2
É importante, ainda, destacar que uma visão de mundo se
organiza numa unidade coerente de sentido, que dá forma
àquilo que cada um acredita sobre o cosmos – o mundo
organizado. O estudo das cosmovisões nos revela que as
crenças e disposições básicas não atuam de forma separada,
mas dentro de uma dinâmica interligada e sistemática. Cada
cosmovisão se mostra como um sistema de pensamento completo.
Por isso, os pressupostos metafísicos, ontológicos,
epistemológicos e éticos se conectam de forma indissociável.
De igual modo, as narrativas exercem forte influência sobre
a percepção de mundo do indivíduo, que podem, na prática,
até contrariar os pressupostos racionalmente declarados,
revelando suas crenças mais enraizadas em seus
comportamentos.
3
se inicia em Gênesis, no Jardim do Éden, e desenvolve-se no
plano de redenção, tendo seu desfecho na Nova Jerusalém, o
jardim restaurado em Apocalipse. Desse modo, criação, queda,
redenção e consumação formam a base para aquilo que o cristão
crê sobre Deus, sobre o ser humano, sua origem, seu fim,
sobre como deve viver, sobre a fonte de conhecimento que lhe
assegura a veracidade de todas essas coisas (as próprias
Escrituras), e enfim, fundamentam sua compreensão sobre a
realidade. Não por menos, Herman Dooyeweerd declara que “o
motivo bíblico da religião cristã – criação, queda e redenção
por meio de Cristo Jesus – opera por meio do Espírito de
Deus como força motriz na raiz religiosa da vida
temporal”.[3]
4
tempo, que tem poder para dar sustento e continuidade a tudo
o que existe, então nenhuma narrativa descrita nas Escrituras
pode carecer de coerência, e nada do que o Criador requer de
suas criaturas é despropositado. A bem da verdade, a primeira
sentença da Bíblia, encontrada em Gênesis 1.1, “No princípio,
criou Deus os céus e a terra”[4], torna possível, exequível
e exigível todo o resto. Um Deus que tudo criou pode fazer
o que quiser e como quiser, mesmo que pareça absurdo e sem
explicação aos olhos da ciência ou das tradições humanas.
Aliás, a ciência é limitada ao que pode observar e testar
empiricamente no âmbito dos fenômenos naturais, e muitos
acontecimentos descritos na Bíblia estão fora do alcance de
sua análise. A criação ex-nihilo foi um evento único, que o
homem pode buscar entender, mas que deve, porém, aceitá-lo
como fato histórico e sobrenatural, antes de ser científico.
A propósito, render-se aos limites humanos é sabedoria, como
concluiu o pregador no Livro de Eclesiastes (8.17): “então,
contemplei toda a obra de Deus e vi que o homem não pode
compreender a obra que se faz debaixo do sol; por mais que
trabalhe o homem para a descobrir, não a entenderá; e, ainda
que diga o sábio que a virá a conhecer, nem por isso a poderá
achar”. E é importante salientar que tudo que o Criador
escolheu revelar tem o propósito de obediência à sua lei,
conforme exortado em Deuteronômio (29:29): “As coisas
encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as
reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para
sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”.
Desse modo, a epistemologia bíblica é autoritativa e por
revelação, carregando, intrinsecamente, um propósito ético
em si.
5
salmista, “Vivifica-me, segundo a tua misericórdia, e
guardarei os testemunhos oriundos de tua boca”. – Salmo
119:88. Por isso, uma analogia um tanto quanto simplória,
mas que cumpre papel didático importante neste estudo seria
comparar a Bíblia a um manual do fabricante. O manual de um
produto industrializado nos ajuda a ter uma visão completa
sobre ele, e ignorá-lo certamente não é uma boa ideia. A
explicação do fabricante sobre o material que a mercadoria
é feita, sobre como é montada e como deve ser utilizada, nos
ajuda a entender para que ela serve, como funciona e como
deve ser cuidada. Certamente, um manual de instruções não é
uma cosmovisão, mas temos aí categorizados os seus elementos:
uma fonte de conhecimento considerada confiável acerca da
mercadoria, uma exposição sobre a origem e a natureza do
produto, e, finalmente, sobre como utilizá-lo para melhor
atingir o seu fim. Toda informação que ali consta é de
fundamental importância para o seu uso adequado, para
prolongar e dar qualidade à sua vida útil. Por mais simplista
que seja a analogia, com o ser humano é a mesma coisa! As
informações as quais dermos credibilidade acerca de como, do
que e para que fomos feitos alteram, invariavelmente, o que
acreditamos sobre quem somos, o nosso propósito e, não menos
importante, tem consequências inevitáveis sobre as nossas
concepções éticas. Para a fé cristã, é a Bíblia que nos
informa todas essas coisas.
6
carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
(Mateus 19.4-6).
7
e fêmea. Sendo assim, a forma correta de eles se relacionarem
intimamente é através do casamento. Ao afirmar “E ordenou”,
Jesus nada mais fez do que entregar uma conclusão ética
coerente com a metafísica, ontologia e epistemologia
apresentadas em sua reposta: “Por isso o homem deixará pai
e mãe e se unirá à sua mulher; e serão os dois uma só carne…
Assim, não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que
Deus uniu o homem não separe”.
8
largamente difundido – a visão que as ciências duras são a
única ou a maneira vastamente superior de saber as coisas,
especialmente em comparação à teologia e ética – na nossa
cultura, evolucionistas teístas reforçam esta visão ao
revisar constantemente os ensinos bíblicos e interpretações
por causa do que a ciência diz. Assim, ao adotar esta
perspectiva epistemológica não-bíblica, evolucionistas
teístas enfraquecem a autoridade racional do ensino bíblico
entre cristãos e não-cristãos. Como resultado, a Bíblia não
é mais considerada por muitos como uma fonte genuína do
saber, e menos e menos pessoas levam a Bíblia a sério. Dessa
maneira, talvez não intencionalmente, aqueles que adotaram
a evolução teísta, marginalizam as reivindicações da verdade
cristã na igreja e na praça pública.[5]
9
Ao longo deste estudo, tais ideias serão mais exploradas.
Coube neste item, porém, firmar o enunciado acerca da
importância do relato da criação como pilar da cosmovisão
cristã, bem como, por conseguinte, fazer sua ligação
essencial com a ética sexual bíblica.
