Você está na página 1de 27

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

A PRODUÇÃO, A TECNOLOGIA, O MERCADO E AS


PERSPECTIVAS DO CULTIVO DA UVA

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS TÉCNICAS DO CULTIVO DA UVA

Frederico Westphalen, RS
2007
1 INTRODUÇÃO

A produção de uvas no Brasil concentra-se nas Regiões Sul, Sudeste e nordeste.


Constitui-se em atividade consolidada, com importância socioeconômica, nos Estados do Rio
Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco Bahia e Minas Gerais. Além
dos Estados tradicionais produtores de uva, no decorrer dos últimos anos a cultura de uva tem
se expandindo para outras regiões, aumentando ainda mais a sua significância.
O cultivo da videira (e frutíferas em geral) é uma das atividades que mais geram
rentabilidade aos produtores. Porém, para que isto se concretize o produto deve produzir uvas
de boa qualidade e com boa produtividade para se tornar competitivo. Para atingir este nível
de eficiência produtiva o produtor deve tomar medidas (tecnologias) adequadas que reduzam
custos e aumentem a qualidade, especialmente no que se refere a sanidade do material
propagativo e ao uso racional de defensivos agrícolas.
O hábito perene da cultura a submete a diferentes formas de estresse no campo,
tornando mais severos os prejuízos causados pelos patógenos e pelas pragas, principalmente,
quando esses encontram condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento. Em todas
as áreas vitícolas do mundo, doenças e pragas constituem-se num dos maiores obstáculos ao
desenvolvimento da cultura, afetando tanto a qualidade como a quantidade da produção.
No Brasil, as doenças e as pragas representam séria ameaça à viticultura, constituindo-
se, em determinadas regiões, em fator limitante à sua exploração econômica. Dessa forma, os
métodos de controle, além de necessários, assumem particular importância visto que precisam
ser eficazes e eficientes e devem manter um custo de produção competitivo no mercado.
Para o controle racional das doenças da videira são necessários conhecimentos da
biologia dos patógenos, da fenologia da planta, dos defensivos químicos empregados e da
influenciado clima sobre os patógenos e a planta. Em geral, a observação destes aspectos
resultará em maior eficiência dos tratamentos fitossanitários, reduzindo os custos de produção
e a contaminação do meio ambiente.

2 PRODUÇÃO NACIONAL E MERCADO

A viticultura brasileira vem ocupando nos últimos anos área aproximada de 58 mil
hectares com produção que oscila em torno de 820 mil toneladas, concentrand-se nas regioes
Sul e Sudeste. A área colhida de uva apresenta pequenas variações ao longo da década de 90,
observando-se, entretanto que esse segmento incorpora duas atividades distintas: a produção
de uva de mesa e a viticultura.
3
A distribuição pelas unidades da federação mostra a preponderância da superfície
vitícola no Rio Grande do Sul que em 1990 atingiu 40 mil hectares (67,7 % da produção
nacional) e nos anos seguintes recuou17,6% para totalizar 32,9 mil hectares em 1999. A
viticultura do Rio Grande do Sul tem aptidão vinícola e pequena participação na oferta de uva
de mesa. Entre as variedades cultivadas no Rio Grande do Sul, as americanas e híbridas
representam cerca de 80% enquanto que as viníferas totalizam 19% da produção deste Estado.
As variedades americanas e híbridas que são represdentadas principalmente por Isabel, Bordô
e Concord, que são responsáveis por 38%, 10% e 8%, respectivamente da uva vinificada no
Rio Grande do Sul.
A segunda área vitícola localiza-se em São Paulo, onde passou de 8,8 mil hectares
(15% da área nacional) em 1990, para 10,6 mil hectares em 1999 (18,7 % da área nacional). A
maior parcela da produção das uvas paulista destinam-se a uva de mesa, com variedades
americanas Niágara Rosada e Branca, cujas principais zonas produtors concentram-se em
torno das cidades de Campinas e Jundiaí, distribuídas em propriedades pequenas. As uvas
finas de mesa representadas pelas variedades Itália e Rubi, são cultivadas principalmente na
região sul do Estado, sendo considerada a zona mais produtora de São Paulo. A cultura de
uvas de mesa cresceu muito nos últimos anos nas regioes oeste e noroeste do Estado, sendo
uma exploração agrícola que possibilita que a colheita seja comercializada na entresafra de
outras regiões nos meses de agosto a novembro, resultando em preços elevados.
Destacam-se ainda no sul-sudeste, numa área em Santa Catarina, que era de 4,7 mil
hectares, em 1990 (8,1% da produção nacional), mas que tem revelado queda na superfície
plantada, quando ficou reduzido para 2,8 mil hectares, em 1999. O estado de Santa Catarina
apresenta viticultura semelhante a do Rio Grande do Sul, sendo que além das variedades
Isabel e Bordô, produz também a Niágara Rosada e Goethe, entre americanas.
No estado do Paraná a área vitícola que totalizava 2,7 mil ha em 1990 (4,6%),
aumentou para 5,2 mil ha em 1999 (9,1%). Caracterizava-se por apresentar, a semelhançade
Santa catarina, uma viticultura destinada a vitificação, no norte devido à influência japonesa,
predomina a produção de uvas de mesa, principalmente com a variedade Itália e sua mutação
Rubi. Merece também destaque a expansão da áre da viticultura brasileira na região
nordestina. Comparando-se os extremos do período de 1990-1999, nota-se o Nordeste
brasileiro, a área vitícola seria de 57 mil há, em 1990e de 52,3 mil há em 1999, ou seja
diminuiu 8,2% no período. Entretanto em Pernambuco a área colhida cesceu de 1,1 mil há, em
1990 (1,9%), para 2,9 mil há, em 1999 (4,9%), ou seja dobrou desde o início da década de
noventa. A Bahiaque detinah pouca area de parreira, passou a constituir um importante núcleo
produtor de uvas, pois cultivava 523 ha em 1999. Essas áreas de plantiosão irrigadas e
4
fornecem frutas de elevado de elevada qualidade quase todos os meses do ano. A variedade
Piratininga, que chegou a representar 25 % da área, vem sendo substituída pela Redglobe e
Benitaka. Esforços recentes para produção de uvas de mesa sem sementes começaram a surtir
os primeiro efeitos e apirenas, como Superior Seedles, chamada de Festival na região já são
cultivadas com sucesso. Percebe-se ainda, aumento no interesse por “Patrícia, com sementes
graças às suas características peculiares.
A inserção do Brasil como exportador de uva fresca no comércio internacional é
recente e decorrente da expansão da viticultura de mesa das novas áreas de produção, o
Sudeste e no Nordeste brasileiro, onde grande parte dos plantios é de uva fina de mesa.
No período de 1991 a 1999 tem-se uma taxa de crescimento de exportações de 180%,
mas, com forte movimento de avanço das vendas externas no ano de 1993, atingiu12,5 mil
toneladas, sendo reduzidas, nos anos de 1996 a 1998, para uma média anual de 4,2 mil
toneladas. O Brasil exportou 8100 toneladas de uvas em 1999 e 14300 t no ano de 2000,
sendo esses maiores volumes anuais exportados até então.
Os Países Baixo e a Argentina são os principais compradores de uva brasileira, sendo
que a Holanda se sobressai por ser um centro redistribuidor de frutas. Nos últimos anos
observou-se estabilização nas comprs por parte da Argentina, mas que representa apenas um
terço das exportações de frutas da Argentina para o Brasil. Quanto a participação das
importações de uvas no estabelecimento do mercado interno, verificou-se um aumento
sigficativo em quase toda a década de 90, passando de 12,1 mil t em 1991, para 41,9 mil t em
1998, ou seja um incremento bastante expressivo. Nesse período as frutas de mesa
representaram produtos que conheceram aumneto de demanda interna no contexto da
estabilização da moeda, com o que houve incremento da importações em decorrência de que
para muitas espécies, como no caso da uva, a procura dos consumidores não pode ser atendida
pela produção nacional, seja pela insuficiencia de capacidade produtiva , seja porque a
produção nacional ainda não se apresenta consolidada, tendo em vista que o investimento na
formação de pomares não permite resultados a curto prazo. O Chile e a Argentina são os
maiores fornecedores de uva ao mercado brasileiro, seguidos pelos Estados Unidos e Turquia.
A análise dos valores médios obtidos por tonelada de uva fresca, revelou no caso das
exportações uma certa estabilidade em torno de US$ 1.300,00 em 1997 e 1998. Quanto ao
produto importado, observou-se nesses dois anos uma média de US$ 1.200,00/t, sendo que o
preço médio das exportações tem-se apresentado maior do que o das importações.
5

