 2013).
R-2 – Teste não Verbal de Inteligência para Criança:
O objetivo do teste é avaliar o fator G de inteligência de crianças. O seu público-
alvo são crianças com idade de 5 a 11 anos. A aplicação é realizada individualmente,
sem um limite de tempo, sendo que a maioria das aplicações leva em média 8 minutos.
O teste é composto por 30 pranchas com figuras coloridas de objetos concretos e
abstratos, que devem ser aplicadas de acordo com sua numeração. A criança escolhe
a opção que será registrada pelo aplicador na folha apropriada. A correção é realizada
pelo total de acertos, pela avaliação quantitativa e qualitativa, considerando os
diferentes tipos de raciocínio exigidos para responder cada item do teste. O
instrumento é restrito a psicólogos (ROSA; ALVES, 2018).
Observação sobre os testes citados acima:
Os testes citados acima são suscetíveis a alterações, portanto
aconselhamos sempre o Psicólogo (a), buscar informações sobre os
testes no site SATEPSI onde o objetivo é de avaliar a qualidade técnico-
cientifica de instrumentos psicológicos para uso profissional, a partir da
verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos e divulgar
informações sobre os testes psicológicos, para que a comunidade de
psicólogas (os) possa aplicar o determinado teste.
A resolução CFP N° 009/2018 estabelece diretrizes para a realização de
Avaliação Psicológica no exercício profissional do psicólogo e
regulamenta o Sistema de Teste Psicológicos – SATEPSI, bem como
estabelece quais requisitos mínimos os instrumentos devem apresentar
para serem reconhecidos como testes psicológicos.
No site do SATEPSI são apresentados, em duas abas, os instrumentos
que podem ser usados pelas (o) psicólogas (os) na prática profissional
(testes psicológicos favoráveis e instrumentos não privativos do
psicológico) e aqueles que não podem ser utilizados na prática
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profissional (testes psicológicos desfavoráveis e testes psicológicos não
avaliados).
Porém, tanto a avaliação neuropsicológica quanto a psicológica, constituem um
procedimento de investigação clínica, e compartilham alguns dos instrumentos de
avaliação, tais como, entrevistas, observação comportamental, análise de
documentos e uso de testes. Desta maneira, a testagem é somente uma das etapas
de uma avaliação, seja ela neuropsicológica ou psicológica.
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Essas respostas advindas dos estímulos são interpretadas como normais ou
patológicas pelo neuropsicólogo. Este, por sua vez, usará não apenas a interpretação
de parâmetros quantitativos, mas se valerá principalmente, da análise dos fenômenos
observados e de sua relação com a queixa principal do paciente ou de seu
representante, da história clínica, da evolução de sintomas, dos modelos
neuropsicológicos sobre o funcionamento mental e do conhecimento de
psicopatologia.
Sua atuação, portanto, é voltada para a avaliação e reabilitação de pessoas
que apresentem alguma alteração cognitiva e/ou comportamental, associada às
diversas patologias que afetam o sistema nervoso central. Aplica-se em crianças,
adultos e idosos (MEDEIROS, S/D).
Por fim, a importância da Avaliação Neuropsicológica reside no fato de se
procurar identificar e constatar precocemente a presença de algum distúrbio, bem
como o grau de sua evolução. Uma vez identificado algum prejuízo funcional, pode-
se contribuir para a inclusão social da pessoa, por exemplo, desenvolvendo-se novas
estratégias para lidar com as limitações apresentadas, minimizando-as (MEDEIROS,
S/D).
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Identificar necessidades terapêuticas, recomendar intervenções e
apontar resultados possíveis dessas intervenções
Contribuir para o diagnóstico diferencial de distúrbios emocionais,
cognitivos e comportamentais;
Monitorar a evolução do tratamento e identificar novas questões que
possam requerer atenção profissional e;
Oferecer devolutiva de maneira competente e empática sobre os
resultados de todo o processo (Meyer et al., 2001).
A avaliação diagnóstica de características comportamentais e cognitivas faz
parte da prática profissional de áreas como a psicologia, a psiquiatria, a neurologia e
a neuropsicologia desde sua constituição como ciência e profissão (Anastasi & Urbina,
2000; Haase et al., 2012; Meyer et al., 2001).
Todas essas áreas têm em comum o comportamento humano como objeto de
estudo e aplicação. Sem dúvida, a complexidade da rede de pensamentos, emoções,
comportamentos e cognições que constitui o funcionamento idiossincrático humano é
condizente com a existência de práticas interdisciplinares entre essas áreas, o que,
por vezes, pode ocasionar dúvidas e equívocos quanto aos limites de atuação
profissional entre, sobretudo em se tratando da avaliação psicológica e
neuropsicológica.
Não é à toa, portanto, que estudantes e profissionais constantemente se
questionam acerca das semelhanças e diferenças entre os processos de avaliação
psicológica e neuropsicológica. Nos parágrafos seguintes, irá caracterizar ambos os
processos e apontar algumas semelhanças e diferenças entre eles.
Partindo de uma análise mais ampla, a avaliação psicológica (AP) pode ser
vista como área da psicologia e como atividade levada a cabo em contextos de prática
profissional. Seus primórdios remontam ao final do século XIX, e seu surgimento
esteve diretamente associado ao desenvolvimento de métodos científicos com
objetivos para quantificação e mensuração dos fenômenos psicológicos,
especialmente aplicados aos campos da educação e seleção de pessoas (Anastasi &
19
Urbina, 200). Por ter, em sua origem, se voltado à elaboração de testes psicológicos
e a psicometria, a AP se viu circunscrita à denominação de área aplicada.
Fonte: unepneuro.com.br
21
meio da investigação sistemática dos parâmetros de validade e fidedignidade, é
constante no campo da AP.
No Brasil, essa preocupação assumiu status de regulamentação por meio de
resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), em 2003 (CFP, 2003; Reppold
& Gurgel, 2015). Embora os testes psicológicos sejam ferramentas importantes e
recorrentes em processos de AP, esta não se resume à utilização deles. Há muitos
profissionais que realizam processos inteiros de AP sem recorrer a testes
psicológicos.
O uso do teste psicológico em um processo de AP deve estar pautado em uma
análise de demanda (ou seja, da melhor forma de responde – lá) e do custo – benefício
de usa – ló naquele processo em particular (Meyer et. Al, 2001).
Não há testes disponíveis e/ ou confiáveis para tudo o que se quer avaliar e
tampouco todo e qualquer aspecto do funcionamento individual depende unicamente
de um teste para ser avaliado de forma confiável e clinicamente útil.
Aqui, faz – se importante uma ressalva: o processo da AP não se baseia
somente no uso de testes psicológicos. Porém, segundo a Lei Federal n° 4.119/62,
constitui função privativa do psicólogo a utilização de métodos e técnicas psicológicas
com objetivos de diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional, orientação
psicopedagógico e solução de problemas de ajustamento (Brasil, 1962, Art. 13°§ 1).
Em outras palavras, seguindo a interpretação corrente dessa lei, entende – se
que, quando um instrumento de avaliação é definido pelo CFP como testes
psicológico, ele só pode ser usado por psicólogos. Essa é uma diferença entre a (AP)
e a (AN): como nem todo especialista em neuropsicologia tem formação superior em
psicologia (a neuropsicologia é, por definição, um campo de atuação e pesquisa
interdisciplinar), nem todo especialista em neuropsicologia poderia usar testes
psicológicos em processo de AN, ao passo que todo e qualquer psicólogo tem
permissão legal para uso de testes psicológicos em um processo de AP.
Destaca – se que essa não é uma questão isenta de controvérsias. Tais
controvérsias vão desde as diferentes formas de interpretação da lei a discussões
relativas ao estabelecimento de critérios para formação superior em AP e a
necessidade e viabilidade de processos de certificação dos profissionais já formados,
objetivando, se não solucionar, ao menos minimizar os impactos éticos, sociais e
22
legais da formação, por vezes insuficiente, superficial e inconsistente em AP no Brasil
(Noronha et.al., 2010).
Não obstante, cabe ressaltar que, em processos de NA, é comum que o
profissional inclua, como fonte de informação complementar, resultados de exames
de neuroimagem, que podem auxiliar na investigação dos substratos neurais de
processos cognitivos específicos (Ramos & Hamdam, 2016).
A interpretação adequada dos exames de neuroimagem exige conhecimentos
específicos sobre estrutura e função do SNC, que, quando ausentes, podem contribuir
para a construção de inferências equivocadas, superficiais e estatísticas sobre a
relação cérebro- comportamento (Ramos & Hamdam, 2016).
Outro ponto que merece atenção é quanto ao uso de análises quantitativas e
qualitativas em AP e A N. Nas primeiras, a atenção se volta à comparação do indivíduo
com um grupo normativo ou de critério (abordagem nomotética); ao passo que, na
segunda, não se objetiva verificar a performance do indivíduo relativa ao grupo, mas
sim comparar sua própria performance em momentos e situações diferentes
(abordagem ideográfica) (Haase, Gauer, & Gomes, 2010).
Frequentemente se advoga que a AN extrapola a questão quantitativa para
incluir complementarmente a análise qualitativa. Grande parte dos primeiros métodos
de avaliação na neuropsicologia estiveram baseados na neurologia comportamental
e no modelo médico.
Assim, pois, o método tradicionalmente usado na AN era de natureza
qualitativa e largamente baseados em normas internas, informalmente elaboradas,
com base em estudo de caso (Frazen, 2013). Mais recentemente, contudo, o
desenvolvimento da neuropsicologia clínica e sua aproximação com modelos
psicológicos dimensionais têm fomentado a aplicação das teorias psicométricas aos
instrumentos de avaliação neuropsicológicos e a sofisticação progressiva das análises
quantitativas na AN (Franzen, 2013; Hasse et al., 2012).
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psicológica do indivíduo para adaptação a vários contextos (como para habilitação
veicular no trânsito, concessão de porte de armas ou seleção de pessoas em
contextos de instituições ou organizações). No campo da clínica, independentemente
da procedência da demanda, tanto a AP quanto a AN se pautam em um trabalho
investigativo, em que o enfoque principal é o teste de hipóteses, o diagnóstico, o
prognóstico e a indicação de condutas terapêuticas.
Todavia, o teste de hipóteses e o processo inferencial e interpretativo na AN
são realizados em função de modelos neurocognitivos, de correlação estrutura –
função, ou seja, os resultados são interpretados sempre a partir de correlatos entre as
funções cognitivas, executivas e os comportamentos com a topografia e o
funcionamento do SNC (Haase et al., 2012).
Na AP, são as teorias e os modelos psicológicos aqueles que embasam a
elaboração de hipóteses e as interpretações acerca dos achados, sem que o
profissional tenha de recorrer a modelos explicativos neurobiológicos.
Faz – se importante, contudo, destacar que nem sempre o processo de AP
está baseado no teste de hipóteses e na investigação mais detalhada acerca do
funcionamento psicológico. Para alguns contextos e demandas, o processo de AP é
muito mais sucinto, pontual, prescindindo de análises mais sofisticadas, tal como
ocorre, por exemplo, no exame psicológico pericial do trânsito.
Ainda, acrescenta – se que a natureza do processo investigativo em AN pode
também estar associada ao tipo de teste utilizado. Testes psicométricos que avaliam
funções cognitivas (memória, atenção, linguagem) são comuns e frequentes aos dois
tipos de avaliação.
Entretanto, testes psicológicos expressivos (gráficos ou não), projetivos ou
mesmo testes psicométricos de personalidade e interesses são comumente menos
usados como ferramentas em processos de AN, embora alguns autores compartilhem
da ideia de que questões relativas ao desajustamento emocional poderiam influenciar
a resposta ás tarefas cognitivas (Fuentes et al., 2010).
Mesmo quando utilizados na AN, os testes de personalidade não são centrais
nos processos ou os únicos usados, tampouco são realizadas inferências baseadas
em teorias psicológicas, inferências mais lineares acerca da relação de construtos,
como a personalidade, com estruturas cerebrais específicas, são limitadas pelo
estado da arte atual.
25
As avaliações psicológicas e neuropsicológicas constituem – se em processos
fundamentais para a prática de profissionais da saúde, contribuindo não apenas para
o diagnóstico, mas também para o desenvolvimento de programas ou estratégias
interventivas adequadas e individualizadas.
Ambas são dinâmicas, multifásicas, teoricamente embasadas e utilizam – se
de testes psicológicos como uma de suas ferramentas de apoio diagnóstico.
Entretanto, há diferenças importantes entre os dois processos no que se refere as
diretrizes legais para uso de testes e formação profissional, aos tipos de testes
utilizados, as demandas de encaminhamento, aos contextos de utilização e aos
modelos teóricos que embasam o raciocínio inferencial envolvido nesses processos.
26
Compreender a complexidade do funcionamento cerebral é absolutamente
necessário para o bom desenvolvimento da prática clínica de psicólogos,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Em primeiro lugar é
preciso compreender que as neurociências envolvem vários campos de pesquisa,
abrangendo a neuroanatomia, a neuropsicologia e a psiquiatria. A história do
desenvolvimento das neurociências está calcada nas contribuições dos cientistas em
todas essas áreas.
A neuropsicologia, tal como cunhada por William Osler em 1913 (Bruce, 1985),
surge como a ciência de interface que enfoca a complexa organização cerebral e suas
relações com o comportamento e a cognição, tanto em relação ás doenças que afetam
o SNC como no desenvolvimento normal.
Lezak, Howieson, Loring, Hannay e Fischer (2004) definem a neuropsicologia
clínica como a ciência aplicada que estuda a expressão comportamental das
disfunções cerebrais. J. Odgen (1996) aborda o tema como o “ ... estudo do
comportamento, das emoções e dos pensamentos humanos e como eles se
relacionam com o cérebro, particularmente o cérebro lesado”.
McCarthy e Warrington (1990) enfocam a neuropsicologia cognitiva como um
campo interdisciplinar drenando informações tanto da neurologia como da psicologia
cognitiva, investigando a organização cerebral das habilidades cognitivas. O termo “
função cognitiva” refere-se à integração das capacidades de percepção, ação,
linguagem, memória e pensamento.
Mesulam (2000) define a neurologia comportamental como o campo de
interface entre neurologia e psiquiatria que trata dos aspectos comportamentais das
doenças que afetam o SNC. Embora com abordagens um pouco diferentes, todas
essas disciplinas voltam seus olhares para o cérebro em relação ao comportamento.
A avaliação neuropsicológica consiste na avaliação objetiva do desempenho
cognitivo, linguístico, perceptual e psicomotor de uma pessoa com o objetivo de
relacionar esse desempenho com as condições funcionais e estruturais do cérebro
(Benton, 2000).
Trata – se da aplicação de técnicas de entrevista, exames quantitativos e
qualitativos, o exame neuropsicológico, segundo Bento, é a extensão e o refinamento
da observação clínica.
27
Dessa forma, esse autor ressalta que um teste neuropsicológico se define por
seu uso, especificamente com relação a função cerebral, e não por sua natureza.
A história da neuropsicologia está demarcada principalmente pelo estudo de
casos clássicos, Gage, Leborne, H.M., entre os mais conhecidos. Os relatos desses
casos permitiram a exploração de vários casos similares. Leonor Welt (uma das
primeiras mulheres que estudou medicina em Zurich), em 1988, analisou um de seus
pacientes em conjunto com outros 10 casos relatados na literatura, associando lesões
nas áreas orbitofrontais com a alterações afetivas e sociais. Essa integração pela
literatura que atravessou o atlântico levou ao desenvolvimento das técnicas de
avaliação.
A primeira bateria de testes neuropsicológicos foi publicada por Rieger, um
neuropsiquiatra, em 1888, em Wurzburg, Alemanha. Praticamente desconhecida pela
história, essa bateria de longa duração influenciou o trabalho de outros, como
Poppelreuter, Goldstein e Liepmann. No início do século XX, foram desenvolvidos
vários testes para avaliação de funções neuropsicológicas específicas, assim como
os testes de inteligência, (Benton, 2000).
Sir Francis Galton estabeleceu em Londres, em 1884, um laboratório
psicométrico na Internacional Health Exibition, que, posteriormente, foi transferido
para a University College de Londres. O norte-americano James McKeen Cattel
esteve com W. Wundt (Alemanha) no laboratório de psicologia experimental de
Leipzig e, depois, trabalhou com Galton. Tais experiências reforçaram a psicometria
nos estados unidos por ocasião de seu retorno.
No início do século XX, na França, Alfred Binet e Theodore Simon publicaram
a Escala de Inteligência Binet-Simon, estabelecendo os princípios básicos para uma
bateria de avaliação psicométrica. Alexander Luria (Rússia), na década de 1960,
elaborou a teoria dos sistemas funcionais, trazendo uma visão mais dinâmica do
funcionamento cerebral.
Brenda Milner (Canadá), estudando o caso H.M., cuja cirurgia para tratamento
das crises epiléticas foi realizada pelo doutor Scoville, em Hartford (Estados Unidos),
estabeleceu as diretrizes para a metodologia de avaliação neuropsicológica dos atuais
centros de cirurgia de epilepsia.
28
Elisabeth Warringon (Inglaterra) enfocou basicamente a análise das funções
cognitivas relacionadas ás disfunções cerebrais, voltando seus métodos para a
análise de habilidades complexas, seus componentes e subcomponentes.
