Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O presente trabalho aborda as questões relacionadas à cultura, dança e adornos corporais Terena na Aldeia
Limão Verde, PIN Limão Verde - do município de Aquidauana - MS. Busca-se compreender os conceitos de
Arte, tipos de Arte e a não difusão da Arte nas camadas sociais brasileiras, em específico nas aldeias Terena.
Parte-se do pressuposto que a questão artística no mundo todo tem sido objeto de discussões em todos os meios
sociais. Na aldeia mencionada à questão se torna evidente, pois, a tradição da Arte Terena perpassa dos pais para
os filhos – muitos guardam esta informação, dificultando a utilização e massificação destes adornos da etnia
Terena. Com este trabalho pretende-se analisar os adornos corporais Terena sob a luz de estudo de campo na
Aldeia Limão Verde, no município de Aquidauana - MS. Conhecer a aplicabilidade da arte no âmbito de uma
aldeia da etnia Terena é o objetivo norteador deste trabalho. O presente trabalho trata-se de um estudo preliminar
sobre a arte, em especial a cerâmica, desenvolvida por índias que vivem na Reserva Indígena Terena, a segunda
maior área indígena do Centro-Oeste brasileiro e, posteriormente, os adornos produzidos e comercializados por
elas. A metodologia foi de caráter quantitativo e qualitativo e foram registradas, descritivamente, atividades em
sala de aula na Escola Municipal Indígena “Lutuma Dias”e na Escola Estadual Pascoal Leite Dias, com
elementos culturais desta etnia. Dessa maneira, apresenta-se o registro destas atividades, colaborando, assim,
com a organização e com a socialização dos conhecimentos voltado para a Arte e Cultura Terena adquiridos
pelos professores indígenas e que possam ser utilizados pelos futuros docentes da comunidade Terena.
1. INTRODUÇÃO
Com este trabalho pretende-se apresentar o Grafismo Terena sob a luz de estudo de
campo na Aldeia Limão Verde, no município de Aquidauana - MS, em caráter quantitativo e
qualitativo. Conhecer a aplicabilidade da disciplina Artes Visuais no âmbito de uma aldeia da
etnia Terena foi o objetivo principal deste trabalho. O presente trabalho trata-se de um estudo
preliminar sobre a Arte, em especial a cerâmica e os adornos corporais, usados por jovens e
índias que vivem na Reserva Indígena Terena, localizada no município de Aquidauana,
Estado de Mato Grosso do Sul.
Este trabalho abordará o histórico do povo Terena, a importância da arte de
confeccionar adornos corporais para a preservação da identidade cultural dos índios Terena da
Aldeia Limão Verde e, ainda, a produção e o destino dos adornos confeccionados pelos índios
fazendo uma correlação entre a produção e a utilização dos mesmos.
1
Professora graduada em Geografia - UFMS e cursando especialização em Metodologia do Ensino de Artes.
2
Professora graduada em Artes Educadora com especialização em Metodologia do Ensino de Artes e orientadora
do Grupo Uninter.
2
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. ARTE INDÍGENA NO BRASIL
Segundo Madueño (2010), os índios pintam o corpo para enfeitá-lo e também para
defende-lo contra o sol, os insetos e os espíritos maus. E para revelar de quem se trata como
está se sentindo e o que pretende. As cores e os desenhos “falam”, dão recados. Boa tinta, boa
pintura, bom desenho garantem boa sorte na caça, na guerra, na pesca, na viagem. Cada tribo
e cada família desenvolvem padrões de pintura fiéis ao seu modo de ser. Nos dias comuns a
pintura pode ser bastante simples, porém nas festas, nos combates, mostra-se requintada,
cobrindo também a testa, as faces e o nariz. A pintura corporal é função feminina, a mulher
pinta os corpos dos filhos e do marido.
Assim como a pintura corporal, a arte plumária serve para enfeites: mantos, máscaras,
cocares, e passam aos seus portadores elegância e majestade. Esta é uma arte muito especial
porque não está associada a nenhum fim utilitário, mas apenas a pura busca da beleza.
pertencem ao tronco lingüístico Aruak. Cultivam em suas terras arroz, feijão, feijão de corda,
maxixe, mandioca e milho, alimentos que formam a base de sua alimentação.
A alternativa atual do artesanato Terena, como meio de subsistência, se dá,
principalmente, através do barro, da palha, da tecelagem - atividades que representam um
nítido resgate de sua arte ancestral indígena.
14%
4% Ensino Fund.