3 CLIMA E PRODUÇÃO

A videira é cultivada em quase todas as partes do mundo, e pelo fato de ter folhas
decíduas a videira tem sido considerada como planta de clima temperado. Atualmente é
cultivada em enorme diversidade de condições climáticas como por exemplo, nos desertos da
Califórnia, onde temperaturas muito elevadas são comuns. No Brasil a videira é cultivada
desde o extremo Sul até o Nordeste, em regioes anteriormente consideradas climáticamente
inaptas. Com o emprego da irrigação, o vale do rio São Francisco na Bahia e em extensas
áreas de Minas Gerais e Pernambuco tornaram-se excelentes regioes produtoras de uva.
O clima por meio de seus elementos condiciona vários aspectos do cultivo da uva,
para mesa ou vinho, sendo fator preponderante na duração do ciclo, na qualidade do produto,
na fitossanidade e na produtividadeda videira.
Nas regioes de clima bem definido as fases do ciclo da planta acompanham as
variações estacionais, com brotações ocorrendo na primavera e queda de das folhas no
outono. A maioria dos autores que tem considerado a ecologia da videira, localizam-se numa
larga faixa entre 52°N e 40° S. Nessa faixa tem sido encontrada melhores condições para seu
desenvolvimento.
A videira cresce e desenvolve-se melhor em regioes de veroes longos e secos,
moderadamente quentes e com invernos frios para satisfazer as necessidades de repouso
vegetativo. No zoneamento da aptidão ecológica das culturas do Estado de São Paulo, a
videira foi incluída no grupo de frutíferas de clima temperado, mas com menor exigência de
frio hibernal.
3.1 A uva
Símbolo de paz e riqueza para os hebreus, a uva, para os gregos, estava associada ao
sagrado. Foi consagrada ao deus Dionízio pelos gregos, que por seu intermédio transmitia aos
humanos parte de sua alegria e de seus poderes. Uva é uma baga suculenta, de casca lisa, que
cresce em uma trepadeira lenhosa, a videira. As uvas crescem em cachos que podem ter de
seis até 300 uvas. As uvas podem ser pretas, azuis, douradas, verdes, roxas, vermelhas ou
brancas, dependendo da variedade da vinheira.
Aproximadamente 60 milhões de toneladas de uvas são colhidas anualmente no
mundo inteiro. Cerca de 80% da safra total são consumidas na produção de vinho. Uns 13%
são vendidos para sobremesa e consumidos ao natural.
O restante da safra é usado, por ordem de importância, para fazer passas, sucos,
geleias e conservas em que entram outras frutas. As uvas tem uma elevada porcentagem de
6
açúcar, sendo consideradas uma boa fonte de calorias. A maior parte das uvas é cultivada na
Europa. Os vinhedos da França, Itália e Espanha são responsáveis por 45% dos dez milhões
de hectares de videiras existentes no mundo. Fósseis de folhas e grainhas (sementes) de uvas
indicam que o homem se alimentava de uvas já nos tempos pré-históricos. O cultivo da
videira aparece em pinturas de tumbas egípcias que datam 2.440 a. C.
3.2 Tipos de Uva:
Existem dois tipos principais de uvas: 1ª: Européia, 2ª: Americana. As uvas européias
introduzidas em 1.532 no Brasil, foram plantadas primeiramente em São Vicente, onde o
clima se mostrou demasiado quente e úmido. Em 1.551 foi feita nova tentativa em Tatuapé
com grande sucesso. Também foram bem sucedida as culturas iniciadas em Itamaracá por
Duarte Coelho, mais tarde incentivadas pelos holandeses, e no Rio Grande do Sul, um século
mais tarde. A viticultura prosperava quando em 1.785, temendo o desenvolvimento da
colônia, D. Maria I mandou destruir todas as vinheiras e fechar as pequenas fábricas que
surgiam. A cultura da uva só foi retomada depois da Independência do Brasil.
A partir de então ganhou novo impulso, graças a introdução de variedades americanas mais
resistentes ao clima e às doenças. Os maiores vinhedos atualmente estão localizados no Rio
Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Pernambuco. As uvas
européias pertencem à espécie Vitis Vinífera. Cerca de 95% de todas as videiras cultivadas no
mundo são européias. Dividem-se em variedades para vinho, mesas e passas. As uvas para
vinho contém as quantidades certas de ácidos e açúcares naturais para a produção de vinhos
de qualidade.
No Brasil as variedades plantadas dependem da região. Em São Paulo plantam-se a
Seibel e a Seyve Vilharde, a moscatel e diversas variedades desenvolvidas pelo Instituto
Agronômico de Campinas. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul a merlot, a bonarda, a
canaiolo, a banbrusco, a cabernet, seibel, suyah, sauvignon, a aligoti, a clairetti provence, a
riesling, a itália e treviano, a piverella e a moscatel. As uvas para mesa são grandes, saborosas
e de cores vivas. As variedades principais são a itália, as derivadas dos tipos de moscatel a
niágara, a piróvano a alphanse la valli a goldem quem e a soraya. As uvas para pessoas não
tem grainhas e apresentam uma textura lisa quando secas. A variedade mais importante é a
Thonpson sudleis ou sultamina, como, é chamada no Brasil de bagas verdes esbranquiçadas
ou douradas, que constituiu cerca de 40% da produção americana. A moscatel de Alexandria e
a corinto preta são cultivadas no nordeste além da sultamina.
As uvas americanas pertencem à espécie 1º vitus la brusca e 2º vitus solundifolia. Esta
última têm sido largamente utilizada no Brasil principalmente na produção de híbrido que
suportem a umidade e resistem às doenças. No processo de enxertia e usada como porta
7
enxerto ou cavalo. O cultivo das uvas. As videiras européias desenvolvem-se bem em climas
de verões medianamente quente e secos, e invernos em que as temperaturas não desçam além
de 12ºC. As videiras americanas suportam maior umidade e temperatura até 23ºC.