Arthur Benton (Estados Unidos) elaborou métodos de avaliação
neuropsicológico com testes de memória, percepção visual e práxis construtivas. Edith
Kaplan e o grupo de Boston (Estados Unidos) desenvolveram métodos de avaliação
do processamento das informações nos diversos testes psicométricos, conhecidos
como “ Process Approach” (Benton, 2000; Kaplan, 1990; Mader, 1996; Sattler, 1992).
O enfoque fundamentalmente localizacionista referido nas publicações antes
do desenvolvimento das técnicas de neuroimagem foi embasado no estudo de
pacientes com lesões cerebrais.
Atualmente, com os exames de imagem (a tomografia foi desenvolvida na
década de 1970; e a ressonância magnética, na de 1980), o foco primordial da
neuropsicologia, na de 1980), sendo o foco maior da neuropsicologia está na
observação de correlação entre modelos cognitivos e as áreas cerebrais e no
desenvolvimento de métodos de avaliação coerentes com o contexto sociocultural e,
se possível adequados ecologicamente (Ardilha, 2005; Barbizet & Warrington, 1990).
A psicometria contribuiu largamente para o desenvolvimento da
neuropsicologia, mas é necessário diferenciar a postura do neuropsicólogo e a do
psicometrista. O neuropsicólogo tem por objetivo principal de correlacionar as
alterações observadas no comportamento do paciente com as possíveis áreas
cerebrais envolvidas, realizando essencialmente um trabalho de investigação clínica
que utiliza testes e exercícios neuropsicológos.
O enfoque é clínico e, como tal, deve ser compreendido. Já o psicometrista
observa atentamente a construção da metodologia e o desenvolvimento dos testes,
privilegiando as amostragens e padronizações de grandes grupos de pessoas
normais.
Face a face com o paciente, o neuropsicólogo trabalha com enfoque
diagnóstico, seja para a descrição das alterações cognitivas em determinada doença,
seja para o diagnóstico diferencial. Tanto testes como exercícios neuropsicológicos
são seus instrumentos, mas o profissional experiente na aplicação de testes
neuropsicológicos sabe que situações diferentes podem interferir no desempenho do
paciente durante a testagem.
29
Parte do trabalho do neuropsicólogo consiste em controlar essas variáveis e
observar cuidadosamente esses dados a fim de interpretar os resultados à luz da
ciência e não apenas das tabelas. O treinamento do profissional está justamente
calcado em dominar seus instrumentos, pois o trabalho fascinante da neuropsicologia
consiste em interpretar comportamentos e resultados dos testes no contexto clínico
(Ewing, 2000; Mader, 2001; Miranda, 2005; Walsh, 1992; Weintraub, 2000).
Walsh e Darby (1999) sugerem que o treinamento em avaliação
neuropsicológica deve abordar principalmente casos extremos, graves e bem-
localizados. Dessa forma, o profissional aprende a observar os sintomas em sua
expressão máxima e pode, assim, identificar melhor as alterações sutis das funções
cognitivas nos casos mais leves.
A oportunidade de avaliar pacientes com doenças diferentes mantém o
neuropsicólogo alerta para a variabilidade das manifestações clínicas dos
comprometimentos cerebrais.
A formação em neuropsicologia deve privilegiar o treinamento, de preferência
em um ambiente com equipe multiprofissional. Esse é um campo de trabalho que
depende essencialmente da prática supervisionada.
A neuropsicologia é uma ciência com contribuições multidisciplinares, mas há
estruturas de trabalho diferentes conforme as organizações profissionais de cada
país. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia é uma instituição
multidisciplinar fundada em 1988.
Em 2004, o Conselho Federal de Psicologia reconheceu a especialidade de
neuropsicologia para os psicólogos. Em 2014, o Conselho Federal de Fonoaudiologia
reconheceu a especialidade para os fonoaudiólogos.
A academia Brasileira de Neurologia contempla um Departamento Científico de
Neurologia Cognitiva e Envelhecimento. Cada profissional, dentro de sua habilitação
técnica, colabora para a integração das neurociências, mas essa interseção é delicada
e merece atenção das instituições formadoras, buscando beneficiar um objetivo
comum, o paciente.
O processo de avaliação inicia com uma entrevista clínica, na qual o histórico
do paciente é investigado (escolaridade, ocupação, antecedentes familiares e história
da doença mental) e esses parâmetros são utilizados na análise de resultados e na
interpretação do impacto cognitivo das doenças neurológicas.
30
No Brasil, apesar da unidade da língua em todo o território, a diversidade
cultural é imensa. As imigrações ao longo dos séculos XIX e XX proporcionaram uma
integração entre as culturas europeias, africanas e asiáticas.
As diferenças educacionais relacionadas ás condições econômicas são tão
importantes quanto as diferenças culturais. As áreas economicamente bem-
desenvolvidas dos grandes centros contrastam com regiões de extrema pobreza.
Todos esses brasileiros podem, em algum momento, tornar –se pacientes para os
neuropsicólogos.
O questionamento sobre a diversidade cultural e suas implicações para a
interpretação de determinado resultado leva ao problema da adaptação aos testes
estrangeiros.
No mundo globalizado pela rigidez dos meios de comunicação, as fronteiras
são mais amplas e permitem uma compreensão mais precisa das diferenças entre as
culturas.
32
O paciente, ou seu familiar, pode ter uma demanda diferente. Quando um
familiar acompanha um paciente que sofreu alguma lesão cerebral, ele quer mais
explicações sobre as dificuldades que observa em casa, precisa saber como lidar com
as situações do dia a dia e, principalmente, qual o prognóstico. Nem sempre as
notícias são boas, mas, na maioria dos casos, uma longa conversa com o familiar
expõe o alcance das alterações observadas nos testes e o auxilia a compreender a
origem dos comportamentos.
