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CONTRIBUIÇÃO SINDICAL COMPULSÓRIA E SERVIDORES PÚBLICOS. DE-


CISÃO DO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

SP, 16/9/2013

A contribuição sindical, devidamente prevista e disciplinada a


partir do art. 578 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é uma espécie de
receita dos sindicatos e tem como objetivo custear as atividades dessas entida-
des, permitindo, assim, que estas alcancem seus objetivos institucionais.
A respeito da natureza tributária da contribuição sindical, destaca-
se a lição do prof. Sergio Pinto Martins, in verbis:
“[...] a atual contribuição sindical é o antigo imposto sindical. Como
imposto tinha natureza tributária, como espécie do gênero tributo. O Dec.-Lei nº
27, de 14/11/1966, acrescentou o art. 217 ao Código Tributário Nacional, mudando
a nomenclatura do imposto sindical. Este passou a chamar-se contribuição
sindical, mas a mudança em sua nomenclatura não mudou sua natureza jurídica
de tributo, pois o que importa é seu fato gerador, nos termos do art. 4º do CTN. A
natureza jurídica da contribuição sindical é tributária, pois se encaixa na
orientação do art. 149 da Constituição como contribuição de interesse das
categorias econômicas e profissionais. A contribuição sindical também se encaixa
na definição de tributo contida no art. 3º do CTN. É uma prestação pecuniária,
exigida em moeda. É compulsória, pois independe da vontade da pessoa em
contribuir. O art. 545 da CLT mostra que o desconto da contribuição sindical pelo
empregador independe da vontade do empregado. Não se constitui em sanção de
ato ilícito. É instituída em lei (arts. 578 a 610 da CLT) e cobrada mediante
atividade administrativa plenamente vinculada, que é o lançamento, feito pelo
fiscal do trabalho (art. 606 e seu § 1º da CLT). Logo, sua natureza é tributária”.
(Direito do trabalho. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 748).
Com efeito, grife-se que, a contribuição sindical, que se apresenta
como compulsória e independe da vontade do empregado, e equivale a um dia de
trabalho do trabalhador, é devida anualmente por todos os trabalhadores de deter-
minada categoria, inclusive servidores públicos, sejam estes sindicalizados ou
não, ex vi do art. 37, inc. VI, da CF/1988.
Nesse sentido, “o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendi-
mento de que a Contribuição Sindical, prevista nos arts. 578 e seguintes da CLT, é
devida por todos os trabalhadores de determinada categoria, independentemente
de filiação sindical e da condição de servidor público celetista ou estatutário, exce -
tuado, em relação a este, o inativo”. (AgRgREsp. nº 1.281.281/SP, Rel. Min.
Herman Benjamin, 2ª Turma, j. em 19.4.2012, DJe de 22.5.2012).
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Haja vista, portanto, a natureza tributária e seu caráter


compulsório, independentemente de o cargo ser de provimento efetivo ou em
comissão, ou se o vínculo do agente público ocorre por meio de contrato de
trabalho regido pela CLT (empregado público) ou pelo Estatuto dos Servidores
Públicos (servidor público), entende-se que é dever da Administração Pública
descontar, na época oportuna, a contribuição sindical de seus servidores ou
empregados quando organizados em sindicato.
O raciocínio acima explanado é corroborado pelo eg. Supremo Tri-
bunal Federal, que entendeu pela possibilidade da cobrança da contribuição sindi-
cal dos servidores públicos, dada a recepção, pela Constituição, do art. 578 da
CLT (RMS nº 21.758-1, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU de 4.11.1994). Este
entendimento da Corte Suprema mantém-se até o presente momento, conforme
AgRgAgI nº 456.634 (j. em 13.12.2005) e RE nº 413.080 (j. em 22.6.2010), entre
outros.
No STJ, a posição é a mesma:
“MANDADO DE SEGURANÇA - CONTRIBUIÇÃO SINDICAL -
SERVIDORES PÚBLICOS - LEGITIMIDADE ATIVA DO SINDICATO - CABIMEN-
TO DO MANDAMUS - CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA - PAGAMEN-
TO - AUSÊNCIA DE MÁCULA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE - RECURSO
PROVIDO - SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. Sindicato devidamente registrado,
representando categoria profissional, com unicidade de representação, detém legi-
timidade ativa para impetrar mandado de segurança visando receber em repasse
as contribuições sindicais da categoria que representa. 2. Adequabilidade da via
mandamental porque não se trata de ação de cobrança e sim de parcela devida
por força de lei, afastando-se o teor da Súmula nº 269/STF. 3. A obrigação dos
servidores públicos contribuírem para o Sindicato já está sedimentada na jurispru-
dência do STJ. 4. Recurso ordinário provido”. (destacou-se) (RMS nº 40.628/RJ –
Relatoria Min. Eliana Calmon).
Informa-se, ainda, que recentemente, com a edição da Instrução
Normativa nº 1, de 14.1.2013, pelo Ministro de Estado do Trabalho e Emprego –
MTE, instalaram-se dúvidas em relação à necessidade de recolhimento da
contribuição sindical dos servidores e empregados públicos.
Nesse passo, verificou-se que o retromencionado regulamento
acabou por tornar sem efeito a Instrução Normativa nº 1, de 3.10.2008, expedida
também pelo MTE, cujo teor determinava que os órgãos da Administração Pública
Federal, Estadual e Municipal, direta e indireta, deveriam recolher a contribuição
sindical, prevista no art. 578 da CLT, de todos os servidores e empregados públi-
cos, observado o disposto no art. 580 e seguintes da Consolidação das Leis do
Trabalho.
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Nessa ocasião, entendeu-se, equivocadamente, que a IN nº


01/2013 afastava a obrigatoriedade de recolhimento da referida contribuição sindi-
cal, fato que somente seria possível se o teor contido a partir do art. 578 da CLT
fosse devidamente revogado, coisa que não ocorreu.
Com efeito, a nosso ver, embora houvesse uma “aparente” lacuna
operacional, permaneceu a necessidade do recolhimento deste tributo pelos
órgãos da Administração Pública, sob pena de questionamento por parte dos
sindicatos da categoria, tendo em vista que a norma prevista no art. 580 da CLT
continua vigente e eficaz.
Objetivando pacificar o tema, a fim de afastar prejuízo no recolhi-
mento da receita sindical estudada, ainda que provisoriamente, foi publicado no
Diário Oficial da União, no dia 1º de março do ano corrente, a IN nº 2/2013, que
não só “tornou sem efeito” a IN nº 1/2013 como “repristinou” os efeitos da
instrução de 30 de setembro de 2008, pelo prazo de 90 dias. Saliente-se que tal
prazo foi expressamente prorrogado em mais 180 dias pela IN nº 3, de 29 de
maio de 2013.
Diante do exposto, portanto, com o objetivo de evitar futuros ques-
tionamentos por parte dos sindicatos, verifica-se que os órgãos da Administração
Pública Federal, Estadual e Municipal, direta e indireta, devem continuar
recolhendo a contribuição sindical, prevista no art. 578 da CLT, observado o
disposto no art. 580 desta Consolidação, e com fundamento na IN nº 1/2008, cuja
vigência foi regularmente restaurada pela IN nº 2/2013, pelo período de 90 dias,
prorrogado em mais 180 pela IN nº 3/2013, de todos os servidores e empregados
públicos, sindicalizados ou não, até que seja proferida nova manifestação do
Ministério do Trabalho ou haja eventual alteração da posição dos Tribunais
Superiores.

Por Aniello dos Reis Parziale – Advogado, membro do Corpo Jurídico da NDJ

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