4 PRÁTICAS AGRÍCOLAS NA PRODUÇÃO DE UVA (PRÉ COLHEITA)

A segurança dos alimentos é conseqüência do controle de todas as etapas e de cada elo


da cadeia produtiva, desde a produção primária (campo), até a mesa do consumidor. A
produção agrícola, quando conduzida sob as condições necessárias de higiene, reduz a
possibilidade da presença, introdução e aumento de perigos que possam afetar, de forma
adversa, a segurança e a propriedade para o consumo dos produtos agrícolas, incluindo os
estágios posteriores da cadeia de alimento. Os programas de controle integrado, do campo à
mesa, estão sendo propostos em nível internacional e já foram adotados pela União Européia e
por vários países. Esses programas têm sido propostos e incentivados em nível de produção
agrícola, pois nos últimos anos tem-se observado um aumento de surtos de doenças
alimentares relacionadas com o consumo de frutas, entre outros alimentos. O controle de
agentes biológicos e químicos é imprescindível para que os produtos agrícolas não ofereçam
risco à saúde do consumidor. As Boas Práticas Agrícolas (BPA) se referem às práticas e
procedimentos estabelecidos para a produção primária, objetivando o controle de perigos, a
produtividade e a qualidade.
Para o controle dos perigos (agentes de doenças), não é necessário que se caracterize e
identifique especificamente quais estão presentes em cada etapa da produção. As práticas e
procedimentos se baseiam na aplicação de tecnologias desenvolvidas para o controle dos
perigos possíveis e potenciais, para a qualidade do produto final e para a produtividade no
campo. Estes procedimentos e práticas são objetos de correções quando o resultado final
esperado não é satisfatório. Para o controle dos perigos por BPA, consideram-se as fontes de
contaminação e as condições que se relacionam à introdução, multiplicação e permanência
dos perigos no produto.

4.1 Higiene ambiental

Sempre que possível, as fontes potenciais de contaminação do ambiente devem ser


identificadas. O viticultor deve avaliar o uso anterior do local, assim como os arredores, para
considerar a possibilidade de presença de perigos. O processo de avaliação inclui:
8
a) uso prévio e presente da área do vinhedo e seus arredores, identificando perigos, em
especial os contaminantes microbianos de origem fecal, lixo orgânico e químico, que possam
comprometer o local de cultivo da videira e colheita da uva;
b) acesso de animais domésticos e selvagens contaminando as áreas dos vinhedos com
depósitos não controlados de fezes;
c) o potencial de contaminação dos vinhedos por enchentes e vazamentos dos locais de
conservação de esterco fresco, de compostagem ou de águas superficiais poluídas;
d) a contaminação e a preservação do ambiente. O solo e os mananciais de água devem ser
preservados de contaminação. Os defensivos agrícolas ser preservados de usados
indiscriminadamente ou na época da pré-colheita, bem como os adubos nitrogenados, podem
contaminar águas superficiais pela chuva. A possibilidade de contaminação das águas
superficiais por esgoto doméstico e industrial deve ser avaliada, pois é fonte importante de
contaminação química e também de origem biológica. O uso de agrotóxicos sempre está
associado à possibilidade de ocorrência de contaminações ambientais diretas e indiretas. Elas
podem ocorrer elas por acidentes, descuido, negligência ou falta de conhecimento quanto ao
armazenamento, transporte e manuseio desses produtos. Assim, torna-se importante a escolha
adequada do tipo de equipamento que deve ser utilizado na aplicação do produto, a calibração
do mesmo antes da pulverização, para que se obtenha eficiência na aplicação, além da adoção
de procedimentos para descarte de calda e embalagens vazias de produtos, bem como, à
necessidade de utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI). Trabalhos têm
mostrado que os desperdícios de agrotóxicos provocados por manuseio inadequado
ultrapassam 70% do total aplicado. Entre os componentes ambientais de especial risco de
contaminação por agrotóxicos estão as nascentes, poços, açudes ou leitos e cursos de água
(córregos, riachos, rios e canais); a fauna e flora silvestre; os solos, explorados ou não para
cultivo; o ar e a atmosfera; e o homem.

4.2 Higiene na produção da uva


Os insumos agrícolas não podem conter contaminantes químicos ou microbianos em
níveis que representam riscos à saúde humana e vegetal.

4.2.1 Água
Os viticultores devem identificar a origem da água usada no vinhedo. Esta água pode
ser da rede de distribuição, poço, canal, reservatório, rios, lagos, água reutilizada ou
reprocessada. Independente de sua origem, a água não pode apresentar níveis de
contaminantes químicos e biológicos que possam afetar a saúde humana. Caso a mesma
9
apresente níveis não aceitáveis, devem ser tomadas ações corretivas para controlar os
contaminantes presentes. Os viticultores devem avaliar a água usada, através de análises
laboratoriais. A freqüência da análise depende da origem e do risco de contaminação
ambiental. Dentre as possíveis fontes potenciais de poluição dos recursos hídricos salientam-
se: resíduos industriais, esgotos domésticos, resíduos de origem agropecuária e aqueles
decorrentes de outras atividades humanas (lixo, por exemplo). Essas atividades, conduzidas
por práticas inadequadas, levam a impactos ambientais na qualidade da água, sejam por
contaminações biológicas e químicas, alterações físico-químicas, perdas de recursos para uso
em diferentes fins, assoreamentos, etc.
Entre os principais problemas decorrentes do consumo de água de má qualidade citam-se as
transmissões, direta ou cruzada, de enfermidades, como febre tifóide, disenteria, cólera,
diarréia, hepatite, leptospirose e giardíase, ou ainda, a transmissão de doenças causadas pela
presença de substâncias tóxicas (metais pesados, agrotóxicos, etc.). A qualidade da água
proveniente de uma mesma fonte pode variar com o tempo, sendo maior nas fontes
superficiais e menor nas subterrâneas. Assim, a freqüência dos testes de qualidade deve ser
estabelecida dependendo do tipo de fonte:
· poços subterrâneos, devidamente construídos, cobertos e mantidos: realizar um teste anual
no início da safra;
· poços descobertos, principalmente poço raso, canal aberto, lagoa, represa, rios e riachos:
realizar testes a cada três meses durante a safra;
· rede de água municipal: manter registros do sistema de água municipal.

4.2.2 Solo
O solo deve ser avaliado a fim de verificar a presença de perigos que não fazem parte
de sua microbiota natural ou a sua contaminação. Essa avaliação deve considerar os níveis do
contaminante que pode representar um risco à segurança da uva produzida. O uso prévio deve
ser estabelecido e o solo deve ser avaliado com cuidado, sempre que se verifique que foi
usado para descarte ou depósito de substâncias químicas, aplicação de pesticidas
organoclorados ou aplicação abusiva de outros defensivos agrícolas que ainda podem
permanecer no solo. Outras características que devem ser avaliadas são a posição relativa do
vinhedo em relação às áreas de animais e de fossas assépticas e granulação do solo,
permitindo maior ou menor retenção de água, que pode favorecer a multiplicação e
sobrevivência de microrganismos patogênicos.
10

4.2.3 Agroquímicos
Os agroquímicos são utilizados para várias práticas agrícolas. Entretanto, o seu uso
deve ser realizado com segurança. Deve ser considerada a proteção do aplicador de
agroquímicos tóxicos e do produto agrícola. Portanto, as seguintes regras são importantes:
a) os viticultores devem usar os agrotóxicos registrados pelos órgãos nacionais e/ou estadual
competentes, para a cultura da videira. Devem-se seguir as recomendações do receituário
agronômico e do fabricante do produto e para a finalidade proposta. Resíduos dessas
substâncias na uva não podem exceder os níveis estabelecidos pela legislação vigente no
Brasil;
b) os trabalhadores rurais que aplicam os produtos agroquímicos devem estar devidamente
treinados nas técnicas, procedimentos e práticas adequadas para esta operação. Devem estar
devidamente informados da necessidade de utilizar os equipamentos de proteção individual
(EPI) durante a aplicação de agrotóxicos, assim como da atitude a tomar, caso ocorra
acidente. Os EPIs são os elementos mais importantes para diminuir ou eliminar a
possibilidade de riscos de intoxicação ou de contato com os produtos químicos.
c) os viticultores devem manter registro das aplicações dos agroquímicos no vinhedo(caderno
de campo). No caso de agrotóxicos, os registros devem incluir informações quanto à data da
aplicação, produto químico utilizado, praga ou doença contra a qual foi usado, concentração
do produto na calda, volume de calda usado, freqüência da aplicação e data de colheita da
uva, para verificar o tempo decorrido entre a aplicação e a colheita;
d) os pulverizadores devem ser devidamente calibrados, para controlar a quantidade e a vazão
da aplicação;
e) o preparo e aplicação de agrotóxicos devem ser conduzidos de forma a evitar contaminação
da água e da terra das áreas adjacentes e proteger os trabalhadores rurais envolvidos na
atividade;
f) os pulverizadores e os recipientes utilizados para a mistura devem ser lavados
imediatamente após o uso;
g) os agrotóxicos usados no vinhedo devem ser mantidos em suas embalagens originais,
rotulados com os nomes das substâncias químicas que os compõem e com as instruções de
uso. Devem ser mantidos em local seguro, ventilado, longe das áreas de produção,
processamento e armazenamento da uva de mesa e dos locais de moradia;
11

5 EQUIPAMENTOS USADOS NO CULTIVO E COLHEITA

 Os equipamentos, recipientes e colhetores, que entrem em contato direto com a uva,


devem ser fabricados com material não tóxico. Devem permitir que, sempre que necessário,
possam ser limpos e desinfestados, para evitar a contaminação da uva; o s recipientes para
lixo, subprodutos, partes não comestíveis, desperdícios e para substâncias perigosas, devem
estar devidamente identificados, solidamente construídos e feitos com material impermeável.
Quando apropriado, em especial para o descarte de substâncias perigosas, devem ser vedados
de forma a prevenir contaminação intencional ou acidental da uva e dos insumos utilizados no
vinhedo. Tais recipientes devem ser excluídos da utilização para a colheita da uva;o s
recipientes que não podem ser mantidos em boas condições de higiene devem ser descartados.

5.1 Programa de limpeza, higienização e manutenção das instalações e equipamentos


usados na pré-colheita

As instalações e equipamentos utilizados na colheita da uva devem ser mantidos em


estado apropriado de conservação e reparo para facilitar sua limpeza e sanitização. Os
materiais de limpeza e os produtos perigosos, como os agroquímicos, devem ser devidamente
identificados, mantidos e conservados separadamente em instalações de armazenamento
seguras. Os programas de limpeza devem estar estabelecidos e implementados para assegurar
que sua execução seja conduzida de forma efetiva e apropriada. Os sistemas e programas de
limpeza e desinfecção devem ser monitorados para certificação de sua eficiência e eficácia e
devem ser revistos periodicamente e adaptados sempre que as circunstâncias indicarem esta
necessidade. Os materiais de limpeza e os utilizados na desinfecção devem ser usados
conforme as especificações do fabricante. Instrumentos para colheita e recipientes
reutilizáveis na colheita da uva devem ser lavados e desinfestados, segundo a necessidade. Os
procedimentos de limpeza devem incluir a remoção de sujidades aderidas nas superfícies de
ferramentas ou contentores, com a aplicação de uma solução de detergente para a retirada de
sujidades menores, o enxágüe com água e, quando necessário, a aplicação de solução
desinfetante, com subseqüente enxágüe, seguindo as recomendações do fabricante.

5.2 Programa de controle de pragas


As pragas representam um alto risco à segurança e adequação e ao consumo dos
produtos e alimentos. Nos locais de armazenamento de insumos e de produtos agrícolas deve-
12
se implantar sistema integrado de controle de pragas. A higiene adequada destes locais e a
inspeção de todo o material recebido, associado à proteção e manutenção da área física,
podem minimizar a possibilidade de infestação.
Prevenção do acesso: a construção deve ser mantida em boas condições de
manutenção, de forma a prevenir o acesso de pragas e para eliminar possíveis locais de
refúgios. Os ralos e outros sistemas de drenagem, por onde determinadas pragas podem ter
acesso, devem ter sistemas de fechamento, quando não estiverem sendo usadas. Proteção por
telas em janelas, portas e ventiladores pode reduzir o problema de entrada de pragas. Os
animais domésticos não devem ter acesso a essas áreas.
Nidificação e infestação: a disponibilidade de alimento e água predispõe à nidificação
e infestação. As possíveis fontes de alimento devem estar armazenadas em locais e recipientes
à prova de pragas. As áreas internas e seus arredores externos devem ser mantidos limpos e
não podem ser usados para manutenção de lixo, desperdícios e de outros descartes.
Monitoramento e detecção: o programa integrado de pragas deve incluir o
monitoramento constante para verificar e detectar qualquer evidência da presença de pragas.
Erradicação: a infestação de pragas deve ser tratada imediatamente após ser detectada,
empregando-se produtos aprovados pela legislação, nas condições especificadas pelo
fabricante, sem afetar a segurança do produto agrícola.
Gerenciamento do lixo: é importante estabelecer um programa de retirada regular do
lixo. A disposição destes materiais deverá ser em recipiente adequado e, quando necessário,
devidamente tampado para não atrair moscas e outros animais.

5.3 Cuidados na colheita


Durante a colheita, devem ser adotadas medidas efetivas para prevenir a contaminação
cruzada entre a uva e os insumos ou pelo pessoal que trabalha com a mesma. Devem ser
considerados os seguintes pontos:
- na colheita, os trabalhadores não devem levar outros produtos, que não os da colheita, nos
recipientes e contentores destinados a acondicionar a safra, como lanches, marmitas,
ferramentas, combustível, agroquímicos e outros;
- os equipamentos e recipientes que foram previamente usados para acondicionar produtos
potencialmente perigosos, como adubos, esterco e agroquímicos, não podem ser usados para
acondicionar o produto da colheita e nem para o material que será utilizado para embalar a
uva;
- deve-se adotar o máximo de cuidados quando a uva é embalada no vinhedo, para evitar a
contaminação das embalagens, por contato com adubo ou fezes de animais ou do homem.
13
Deve-se evitar deixar caixas com uvas por períodos longos no campo, em especial durante a
noite, e em contato direto ou muito próximo do nível do solo, para evitar a entrada de animais
do campo, como roedores e cobras.

5.4 Controles operacionais da précolheita


O gerenciamento da segurança das etapas de pré-colheita deve;
- identificar etapas e práticas que representem um risco para a segurança da uva;
- estabelecer e implantar procedimentos de controle efetivo para as etapas e práticas
consideradas críticas;
- monitorar os procedimentos de controle para garantir a continuidade da efetividade do
controle;
- rever os procedimentos e práticas periodicamente ou sempre que houver modificações
operacionais;
- registrar em planilhas elaboradas para cada procedimento, para fins de rastreabilidade de
possíveis problemas (caderno de campo e planilhas).

6 PRÁTICAS CULTURAIS

No passado, quando as técnicas como a enxertia eram ainda desconhecidas, o


viticultor multiplicava a videira plantando directamente, sobre as suas próprias raízes as castas
que pretendia - pé franco . Os métodos mais utilizados eram, normalmente, a alporquia, a
mergulhia e a estacaria. O seu uso tornou-se indispensável desde a invasão filoxérica, dada a
resistência das raízes das espécies americanas à picada do insecto. Perante este grave
problema, foi necessário estabelecer uma «ponte» entre a casta e o solo: o porta-enxerto.
Deste modo, se desenvolveu a técnica da enxertia.
Trata-se de um processo de soldadura fisiológica, segundo o qual se unem duas
videiras de origens diferentes. Uma, com o sistema radicular, resistente à filoxera - a que se dá
o nome de porta-enxerto ou cavalo - e outra que constitui a parte aérea- o garfo ou cavaleiro.
O porta-enxerto (PE) é proveniente das videiras americanas e/ou dos seus cruzamentos,
enquanto o garfo se obtém das castas aptas à produção de vinho.
A escolha da variedade do porta-enxerto depende da sua adaptação às características
do solo (acidez, secura, etc.) e da sua afinidade com a casta. O solo desta Região é
predominantemente de origem granítica, e por isso, de textura mais ou menos arenosa, franca
ou franca-arenosa, e de origem xistosa em duas faixas, de textura franca a franca-argilosa; a
sua origem geológica associada às elevadas quedas pluviométricas da região, concorrem para
14
uma generalizada natureza ácida dos solos desta região, que para a vinha deve ser corrigida
para níveis de pH entre os valores de 5,6 - 6,5. Na conjugação casta x porta-enxerto, há que
atender às características de vigor e precocidade que se conheçam do porta--enxerto e que são
induzidas à casta. Entre o conjunto de variedades de porta-enxertos, as mais utilizadas na
região são as espécies Berlandieri, Rupestris e Riparia.

6.1 A poda
A poda é uma operação realizada anualmente, durante o período de descanso
vegetativo. Dada a grande exuberância que atingem as videiras nesta Região e as óbvias
dificuldades de mecanização que esta operação apresenta, a poda é um trabalho moroso que
consome muita mão--de-obra. O que torna a poda uma operação exigente é o facto de ser
necessário proceder a um equilíbrio da carga deixada em cada videira. Aqui reside o maior
óbice à mecanização, uma vez que cada videira tem de ser considerada individualmente
Desse correcto equilíbrio, dependerá o regular desenvolvimento da planta, por um
lado, e, por outro, uma relação entre a quantidade e a qualidade das uvas da próxima vindima.
Uma poda que permita um exagerado desenvolvimento da planta durante o ciclo vegetativo
que se vai seguir, levará a uma elevada produção de uvas de baixa qualidade. E, por outro
lado, uma poda demasiado severa, poderá vir a traduzir--se num crescimento muito intenso de
matérias verdes em prejuízo da qualidade dos cachos.

6.2 A empa
A empa é uma operação que se realiza em simultâneo com a poda e que consiste em
dobrar a vara que se deixa e amarrá-la a um arame. Tem, como contribuição positiva para o
processo produtivo, o fato de permitir uma regularização da rebentação.
No entanto, provoca um aumento de mão--de-obra, o que naturalmente se reflecte nos
custos de produção. Nesta Região, a empa estava associada apenas às ramadas, uma vez que
os enforcados e os arjões não permitiam esta operação. Hoje em dia, esta é uma prática
constante derivada aos novos sistemas de condução das vinhas.

6.3 A rega
A videira necessita de água em três momentos do seu ciclo anual: no início do
crescimento vegetativo, que ocorre no princípio da Primavera; depois da alimpa, quando o
bago começa a crescer; e, finalmente, na época da maturação, para permitir a transformação
dos ácidos em açúcares. Dadas as condições climáticas da região dos Vinhos Verdes, raras
vezes é necessário regar, a não ser no terceiro caso. Regra geral, tal poderá ser suficiente para
15
satisfazer as necessidades da videira. Porém, quando o ano é extremamente seco, dificilmente
se consegue um amadurecimento dos cachos sem se proceder a regas.
Em anos molhados, o equilíbrio entre a quantidade e a qualidade do vinho altera--se
em desfavor desta - “diz-se que o bom vinho é o que passa fome e sede” -, em anos secos a
qualidade pode acompanhar a quantidade na sua queda se não forem tomadas medidas
correctivas. Neste sentido, a rega, deverá ser entendida como uma medida correctiva com o
intuito de corrigir desequilíbrios climatéricos, e não como um expediente para aumentar
artificialmente a produção em detrimento da sua própria qualidade.

6.4 Implantação do vinhedo


A implantação do vinhedo abrange todas as operações que vão desde a escolha da área
até a formação das plantas. É uma fase muito importante da viticultura de mesa e que deve
merecer especial atenção por parte do viticultor, em função de que uma decisão errônea nessa
fase poderá comprometer a produtividade, reduzir a vida útil do pomar, dificultar os tratos
culturais e fitossanitários, entre outras, o que pode comprometer parcial ou totalmente a
lucratividade da atividade. A seguir serão apresentadas as principais recomendações para a
implantação de pomares comerciais de uvas finas para mesa na região de Marialva-PR.
Embora tais recomendações sejam específicas para a região, poderão ser utilizadas para
regiões com condições de clima e de solo semelhantes.

6.5 Escolha e Preparo da Área


Sempre que possível, a parreira deve ser instalada em áreas de topografia plana ou
levemente inclinada e com exposição para o norte, em virtude da maior incidência dos raios
solares. De modo geral, a videira pode ser cultivada nos mais variados tipos de solos, com
exceção dos solos com problemas de drenagem.
Nessa fase é necessário eliminar os restos de cultura (raízes, troncos, etc.) que possam
causar problemas com fungos de solo, fazer as devidas correções na acidez e na fertilidade do
solo, eliminar pragas (cupins e formigas) e eliminar plantas invasoras de difícil controle
(tiririca, grama seda, etc.). Além disso, é importante definir e planejar diversas atividades que
serão realizadas na parreira, como quantidade e localização dos carreadores, localização do
sistema de irrigação, etc.
16

6.6 Formação de Quebra ventos


A formação de quebra-ventos no contorno da latada é recomendável para diminuir a
velocidade do vento. O vento provoca a quebra de brotos, dificulta a orientação dos ramos
durante a formação dos braços causando deformações na estrutura da planta. Algumas
espécies que podem ser utilizadas para esta finalidade são: capim elefante (Pennisetum spp.),
cana-de-açúcar (Saccharam oficinarum), grevilea (Grevilea robusta), eucalipto (Eucaliptus
spp.), leucena (Leucaena leucocephala), bananeira (Musa spp.) e capim-guandú (Cajanus
cajan).

7 PROPAGAÇÃO

7.1 Propagação do porta-enxerto

Independentemente do método de propagação a ser utilizado, para obtenção de


material propagativo de boa qualidade, as plantas fornecedoras de estacas ou garfos devem
ser mantidas em áreas conduzidas especificamente para este fim, denominadas matrizeiros ou
campo de matrizes.
A obtenção dos porta-enxertos pode ser feita de diversas formas, porém, devido à
praticidade e ao baixo custo de produção, a maioria dos porta-enxertos são propagados
utilizando-se a estaquia lenhosa. Para preparo das estacas, os ramos devem ser coletados
durante a fase de repouso da planta ou, no caso daqueles porta-enxertos que não perdem as
folhas, quando os ramos encontrarem-se maduros, ou seja, com a coloração marrom
característica e com diâmetro de 6 mm a 10 mm. As estacas devem ser preparadas com 3 a 5
gemas, o que corresponde a cerca de 40 cm de comprimento, cortando-se logo abaixo do nó
inferior e na região do entrenó, em bisel, na parte superior.
Para uniformizar a formação de raízes e melhorar o índice de enraizamento, pode-se
fazer o tratamento das estacas com ácido indolbutírico (AIB). O tratamento pode ser feito de
diversas formas, conforme a preferência do viveirista ou do viticultor, mas, de modo geral, o
tratamento pela imersão da base das estacas em uma solução com 10ppm de AIB, por 12
horas, tem fornecido bons resultados.
Após o preparo, pode-se colocar as estacas imediatamente nas embalagens (saquinhos
pretos perfurados, balainhos de bambu, etc.) com o substrato para enraizamento (Figura 1),
ou deixá-las na sombra com a base, cerca de 1/3 do comprimento, submersa em areia,
devendo-se irrigar uma ou duas vezes por dia para manter a umidade da areia, ou ainda
17
armazená-las em câmaras frias. Quando o armazenamento for feito em areia, assim que
iniciar o processo de formação de calo, as estacas deverão ser transplantadas para as
embalagens.

Figura 1. Estacas do porta-enxerto IAC 572 colocadas para enraizamento em saquinhos perfurados.
(Foto: Jair Costa Nachtigal)

Se for necessário transportar as estacas a longas distâncias, recomenda-se embalar os


feixes somente com material plástico (sacos, lonas, etc.), resistente e com boa vedação. Não
se deve utilizar jornais, serragem ou outro material umedecido, o que pode favorecer o ataque
de fungos. Antes de colocá-las nas embalagens para o enraizamento, deve-se fazer uma
hidratação das mesmas, que consiste na imersão da parte basal ou de toda a estaca em água
durante cerca de 12 horas.
Durante a colocação das estacas nas embalagens, deve-se tomar o cuidado para que a
base fique enterrada a uma profundidade máxima de 2/3 da altura da embalagem e nunca
encostada no fundo, uma vez que nessa região existe acúmulo de umidade, o que prejudica a
formação das raízes. Para manter o grau de umidade adequado para a formação de raízes, é
necessário fazer irrigações diárias, de preferência uma pela manhã e outra no final da tarde.
Além da irrigação, durante a fase de desenvolvimento dos porta-enxertos no viveiro, às vezes
é necessário o controle fitossanitário, principalmente de antracnose, já que a maioria dos
porta-enxertos é sensível a essa doença.
18
7.2 Plantio do porta-enxerto no campo
Após 2 a 3 meses da colocação das estacas para o enraizamento, os porta-enxertos
estarão prontos para serem levados para o campo. Caso a área destinada à implantação da
parreira tenha o sistema de irrigação instalado, pode-se levar os porta-enxertos em qualquer
época do ano, desde que estejam bem enraizados, o que pode ser notado pela presença de
raízes na parte externa dos saquinhos ou pelo tempo após a colocação das estacas nas
embalagens, citado anteriormente. No caso de áreas sem irrigação, os porta-enxertos devem
ser levados para o campo quando iniciar o período das chuvas, o que, na maioria das regiões
tropicais e subtropicais produtoras de uvas de mesa, ocorre a partir de novembro.
No momento do transplante, é importante realizar a poda das raízes que estão
enoveladas, quebradas ou na parte externa da embalagem. Os porta-enxertos devem ser
colocados a uma profundidade que permita a parte de cima do substrato ficar no nível do
solo. A embalagem utilizada para o enraizamento deve ser totalmente eliminada durante o
transplante para o campo.
Após o transplante, recomenda-se fazer uma irrigação para melhorar o contato das raízes
com o solo. Essa irrigação poderá ser dispensada se os porta-enxertos forem transplantados
em dias chuvosos ou se o solo apresentar elevado teor de umidade.
Durante o desenvolvimento dos porta-enxertos no campo, deve-se fazer um eficiente
controle fitossanitário, principalmente de formigas cortadeiras que causam sérios danos,
irrigações quando necessárias e controle das ervas daninhas. Em alguns casos, é feito o
tutoramento das brotações dos porta-enxertos, o que facilita a formação de troncos retos e na
posição vertical.
Os porta-enxertos levados para o campo até o final do ano, normalmente, podem ser
enxertados na metade do ano seguinte. Em alguns casos, principalmente quando se utiliza
porta-enxertos pouco vigorosos, como o 'IAC 766' ou similares, deve-se realizar o transplante
para o campo o mais cedo possível, de preferência antes do final do mês de novembro, caso
contrário não se consegue o desenvolvimento satisfatório das brotações para a enxertia de
maio a agosto do ano seguinte, principalmente no caso de ocorrerem deficiências nutricionais
e/ou hídricas.
19

8 ENXERTIA

A enxertia de uvas finas de mesa na região de Pirapora, normalmente, é feita


diretamente no campo utilizando-se material lenhoso (enxertia lenhosa ou de inverno) ou
material herbáceo (enxertia herbácea, verde ou de verão).

8.1 Enxertia madura ou lenhosa


A enxertia lenhosa é realizada nos meses de maio a agosto, embora possa ser realizada
em outras épocas, utilizando-se ramos maduros ou lignificados, tanto do porta-enxerto quanto
da cultivar copa. A enxertia, no início do período da seca, favorece a formação da copa das
plantas, devido à menor incidência de doenças.
A enxertia é feita pelo método da garfagem em fenda cheia (Figura 2), em ramos que
apresentem cerca de 8 mm de diâmetro. Os sarmentos - ramos da cultivar copa dos quais são
retiradas as gemas ou borbulhas - devem apresentar diâmetro e estágio de desenvolvimento
semelhantes ao porta-enxerto, o que facilita a realização e o pegamento da enxertia.

Figura 2. Enxertia lenhosa em videira pelo método de garfagem em fenda cheia.


(Foto: Jair Costa Nachtigal)

Logo depois de coletados, os ramos não devem ser expostos ao sol ou às altas
temperaturas, para evitar a desidratação dos mesmos. Caso haja necessidade de transporte
para locais distantes ou armazenamento por alguns dias, é recomendável que os ramos sejam
envolvidos por um material plástico e colocados em geladeira ou câmara fria. Da mesma
forma que, para as estacas do porta-enxerto, não se recomenda a colocação de papel,
serragem ou outro material umedecido.
20
A amarração pode ser feita com plástico ou outro material que permita a fixação das
partes enxertadas e a proteção contra a perda de umidade.
Para garantir o pegamento, podem ser feitas duas enxertias em cada porta-enxerto,
deixando-se uma ou mais brotações como dreno para evitar que haja exudação de seiva na
região enxertada. As brotações deixadas como drenos devem ser eliminadas 2 ou 3 semanas
após a realização da enxertia, ou quando iniciar a brotação dos enxertos.

8.2 Enxertia verde ou herbácea


A enxertia herbácea ou enxertia verde é uma prática relativamente recente que tem
sido bem aceita pelos viticultores, principalmente devido à facilidade de execução, elevados
índices de pegamento e à rapidez com que a nova planta é formada. Em parreiras onde é feita
a substituição da cultivar copa, a rapidez na formação da planta é ainda mais pronunciada,
visto que o porta-enxerto apresenta o sistema radicular completamente desenvolvido. Nesse
caso, é necessário que o porta-enxerto e a cultivar copa a ser substituída sejam livres de vírus
e estejam com uma boa sanidade. Para a emissão das brotações do porta-enxerto, a copa da
planta é eliminada logo depois da colheita dos frutos, abaixo do ponto da enxertia anterior (ao
redor de 20 cm a 30 cm acima do nível do solo). Cerca de 45 dias após, é possível a
realização da enxertia verde nas brotações e a obtenção de uma planta formada já para a
próxima poda de produção, a ser realizada a partir de março do ano seguinte.
A enxertia verde também pode ser usada para implantação de novas áreas, porém é
necessário que o porta-enxerto tenha um bom desenvolvimento para emissão de brotações
vigorosas e para a formação da cultivar copa enxertada.
Com relação à execução da enxertia, o processo é semelhante ao da enxertia de inverno,
sendo normalmente utilizado o método de garfagem em fenda cheia (Figura 3), lembrando
que as brotações do porta-enxerto e o garfo devem apresentar diâmetro e estágio de
desenvolvimento correspondentes.
21

Figura 3. Enxertia verde utilizando-se o método de fenda cheia.


(Foto: João Dimas Garcia Maia)

Para amarração do enxerto, a utilização de filme de PVC transparente, usado para


embalar alimentos, tem proporcionado excelentes resultados. Além disso, por ser auto-
aderente, não é necessário dar nós para arrematar as extremidades. Esse tipo de material
também pode ser utilizado para amarrar enxertos maduros com excelentes resultados.
Como o filme de PVC é comercializado em bobinas de 28 cm, para facilitar o manuseio
durante a amarração, é necessário cortá-los em rolos com 2,0 cm a 2,5 cm de largura,
conforme a preferência do enxertador. Durante a amarração, deve-se tomar o cuidado de
passar duas ou três vezes o plástico na parte superior do garfo, uma vez que o material não é
lignificado e desidrata com facilidade. Durante a amarração, somente a gema enxertada deve
ficar descoberta pelo filme de PVC. Na enxertia verde, também devem ser realizados dois
enxertos em cada porta-enxerto e deixadas uma ou duas brotações como dreno.
Cerca de 10 dias após a enxertia, inicia a brotação do enxerto, permitindo observar se
houve ou não o seu pegamento. A enxertia verde pode ser realizada praticamente em qualquer
época do ano, porém as épocas em que ocorrem temperaturas elevadas e ausência de chuvas
intensas são as mais adequadas para o desenvolvimento das brotações e para a formação da
nova planta.

9 Sistemas de Condução
A produção de uvas finas de mesa na região de Pirapora é feita exclusivamente no
sistema de condução de latada (Figura 4), em função de possibilitar maiores produtividades,
proteção dos cachos à incidência da luz solar, facilidade de aplicação de produtos
fitossanitários, etc.
22

Figura 4. Sistema de condução em latada.


(Foto: Jair Costa Nachtigal)

A construção de uma parreira na forma de latada pode variar em função de vários


fatores, como preferência do viticultor, custos, declividade do terreno, porta-enxertos e
cultivar-copa utilizados, materiais disponíveis na região, entre outros. De modo geral, a
seguir, são apresentadas algumas especificações dos materiais utilizados e a forma de
construção de uma latada, lembrando que essa estrutura deve estar pronta antes da época da
enxertia, para evitar danos aos enxertos durante a sua construção.
Quanto aos materiais utilizados para sustentação da estrutura (postes, cantoneiras e os
arames), deve-se utilizar materiais duráveis e que apresentem o menor custo na região. Na
região de Pirapora, os postes e cantoneiras normalmente são utilizados de eucalipto tratado,
de itaúba e, em menor escala, de concreto. Já os arames devem ser específicos para a
construção de parreiras, em função de utilizarem uma galvanização de melhor qualidade, o
que é menos atacada pela ação dos produtos fitossanitários, conferindo maior durabilidade à
parreira.
Os principais passos para construção de uma latada são apresentados a seguir:

 Demarcar os quatro cantos do parreiral.


 Fincar os cantoneiros (palanques) no solo a 1,5 m de profundidade.
 Colocar os três rabichos de quatro fiadas com arames nº 6 em cada cantoneiro a 1,5 m
de profundidade, sendo os dois laterais posicionados na projeção do alinhamento das
duas respectivas laterais e o terceiro no meio.
 Esticar o fio de contorno, cordoalha de 7 fios, através de uma talha na altura
preconizada e prendê-lo pelas presilhas.
23
 Fincar os postes laterais a 0,70 m de profundidade, com as bases alinhadas no
perímetro do parreiral, com seus respectivos rabichos de duas fiadas feitos com arames
nº 8, posicionados nas projeções perpendiculares das respectivas laterais. Outra opção
é usar chapas âncoras, tirantes, cordoalhas e alças pré-formadas com galvanização
pesada e alta resistência mecânica. Se for usar a tela para cobrir o parreiral, os postes
externos devem ser de 2,5 m e 3,0 m de comprimento, dispostos de forma alternada no
contorno da latada. Neste caso, são necessários postes de 3 m para esticar os arames
que sustentarão a tela.
 A ordem de colocação dos arames é a seguinte: primeiro coloca-se arames nº 12, ou
ovalado com bitola de 2,4 mm x 3,00 mm e galvanização pesada, no mesmo sentido
da rua. Depois, os porta fios com arames nº 12 ou ovalado, com bitola de 2,4 mm x
3,00 mm e galvanização pesada, sobre os anteriores, no sentido perpendicular ao da
rua, para sustentar os de nº 14 comum ou de 2,10 mm de bitola, no mesmo sentido da
rua, os quais sustentarão as varas.
 Independente do espaçamento entre plantas, os arames da malha simples sempre serão
esticados na cordoalha externa, passando-os por cima de todos os arames que cruzam
a latada no sentido perpendicular, deixando-se uma distância entre eles de 30 cm a 35
cm. Esta distância visa facilitar a grampeação dos ramos.
 Amarrar os arames da malha fina nos pontos sobre os arames porta fios, através de
arame nº 18, objetivando-se mantê-los eqüidistantes, para não haver aglomeração dos
mesmos durante a retirada do material de poda. Em áreas onde há riscos de granizo,
ataque de pássaros, é necessário a cobertura do parreiral com tela de polietileno
especial, com aditivos anti-raios ultravioletas e 18% de sombreamento.
 No caso de parreiras em que se deseje colocar tela de proteção, é necessário fixar os
balancins de 1,5 m x 0,03 m x 0,04 m em todos os postes internos ou utilizar postes
com cerca de 0,7 a 1,0m mais compridos, onde serão esticados e fixados em suas
extremidades superiores os fios nº 14 ou com 2,10 mm de bitola, galvanização pesada,
abaixo e acima da tela, nos dois sentidos, e amarrados na cabeça dos postes de três
metros para a sustentação da mesma.

Em Pirapora, o sistema de condução da planta em Y (Figura 5) proporcionou bom


resultados para as cultivares Thompson Seedless e Crimson Seedless, apesar de ser um
sistema ainda pouco utilizado na região.
24
9.1 Espaçamentos
Tendo-se em vista o crescimento vigoroso das cultivares principais cultivares e para o
sistema de condução em latada, recomenda-se distâncias não inferiores a 2,5m entre as linhas
e a 2,0 m entre as plantas. Espaçamentos maiores do que 4m x 4m (16m².planta-1) também
não são recomendados em virtude de exigir estruturas produtivas (braços) muito longas, além
da perda de área produtiva em virtude de falhas, ocasionadas por ausência ou morte de
plantas.

Figura 5. Sistema de condução em Y.


(Foto: Jair Costa Nachtigal)

9.2 Formação da Planta


As principais formas de formação das plantas são as que conduzem os braços no
sentido da linha das plantas (Figura 6) ou no sentido perpendicular à essa (Figura 7). A
condução dos braços no sentido da linha das plantas tem como vantagens principais a
facilidade de realização de tratos culturais - podas, aplicação de produtos para quebra da
dormência, desbrotas, desnetamentos, desbaste de cachos, despontas de cachos e de ramos e
tratamentos dos cachos com reguladores vegetais - a possibilidade de fazer aplicações
localizadas de produtos fitossanitários e facilidade para escalonamento das podas.
Nesse sistema as plantas podem ser formadas com 1 ou 2 braços e com as varas
(sarmentos) posicionadas no sentido da entre linha e distanciadas a 15cm entre si. No caso da
formação da planta com 1 braço, este deve ser conduzido até a próxima planta, quando deverá
25
ser despontado para facilitar o desenvolvimento dos sarmentos. Já quando forem utilizados 2
braços, estes devem ser conduzidos em sentidos opostos e despontados quando atingirem a
metade da distância entre as plantas. O espaçamento entre ruas para este tipo de formação
deve ser de 2,5 a 3,0m e de 2,5 a 4,0 entre plantas.

Figura 6. Sistema de formação das plantas com condução dos braços no sentido da linha das plantas.
(Foto: Jair Costa Nachtigal)

A formação da planta com braços dispostos no sentido perpendicular à linha tem sido
adotada por alguns viticultores, embora apresente algumas desvantagens em relação à
condução no sentido da linha. Nesse sistema as plantas devem ser formadas com 2 braços,
sendo estes conduzidos até a metade da distância entre as filas, onde devem ser despontados.
Nesse tipo de condução da planta são necessários espaçamentos maiores entre filas, de 4 a 5
m, e espaçamentos menores entre plantas, 2,0 m por exemplo. O espaçamento de 5,0 x 2,0m é
adequado para que não haja perda de área produtiva.
26

Figura 7. Sistema de formação das plantas com condução dos braços no sentido da entre-linha das
plantas.
(Foto: Jair Costa Nachtigal)

No sistema de condução em latada, seja qual for o sistema de formação das plantas
adotado, há necessidade de regular o número brotos (futuras varas de produção) no ciclo de
formação.
A disposição dos arames da malha fina (arames nº14), que sustentaram as varas, será
sempre no sentido paralelo ao dos braços. Portanto, quando o viticultor for construir a
parreira já deverá saber qual sistema de formação das plantas a ser adotado, para que as
brotações com os cachos fiquem apoiadas sobre os mesmos.
A decisão do tipo de formação das plantas deve ser tomada antes do plantio dos porta-
enxertos para que possam ser utilizados espaçamentos adequados.
27

10 BIBLIOGRAFIA

BORTOLOZZI, Arlêude. Diagnóstico da educação ambiental no ensino de geografia. São


Paulo.2000.
Elementos de apoio para as boas práticas agrícolas e o sistema APPCC. Brasília, DF:
Enciclopédia Delta Universal Vol. 14 Página 7.837 Suécia / Zwaryken1982 Editora Delta S/A
Rio de Janeiro
GUIA para minimização de riscos microbianos em produtos hortifrutícolas frescos.
Washington, DC: US-FDA, 1998. 40
MEJORANDO la seguridad y calidad de frutas y hortalizas frescas: manual de formación
para instructores. College Park: University of Mariland, 2002. Várias paginações. Apostila do
treinamento sobre boas práticas agrícolas para produção segura de frutas e hortaliças, 9 a 13
de maio de 2005, Bento Gonçalves, RS, Brasil. PROGRAMA DE ALIMENTOS SEGUROS
POMMER, Celso Valdevino. Uva- Tecnologia de Produção, Pós Colheita e Mercado.Porto
Alegre.2003

Você também pode gostar