A partir da demanda, o profissional seleciona as técnicas adequadas e compõe
sua bateria flexível, pois o processo de avaliar acaba por sugerir áreas a serem
investigadas em profundidade. Para os pacientes submetidos à avaliação pela
primeira vez, as tarefas iniciais podem ser mais simples, de modo a introduzir o ritmo
e verificar sua capacidade de se adaptar e colaborar com o processo.
A escolha do método de trabalho depende, assim, das questões a serem
respondidas. A abordagem quantitativa é fortemente baseada em normas, análises
fatoriais e estudos de validade. O processo de avaliação privilegiada traz consigo uma
bateria de testes essencialmente quantitativos e enfoca as propriedades
psicométricas dos testes.
A abordagem qualitativa – flexível, em contrapartida, é referendada por
diversos autores que alertam para as armadilhas da interpretação rápida de escores,
embora não abandonem por completo as técnicas formais (Kaplan, 1990; Lezak,
2004; Odgen, 1996; Walsh, 1992; Walsh & Darby, 1999; Weintraub, 2000).
Os instrumentos neuropsicológicos podem ser classificados, em linhas gerais,
como testes e exercícios. Os testes formais são métodos estruturados aplicados com
instrumentações especificas e normas derivadas de uma população representativa.
Os resultados são medidos em escalas padronizados ou descritos a partir de média e
desvio padrão que permitem a utilização de cálculos para comparação (p. ex., escores
z ou t) (Fachel & Gamey,2000).
Embora permitam uma avaliação quantitativa, os testes formais podem ser
também interpretados qualitativamente. Os exercícios neuropsicológicos são métodos
de exploração da cognição e do comportamento, abordando as diversas etapas
necessárias para desempenhar determinada função.
São fundamentados nos sintomas neuropsicológos, desenvolvidos
gradualmente pela experiência clínica (Goldstein & Scheerer, 1941; McCarthy &
33
Warrington, 1990) ante as diversidades dos pacientes com lesões cerebrais. São
exercícios destinados a explorar as etapas dos processos cognitivo. De fato, a forma
como o paciente confronta – se com o exercício (seja ele um cálculo ou um desenho)
e que tem significado clínico. Algumas dessas técnicas foram encorpadas as baterias
de avaliação cognitiva e validadas.
Weintraub (2000) ressalta que não existe testes formais com normas definidas
para avaliar algumas alterações neuropsicológicas mais específicas, nem uma bateria
de testes completa, abrangente e totalmente padronizada. A autora argumenta que
não é possível ter normas detalhadas para todas as variáveis que podem interferir nos
testes (como idade, gênero, educação e cultura). Do mesmo modo que não é possível
evitar por completo os efeitos de “ teto” e “ chão” em todos os níveis de testes.
Walsh (1992) adota uma postura essencialmente clínica quando afirma que “...
na realidade, não existem testes neuropsicológicos. Apenas o método de construir as
inferências sobre os testes é neuropsicológico”. O impacto dessa colocação é
destacado anos depois por Ewing (2000) e Lezak e colaboradores (2004).
Diversos fatores podem interferir no desempenho do paciente, sendo assim, a
interpretação baseada apenas em resultados quantitativos pode levar a concepções
errôneas. A partir dessa linha de pensamento, a concepção da validade ecológica
cresceu, isto é, a capacidade dos exames neuropsicológicos de inferir sobre a
adaptação do paciente ao meio em que vive e seu retorno ao trabalho ou à escola
após a lesão cerebral. Tal aspecto torna- se importante justamente quando a
avaliação subsidia o campo jurídico (Ewing, 2000).
O relatório (ou parecer) da avaliação neuropsicológica é o resultado final do
processo, o fechamento da avaliação e a abertura das orientações para reabilitação.
Deve incluir aspectos descritivos (com ou sem dados numéricos) e a interpretação dos
dados obtidos. Esse é o meio de comunicação oficial, o documento que responde à
demanda e pode ter desdobramentos jurídicos.
O relatório (parecer) pode também subsidiar profissionais de outras áreas nas
decisões sobre retorno ao trabalho ou interdição. Para o paciente, em contrapartida,
o importante é a entrevista devolutiva. As alterações observadas devem ser traduzidas
com exemplos das situações práticas.
34
Tanto o paciente como o familiar precisam de orientações e indicações para o
acompanhamento futuro. Os termos técnicos dos relatórios, então, podem ser
explanados; e as dúvidas, sanadas.
A avaliação neuropsicológica não é um processo de investigação pronto e
acabado; está em estruturação e provavelmente estará assim por muito tempo. Lezak
e colaboradores (2004) instigam os neuropsicólogos a buscarem novas formas de
abordagem, alterando que “... nesse campo complexo e em expansão, poucos fatos
ou princípios podem ser tomados como verdade, poucas técnicas não vão se
beneficiar das modificações de conhecimento e experiência. ”
Ao contrário dos testes, as tarefas neuropsicológicas não são restritas a
nenhuma categoria profissional, podendo ser utilizadas pelos demais profissionais da
saúde com formação em Neuropsicologia.
A escolha dos instrumentos utilizados na Avaliação Neuropsicológica deve
levar em conta vários fatores como a idade e a escolaridade do examinando, assim
como o objetivo da avaliação. De acordo com Abreu, Fuentes, Malloy-Diniz e Mattos
(2010) os instrumentos escolhidos podem ser estruturados por meio de baterias fixas
ou flexíveis, ambas avaliam uma série de domínios cognitivos. No entanto, enquanto
as baterias flexíveis são compostas por testes e tarefas escolhidos com base na
condição individual do examinando, as baterias fixas caracterizam-se pelo uso dos
mesmos instrumentos para um grupo de pessoas.
