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AS PROFECIAS DO TEMPO DO FIM

[Clique na palavra CONTEÚDO]


ENFOQUE CONTEXTUAL-BÍBLICO

Hans K. LaRondelle
Dr. em Teologia
Professor emérito de Teologia

O SERMÃO PROFÉTICO DE JESUS: MATEUS 24


A PROFECIA DE PAULO: 2 TESSALONICENSES 2
O APOCALIPSE DE JOÃO

Título do original em inglês (5ª edição inglesa, 1997)


How to Understand The End-Time Prophecies of the Bible
FIRST IMPRESSIONS
Miami Beach, Florida, E.U.A., 1997

Tradução: Carlos Biagini

[Contracapa]

"O Dr. LaRondelle fez uma contribuição extremamente importante


para nossa compreensão da profecia bíblica".
Dr. George R. Knight, professor de História Eclesiástica no
Seminário Teológico de Universidade Andrews.

"Este livro faz uma contribuição fundamental a uma necessidade


absolutamente crucial em todas as igrejas cristãs: A necessidade de não
só interpretar a Bíblia, mas também a de entender corretamente sua
mensagem apocalíptica e escatológica. Este é um livro bem a tempo".
Wilmore D. Eva, diretor da revista Ministry.
As Profecias do Tempo do Fim 2
"LaRondelle tira o apocalíptico do reino da fantasia e especulação
que caracteriza as apresentações de tantos que nos deslumbram mas que
não nos alimentam. O enfoque do LaRondelle leva a uma fé mais
amadurecida em Cristo. Isto é erudição cristã, responsável e equilibrada
da melhor classe".
Charles E. Bradford, presidente aposentado da
Divisão Norte-americana da igreja adventista.

Hans K. LaRondelle é professor emérito de Teologia no


Seminário Teológico da Universidade Andrews, em Berrien
Springs, Michigan, Estados Unidos. Serve nos Países Baixos
como pastor evangelista e professor durante 14 anos, e na
Universidade Andrews como professor de teologia durante 25
anos. Recebeu seu título doutoral em Teologia Sistemática e
Ética do distinto teólogo holandês G. C. Berkouer na Reformed
Free University [Universidade Livre Reformada], em Amsterdã,
em 1971.
É o autor dos livros Perfection and Perfectionism [Perfeição e
Perfeccionismo], Christ Our Salvation [Cristo nossa salvação],
Deliverance in the Psalms [Libertação nos Salmos], Chariots of
Salvation [Carruagens de Salvação], The Israel of God in
Prophecy [O Israel de Deus na profecia] e The Good News About
Armageddon [Boas Novas Sobre o Armagedom]. Também é co-
autor nos livros A Symposium on Biblical Hermeneutics [Um
Simpósio Sobre Hermenêutica Bíblica] (editado pelo G. M. Hyde),
Symposium on Revelation, Book II [Simpósio Sobre o Apocalipse,
Livro II] (editado por F. B. Holbrook) e The Sabbath in Scripture
and History [O Sábado na Escritura e na História] (editado por K.
A. Strand).
As Profecias do Tempo do Fim 3
CONTEÚDO

Prólogo . ...........................................................................................7
Introdução geral.................................................................................9
Chave de abreviaturas ....................................................................11
Agradecimentos..............................................................................14

PRIMEIRA PARTE: A PROFECIA BÍBLICA

1. A esperança apocalíptica dos judeus do século I.........................15


2. A distinção entre profecia clássica e profecia apocalíptica….....21
Profecia clássica .....................................................................21
Profecia apocalíptica ..............................................................25
Resumo ...................................................................................28
3. A aplicação que Cristo fez da Bíblia Hebraica............................30
Jesus e a Palavra de Deus .......................................................30
A nova revelação de Jesus o Messias......................................33
Cristo, o representante do novo Israel.....................................34
4. Como Cristo empregou os símbolos apocalípticos ....................38
5. A interpretação que os apóstolos fizeram do
cumprimento da profecia..................................................45
A unidade orgânica dos cumprimentos cristológicos
e eclesiológicos ................................................................47
O princípio de universalização das promessas
territoriais feitas a Israel....................................................49
O inadequado da hermenêutica do literalismo........................51
As Profecias do Tempo do Fim 4
SEGUNDA PARTE: MATEUS E TESSALONICENSES

6. A compreensão de Cristo das profecias do Daniel......................54


A estrutura cronológica do discurso profético de Jesus
em Marcos 13....................................................................59
A aplicação que Cristo fez da tipologia .................................61
Cristo, a chave para entender a profecia ................................63
O anticristo abominável..........................................................65
O anticristo pós-apostólico .....................................................69
O estilo apocalíptico de Mateus 24 ........................................70
A ênfase de Lucas sobre o curso da história...........................71
A teologia de Cristo sobre os sinais cósmicos........................74
A universalização que Cristo fez das profecias
do tempo do fim ...............................................................78
Resumo ...................................................................................79
FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO 6.......................82
7. A compreensão de Paulo das profecias de Daniel.......................85
O enfoque contínuo-histórico em Daniel ...............................86
Paralelos entre os esboços apocalípticos de Jesus e Paulo............88
A ênfase de Paulo sobre a apostasia religiosa.........................90
Como Paulo emprega a frase "o templo de Deus"..................92
Como Paulo emprega os tipos de adoração falsa
no Antigo Testamento.......................................................94
A aplicação que Paulo faz do antimessias predito por Daniel....96
O momento histórico exato do anticristo segundo Paulo........98
O anticristo de Paulo como uma paródia de Cristo...............100
O mistério da iniqüidade.......................................................102
O ato que coroará o drama do engano...................................104
Resumo..................................................................................105
FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO 7.....................107
As Profecias do Tempo do Fim 5
TERCEIRA PARTE: O APOCALIPSE

8. Introdução ao Apocalipse..........................................................109
9. O propósito do Apocalipse........................................................114
10. Chaves interpretativas dentro do Apocalipse............................120
11. A composição literária do Apocalipse.......................................129
FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO 11................................140
12. A visão do trono do Criador: Apoc. 4.......................................141
13. A entronização do Cordeiro de Deus: Apoc. 5..........................147
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 4 E 5......................153
14. Compreendendo os sete selos: Apoc. 6.....................................153
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 6..........................182
15. Segurança de libertação no tempo do fim: Apoc. 7..................184
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 7..........................202
16. Compreendendo as trombetas em seus contextos:
Apoc. 8 e 9................................................................................204
17. Uma aplicação histórica das trombetas.....................................225
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER AS
TROMBETAS EM SEUS CONTEXTOS............................................245
18. O refletor profético sobre o povo de Deus do
tempo do fim: Apoc. 10............................................................247
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 10........................264
19. A missão profética das testemunhas de Deus:
Apoc. 11....................................................................................266
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 11…......................296
20. Compreendendo os "1.260 dias" em Apocalipse 11-13 ...........299
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER OS "1.260 DIAS"......326
21. A mensagem do tempo do fim na perspectiva histórica:
Apoc. 12-14...............................................................................331
22. O conflito final de lealdade do tempo do fim: Apoc. 13...........366
23. Identificando o anticristo...........................................................393
24. Os últimos companheiros do Cordeiro: Apoc. 14:1-5...............403
As Profecias do Tempo do Fim 6
25. A mensagem do primeiro anjo: Apoc. 14:6, 7..........................412
26. A mensagem do segundo anjo: Apoc. 14:8...............................429
27. A mensagem do terceiro anjo: Apoc. 14:9-12...........................437
28. A dupla ceifa da terra: Apoc. 14:14-20.....................................450
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 12-14....................458
29. O significado das sete últimas pragas: Apoc. 15 e 16...............467
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 15 E 16.................489
30. A sétima praga: A retribuição de Babilônia: Apoc. 17.............492
31. O significado do veredicto de Deus sobre Babilônia:
Apoc. 18 ...................................................................................520
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 17 E 18.................540
32. Compreendendo o milênio: Apoc. 19 e 20................................544
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER O MILÊNIO.............576
33. O significado da Nova Jerusalém: Apoc. 21 e 22 ....................581
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 21 E 22.................603

Epílogo…………………………………………….…………..….606

APÊNDICES

A. Relação do dom de profecia do tempo do fim


com a Bíblia......................................................................609
B. Alguns textos problemáticos com respeito à
Nova Terra........................................................................618
As Profecias do Tempo do Fim 7
PRÓLOGO

O propósito deste estudo da profecia bíblica é singelo: É meu


testemunho como professor de Teologia, alguém que ensinou
Escatologia Bíblica e Interpretação Apocalíptica por mais de 25 anos no
Seminário Teológico da Universidade Andrews (em Berrien Springs,
Michigan, Estados Unidos) e em seminários de extensão ao redor do
mundo.
Este livro é o resultado de meus contínuos esforços por aprender
com o passar do tempo. O presente estudo não é um tratamento
exaustivo de cada profecia de longo alcance da Sagrada Escritura. Os
capítulos problemáticos do Daniel 8-12 constituem uma estudo à parte, e
estão além do alcance deste livro. Os eruditos bíblicos adventistas
estudaram recentemente estes capítulos apocalípticos no livro do Daniel.
Os resultados de seus estudos podem encontrar-se nos livros The
Sanctuary and the Atonement, Biblical Historical, and Theological
Studies [O Santuário e a Expiação: Estudos Bíblicos, Teológicos e
Históricos] (A. V. Wallenkampf e W. R. Lesher, eds., Biblical Research
Committee [Comissão de Investigação Bíblica]; Washington DC:
Review and Herald, 1981), Symposium on Daniel [Simpósio Sobre
Daniel] (Frank B. Holbrook, ed., Biblical Research Institute [Instituto de
Investigação Bíblica]; Hagerstown, Maryland: Review and Herald,
1986), e no número de "Daniel" da Journal of the Adventist Theological
Society [Revista da Sociedade Teológica Adventista] (T. 7, N.° 1, 1996).
O tema central da presente obra é o discurso profético de Jesus em
Mateus 24 (e seus capítulos paralelos no Marcos e Lucas), o esboço
apocalíptico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2, e Apocalipse de João.
Estou convencido de que a interpretação contínuo-histórica das
grandes séries apocalípticas proporciona o método mais adequado para a
desafiante tarefa de compreender a perspectiva bíblica do tempo do fim.
Isto requer uma comprovação cuidadosa das tradicionais aplicações
historicistas à história da igreja, de modo que possamos aprender dos
As Profecias do Tempo do Fim 8
enganos do passado. Nosso enfoque é primariamente a exegese
contextual-bíblica de cada passagem apocalíptica antes que se possa
extrair qualquer aplicação histórica.
Por um lado, a redação deste livro reflete o estilo de minhas classes
com os estudantes de Teologia, como também com o dos encontros com
pastores e leigos nos seminários bíblicos. E, por outro lado, tem a
intenção de beneficiar a todos os estudantes sinceros da Bíblia que
desejam investigar esta parte importante e desafiante das Escrituras,
As Profecias do Tempo do Fim 9
INTRODUÇÃO GERAL

O propósito deste livro é ajudar ao leitor a compreender melhor o


plano de Deus para a redenção do planeta Terra. A Sagrada Escritura dá
a conhecer o significado do plano de Deus até que alcance sua revelação
total e completa no último livro da Bíblia, o Apocalipse, que é "a
revelação do Jesus Cristo" (Apoc. 1:1). O Apocalipse é reconhecido
como o mais destacado e um resumo de todas as profecias anteriores;
isto sugere sua profunda unidade espiritual com os outros livros da
Bíblia. Portanto, requer-se um conhecimento básico de toda a Escritura
antes de poder obter uma revelação mais profunda do Apocalipse.
O Apocalipse adota seus símbolos, imagens e termos
principalmente do Antigo Testamento, por isso estes não podem ser
compreendidos se forem isolados de suas raízes hebraicas. Posto assim,
para ler o Apocalipse dentro de seu amplo contexto bíblico se requer que
nos familiarizemos com as Escrituras Hebraicas, com sua forma de falar
e com sua linguagem profética. Além disso, também é de proveito a
interpretação que fazem da profecia os rabinos do judaísmo posterior.
Este antecedente revela a surpreendente novidade da mensagem
evangélica, tal como a apresentaram Jesus e os escritores do Novo
Testamento.
Nosso exemplo autoritativo para a aplicação cristã das profecias do
tempo do fim será a maneira como Cristo e o apóstolo Paulo usaram os
símbolos apocalípticos do livro do Daniel. O sermão profético do Jesus
em Mateus 24 (e paralelos) e o esboço profético de Paulo em 2
Tessalonicenses 2 constituem os dois elos indispensáveis entre os livros
do Daniel e Apocalipse. Tanto Jesus como Paulo aplicam as profecias do
Daniel 7-12 do ponto de vista de sua própria época. Assim sendo, como
crentes cristãos devemos derivar nossos princípios de interpretação
profética de suas aplicações históricas de Daniel. Estes princípios
hermenêuticos, ou de interpretação, são de uma importância decisiva
para nossa compreensão das profecias bíblicas do tempo do fim.
As Profecias do Tempo do Fim 10
A primeira parte de nossa investigação se concentra em Mateus 24 e
em 2 Tessalonicenses 2. Em Apocalipse, o enfoque estará sobre a da
prova final de fé no grande conflito dos séculos. A profecia bíblica nunca
foi dada para satisfazer nossa curiosidade sobre o futuro. Mais bem, sua
finalidade divina é animar o povo de Deus para que persevere na sagrada
fé e revitalize sua bem-aventurada esperança na breve volta de Cristo
como o Rei-Salvador. Quando o Apocalipse, a revelação de Jesus Cristo,
fizer pleno impacto em nossas mentes e corações, experimentaremos
suas descrições poéticas e dramáticas como a mensagem mais sublime
da misericórdia e justiça divinas para a humanidade. A culminação da
profecia é a segurança celestial de que o Criador se importa conosco e
com nosso mundo, e de que Sua justiça prevalecerá durante toda a
eternidade sobre a terra assim como prevalece no céu.
No final da maioria dos capítulos se sugere material bibliográfico
como uma guia para um estudo exaustivo. A menos que se indique outra
coisa, usa-se a versão Almeida Atualizada, revisão de 1997 (toda ênfase
na transcrição do texto dos versículos, em negrito ou em itálico, é do
autor).
As Profecias do Tempo do Fim 11
CHAVE DE ABREVIATURAS

Bíblias (versões)
BC Bover-Cantera
BJ Bíblia de Jerusalém
CI Cantera-Iglesias
BLH Bíblia na Linguagem de Hoje
JS Juan Straubinger
LXX Septuaginta, ou Versão dos Setenta
NASB New American Standard Bible
NBE Nova Bíblia espanhola
NC Nácar-Colunga
NEB New English Bible [Nova Bíblia inglesa]
NVI Nova Versão Internacional
NKJV New King James Version
RA Revista e Atualizada
TA Torres-Amat

Espírito de Profecia
AA Atos dos apóstolos
CE Colportor evangelista, O
DTN Desejado de Todas as Nações, O
Ed Educação
Ev Evangelismo
FE Fundamentos da Educação Cristã
GC Grande Conflito, O
MS Mensagens Escolhidas
PE Primeiros Escritos
PP Patriarcas e Profetas
PR Profetas e Reis
TS Testemunhos Seletos, vol. 1, 2, 3
As Profecias do Tempo do Fim 12
Revistas teológicas

AUSS Andrews University Seminary Studies [Estudos do


Seminário da Universidade Andrews]
CBQ Catholic Biblical Quarterly [Revista Trimestral Bíblica
Católica]
JATS Journal of the Adventist Theological Society [Revista da
Sociedade Teológica Adventista]
JBL Journal of Biblical Literature [Revista de Literatura Bíblica]
JETS Journal of the Evangelical Theological Society [Revista da
Sociedade Teológica Evangélica]
JSNT Journal for the Study of The New Testament [Revista para
o estudo do Novo Testamento]
NTS New Testament Studies [Estudos do Novo Testamento]
SBTh Studia Bíblica et Theologica [Estudos Bíblicos e Teológicos]
SJT Scottish Journal of Theology [Revista Escocesa de Teologia]

Miscelânea
a.C. antes de Cristo
ANF The Ante-Nicene Fathers [Os Pais antenicenos]
cap. Capítulo
caps. Capítulos
CBA Comentário bíblico adventista (espanhol)
cf. Compare-se com
d.C. depois de Cristo
ed. Editor / editado por / edição de
eds. Editores
gr. grego
lit. Literalmente
p. Página
pp. Páginas
p.ex. Por exemplo
As Profecias do Tempo do Fim 13
QM Regra de guerra (Qumrán)
trad. Tradutor/ Traduzido por
vol. Volume
v. Versículo
vs. Versículos
As Profecias do Tempo do Fim 14
AGRADECIMENTOS

O material bibliográfico que se encontra no final da maioria dos


capítulos mostra a enorme dívida que tenho com os eruditos bíblicos que
procuraram descobrir o significado do Apocalipse, a revelação de Jesus
Cristo. Estou agradecido especialmente a meus colegas no campo da
teologia, e aos estudantes, que leram o manuscrito e estimularam a um
estudo renovado de certas passagens das Escrituras.
De maneira especial desejo mencionar ao Dr. Peter M. van
Bemmelen, professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico
da Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, Estados Unidos;
ao Dr. Ángel M. Rodríguez, do Instituto de Investigação Bíblica da
Associação Geral da Igreja Adventista, Silver Spring, Maryland; ao Dr.
Norman R. Gulley, professor de Teologia Sistemática no Southern
College, Collegedale, Tennessee; ao Dr. Roy C. Nadem, professor
aposentado de Educação Religiosa na Universidade Andrews; ao Dr.
George R. Knight, professor de História da Igreja no Seminário
Teológico da Universidade Andrews; ao Pr. Graeme S. Bradford,
secretário ministerial da União Trans-Tasmânia, Austrália; ao Pr. Jac
Colombo, secretário de campo da Associação de Washington, Bothell,
Washington; a todos eles por seu interesse especial no livro, por suas
conversações estimulantes, e por suas úteis sugestões para esclarecê-lo e
melhorá-lo.
Estou agradecido à minha esposa Bárbara pela correção final das
provas, quem também me indicou a necessidade de simplificar porções
complicadas. A todos meus colegas, professores e estudantes da profecia
bíblica lhes expresso minha profunda gratidão. É obvio, sou o único
responsável pelas deficiências e enganos que possam encontrar-se. O
livro tão-só reflete minha percepção presente como teólogo experiente na
profética Palavra de Deus, mas em caminho para uma compreensão mais
completa da mensagem divina.
As Profecias do Tempo do Fim 15
A ESPERANÇA APOCALÍPTICA DOS JUDEUS DO
SÉCULO I

O Apocalipse de João está em marcado contraste com os vários


escritos apocalípticos judeus que estiveram em atualidade no primeiro
século de nossa era. Desde que o general romano Pompeu invadiu a
Palestina em 63 a.C. e sujeitou à nação judia ao governo romano,
intensificou-se a esperança judia em um Messias prometido. A maioria
dos judeus esperava a vinda de um Rei-Messias poderoso, da casa de
Davi, quem mataria ao dragão romano com seu poder militar ajudado
pelo poder divino. Então o Messias restauraria a nação do Israel à
suprema grandeza política como o reino messiânico sobre a terra.

Esta esperança apocalíptica era vibrante entre os fariseus. Pode


demonstrar-se pelos denominados Salmos de Salomão, um documento
farisaico escrito pouco depois da morte do general Pompeu no 48 a.C.

"Olha-o Senhor, e lhes suscite um rei


o filho de Davi, no momento que tu escolhas, oh Deus,
para que reine em Israel teu servo.
Rodeia-o de força para quebrantar aos príncipes injustos,
para purificar a Jerusalém dos gentios
que a pisoteiam destruindo-a;
expulsa em sabedoria e justiça
aos pecadores da herança;
para despedaçar a arrogância dos pecadores
semelhante a um cântaro de oleiro;
para quebrantar toda sua solidez com uma vara de ferro;
para destruir as nações ilícitas com a palavra de tua boca;
a sua advertência as nações fugirão de sua presença;
e condenará aos pecadores pelos pensamentos de seus
corações".1
As Profecias do Tempo do Fim 16
O Testamento do Moisés, um hino escrito pelos essênios ou pelos
fariseus antes da queda de Jerusalém no 70 D.C., também expressava o
desejo premente do pronto advento do reino de Deus:
"Pois o Altíssimo Deus eterno se elevará sozinho,
aparecerá para tomar vingança das nações
e destruirá todos os seus ídolos.
Então, tu, Israel, serás feliz.
Montarás sobre pescoço e asas de águia.
Sim, todas as coisas se cumprirão".2
No Quarto livro do Esdras, conhecido também como o Apocalipse
de Esdras, um documento escrito depois da queda de Jerusalém no 70
D.C., lemos que o Messias viria para liberar à remanescente do Israel da
tirania de Roma e para estabelecer o reino messiânico por 400 anos (cap.
12).3
A esperança dominante no Israel era a da libertação política, similar
à forma como Deus os tinha libertado do Egito. Só que esta vez a
expectativa era por uma redenção permanente dos males da história. A
partida dos zelotes [fanáticos] tinha uma febre apocalíptica tal, que
apoiou uma guerra de guerrilhas contra Roma na segurança de que Deus
destruiria os opressores do Israel e criaria um mundo no qual Satanás e a
dor não existiriam mais.
Josefo, o historiador judeu do primeiro século, ordem que um certo
Judas, galileo, originou um levantamento a princípios do século I. Sua
filosofia era que o povo de Deus devia reconhecer só a Deus como seu
soberano e Senhor, e recusar-se a pagar impostos a um amo pagão.4 O
Novo Testamento registra que essa rebelião chegou a um fim
desventurado (At. 5:37).
Entre os rolos do Mar Morto, descobertos nas cavernas de Qumran,
encontrou-se um denominado Regra de guerra (QM), escrito a começos
da era cristã. Descreve um plano de batalha para que os pactuantes de
Qumran travem a última guerra santa contra Roma (Quitim) e Belial. A
esperança era de novo que Deus interviria com seu santos anjos e daria
As Profecias do Tempo do Fim 17
ao fiel remanescente de Israel uma vitória eterna por meio de um
desdobramento do poder do Miguel como o guerreiro divino. 5
Esta esperança política de um futuro mais brilhante alcançou um
tom tão febril no século I, que conduziu ao levantamento judeu contra
Roma nos anos 66-72 e no 132. Em ambas as ocasiões os judeus
começaram uma guerra militar contra o Império Romano confiando em
que Deus os vindicaria com uma vitória sobrenatural.
Salomão Schechter resume com quatro características os elementos
essenciais da esperança apocalíptica no primeiro século: (1) o Messias,
da casa de Davi, restaurará o reino do Israel e estenderá seu governo
sobre toda a terra; (2) os inimigos de Deus lançarão um ataque maciço
contra Israel, no qual o Messias destruirá a todos seus oponentes pagãos;
(3) todas as nações sobreviventes aceitarão o Deus de Israel,
reconhecerão seu reino e procurarão a instrução de seu Torah (lei); e (4)
a era do reinado messiânico será uma era de prosperidade material e
sorte espiritual; até a morte seria abolida por meio da ressurreição dos
justos mortos. Este reino do Messias era, de acordo com algumas fontes,
uma preparação para o tempo quando Deus mesmo reinaria.6
Infelizmente, os judeus estavam tão dominados por seu ódio para
Roma que enfatizaram unilateralmente a missão da vinda do Messias
como o libertador do jugo romano e o restaurador do reino nacional a
Israel. Por esta razão, os rabinos estudaram as profecias messiânicas das
Escrituras Hebraicas com uma mente preconcebidas que lhes impediu de
ver a revelação da plenitude da missão do Messias para salvar do pecado
a todos os homens. Esperando um Messias político só para sua própria
nação, passaram por cima das profecias e dos tipos que prediziam a
morte expiatória do Messias em sua primeira vinda. Interpretando a
profecia para encontrar evidências com o fim de sustentar sua ambição
nacional, os judeus se prepararam para rechaçar o Salvador do mundo.
Quando Cristo veio em uma maneira contrária a suas expectativas,
ficaram completamente desapontados e não o receberam.
As Profecias do Tempo do Fim 18
Cristo tratou de lhes mostrar que tinham interpretado mal a
promessa de Deus de conceder favor eterno a Israel. Tinham chegado a
considerar sua descendência natural de Abraão como uma pretensão para
essa promessa (João 8:33-40). Na verdade, em seu orgulho racial, os
dirigentes judeus passaram por cima das condições prévias que Deus
tinha especificado. O favor de Deus estava assegurado só a um Israel
espiritual e em cujos corações ele tinha escrito sua lei: "Darei minha lei
em sua mente, e a escreverei em seu coração; e eu serei a eles por Deus,
e eles me serão por povo... Porque todos me conhecerão, do mais
pequeno deles até o maior, diz o Senhor" (Jer. 31:31-34).
As promessas divinas de salvação e bênção para o mundo estavam
asseguradas a um Israel regenerado como o verdadeiro povo do pacto. O
povo espiritual de Deus são constituídos pelos que estão "circuncidados"
em seus corações (ver Deut. 10:16; 30:6; Jer. 4:4). Um povo assim não
reclamará as promessas de Deus e renderá um serviço exterior a Deus
meramente pelo puro prazer de alcançar grandeza nacional. O essencial
da Bíblia Hebraica não é o Israel, e sim o Messias de Israel! As profecias
messiânicas constituem o coração tanto da Escritura como dos sagrados
serviços do santuário no Israel. Muitos rabinos e fariseus chegaram a
acreditar que por meio de um conhecimento da Escritura e uma
conformidade exterior a ela, possuíam vida eterna. A Mishná ensina:
"Grande é a lei, porque lhe dá vida aos que a praticam tanto neste mundo
como no vindouro".7 Mas Jesus assinalou uma falta fundamental de
visão: "Vós perscrutais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida
eterna; ora, são elas que dão testemunho de mim; vós, porém, não
quereis vir a mim para terdes a vida" (João 5:39, 40, BJ).
A vida está centrada no Messias, o Filho de Deus, e não na
Escritura. Jesus afirmou: "As palavras que eu lhes falei são espírito e são
vida" (João 6:63). Ao perder de vista a Cristo como o coração vivente
das Escrituras, os judeus já não entenderam mais o significado espiritual
do serviço ritual em seu templo. Começaram a confiar nos mesmos
sacrifícios e cerimônias em vez de contemplá-lo a ele, a quem
As Profecias do Tempo do Fim 19
assinalavam os sacrifícios. De modo que perderam o significado
espiritual de sua adoração no templo. Aferrando-se a fórmulas mortas,
esses rituais chegaram a ser um mistério inexplicável.
Até as restrições rabínicas quanto à observância do sábado revelam
que os judeus já não percebiam que no sábado havia uma promessa
divina do descanso messiânico. Os dirigentes judeus interpretaram mal o
ato do Jesus ao curar milagrosamente a um paralítico no sábado como a
evidência de uma atitude contra na sábado (João 5:16-18). Entretanto, o
oposto era verdade. Jesus ensinou que as obras de misericórdia não só
estavam permitidas, mas também eram obrigatórias no sábado para que
as fizesse o Messias, e em perfeita harmonia com a vontade do Pai
celestial. "Meu Pai, até o presente, continua trabalhando e eu também
trabalho" (João 5:17, NBE). O erudito evangélico Leão Morris o explica
desta maneira: "Ele [Jesus] não estava dizendo que não devia guardar-se
o sábado... Estava dizendo que seus críticos não entendiam o que
significava na sábado e por que tinha sido instituído".8
Não surpreende que Jesus censurasse os judeus por sua falta de
percepção espiritual, por não discernir quem era ele, o Enviado ao Israel
pelo Pai. E desafiou-os perguntando: "Não vos deu Moisés a lei?
Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me?...
Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça" (João 7:19,
24). Enquanto desejavam a vinda do Messias, os judeus já não tinham o
verdadeiro conceito de sua missão divina como Redentor do pecado e de
Satanás.
Cristo lhes disse: "Todo o que comete pecado é escravo do pecado...
Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8:34,
36), mas eles afirmaram que eram livres porque, disseram, "jamais
fomos escravos de ninguém" (v. 33). Não compreenderam o significado
espiritual do pecado ou o significado da natureza da dignidade real de
Cristo. O Messias devia vir como o verdadeiro intérprete dos profetas de
Israel. Devia definir os princípios do reino e o plano de redenção. Isso
foi o que fez Cristo, e seus ensinos estão registrados nos Evangelhos, os
As Profecias do Tempo do Fim 20
quais formam a chave essencial para entender corretamente o Antigo
Testamento. Também formam a ponte teológica entre as profecias do
Antigo Testamento e o livro do Apocalipse. Portanto, antes de podermos
entender corretamente o último livro da Bíblia, é indispensável descobrir
primeiro como Jesus interpretou a perspectiva profética dos profetas
clássicos e o livro do Daniel.

Referências

1. "Salmos de Salomão", 17:21-25, citado em J. H. Charlesworth,


The Old Testament Pseudepigrapha, T. 2, p. 667.
2. "Testamento de Moisés", 10:7, 8, chamado em G. Aranda Pérez,
F. García Martínez e M. Pérez Fernández, Literatura judía
intertestamentaria (Estella, Navarra: Verbo Divino, 1996), p.
301.
3. "O Messias que o Altíssimo reservou para o final dos tempos: Ele
surgirá da estirpe de Davi " (Ibid., p. 329).
4. Flavio Josefo, Obras completas de Flavio Josefo: Antigüedades
judías (Buenos Aires: Acervo Cultural, 1961), XVIII, 1, 1-6 (t. 3,
pp. 225-228); La guerra de los judíos, 11, 8 (t. 4, pp. 136-142).
5. 1 QM 6; 12-14.
6. Schechter, Salomão, Aspects of Rabbinic Theology (Nova York:
Schocken Books, 1961), p. 102.
7. Abot [Pais] 6: 7.
8 Leão Morris, Reflections on the Gospel of John (Grand Rapids,
Michigan: Baker Book House, 1987), T. 2, pp. 265, 266.
As Profecias do Tempo do Fim 21
A DISTINÇÃO ENTRE PROFECIA CLÁSSICA E
PROFECIA APOCALÍPTICA

Os profetas do Antigo Testamento tais como Amós, Isaías,


Sofonías, Ezequiel e Jeremias são chamados profetas clássicos. Suas
mensagens foram em primeiro lugar pronunciados em voz alta, seja ao
reino rebelde do Israel no norte (as 10 tribos) ou à apóstata Jerusalém e
Judá (as 2 tribos). Com freqüência suas mensagens foram um clamor em
favor da justiça social, econômica e política para as classes oprimidas.
Os profetas convocaram Israel e Judá para que voltassem para a torah ou
lei do pacto do Moisés, e para que servissem a Deus com arrependimento
verdadeiro. Se os líderes políticos e religiosos do povo eleito originavam
justiça social e uma renovação da adoração, o reino de Deus viria sobre a
terra em sua história futura. Em realidade, o "dia do Senhor", ou o "dia
do Jeová", não viria como Israel o tinha antecipado popularmente.

Profecia Clássica

Amós: Este profeta, como porta-voz de Deus, pronunciou em forma


fulminante estas horríveis palavras às 10 tribos:
"Ai de vós que desejais o Dia do Senhor! Para que desejais vós o Dia
do Senhor? É dia de trevas e não de luz ...Não será, pois, o Dia do Senhor
trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade?
"Por isso, vos desterrarei para além de Damasco, diz o Senhor, cujo
nome é Deus dos Exércitos" (Amós 5:18, 20, 27).
Amós deu a conhecer dois castigos sobre Israel: Em primeiro lugar,
a nação infiel seria levada cativa ao exílio em Assíria ("além de
Damasco") como resultado da maldição do pacto do Deus do Israel, em
harmonia com suas ameaças do pacto pronunciadas mediante Moisés
(Deut. 28; Lev. 26). Esta sentença teve lugar no ano 722 a.C., e se
conhece como o desterro assírio das dez tribos. Em segundo lugar, o
significado pleno deste juízo nacional chega a compreender-se só quando
As Profecias do Tempo do Fim 22
se vê este acontecimento como um tipo ou prefiguração do juízo cósmico
de Deus ao fim da história sobre todas as nações que se rebelem contra
Deus.
Amós apontou ao juízo final de Deus quando se referiu aos sinais
cósmicos: "Farei que fique o sol ao meio dia, e cobrirei de trevas a terra
no dia claro" (Amós 8:9), e: "Não se estremecerá por isso a terra, e fará
luto tudo o que nela habita? (v. 8, BJ). Escuridão repentina ao meio-dia
ou um terremoto catastrófico podem ser mais que um desastre natural. O
fogo apocalíptico consumirá a terra e o mar (7:4) e levará a seu fim a
história de Israel!
Na escatologia (a ordem dos acontecimentos finais) que apresenta
Amós, o dia do Senhor seria um juízo iminente sobre Israel a mãos de
seu inimigo nacional: Assíria (no 722 a.C.). Mas Amós anunciou uma
catástrofe ulterior, na qual Deus julgará a uma sociedade mundial
apóstata e libertará a seus fiéis em todas as nações. A esta relação do
juízo local iminente e do juízo mundial do tempo do fim chamamos
"conexão tipológica". Ambos os juízos procedem do mesmo Deus, mas
o juízo sobre a nação é um tipo ou modelo profético que garante que
Deus julgará finalmente a todo mundo pelos mesmos princípios morais.
Só mediante sua retribuição final se cumprirá completamente o propósito
redentor de Deus para esta terra. O tipo histórico pode ser local e
incompleto, mas o antitipo escatológico será universal e completo em
seus resultados.

Sofonías: O duplo foco do juízo de Deus em Amós também o


descrevem graficamente os outros profetas. Em geral se considera que
Sofonías é o profeta mais grandioso que fala do juízo de Deus. Inclusive
começa seu pequeno livro com uma admoestação da destruição universal
vindoura:
"De fato, consumirei todas as coisas sobre a face da terra, diz o
Senhor. Consumirei os homens e os animais, consumirei as aves do céu, e
As Profecias do Tempo do Fim 23
os peixes do mar, e as ofensas com os perversos; e exterminarei os homens
de sobre a face da terra, diz o Senhor" (Sof. 1:2, 3).
Assim como Amós, Sofonías contempla o futuro histórico imediato
contra o fundo do juízo final, porque é o mesmo Deus o que visita Israel
e o mundo para juízo e salvação. A mensagem principal é que Deus atua,
não a duração do período de tempo entre os juízos.

Joel: O profeta Joel estruturou sua perspectiva profética de forma


tal que uma praga histórica de lagostas (1:4-12) serve como um tipo
profético do juízo escatológico de todo o mundo, que é seu antitipo
(2:10, 11; 3:11-15). A história local e a escatologia do tempo do fim
estão tão mescladas entre si que não podem ser completamente separadas
na descrição profética. O presente corresponde ao futuro porque é o
mesmo Deus quem vem agora e no futuro. Este é a mensagem principal
do Antigo Testamento. O propósito moral de cada anúncio de um juízo
de Deus é levar a seu povo a caminhar em harmonia com sua vontade
redentora no presente. O objetivo final da profecia não é a catástrofe e a
destruição, a não ser uma nova criação e a restauração do paraíso perdido
na terra.

Isaías: Um exemplo de como o juízo de Deus sobre um


arquiinimigo histórico do Israel e seu juízo final do mundo estão
intimamente misturas, como se ambos fossem um só dia do Senhor,
encontra-se no Isaías 13. Isaías anuncia a iminente queda do Império
Neobabilônico às mãos dos medos: " Uivai, pois está perto o Dia do
SENHOR; vem do Todo-Poderoso... Eis que eu despertarei contra eles
os medos" (Isa. 13:6, 17). Neste oráculo profético de guerra, Deus atuará
logo como o guerreiro divino para liberar a seu povo oprimido: "O
Senhor dos exércitos revista seu exército para o combate" (v. 4, NBE). O
resultado será a destruição: "Babilônia, a jóia dos reinos, glória e orgulho
dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou.
As Profecias do Tempo do Fim 24
Nunca jamais será habitada, ninguém morará nela de geração em
geração" (vs. 19, 20).
Depois, o profeta acrescenta a dimensão cósmica do dia
apocalíptico do Senhor: "As estrelas dos céus e seus luzeiros não darão
sua luz; e o sol se obscurecerá ao nascer, e a lua não dará seu resplendor"
(V. 10). Deus castigará "ao mundo por sua maldade, e aos ímpios por sua
iniqüidade" (V. 11). Deus fará "estremecer os céus, e a terra se moverá
de seu lugar... no dia do ardor de sua ira" (V. 13).
Esta é uma descrição de um juízo universal. Por isso, a profecia de
Isaías de condenação sobre Babilônia contém a estrutura de uma
perspectiva tipológica. É claro que o dia apocalíptico do Senhor, com
seus sinais cósmicos e seu terremoto universal, não ocorreu durante a
queda histórica de Babilônia ante os medo-persas no 539 a.C. Aquele
juízo sobre Babilônia serve só como um tipo ou símbolo do juízo final da
humanidade; por esta razão se descrevem os dois juízos como se fossem
um só dia de retribuição divina. A natureza tipológica da queda de
Babilônia da antiguidade não requer que cada rasgo da profecia se
cumpra no tipo. Antes, o cumprimento parcial das antigas profecias de
condenação e liberação indicam que ainda precisam encontrar sua
consumação definitiva. O livro do Apocalipse nos assegura que todas as
profecias antigas de condenação e liberação ocorrerão em escala mundial
por ocasião da segunda vinda de Cristo. Por definição, o antitipo sempre
é maior que o tipo. Por isso encontramos que a característica da profecia
clássica é seu duplo foco, sobre o próximo e o longínquo, sem nenhuma
diferenciação de tempo. Ensina-nos que o Deus do Israel é o Deus da
história. É o rei que vem na história e ao fim da história da humanidade.
Sua vinda traz o fim desta era maligna, para restaurar o reino de Deus
sobre nosso planeta por meio do Jesus Cristo.
Outra característica vital da profecia clássica são suas preocupações
éticas, seu chamado ao arrependimento e a uma vida santificada. Os
profetas de Israel não fizeram predições incondicionais mas sim
desafiaram tanto ao Israel como aos gentios com a vontade imediata de
As Profecias do Tempo do Fim 25
Deus. De fato, as predições divinas satisfazem o propósito mais elevado
de chamar o povo ao arrependimento e a obedecer a vontade de Deus e
dessa forma, evitar o juízo vindouro. O resultado significativo desta
preocupação ética dos profetas do Israel é a segurança de que só um
remanescente do Israel, fiel e purificado, entrará no reino escatológico de
Deus.
Os profetas anunciaram que só um fragmento ou remanescente da
nação como um tudo seria salva, assim como o "tronco" que fica de uma
árvore (Amós 3:12; 5:14, 15; Ouse. 5:15; 6:1-3; Isa. 4:2-4; 6:13; Jer. 23:3-6).
A razão é que só o remanescente restaurado se voltará para Senhor com
arrependimento verdadeiro (Isa. 10:20-23; Zac. 12:10-13); só um Israel
espiritual dentro do Israel nacional receberá um coração "circuncidado"
(Deut. 10:15, 16; 30:6; Jer. 4:4). A distinção no Antigo Testamento entre
um verdadeiro o Israel de Deus dentro da nação do Israel não se apóia na
relação de raça ou de sangre com Abraão, e sim na fé e na obediência a
Deus. O fator decisivo é possuir a relação espiritual de pacto com Deus.
De acordo com esta teologia do remanescente do Antigo Testamento, o
apóstolo Paulo chegou a esta conclusão: "Porque nem todos os que
descendem de Israel são israelitas" (Rom. 9:6). Seu ensino apostólico
enfatizou que só quando israelitas reconheçam que Jesus é o Messias da
profecia, são os portadores de luz das promessas do novo pacto de Deus.
E enquanto que os gentios são chamados para serem os herdeiros das
mesmas promessas, Paulo insistiu: "Só o remanescente será salvo" (v.
27).

Profecia Apocalíptica

O livro do Daniel forma uma classe de profecia por si mesmo


dentro do Antigo Testamento. Aqui nos encontramos com um fenômeno:
Não se prediz um só evento ou juízo, e sim uma seqüência total de
acontecimentos que começam nos próprios dias do Daniel e se estendem
adiante sem interrupção até o estabelecimento do reino de glória de
As Profecias do Tempo do Fim 26
Deus. Um contínuo histórico ininterrupto em profecia, como apresenta
Daniel, não tem precedentes na profecia clássica. Alguns profetas, como
Joel e Ezequiel, revelaram o princípio de uma sucessão de dois períodos
em seus esboços proféticos (Joel 2:28; Ezeq. 36-39), mas nenhum havia
predito uma história contínua religiosa e política do povo do pacto de
Deus terminando com o juízo final do dia do Senhor. Um panorama tão
amplo da história da salvação adiantado é a característica específica da
profecia apocalíptica. Este contínuo apocalíptico na história está em um
marcado contraste com a profecia clássica, com seu dobro foco e sua
perspectiva tipológica futura.
O segundo aspecto único no livro apocalíptico do Daniel é que
contém uma quantidade de esboços históricos e cada um culmina no
juízo universal do Deus de Israel. Podem distinguir-se 4 séries proféticas
principais (Dan. 2; 7; 8; 11). Cada uma reitera a mesma ordem básica de
acontecimentos, mas todas acrescentam detalhes com respeito ao conflito
do povo do pacto de Deus com as forças que se opõem a Deus.
Estas visões paralelas mostram um interesse crescente em enfocar a
era do Messias e seu conflito com o antimessias ou o anticristo
(especialmente em Dan. 8 e 9). A idéia chave de cada série profética é o
triunfo do governo de Deus sobre o mal. Portanto, precisamos
compreender que a meta da apocalíptica bíblica não é predizer
acontecimentos específicos da história secular do mundo em si. A
apocalíptica bíblica não é um exibicionismo da presciência de Deus.
Antes, o seu interesse é inspirar esperança entre o oprimido povo de
Deus. Anima-os a perseverar até o fim, porque o Deus fiel do pacto
estabeleceu ao anticristo limite de tempo e poder. Deus vindicará a seus
fiéis na luta entre o bem e o mal. O foco definitivo da apocalíptica
bíblica não é o primeiro advento do Messias e sua morte violenta (Dan.
9:26, 27), e sim seu segundo advento quando voltar como o vitorioso
Miguel para resgatar o remanescente fiel (Dan. 12:1, 2).
O que forma a culminação de toda a profecia apocalíptica do Antigo
Testamento é este evento final da história da humanidade. É este "fim" o
As Profecias do Tempo do Fim 27
que está em vista na singular frase do Daniel: "o tempo do fim" (5 vezes
em Dan. 8-12). Este foco notável do tempo do fim também é a razão de
por que a profecia apocalíptica enfatiza mais o aspecto incondicional do
plano determinado de Deus para a redenção da humanidade. Mas este
aspecto distintivo de determinismo não deve ver-se como um contraste
fundamental com as profecias clássicas do Israel com seu chamado ao
arrependimento.
As profecias apocalípticas de Daniel se centram ao redor da
libertação final do fiel remanescente do Israel, o povo espiritual do pacto
de Deus, em quem se realizarão finalmente as preocupações éticas de
todos os profetas (Dan. 11:32-35; 12:3; Ezeq. 11:17-20; 18:23, 30-32;
33:11; Isa. 26:2, 3).
Em Daniel, a preocupação fundamental, tanto dos capítulos
históricos (caps. 1-6) como dos proféticos (caps. 7-12), parece ser a
vindicação que Deus faz de seu santos acusados falsamente. Esta
soberania de Deus como Rei e Juiz está expressa pelo foco centralizado
no Messias que se apresenta em muitos capítulos (Dan. 2; 7; 8; 9; 10-12),
e em suas divisões predeterminadas de tempo da história da redenção
(Dan. 7:25 [3 ½ tempos]; 8:14, 17 [2.300 dias]; 9:24-27 [70 semanas de
anos]; 12:4, 7, 11, 12 ["o tempo do fim", 1.290 e 1.335 dias]).
Em todos os tempos, Deus proporciona um povo remanescente fiel,
coloca os limites sobre a história pecaminosa deste mundo, permite
tempos especificamente atribuídos para a apostasia e a perseguição,
determina "o tempo do fim", ordena o mundo para a hora de seu juízo
final e levará a cabo a libertação dos santos na segunda vinda. Estes
característicos únicos pertencem à soberania de Deus e constituem a
pedra angular da profecia do Daniel.
Pode fazer-se uma observação adicional a respeito da parte histórica
do livro de Daniel. Nos capítulos 3 (a liberação do forno de fogo) e 6 (a
liberação do fosso dos leões), os relatos da intervenção divina e o resgate
sobrenatural têm a finalidade de ser mais que simplesmente um pouco de
interesse histórico. O autor do livro chama a atenção a sua inerente
As Profecias do Tempo do Fim 28
perspectiva tipológica, em vista da libertação futura do povo
remanescente de Deus ao fim da história da redenção. Isto chega a ser
evidente a partir da repetição enfática do verbo chave "libertar" ou
"resgatar" que se encontra no Daniel 3:15 e 17 (e 5 vezes no capítulo 6),
e que volta a aplicar-se na seção apocalíptica do Daniel 12:1, quando
Miguel "libertará" o verdadeiro o Israel de Deus por meio de sua
intervenção pessoal.
Além desta conexão literária entre a seção histórica e a apocalíptica
de Daniel, também existe uma correspondência temática fundamental
entre as duas seções do livro. As narrações que Daniel faz da lealdade
religiosa à sagrada lei de Deus por uns poucos fiéis, proporciona os tipos
ou as prefigurações essenciais da natureza da crise final para o povo de
Deus no tempo do fim. Estes acontecimentos históricos no livro de
Daniel servem como o pano de fundo para a crise vindoura do tempo do
fim e seu resultado providencial, tal como se descreve no livro de
Apocalipse (caps. 13 e 14).

Resumo

O livro apocalíptico de Daniel revela ao menos quatro


características únicas:
(1) Uma repetição dos esboços apocalípticos que mostram um
contínuo da história da redenção. Cada esboço culmina no
estabelecimento do reino de glória (Dan. 2:44, 45; 7:27; 8:25;
12:1, 2);
(2) O foco centrado no Messias de todos seus esboços (Dan. 2:44;
7:13, 14; 8:11, 25; 9:25-27; 10:5, 6; 12:1);
(3) As divisões predeterminadas de tempo, que servem como o
calendário sagrado da história progressiva da redenção de Deus
(Dan. 7-12). Estas profecias de tempo únicas determinam o
começo do famoso "tempo do fim", particularmente a terminação
As Profecias do Tempo do Fim 29
do período de tempo profético dos 2.300 "dias" na visão selada
de Daniel 8 (vs. 14, 17, 19);
(4) O aspecto incondicional da história da redenção, o qual recalca
uma sessão predeterminada de juízo no céu e a vindicação dos
santos fiéis por um Filho do Homem. Isto também está expresso
pela imagem de um guerra santa final e o triunfo do Miguel
como o guerreiro divino, e a ressurreição de todos os mortos para
receber sua recompensa (Dan. 2:7-12).

Em resumo, o livro apocalíptico de Daniel contém o fundamental da


profecia clássica (o duplo foco de uma perspectiva tipológica na seção
histórica do livro) e o esboço profético de um contínuo histórico em sua
seção apocalíptica.
A unidade orgânica da profecia clássica e da apocalíptica pode
observar-se na harmoniosa combinação de sua perspectiva do tempo do
fim: O juízo universal com a libertação cósmica de um povo
remanescente fiel na última guerra entre o bem e o mal, e a restauração
do reino de Deus em paz e justiça eternas.
As Profecias do Tempo do Fim 30
A APLICAÇÃO QUE CRISTO FEZ DA BÍBLIA HEBRAICA

O propósito deste livro é triplo: (1) Descobrir como entendeu Cristo


os livros de Moisés, os Profetas e os Salmos; (2) formular os princípios
hermenêuticos de Cristo para interpretar as profecias da Bíblia; (3)
aplicar esses princípios às profecias não cumpridas, especialmente às do
Apocalipse.
Como cristãos que acreditam na verdade do evangelho, que Jesus é
o Messias prometido, precisamos saber como entendeu Cristo os livros
de Moisés, os Profetas e os Salmos. Jesus é o verdadeiro intérprete das
Santas Escrituras. Sua mensagem é nossa chave para descobrir o
significado correto do Antigo Testamento. Se queremos compreender o
Antigo Testamento, devemos compreendê-lo do ponto de vista de Deus.
Portanto, nosso ponto de partida é a forma como Jesus explica o Antigo
Testamento. A aplicação que Cristo fez das Escrituras de Israel é nosso
modelo de interpretação bíblica. Nosso princípio guiador está apoiado
sobre a convicção de que a atividade redentora de Deus na história do
Israel alcançou seu cumprimento em Cristo. Portanto, trataremos de
interpretar o Antigo Testamento à luz da vida e mensagem de Cristo
como a Palavra encarnada de Deus, pois só dele se escreveu o seguinte:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus... E o Verbo foi feito carne, e
habitou entre nós" (João 1:1, 2, 14).

Jesus e a Palavra de Deus

Deus enviou ao Jesus para revelar plenamente ao Deus do Israel em


sua vida e ensino. Cristo afirmou que foi enviado com uma mensagem de
Deus e que suas palavras procediam de Deus mesmo:
"Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me
enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu
As Profecias do Tempo do Fim 31
mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo
tem dito, assim falo" (João 12:49, 50).
"Nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou (João
8:28).
Só Cristo pode revelar o significado e o sentido algumas vezes
oculto da Escritura e da história do Israel. Tanto os judeus como os
samaritanos esperavam que viesse o Messias, pois ele "nos explicará isso
tudo" (João 4:25, NBE). Sem vacilação, Jesus declarou: "Eu sou, o que
fala contigo" (v. 26). "Jesus lhes disse: De certo de certo lhes digo: Antes
que Abraão existisse, eu sou" (8:58).
O testemunho da autoridade de Jesus como o Messias se repete
várias vezes no Novo Testamento (ver João 1; Col. 1 e 2; Heb. 1), e é de
crucial importância para compreender as visões simbólicas do
Apocalipse de João. No último livro da Bíblia, as imagens e os símbolos
hebreus se aplicam consistentemente a Cristo e a sua nova comunidade
do pacto como o novo Israel.
É evidente a necessidade que existe de ter um enfoque correto do
Apocalipse. Primeiro devemos conhecer a verdade do evangelho de
Cristo como foi ensinada por Jesus antes que possamos compreender o
Apocalipse. Em interpretação profética, freqüentemente se descuidou o
método adequado. É indispensável reconhecer a natureza progressiva e
desdobrada da revelação divina dentro da Bíblia.
Deve permitir-se que os livros do Antigo Testamento nos contem
sua própria mensagem, mas não como se fossem a última palavra de
Deus. As Escrituras Hebraicas não são um cânon fechado da Escritura.
Formam um registro incompleto da totalidade da revelação divina. Em
sua major parte apresentam as promessas de Deus de um Messias
vindouro como o maior dos profetas, o Rei supremo e o único Supremo
Sacerdote. O Antigo Testamento termina com a promessa do Elias
vindouro antes do dia de Jeová (Mal. 4:5, 6). Por outro lado, os escritos
inspirados do Novo Testamento registram o começo dos cumprimentos
das promessas messiânicas na vinda de Cristo (o Messias) Jesus, e em
As Profecias do Tempo do Fim 32
sua criação de uma nova comunidade messiânica: os cristãos (um nome
que significa "povo do Messias").
O Apocalipse de João se concentra especialmente na gloriosa
consumação de todas as realizações. Para receber uma compreensão
mais profunda de Moisés, os Profetas e os Salmos, devemos aceitar o
ensino de Cristo e seus apóstolos como a verdadeira interpretação das
profecias e dos tipos hebraicos. O Novo Testamento funciona como a
revelação final da verdade de Deus tal como se ensina nestas palavras
apostólicas:
"Deus, tendo falado muitas vezes e de muitas maneiras em outro
tempo aos pais pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a
quem constituiu herdeiro de tudo, e por quem deste modo fez o
universo" (Heb. 1:1, 2).
Assim como o Filho de Deus é imensamente maior que qualquer
profeta de Israel, assim a palavra de Cristo é a norma para interpretar os
escritos do Antigo Testamento. Jesus ensinou que as Escrituras
Hebraicas estavam centradas na promessa messiânica. Sua especial
preocupação foi ensinar aos judeus que a Escritura não é um fim em si
mesma, que memorizar as palavras da Sagrada Escritura não produz
méritos. O propósito da Escritura é levar a Cristo! "Vós perscrutais as
Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; ora, são elas que dão
testemunho de mim; vós, porém, não quereis vir a mim para terdes a
vida" (João 5:39, 40, BJ).
Segundo Jesus, a Bíblia Hebraica está centrada em Cristo. Portanto,
é essencial para um cristão descobrir o novo método com o qual Cristo
explicou o Antigo Testamento. Dois dos discípulos de Jesus foram
privilegiados para ouvir o Cristo ressuscitado explicar-lhes todas as
Escrituras que se referiam a ele (Luc. 24:25-27). Como resultado, seus
corações começaram a arder com um novo entusiasmo. Cristo "abriu-
lhes o entendimento para que compreendessem as Escrituras". Mostrou-
lhes como "era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito de
mim, na lei de Moisés, nos profetas e nos salmos" (Luc. 24:44, 45).
As Profecias do Tempo do Fim 33
A pergunta provocadora para nós é: Podemos chegar a saber como
interpretou Jesus o Antigo Testamento numa forma centrada em Cristo?
Podemos descobrir a hermenêutica de seu enfoque cristocêntrico? Se
podemos estabelecer os princípios hermenêuticos de Jesus para a
profecia cumprida, saberemos como entender a profecia não cumprida,
especificamente as profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse.

A Nova Revelação de Jesus o Messias

Para Jesus, as profecias messiânicas não eram predições isoladas,


senão uma parte do extenso plano de Deus para a redenção do homem.
Inclusive viu a história de Israel como uma série de eventos redentores
que prefiguravam a grande salvação operada pelo Messias. Portanto,
Cristo reconheceu que as promessas de Deus lhe foram dadas em dois
níveis a Israel: tanto mediante predições verbais como mediante tipos
históricos de libertação e juízo. Na Bíblia, um "tipo" é um acontecimento
histórico, ou uma pessoa ou uma instituição, ordenado por Deus para
prefigurar uma verdade redentora de Cristo. Jesus aplicou publicamente
à sua pessoa a missão de Isaías de pregar as boas novas de Deus, de sarar
as feridas de Israel e de pôr em liberdade aos oprimidos (Luc. 4:17-21 e
Isa. 61:1, 2).
Entretanto, o que pôde ter deixado ainda mais pasmados os judeus
foi a surpreendente declaração de Jesus de que ele era o Antítipo
prometido ou a consumação de todos os profetas, dos reis e da mediação
sacerdotal de Israel:
"E eis aqui está quem é maior do que Jonas" (Mat. 12:41).
"E eis aqui está quem é maior do que Salomão" (Mat. 12:42).
"Aqui está quem é maior que o templo" (Mat. 12:6).
Jesus incluso declarou que sua morte abnegada proveria o "sangue
do novo pacto, que por muitos é derramado" (Mar. 14:24). Por todas
estas afirmações, Jesus introduziu no judaísmo a assombrosa idéia de
que tinha chegado o tempo dos antítipos. Apresentou-se a si mesmo
As Profecias do Tempo do Fim 34
como a realidade à qual apontavam todos os símbolos das instituições
redentoras do Israel. Por conseguinte, anunciou solenemente na sinagoga
que nele tinha começado a idade messiânica ou o ano do jubileu
(libertação). Tendo citado a promessa messiânica do Isaías 61:1, disse:
"Hoje se cumpriu esta Escritura diante de vós" (Luc. 4:21). Apontou seu
triunfo sobre os demônios como uma prova de que o governo de Deus
agora estava presente em Israel: "Mas se eu pelo Espírito de Deus
expulso os demônios, certamente chegou o reino de Deus" (Mat. 12:28).
Onde se rechaça a Satanás, o reino de Deus se faz manifesto. Com
Jesus entrou em operação o princípio salvífico soberano de Deus. Em
outras palavras, com a primeira vinda de Cristo se inaugurou o tempo
escatológico. "O tempo está cumprido", disse Jesus, "e o reino de Deus
está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho" (Mar. 1:15). Tinha
terminado o tempo de espera para o reino de Deus, e tinha começado o
tempo do reinado de Deus no ministério de Cristo. Jesus é o iniciador do
reino da graça de Deus. Como o Rei-Messias, representa o reino de
Deus; como o doador da misericórdia divina, é o Mediador sacerdotal do
reino de Deus. Em qualquer lugar que Cristo está presente, o reino de
Deus irradia seu poder.
Jesus assegurou: "Eis que o reino de Deus está entre vós" (Luc.
17:21). A graça de Deus está dentro do alcance do homem onde quer que
Jesus é proclamado como o Messias. Esta é a essência do evangelho. A
verdade de que o Cristo ressuscitado é Senhor e está sentado à mão
direita do trono de Deus, foi respaldado no dia de Pentecostes pelo
derramamento do Espírito. O apóstolo Pedro anunciou então que os
"últimos dias" tinham chegado, que tinham começado os dias do reinado
espiritual de Cristo (At. 2:17; cf. Heb. 1:2).

Cristo, o Representante do Novo Israel

Que Jesus afirmasse ser o Messias da profecia não deve obscurecer


o fato de que o Messias também foi designado para ser o perfeito
As Profecias do Tempo do Fim 35
representante de Israel. O pacto de Deus com Israel tem que realizar-se
em obediência perfeita ao Messias. Como a personificação de Israel, o
profeta descreve a Cristo como "o servo do Senhor" assim como Israel
tinha sido designado o servo do Senhor (Isa. 42-53). Assim como Israel,
Cristo também foi chamado "Filho" de Deus (Êxo. 4:22; Isa. 42:1; Mat.
3:17). Jesus foi enviado para suportar a mesma enxurrada de provas que
teve Israel, para vencer onde Israel tinha fracassado. Depois de seu
batismo, esteve durante 40 dias no deserto para ser tentado pelo diabo e
assim igualar simbolicamente os 40 anos que Deus provou os israelitas
no deserto (Deut. 8:2; Mat. 4:1).
A maioria dos eruditos do Novo Testamento reconhecem que Jesus
se viu a si mesmo, em um sentido tipológico, como o novo Israel. Este
tinha falhado, mas Jesus cumpriu o pacto de Deus em favor de Israel e da
humanidade. Desta forma, a história de Israel alcança um cumprimento
feliz em Cristo. Portanto, de decisiva importância para o correto
entendimento da profecia de Israel e do livro do Apocalipse é a verdade
do Novo Testamento de que Jesus Cristo incorpora Israel e dessa
maneira leva a missão de Israel a um fim em sua própria vida.
O rechaço pela nação judaica dos sofrimentos, morte e ressurreição
de Cristo não foram tragédias inesperadas que frustrassem o plano de
salvação de Deus para a humanidade. Deus não depende dos judeus para
o cumprimento de suas promessas. Depende do Messias. O profeta tinha
assegurado: "A vontade do Senhor será em sua mão prosperada" (Isa.
53:10). Pedro disse que o que aconteceu com Jesus na cruz e em sua
ressurreição, ocorreu "por conselho e antecipado conhecimento de Deus"
(At. 2:23). Dois exemplos do livro de Salmos ilustram como Jesus soube
o que tinha que esperar na providência de Deus.
Cristo percebeu nas experiências do rei Davi uma prefiguração de
suas próprias provas e rechaço por parte de Israel. Jesus recorreu
especificamente a Salmos 41:9 para revelar sua intuição de que a traição
de Davi por seu amigo em quem confiava era um tipo dos sofrimentos do
Messias, que era maior que Davi (ver João 13:18-27). No momento de
As Profecias do Tempo do Fim 36
sua agonia mais profunda na cruz, Cristo clamou a grande voz: "Meu
Deus, Meu deus, por que me desamparaste?" (Mat. 27:46; Mar. 15:34).
Estava citando Salmos 22:1, que Davi tinha clamado em seu próprio
desespero enquanto estava rodeado por seus inimigos sedentos de
sangue. Como o salmo é uma unidade que consiste de uma lamentação
prolongada sobre o sofrimento intenso (vs. 1-21), Cristo viu na
experiência do Davi um tipo de sua própria agonia. Muitos comentadores
não consideram a lamentação histórica de Davi no Salmo 22 como uma
profecia diretamente messiânica, não obstante, Cristo e os escritores do
Novo Testamento aplicam muitos aspectos do Salmo 22 à cruz e à glória
que seguiu.
Este modelo surpreendente de tipologia no livro de Salmos, que foi
trazido à luz por Jesus Cristo, justifica que salmos como este se
classifiquem como profecias messiânicas.
O propósito de tais entrevistas do Novo Testamento não é
simplesmente para mostrar de que maneira se cumpriram com toda
exatidão na vida de Jesus as predições messiânicas ocultas, mas sim para
proclamar a Jesus como a meta da história de Israel e como a realização
do pacto que Deus tinha feito com eles.
Os escritores dos Evangelhos declaram com freqüência que os
eventos do passado de Israel se "cumpriram" na vida de Cristo. Mateus
cita o profeta Oséias, "do Egito chamei a meu filho" (Ouse. 11:1), o que
recordava a Israel seu êxodo histórico do Egito. Mateus aplica estas
palavras à fuga do José e Maria para o Egito até a morte de Herodes:
"Para que se cumprisse o que disse o Senhor por meio do profeta,
quando disse: Do Egito chamei o meu Filho" (Mat. 2:15). O aspecto da
entrevista de Mateus é que a Escritura de Oséias se "cumpriu" no menino
Jesus. Entretanto, as palavras de Oséias não foram uma profecia, a não
ser um recordativo significativo da experiência histórica de Israel como
"filho" de Deus (cf. Êxo. 4:22). Então, como pôde declarar Mateus que
Oséias 11:1 se "cumpriu" em Jesus? Pela mesma razão fundamental com
As Profecias do Tempo do Fim 37
que justificou a interpretação messiânica das experiências do Davi (ver
Sal. 41:9 e 22:1).
Como o Filho de Deus, Cristo não só representa o Israel ante Deus,
mas também representa o destino de Israel em sua própria vida. Mateus
ensina que o significado da história de Israel se revela completamente na
vida de Jesus Cristo. Desta maneira, o Novo Testamento insinua com
força que os acontecimentos na vida de Jesus – como seu nascimento em
Belém, sua morte humilhante, sua ressurreição e exaltação à direita de
Deus – não foram eventos imprevistos ou acidentais. Todos formaram
parte do determinado conselho de Deus (ver At. 2:23; 4:28).
As Profecias do Tempo do Fim 38
COMO CRISTO EMPREGOU OS SÍMBOLOS
APOCALÍPTICOS

Como observamos no primeiro capítulo, Jesus viveu em um tempo


quando a esperança judia de uma pronta vinda de um Messias político se
intensificou grandemente. Uma quantidade de escritos apocalípticos, sob
nomes falsos ou pseudônimos, circulavam com grande profusão, e
mantinham a esperança messiânica candente aplicando a mensagem do
juízo de Daniel e de outras passagens proféticas a seu próprio tempo e
situação. Os títulos de algumas destas obras pseudoepigráficas são: 4
Esdras, 1 Enoc, Apocalipse de Baruque, Livro dos Jubileus.
Os termos "apocalíptico" e "apocalipticismo" foram usados mais
tarde pelos eruditos para indicar as escatologias especulativas e
contraditórias contidas nesses escritos do judaísmo tardio. As três
características dominantes desse apocalipticismo judeu foram as
seguintes: (1) O juízo cósmico-universal em torno do Israel nacional ou a
um fiel remanescente judeu; (2) a substituição súbita da presente era
pecaminosa pela criação de um mundo sem pecado e um novo cosmos; e
(3) o fim predeterminado deste mundo pecaminoso e a vinda iminente do
Messias. Esta urgência freqüentemente estava apoiada por cálculos
contraditórios de períodos de tempo na história mundial.
A maioria dos escritores apocalípticos acreditavam que o fim desta
era pecaminosa estava perto, e que ocorreria em sua geração. Também
acreditavam que eles eram os verdadeiros intérpretes dos profetas
canônicos de Israel com respeito à sua própria crise. Um exemplo
notável foi a comunidade de Qumran, cujo fundador e professor ensinou
que a predição de Habacuque de um remanescente do povo de Deus que
sobreviveria (Hab. 2:4) estava cumprindo-se em sua própria e única seita
nas cavernas do Mar Morto.
Contra o fundo desta esperança iminente comum do judaísmo do
século I de nossa era, o emprego que Jesus fez de alguns símbolos
apocalípticos bem conhecidos chega a ser mais significativo. Mostra o
As Profecias do Tempo do Fim 39
enfoque inovador da mensagem do evangelho que proclamou Jesus.
Cristo deu novo significado a termos apocalípticos tão populares como:
"Filho do Homem", "juízo", "vida eterna e ressurreição", "reino de
Deus", "esta era e a era por vir". Todas estas expressões eram mais ou
menos termos técnicos nos esquemas apocalípticos do judaísmo tardio.
A mensagem de Jesus surpreendeu os judeus de seu tempo porque deu a
cada símbolo apocalíptico um novo significado messiânico ou
cristocêntrico que despedaçou seus sistemas escatológicos. Os odres
velhos não podiam conter o espumoso vinho novo de sua mensagem de
um cumprimento presente em si mesmo (ver Luc. 5:37, 38).
A conexão mais dramática do Jesus com o livro do Daniel e os
escritos judeus tardios foi sua autodesignação explícita como "o Filho do
Homem" (65 vezes nos Evangelhos sinóticos e 12 vezes no quarto
Evangelho). Ele se aplicou este titulo em forma consistente. Era a forma
própria como Jesus se referia a si mesmo. O emprego extraordinário que
Jesus fez deste símbolo convenceu em forma geral à erudição bíblica de
nosso tempo de que Cristo adotou o termo apocalíptico "um como o filho
de homem", da visão do Daniel 7:13 e 14, e o elevou a um título
messiânico. As similitudes do livro 1 Enoc 37-71 e a sexta visão em 4
Esdras 13 (ambos os documentos pós-cristãos) refletem como alguns
círculos apocalípticos judeus interpretavam o personagem daniélico
"filho de homem": um Messias preexistente e celestial que viria à terra
como o Juiz de toda a humanidade e governaria sobre um novo reino
terrestre.
A questão é: Como empregou Jesus o título e o que contido colocou
nesta expressão apocalíptica, o "Filho do Homem"? Jesus explicou que
seus milagres de cura ele os fez com um propósito mais elevado: "Para
que saibam que o Filho do Homem tem potestade na terra para perdoar
pecados" (Mar. 2:10). Mas, como pôde ser Jesus ao mesmo tempo o
humilde Filho do Homem e o glorioso ser preexistente da visão de
Daniel? O mistério se intensificou quando Jesus começou a dizer que o
As Profecias do Tempo do Fim 40
Filho do Homem celestial "devia" sofrer e ser morto, e que ressuscitaria
depois de três dias (Mar. 8:31; 9:31; 10:33, 34).
Entretanto, sua declaração mais profunda foi: "Porque o Filho do
Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida
em resgate por muitos" (Mar. 10:45). Aqui Jesus se identificou com o
servo sofredor de Isaías 53, que morreria para o benefício de todos. Ao
fazê-lo, Jesus fundiu o servo sofredor da profecia de Isaías com o Filho
do Homem da visão do Daniel. Por assim dizê-lo, esvaziou o conteúdo
do servo sofredor no personagem apocalíptico do Filho do Homem. Tal
combinação de dois personagens messiânicos em profecia era
desconhecido. Aos judeus parecia algo completamente paradoxal. Foi a
idéia criadora de Jesus introduzir esta reinterpretação radical do Filho do
Homem daniélico. Cristo viu sua missão como Messias em forma
completamente diferente a todas as expectativas messiânicas no
judaísmo. Colocou sua missão de um Messias sofredor e moribundo
dentro da estrutura apocalíptica de Daniel. Entretanto, a maior surpresa
dos judeus foi o escutar que este humilde filho de um carpinteiro
afirmava ser o apocalíptico Filho do Homem, não só em seus dias, mas
também no juízo final. Considere estas afirmações de Jesus (as ênfases
são minhas):
"Porque o que se envergonhar de mim e de minhas palavras nesta
geração adúltera e pecadora, o Filho do Homem se envergonhará também
dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos" (Mar. 8:38).
"Então verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens com grande
poder e glória" (13:26).
"Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o
Filho do Deus Bendito? Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do
Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do
céu" (14:61, 62).
Nestas declarações dramáticas, Jesus afirmou que a profecia do
Daniel 7 até esperava seu cumprimento futuro e apocalíptico quando
Deus julgue a todos os homens, mas que o Filho do Homem daniélico já
tinha aparecido com outro propósito: trazer salvação da escravidão do
As Profecias do Tempo do Fim 41
pecado. Cristo declarou claramente que ele, como o Filho do Homem,
tinha descido "do céu" (João 3:13), e que "os anjos de Deus... sobem e
descem sobre o Filho do Homem" (1:51). Dessa maneira Cristo ensinou
que tinha estabelecido em Israel uma nova comunicação entre o céu e a
terra por sua autoridade divina (3:31; 6:62). Isto também envolve sua
missão para julgar ao Israel em nome de Deus: "E [Deus] também lhe
deu autoridade de fazer juízo, porquanto é o Filho do Homem" (5:27),
embora o propósito da primeira vinda do Jesus foi explicitamente
salvação e não juízo no sentido de condenação (3:17; 12:47).
Não obstante, João pôde também informar que Jesus veio ao mundo
para um juízo presente: "Para juízo vim eu a este mundo; para que os que
não vêem, vejam, e os que vêem, sejam cegados" (João 9:39). Esta classe
de juízo ou processo de sacudidura era inerente ao oferecimento da
salvação de Cristo, oferecimento que implica necessariamente juízo. Os
que rechaçam o dom de Deus de Jesus o Messias, pronunciaram
indevidamente seu próprio juízo. Escolheram ser condenados. O
evangelho de Cristo separa aos que aceitam o oferecimento da graça
daqueles que o rechaçam (ver João 3:18-21; 5:24). A presença de Cristo
produz um tempo escatológico de decisão, e esse tempo é agora. Cada
pessoa está compelida a rechaçá-lo ou a reconhecê-lo, e assim determina
de antemão o veredicto do juízo final sobre si mesmo. Cristo considera
como de importância decisiva o que o confessemos como o Filho do
Homem. Por isso, ao cego a quem tinha sarado perguntou: "Crês tu no
Filho do Homem?" (João 9:35). Desse modo Jesus deu a tal pessoa uma
revelação mais elevada de si mesmo. Jesus revelou que era o Messias
celestial de que se falava no livro de Daniel, que viria nas nuvens do céu
ao "Ancião de dias" para receber a glória e o domínio e o reino sobre
todos os povos (Dan. 7:14). Este conhecimento conduz a uma fé mais
amadurecida em Jesus.
O ponto importante nos quatro Evangelhos é a mensagem em que
Cristo se referiu à missão do Filho do Homem em uma forma dupla: com
respeito a um cumprimento presente e terreno, e também a uma
As Profecias do Tempo do Fim 42
consumação cósmica futura. Em outras palavras, Cristo explicou que o
apocalíptico Filho do Homem de Daniel teve um cumprimento histórico
em salvação e juízo desde seu humilde primeiro advento, enquanto que
também olhou para o futuro, à consumação em salvação e juízo em seu
segundo advento. Em resumo, o juízo de Deus, a vida eterna e a
ressurreição por meio do Filho do Homem são tanto presente como
futuras. Esta dupla aplicação está expressa no Evangelho de João por
meio desta frase peculiar:
"Vem a hora, e agora é, quando os mortos ouvirão a voz do Filho de
Deus; e os que a ouvirem viverão. Porque como o Pai tem vida em si
mesmo, assim também deu ao Filho o ter vida em si mesmo" (João 5:25, 26;
ver também 4:23 e 16:32).
Quão surpreendente é que Jesus ensinasse que não é suficiente crer
que haverá uma ressurreição no último dia, como se promete em Daniel
12:2. Sua nova mensagem foi: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê
em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo o que vive e crê em mim,
não morrerá eternamente" (João 11:25, 26). Em outras palavras, a vida
futura no glorioso reino de Deus está à nossa disposição pela fé em
Cristo agora como uma qualidade espiritual de vida.
Um emprego duplo similar da terminologia apocalíptica pode ver-se
na forma em que Jesus aplica os conceitos do reino de Deus e sua "era"
(aion) correspondente. Ambas idéias estão combinadas na proclamação
de Jesus: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo;
arrependei-vos e crede no evangelho" (Mar. 1:15; cf. Mat. 3:2; 4:17;
5:17). O chamado de Cristo parece estar motivado por uma urgência
apocalíptica da vinda do reino de Deus, e muito bem pode estar inspirado
na profecia de tempo messiânico das 70 semanas do Daniel 9.
(Particularmente Daniel 2 e 7 prometem a vinda do reino de Deus; Dan.
2:44, 45; 7:27.)
O conceito de Jesus do reino universal de Deus também era parte
das Escrituras. Estas ensinavam que Jeová, o Deus de Israel, é agora Rei
e chegará a ser Rei no futuro "sobre toda a terra" (Núm. 23:21; Deut.
As Profecias do Tempo do Fim 43
33:5; Sal. 103:19; Isa. 6:5; Dan. 2:44; 4:3; Isa. 24:23; Zac. 14:9). Além
disso, os profetas haviam predito que um filho de Davi chegaria a ser o
Rei de Israel e que, como o Messias do mundo, representaria o governo
régio de Jeová para sempre (2 Sam. 7:12-16; Sal. 2:7-9; 132:11-18; Isa.
9:7; 11 :1-5; Miq. 5:2; Dan. 7:14, 27).
Como já indicamos no capítulo I, o judaísmo farisaico tinha
desenvolvido a esperança de que nos últimos dias o Messias viria no
tempo indicado por Deus, subiria ao trono de Israel e por seu poder
quebrantaria aos príncipes injustos, purificaria a Jerusalém de gentios,
quebrantaria toda sua solidez com vara de ferro e, por último, submeteria
todas as nações da terra a seu governo.
Na pregação de Cristo, o reino de Deus foi o conceito principal. Seu
ensino do reino de Deus, sua proximidade, tal como está representada
por sua própria vida, seu ministério de cura e seu domínio sobre os
demônios, revolucionaram o apocalipticismo judeu que tinha perdido
toda esperança de que Deus reinasse no presente histórico. O primeiro
advento de Cristo não foi o fim do tempo a não ser o poder régio de
Deus que pôde "atar" a Satanás e liberar os homens do poder do mal (ver
Mat. 12:29). Jesus insistiu em afirmar que nele o reino dos céus se
aproximou como uma soberania espiritual de Deus que agora estava
ativa em seu oferecimento messiânico de graça e seu domínio sobre os
demônios; uma realidade totalmente diferente do que esperavam os
rabinos judeus e os escritores apocalípticos, pois seu reino não era deste
mundo (João 18:36).
Em resumo, a mensagem de Jesus é que em sua própria pessoa
Deus invadiu a história humana e triunfou sobre o mal. Ao mesmo
tempo, Cristo ensinou que a liberação final viria no fim do tempo, em
sua segunda vinda (Mat. 6:10; 13:41-43; 16:27; 19:28; 25:31).

A nova idéia que Jesus apresentou foi que tanto no presente como
no futuro reino de Deus ele intervém como Filho do Homem, e em
conexão com isto aplicou a terminologia apocalíptica de "as duas eras" à
As Profecias do Tempo do Fim 44
sua nova estrutura escatológica. Enquanto que os apocalipticistas
conceberam um dualismo claro de duas eras ou períodos nos quais a
futura era isenta de pecado substituiria por completo a esta era
pecaminosa, Cristo ensinou que com seu ministério tinha começado a era
messiânica e a salvação. Ao mesmo tempo reconheceu que "a era
vindoura" começaria só com a ressurreição dos mortos (Luc. 20:34-36).
A identificação por parte do Jesus da era messiânica com "esta era"
(Mar. 10:29, 30) destruiu a idéia básica da doutrina das duas eras dos
apocalipticistas. A ênfase de Cristo em sua mensagem foi chamar o
arrependimento (metanoia) e aceitá-lo como Senhor e Messias (Mat.
4:17; 19:21), condição básica para entrar no reino de Deus no momento
presente. Desta forma, a paz e o gozo messiânicos serão experimentados
já agora na alma (João 15:11; 16:33). Esta tensão entre a escatologia
inaugurada e a escatologia apocalíptica, entre o reino da graça e o reino
da glória, entre o "já" e o "ainda não", é característica da mensagem do
evangelho do Novo Testamento em sua totalidade.
O evangelho não é simplesmente as boas novas a respeito da obra
de Cristo no passado ou no futuro. Os poderes da era vindoura já
invadiram esta era em forma dramática desde o Pentecostes, e agora os
verdadeiros crentes "provam" dos poderes do século vindouro mediante
Cristo (Heb. 6:5). Esta verdade do evangelho dissipa o desespero do
apocalipticismo judeu. Os apóstolos afirmaram que a história da
salvação entrou agora na era messiânica, ou os "últimos dias", no qual o
poder libertador do Espírito de Deus está totalmente à disposição de
todos os que se encontram em Cristo Jesus (Heb. 1:1, 2; At. 2:17-39).
As Profecias do Tempo do Fim 45
A INTERPRETAÇÃO QUE OS APÓSTOLOS FIZERAM DO
CUMPRIMENTO DA PROFECIA

A aplicação que faz Pedro da profecia do Joel é altamente


instrutiva. O apóstolo aplica a promessa do Espírito de Deus profetizada
pelo Joel ao derramamento pentecostal do Espírito Santo sobre os judeus
cristãos reunidos em Jerusalém. Pedro cita a predição do Joel de um
futuro derramamento do Espírito (Joel 2:28) e ato seguido assinala a
experiência presente como o cumprimento "nos últimos dias",
declarando: "Isto é o dito pelo profeta Joel" (At. 2:16). Um olhar mais
detalhado aos assuntos mencionados no esboço profético do Joel expõe o
problema seguinte: por que anunciou Pedro o cumprimento histórico dos
"últimos dias" no dia de Pentecostes? Pedro citou Joel 2:28-32 embora
algumas dos sinais preditos ainda não se cumpriam visivelmente,
incluindo as seguintes: (1) "Toda carne" incluso no tinha recebido o
derramamento milagroso do Espírito, porque só 12 apóstolos, ou no
máximo 120 crentes, tinham-no recebido (At. 1:15); (2) os sinais
milagrosos de "sangre, fogo e colunas de fumaça" parecem incluir mais
que as "línguas de fogo" assentadas sobre cada um dos discípulos,
sacudidos por um vento robusto; e (3) os sinais cósmicos do sol e da lua,
no melhor dos casos só se cumpriram parcialmente, até se se aceita o
obscurecimento do sol por três horas durante a crucificação como um
dos sinais (Mat. 27:45).
Isto nos leva a um princípio básico de interpretação apocalíptica na
mensagem apostólica: O cumprimento em Pentecostes constitui só uma
escatologia parcialmente realizada. Do ponto de vista apostólico, o
cumprimento dos "últimos dias" não requer um cumprimento imediato
de cada detalhe. O cumprimento se enfoca na realização messiânica da
promessa de Deus na história da salvação. O derramamento do Espírito
demonstrou ser a indicação nesta terra da coroação do Jesus ressuscitado
como o Rei-Sacerdote no céu (At. 2:33, 36). Em outras palavras, o
cumprimento não requer a verificação de cada detalhe da profecia na
As Profecias do Tempo do Fim 46
história presente. O cumprimento está determinado pelo progresso da
história da salvação no ministério de Cristo e seus apóstolos.
Agora se tinha aberto um novo caminho de salvação para todo
aquele que invocar o nome do Senhor Jesus (At. 2:21; ver também Rom.
10:9-13; 1 Cor. 1:2). Era-a escatológica do Joel tinha sido inaugurada
pelo reinado do Jesus Cristo. O que podemos dizer das características
universais ("toda carne") e cósmicas ("sol" e "lua") da perspectiva do
futuro que anuncia Joel? Estas assinalam à consumação e ao fim da era
cristã, quando Cristo volte pela segunda vez. Estes aspectos
apocalípticos não se cumpriram nos dias do Pedro. Ao aplicar Joel 2,
Pedro ressaltou que o Cristo ressuscitado era a fonte do derramamento
do Espírito. Além disso assinalou que o Espírito é dado baixo a condição
de ter fé no Jesus como o Messias:
"Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e
recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa,
para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para
quantos o Senhor, nosso Deus, chamar" (At. 2:38, 39).
A distribuição do Espírito sobre o Israel crente em Cristo pelo
Senhor ressuscitado está no próprio coração da mensagem apostólica do
evangelho. Isto ensina que o primeiro princípio de interpretação
profética dos apóstolos está determinado por um cumprimento em Cristo
(o cumprimento cristológico), e por extensão, na igreja de Cristo (o
cumprimento eclesiológico). Isto nos leva a uma característica final da
aplicação que Pedro fez da profecia do Joel: O derramamento do Espírito
de Cristo sobre a terra iniciou os "últimos dias" (At. 2:16).
O conceito de "os últimos (ou últimos) dias" é usado
freqüentemente pelos profetas do Antigo Testamento, mas no Novo
Testamento recebe uma qualidade messiânica ou cristológica, porque
agora Cristo veio na plenitude do tempo (Gál. 4:4). Seu Espírito doador
de vida começou a ser derramado sobre toda carne (ver João 7:37-39). A
idéia dos "últimos dias" não se refere a uma quantidade de tempo, a não
As Profecias do Tempo do Fim 47
ser a uma qualidade no tempo, ao começo da era messiânica em
contraste com o tempo dos profetas do Israel (cf Heb. l:1, 2).
A verdade apostólica da chegada dos "últimos dias" implicava que
tinha chegado "a consumação dos séculos" da era do velho pacto (Heb.
9:26; 1 Ped. 1:20; 1 Cor. 10:11). Este anúncio do fim da velha dispensa e
do começo dos "últimos dias" messiânicos envolve um rechaço das
divisões de tempo do apocalipticismo judeu e uma volta ao conceito
profético que insígnia que Deus domina o tempo e a história.
"Anjos, principados e autoridades", inclusive "todas as coisas",
estão submetidas a Cristo (F. 1:20-22; 1 Ped. 3:22). Até às autoridades
políticas as designa como servos de Deus para governar à humanidade
(Rom. 13:4; diákonos; 13:6, leitourgós; ver também João 19:11). Com
orações de petição, intercessão e agradecimento, a igreja está chamada a
submeter-se "por causa do Senhor" aos protetores políticos da lei e a
ordem na sociedade humana (Rom. 13:1; 1 Ped. 2:13-17; 1 Tim. 2:1-3).
Esta atitude positiva para a história por parte da igreja apostólica está
bem compendiada pelo R. Bauckham:
"O significado da história presente foi garantido pelos escritores do
Novo Testamento por meio de sua crença de que na morte e a ressurreição
do Jesus, Deus já tinha atuado em uma forma escatológica; a nova era tinha
invadido a velha; a nova criação estava em marcha, e o período intermédio
da superposição das foi estava ocupado com a missão escatológica da
igreja".1

A Unidade Orgânica dos Cumprimentos Cristológicos e


Eclesiológicos

O sentido de missão dos apóstolos estava enraizado na convicção


incomovível de que Cristo os tinha designado como os líderes de um
novo o Israel para cumprir a vocação da nação judia: ser a luz da
salvação divina para todo mundo (Mat. 21:43; Luc. 12:32; 1 Ped. 2:9,
10). Para sua comissão de pregar o evangelho, Paulo e Barnabé apelaram
à profecia do Isaías, a qual comissionava ao Servo do Jeová: "Também
As Profecias do Tempo do Fim 48
te dava por luz das nações, para que seja minha salvação até o último da
terra" (Isa. 49:6). Paulo citou esta chamada divina e sua missão aos
judeus em seu sermão na sinagoga do Pisídia da Antioquia, e o aplicou
diretamente a sua missão apostólica: "Porque assim nos mandou o
Senhor" (At. 13:47; cf. 26:23).

Isto significa que o cumprimento cristológico das profecias


messiânicas se estende à igreja de Cristo e inclui o cumprimento
eclesiológico. Isto é o que podemos chamar "a hermenêutica do
evangelho". A igreja cristã é essencialmente o povo do Messias, os que
se reúnem em seu nome e quem o segue como o Pastor messiânico (Mat.
18:30; João 10:14-16; 11:51, 52). Neste novo o Israel ficam eliminadas
as antigas restrições étnicas e geográficas do Israel. Se reúne pelo
evangelho do Cristo crucificado e ressuscitado. Cristo já o tinha
anunciado: "E eu, se for levantado da terra, a todos atrairei para mim
mesmo" (João 12:32).

O livro de Atos descreve com mais detalhe a aplicação histórica


desta hermenêutica do evangelho à igreja apostólica. Um exemplo
revelador se encontra em Feitos 4, onde se aplica o Salmo 2 (com seu
centro messiânico e sua perspectiva de juízo) à conspiração dos gentis e
judeus contra Jesus e seus apóstolos (At. 4:18, 23-30). A interpretação
evangélica do Salmo 2 não é uma reinterpretação que introduza
elementos estranhos ao texto. Antes bem, o evangelho de Cristo expõe o
significado intencional da profecia a respeito do Israel à luz de seu
cumprimento em Cristo e em sua igreja. Por conseguinte, o Novo
Testamento reconhece esse cumprimento na era da igreja como uma
atividade atual do Espírito, que um dia chegará a sua consumação
universal (ver Apoc. 18:1).
O Apocalipse de João é uma contraparte complementar dos quatro
Evangelhos, porque se concentra principalmente nos gozos e a herança
dos que são fiéis até o fim e vencem ao mau pelo sangue do Cordeiro e a
As Profecias do Tempo do Fim 49
palavra de seu testemunho (Apoc. 12:11). O livro do Apocalipse está
categoricamente centrado em Cristo e destinado para a igreja de todas as
idades, especialmente para prepará-la para a crise do tempo do fim.
Toda a escatologia do Novo Testamento está regulada pela verdade
do evangelho. Este é o princípio apostólico de interpretação profética.

O Princípio de Universalização das Promessas Territoriais


Feitas a Israel

Os intérpretes cristãos da profecia algumas vezes estiveram


confundidos em sua aplicação das promessas territoriais feitas ao antigo
o Israel. Isto é especialmente verdade com as aplicações das profecias
não cumpridas do Daniel, Ezequiel, Joel, Zacarias e o Apocalipse.
Alguns supõem que o território do Oriente Médio chegará a ser o
ponto focal dos cumprimentos das profecias do tempo do fim, o que
requer um esforço sério para determinar o princípio básico que segue o
Novo Testamento em sua aplicação das promessas territoriais feitas ao
Israel. Neste assunto, Cristo também estabeleceu a norma para nós.
Proclamou o princípio da ampliação mundial das promessas territoriais
locais; fê-lo assim quando disse que a promessa do pacto com respeito à
terra se cumpriria na terra feita nova.
Isto pode ver-se ao observar como aplicou Jesus esta antiga
promessa territorial:

SALMOS 37:11, 29 Mateus 5:5


Davi Jesus
"Mas os mansos herdarão a terra e "Bem-aventurados os mansos,
se deleitarão na abundância de porque herdarão a terra".
paz" (v.11).
"Os justos herdarão a terra e nela
habitarão para sempre" (v. 29).
As Profecias do Tempo do Fim 50
Cristo aplicou claramente o Salmo 37 em uma forma inovadora: (1)
Esta "terra" seria maior do que pensou Davi; o cumprimento incluirá
toda a terra em sua formosura criada de novo (ver também Isa. 11:6-9 e
Apoc. 21 e 22); (2) a terra renovada será a herança de todos os mansos
de todas as nações que aceitem a Cristo como Salvador. Cristo não está
espiritualizando a promessa territorial feita a Israel. Pelo contrário,
amplia o alcance de seu território futuro para incluir toda a terra.
De igual modo, o apóstolo Paulo entendeu a promessa territorial do
pacto assim como o entendeu Jesus, incluindo toda a terra: "Porque não
pela lei foi dada a Abraão ou a sua descendência a promessa de que seria
herdeiro do mundo, mas sim pela justiça da fé" (Rom. 4:13). Paulo
declara que esta promessa territorial mundial era a substância do pacto
abraâmico, a qual estaria garantida só pela justiça pela fé. A sugestão de
Deus a Abraão de que olhasse ao "norte e ao sul, ao oriente e ao
ocidente" (Gên. 13:14) na terra do Canaã não especificava limites:
"Porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua
descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra;
de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará
também a tua descendência" (Gên. 13:15,16).
Para compreender o princípio do evangelho, deve-se contemplar a
terra da Palestina como uma antecipação ou uma garantia que assegurou
ao Israel um território muito mais extenso, necessário para acomodar às
inumeráveis multidões da descendência de Abraão. O pacto abraâmico
continha a promessa de uma descendência incontável e de uma terra sem
limites para dita descendência.
Entretanto, Paulo considera Abraão como o pai de todos os crentes,
de todos os que são justificados por meio da fé em Cristo entre as nações
do mundo (Rom. 4:13, 16-24). Abraão "é pai de todos nós" (tão crentes
judeus como crentes gentis). O apóstolo declara: "Como diz a Escritura:
Constituí-te pai de muitas nações; nosso pai diante Daquele a quem
acreditou" (Rom. 4:17, BJ). Isso não está de acordo com a hermenêutica
do literalismo. É a exegese cristocêntrica do Paulo. A "terra" chega a ser
As Profecias do Tempo do Fim 51
o mundo; as "nações" chegam a ser quão crentes confiam no Deus do
Israel e som justificados pela fé em Cristo. Abraão chegaria a ser o pai
espiritual de uma multidão de gentis por meio de Cristo.

O Inadequado da Hermenêutica do Literalismo

A hermenêutica do literalismo étnico e geográfico em profecia se


apóia na hipótese de que a profecia não é mais que história antes dos
acontecimentos. Por conseguinte, atribui às descrições proféticas a
exatidão de um quadro fotográfico feito com antecipação. Esta hipótese
não deixa lugar para as coisas maiores e melhores que virão, coisas que
"nem homem algum imaginou" a não ser Deus sozinho (1 Cor. 2:9,
NBE; Isa. 64:4). O literalismo nega a estrutura bíblica inerente de uma
tipologia intensificada. Cristo veio em humilhação; contudo, foi mais
que Jonas, mais que Salomão, maior que o templo (Mat. 12:40, 42, 6).
Levantou a esperança judia muito por cima de quem esperava um
Messias que fora idêntico com um rei, um profeta ou um sacerdote no
Israel. Como o Messias divino, elevou-se imensamente por cima desses
protótipos antigos, tanto em sua humilde encarnação como em sua futura
glorificação. Não devia esperar uma reprodução exata dos reis
teocráticos do Israel. portanto, a gente também pode ver a terra
prometida (Palestina) como "um mundo em miniatura no qual Deus
ilustrou seu reino e sua forma de tratar com o pecado. A terra que Deus
prometeu a Abraão e a sua descendência... era um tipo do mundo (Rom.
4:13)".2 O alcance total do panorama profético do Israel não era
nacionalista a não ser universal, com uma dimensão acrescentada que
incluía tanto o céu como a terra (Isa. 65:17; 24:21-23).
O princípio decisivo para a aplicação no tempo do fim da promessa
territorial feita ao Israel é a forma como Cristo e o Novo Testamento
como um tudo aplicam esta promessa do pacto. A passagem clássica que
insígnia a ampliação universal do território restringido do Israel,
encontra-se na conversação do Jesus com a mulher da Samaria. Quando
As Profecias do Tempo do Fim 52
a mulher lhe perguntou que monte era o sagrado, se o monte Gerizim ou
o monte do Sião, Cristo respondeu: "Mulher, me acredite, que a hora
vem quando nem neste monte nem em Jerusalém adorarão ao Pai" (João
4:21).
Desde que veio o Messias, ele é o "lugar" santo em quem devem
reunir-se o Israel e todos os gentis (Mat. 11:28; 23:37). "Porque onde
estão dois ou três congregados em meu nome, ali estou eu em meio
deles" (Mat. 18:20). um pouco mais tarde, acrescentou: "E eu, se for
levantado da terra, a todos atrairei para mim mesmo" (João 12:32).
Cristo não faz diferença entre a esperança para o futuro de um judeu
cristão e de um gentil cristão. Os descendentes espirituais de Abraão
entre todas as nações serão reunidos ou unidos em "um rebanho" baixo
"um Pastor" (João 10:6; Mat. 8:11).
O princípio implícito é claro. Cristo suprime todas as restrições
étnicas no povo do novo pacto e, portanto, também suprime o centro
geográfico do Oriente Médio para sua igreja. Onde quer esteja Cristo, ali
está o lugar santo! Esta é uma parte essencial da hermenêutica do
evangelho. O Novo Testamento substitui a santidade da presença de
Deus do templo antigo (a shekinah) pela santidade do Senhor Jesus
Cristo.
A continuidade básica da esperança do Antigo Testamento e do
Novo Testamento se representa na epístola aos Hebreus. Assegura aos
cristãos de origem judia que, pela fé em Cristo, "aproximaste-lhes do
monte do Sião, à cidade do Deus vivo, Jerusalém a celestial... à
congregação [ekklesia] dos primogênitos que estão inscritos nos céus, a
Deus... ao Jesus o Mediador do novo pacto" (Heb. 12:22-24). Por meio
da fé no sangue expiatório da morte de Cristo, a igreja entra agora em
forma constante no templo celestial e se aproxima do trono da graça para
receber ajuda de Cristo (Heb. 4:16; 10:19-22).
Esta linguagem simbólica da adoração cristã não tem o propósito de
ser uma adoração paralela ao lado da do Israel, mas sim é o verdadeiro
cumprimento dos tipos do Israel. O uso contínuo de nomes hebreus
As Profecias do Tempo do Fim 53
expressa a continuidade essencial da verdadeira adoração na revelação
progressiva de Deus em Cristo (ver Heb. 12:1-3). As promessas do Israel
agora se experimentam em Cristo como "os poderes do século vindouro"
(Heb. 6:5), e serão cumpridas em uma maneira mais perfeita em sua
consumação apocalíptica:
"Porque não temos aqui cidade permanente, mas sim procuramos a
por vir" (Heb. 13:14).
"Porque esperava [Abraão] a cidade que tem fundamentos, cujo
arquiteto e construtor é Deus" (Heb. 11:10).

Referências

1. R. J. Bauckham, "The Rise of Apocalyptic" [O Surgimento do


Apocalíptico, Themelios [Fundamento] 3:2 (1978), p. 22.
2. Louis F. Were, The Certainty of the Third Angel's Message [A
Certeza da Mensagem do Terceiro Anjo] (Berrien Springs,
Michigan: First Impressions, 1979), p. 86.
As Profecias do Tempo do Fim 54
A COMPREENSÃO DE CRISTO DAS PROFECIAS DE
DANIEL

A aplicação que Jesus fez dos termos simbólicos tirados do livro do


Daniel – tais como "reino", "Filho de Homem" e "abominação
desoladora" – indicam que manifestou um profundo interesse nas
profecias apocalípticas de Daniel. Aplicou as expressões daniélicas a sua
própria missão messiânica. Por esse meio Cristo ensinou que a descrição
das visões de Daniel eram de importância fundamental para sua igreja.
Sua própria perspectiva segue o esboço da história da salvação de
Daniel. É conhecido como Discurso do Monte das Oliveiras ou discurso
escatológico de Jesus, porque o pronunciou enquanto estava sentado no
monte das Oliveiras, ao oriente de Jerusalém (Mat. 24; Mar. 13; Luc.
21).

O quadro que Cristo pintou dos acontecimentos futuros para


Jerusalém e para seus seguidores em todo mundo é similar ao que foi
esboçado primeiramente pelo profeta Daniel. O discurso do monte das
Oliveiras foi chamado por alguns como "os comentários ou Midrash* de
Jesus sobre o livro do Daniel". É amplamente reconhecido que as
profecias de longo alcance de Daniel – com sua predição da apostasia, a
perseguição, o juízo e a vindicação final dos fiéis – deram forma ao
discurso escatológico de Cristo. Esta conexão pode ver-se sem
dificuldades da seguinte lista comparativa:

*
Nota do Tradutor: Midrash é uma mera transliteração do substantivo hebraico midräs, que é um
termo cunhado na última época bíblica e que no período rabínico toma o sentido preciso de
"interpretação e exposição" do texto bíblico. (Ver Aranda, Literatura judía intertestamentaria, pp.
470, 477.)
As Profecias do Tempo do Fim 55
Daniel Jesus
"Quando se cumprirão estas "Dize-nos quando sucederão estas
maravilhas?" (Dan. 12:6) O anjo coisas, e que sinal haverá quando todas
respondeu que quando acabe a dispersão elas estiverem para cumprir-se?" [méle
do poder do povo santo, "estas coisas táuta sunteleísthai pánta] (Mar. 13:4).
todas se cumprirão" [na LXX:
suntelesthénai pánta táuta] (Dan. 12:7).
"O que há de ser nos últimos dias" [na "É necessário assim acontecer" [dei
LXX: ti dei genésthai metá táuta: O que genésthai] (Mar. 13:7).
deve suceder no futuro] (Dan. 2:28).
"Mas o povo dos que conhecem o seu "Sereis odiados de todos por causa do
Deus se tornará forte e ativo … Alguns meu nome; aquele, porém, que
dos sábios cairão ... até ao tempo do fim, perseverar até ao fim, esse será salvo"
porque se dará ainda no tempo (Mar. 13:13; Mat. 24:13).
determinado. ... mas, naquele tempo,
será salvo o teu povo" (Dan. 11:32, 35;
12:1).
"Até quando durará a visão do sacrifício "Quando virdes a abominação da
diário e da transgressão assoladora, visão desolação instalada onde não deve estar"
na qual é entregue o santuário e o (Mar. 13:14, BJ).
exército, a fim de serem pisados?" (Dan.
8:13).
"Sobre a asa das abominações virá o "Quando , portanto, virdes a abominação
assolador" (Dan. 9:27). da desolação … instalada no lugar
santo" (Mat. 24:15, BJ).
"tirarão o sacrifício diário, estabelecendo
a abominação desoladora" (Dan. 11:31;
cf. 12:11).
"E haverá tempo de angústia, qual nunca "Porque aqueles dias serão de tamanha
houve, desde que houve nação até àquele tribulação como nunca houve desde o
tempo" (Dan. 12:1). princípio do mundo" (Mar. 13:19; Mat.
24:21).
"E eis que vinha com as nuvens do céu "Então, verão o Filho do Homem vir nas
um como o Filho do Homem …Foi-lhe nuvens, com grande poder e glória"
dado domínio, e glória, e o reino" (Dan. (Mar. 13:26; cf. Mat. 24:30).
7:13,14).
As Profecias do Tempo do Fim 56
Dos paralelos citados, chega a ser evidente que Jesus seguiu a
seqüência dos eventos futuros de Daniel em seu próprio discurso. Cristo
aplicou o esboço de Daniel ao futuro imediato de Israel e de seus
discípulos. Portanto, cada uma das declarações de Cristo deve entender-
se contra o transfundo da profecia de Daniel da história da salvação.
Daniel apresentou o drama de um conflito religioso que se concentra em
um que invade a terra santa, profana o templo de Israel estabelecendo
sua própria "abominação" ou objeto de adoração falsa, em lugar da
verdade de Deus, e persegue os santos, cuja "angústia" durará por "três
tempos e meio". A reação de Deus chega na forma de "um semelhante a
um filho de homem", a quem é ordenado no céu que execute o juízo de
Deus sobre esse intruso maligno. Restaura a verdadeira adoração no
templo de Deus e vindica os adoradores tratados injustamente.
O tema de Daniel é descrito em 2 visões que formam um
paralelismo progressivo e complementar (caps. 7 e 8). Os capítulos finais
de Daniel (9 e 10-12) consistem em notas explicativas do anjo quanto às
duas visões. Entretanto, o tema principal do livro de Daniel é a
segurança da restauração da verdade do santuário de Deus e a libertação
de seu povo fiel do pacto por meio do Filho do Homem, que vem nas
nuvens do céu. Ele executa o juízo sobre o "chifre pequeno", o desolador
que está na terra.

Do mesmo modo, Jesus conecta o templo e sua profanação futura


com uma "abominação da desolação" ou sacrilégio. Depois assegura a
seus seguidores que voltará no poder e a glória do celestial Filho do
Homem (de Dan. 7) para resgatar a seus fiéis e reuni-los no reino
messiânico de Deus. Dessa forma, Cristo anula a sentença de morte tão
injustamente imposta aos fiéis pelo anticristo.
Segundo os Evangelhos sinóticos, Jesus adotou algumas frases-
chave apocalípticas de Daniel e as aplicou a si mesmo como Messias, e
outras frases aplicou a Jerusalém e a seus seguidores:
As Profecias do Tempo do Fim 57
Dan. 7:13 (Um filho de homem que vem nas nuvens do céu para
vindicar os santos acusados) é aplicada a Cristo em Marcos 13:26.
Dan. 8:13 (O santuário seria pisoteado) aplica-se a Jerusalém em
Lucas 21:24.
Dan. 9:27 (O desolador porá seu sacrilégio dentro do templo)
aplica-se à área do templo de Jerusalém no Mateus 24:15.
Dan. 11:31 (O sacrilégio profanará o templo) aplica-se a Roma
imperial em Marcos 13:14.
Dan. 11:45 (O monte glorioso e santo será assediado) aplica-se a
Jerusalém no Mateus 24:15 ("o lugar santo" ).
Dan. 12:1 (Seguirá um tempo de tribulação sem comparação)
aplica-se aos seguidores de Jesus em Marcos 13:19.
Jesus mencionou que a fonte literária de seu discurso era o livro de
Daniel: "Quando, porém, virem a abominação da desolação, de que fala
o profeta Daniel, instalada no lugar santo – que o leitor entenda!" (Mat.
24:15, BJ). Isto indica que o esboço apocalíptico de Daniel dos 4
impérios mundiais sucessivos (Babilônia, Medo-pérsia, Grécia e Roma)
devem colocar-se como o marco histórico atrás da perspectiva do futuro
apresentada por Cristo. Isto exige interpretar que o Império Romano que
no tempo do Jesus governava Israel, cumpriu a profecia de Daniel. O
general romano Pompeu sujeitou os judeus a Roma no ano 63 a.C. Os
expositores judeus anteriores a Cristo, especificamente os macabeus,
acreditaram que sua vitória militar sobre o opressor sírio Antíoco IV
Epifânio, no ano 164 a.C., era a vitória de Deus sobre o profanador do
templo descrita em Daniel 8-12 (ver 1 Macabeus 1:54-59; 6:7). Os
fariseus viram na morte de Pompeu (48 a.C.) o triunfo de Deus sobre o
profanador da cidade santa.1
Logo depois de Cristo, Josefo, o historiador judeu do século I,
expressou sua convicção de que a profanação do templo levada a cabo
pelos zelotes e a desolação de Jerusalém pelos exércitos romanos (no 70
d.C.) eram um cumprimento da predição de Daniel.2 Entretanto, poucos
As Profecias do Tempo do Fim 58
judeus pareceram ter entendido a razão real para a destruição de
Jerusalém que se levou a cabo 40 anos depois da crucificação de Cristo.
Os profetas anteriores, incluindo Jeremias (cap. 7) e Ezequiel (cap.
24), tinham anunciado a destruição iminente do templo e da cidade como
a maldição divina do pacto sobre um povo rebelde ao pacto. Mas isto já
ocorrera no próprio tempo de Daniel, quando Nabucodonosor, rei de
Babilônia, destruiu Jerusalém em 586 a.C. (ver Dan. 9:17). Entretanto, a
nova predição de Daniel foi a espantosa verdade de que o templo futuro
que seria reedificado após o cativeiro babilônico também seria destruído,
tudo como resultado do assassinato que Jerusalém faria do Messias (Dan.
9:26, 27)! Esta profecia é um novo desenvolvimento na tradição
profética de Israel. Daniel 9 chegou a ser mais específico com respeito
ao tempo do Messias que a predição anterior do servo sofredor de Isaías
53.
Jesus aplica a predição de Daniel da destruição futura da "cidade e o
santuário" (Dan. 9:26) ao tempo da geração de seus contemporâneos,
quando declarou com toda solenidade: "De certo vos digo que tudo isto
virá sobre esta geração" (Mat. 23:36; ver também o v. 35 e 24:34). A
advertência adicional, "que lê, entenda" (Mar. 13:14), é o conselho de
Cristo aos que podiam ler as Escrituras hebraicas para que estudassem
cuidadosamente o livro de Daniel como o contexto de seu próprio
discurso profético. O vocábulo "entendam" já era uma palavra-chave no
livro de Daniel (Dan. 9:23; ver também 8:27; 9:2; 10:1; 12:8-10). Por
esta razão, o conselho de Jesus aponta inequivocamente ao livro de
Daniel para entender sua própria predição profética e a aplicação
histórica da profecia de Daniel.
Por muito tempo se deu por sentado que o Evangelho de Marcos foi
escrito primeiro e que Mateus e Lucas o tomaram como sua pauta básica,
produzindo cada um sua própria versão modificada de uma perspectiva
teológica ligeiramente diferente. Entretanto, estudos recentes sugerem
que os três escritores dos Evangelhos sinóticos extraíram de um
documento comum anterior aos sinóticos que continha todos os
As Profecias do Tempo do Fim 59
elementos essenciais da tradição oral do discurso de Jesus no monte dos
Oliveiras.3
O discurso de Jesus no monte dos Oliveiras também constituiu uma
fonte vital para o conselho pastoral de Paulo com respeito ao futuro e
para seu método ao aplicar o esboço apocalíptico a seu próprio tempo e
ao futuro. Isto será tratado no capítulo seguinte.
Tanto o discurso profético de Jesus como o esboço profético de
Paulo constituem as cabeceiras de ponte mais importantes que conectam
os livros de Daniel e Apocalipse. O discurso escatológico de Jesus nos
Evangelhos sinóticos e o esboço profético de Paulo em 2
Tessalonicenses 2 nos ensinam autoritativamente como se devem aplicar
as profecias de Daniel à era cristã. São a preparação necessária para
entender o livro do Apocalipse.

A Estrutura Cronológica do Discurso Profético de Jesus


em Marcos 13

Alguns observaram um estilo literário em Marcos 13 que demarca


os versículos 5-23 como uma unidade literária. Isto se insinua pela
advertência contra a profecia falsa tanto ao começo como ao final:
"Olhem [blépete]..." (vs. 5, 23). Esta seção descreve os acontecimentos
que devem preceder ao fim, especificamente os dias de tribulação (vs.
19, 20). Assim forma também uma unidade temática. A seção seguinte,
do 24 ao 27, apresenta a segunda vinda de Cristo como o próprio fim.
Sugere uma progressão definida no tempo: "Mas naqueles dias, depois
daquela tribulação..." (V. 24).
Voltando para a primeira seção (vs. 5-23), pode notar-se um
progresso cronológico dentro desta parte. A predição de guerras, fomes e
terremotos não tem o propósito de anunciar sinais dos acontecimentos
finais porque se diz que não devem ser causa de alarme: "É necessário
que aconteça assim; mas ainda não é o fim..." Estes são princípios de
dores (literalmente, dores de parto; Mar. 13:7, 8; cf. Mat. 24:8). Depois
As Profecias do Tempo do Fim 60
se mencionam os sofrimentos dos discípulos de Cristo e sua pregação
mundial do evangelho: "E é necessário que o evangelho seja pregado
antes a todas as nações" (Mar. 13:10, cf. Mat. 24:14). Esta porção da
Escritura conclui com o conselho de Jesus: "Mas o que perseverar até o
fim, este será salvo" (v. 13; Mat. 24:13). A demora da parousia (o
advento) está claramente presente neste contexto. Quando Jesus disse
que o evangelho "primeiro deve" ser pregado, enfatizou o fato de que o
fim não viria até que o evangelho tenha sido levado a cada nação na terra
(ver Mar. 13:10).
Na subdivisão seguinte, Marcos 13:14-20, Cristo volta a atenção à
geração de seus contemporâneos ao concentrar-se sobre a "abominação
da desolação". Este fenômeno já não é parte "do princípio de dores". A
predição de Cristo do "sacrilégio" como um indicador visível da imediata
destruição de Jerusalém é o sinal decisivo que responde a pergunta dos
discípulos: "Qual será o sinal de que está para acabar-se tudo?" (Mar.
13:1-4, NBE; Mat. 24:1-3).
Mas Cristo não continua o relato com uma descrição de sua gloriosa
vinda como os discípulos esperavam. Mas procede enfatizar que o
sacrilégio trará um período de angústia sem igual, um período de
tribulações para seus seguidores (Mar. 13:19-23; Mat. 24:16-21). Tudo
isto, reitera Jesus, acontecerá antes que os sinais nos céus introduzam o
Redentor que retorna (Mar. 13:24; Mat. 24:29). Em outras palavras, a
desolação de Jerusalém está separada com toda claridade do segundo
advento pelo intervalo de tempo conhecido como "dias de tribulação"
[thlípsis] para os seguidores de Cristo em todo mundo.
Este período de aflição é deixado em forma indefinida por Cristo,
mas é uma alusão clara às predições de Daniel de um período de aflição
e apostasia depois que se estabeleceu a abominação desoladora como se
depreende de Daniel 7-12. O primeiro tempo de aflição no livro de
Daniel dura "três tempos e meio" (Dan. 7:25), e deve entender-se como
um símbolo apocalíptico para um longo período, mencionado em forma
reiterada em Apocalipse 11-13 com respeito à era da igreja (ver nesta
As Profecias do Tempo do Fim 61
Segunda parte, o cap. XX). Mas Daniel antecipa, além dos 3 ½ tempos
de aflição (em Dan. 7:25), um tempo posterior de angústia sem
precedentes no tempo do fim (Dan. 11:40-45; 12:1), da qual Miguel
libertará seu povo. Este tempo final de tribulação, diz Daniel, será "qual
nunca houve desde que houve nação até então" (Dan. 12:1; LXX, thlípsis).
Tanto Mateus como Marcos declaram que a angústia será tão severa
que "ninguém escaparia com vida" se o Senhor não abreviasse esses dias
por amor a seus "escolhidos" (Mar. 13:20; Mat. 24:22). Este anúncio
sugere não uma crise local pequena em Jerusalém, e sim um período
prolongado de angústia universal para o povo de Deus. A referência
adicional a respeito dos falsos cristos e os falsos profetas (Mar. 13:21-
23; Mat. 24:24) indica um período estendido de apostasia. Podemos
concluir sem risco que Cristo previu um período extenso de desolação
religiosa depois que o sacrilégio abominável predito nas profecias de
Daniel tivesse aparecido entre seus seguidores. Cristo não ensinou que a
queda de Jerusalém e o fim do mundo eram acontecimentos idênticos,
mas sim que a queda de Jerusalém introduziria um período de apostasia e
tribulação. Parece que Cristo combinou todos os períodos de angústia
para seu povo em uma só declaração, tirada de Daniel 12:1.
A chave para entender a perspectiva profética de Cristo é sua
aplicação contínuo-histórica de Daniel: primeiro ao Império Romano e à
geração de seus contemporâneos em Jerusalém, e depois aos períodos de
crescente angústia mundial da qual libertará a seus seguidores em sua
vinda.

A Aplicação que Cristo Fez da Tipologia

Qual foi a ocasião que levou Jesus a pronunciar sua profecia de


condenação sobre Jerusalém e de perseguição para seus seguidores até
Sua libertação em sua segunda vinda?
Perto do fim de seu ministério terrestre, Jesus notou o repúdio
decidido de cada evidência de seu messianismo por parte dos dirigentes
As Profecias do Tempo do Fim 62
judeus. Previu sua iminente morte violenta. Só então pronunciou a
inevitável maldição do pacto: "Eis que vossa casa vai ficar deserta" (Mat.
23:38). O que Cristo quis dizer com esta predição sinistra? Declarou que
o templo em Jerusalém séria privado da presença divina, e seria
destruído, e acrescentou: "Não ficará pedra sobre pedra" (Mar. 13:2).
Muito pouco tempo depois, enquanto estava sentado no monte das
Oliveiras, alguns de seus discípulos lhe perguntaram em particular:
"Diga-nos, quando serão estas coisas, e que sinal haverá de tua vinda e
do fim do mundo?" (Mat. 24:3). Estas perguntas se relacionam com dois
acontecimentos diferentes. Entretanto, na mente dos discípulos, isso não
estava diferenciado no tempo como "a destruição de Jerusalém" por um
lado e "a segunda vinda de Cristo" para julgar o mundo por outro.
Entretanto, na opinião de Cristo, o juízo iminente sobre Jerusalém e o
juízo final do mundo têm um característico básico em comum: ambos os
juízos são realizados pelo mesmo Deus do pacto. Esta correspondência
essencial de ambos os juízos implica tipologia, algo associado com os
profetas clássicos (ver o cap. II desta obra). Isto significa que Jesus
considerou o iminente dia do Senhor para Jerusalém como um tipo de
aviso do juízo do mundo.
Em harmonia com a profecia clássica de Israel, Cristo também
combinou os dois juízos divinos em uma perspectiva profética bifocal:

Juízo do mundo

Juízo
de Jerusalém

________________________________________________________
A PERSPECTIVA DE JESUS 70 d.C. SEGUNDA VINDA
As Profecias do Tempo do Fim 63
A predição de Jesus não oferece nenhuma classe de adivinhação de
acontecimentos futuros, mas sim, ao contrário, convoca a todas as
pessoas a preparar-se para encontrar-se com Deus. Assim como os
profetas da antiguidade, Jesus projetou como iminente o juízo sobre
Jerusalém ("não passará esta geração", Mar. 13:30; ver mais adiante o
cap. X desta obra), uma vez que colocou o juízo do mundo no distante
tempo do fim ("daquele dia e hora ninguém sabe", Mar. 13:32).
Jesus recalcou que a razão para a catástrofe iminente de Jerusalém
foi seu rechaço da visitação de Deus por meio do Messias: "E te
derribarão ... porquanto não conheceste o tempo de tua visitação" (Luc.
19:44). Israel tinha rechaçado a seu verdadeiro Rei na pessoa de Cristo.
Como resultado, Deus retirou sua presença, o que deixou só a justiça
retributiva de Deus. Segundo o mesmo princípio, Jesus ordenou que "o
evangelho seja pregado antes a todas as nações" (Mar. 13:10). Só então
virá o juízo do mundo. Por essa razão, Cristo enviou a sua igreja com
uma missão mundial:
"E será pregado este evangelho do reino em todo mundo, para
testemunho a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14; cf. 28:18-20).
Jesus também adotou o termo apocalíptico "o fim" do livro do
Daniel. Em Daniel 9:26 e 27, "o fim" emprega-se como um sinônimo
para uma "destruição" decretada divinamente sobre o horrível desolador.
Isto faz pensar que o mundo será destruído pela mesma razão pela que
foi devastada Jerusalém. Assim como Jerusalém foi destruída por
rechaçar o Messias, assim o mundo será destruído por seu rechaço de
Cristo como Salvador. Dessa maneira Cristo revelou a unidade da obra
de Deus.

Cristo, a Chave para Entender a Profecia

A aproximação do inimigo à área do templo foi o sinal para que os


seguidores de Cristo fugissem. Esse sinal serve como uma admoestação
para todos os crentes, permitindo que escapassem de Jerusalém.
As Profecias do Tempo do Fim 64
"Quando virem 'a abominação da desolação' instalada onde não
devia estar – que o leitor entenda! – então os que estiverem na Judéia
fujam para as montanhas" (Mar. 13:14, BJ).
"Quando, portanto, virdes a 'abominação da desolação', de que
falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo – que o leitor entenda! –
então, os que estiverem na Judéia fujam para as montanhas" (Mat. 24:15,
16, BJ).
"Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que
está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam
para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os
que estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de
vingança, para se cumprir tudo o que está escrito" (Luc. 21:20-22).
É importante reconhecer a função complementar dos três
Evangelhos sinóticos no estudo do discurso profético do Jesus. As frases
idênticas ao começo de cada relato indicam firmemente que Lucas
interpreta a profecia de Marcos da "abominação desoladora" como sendo
cumprida na desolação histórica de Jerusalém pelos exércitos de Roma
em 70 d.C. Lucas acrescenta um esclarecimento importante dele próprio:
que a terrível desolação deve entender-se como um "castigo" divino em
cumprimento de tudo o que haviam predito os profetas de Israel. Mateus
aponta explicitamente o profeta Daniel. Na verdade, Daniel contém a
única profecia das 70 semanas de anos que anuncia a morte violenta do
Messias seguida pela destruição de Jerusalém:
"E depois das sessenta e duas semanas se tirará a vida ao Messias,
mas não por si; e o povo de um príncipe que virá destruirá a cidade e o
santuário" (Dan. 9:26).
Quando os exércitos de Roma estavam aproximando-se da "santa
cidade", podiam ser vistos por todos os que estavam na Judéia. Enquanto
que Mateus e Marcos tinham falado só de uma "abominação desoladora"
que viria, Lucas explica a seus leitores gentios que esta desolação estava
a ponto de vir sobre Jerusalém por meio dos exércitos romanos (ver Luc.
21:20). A data da publicação do Evangelho de Lucas é debatida, mas se
As Profecias do Tempo do Fim 65
crê que é cerca do ano 70 d.C. O anúncio de Lucas de que a condenação
de Jerusalém eram os "dias de retribuição, para que se cumpram todas as
coisas que estão escritas" (Luc. 21:22), confirma a interpretação de que a
morte violenta de Cristo e a conseqüente destruição de Jerusalém por
Roma imperial cumpriram a profecia de Daniel 9. A declaração de Lucas
também confirma a predição de Jesus de que sua própria geração não
passaria sem que se cumprissem suas palavras (Mat. 24:34; 23:36; Mar.
13:30, 31).
Agora podemos tirar a conclusão de que a profecia messiânica de
Daniel das 70 semanas (Dan. 9:24-27) teve seu cumprimento histórico na
morte de Cristo. Deste modo, Cristo é a chave para entender a profecia
de Daniel. Também deve ser nosso guia para entender o cumprimento da
"abominação da desolação", ou, como traduz Cantero-Iglesias, "o
sacrilégio devastador".

O Anticristo Abominável

O termo misterioso de Jesus – "a abominação da desolação" (BJ;


RV 77), "o sacrilégio devastador" (CI) ou "a abominação que causa a
desolação" (NIV) [bdélugma tes eremóseos] – é uma alusão direta à
figura do antimessias que aparece na profecia de Daniel. Inclusive a
visão do Daniel 8 foi denominada pelo anjo interpretador: "a visão da
transgressão assoladora" (Dan. 8:13), "o pecado da desolação" (JS). Esta
visão se centraliza no sacrilégio de pisar o templo de Deus e seus
adoradores por parte de um poder jactancioso.
Os capítulos posteriores em Daniel (caps. 9-12) aplicam a visão
espantosa de Daniel 8 à era messiânica (9:24-27; 11:31-36; 12:11). Já na
visão do Daniel 8 o próspero profanador desempenhou um papel
proeminente como o adversário do Messias, o "príncipe dos exércitos"
ou "Príncipe dos príncipes" (Dan. 8:11, 25). Isto significa que este
desolador do santuário é apresentado no papel de um antimessias desde
tempos tão antigos como quando Daniel escreveu seu livro! Pisoteia o
As Profecias do Tempo do Fim 66
santuário do Messias, o Príncipe dos exércitos: "O lugar de seu santuário
foi lançado por terra" (Dan. 8:11). A explicação seguinte se estende
sobre sua profanação e destruição: "Por sua astúcia nos seus
empreendimentos, fará prosperar o engano, no seu coração se
engrandecerá e destruirá a muitos que vivem despreocupadamente;
levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes, mas será quebrado sem
esforço de mãos humanas" (Dan. 8:25).
Esse foi o conceito hebraico da natureza e a sorte do antimessias
vindouro. Em seu discurso profético, Jesus fez mais que reproduzir tão
somente a predição de Daniel. Como o Messias da profecia, alertou a
seus discípulos e à igreja das idades futuras contra a chegada de seu rival
que, portanto, pode ser chamado "o anticristo". Este anticristo não só se
opõe ao verdadeiro culto de adoração, mas também profana o templo de
Deus e engana e persegue os seguidores de Cristo. Dessa forma, o
anticristo ocasiona a grande tribulação para o povo do novo pacto de
Deus (Mar. 13:14-19; Mat. 24:15-21). Só a repentina aparição de Cristo
em seu poder soberano como o Filho do Homem terminará bruscamente
o reinado do anticristo. Cristo prometeu intervir pessoalmente e libertar o
seu povo (Mar. 13:26, 27; Mat. 24:30, 31).
Muitos expositores notaram um ponto interessante no fato de que
Marcos se refere à "abominação" usando a forma masculina, como
"posta (gr. estekóta, Mar. 13:14) onde não deve estar". Esta forma
pessoal geralmente se interpreta como sugerindo que a ameaça não é
uma apostasia impessoal, mas sim a origina uma pessoa específica.
Cristo anunciou que depois de sua partida se levantariam muitos
enganadores dizendo: "Eu sou o Cristo". Por outro lado, os verdadeiros
seguidores de Cristo seriam odiados e perseguidos de morte em todo
mundo "por causa de meu nome" (Mar. 13:12, 13; Mat. 24:9-11). O
conflito se intensificaria até o grau em que os falsos cristos e os falsos
profetas levariam a cabo milagres e sinais sobrenaturais para insistir em
sua falsa adoração (Mar. 13:19-22; Mat. 24:21-24). Jesus aplica
claramente o personagem antimessias de Daniel a mais de um anticristo
As Profecias do Tempo do Fim 67
individual, todos os quais desempenham o papel de falsos profetas até o
fim do tempo.
Por causa de sua aplicação ao tempo do fim, hoje merece nossa
atenção um conselho específico de Jesus a seus discípulos em relação
com a "abominação" que ia avançar contra a cidade apóstata de
Jerusalém: "Então os que estejam na Judéia fujam para os montes" (Mat.
24:16; Mar. 13:14; Luc. 21:21). O conselho do Jesus foi um recordativo
da ordem de Deus a Ló e sua família em Sodoma: "Escapa por tua vida...
escapa ao monte, não seja que pereças" (Gên. 19:17). Tanto Sodoma
como Jerusalém tinham incorrido no juízo. Ambas as cidades tinham
sido pesadas nas balanças do céu e tinham sido achadas faltas. Para
ambas, tinha terminado o tempo de prova. A destruição que caiu sobre
ambas as cidades foi só uma prefiguração de seu juízo futuro. Jesus tinha
admoestado antes a Capernaum:
"Se em Sodoma se tivessem operado os milagres [do Messias] que em
ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que
menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que
para contigo" (Mat. 11:23, 24).
O conselho premente de Jesus a seus discípulos a fugir de Jerusalém
como o lugar de apostasia e condenação implicava, portanto, sua
chamada a evitar também a condenação final do céu. Os crentes fugiram
no ano 66 D.C. não aos montes literais, e sim à cidade de Pella, no vale
ao outro lado do Jordão, a 25 quilômetros ao sul do Mar da Galiléia. 4 No
tempo indicado, os discípulos de Cristo tiveram que apartar-se da cidade
condenada. Sua fuga foi uma fuga tanto da apostasia religiosa como de
seu juízo.
O livro do Apocalipse ratifica a aplicação do tempo do fim do
conselho de Jesus de fugir de Jerusalém. Em Apocalipse 18 uma voz
celestial anuncia no tempo do fim que "caiu a grande Babilônia", por
causa de sua apostasia e posse demoníaca (Apoc. 18:2, 3). O divino
ultimato será ativado então para os que permanecem em Babilônia:
As Profecias do Tempo do Fim 68
"Saiam dela, meu povo, para que não sejam partícipes de seus
pecados, nem recebam parte de suas pragas; porque seus pecados
chegaram até o céu, e Deus se lembro de suas maldades" (Apoc. 18:4, 5).
Deste modo, o conselho de Jesus para fugir de Jerusalém no Mateus
24:16 encontra no tempo do fim sua aplicação universal.
Sabemos pelas epístolas de Paulo aos Tessalonicenses
(especialmente 2 Tes. 2) e pelas epístolas de João, que o conceito do
anticristo era um tema familiar na igreja apostólica. Portanto, podemos
deduzir que a advertência contra o anticristo foi considerada desde o
começo como uma parte essencial da mensagem que Cristo mesmo
comissionou à igreja. Cristo e os apóstolos Paulo e João já consideraram
a identificação do anticristo como um assunto de legítima importância.
Um erudito do Novo Testamento, Herman Ridderbos, comenta o
seguinte sobre Mateus 24:15:
"Alguns comentadores corretamente colocaram este versículo em
relação com o anticristo do que se fala em 2 Tessalonicenses 2:4, quem
'senta-se no templo de Deus como Deus, fazendo-se passar por Deus'.
Embora Jesus estava falando principalmente da queda de Jerusalém, o fim
do mundo e as abominações que traria consigo tinham caído dentro da
esfera de seu discurso do próprio começo (ver Mat. 24:3). Por assim dizer,
descreveu o fim do mundo tal como aconteceu em Jerusalém e à maneira de
Jerusalém. E disse que a aparição abominável e blasfema do anticristo seria
na verdade um dos sinais dos últimos dias".5

O estudo da doutrina do anticristo nos Evangelhos e nas epístolas é


uma preparação necessária para o estudo do livro do Apocalipse. O
Apocalipse de João pode ser considerado como o desenvolvimento mais
extenso do discurso de Cristo no monte das Oliveiras. Foi dito que João
omitiu o discurso profético de Cristo de seu quarto Evangelho porque
escreveu todo um livro sobre a revelação do Jesus Cristo (Apoc. 1:1).
Seja como for, um estudo cuidadoso do livro do Apocalipse é uma parte
indispensável de nossa fé cristã.
As Profecias do Tempo do Fim 69
O Anticristo Pós-Apostólico

É notável que Marcos e Mateus não identificam o "sacrilégio


abominável" explicitamente com o exército romano como o faz Lucas.
Por conseguinte, a descrição simbólica em Mateus e Marcos está aberta a
mais de uma aplicação, isto é, tanto ao Império Romano idólatra como a
um futuro profanador religioso do templo de Deus. Para dizer de forma
diferente, tanto o exército romano como o anticristo estão descritos em
uma perspectiva do futuro que os inclui ambos. A aplicação local se
amplia, de acordo com a tipologia bíblica, em um cumprimento cada vez
mais universal.
Jesus usou a perspectiva profética de combinar o cumprimento
histórico iminente e o cumprimento futuro do tempo do fim sem deter-se
em nenhum lapso de tempo intermediário. Contempla todos os
messianismos políticos e religiosos essencialmente como uma
abominação, mesmo que se pressentem em mais de uma manifestação
histórica: primeiro dentro do judaísmo; depois, dentro do cristianismo. O
novo Israel (a igreja) repetiria a história do antigo o Israel (ver Ezeq. 8 e
9) e desenvolveria outra apostasia religiosa em sua adoração que
provocaria o juízo divino. A apostasia do cristianismo estaria encarnada
no anticristo e em seu culto religioso sacrílego. Os pretendentes
messiânicos judeus que afirmavam que Jerusalém e o templo nunca
cairiam, foram só cumprimentos parciais ou tipos do falso messianismo
que ia aparecer dentro da igreja. Toda vez que a um líder religioso de
qualquer denominação cristã lhe concede excessiva reverência e a última
autoridade, obscurece-se o único lugar e a glória do reinado de Cristo.

Cristo advertiu a seu seguidores: "Então, se alguém vos disser: Eis


aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos
e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se
possível, os próprios eleitos" (Mat. 24:23, 24; cf. Mar. 13:21, 22). Não é
a realização de grandes sinais e milagres, e sim a autorizada Palavra de
As Profecias do Tempo do Fim 70
Deus e o testemunho do Jesus o que forma a norma final da verdade.
Jesus alertou à igreja ao dever que tem para detectar o engano do
anticristo.
A advertência do Jesus contra o sacrilégio ou a abominação que
viria se refere a muito mais que ao exército romano entrando em
Jerusalém em 70 d.C. O sacrilégio do anticristo se desenvolveria mais
tarde em uma forma mais completa dentro da igreja, como o explicou
Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Este cumprimento se estenderia através
da Idade Média e encontraria uma manifestação renovada no tempo do
fim. Em seu discurso profético, Cristo não explicou de uma maneira
explícita como se manifestaria exatamente o "sacrilégio" de sua obra
redentora na história da igreja. Esse é o tema de 2 Tessalonicenses 2 e do
livro do Apocalipse.

O Estilo Apocalíptico de Mateus 24

Não se pode reduzir a estrutura da profecia mestra de Cristo a uma


perspectiva puramente tipológica. O discurso tem uma estrutura
complexa no que se pode detectar a reiteração e a recapitulação.
Entretanto, só uns poucos reconheceram que a estrutura da profecia de
Jesus está modelada segundo o livro do Daniel, quer dizer, que há um
paralelismo progressivo. A repetição e a ampliação são características
tanto de Daniel como do Apocalipse. E como bem o notou LeRoy E.
Froom, "tanto Daniel como João começam com a revelação de coisas
que aconteceriam em seu próprio tempo, e levam o leitor a grandes
passos através dos séculos, com a revelação de acontecimentos que
chegam até o fim da era cristã".6
As visões do Daniel 2, 7 e 8 em essência são reiterativas, mas com
todo cada uma acrescenta detalhes para esclarecer o tema básico. Jesus
insistiu com seus seguidores a ler e entender as profecias apocalípticas
de Daniel (Mat. 24:15). Mateus apresenta o discurso de Jesus para seu
auditório judeu em uma forma que reflete o estilo do livro de Daniel.
As Profecias do Tempo do Fim 71
Em Mateus 24 podem distinguir-se duas predições paralelas, e cada
uma conclui com o fim ou a segunda vinda de Cristo: a primeira nos
versículos 1-14; a segunda nos versículos 15-31. O cumprimento
universal de ambas as séries está declarado nas palavras seguintes:
"E será pregado este evangelho do reino em todo o mundo, para
testemunho a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14).
"Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e então
lamentarão todas as tribos da terra, e verão o Filho do Homem vindo sobre
as nuvens do céu, com poder e grande glória" (v. 30; ver também o v. 44).
A estrutura paralela das duas predições da era da igreja, culminando
cada uma na segunda vinda de Cristo, é similar às profecias apocalípticas
de Daniel. Além disso, Mateus 24 também revela algumas similitudes
teológicas com o Daniel. A unidade cuidadosamente estruturada do
Mateus 24:10-12, que se enfoca sobre o aumento da maldade [anomia]
(v. 12), pode entender-se melhor como uma expansão da apostasia
profetizada no livro de Daniel. A frase "o amor de muitos [tom polón]
esfriará-se" (Mat. 24:12) é uma alusão a quão muitos apostatariam do
pacto de Deus descrito em Daniel 11:32. Isto significa que o aumento
estendido da maldade em Mateus 24:12 aumenta a iniqüidade idólatra
da "abominação desoladora" de Daniel.
Estamos de acordo com a conclusão de David Wenham de que a
predição de Jesus em Mateus 24:10-12 descreve "um aumento
escatológico da apostasia em termos daniélicos". 7 Foi desta maneira
como Daniel predisse a era cristã e sua decadência espiritual.

A Ênfase de Lucas Sobre o Curso da História

Enquanto que Mateus 24 e Marcos 13 apresentam a aplicação que


Cristo faz do anticristo de Daniel em uma dupla perspectiva – na qual o
cumprimento iminente e o do tempo do fim se relacionam como tipo e
antítipo –, Lucas 21 enfatiza mais a ordem histórica dos acontecimentos
na história da igreja.
As Profecias do Tempo do Fim 72
Como historiador (ver Luc. 1:1-4), Lucas estava mais interessado
em um cumprimento contínuo-histórico da profecia do Daniel. Isto não
quer dizer que Lucas busque descrever uma seqüência detalhada dos
eventos, em que cada um se harmonize com algum símbolo apocalíptico
das séries esboçadas por Daniel; esse enfoque é o que Paulo segue em 2
Tessalonicenses 2 e mais profundamente o Apocalipse de João. O
interesse de Lucas é mais indicar que entre a queda de Jerusalém e o
glorioso advento de Cristo transcorreria um período de tempo
considerável. Esta realidade devia esfriar a febre apocalíptica de todos os
que esperavam a volta iminente de Cristo conjuntamente com a
destruição de Jerusalém. Por conseguinte, Lucas coloca o clamor: "O
tempo está perto" (Luc. 21:8), nos lábios dos falsos profetas!
Só Lucas aplica o sinal de Jesus da aproximação da "abominação da
desolação" ao assédio de Jerusalém por forças militares (Luc. 21:20). Ao
que Mateus e Marcos tão-somente fizeram alusão, Lucas o aplica
explicitamente a um acontecimento histórico específico para Jerusalém,
pode-se dizer que Lucas faz concreta para sua geração a admoestação de
Jesus da vindoura "abominação da desolação", quando diz: "Quando
virem Jerusalém rodeada de exércitos..." (Luc. 21:20). Muitos eruditos
bíblicos admitem o relatório de Flavio Josefo, que disse que os exércitos
romanos se distinguiam por sua reverência para as bandeiras militares
com as insígnias imperiais.8
Além disso, Lucas declara que a destruição de Jerusalém foi o
tempo do "cumprimento de tudo o que está escrito" (Luc. 21:22, JS),
uma alusão a Daniel 8 e 9. Coloca a devastação de Jerusalém dentro da
providência e reino soberano de Deus. Esta catástrofe histórica forma
uma parte significativa da história da revelação divina à nação judia,
Cristo até adicionou uma finalidade sem precedentes a esse juízo: "Vós
também encheis a medida de seus pais!... De certo vos digo que tudo isto
virá sobre esta geração" (Mat. 23:32, 36).
Mateus e Marcos fazem alusão ao intervalo entre a queda de
Jerusalém e a volta de Cristo, declarando que será um tempo de
As Profecias do Tempo do Fim 73
tribulação sem igual para os escolhidos (Mat. 24:21, 22; Mar. 13:19, 20).
Esses "escolhidos" são qualificados depois por Cristo como "seus"
escolhidos (Mat. 24:31). Por conseguinte, são crentes cristãos. Isto
significa que os verdadeiros crentes em Cristo não serão arrebatados do
mundo antes do tempo da tribulação, mas sim passarão por ela. Mateus
acrescenta que esses dias serão abreviados por causa dos escolhidos
(Mat. 24:22).
Com respeito ao período entre os dois adventos, Lucas faz uma
declaração reveladora: "Até que os tempos dos gentios se completem,
Jerusalém será pisada por eles" (Luc. 21:24). Aqui Lucas assinala que a
segunda vinda de Cristo não deve esperar-se pouco depois da destruição
de Jerusalém. Ao denominar a esse período intermediário "tempos de
gentios" (sem artigo no original), em uma forma geral, Lucas os
caracteriza como tempos de opressão para Jerusalém e para os judeus.
Muitos expositores consideram que esses "tempos de gentios"
começaram no ano 70 d.C. e terminarão só quando toda a dominação
gentia sobre os judeus for esmagada pelo advento de Cristo (ver Dan.
2:34, 35, 44; Apoc. 19:11-21). Esta conclusão parece ser confirmada
pela profecia de Daniel, que a "desolação" continuará até o fim (Dan.
9:26, 27).

Enquanto Mateus e Marcos seguem a estrutura de uma perspectiva


profética dupla ou bifocal, a descrição de Lucas do discurso de Jesus se
caracteriza mais por uma sucessão direta de acontecimentos históricos.
Mateus e Marcos representam a perspectiva tipológica da profecia
clássica dos profetas de Israel com sua escala de tempo condensada.
Entretanto, Lucas escolhe seguir o modelo contínuo-histórico inserindo a
frase "tempos de gentios" depois da queda de Jerusalém. Ambos os
enfoques são complementares e igualmente válidos, porque cada um
continua uma tradição do Antigo Testamento: a profecia clássica e o tipo
contínuo-histórico da apocalíptica de Daniel.
As Profecias do Tempo do Fim 74
A Teologia de Cristo dos Sinais Cósmicos

Nos três Evangelhos sinóticos a aparição do Filho do Homem está


anunciada por sinais cósmicos. Esses sinais acompanharão a vinda do
Filho do Homem quando trouxer o reino de Deus aos santos (Mar.
13:24-27; Mat. 24:29-31; Luc. 21:25-28).
Um breve exame da linguagem figurada cósmica na tradição
profética mostrará sua significação teológica. Os profetas empregaram os
sinais no céu como um idioma estereotipado para indicar um juízo
retributivo de Jeová:
1. Contra Babilônia:
"Olhem: Chega o dia do SENHOR... para fazer da terra uma
desolação... Os astros do céu, as constelações, não cintilam sua luz;
entreva-se o sol ao sair, a lua não irradia sua luz. Porque sacudirei o céu e
se moverá a terra de seu lugar. Pela cólera do Senhor, o dia do incêndio de
sua ira" (Isa. 13:9, o, 13, NBE).

2. Contra Egito:
"E quando te tiver extinto cobrirei os céus, e farei escurecer suas
estrelas; o sol cobrirei com nublado, e a lua não fará resplandecer sua luz.
Farei escurecer todos os astros brilhantes do céu por ti, e porei trevas sobre
sua terra, diz Jeová o SENHOR" (Ezeq. 32:7, 8).

3. Contra Jerusalém:
"Diante dele [o exército de lagostas] tremerá a terra, estremecer-se-ão
os céus; e o sol e a lua se obscurecerão, e as estrelas retrairão seu
resplendor. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que
venha o grande e espantoso dia de JEOVÁ... Porque está perto o dia de
JEOVÁ no vale da decisão. O sol e a lua se obscurecerão, e as estrelas
retrairão seu resplendor" (Joel 2:10, 31; 3:14, 15).

4. Contra Judá:
"Porque assim diz JEOVÁ dos exércitos: Daqui a pouco eu farei tremer
os céus e a terra, o mar e a terra seca; e farei tremer todas as nações, e virá
As Profecias do Tempo do Fim 75
o Desejado de todas as nações; e encherá de glória esta casa, disse JEOVÁ
dos exércitos... Fala com Zorobabel governador de Judá, dizendo: Eu farei
tremer os céus e a terra; e transtornarei o trono dos reinos, e destruirei a
força dos reinos das nações; transtornarei os carros e os que neles sobem, e
virão abaixo os cavalos e seus cavaleiros, cada qual pela espada de seu
irmão" (Ag. 2:6, 7, 21, 22).

5. Na descrição poética que Habacuque faz do guerreiro divino


contra Babilônia:
"O sol e a lua se pararam em seu lugar; à luz de suas setas andaram, e
ao resplendor de seu fulgente lança " (Hab. 3:11).

6. Contra Israel (as o tribos em apostasia):


"Acontecerá naquele dia, diz Jeová o SENHOR, que farei que fique o
sol ao meio-dia, e cobrirei de trevas a terra no dia claro" (Amós 8:9; 9:5
[primeiras 2 linhas]; cf. Jer. 15:9 para Jerusalém).

7. Contra Edom:
"E todo o exército dos céus se dissolverá, e se enrolarão os céus como
um livro; e cairá todo seu exército, como cai a folha da parra, e como cai a
da figueira" (Isa. 34:4).

8. Contra o mundo inteiro:


"A terra será de todo quebrantada, ela totalmente se romperá, a terra
violentamente se moverá... A lua se envergonhará e o sol se confundirá,
quando JEOVÁ dos exércitos reinar no monte de Sião e em Jerusalém, e
diante de seus anciões seja glorioso" (Isa. 24:19, 23).

Em todas estas passagens, os sinais celestes servem só para


introduzir o juízo do dia do Senhor, mesmo que se refiram cada vez a
uma sentença iminente na história. Os sinais anormais no Sol, na Lua e
nas estrelas eram parte da linguagem apocalíptica corrente dos profetas
de Israel. A dimensão cósmica ensinou Israel a ver os juízos históricos
de Deus como tipos de seu juízo final. Portanto, o propósito moral dessa
As Profecias do Tempo do Fim 76
linguagem figurada cósmico era uma advertência implícita a preparar-se
para o juízo iminente do dia do Senhor.
Jesus modificou o significado teológico desta linguagem figurada
cósmica, mudando de ordem os sinais no céu para cerca de sua própria
manifestação futura como o Filho do Homem:
"O sol obscurecerá, e a lua não dará seu resplendor, e as estrelas
cairão do céu, e as potências dos céus serão comovidas. Então aparecerá
no céu o sinal do Filho do homem; e então todas as tribos da terra
lamentarão, e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com
poder e grande glória" (Mat. 24:29, 30; cf. Mar. 13:24-26).
É evidente que Jesus emprega só a linguagem do Antigo
Testamento para descrever sua segunda vinda. Cristo combina dois
oráculos de juízo, um contra Babilônia (ver Isa. 13:10) e um contra
Edom (ver Isa. 34:4). A fusão que faz Jesus das duas passagens
proféticas de juízo ensina que estas profecias se cumpriram só de forma
parcial na queda da antiga Babilônia e do Edom. Na teologia de Cristo,
estes oráculos encontrarão sua consumação completa no juízo cósmico-
universal em seu segundo advento. A mensagem surpreendente de Cristo
é que o juízo do mundo não virá só de Jeová. Será executado por seu
Filho, que é o Filho do Homem da profecia do Daniel:
"Porque o Pai a ninguém julga, mas sim todo o juízo deu ao Filho... E
também lhe deu autoridade de fazer juízo, por quanto é o Filho do Homem"
(João 5:22, 27).
Como resultado do discurso profético do Jesus, qualquer teofania
(manifestação de Deus) no Antigo Testamento se reestrutura como uma
gloriosa cristofania (manifestação de Cristo). Esta interpretação
cristológica do dia do Senhor é uma verdade teológica assombrosa na
aplicação que Jesus faz do livro de Daniel. Em sua nova teologia, Cristo
transferiu os sinais cósmicos dos livros proféticos à sua própria
manifestação futura, de tal modo que todas as profecias de Israel
começam e terminam nele. Esta é a essência da teologia de Cristo dos
sinais cósmicos. Esta conclusão se confirma na tese sobre Mateus 24:27-
31 do Dr. Ki Kon Kim:
As Profecias do Tempo do Fim 77
"O vocabulário e os temas do Antigo Testamento, de seu ponto de vista
profético e apocalíptico, proporcionam a estrutura da cena da parousia tal
como a apresenta Mateus. Ele combina quase todo o vocabulário
apocalíptico dos temas do Antigo Testamento em sua cena da parousia, e
descreve que todos os termos proféticos e os símbolos apocalípticos do
Antigo Testamento se encontram e se cumprem no Filho do Homem, quem
virá nas nuvens do céu com poder e grande glória. Essa é a razão principal
pela qual Mateus 24:29-31 mostra mais continuidade com o Antigo
Testamento que nenhum outra passagem no Novo Testamento". 9

Alguns eruditos consideram a linguagem figurada cósmica só como


algo simbólico, como uma linguagem metafórica para dar a entender o
começo da era messiânica (como se diz que fez Pedro no At. 2:19, 20).
Nesse caso, os sinais no céu serviriam só como "efeitos cênicos
apocalípticos" que não pertencem à substância da profecia e que,
portanto, não requerem um cumprimento literal. Entretanto, outros
estudantes da Bíblia mais conservadores advertiram que não se
confundam as expressões poéticas com o alegorismo. Preferem chamar
esta linguagem figurada cósmica como "linguagem semi poética",
porque representa acontecimentos escatológicos que transcendem nossa
experiência histórica limitada. Se a segunda vinda de Cristo é uma vinda
literal, então também deve pensar-se nos sinais da parousia como
eventos cósmicos literais.
Os Evangelhos do Mateus e Marcos parecem indicar que os sinais
cósmicos introduzem e acompanham o segundo advento de Cristo.
Entretanto, o relatório do Lucas sugere que os "sinais no sol, na lua, e
nas estrelas" podem também ser um prelúdio à vinda do Filho do
Homem. Lucas associa os sinais no céu com desastres naturais sobre a
terra, que juntos produzirão pavor nos corações de todos: "Haverá
homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que
sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados" (Luc.
21:25, 26).
As Profecias do Tempo do Fim 78
A Universalização que Cristo Fez das Profecias
do Tempo do Fim

A culminação final do discurso de Jesus se centra na vindicação de


seus discípulos caluniados através dos séculos. O Filho do Homem virá
com seus anjos para reunir a si "seus escolhidos" de todos os pontos
cardeais do mundo (Mar. 13:27; Mat. 24:31). Mateus acrescenta que essa
reunião será precedida "com grande voz de trombeta" (Mat. 24:31), uma
alusão direta ao som da trombeta do jubileu no panorama apocalíptico de
Isaías: "Acontecerá naquele dia... vós, filhos do Israel, sereis reunidos
um a um. Acontecerá também naquele dia, que se tocará com grande
trombeta" (Isa. 27:12, 13).

Jesus declarou que todas as antigas promessas do pacto que


anunciam que Israel seria reunido ou restaurado como povo de Deus,
cumprir-se-ão em seus seguidores em sua segunda vinda. Serão "seus
escolhidos" (ver também Luc. 21:28; cf. 1 Ped. l:1, 2; 2:9). Com o qual
Cristo definiu o Israel de Deus em termos de seus próprios discípulos.
Por conseguinte, constituiu o povo de Deus do novo pacto como o povo
de Cristo.
Além disso prometeu que a sua vinda "lamentarão todas as tribos
[fulái] da terra" (Mat. 24:30). Esta frase é uma alusão à profecia de
Zacarias que prediz que todas as tribos "na terra" [Palestina] se
lamentarão porque olharão a Deus como "a quem transpassaram" (Zac.
12:10-14). Cristo aplicou de novo este oráculo de juízo nacional de
Zacarias em uma escala mundial, para cumprir-se em "todas as tribos da
terra" (Mat. 24:30). Todas estas tribos ou linhagens da raça humana
verão "o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
grande glória" (V. 30). Esta aplicação universal das tribos de Israel
forma também uma tônica no livro do Apocalipse:
As Profecias do Tempo do Fim 79
"Vejam, vem com as nuvens e todos os olhos o verão e até os que o
transpassaram; e farão luto todas as tribos [fulái] da terra. Sim, assim
seja" (Apoc. 1:7, JS; CI).

Cristo mesmo introduziu este principio de universalizar os oráculos


de juízos locais e nacionais de Israel. Não foi um literalista ou um racista
em sua interpretação profética das Escrituras. Universalizou de uma
maneira consistente as promessas do pacto de Israel, e o princípio de
aplicação mundial das profecias hebraicas chegou a ser uma parte
essencial da interpretação apostólica da Escritura.

Resumo

O discurso do monte das Oliveiras apresenta o comentário de Cristo


sobre as profecias apocalípticas de Daniel. Jesus fez aplicações históricas
todas as quais se centram ao redor de seu primeiro e segundo adventos.
Com isso deu às predições do Daniel uma interpretação cristológica
como a chave para decifrar a profecia apocalíptica. Explicou com
franqueza que a profetizada queda de Jerusalém seria o resultado do
rechaço final de seu messianismo por parte do Israel. Até seus próprios
seguidores teriam que sofrer condenação à mãos de religiosos fanáticos
falsos. Mas a vindicação final dos santos verdadeiros e a sentença
definitiva de seus perseguidores será quando Cristo retorne como o Filho
do Homem que Daniel apresenta, acompanhado por uma nuvem de
anjos. Então, todas as tribos do mundo terão que fazer frente ao mesmo
juízo do qual teve que fazer frente Jerusalém.
Segundo os Evangelhos do Marcos e Mateus, Jesus colocou ambos
os juízos em uma perspectiva tipológica, em harmonia com a estrutura
da profecia clássica. O Evangelho de Lucas apresenta uma perspectiva
complementar: a de uma aplicação contínuo-histórica da profecia
apocalíptica de Daniel. Jesus não fundamentou suas expectativas
proféticas em nenhuma das especulações ou programas apocalípticos
As Profecias do Tempo do Fim 80
judeus. Por isso se refere a isto, foi um antiapocalíptico. Falou do futuro
só na linguagem dos profetas do Antigo Testamento.
A novidade de sua opinião foi o princípio interpretativo de que as
profecias de Israel se cumpririam só nele e por meio dele. Transformou
toda a profecia apocalíptica em escatologia cristológica, quer dizer, em
cumprimentos centrados em Cristo. Por conseguinte, as promessas do
pacto de Deus com Israel se cumprirão só em quem esteja unido com
Cristo. O propósito moral do discurso profético de Cristo é recalcar à sua
igreja a necessidade de estar preparada para sua breve vinda:
"Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no
céu, nem o Filho, senão o Pai. Estai de sobreaviso, vigiai e orai; porque não
sabeis quando será o tempo" (Mar. 13:32, 33).
A frase bíblica "os últimos dias" indica que a primeira e a segunda
vinda de Cristo são uma unidade inseparável. Não importa quantos
séculos possam passar entre a ressurreição de Cristo e sua volta, ambos
os eventos messiânicos são um para o outro como dois momentos de um
inquebrantável plano de Deus. Porque o Messias já veio, e agora é o
Senhor exaltado de todos, o segundo advento sempre está "perto" para os
olhos da fé e deve ser esperado com uma paciência rigorosa. Esta certeza
é a mesma essência da esperança do evangelho. Contudo, Cristo também
reconheceu a necessidade de sustentar esta esperança ao nos dar sinais
no tempo histórico que indicariam, para o investigador perspicaz, a
última fase da história da redenção.
"Ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa
cabeça; porque a vossa redenção se aproxima" (Luc. 21:28).

Todos os relatos dos Evangelhos sinóticos concluem com uma lição


da figueira que brota: "Quando já seu ramo está tenro, e brotam as
folhas, sabeis que o verão está perto" (Mat. 24:32; Mar. 13:28; cf. Luc.
21:29). Isto significa que embora não podemos conhecer "o dia nem a
hora" não temos desculpa por ignorar os sinais dos tempos,
particularmente o sinal a respeito da grande apostasia dentro da igreja
cristã.
As Profecias do Tempo do Fim 81
Esperar a vinda de Cristo exige uma vigilância incessante e um
conhecimento do cumprimento progressivo da profecia apocalíptica de
Daniel. A escatologia bíblica chegará a ser relevante para o presente só
quando os sinais do fim forem tomados em seu cumprimento histórico.
Discernir os sinais enquanto mantemos nossa vista na vinda do Senhor,
revitalizará nossa fidelidade ao Jesus.

Referências
Para a Bibliografia, ver nas páginas 82-84.

1. "Salmos de Salomão", 17, em Charlesworth, The Old Testament


Pseudepigrapha, v. 2, p. 667.
2. Flavio Josefo, Obras completas... Antiguidades judias. X, 11, 7
(v. 2, pp. 213-215).
3. Ver o livro de Wenham, The Rediscovery of Jesus'
Eschatological Discourse
4. Ver Eusébio de Cesárea, História Eclesiástica (Buenos Aires:
Editorial Nova, 1950), III, 5, pp. 106, 107.
5. Herman Ridderbos, Matthew, [Mateus] (Grand Rapids:
Zondervan, 1987), p. 444.
6. L. E. Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, v. 4, p. 1241.
7. Ver o artigo de Wenham a respeito de Mateus 24:10-12, N.° 31,
p. 161.
8. William Whiston, trad., The Works of Josephus: Wars [As obras
do Josefo: Guerras] (Peabody, Massachusetts: Hendrickson
Publishers, 1987), VI, 6, 1 (p. 743).
9. K. K. Kim, The Signs of the Parousia: A Diachronic and
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24:27-31, v. 2, p. 391.
As Profecias do Tempo do Fim 82
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As Profecias do Tempo do Fim 85
A COMPREENSÃO DE PAULO DAS PROFECIAS
DE DANIEL

O esboço apocalíptico da história da igreja que Paulo apresenta em


2 Tessalonicenses 2 cumpre um propósito similar ao que cumpre Mateus
24 (e paralelos) nos Evangelhos. Não há uma predição mais explícita a
respeito da era da igreja no Novo Testamento. É estranho, mas a maioria
dos comentadores entende que este capítulo é uma passagem escura nos
escritos paulinos.
Em geral se reconhece que o apóstolo em 2 Tessalonicenses 2 tem
como propósito dar conselho pastoral para seus dias, a mesma finalidade
que teve Cristo ao pronunciar seu discurso profético. Por conseguinte,
devemos supor que as frases que Paulo usa aqui não eram desconhecidas
para os leitores cristãos a quem dirigiu sua carta ao redor de 50 d.C.
Muitos acreditam que a segunda epístola do apóstolo aos
Tessalonicenses foi escrita para rebater um mal-entendido que tiveram
alguns membros da igreja com sua primeira carta: que o dia do Senhor
viria em forma repentina "como ladrão de noite" (1 Tes. 5:2, 4), e que
Paulo e outros poderiam estar "ainda vivos" quando retornasse o Senhor
(4:15).
Evidentemente, alguns tinham suposto que o dia do Senhor "já tinha
chegado" ou que ia acontecer em qualquer momento (2 Tes. 2:2). Esta
idéia injustificada de uma expectativa iminente tinha levado alguns
membros a converter-se em ociosos ou a entusiasmar-se e desordenar-se
excessivamente (2 Tes. 3:6-15).
Paulo trata de corrigir o engano desta expectativa – que o dia do
Senhor podia ocorrer em qualquer momento –, e deduz seu argumento
do esboço apocalíptico do Daniel. Na opinião de Paulo, para fazer frente
ao engano de uma esperança desencaminhada era essencial conhecer a
ordem consecutiva de dois acontecimentos fundamentais na história da
igreja, e esses dois eventos proféticos, em ordem cronológica, são: a
vinda do anticristo e a vinda de Cristo. Primeiro, "a apostasia" [e
As Profecias do Tempo do Fim 86
apostasia] deve manifestar-se no "homem de iniqüidade" [o ánthropos
tes anomias] até "sentar-se ele mesmo no templo de Deus" [éis ton naón
tou theú kathísai], acompanhado por "sinais e prodígios de mentira" (2
Tes. 2:3, 4, 9, JS). Só então o Senhor se revelará e destruirá o iníquo (2
Tes. 2:8).
A advertência de Paulo se enfoca no surgimento da apostasia dentro
do templo de Deus durante a era da igreja, quer dizer, dentro da igreja
como uma instituição (ver 2 Cor. 6:16-18; 1 Cor. 3:16; Ef. 2:19-21). Seu
ponto de vista é que esta apostasia vindoura, profetizada por Daniel, não
se tinha desenvolvido como um fenômeno público na igreja apostólica,
mesmo que o mistério da iniqüidade "estava já em ação" (2 Tes. 2:7).
Por conseguinte, o dia do Senhor não podia ter chegado nem podia
esperar-se no futuro imediato.
Paulo empregou seu conhecimento apocalíptico sobre o futuro da
história da igreja para corrigir um apocalipticismo extremo na igreja
apostólica. O uso que o apóstolo fez do livro de Daniel como a fonte de
seu esboço profético de história da igreja, faz que 2 Tessalonicenses 2
seja outro elo indispensável entre os livros de Daniel e Apocalipse.

O Enfoque Contínuo-Histórico em Daniel

Daniel profetiza o reinado de 4 impérios mundiais sucessivos em


duas ocasiões (caps. 2 e 7). O anjo interpretador os identifica como
Babilônia, Medo-pérsia e Grécia (ver Dan. 2:38; 8:20, 21), e aponta
Roma em Daniel 9:26 e 27. O ponto crítico na visão de Daniel, que
necessita que se preste cuidadosa atenção, é a revelação de que a quarta
besta (ou império) tem 10 chifres, dentre os quais surge lentamente um
décimo primeiro "chifre pequeno" para converter-se no anticristo. O anjo
interpretador explica isto de uma maneira mais precisa:
"Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele
mesmo reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente dos
primeiros, e abaterá a três reis. Proferirá palavras contra o Altíssimo,
As Profecias do Tempo do Fim 87
magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os
santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade
de um tempo. Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio,
para o destruir e o consumir até ao fim tempo, e tempos, e meio tempo"
(Dan. 7:24-26).
O anjo não diz que o 4° império (Roma) estaria regido por 10 reis
contemporâneos, porque isso estaria contra a história de Roma. Antes, a
declaração do anjo é que "deste" império mundial sairiam 10 reis que
reinariam em forma contemporânea. Esta ordem de eventos, a
substituição do Império Romano pelos reinos divididos da Europa,
também foi profetizado pelo sonho da estátua de Nabucodonosor: "O que
viste dos pés e os dedos, em parte de barro cozido de oleiro e em parte de
ferro, será um reino dividido" (Dan. 2:41).
Os reino dos 10 reis substituíram gradualmente o Império Romano
e durarão até que o reino da glória os substitua no dia do juízo (Dan.
2:44, 45; 7:26, 27). Dessa forma, Daniel 2 e 7 incluem todo o espectro da
infeliz Idade Média dentro de sua esfera profética. Ignorar esse intervalo
de tempo de tantos séculos na perspectiva profética de Daniel é o
descuido fundamental de dois sistemas dogmáticos de interpretação: o
preterismo e o futurismo. Ambas as escolas de interpretação criam um
intervalo injustificado de mais de 1.500 anos na história profética de
Daniel, como se a Idade Média, caracterizada pelo surgimento do reino
papal entre os dez reis da Europa, não fora pertinente na perspectiva que
Deus tem da história. Os símbolos do Daniel devem interpretar-se em
harmonia com a história, em particular com a história eclesiástica. A
profecia fica confirmada por seu cumprimento (João 14:29).
Em seu discurso profético, Cristo aparentemente tomou a futura
história da igreja com uma seriedade inconfundível. É essencial para a
escatologia cristã reconhecer que Cristo interpretou a destruição de
Jerusalém por parte dos exércitos romanos como o cumprimento das
profecias do Daniel (ver Mat. 24:15; Luc. 21:20-24). Isto confirma a
opinião que diz que a quarta besta de Daniel 7 representa a Roma
imperial (cf. Dan. 9:26, 27). O ponto decisivo é que Cristo tomou o
As Profecias do Tempo do Fim 88
esboço profético de Daniel como a pauta para seu próprio panorama do
futuro, e depois identificou uma certa característica profética em Daniel
como cumprindo-se em sua própria geração.
Este método de interpretar o esboço apocalíptico do Daniel também
foi seguido pelo apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2, essa vez para
demonstrar que o dia do Senhor não era algo iminente. Como resultado,
o esboço de Paulo e o discurso de Cristo têm paralelos notáveis em suas
aplicações históricas.

Paralelos Entre os Esboços Apocalípticos de Jesus e Paulo

Muitos se deram conta de que o esboço profético de Paulo em 2


Tessalonicenses exibe um paralelo estrutural notável com o discurso de
Jesus no monte das Oliveiras. Ambos os esboços apocalípticos contêm
termos idênticos e similares, tais como o advento, o dia do Senhor, a
reunião dos santos, o engano do anticristo, e sinais e milagres. Inclusive
alguns comentadores inferiram que o discurso profético de Cristo foi a
fonte primária do ensino do Paulo (cf. 1 Tes. 4:15). Estabeleceu-se uma
semelhança muito surpreendente de expressões entre esses dois
capítulos. Portanto, podem-se estudar ambos os esboços apocalípticos
juntos com muito proveito. Ao mesmo tempo, precisamos compreender
que tanto Jesus como Paulo fundamentam seu panorama do futuro sobre
o esboço apocalíptico de Daniel. E cada um tem o propósito de aplicar o
ponto de vista de Daniel da história contínua da salvação a sua época
contemporânea. Esta fonte daniélica comum explica por que Jesus e
Paulo usam frases e esboços similares.
Como já observamos antes, Paulo insiste com os Tessalonicenses a
não ser enganados ao acreditar que o dia do Senhor já veio. Seu
argumento principal é que "a rebelião" representada pelo "homem de
iniqüidade" ainda não se revelou publicamente no cenário da história (2
Tes. 2:3). Do mesmo modo, Jesus indicou que durante a era da igreja,
"muitos se desviariam da fé" (literalmente, "tropeçarão") e se
As Profecias do Tempo do Fim 89
entregariam e aborreceriam uns aos outros, e se levantariam muitos
falsos profetas e enganariam a muitos (Mat. 24:10, 11 ). Até o próprio
fim, insistiu Cristo, "se levantarão falsos Cristos e falsos profetas, e farão
grandes sinais e prodígios, de tal maneira que enganarão, se for possível,
até os escolhidos" (Mat. 24:24). Parece que, de acordo com Jesus, os
Messias falsos são os que afirmariam ser Cristo em sua segunda vinda; e
os falsos profetas são os que falsamente afirmam falar em nome de
Cristo.
Jesus começou seu discurso profético com a advertência: "Vede que
ninguém vos engane" (Mat. 24:4). Paulo adota o mesmo começo:
"Ninguém vos engane de maneira nenhuma" (2 Tes. 2:3). Com seus
esboços proféticos, ambos tratam de esfriar uma expectativa prematura e
exagerada da volta de Cristo. Cada um enfatiza que se desenvolverá uma
apostasia horrível, o que precipita e faz necessário a execução do juízo
da vinda de Cristo.
Cristo descreve a natureza da apostasia vindoura como "a
abominação da desolação... instalada no lugar santo" (Mat. 24:15, BJ),
uma alusão evidente à profanação blasfema do templo que se prediz em
Daniel 8 e 9. Paulo personifica a apostasia religiosa em "o homem do
pecado", que se faz passar por Deus, um ser humano blasfemo que é "o
filho de perdição" (2 Tes. 2:3, JS). Paulo também localiza a apostasia
vindoura no templo de Deus: "O qual se opõe e se levanta contra tudo
que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no
templo de Deus, fazendo-se passar por Deus" (2 Tes. 2:4).
Esta harmonia de Jesus e Paulo com respeito ao lugar onde se
encontra a apostasia – no templo de Deus – está enraizada diretamente
no apocalipse de Daniel. Em particular, o anjo interpretador resumiu a
visão do Daniel 8 como "a visão do contínuo sacrifício, e a prevaricação
[pesha'] assoladora" (Dan. 8:13). A explicação adicional do anjo é
importante:
"Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e
tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora. Aos
As Profecias do Tempo do Fim 90
violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece
ao seu Deus se tornará forte e ativo" (Dan. 11:31, 32).
Parece evidente que Daniel é a fonte para o ensino do Novo
Testamento de que um anticristo blasfemo apareceria durante a era da
igreja. Tanto Cristo como Paulo mencionam que este apóstata sacrílego
estaria acompanhado com "sinais e prodígios". Cristo conecta estes com
"falsos cristos e falsos profetas" (Mat. 24:24); Paulo os associa com o
advento do "iníquo", a quem descreve como o anticristo escatológico (2
Tes. 2:9).
Sobre a base deste paralelismo global, muitos chegaram à conclusão
de que o ensino apocalíptico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2:1-12,
tanto em sua estrutura como em sua teologia, é paralela ao discurso
profético de Cristo (Mat. 24; Mar. 13; Luc. 21). Ambos se iluminam
mutuamente. Portanto, a conclusão principal é que "a abominação
desoladora" no lugar santo da profecia de Cristo, e o anticristo pessoal
sentado no templo de Deus na profecia do Paulo, são o mesmo
fenômeno. Pode-se dizer que enquanto Mateus se centra sobre o futuro
sacrilégio do templo de Deus, Paulo põe a ênfase no perpetrador do
sacrilégio. Entretanto, o Evangelho de Marcos já tinha indicado que o
sacrilégio escatológico seria perpetrado por um anticristo pessoal, ereto
[hestekóta] "onde não deve" (Mar. 13:14), ou "usurpando um lugar que
não é dele" (NBE).

A Ênfase de Paulo Sobre a Apostasia Religiosa

É digno de atenção que a frase de Paulo "hei apostasia" (2 Tes.


2:3), traduzido como "apostasia" em quase todas as versões brasileiras
(RA, RC; BJ; NVI; e como "revolta" na versão BLH), sempre significa
uma rebelião religiosa tanto no Antigo Testamento como no Novo, quer
dizer, um esquecimento do Senhor e de sua verdade (cf. Jos. 22:22; 2
As Profecias do Tempo do Fim 91
*
Crôn. 29:19; Jer. 2:19; At. 21:21). Esta rebelião é mais que uma
transgressão fortuita da lei divina. Esta "iniqüidade" [anomia] representa
uma rebelião fundamental e sustentada contra Deus. Embora já estava
ativa em uma forma oculta no tempo do Paulo, a apostasia se
desenvolveria finalmente em uma rebelião mundial, uma forma
idolátrica de adoração que desafiaria a autoridade da Palavra de Deus.
O apóstolo não insinua que está revelando alguma verdade nova e
assombrosa. Paulo recorda a seus leitores o fato de que já lhes ensinou
este segredo apocalíptico enquanto ainda estava com eles (2 Tes. 2:5). A
instrução de Paulo aos novos conversos ao cristianismo incluiu
aparentemente os pontos essenciais do discurso profético de Cristo e do
anticristo de Daniel (cf. At. 20:27-30; 1 Tim. 4:1, 2; 2 Tim. 3:1-5). Paulo
não recorda aos Tessalonicenses de uma apostasia geral vindoura, a não
ser especificamente de "a rebelião" que estava descrita em forma tão
dramática como a falsificação do Messias no livro de Daniel.
Para entender o apóstolo devemos compreender que "o homem da
iniqüidade" que se opõe a todo deus – quem por exaltar-se a si mesmo no
templo de Deus está condenado à destruição (2 Tes. 2:3, 4) – é a
descrição condensada de Paulo do anticristo que se faz passar por Deus
em Daniel 7 a 11 (especificamente em 7:25, 26; 8:11-13; 11 :31, 36-39,
45).
A natureza essencial do anticristo de Daniel é sua vontade
jactanciosa de "mudar" a lei de Deus e os tempos sagrados (Dan. 7:25), e
trocar a adoração redentora no templo de Deus por seu próprio culto
idólatra de adoração (Dan. 8:11-13, 25). Portanto, a perspectiva de
Daniel representa uma apostasia dupla: uma, da lei divina (Dan. 7) e
outra, do evangelho e o santuário (Dan. 8). É decisivo compreender que
o objetivo do mal não é estabelecer o ateísmo, e sim impor uma religião
falsificada com um sistema falso de adoração e salvação.
*
Nota do Tradutor: O autor cita a tradução desta palavra em várias versões inglesas: na New King
James Version (NKJV) como "perder a fé, apostatar" ; na New American Standard Bible (NASB)
como "a apostasia" ; na New International Version (NIV) como "a rebelião".
As Profecias do Tempo do Fim 92
Paulo destaca a natureza religiosa do anticristo que virá, quem
tratará de autenticar seu culto idolátrico por meio de sinais e milagres
sobrenaturais (2 Tes. 2:4, 9). O anticristo se sentará solenemente no
templo de Deus com uma obsessão compulsiva para demandar
autoridade divina e usurpar as prerrogativas que pertencem só a Cristo.
Por este engano, forçará todos os homens a aceitá-lo como o Messias e o
Senhor.

Como Paulo Emprega a Frase "o Templo de Deus"

O apóstolo nunca emprega o termo grego naós (templo) para o


edifício do templo em Jerusalém. Visto que Paulo cria que Deus já não
morava mais no velho santuário, a não ser entre a comunidade dos
cristãos, considerou a igreja de Deus como o novo templo de Deus:
"Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus
habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá;
porque o templo de Deus, que sois vós, é santo" (1 Cor. 3:16, 17).
"Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que
habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?" (l
Cor. 6:19).
"E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós
sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre
eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (2 Cor. 6:16,
citando Ezeq. 37:27).
"Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos
dos santos e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos
apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;
no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor"
(Ef. 2:19-21).

Além de referir-se ao crente individual como o templo de Deus,


Paulo viu tanto na igreja local como na igreja universal de Cristo o
cumprimento da promessa escatológica feita pelo profeta Ezequiel de
que Deus criaria um novo templo no tempo do Messias (Ezeq. 37:24-28).
As Profecias do Tempo do Fim 93
Paulo declara solenemente que qualquer que destrua a santidade e a
unidade espiritual deste novo templo (por ensinos falsos ou idolatria),
"Deus o destruirá " (1 Cor. 3:17).
Por esta evidencia nos escritos do Paulo, podemos concluir que seu
emprego normal do termo "templo" [naós] é uma referência não ao
judaísmo e sim à igreja cristã. Esta conclusão fica confirmada
adicionalmente quando consideramos como avaliou Paulo "a cidade
atual de Jerusalém" representando o judaísmo: como um pacto de obras
que escraviza (Gál. 4:25). Para o Paulo, "a Jerusalém de cima, a qual é
mãe de todos nós, é livre" (Gál. 4:26).
À luz destas referências, parece extremamente improvável que o
apóstolo Paulo pensasse que a frase "o templo de Deus" referia-se ao
edifício do templo em Jerusalém. O contexto mais amplo do emprego
que Paulo faz da linguagem figurada para o templo apóia a idéia de que
seu emprego do "templo de Deus" em 2 Tessalonicenses 2:4 se refere à
comunidade da igreja cristã do futuro.

A declaração do Paulo de que o homem de pecado "se senta"


[kathísai] no "templo de Deus" é de profundo significado. Este conceito
audaz reflete a visão de Daniel, em que o Ancião de dias "sentou-se"
para levar à justiça o poder arrogante e endeusado. À luz deste
antecedente daniélico do tribunal, a descrição do Paulo do adversário
"sentando-se" indica que o anticristo se estabeleceria a si mesmo como
mestre e juiz dentro da igreja!
Aqui Paulo está oferecendo mais que uma "admoestação pastoral".
A predição de Paulo segue a revelação de Daniel do desenvolvimento
futuro da história da salvação. Paulo interpreta o esboço de Daniel de
acordo com o princípio do evangelho: o cumprimento é em Cristo e a
igreja de Cristo.
A apostasia predita em Daniel 7, 8 e 11 surgiria dentro do povo do
novo pacto, em um falso mestre, em um Messias falso. Por outro lado,
Jesus prometeu que as portas do hades [inferno] nunca prevaleceriam
As Profecias do Tempo do Fim 94
contra sua igreja (Mat. 16:19), e que seus escolhidos não seriam
enganados se permanecessem alerta (Mar. 13:22, 23). A tensão entre a
igreja como instituição e a igreja como uma comunidade espiritual se
reflete também na admoestação pastoral de Paulo em 1 Coríntios 11:19,
e em sua predição profética aos anciões de Éfeso em Atos 20:28-31: "E
de vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas para
arrastar após si os discípulos" (v. 30). Isto chegou a ser uma ameaça
séria em algumas igrejas apostólicas na província romana da Ásia (Apoc.
2:19-29; 1 João 2:18-27).
Finalmente, o que se desenvolve como tema central no Apocalipse
de João é o simbolismo das duas mulheres em Apocalipse 12 e 17. Aqui
se descreve a igreja cristã e à apóstata não só em termos de diferenças
dogmáticas ou doutrinais, mas também como duas comunidades
adoradoras diferentes.

Como Paulo Emprega os Tipos de Adoração Falsa


no Antigo Testamento

A admoestação de Paulo se centra na chegada da apostasia religiosa


– o "homem da iniqüidade" dentro do templo de Deus na terra –, uma
apostasia que permanecerá até a gloriosa vinda de Cristo:
"Ninguém, de maneira alguma, vos engane, porque não será assim
sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o
filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama
Deus ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de
Deus, querendo parecer Deus" (2 Tes. 2:3, 4).
"Então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará
com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda" (2
Tes. 2:8).
Dois pontos caracterizam o esboço do Paulo da futura história da
igreja: Primeiro, o tempo histórico do surgimento do "homem do
pecado" dentro da história da igreja; segundo, a natureza religiosa de
suas afirmações messiânicas.
As Profecias do Tempo do Fim 95
Chega a ser evidente, ao compará-lo intimamente com o Antigo
Testamento, que Paulo compôs sua descrição do anticristo combinando 3
revelações proféticas a respeito dos poderes antiDeus:
(1) A época do tempo histórico do surgimento do antimessias em
Daniel 7, 8 e 11;
(2) a blasfêmia religiosa de auto-endeusamento pelos reis de Tiro e
de Babilônia em Ezequiel 28 e Isaías 14;
(3) a destruição final do "iníquo" pela aparição do Messias em
Isaías 11.
No seguinte estudo poderemos notar algumas alusões literárias e
religiosas em 2 Tessalonicenses 2:4 com as profecias do Antigo
Testamento:

2 TESALONICENSES PASAJES DEL ANTIGUO TESTAMENTO


2:4a Dan. 11:36
"o qual se opõe e se levanta contra "... e se levantará, e se engrandecerá
tudo que se chama Deus…" sobre todo deus ..."
2:4b Eze. 28:2
"… a ponto de assentar-se no "... e dizes: Eu sou Deus, sobre a
santuário de Deus, ostentando-se cadeira de Deus me assento".
como se fosse o próprio Deus".
2:8 Isa. 11:4
"então, será, de fato, revelado o "[o Messias] ferirá a terra com a vara
iníquo, a quem o Senhor Jesus matará de sua boca e com o sopro dos seus
com o sopro de sua boca…" lábios matará o perverso".

Paulo funde estas 3 alusões aos soberanos que estão contra Deus
para informar os santos como identificar o anticristo quando surgir na era
da igreja, até dentro do cristianismo, como o "templo de Deus" sobre a
terra (ver também At. 20:29-31).
Paulo usa o princípio da tipologia cristã quando aplica à era da
igreja as promessas e as ameaças de Deus a Israel (ver 1 Cor. 10:1-11;
Gál. 4:21-31). A relação de um tipo do Antigo Testamento com um
As Profecias do Tempo do Fim 96
antítipo do Novo Testamento se determina teologicamente por sua
conexão com o Jeová antes da cruz, e sua conexão com Cristo na era da
igreja. Na perspectiva profética, a distância temporária entre o tipo e o
antitipo não tem importância. Sua ênfase está no fato que o mesmo Deus
que atua no cumprimento histórico iminente, também atuará no juízo e a
salvação finais.
Dessa forma, Paulo contempla os reis de Tiro e de Babilônia que se
idolatram a si mesmos (no Ezeq. 28:2 e Isa. 14:13, 14), como tipos
proféticos da essência religiosa do anticristo (2 Tes. 2:4). O adversário
de Cristo na era cristã ensinará e julgará como se fora Deus, com
autoridade divina e infalibilidade.

A Aplicação que Paulo Faz do Antimessias Predito por Daniel

Como em Daniel 8 e 11, Paulo localiza a apostasia blasfema do


inimigo escatológico de Deus "no templo de Deus" (2 Tes. 2:4). Sem o
princípio apostólico do cumprimento cristológico, são inevitáveis os
perigos do literalismo ou o alegorismo ao interpretar a frase "templo de
Deus" em 2 Tessalonicenses 2 como um templo literal e reedificado em
Jerusalém no qual o anticristo se estabelecerá para exigir a adoração dos
judeus depois do rapto da igreja. Uma interpretação mais popular é
tomar o "templo" neste capítulo como um símbolo do trono de Deus no
céu, recorrendo a Isaías 14:13, 14 e 66:1. Em outras palavras, entendem
o "templo de Deus" como uma metáfora para indicar que o iníquo tratará
de usurpar o lugar de Deus e exigirá honras divinas e obediência. Isto se
aplica depois a qualquer sistema totalitário de governo, a deificação do
Estado, quando se derrubarem a lei e a ordem e a violência demoníaca
explore em perseguição da igreja. Em outras palavras, a frase "o homem
da iniqüidade" aplica-se aos governos totalitários ateus.
As interpretações precedentes de 2 Tessalonicenses 2:4 podem
parecer atrativas e convencer a alguns. Mas a questão vital é: deu-se a
As Profecias do Tempo do Fim 97
consideração apropriada ao contexto fundamental do Antigo Testamento
no qual Paulo apóia sua descrição apocalíptica?
A alusão de Paulo a Daniel 11:36 deve nos levar em primeiro lugar
a considerar a profanação religiosa do templo por parte do "rei do norte"
em Daniel 11:31-45 e em Daniel 8:9-13. Ele originará a corrupção ou
apostasia entre o povo do pacto. A origem da apostasia profetizada por
Paulo está em Daniel 11:32.
Os expositores protestantes dos dias do Lutero e Calvino
interpretaram tradicionalmente que este rei que se exalta a si mesmo de
Daniel 11:36 e o homem de iniqüidade de 2 Tessalonicenses 2:4 são um
mesmo indivíduo que se engrandecerá por cima de todos os deuses (Dan.
11:37). Não pode ser um ideólogo ateu, porque o homem da iniqüidade
pretende ser Deus.
Captamos a essência teológica da abominação de Daniel quando
observamos que o desolador porá no templo de Deus uma adoração
falsificada que ensina um falso sistema de expiação (ver Dan. 8:11-13;
11:31; 12:11). Isto define a "rebelião" como uma apostasia religiosa da
adoração ordenada no templo de Deus.
Na aplicação que Cristo faz da "abominação desoladora" de Daniel
ao exército romano (Mat. 24:15; Mar. 13:14) vê-se um cumprimento
parcial, um tipo que assinala mais à frente do ano 70 a seu antítipo
universal, a abominação maior dentro da igreja. Paulo explica que a
manifestação histórica do culto religioso apóstata deve acontecer antes
da vinda de Cristo.
O contexto mais amplo do Novo Testamento relaciona a verdadeira
adoração de Deus na terra com a intercessão de Cristo no templo
celestial (Heb. 4:14-16; 7:25; 8:1, 2). É absolutamente essencial não
separar o templo terrestre do celestial. Profanar o "templo" ou a igreja na
terra significa também a profanação do ministério de Cristo no templo
celestial (Apoc. 13:6).
Assim como o antimessias de Daniel 8 é destruído repentinamente
"não por mão humana" (v. 25), e assim como "o rei do norte" é destruído
As Profecias do Tempo do Fim 98
repentinamente sem que ninguém lhe ajude (Dan. 11:45), assim o
anticristo na descrição do Paulo será destruído pela aparição de Cristo,
"com o espírito de sua boca" (2 Tes. 2:8; ver Isa. 11:4).

O Momento Histórico Exato do Anticristo Segundo Paulo

A carga pastoral de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 é corrigir entre os


cristãos da Tessalônica a opinião falsa de que já tinha começado o dia do
Senhor (2 Tes. 2:2). Recorda-lhes o que lhes havia dito verbalmente, que
primeiro [próton] deve surgir a rebelião [hei apostasia] (2 Tes. 2:3)
dentro do templo de Deus. Só então virá o dia do Senhor e destruirá o
"iníquo" com "o resplendor de sua vinda" (2 Tes. 2:3-8).
Na opinião de Paulo, um conhecimento da seqüência dos eventos é
essencial para acautelar uma expectativa iminente injustificada. Introduz
a idéia de um atraso prolongado do surgimento do anticristo por causa da
existência de um poder que refreia: "E agora vós sabeis o que o detém"
(2 Tes. 2:6). A igreja apostólica aparentemente não tinha problemas a
respeito da identidade desse poder que "retinha". Sabiam qual era. É
interessante que a maioria dos primeiros Pais na igreja pós-apostólica
(igreja primitiva) ensinaram que a ordem civil do Império Romano, com
o imperador à sua cabeça, era o poder que impedia, ao qual Paulo se
referiu em 2 Tessalonicenses 2:6 e 7. Apesar de várias teorias novas a
respeito (por exemplo que o Espírito Santo ou a missão de Paulo
poderiam ser esse poder), vários eruditos de primeira linha de nossos
dias sustentam que a interpretação clássica é a que mais satisfaz.
O Império Romano governou o mundo desde ano 168 a.C. até 476
d.C. Depois veio a divisão da Europa Ocidental em vários reinos mais
pequenos. Em Daniel 7, o poder blasfemo, o "chifre pequeno", saiu
dentre estes reino que existiam simultaneamente (7:7, 8, 24). Esta
sucessão histórica no esboço de Daniel – quer dizer, primeiro a "besta" e
depois o surgimento do "chifre" anticristão – se encontra na base do
esboço histórico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Só essa perspectiva
As Profecias do Tempo do Fim 99
histórica de Daniel 7 pode decifrar o enigma do misterioso "agente
retardador do desenvolvimento" que estava atrasando o desenvolvimento
do anticristo.
É obvio, mais importante que esse "agente retardador" é o que
escreve Paulo a respeito da vinda do "homem da iniqüidade" (ánthropos
tes anomias) ou, de acordo com manuscritos de menor autoridade, "o
homem do pecado" (amartias). O apóstolo declara que a manifestação
pública do "iníquo" (ho ánomos, v. 8) ocorrerá só depois de um
desenvolvimento histórico prolongado de forças ocultas que já estavam
ativas no próprio tempo de Paulo (v. 7). Paulo coloca a revelação efetiva
do iníquo imediatamente depois que o Império Romano (como "o que o
detém") tenha sido "tirado do meio" (2 Tes. 2:7), e indica firmemente
que o próprio trono ocupado pelo que o detém seria ocupado pelo
homem da iniqüidade.
A inferência da mensagem de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 é
inconfundível: Quando o Império Romano tenha caído, o surgimento do
anticristo já não será restringido ou retido em Roma. Portanto, o
anticristo será revelado sem demora na era seguinte, usualmente
denominada a Idade Média. Este período prolongado foi descrito por
Daniel como os 3 ½ tempos de opressão política dos santos (Dan. 7:25;
12:7). Nesta era cristã é onde Paulo localiza a apostasia. O bispo
anglicano Christopher Wordsworth, extraiu uma conclusão convincente:
"Posto que Paulo também descreve aqui ao homem do pecado como
continuando no mundo do tempo da eliminação do poder que o impede,
inclusive até o segundo advento de Cristo (2 Tes. 2:8), o poder que aqui se
personifica no 'homem do pecado' deve ser por conseguinte um que
continuou no mundo por muitos séculos, e continua até o tempo atual.
Também, sendo que lhe atribuiu esta longa permanência na profecia, uma
permanência que excede em muito a vida de qualquer indivíduo, devido a
isso o 'homem de pecado' não pode ser uma só pessoa". 1

O propósito de Apocalipse de João é animar a igreja universal até o


próprio fim, para resistir ao poder enganador e perseguidor da besta-
As Profecias do Tempo do Fim 100
anticristo e de seu aliado, o falso profeta, e triunfar sobre a marca
escatológica da besta quando for imposta nas nações.
A carta de Paulo aos Tessalonicenses reconhece a presença do 4.º
império de Daniel 7. Ensinou à igreja que o "chifre pequeno" de Daniel
não se levantaria durante o Império Romano. Entretanto, o Apocalipse
de João põe de sobreaviso a igreja universal sobre o momento exato
quando apareceria a besta depois do desaparecimento do Império
Romano, e João descreve este poder, o anticristo, com os característicos
do chifre pequeno de Daniel que governaria as nações por 42 meses
(Apoc. 13:5), uma variante dos 3 ½ tempos (Dan. 7:25). Por conseguinte,
este tempo simbólico em Daniel e no Apocalipse deve aplicar-se ao
período depois da queda de Roma em 476 d.C. Isto leva a Idade Média a
situar-se dentro da esfera da profecia bíblica,

Em resumo, a aplicação histórica que Paulo faz de Daniel 7 em 2


Tessalonicenses 2, favorece o enfoque contínuo-histórico antes que a
exclusiva estrutura contemporânea ou a futurista. O esboço de Paulo da
futura história da igreja em períodos sucessivos com respeito à apostasia
e ao poder que o retém, demonstra que o apóstolo não cria em uma
expectativa do fim de um momento ao outro. De fato, 2 Tessalonicenses
2 propõe-se a refutar esta mesma idéia sobre a base da perspectiva
histórica do Daniel.

O Anticristo de Paulo como uma Paródia de Cristo

Deveria dar-se atenção especial ao fato de que Paulo descreve a


apostasia do vindouro "homem de iniqüidade" como uma que nega tanto
a verdadeira adoração cristã como toda a adoração pagã; "opõe-se...
contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto" (2 Tes. 2:4).
Exaltar-se-á até o ponto do auto-endeusamento dentro do templo de
Deus, "tanto que se senta no templo de Deus, fazendo-se passar por
Deus" (V. 4). Paulo adota esta caracterização específica de adoração
As Profecias do Tempo do Fim 101
religiosa do anticristo, do antimessias predito por Daniel (Dan. 7:25;
8:11-13; 11:31; 12:11). Nas profecias de Daniel, o chifre pequeno ou o
rei que se ensoberbece, invade a terra santa, e se mete pela força no
santuário de Deus e de seu Messias. Profana o culto religioso divino do
santuário não só mudando a lei divina e os tempos sagrados (por
exemplo, o sábado; ver Dan. 7:25), mas também por sua própria
"abominação": a adoração falsificada de si mesmo como o "deus das
fortalezas" (ou poder) desconhecido para o povo do pacto (Dan. 11:31,
36-38).
Parece que Paulo molda intencionalmente o anticristo à imagem de
um Cristo falso, porque o descreve na necessidade de que seja "revelado"
em seu "vinda" (2 Tes. 2:3, 8, 9), termos que aplica igualmente a Cristo
(ambos têm uma revelação pessoal [apokálupsis] e sua vinda [parousia;
cf. 2 Tes. 1:7; 2:8]). Isto sugere que Paulo considera o anticristo como
um rival do Messias, cuja "vinda" é uma paródia da vinda de Cristo.
Assim como a revelação de Deus culminou em Cristo, assim a
manifestação do mal encontrará sua culminação no anticristo, cuja
aparição é a caricatura satânica de Cristo. Já Irineu tinha declarado que o
anticristo de 2 Tessalonicenses 2 seria um "apóstata" religioso, que
desencaminhará os que o adorem "como se fora Cristo".2
É significativa a descrição de Paulo de que o "iníquo" virá "por obra
de Satanás" [kat enérgeian tou sataná], quem energizará e dará poder ao
anticristo através de "toda classe de milagres, sinais, prodígios
enganosos" (2 Tes. 2:9, BJ). Uma vez mais Paulo parece indicar por
meio desta tríplice frase (milagres, sinais e prodígios) que o anticristo
tentará imitar o ministério de Cristo (ver Mat. 24:24; At. 2:22). O livro
do Apocalipse descreve mais plenamente a maneira como Satanás dará
energia à besta do mar ou anticristo: "E o dragão lhe deu seu poder e seu
trono, e grande autoridade" (Apoc. 13:2).
As Profecias do Tempo do Fim 102
O Mistério da Iniqüidade

Paulo se refere à atividade satânica do mal nesta frase significativa:


"...porque já está em ação o mistério da iniqüidade" (2 Tim. 2:7); ou,
literalmente, "o mistério da impiedade já está atuando" (BJ). Aqui o
apóstolo reconhece que uma força malvada já estava operando em uma
forma secreta, além da atividade humana, decidida a conseguir a
supremacia sobre a igreja de Cristo. A princípio, o poder político
imperante no tempo do Paulo impediu que se levasse a cabo este plano
anticristão (v. 6). Não obstante, quando o que retinha foi tirado, as forças
da apostasia surgiram imediatamente e chegaram a ser conhecidas
publicamente durante a Idade Média.
Nos escritos de Paulo o termo "mistério" leva em si o conceito
básico de verdade salvadora, mantido anteriormente oculto por Deus mas
agora manifestado no evangelho (ver Rom. 16:25, 26; Ef. 1:9, 10; Col.
1:26, 27; 1 Cor. 2:7). O conteúdo deste mistério é o plano redentor de
Deus para salvar a humanidade por meio da união com Cristo. Este
"mistério" divino esteve personificado em Cristo como o grande
"mistério da piedade: Deus foi manifestado em carne" (1 Tim. 3:16). Por
outro lado, quando Paulo falou do "mistério da iniqüidade", muito bem
pôde ter tido em mente exatamente o contrário da verdade salvadora de
Deus em Cristo: o mistério caracterizado pelo anticristo:
(1) Este mistério nunca será inoperante, mas sim atua
continuamente do tempo do Paulo até o fim. Por conseguinte, a
incessante atividade satânica não nos permite localizar "o mistério da
iniqüidade" exclusivamente em algum período histórico isolado no
passado ou no futuro, como postulam as teorias do preterismo e do
futurismo. Exatamente o oposto é o que ensina Paulo: depois da queda
de Roma, este mistério de rebelião estará ativo e prosperará sem
limitações (2 Tes. 2:7).
(2) Entretanto, este segredo satânico o conhecem os verdadeiros
escolhidos de Cristo, pois "não ignoramos suas maquinações" (2 Cor.
As Profecias do Tempo do Fim 103
2:11). Iluminados pela sabedoria divina que vem do livro de Daniel (ver
Dan. 11:33; 12:10), sabem que o ataque de Satanás está dirigido contra o
reino de Deus e seu plano de redenção, centrado este no santuário com
sua santa lei e o evangelho.
(3) Por analogia com o "mistério da piedade" – o plano de Deus
para revelar o Messias e seu evangelho de salvação –, o "mistério da
iniqüidade" indica o maligno propósito de Satanás de opor-se ao plano
de Deus por meio de um plano contrário diabólico e um culto religioso
contrário que exalta o falso rei-sacerdote. Um erudito bíblico define esta
frase paulina com profundo discernimento: "Em um estilo paralelo, o
mistério da iniqüidade, o plano contrário de Satanás, é um propósito
diabólico fixo, um ardil contínuo, para opor-se à realização do decreto
divino (de redenção)".3
Paulo conclui declarando que existe um antagonismo fundamental
entre a verdade do evangelho de Cristo e a decepção do homem de
iniqüidade: "Perecem, porque não receberam o amor da verdade para se
salvarem. E, por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que
creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a
verdade; antes, tiveram prazer na iniqüidade" (2 Tes. 2:10-12).
A apostasia anticristã está apoiada em uma hostilidade
profundamente arraigada contra o evangelho de Deus e de seu Cristo.
Neste encontro, a humanidade deve fazer suas decisões finais em favor
ou contra Cristo. Segundo o apóstolo, a decisão que alguém faça por
Cristo agora, revela em princípio a eleição que todos terão que fazer no
tempo do fim entre Cristo e o anticristo. Toda a história está governada
pelo conflito espiritual entre Deus e Satanás, e a era da igreja se
caracteriza pelo conflito entre a verdade do evangelho de Cristo e a
mentira do anticristo.
Devido a isto, o apóstolo Paulo alerta a igreja a estar em guarda
contra o engano de um mestre poderoso do cristianismo que sustentará
que fala em lugar de Cristo e que insiste em que só sua vontade é lei
divina. Paulo nos admoesta não simplesmente contra um evangelho
As Profecias do Tempo do Fim 104
falsificado e adoração falsa no futuro, mas sim por cima de tudo assinala
a origem cósmica deste engano mestre: é o artifício e o engano de
Satanás (2 Tes. 2:9). Para esta dimensão sobrenatural Paulo encontrou
apoio nas Escrituras. Daniel tinha revelado uma batalha cósmica entre
Deus e Satanás como o poder motivador por trás dos conflitos religiosos
na terra (ver Dan. 10). Isaías tinha apontado a Lúcifer, ou a estrela da
manhã no céu, como quem quis ser como Deus e trabalha por meio dos
governantes da terra (Isa. 14:12-14).

O Ato que Coroará o Drama do Engano

A perspectiva profética do Paulo em 2 Tessalonicenses 2 indica que


o fim do tempo trará consigo cada vez mais sinais sobrenaturais, que
apoiarão o "homem da iniqüidade", "o filho da perdição" (2 Tes. 2:3).
Estas designações últimas do anticristo sugerem que aparecerá como um
indivíduo que está em um definido contraste com "o Filho do Homem".
Isto dá lugar para um engano quase irresistível para o homem: a
personificação que Satanás fará de Cristo e de sua vinda à terra.
Deliberadamente, Paulo faz um paralelo entre as aparições do homem da
iniqüidade e as de Cristo, tendo cada uma sua própria parousia; seus
próprios sinais e milagres, e exigindo cada uma adoração. Em todas as
aparições, Satanás se disfarça "como um anjo de luz" (ver 2 Cor. 11:14).
Seu objetivo supremo sempre foi exigir a dignidade e as prerrogativas de
Deus (2 Tes. 2:4); por conseguinte, seu último pecado é a idolatria que
exige para que o adorem.
Paulo recalca que o rechaço universal da verdade do evangelho
preparará a humanidade para o último engano e rebelião (2 Tes. 2:10, 11;
1:7, 8). Nesse ponto de maturação do mal, Deus retira seu Espírito de
todos os que rechacem "o amor da verdade". Como resultado já não
haverá mais nenhuma limitação ao "poder enganoso para que creiam a
mentira" (2 Tes. 2:11 ).
As Profecias do Tempo do Fim 105
Desta forma, Paulo aponta ao fim do tempo de prova da
humanidade, quando começa o ato final de Satanás. Esta cena aparece
ampliada em Apocalipse 16:13-16, onde os espíritos de demônios levam
os habitantes do mundo a unir-se em rebelião contra Deus, enganando
até os governantes civis. Um erudito resume a situação nas seguintes
palavras: "Com o rechaço final dos rogos do Espírito de Deus virá a
dissolução da lei civil, e então as promulgações do 'homem do
iniqüidade' levarão aos homens a guerrear contra o santo".4
Além disso, até ameaça a humanidade um ato capital de engano: a
personificação de Cristo e sua vinda. Estas palavras de discernimento
espiritual nos põem em guarda:
"Assim, o grande enganador fará parecer que Cristo veio. Em várias
partes da Terra, Satanás se manifestará entre os homens como um ser
majestoso, com brilho deslumbrante, assemelhando-se à descrição do Filho
de Deus dada por João no Apocalipse (cap. 1:13-15). ... O povo se prostra
em adoração diante dele, enquanto este ergue as mãos e sobre eles
pronuncia uma bênção, assim como Cristo abençoava Seus discípulos
quando aqui na Terra esteve".5

Resumo

A aplicação histórica de Paulo das visões do anticristo de Daniel


formam um elo interpretativo indispensável entre Daniel e Apocalipse. O
esboço estrutural de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 funciona como o
respaldo apostólico do enfoque contínuo-histórico das profecias de
Daniel. Paulo caracteriza a futura apostasia cristã como um culto de
adoração espúrio, autorizado por um rival do Messias, que se levantaria
dentro do templo cristão de Deus muito pouco depois da queda da Roma
pagã.
O livro do Apocalipse (nos caps. 13 aos 19) desenvolve o tema
teológico do anticristo com maiores detalhes como a besta e seu falso
profeta.
As Profecias do Tempo do Fim 106
Referências

Para a Bibliografia, ver as páginas 107-108.


1. Ch. Wordsworth, Is the Papacy predicted by St. Paul? An
Inquiry, p. 15.
2. Irineu de Lyon, Contra hereges, 25, ANF, T. 1, P. 554.
3. P. H. Furfey, "The Mystery of Lawlessness", CBQ 8 (1946), p.
190.
4. D. Ford, The Abomination of the Desolation…, p. 225.
5. Ellen White, GC 624.
As Profecias do Tempo do Fim 107
FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO VII

Livros

Bacchiocchi, S. The Advent Hope for Human Hopelessness [A


Esperança Adventista para a Desesperança Humana]. Berrien
Springs, MI: Biblical Perspectives, 1986. Biblical Perspectives
[Perspectivas Bíblicas] 6, pp. 151-161.
Barnes, A. Note on the New Testament. Thessalonians... [Nota sobre o
Novo Testamento: Tessalonicenses...]. Grand Rapids, MI: Baker
Book House, 1955.
Bruce, F. F. 1 and 2 Thessalonians [1 e 2 Tessalonicenses]. Waco,
Texas: Word Books Publishers, 1982. Word Biblical Commentary
[Comentário Bíblico da Palavra] 45.
Ford, Desmond. The Abomination of the Desolation… Cap. 5.
Froom, LeRoy E. The Prophetic Faith of Our Fathers. 4 ts.
Ladd, George E. A Theology of the New Testament [Uma teologia do
Novo Testamento]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1974.
Ridderbos, Herman. El Pensamiento del apóstol Paulo. Buenos Aires:
La Aurora, 1987. T. 2, pp. 243-271.
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Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1972. Cap. 5: "The Man of Sin" [O
homem do pecado].
Wenham, David. Paul and the Synoptic Apocalypse [Paulo e o
Apocalipse dos Sinóticos]. Tomo 2 da Coleção Perspectivas do
Evangelho (R. T. France e D. Wenham, eds.). Sheffield: JSOT,
1981. Pp. 345, 375.
Wordsworth, Christopher. Is the Papacy predicted by St. Paul? An
Inquiry [Predisse São Paulo o Papado? Uma investigação].
Cambridge: The Harrison Trust, 1985, 3a ed.
As Profecias do Tempo do Fim 108
Artigos

Furfey, P. H. "The Mystery of Lawlessness" [O Mistério da


Iniqüidade], CBQ 8 (1946), pp. 179-191.
LaRondelle, Hans K. "Paul's Prophetic Outline in 2 Thessalonians 2"
[O Esboço Profético de Paulo em 2 Tessalonicenses 2], AUSS 21:1
(1983), pp. 61-69.
_________, "The Middle Ages Within the Scope of Apocalyptic
Prophecy" [A Idade Média Dentro da Esfera da Profecia
Apocalíptica], JETS 32:3 (1989), pp. 345-354.
Waterman, G. "The Sources of Paul's Teaching on the 2nd Coming of
Christ in 1 and 2 Thessalonians" [As Fontes do Ensino de Paulo
sobre a Segunda Vinda de Cristo em 1 e 2 Tessalonicenses], JETS
18:2 (1975), pp. 105-113.
As Profecias do Tempo do Fim 109
INTRODUÇÃO AO APOCALIPSE

O último livro da Bíblia é completamente diferente em estilo e


composição a qualquer outro escrito do Novo Testamento. Está
estruturado engenhosamente, com um equilíbrio excepcional em seu
desenho literário. Sua disposição indica a unidade do livro. Uma
composição tal nos proíbe isolar qualquer versículo ou seção da
totalidade do livro. O Apocalipse foi destinado para lê-lo como um tudo,
de maneira que seu movimento do começo até o fim possa produzir seu
impacto pleno sobre nossas mentes e corações. Embora se enfoca sobre
suas profecias do tempo do fim, precisamos estar inteirados de que
podemos apreciar seu significado só quando recuperamos o movimento
interno e a perspectiva completa de todo o Apocalipse.
Devido ao fato de que seu arranjo literário e sua mensagem
teológica estão entretecidas, o possuir um conhecimento de seu plano
arquitetônico contribui substancialmente à nossa compreensão de sua
mensagem. João transmite sua unidade por sua construção de um modelo
simétrico, um paralelismo inverso chamado quiasmo. Isto se faz evidente
em primeiro lugar no fato de que o começo (prólogo; Apoc. 1:1-8) e o
final (epílogo; Apoc. 22:6-21) correspondem-se mutuamente. E as sete
promessas às igrejas nos capítulos 2 e 3 encontram seu contraparte nas
sete visões do tempo do fim (cada uma começando com as palavras
"então vi") em Apocalipse 19:11 aos 22:21. A primeira e a última séries
de setes se relacionam entre si como a promessa e o cumprimento
divinos, a igreja militante e a igreja triunfante. Ambas as unidades
começam com uma cristofania (aparição de Cristo) esplêndida:
Apocalipse 1:12-18; 19:11-16. O modelo simétrico se estende a outros
duetos, que se concentram em uma seção central. Tal ensambladura
literária, "uma arquitetura verdadeiramente monumental",1 foi
reconhecido por numerosos eruditos e chegou a ser um requisito
indispensável para a compreensão do Apocalipse. Essa forma serve para
esclarecer o significado da mensagem do Apocalipse.
As Profecias do Tempo do Fim 110
Uma lição que se aprendeu de um consenso cada vez major de
estudos críticos é a convicção de que o Apocalipse como um tudo é uma
carta apostólico-profética, dirigida às igrejas do Senhor Jesus Cristo, em
qualquer tempo e em qualquer lugar. Portanto, não é legítimo separar as
sete cartas de Apocalipse 2 e 3 das visões seguintes (Apoc. 4-22). Esta
unidade interna do Apocalipse é reconhecida amplamente, como afirma
K. A. Strand: "A maioria dos expositores reconhece que a descrição da
Nova Jerusalém e a nova terra nos capítulos finais do Apocalipse,
recordam (como cumprimento) as promessas feitas aos vencedores nas
mensagens às sete igrejas nos capítulos iniciais".2 O Apocalipse promete
a Nova Jerusalém sobre a nova terra a todos os seguidores de Cristo em
todas as igrejas.
É especialmente digno de menção o movimento da igreja no tempo
de João (Apoc. 1-3) através da era cristã tão cheia de acontecimentos
(Apoc. 12 e 13), até que entra sem perigo na Cidade de Deus no paraíso
restaurado sobre a terra (Apoc. 21 e 22). Primeiro, o Cristo ressuscitado
apresenta sua avaliação da condição da igreja apostólica nas sete cartas
às sete igrejas (Apoc. 2 e 3). Mas estas mensagens não foram destinadas
só para a igreja primitiva, como se o Senhor da história estivesse
interessado só naquele período de tempo. As promessas de Cristo nessas
cartas mostram uma progressão significativa, que assinala cada vez mais
a sua segunda vinda. As mensagens das cartas de Cristo devem entender-
se em mais de um nível. Primeiro, como dirigidas às igrejas do primeiro
século, depois a cada membro individual da igreja em qualquer tempo
durante a era da igreja, e finalmente, às diversas condições da igreja
durante a era cristã. Os intérpretes historicistas ressaltaram em forma
crescente este aspecto preditivo das sete cartas.3 Hoje em dia, estes três
aspectos são reconhecidos pelos expositores adventistas.4 Esta breve
declaração é representativa: "As sete igrejas, estudadas em sua ordem,
concordam com a experiência predominante da igreja cristã durante sete
eras sucessivas".5
As Profecias do Tempo do Fim 111
As cartas estão vinculadas com as visões seguintes e se iluminam
mutuamente com uma urgência crescente enquanto avança a história.
Esta progressão está recalcada pelas visões sucessivas que João teve do
templo, que seguem a seqüência dos festivais anuais do antigo
tabernáculo de Israel. As primeiras visões do templo em Apocalipse
1:12-16 e nos capítulos 4 e 5 descrevem graficamente o Senhor
ressuscitado como tendo completo as festas da primavera da Páscoa
(Apoc. 1:5, 17, 18) e o Pentecostes (5:6-10). Depois o Apocalipse
continua na visão do templo de Apocalipse 8:2-6 para revelar o
ministério a longo prazo de Cristo na série das "sete trombetas" (Apoc. 8,
9 e 11 ) que levam à Festa das Trombetas de Israel, a primeira de todas
as festas do ano religioso judeu. A seqüência dos festivais do outono é
significativo: Festa das Trombetas, Dia da Expiação e Festa dos
Tabernáculos (Lev. 23; Núm. 29). Richard M. Davidson assinala que...
"...assim como a Festa das Trombetas (também chamada Rosh
Hashana) convocava ao antigo o Israel a preparar-se para o vindouro dia do
juízo, o Yom Kippur, assim também as trombetas do Apocalipse põem
especialmente de relevo a aproximação do Yom Kippur antitípico".6
A Festa das Trombetas ocorre como a culminação dos sete festivais
lunares. Formam a ponte entre os festivais da primavera e o solene Dia
da Expiação e a Festa dos Tabernáculos. No Apocalipse o ponto central
de atração muda gradualmente ao dia do juízo final e à terra restaurada
quando Jesus morará com seu povo. A sétima trombeta apresenta uma
cena do templo que se centra no "arca de seu pacto" (Apoc. 11:15, 19).
No tabernáculo de Israel o "arca" estava no lugar santíssimo do santuário
e só era vista durante o ritual de purificação final, no Dia da Expiação
(Lev. 16:15). Nesse dia, Israel era julgado e se limpavam os pecados que
contaminavam o povo por meio do bode emissário (Lev. 16:19, 22;
23:29, 30). De igual maneira, Apocalipse 10 anuncia que não haverá
mais tempo ou demora quando o sétimo anjo esteja a ponto de tocar a
trombeta. Então, "o mistério de Deus se consumará" (Apoc. 10:6, 7).
As Profecias do Tempo do Fim 112
Em Apocalipse 15 observamos a terminação da obra mediadora de
Cristo no templo celestial, seguindo-se o juízo retributivo das sete
últimas pragas (Apoc. 16 e 17). Em Apocalipse 19:1-10 ouvimos que
"chegaram as bodas do Cordeiro e sua esposa preparou-se" (v. 7).
Apocalipse 20 e 21 introduzem o milênio de triunfo para todos os
que morreram no Senhor (20:4-6). A Nova Jerusalém descende sobre
uma terra renovada: "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, e
ele morará com eles" (21:3). Isto aponta ao glorioso cumprimento da
festa dos tabernáculos, quando Israel celebrava sua liberação e se
regozijava diante do Senhor com o ondulação dos ramos de palmeira
(Lev. 23:40, 43). Este simbolismo descreve a salvação futura da igreja de
Cristo, formada de todos os povos da terra (Apoc. 7:9, 10; 15:24).
Devemos relacionar a estrutura do livro com seu movimento progressivo
se é que vamos compreender o significado do Apocalipse.
O significado deliberado do Apocalipse não é simplesmente
documentar um momento histórico da igreja no Ásia Menor ou
proporcionar um estímulo apostólico para a igreja em crise nos dias da
Roma imperial. Acima de tudo, coloca a cada igreja na luz examinadora
dos olhos do Senhor, de maneira que cada igreja possa saber o que é que
Cristo espera de seu povo. Dessa maneira, Cristo coloca tanto suas
expectativas como suas responsabilidades diante de todas as igrejas. Isto
desperta nossa consciência para contemplar a relação íntima que existe
entre Cristo e seu povo em todos os tempos. Jacques Ellul o expressa
desta maneira:
"O Senhor da igreja, quem ao mesmo tempo é o Senhor da história,
não é um Deus distante, inacessível e incompreensível; é o que fala com
sua igreja, é o que vive na história por meio de seu povo". 7
Os diferentes septenários (séries de setes) – tais como as cartas, os
selos, as trombetas e as taças com as últimas pragas – contêm uma luz
que se projeta sobre os acontecimentos do tempo do fim. Este fenômeno
reiterativo indica que o Apocalipse coloca uma ênfase particular sobre o
As Profecias do Tempo do Fim 113
período do tempo do fim da igreja e do mundo. Ellen White expressa
esta visão mais ampla quando diz:
" Esta revelação foi dada para guia e conforto da igreja através da
dispensação cristã. ... Suas verdades são dirigidas aos que vivem nos
últimos dias da história da Terra, como o foram aos que viviam nos dias
de João".8

Referências

1. J. Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 36.


2. F. B. Holbrook, ed., Symposium on Revelation – Book 1
[Simpósio sobre o Apocalipse – Livro 1] (Silver Spring,
Maryland: Biblical Research Institute, 1992), p. 31.
3. Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, v. 4, pp. 848,
1118.
4. Ver D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation
[Crise! Um Comentário sobre o Livro do Apocalipse]
(Newcastle, Califórnia: Desmond Ford Publications, 1982; 2 ts.),
T. 2, pp. 264-308; C. Mervyn Maxwell, Apocalipsis: sus
revelaciones (Florida, Buenos Aires: Asociación Casa Editora
Sudamericana, 1991), pp. 89-145; R. C. Naden, The Lamb
Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation [O
Cordeiro Entre as Bestas. Encontrando a Jesus no Livro do
Apocalipse] (Hagerstown, Maryland: Review and Herald, 1996),
caps. 4 e 5.
5. Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 94.
6. Richard M. Davidson, Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 123.
7. Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 51.
8. Ellen White, AA 583, 584.
As Profecias do Tempo do Fim 114
O PROPÓSITO DO APOCALIPSE

"Revelação de Jesus Cristo" (Apoc. 1:1) enuncia claramente seu


propósito ao princípio: "Para manifestar a seus servos as coisas que em
breve devem acontecer"...."as que são e as que têm que ser depois
destas" (vs. 1, 19). Isto significa que a perspectiva histórica do livro não
é nem o presente imediato nem o futuro distante, e sim toda a história da
igreja do tempo do autor até o segundo advento. Isto faz com que o
Apocalipse seja um guia único para a igreja em qualquer tempo.
Constitui uma continuação dos quatro Evangelhos que se concentram
especificamente no primeiro advento.
Em sua filosofia da história, o Apocalipse está enfaticamente
centrado em Cristo, chamando Cristo de "o Alfa e o Ômega, o Princípio
e o Fim" (22:13). Sua mensagem profética não é meramente vaticinar o
curso futuro da história da igreja. Sua maior preocupação é pastoral:
guiar e aconselhar aos crentes em Cristo Jesus em tempos de
perseguição, animá-los a perseverar até o fim na verdadeira fé, e
admoestá-los e alertá-los contra o engano e as crenças falsas.
O Apocalipse assegura aos "servos" de Cristo que seu Redentor está
em seu meio em todo momento, porque caminha entre os sete "castiçais"
celestiais, que representam "as sete igrejas" (1:13, 20). Aparentemente,
estas "sete igrejas" não podem limitar-se ao número literal de sete
congregações locais na província romana da Ásia Menor. Cristo é o
Senhor de todas as igrejas em toda a história. Estas "sete igrejas"
representam suas igrejas, as comunidades que o adoram entre todas as
nações, do tempo de João até ele voltar.
Este Apocalipse ou revelação do Jesus Cristo tampouco se dirigiu
aos judeus ou aos gentios, e sim a seus "servos" (1:1). Precisam da
segurança de que o Senhor ressuscitado permanece intimamente
conectado com seu novo povo do novo pacto e que os preparará para a
prova final e o triunfo da fé. O reino de Deus será realizado
completamente neste mundo como seu ato final, para o qual se dirige
As Profecias do Tempo do Fim 115
toda a criação (11:15; 21:1-5). Sete vezes Cristo promete ao "vencedor"
em cada igreja uma recompensa específica de salvação ao fim do tempo:
"Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se
encontra no paraíso de Deus" (2:7).
"O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte" (v. 11).
"Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma
pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual
ninguém conhece, exceto aquele que o recebe" (v. 17).
"Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei
autoridade sobre as nações... dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã" (vs.
26,28).
"O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo
nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o
seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjo " (3:5).
"Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais
sairá" (v. 12).
"Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como
também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono" (v. 21).
Além destas promessas, o Apocalipse proporciona sete bem-
aventuranças para esta era presente, com o fim de motivar a cada crente
a ser perseverante (1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7, 14).
Desse modo, o Apocalipse é o livro de esperança, consolo e
inspiração para sua igreja durante sua viagem cheia de acontecimentos
através das idades. Deus não nos prometeu uma navegação tranqüila, a
não ser uma chegada segura! Ele está conosco até o fim do tempo. Cada
coisa depende de quem é nosso Rei. Nossa segurança eterna descansa em
sua fidelidade. O Apocalipse é principalmente uma revelação do próprio
Cristo e de sua fidelidade ao pacto; é "a testemunha fiel" (1:5).

Cristo Como Nosso Juiz Divino

Nenhum livro no novo Testamento enfatiza a glória e a soberania


do Cristo ressuscitado como o Apocalipse faz. A visão inaugural de João
(1:12-20) apresenta a Cristo como o Messias celestial ao designá-lo
As Profecias do Tempo do Fim 116
como "um semelhante ao Filho do Homem" (1:13), uma expressão
apocalíptica adotada da visão do Daniel do Juiz-Rei messiânico (Dan.
7:13, 14). O Messias glorificado não só é o doador da revelação, mas
também é seu tema central (Apoc. 1:7). Como o mediador exclusivo de
nossa salvação, pode dizer com verdade: "Eu sou... o que vivo, e estive
morto; mais eis aqui que vivo pelos séculos dos séculos" (vs. 17, 18).
Tem em sua mão direita as "sete estrelas", que são os "anjos das
sete igrejas" (Apoc. 1:16, 20). Como Cabeça da igreja, "esquadrinha a
mente e o coração" em cada etapa da história da igreja. Ele
"recompensará" a todos os crentes conforme as suas obras (2:23; 22:12).
A ele foi entregue o juízo messiânico de todos os habitantes do mundo
(1:7; 14:14-20; 19:11-21). Ele é o guerreiro divino que vindicará a seu
povo remanescente fiel. Como Rei de reis e Senhor de senhores,
esmagará a todos os poderes anticristãos no fim do tempo (12:5; 17:14;
19:11-16).
Os títulos distintivos e as prerrogativas divinas que no Antigo
Testamento estavam reservados só para Deus, agora no Apocalipse se
aplicam a Cristo. Descreve o Cristo glorificado em Apocalipse 1:14 e 15
com característicos tirados da aparição de Deus em Daniel 7:9. Assim
como Daniel apresenta em suas visões o Ancião de dias, assim também
Cristo tem sua cabeça e seus cabelos "brancos... como a neve" e seus
olhos como chama de fogo (Dan. 7:9; 10:6; Apoc. 1:14). Assim como os
olhos de Yahveh, que no Antigo Testamento percorrem toda a terra (Zac.
4:10), assim os "sete olhos" de Cristo ou o séptuple Espírito se envia
"por toda a terra" (Apoc. 5:6). Como Deus esquadrinha a mente e prova
o coração de seu povo do pacto (Jer. 17:10; Sal. 7:9), assim agora Cristo
examina e avalia a sua igreja (Apoc. 2:23). Enquanto se diz o que os
vestidos do Yahveh estão salpicados com o sangue de seus inimigos
declarados (Isa. 63:1, 2), esta mesma descrição se aplica à vinda de
Cristo como Rei-Juiz em Apocalipse 19:13. Como Moisés chamou o
Deus de Israel "Senhor de senhores" (Deut. 10:7), isto agora se aplica a
Cristo (Apoc. 17:14; 19:16).
As Profecias do Tempo do Fim 117
Em síntese, o Apocalipse transforma de uma maneira consistente a
teofania ou aparição do Yahveh do Antigo Testamento em uma
cristofania ou sublime aparição de Cristo. O Senhor Jesus ressuscitado
assumiu a autoridade e o poder executivo do Todo-poderoso (Apoc.
19:15, 16; 22:1; cf. Mat. 28:18). Ele é um com o Pai e o executor da
vontade do Pai. O Apocalipse descreve a Cristo com mais de 30 alusões
à visão do juízo de Daniel 7. Esta visão central de Daniel se desempenha
como a fonte imediata da descrição da missão final de Cristo como "um
como um filho de homem" (Dan. 7:13, 14) em Apocalipse 14:14-16.
Dessa maneira expressa João em uma linguagem pictórica o
cumprimento messiânico do dia do juízo de Deus. Apocalipse 14
confirma o que Cristo tinha declarado antes aos dirigentes judeus em
Jerusalém:
"E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo... E
deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do Homem" (João 5:22,
27).

Cristo, o Único Sumo Sacerdote do homem

João contempla a seu exaltado Senhor estando entre os sete castiçais


celestiais, "vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo
peito com um cinto de ouro" (Apoc. 1:13). Esta veste comprida sugere
seu papel atual como nosso Mediador (ver Êxo. 28:4, 5; 39:5). A faixa
ou o cinto "de ouro" ao redor de seu peito é também parte da visão do
Daniel de um mensageiro messiânico que lhe fez entender a mensagem
de Deus (Dan. 10:5, 6).
A descrição apocalíptica de Cristo em Apocalipse 1 ensina a igreja
que seu Senhor agora está cumprindo em realidade o que tinha
prefigurado o sacerdócio de Israel. O Cristo vivente ouve nossas
confissões e perdoa nossos pecados com segurança absoluta. Cristo
substituiu todos os sacerdócios terrestres ao estabelecer a validez de seu
presente sacerdócio (ver Heb. 10:9). Portanto, Cristo é até maior que
As Profecias do Tempo do Fim 118
Melquisedeque, o rei-sacerdote, a quem Abraão lhe deu o dízimo de tudo
(7:1-10). O sacerdócio de Cristo é eficaz, devido a seu "poder de uma
vida indestrutível" confirmado por um solene juramento de Deus (7:16-
21; Sal. 110:4). E devido a este juramento divino, "Jesus é feito fiador de
um melhor pacto" (Heb. 7:22). O Cristo ressuscitado agora "pode
também salvar perpetuamente aos que por ele se aproximam de Deus,
vivendo sempre para interceder por eles" (V. 25). Esta mensagem
apostólica de consolação está confirmada dramaticamente pela visão
inaugural de João em Apocalipse 1. Aqui Cristo começa a falar com sua
igreja em termos mais específicos por meio das sete cartas que dita a
João (ver Apoc. 2 e 3).
Não é João, e sim Cristo, que fala do céu para animar e admoestar
as sete igrejas começando com Éfeso, e através delas a todas suas igrejas
onde quer estejam em qualquer tempo. Obviamente Cristo considera sete
igrejas específicas ao fim do primeiro século como representativas de
sete estados ou condições da igreja que existem em sua igreja que se
estende até o fim. Em outras palavras, Cristo considera estas sete
comunidades originais eclesiásticas como protótipos do futuro
desenvolvimento da igreja em todo mundo. Nas sete cartas de
Apocalipse 2 e 3, Cristo fala hoje com as igrejas cristãs. O fato de que
Cristo termina cada carta com a mesma súplica, é importante: "Quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (2:7, 11, 17, 29; 3:6,
13, 22).
Esta sétupla súplica a todas as igrejas prova que Cristo inclui a cada
igreja. Desta forma, Cristo até pastoreia a seus seguidores. Sua
preocupação é salvar e santificar a suas congregações pecadoras. Ele não
rechaça imediatamente a nenhuma delas, mas sim lhes dá tempo para
corrigir seus caminhos, doutrinas e sacramentos. Cristo conhece
perfeitamente o coração e a mente de cada um (At. 1:24; 15:8; Mar. 2:8;
João 21:17). Revela a seus servos que a única maneira como podem estar
seguros, acha-se em permanecer unidos a ele por meio da fé. Podem ser
a luz do mundo unicamente ao refletir sua luz e a pureza de sua verdade.
As Profecias do Tempo do Fim 119
A segurança do Senhor ressuscitado é que seu povo estará preparado
para sua vinda e que iluminarão toda a terra com a luz de seu poder
pentecostal (ver Apoc. 18:1).
As Profecias do Tempo do Fim 120
CHAVES INTERPRETATIVAS DENTRO DO APOCALIPSE

O livro do Apocalipse é datado por volta do ano 96 de nossa era,


quando já estavam escritos os Evangelhos do Novo Testamento. Os
quatro Evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João –, todos falam a
respeito da primeira vinda do Messias Jesus e se concentram em sua
vida, sua missão e morte, sua ressurreição e sua ascensão. Aí terminam
os quatro Evangelhos. Mas o livro do Apocalipse começa depois de sua
ressurreição, com Cristo exaltado à mão direita do Pai, levando a cabo
sua obra de intercessão em preparação para sua volta. Desse modo, o
Apocalipse se concentra sobre sua mediação em favor da igreja durante a
era cristã e em sua obra final de juízo e libertação como a introdução
para seu segundo advento. O Apocalipse é o complemento dos quatro
Evangelhos. É o único livro revelado por Cristo diretamente do céu. Ele
o chama seu próprio "testemunho destas coisas nas igrejas" (Apoc.
22:16). Em sentido especial, o livro do Apocalipse é o testemunho de
Jesus e o testemunho do Espírito (V. 17; 2:7, 11 ).

A primeira chave

Que chaves temos para decifrar seu simbolismo apocalíptico? A


primeira chave interpretativa se apresenta virtualmente em cada
versículo do livro. A edição grega do Novo Testamento indica que o
Apocalipse contém mais de 600 alusões aos escritos do Antigo
Testamento. A Bíblia Hebraica continua sendo o fundamento e a raiz do
Novo Testamento, e só quando mantemos juntos ambos os Testamentos
temos uma Bíblia completa. Em grande parte, o Antigo Testamento é
profecia e o Novo Testamento proclama seu cumprimento em Cristo e
em seu povo. Não podemos entender completamente um sem o outro. O
fato de que o Apocalipse se refira mais de 600 vezes à história do Antigo
Testamento e a seus conceitos hebraico, sugere que o Antigo Testamento
é a primeira chave para decifrar o livro do Apocalipse.
As Profecias do Tempo do Fim 121
Em seu livro Atos dos Apóstolos, Ellen White declara que "no
Apocalipse todos os livros da Bíblia se encontram e se cumprem" (p.
585). Essa é uma declaração teológica profunda e fascinante! Todos os
outros livros da Bíblia, 65 em total, encontram seu significado recôndito
e sua consumação no Apocalipse. Isto quer dizer que os livros de
Moisés, os profetas, e também os Salmos, encontram sua aplicação final
no livro do Apocalipse. Significa que todos os atos históricos de Deus
em salvação e juízo voltarão a acontecer em uma escala mundial.
O fato de que o Antigo Testamento seja a chave para o Apocalipse
tem sido reconhecido hoje em dia como um descobrimento importante
na história dos estudos apocalípticos. Não obstante, alguns intérpretes até
tratam de explicar o livro do Apocalipse por si mesmo, literalizando suas
palavras e imagens como se fossem fotografias atuais de eventos futuros.
Por conseguinte, o centro de atenção muda imediatamente para longe de
Cristo ao povo judeu no Oriente Médio e a outros eventos políticos. O
monte Sião em Apocalipse 14 se aplica a um monte literal em Jerusalém.
Este enfoque se chama literalismo. Outros foram ao extremo oposto
segundo o qual cada símbolo se explica especulativamente, sem
nenhuma norma bíblica. Esse enfoque se chama alegorismo. Tanto o
literalismo como o alegorismo são especulações injustificadas.
A única chave que decifra o significado recôndito do Apocalipse é a
chave que o mesmo livro indica. Seus conceitos simbólicos e seus
termos estão tirados do Antigo Testamento. Ali encontramos o
significado dos símbolos apocalípticos em seu marco do pacto original e
da história da salvação. No Antigo Testamento encontramos os
protótipos na história do que Deus vai fazer no futuro. Deus revela o
futuro mostrando-nos como atuou no passado. Diz ao povo de Cristo que
têm um sublime chamado e um grande futuro, devido ao que Deus
prometeu no passado.
O Apocalipse destaca a autoridade de Cristo ao declarar que é "a
revelação do Jesus Cristo, que Deus lhe deu" (1:1). O que é que quer
dizer por Deus"? O Deus do pacto, o Deus de Israel, o Deus de Abraão,
As Profecias do Tempo do Fim 122
Isaque e Jacó. O Deus do pacto está falando agora "para manifestar a
seus servos as coisas que devem acontecer logo" (v. 1). Estas palavras:
"que devem acontecer logo", com exceção da palavra "logo", todas estão
citadas de Daniel. Estando perante Nabucodonosor, o rei de Babilônia,
disse Daniel: "Mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios, e ele
tem feito saber ao rei Nabucodonosor o que tem que acontecer nos
últimos dias" (Dan. 2:28). Estas palavras se repetem como o tema do
Apocalipse. Entretanto, João acrescenta a palavra "logo" (Apoc. 1:1).
Isto nos diz que a primeira vinda de Cristo levou a expectativa da
esperança de Daniel muito mais perto de sua realização histórica.
Para apreciar o cumprimento da profecia do Daniel, devemos saber
em que tempo recebeu a visão. Daniel viveu durante o Império
Neobabilônico (604-539 a.C.). No capítulo 2, Daniel revela uma visão
que Deus deu ao rei Nabucodonosor. Consistia de uma estátua metálica
feita de quatro metais: uma cabeça de ouro; seu peito e seus braços de
prata; seu ventre e suas coxas de bronze; suas pernas de ferro; seus pés,
em parte de ferro e em parte de barro cozido, um fundamento muito
frágil para uma estátua tão pesada.
Esta é uma revelação de como Deus vê o curso da história do
mundo, com a humanidade erguida sobre pés de barro. Entretanto, no
quadro vivo de Daniel, Deus tem uma parte. Duas vezes se destaca que
uma pedra foi cortada "sem intervenção humana" (Dan. 2:34, 45, NBE),
indicando que o homem não tem nada que ver com o destino final do
mundo. No tempo indicado por Deus, descerá uma rocha do céu,
dirigindo-se para o planeta terra. A estátua simboliza nosso mundo em
sua história política do tempo do profeta Daniel. Começando com
Babilônia, apresenta os impérios sucessivos de Medo-pérsia, Grécia-
Macedônia, para ser seguidos pela autoridade de ferro do Império
Romano que durou desde ano 164 a.C. até 476 d.C. Depois disso viria
um mundo "dividido" (v. 41).
Hoje em dia não existe um governo mundial, embora alguns
tentaram fazê-lo pela força durante os últimos séculos, incluindo Carlos
As Profecias do Tempo do Fim 123
Magno, Napoleão e Hitler. Nossa situação mundial presente está
surpreendentemente representada pelos pés da estátua da profecia.
Somos testemunhas da época avançada na história do mundo, tal como
se esboça em Daniel 2.
Deus é o Senhor da história, e por meio de Cristo a levará a sua
conclusão decretada. Quando Cristo venha pela segunda vez, terminará
com todas as estruturas políticas de poder, tal como se prediz em Daniel
2:44 e 45. Deus não é um espectador da história mundial; ele guia e
dirige ativamente o fluir da história para seu destino, seja que lhe
ajudemos ou não. Em Apocalipse nos volta a assegurar que tudo será
novo: "Eis aqui eu faço novas todas as coisas" (Apoc. 21:5).
Nenhuma comunidade pode restaurar o paraíso. O Apocalipse
começa com a garantia de que a predição de Daniel acontecerá "logo"!
Há uma nova oportunidade em Apocalipse que não está presente em
Daniel.
Uma indicação adicional desta urgência do fim do tempo é o fato de
que o rolo do Daniel estava "selado" até o tempo do fim (Dan. 12:4).
Daniel 8 foi selado explicitamente para "um futuro remoto" (8:26, NBE).
Daniel não escreveu para seu próprio tempo. Suas visões ficaram seladas
porque eram para as gerações futuras. Por outro lado, o livro do
Apocalipse termina com esta ordem direta: "Não sele as palavras da
profecia deste livro, porque o tempo está perto" (Apoc. 22:10). Portanto,
o livro selado de Daniel fica aberto gradualmente no Apocalipse. Isto
significa que um não pode entender o livro do Apocalipse sem entender
suas raízes em Daniel. Isto se confirma pela primeira declaração que faz
João do tema fundamental do Apocalipse:
"Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o
traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele.
Certamente. Amém!" (Apoc. 1:7).
Esta linguagem figurada por si mesma não dá a conhecer todo seu
profundo significado. A chave para entender seu significado se encontra
na Bíblia Hebraica! A raiz central primária do Antigo Testamento de
As Profecias do Tempo do Fim 124
Apocalipse 1:7 é Daniel 7. Este capítulo de Daniel constitui a visão
apocalíptica principal para o livro do Apocalipse. Daniel mesmo ficou
profundamente comovido pelo que ouviu e viu. Sua nova visão ampliou
sua predição profética anterior do capítulo 2. Agora se descrevem os
quatro metais da estátua em Daniel 2 como quatro bestas insólitas que
surgem do mar das nações como impérios mundiais, em forma sucessiva.
Depois segue uma nova revelação que desenvolve o significado da pedra
que cai do céu e esmiúça a estátua.

A segunda chave

Escreve Daniel: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e


eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem" (Dan.
7:13). Esta representação específica forma a fonte da proclamação de
João em Apocalipse 1: "Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá"
(v.7). Na visão de Daniel, o semelhante a um filho de homem, o ser
celestial, foi até o "Ancião de Dias" (Dan. 7:13).
"Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e
homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno,
que não passará, e o seu reino jamais será destruído" (Dan. 7:14).
Esta coroação celestial do Messias celestial em Daniel 7 desenvolve
o centro culminante em Daniel 2 onde a rocha cortada "sem intervenção
humana" investe contra a estátua, pulveriza-a e é levada pelo vento de
maneira que não fica nada a não ser a rocha, que chega a ser o paraíso
restaurado. Dessa forma, tanto no capítulo 2 como no 7, o profeta nos
assegura que o reino de Deus será restaurado sobre a terra.
Há algo muito importante que se desenvolve entre o Daniel 2 e 7. A
pedra de Daniel 2 chega a ser o Messias, representado como "um como
um filho de homem", em contraste com as "bestas" ímpias do capítulo 7.
Esta revelação assombrosa revela que no céu há outro personagem
celestial além de Deus o Pai, um de aparência divina, que aparece sobre
um carro de nuvens celestial: "Com as nuvens!" Estas devem representar
As Profecias do Tempo do Fim 125
as nuvens de anjos celestiais. A linguagem figurada de "nuvens" indica
uma aparência divina (ver Êxo. 13:21; 14:19; 19:16; 40:34; Lev. 16:2;
Núm. 9:15-23; Sal. 104:3; Isa. 19:1; Deut. 33:26). O Messias divino virá
para julgar e restaurar (Dan. 7:22). O Pai lhe dá todo o domínio sobre a
terra. Este Messias governará nosso mundo de parte de Deus. Declara
Daniel:
"O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu
serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" (Dan. 7:27).
Aqui lemos que os santos receberão o reino de Deus. Esse "reino
será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão" ao
divino Filho de Homem (7:27). Dessa maneira Deus transfere no céu ao
Messias divino toda a autoridade e o poder soberano sobre nosso planeta.
O Filho de Homem celestial deve provir do céu e dirigir-se à Terra.
Nesse ponto, Apocalipse 1 continua e supera Daniel 7. Apocalipse 1
anuncia: "Eis que vem com as nuvens". Virá "logo" a nossa terra: "E
todo olho o verá" (v. 7). Esta não é uma vinda espiritual, invisível,
porque até os incrédulos em todo mundo verão sua vinda. Significa o
glorioso reaparecimento do Senhor Jesus Cristo ressuscitado (ver
também At. 1:9-11; Heb. 9:28).
Para os judeus, o Messias era primordialmente um personagem
político e militar. Jesus não desejava confirmar estas expectativas
messiânicas (João 6:15). Distanciou-se da imagem messiânica
prevalecente em seus dias e escolheu um símbolo do Antigo Testamento
que não estava carregado com essa interpretação errônea. Jesus se
chamou a si mesmo "o Filho do Homem". Mudou a expressão de Daniel
de "um como um filho de homem" a um termo messiânico mais
explícito. Cristo se chamou a si mesmo em repetidas ocasiões "o Filho
do Homem". De fato aparece assim 77 vezes nos quatro Evangelhos.
A frase "o Filho do Homem" não quer dizer que Jesus foi
meramente um homem. Cristo explica seu autodesignação da visão de
Daniel 7: "Pois para que saibam que o Filho do Homem tem poder na
terra para perdoar pecados, te digo: levante-te" (Mar. 2:10, 11). Aqui
As Profecias do Tempo do Fim 126
Cristo se chamou a si mesmo "o Filho do Homem". Como o filho de
homem daniélico, tem o poder para perdoar pecados. Nenhum sacerdote
Levítico disse nunca: "Perdôo teus pecados". Não há nenhum pastor
protestante que afirme: "Perdôo seus pecados". Só o sacerdote católico
romano afirma: "Perdôo seus pecados" ("Ego te absolvo"). Segundo a
Sagrada Escritura só Deus pode perdoar nossos pecados (Sal. 32:5; Isa.
43:25). Por isso, quando o "filho de homem" de Daniel 7 vem para
perdoar pecados, a frase "Filho do Homem" significa o Messias celestial
ou "Filho de Deus" (ver João 5:27). Só à luz do Daniel 7 podemos
entender que o Filho do Homem é um Messias divino com autoridade
igual a de Deus o Pai.
Quando o Apocalipse enfatiza que Cristo logo voltará, isto são boas
novas para os seguidores de Jesus. Virá para executar seu juízo sobre os
ímpios. Se pela fé "estamos em Cristo" não temos nada a temer, porque
Cristo já nos livrou que a condenação divina (Rom. 8:1). Em realidade,
devemos recebê-lo com satisfação e desejar juiz divino, como insígnia o
livro de Salmos. No Salmo 96 todas as árvores do bosque "transbordam
de contente", porque Deus deve julgar o mundo com justiça (vs. 11-13).
O Apocalipse proclama que todos os que estão sobre a terra serão
testemunhas de sua segunda vinda, até aqueles que o "transpassaram".
Esta expressão se refere claramente à morte de Jesus. Jesus foi
transpassado pela lança de um soldado romano. Do corpo de Jesus fluiu
água e sangue (João 19:34, 37). Mas em um sentido especial todos os
oponentes principais de Cristo Jesus na história estão incluídos em "os
que o transpassaram" por meio das "lanças" de suas palavras e ações.
Esta frase também tem sua raiz principal no Antigo Testamento. O
profeta Zacarias havia predito antes que Jerusalém "transpassaria" a seu
próprio Messias Pastor e então todas as tribos do Israel se afligiriam por
ele (Zac. 12:10-14; cf. 9:9; 13:7). O cumprimento das predições de
Zacarias começou quando Cristo apareceu pela primeira vez, durante sua
entrada triunfal em Jerusalém como seu Messias Rei (ver Mat. 21:4, 5).
Uma semana mais tarde Jesus anunciou que agora todas as suas ovelhas
As Profecias do Tempo do Fim 127
seriam dispersas, como havia predito Zacarias (ver Mat. 26:31). Zacarias
predisse que Jerusalém rechaçaria e "transpassaria" a seu Messias:
"E olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem
pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora
amargamente pelo primogênito" (Zac. 12:10).
Jesus recalcou que as doze tribos de Israel "se lamentariam" (Zac.
12:12-14). Este pranto nacional incluso ainda não se realizou na nação
judaica. Apocalipse 1 faz esta aplicação ampliada:
"Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o
traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele.
Certamente. Amém!" (Apoc. 1:7).
Isto significa que todos os povos da terra se lamentarão com
desespero quando vier pela segunda vez, "por causa dele". O Apocalipse
desenvolve esta cena com mais dramatismo em suas visões seguintes
(ver 6:15-17; 14:14-20; 19:11-21). A importância deste ponto culminante
no Apocalipse fica sublinhado pelas palavras proféticas de Jesus no
Evangelho de Mateus:
"Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos
da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do
céu, com poder e muita glória" (Mat. 24:30).

Porque "todo olho" o verá e "todas as tribos" ou povos da terra farão


lamentação por ele; ninguém que rechace a Cristo na geração final será
capaz de esconder-se deste glorioso Rei-Juiz no último dia.

Resumo

Sintetizando os descobrimentos desta investigação, o Apocalipse


revela duas chaves específicas de interpretação para decifrar seus
conceitos simbólicos:
A primeira chave é que seu simbolismo está copiado do Testamento
mais antigo, a Bíblia Hebraica. Isto mantém a continuidade do Deus do
pacto com seu verdadeiro Israel. A palavra de Deus não foi anulada
As Profecias do Tempo do Fim 128
devido à rebelião de Israel. O Messias de Deus apareceu em Israel e
cumpriu sua missão (ver Mar. 10:45 e João 19:30).
A segunda chave é a verdade evangélica que se encontra nos quatro
Evangelhos do Novo Testamento: o crucificado e ressuscitado Jesus de
Nazaré é o Messias da profecia. Isto significa que todos os termos e as
imagens do antigo pacto estão agora refundidas na linguagem figurada
do novo pacto que está centrado em Cristo. Um erudito católico romano
ficou tão impressionado pela "releitura cristã do Antigo Testamento"
feita por João, que concluiu: "Agora perece que este uso deliberado do
Antigo Testamento que faz o autor do Apocalipse deveria estudar-se
mais cuidadosamente do que foi estudado até agora".1
Devem estudar-se múltiplas conexões do Apocalipse com o Antigo
Testamento, não para mostrar a maneira como João engenhosamente
adaptou os símbolos e as profecias hebraicas, a não ser para entender de
que maneira o Deus de Israel consumará suas promessas que fez no
antigo pacto por meio de Cristo e seu povo do novo pacto.

Referência

1. André Feuillet, The Apocalypse [O Apocalipse] (Staten Island,


Nova York: Alvorada House, 1965; da ed. francesa [Paris: Desclée
deo Brouwer, 1962]), p. 79.
As Profecias do Tempo do Fim 129
A COMPOSIÇÃO LITERÁRIA DO APOCALIPSE

O Apocalipse contém um plano arquitetônico detalhado em sua


estrutura literária que até recentemente foi passado por cima. Um erudito
moderno declara que "a chave para entender uma obra é sua forma
literária".1 Enquanto que o Apocalipse é apreciado como uma obra de
poesia e é considerado como um poema artisticamente engenhoso, João
não compôs seu livro por amor à arte. O propósito foi "sublinhar os
diferentes aspectos da mensagem teológica do livro". 2 Isto implica que o
plano literário é uma parte essencial do ensino de João. Até C. Mervyn
Maxwell conclui dizendo que o desenho simétrico do Apocalipse
proporciona "uma das chaves mais valiosas para abrir o significado do
livro".3
A correlação da forma literária e o conteúdo teológico requer que o
leitor preste atenção cuidadosa à estrutura do livro. Revela algumas
pautas inerentes para interpretar o Apocalipse. O Apocalipse de João está
construído de acordo com o modelo de um paralelismo inverso,
comparável aos braços correspondentes de um candelabro ou menorá, no
qual os braços da parte esquerda são paralelos aos da direita. Este
modelo simétrico divide o Apocalipse em duas divisões principais,
sugiriendo um tema duplo no livro: a presença continuada de Cristo e
sua gloriosa segunda vinda (Apoc. 1:7, 8, 17, 18; 22:12, 13). Conclui
Kenneth Strand dizendo que:
"A primeira parte maior do livro (caps. 1-14) trata com a era na qual o
Alfa e o Ômega é o protetor e sustentador de seu povo apesar das provas e
perseguições que possam surgir em seu caminho. A segunda parte maior do
livro, começando com o capítulo 15, trata com os juízos escatológicos que
se agrupam e se centram na consumação da era: a segunda vinda de
Cristo".4
O Apocalipse pode dividir-se de uma maneira diferente se se
aplicarem outros pontos de vista que não sejam o do fim do tempo de
graça. A gente pode ver as visões do tempo do fim começando já no
As Profecias do Tempo do Fim 130
capítulo 10, com referência à chamada final do céu para ter um povo que
pode subsistir firme contra o império anticristiano. Mas é um fato
ineludível que o livro está arrumado em duas grandes divisões que se
correspondem mutuamente. Vamos vê-lo em cinco aspectos bem
marcados:
1. A primeira indicação deste modelo literário é a natureza paralela
do prólogo (Apoc. 1:1-8) e do epílogo (22:6-21). Em ambas as seções se
fala de um anjo enviado por Deus para mostrar a seus servos "as coisas
que devem acontecer logo" (1:1 e 22:6). Ambas as partes contêm a
mesma bem-aventurança para os que ouvem a profecia de João (1:3 e
22:7). Além disso, Apocalipse 1:2 explica que o livro contém "a palavra
de Deus e o testemunho de Jesus Cristo", e o epílogo conclui: "Eu Jesus,
enviei meu anjo para lhes dar testemunho destas coisas nas igrejas"
(22:16). Ambas as seções mencionam o tema dominante da volta de
Cristo (1:7 e 22:7, 12, 20). As duas vezes lêem que "o tempo está perto"
(1:3 e 22:10). No prólogo, Deus é chamado o Alfa e o Ômega (1:8),
enquanto que o epílogo descreve a Cristo como o Alfa e o Ômega
(22:13). Além de tudo isto, ambas as seções mencionam o Espírito como
parte da Deidade (1:4, 5 e 22:6, 9, 16, 17).
Estas correspondências revelam que o prólogo e o epílogo formam
um modelo deliberado de complementos ou paralelos. Esta é a indicação
inicial de um paralelismo intencional dentro do Apocalipse.
2. O segundo conjunto de contrapartes surpreendentes se encontra
nos capítulos 2, 3, 21 e 22 do livro. As sete cartas que aparecem em
Apocalipse 2 e 3 contêm promessas específicas para a igreja militante.
Estas promessas retornam em Apocalipse 21 e 22 como sendo cumpridas
na visão que João teve da Nova Jerusalém no paraíso restaurado. Por
exemplo, Cristo promete a "árvore da vida" no paraíso (2:7), enquanto
que Apocalipse 22:2 mostra seu cumprimento. A promessa de "não
sofrer dano da segunda morte" (2:11), cumpre-se em Apocalipse 20:6, 14
e 21:4, 8. A promessa de receber a "estrela da manhã" (2:28) aparece em
Apocalipse 22:16 como cumprida em Cristo. O "livro da vida" (3:5)
As Profecias do Tempo do Fim 131
reaparece em Apocalipse 21:27 como o livro da vida do Cordeiro. A
promessa de chegar a ser "coluna no templo de Deus" com a inscrição
dos nomes de Deus e de Cristo e da Nova Jerusalém (3:12), realiza-se
em Apocalipse 21:7, 10, 22 e 22:4. A promessa de ter um lugar com
Cristo em seu trono (3:21) vê-se cumprida em Apocalipse 20:4 e 22:3-5.
Estas promessas à igreja nos capítulos 2 e 3 do livro reaparecem em
Apocalipse 21 e 22 como promessas cumpridas na igreja triunfante.
Estas correspondências intencionais mostram que para ter a
compreensão total de uma parte se requer a integração de seu contraparte
ou complemento. Portanto, as sete cartas de Cristo em Apocalipse 2 e 3
não podem divorciar-se legitimamente do resto do livro. Essas cartas
tratam com a igreja militante, enquanto que Apocalipse 21 e 22 nos
asseguram de sua chegada a salvo à Nova Jerusalém. Todas as partes da
primeira divisão do livro (caps. 1-14) antecipam a segunda visão. Como
se mencionou na introdução, há uma progressão sensível de tempo entre
as duas divisões principais do Apocalipse.
3. O terceiro paralelismo principal pode observar-se entre as visões
do trono de Apocalipse 4 aos 6 e 19 e 20. Ambas as seções começam
com um céu aberto no qual 24 anciões e 4 seres viventes adoram a Deus
sentado em seu trono (ver 4:1, 4, 9; 5:13, 14; 19:1, 4). Ambas as
unidades descrevem a um cavaleiro sobre um cavalo branco; explicam
assim reciprocamente o começo e a terminação da missão evangélica
(6:2; 19:11), e descrevem graficamente o progresso no tempo, cuja
dimensão está descrita com grandiosidade por meio das almas dos
mártires nos capítulos 6, 19 e 20.
Durante o quinto selo, João ouve que os mártires clamam: "Até
quando, Senhor, santo e verdadeiro, não julgas e vingas nosso sangue
nos que moram na terra?" (6:10). Em Apocalipse 19 escuta o canto de
vitória: "Aleluia!... porque teus juízos [os de Deus] são verdadeiros e
justos... vingou o sangue de seus servos da mão dela [a grande meretriz]"
(vs. 1, 2). Apocalipse 20:4 mostra a vindicação dos mártires. Esta é uma
evidência adicional da progressão contínua da história da salvação entre
As Profecias do Tempo do Fim 132
Apocalipse 4 a 6 e 19 e 20. A justiça que se solicita em Apocalipse 6
chega a ser a que se outorga em Apocalipse 19 e 20.
4. Pode detectar um quarto paralelismo simétrico nas duas séries
que falam de juízo: a seqüência das sete trombetas nos capítulos 8 e 9
mostra correspondências surpreendentes com a seqüência das sete taças
(ou pragas) em Apocalipse 16. Ambas as séries proféticas descrevem
juízos de Deus e usam símbolos idênticos. Ambas as seções adotam o
motivo do êxodo hebreu com suas pragas-juízos que revelam a
majestade do Deus de Israel. Entretanto, chega a ser patente que as
pragas de Apocalipse 16 são mais intensas e extensas que as pragas das
trombetas, que afetam só uma terça parte do mundo.
As taças com as pragas representam os juízos finais de Deus sobre a
última geração de um mundo rebelde. Seu cenário é depois que terminou
o tempo de graça (Apoc. 15:7, 8). Isto confirma a composição literária
do livro no qual as trombetas estão colocadas na parte histórica,
enquanto que as taças com as 7 pragas últimas estão estritamente na
divisão do juízo final. A progressão clara de tempo que se dá a entender
entre os juízos das trombetas e das pragas mostra o caráter
misericordioso de Deus, que é "tardio para a ira" (Êxo. 34:6), no
aumento gradual da intensidade dos juízos. As trombetas de Apocalipse
8 e 9 formam os tipos de admoestação durante a era cristã, dos juízos
sem misericórdia nas últimas pragas de Apocalipse 16, que se
derramarão ao fim da história.
5. Finalmente, a visão profética de Apocalipse 12 mostra alguns
paralelos chamativos com os últimass sobre Babilônia que aparecem no
capítulo 17. Ambas as visões descrevem uma "mulher" simbólica (12:1;
17:1) e uma besta de 7 cabeças e 10 chifres (13:1; 17:3). Uma vez mais
notamos o avanço no tempo nestas seqüências proféticas. As "coroas" do
dragão mudam das 7 cabeças aos 10 chifres entre Apocalipse 12 e 13.
Em Apocalipse 17:10 ouvimos que 5 dos 7 poderes ímpios "caíram, um
existe, e o outro ainda não chegou". Desta maneira se declara
enfaticamente o desenvolvimento no tempo.
As Profecias do Tempo do Fim 133
A linha de demarcação entre a era histórica e o juízo apocalíptico
pode ver-se no fim de Apocalipse 14. O capítulo 15 começa com o
anúncio da terminação da mediação celestial no templo de Deus. Por
conseguinte, Apocalipse 1-14 abrange a era cristã por meio de vários
ciclos progressivos de seqüências proféticas.
Entender-se-á melhor cada seqüência profética no Apocalipse se se
levar em conta seu complemento correspondente na outra divisão do
livro. Por exemplo, o significado do misterioso capítulo 17 (com seu
juízo sobre a besta com 7 cabeças) pode entender-se adequadamente só
na perspectiva do cumprimento gradual de Apocalipse 12 e 13, onde esta
besta aparece descrita em seu surgimento histórico e desenvolvimento
como o anticristo.
Estes exemplos de correspondência literária entre as duas divisões
principais do Apocalipse implicam um princípio inerente de
interpretação: Cada unidade profética deve relacionar-se com sua própria
divisão e tema teológico, já seja com a era histórica da igreja (Apoc. 1-
14) ou com o juízo futuro, depois que tenha terminado o tempo de graça
(Apoc. 15-22). A progressão entre as duas divisões nos leva a interpretar
as trombetas e os selos como seqüências proféticas que cobrem a história
da igreja, enquanto que as pragas se descrevem como juízos específicos
do tempo do fim. Podem encontrar-se ocasionalmente algumas
exortações morais dentro da divisão onde aparece o juízo (17:9-12;
16:15; 18:1, 4; 20:6; 19:9). Isto coloca ao milênio de Apocalipse 20 na
era futura, depois que terminar o tempo de graça (cap. 15).
Entender toda a intenção da profecia e do cumprimento requer uma
relação cuidadosa das partes correspondentes em ambas as divisões. Este
procedimento segue o plano arquitetônico do Apocalipse. Desse modo,
ao vincular a teologia e a composição, o Apocalipse revela a chave para
sua compreensão. Portanto, não é válido isolar do arranjo total do livro
qualquer versículo ou seção.
As Profecias do Tempo do Fim 134
Análise Estrutural

Muitos expositores apresentaram um esboço detalhado da estrutura


do livro. Dividem o livro em 5, 6 ou 7 séries de visões. Alguns dividem
cada uma destas ulteriormente em 7 unidades ou septenários, segundo o
exemplo das 7 igrejas, os 7 selos, as 7 trombetas e as 7 pragas. Merril C.
Tenney e outros distinguem dentro das séries independentes de
Apocalipse 12 a 14, 7 personagens simbólicos (a mulher, o dragão, o
menino, Miguel, a besta do mar, a besta da terra, o cordeiro) e dentro de
Apocalipse 21 e 22, 7 "coisas novas".
Entretanto, parece melhor concentrar-se no significado dos
explícitos septenários que apresenta João das igrejas (caps. 2 e 3), os
selos (cap. 6), as trombetas (caps. 8 e 9) e as pragas (cap. 16). Cada série
de setes contém uma seqüência completa que lhe é própria. Entretanto,
em forma notável, depois do sexto selo, depois da sexta trombeta e
depois da sexta praga, há um intervalo especial com uma visão
concentrada, que trata de explicar com mais detalhe os eventos
precedentes em cada série, com assuntos pastorais para o povo de Deus
do tempo do fim.
Maxwell denomina a estes parêntese nas visões: "… cenas de
obrigações ou encargos para o tempo do fim, e de segurança".5 Estes
intervalos pastorais pertencem às visões mais significativas e
consoladoras de Apocalipse (Apoc. 7; 10, 11; 16:15). Estas passagens do
tempo do fim requerem nossa atenção especial.
Os 3 últimos septenários terminam com a dramática vinda de Cristo
em juízo (6:12-17) ou com os sinais de sua guerra santa contra os ímpios
(11:19; 16:17-21). Estas terminações apocalípticas de cada cadeia
indicam que as 3 séries não são 3 seqüências cronológicas, que cada uma
segue à outra. Pelo contrário, repetem a mesma seqüência histórica vista
sob perspectivas diferentes. Cada vez o septenário seguinte intensifica o
foco sobre os eventos finais, como em uma escada em caracol. Isto cria
uma urgência cada vez maior no Apocalipse. Como explicou Robert H.
As Profecias do Tempo do Fim 135
Mounce: "Cada nova visão, intensifica a realização do juízo vindouro.
Assim como uma tormenta que se arma no mar, cada nova crista da onda
conduz a história mais perto de seu destino final". 6 Precisamos
reconhecer o estilo literário de recapitulação no Apocalipse. O princípio
de repetição e ampliação já está presente nos esboços proféticos de
Daniel (Dan. 2, 7, 8, 11 ). Dessa forma, o estilo de recapitulação e
intensificação que usa João, adotou-o do estilo literário do livro
apocalíptico de Daniel.
Tanto no prólogo (Apoc. 1:2) como no epílogo (22:6), João anuncia
que o tema do Apocalipse é: "As coisas que logo devem acontecer". Isto
é tomado diretamente do livro de Daniel (Dan. 2:28, 29, 45, nas versões
gregas), com a exceção do termo "logo" ou "breve" que agora é
acrescentado pelo próprio João. O livro do Daniel também serve como
modelo para o tema teológico de João: o grande conflito entre Cristo e
sua igreja por um lado, e Satanás e os poderes de seu anticristo pelo
outro. Assim como Daniel, a ênfase de João está sobre o resultado do
conflito, o juízo universal-cósmico e a ulterior restauração do reino de
Deus na terra. Como assinalou George K. Beale, "a idéia de um juízo
cósmico, escatológico, não é um tema principal de nenhum dos livros do
Antigo Testamento exceto no de Daniel".7
Pode-se inferir que o Apocalipse representa o desenvolvimento
cristocéntrico das profecias do Daniel. André Feuillet até chamou o
Apocalipse "o livro do Daniel do cristianismo".8 As repetidas alusões a
Daniel 2 neste livro, sugerem que o Apocalipse de João tem o propósito
de ser a continuação e o desenvolvimento ulterior das profecias de
Daniel.
Observamos que os ciclos proféticos dos selos (Apoc. 4-7), das
trombetas (caps. 8-11) e das pragas (caps. 15 e 16) rodeiam a parte
central do livro, que se encontra nos capítulos 12 a 14. Esta unidade,
dentro de si mesmo, descreve o desenvolvimento principal da história da
igreja. Começa com o primeiro advento de Cristo durante o Império
Romano (12:1-5), continua com a igreja no deserto por 1.260 dias
As Profecias do Tempo do Fim 136
proféticos ou 3 ½ tempos proféticos (12:6, 14) e finaliza com a igreja
remanescente do tempo do fim (12:17). Apocalipse 13 desenvolve o
tema do anticristo e seu falso profeta. Apocalipse 14 revela o ultimato de
Deus para um mundo que está unido em uma rebelião contra Deus. Esta
chamada final para a restauração da verdadeira adoração produz um
povo de Deus fiel antes que chegue o juízo (ver 14:6-12). Dessa forma, o
tema da igreja como a comunidade da salvação nos últimos dias não só
se acha no começo e no fim do livro, mas sim também constitui o núcleo
do Apocalipse.
Este arranjo literário confirma a convicção de que o Apocalipse não
contém simplesmente 7 cartas a 7 igrejas (caps. 2 e 3). Todo o
Apocalipse como um tudo indivisível está dirigido como uma carta
profética apostólica à igreja universal. Através do arranjo simétrico do
livro, João enfatiza que a comunidade cristã é o ponto focal do
Apocalipse. Todos os termos e as imagens simbólicas devem relacionar-
se com Cristo e com seu povo como o verdadeiro Israel de Deus.
Nos capítulos restantes do livro, João usa o estilo de um paralelismo
contrastante entre Babilônia como "a grande meretriz" (17:1) e a Nova
Jerusalém como "a esposa do Cordeiro" (21:9), e por essa razão ensina a
relação destas duas seções finais (17:1-19:10 e 19:11-22:5). Juntas
descrevem dramaticamente o duplo tema de retribuição e recompensa. O
fato de que ambas as cenas – a queda de Babilônia e o triunfo da Nova
Jerusalém – seja introduzida pelo próprio anjo das pragas (cap. 16; ver
17:1; 21:9), sugere que toda a seção de Apocalipse 17-22 é o
desenvolvimento ulterior da dupla colheita do mundo que se apresenta
em Apocalipse 14:14-20. Permanecemos admirados ante a engenhosa
concepção do Apocalipse de João e o aceitamos como a habilidade
artística da inspiração divina. Concordamos com C. Mervyn Maxwell
quando afirma que...
"… o Apocalipse é um livro que põe de manifesto uma arte interior
inspirada por Deus e escrito com amante e inteligente devoção. Inclusive a
As Profecias do Tempo do Fim 137
forma em que Deus e São João nos fizeram chegar, confirma nossa
convicção de que o Senhor se preocupa conosco porque nos ama". 9

Esboços Simétricos

O esboço mais singelo do Apocalipse que mostra a composição


literária de um paralelismo inverso é o seguinte acerto:
A. A igreja militante Caps. 1-3
B. Cristo começa a guerra Caps. 4:1-8:1
C. Chamado de trombeta para arrepender-se Caps. 8:2-11:19
D. Panorama da era cristã Caps. 12-14
1
C . Termina o tempo de prova: juízos retributivos Caps. 15 e 16
1
B . Cristo termina a guerra Caps. 17-20
A1. A igreja triunfante Caps. 21 e 22
Um esboço mais detalhado da composição literária do Apocalipse é
apresentado por Elisabeth Schüssler Fiorenza da seguinte maneira:10
A. Prólogo, 1:1-8
B. A comunidade sob juízo, 1:9-3:22 (7 mensagens)
C. O reino de Deus e de Cristo, 4:1-9:21; 11:14-19 (7 selos e 7
trombetas)
D. A comunidade e seus opressores, 10:1-11:13; 12:1-15:4
A comissão profética, 10:1-11:13
Inimigos da comunidade, 12:1-14:5
Colheitas escatológicas, 14:6-20; 15:2-4.
1.
C O juízo de Babilônia / Roma, 15:1, 5-19:10
As sete pragas, 15:5-16:21
Roma e seu poder, 17:1-18
Juízo sobre Roma, 18:1-19:10
1
B . O juízo final e a salvação, 19:11-22:9
A1. Epílogo, 22:10-21.
As Profecias do Tempo do Fim 138
O esboço mais detalhado da estrutura quiástica do Apocalipse é
apresentado por Kenneth A. Strand em seu estudo: "The Eight Basic
Visions" [As oito visões básicas]. Também coloca Apocalipse 11:19 a
14:20 como a cúpula das visões históricas.11
Em todos os esboços, a mensagem básica do livro se destaca
claramente no centro: Apocalipse 12-14 (ampliado pelo parêntese do
Apoc. 10 e 11). Esta parte principal do livro enfoca a igreja do Senhor
Jesus como a comunidade adoradora durante a era cristã. Dentro desta
estrutura, o farol de luz da profecia muda da igreja apostólica à igreja no
deserto e finalmente se estende à comunidade remanescente no tempo do
fim (caps. 12-14).
Não se pode fazer um estudo responsável pelas profecias do tempo
do fim se se divorciarem algumas porções seletas da Escritura de seus
contextos inalienáveis. O Apocalipse reiteradamente dirige seu feixe de
luz sobre a conclusão dos ciclos proféticos dos selos e das trombetas, de
maneira que é necessária a perspectiva de cada ciclo para entender uma
visão específica do tempo do fim e sua mensagem de consolo.
Isto é o mais imperioso já que os apóstolos aplicam as profecias do
tempo do fim do Antigo Testamento a todo o período entre os adventos
de Cristo e não meramente a algum segmento específico da história da
salvação. Por exemplo, tanto Pedro como Paulo vêem a profecia do
tempo do fim de Joel 2:32 como já em processo de cumprimento na
igreja apostólica e em seu alcance missionário mundial do Pentecostes
(ver Hech. 2:16-21; Rom. 10:9-13). Mas o Apocalipse de João aplica
Joel 2:32 em sua consumação final à última geração dos seguidores de
Cristo (ver Apoc. 7 e 14:1-5; 17:12-14; 18:1-4; 19:11-21). Este modelo
de cumprimentos do Novo Testamento aponta à dinâmica de um
cumprimento progressivo das profecias do Israel do tempo do fim. O
Apocalipse constitui a pedra fundamental de todas as revelações
proféticas desde Moisés. As dimensões apocalípticas de todos os outros
livros da Bíblia encontram sua consumação no Apocalipse de João.
As Profecias do Tempo do Fim 139
Referências
Para a Bibliografia, ver na página 140.

1. A. Y. Collins, The Apocalypse. New Testament Message, t. 22, p. x.


2. K. A. Strand, "The Eight Basic Visions" [As Oito Visões
Básicas], Simpósio sobre o Apocalipse. t. 1, p. 35.
3. Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, 54.
4. Strand, Simpósio sobre o Apocalipse. t. 1, p. 30.
5. Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 61.
6. Mounce, The Book of Revelation, p. 46.
7. Beale, The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic Literature and in
the Revelation of St. John, p. 414.
8. Feuillet, The Apocalypse, p. 65.
9. Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 62.
10. Schüssler Fiorenza, Apêndice.
11. Strand, "The Eight Basic Visions" [As Oito Visões Básicas],
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, pp. 36, 37.
As Profecias do Tempo do Fim 140
FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO XI

Livros
Collins, Adela Y. The Apocalypse. New Testament Message [O
Apocalipse. Mensagem do Novo Testamento]. Wilmington,
Michael Glazier, 1979.
Feuillet, André The Apocalypse [O Apocalipse] (Staten Island, Nova
York: Alvorada House, 1965; da ed. francesa [Paris: Desclée de
Brouwer, 1962]).
Maxwell, Mervyn. Apocalipsis: sus revelaciones (Florida, Buenos
Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 1991).
Mounce, Robert H. The Book of Revelation [O livro do Apocalipse].
The New International Commentary on the New Testament [O
novo comentário internacional sobre o Novo Testamento]. Grand
Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977.
Schüssler Fiorenza, Elisabeth. Invitation to the Book of Revelation
[Convite ao livro do Apocalipse]. Garden City, Nova York:
Doubleday 1986.
Tenney, Merril C. Interpreting Revelation [Interpretando o
Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1973.

Artigos

Beale, George K. "The Influence of Daniel upon the Structure and


Theology of John's Apocalypse" [A influência de Daniel sobre a
estrutura e a teologia do Apocalipse de João], JETS 27 (1984), pp.
413-423.
Strand, Kenneth A. "The Eight Basic Visions" [As Oito Visões
Básicas], Simpósio sobre o Apocalipse. t. 1, cap. 2.
As Profecias do Tempo do Fim 141
A VISÃO DO TRONO DO CRIADOR
Apocalipse 4

O Cristo ressuscitado chama agora a João para que suba no Espírito


para ter uma nova visão e um olhar dentro do céu (Apoc. 4:1). O Espírito
lhe permite ver através de "uma porta aberta" na sala do trono do Todo-
poderoso. Tal privilégio foi concedido só a poucos servos de Deus, tais
como Miquéias (1 Reis 22:19-22), Isaías, Ezequiel e Daniel. Enquanto
Isaías estava adorando no templo de Jerusalém tinha visto Deus sentado
em um trono no céu, rodeado por serafins e anjos. Esses guardiões do
trono estavam louvando a Deus cantando: "Santo, santo, santo, Jeová
dos exércitos; toda a terra está cheia de sua glória" (Isa. 6:3).
Enquanto estava cativo em Babilônia, também foi permitido ao
profeta e sacerdote Ezequiel ver os céus abertos. Conta que viu a
semelhança de 4 criaturas viventes sustentando o trono de Deus. Esses
seres levavam o trono semelhante a uma carruagem para Jerusalém para
convocar a cidade apóstata diante do divino Juiz. Descreve os 4 seres
como tendo 4 asas e 4 rostos que se pareciam com os rostos de um
homem, um leão, um boi e uma águia (Ezeq. 1:5, 6, 10). Sobre as
cabeças dos 4 portadores do trono, Ezequiel viu "uma expansão a
maneira de cristal maravilhoso" (v. 22) e ainda por cima daquele
firmamento, "a figura de um trono" com alguém sentado sobre ele que
tinha "a forma de homem" (v. 26). Ao redor do trono viu um arco íris (v.
28). O impacto dessa visão do trono foi tão entristecedora que Ezequiel
diz que ao contemplá-la "caí com o rosto em terra" (v. 28, NBE).
Quando João estando em Patmos descreve sua visão do trono, usa
palavras que fundem as duas visões anteriores de Isaías e Ezequiel.
Embora contemple a majestade do Deus de Israel, só descreve a Deus
por sua aparência de brilho que resplandecia como o "jaspe" e a
vermelha "cornalina" [BJ]. Além disso, vê um halo em forma de um
arco-íris, semelhante em aspecto à esmeralda, ao redor do trono (Apoc.
4:3), como se queria significar que a graça divina rodeia a justiça
As Profecias do Tempo do Fim 142
onipotente. João também vê 4 criaturas viventes ao redor do trono que se
parecem com os que Ezequiel havia descrito (vs. 6, 7). Entretanto, João
os combina com os serafins da visão de Isaías, porque diz que cada ser
tinha 6 asas em vez de 4 (Apoc. 4:9) e tinha um rosto em vez de 4 (ver
Ezeq. 1:6). Também diz que os seres estavam "cheios de olhos pela
frente e por trás" (Apoc. 4:6), um detalhe tirado das rodas do trono de
Deus que aparece no Ezequiel 1:18. O Apocalipse mostra uma fluidez
com o simbolismo hebreu que desafia nossa exigência de exatidão
fotográfica.
Uma característica importante na visão que João teve do trono, que
não se vê nos profetas anteriores nem nas visões apocalípticas judaicas, é
a de 24 pequenos tronos ao redor do trono de Deus sobre os quais estão
sentados 24 anciões [presbúteros] "vestidos de roupas brancas, com
coroas de ouro em suas cabeças" (Apoc. 4:4). Estes anciões, que se
mencionam 12 vezes no Apocalipse (4:4, 10; 5:8, 11, 14; 7:11-13; 11:16;
14:3; 19:4), são aparentemente o cumprimento da predição apocalíptica
de Isaías, de que Jeová manifestaria seu reino glorioso "diante de seus
anciões" (Isa. 24:23).
Com freqüência o número 24 se entendeu como a soma de 12 e 12,
sugerindo 12 representantes de Israel e da igreja respectivamente, mas
seria arbitrário partir o grupo de anciões em duas unidades. Jesus havia
dito que seus apóstolos se sentariam "em tronos para julgar as doze
tribos de Israel" (Luc. 22:30; Mat. 19:28). João vê seu cumprimento em
sua visão do milênio em Apocalipse 20:4. Entretanto, as visões do trono
com os anciões em Apocalipse 4 e 5 têm o propósito de descrever uma
atividade celestial nos dias de João. Isso significa que João mesmo não
pode ser um dos 24 anciões que estão no céu. Além disso, os 24 anciões
não se desempenham como juizes, mas sim como sacerdotes reais que
adoram a Deus com cânticos de louvor e lançam suas coroas diante do
trono (Apoc. 4:10), têm harpas em suas mãos e apresentam a Deus as
orações de seu povo em suas taças de ouro cheias de incenso (5:8).
As Profecias do Tempo do Fim 143
No Israel da antiguidade ficaram à parte 24 ordens sacerdotais da
tribo do Levi para atender a ordem do culto sagrado e também 24 ordens
para o ministério de profetizar, com o acompanhamento de liras, harpas e
címbalos (1 Crôn. 24:3, 4; 25:1, 6, 9-31). Isto indica que João viu no céu
os representantes do povo de Deus do velho pacto.
No Apocalipse se faz uma distinção entre os "anciões" e os anjos de
Deus (Apoc. 5:11; 7:11 ) e constitui um grupo novo e sem par ante o
trono de Deus. Formam um característico importante da visão do
capítulo 4. Podem ver-se como homens glorificados que saíram
vitoriosos sobre o pecado e a tentação. Todos morreram como
vencedores. Têm três características que cumprem as promessas de
Cristo aos fiéis em Apocalipse 2 e 3: os tronos, os vestidos brancas e as
coroas [stéfanos] de vitória (ver 3:5, 11, 21). L. W. Furtado comenta:
"Estando [Apoc. 4] precisamente depois destas promessas [de Apoc. 3],
a visão dos 24 anciões parece ser a segurança da realidade celestial das
promessas".1 Que os anciões estejam sentados sobre tronos que rodeiam
o trono de Deus, é de grande significado:
"A estes personagens lhes dá uma posição e honra que nega aos anjos
mais elevados, até às criaturas viventes; mas sua condição e honra
correspondem perfeitamente às promessas feitas precisamente um
pouquinho antes no Apocalipse aos escolhidos".2
Assim podem ser identificados com os santos gloriosos que foram
levantados dos mortos pouco depois da própria ressurreição de Jesus (ver
Mat. 27:52, 53; Ef. 4:8). Ellen White o explica assim: "Aqueles
favorecidos santos ressurgidos saíram glorificados. Eram escolhidos e
santos de todos os tempos, desde a criação até os dias de Cristo... Davam
testemunho de que fora pelo Seu grande poder que tinham sido
chamados de suas sepulturas".3 "Ascenderam com Ele, como troféus de
Sua vitória sobre a morte e o sepulcro".4 A presença dos anciões no céu
expressa a convicção de que de fato tinha tido lugar a exaltação de
Cristo.
As Profecias do Tempo do Fim 144
Como assistentes sacerdotais de Cristo, representam o Israel
espiritual e confirmam a realidade gloriosa da esperança de Israel no
reino messiânico de Deus. Um dos anciões assegura a João em termos
hebreus que o "Leão da tribo do Judá, a raiz do Davi, venceu" (Apoc.
5:5). Seu ministério na sala do trono de Deus é uma segurança para que
as igrejas permaneçam fiéis até o fim. Sobre isto comenta Feuillet:
"A idéia de que os santos do Antigo Testamento estão presentes
durante todo o desenvolvimento da história, e que têm um vivo interesse no
destino dos cristãos, não é nada escasso de magnificência. Dificilmente se
pode ser mais eloqüente ao expressar a unidade interna que governa toda a
história da salvação e o elo essencial que une a ambos os testamentos".5

Além disso, João descreve a presença dinâmica do Espírito de Deus


ao declarar: "E, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os
sete Espíritos de Deus" (Apoc. 4:5; ver 1:4). O profeta Zacarias tinha
explicado as sete luzes sobre a menorá do templo como "os olhos do
Senhor, que se passeiam por toda a terra" (Zac. 4:10, NBE). Na visão do
trono de Apocalipse 5, João conecta este sétuplo Espírito com Cristo
como o Soberano de sua igreja (v. 6), ressaltado dessa maneira que o
Espírito é o Espírito de Cristo.

A Liturgia Celestial

Depois de João descrever o que viu no céu, começa a dizer o que


escutou: a adoração de Deus em uma liturgia celestial. Ouviu os cantos
antifonais de adoração dos diferentes coros. Os quatro seres angélicos ou
serafins dirigiam em uma doxologia jubilosa, derivada do canto de
adoração dos serafins do Isaías 6: "Santo, santo, santo é o Senhor Deus
Todo-poderoso, que era, que é, e que há de vir" (Apoc. 4:8).
O aspecto novo desta doxologia é o louvor acrescentado de Deus
como o Senhor da história: "que era, que é, e que há de vir". Esta
seqüência de passado, presente e futuro está formulada intencionalmente
As Profecias do Tempo do Fim 145
para distingui-la das descrições que aparecem em Apocalipse 1:4 e 8,
com o fim de proclamar a soberania de Deus na história, desde o começo
até o juízo final (ver Apoc. 21:5). Esta caracterização do Deus de Israel
garante o destino prometido da humanidade. O Criador não abandonará
as obras de suas mãos (Sal. 138:8). Sua "vinda" determina o futuro do
mundo. Deus nunca é simplesmente um espectador dos assuntos
humanos, mas sim está ativamente envolto em lhes dar forma. Os
serafins já louvam ao Deus Todo-poderoso porque é a fonte e a causa de
toda a realidade criada, especialmente, de seu povo eleito, o novo Israel
de Deus.
Todas as vezes que os serafins entoam sua doxologia de dar "glória,
honra e ações de graças" ao Soberano do universo, os 24 anciões
respondem prostrando-se ante a majestade que está sobre o trono.
Lançam suas coroas ante o trono e adoram a Deus com uma aclamação
significativa de louvor:
"Senhor, digno é de receber a glória e a honra e o poder; porque você
criou todas as coisas, e por sua vontade existem e foram criadas" (Apoc.
4:11 ).
Os anciões exaltam a dignidade de Deus, fundamentalmente porque
foi sua vontade planejar todas as coisas por sua sabedoria infinita (ver
Gên. 1), e produzir toda a realidade por seu poder criador. Esta fé
hebraica permaneceu como algo básico para a adoração de Deus na
igreja apostólica (ver At. 4:24; 14:15; 1 Ped. 4:19).
Merece uma atenção especial a forma em que os 24 anciões se
dirigem ao Criador, como "Senhor e nosso Deus" (Apoc. 4:11, NBE).
Assim como seus predecessores, o imperador Domiciano insistiu em que
todo mundo devia adorá-lo como o "Dominus et Deus noster" ("Senhor e
nosso Deus"). A adoração ao imperador ficou em vigor por meio do
sacerdócio pagão em um ritual anual na província romana da Ásia
Menor. Ao fazer frente a essa ameaça de totalitarismo, João anima a
igreja a permanecer firme (ver Apoc. 2:10).
As Profecias do Tempo do Fim 146
A descrição de um "arco-íris" ao redor do trono de Deus (Apoc.
4:2) expressa a fidelidade do Criador a suas promessas. Ele é Deus fiel,
que guarda o pacto (Deut. 7:9), o "fiel Criador" (1 Ped. 4:19). A visão do
trono celestial busca evocar nossa adoração de Deus em espírito e em
verdade de maneira que a igreja sobre a terra possa ser uma com a igreja
no céu. A visão de João do trono de Deus continua com a cena do
capítulo 5.

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 4 e 5 a encontrará nas páginas 153-154.

1 Hurtado, "Revelation 4-5 in the Light of Jewish Apocalyptic


Analogies", JSNT 25 (1985), p. 113.
2 Ibid.
3 Ellen White, PE 184.
4 Ellen White, DTN 786.
5 Feuillet, The Apocalypse, p. 211.
As Profecias do Tempo do Fim 147
A ENTRONIZAÇÃO DO CORDEIRO DE DEUS
Apocalipse 5

O propósito do Apocalipse de João é revelar as coisas que "devem


acontecer" (Apoc. 1:1, 19; 4:1). De modo surpreendente, o que João vê
agora em visão, não trata a respeito do que ia passar na terra e sim o que
estava acontecendo no céu! A razão para este notável ponto central de
atividade em Apocalipse 4 e 5 pode encontrar-se na revelação de que as
decisões na sala do trono celestial determinam o curso da história
humana, tal como o surgimento e a queda dos governos humanos, mas
acima de tudo, o destino final do mundo. Daniel tinha assinalado a
soberania de Deus sobre a humanidade: "Ele muda os tempos e as
idades; tira reis e põe reis" (Dan. 2:21; ver também 4:17; 5:18, 26-28).
Depois da devastação de Jerusalém, Jeremias assegurou aos judeus:
"Mas tu, Jeová, permanecerás para sempre; teu trono de geração em
geração" (Lam. 5:19). Jesus se submeteu ao poder brutal do governador
romano Pilatos, mas declarou: "Nenhuma autoridade teriam contra mim,
se não fosse dada de acima" (João 19:11).
Agora o Soberano no céu revela a João um esboço da era da igreja,
com ênfase especial sobre o resultado final como está determinado por
sua vontade soberana. Este futuro se centra em Cristo e em seu povo do
pacto, e se revela por meio da visão do "livro" de Apocalipse 5 a 7.
O livro divino [biblíon] em Apocalipse 5 está selado com 7 selos
que ninguém nem no céu nem na terra é digno de abrir. Isto é altamente
significativo. Nenhum ser criado, seja anjo ou santo, tem a dignidade de
Jesus exaltado. Só Cristo pode dar a conhecer os juízos de Deus, abrindo
os selos (Apoc. 6 e 7), e pelas visões seguintes e esclarecedoras do
Apocalipse. Dessa maneira Cristo dá sentido à história mundial. Ele
colocou a humanidade em direção a uma meta que Deus predeterminou
em sua sala do trono no céu. Por isso as visões do trono de João são
fundamentais para todo o livro. G. R. Beasley-Murray percebeu isto e
disse: "Neste particular, estes capítulos [Apoc. 4 e 5] constituem o fator
As Profecias do Tempo do Fim 148
fundamental da estrutura que mantém unido o livro, porque o resto das
visões são montadas nesta estrutura principal".1
A ênfase sobre o livro divino na mão direita de Deus amplia o foco
de Deus como o Criador em Apocalipse 4 para Deus como o Redentor de
sua criação. A visão do trono no capítulo 5 revela a maneira na qual
Deus "tem que vir" (Apoc. 4:8) na história da humanidade para cumprir
seu propósito. A Majestade sobre o trono tem em sua mão direita um
livro escrito em ambos os lados, e selado com 7 selos (5:1). Alguns
viram aqui uma similitude com o rolo do livro desdobrado que Ezequiel
recebeu de Deus, no qual estavam escritas por diante e por trás
"lamentos e lamentações e ais" (Ezeq. 2:9, 10). Outros vêem um paralelo
mais adequado com o rolo de Deuteronômio, o qual, como o livro do
pacto, devia dar-se a um recém-coroado rei em Israel (ver Deut. 17:18-
20; 2 Reis 11:12). Em sua tese, Ranko Stefanovic tira esta ampla
conclusão:
"Ao tomar o livro, a Cristo lhe encomendou a soberania do mundo (cf. 1
Ped. 3:22; Fil. 2:9-11); o livro significaria então a legítima transferência do
reino. Em tal contexto, também tem um caráter de testamento, e pode
chamar-se também o livro da herança de Cristo. Desde que a transferência
do reino se refere à recuperação da posse do direito que se perdeu pelo
pecado, o livro tem todas as características do livro da redenção ou a
escritura da venda. Ao tomar o livro, todo o destino da humanidade se
coloca nas mãos do Cristo entronizado; por isso é na verdade o livro
celestial do destino. Ele julgará sobre a base de seu conteúdo, por isso é o
livro de juízo".2
O conteúdo deste livro selado, descrevendo os juízos de Deus sobre
um mundo hostil, como aparece pelos capítulos que seguem, coloca-se
nas mãos do Senhor ressuscitado, o Cristo todo-poderoso e onisciente
(ver Apoc. 5:6). Apocalipse 5 assegura que por meio da vitória de Cristo
na terra, será restaurado o reino de Deus (ver Apoc. 21:5).
"Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão da
tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos.
Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos,
de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como
As Profecias do Tempo do Fim 149
sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra.
Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no
trono" (Apoc. 5:5-7).
Um dos santos glorificados no céu explica que as promessas de
Deus a Israel encontraram seu cumprimento no Senhor ressuscitado, e se
refere a três profecias essencialmente messiânicas e as combina em uma
proclamação de cumprimento: Gênese 49:9, 10; Isaías 11:1-10 e 53:7.
"Em nenhum outro lugar no Novo Testamento estão agrupados os termos
reais mais significativos em relação com Cristo e seu ministério posterior
a sua ressurreição assim como no sentar-se à direita sobre o trono do
Pai".3 Mas, por que Cristo Jesus foi o único considerado digno? Por que
o plano de Deus para a restauração de todas as coisas se faz depender da
dignidade moral do Messias davídico e de sua missão como o Cordeiro
de Deus (Apoc. 5:6)? W. C. Van Unnik explicou bem isto:
"Ele foi provado em seus sofrimentos e ganhou a vitória. A grandeza de
sua obra se descreve no v. 9: de todas as nações redimiu escravos e fez, a
estes que antes eram escravos de todos os povos, inclusive os pagãos (!),
ser o povo santo de Deus, sacerdotes e reis, a prerrogativa típica de Israel
(Êxo. 19:5 e seguintes)".4
João vê o Cristo crucificado e ressuscitado sendo exaltado e
entronizado na sala do trono celestial como o Soberano da história. A
transferência do livro selado do Pai a Cristo o faz Senhor sobre o
desenvolvimento da história do planeta, dado que sua tarefa é abrir os
selos do livro do destino do homem. Cristo começa a executar os
decretos para o mundo e a igreja. A história humana com seu juízo final
se coloca nas mãos do Senhor ressuscitado. Sem Cristo, a história do
mundo é um enigma e não tem finalidade. Portanto, todo o céu estala em
louvor quando Cristo é declarado digno de receber o livro divino do
destino.
"E, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro
anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e
taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos" (Apoc.
5:8).
As Profecias do Tempo do Fim 150
Em resposta à coroação de Cristo no céu, todos os serafins e os
anciões cantam com adoração um "novo cântico" ao Cordeiro de Deus:
"Cantavam um cântico novo: Tu mereces receber o rolo e soltar seus
selos, porque foste morto e com teu sangue adquiriste para Deus homens de
toda raça e língua, povo e nação; fizeste deles linhagem real e sacerdotes
para nosso Deus e serão reis na terra" (Apoc. 5:9, 10, NBE).
Este cântico é "novo" porque agora foi entronizado o Rei legítimo.
Seu triunfo sobre o pecado, Satanás e a morte sobre a terra é considerado
no céu como de importância decisiva (ver também Fil. 2:9-11). George
Ladd declara: "Se não tivesse vindo em humildade, como Salvador
sofredor, não teria vindo como Messias conquistador".5 Este cântico é
novo porque está apoiado no fato de que o Cordeiro foi morto, e
demonstrou ser digno de abrir os selos do livro como se fora seu próprio
testamento.
Em outro sentido, o cântico dos serafins e dos anciões é novo
porque está apoiado não só sobre acontecimentos passados, mas também
olha para o futuro da humanidade redimida: "E serão reis na terra"
(Apoc. 5:10). Isso significa que aos fiéis se outorgará o privilégio de
compartilhar o reino com Cristo (Luc. 22:29, 30; Apoc. 3:21). João vê o
coro celestial aumentando cada vez mais, até que milhões de anjos se
unem com sua doxologia de séptuple louvor ao Cordeiro: "Proclamando
em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e
riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor" (Apoc. 5:12; cf.
l Crôn. 29:11-13, para Jeová).
O coro continua aumentando até que finalmente João vê todas as
criaturas no céu, na terra e debaixo da terra (os mortos) somar suas vozes
aos coros celestiais na exaltação tanto do Pai como do Cordeiro: "Então,
ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e
sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo..." (Apoc. 5:13; ver
também Fil. 2:10, 11 ).
Aqui Cristo recebe o reconhecimento cósmico-universal de sua
deidade porque "toda criatura" adora a Deus e ao Cordeiro. Na visão de
As Profecias do Tempo do Fim 151
João, o círculo de adoradores foi em constante aumento. Primeiro, o
círculo íntimo dos 4 serafins, depois se acrescentaram os 24 anciões
seguidos pelos milhões de milhões de anjos. Finalmente, o círculo mais
exterior de todos os seres criados no universo se unem na adoração e
louvor da majestade de Deus. Este é o objetivo final para o qual avança a
história e que se cumprirá no fim.
O céu antecipa esta celebração do reino de Deus e do Cordeiro na
Nova Jerusalém (Apoc. 21:22-27; 22:1-5). Hoje a igreja pode tomar
fôlego com esta segurança. Seus melhores dias estão no futuro. O reino
de Deus será restaurado. Bruce M. Metzger faz esta aplicação: "O
propósito primitivo do autor não é tanto descrever a liturgia do céu,
como o é o dar esperança e um sentido de vitória a seu povo sobre a terra
na luta que lhe espera no futuro".6 Beasley-Murray assinala corretamente
que "o característico importante do rolo selado não são os juízos que
acompanham a abertura dos selos [Apoc. 6-9], e sim o acontecimento
supremo ao qual conduzem".7

A Abertura dos Selos

A visão do trono de Apocalipse 5 não descreve a cena do juízo de


Daniel 7, como alguns sustentam. As diferenças entre ambas as visões
são muito assinaladas. Primeiro, a intenção da visão do trono que teve
João é revelar o começo do ministério e reinado celestial de Cristo
devido a sua entronização como o Senhor ressuscitado, a iniciação de
uma nova era de salvação, a era messiânica.
A visão de Daniel descreve um juízo no céu que inaugura o
ministério final de Cristo quando o anticristo governou a terra durante
3½ tempos proféticos (Dan. 7:8-11, 25, 26). Jon Paulien declara: "O
juízo não tem lugar nos capítulos 4 e 5 quando os selos ainda têm que
ser abertos".8
Apocalipse 5 descreve o gozo de êxtase que há no céu pela
abnegação, ressurreição e entronização de Cristo como Rei-Sacerdote no
As Profecias do Tempo do Fim 152
céu, que o capacita a restaurar o reino de Deus sobre a terra. As ações de
Cristo de abrir os 7 selos do livro se parecem com o ritual da abertura de
um testamento, que na cultura romana estava fechado com 7 selos. 9
Quando se abria um testamento, lia-se em voz alta ante as testemunhas
originais e depois, executava-se. Th. Zahn declara:
"O documento assegurado com sete selos é um símbolo facilmente
compreendido da promessa e segurança dada por Deus a sua igreja do
futuro reino [basiléia]. Esta disposição irrevogável de seus bens ocorreu faz
muito tempo, foi documentada e selada, mas incluso no foi levada a cabo. A
herança ainda está guardada no céu (1 Ped. 1:4), e portanto o testamento
incluso no foi aberto nem levado a cabo".10
Esta comparação ilustra o significado da abertura do divino livro:
pode ler-se e realizar-se como um testamento por Cristo só depois de sua
morte como sacrifício. A abertura de um selo por Cristo revela uma nova
fase da história da igreja, até que o sexto selo apresente o terrível dia do
juízo para todos os que rechaçaram o reino do Cordeiro.

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 4 e 5 a encontrará na página 153.
1 Beasley-Murray, Revelation, p. 108.
2 Stefanovic, The Background and Meaning of the Sealed Book of
Revelation 5, p. 322.
3 Ibid., p. 318.
4 Van Unnik, " 'Worthy is the Lamb'. The Background of Apoc 5", p.
460.
5 Ladd, El Apocalipsis de Juan: Un comentario, p. 55.
6 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p.
54.
7 Beasley-Murray, Revelation, p. 123.
8 Paulien, em Simposio sobre el Apocalipsis, T. 1, P. 187.
9 Zahn, Introduction to the New Testament, t. 3, p. 394.
10 Ibid.
As Profecias do Tempo do Fim 153
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 4 E 5

Livros
Beasley-Murray George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century
Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século].
Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983.
Feuillet, André. Johannine Studies [Estudos Joaninos]. Staten Island,
Nova York: Alvorada House, 1966. Cap. I: "The Twenty-Four
Elders of the Apocalypse" [Os 24 Anciões do Apocalipse].
Ladd, George E. El Apocalipsis de Juan: Un comentario. Trad. A.
Canclini. Miami, Florida: Editorial Caribe, 1978.
Metzger, Bruce M. Breaking the Code. Understanding the Book of
Revelation [Decifrando o Código: Entendendo o Livro do
Apocalipse]. Nashville, TN: Abingdon Press, 1993.
Stefanovic, Ranko The Background and Meaning of the Sealed Book
of Revelation 5 [O Antecedente e o Significado do Livro Selado de
Apocalipse 5]. Tese doutoral inédita, Universidade Andrews.
Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1995.
White, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações.
___________. Primeiros Escritos. Tatuí, S. Paulo: Casa Publicadora
Brasileira.
Zahn, Th. Introduction to the New Testament [Introdução ao Novo
Testamento]. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, ET 1953. 3
ts.

Artigos
Hurtado, L. W. "Revelation 4-5 in the Light of Jewish Apocalyptic
Analogies" [Apocalipse 4 e 5 à Luz de Analogias Apocalípticas
Judaicas], JSNT 25 (1985), pp. 105-124.
Müller, H. P. "Die Himmlische Ratsversammlung.
Motivgeschichtliches zu Apc 5.1-5" [O concílio celestial.
Antecedente do motivo histórico de Apocalipse 5:1-5], Zeitschrift
As Profecias do Tempo do Fim 154
für die Neutestamentliche Wissenschaft [Revista para a Ciência do
Novo Testamento] 54 (1963), pp. 254-267.
Paulien, Jon. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os
Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio
sobre o Apocalipse. T. 1, cap. 10.
Van Unnik, W. C. " 'Worthy is the Lamb'. The Background of Apoc
5" ["Digno é o Cordeiro". O Antecedente de Apoc. 5], Mélanges
Bibliques [Miscelâneas Bíblicas]. Ensaios em honra de R. Béda
Rigaux. A. Descamps e R. A. do Hallaux, eds. Duculot, 1970, pp.
445-461.
As Profecias do Tempo do Fim 155
COMPREENDENDO OS SETE SELOS
Apocalipse 6

Os comentadores da Bíblia com freqüência equiparam a estrutura


paralela dos 7 selos em Apocalipse 6 com o discurso profético de Jesus
nos Evangelhos sinóticos. Beasley-Murray fala por muitos quando diz:
"Nenhuma passagem no Novo Testamento está mais intimamente
relacionado a este elemento [os selos] dentro do livro do Apocalipse que
o discurso escatológico dos Evangelhos, Marcos 13 e as passagens
paralelos (Mat. 24 e Luc. 21)".1 Colocando as duas seqüências proféticas
em forma paralela, elas mostram que os 7 selos apresentam as mesmas
características e a mesma ordem consecutiva do o discurso do Monte das
Oliveiras.

Marcos 13 (E PARALELOS) APOCALIPSE 6


1. Guerras v. 7. Mar. 24:6 Guerra v. 2
2. Luta internacional. V. 8; Mat. 24:7 Luta v. 4
3. Terremotos v. 8; Mat. 24:7 Fome vs. 5.6
4. Fomes v. 8; Mat. 24:7 Pestilência v. 8
5. Perseguição vs. 9,10; Mat. 24:9 Perseguições vs. 9,10
6. Pregação do Tempo de
evangelho vs. 10,13; Mat. 24:14 Espera v. 11
7. Eclipses, queda Eclipses, queda
de estrelas vs. 24,25; Mat. 24:29 de estrelas vs. 12,13
8. Temor pela vinda v. 19; Luc. 21:25,26; Temor pela ira
de Cristo Mat. 24:30 do Cordeiro vs. 15-17

Esta comparação mostra que devemos considerar os selos


consecutivos em Apocalipse 6 como a exposição ulterior de Cristo de
seu discurso anterior no que tinha resumido a seus discípulos o que lhes
aconteceria durante sua missão no mundo. Isto significa que os selos
predizem não só os juízos do tempo do fim mas também os juízos
As Profecias do Tempo do Fim 156
messiânicos durante toda a época da igreja. Em Mateus 24 Jesus adotou
o estilo apocalíptico de Daniel de repetição e ampliação. Duas vezes
Jesus começou seu esboço com sua própria geração e depois passou
rapidamente adiante na história até o fim da era da igreja, como se pode
ver por Mateus 24:1-4 e 24:15-31. Jesus anunciou que as guerras que
viriam, as fomes, as perseguições e a apostasia não precederiam
imediatamente a sua volta:
"Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis;
pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas... E cairão a fio de
espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será
pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem" (Luc.
21:9, 24).
Jesus lhes advertiu especificamente contra uma expectativa
iminente:
"Respondeu ele: Vede que não sejais enganados; porque muitos virão
em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a hora! Não os sigais"
(Luc. 21:8).
Se os selos desenvolvem em forma adicional Mateus 24, então os
selos igualmente se estendem sobre os séculos do período da era cristã.
Esta perspectiva histórica dos selos expressa o fluxo estrutural do livro
do Apocalipse da época histórica até o juízo final.

O Significado da Era Cristã

É instrutivo refletir sobre o significado das predições de Cristo de


guerras, desastres na natureza, perseguições dos santos e uma crescente
apostasia da verdade, o amor e a moral. Os selos de Apocalipse 6
assinalam o significado de toda a história ao colocá-los em uma
perspectiva do tempo do fim, isto é, à luz dos destinos eternos. Tanto a
igreja como a história mundial recebem seu significado transcendental da
soberania e os juízos de Cristo (cap. 5). Ele coloca a história do homem
no contexto mais amplo do conflito espiritual entre Deus e Satanás e
As Profecias do Tempo do Fim 157
seus respectivos princípios de governo. O apóstolo Paulo reconheceu
isto:
"Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em
último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos
espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens" (1 Cor. 4:9).
O crisol da história humana é o meio pelo qual Cristo santifica os
que aceitam seu senhorio e testemunho de verdade sob as circunstâncias
mais adversas. Por outro lado, demonstra sobre a terra os amargos frutos
da rebelião contra ele, perdoando as vistas de seus inimigos, desde Caim
para frente. Ellen White oferece esta profunda revelação:
"Satanás está constantemente em atividade, com intensa energia e sob
mil disfarces para representar falsamente o caráter e governo de Deus. Com
planos extensos e bem organizados, e com poder maravilhoso está ele a
agir para conservar sob seus enganos os habitantes do mundo. Deus, o Ser
infinito e todo sabedoria, vê o fim desde o princípio, e, ao tratar com o mal,
Seus planos foram de grande alcance e compreensivos. Foi o Seu intuito
não somente abater a rebelião, mas demonstrar a todo o Universo a
natureza da mesma. O plano de Deus estava a desdobrar-se, mostrando
tanto Sua justiça como Sua misericórdia, e amplamente reivindicando Sua
sabedoria e justiça em Seu trato com o mal".2
Cada calamidade proporciona uma nova oportunidade para que o
homem caído se volte para Deus. Cristo ensinou esta lição a partir dos
acontecimentos de seu próprio tempo (ver Luc. 13:1-5; também João 9:2,
3).
No passado do Israel, Deus tinha enviado quatro juízos sobre seu
povo do pacto, que era rebelde: guerra, praga, fome e morte (ver Lev.
26:23-26; Deut. 32:23-25, 42 ["minhas setas"]; Ezeq. 14:12-14, 21). Mas
esses juízos nunca foram o juízo final de Deus. Serviram como juízos
preliminares, para motivar seu povo rebelde a voltar-se para Deus (ver
Osé. 5:14, 15; 6:1-3). Quanto a isto também o Antigo Testamento é um
livro de lições para a igreja (1 Cor. 10:11 ).
Cristo deseja que a igreja compreenda que os juízos vindouros ainda
estão limitados por sua vontade. Deus ainda está no comando mesmo
que seus filhos morram como mártires. Também coloca limites ao
As Profecias do Tempo do Fim 158
cavaleiro amarelo sob o quarto selo (Apoc. 6:8). De igual maneira,
Apocalipse 12 e 13 afirmam que o anticristo recebe não mais de 3 ½
tempos proféticos, enquanto que à última rebelião é concedida apenas
"uma hora" (Apoc. 17:12).
Apocalipse 5 ensina que a responsabilidade pelos juízos de Deus foi
transferida a Cristo. Os selos apocalípticos, e por extensão as trombetas e
as pragas, todos devem entender-se como juízos messiânicos. O Cristo
entronizado é o Senhor da história, ou como Leão de Israel ou como o
Cordeiro de Deus (Apoc. 5:5, 6). Isto significa que os que rechaçam o
sangue do Cordeiro terão que enfrentar a "ira do Cordeiro" (Apoc. 6:16,
17). Pela fé em Cristo os homens podem confiar que a era cristã tem
significado, porque leva a humanidade adiante, a seu destino glorioso.

Desenrolando o Livro da Providência

Em Apocalipse 6, os selos desenvolvem a visão da coroação de


Cristo como o Cordeiro imolado que aparece no capítulo 5. O Cordeiro
só abre os selos do rolo da escritura da providência. Sempre que Cristo
abre um dos 4 primeiros selos, um dos 4 serafins diz "como com voz de
trovão": "Vem e vê!" Em resposta aparecem 4 cavalos em forma
consecutiva, cada um com uma cor diferente: branco, vermelho, preto e
amarelo. Estes cavalos levam cavaleiros diferentes. São enviados à terra
um depois que o outro cumpriu sua missão atribuída. Entendemos que
cada cavalo se une aos prévios já enviados, de maneira que finalmente os
4 cavalos cavalgam juntos sobre a terra até o fim da era cristã.
Isto quer dizer que os primeiros 4 selos ainda não estão completos,
inclusive no tempo do fim. João está em dívida com o Antigo
Testamento para esta linguagem figurada de cavalaria celestial. Em suas
visões, Zacarias descreve 4 cavalos com cores diferentes (Zac. 1:8-17 e
6:1-8). Isto indica que devemos considerar o significado dos 4 cavalos
simbólicos do Zacarias antes de interpretar os 4 cavaleiros apocalípticos.
As Profecias do Tempo do Fim 159
Em Zacarias 1 atribuiu-se aos cavaleiros o dever de inspecionar o
mundo gentio com o fim de observar qualquer movimento para restaurar
Jerusalém e Judá (1:10). Este relatório foi frustrante: nada estava
acontecendo (v. 11). Entretanto, Deus assegura ao profeta que apesar das
aparências contrárias, ele estava trabalhando por Jerusalém e Sião com
grande zelo (v. 14), enquanto que ao mesmo tempo estava irado contra
as nações (v. 15). O Deus do Israel voltaria para Sião, e seu templo e sua
cidade seriam reconstruídos. Seriam estabelecidas paz e prosperidade
permanentes (8:12).
No capítulo 6, o profeta apresenta o complemento de sua primeira
visão. Esta vez vê 4 cavalos diferentes com carros de guerra [merkaba],
cada um enviado pelo Deus do céu em todas as direções da terra, para
levar a cabo o plano redentor de Deus para Jerusalém. O anjo que
interpreta, explica que os 4 carros significam "os quatro ventos dos céus"
que são enviados como ministros do Senhor para cumprir a vontade
redentora de Deus em todo mundo hostil (Zac. 6:5; cf. Sal. 104:3, 4; Jer.
49:36; Isa. 66:15).
A "terra do norte", ou Babilônia, é escolhida como um lugar exemplar
onde o Deus de Israel deseja governar e estabelecer seu descanso (Zac.
6:8). Isto significa que os 4 carros de guerra da visão foram enviados ao
mundo com uma missão dupla: (1) submeter todos os poderes políticos do
mundo à vontade do Deus de Israel (ver Ag. 2:7-10, 20-23); (2) reunir a
todos os crentes israelitas e gentios em Jerusalém e no monte Sião (Zac.
8:8, 20-23). O propósito fundamental é a realização do plano de redenção
de Deus e a restauração da verdadeira adoração (vs. 22, 23) .
No Apocalipse, Cristo envia seus cavaleiros apocalípticos à terra,
desta vez com uma missão do novo pacto (Apoc. 6:2-8): para conquistar
os corações humanos a Cristo com o arco e as flechas do evangelho, e
para levar a humanidade à reflexão por meio de alguns juízos limitados
como antecipações do castigo final de Deus por sua rebelião contra
Cristo.
As Profecias do Tempo do Fim 160
O Primeiro Selo

"Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-
lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer" (Apoc. 6:2).
O cavalo branco leva um cavaleiro com um arco e uma coroa de
vencedor, saindo como "vencendo e para vencer". Alguns expositores
modernos interpretam este cavaleiro apocalíptico como símbolo da
avidez do homem para conseguir poder e domínio mundial. O argumento
é que os 4 cavaleiros de Apocalipse 6 iniciam juízos, de modo que
parece "inapropriado ao contexto" ver aqui a conquista de Cristo por
meio do evangelho. Os cavalos se usavam para liberar a guerra.
Entretanto, cada símbolo deve receber seu significado de seu próprio
contexto e nele podemos descobrir a natureza dessa guerra.
Os selos desenvolvem mais amplamente a visão do trono de
Apocalipse 5, onde Cristo é descrito como o Senhor ressuscitado,
simbolizado pelo Leão que tinha triunfado (Apoc. 5:5). Estabeleceu sua
vitória por sua morte na cruz, simbolizado pelo Cordeiro imolado (V. 6).
Depois enviou os discípulos, dando-lhes autoridade, para ir a todas as
nações e fazer discípulos (Mat. 28:19). Deu-lhes o poder do Espírito
Santo para conquistar para ele, até os fins da terra (At. 1:8), assim como
conquistou a seu "inimigo" Saulo perto da porta de Damasco (cap. 9).
Continua conquistando através do poder do evangelho e a "espada de
dois fios" de sua Palavra (Heb. 4:12), com o fim de ganhar para seu reino
os corações sinceros de homens e mulheres até o fim do tempo de prova.
Além disso, a estrutura quiástica do Apocalipse coloca a Cristo
como o Guerreiro em Apocalipse 19:11-16, como a contraparte
significativa e como a consumação do tempo do fim de Apocalipse 6:2.
As profecias messiânicas do Antigo Testamento representavam ao Rei
davídico como conquistando com arco e flechas (ver Sal. 45:4, 5; Deut.
32:23; Hab. 3:8-11; Sal. 7:12; 21:12). Cristo anunciou que veio trazer a
"espada" para todos os que rechaçam sua paz (Mat. 10:34; Luc. 12:51-
53). Portanto podemos interpretar o cavalo branco do primeiro selo como
As Profecias do Tempo do Fim 161
o cavalo do evangelho que oferece a todos os homens a justiça perfeita
de Cristo. Este cavaleiro evangélico ainda conquista homens e mulheres
ao redor do globo (1 João 5:4, 5). A última confissão de fé de Paulo
ilustra o poder do cavaleiro do cavalo branco: " Combati o bom combate,
completei a carreira, guardei a fé" (2 Tim. 4:7).

O Segundo Selo

"Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo:


Vem! E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a
paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe
foi dada uma grande espada" (Apoc. 6:3, 4).
Os três seguintes cavaleiros apocalípticos têm autoridade para trazer
consigo juízos severos sobre a terra. Não devemos considerar estas
incursões que produzem morte, fome e praga como os resultados das
guerras seculares. Durante séculos houve paz no Império Romano, a
"pax romana", desde Armênia até a Espanha.
O cavalo vermelho representa o espírito de oposição ao cavaleiro do
evangelho, ou guerra contra o povo de Cristo. Jesus tinha advertido que
o testemunho de seus seguidores causaria uma oposição encarniçada:
"Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, senão
espada" (Mat. 10:34; ver a conexão com os vs. 32 e 33 e Luc. 12:51-53).
Isto foi o que experimentou a igreja apostólica, como pode ver-se nas
cartas de Cristo às igrejas em Esmirna e Pérgamo (Apoc. 2:10, 13). Por
outro lado, só Cristo traz a paz do coração: "Deixo-vos a paz, a minha
paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo" (João 14:27); "E a paz
de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará os vossos corações
e as vossas mentes em Cristo Jesus" (Filip. 4:7).
Os césares romanos não toleravam nenhum pensamento de Cristo
como o supremo Rei e Senhor. Tentaram erradicar todas as testemunhas
públicas cristãs até o tempo da conversão do Constantino no século IV.
A interpretação de que o cavalo vermelho significa a perseguição
As Profecias do Tempo do Fim 162
religiosa-política por causa de Cristo fica confirmado pela carta de
Cristo à igreja da Esmirna (Apoc. 2:8-11 ) e o clamor dos mártires
degolados sob o quinto selo (6:9).
Em qualquer lugar que se rechaça o Príncipe da paz, os resultados
são luta e violência, não só dentro da igreja mas também na sociedade. O
derramamento de sangue nos selos se cumpre em dois níveis: primeiro,
dentro da igreja de Cristo e segundo, contra a igreja ao executar os
seguidores de Cristo durante toda a época da igreja.

O Terceiro Selo

"Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo: Vem!
Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão.
E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes dizendo: Uma
medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e
não danifiques o azeite e o vinho" (Apoc. 6:5, 6).
A cor "preta" do terceiro cavalo apocalíptico é o contrário exato do
primeiro cavalo. Isto sugere que agora se rechaça ou se desconhece a
justiça de Cristo. Uma situação assim resulta em fome espiritual, o que
nos recorda do juízo predito por Amós (8:11). A palavra de Deus e o
testemunho de Jesus chegaram a ser tão escassos que podem simbolizar-
se pelo fato de pesar o principal alimento do homem em uma balança
(Apoc. 6:5, 6). Este símbolo está tomado de Levítico 26:26, onde
primeiro se refere ao juízo de Deus sobre um povo rebelde que sofreria
uma fome literal (ver também Ezeq. 4:16). A Escritura também usa a
balança para simbolizar um veredicto celestial (Dan. 5:27). O terceiro
cavaleiro apocalíptico anuncia uma fome da Palavra e o Espírito de Deus
na igreja pós-apostólica, sugerindo que chegará a ser fraco na verdade do
evangelho, substituindo-a por um sistema de crenças doutrinais chamado
ortodoxia. Mas as doutrinas e cerimônias não podem alimentar a alma,
tal como Cristo admoestou em sua carta à igreja de Pérgamo (Apoc.
2:14-16). O terceiro selo se aplica especialmente a esse período da
As Profecias do Tempo do Fim 163
história da igreja quando a Igreja e o Estado se uniram e começaram a
impor a ortodoxia sobre a consciência humana. A ordem: "Não
danifiques o azeite e o vinho" (6:6), sugere um juízo limitado de Deus,
que Deus protege seu evangelho em um tempo de escassez espiritual.
Revela que Deus cuida ternamente de seu povo.

O Quarto Selo

"Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser


vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro,
sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada
autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome,
com a mortandade e por meio das feras da terra" (Apoc. 6:7, 8).
O cavaleiro do cavalo amarelo é chamado Morte, seguido pelo
Hades (a tumba). Os quatro juízos foram enviados antes pelo Deus de
Israel a seu povo do antigo pacto (ver Ezeq. 14:21). A cor de um pálido
mortal sugere um estado contínuo de decadência espiritual e de um
endurecimento maior do coração. O resultado é a apostasia da alma.
Podemos pensar nas heresias e enganos como uma conseqüência de
rechaçar a verdade do evangelho (ver Apoc. 2:20-23). É o caminho à
morte eterna. Então, as "feras da terra" são uma antecipação simbólica
das bestas perseguidoras de Apocalipse 13, as quais também receberam
permissão de "fazer guerra contra os santos e vencê-los" (vs. 7, 14, 15).
O quarto cavaleiro concentra os resultados do trabalho dos cavaleiros
anteriores: morte e condenação. Representa a situação prolongada da
igreja medieval.
Os primeiros 4 selos seguem o esboço do discurso profético do
Jesus em Mateus 24:6-8. A diferença entre Mateus 24 e os selos
apocalípticos está no fato de que no Apocalipse pode detectar-se um
significado mais profundo porque o primeiro cavaleiro é o evangelho de
Cristo.
As Profecias do Tempo do Fim 164
Os selos 2 a 4 mostram um endurecimento crescente da
incredulidade dos habitantes da terra, ao rechaçar a mensagem do
evangelho do cavaleiro do cavalo branco. Sua morte espiritual será
selada finalmente na morte eterna quando receberem a "ira do Cordeiro"
durante o sexto selo (Apoc. 6:15-17).
Embora haja uma progressão histórica, os selos refletem a
experiência de todos os que aceitam ou rechaçam o evangelho de Cristo.
Isso significa que a história pode repetir-se e que o passado outra vez
pode chegar a ser o futuro. Ellen White faz esta aplicação pastoral do
terceiro e quarto selos:
"Hoje se vê o mesmo espírito que o que está representado em
Apocalipse 6:6-8. A história se repetirá. O que foi, voltará a ser. Este espírito
trabalha para confundir e desconcertar. Ver-se-á dissensão em cada nação,
tribo, língua, e povo; e os que não tiveram um espírito para seguir a luz que
Deus deu por meio de seus oráculos viventes, através de suas agências
assinaladas, chegarão a confundir-se. Seu juízo revelará debilidade. Na
igreja se verão a desordem, a luta e a confusão".3
Em resumo, os cavaleiros apocalípticos dos selos 2 a 4 encontraram
seu cumprimento da igreja pós-apostólica que se corrompeu, mas a
apostasia e a perseguição não estão limitadas à história passada. Como
declara Roy C. Naden: "Uma vez solto, cada cavalo contínua até a
segunda vinda".4

O Quinto Selo

"Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles
que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do
testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até
quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o
nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi
dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por
pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus
conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram"
(Apoc. 6:9-11 ).
As Profecias do Tempo do Fim 165
Esta imagem simbólica deve interpretar-se pela Escritura. Jesus
tinha anunciado que depois das revoltas políticas e os cataclismos
naturais, seus discípulos seriam perseguidos (ver Mat. 24:9-11, 21).
Depois de abrir o quinto selo, escuta-se o clamor para que se faça
justiça divina de todos os que morreram uma morte violenta "por causa
da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam" (Apoc.
6:9). Este clamor não sai de crentes vivos, e sim simbolicamente de suas
"almas" depois de ter sido derramado seu sangue, assim como no caso de
Abel, o primeiro mártir. Deus pediu contas a seu assassino com estas
palavras: "Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a
mim" (Gên. 4:10). Isto nos ensina que o Criador nunca esquecerá seus
filhos fiéis e faz responsáveis a seus assassinos! Considera o lugar onde
suas testemunhas morreram como um "altar" onde foi derramado o
sangue de seu sacrifício (cf. Lev. 4:7). De igual maneira, Paulo
considerou que sua iminente decapitação pela ordem do imperador Nero,
era uma morte como sacrifício a Deus (2 Tim. 4:6).
A visão do quinto selo serve como um paralelo esclarecedor de
pisotear e pisar os santos que aparece nas visões do Daniel (Dan. 7-12).
A visão do Daniel 7 se estende dos impérios mundiais sucessivos,
através da divisão de Roma, até o surgimento do chifre pequeno e a
perseguição dos santos durante a Idade Média, até o tempo do fim com a
cena de seu juízo majestoso na sala do trono de Deus. Naquele tempo, o
"Ancião de dias" pronunciará seu veredicto em favor dos santos (v. 22).
O significado do quinto selo deve ser aberto com a chave de Daniel.
Especialmente a visão de Daniel da prevaricação assoladora e do pisar
dos verdadeiros adoradores aparece no antecedente do quinto selo. O
clamor dos mártires: "Até quando... não julgas, nem vingas o nosso
sangue" (Apoc. 6:10), corresponde ao mesmo clamor em Daniel 8: "Até
quando durará a visão...entregando o santuário e o exército para serem
pisoteados?" (v. 13).
O quinto selo revela que o momento para a vindicação deve esperar
"um pouco de tempo", porque incluso não chegou a perseguição do
As Profecias do Tempo do Fim 166
tempo do fim. A resposta de Deus à pergunta das testemunhas
assassinadas em Apocalipse 6 é: "Então, a cada um deles foi dada uma
vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco
tempo..." (v. 11). As vestimentas brancas dadas aos mártires expressam o
cumprimento da predição de Daniel de uma vindicação forense dos
santos caluniados (ver Dan. 7:22, 25). Isto dá segurança ao povo de Deus
de que ele cuida deles, ouve seu clamor por justiça divina e os vindicará
publicamente. Esta consideração leva à conclusão de que o quinto selo
alcança até o fim da era cristã, quando Deus executará seus juízos com
respeito aos santos e seus perseguidores (Apoc. 11:15, 18). O clamor dos
mártires cristãos evoca "a ira do Cordeiro" sobre os que mataram os
seguidores de Cristo.

A Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus

Antes de passar ao sexto selo, devemos prestar atenção à causa


declarada pela qual morreram todos os verdadeiros mártires. O quinto
selo diz que morreram "por causa da palavra de Deus e por causa
testemunho que sustentavam" (Apoc. 6:9). À primeira vista, podemos
pensar que o "testemunho" que tinham se refere ao testemunho pessoal
de sua fé em Cristo e na palavra de Deus. Isto certamente é verdade. Mas
uma comparação com as referências cruzadas que há no Apocalipse
indica que "o testemunho" pelo qual deram sua vida foi o testemunho da
própria revelação de Jesus, transmitida pelo Espírito de profecia através
dos apóstolos (ver 19:10).
João usa usualmente o termo "testemunho" para referir-se ao
testemunho dado pelo próprio Jesus. O próprio livro do Apocalipse é
chamado "o testemunho destas coisas [de Jesus] nas igrejas" (Apoc.
22:16). João escreve que estava na ilha de Patmos "por causa da palavra
de Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (1:9). Isto indica que o sentido
mais amplo da frase "o testemunho de Jesus Cristo" é "o evangelho
como a revelação da vida e obra de Cristo".5 Isto significa que os
As Profecias do Tempo do Fim 167
Evangelhos do Novo Testamento estão incluídos no testemunho de
Jesus.
O Apocalipse se abre com a declaração que continua a revelação
que Deus deu a Jesus para a igreja (Apoc. 1:1). Portanto, no Apocalipse,
João dá testemunho sobre "a palavra de Deus e o testemunho de Jesus
Cristo" (v. 2). O Apocalipse como um todo, junto com a proclamação do
evangelho do Novo Testamento é parte do testemunho de Jesus.
Identifica a igreja remanescente que aparece na profecia do capítulo 12
por esta dupla característica: "Os que guardam os mandamentos de Deus
e têm o testemunho de Jesus Cristo" (v. 17). O Apocalipse chama à
igreja a ser fiel a esta dupla norma da verdade. Esta expressão repetida
no livro do Apocalipse serve como uma linha de demarcação entre a
adoração verdadeira e falsa de Deus durante toda a era cristã (ver 20:4).
Dentro deste amplo contexto chega a ser claro que os mártires durante a
era cristã sofreram uma morte violenta por causa de ter mantido a
palavra de Deus e do testemunho do Jesus (6:9). Os mártires se
aferraram [éijon] ao testemunho que tinham recebido de Jesus e dessa
forma foram testemunhas fiéis. "Aceitaram-no, recusaram renunciar a
ele, e por conseguinte foram executados. O 'testemunho' não menos que
a 'palavra' era uma posse objetiva dos mártires".6 Para um estudo mais
amplo do termo apocalíptico "o testemunho de Jesus", ver mais adiante,
no capítulo XXI desta obra, sobre Apocalipse 12:17.

O Sexto Selo

"Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto.


O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, as
estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento
forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se como um
pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram
movidos do seu lugar. Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os
ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas
e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí
As Profecias do Tempo do Fim 168
sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira
do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode
suster-se?" (Apoc. 6:12-17).
A abertura do sexto selo descreve a resposta final de Cristo ao
clamor das almas "debaixo do altar" (Apoc. 6:10). Anuncia sua chegada
como o Guerreiro divino com os mesmos sinais cósmicos no céu e na
terra como as que fez Deus quando apareceu como o Rei de Israel.
Moisés descreveu a manifestação do Jeová no monte Sinai dizendo:
"Houve trovões, e relâmpagos, e uma espessa nuvem sobre o monte, e
mui forte clangor de trombeta, de maneira que todo o povo que estava no
arraial se estremeceu. ... Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor
descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma
fornalha, e todo o monte tremia grandemente. E o clangor da trombeta ia
aumentando cada vez mais" (Êxo. 19:16,18, 19).
Esta vinda de Deus sobre o monte Sinai esteve acompanhada por
um terremoto violento, o escurecimento do sol com uma nuvem espessa
e fumaça, e um som forte de trombeta. Fez com que todo o povo
tremesse com temor (Êxo. 20:18, 19). Esta descrição de Moisés foi
adotada pelos profetas de Israel como o arquétipo de todas as teofanias
seguintes. Descreveram cada visitação do Senhor em favor de seu povo
com sinais cósmicos similares às da teofania do monte Sinai.
Além do terremoto e dos trovões, acrescentaram granizo, uma forte
chuva, o secamento repentino de um rio, um pânico aterrador entre os
inimigos de Deus e seu povo, e até o sol, a lua e as estrelas como
participando da guerra santa de Deus a favor de seu povo do pacto (ver
Jos. 3:13; 4:22-24; 5:1; Qui. 5:20, 21; 1 Sam. 7:10; 14:15, 20; Jos. 10:11-
14). Este aspecto cósmico proveu uma prova dramática de que o Deus do
pacto também era o Criador do céu e da terra. Fez com que as nações
pagãs reconhecessem que o Deus vivente estava do lado do Israel (Êxo.
14:25). Raabe de Jericó disse: "Ouvindo isto, desmaiou-nos o coração, e
em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque
o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra"
(Jos. 2:11 ).
As Profecias do Tempo do Fim 169
Um grande terremoto, chuva e tormenta de granizo e o
obscurecimento do sol e das estrelas chegaram a ser parte dos anúncios
da aparição de Deus nas predições do "dia de Jeová" (Yom Yahveh) como
o dia do juízo (ver Ezeq. 38:19-23; Joel 2:30, 31; Isa. 24:1-4, 13, 18-23;
Jer. 4:23-28).

A Teologia Hebraica dos Sinais Cósmicos

A predição de sinais cósmicos no céu e na terra não tinha o


propósito de ser uma predição de alguns fenômenos isolados e
intermitentes. Os sinais cósmicos têm um significado teológico na
teologia hebraica porque foram descritas como manifestações do Criador
vindo como Rei e Guerreiro santo em favor de seu povo do pacto (ver o
estudo de 8 exemplos no cap. VI, sob o subtítulo: "A teologia de Cristo
dos sinais cósmicos"). Joel declara que o obscurecimento do sol ocorrerá
"antes que venha o dia grande e espantoso de Jeová" (Joel 2:31).
Entretanto, em suas outras duas predições Joel não indica nenhuma
perspectiva dos sinais celestes fora do ponto de vista padrão profético:
que os sinais introduzem e acompanham a manifestação do dia do juízo
(2:10, 11; 3:15, 16).
Os profetas nunca sugeriram que podemos esperar para ver algum
sinal insólito no céu ou na primeiro terra, antes de nos converter ao
Senhor. Seu simbolismo cósmico tinha o propósito de motivar o povo de
Deus a arrepender-se agora (ver Joel 1:15; 2:1, 10-17). Os profetas nunca
estiveram preocupados em ensinar uma ordem determinada de sinais
cósmicos. De fato, sentiram-se livres para mudar o modelo dos sinais,
algumas vezes deixando que o terremoto precedesse aos cataclismos
celestes e outras vezes que o seguisse (Joel 2:10 e 3:15, 16; também Isa.
13:10-13 e 24:18-23; além disso, Jer. 4:23-28).
O profeta Ageu inclusive menciona um terremoto apocalíptico
como um sinal cósmico: "Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a
pouco eu farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca; e farei
As Profecias do Tempo do Fim 170
tremer a todas as nações..." (Ag. 2:6, 7). Este futuro terremoto universal
não se apresenta como um desastre isolado para informar o mundo da
presciência de Deus a respeito de um terremoto vindouro. Ageu
apresenta sua predição de uma maneira similar a que houve no Monte
Sinai para anunciar a visitação final de Deus sobre a terra, para julgar o
mundo e para estabelecer sua glória messiânica sobre a terra (v. 7). A
carta aos hebreus aplica a predição do Ageu ao terremoto cósmico ao fim
da era cristã:
"Agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por todas, farei
abalar não só a terra, mas também o céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez
por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido
feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam. Por isso,
recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos
a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso
Deus é fogo consumidor" (Heb. 12:26-29).
Esta aplicação do terremoto profetizado por Ageu mostra que o
Novo Testamento toma sua linguagem descritiva literalmente para falar
de um terremoto cósmico de todas as "coisas criadas" que ocorrerá no
fim da era cristã. Isto corresponde exatamente com a abertura do sexto
selo em Apocalipse 6:12: "Houve um grande terremoto..." Não será
alguma sinal de advertência que proporcionará lugar para um período de
arrependimento. Simplesmente introduzirá a era vindoura de glória
messiânica (ver Ag. 2:7-9). O propósito moral tanto de Ageu como da
carta aos Hebreus é claramente levar a um compromisso para adorar a
Deus agora, não quando ocorrer o terremoto cósmico! Além disso,
aprendemos a lição importante de que o terremoto apocalíptico não se
apresenta como um precursor isolado do dia do juízo, mas sim como a
mesma manifestação desse dia.

A Predição de Cristo de Grande Aflição para seus Escolhidos

O discurso profético de Jesus está apoiado no livro apocalíptico do


Daniel (ver Mat. 24:15). Indicou a seus discípulos onde estavam no
As Profecias do Tempo do Fim 171
esboço profético da história da salvação. Naquele tempo Jerusalém e seu
templo estavam a ponto de ser destruídos pelo inimigo de Israel que se
aproximava (Luc. 21:21-24), em cumprimento da profecia de Daniel
(Luc. 21:22; Dan. 9:26, 27). Além disso, Jesus ressaltou uma
preocupação ulterior para seus discípulos que ficariam depois da
destruição de Jerusalém. "Porque nesse tempo haverá grande tribulação
[thlípsis], como desde o princípio do mundo não tem havido até agora e
nem haverá jamais" (Mat. 24:21). Esta maneira de expressar também se
deriva da profecia de Daniel e exige um olhar mais detido:

Mateus 24:21 DANIEL 12:1


"Porque nesse tempo haverá grande "Nesse tempo, se levantará Miguel, o
tribulação [thlípsis megále], como grande príncipe, o defensor dos filhos do
desde o princípio do mundo até teu povo, e haverá tempo de angústia
[kairós thlípsis], qual nunca houve,
agora não tem havido e nem haverá
desde que houve nação até àquele
jamais". tempo".

Existe um consenso comum de que Cristo em sua predição da


"grande tribulação" referiu-se à tribulação do tempo do fim do povo de
Deus em Daniel 12:1, a que será abreviada pelo levantamento de Miguel
como o Guerreiro divino. Entretanto, Jesus aplicou essa tribulação
vindoura a seus próprios seguidores durante toda a era cristã (ver Mat.
24:21, 22, 29). Jesus não restringiu sua aplicação da tribulação do tempo
do fim de que fala Daniel a um período determinado dentro da época da
igreja.
O contexto imediato em Mateus 24 (e em Mar. 13) conecta a
"tribulação" diretamente com a destruição de Jerusalém (Mat. 24:21; ver
Mar. 13:18, 19). Jesus cobre todos os períodos de angústia para seus
verdadeiros seguidores, começando com a tribulação sob o judaísmo e
Roma imperial (ver Mar. 13:9; Apoc. 2:10), e depois com a morte de
seus discípulos "por todas as nações" (Mat. 24:9, CI) durante os séculos
da Idade Média aos quais tinha indicado Daniel 7:25. Mas agora Jesus
As Profecias do Tempo do Fim 172
usou a frase "grande tribulação" (Mat. 24:21, 22) não de Daniel 7 mas
sim de Daniel 12:1 (ver o gráfico anterior). Assim como em Daniel 12:1,
Jesus enfatizou também a natureza sem precedentes da tribulação na
história humana (Mat. 24:21). Anunciou que a tribulação seria
"abreviada” por causa dos escolhidos naqueles dias ou nenhum
sobreviveria àquela aflição (Mat. 24:22; Mar. 13:20). Este "abreviar" os
dias corresponde exatamente com a promessa que apresenta Daniel, que
Miguel se levantaria "naquele tempo” (o "tempo do fim", Dan. 11:40-
45) para liberar a seu povo por meio de sua intervenção sobrenatural
(Dan. 12:1). A libertação de Miguel abrevia a última aflição, ou não
sobreviveria nenhum do povo de Deus.
A divina "interrupção" da aflição global para prevenir a aniquilação
completa dos escolhidos dos quais Jesus fala no Mateus 24:22, pode
aplicar-se como um cumprimento parcial do surgimento do
protestantismo e do seguinte período do Iluminismo ou o "século das
luzes", que obteve gradualmente a liberdade religiosa e o fim da
perseguição.
Em resumo, Jesus predisse dias de "aflição" para seus seguidores
não singularizando um tempo particular de perseguição sob o judaísmo,
sob Roma imperial, sob Roma papal ou sob a cristandade apóstata.
Abrange todo o período entre os dois adventos, com uma ênfase especial
sobre a aflição universal e intensiva no fim da história, a qual assinala
em Mateus 24:21 com palavras derivadas de Daniel 12:1. Este alcance
exaustivo dos dias de aflição é também o alcance do quinto selo em
Apocalipse 6:9-11. O clamor dos mártires mortos não provém
exclusivamente de um período de perseguição, mas sim de todo o tempo
da era cristã "até que se completasse o número de seus conservos, que
também tinham que ser mortos como eles" (Apoc. 6:11). A aflição final
para os seguidores de Cristo será abreviada pela intervenção e a
libertação divinas.
As Profecias do Tempo do Fim 173
Os Sinais Cósmicos Seguem-se à Aflição Final

Jesus terminou sua predição profética com esta promessa:


"Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua
não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes
dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do
Homem..." (Mat. 24:29, 30).
Nesta metáfora cósmica, Jesus também usa as palavras dos profetas.
Inclusive combina em uma imagem o que Isaías descreveu em dois
conceitos sobre o dia do Senhor (Isa. 13:10 e 34:4). Como a perspectiva
de Isaías não se enfocava nos sinais astronômicos em si, a não ser sobre
a aparição do Jeová como o Santo guerreiro, assim a mensagem central
do Jesus no Mateus 24 não se centra sobre os sinais celestiais como tais,
a não ser no "sinal" de que virá como o designado "filho de homem" da
profecia do Daniel (Mat. 24:30), e que ele juntará não a nação escolhida,
a não ser seus próprios escolhidos de todas as tribos da terra (V. 31; Mar.
13:27; cf. Mat. 8:11, 12).
A frase, "logo em seguida à tribulação daqueles dias" (Mat. 24:29),
ou "naqueles dias, após a referida tribulação" (Mar. 13:24), encaixa no
tempo do fim de Daniel 12:1, o qual também assinalava ao quinto selo
de Apocalipse 6:11. Essa "tribulação" seria abreviada por causa dos
escolhidos de Cristo mediante o resgate imediato de Miguel (Dan. 12:1),
quem aparece com os sinais cósmicos como o Filho do Homem em seu
carro de nuvens (Mat. 24:30; Mar. 13:27).
Toda a idéia-chave do discurso profético de Jesus é a nova
reinterpretação cristológica do dia de Jeová, e esta foi uma notícia
espantosa para o judaísmo. O dia do Senhor chegou a ser o dia do Senhor
Jesus. Esta verdade fundamental chegou a ser uma parte essencial do
evangelho apocalíptico (ver 1 Cor. 1:8; 2 Cor. 1:14; 2 Tes. 2:2; Filip.
1:10). O simbolismo cósmico padrão de Israel, centrado na teofania de
Jeová, é reconstituído por Jesus como apoiando-se em sua própria
As Profecias do Tempo do Fim 174
cristofania gloriosa. O segundo advento de Cristo revelará a todas as
nações sua glória messiânica como o Filho de Deus.

Exegese Literal do Sexto Selo

Seguimos o método reconhecido para fazer uma exegese


responsável quando examinamos o uso anterior da linguagem e o tema
do sexto selo nos outros livros da Bíblia. Nenhum texto no Apocalipse
deve ser interpretado isolado de seu contexto imediato e de seu contexto
mais amplo. O procedimento contextual é nosso amparo contra qualquer
exegese especulativa ou forçada. Permite lançar um olhar novo a nossas
interpretações correntes com a possibilidade de descobrir uma
compreensão mais adequada.
Temos descoberto uma teologia consistente dos sinais cósmicos nas
profecias e teofanías do Antigo Testamento que estão enraizadas na
narração da criação de Gênesis 1. O fato de que o Deus do pacto de
Israel é ao mesmo tempo o Criador do céu e da terra proporciona a razão
fundamental teológica para os fenômenos naturais excepcionais que
ocorrem à aparição do Criador. Tais transtornos, literais e dramáticos,
nas leis da natureza sobressaltam tanto a crentes como a incrédulos com
um esmagador sentido de insegurança de enfrentar o Criador como o
Juiz de toda a terra. Virtualmente, todas as profecias de condenação
inclui a linguagem figurada cósmica como a introdução ao dia final da
guerra santa a favor do Israel de Deus.
Aprendemos do discurso profético de Jesus (Mat. 24 e paralelos)
que sua volta como o "filho de homem" de Daniel 7 foi o "sinal"
designado (Mat. 24:30) para o qual olhar. Os sinais celestiais
sobrenaturais introduzirão e acompanharão imediatamente sua vinda.
Então se lamentarão todas as linhagens da terra, quer dizer, estarão
cheios de um remorso amargo por causa dele (Mat. 24:30; Apoc. 1:7).
Não há nenhuma sugestão em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 de que
As Profecias do Tempo do Fim 175
os sinais celestiais são sinais de admoestação para arrepender-se e
preparar-se para sua vinda.
Só o Evangelho de Lucas nos diz que quando acontecerem os
cataclismos finais sobre a terra e nos céus, "exultai e erguei a vossa
cabeça; porque a vossa redenção se aproxima" (Luc. 21:28). Esse não
será o tempo para que os que não se prepararam recebam outro apelo ao
arrependimento. George R. Knight o recapitula adequadamente: "Dessa
maneira, o modelo do Mateus 24 parece ser que os sinais reais não são
sinais da proximidade e sim sinais da vinda. Os sinais menos precisos
são para animar os crentes a manter-se vigiando, esperando e
trabalhando".7
No Apocalipse, Cristo reiteradamente coloca o evento de sua volta
no centro, inclusive como a medula de todo o livro (Apoc. 1:7; 6:12-17;
14:14-20; 17:14; 19:11-21). O sexto selo começa com um
estremecimento cósmico que sacode tanto a terra como os céus (6:12-
14). Descreve o efeito universal sobre os moradores da terra que não têm
refúgio contra a "ira do Cordeiro" (vs. 15-17).
O sexto selo nos deixa com a impressão de que haverá uma ruína
universal de toda a humanidade. Todos exclamam: "Quem poderá ficar
de pé?" (Apoc. 6:17, BJ). A resposta a esta pergunta cheia de ansiedade
se apresenta em forma extensa no capítulo 7, um dos capítulos mais
consoladores no livro do Apocalipse. Ali encontramos a verdadeira
motivação para o arrependimento em preparação para sua vinda:
precisamos ser selados com o selo do Deus vivo antes que se soltem os
ventos finais de juízo (7:1-3).

O Terremoto Apocalíptico

O sexto selo se abre com: "E sobreveio grande terremoto" (Apoc.


6:12). Este característico requer uma atenção cuidadosa olhando as
referências recíprocas em outros livros da Bíblia. No Antigo Testamento,
um "terremoto" tem um significado teológico. Constitui uma
As Profecias do Tempo do Fim 176
característica regular da aparição de Deus a Israel (uma teofania), do
tempo quando desceu sobre o monte Sinai com um terremoto (Êxo.
19:18; Sal. 68:7, 8; ver também Sal. 144:5; Isa. 64:1, 3).
Enquanto o Antigo Testamento fala freqüentemente de terremotos
locais como manifestações das visitações de Jeová como Santo Guerreiro
em favor de Israel, os profetas descrevem o último terremoto na história
da salvação como um estremecimento cósmico que sacudirá a terra e
todos os corpos celestiais (ver Joel 2:10, 11; Isa. 2:19-21; 13:10, 11, 13;
Sof. 1:2, 3). Este estremecimento global do céu e da terra como a
introdução à glória messiânica de uma nova terra se apresenta na
perspectiva apocalíptica de Ageu:
"Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a
pouco, e farei tremer os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca; e farei
tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações, e encherei
esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos " (Ag. 2:6, 7).

A predição de Ageu se aplica a um tremor literal cósmico que


introduz a segunda vinda de Cristo em Hebreus 12:26 e 27. Este
terremoto apocalíptico se distingue claramente de todos os terremotos
locais anteriores que Jesus tinha anunciado como o "princípio de dores"
(Mat. 24:7, 8; Mar. 13:8). Todos os terremotos locais podem ser
interpretados como chamados a despertar para preparar-se para a vinda
de Cristo; como fortes motivações para arrepender-se antes que seja
muito tarde (ver Luc. 13:4, 5).
A qual das duas categorias pertence o "grande terremoto" do sexto
selo (Apoc. 6:12), à cósmica ou a local? Não todos os terremotos que
aparecem no Apocalipse se descrevem com o tremor cósmico que sacode
tanto o mundo como os corpos celestiais. Por exemplo, o "grande
terremoto" em Apocalipse 11:13 está caracterizado por sua colocação em
"o segundo ai", durante a sexta trombeta, como um sinal preliminar de
advertência, com o propósito de levar ao arrependimento. Além disso o
descreve como um tremor local, porque "a décima parte da cidade se
As Profecias do Tempo do Fim 177
derrubou, e pelo terremoto morreram em número de sete mil homens; e
todos outros se aterrorizaram e deram glória ao Deus do céu" (Apoc.
11:13). Este tremor local se distingue do terremoto universal que
ocorrerá durante a sétima trombeta ou o "terceiro ai" em Apocalipse
11:19, que ulteriormente se amplia na sétima praga (16:17-21).

O Grande Terremoto do Sexto Selo (Apoc. 6:11-14)

Menciona o sexto selo dois terremotos diferentes, um local (Apoc.


6:12) e um cósmico (v. 14)? Nem a sétima trombeta nem a sétima praga
mencionam dois terremotos. Em Mateus 24, Jesus não se referiu a
nenhum terremoto particular no tempo do fim. Entretanto, a resposta a
nossa pergunta pode encontrar-se no mesmo contexto do sexto selo. O
estilo literário de Apocalipse 6:12-14 e 15-17 assinala a seu significado.
A primeira unidade dos versículos 12-14 mostra o modelo do ABB1A1, a
estrutura típica do paralelismo inverso:
A. Há um grande terremoto.
B. O sol, a lua e as estrelas funcionam mau.
B1. O céu se desvanece como um pergaminho que se enrola.
A1. Todo monte e toda ilha se remove de seu lugar.
O argumento literário descreve uma sacudida do céu e da terra,
exatamente como haviam predito Ageu (2:6) e Hebreus (12:26, 27).
"Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a pouco eu farei tremer os
céus e a terra, o mar e a terra seca". Nenhum terremoto local pode
igualar a finalidade e as dimensões universais das descrições de Ageu, de
Hebreus e a do sexto selo.
Apocalipse 6:12-14 descreve em primeiro lugar os sinais cósmicos
na terra e no céu (A e B); depois continua descrevendo os efeitos destes
sinais na ordem inversa: no céu (B1) e na terra (Ao terremoto
mencionado em "A" é a origem dos efeitos universais mencionados em
"A1: o desaparecimento dos montes e das ilhas. Uma descrição similar
As Profecias do Tempo do Fim 178
de causa e efeito pode ver-se na sétima praga, onde se menciona
primeiro um terremoto tremendo e universal (ver Apoc. 16:18), seguido
por seu efeito sobre Babilônia e sobre os montes e as ilhas (vs. 19, 20). A
descrição da sétima praga é um paralelo literário surpreendente com a do
sexto selo! Precisamos entender ambos da mesma maneira. Este paralelo
indica que o sexto selo não projeta dois terremotos diferentes, com
centenas de anos entre eles (em Apoc. 6:12-14).
Para entender a composição literária que João apresenta dos
cataclismos no céu durante o sexto selo, é instrutivo observar sua adoção
da descrição que faz Isaías do juízo mundial devastador de Deus:
"Todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como
um pergaminho; todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e a folha
da figueira" (Isa. 34:4).
"Porque as estrelas dos céus e os astros não deixarão brilhar a sua luz;
o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não fará resplandecer a sua luz...
Pelo que farei estremecer os céus; e a terra se moverá do seu lugar, por
causa do furor do Senhor dos Exércitos e por causa do dia da sua ardente
ira" (Isa. 13:10, 13).

Nesta linguagem figurada tão vívida que formula os aspectos


espantosos do dia do Senhor, não temos à vista uma ordem de
acontecimentos e tampouco há indicação bíblica de que o sexto selo
tenha o propósito de ensinar uma ordem específica de eventos (ver no
cap. VI a seção "A teologia de Cristo dos sinais cósmicos").
Na unidade seguinte (Apoc. 6:15-17), João descreve o impacto
universal do estremecimento cósmico sobre o mundo político, militar,
econômico e social. Em vão tratam de procurar refúgio ante o Juiz da
terra. Dessa maneira o sexto selo descreve a ordem progressiva de causa
e efeito. Se compararmos as descrições do terremoto apocalíptico do
Apocalipse, observamos uma ampliação gradual do mesmo na sétima
trombeta e na sétima praga:
As Profecias do Tempo do Fim 179
APOC. 6:12-14 APOC. 8:5 APOC. 11:19 APOC. 16:18,20,21
"E sobreveio "E houve "e sobrevieram "E sobrevieram
grande terremoto. trovões, vozes, relâmpagos, relâmpagos,
O sol se tornou relâmpagos e vozes, trovões, vozes e trovões,
negro como saco terremoto". terremoto e e ocorreu
de crina, a lua grande grande
toda, como saraivada." terremoto, como
sangue, as nunca houve
estrelas do céu igual desde que
caíram pela terra, há gente sobre a
como a figueira, terra; tal foi o
quando abalada terremoto, forte
por vento forte, e grande ...
deixa cair os seus Todas as ilhas
figos verdes, e o fugiram, e os
céu recolheu-se montes não
como um foram achados;
pergaminho também
quando se enrola. desabou do céu
Então, todos os sobre os homens
montes e ilhas grande
foram movidos saraivada".
do seu lugar".

Este desenvolvimento progressivo do terremoto cósmico não é,


obviamente, a predição de dois ou mais terremotos. A composição
literária do Apocalipse ensina um terremoto final e cósmico, que se
amplia na descrição de cada série seguinte, em harmonia com a crescente
severidade dos juízos das trombetas e as pragas à medida que se
aproxima o fim.
É significativo que João se apropria em forma consistente das
antigas profecias do dia do Senhor para sua descrição do sexto selo. Isto
As Profecias do Tempo do Fim 180
é especialmente verdade de sua adoção dos sinais cósmicos de Isaías
(13:10, 13; 24:18, 19, 23; 34:4, 8) e do Joel (2:10, 11, 30, 31; 3:14-16).
João não encontrou nos profetas uma lista uniforme de sinais cósmicos!
Inclusive troca o arranjo de sua fonte principal, Isaías 34:4, em sua
própria descrição em Apocalipse 6:12-14. A preocupação dominante de
João não é criar uma ordem cronológica determinada de sinais cósmicos,
a não ser colocá-as ao redor de Cristo como o novo centro e meta dos
cataclismos finais no universo, em harmonia com o próprio
entendimento de Jesus em Mateus 24:29-31. Este empréstimo penetrante
do Antigo Testamento destaca a unidade teológica de ambos os
Testamentos e seu panorama apocalíptico comum. Ambos os
Testamentos revelam um Criador-Redentor e um dia de juízo (ver Heb.
1:1, 2; Apoc. 6:17). .
Em conclusão, o sexto selo não pode ser entendido corretamente
por si mesmo, divorciado dos cinco selos anteriores. O sexto selo é a
consumação dos selos anteriores. O clamor dos mártires por vindicação
foi respondido só em um sentido preliminar com a vindicação celestial
("as vestimentas brancas") sob o quinto selo. Têm que "esperar um
pouco de tempo", até que se complete a tribulação do tempo do fim para
o povo de Deus (Apoc. 6:11). O sexto selo não se abre com outro
período de espera para os santos mortos e vivos, a não ser com a chegada
do dia de ajuste de contas, o dia de justiça e vindicação.

O Sétimo Selo

O sétimo selo não acrescenta nenhum evento adicional, só "silêncio


no céu como por meia hora" (Apoc. 8:1). Este silêncio sugere que a
justiça de Deus foi plenamente apoiada sobre as expectativas de Israel
(Isa. 62:1; 65:6, 7; Sal. 50:3-6). É interessante notar que o 4° livro de
Esdras, escrito na última parte do século I de nossa era, relata uma
crença judaica que menciona que o fim da história trará um "silêncio"
correspondendo ao silêncio antes da criação do mundo:
As Profecias do Tempo do Fim 181
"E o mundo voltará para silêncio primitivo por sete dias, como foi no
primeiro princípio; de maneira que ninguém ficará".8
O sétimo selo parece declarar um "silencio no céu" como o fim da
"grande voz" dos mártires por justiça divina. Dessa forma, o ciclo
profético dos selos ressegura à igreja que Cristo é o Senhor da história e
um fiel guardador do pacto. As bênçãos do pacto prometidas à igreja em
Apocalipse 2 e 3 serão outorgadas aos que perseveram na fé ou no
testemunho de Jesus até o fim! Este tema de cumprimento chega a ser o
enfoque principal de consolo na visão de João de Apocalipse 7.

Referências
Para a Bibliografia, ver na página seguinte.

1. Beasley-Murray, Revelation, p. 129.


2. Ellen White, PP 78.
3. Ellen White, Carta 65, 1898; citado em Simpósio sobre o
Apocalipse, t. 1, pp. 371, 372.
4. Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book
of Revelation, p. 110.
5. Pfandl, Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, P. 310.
6. Ibid., p. 313.
7. Knight, Matthew. Bible Amplifier, p. 237.
8. Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, t. 1, p. 537 (4
Esdras 7:30).
As Profecias do Tempo do Fim 182
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 6

Livros
Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century
Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand
Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983.
Charlesworth, J. H., ed., The Old Testament Pseudepigrapha [Os
Livros Pseudoepigráficos do Antigo Testamento]. Garden City,
New York: Doubleday, 1983-1985. 2 ts..
Ellul, Jacques. Apocalypse. The Book of Revelation [Apocalipse: O
livro da Revelação]. Nova York: Seabury Press, ET 1977.
Knight, George R. Matthew [Mateus]. Bible Amplifier [A Bíblia
Amplificada]. Boise, Idaho: Pacific Press. Pub. Assn., 1994.
Naden. Roy C. The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the
Book of Revelation.
Tenney, Merril C. Interpreting Revelation [Interpretando o
Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1973. Cap. 6:
"The Process of World Judgment" [O processo de juízo do mundo].

Artigos
Bauckham, Richard J. "The Eschatological Earthquake in the
Apocalypse of John" [O terremoto Escatológico no Apocalipse de
João], Novum Testamentun [Novo Testamento] XIX (1977), pp.
224233.
Pfandl, Gerhard. "The Remnant Church and the Spirit of Prophecy"
[A Igreja Remanescente e o Espírito de Profecia], Simpósio sobre o
Apocalipse. t. 2, cap. 10.
Paulien, Jon. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os
Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre
o Apocalipse.
______ "The Seven Seals" [Os Sete Selos], Ibid. T. 1, cap. 11.
As Profecias do Tempo do Fim 183
Schlier, H. "Thlipsis" [Thlípsis], Theological Dictionary of the New
Testament [Dicionário Teológico do Novo Testamento], Gerhard
Kittel, ed. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1966. T. 3, pp.
139-148.
Strand, Kenneth A. "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12" [As Duas
Testemunhas de Apocalipse 11:2-12], AUSS 19:2 (1981), pp. 127-
135.
Thomas, R. L. "The Spiritual Gift of Prophecy in Revelation 22:18"
[O Dom Espiritual de Profecia em Apocalipse 22:18], JETS 32:2
(1989), pp. 201-216.
As Profecias do Tempo do Fim 184
SEGURANÇA DE LIBERAÇÃO NO TEMPO DO FIM
Apocalipse 7

Apocalipse 7 contém um interlúdio ou parêntese no ciclo dos selos.


Neste capítulo João tira partido de sua teologia do povo remanescente.
Apocalipse 7 mostra um foco específico do tempo do fim que
complementa o quinto selo (Apoc. 6:9-11 ). Tanto este selo como
Apocalipse 7 tratam do mesmo tema: a grande tribulação para o povo de
Cristo. O raio de luz da profecia põe de relevo a tribulação final com sua
crise universal. Não só os poderes perseguidores do mundo causam a
crise, mas também em um sentido mais elevado, a crise causa a ira do
Cordeiro manifestada nas sete últimas pragas (Apoc. 6:16, 17; 15:1). O
amparo divino é essencial se a última geração do povo de Deus vai
passar incólume durante o derramamento da ira de Deus. Apocalipse 7
está planejado para assegurar a todas as gerações do povo de Deus,
especialmente à última, a provisão que tem feito para resgatar a cada
seguidor de Cristo nesse tempo de emergência.
Esta crise de proporções mundiais imposta pelo céu se descreve no
sexto selo, onde os sinais cósmicos introduzem o dia do juízo. Por
conseguinte, a pergunta existencial "e quem poderá ficar de pé?" chega a
ser crítica (Apoc. 6:17). Esta pergunta fundamental tinha sido feita antes
por três profetas: Joel (2:11), Naum (1:6) e Malaquias (3:2). Cada vez o
profeta respondeu sua pergunta dizendo que a única maneira de
permanecer em pé no dia da ira é tendo um arrependimento verdadeiro
(Joel 2:12-27; Naum. 1:7; Mau. 3:3, 4). Naum recalcou que só Jeová é
"fortaleça no dia da angústia; e conhece os que nele confiam" (Naum.
1:7).
Portanto, podemos esperar encontrar a resposta a esta pergunta de
Apocalipse 6:17 no capítulo 7. O propósito de Apocalipse 7 é mostrar os
que ficarão de pé no dia da retribuição. A pergunta: "Quem poderá ficar
de pé?", é totalmente essencial para os que estiverem vivos quando
terminar repentinamente o tempo de graça e se derramarem do céu as 7
As Profecias do Tempo do Fim 185
pragas. Apocalipse 7 é para alentar o povo de Deus a perseverar até o
fim em sua fé em Cristo. É um dos capítulos mais tranqüilizadores para a
fé cristã. Pela primeira vez encontramos aqui a um grupo denominado os
"144.000" israelitas verdadeiros. Estes podem permanecer firmes no dia
do Senhor sem temor, porque têm um refúgio contra a ira do Cordeiro.
Seu lugar especial na história da salvação é no fim do tempo. Sairão
triunfantes da grande tribulação. Este é o marco do fim do tempo de
Apocalipse 7 em seu contexto imediato do sexto selo.
"Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra,
conservando seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento
soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma. Vi outro
anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em
grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra
e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores,
até selarmos na fronte os servos do nosso Deus. Então, ouvi o número dos
que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos
dos filhos de Israel" (Apoc. 7:1-4).
Com esta descrição de libertação divina, o Senhor ressuscitado
assegura a seus seguidores que as pragas não destruirão toda a
humanidade. Primeiro Cristo colocará um sinal de proteção sobre seus
"servos". "Conhece o Senhor aos que são seus" (2 Tim. 2:19). Malaquias
tinha prometido uma proteção especial para o povo de Deus ao final da
história.
"Então, os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor
atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem
ao Senhor e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim
particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos;
poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. Então, vereis
outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e
o que não o serve" (Mau. 3:16-18).

Isto expressa a teologia hebraica de que haverá um povo


remanescente final de Deus. Isto implica a separação de um Israel que
adora a Deus de um Israel nominal.
As Profecias do Tempo do Fim 186
Daniel também apontou o remanescente de Israel desta maneira:
"Mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado
inscrito no livro" (Dan. 12:1). Daniel distingue entre um Israel nacional e
um Israel espiritual. Só os que estão registrados no céu como cidadãos
do reino de Deus, serão sacados da tribulação final no fim dos dias (vs.
1, 2). O anjo assegurou a Daniel: "Muitos serão purificados,
embranquecidos e provados; mas os perversos procederão
perversamente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão" (v.
10). Isaías também predisse que um remanescente santo sobreviveria ao
juízo do Deus de Israel:
"Será que os restantes de Sião e os que ficarem em Jerusalém serão
chamados santos; todos os que estão inscritos em Jerusalém, para a vida,
quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião e limpar Jerusalém da
culpa do sangue do meio dela, com o Espírito de justiça e com o Espírito
purificador. Criará o Senhor, sobre todo o monte de Sião e sobre todas as
suas assembléias, uma nuvem de dia e fumaça e resplendor de fogo
chamejante de noite; porque sobre toda a glória se estenderá um dossel e
um pavilhão, os quais serão para sombra contra o calor do dia e para refúgio
e esconderijo contra a tempestade e a chuva" (Isa. 4:3-6).
Em Apocalipse 7, Deus assegura à sua igreja que sua ira não se
derramará até que tenha selado seu verdadeiro Israel. Esse selo os
protegerá, não só da morte física, mas também de todos os poderes
sobrenaturais de destruição, tanto demoníacos (Apoc. 9:4) como divinos
(cap. 16). Só dessa maneira podem permanecer em pé no último dia.
Desta maneira Cristo cumpre sua promessa:
"Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te
guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para
experimentar os que habitam sobre a terra" (Apoc. 3:10).
O "selo do Deus vivo", que os anjos do céu porão sobre a "fronte
dos servos de nosso Deus" (Apoc. 7:2, 3), está em agudo contraste com a
"marca da besta", uma batalha estritamente do tempo do fim contra os
santos (ver 13:15-17). Ambos os sinais de identificação operam em
forma simultânea no tempo do fim como o cenário final de separação
definitiva.
As Profecias do Tempo do Fim 187
Alguns identificaram este selo apocalíptico com o selo do
evangelho do qual Paulo fala no Efésios 1:13; 4:30 e 2 Coríntios 1:21 e
22. Paulo disse que a segurança da salvação do crente estava selada no
coração pelo Espírito Santo. Cristo nos "ungiu" e portanto, "também nos
selou, e nos deu os penhor do Espírito em nossos corações" (2 Cor.
1:22). Mas este selo do evangelho colocado pelo Espírito no coração não
deve identificar-se completamente com o único selo apocalíptico que os
anjos colocarão sobre a fronte dos servos de Deus (Apoc. 7:1-3).
O selo do tempo do fim tem um propósito diferente que o de
assegurar a salvação pessoal. É um sinal externo acrescentado ao
selamento interno do Espírito, como o sinal da aprovação divina durante
a última prova de fé, imposta ao povo de Deus pela besta de Apocalipse
13. É também o sinal de proteção contra as sete últimas pragas da ira de
Deus (ver Apoc. 16).
Depois da descrição do selamento dos 144.000, João viu no céu a
uma "grande multidão" de gente redimida e glorificada que havia saído
"da grande tribulação" (Apoc. 7:9, 14). Isto expõe o seguinte problema:
Como se relacionam entre si estas duas cenas de Apocalipse 7?
Apresentam dois grupos diferentes de redimidos, como foi a conclusão
tradicional de muitos? Descrevem a 144.000 judeus e uma inumerável
multidão de gentios? Primeiro observemos algumas distinções entre
estas duas cenas:
Em primeiro lugar, há uma progressão histórica clara em
Apocalipse 7, porque o selamento dos 144.000 está situado na terra, com
antecedência à crise final de fé, enquanto que a grande multidão está em
pé "diante do trono e na presença do Cordeiro" (Apoc. 7:9). Estes "vêm
da grande tribulação" (v. 14). Dessa maneira, as duas cenas descrevem
um desenvolvimento na história da salvação.
Em segundo lugar, outra diferença tem que ver com a linguagem
figurada das duas cenas deste capítulo. À primeira vista, parece
descrever dois grupos diferentes, um que consiste de 144.000 judeus de
12 tribos específicas, e uma grande multidão de todas as nações da terra
As Profecias do Tempo do Fim 188
que não pode contar-se. Mas se se considera o contexto do Apocalipse
como um tudo, podemos ver que estas distinções aparentes não
descrevem duas classes diferentes de redimidos. O livro começa
anunciando que a igreja é a que realiza a eleição de Israel: "E nos fez reis
e sacerdotes para Deus e seu Pai" (Apoc. 1:6; cf. Êxo. 19:4, 5). Esta
verdade do evangelho se amplia no canto dos anciões:
"Com seu sangue adquiriu para Deus homens de toda raça e língua, e
povo e nação; fez deles linhagem real e sacerdotes para nosso Deus, e
serão reis na terra" (Apoc. 5:9,10, NBE).
Esta verdade do novo pacto, quer dizer, que os 12 apóstolos
continuam a chamada teológica das 12 tribos do Israel, foi o resultado da
proclamação de que Jesus é o Messias de Israel. Todos os crentes em
Cristo Jesus são chamados cristãos, quer dizer, o povo do Messias. Seu
batismo em Cristo os selou como filhos de Abraão, o pai de todos os
crentes (ver Rom. 4:12). As promessas do Deus de Israel estão
garantidas por Cristo "para toda sua descendência; não somente para a
que é da lei, mas também para a que é da fé de Abraão, o qual é pai de
todos nós" (v. 16). O apóstolo Paulo não reconheceu já a diferença
teológica entre os judeus e os gentis com respeito às promessas do pacto
de Deus:
"Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus;
porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes.
Destarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem
homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois
de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a
promessa" (Gál. 3:26-29).
Sobre esta base, Paulo inclusive pôde chamar a igreja: "o Israel de
Deus" (Gál. 6:16).1 Para Tiago, os cristãos são "as doze tribos que estão
na dispersão" (Tia. 1:1; ver também 1 Ped. 1:1; 2:9). Esta verdade
fundamental do evangelho é a razão pela qual o Apocalipse assegura à
igreja que passa pela aflição que sua meta é a Nova Jerusalém (Apoc. 21,
22), e que tanto os nomes das 12 tribos do Israel como os dos 12
apóstolos estão escritos na mesma santa cidade (21:2, 10-14).
As Profecias do Tempo do Fim 189
Voltando a Apocalipse 7, reconhecemos que João contempla o
remanescente de Israel em promessa e em cumprimento. Primeiro
descreve o Israel de Deus em forma simbólica, na grande aflição do
tempo do fim na terra. Depois procede a explicar seu tamanho real como
um povo inumerável que permanece fiel durante a "grande tribulação" e
portanto desfrutará da paz eterna do céu. Pode-se expressar isto dizendo
que a primeira cena de Apocalipse 7 representa a igreja militante, e a
segunda a igreja triunfante. A última cena (Apoc. 7:9-17) é proléptica,
antecipando os gozos futuros da nova terra que estão ampliados em
termos similares em Apocalipse 21:1-4 e 22:1-5.
É importante observar que João não declara que viu 144.000
israelitas como os selados. Só declara: "E ouvi o número" (Apoc. 7:4).
Quando João deu a volta para ver os selados, só viu uma grande
multidão de vencedores. Esta descrição vívida confirma a verdade do
evangelho de que as promessas de Deus a Israel não falharão, mas sim se
cumprirão em Cristo e em seu povo.
O modelo de ouvir e depois voltar-se para ver, usou-o João em
Apocalipse 1:12 e 13. O que João ouviu ficou ulteriormente esclarecido
pelo que em realidade viu. Em Apocalipse 5 encontramos outro
exemplo. Ouviu que um dos anciões disse "o Leão da tribo de Judá...
venceu" (Apoc. 5:5). Mas quando olhou para ver o Leão, viu "no meio
do trono... um Cordeiro como imolado" (Apoc. 5:6). O que João viu foi
uma elucidação do que primeiro só tinha ouvido.
Este estilo de revelação também é usado por João no capítulo 7.
Depois de ter ouvido o número de israelitas que foram selados, João diz
que: "Vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as
nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do
Cordeiro" (Apoc. 7:9). Em uma visão ulterior, João vê os 144.000
também "diante do trono" (14:3) enquanto "seguem o Cordeiro aonde
quer que vá" (v. 4). Dessa maneira João identifica os 144.000 israelitas
espirituais como os inumeráveis crentes em Cristo, o Cordeiro de Deus.
As Profecias do Tempo do Fim 190
Enquanto Abraão foi gentio, Deus lhe prometeu que sua descendência
seria incontável como as estrelas (Gên. 15:5; 32:12).
As promessas de Deus de abençoar a Abraão e aos outros patriarcas
de Israel se cumprirão por meio de Cristo em uma forma que superará
todas as expectativas (ver Gál. 3:29; 6:16). Apocalipse 7 contém a chave
para abrir seu próprio simbolismo hebraico: o verdadeiro Israel de Deus
não está limitado a 144.000 judeus literais, mas sim é um símbolo da
totalidade do Israel espiritual entre toda a raça humana.
No dia final, todos receberão o selo de proteção e não só um
pequeno número de crentes judeus, deixando os cristãos de origem gentil
desprotegida. Esta é a segurança que apresenta Apocalipse 7 para a
igreja do tempo do fim. Alguns eruditos bíblicos destacam com toda
razão a idéia de que "o selamento deve ser coextensivo com o perigo, e
portanto, deve incluir a toda a comunidade cristã, judeus e gentios por
igual".2 Outros declaram que "as duas visões, descrevem o mesmo
corpo, sob condições totalmente diferentes".3 Esta conclusão também
está confirmada em Apocalipse 14:1-5, onde se descreve a fé cristã dos
144.000 na linguagem simbólica do Joel 2:32 e Sofonías 3:13.
João decompõe o número 144.000 em 12 por 12.000, pelo qual
mostra que o número 12 é o número chave, que deve entender-se em seu
significado no sistema do pacto como representando o povo do pacto ou
o reino de Deus. A multiplicação expressa a totalidade do povo de Deus
no tempo do fim. Douglas Ezell o explica desta maneira:
"Como João usou o título do Antigo Testamento ('um reino de
sacerdotes') reservado para os israelitas para referir-se aos cristãos, assim
agora emprega as doze (tribos) multiplicadas por doze (os apóstolos)
multiplicado por dez (o número do completo) elevado à terceira potência (o
número da deidade), para descrever simbolicamente a todos os redimidos
(note também que as portas e os fundamentos da Nova Jerusalém têm os
nomes das doze tribos do Israel e os doze apóstolos, Apocalipse 21:12-13)...
O número redondo de 12.000 representa simbolicamente uma quota
completa".4
As Profecias do Tempo do Fim 191
Colocado no contexto do tempo do fim de Apocalipse 7,
entendemos que o número 144.000 representa o povo do pacto de Deus
em todo mundo durante a crise final da era cristã. Esta lista das 12 tribos
de Apocalipse 7 é única em toda a Escritura e assinala a um simbolismo
cristão, porque coloca primeiro na lista a Judá, aparentemente para
enfatizar que Cristo é a cabeça do novo Israel (Apoc. 5:5, 6; 7:5). O fato
de que se omite a tribo de Dã e se acrescenta a de Manassés embora já
está incluído José (Apoc. 7:6, 8), de novo dá a entender seu significado
não literal. Poder-se-ia concluir nas palavras de Beatrice S. Neall que...
"…o número 144.000 deve entender-se como um símbolo da unidade,
a perfeição e a consumação da igreja de Deus, completa porque se
completou o número dos escolhidos (Apoc. 6:11)".5
O significado de Apocalipse 7 chega a ser claro se for visto em sua
conexão imediata com os selos do capítulo 6, que termina com a
inquietante pergunta: "Porque é vindo o grande dia; e quem poderá ficar
de pé?" (Apoc. 6:17). Apocalipse 7 responde com uma resposta dupla:
primeiro, visualiza o remanescente santo como vitorioso no juízo de
Deus (Apoc. 7:1-8), e depois o descreve como glorificado no reino de
Deus (vs. 9-17).

O Anjo do Oriente ou do Nascimento do Sol

"Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra,


conservando seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento
soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma. Vi outro
anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em
grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra
e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores,
até selarmos na fronte os servos do nosso Deus" (Apoc. 7:1-3).

Esta passagem sugere uma certa "demora" do fim, similar à do


quinto selo (Apoc. 6:11 ). Os quatro ventos de luta de guerra (ver Jer.
49:36-39; Dan. 7:2) e destruição são refreados por intervenção divina. É
As Profecias do Tempo do Fim 192
a vontade de Deus a que determina o curso da história humana. Realizar-
se-á o propósito mais elevado do Deus que guarda o pacto. Deus enviará
uma mensagem especial de seu trono (o oriente cósmico) para proteger a
um povo que permanecerá fiel a Deus durante "a hora da prova que tem
que vir sobre o mundo inteiro, para provar aos que moram na terra"
(Apoc. 3:10).
A missão deste anjo antecipa a do anjo de Apocalipse 10, que se
desenvolve mais na triplo mensagem de Apocalipse 14:6-12. Com
respeito a isto, Uriah Smith concluiu: "O anjo que tem o selo do Deus
vivo é, pois, o mesmo que o terceiro de Apocalipse 14".6 O anjo com o
selo do Deus vivo vem de "onde nasce o sol". Esta frase particular
anunciou na profecia de Isaías a chegada da libertação de Israel do
cativeiro babilônico (ver Isa. 41:2, 25). Ezequiel também viu a glória de
Deus "que vinha do oriente" (Ezeq. 43:2). E Malaquias predisse que para
os que temem o nome do Deus de Israel, "nascerá o Sol de justiça, e em
suas asas trará salvação" (Mau. 4:2). Heinrich Kraft comenta sobre
Apocalipse 7:2 o seguinte:
"Este anjo, por sua origem do nascimento do sol, representa a Cristo
como o sol de justiça... o anjo aqui representa o poder salvífico e
preservador de Cristo".7

O Selamento no Tipo e no Antítipo

O propósito do "selo do Deus vivo" pode entender-se melhor na


perspectiva de seus antecedentes na história de Israel. Dois momentos
críticos para Israel, um no Egito e outro em Jerusalém, proporcionam os
tipos históricos para entender o significado teológico do selamento do
povo de Deus no tempo do fim. Para salvaguardar a seu povo do pacto
do anjo da morte, Deus tinha ordenado a Israel que colocasse o sangue
de um cordeiro nos batentes de suas casas:
As Profecias do Tempo do Fim 193
"O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu
vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora,
quando eu ferir a terra do Egito" (Êxo. 12:13).
Aqui notamos a essência do selamento do tempo do fim. Deus
designou um sinal determinado, o sangue do cordeiro pascal, como a
expressão exterior de sua confiança em Jeová, como o sinal de que
pertenciam ao Deus do pacto de Israel. Israel precisava aceitar e aplicar
pela fé este selo da proteção de Deus, para sobreviver ao juízo de Deus
sobre o Egito. Não menos significativa é a visão de Ezequiel, onde 6
anjos são enviados a Jerusalém para executar a maldição que estava no
pacto de Deus. O Senhor ordenou aos anjos que matassem a todos os
idólatras que havia no templo e na cidade. Não obstante, a graça de Deus
se manifestou ao enviar a um anjo especial com um tinteiro de tabelião
na frente dos verdugos:
"Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um
sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as
abominações que se cometem no meio dela" (Ezeq. 9:4).
Deus mostrou sua misericórdia ao separar o remanescente
arrependido e espiritual de um Israel apóstata. Aqueles identificados pelo
sinal do anjo encontraram proteção do "derramamento" da ira divina.
Deus ordenou: "Não toquem a nenhum dos marcados. Comecem por
meu santuário" (Ezeq. 9:6, NBE). Executou-se a justiça de Deus sobre os
impenitentes só depois que o anjo da misericórdia teve completado sua
tarefa de assinalar (ver o V. 10; Ezeq. 8). Tanto em Êxodo 12 como em
Ezequiel 9 notamos a mesma seqüência: primeiro o selamento; depois
segue a maldição do pacto sobre os que não receberam a marca de
proteção.
O propósito do selamento nos tipos históricos, que era proporcionar
uma proteção sobrenatural contra o derramamento iminente da ira de
Deus, constitui a essência do selamento do tempo do fim em Apocalipse
7. O selamento apocalíptico será o prelúdio ao derramamento da ira de
Deus nas 7 últimas pragas de Apocalipse 16 (ver Apoc. 15:1).
Apocalipse 7 deve entender-se como o antítipo mundial dos tipos
As Profecias do Tempo do Fim 194
históricos de Êxodo 12 e Ezequiel 9. Por conseguinte, não se descreve os
144.000 selados como missionários que trazem uma multidão de salvos
de todas as nações.
Em nenhum lugar indica Apocalipse 7 que a multidão inumerável
deve sua salvação à pregação dos 144.000 como afirmaram alguns
escritores dispensacionalistas. Ao contrário, este capítulo descreve os
144.000 como o remanescente de Deus, o único que pode permanecer no
dia da ira. Só os selados sobreviverão ao Armagedom (Apoc. 16). Todos
os outros, os "moradores da terra", receberão a "marca da besta" (13:15-
17). Se toda pessoa receber ou o selo de Deus ou a marca da besta, então
ninguém pode permanecer moralmente neutro ou sem comprometer-se
na prova final de fé. Esta última separação da humanidade se expressa no
Apocalipse da seguinte maneira:
"Que o injusto continue sendo injusto; e o sujo continue manchando-se;
o justo continue fazendo justiça, e o santo continue santificando-se" (Apoc.
22:11, CI; ver também Dan. 12:10).

Esta declaração implica que o selamento apocalíptico significa a


fixação definitiva do caráter. R. H. Charles apresenta esta explicação
profunda:
"Em seu sentido mais profundo, este selamento significa a
manifestação exterior do caráter. A bondade oculta dos servos de Deus é no
fim proclamada exteriormente, e o nome divino que foi escrito em segredo
pelo Espírito de Deus em seus corações se grava agora abertamente sobre
suas frontes pelo mesmo anel de selar do Deus vivo... No reinado do
anticristo, a bondade e o mal, a justiça e o pecado, vêm em sua
manifestação e antagonismo mais completos. O caráter entra, em última
instância, na etapa da finalidade".8

Este momento final ocorre durante a prova final de lealdade, como


explicou Ellen White:
"Ao passo que uma classe, aceitando o sinal de submissão aos
poderes terrestres, recebe o sinal da besta, a outra, preferindo o sinal da
obediência à autoridade divina, recebe o selo de Deus".9
As Profecias do Tempo do Fim 195
A outorga simultânea do selo de Deus e da marca da besta implica
que este evento apocalíptico ainda está no futuro. João expõe o
significado dessa hora de prova mais amplamente em Apocalipse 12-14.
É evidente que só os que tenham recebido o selamento do
evangelho do Espírito de Cristo em seus corações e experimentem dessa
maneira o poder santificador de Deus, são candidatos para o selo
apocalíptico. Os anjos de Deus colocarão esse selo sobre a fronte dos que
já são os "servos de nosso Deus" (Apoc. 7:3).

A Segurança da Vitória dos 144.000

Todos os redimidos estão vestidos de "roupas brancas" e têm


"palmas em suas mãos" (Apoc. 7:9). E clamam a grande voz: "A
salvação pertence a nosso Deus que está sentado no trono, e ao
Cordeiro" (v. 10). Não atribuem a salvação à sua própria justiça, a suas
boas obras ou méritos, nem sequer a seu arrependimento, a não ser
exclusivamente à graça salvífica de Deus. Esse povo é verdadeiramente
espiritual, porque louvam a Deus e a Cristo. Desviam seus olhos de sua
própria vida de sacrifício para concentrar sua vista no sacrifício
expiatório do Cordeiro. Essa é a adoração que precisamos cultivar agora
se esperamos nos unir aos santos de todos os tempos na doxologia:
"Digno... é o Cordeiro!" (Apoc. 5:12).

Apocalipse 7 apresenta outra característica importante dos 144.000.


Um ancião no céu pergunta: "Estes, que se vestem de vestiduras brancas,
quem são e donde vieram?" (Apoc. 7:13). João responde: "Meu Senhor,
tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande
tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do
Cordeiro" (v. 14). Aqui falha todo literalismo. Ninguém pode lavar
nunca um vestido branco em sangue literal. Temos que compreender seu
significado espiritual, quer dizer, que lavaram as roupas de seu caráter
pela fé e confiança na morte expiatória do Cordeiro de Deus. Esta
As Profecias do Tempo do Fim 196
imagem descreve graficamente a eficácia da cruz de Cristo. Pedro
assinalou a mesma realidade da graça redentora quando declarou que os
crentes foram salvos de uma "vã maneira de viver" por meio do "sangue
precioso de Cristo" (1 Ped. 1:18, 19). Deste modo João escreveu: "O
sangue do Jesus Cristo seu Filho nos limpa de tudo pecado" (1 João 1:7).
A vitória da fé se assegura de um modo especial à última geração.

A Grande Tribulação do Tempo do Fim

Diz-se que os 144.000 israelitas espirituais saíram da "grande


tribulação". É obvio, esse tempo de aflição para o povo de Deus em
Apocalipse 7 está determinado por seu tempo na história da salvação. O
Novo Testamento assinala vários períodos principais de aflição para o
povo fiel de Cristo:

1. O tempo de perseguição por meio dos concílios e sinagogas judias:


Marcos 13:9-13; Mateus 10:17; João 16:2; Lucas 21:12; Feitos 4:1-
3; 5:17, 18, 40; 1 Tessalonicenses 2:14-16; 3:3, 4.

2. O tempo de perseguição por parte do Império Romano: Mateus


24:15-21; Marcos 13:14-19; Apocalipse 2:10.

3. O tempo de perseguição durante o domínio papal na Idade Média:


Apocalipse 12:6, 14 (ampliando Dan. 7:25 e 8:11-13).

4. A perseguição do tempo do fim, pelo anticristo revivido ou


Babilônia: Mateus 24:22; Apocalipse 12:17; 13:15-17 (ampliando
Dan. 12:1).

Jesus não especificou 4 períodos diferentes de perseguição, mas sim


se referiu às perseguições vindouras de uma maneira geral: "No mundo
tereis aflições [thlípsis]" (João 16:33). Disse Jesus: "Se me perseguiram,
As Profecias do Tempo do Fim 197
também vos perseguirão" (15:20). Paulo também disse, em termos
gerais, que "é necessário que através de muitas tribulações [thlípseon]
entremos no reino de Deus" (At. 14:22). Mais adiante explicou: "E
também todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus
padecerão perseguição" (2 Tim. 3:12).

Mas estas declarações de oposição e de sofrimento esperados pelos


seguidores de Cristo, não anulam as predições de Daniel e do Apocalipse
a respeito de períodos específicos de grande tribulação para o povo de
Cristo. A tribulação mais severa virá no tempo do fim, especificamente
para a última geração do povo de Deus. Daniel assinalou explicitamente
uma perseguição intensificada (Dan. 12:1), a qual também se referiu
Jesus em sua profecia de Mateus 24:21 e 22 (e Mar. 13:19, 20) e que
seria "abreviada" por intervenção divina. Esta guerra do tempo do fim
contra os santos está ampliada ainda mais em Apocalipse 12:17 e 13:15-
17. Pheme Perkins apresenta este comentário perspicaz:

"Esta promessa [de abreviar] mostra que os sofrimentos do tempo do


fim são qualitativamente diferentes das perseguições que os discípulos
podem esperar sofrer durante seu testemunho habitual do evangelho. A
última pode suportar-se até o fim (Mar. 13:13b), mas para que os escolhidos
perseverem até o fim do tempo, Deus deve abreviar esse tempo (Mar.
13:20)".10

No meio da proscrição universal dos seguidores do Cordeiro, esta


profecia assegura seu resgate repentino por parte do Guerreiro divino
(ver Apoc. 17:14; 19:11-21). Finalmente se levantará Miguel para liberar
sua guerra santa e todas as perseguições no mundo inteiro serão
abreviadas (Dan. 12:1; Mat. 24:22; Mar. 13:20).
Podemos reconsiderar o amplo alcance dos períodos principais de
perseguição no diagrama seguinte:
As Profecias do Tempo do Fim 198
PERSEGUIÇÕES AMPLIADAS

PROSCRIÇÃO
UNIVERSAL DO
POVO DE DEUS

LIBERDADE
RELIGIOSA

SOB A
IGREJA-ESTADO
MEDIEVAL

SOB O IMPÉRIO
ROMANO

NA JUDÉIA sob
o domínio judeu

DANIEL 12:1

RESGATE
REPENTINO
desde o céu

A interrogante é: A que "grande tribulação" refere-se Apocalipse 7


quando declara da grande multidão: "Estes são os que saíram [ou 'estão
chegando', G. Caird] da grande tribulação (v. 14)?"11 Esta "grande
tribulação" é o tempo de prova para o qual Cristo prepara a sua igreja:
"Também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o
mundo inteiro, para provar os que habitam sobre a terra" (Apoc. 3:10).
Esta "hora da prova" cumpre essa perseguição final pela qual os mártires
anteriores tiveram que esperar durante o sexto selo (6:11). Mounce
comenta o seguinte sobre Apocalipse 7:14: "A intensidade do conflito
As Profecias do Tempo do Fim 199
final da justiça e do mal se elevará a um tom tal como para chegar a ser a
grande tribulação".12
João ainda não explicou a natureza da "hora da prova" que virá
sobre a geração do fim da história. Apocalipse 7 prevê esse tempo final
de prova e suas promessas da proteção de Deus. João antecipa em frases
curtas o que mais tarde desenvolverá em forma mais extensa. Revela "o
grande conflito de lealdades" detalhadamente em Apocalipse 12 a 14.
João coloca a recompensa dos 144.000 israelitas à luz de todos os
redimidos que serão salvos no reino de Deus. Sua recompensa será a de
todos os redimidos: "Vestidos de roupas brancas, e com palmas em suas
mãos", enquanto estão diante do trono e na presença do Cordeiro (Apoc.
7:9). Requeriam-se "ramos de palma" em Israel para celebrar a festa dos
Tabernáculos, quando tinham que regozijar-se "diante de Jeová seu Deus
por sete dias" (Lev. 23:40). O significado desta festividade anual era
recordar sua liberação milagrosa do Egito e sua viagem segura à terra
prometida (v. 43). Nestes termos, Apocalipse 7 assegura que a
consumação da festa dos Tabernáculos na casa do Pai é algo indubitável.
No judaísmo tardio, o ondulação dos ramos de palma chegou a
significar as boas-vindas do Messias que vinha em nome de Jeová:
"Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei do Israel!" (João 12:12,
13; Sal. 118:25, 26). Este aspecto messiânico se cumpre no cântico da
grande multidão:
"Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a
salvação" (Apoc. 7:10).
João explica que o companheirismo com o Cordeiro de Deus é a
razão ("por isso", 7:15) pela qual estão diante do trono de Deus e o
servem. Servir a Deus é adorá-lo com louvores (ver Luc. 2:37; Rom.
12:1).
Em última instância, o gozo da salvação é a experiência da contínua
presença de Deus. "E aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles
o seu tabernáculo" (Apoc. 7:15). A glória da shekinah, ou seja o
resplendor da presença de Deus, estará entre eles (ver 22:3-5). Esta
As Profecias do Tempo do Fim 200
promessa foi a esperança de todos os santos. Isaías o expressou
maravilhosamente:
"Criará o Senhor, sobre todo o monte de Sião e sobre todas as suas
assembléias, uma nuvem de dia e fumaça e resplendor de fogo chamejante
de noite; porque sobre toda a glória se estenderá um dossel e um pavilhão,
os quais serão para sombra contra o calor do dia e para refúgio e
esconderijo contra a tempestade e a chuva" (Isa. 4:5, 6).
Esta promessa messiânica foi repetida pelos profetas Ezequiel
(37:27) e Zacarias (2:10). As promessas da segurança eterna em
Apocalipse 7:16 e 17 também estão tiradas do Antigo Testamento,
principalmente das promessas de Isaías a respeito da restauração de
Israel (ver Isa. 25:8; 35:10; 49:10; 51:11; 65:19). O cumprimento destas
promessas de restauração será imensamente mais esplêndido do que foi
concebido por Israel. A fome e a sede de justiça será satisfeita
amplamente pelo próprio Messias, como assegurou Jesus: "O que vem a
mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede" (João 6:35;
ver também 7:37). Dessa maneira, os desejos mais profundos do coração
humano serão gratificados para sempre. Que promessa emocionante!
Apocalipse 7 culmina com a declaração de que "o Cordeiro que está
no meio do trono" será o divino "Pastor" (Apoc. 7:16, 17; cf. Isa. 49:10).
Isto também cumprirá a promessa messiânica de Ezequiel: "Suscitarei
para elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as
apascentará; ele lhes servirá de pastor" (Eze. 34:23). O Deus de Israel
também guiará seu novo povo do pacto ao futuro eterno. No Apocalipse
se repete duas vezes uma promessa particular de Deus ao Isaías:
"Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o Senhor Deus as
lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu
povo, porque o Senhor falou" (Isa. 25:8 ).

A promessa que assegura que "o Senhor enxugará as lágrima de


todos os rostos" agora se faz duplamente segura por Cristo para os
seguidores do Cordeiro (ver Apoc. 7:17 e 21:4). Comentando a promessa
de Apocalipse 7:16 e 17, diz Bruce M. Metzger:
As Profecias do Tempo do Fim 201
"O capítulo [Apoc. 7] termina com palavras que levaram alívio e
consolação a milhões. Não há palavras mais consoladoras nos ouvidos dos
que estiveram angustiados que a promessa final: 'Jamais terão fome, nunca
mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o
Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para
as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima'
(Apoc. 7:16, 17)".13

Referências
Para a Bibliografia, ver na página 202.

1. Para um estudo em profundidade, ver o livro de LaRondelle, O


Israel de Deus na profecia.
2. Ver Charles, The Revelation of St. John, T. 1, P. 200.
3. Swete, Commentary on Revelation, p. 99; I. T. Beckwith, quem
afirma: "Eles [os 144.000] são todo o corpo da igreja, judeus e
gentis por igual" The Apocalypse of John, p. 535.
4. Ezell. Revelations on REVELATION, p. 60.
5. Neall, "Sealed Saints and the Tribulation", Simpósio sobre o
Apocalipse, T. 1, p. 262.
6. Smith, Las profecías de Daniel y el Apocalipsis; t. 2: El
Apocalipsis, p. 116.
7. Kraft, Die Offenbarung des Johannes, p. 125.
8. Charles, The Revelation of St. John , T. 1, pp. 205, 206.
9. Ellen White, GC 605.
10. Perkins, Commentary on Mark, T. 8, p. 690.
11. Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 102.
12. Mounce, The Book of Revelation, p. 173.
13. Metzger, p. 62.
As Profecias do Tempo do Fim 202
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 7

Livros
Caird, George B. The Revelation of St. John the Divine [O Apocalipse
de São João o teólogo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans,
1977.
Charles, R. H. The Revelation of St. John [O Apocalipse de São João],
2 ts. ICC. Edimburgo: T & T Clark. T. 1 (1920, 1975), pp. 188-
218.
Damsteegt, P. G. Foundations of S.D.A. Message and Mission
[Fundamentos da Mensagem e Missão dos Adventistas do Sétimo
Dia]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1981.
Ford, Desmond. Crisis! A Commentary on the Book of Revelation. T.
2, pp. 381-395.
Ezell, Douglas. Revelations on REVELATION [Revelações sobre o
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Kraft, Heinrich. Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de
João]. Handbuch z. NT 16a. Tübingen: J. C. B. Mohr, 1974.
LaRondelle, H. K. Chariots of Salvation. The Biblical Drama of
Armageddon [Carruagens de Salvação. O Drama Bíblico do
Armagedom]. Hagerstown, MD: Review and Herald Pub. Ass.,
1987. Cap. X.
________. O Israel de Deus na Profecia. Princípios de Interpretação
Profética.
Metzger, Bruce M. Breaking the Code. Understanding the Book of
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Moore, Marvin. The Refiner's Fire [O Fogo do Refinador]. Boise, ID:
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_______. La crisis del tiempo final. Florida, Buenos Aires: Asociación
Casa Editora Sul-Americana, 1993. Caps. 13 e 14.
As Profecias do Tempo do Fim 203
Mounce, Robert H. The Book of Revelation [O Livro do Apocalipse].
The New International Commentary on the New Testament [O
novo comentário internacional sobre o Novo Testamento]. Grand
Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977.
Neall, Beatrice S. The Concept of Character in the Apocalypse with
Implications for Character Education [O Conceito de Caráter no
Apocalipse com Implicações para a Educação do Caráter].
Washington: University of America Press, 1983. Pp. 145-167.
Perkins, Pheme. Commentary on Mark [Comentário sobre Marcos],
The New Interpreter's Bible [A Bíblia do Novo Intérprete]. 12 ts.
Nashville, TN: Abingdon Press, 1995. T. 8.
Swete, Henry B. Commentary on Revelation [Comentário sobre o
Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1980
(reimpressão de 1977).
Were, Louis F. 144.000 SEALED! When? Why? [144.000 Selados!
Quando? Por que?]. East Malvern, Vitória, Austrália: A. F.
Blackman, 1960.

Artigo

Neall, Beatrice S. "Sealed Saints and the Tribulation" [Os Santos


Selados e a Tribulação], Simpósio sobre o Apocalipse. T. l, cap.
12.
As Profecias do Tempo do Fim 204
COMPREENDENDO AS TROMBETAS EM SEUS
CONTEXTOS
Apocalipse 8 e 9

O problema fundamental que os intérpretes futuristas têm com o


livro do Apocalipse é sua hipótese de que João descreve os eventos do
tempo do fim com uma exatidão fotográfica e com absoluta literalidade.
Entretanto, o Apocalipse descreve o que Deus "comunicou" por meio de
um anjo a João (Apoc. 1:1). Portanto, tomar com literalidade absoluta as
imagens que João apresenta dos eventos futuros é um mal-entendido
básico do Apocalipse que conduz a um quadro especulativo do tempo do
fim.
João apresenta o futuro em uma linguagem figurada e simbolismo
complexos. Uma chave para entender o estilo literário de João é seu
modelo de antecipação e ampliação. Por exemplo, as promessas de
Cristo aos vencedores nos capítulos 2 e 3 voltam como tendo sido
cumpridas nos capítulos 21 e 22. O anúncio da queda de Babilônia no
capítulo 14 se explica mais tarde nos capítulos 16 aos 19. A besta
perseguidora no capítulo 11:7 se descreve mais completamente nos
capítulos 13 e 17. João usa a técnica de entrelaçar suas visões
antecipadoras na primeira metade do livro com a narração orientada ao
fim na segunda metade. O Apocalipse é um corpo coerente, um todo
orgânico que mostra uma formosa concepção arquitetônica.
O maior desafio é como entender as reiterações manifestas que há
no livro. Várias vezes se descreve o fim desta era (Apoc. 1:7; 6:12-17;
11:15-19; 14:14-20; 19:11-21; 20:11-15). Estas visões reiterativas do fim
são parte do propósito do autor. Excluem a hipótese de que João
descreve a era da igreja em uma seqüência de linha reta. Antes, apresenta
perspectivas diferentes do fim. João descreve os 7 selos (caps. 6 e 7), as
7 trombetas (caps. 8-11) e as 7 pragas (caps. 16 e 17), como ciclos
paralelos que se complementam entre si e que cada vez mais se centram
sobre os eventos finais.
As Profecias do Tempo do Fim 205
O livro do Apocalipse como um todo avança da promessa ao
cumprimento. Este movimento se parece com um movimento para cima
de uma escada em espiral. As séries de selos, trombetas e pragas, cada
uma se constrói sobre a outra. Juntas expressam de uma maneira mais
adequada a complexidade da era da igreja que qualquer desses ciclos por
si só. Cada ciclo revela sua própria ênfase sobre a apostasia, o juízo e a
liberação. Este modelo intensificado reforça a mensagem de esperança
para a acossada igreja de Cristo. Também rebate uma aceitação fatalista
de todas as hostilidades.
A igreja perseguida deve recordar que o Cristo glorificado é
descrito como um Cordeiro todo-poderoso com "sete chifres" (Apoc.
5:6). No Antigo Testamento, um "chifre" é o símbolo de poder militar e
político (Deut. 33:17; Dan. 7:24). A linguagem figurada pouco realista
de um cordeiro com 7 chifres, assegura ao povo de Deus que o Cordeiro
de Deus, aparentemente derrotado, agora tem poder onipotente para
julgar e libertar. Tem esta capacidade porque triunfou sobre Satanás no
céu e na terra por meio de seu testemunho e de sua morte (Apoc. 5:5, 9).
Agora lhes volta a assegurar a seus verdadeiros seguidores que eles
também "reinassem sobre a terra" (v. 10).
João apresenta a história da apostasia, a perseguição e a libertação,
primeiro nos 7 selos e depois nas 7 trombetas (Apoc. 6-9). Como Jesus
foi duas vezes através da era da igreja em Mateus 24 (a: vs. 4-14; b: vs.
15-31), assim também observamos como o Cristo ressuscitado repete os
temas básicos de Mateus 24 nos selos e nas trombetas. Enquanto os selos
informam o leitor a respeito dos sofrimentos da igreja, as trombetas
tratam com os juízos preliminares de Deus sobre os inimigos de seu
povo fiel.

A Visão Preliminar das Trombetas

Em Apocalipse 8:2-6, João apresenta uma visão preliminar em que


mostra a origem e o propósito das 7 trombetas. Começa e termina com o
As Profecias do Tempo do Fim 206
anúncio de que há 7 anjos diante de Deus que receberam 7 trombetas
(8:2, 6). Este artifício literário, uma inclusão-introdução, marca a visão
preliminar como uma unidade independente. Descreve o ministério
intercessor de Cristo e sua terminação.
Esta cena do trono celestial em Apocalipse 8 funciona em uma
forma similar à visão preliminar aos 7 selos em Apocalipse 5. Como os
24 anciões tinham "taças de ouro cheias de incenso, que são as orações
dos santos" (5:8), assim João vê em Apocalipse 8 a um anjo que tinha
"um incensário de ouro", de pé ante o altar, "e lhe deu muito incenso
para acrescentá-lo às orações de todos os santos sobre o altar de ouro que
estava diante do trono" (8:3). A petição das orações dos santos
martirizados "sob o altar" mencionou-se nos selos em Apocalipse 6:9 e
10. Clamam por vingança divina por causa da injustiça que lhes fez,
assim como pelo pacto que Deus tem com eles. Pedem a Deus que seja
"fiel" a seu pacto. Dessa maneira, a visão de Apocalipse 8:3 e 4 iguala o
período de tempo dos selos em Apocalipse 6. A visão se refere ao
contínuo ministério intercessor de Cristo no céu, porque recorda a oferta
diária de incenso no serviço do santuário israelita (Êxo. 30:1, 7, 8).
O principal tema desta visão preliminar das trombetas é a segurança
de que Cristo ouve as orações suplicantes de seu povo oprimido como se
declara diretamente em Hebreus 4:14-16. Embora as orações de todos os
santos se elevam diretamente a Deus, necessitam o "incenso" essencial
do próprio altar de Deus. Este incenso representa a propiciação divina
por nossos pecados.
Disse João a respeito de Cristo: "E ele é a propiciação [hilasmos]
por nossos pecados" (1 João 2:2; também 4:10). Ellen White oferece esta
aplicação prática: "O universo celestial contempla de amanhã e de tarde
cada família que ora, e o anjo com o incenso, que representa o sangue da
expiação, acha acesso diante de Deus".1 A visão preliminar termina com
uma cena que descreve a finalização do ministério do anjo com o
incenso seguido pelo fato de enchê-lo com fogo do altar e lançá-lo na
terra, acompanhado pelos trovões, os relâmpagos e um terremoto:
As Profecias do Tempo do Fim 207
"E o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à
terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto" (Apoc. 8:5).
Em seu ato final, o anjo usa o incensário não mais para a intercessão
e sim para o juízo: fogo sem incenso. Isto indica que as orações dos
santos (Apoc. 6:9-11 ) serão respondidas por meio dos juízos sobre a
terra, seguidos pela aparição do Juiz de toda a terra em conexão com um
terremoto cósmico. Um protótipo surpreendente se encontra em
Ezequiel, quem descreve uma visão da maldição de Jeová sobre a
Jerusalém impenitente:
"E falou [Jeová] ao homem vestido de linho, dizendo: Vai por entre as
rodas, até debaixo dos querubins, e enche as mãos de brasas acesas dentre
os querubins, e espalha-as sobre a cidade" (Ezeq. 10:2).
O contexto histórico assinala que justamente antes do fatídico ano
586 a.C., o Deus de Israel estava abandonando o templo de Jerusalém
com um estrondo poderoso (Ezeq. 10:4, 5, 18). O arrojar as brasas acesas
simbolizava a execução do juízo de Deus sobre Jerusalém por meio da
guerra e do exílio (Ezeq. 11:8-10). Este juízo foi a manifestação da
maldição do pacto se eram desobedientes predita em Levítico 26, o que
incluía a destruição de Jerusalém, de seu templo e a dispersão de Israel
por meio das guerras (Lev. 26:31-34). A maldição do pacto implicava
que Deus faria guerra contra seu povo apóstata: "Eu também procederei
contra vós, e vos ferirei ainda sete vezes por seus pecados" (26:24). Não
obstante, o Deus do pacto proporcionaria misericórdia para os que se
arrependessem e confessassem seus pecados (vs. 40-45; Ezeq. 11:16-21).
No marco histórico de Ezequiel, o pulverizar as brasas acesas do
trono de Deus sobre a terra não simbolizava o juízo final mas ser um
juízo punitivo sobre Israel, com o propósito de levá-los a arrependimento
(ver Ezeq. 11:18-20). A visão preliminar de João às 7 trombetas em
Apocalipse 8:2-6 deve entender-se contra este transfundo de Ezequiel. A
visão de João inclui tanto o tempo de graça como a ira de Deus.
A série das trombetas não anuncia meramente a ira final de Deus
(esta chega só sob a sétima trombeta), mas também a seqüência de juízos
restringidos, os quais "só" danificarão um terço da terra (11 vezes em
As Profecias do Tempo do Fim 208
Apoc. 8 e 9). Estes juízos parciais das 6 primeiras trombetas são juízos
de admoestação preliminares. Admoestam ao mundo quanto às últimas
pragas que virão e a ira de Deus sem mistura de misericórdia à conclusão
do Dia da Expiação, quando ninguém pode entrar no templo do céu
(Apoc. 15:1, 5-8).
As 6 primeiras trombetas ainda saem do altar de ouro de incenso
que estão diante de Deus (Apoc. 9:13). Isto sugere que o tempo de graça
ainda não terminou durante essas 6 trombetas. O ato simbólico de arrojar
fogo do altar sobre a terra indica a iniciação dos juízos de Deus em
resposta às orações de súplica dos santos. A seqüência das 6 trombetas
(caps. 8 e 9) que culminam na sétima trombeta ou as 7 últimas pragas
(caps. 15 e 16), ensinam que os atos simbólicos do anjo diante do altar
terão um duplo cumprimento:
1. Calamidades de extensão limitada durante a era da igreja;
2. As últimas pragas, sem misericórdia, sobre os inimigos universais
de Cristo e de seu povo.

A Relação Entre os Selos e as Trombetas

Uma pergunta provocadora é esta: Quando começam as trombetas


em relação com os selos que as precedem? São totalmente paralelos estas
séries e portanto simultâneas, ou consecutivas, ou só parcialmente
paralelas? Não há uma opinião unânime entre os eruditos bíblicos sobre
este ponto. O Comentário bíblico adventista informa que a interpretação
que favorecem os adventistas vê que as "trombetas correspondem
cronologicamente, em grande medida, com o período de história cristã
que abrangem as sete igrejas (caps. 2 e 3) e os sete selos (6; 8:1), os
quais destacam os acontecimentos políticos e militares sobressalentes
deste período".2
Também se menciona o ponto de vista "seqüencial" de acordo com
o qual os 7 juízos das trombetas se derramam sobre a terra depois da
terminação do tempo de graça. Mas este ponto de vista não encontra
As Profecias do Tempo do Fim 209
respaldo no contexto bíblico por parte da "Comissão Adventista sobre
Daniel e Apocalipse". Assinala que os eventos da proclamação do
evangelho do tempo do fim em Apocalipse 10 e 11:1-14 pertencem à
sexta trombeta. Portanto, tira-se a seguinte conclusão: "Os
acontecimentos das trombetas ocorrem no tempo de graça, no tempo
histórico... Se a sétima trombeta está unida à terminação da obra do
evangelho, a dispensa evangélica, então as 6 trombetas precedentes
devem necessariamente soar durante o tempo de graça".3
A opinião que mantém que as trombetas soam depois do tempo de
graça se apóia sobre a hipótese de que as trombetas começam só depois
da finalização da visão preliminar de Apocalipse 8:2-6. Este ponto de
vista supõe que a cena do santuário e as trombetas em Apocalipse 8 estão
descritas em uma seqüência cronológica. Mas esta hipótese não está
justificada em vista do fato de que as outras visões preliminares do
santuário não expiraram antes que comece cada série: a que precede as 7
igrejas (Apoc. 1), a que precede os 7 selos (Apoc. 5), e a que precede as
7 pragas (Apoc. 15). Todas as visões preliminares seguem ativas durante
cada série. De fato, cada carta às 7 igrejas se refere a Cristo como
aparece na visão inaugural de Apocalipse 1; cada abertura dos selos é o
resultado da obra de Cristo na visão de introdução de Apocalipse 5; cada
uma das 7 pragas são derramadas enquanto ninguém pode entrar no
templo (Apoc. 15:8).
Por conseguinte, é uma hipótese mais adequada ver a visão do trono
de Apocalipse 8:2-6 como a fonte ativa permanente das 7 trombetas. Jon
Paulien conclui dizendo: "É mais provável que João tinha a intenção de
que o leitor visse a intercessão ante o altar de ouro como estando
disponível até o instante quando soasse a sétima trombeta, que leva à
consumação do 'mistério de Deus' (Apoc. 10:7), quer dizer, a terminação
do evangelho (Rom. 16:25-27; Ef. 3:2-7; 6:19)".4
O fato de que a quinta trombeta se refira ao "selo de Deus" sobre as
frontes do povo de Deus (Apoc. 9:4), e que por isso parece coincidir com
o selamento do tempo do fim dos servos de Deus em Apocalipse 7, é
As Profecias do Tempo do Fim 210
uma característica significativa. A referência ao selo de Deus sobre "a
fronte" indica que a obra do selamento de Apocalipse 7 e a quinta
trombeta estão intimamente conectadas. Ambos os eventos podem ser
vistos como contrapartes históricas que acontecem até durante o tempo
de graça. Também se reconheceu que a sexta trombeta tem um forte
paralelo com o selamento de Apocalipse 7 porque esta trombeta descreve
graficamente os equivalentes demoníacos dos 144.000 em uma
quantidade assombrosa de tropas (Apoc. 9:13-18).5
É importante observar que a ordem de Deus para o tempo do
selamento, "não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até
selarmos na fronte os servos do nosso Deus" (Apoc. 7:3), ainda segue
em efeito durante a quinta trombeta (9:4), apesar de que as trombetas
anteriores causaram um dano parcial à terra, ao mar e às árvores ("uma
terça" parte foi afetada, 8:7-9).
A revelação de que o juízo da sexta trombeta vem de parte do anjo
que está entre os "quatro ângulos do altar de ouro que se encontra na
presença de Deus" (Apoc. 9:13), indica que as 6 primeiras trombetas
abrangem todo o tempo de graça da era da igreja. O que cada trombeta
descreve com referência à história humana real, deve determinar-se por
uma aplicação cuidadosa de cada trombeta à história política e religiosa
da igreja cristã do Império Romano até nossos dias. As trombetas não
devem ser consideradas por si mesmas, isoladas do amplo contexto do
Apocalipse se queremos evitar conclusões especulativos.

A Opinião de que as Últimas Pragas Caem Depois


do Tempo de Graça

O conteúdo da sétima trombeta se revela nas 7 pragas do juízo final


de Deus (Apoc. 15, 16). Isto se dá a entender ao contar explicitamente as
3 últimas trombetas como três "ais" sobre os moradores da terra (8:13).
A quinta e a sexta trombetas se caracterizam como o primeiro e
segundo "ai" (Apoc. 9:12; 11:14), como o anúncio de que o "terceiro ai
As Profecias do Tempo do Fim 211
vem logo" (11:14). Entretanto, a sétima trombeta não inclui nenhum ai,
exceto a declaração de que chegou "o tempo de julgar aos mortos, e de
dar o galardão a seus servos... e de destruir os que destroem a terra"
(11:18). Portanto, alguns intérpretes deduziram que a sétima trombeta
não está de todo incluída no terceiro ai. Mas outros assinalam
corretamente à revelação posterior de João de que as 7 pragas serão o
"último ai", porque nelas "está consumada a ira de Deus" (15:1). Isbon
T. Beckwith comenta a respeito: "A admissão das taças com as pragas
como o terceiro ai tem uma relação importante sobre a questão da
composição do Apocalipse".6 A série das trombetas está
inextricavelmente entretecida com as 7 últimas pragas por meio do
desenho dos três ais de João. De modo que, a porção maior do
Apocalipse, os capítulos 8 a 19 constituem uma unidade que desdobra
uma ordem sucessiva dos juízos de Deus.
O ponto crítico nesta seqüência cronológica é o começo das 7
últimas pragas, descritas como que nelas "está consumada a ira de Deus"
(Apoc. 15:1; 14:10). O termo "puro" [akrátou, sem diluir] indica que a
ira de Deus se manifestará em "sua força total" nas 7 últimas pragas
(14:10, NBE).
Isto significa que a justiça já não está unida com a graça em "o
cálice de sua ira". João recalca a advertência de que o que rechace a
mensagem final de Deus será "atormentado com fogo e enxofre, diante
dos santos anjos e do Cordeiro" (Apoc. 14:10). Isto nos recorda o juízo
de Deus sobre Sodoma e Gomorra (ver Gên. 19:24, 25), e confirma o
conceito de que as pragas chegam depois que terminou o tempo de graça.
A declaração, "e a fumaça de seu tormento sobe pelos séculos dos
séculos" (Apoc. 14:11), recorda-nos a destruição divina de Edom como
uma "retribuição no pleito de Sião" (Isa. 34:8-10). Alude-se em forma
patente a estes juízos do Antigo Testamento como tipos do
derramamento final da ira de Deus nas 7 últimas pragas.
As Profecias do Tempo do Fim 212
Uma indicação específica do momento decisivo da história da
salvação com as últimas pragas é a revelação de que ninguém pode
entrar no templo celestial durante esse tempo:
"A fumaça da glória de Deus e de sua potência encheu o santuário;
ninguém podia entrar nele até que não se terminassem as sete pragas dos
sete anjos" (Apoc. 15:8, NBE).
Este texto ensina que quando tiver chegado o tempo de Deus, as
pragas não podem ser demoradas mais pelas orações de intercessão. A
"fumaça da glória de Deus" recorda-nos a nuvem da shekinah que se
manifestava no templo do Israel como a presença visível de Deus (ver 2
Crôn. 5:13, 14; 7:1, 2; Ezeq. 10:2-4). Quando Isaías viu o Senhor
sentado sobre um trono enquanto o templo "encheu-se de fumaça" (Isa.
6:1, 4), recebeu mensagens de condenação para o Israel apóstata (vs. 9-
13). De modo parecido, João vê a fumaça vindo das taças de ouro
"cheias da ira de Deus" (Apoc. 15:7). O significado é evidente: "O tempo
para a intercessão terminou. Deus, em sua majestade e poder
inacessíveis, declarou que o fim chegou. Já não permanece chamando:
entra para atuar em juízo soberano".7
Se as 7 últimas pragas constituírem os ais da sétima trombeta, isto
dá a entender que as 6 trombetas prévias simbolizam os juízos
preliminares de Deus que têm lugar durante a época da igreja. Se os
juízos das pragas assinalam o começo do tempo em que já não há graça,
então os juízos das trombetas caem dentro do tempo de graça e
abrangem a época da igreja. Este entrelaçamento das trombetas e as
pragas apresenta um panorama telescópico que João condensou em sua
visão preliminar do trono de Apocalipse 8:2-5.

Comparação das Visões Preliminares das Trombetas


e das Pragas

É significativo que as série das trombetas e das pragas estão


arraigadas em uma visão específica do santuário: Apocalipse 8:2-5 e
As Profecias do Tempo do Fim 213
15:1, 5-8. Tanto suas distinções como suas características comuns estão
cheias de significado. A visão que João teve do altar em Apocalipse 8
revela dois cenários sucessivos, um de oração intercessora com incenso
ante o altar (Apoc. 8:3, 4), seguida por uma em que se arroja fogo à terra
por meio do incensário (v. 5). Deste modo, esta visão une o serviço
mediador de Cristo no altar do incenso com sua obra final de juízo por
fogo. A visão termina com uma descrição da vinda de Deus à terra: "E
houve trovões, e vozes, e relâmpagos, e um terremoto" (v. 5). Jon
Paulien sintetiza ambos os cenários: "As [advertências das trombetas]
simbolizam os juízos atuais de Deus que constituem uma advertência de
juízos maiores que têm que vir".8 As trombetas e as pragas se relacionam
entre si como tipos históricos locais ao antítipo mundial.
A sétima trombeta termina com uma visão do templo que mostra
uma assinalada progressão com a de Apocalipse 8. João vê o templo de
Deus no céu outra vez aberto, mas agora contempla "o arca de seu
pacto" seguida por "trovões, relâmpagos, um terremoto e grande granizo"
(Apoc. 11:19). A seqüência é evidente. O foco de atenção mudou do
altar celestial de incenso em Apocalipse 8 até o arca do pacto de Deus,
que no templo de Israel estava colocada no lugar santíssimo.
Esta seqüência progressiva aponta ao Dia da Expiação nos serviços
do tabernáculo do Israel (ver Lev. 16). No último dia, Deus separava o
arrependido do impenitente: "Porque toda pessoa que não se afligir neste
mesmo dia, será eliminada de seu povo" (Lev. 23:29).
A visão do templo onde aparece o arca em Apocalipse 11:19 se
amplia adicionalmente em Apocalipse 15:5-8, onde se descreve o
ministério de juízo dos 7 anjos. Quando esses anjos derramaram suas
taças da ira de Deus sobre a terra, a voz de Deus exclama desde seu
trono: "Feito está. Então houve relâmpagos e vozes e trovões, e um
grande tremor de terra... E caiu do céu sobre os homens um enorme
granizo" (Apoc. 16:17, 18, 21). Esta descrição final se compara com a de
Apocalipse 11:19, dando à sétima trombeta a mesma terminação como a
que tem a sétima praga. Dessa maneira as trombetas continuam nas
As Profecias do Tempo do Fim 214
últimas pragas. E tanto as trombetas como as pragas estão implantadas
na visão do trono de Apocalipse 8:2-5. Jon Paulien o declara bem em sua
recapitulação:
"O livro do Apocalipse flui em forma natural... de um panorama da cruz
a um panorama da inauguração do ministério de Cristo à luz da cruz (Apoc.
5), até um quadro do ministério intercessor que resulta disso (Apoc. 8:3, 4), e
em última instância ao juízo que antecede o fim (Apoc. 11:18, 19). Esta
ordem de eventos é característico de todo o Novo Testamento".9
As descrições da teofania final em Apocalipse 11:19 e 16:17-21
mostram o característico adicional de uma enorme tormenta de granizo
não incluída em Apocalipse 8:5. O significado deste acréscimo pode ver-
se no fato de que o "granizo" era uma parte essencial das guerras santas
de Deus contra seus inimigos (Jó 38:22, 23): contra Egito (Êxo. 9:18, 22-
26), contra os amorreus (Jos. 10:11), contra os inimigos do Davi (Sal.
18:12-14), contra um Israel apóstata e rebelde (Isa. 28:2, 17) e contra
Judá (Ezeq. 13:11, 13).
Especialmente, a predição de Ezequiel de que Deus lutará contra
Gogue e suas nações aliadas, por sua ardente ira com "um grande tremor
sobre a terra" junto com "impetuosa chuva, e pedras de granizo, fogo e
enxofre" (Ezeq. 38:19, 22), é significativo. O cumprimento da última
guerra santa que Ezequiel apresenta, e que o Apocalipse explica como
"Armagedom" (Apoc. 16:13-16), não terá lugar durante as 6 primeiras
trombetas, e sim durante as últimas pragas. Richard Bauckham
interpretou a ampliação gradual do terremoto escatológico e do granizo
em Apocalipse 8:5, 11:19, 15:5 e 16:17-21 da seguinte maneira:
"O desenvolvimento progressivo da fórmula harmoniza com a
severidade cada vez major de cada série de juízos, quando as visões se
enfocam mais estreitamente sobre o próprio Fim e as advertências limitadas
dos juízos das trombetas dão lugar às sete últimas pragas da ira de Deus
sobre os que finalmente são impenitentes".10
Os juízos das trombetas revelam algo da paciência angustiosa de
Deus com seus inimigos. O aumento gradual da intensidade dos juízos
de Deus mostra a reticência divina para pôr fim ao tempo de graça. Aqui
As Profecias do Tempo do Fim 215
se aplicam as palavras do Pedro: "O Senhor não retarda sua promessa,
segundo alguns a têm por tardança, mas sim é paciente para conosco,
não querendo que nenhum pereça, mas que todos procedam ao
arrependimento" (2 Ped. 3:9).

Uma Teologia dos Selos e das Trombetas

Qual é o significado teológico dos selos e das trombetas? O


conteúdo de cada série mostra que está dirigido a diferentes classes de
pessoas. Os selos se centram sobre os mártires que foram mortos por
causa de seu testemunho à Palavra de Deus e o testemunho de Jesus
durante a era da igreja (Apoc. 6:9-11). Seu clamor, "Até quando...?",
indica que a perseguição contra os cristãos continuou por um tempo
prolongado. Os primeiros 4 selos predizem as perseguições dos cristãos
devidas à sinagoga (2:9; 3:9) e a Roma pagã (1:9; 2:10, 13).
O quinto selo estende a perseguição dos santos além da Roma
imperial até que termine a tribulação final (Apoc. 6:11; 7:14). A frase do
anjo: "Que descansassem ainda um pouco de tempo", corresponde ao
"pouco tempo" atribuído ao diabo em Apocalipse 12:12, e também se
estende até a segunda vinda de Cristo. Os selos ensinam que o
discipulado de Cristo inclui sofrer por Cristo (ver Apoc. 1:9). Leão
Morris expressou bem esta lição:
"As palavras de João [em Apoc. 6:9] são um recordativo de que através
da história houve uma hostilidade persistente por parte dos que exercem o
poder para os cristãos profundamente comprometidos. