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PARTE GERAL
Princípios Penais e Jurisprudência do
STF e STJ
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DIREITO PENAL – PARTE GERAL
Princípios Penais e Jurisprudência do STF e STJ
Dermeval Farias
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minadoras. Essa dupla faceta é percebida nos julgados do STF, o qual tem, constantemente,
com os princípios constitucionais penais, realizado uma filtragem das leis penais, embora,
às vezes, sem precisão conceitual.
Entretanto, afirmar ter os princípios constitucionais penais a função de interpretação do
sistema penal não significa taxá-los de diretrizes políticas ou programáticos, nem afastar-
-lhes a caráter de ‘lei positiva’, pois, na qualidade de princípios constitucionais fundamentais,
vinculam o legislador e o aplicador do direito em razão da força normativa que lhes é inerente.
Nesse sentido, ministram dois brilhantes constitucionalistas portugueses, J.J. Gomes Ca-
notilho e Vital Moreira (2007), ao tratarem dos princípios fundamentais, afirmam que a cons-
titucionalização dos princípios fundamentais trouxe a superação definitiva da idéia de Cons-
tituição como simples ‘complexo de directivas política’. Dessa forma, as normas e princípios
constitucionais não são meramente programáticas, sem qualquer vinculatividade imediata.
“Toda a Constituição é direito, toda ela é ‘lei positiva’ e todos os princípios nela consagra-
dos possuem alcance jurídico e compartilham de normatividade própria da Lei fundamental”
(2007, p.191)
Sobre a importância dos princípios penais e sua relação com a Constituição, Luiz Luisi
(1991) afirma que a presença do direito penal nas Constituições contemporâneas se faz atra-
vés dos princípios de Direito Penal constitucional e de princípios constitucionais influentes
em matéria penal.
Segundo o referido autor, os primeiros, ou seja, princípios de Direito Penal constitucional,
são exclusiva e tipicamente penais, divididos em princípios explícitos e implícitos. Os prin-
cípios explícitos estão anunciados de forma expressa e inequívoca no texto da Constituição,
enquanto os princípios implícitos se deduzem das normas constitucionais, por nelas estarem
contidos. Os segundos, princípios constitucionais pertinentes à matéria penal, geralmente
não são propriamente criminais, impondo-se tanto ao legislador penal, como ao legislador
civil, tributário, agrário etc. (LUISI, 1991).
De antemão, é importante frisar que a cada dia surgem novos princípios na doutrina.
Às vezes, vislumbra-se certo exagero e acentuado subjetivismo nessas propostas, que re-
petem conteúdos de outros princípios e fazem uso de termos sinônimos, que servem apenas
para engordar páginas de livros, distantes, em certos momentos, de um raciocínio crítico, que
deve ser inseparável de um Direito Penal de um Estado Democrático de Direito.
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Nas linhas a seguir, haverá o tratamento dos princípios penais constitucionais explícitos
e implícitos, como também de muitos outros princípios que, na verdade, são sinônimos uns
dos outros. O objetivo de falar de cada um e não somente de alguns está na finalidade desse
material, ou seja, de auxiliar o leitor a compreender a matéria para passar nos concursos pú-
blicos.
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“que a dignidade da pessoa humana é uma meta a ser atingida pelo Estado e sociedade bra-
sileira, nada tendo a ver com um princípio penal específico” (NUCCI, 2012, p. 46).
Com amostragem de decisões do STF, João Costa Neto afirma que existe um uso abusivo
do princípio da dignidade da pessoa humana pela Corte, que tem fomentado demandas com
a sua justificativa, com uma indefinição generalizada quanto ao seu conteúdo, revelando uma
trivialização do conceito e do conteúdo de dignidade humana, tornando-a uma cláusula am-
bígua, vaga e abrangente (COSTA NETO, 2014).
O princípio da dignidade da pessoa humana forma o alicerce de todos os demais princí-
pios penais, atuando em diversos momentos, que garante ao ser humano a não violação com
penas desumanas, cruéis e atrozes, bem como constitui baliza para a construção de bens
jurídicos penais específicos, conforme capítulo dos crimes contra a dignidade sexual, termi-
nologia que substituiu os crimes contra os costumes, incluída no Código Penal brasileiro pela
Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009.
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A dignidade da pessoa humana não deve ser vulgarizada na fundamentação das decisões,
mas o seu uso deve ser subsidiário, pois constitui um direito fundamental de liberdade geral
que deve conceder passagem para outros direitos fundamentais especiais. Todavia, não é
isso o que se observa no dia a dia do Supremo Tribunal Federal, onde a dignidade da pessoa
humana tem sido utilizada com ambiguidade e imprevisibilidade quanto ao seu conteúdo.
No que concerne à relação entre o princípio da dignidade da pessoa humana, merece des-
tacar algumas posições do STF e do STJ, que podem ser cobradas em concursos.
Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito
à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alte-
radas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove
destinação legítima: Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa de duzentos mil réis
a dois contos de réis”: BRASIL. Decreto-Lei n. 3.688, 3 de outubro de 1941. Lei de Contravenções
Penais
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ção de que o tipo não teria sido recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Argui-
ção de ofensa aos princípios da isonomia e da presunção de inocência. 3. Aplicação
da sistemática da repercussão geral – tema 113, por maioria de votos em 24.10.2008,
rel. Ministro Cezar Peluso. [...] 6. Reconhecimento de violação aos princípios da digni-
dade da pessoa humana e da isonomia, previstos nos artigos 1º, inciso III; e 5º, caput e
inciso I, da Constituição Federal. Não recepção do artigo 25 do Decreto-Lei n. 3.688/41
pela Constituição Federal de 1988. 7. Recurso extraordinário conhecido e provido para
absolver o recorrente nos termos do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.
RECTE.: Ronildo Souza Moreira. RECDO.: Ministério Público do Estado do Rio Grande do
Sul. Relator Ministro Gilmar Mendes. Julgado em 03/10/2003. Disponível em: <http://
redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6997511>. Acesso em:
11 jan. 2018.
Ressalte-se que o fato estava prescrito, mas o relator resolveu enfrentar o mérito por en-
tender que seria mais benéfico ao acusado. No caso concreto, o recorrente havia sido conde-
nado pela prática da conduta prevista no art. 25 da LCP, depois de condenado anteriormente
pelo delito de furto qualificado.
A Defensoria Pública pleiteou a não recepção do art. 25 da LCP por violar o princípio da
isonomia, ao tratar de forma desigual as pessoas pelo seu passado, e ao princípio da ofensivi-
dade do Direito Penal, pois a posse do instrumento em si, no caso, chave falsa ou alterada ou
instrumento comumente usado na prática de furto, não ofende qualquer bem jurídico. O MPF,
em parecer, aduziu que o recurso deveria ser conhecido, mas não provido, uma vez que se
tratava de infração penal de perigo abstrato.
Para alicerçar a possibilidade do controle de constitucionalidade no caso em apreço,
o relator, ao iniciar o fundamento do voto, fez uso do princípio da proporcionalidade com a
construção doutrinária alemã sobre o dever do Estado de proibir determinada conduta, de
proteger o indivíduo contra os ataques de terceiros e de evitar riscos. Explicou que os direitos
fundamentais não podem ser vistos apenas como proibição do excesso, mas também como
proibição da proteção insuficiente ou imperativos de tutela. Em seguida afirmou que os man-
dados constitucionais de criminalização também exercem o papel de limitar a atividade do
legislador, além de impor a existência de um sistema de proteção por meio de normas penais.
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Deixou claro, mais uma vez, que a criação de infração penal de perigo abstrato não cons-
titui, por si só, um comportamento inconstitucional do legislador, uma vez que, muitas vezes,
acaba sendo a melhor alternativa para a proteção de bens jurídico-penais supraindividuais
ou de caráter coletivo.
Com relação ao art. 25 da LCP, afirmou que se tratava de infração penal de mera conduta,
que almeja a proteção futura do bem jurídico patrimônio. Mas ressaltou que o legislador esti-
pulou uma qualidade do sujeito ativo, ou seja, ser conhecido como vadio ou mendigo. E frisou
que, nesse aspecto, não se pode punir o sujeito pelo que ele é, pois isso caracterizaria um
Direito Penal do autor.
Sustentou que a lei tratou de maneira desigual as pessoas pela sua condição econômica
de vadio ou de mendigo ou depois de ter sido condenado por furto ou roubo, ou enquanto
sujeito a liberdade vigiada, afrontando os princípios da dignidade da pessoa humana e da iso-
nomia previstos nos arts.1º, inciso III, e 5º caput, inciso I, da Constituição Federal. Ressaltou,
para a terceira hipótese, de sujeitos condenados, que a reincidência não pode funcionar como
elementar da infração penal.
É certo que alguns dispositivos da LCP merecem exame relativo à recepção por parte
do STF, não somente o art. 25, objeto da análise. A título de ilustração, os arts.59 e 60 da
LCP sempre possuíram dificuldade de conformação com a ordem constitucional. Quanto ao
art. 60, que punia a mendicância, o problema foi resolvido com a sua revogação promovida
pelo Legislador. Restou o art. 59, que pune a vadiagem de pessoa que não possui recursos
financeiros.
Um tema ainda em discussão na doutrina diz respeito ao uso da tortura nos chamados
casos de bomba-relógio.
EXEMPLO: uma bomba irá explodir no centro de uma grande cidade por volta do meio-dia
(São, Londres, Paris). A polícia identifica e prende o terrorista, mas ele já instalou a bomba e
quer apontar o local onde se encontra o explosivo. Pode haver tortura neste caso para salvar
(tentar) a vida de milhares de pessoas?
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Em primeiro lugar, não há resposta exata para a questão. O tema é objeto de celeuma na
doutrina. Há parte da doutrina que trabalha com a hipótese de estado de necessidade, há ou-
tros que trabalham com a regra dos custos, com colisão de deveres e, ainda, com a regra da
decadência.
