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A HISTÓRIA DO POVO TERENA E A ARTE DE CONFECCIONAR ADORNOS

CORPORAIS NA ALDEIA LIMÃO VERDE

Rosângela de Souza Penajo. 1


Prof. Esp. Maria Cristina Müller. 2

RESUMO

O presente trabalho aborda as questões relacionadas à cultura, dança e adornos corporais Terena na Aldeia
Limão Verde, PIN Limão Verde - do município de Aquidauana - MS. Busca-se compreender os conceitos de
Arte, tipos de Arte e a não difusão da Arte nas camadas sociais brasileiras, em específico nas aldeias Terena.
Parte-se do pressuposto que a questão artística no mundo todo tem sido objeto de discussões em todos os meios
sociais. Na aldeia mencionada à questão se torna evidente, pois, a tradição da Arte Terena perpassa dos pais para
os filhos – muitos guardam esta informação, dificultando a utilização e massificação destes adornos da etnia
Terena. Com este trabalho pretende-se analisar os adornos corporais Terena sob a luz de estudo de campo na
Aldeia Limão Verde, no município de Aquidauana - MS. Conhecer a aplicabilidade da arte no âmbito de uma
aldeia da etnia Terena é o objetivo norteador deste trabalho. O presente trabalho trata-se de um estudo preliminar
sobre a arte, em especial a cerâmica, desenvolvida por índias que vivem na Reserva Indígena Terena, a segunda
maior área indígena do Centro-Oeste brasileiro e, posteriormente, os adornos produzidos e comercializados por
elas. A metodologia foi de caráter quantitativo e qualitativo e foram registradas, descritivamente, atividades em
sala de aula na Escola Municipal Indígena “Lutuma Dias”e na Escola Estadual Pascoal Leite Dias, com
elementos culturais desta etnia. Dessa maneira, apresenta-se o registro destas atividades, colaborando, assim,
com a organização e com a socialização dos conhecimentos voltado para a Arte e Cultura Terena adquiridos
pelos professores indígenas e que possam ser utilizados pelos futuros docentes da comunidade Terena.

PALAVRAS-CHAVE: Arte Terena. Dança. Aldeia Limão Verde. Adornos Corporais.

1. INTRODUÇÃO
Com este trabalho pretende-se apresentar o Grafismo Terena sob a luz de estudo de
campo na Aldeia Limão Verde, no município de Aquidauana - MS, em caráter quantitativo e
qualitativo. Conhecer a aplicabilidade da disciplina Artes Visuais no âmbito de uma aldeia da
etnia Terena foi o objetivo principal deste trabalho. O presente trabalho trata-se de um estudo
preliminar sobre a Arte, em especial a cerâmica e os adornos corporais, usados por jovens e
índias que vivem na Reserva Indígena Terena, localizada no município de Aquidauana,
Estado de Mato Grosso do Sul.
Este trabalho abordará o histórico do povo Terena, a importância da arte de
confeccionar adornos corporais para a preservação da identidade cultural dos índios Terena da
Aldeia Limão Verde e, ainda, a produção e o destino dos adornos confeccionados pelos índios
fazendo uma correlação entre a produção e a utilização dos mesmos.

1
Professora graduada em Geografia - UFMS e cursando especialização em Metodologia do Ensino de Artes.
2
Professora graduada em Artes Educadora com especialização em Metodologia do Ensino de Artes e orientadora
do Grupo Uninter.
2

O tema proposto surgiu diante da necessidade em ampliar as informações e difundir a


cultura Terena, que está se perdendo pelo não registro das mesmas e devido a convivência
com os alunos Terena na aldeia onde ministro aula. O objetivo geral deste trabalho foi o de
descrever o grafismo Terena; e os objetivos específicos foram os de: conhecer a iconografia
Terena, sua dança, sua linguagem, seus costumes, sua tradições, os adornos culturais e como é
trabalhada a disciplina de Arte e Cultura Terena no espaço escolar.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. ARTE INDÍGENA NO BRASIL
Segundo Madueño (2010), os índios pintam o corpo para enfeitá-lo e também para
defende-lo contra o sol, os insetos e os espíritos maus. E para revelar de quem se trata como
está se sentindo e o que pretende. As cores e os desenhos “falam”, dão recados. Boa tinta, boa
pintura, bom desenho garantem boa sorte na caça, na guerra, na pesca, na viagem. Cada tribo
e cada família desenvolvem padrões de pintura fiéis ao seu modo de ser. Nos dias comuns a
pintura pode ser bastante simples, porém nas festas, nos combates, mostra-se requintada,
cobrindo também a testa, as faces e o nariz. A pintura corporal é função feminina, a mulher
pinta os corpos dos filhos e do marido.
Assim como a pintura corporal, a arte plumária serve para enfeites: mantos, máscaras,
cocares, e passam aos seus portadores elegância e majestade. Esta é uma arte muito especial
porque não está associada a nenhum fim utilitário, mas apenas a pura busca da beleza.

2.2. ARTE INDÍGENA TERENA


O grafismo das cerâmicas Terena há muito tem despertado a curiosidade de
antropólogos e pesquisadores interessados nas informações gráficas que os povos mais
antigos do Brasil carregam em seus objetos, sejam eles, utilitários, religiosos e musicais.
Enfim, toda parafernália indígena carrega consigo o conceito da beleza, da arte.
Um “simples” cachimbo Guarani M‟bya traz consigo diversas informações e todas
representadas através de elementos gráficos, que não apenas representam algo em si, mas uma
diversidade de informações. O grafismo indígena, como em toda cultura ágrafa, não apenas
serve para representar algo, mas para dizer o além do que representa. A busca pelo
entendimento dos índios Terena são conhecidos pela habilidade na agricultura e no artesanato.
Sua etnia constitui a maior nação indígena de Mato Grosso do Sul-MS, cercam de 18
mil indivíduos, com uma ocupação fragmentada em diversas regiões. De índole pacífica
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pertencem ao tronco lingüístico Aruak. Cultivam em suas terras arroz, feijão, feijão de corda,
maxixe, mandioca e milho, alimentos que formam a base de sua alimentação.
A alternativa atual do artesanato Terena, como meio de subsistência, se dá,
principalmente, através do barro, da palha, da tecelagem - atividades que representam um
nítido resgate de sua arte ancestral indígena.

2.3. FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA ETNIA TERENA EM AQUIDAUANA


A formação de professores é um dos principais objetivos de uma Educação Escolar
Indígena voltada para sua consolidação partindo da idéia de que o ensino só avançará se os
profissionais indígenas tiverem uma formação de qualidade. Essa formação permite aos
professores indígenas um desenvolvimento de competências profissionais que lhes permitam
atuar, de forma responsável e crítica nos diversos ambientes e vivências.
Kahn e Azevedo (2004) afirmam que a escola indígena está sendo construída pelas
comunidades, muitas vezes sem a assessoria de especialistas e com professores sem formação
específica. Mesmo sem apoio, esses professores indígenas são movidos pela vontade de
dominar a escrita que foi e continua sendo um instrumento de dominação sobre as etnias em
nossa sociedade. Essa situação pôde ser notada através de um levantamento de informações
realizado em 1999, pelo Inep/MEC sobre a formação docente indígena (2008), que tinha por
objetivo planejar e programar as prioridades das políticas educacionais.
Esse levantamento mostrou que cerca de 50% dos professores indígenas têm apenas o
ensino fundamental; 23% ensino médio com magistério; 17% ensino médio com magistério
indígena; 4,5% ensino médio completo, e 15% ensino superior. Percebe-se aí a necessidade de
prática políticas que ampliem a escolarização e formação desses professores, visto que esta é
uma demanda das comunidades e é um direito previsto em Lei.

14%
4% Ensino Fund.
45% Ensino Méd. Magist.
Ens. Méd. Indígena
16% Ens. Méd. Compl.
Ens. Superior
21%

Gráfico 1 – Formação de Professores Indígenas. Fonte: INEP, Educação Indígena, Brasil, 2007.
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De acordo com Kahn e Azevedo (2004), a educação diferenciada e de qualidade só


poderá acontecer quando as próprias comunidades assumirem a docência das escolas, o que
reafirma a necessidade de programas de formação específica intercultural para o magistério.
Segundo Kahn e Azevedo (2004), a Resolução Nº 3/99 do CNE dá aos Estados a
função de promover a formação dos professores indígenas (desde o ensino fundamental até o
ensino superior, além da formação continuada) e também de instituir e regulamentar a
profissionalização e reconhecimento público do magistério indígena. As autoras explicam que
recentemente algumas secretarias estaduais de educação têm feito parcerias com universidades
para oferecer cursos de formação.
Ainda segundo Kahn e Azevedo (2004) afirmam que no Brasil, existem diversas
experiências de formação profissional indígena em educação, sendo que as mais antigas não
são experiências do Estado, mas são reconhecidas como referência para a política nacional de
formação de professores indígenas.
A respeito do assunto, Monte (2000) explica que as experiências mais bem sucedidas
de formação de professores indígenas em desenvolvimento no Brasil foram iniciativas de
entidades de apoio aos índios e estas vêm aos poucos conquistando um reconhecimento legal.
O professor Evaristo Kiga (2007) - Membro do Conselho de Educação Escolar
Indígena - ressalta a importância hoje da Educação Indígena somada a Educação Escolar
Indígena, nos esclarecendo que: “tem que ter a educação da aldeia e a educação da cidade,
para tratar com as autoridades, saber como andar no meio deles, tem que respeitar a própria
cultura. Aprender a fazer as contas dos brancos para não ser enganado. Como se conta o
dinheiro. A leitura é importante para ler os documentos, saber quando chega um projeto, o
que ele tem. Saber ler o projeto e saber explicar também, se ele interessa ou não.”
Antes de qualquer coisa, é preciso mais uma vez analisar o porquê dos povos
indígenas precisarem de uma educação escolar diferenciada.
Borges (1997, p. 5) salienta muito bem: “a escola indígena pode e deve se tornar um
espaço de resistência e de afirmação identitária, garantindo a continuidade de sua cultura.”

3. DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


3.1. HISTÓRICO DA ALDEIA LIMÃO VERDE – PIN LIMÃO VERDE
De acordo com o site http://www.mte.gov.br a reserva está em uma área inserida na
grande região geográfica, Centro-Oeste, no Matogrosso do Sul, na bacia do Alto Paraguai na
micro região, Aquidauana, no município de Aquidauana. Está integrada ao restante do país
por ferrovias e rodovias. Passa em Aquidauana a estrada de ferro Novoeste, antiga Noroeste
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do Brasil, ligando o Posto Indígena às cidades de Miranda e Corumbá (a Oeste) e


Aquidauana, Campo Grande e Bauru (a Leste). A constituição da Terra Indígena do Limão
Verde não possui uma data precisa, mas pode-se afirmar que o seu processo de formação foi
semelhante ao das demais aldeias indígenas que se constituíram depois da Guerra contra o
Paraguai. Segundo as informações registradas pelo índio Terena Isac Pereira Dias, in loco, a
aldeia do Limão Verde foi fundada pelo índio Terena Atale, que entre os não índio era
chamado de Manuel Lutuma Dias, nome recebido do fazendeiro que era o seu patrão.
O Decreto nº 795 de 1928 do Governo do Estado do Mato Grosso concedeu uma área
de 2.500 para os índios do Limão Verde, no município de Aquidauana. Depois da guerra, nos
anos 1890, João Dias, casado com uma índia Terena fixou residência no lugar chamado
Morrinho e tinha seus roçados e gado no lugar chamado “Córrego Seco”. Depois da morte de
Lutuma, João Dias assumiu a chefia do grupo sem, contudo, jamais morar em Limão Verde.
Até os anos 1960, os filhos e netos de João Dias passaram a herdar a chefia tanto do núcleo de
Limão Verde propriamente dito como o de Córrego Seco. A composição étnica desta Reserva
é mais variada ainda do que Lalima.
Apenas no núcleo Limão Verde há 10 famílias brasileiras e 2 paraguaias, além de
muitos mestiços de origem Terena. Em Córrego Seco, entretanto, só há famílias Terena, com
toda certeza devido a sua situação geográfica, mais retirada. É somente nos anos 1990, a
FUNAI cria um Grupo Técnico para regularizar a situação fundiária da Reserva. Finalmente
em julho de 1998, o Ministro da Justiça declarou a área delimitada pelo em 4.886 hectares
como “de ocupação tradicional indígena”.
De acordo com a Pesquisa de Campo realizada, os moradores, em sua maioria,
possuem televisão, vídeo e/ou DVD e telefones celulares. Alguns índios mais velhos optam
por casas de taipa, cobertas com folhas de buriti e possuem apenas objetos extremamente
necessários à sobrevivência. Todos os índios são falantes da língua materna, incluindo as
crianças e, alguns, em especial os mais jovens, entre 15 a 20 anos.
De acordo com Oliveira (2003), as casas (Ovokúti) se distribuíam na aldeia ao redor
de uma praça central (Nónevokúti). Estas moradias, não mais dispostas na forma tradicional,
são feitas de barro, cobertas por telhados de palha e algumas com os cômodos separados;
nelas moram pai, mãe, filhos e filhas solteiros. Próximas às residências existem algumas
plantações, o que ajuda na alimentação, contudo, nem todos os alimentos consumidos
atualmente são plantados e colhidos, obrigando as famílias a freqüentes visitas às mercearias
próximas a aldeia para adquirirem os produtos que faltam. Para obter esses produtos são
necessários recursos econômicos, por isso muitos Terena trabalham em plantações da região;
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as mulheres também buscam uma complementação da renda familiar, através da venda de


alguns produtos - da lavoura (piqui, palmito amargo, etc.) e do artesanato - nas cidades.

3.2. PINTURA
A pintura do corpo Terena é indispensável nas danças e festas. Pintam o corpo com
riscas, em branco, vermelho e preto e utilizam-se do jenipapo e do carvão vegetal. Os
desenhos são feitos de uma excessiva fineza e apresentam uma harmonia e uma delicadeza
que é impossível de se descrever. Colares, brincos e cocares de pena de aves silvestres
completam o adorno. Os sons do tambor e da flauta misturam-se ao chocalho das sementes; os
corpos estão pintados e os passos são bem marcados. As penas e as roupas feitas de buriti
refletem a realidade de um grupo de pessoas que não se encaixaria no que se define como o
modo de vida urbano.

3.3. CERÂMICA
A cerâmica é trabalho predominantemente feminina. Neste particular salientamos
algumas regras seguidas pelas mulheres, de acordo com os dados coletados na Pesquisa de
Campo: 1. Em dia que se vai fazer cerâmica não se vai para a cozinha. Interdito com base
que: “o sal é inimigo do barro”. 2. Não trabalham com barro quando estão menstruadas. 3.
Não trabalham durante a lua nova.

Cabem aos homens, por tradição na maioria das nações indígenas, Somente o trabalho
de extrair o barro e processar a queima, tarefas que exigem maior vigor físico. As peças são
modeladas manualmente com a técnica de roletes (cobrinhas). Atualmente alguns se valem do
torno de oleiro (sem motor elétrico). Usam em seus trabalhos argilas de diversas cores
dependendo da região: preta, branca e vermelha e amarela. Com algumas delas fazem engobes
para serem usados na decoração das peças, visando a obtenção de cores contrastantes e realces
pictográficos. Os padrões dos grafismos usados pelos Terena são basicamente o estilo floral,
pontilhados, tracejados, espiralados e ondulados. Os Terena produzem peças utilitárias e
decorativas: vasos, bilhas, potes, jarros, animais da região pantaneira (cobras, sapos, jacarés
que são chamados de bichinhos do pantanal), além de cachimbos, instrumentos musicais e
variados adornos. O acabamento das peças é feito com ferramentas rudimentares: seixos
rolados, espátulas e ossos.
O barro (massa) é preparado misturando aditivos (por eles chamados de temperos),
para regular a plasticidade: pó de cerâmica amassado e peneirado, conchas trituradas, cinzas
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de vegetais etc. Numa fase anterior são retirados da argila resíduos como restos de vegetais e
pedras. As queimas são feitas em fogueiras a céu aberto ou em rudimentares fornos, usando
lenha como combustão. Os indígenas verificam o estado do ciclo da queima tilintando com
um pedaço de taquara nas peças. Através do som obtido constatam o estágio da cozedura. As
peças produzidas pelos Terena podem ser encontradas em Miranda, Aquidauana e na Casa do
Artesão de Campo Grande, além de muitos outros locais, como na Internet no endereço
eletrônico www.ceramicanorio.com.

3.4. DANÇA DO BATE-PAU


A antropóloga Luciana Scanoni (2008)3, explica que “a dança do Bate Pau é um
momento de celebração e de reconhecimento da sua cultura” e, portanto, mostra-se como
“uma ferramenta política de integração entre os próprios índios, mas também com o resto da
população da cidade”. Ela acrescenta que “a dança está muito relacionada ao contexto
político de luta pelo orgulho de ser índio e pelo direito à diferença”. A antropóloga define
ainda cultura como “algo mutável” e que “o fato do índio morar na cidade não lhe tira a
característica de seus antepassados”. A dança é um mecanismo de ressignificação da cultura
para os índios terena. Eles mantêm características tradicionais, adaptando-as à realidade local.
Por isso é comum, por exemplo, encontrar pinturas e roupas diferentes para a mesma dança
em aldeias dentro de Mato Grosso do Sul.

Figura 1 – Índios Terena dançando o Bate-Pau. Fonte: Acervo Pessoal ORTEGA, Geyse (2010).

3
Informações obtidas no site: http://ruminandocultura.blogspot.com/2008_01_01_archive.html
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As roupas são feitas com esmero, as penas de Ema são presas uma a uma, mostrando o
porquê a dança também recebe o nome desta ave. Os primeiros passos são lentos, lembrando
os passos do Jaburu, uma ave aquática da fauna pantaneira. Os homens formam duas fileiras e
são guiados pelo chefe que fica na ponta. Em seguida, imitam os passos da Ema e retornam ao
início. Guiados por palavras em Aruak – idioma terena - eles simulam uma guerra,
arremessando os bambus uns contra os outros.
No final da dança, uma homenagem: os paus são cruzados em baixo para que o
cacique seja suspenso. Nesse momento as peles morenas, as tintas pelo corpo e as saias
ganham ainda mais significado para aqueles homens. Seus olhos e sua força indicam a
intensidade daquela dança e as pessoas em volta se emocionam. O homem sobre os bambus
diz frases fortes na língua Terena, e os demais respondem no mesmo tom. O momento é de
convergência. Toda atenção está voltada para a beleza de uma cultura esquecida em meio aos
prédios e construções de concreto.
Não há consenso sobre a origem da dança do Bate-Pau. Para uns, a dança lembra a
vitória da etnia terena na Guerra do Paraguai. A partir desse ponto de vista, seus passos
marcam desde a preparação para a guerra até a festividade da vitória. Para outros, ela surgiu a
partir de “um sonho de um pajé em que estava numa mata, assistiu essa dança e a trouxe para
a aldeia”. Para os mais antigos, “é um absurdo falar que a dança surgiu depois da Guerra do
Paraguai. Ela é um costume do povo e é tão antiga quanto ele”.
Quem denominou como dança do Bate-Pau foi o homem branco - purutuyé, já que é a
coisa mais marcante durante as apresentações. Mas para indígenas a dança recebe o nome de
dança da Ema por causa das saias feitas das penas dessa ave e de alguns passos que simulam a
movimentação dela.

3.5. ADORNOS
3.5.1. COLARES
Os colares de uso feminino, confeccionados com dentes de macaco e quati,
intercalados por sementes Os colares de uso feminino, confeccionados com dentes de macaco
e quati, intercalados por sementes pretas e "lágrima de Nossa Senhora", eram presos a um
cordel formado por fibra de buriti trançado. Eles eram usados antigamente apenas pelas
mulheres que hoje, já não usam mais. Os homens usavam colares com dentes de porco
queixada. Atualmente os homens usam os colares de dentes não só dos animais citados, como
também de jacaré e onça. Há também a confecção de colares de sementes nativas feitos pelas
mulheres. Na sua confecção são utilizadas sementes de fedegoso, imbiruçú e mirindiba ou
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ximbuba, que existem na vegetação local. Existem, ainda, os colares produzidos com penas e
fios de tucum e podem ser feitos por homens, mulheres e crianças e podem ser usados em
qualquer época.

3.5.2. ANÉIS
O anel de coco é fabricado por homens e mulheres; é usado por todos, para adornar o
dedo. A matéria-prima é o coco de tucum. Além de ser usado para fazer anel, o coco possui
uma castanha comestível. O anel pode ser feito de coco seco ou verde, a diferença fica na cor.
Os anéis do coco verde ficam de cor marrom e os anéis do coco seco ficam pretos.

3.5.3. PULSEIRAS
As pulseiras confeccionadas pelo povo Terena possuem diferentes fibras e sementes.
Pode ser feita de tucum, de semente de tento e pode ser usada também como tornozeleira
feminina. São também feitas com fio de tucum e enfeitadas com espinhos de ouriço e com
semente de quissé, também conhecida por capim navalha - as pulseiras com semente de quissé
eram as mais utilizadas antigamente pelas mulheres. Existem pulseiras feitas de coco de
tucum, onde o coco é cortado ao meio e lixado para ficar brilhoso. As pulseiras são peças
produzidas por mulheres e podem ser usadas por qualquer pessoa.

4. METODOLOGIA DE ESTUDO
Realizou-se uma observação participante, com base em Minayo (1994), esta
metodologia possibilita a contemplação e compreensão de aspectos decisivos na investigação,
pois uma leitura simplesmente quantitativa suprimiria estes importantes aspectos. Outra
característica deste tipo de estudo é a questão relativa aos dados coletados, pois "são
predominante descritivos". Análise da documentação escrita, a qual contribuiu para a
compreensão do processo histórico e do quadro sociocultural e político da educação escolar
indígena e a aplicação de questionário semi-estruturado com alunos dos anos finais do Ensino
Fundamental da Escola Municipal Indígena “Lutuma Dias”e do Ensino Médio da Escola
Estadual Pascoal Leite Dias. O estudo em causa foi enquadrado, essencialmente qualitativo,
embora possua técnicas de coletas de dados quantitativos.
Dois instrumentos tornaram-se relevantes para a comprovação de nossa hipótese: uma
pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo em forma de questionário. A pesquisa
bibliográfica objetivou a história da educação indígena, a influência e utilização na superação
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das dificuldades de aprendizagem. A pesquisa de campo para que se verificasse o uso e


confecção dos adornos Terena.
A escola, na qual foi desenvolvida a pesquisa, pertence à rede municipal de ensino e
atende alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Optamos por desenvolver a pesquisa
nas turmas do 8o e 9o ano do Ensino Fundamental e com os alunos do Ensino Médio, por
inferirmos que nesta etapa já possuíssem conhecimento acerca de domínio lingüístico, na
aldeia Limão Verde, na Escola Municipal Indígena “Lutuma Dias” anos finais do Ensino
Fundamental da Escola Municipal Indígena “Lutuma Dias”e do Ensino Médio da Escola
Estadual Pascoal Leite Dias. Aquidauana – MS, nos meses de junho, julho, agosto e setembro
de 2010.
O questionário, cujo objetivo maior foi verificar as práticas da Arte Terena pelos
alunos, continha 08 perguntas referentes às questões sobre o desenvolvimento do trabalho de
Arte Terena; nível de interesse dos alunos na confecção de adornos Terena e conhecimentos
anteriores quanto à aplicabilidade da mesma. Foram feiras tabulação dos dados e verificação
das respostas dos entrevistados e organização das tabelas e esboço dos gráficos.

4.1. PESQUISA DE CAMPO


A pesquisa de campo foi realizada na Escola Municipal Indígena “Lutuma Dias”, na
aldeia Limão Verde, em Aquidauana – MS, nos meses de junho, julho, agosto e setembro de
2010, com alunos na faixa etária de 13 e 16 anos, nas turmas do 8o e 9o ano do Ensino
Fundamental e alunos do Ensino Médio - na faixa etária de 14 e 18 anos - perfazendo um total
de 133 pessoas pesquisadas.

4.2. ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS


A primeira pergunta foi: Sabe fazer artesanato indígena?

15%

EFM / SIM
EFM / NÃO

85%

Gráfico 2 – Posicionamento dos alunos quanto ao artesanato.


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Nas respostas dos alunos do Ensino Fundamental e Médio (EFM) podemos perceber
que 85% sabem fazer artesanato indígena na aldeia Limão Verde.
A segunda pergunta foi: Quem ensinou a fazer o artesanato indígena?

26%
36%

18%
20%

Avós Pais Tios Outros

Gráfico 3 – 26% dos pesquisados aprenderam artesanato dom avós.

Dos alunos entrevistados 26% aprenderam artesanato com os avôs, seguido em 18%
dos que aprenderam com os pais. Este fator nos chamou a atenção, pois a maioria dos
indígenas Terena aprendeu artesanato fora do eixo familiar, com outras pessoas da aldeia.
A terceira pergunta foi: Gosta de usar adornos indígenas?

23%

Sim
Não

77%

Gráfico 4 - Pesquisados gostam de adornos.

Dos alunos entrevistados 77% afirmaram gostam de usar adornos e que a escola
propicia momentos para aprender a confeccionar estes adornos. Sabemos que um dos
principais objetivos da escola é o de formar cidadãos para o mundo; para tanto, é preciso fazer
com que os alunos adquiram competências através do contato com sua diversidade.
A quarta pergunta foi: \Costumar usar adornos indígenas?
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9%
30%
Sempre
Datas Importantes
Nunca
61%

Gráfico 5 - Pesquisados costumam usar adornos.

Dos alunos entrevistados 61% afirmaram que „usam‟ adornos em datas


importantes, como o Dia do Índio, enquanto que 30% afirmam que ‘usam sempre‟.
A quinta pergunta foi: Qual adorno valoriza mais a cultura indígena?

12%

26%

50%

12%

Brinco Colar Pulseiras Todos

Gráfico 6 – Colar é um dos adornos usados.

Dos alunos entrevistados 67% afirmaram que usam de todos os adornos e que os
mesmos valorizam a cultura Terena, seguido do colar (34%), brinco e pulseira, ambos com
16%.
A sexta pergunta foi: Qual adorno é mais usado por você?

11%
20%
26%

43%

Brinco Colar Pulseiras Todos

Gráfico 7 – Colar é um dos adornos usados.


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Dos alunos entrevistados 57% afirmaram que gostam de pulseiras, seguido do colar
(35%), brinco (14%) e 27% dos alunos entrevistados usam todos os adornos mencionados
na pesquisa.
A sétima pergunta foi: Gostaria de aprender a arte de confeccionar adornos na
escola?

16%

84%

Sim Não

Gráfico 8 – Parecer dos entrevistados.

Dos alunos pesquisados 84% afirmaram que gostariam de aprender a confeccionar


estes objetos de adornos Terena e somente 16% dos alunos indígenas da etnia Terena não
gostariam de aprender a valorização da própria cultura.
A oitava e última pergunta foi: Por que não costuma usar adornos corporais?

16%

24%
60%

A religião não permite Não gosta Não sabe fazer

Gráfico 9 – 24% dos alunos não gostam de adornos Terena.

Dos alunos pesquisados 60% afirmaram que não usam os adornos Terena, porque não
sabem confeccioná-los, 16% dos alunos não usam os adornos porque a religião não permite
e 24% destes não usam porque não gostam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo sendo um texto fruto de resultados preliminares pode-se aferir e adiantar que a
cultura do povo Terena tem raízes profundas, através da vivência e de hábitos adquiridos e
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perpassados dos pais aos filhos, constituindo, assim, a tradição do povo indígena, em especial
da Aldeia Limão Verde, do município de Aquidauana - MS.
O entendimento da construção e do significado do grafismo da cerâmica Terena tem
sido motivo de muitas especulações quanto as suas reais origens, hoje até mesmo entre sua
população há controvérsias sobre a origem de suas formas. É de fundamental importância
principalmente para o seu povo o entendimento deste processo, o resgate de sua história
através de sua arte, o registro de um processo que é a identidade visual de sua etnia. Será
importante entender seu processo genético de seu grafismo, com o objetivo maior de produzir
um documento audiovisual que pode ser “trabalhado” nas escolas das aldeias, um material
que traz consigo o registro do processo de construção da arte Terena.
Em relação à disciplina de Arte apresentam-se algumas dificuldades. Parte dos
entrevistados afirmou não gostar da mesma e outros disseram não gostar de desenhar. Isso
constitui ponto de estrangulamento na aprendizagem da Arte Terena, uma vez que ela se
assenta exatamente na necessidade de desenhar, pintar e confeccionar criticamente e
satisfatoriamente.
Sem o hábito do grafismo não se alcança a capacidade de perpetuar a cultura de
forma concisa. Para concretizar este propósito, foram usados procedimentos tradicionais de
coleta de informações, aplicação de questionários, leitura de dados estatísticos já disponíveis,
entre outros.
A análise dos significados do grafismo indígena como linguagem, está ainda em seu
processo de descobertas. Qualquer objeto, por mais trivial que seja, como um ralador de
mandioca, apresentará no seu design e confecção a associação de um conteúdo utilitário a
uma mensagem artística.

REFERÊNCIAS
BORGES, M. V. As falas feminina e masculina no Karajá. Dissertação (Mestrado em Lingüística) –
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Vol.6 – Arte. Brasília: MEC, 1997.
Pág. 19.

KAHN, Mariana e AZEVEDO, Marta. O que está em jogo no desafio da escolarização indígena. Rio de
Janeiro: IBASE, jul. 2004.

KIGA, Evaristo. Apresentação. Membro do Conselho de Educação Escolar Indígena do Mato Grosso. In Félix,
2007, p. 56.

MADUEÑO, Denise (25 de março de 2010). Questão indígena - cresce o número de indígenas nas cidades.
Caderno Nacional. Jornal O Estado de S.Paulo.
15

MONTE, Nietta Lindenberg. Os outros, quem somos? Formação de professores indígenas e identidades
interculturais. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 111, dez. 2000.

MINAYO, M.C.S. et all. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro, Vozes, 1994.

OLIVEIRA, E. M. & BUCHALA, S. A. O sistema e a linguagem da educação ambiental: uma proposta de


análise. (IN) First World Environmental Education Congress. Espinho, Portugal, Anais do Congresso, p.102,
2003.

Sites pesquisados:
http://www.mte.gov.br
www.ceramicanorio.com.

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