As baterias fixas são extremamente úteis dentro do contexto de pesquisas e,
nesse contexto, a escolha dos testes deve ser suficientemente abrangente para cobrir
a investigação das funções cognitivas comumente comprometidas nas patologias a
serem investigadas. Já na avaliação clínica, onde é comum a diversidade de
manifestações (por exemplo, trauma crânioencefálico, acidentes vasculares,
demências, distúrbios de aprendizagem), a abordagem por meio de baterias flexíveis
é mais indicada.
Embora Haase (2009) sugira que a formação do neuropsicólogo deve ocorrer
preferencialmente em um nível de pós-graduação, o interesse pela área geralmente
ocorre ainda na graduação. Para o psicólogo, uma forma bastante frequente de
aprendizado da Avaliação Neuropsicológica ocorre no contexto de pesquisas cuja
metodologia utiliza esse tipo de avaliação. Tais pesquisas podem ser realizadas por
35
laboratórios de pesquisa vinculados às instituições de ensino ou mesmo por iniciativa
de professores.
36
da testagem psicológica, fazendo com que a atividade profissional se tornasse
bastante questionada.
37
2010:19). Conforme salientam Noronha e Reppold (2010:198), isso trouxe como
consequência um elevado número de infrações éticas relacionadas ao exercício da
avaliação psicológica, bem como uma resistência de alunos, docentes e psicólogos
aos instrumentos.
Nesse sentido, as autoras destacam um estudo realizado por Frizzo (2004)
demonstrando que 46,15% das denúncias ao Conselho Regional de Psicologia do
Paraná (CRP-08) referiam-se ao exercício da avaliação psicológica, especificamente
às falhas quanto ao uso dos testes aplicados e competência técnica para sua
realização.
Somente a partir da década de 80, com a ampliação de pesquisas, qualificação
de docentes e criação de novos instrumentos a área da avaliação retoma seu
desenvolvimento de forma expressiva (ALCHIERI; CRUZ, 2010:19; PADILHA;
NORONHA; FAGAN, 2007:70).
Vários autores reconhecem que algumas ações foram estratégicas para a
evolução da área. Na opinião de Noronha e Reppold (2010:194) um grande reforço
para esse avanço foi a intervenção do Conselho Federal de Psicologia (CFP) com
uma série de ações que resultaram na criação do Sistema de Avaliação dos Testes
Psicológicos (SATEPSI), cujo objetivo concentra-se na melhoria da qualidade dos
instrumentos psicológicos e na disposição de uma lista de testes que apresentam
evidências científicas para uso profissional.
Corroborando com esse entendimento, Primi (2010:31) ressalta que a criação
do SATEPSI contribuiu "na tentativa de responder a uma grande demanda de
processos éticos envolvendo a avaliação psicológica". O autor complementa referindo
que:
38
qualificação dos mesmos, bem como a Resolução CFP 007/2003, que possui
característica norteadora a respeito dos documentos escritos produzidos pelos
psicólogos e provenientes do processo de avaliação psicológica, a exemplo de
relatórios, pareceres, laudos, declarações e atestados psicológicos.
Na perspectiva de Borsa (2016:133), as orientações para a prática da
avaliação psicológica considerando outros contextos e finalidades também foram de
grande relevância.
39
Quanto a isso, Alchieri e Cruz (2010:32) salientam que o profissional, além de
conhecer os instrumentos e sua aplicação, deve estar atualizado sobre as mais
recentes teorias psicológicas.
No entanto não parece ser esse um recurso adotado na prática. No estudo de
Noronha e Alchieri (2004 apud REPPOLD; SERAFINI, 2010:323) vamos encontrar a
seguinte explanação, o ensino da avaliação psicológica e de suas técnicas utiliza-se,
muitas vezes, de referenciais teóricos e científicos ultrapassados. Ou seja, bibliografia
retrógrada e não oficial (resumos e apostilas elaboradas por professores), os quais
não dão conta da produção atual na área.
Confirmando a necessidade de um conhecimento atualizado e crítico, Fonseca
(2011:137) afirma que existe uma carência de livros-textos de caráter didáticos para
o ensino das disciplinas de Técnicas e Exames Psicológicos que desfavorece a
veiculação do conhecimento.
Não obstante, percebe-se atualmente que a produção científica na área de
avaliação psicológica tem sido promissora, entretanto não tem sido explorada por
docentes na atividade de ensino.
40
das técnicas avaliativas devido à redução das disciplinas de ensino da avaliação
psicológica e a carência de publicação específica voltada para o ensino da avaliação
psicológica, e os cursos de graduação não tem contemplado a formação necessária
para o trabalho com avaliação psicológica. Nesse sentido, Noronha e Reppold
(2010:198) afirmam que "no tocante à formação, parece claro que a falta de excelência
está diretamente relacionada à incompetência profissional".
O estudo realizado por Mendes et al. (2013:434), com profissionais já formados
e estudantes de psicologia, acerca dos conceitos básicos da avaliação psicológica,
mostra a predominância de uma visão estereotipada sobre o entendimento dessa
prática. O nível das respostas encontradas justifica-se pelos problemas relacionados
à formação.
Manfredini e Argimon (2010:138) apresenta uma pesquisa de Noronha (2002)
onde aponta que os problemas vivenciados na avaliação psicológica e nos testes
psicológicos estão estritamente relacionados aos instrumentos e à formação
profissional.
[...] parece estar claro que tais problemas estão sendo atribuídos ao
instrumento, ao uso deles e à formação profissional, e por trás disso,
encontra-se o psicólogo, ou mais especificamente, o psicólogo que não cria
bons instrumentos, o psicólogo que não os utiliza adequadamente e o
psicólogo que não está sendo bem formado. (NORONHA, 2002:140 apud
MANFREDINI; ARGIMON, 2010:138; apud, Souza Arlete 2017).
41
Dentre os motivos apresentados pelo não uso dos instrumentos estão: a falta
de domínio por deficiência no processo de formação profissional, concepções
pessoais acerca da avaliação psicológica, características psicométricas dos
instrumentos, variáveis externas que não favorecem a aplicação do instrumento e o
custo dos testes visto como alto investimento.
Especificamente em relação à formação nas disciplinas de testes psicológicos,
o estudo apontou que 52,3% dos participantes consideram como insatisfatória para o
uso dos instrumentos e 40,7% como razoavelmente satisfatória.
Outra questão abordada por Paula, Pereira e Nascimento (2007:41) relaciona-
se à elaboração de relatório psicológico, tida como uma etapa negligenciada no
processo de formação.
Reforçando essa questão, o estudo de Noronha et al. (2013:134) destaca que
um dos conteúdos voltados para a avaliação psicológica menos contemplados na
formação são os princípios de elaboração de documentos psicológicos e que o
recurso mais utilizado por professores enquanto metodologia do ensino neste quesito
é a aula expositiva em detrimento da elaboração de laudos e relatórios. Nesse sentido,
Pellini (2015:48) evidencia a implicação social da avaliação psicológica considerando
que muitas pessoas são atingidas por esta ação profissional. A autora ressalta que
além de uma boa técnica é imprescindível garantir o caráter ético do trabalho que
reflete diretamente sobre os documentos escritos pelos psicólogos decorrentes da
avaliação psicológica e levanta um questionamento:
Será que o usuário do nosso serviço, aquele que é avaliado, tem como se
queixar do processo de avaliação psicológica se não for se queixando daquilo
que oficialmente se conclui a seu respeito por meio dela e que, portanto, está
expresso em um documento? (PELLINI, 2015:48; apud, Souza Arlete 2017).
Com base nisso a autora salienta que a qualidade destas avaliações está
implicada na qualidade da confecção dos documentos escritos, oriundos de
avaliações psicológicas. Dessa maneira, nota-se que um dos grandes problemas na
formação do psicólogo está relacionado à formação em avaliação psicológica tendo
em vista a relação que os autores estabelecem entre atuações profissionais
inadequadas e formação deficitária na área.
Por conta disso, alguns autores levantam a discussão sobre a especialização
em avaliação psicológica como um recurso necessário para proporcionar aos
42
psicólogos o aprofundamento teórico e prático para a adequada atuação na área.
(BORSA, 2016:137; NORONHA; REPPOLD, 2010; PRIMI, 2010).
43
Problemas éticos decorrentes de documentos escritos de forma pouco
fundamentada, tendenciosa e apresentando conclusões precipitadas. Diante dessa
realidade fica evidente a contradição entre teoria e prática provocando o descrédito
entre os alunos e a desvalorização da avaliação psicológica enquanto um processo
sistematizado.
44
Sugere ainda, disciplinas e conteúdos programáticos alinhados a essas
competências; especifica a infraestrutura necessária quanto a métodos de ensino,
formação docente e oferece sugestões bibliográficas a serem utilizadas nas
disciplinas da área.
Aliado a isso se destaca a necessidade de formação em competências mais
complexas, tais como compreensão de dados estatísticos, métodos de pesquisa e
raciocínio matemático, fato que desmotiva o aprofundamento continuado na área
(PRIMI, 2010:34).
Reppold e Serafini (2010:323) salienta que o psicólogo deve apresentar como
requisito mínimo para atuação profissional a competência de saber escolher e utilizar
instrumentos e procedimentos de coleta de dados em Psicologia, realizar diagnóstico
e emitir laudos e outros documentos psicológicos. Essas competências precisam ser
desenvolvidas no período da graduação e atualizadas em constante formação
continuada.
Fonte: psicologaemfortaleza.com.br
45
Esse é o primeiro artigo da Declaração de Direitos Humanos, o qual indica o
princípio fundamental de igualdade de condições e direitos entre todos os seres
humanos. Afirma –se, assim, que as pessoas não podem ser discriminadas e tolhidas
de direitos fundamentais em razão de “ raça, de cor, de sexo, de língua, de religião,
de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento
ou de qualquer outra situação “ (artigo 2°,1° parte).
O documento ressalta, ainda, que todos têm “ direito de acesso, em condições
de igualdade, ás funções públicas do seu país (artigo 21, 2) e têm direito “ a condições
equitativas e satisfatórias de trabalho e direito”, sem discriminação alguma, a salario
igual por trabalho igual” (artigo 23). Assim, é um documento fundamental que enfatiza
e afirma direitos fundamentais para a manutenção de boas relações humanas.
Em seu trabalho profissional, o psicólogo se vê, muitas vezes, diante de
situações socialmente delicadas, que envolvem importantes decisões sobre as
pessoas, as quais têm potencial de impedir a obtenção de bens que estas desejam.
Como exemplo podemos citar os processos seletivos públicos, nos quais o psicólogo
participa da decisão sobre quem será aprovado para exercer uma função pública, no
exame psicotécnico, no qual ele pode decidir sobre a cessão do direito de dirigir, em
processos jurídicos, nos quais o psicólogo opina sobre temas que interferirão nas
relações entre pais e filhos. Também no sistema prisional, pode participar de decisões
que envolvem a privação da liberdade e/ou amenização da pena.
Nessas situações, frequentemente o profissional realiza avaliações
psicológicas com o auxílio de instrumentos e técnicas cujo objetivo principal é
compreender e descrever o funcionamento psicológico das pessoas, confirmar ou
refutar impressões que tenham sido formadas em outras situações, identificar
necessidades de intervenções, monitorar acompanhamentos e progressos, realizar e
aprofundar uma compreensão diagnóstica, gerenciar riscos para minimizar potenciais
problemas, bem como tentar predizer comportamentos futuros ( Meyer et al., 2001).
Assim, vemos que a psicologia tem um papel bastante importante, pois pode
contribui a tentar atingir, da melhor maneira, os interesses sociais e individuais. A
delicadeza das situações anteriormente citadas decorre dos conflitos entre as
pessoas, que geralmente estão presentes.
Procura – se tomar decisões que podem não atender aos desejos de alguns,
mas que, no fim, façam justiça, buscando o equilíbrio das liberdades, de forma a não
46
deixar que a liberdade de uns interfira inadvertidamente nos direitos fundamentais de
outros. Aspectos esse enfatizado na Declaração dos Direitos Humanos, quando
afirma sobre os deveres das pessoas para com a comunidade.
Em teoria, as práticas avaliativas podem trazer informações mais aprofundadas
sobre as pessoas, com o objetivo primordial de ajudar no processo decisório, de tal
forma que fomente o desenvolvimento e o bem-estar, tanto individual quanto social,
contribuindo para o bem comum. Entretanto, deve-se considerar a complexidade de
tais situações, o que as tonar suscetíveis de erros e, consequentemente, com
potencial para causar injustiças, de modo a ferir os direitos das pessoas.
Por esse motivo, o profissional tem, em sua prática, grande responsabilidade
ética, que implica o emprego de conhecimentos profissionais disponíveis,
selecionando aqueles sustentados por evidências científicas. Essa atitude conduz as
práticas mais eficazes e ajuda a evitar erros.
Ressalte – se, também, a grande responsabilidade que o profissional deve
assumir, de ponderar os limites do que pode fazer diante do estado do conhecimento
da área, e refletir sobre os dilemas éticos que eventualmente apareçam, buscando
sempre seguir os princípios e as orientações desenvolvidos pelos órgãos e
comunidades científicas e profissionais.
Nesse contexto, os critérios de verificação da qualidade dos instrumentos
psicológicos, como os que são empregados no Sistema de Avaliação dos Testes
Psicológicos (SATEPSI), operacionalizam princípios consensuais divulgados pela
comunidade científica internacional sobre o que deve caracterizar um instrumental
cientificamente fundamentado.
Nesse sentindo, informam os profissionais sobre a qualidade cientifica dos
instrumentos disponíveis, de forma a estimular uma prática baseada em evidências.
O uso competente dessas informações favorece a prática mais eficaz, pois reduz a
possibilidade de erros decorrentes do uso de técnicas cuja adequação aos propósitos
pretendidos não é conhecida.
Sabemos que, se por um lado todos devem ser tratados com igualdade perante
dos direitos fundamentais, por outro, as pessoas diferem entre si quanto ás suas
características psicológicas. O entendimento acurado dessas diferenças é um
propósito fundamental da avaliação, tanto para o entendimento do problema como,
consequentemente, para se tomar precisa e está munido de instrumentos com
47
elevado padrão de qualidade, a fim de que possa obter informações seguras para
basear sua análise e opinião profissional sobre a questão.
Dessa maneira, pode-se ver que os critérios de avaliação de qualidade e de
credenciamento dos instrumentos são coerentes com a responsabilidade ética
profissional da psicologia (Tavares, 2010).
Tais critérios levam em conta o embasamento cientifico dos instrumentos, por
exemplo, atestando que as interpretações psicológicas derivadas dos resultados dos
testes têm embasamento sólido (validade de construto).
Também verificam a utilidade prática dos instrumentos para os propósitos
pretendidos (Validade de critério), havendo ainda critérios mais amplos pertinentes ás
práticas de avalição. Nesses, focaliza – se o uso dos instrumentos e as consequências
decorrentes das decisões que são derivadas do seu uso, verificando se são
condizentes com o que o instrumento pode oferecer, considerando- se suas bases
científicas (Validade consequencial). Há ainda critérios mais específicos que
investigam, por exemplo, o viés dos resultados, que podem ser obtidos, por exemplo,
em estudos do funcionamento diferencial dos itens.
Tais investigações buscam verificar se os instrumentos avaliam de maneira
equivalente grupos definidos por características relevantes, como gênero nível
socioeconômico, escolaridade, entre outras (Nunes $ Primi, 2010; Primi & Nunes,
2010; Primi, Muniz & Nunes, 2009).
Assim, os critérios são meios de certificar a qualidade dos instrumentais e estão
em direta consonância com o sentido mais amplo dos princípios fundamentais que
são tratados na Declaração dos Direitos Humanos, pois buscam reconhecer
instrumentais que atingem padrões de qualidade mínimos para uma prática
cientificamente reconhecida, como forma de colocar o conhecimento e os
instrumentos psicológicos disponíveis a sociedade, de maneira responsável.
É evidente que o simples credenciamento dos instrumentos não garante a
prática eficaz, a partir do emprego do conhecimento psicológico disponível. Esta
constatação nos remete a outro importante ponto, que se refere à formação
profissional no campo da avaliação psicológica.
Remete também à necessidade do reconhecimento da avaliação psicológica
como especialidade, já que isso traria vários benefícios que são discutidos em outro
documento (IBAP & ASBRo, 2010).
48
O que irá fazer a diferença entre uma prática na qual o psicólogo acaba fazendo
uma discriminação social inadequada a partir do resultado de um teste e outra, na
qual o psicólogo tem uma compreensão com discernimento das diferenças individuais,
as quais são relevantes para a formação da opinião profissional, será sem dúvida a
competência do profissional para o uso dos instrumentos na avaliação psicológica.
49
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
50
NORONHA, Ana Paula Porto. Testes psicológicos: conceito, uso e formação do
psicólogo. In: HUTZ, Claudio Simon (Org.). Avanços e polêmicas em avaliação
psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009. 318 p.
ROSA, H. R.; ALVES, I. C. B. R-2 – Teste não Verbal de Inteligência para Criança.
Editora Vetor. Vol. 2. 2018.
51
TAVARES, Marcelo. Da ordem social da regulamentação da avaliação
psicológica e do uso dos testes. In: Diretrizes na regulamentação da profissão.
Brasília: CFP, 2010.
52
5 BIBLIOGRAFIA
53