Segundo o Luíz Greco, sem concordar com as referidas posições, as regras da decadência
e dos custos significam o seguinte:
Regra da decadência: “Quais as regras que se encontram implícitas nas justificações da exceção à
proibição da tortura acima mencionadas? Se, apesar de a tortura violar a dignidade humana, é per-
mitido torturar porque, nos casos de bomba relógio, o candidato à tortura provocou de maneira res-
ponsável a situação, acabou-se por propor implicitamente uma regra de seguinte teor: a dignidade
é algo que se pode perder em razão de um comportamento prévio (“regra da decadência”). Quem
se comporta mal perde, por causa de seu mau comportamento, a pretensão de não ser torturado e
de que a sua dignidade seja respeitada”. [...]
Regra dos custos: “O segundo aspecto favorável à tortura nos casos de bombas relógio é o que
se reporta à dimensão do dano esperado. Pois bem, se isso é relevante para permitir que se viole
a dignidade humana, então se está aceitando implicitamente a seguinte regra: a dignidade é algo
que apenas se tem de respeitar na medida em que os custos desse respeito não ultrapassem um
determinado limite (“regra dos custos”).”. (GRECO, 2009, p.241-245).
2. Princípio da Legalidade
A legalidade penal, numa acepção formal, significa a exigência de lei em matéria penal,
que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, confor-
me art. 5º XLIX da CRFB e art. 1º do Código Penal brasileiro.
A legalidade material constitui um princípio indicativo da política criminal do Estado De-
mocrático de Direito que deve ser correlacionado com os demais princípios penais constitu-
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cionais, que deve estar ligado aos valores constitucionais e aos tratados internacionais de
direitos humanos.
Sob a direção da legalidade material, na construção da ‘norma’ penal incriminadora, exi-
ge-se a tipologia certa, taxativa e clara. Deve-se evitar a tipologia aberta e indeterminada,
o uso frequente de elementos normativos, bem como a tipificação constante do perigo abs-
trato, salvo em situações necessárias
EXEMPLO: tutela preventiva de bens jurídicos coletivos e supraindividuais, como meio ambien-
te, a segurança pública.
Pode-se afirmar, desse modo, que a legalidade constitui uma garantia formal e material
no contexto de um Estado Democrático de Direito. Com outras palavras, a doutrina ainda
afirma que “o princípio da legalidade encerra quatro garantias fundamentais: garantia crimi-
nal (nullum crimen sine lege), garantia penal (nulla poena sine lege), garantia de execução e
garantia jurisdicional” (OLIVÉ; PAZ; OLIVEIRA; BRITO, 2011, p.84).
Diante disso, há vedação de criação de crimes pelos costumes, analogia, princípios, sú-
mulas vinculantes, súmulas, medida provisória, jurisprudência, medida provisória. Nesse sen-
tido, merece crítica a decisão do STF, que sob o argumento de racismo social, tipificou a ho-
mofobia (STF ADI 4.733 e o Mandado de Injunção 4.733- A).
O princípio da legalidade pode ser denominado de princípio dogmático e estruturante,
está previsto no texto constitucional e/ou leis infraconstitucionais, bem como em documen-
tos internacionais que, no caso brasileiro, foram ratificados. Não se pode, a título de ilustra-
ção, imaginar um Direito Penal democrático desprovido do princípio da legalidade penal com
todos os seus corolários advindos do período iluminista.
Segundo Busato, ao tratar do princípio da legalidade:
Estado de Direito está associado ao princípio da legalidade; o Estado Social está associado à ne-
cessidade de intervenção penal e, como tal, justificado pelo princípio da intervenção mínima, vale
dizer, pelo condicionamento de intervir somente onde é necessário; e o Estado Democrático se
identifica com o princípio de culpabilidade, porquanto a ideia de pôr o estado a serviço da defesa
dos interesses do cidadão significa respeitá-lo individualmente e limitar a intervenção Estatal à
efetiva atuação culpável do sujeito. (BUSATO,2013, p. 23).
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Sobre outra perspectiva, Luigi Ferrajoli divide o princípio da legalidade em mera legalidade
(lata legalidade) e em legalidade em sentido estrito. Como mera legalidade, o princípio exige
que a definição da conduta penal e a especificação da pena estejam na lei. Por sua vez, como
legalidade estrita, compreende todas as demais garantias (nulla lex poenalis sine necessita-
te, sine injuria, sine actione, sine culpa, sine judicio, sine accusatione, sine probatione, sine
defensione). Observa-se desse modo duas estruturas distintas do mesmo princípio. No pri-
meiro caso, a lei é condicionante, trata-se da legalidade da forma e da fonte como condições
de existência e de vigência da norma que estabelece delito e pena, qualquer que seja o seu
conteúdo. No segundo caso, a legalidade, cercada pelas garantias, representa uma condição
de validade e de legitimidade das leis vigentes (FERRAJOLI, 2010).
Obs.:
Segundo Nilo Batista, parece que o primeiro corpo de leis penais a incluir o princípio da
legalidade foi a codificação de D. José II da Áustria de 1787 (Josephina). Antes disso,
o art. 9º da Declaração da Virgínia de 1776 impedia a promulgação de leis maléficas
com efeito retroativo, o que se repetiu com a proibição de decreto de proscrição (lei
retroativa) no art. 9º, I, da Constituição americana de 07 de setembro de 1787. Em
seguida, no ano de 1789, em França, a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão,
no seu art. VIII, estabeleceu a necessidade de anterioridade da lei penal. (BATISTA,
2007).
No Brasil, a primeira previsão do princípio da legalidade penal com o seu corolário reser-
va legal ocorreu na Constituição de 1824. Quando surgiu o princípio da legalidade penal no
Brasil? PROVA ORAL DO MPBA, PROMOTOR DE JUSTIÇA (2019). O Direito Penal brasileiro do
século XIX foi marcado pelo Código Criminal de 1830 e pelo Código Penal de 1890, enquanto,
no século XX, surgiu o Código Penal de 1940 e a Reforma da Parte Geral em 1984.
Na qualidade de princípio dogmático-estruturante, a legalidade está presente no art. 5º,
inciso XXXIX, da Constituição brasileira, bem como no art. 1º do Código Penal, como um prin-
cípio final, orientador do Direito Penal brasileiro, que alicerça as demais normas no seu tronco,
que dirige as normas penais do Código Penal, com sua parte geral repleta de conceitos dentro
de um sistema coeso, bem como os tipos da Parte Especial e da Legislação Especial.
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Como corolário da legalidade, o princípio da reserva legal, que exige lei em sentido estrito,
é dogmático-estruturante, visto que orienta a formação dos preceitos primários e secundá-
rios das normas penais incriminadoras.
A legalidade, como princípio penal, é reforçada pela legalidade em sentido estrito, ou seja,
pelo princípio da reserva legal, o qual exige lei em sentido estrito na formação da norma incri-
minadora, afastando-se de qualquer outra espécie normativa.
Há necessidade de Lei da União (art. 22, I, da CRFB) em sentido estrito para tipificar con-
dutas criminosas. Prevalece que a previsão de delegação de determinadas matérias aos Esta-
dos-membros, prevista no parágrafo único do referido art. 22 da CRFB, não alcança a matéria
penal. Ressalte-se, contudo, que essa é uma interpretação doutrinária, não havendo vedação
literal no texto constitucional. Na doutrina do Direito Constitucional, o Pedro Lenza sustenta a
possibilidade de uma emenda constitucional alterar a repartição de competência, de modo a
permitir que Estado membro possa legislar sobre direito penal.
Dessa forma, a norma penal deve ser expressa como regra em Lei Ordinária, admitindo-se
a previsão de tipos em Lei Complementar, embora não seja sua matéria principal, bem como
em Tratado ratificado. Sobre a possibilidade de Tratado estipular tipo penal, há divergência na
doutrina, Luís Flávio Gomes (2003) admite, enquanto André Stefan (2017) não admite, enten-
de que o Tratado pode apenas trazer a orientação geral.
Sobre o tema, JURISPRUDÊNCIA o STJ recentemente decidiu sobre a necessidade de le-
gislação interna e sua relação com o Tratado em matéria de tipificação penal.
STJ- INFO 659. REsp 1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira
Seção, por maioria, julgado em 25/09/2019, DJe 30/10/2019.
“TEMA: Crime contra a humanidade. Art. 7º do Estatuto de Roma. Tratado internacional
internalizado pelo Decreto n. 4.388/2002. Ausência de lei em sentido formal. Princípio da
Legalidade. Art. 5º, XXXIX, da CF. Ofensa.
É necessária a edição de lei em sentido formal para a tipificação do crime contra a huma-
nidade trazida pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado.
O conceito de crime contra a humanidade se encontra positivado no art. 7º do Esta-
tuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, o qual foi adotado em 17/07/1998, porém
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Portanto, dentro da atual ordem constitucional, a norma incriminadora não pode ser apre-
sentada com medida provisória, decreto, regulamento, resolução, portaria ou qualquer outra
espécie diversa da lei em sentido estrito.
Do mesmo modo, como corolário da legalidade, o princípio da reserva legal, que exige lei
em sentido estrito, é dogmático-estruturante, visto que orienta a formação dos preceitos pri-
mários e secundários das normas penais incriminadoras.
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A legalidade, como princípio penal, significa a exigência de lei, que pode ser vista de forma
imediata como qualquer instrumento legal em sentido amplo. Mas a reserva legal significa e
exigência de lei em sentido estrito (lei ordinária, lei complementar ou Tratado Internacional
ratificado) para tipificar condutas. A norma incriminadora (que estabelece conduta e pena)
deve estar na lei em sentido estrito.
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Pode-se concluir, de forma CRÍTICA, apesar da posição do STF, que o uso da medida pro-
visória em matéria penal, com ou sem conteúdo benéfico, contraria o art. 62 da CRFB e viola a
prerrogativa do Poder Legislativo de legislar sobre a matéria penal.
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tico, qual seja, o pressuposto de atividade cerebral para a existência da vida previsto na Lei de
Transplantes de Órgãos, conforme exarou o relator: “cumpre tomar de empréstimo o conceito
jurídico de morte cerebral previsto na Lei n. 9.434, de 1997, para concluir ser de todo impróprio
falar em direito à vida intrauterina ou extrauterina do anencéfalo, o qual é um natimorto cere-
bral” (STF, ADPF 54, 2012).