10
Não pode haver melhor maneira de analisar a antítese cristã
do que partindo de sua própria Divindade. Quando Moisés
perguntou quem ele deveria dizer que o enviou, a resposta do
Senhor foi: “EU SOU O QUE SOU” (Êxodo 3.14). Não há síntese
em Deus. Nem mesmo pode haver, pois nada há que possa sequer
ser apresentado como antítese para si. Apesar de vivo,
infinito e dinâmico, ELE É O QUE É. Imutabilidade é um de
seus atributos. Sobre a segunda pessoa de Trindade, Hebreus
(13.8) diz: “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será
para sempre”. Tiago (1.17), por sua vez, escreveu: “Toda boa
dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai
das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de
mudança.”. E em Malaquias (3.6) ouvimos da parte do próprio
Deus: “Pois eu, o Senhor, não mudo”.
11
natureza do restante da criação, e não uma síntese de outros
animais. E isso, para os fins de nossos estudos neste artigo,
como vemos, carrega consequências.
12
religiosa que está escondida daquele que pensa”[12]: A
questão central está nas consequências de se admitir a
dialética como realidade última para explicação de toda
existência. O Deus Criador encontrado na Bíblia não é síntese
de duas ideias, seres ou objetos. Ele é o Ser necessário e
imutável. E a maneira em que ele opera e o que ele criou
seguem o mesmo padrão do seu Ser. Dooyeweerd explica mais
este assunto:
[..]
13
Nessa busca, ela procura abrigo num dos princípios
antitéticos dentro do motivo básico, dando a ele prioridade
religiosa. Ao mesmo tempo, acaba por rebaixar e desprezar o
princípio oposto. Mas a ambiguidade e a fragmentação do
motivo básico não dão acesso a uma conciliação numa unidade
verdadeira mais elevada. A conciliação torna-se impossível
por causa do próprio motivo básico. Por fim, será necessário
fazer uma escolha.[14]
14
integral do que a Bíblia apresenta acerca da sexualidade
humana e de todo pensamento que lhe dá a base ética.
15
Em The Universe Next door, James W. Sire faz uma reflexão
sobre as cosmovisões básicas que determinam o modo pelo qual
pensamos – tais como deísmo, naturalismo, niilismo,
existencialismo e pós-modernismo, e traça um panorama
histórico de como elas se desenvolveram desde o declínio da
visão teísta até o advento da pós-modernidade. O autor
demonstra que o naturalismo, a visão de que toda a lei e
toda a força operando no universo é natural (ou seja, todos
os fenômenos da realidade devem ser explicados a partir de
leis naturais e físicas), tem fornecido a crença básica que
suporta visões alternativas à explicação cristã da realidade
nos motivos básicos de criação, queda, redenção e
consumação, bem como “concede a moldura para a maioria do
estudos científicos”.[16]
16
podem ser observados empiricamente. Tim Keller, autor e
pastor presbiteriano, em sua aclamada obra The Reason for
God, escreveu:
17
da cristandade, mas encontrou solo fértil na era do humanismo
secular. E por que se afirma isso?
18
primeira afirmação (como de fato o é), proporcionando
validade a todo resto do livro. Ao se apresentar para Moisés
como o “Eu Sou”, Deus, ao mesmo tempo que confirma Gênesis
1.1, confere legitimidade à revelação que entrega ao profeta.
Uma cadeia de confirmações das Escrituras ocorre a partir
dos textos mosaicos, cujo primeiro princípio hermenêutico é
que as escrituras interpretam as escrituras. Igualmente, do
modo que o Criador em sua essência se apresenta (como
espírito, infinito, pessoal e pré-existente) para dar
autoridade ao que revela, é também pelo modo que a criatura
é introduzida aos cosmos criado que podemos ter
confiabilidade no que se requer dela.
19
da criação na Bíblia. É verdade que por conta da influência
bíblica na cultura do Ocidente pelo período milenar da
cristandade, as Escrituras não podem ser ignoradas, nem mesmo
na sociedade pós-cristã. Logo, a opção se dá por uma
interpretação metafórica ou simbólica do livro que revela a
origem da humanidade. Pois, se suas afirmações, por mais
categóricas e absolutas que sejam, podem ser compreendidas
através de uma leitura simbólica, esvazia-se o significado
e as aplicações pretendidos pelo autor original. Ninguém lê
a bula de um remédio como metáfora. Se o fizer, corre o risco
de não ver surtir o efeito de cura esperado, vez que poderá
administrar dose menor que o necessário, ou, até mesmo,
provocar um óbito por overdose. Aliás, se numa bula medicinal
você lesse uma instrução hermenêutica do tipo: “As instruções
aqui contidas são metafóricas, e não devem ser interpretadas
de forma literal”, você não daria o mesmo nível de atenção
nem para o que está ali escrito e nem mesmo para o remédio
que ela pretende prescrever. Essa é uma ilustração pequena
de um conflito epistemológico que surge quando se muda um
método interpretativo de um livro. Ainda que na Bíblia exista
todo tipo de gênero de literatura, cada livro nela contido
deve ser lido dentro de seu estilo literário. Assim, por
que, então, dar-se-ia valor empírico a um livro histórico do
qual não podemos saber se está lidando com fatos reais? Ora,
nada mais conveniente para quem não quer se submeter à ética
bíblica e busca ter a própria razão como árbitro do que deve
ser levado em conta no texto. Prato cheio para um ambiente
intelectual propício à ideologia de gênero, que simplesmente
não pode se debruçar em Adão e Eva históricos.
20
Ao negar uma moralidade fundamentada na ordenança divina, o
homem é entregue a axiomas imanentes e se vê obrigado a
sustentar normas objetivas morais. A partir disso, houve
tentativas de erigir uma explicação sólida e coerente de uma
moralidade norteadora das normas dissociada de qualquer base
transcendental. Entretanto, ao negar a existência de Deus,
de acordo com a Cosmovisão Cristã, o homem é encontrado em
um mundo resultante da evolução natural (tempo, matéria e
acaso). Neste ponto, o problema está na tentativa de se
extrair normas morais objetivas de fatos empíricos.[21]
21
Está se tornando ortodoxia científica. Mas como isso se
encaixa na teoria da evolução de Darwin?[22]
[…]
22
open. If you have questions and are wondering what this all
means I’ll try my best to explain…
23
é fruto de uma cultura que absorveu uma maneira peculiar de
ver e interpretar o mundo, a existência, o ser humano, a si
mesmo. Uma cosmovisão majoritária que oferece uma
metanarrativa de começo impessoal, regida pelo acaso,
resumida à matéria, sem propósitos previamente
estabelecidos, e em constante transformação, enseja tal
leitura dialética da sexualidade.
Conclusão
24
importância de cada elemento de uma visão de mundo se dá
pelos desdobramentos lógicos de seus enunciados. Os
pressupostos metafísicos, ontológicos, epistemológicos e
éticos se conectam de forma indissociável. A fé cristã tem
seus quatro pilares fundamentais na metanarrativa da
criação, queda, redenção e consumação. A moralidade
relacionada às relações humanas parte da sua teologia
criacional. Adão e Eva históricos criados à imagem e
semelhança de Deus com propósitos biológicos, sociais e
espirituais pré-definidos e permanentes entregam à
humanidade uma natureza definida de gênero, bem como o
cumprimento de certa ética em sua sexualidade.
25
para algumas reflexões conclusivas importantes a respeito da
temática proposta.
26
Ora, isso que o Movimento Nacional Holandês propôs no século
passado nada mais é do que a repetição do culto ao Imperador
de Roma: cada um poderia adorar seus deuses locais, mas todos
teriam de declarar que César é κύριος. O culto romano e o
humanismo da Holanda pós-guerra apresentam propostas
idênticas de síntese entre suas cosmovisões e o cristianismo.
E a tensão entre César e Cristo é a mesma que hoje existe
entre o humanismo secular e a antítese cristã. Porém, como
Dooyeweerd destaca, a dialética religiosa carece de síntese
real, posto que “a conciliação torna-se impossível por causa
do próprio motivo básico”. Tanto para César como para o
Movimento Nacional Holandês, não há que se combater o que se
pode imiscuir, pois promiscuidade é parte dos seus axiomas
dialéticos. Ou seja, a síntese proposta é, na verdade, a
imposição dos seus próprios valores.
27
Mas ele argumenta que termos como “identidade de gênero”, e
“expressão de gênero” são muito amplos, são as “proposições
de construcionismos sociais radicais”, e estão sendo usados
para intimidar oponentes à submissão.[29]
28
pessoa gay – essa condição de gay descreve quem alguém é na
essência), sua teologia não permite de qualquer maneira um
entendimento de por que homossexualidade, até mesmo em nível
do desejo, é pecaminoso e necessita de graça e
arrependimento. Para o Cristão Side B, homossexualidade é
uma sexualidade – uma de muitas.
[…]
29
Western Philosophy and Theology”, no qual o autor ensina que
as heresias na história da Igreja seguem um padrão que se
inicia na síntese entre as Escrituras com uma filosofia não-
cristã. Logo, então, vem a urgência de lidar com o problema,
emergindo um reformador para liderar os ortodoxos através
das verdades fundamentais, e finalmente um consolidador após
a controvérsia para repensar a teologia a partir do
conhecimento adquirido.[31]
30
É louvável a iniciativa de muitos cristãos sinceros em
desejar participação efetiva no mundo científico. Seus
esforços nos campos específicos do conhecimento devem ser
respeitados e encorajados. No entanto, a mesma suspeita que
cientistas podem ter de uma aproximação amadora dos teólogos
acerca de pesquisas científicas complexas, os teólogos podem
ter dos cientistas quando estes lidam com teorias que possuem
profundas implicações teológicas, filosóficas e éticas.
31
a ela nos diversos campos de estudo e da ciência em que estão
envolvidos, proporcionando diálogos saudáveis e produtivos
em todas as áreas do saber da natureza e das relações
humanas, especialmente acerca deste tópico da sexualidade.
Espera-se que o presente artigo acabe por estimular o bom
debate.
SDG
_________________________
[1] SIRE, James W. The Universe Next Door: a basic worldview
catalog. 4ª ed. Downers Gove/IL, InterVarsity Press, 2004.
Os conceitos apresentados neste artigo sobre cosmovisão são
tratados nesta obra.
[2] BARRS, Jerram. Francis Shaeffer: the man and his message.
Reformation 21: The Online Magazine of the Alliance of
Confessing Evangelicals. Edição de novembro de 2006.
Disponível em https://www.covenantseminary.edu/francis-
schaeffer-the-man-and-his-message/. Acesso em 20 de setembro
de 2018.
32
[5] MORELAND, J.P. How Theistic Evolution Kicks Christianity
Out of the Plausibility Structure and Robs Christians of
Confidence that the Bible is a Source of Knowledge. En
(editores). MORELAND, J.P.; MEYER, Stephen C.; SHAW,
Christopher; GAUGER, Ann K.; GRUDEM, Wayne. Theistic
Evolution – A Scientific, Philosophical, and Theological
Critique. Wheaton/IL, Crossway, 2017, p. 633. (Tradução
minha)
33
[14] Ibidem, p. 27.
34
com o Douttorato di ricerca in Scienze Giuridique, da
Universidade de Perugia, como requisito parcial à obtenção
de título de Doutor em Ciência Jurídica, 2017, p. 52.
35
ter de, necessariamente, acreditar na Grande Teria da
Evolução, ou seja, em evolucionismo como uma cosmovisão. É
digno ainda de menção o argumento evolucionário contra o
naturalismo, de Alvin Plantinga, que também é explicado no
artigo citado. No entanto, o que o presente texto pretende
colocar no tocante ao tema em debate é a possibilidade de
racionalização de uma narrativa que a teoria da evolução
proporciona para a relativização da ética sexual.
36
à heresia da salvação pelas obras – com seu extremo em
Tetzel. Lutero forçou o princípio da justificação pela fé
somente, e Calvino consolidou a doutrina. Aliás, Frame aponta
que a própria disputa entre Galileu Galilei e a Igreja
Católica não foi um debate entre a Bíblia e a ciência, e sim
entre os modelos cosmológicos de Aristóteles e Copérnico: “A
Renascença não foi um tempo de descrença. Todos os pensadores
que eu mencionei professavam o Cristianismo. Mas a Bíblia
não tinha um papel central nos seus pensamentos (exceto como
um objeto para os acadêmicos textuais analisarem). No famoso
encontro entre Galileu e a igreja sobre heliocentrismo,
nenhuma das partes se referia muito às Escrituras. O conflito
não era tanto sobre a ciência e a Bíblia quanto o era sobre
a ciência e a cosmologia Aristotélica que a igreja tinha
imposto sobre a Bíblia. Ainda que os pensadores da Renascença
tivessem novas ferramentas linguísticas e textuais para
entender as Escrituras, nenhum deles (até a Reforma) desafiou
as pressuposições filosóficas e culturais com a cosmovisão
da Bíblia.” FRAME, John M. A History of Western Philosophy
and Theology. Phillisburg/NJ, P&R Publishing, 2015, p. 167.
(Tradução minha). Ou seja, não se tratava de um conflito
entre fé e ciência, e sim de um problema advindo da síntese
das Escrituras com filosofia humana que se tomou como
ciência. Ainda, é bom lembrar que o próprio Galileu foi um
Cristão devoto até o fim de sua vida, e nunca viu um divórcio
da religião e ciência, mas apenas um casamento saudável. Nas
suas palavras, “Deus é conhecido pela natureza em suas obras,
e pela doutrina na Palavra revelada”. Ou seja, Galileu
Galilei, que defendeu o heliocentrismo, acreditava na
Bíblia.
37
O drama dos refugiados: caridade e
responsabilidade
A sabedoria indica que, ao procurarmos opinar sobre qualquer
assunto, devemos fugir de conclusões precipitadas e sem
embasamento prático e teórico. O conciliar de teoria e
prática – em linguagem teológica, ortodoxia e ortopraxia –,
temperando o discurso com experiências pessoais e sempre com
a virtude em mente, podemos incentivar os outros em prol da
mesma causa, mais especificamente, a promoção do bem comum.
38
1. O fim supremo e principal do homem; 2. A dignidade da
pessoa humana; 3. Consciência da nossa condição pecaminosa;
4. Qual a função do Estado para garantir uma vida honesta ao
seu povo, sem deixar de exercer práticas de caridade, em
nome da efetivação do bem comum a nível internacional; 5.
Cooperar internacionalmente, sem abandonar a soberania
nacional e a responsabilidade, equilibrando benevolência,
preservação cultural e segurança nacional.
39
sabedoria de Deus, como cidadãos compassivos, temos de amar
as almas imigrantes em nossa comunidade. […] É preciso
considerar como aplicar o evangelho no âmbito de uma
multiplicidade de cores e culturas para a glória de Deus.”[3]
Isto não implica em esquecer que o governo é instrumento de
Deus para “punir os praticantes do mal e honrar os que fazem
o bem” (1Pe 2.14) – se o governo tem a função perante o seu
povo, da mesma forma ele deverá agir com aqueles que desejam
viver em um determinado país, a saber, o estrangeiro.
40
Deve-se notar, no entanto, que os imigrantes nos tempos do
Antigo Testamento não viviam em nossa era moderna de Estados-
nação soberanos onde a imigração de estrangeiros é
discutivelmente muito mais regulamentada de acordo com a lei
estatal. Embora os mandatos bíblicos de amar e acolher o
estrangeiro em nosso meio como nosso vizinho permaneçam como
a lei de Deus, não podemos ignorar as demandas que as leis
civis impõem aos cidadãos e imigrantes nos contextos
contemporâneos dos EUA e internacionais. Além disso, devemos
afirmar o direito do Estado de estabelecer leis e políticas
relativas a assuntos como imigração, incluindo leis que
limitam a imigração de várias maneiras para a proteção e
bem-estar de seus cidadãos. Assuntos como segurança nacional
e tráfico de pessoas, por exemplo, são áreas legítimas e
necessárias de governança, que buscam restringir o mal e
promover o bem (Rom. 13: 3-4).[4]
41
estrangeiro observasse as leis do país – como por exemplo em
Neemias 13.15-22, em que o profeta percebe a não observância
do sábado – inclusive por parte dos tírios que traziam
mercadorias para vender – e age a fim de que todos comportem-
se em observância à lei, vedando a ida dos comerciantes
estrangeiros no sábado para realizar as práticas de mercado.
Eles deveriam estar sujeitos à lei civil do povo de Israel.
Logo após, nos versículos 23 até o 29, encontraremos a
reprovação do profeta ao casamento misto, e, em seguida, o
que Neemias elenca como limpeza de toda estrangeirice.[5]
42
os estrangeiros. Assim como o estrangeiro deveria ser tratado
com justiça e equidade, a comunidade israelita deveria ter
sua crença e integridade preservadas, o que consiste em uma
cobertura dos aspectos econômicos, religiosos e políticos:
(1) Era proibida a associação entre israelitas e estrangeiros
(Êx 23.23-25; Dt 7.16-26 – isto para que o povo não se
afastasse da revelação bíblica de que existe um único e
soberano Deus eterno; (2) Os israelitas não poderiam firmar
pactos com outros povos, e principalmente, com os deuses
destes povos (Dt 7.2); (3) O povo foi recomendado a não
pesquisar, ou efetuar qualquer enlace ou imitação, com os
estrangeiros (como na Cartago, norte da África, em que havia
o sacrifício de crianças), conforme disposição de
Deuteronômio 12.29-31. (4) O estrangeiro não podia
participar da vida política, mais especificamente no quesito
de eleição e deveres do rei (Dt 17.15).
43
lei. Na mesma toada, a passagem de Mateus 22.34-40, que faz
menção e reverbera o conteúdo presente na lei do Antigo
Testamento. A estrutura base da questão legislativa no Antigo
Testamento gira em torno de mandamentos de ordem política e
social, motivados por princípios éticos e teológicos.
Buscamos inspiração tendo em vista que a lei temporal, a de
ontem e a de hoje, tem inspiração na lei eterna – cabe a nós
perceber e filtrar o tema de forma equilibrada:
44
cristãos em busca do efetivo engajamento cultural na política
do nosso país.
45
a perseguição cultural local tradicional, conforme
preleciona Theodore Dalrymple: “na imaginação empobrecida
dos multiculturalistas, […] todos os que não pertencem, por
nascimento, à cultura predominante estão empenhados numa
luta conjunta contra a tirania opressiva e ilegítima”[10] –
por este motivo nossa legislação entende que deve ser
impedido, sumariamente, a permanência de pessoas perigosas,
que tenham praticado atos contrários aos princípios e
objetivos dispostos na Constituição brasileira – assim como
cidadãos brasileiros, os estrangeiros que vivem aqui, se não
andarem conforme as vias legais, estão passiveis de
deportação sumária.
46
de perseguição religiosa – como os cristãos que estão fugindo
da situação de países que:
47
como meio para alcançar um fim: promover uma mudança
geopolítica.
48
orquestrada para consolidação do multiculturalismo e do
progressismo, encontramos, mais uma vez, a subversão de um
bom instituto.[14]
Aquilo que, por natureza, deveria ser uma busca pela redução
da pobreza, torna-se um meio de ressignificação da cultura,
além de estratégia para consolidar pautas como a legalização
do aborto e propagação do ideal gnóstico feminista. A mesma
causa fundamental e subjacente que deu origem à pobreza (a
saber, o pecado), ganha mais corpo no coração da militância
que se utiliza dela como instrumento político. As questões
econômicas que dão ensejo à pobreza material, podem ser
utilizadas como estratégia para consolidar outras
cosmovisões simpáticas ao sistema progressista, o que já é
o caso de países como os Estados Unidos:
49
O que ocorre no Congresso norte-americano é um exemplo
preocupante. Já temos uma congressista de origem porto-
riquenha, Alexandria Ocasio Cortez, que defende a abolição
da Agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira do governo;
outra de origem somali, Ilhan Omar, que acusou a Comissão de
Assuntos Americanos de pagar para influenciar políticas pró-
Israel, uma terceira de origem palestina, Rashida Tlaib, que
vestiu um traje palestino tradicional em seu juramento, e
Ayanna Pressley – ferrenha defensora do aborto.[16]
50
(onde há hoje 37 milhões de imigrantes ilegais). A continuar
assim, que se escancarem logo as fronteiras, acabe-se com os
Estados-nação e que se estabeleça logo um governo mundial
sob a ONU, que imponha a “ditadura do pensamento único” e do
“fascismo do bem”.
3. Caridade e responsabilidade
51
nossa vocação, também podemos cumprir esta missão dada por
Deus.
52
O primeiro passo essencial é um bom mecanismo de filtragem
– análise de necessidade, facilitação de regularização para
pessoas honestas e verdadeiramente necessitadas, firmeza
para agir com os mecanismos penais em caso de perigo à
soberania nacional. O segundo passo é saber como manter, de
forma viável, os nossos hóspedes, ensinando-os a caminhar
com independência financeira em relação ao Estado, além de
possibilitar o retorno à máquina pública, com a geração de
novos empregos, o aumento de empreendedores que atendam a
classe baixa, média e alta, e assim por diante. São pontos
que podem ser explorados por líderes religiosos,
economistas, cientistas políticos e afins – mas só surtirão
efeito longe de análise socialista, que alimenta uma
dependência doentia ao Estado.[23] Pois o verdadeiro amor
pode oferecer um peixe, mas, sobretudo, ensinará a pescar.
_________________________
[1] João XXIII, Carta Encíclica Pacem in terris:
http://w2.vatican.va/content/john-
xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-
xxiii_enc_11041963_pacem.html.
53
veja mais em: < https://www.oantagonista.com/brasil/moro-
altera-portaria-666/ >
54
empenhados em atacar a corrupção, pecado que indiretamente
leva à miséria e degradação humana?
55
necessárias para a avaliação eficiente dos riscos envolvidos
na admissão de um estrangeiro em outro país. A Europa já não
está pagando preço alto por políticas migratórias de teor
parecido?
56
Trump terminou por revogar esse Acordo por meio de uma ordem
executiva.
57
a perseguição das opiniões contrárias a ele. Entre os países
que se retiraram do acordo estão Estados Unidos, Chile,
Israel, Itália, Liechtenstein, Hungria, Eslováquia, Polônia,
Croácia, Bulgária, Romênia, Letônia, República Checa,
Áustria, Austrália, Singapura e Argélia. Mas em telegrama
emitido em 8 de janeiro de 2019, o Ministério das Relações
Exteriores pediu a diplomatas brasileiros que comuniquem à
ONU que o país saiu do Pacto Global para a Imigração. Ernesto
Araújo, o novo ministro das Relações Exteriores, classificou
o documento como “instrumento inadequado para lidar com o
problema”. Para ele, “imigração não deve ser tratada como
questão global, mas sim de acordo com a realidade e a
soberania de cada país”. Esse Pacto é uma interferência na
soberania das nações. Aceitar um imigrante é uma prerrogativa
do país anfitrião. Ninguém pode obrigar uma nação a receber
imigrantes, como ocorreu na União Europeia.
58
sem critérios razoáveis que estimulem o beneficiário a sair
da dependência do Estado, quanto mais perigoso é receber
imigrantes iludindo-os com programas sociais que lhes
garantiriam a sobrevivência. Na prática, a “terceirização”
do amor ao próximo para o Estado está sendo estendida também
à assistência e ao cuidado pelo estrangeiro.
Introdução
Estudo contextual
59
Contexto histórico da passagem
60
É impossível exagerar a importância da chegada do
cristianismo a Tessalônica. Se o cristianismo se estabelecia
em Tessalônica estava também destinado a estender-se ao
oriente pela Via Egnatia até conquistar toda a Ásia […]. O
advento do cristianismo a Tessalônica foi um passo crucial
na transformação do cristianismo em religião mundial
61
Esboço da estrutura literária da epístola
1.1-Saudação inicial
Contexto canônico
Tem sido afirmado que não ocorre uma única citação textual
do Antigo Testamento na Primeira carta aos Tessalonicenses,
contudo, ainda assim é possível dizer que Paulo ao escrever
essa epístola estava tão dependente do Antigo Testamento,
quanto estava de algumas passagens do Novo Testamento (ver:
Mt. 24.43; Lc. 12.39,40). Um exemplo claro dessa dependência
pode ser visto na expressão “o dia do Senhor”, um conceito
bem conhecido do Antigo Testamento, ver: Is. 2.1-4.6-12; Jr.
46.10; Ez. 30.2,3; Sf. 1.14-18; Zc. 14; Am. 5.18-20. [17]
Estudo textual
Texto grego
62
GNT 4ª Ed. Revisada: αυτοι γαρ ακριβως οιδατε οτι ημερα
κυριου ως κλεπτης εν νυκτι ουτως ερχεται.
Tradução literal
Tradução Dinâmica
“Vocês sabem com muita certeza que o dia do Senhor virá como
um ladrão a noite”.
63
1 e termina no verso 11 do capítulo 5, ela abarca os
seguintes assuntos: (1) o dia do Senhor e (2) a necessidades
dos crentes viverem como filhos da luz.
O vocabulário da carta
Comentário
64
A crítica textual
65
correr e se esconder desse dia (o dia do Senhor), em razão
dos pecados que comentem sob o mandato da escuridão, os
filhos da luz não terão o que temer.[28] Donald Guthrie
concorda que Paulo expressa a ideia de “dia” em vínculo com
a luz (…), e acrescenta: “a vinda do Senhor e a vinda da
alvorada estão intimamente associadas (…).[29] O contraste
entre luz e trevas, graça e juízo, sempre caracterizou a
mensagem profética autêntica. Pois como observa J. Jeremias:
“Há profundas razões para ser assim: graça e juízo andam
juntos”. [30]
66
não fosse originalmente messiânica, mas sim teológica.[33]
É possível ainda que tal mudança tivesse como objetivo
lembrar o papel de Cristo como o agente divino para a
aplicação do juízo final.[34]
Parece não haver dúvida que a expressão (( – )ליהוה יוםO dia
do Senhor) indicava dois aspectos importantes da mensagem
profética veterotestamentária, quais sejam: o juízo e a
salvação. O Novo Testamento parece preservar essa mesma
perspectiva, isto é, que “o dia do Senhor” será um dia de
punição para os descrentes e salvação para os crentes. É o
dia da visitação final, quando Cristo estabelecerá o Reino
de Deus no mundo, pondo fim a esse século e inaugurando um
novo.[35] Esse não será um simples dia no calendário, mas um
período inteiro que testemunhará a visitação redentora final
de Deus em Cristo”.[36] Os primeiros cristãos olhavam para
um futuro, quando Cristo virá como justificador e juiz.[37]
Ele será o responsável (como agente divino) em aplicar o
juízo final no mundo.[38] A ideia de um julgamento
relacionado a parousia realmente parece emergir em (5.3.):
“Quando andarem dizendo: paz e segurança (…) virá repentina
destruição (…) de modo nenhum escaparão”. Com a “Vinda” vem
também “o juízo”- (o dia do Senhor). Assim, para alguns
autores a expressão “de modo nenhum escaparão”, indica a
inevitabilidade do juízo para os ímpios.[39] Se esta for a
interpretação correta, então, para Paulo “o dia do Senhor”
significava “o grande ponto decisivo na história, quando
grandes eventos escatológicos coincidirão: ressurreição
física dos mortos, juízo final etc.”.[40] Para Charles Hodge
a Vinda de Cristo para Julgar o mundo é o último passo em
sua exaltação:[41]
67
Aquele que compareceu como um criminoso perante Pilatos, e
fui injustamente condenado. E, que entre cruéis escárnios
foi crucificado com malfeitores, voltará com grande poder e
glória. Diante dele se reunirá todas as nações e todas as
gerações dos homens, para receber de seus lábios sua
definitiva sentença. Ele será então exaltado ante todas as
inteligências como seu soberano juiz visível
Estudo teológico
Teologia do texto
68
Sermão
Conclusão
69
apresentada a teologia do texto; a implicação da passagem
para a teologia Bíblica, Sistemática e Prática. Por fim,
apresentou-se um esboço de sermão sobre o texto ora referido.
Referências bibliográficas
70
CARSON, D. A. .[et al.] Comentário Bíblico: Vida Nova: São
Paulo: Vida Nova, 2009.
71
JEREMIAS, J. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos,
2008.
72
_________________________________
[1] FRAME, James Everett. The International Critical
Commentary A Critical and Exegetical Commentary on the
Epistles of St. Paul To The Thessalonians. Edinburgh T.&T.
Clark, 38 George Street 1912, p.2. Quando Paulo e seus
companheiros visitaram Tessalônica ela já era uma cidade bem
estabelecida com uma longa história, Cf.: STOTT, John. The
Message of Thessalonians. Inter-Varsity Press 1991. A
cidade Tessalônica abrigou duas religiões de ministérios bem
conhecidas: a religião de Dionísio, e a de Orfeu. Ambas
praticavam o chamado culto da fertilidade (orgias
selvagens), e tinham em comum o uso de símbolos fálicos e a
prática de êxtases extravagantes, assim em: FIELDS, Wilbur.
A New Commentary Work book: Thinking Through Thessalonians.
College Press, Joplin, Missouri. Copyright, 1963(reprint
1971), p. 15.
[5] Segundo William Barclay seu nome original era Therma que
significa “fontes quentes”, dando o nome ao golfo onde se
73
encontrava. A cidade foi reedificada com o nome de
Tessalônica em 315 antes de Cristo por Cassandro. Barclay
ainda afirma que seiscentos anos antes Heródoto a descrevia
como uma grande cidade. Ali Xerxes o persa havia estabelecido
sua base naval ao invadir a Europa, e até na época dos
romanos era um dos maiores arsenais do mundo. Cf. BARCLAY,
William. Comentário do Novo Testamento. [s.l.], p. 11. Ver
também: Fields, Wilbur. A New Commentary Work book: Thinking
Through Thessalonians. College Press, Joplin, Missouri.
Copyright, 1963 (reprint 1971), p.15.
[8] Ibid.,p.11.
[10] Ibid.,p.8.
74
[13] HENDRINKSEN, William. Comentario al Nuevo Testamento.
Exposición de 1 y 2 Tesalonicenses. Libros Desafío. 2000.p.7.
75
influência sobre os corações e as vidas das pessoas amadas
por Deus, Cf.: FIELDS, Wilbur. A New Commentary Work book:
Thinking Through Thessalonians. College Press, Joplin,
Missouri. Copyright, 1963 (reprint 1971), p.12-13. Outros
motivos para a composição de 1 Tessalonicenses seriam: (1)
assegurar os crentes Tessalonicenses acerca do amor e
interesse de Paulo por eles. (2) E encorajá-los a viver uma
vida santa e agradável ao senhor. O apóstolo estava feliz
pelo crescimento deles na vida cristã, porém, desejava que
eles avançassem mais e mais, Cf.: BENWARE, Paul N. Panoroma
Del Nuevo Testamento. Editorial Portavoz, 1993. p.170- 171.
76
[17] Jeffrey A. D. Weima afirma enfaticamente que não há
sequer uma única citação textual do Antigo Testamento nas
duas cartas aos Tessalonicenses. Contudo, ele observa que 1
Tessalonicenses(mas também 2 Tessalonicenses) tem uma
significativa dívida para com as Escrituras hebraicas(…) “o
vocabulário de Paulo, as metáforas e a estrutura teológica
na correspondência aos Tessalonicenses revelam a influência
do Antigo Testamento em aspectos tanto de pouca importância
quanto mais significativos”. Cf. G. K. Beale e D. A. Carson
(org.), Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo
Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2014, p.1076-1087.
77
diz respeito ao que irá ocorrer no final do mundo. Existe um
dia do acerto de contas, e se é assim, como podemos nos
preparar para isso? O primeiro é o problema do luto, e diz
respeito a outros que já morreram. O segundo é o problema do
julgamento, e nos preocupa também, ver: STOTT, John, The
Message of Thessalonians. Inter-Varsity Press 1991. [n.p.].
78
[30] JEREMIAS, J. Teologia do Novo Testamento: Nova Edição
Revisada e Atualizada. São Paulo: Hagnos, 2008, p.195.
79
estavam perguntando a Paulo acerca do tempo (chronoi) e da
data (Kairoi), como os discípulos haviam perguntado a Jesus
em outro momento. Normalmente chronos significa um período
de tempo e kairos um ponto do tempo: uma crise ou
oportunidade. Mas, Stott observa, “não parece que Paulo está
fazendo esta distinção aqui”. Por que, então, os
Tessalonicenses foram levantar essa questão? Não, ao que
parece, por curiosidade, mas sim por uma razão muito prática:
eles queriam fazer os preparativos adequados para o dia do
julgamento. Eles pensavam que poderiam mais facilmente se
preparar para a vinda de Cristo no julgamento se eles
pudessem saber quando isso fosse ocorrer. Isso era ingênuo,
mas, perfeitamente compreensível, assim em: STOTT, John. The
Message of Thessalonians. Inter-Varsity Press 1991. [s.p.].
80
[41] HODGE, Charles. Teología Sistemática. Volumen II.
Editorial Clie, 1991.p.251.
81
“Amarrando o valente”: interpretação de
Marcos 3.27 em seu contexto original
82
exorcismos. Em terceiro lugar, será analisada a estrutura da
passagem contextual de Marcos 3.27, i.e., Marcos 3.20-30. Em
quarto lugar, serão examinados Marcos 3.27 como parte da
argumentação de Jesus no contexto da controvérsia sobre
Belzebu, seus paralelos na literatura judaica e as
implicações para os primeiros leitores do evangelho. A última
parte conterá conclusões e implicações decorrentes do estudo
feito para o cristão e para a igreja de hoje.
83
Esses dois aspectos fazem parte da história que Marcos conta;
não são (como alguns entendem[1]) ênfases conflitantes. São
duas fases complementares do drama que ele apresenta.
84
atividades do ministério de Jesus uma vez que a segunda
parte concentra-se nos eventos em Jerusalém que levam à sua
paixão (sofrimento, morte e ressurreição). Consequentemente,
sem os milagres de Jesus (incluindo, é claro, seus
exorcismos) a história da cruz se tornaria completamente sem
sentido e ininteligível.
85
que imediatamente depois da controvérsia de Marcos 3.20-30
a família de Jesus reaparece em cena e, então, é apresentado
o desfecho apropriado quanto à atitude deles (Mc 3.31-35):
enquanto os que estão sentados à volta de Jesus são a sua
família de facto, sua família natural não faz a vontade de
Deus, pois não segue a Jesus (cf. 3.34 e s.). O que vemos
aqui, portanto, são duas histórias mescladas na mesma
narrativa; uma interpolação ou “sanduíche” marcano. A
narrativa começa com uma história que permanece inconclusa
enquanto outra história é introduzida, ao fim da qual a
anterior é retomada e concluída. Essa atitude da família de
Jesus é colocada em paralelo com a dos escribas em Marcos
3.22. Existe uma simetria deliberada na construção das duas
frases em 3.21 e 3.22: ελεγ́
ον γὰρ ὅτι ἐξέστη (elegon gar
hoti exestē, 3.21) … ελεγ́
ον γὰρ ὅτι Βεελζεβούλ ἔχει (elegon
hoti Beelzeboul echei, 3.22). As duas frases tratam, é claro,
de opiniões até certo ponto semelhantes acerca de Jesus. O
propósito de Marcos parece ser o de destacar o fato de que
enquanto alguns simplesmente não entendem o que Jesus está
fazendo (e. g., sua família), outros o rejeitam, conscientes
da identidade e da missão dele (e. g., os escribas).
86
2. A resposta de Jesus às acusações demonstra o absurdo do
raciocínio dos escribas e estabelece a sua própria autoridade
(3.23-29)
87
de Jesus de Nazaré e dar o seu veredicto sobre ele. Os
escribas, é claro, faziam parte do Sinédrio, o supremo
tribunal e o parlamento máximo dos judeus.[6] Serão eles que
mais tarde, juntamente com os outros dois grupos membros do
Sinédrio, os fariseus e os chefes dos sacerdotes, o
condenarão à morte de cruz.
88
estaria interferindo nos seus interesses numa região em que
sua influência era menor do que a desejada.[8]
89
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valente-interpretacao-de-marcos-3-27-em-seu-contexto-
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l=1 324w" sizes="(max-width: 347px) 100vw, 347px" data-
90
recalc-dims="1" />Em segundo lugar, Jesus é acusado de
expelir demônios pela agência do principal (príncipe) dos
demônios, i.e., o suposto supremo poder do mal que estaria
em Jesus era a fonte de poder e autoridade por ele exibidos
nos exorcismos (ἐν τῷ ἄρχοντι
τῶν δαιμονίων ἐκβάλλει τὰ δαιμόνια [en tō archonti tōn
daimoniōn ekballei ta daimonia]).[11] O que esta acusação
sinaliza em Marcos é que os escribas reconhecem que a fonte
do poder exercido por Jesus é sobrenatural. Entretanto, como
Jesus não se enquadra na teologia dos escribas nem se submete
à sua autoridade, eles o tacham de oposição. Dizer que Jesus
é capaz de realizar seus exorcismos só com a assistência do
principal demônio explicaria adequadamente o fenômeno; i.e.,
ele está debaixo do controle e da influência das forças que
se opõem a Deus, submisso à sua própria liderança. De fato,
na literatura rabínica posterior (terceiro século em diante)
aparece uma acusação contra Jesus semelhante a esta, só que
atribuindo o poder de Jesus às artes mágicas: “E um mestre
disse: Jesus de Nazaré praticou magia e desviou Israel”.[12]
Entretanto, isso não permite concluir que a acusação feita
pelos escribas foi imediatamente entendida dessa forma pelos
seus adversários. Pelo contrário, diante das expressões
registra das por Marcos, é possível pensar que a acusação
dos escribas era mais extrema do que chamá-lo de “mago”. Ao
dizer que Jesus estava possesso por Belzebu, o príncipe dos
demônios, os escribas poderiam estar considerando Jesus o
agente máximo do poder demoníaco.É provável que Marcos não
tenha pretendido que seus leitores gentios captassem uma
sofisticação linguística como este jogo de palavras de Mateus
10.25 em sua narrativa da controvérsia sobre Belzebu. Mas,
é igualmente provável que o segundo evangelista tenha
preservado fielmente a tradição sobre o evento que remontava
ao Sitz-im-Leben original. Qualquer que seja o caso, fica
evidente que a primeira parte da acusação implica afirmar
91
que Jesus está possesso pelo próprio poder do mal, Satanás
(cf. 3.23b).
92
em Jesus e por ele nas expulsões de demônios (seus agentes),
então ele, na realidade, estaria praticando o suicídio, pois
estaria destruindo a sua própria obra. Jesus estabelece,
desde o início de sua resposta, que a acusação dos escribas
carece de qualquer base lógica. Como seria possível Jesus
ser um agente satânico e ao mesmo tempo destruir as obras de
Satanás? O argumento de Jesus é ampliado nos versículos
seguintes (incluindo 3.27). A ênfase de Jesus aqui, no
entanto, está em demonstrar que exorcizar os servos de
Satanás só pode ser uma realização dos inimigos de Satanás,
não de seus aliados.[13]
93
Embora a parábola de 3.27 traga uma nota distinta na
argumentação de Jesus, ainda assim leva ao corolário lógico.
A base para a atividade exorcista de Jesus é estabelecida,
pelo menos em parte, em 3.27, que passaremos a examinar em
detalhe agora.
94
natureza alegórica das duas passagens, tudo isso é visto
como indicação de que Isaías 49.24 e s. influenciou as
palavras de Marcos 3.27.[17] Temos de observar, no entanto,
que uma suposta influência de Isaías 49.24 e s. em Marcos
3.27a não pode ser tida como direta, i.e., como citação ou
alusão explícita. Embora haja certa equivalência verbal
entre as duas passagens (cf. acima), qualquer tentativa de
demonstrar dependência verbal de nossa passagem com Isaías
cai por terra. Mesmo o texto grego da LXX não permite tal
conclusão; ᾿Εάν τις αἰχμαλωτεύσῃ γίγαντα, λήμψεται σκῦλα δὲ
παρὰ ἰσχύοντος σωθήσεται (Is 49.24 e s.).