45% Ensino Méd. Magist.
Ens. Méd. Indígena
16% Ens. Méd. Compl.
Ens. Superior
21%
Gráfico 1 – Formação de Professores Indígenas. Fonte: INEP, Educação Indígena, Brasil, 2007.
4
3.2. PINTURA
A pintura do corpo Terena é indispensável nas danças e festas. Pintam o corpo com
riscas, em branco, vermelho e preto e utilizam-se do jenipapo e do carvão vegetal. Os
desenhos são feitos de uma excessiva fineza e apresentam uma harmonia e uma delicadeza
que é impossível de se descrever. Colares, brincos e cocares de pena de aves silvestres
completam o adorno. Os sons do tambor e da flauta misturam-se ao chocalho das sementes; os
corpos estão pintados e os passos são bem marcados. As penas e as roupas feitas de buriti
refletem a realidade de um grupo de pessoas que não se encaixaria no que se define como o
modo de vida urbano.
3.3. CERÂMICA
A cerâmica é trabalho predominantemente feminina. Neste particular salientamos
algumas regras seguidas pelas mulheres, de acordo com os dados coletados na Pesquisa de
Campo: 1. Em dia que se vai fazer cerâmica não se vai para a cozinha. Interdito com base
que: “o sal é inimigo do barro”. 2. Não trabalham com barro quando estão menstruadas. 3.
Não trabalham durante a lua nova.
Cabem aos homens, por tradição na maioria das nações indígenas, Somente o trabalho
de extrair o barro e processar a queima, tarefas que exigem maior vigor físico. As peças são
modeladas manualmente com a técnica de roletes (cobrinhas). Atualmente alguns se valem do
torno de oleiro (sem motor elétrico). Usam em seus trabalhos argilas de diversas cores
dependendo da região: preta, branca e vermelha e amarela. Com algumas delas fazem engobes
para serem usados na decoração das peças, visando a obtenção de cores contrastantes e realces
pictográficos. Os padrões dos grafismos usados pelos Terena são basicamente o estilo floral,
pontilhados, tracejados, espiralados e ondulados. Os Terena produzem peças utilitárias e
decorativas: vasos, bilhas, potes, jarros, animais da região pantaneira (cobras, sapos, jacarés
que são chamados de bichinhos do pantanal), além de cachimbos, instrumentos musicais e
variados adornos. O acabamento das peças é feito com ferramentas rudimentares: seixos
rolados, espátulas e ossos.
O barro (massa) é preparado misturando aditivos (por eles chamados de temperos),
para regular a plasticidade: pó de cerâmica amassado e peneirado, conchas trituradas, cinzas
7
de vegetais etc. Numa fase anterior são retirados da argila resíduos como restos de vegetais e
pedras. As queimas são feitas em fogueiras a céu aberto ou em rudimentares fornos, usando
lenha como combustão. Os indígenas verificam o estado do ciclo da queima tilintando com
um pedaço de taquara nas peças. Através do som obtido constatam o estágio da cozedura. As
peças produzidas pelos Terena podem ser encontradas em Miranda, Aquidauana e na Casa do
Artesão de Campo Grande, além de muitos outros locais, como na Internet no endereço
eletrônico www.ceramicanorio.com.
Figura 1 – Índios Terena dançando o Bate-Pau. Fonte: Acervo Pessoal ORTEGA, Geyse (2010).
3
Informações obtidas no site: http://ruminandocultura.blogspot.com/2008_01_01_archive.html
8
As roupas são feitas com esmero, as penas de Ema são presas uma a uma, mostrando o
porquê a dança também recebe o nome desta ave. Os primeiros passos são lentos, lembrando
os passos do Jaburu, uma ave aquática da fauna pantaneira. Os homens formam duas fileiras e
são guiados pelo chefe que fica na ponta. Em seguida, imitam os passos da Ema e retornam ao
início. Guiados por palavras em Aruak – idioma terena - eles simulam uma guerra,
arremessando os bambus uns contra os outros.
No final da dança, uma homenagem: os paus são cruzados em baixo para que o
cacique seja suspenso. Nesse momento as peles morenas, as tintas pelo corpo e as saias
ganham ainda mais significado para aqueles homens. Seus olhos e sua força indicam a
intensidade daquela dança e as pessoas em volta se emocionam. O homem sobre os bambus
diz frases fortes na língua Terena, e os demais respondem no mesmo tom. O momento é de
convergência. Toda atenção está voltada para a beleza de uma cultura esquecida em meio aos
prédios e construções de concreto.
Não há consenso sobre a origem da dança do Bate-Pau. Para uns, a dança lembra a
vitória da etnia terena na Guerra do Paraguai. A partir desse ponto de vista, seus passos
marcam desde a preparação para a guerra até a festividade da vitória. Para outros, ela surgiu a
partir de “um sonho de um pajé em que estava numa mata, assistiu essa dança e a trouxe para
a aldeia”. Para os mais antigos, “é um absurdo falar que a dança surgiu depois da Guerra do
Paraguai. Ela é um costume do povo e é tão antiga quanto ele”.
Quem denominou como dança do Bate-Pau foi o homem branco - purutuyé, já que é a
coisa mais marcante durante as apresentações. Mas para indígenas a dança recebe o nome de
dança da Ema por causa das saias feitas das penas dessa ave e de alguns passos que simulam a
movimentação dela.
3.5. ADORNOS
3.5.1. COLARES
Os colares de uso feminino, confeccionados com dentes de macaco e quati,
intercalados por sementes Os colares de uso feminino, confeccionados com dentes de macaco
e quati, intercalados por sementes pretas e "lágrima de Nossa Senhora", eram presos a um
cordel formado por fibra de buriti trançado. Eles eram usados antigamente apenas pelas
mulheres que hoje, já não usam mais. Os homens usavam colares com dentes de porco
queixada. Atualmente os homens usam os colares de dentes não só dos animais citados, como
também de jacaré e onça. Há também a confecção de colares de sementes nativas feitos pelas
mulheres. Na sua confecção são utilizadas sementes de fedegoso, imbiruçú e mirindiba ou
9
ximbuba, que existem na vegetação local. Existem, ainda, os colares produzidos com penas e
fios de tucum e podem ser feitos por homens, mulheres e crianças e podem ser usados em
qualquer época.
3.5.2. ANÉIS
O anel de coco é fabricado por homens e mulheres; é usado por todos, para adornar o
dedo. A matéria-prima é o coco de tucum. Além de ser usado para fazer anel, o coco possui
uma castanha comestível. O anel pode ser feito de coco seco ou verde, a diferença fica na cor.
Os anéis do coco verde ficam de cor marrom e os anéis do coco seco ficam pretos.
3.5.3. PULSEIRAS
As pulseiras confeccionadas pelo povo Terena possuem diferentes fibras e sementes.
Pode ser feita de tucum, de semente de tento e pode ser usada também como tornozeleira
feminina. São também feitas com fio de tucum e enfeitadas com espinhos de ouriço e com
semente de quissé, também conhecida por capim navalha - as pulseiras com semente de quissé
eram as mais utilizadas antigamente pelas mulheres. Existem pulseiras feitas de coco de
tucum, onde o coco é cortado ao meio e lixado para ficar brilhoso. As pulseiras são peças
produzidas por mulheres e podem ser usadas por qualquer pessoa.
4. METODOLOGIA DE ESTUDO
Realizou-se uma observação participante, com base em Minayo (1994), esta
metodologia possibilita a contemplação e compreensão de aspectos decisivos na investigação,
pois uma leitura simplesmente quantitativa suprimiria estes importantes aspectos. Outra
característica deste tipo de estudo é a questão relativa aos dados coletados, pois "são
predominante descritivos". Análise da documentação escrita, a qual contribuiu para a
compreensão do processo histórico e do quadro sociocultural e político da educação escolar
indígena e a aplicação de questionário semi-estruturado com alunos dos anos finais do Ensino
Fundamental da Escola Municipal Indígena “Lutuma Dias”e do Ensino Médio da Escola
Estadual Pascoal Leite Dias. O estudo em causa foi enquadrado, essencialmente qualitativo,
embora possua técnicas de coletas de dados quantitativos.
Dois instrumentos tornaram-se relevantes para a comprovação de nossa hipótese: uma
pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo em forma de questionário. A pesquisa
bibliográfica objetivou a história da educação indígena, a influência e utilização na superação
10
15%
EFM / SIM
EFM / NÃO
85%
Nas respostas dos alunos do Ensino Fundamental e Médio (EFM) podemos perceber
que 85% sabem fazer artesanato indígena na aldeia Limão Verde.
A segunda pergunta foi: Quem ensinou a fazer o artesanato indígena?
26%
36%
18%
20%
Dos alunos entrevistados 26% aprenderam artesanato com os avôs, seguido em 18%
dos que aprenderam com os pais. Este fator nos chamou a atenção, pois a maioria dos
indígenas Terena aprendeu artesanato fora do eixo familiar, com outras pessoas da aldeia.
A terceira pergunta foi: Gosta de usar adornos indígenas?
23%
Sim
Não
77%
Dos alunos entrevistados 77% afirmaram gostam de usar adornos e que a escola
propicia momentos para aprender a confeccionar estes adornos. Sabemos que um dos
principais objetivos da escola é o de formar cidadãos para o mundo; para tanto, é preciso fazer
com que os alunos adquiram competências através do contato com sua diversidade.
A quarta pergunta foi: \Costumar usar adornos indígenas?
12
9%
30%
Sempre
Datas Importantes
Nunca
61%
12%
26%
50%
12%
Dos alunos entrevistados 67% afirmaram que usam de todos os adornos e que os
mesmos valorizam a cultura Terena, seguido do colar (34%), brinco e pulseira, ambos com
16%.
A sexta pergunta foi: Qual adorno é mais usado por você?
11%
20%
26%
43%
Dos alunos entrevistados 57% afirmaram que gostam de pulseiras, seguido do colar
(35%), brinco (14%) e 27% dos alunos entrevistados usam todos os adornos mencionados
na pesquisa.
A sétima pergunta foi: Gostaria de aprender a arte de confeccionar adornos na
escola?
16%
84%
Sim Não
16%
24%
60%
Dos alunos pesquisados 60% afirmaram que não usam os adornos Terena, porque não
sabem confeccioná-los, 16% dos alunos não usam os adornos porque a religião não permite
e 24% destes não usam porque não gostam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo sendo um texto fruto de resultados preliminares pode-se aferir e adiantar que a
cultura do povo Terena tem raízes profundas, através da vivência e de hábitos adquiridos e
14
perpassados dos pais aos filhos, constituindo, assim, a tradição do povo indígena, em especial
da Aldeia Limão Verde, do município de Aquidauana - MS.
O entendimento da construção e do significado do grafismo da cerâmica Terena tem
sido motivo de muitas especulações quanto as suas reais origens, hoje até mesmo entre sua
população há controvérsias sobre a origem de suas formas. É de fundamental importância
principalmente para o seu povo o entendimento deste processo, o resgate de sua história
através de sua arte, o registro de um processo que é a identidade visual de sua etnia. Será
importante entender seu processo genético de seu grafismo, com o objetivo maior de produzir
um documento audiovisual que pode ser “trabalhado” nas escolas das aldeias, um material
que traz consigo o registro do processo de construção da arte Terena.
Em relação à disciplina de Arte apresentam-se algumas dificuldades. Parte dos
entrevistados afirmou não gostar da mesma e outros disseram não gostar de desenhar. Isso
constitui ponto de estrangulamento na aprendizagem da Arte Terena, uma vez que ela se
assenta exatamente na necessidade de desenhar, pintar e confeccionar criticamente e
satisfatoriamente.
Sem o hábito do grafismo não se alcança a capacidade de perpetuar a cultura de
forma concisa. Para concretizar este propósito, foram usados procedimentos tradicionais de
coleta de informações, aplicação de questionários, leitura de dados estatísticos já disponíveis,
entre outros.
A análise dos significados do grafismo indígena como linguagem, está ainda em seu
processo de descobertas. Qualquer objeto, por mais trivial que seja, como um ralador de
mandioca, apresentará no seu design e confecção a associação de um conteúdo utilitário a
uma mensagem artística.
REFERÊNCIAS
BORGES, M. V. As falas feminina e masculina no Karajá. Dissertação (Mestrado em Lingüística) –
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1997.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Vol.6 – Arte. Brasília: MEC, 1997.
Pág. 19.
KAHN, Mariana e AZEVEDO, Marta. O que está em jogo no desafio da escolarização indígena. Rio de
Janeiro: IBASE, jul. 2004.
KIGA, Evaristo. Apresentação. Membro do Conselho de Educação Escolar Indígena do Mato Grosso. In Félix,
2007, p. 56.
MADUEÑO, Denise (25 de março de 2010). Questão indígena - cresce o número de indígenas nas cidades.
Caderno Nacional. Jornal O Estado de S.Paulo.
15
MONTE, Nietta Lindenberg. Os outros, quem somos? Formação de professores indígenas e identidades
interculturais. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 111, dez. 2000.
MINAYO, M.C.S. et all. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro, Vozes, 1994.
Sites pesquisados:
http://www.mte.gov.br
www.ceramicanorio.com.