Anote-se que o Projeto de Lei do Senado n. 236, de 2012 (novo Código Penal), que tra-
mita no Senado Federal, estabelecia no seu texto a possibilidade de abortamento do feto
anencéfalo. Após a revisão Comissão Temporária da Reforma do Código Penal, no âmbito da
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) pelo Senado, foi mantido o texto com
a nova modalidade de abortamento, aprovado pela CCJ em 10 de dezembro do mesmo ano.
Portanto, ao lado das possibilidades de aborto existentes hoje, foi incluída a possibilidade no
caso de feto anencéfalo, que constitui uma iniciativa fomentada pela decisão do STF, proferi-
da no bojo da ADPF 54.
Na decisão da ADPF 54, precedida de quatro sessões de audiência pública com entidades
representativas de diversos segmentos laicos e religiosos da sociedade brasileira, a Corte
afirmou a inconstitucionalidade da subsunção típica da interrupção da gravidez de feto anen-
céfalo às previsões dos arts. 124 e 126 do Código Penal.
A decisão da ADPF 54 não mencionou o art. 125, o qual poderá gerar dúvidas em casos
concretos de aborto não consentido de fetos anencéfalos. Em tais casos (exemplo: MARIA
PRATICOU ABORTO DE FETO ANENCÉFALO CONTRA A VONTA DE JOANA, GESTANTE), parece
que a adequação típica não poderá encontrar abrigo no art. 125, mas sim na soma da pena do
aborto com uma das modalidades de sanção da lesão qualificada descritas no art. 129 do Có-
digo Penal, de acordo com a gravidade do resultado da conduta perpetrada pelo agente. Essa
seria uma solução pouco valorativa. Uma outra solução seria afirmar que não houve aborto,
porque o feto anencéfalo não possui vida, seja para efeito do aborto do art. 126, seja para efei-
to do art. 124).
Por isso, tomando por empréstimo o dispositivo legal, para efeito de transplantes de ór-
gãos, previsto na Lei n. 9.434, de 1997, a conduta de abortamento de feto anencéfalo foi
considerada atípica. O uso do princípio da dignidade da pessoa humana, como um dos argu-
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mentos, não parece que, no caso em apreço, tenha exercido a mesma força do fundamento
dogmático apoiado na Lei n. 9.434, de 1997, o qual pressupõe a atividade cerebral para a exis-
tência de vida humana, bem jurídico tutelado nas disposições dos arts. 121 a 128 do Código
Penal.
Observa-se que a Corte poderia decidir a questão, de maneira exclusiva, com fundamento
dogmático, somente com o argumento de legalidade, reserva legal, tipicidade. Dito de outro
modo, o Supremo poderia afirmar a atipicidade do aborto de feto anencéfalo sob a perspectiva
de que o conceito de vida humana, definido na legislação brasileira, pressupõe a atividade cere-
bral. Dessa forma, a nidação faz surgir a vida humana intrauteriana que pode não se aperfeiço-
ar caso não se desenvolva a atividade cerebral suficiente para uma vida humana extrauterina,
diante da previsão do art. 3º da Lei n. 9.434, de 1997.
No entanto, a Corte não abriu mão também de citar o princípio da dignidade da pessoa hu-
mana, o qual tem sido utilizado como uma ferramenta capaz de solucionar variados problemas
do direito, não somente na seara penal, e, não raro, com deficit argumentativo.
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Letra c.
A assertiva traz parte do conteúdo material do princípio da legalidade, mas misturou legalida-
de com irretroatividade.
Letra c.
A assertiva traz princípios penais e processual penal expressos no texto constitucional.
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Letra d.
O item traz conteúdo material do princípio da legalidade visto no texto apresentado no pre-
sente material.
Questão 4 (JUIZ-MG/2014) A respeito dos princípios que regem o direito penal brasileiro,
assinale a alternativa INCORRETA.
a) O princípio da legalidade penal, do qual decorre o princípio da reserva legal, impede o uso
dos costumes e analogia para criar tipos penais incriminadores ou agravar as infrações exis-
tentes.
b) De acordo com o chamado princípio da insignificância o Direito Penal não deve se ocupar
com assuntos irrelevantes. A aplicação de tal princípio exclui a tipicidade material da conduta.
c) O direito penal possui natureza fragmentária, ou seja, somente protege os bens jurídicos
mais importantes, pois os demais são protegidos pelos outros ramos do direito.
d) O princípio da taxatividade, ao exigir lei com conteúdo determinado, resulta na proibição da
criação de tipos penais abertos.
Letra d.
Isso porque os tipos abertos devem ser evitados, mas em algumas situações, eles são inevi-
táveis, como ocorre na maioria dos crimes culposos (salvo a receptação culposa que é fecha-
da, por exemplo) e nos crimes omissivos impróprios. No mais, a taxatividade exige clareza e
determinação do tipo penal.
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Letra e.
A letra E (ultima ratio) se refere ao princípio da intervenção mínima. As demais letras, confor-
me visto no decorrer do texto, constituem funções do princípio da legalidade.
Letra c.
A resposta está correta, uma vez que a definição de crime exige lei em sentido estrito tanto
para o preceito primário ou prótase (conduta, fato), quanto para o preceito secundário ou apó-
dose (pena, consequência).
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3. Princípio da Anterioridade
Significa a necessidade de lei penal incriminadora anterior ao fato para possibilitar a res-
ponsabilidade penal, conforme ensina o próprio texto do inciso XXXIX da CRFB. Representa
uma conquista histórica do final do século XVIII, que surgiu atrelada ao princípio da legalidade
penal.
a) pelo princípio da legalidade compreende-se que ninguém responderá por um fato que a lei
penal preveja como crime e, pelo princípio da anterioridade compreende-se que alguém so-
mente responderá por crime devidamente previsto em lei que tenha entrado em vigor um ano
prática de uma determinada conduta para que esta possa ser considerada como crime;
c) tais princípios são sinônimos e significam a necessidade da existência de lei para que uma

Letra b.
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4. Princípio da Irretroatividade
Significa que a lei penal mais gravosa não pode retroagir para alcançar fatos passados.
Representa uma conquista histórica do final do século XVIII, que surgiu atrelada ao princípio
da legalidade penal. tem previsão no inciso XL do art. 5º da CRFB.
Pode ser compreendido, ainda, como já caiu em provas de concursos, no sentido de Irre-
troatividade que possui como corolários a irretroatividade maléfica e a retroatividade benéfi-
ca.
O referido princípio não é contrariado pela súmula 711 do STF, a qual diz que a lei mais
grave é aplicada se surgir durante a prática de um crime permanente ou de um crime continu-
ado. Isso porque o crime permanente está se consumando, enquanto a continuidade delitiva
estará ocorrendo com o cometimento de vários crimes, presentes os requisitos do art. 71 do
Código Penal.
Do mesmo modo, não há ofensa à retroatividade benéfica com a previsão de ultratividade
de lei temporária e excepcional (art. 3º do Código Penal), que costumam ser leis mais severas.
Pode-se falar em uma mitigação ao referido princípio. Parcela pequena da doutrina afirma a
inconstitucionalidade, ou seja, a não recepção do art. 3º pela ordem constitucional, uma vez
que a referida previsão/ressalva deveria constar do próprio texto da CRFB.
É importante ainda se recordar da possibilidade da extratividade da lei penal como uso da
retroatividade benéfica nos casos de lei intermediária ou bipolar, conforme questão a seguir.
Questão 9 (INÉDITA) Jorge sequestrou Ana e, quatro dias depois, exigiu o resgate em di-
nheiro para a liberação da vítima. Após dois meses do sequestro, sem a liberação da vítima,
entrou em vigor uma lei mais grave que aumentou a pena da extorsão mediante sequestro
(art. 159 do CP). Essa lei mais grave pode ser aplicada ao presente caso?

Certo.
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A lei mais grave deverá ser aplicada no caso apresentado. A extorsão mediante sequestro,
prevista no art. 159 do CP, é crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. En-
quanto a vítima não for libertada, o crime estará acontecendo. Desse modo, a lei mais grave,
que surge durante a consumação do crime permanente, será aplicada. Não há se falar em
retroatividade da lei mais grave nessa situação, uma vez que o crime está acontecendo, ou
seja, começou a ser praticado na vigência da lei menos grave e continuou sendo praticado na
vigência da lei mais grave. Nesse sentido, o STF editou a Súmula 711: “A lei penal mais grave
aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessa-
ção da continuidade ou da permanência”.
Questão 10 (INÉDITA) Caio praticou um crime em julho de 2000, quando a pena cominada
de forma abstrata era de 2 a 5 anos. Em 2001, o legislador diminuiu a pena do crime, que foi
fixada de forma abstrata no mínimo de 1 e no máximo de 3 anos. Em 2004, o legislador nova-
mente alterou a pena do referido crime, aumentando-a para o mínimo de 3 e para o máximo
de 6 anos. Salvo as hipóteses citadas, não houve outra alteração da lei. Caio só foi julgado em
2005, quando foi condenado. Nesse caso, Caio será apenado com a pena em vigor no ano de
2000, no ano de 2001 ou no ano de 2004?
Aplica-se a lei do ano de 2001, com previsão de pena mínima de 1 ano e máximo de 3 anos.
Isso porque a lei de 2001 possui extratividade, uma vez que é melhor do que a anterior e
melhor do que a posterior, sendo que o fato ocorreu antes dela. Há no caso em apreço retro-
atividade e ultratividade benéficas da lei intermediária, uma das hipóteses encontradas na
sucessão de leis. A lei intermediária de 2001 é também denominada de lei bipolar.
5. Princípio da Culpabilidade
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direito. Nessa primeira função, a culpabilidade se ancora na teoria normativa pura do fina-
lismo e é formada por imputabilidade; potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
conduta diversa.