95
era a fonte de ambas as passagens (Is 49.24 e s. e SI.
Salomão 5.3). Entretanto, por falta de maiores informações,
não podemos decidir quanto a essa questão específica.
96
os eruditos. Por um lado, encontramos a perspectiva que
Ernest Best advoga (entre outros), afirmando que Marcos 3.27
remete ao episódio da tentação de Jesus (1.12 e s.) em que
Satanás teria sido amarrado por Jesus.[23] O principal
aspecto dessa ideia é que, uma vez que no evangelho de Marcos
não há uma conclusão definitiva para o evento – e essa é a
primeira referência a Satanás antes de 3.22b, 26 – Marcos
3.27 expressaria, então, a conclusão da tentação: Satanás
foi amarrado por Jesus.
97
3.27 representaria o primeiro estágio em que Satanás é
amarrado, e a derrota definitiva aconteceria no juízo final
(cf. Mateus 13 .30).[27]
98
Haveria qualquer base para dizer, portanto, que em Marcos
3.27 temos uma “afirmação clara” de Marcos de que a luta
entre Jesus e Satanás já teria terminado, de que “amarrar”
(δέω) refere-se ao conceito achado na literatura
apocalíptica? Concordamos com Best em que há indícios da
ideia de “amarrar Satanás” tanto na literatura apocalíptica
como no NT, cf. Tobias 8.3; 1 Enoque 10.4 e s.; 18.12-19.2;
21.2-6; 54.4 e s.; Testamento de Levi 18.12; Jubileus 48.15;
Apocalipse 20.2 e s.[30] Mas a existência de terminologia
similar num dito parabólico, como Marcos 3.27, não pode por
si só justificar o pensamento de que se trata da mesma ideia.
É importante observar que quando a linguagem de “amarrar” é
empregada, tanto no apocalipsismo como no NT, sempre há
indicação clara da identidade dos que são amarrados: o
demônio Asmodeus em Tobias 8.3; os demônios Azazel e Semiaz
em 1 Enoque 10.4-7, 11 e s.; Beliar no Testamento de Levi
18.12; nove décimos dos demônios em Jubileus 10.7-9; Mastema
em Jubileus 48.15 e s.; Satanás em Apocalipse 20.2 e s.
99
Diante da discussão exegética sobre “amarrar” (acima), como
se pode entender a aplicação para hoje do que Jesus diz em
Marcos 3.27? Como observamos no início deste ensaio, essa
expressão de Jesus tem sido objeto de muita controvérsia
atualmente – controvérsia esta estimulada principalmente por
aqueles que veem aqui a “chave” para a batalha espiritual.
Encontramos na literatura evangélica mais recente afirmações
do tipo “…Jesus disse que temos de, primeiro, amarrar o homem
forte, para poder sacar as propriedades da casa (Lc 11.21,
22)”;[32] O Senhor declara que temos que ‘amarrar o homem
forte’. Apesar de o verbo ‘amarrar’ não estar no imperativo,
ele acaba tendo o efeito de uma ordem”.[33] Nossa avaliação
dessas asseverações pode ser assim sintetizada:
100
Em segundo lugar, num sentido mais amplo, deve-se entender
que o que Jesus descreve em Marcos 3.27, usando linguagem
figurada, serve para ilustrar apenas que a encarnação do
Filho de Deus representa o início da vitória de Deus sobre
as forças espirituais do mal. Essa vitória só terá caráter
definitivo no fim dos tempos (CI2.15; Hb 2.14 e s., cf. Ap
20.1-10).
101
o Espírito Santo na exposição de Jesus. A menção do Espírito
é extremamente importante no fluxo do argumento de Jesus,
uma vez que no período interbíblico o Espírito havia
permanecido “em silêncio” – por isso, o período é também
denominado “400 anos de silêncio”. Agora, porém, o Espírito
reaparece, agindo poderosamente na pessoa de Jesus de Nazaré,
o Messias (cf. Is 11.1-5; 61.1 e s.). Desde que Jesus não se
conformava à teologia e à tradição dos escribas, e desde que
o Espírito só se manifestaria de novo (segundo criam) no fim
dos tempos, era difícil encaixar Jesus nas categorias que
haviam estabelecido. Assim, não é de admirar que os escribas
acusassem Jesus ao ponto de identificá-lo com o diabo.
Algumas observações feitas acima esclarecem a adequação do
que Jesus diz aqui ao contexto da controvérsia: a) Jesus
adverte os escribas sobre a blasfêmia contra o Espírito; ele
não fala disso, nem aqui nem em qualquer outro lugar, em
relação aos discípulos. São os escribas, sua oposição, que
se tornaram passíveis da advertência de Jesus; b) os escribas
mantêm uma posição de rejeição absoluta de Jesus, o que faz
com que identifiquem maliciosamente seus exorcismos como
obra do inimigo (cf. Is 5.20: “Ai dos que ao mal chamam bem,
e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz, e da luz
escuridade; põem o amargo por doce, e o doce por amargo”).
A advertência de Jesus é específica para os escribas e válida
somente durante a encarnação de Cristo, quando ainda era
possível afirmar sobre a pessoa de Jesus e sobre o seu
ministério humano o que os escribas estavam dizendo.
CONCLUSÃO
102
Nossa convicção é de que precisamos sempre ouvir o texto
bíblico, deixar que fale de si mesmo, de seu próprio
contexto. Não cremos que seja salutar e honesto fazer o texto
dizer o que desejamos que ele diga. Três observações são
importantes aqui:
___________________
103
8.1-10; 11.12-14,20 e s.): e c) exorcismos (cf. lista
abaixo).
104
The Exorcism Stories in the Gospel of Mark, tese de doutorado
não-publícada, 1973, p. 178 e s.
105
[17] Veja, e. g. PESCH, R., Das Markusevangelium, Herder,
1976-77,1:215 e s.
106
Lucas, no entanto, introduz o comparativo ἰσχυρότερός, cf.
11.22.
[28] CAIRD, G. B., The Language and the Imagery of the Bible,
Duckworth, 1980, p. 160-67, argumenta que os evangelistas
tinham um conceito mais amplo do que é uma parábola e que,
em alguns casos, não pode ser feita uma distinção mais rígida
entre parábola e alegoria.
107
detalhes da parábola. Lagrange insiste que Isaías 49.24 e s.
é o texto que constitui a fonte da parábola.
108