Como segunda função, a culpabilidade constitui uma exigência de responsabilidade penal
subjetiva no Estado Democrático de Direito, ou seja, impede a responsabilidade penal obje-
tiva. Isso quer dizer que a responsabilidade do agente deve está ancorada em uma conduta
dolosa ou culposa demonstrada, afastando a ideia de dolo in re ipsa (dolo presumido que não
precisa ser demonstrado. Essa função da culpabilidade não tem relação com o exame de dolo
e culpa na culpabilidade, uma vez que estes institutos estão na conduta (modelo finalista de
ação). IMPORTANTE: ainda há resquícios de responsabilidade penal objetiva no Brasil (EXEM-
PLO: embriaguez, rixa qualificada).
A responsabilidade, como terceira função, constitui uma medida de pena ao conduzir o
processo de dosimetria da pena base no art. 59, ao interferir na escolha do regime inicial no
§ 3º do art. 33, ao ser analisado na substituição de pena privativa por restritivas no inciso III
do art. 44, ao ser sopesado na exasperação da continuidade delitiva especial, conforme pará-
grafo único do art. 71.
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Letra c.
Está incorreta porque contraria o art. 22 do Código Penal. A obediência hierárquica e a coação
moral irresistível afastam a exigibilidade de conduta diversa, elemento da culpabilidade da
estrutura analítica do crime. Já a obediência ordem ilegal não constitui causa de diminuição
de pena.
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d) Em razão do sistema vicariante acolhido pelo Código Penal brasileiro para o semi-imputável,
a este poderá ser imposta medida de segurança quando necessitar de tratamento curativo.
e) Coação física irresistível e obediência hierárquica são causas de exclusão da culpabilidade
relacionadas à inexigibilidade de conduta diversa.

Letra d.
Conforme previsão do art. 22 do Código Penal, a obediência hierárquica e a coação moral ir-
resistível afastam a exigibilidade de conduta diversa, elemento da culpabilidade da estrutura
analítica do crime.
Letra d.
Está correto o item, uma vez que o inimputável não possui capacidade de culpabilidade e, por
isso, presentes os requisitos, após a comprovação do cometimento do injusto (tipicidade + ili-
citude), receberá medida de segurança em uma sentença chamada de absolutória imprópria.
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A intervenção mínima significa que o direito penal constitui um sistema de ultima ratio,
que só deve ser utilizado quando o problema não puder ser solucionado por outro ramo do
ordenamento jurídico. Nesse sentido, fala-se, como corolário da intervenção mínima, em sub-
sidiariedade do direito penal.
Essa visão de subsidiariedade do direito penal, como decorrência da intervenção mínima,
para Alvaro Pires, tem origem remota em Grotius, embora não fosse um modelo de direito pe-
nal anterior às revolução do século que possibilitam a mudança de Estado.
Ou princípio medieval da última instância: “só se pode reagir juridicamente ao mal com o mal se
não for viável outra maneira de reagir ou fazer justiça”. Grotius, apud PIRES, Álvaro (2004, p.45).
A racionalidade penal moderna, o público e os direitos humanos. Novos Estudos CEBRAP, n. 68,
mar. 2004, p. 45.
É importante destacar que não haverá crime de desobediência quando já houver punição,
para a conduta, na seara penal, sem ressalva da punição administrativa.
Nesse sentido, decide o STJ:
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Letra b.
A alternativa apresenta os corolários da intervenção mínima, vistos no texto, quando abor-
damos o tema, quais sejam: fragmentariedade e subsidiariedade. Esse item caiu em outras
provas de concursos.
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Letra d.
Única que apresenta quatro princípios do direito penal, conforme solicitado na questão, ou
seja, princípios que fundamentam o direito penal.
Letra c.
Observa-se que a FCC também usou essa questão na prova de Juiz do TJMS de 2010. O tema
foi devidamente explicado no texto, ou seja, intervenção mínima possui como corolários a
fragmentariedade e a subsidiariedade.
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Letra a.
A alternativa apresenta o conteúdo do princípio da subsidiariedade e da fragmentariedade,
corolários da intervenção mínima, vistos no texto sobre o referido princípio.
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Letra b.
A alternativa foi apresentada como resposta correta. Contudo, o texto gerou duas interpre-
tações: a fragmentariedade é corolário da intervenção mínima e não da reserva legal, sob
o ponto de vista estrito, conforme ensina a doutrina penal brasileira. Portanto, o item não
foi elaborado com essa precisão. De outro lado, o examinador quis dizer que o cabeçalho
da questão se refere ao princípio da fragmentariedade e da reserva legal. Sob esse aspecto,
o item está correto.
Letra d.
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Está correta a assertiva, uma vez que a fragmentariedade diz respeito ao uso do direito penal
apenas diante de ataques graves aos bens jurídicos mais importantes tutelados pelo direito
penal. Ressalte-se que o princípio da insignificância decorre do caráter fragmentário do direi-
to penal (STF).
Letra a.
Observa-se que a FCC repetiu essa questão na prova de Defensor Público-PR de 2017. O tema
foi devidamente explicado no texto, ou seja, intervenção mínima possui como corolários a
fragmentariedade e a subsidiariedade.
Convém observar, de início, que dogmatismo não é absoluto no modelo finalista ante a pos-
sibilidade, por exemplo, de aplicação do princípio da adequação social. Conquanto o conceito
finalista de tipo seja a descrição legal da conduta proibida, Hans Welzel afirmou ser contra a
interpretação ao pé da letra e, ainda, que a adequação social afastaria o tipo de ação.
Com isso, a análise da tipicidade não é unicamente formal no modelo finalista, porquanto
as ações conformadas socialmente podem ser interpretadas como atípicas, conforme uma
perspectiva material da tipicidade, mediante um juízo de valor do intérprete, com o uso do prin-
cípio finalista da adequação social.
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Luiz Regis Prado adverte que, na trajetória da concepção finalista, são constatadas suces-
sivas e malfadadas confusões que contribuem para o surgimento de conclusões equivocadas
e falsas. Sobre o finalismo, diz o autor que, para o bem da verdade científica, convém advertir
“que essa doutrina não é pura e unicamente ontológica, visto que não deixa de considerar
ainda que de forma mais tímida, o aspecto axiológico, normativo (v.g. teoria da adequação
social)” (PRADO, 2007, p.107).
São palavras do criador do finalismo:
Ações que se movem dentro do marco das ordens sociais, nunca estão compreendidas dentro dos
tipos de delito, nem ainda quando pudessem ser entendidas em um tipo interpretado ao pé da letra;
são as chamadas ações socialmente adequadas. Socialmente adequadas são todas as atividades
que se movem dentro do marco das ordens ético sociais da vida social, estabelecidas por intermé-
dio da história (WELZEL, 2003, p.106).
A doutrina aponta como exemplo: furar a orelha da criança para colocar brinco.
Na jurisprudência, percebe-se o reconhecimento do princípio da adequação social, mas
também se verifica que os julgados têm mitigado a sua aplicação, ou seja, busca-se evitar a
banalização do princípio para toda e qualquer situação.
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Recurso desprovido. (RHC 15.093/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Minis-
tro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 16/03/2006, DJ 12/06/2006 p. 499).
STJ [...] 1. A Terceira Seção desta Corte Superior, no julgamento do Recurso Especial
Repetitivo n. 1.193.196/MG, pacificou o entendimento de que é formal e materialmente
típica a conduta descrita no art. 184, § 2º, do Código Penal, não havendo que se falar,
portanto, no princípio da adequação social ou no princípio da insignificância. [...] 5.
Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1767921/SP, Rel. Ministro ANTONIO SAL-
DANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 06/12/2018, DJe 01/02/2019)
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Letra e.
A resposta considerada como correta pelo gabarito oficial possui equívoco. O princípio da
adequação social constitui uma ferramenta disponível para o intérprete afastar a tipicidade
material de condutas conformadas socialmente, mas isso deve ser realizado com cuidado,
respeitando a jurisprudência em vigor. Veja os julgados e a doutrina citada. A letra A merece
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e) Para a teoria finalista, ação é a conduta do homem, comissiva ou omissiva, dirigida a uma
finalidade e desenvolvida sob o domínio da vontade do agente, razão pela qual não reputa cri-
minosa a ação ocorrida em estado de inconsciência, como no caso de quem, durante o sono,
sonhando estar em legítima defesa, esbofeteia e causa lesão corporal na pessoa que dorme
ao seu lado. Para esta mesma teoria, a culpabilidade não é psicológica, nem psicológico-nor-
mativa.
Letra c.
Os princípios da adequação social e da insignificância afastam e afetam a tipicidade material.
A tipicidade formal permanece, apenas é restringida por esses princípios, de modo que a tipici-
dade formal não será suficiente para atingir todas as situações de subsunção do fato à norma.

Letra e.
O princípio da adequação social, desenvolvido no finalismo, permite interpretar com atipici-
dade material, condutas que possuem conformação social, condutas aceitas pela sociedade.
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8. Princípio da Insignificância
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Na obra sobre Política Criminal de 1970, após dizer que em 1964 apontou o princípio da
insignificância como um critério válido para definição geral do injusto, Claus Roxin sugeriu um
uso alargado do referido princípio:
Sob o ângulo do princípio nullum-crimen o oposto é o correto, a saber, uma interpretação restritiva,
que realize a função de Magna Carta e a ‘natureza fragmentária’ do Direito Penal, que mantenha ín-
tegro somente o campo de punibilidade indispensável para a proteção do bem jurídico. Para tanto,
são necessários princípios regulativos como a adequação social, introduzida por Welzel, que não é
elementar do tipo, mas certamente um auxílio de interpretação para restringir formulações literais
que também abranjam comportamentos suportáveis. Aqui pertence igualmente o chamado prin-
cípio da insignificância, que permite excluir logo de plano lesões de bagatela da maioria dos tipos:
maus-tratos são uma lesão grave ao bem-estar corporal, e não qualquer lesão; da mesma forma,
é libidinosa no sentido do Código Penal só uma ação sexual de alguma relevância; e só uma vio-
lenta lesão à pretensão de respeito social será criminalmente injuriosa. Por violência não se pode
entender uma agressão mínima, mas somente a de certa intensidade, assim como uma ameaça
deve ser sensível, para adentrar no marco da criminalidade. Se reorganizássemos o instrumentário
de nossa interpretação dos tipos a partir destes princípios, daríamos uma significativa contribui-
ção para diminuir a criminalidade em nossos dias” (ROXIN, 2000. p. 47-48).
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ração dessas infrações (lesão leve, injúria, ameaça etc.) já foi feita pelo legislador e cabe ao
intérprete, neste aspecto, respeitar a reserva legal. A análise que deve ser feita é sobre o grau
e a intensidade da lesão produzida, não sobre o tipo formal abstrato.
Na doutrina brasileira, não existe precisão sobre os limites do princípio da insignificân-
cia. Parcela doutrinária já defende uma amplitude maior na sua interpretação. Rogério Greco
sustenta a sua incidência “nos delitos de furto, dano, peculato, lesões corporais, consumo de
drogas etc.” (GRECO, 2008, p.86).
Paulo Queiroz, ao fazer uma correlação com o princípio da proporcionalidade, invoca o
princípio da insignificância “nos crimes violentos ou com grave ameaça à pessoa, consuma-
dos ou tentados, se não para absolver o réu, pelo menos para desclassificar a infração penal,
por exemplo, em crimes complexos, como o roubo (CP, art. 157)” (QUEIROZ, 2006, p.52). Com
isso, o referido autor sustenta a desclassificação, com suporte no princípio da insignificância,
do roubo de valor patrimonial ínfimo para o constrangimento ilegal. A jurisprudência do STF e
do STJ não aceita tal posição.
Atualmente, o princípio da insignificância é aplicado pelos Tribunais Superiores brasilei-
ros nas condutas formalmente típicas que causam danos de pouca importância, restringindo-
-se, como regra, aos crimes praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa. Esse ainda
é o entendimento majoritário.
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Segunda Turma. Habeas Corpus 84.412-0/SP. Prin-
cípio da insignificância. Identificação dos vetores cuja presença legitima o reconheci-
mento desse postulado penal sem seu aspecto criminal. Consequente descaracteriza-
ção da tipicidade penal em seu aspecto material. Delito de furto. Condenação imposta a
jovem desempregado, com apenas 19 anos de idade. “Res furtiva” no valor de R$25,00
(equivalente a 9,6% do salário mínimo atualmente em vigor). Doutrina. Considerações
em torno da jurisprudência do STF. Pedido deferido. O princípio da insignificância qua-
lifica-se como fator de descaracterização material da tipicidade penal. Paciente: Bill
Cleiton Cristovão. Impetrante: Luiz Manoel Gome Junior. Coator: Superior Tribunal de
Justiça. Relator Ministro Celso de Mello Disponível em:<http://redir.stf.jus.br/pagina-
dorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=79595>. Acesso em: 1º jul. 2018.
STJ: [...]
1. Consoante entendimento da Suprema Corte, são requisitos para aplicação do princí-
pio da insignificância: a mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade
social na ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressivi-
dade da lesão jurídica provocada.
2. No caso dos autos, a instância ordinária concluiu que não houve reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e nem ausência de periculosidade social na ação,
pois se trata de agente reincidente, portador de maus antecedentes, inclusive com regis-
tros da prática de crimes contra o patrimônio.
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3. Esta Quinta Turma reconhece que o princípio da insignificância não tem aplicabilidade
em casos de reiteração da conduta delitiva, salvo excepcionalmente, quando as instân-
cias ordinárias entenderem ser tal medida recomendável, o que não ocorreu nos autos.
4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 1398264/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, jul-
gado em 26/03/2019, DJe 05/04/2019).
STJ- AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DESCAMINHO. REITERAÇÃO DELI-
TIVA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. INSURGÊNCIA DESPRO-
VIDA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça posiciona-se no sentido de que, para além dos
requisitos objetivos, o aspecto subjetivo, consubstanciado, sobretudo, na verificação da
reiteração criminosa do agente, caso reconhecida, impede a incidência do princípio da
insignificância, porquanto demonstra maior reprovabilidade de seu comportamento, cir-
cunstância suficiente e necessária a embasar a incidência do Direito Penal como forma
de coibir a reiteração delitiva.
2. É entendimento consolidado nesta Corte que, apesar de não configurar reincidência,
a existência de outras ações penais, inquéritos policiais em curso ou procedimentos
administrativos fiscais é suficiente para caracterizar a habitualidade delitiva e, conse-
quentemente, afastar a incidência do princípio da insignificância.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1592146/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
20/10/2016, DJe 26/10/2016)
O princípio da insignificância, no que diz respeito ao crime de descaminho, pode ser apli-
cado ate o valor de R$20.000,00. Esse é o entendimento atual do STF e do STJ. Pacificação
no STJ: princípio da insignificância até R$20.000,00 no crime de descaminho. Ou seja, o STJ,
agora, decide de maneira idêntica ao STF nessa matéria. REsp 1112748/TO; REsp 1688878/
SP; REsp 1709029/MG. TEMA 157: “ [...] incide o princípio da insignificância aos crimes tribu-
tários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n.10.522/2002, com as
atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda”.
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de incidência do postulado. Com outras palavras, nenhum outro crime recebe a incidência do
princípio da insignificância com valores tão altos na jurisprudência do Supremo.
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bante”), que vai além da simples aferição do resultado material da conduta, abrangendo
também a reincidência ou contumácia do agente, elementos que, embora não determi-
nantes, devem ser considerados. 2. Por maioria, foram também acolhidas as seguintes
teses: (i) a reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insigni-
ficância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto; e (ii) na hipótese de
o juiz da causa considerar penal ou socialmente indesejável a aplicação do princípio da
insignificância por furto, em situações em que tal enquadramento seja cogitável, even-
tual sanção privativa de liberdade deverá ser fixada, como regra geral, em regime inicial
aberto, paralisando-se a incidência do art. 33, § 2º, c, do CP no caso concreto, com
base no princípio da proporcionalidade. 3. No caso concreto, a maioria entendeu por não
aplicar o princípio da insignificância, reconhecendo, porém, a necessidade de abrandar
o regime inicial de cumprimento da pena. 4. Ordem concedida de ofício, para alterar de
semiaberto para aberto o regime inicial de cumprimento da pena imposta ao paciente.
(HC 123108, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/08/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016)
A tese acolhida de que a reincidência por si só não afasta a insignificância, de que o prin-
cípio da insignificância, não reconhecido em razão da reincidência, conduz à aplicação do re-
gime aberto domiciliar, paralisando, desse modo, o efeito da reincidência previsto nos arts. 32
e 33, § 2º do Código Penal, tem sido utilizada pelo STF.
Crítica quanto à relação, feita pelo STF, entre o princípio da insignificância e a reincidência
(A PARALIZAÇÃO DO EFEITO DA RECINCIDÊNCIA PELO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA): os
argumentos consequencialistas, presentes nos votos dos Ministros Gilmar Mendes e Luís
Roberto Barroso, nos Habeas Corpus 123.108/MG, 123.734 e 123.533, já mencionados, com
relação ao estado do sistema carcerário brasileiro, para possibilitar a mitigação do regime
inicial com o uso do princípio da insignificância, revelam uma ausência de preocupação dog-
mática em construir soluções com respeito às categorias da estrutura analítica do delito. Se
a insignificância se esgota na atipicidade material, superado esse filtro, não se sustenta o seu
uso para tentar relativizar regras de regime inicial, bem explicadas e catalogadas pelo Legis-
lador, sob pena de desconstruir o sistema penal, de o próprio STF está reescrevendo o Código
Penal em uma matéria de legalidade e de reserva legal.
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STF INFO 655
“Porte de entorpecente e princípio da insignificância – Inq – 2131
Ao aplicar o princípio da insignificância, a 1ª Turma concedeu habeas corpus para trancar
procedimento penal instaurado contra o réu e invalidar todos os atos processuais, desde
a denúncia até a condenação, por ausência de tipicidade material da conduta imputada.
No caso, o paciente fora condenado, com fulcro no art. 28, caput, da Lei n. 11.343/2006,
à pena de 3 meses e 15 dias de prestação de serviços à comunidade por portar 0,6 g
de maconha. Destacou-se que a incidência do postulado da insignificância, de modo a
tornar a conduta atípica, exigiria o preenchimento concomitante dos seguintes requi-
sitos: mínima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da
ação; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e inexpressividade da lesão
jurídica provocada. Consignou-se que o sistema jurídico exigiria considerar a relevan-
tíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indiví-
duo somente se justificariam quando estritamente necessárias à própria proteção das
pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes fossem essenciais, notada-
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O fundamento utilizado indica que a moralidade administrativa, bem jurídico tutelado nos
crimes contra a administração pública, não pode ser valorada de forma bagatelar, ou seja, não
existe grau de ofensa ínfimo. Em uma conduta de corrupção que envolva cem mil reais, assim
como em uma que implique cinquenta reais, não há insignificância, uma vez que a moralidade
administrativa é atingida em ambas as situações.
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vado: Ministério Público do Estado de Santa Catarina. Relator Ministro Felix Fischer
Mendes. Julgado em 15/03/2018.
Esse entendimento do STF anunciado nos INFORMATIVOS 624 e 625 foram cobrados em pro-
va da AGU/CESPE-CEBRASPE.
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vam os motoristas, sendo que o prefeito, no caso concreto, recolheu R$70,00 (setenta reais)
aos cofres do Município, com base na legislação do Município vizinho. Disse que apenas
aspectos de ordem objetiva deveriam ser utilizados no exame do princípio da insignificância,
de modo que a condição de prefeito do requerente não poderia sopesar contra a incidência
da bagatela.
Em suma, pelo exame dos julgados, STF tem flexibilizado o uso do princípio da insigni-
ficância em crime contra a administração pública, mas o STJ ainda resiste com argumentos
mais convincentes sobre a impossibilidade de valorar como bagatelar a ofensa à moralidade
administrativa.
Um ponto crítico desse modelo atual de casos concretos semelhantes, com soluções di-
ferentes, corresponde à insegurança da orientação de temas do Direito Penal para as demais
instâncias do Poder Judiciário. Observa-se ainda que os argumentos utilizados apresentam
contradição nos votos do mesmo relator, uma vez que, nos dois primeiros casos, houve enten-
dimento diverso sobre a análise ou não de pressuposto subjetivo no exame da insignificância.
No primeiro caso, o relator mencionou a ausência de habitualidade como fator a ser sopesado,
enquanto, no segundo voto, afirmou que apenas fatores objetivos deveriam ser considerados
no exame do princípio da insignificância.
A forma como o STF tem aplicado o princípio da insignificância denota, de maneira casu-
ística, uma compreensão axiológica da estrutura do Direito Penal, na perspectiva de princí-
pios constitucionais penais como guia da política criminal do Estado, com uma proximidade
da visão funcionalista racional-teleológica do sistema penal. Todavia, ressalta-se que não
se verifica uma orientação com suporte no estudo de casos, nem a existência de uma linha
argumentativa vinculada aos limites estabelecidos pela própria Corte, quando da constituição
dos pressupostos objetivos e subjetivos do princípio da insignificância.
Sobre o princípio da insignificância e os crimes contra a fé pública, ainda prevalece a não
incidência do princípio, uma vez que não há como mesurar o grau de ofensa ao bem jurídico
tutelado nos referidos delitos, qual seja, a confiança depositada na moeda e nos documentos
que o Estado confere valor para a vida em sociedade. Nesse sentido, têm decidido o STJ e
o STF.
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STF- EMENTA Habeas corpus. Penal. Posse ilegal de munição de uso restrito. Artigo
16 da Lei n. 10.826/03. Condenação transitada em julgado. Impetração utilizada como
sucedâneo de revisão criminal. Possibilidade em hipóteses excepcionais, quando líqui-
dos e incontroversos os fatos postos à apreciação da Corte. Precedente da Segunda
Turma. Cognoscibilidade do habeas corpus. Pretendido reconhecimento do princípio da
insignificância. Possibilidade, à luz do caso concreto. Paciente que guardava em sua
residência uma única munição de fuzil (calibre 762). Ação que não tem o condão de
gerar perigo para a sociedade, de modo a contundir o bem jurídico tutelado pela norma
penal incriminadora. Precedentes. Atipicidade material da conduta reconhecida. Ordem
concedida. 1. A decisão que se pretende desconstituir transitou em julgado, sendo o
writ, portanto, manejado como sucedâneo de revisão criminal (v.g. RHC n. 110.513/
RJ, Segunda Turma, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 18/6/12). 2. Todavia,
a Segunda Turma (RHC n. 146.327/RS, Relator o Ministro Gilmar Mendes, julgado em
27/2/18) assentou, expressamente, a cognoscibilidade de habeas corpus manejado em
face de decisão já transitada em julgado em hipóteses excepcionais, desde que líquidos
e incontroversos os fatos postos à apreciação do Supremo Tribunal Federal. 3. O conhe-
cimento da impetração bem se amolda ao julgado paradigma. 4. O paciente foi conde-
nado pelo delito de posse de munição de uso restrito (art. 16 da Lei n. 10.826/03), sendo
apenado em 3 (três) anos e 6 (seis) meses de reclusão em regime fechado e ao paga-
mento de 11 dias-multa. 5. Na linha de precedentes, o porte ilegal de arma ou munições
é crime de perigo abstrato, cuja consumação independente de demonstração de sua
potencialidade lesiva. 6. A hipótese retratada autoriza a mitigação do referido entendi-
mento, uma vez que a conduta do paciente de manter em sua posse uma única muni-
ção de fuzil (calibre 762), recebida, segundo a sentença, de amigos que trabalharam no
Exército, não tem o condão de gerar perigo para a sociedade, de modo a contundir o bem
jurídico tutelado pela norma penal incriminadora. 7. É certo que a sentença condenató-
ria reconheceu a reincidência do paciente. Porém, bem apontou a Procuradoria-Geral da
República que a questão “está pendente de análise em sede de revisão criminal, porque,
ao que parece, a condenação que gerou a reincidência refere-se ao homônimo ‘José
Luiz da Silva Gonçalves’.” 8. Não há, portanto, óbice à aplicação do princípio da insig-
nificância na espécie, sendo de rigor seu reconhecimento. 9. Ordem concedida para,
em razão do princípio da insignificância, reconhecer a atipicidade material da conduta
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imputada ao paciente. (HC 154390, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, jul-
gado em 17/04/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-087 DIVULG 04-05-2018 PUBLIC
07-05-2018).
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STF- EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime ambiental. Pescador flagrado com doze camarões e
rede de pesca, em desacordo com a Portaria 84/02, do IBAMA. Art. 34, parágrafo único,
II, da Lei n. 9.605/98. Rei furtivae de valor insignificante. Periculosidade não conside-
rável do agente. Crime de bagatela. Caracterização. Aplicação do princípio da insigni-
ficância. Atipicidade reconhecida. Absolvição decretada. HC concedido para esse fim.
Voto vencido. Verificada a objetiva insignificância jurídica do ato tido por delituoso, à luz
das suas circunstâncias, deve o réu, em recurso ou habeas corpus, ser absolvido por
atipicidade do comportamento. (HC 112563, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 21/08/2012,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-241 DIVULG 07-12-2012 PUBLIC 10-12-2012).
STJ- [...] 1. A aplicação do princípio da insignificância, causa excludente de tipicidade
material, admitida pela doutrina e pela jurisprudência em observância aos postulados da
fragmentariedade e da intervenção mínima do Direito Penal, demanda o exame do pre-
enchimento de certos requisitos objetivos e subjetivos exigidos para o seu reconheci-
mento, traduzidos no reduzido valor do bem tutelado e na favorabilidade das circunstân-
cias em que foi cometido o fato criminoso e de suas consequências jurídicas e sociais.
2. Esta Corte admite a aplicação do referido postulado aos crimes ambientais, desde que
a lesão seja irrelevante, a ponto de não afetar de maneira expressiva o equilíbrio ecoló-
gico, hipótese caracterizada na espécie.
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Letra c.
Conforme Súmula 589 do STJ:
A súmula, portanto, não faz ressalva quanto aos crimes contra a administração pública.
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b) O controle jurisdicional abstrato da norma incriminadora não pode ser feito com funda-
mento no princípio da lesividade.
c) Somente nas hipóteses de leis excepcionais, conforme entendimento do Supremo Tribunal
Federal, as medidas provisórias podem regular matéria penal.
d) O princípio da fragmentariedade relativiza o concurso entre causas de aumento e diminui-
ção de penas.
e) O princípio da legalidade admite ser afastado ante a incidência do princípio da proteção
deficiente.
Letra a.
Não nega a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância em crimes de acumula-
ção (ex.: contra o meio ambiente), mas exige a análise de todas as condutas do agente (ex.:
várias pescas em período de defeso).
Letra d.
A letra corresponde ao que foi visto no texto que apresentamos sobre o princípio da insignifi-
cância que afasta a tipicidade material.
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Letra a.
A alternativa foi dada como correta pela banca, mas usou a expressão “reduzidíssimo”, en-
quanto a jurisprudência usa o termo “reduzido”. Conforme afirma o STJ:

Letra c.
Conforme visto no texto que desenvolvemos: o princípio da insignificância afasta a tipicidade
material.
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Letra c.
Essa assertiva já foi cobrada em outros concursos.
Letra C.
Somente modelos penais de tipicidade material permitem o juízo de valor do grau de ofensa
ao bem jurídico que possibilita, portanto, o exame do princípio da insignificância.
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Letra c.
Corresponde à jurisprudência atual do STF e do STJ, ou seja, valor de 20 mil reais para aplicar
a insignificância. No passado, esse valor já foi de 10 mil reais. Fizemos crítica no texto – que
trata do princípio da insignificância – à interpretação do STJ e do STJ.
Letra d.
Está errada porque a jurisprudência exige o exame dos pressupostos objetivos para a inci-
dência do princípio da insignificância.
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Dermeval Farias

Letra e.
O item IV que trata do princípio da insignificância está errado porque menciona que a habitu-
alidade (reiteração) não é relevante para o exame do princípio da insignificância, mas é sim
relevante, conforme visto no texto que abordamos sobre o referido princípio. É uma condição
subjetiva considerada na jurisprudência do STF e do STF.
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à distinção entre dolo eventual e culpa consciente, que, como se sabe, apresentam
aspecto comum: a previsão do resultado ilícito.
II – O direito penal brasileiro encampou a teoria da ficção jurídica para justificar a natureza
do crime continuado (art. 71 do Código Penal). Por força de uma ficção criada por lei,
justificada em virtude de razões de política criminal, a norma legal permite a atenuação
da pena criminal, ao considerar que as várias ações praticadas pelo sujeito ativo são
reunidas e consideradas fictamente como delito único.
III – Embora, em rigor, o indulto só devesse ser dado – como causa, que é, de extinção de pu-
nibilidade – depois do trânsito em julgado da sentença condenatória, a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal inclina-se pelo cabimento da concessão do indulto antes de a
sentença condenatória transitar em julgado, desde que não mais caiba recurso de apela-
ção.
IV – A insignificância, enquanto princípio, se revela, conforme a visão de Roxin, importante
instrumento que objetiva, ao fim e ao cabo, restringir a aplicação literal do tipo formal,
exigindo-se, além da contrariedade normativa, a ocorrência efetiva de ofensa relevante
ao bem jurídico tutelado.

Letra e.
Todos os itens estão corretos. Para o presente capítulo, interessa o inciso IV que fala do Ro-
xin, que é o criador do princípio da insignificância, como vetor capaz de afastar a tipicidade
material, conforme visto longo texto que abordamos sobre o referido princípio. O princípio,
portanto, restringe o alcance do tipo formal, não revoga o tipo formal.
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Letra e.
O princípio da insignificância não é aplicado somente aos crimes de menor potencial ofensivo,
uma vez que pode ser aplicado em casos de furto, descaminho e outros crimes que não são
de menor potencial ofensivo. Ademais, deve-se, inclusive, evitar a sua aplicação em casos de
crimes de menor potencial ofensivo, uma vez que, para esses, o Legislador já deu um trata-
mento despenalizador, previsto na Lei n. 9.099/1995.
Letra a.
Conforme visto durante o desenvolvimento do texto sobre o princípio da insignificância, Claus
Roxin foi o seu criador na década de 60 do século XX.
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Letra b.
Conforme visto no texto desenvolvido no presente material, o princípio da insignificância
afasta a tipicidade material de conduta que provocou ofensa ínfima ao bem jurídico tutelado.
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Letra b.
A questão merece crítica. A letra b está correta, porque os Tribunais Superiores (STJ e STF)
reconhecem o princípio da insignificância mesmo sem o postulado constar de forma expres-
sa na legislação penal brasileira. Todavia, a letra A possui descrição confusa, ao dizer que o
princípio não tem reconhecimento normativo explícito, o que poderia ser compreendido como
correto também. A letra D inverteu os conceitos de insignificância e de irrelevância penal do
fato, por isso realmente está errada. Do mesmo modo, a letra C confundiu “bagatela impró-
pria” com “bagatela própria”.
9. Princípio da Ofensividade/Lesividade
Se fosse possível a separação entre os princípios da ofensividade e o da lesividade, pode-
ria se dizer que o primeiro constitui uma exigência de que a conduta criminosa ofenda um bem
jurídico relevante de forma concreta ou com perigo concreto de lesão. Enquanto o segundo
propõe que a lesão oriunda da conduta criminosa atinja um bem jurídico de terceiro, não admi-
tindo a punição da autolesão. Entretanto, grande parte da doutrina compreende o princípio da
lesividade como sinônimo de ofensividade.
Quanto ao princípio da lesividade, Luigi Ferrajoli (2010) ensina que foi difundido na filosofia
utilitarista da tradição iluminista, no sentido de que só se justifica a intervenção penal diante de
condutas que cause efeitos lesivos a terceiros. Acrescenta o autor que a necessidade de uma
lei penal se condiciona pela lesividade a terceiros dos fatos proibidos, estabelecendo, portanto,
uma relação entre lesividade, necessidade e bem jurídico.
Importa compreender que a necessidade de lesão a bem jurídico de terceiro deve ser vista
não somente na perspectiva de um Direito Penal que tutela bens jurídicos individuais, como
vida, liberdade, patrimônio, mas que, do mesmo modo, se direciona à tutela de bens jurídicos
coletivos, como saúde pública, ordem econômica, moralidade administrativa, meio ambiente
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e relações de consumo. Em todo caso, a atuação do Direito Penal deve ser equilibrada. Esse
tema será retomado no capítulo terceiro da pesquisa.
O princípio da ofensividade constitui um limite à atuação do legislador e do julgador na me-
dida em que impõe a necessidade de a conduta típica ser exteriorizada e causadora de lesão ou
perigo concreto de lesão a bem jurídico de terceiro. Por isso, os pensamentos, as atitudes inter-
nas e as ações não lesivas a bens jurídicos de terceiros não podem ser punidos (BATISTA, 2007).
Na doutrina, o tema ainda apresenta certa celeuma. Para uma primeira corrente, não se-
ria possível a tipificação de condutas que causam mero perigo abstrato. Para outra corrente,
é possível a referida tipificação, diante da necessidade, principalmente, de tutela preventiva no
cenário dos bens jurídicos penais coletivos e difusos.
Pierpaolo Cruz Bottini (2010) defende a possibilidade de tipificação de crimes de perigo
abstrato dentro de parâmetros estabelecidos pela dignidade da pessoa humana Enquanto Pau-
lo Queiroz (2011) defende a atipicidade de condutas com presunção de perigo, apontando
como exemplo o porte ilegal de arma de fogo desmuniciada. Essa posição não encontra gua-
rida na jurisprudência do STF e do STJ.
O STF já decidiu que a tipificação do perigo abstrato não é inconstitucional, uma vez que
o legislador pode fazer essa escolha, principalmente na tutela preventiva de bens jurídicos
penais coletivos:
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Por sua vez, o STJ já decidiu, na mesma linha do STF, sobre a possibilidade, em situações
excepcionais, de aplicação do princípio da insignificância em situações concretas de crimes
de perigo abstrato.
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tendo concluído pela total inexistência de perigo à incolumidade pública (RHC 143.449/
MS, Rel.Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, SEGUNDA Turma, DJe 9/10/2017). 4.Hipó-
tese em que, embora formalmente típica, a conduta de possuir apenas duas munições
destituídas de potencialidade lesiva, desacompanhadas de armamento capaz de defla-
grá-las, não enseja perigo de lesão ou probabilidade de dano aos bens jurídicos tutela-
dos, permitindo-se o reconhecimento da atipicidade material da conduta.
5. Recurso desprovido. (REsp 1710320/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 03/05/2018, DJe 09/05/2018).
É certo que a crescente tipificação de crimes de perigo abstrato decorre dos efeitos ge-
rados pelo desenvolvimento tecnológico e industrial, no contexto da globalização, que trou-
xeram novas relações de produção, de comunicação e de convivência na sociedade pós-mo-
derna, acompanhadas do surgimento de novos riscos, com novas formas de lesionar os bens
jurídicos individuais e coletivos, restando insuficiente o modelo penal de tutela posterior ao
resultado material da conduta (COSTA, 1992).
Nesse ambiente, no contexto brasileiro, surgiram discussões sobre a constitucionalidade
da tipificação do crime de perigo abstrato, as quais foram superadas pelo STF, o qual já firmou
em várias ocasiões, como se verá nos itens seguintes, que o legislador pode sim tipificar o
perigo abstrato para a tutela de bens supraindividuais, que exigem tal recurso como forma de
tutela preventiva, como se verifica, por exemplo, na tutela penal do meio ambiente.
Nilo Batista (2007) propõe as seguintes funções decorrentes do princípio da lesividade
(ofensividade): a proibição da incriminação de uma atitude interna, como as ideias, convic-
ções, aspirações e desejos dos homens; a proibição da incriminação de uma conduta que não
exceda o âmbito do próprio autor; a proibição da incriminação de simples estados ou condi-
ções existenciais; a proibição da incriminação de condutas desviadas que não causem dano
ou perigo de dano a qualquer bem jurídico. Tais características já foram cobradas diversas
vezes em concursos públicos, como se verifica nas questões do lançadas a seguir.
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Letra d.
A referida alternativa traz o conteúdo do princípio da subsidiariedade (corolário da interven-
ção mínima ao lado da fragmentariedade), não cuida da lesividade. As demais alternativas (a,
b e c) trazem o conteúdo correto do princípio da lesividade, conforme exposto na obra do Nilo
Batista (Introdução Critica ao Direito Penal brasileiro), conforme visto no texto que aborda-
mos sobre o princípio da lesividade/ofensividade.
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e) As medidas provisórias podem regular matéria penal nas hipóteses de leis temporárias ou
excepcionais.

Letra c.
A autolesão não é crime, salvo em situações excepcionais (exemplo: mulher grávida que tenta
o suicídio e não morre por circunstâncias alheias pode responder por tentativa de aborto ou
aborto consumado, se o feto morrer em razão da manobra suicida. A autolesão com fraude à
seguradora é punida como estelionato).

Letra d.
Com base no princípio da lesividade, na dimensão materialização do fato, só se pode punir a
partir de um fato, não se pune antes disso, não se pune pensamentos.
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Pode-se afirmar que:
a) todas as assertivas estão corretas.
b) somente duas das assertivas estão corretas.
c) somente duas das assertivas estão erradas
d) estão erradas as de número II e III.
e) somente a de número I está errada.

Letra a.
Todas as alternativas estão corretas. Contudo, merece destacar o sentido do item III, o qual
tratou a lesividade como sinônimo do princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos.
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plica que, na oportunidade, em 1994, o Tribunal Constitucional Federal alemão decidiu que a
proibição era compatível com a Constituição alemã, mas ressalvou a possibilidade, com base
no princípio da proporcionalidade, de não punição, no caso de pequena quantidade, para con-
sumo pessoal (KUHLEN, 2012).
No momento atual, no contexto brasileiro, o princípio constitucional implícito da propor-
cionalidade, observado pelo legislador, na produção das normas penais, e pelo operador do
Direito Penal, nas fases de acusação e de condenação, deveria se direcionar a um modelo de
Direito Penal de intervenção equilibrada, que se preocupa com a proibição do excesso e com
a proibição da tutela penal deficiente.
O princípio da proporcionalidade não foi contemplado de forma expressa no texto cons-
titucional, mas constitui um dos mais utilizados pelo STF, como recurso argumentativo geral
em matéria penal, tanto na interpretação da tipicidade quanto no exame da pena e dos insti-
tutos da execução penal, conforme se verá no exame das decisões nos itens seguintes.
O STF já decidiu com o princípio da proporcionalidade para desconstruir elementares do
tipo e importar preceito secundário alheio na interpretação do crime de receptação qualificada
(depois mudou o entendimento e afirmou a constitucionalidade da qualificada); inovar e bus-
car a permissão de uma nova forma de aborto não prevista em lei; delimitar a elementar ato
libidinoso para a caracterização do crime de estupro (por maioria, entendeu que o referido prin-
cípio não poderia ser utilizado para desclassificar o beijo lascivo da conduta de estupro para o
crime de importunação sexual); fundamentar votos no sentido da descriminalização de porte
de determinado tipo de droga para consumo pessoal (decisão ainda pendente de um resultado
final); analisar e temperar institutos atinentes à dosimetria da pena; construir raciocínio positi-
vo alusivo à nova causa suspensiva em matéria de prescrição.
Com relação ao aborto até a 12ª semana da gestação, numa relação com a tipicidade pe-
nal, o princípio da proporcionalidade foi utilizado pelo STF de forma bastante ousada, quan-
do a Primeira Turma, por maioria, examinou um pedido de revogação de prisão preventiva
no Habeas Corpus 124.306/RJ, de um acusado pela prática do crime de aborto de feto com
gestação não superior a 12 semanas. Na ocasião, após pedido de vista, o Relator para o acór-
dão, Ministro Luís Roberto Barroso, ampliou o debate para examinar a constitucionalidade da
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vulnerável, independente de seu consentimento, uma vez que a Lei Penal apenas menciona
gravidez decorrente de estupro, na segunda hipótese legal, para permitir o aborto.
A outra possibilidade de abortamento, por atipicidade penal, ocorre na gestação de feto
anencéfalo, conforme decisão proferida na ADPF 54, considerado fato atípico, já examinado
quando da análise do princípio da legalidade e da dignidade da pessoa humana.
De outro lado, a lei penal brasileira não permite o aborto de feto até a terceira semana da
gestação, como ocorre em alguns outros países. Uma Arguição de Descumprimento de Pre-
ceito Fundamental foi protocolada no STF (ADPF 442), distribuída à Ministra Rosa Weber, com
pedido de permissão do aborto em tal situação, mas ainda não houve um posicionamento da
Corte.
No Projeto de Lei do Senado n. 236 (novo Código Penal), apresentado no ano de 2012 pela
comissão de juristas criada pelo Senado, havia também a possibilidade de abortamento do
feto até a terceira semana da gestação, desde que precedido de um parecer médico ou psico-
lógico sobre a gestante. Tal permissão foi retirada do texto após uma revisão do projeto, no
âmbito do Senado, realizada por outra comissão.
A decisão do STF no HC 124.306/RJ, malgrado ter sido proferida no âmbito da Primeira
Turma, com quatro ministros presentes, e não do Plenário, chama a atenção, no cotejo entre
os argumentos usados e a dogmática penal, por várias razões: no âmbito de um Habeas Cor-
pus no qual se questionava os fundamentos para a prisão preventiva; manifestação de ofício
da Corte quanto a matéria de Direito Penal não suscitada no âmbito do Habeas Corpus; ine-
xistência de deferência ao Legislador que debate a matéria nas discussões do projeto do novo
Código Penal; tentativa de mitigação do direito à vida do nascituro, que se encontra regulado
por norma infraconstitucional, que obedece a um mandado constitucional de criminalização
para a proteção da vida; tentativa de criação de uma regra restritiva do direito à vida, com uso
de argumentação principiológica sedimentada no princípio da proporcionalidade, em espa-
ço já regulado pelo legislador, numa clara ofensa a outro princípio denominado proibição da
tutela penal deficiente; ativismo penal voluntarioso e subjetivista em espaço de escolha do
legislador, com construção casuística de regra limitadora do direito à vida.
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Letra d.
Corresponde à decisão do STF proferida no HC 104339 de 2012, jurisprudência, reafirmada
em 2016, quando o ministro Gilmar Mendes, relator do RE 1038925, observou que, embora o
STF tenha autorizado os ministros a decidirem monocraticamente nos habeas corpus cujo
único fundamento da impetração seja o artigo 44 da Lei de Drogas, o Senado não editou reso-
lução com o objetivo de suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada incons-
titucional. Dessa forma, entendeu necessário reafirmar a decisão, por meio da sistemática de
repercussão geral, para evitar questionamento quanto à observância da regra constitucional
(BRASIL. STF. NOTÍCIAS. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteu-
do=354431. Acesso 20 de jan 2020).
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Errado.
O conteúdo se refere ao princípio da intranscendência ou da responsabilidade pessoal.
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Errado.
Exige-se lei em sentido estrito, formal, para tipificar crimes. Nessa linha, foi equivocada a
posição do STF que entendeu haver crime de homofobia na lei racismo, interpretando a ho-
mofobia como racismo social.
Letra a.
Tema: dosimetria da pena.
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na doutrina desde logo repudiaram o regime integralmente fechado. Mas o Pleno do Supremo
Tribunal Federal, então, em dois julgados antológicos, afastou a pecha da inconstitucionali-
dade (HC 69.603/SP e HC 69.657/SP), posicionamento que se irradiou para as outras Cor-
tes e, desse modo, ditou a jurisprudência do país por mais de 13 anos. Somente em 2006 o
STF rediscutiu a matéria, agora para dizer inconstitucional aquela vedação (HC 82.959-7/SP).
A histórica reversão da jurisprudência, afinal, fez com que se reparasse o sistema normativo.
Editou-se a Lei n. 11.464/2007 que, pese admitindo a progressividade na execução corres-
pondente, todavia lhe estipulou lapsos diferenciados. Todo esse demorado debate mais dire-
tamente fundou-se especialmente em um dado postulado de direito penal que, portanto, hoje
mais que nunca estrutura o direito brasileiro no tópico respectivo. Precipuamente, trata-se do
postulado da
a) pessoalidade.
b) legalidade.
c) proporcionalidade.
d) individualização.
e) culpabilidade.
Letra d.
Conforme dito, o STF tem fez uso do princípio individualização da pena para declarar a in-
constitucionalidade no regime integralmente fechado em crimes hediondos (HC 82959 de
2006).
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Letra d.
Corresponde a um tema de criminologia e política criminal, não havendo reparo na opção, que
está, portanto, correta, uma vez que defendeu o princípio da igualdade.
Decorre de previsão expressa do texto constitucional, que delimita alguns tipos de penas,
que não poderão existir no Brasil, salvo a pena de morte no caso de guerra declarada. Segundo
o art. 5º XLVII da Constituição:
Acima de qualquer valor utilitário, o valor da pessoa humana impõe uma limitação funda-
mental em relação à qualidade e quantidade da pena. É este o valor sobre os quais se funda,
irredutivelmente, o rechaço da pena de morte, das penas corporais, das penas infames e, por
outro lado, da prisão perpétua e das penas privativas de liberdade excessivamente extensas.
Sobre a história das penas e suas teorias, o tema será tratado no capítulo sobre penas.
A pena de morte no Brasil é autorizada somente nos casos de guerra declarada, sendo
neste caso, executada por fuzilamento, conforme previsto no art. 56 do Código Penal militar.
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Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos.
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40
(quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
Ressalte-se que o STF tem usado o limite de 30 anos para a medida de segurança (medida
de segurança como gênero da sanção penal), embora o Código Penal fale em prazo indetermi-
nado, no art. 97. O STJ faz uso, no caso de medida de segurança, do tempo máximo de pena
previsto no preceito secundário da conduta respectiva. Agora, diante da nova redação do Códi-
go Penal, o STF deve adaptar a sua jurisprudência.
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Letra b.
Corresponde ao inciso XLIX do ar t.5º da CRFB.
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Letra d.
Gabarito apontou c. Crítica: a resposta correta consiste no princípio da humanidade, confor-
me discorremos no decorrer do material e, ainda, conforme o próprio texto da Constituição,
ou seja, o princípio da humanidade veda a doação de penal que possam atingir a constituição
físico-psicológica do indivíduo. Ademais, com base nesse princípio, a CRFB, no início XLVII do
art. 5º veda determinados tipos de penas e, ainda, veda a tortura no inciso III e, ainda, garante
ao preso, no inciso XLIX, o respeito a sua integridade física e moral.
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Letra c.
Está correta a relação feita entre o princípio da humanidade e a necessidade de garantir ao
condenado à pena privativa de liberdade o respeito à integridade física e moral, nos termos do
art. 5º, XLIX da CRFB, sem prejuízo da compreensão de que pena privativa de liberdade, por
sua própria natureza, traz consequências dolorosas, em razão da segregação do indivíduo.
Isso não impede a sua compatibilidade com o ordenamento jurídico de um Estado Democrá-
tico de Direito.
A cobrança da pena de multa mesmo sendo considerada dívida de valor, somente pode
ser levada a efeito se não houver ocorrido a extinção da punibilidade. A multa como sanção
penal, não pode ultrapassar a pessoa do condenado, ela é intransferível.
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O STF, em 2018, decidiu que a execução da pena de multa é feita pelo Ministério Público e não
mais pela Procuradoria da Fazenda.
No que diz respeito à responsabilidade não penal gerada pela infração penal, como a obri-
gação de reparar o dano causado, nada impede que após a morte do autor, transfira-se para
os sucessores, que responderão até as forças da herança.
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Letra c.
Cuida-se de princípio da intranscendência, uma vez que o texto menciona:
o confisco de bens outrora pertencentes ao suicida – que tem herdeiros – como forma de punição
penal, é correto afirmar que responsabilização de terceiros pela conduta de alguém viola o princípio
penal.
Errado.
Verifica-se que ao dizer que ao dizer que o Estado deve punir ações, das quais derive lesão
aos direitos dos outros, o autor se refere ao princípio da lesividade/alteridade, o qual exige da
conduta do agente a lesão ou perigo de lesão a bem jurídico de terceiro.
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blicos. A maioria que sofre esses procedimentos é de mães, esposas e filhos de presos. Até
mesmo idosos, crianças e bebês são submetidos ao vexame. É princípio de direito penal que
a pena não ultrapasse a pessoa do condenado”.(DIAS, José Carlos. “O fim das revistas vexa-
tórias”. In: Folha de São Paulo. São Paulo: 25 de julho de 2014, 1º caderno, seção Tendências
e Debates, p. A-3)
Além da ideia de dignidade humana, por esse trecho o inconformismo do autor, recentemente
publicado na imprensa brasileira, sustenta-se mais diretamente também no postulado consti-
tucional da
a) individualização.
b) fragmentariedade.
c) pessoalidade.
d) presunção de inocência.
e) legalidade.
Letra c.
Responsabilidade pessoal ou pessoalidade ou intranscendência, uma vez que o texto, cabe-
çalho da questão, menciona: “É princípio de direito penal que a pena não ultrapasse a pessoa
do condenado”.
Certo.
Nos termos do inciso XLV do art. 5º da CRFB.
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Dermeval Farias
Professor Dermeval Farias Gomes Filho. Promotor de Justiça do Júri/Criminal no Distrito Federal (MPDFT).
Doutorando em Direito Penal pela PUC-SP. Mestre em Direito Penal pelo UNICEUB. Pós-graduado em
processo civil pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ex Conselheiro Nacional do Ministério Público
(biênio 2017/2019). Professor de Direito Penal em diversos cursos de preparação para concursos da
Magistratura e do Ministério Público e pós-graduações desde o ano de 2006. Palestrante em Simpósios
e Congressos. Leciona em cursos de capacitação de direito penal do STF, STJ, TJDFT e MPDFT. Integra
o grupo de pesquisa em política criminal do UNICEUB/UNB. Autor de artigos e livros, com destaque para:
Dogmática Penal: Fundamento e limite à construção da jurisprudência penal no Supremo tribunal Federal.
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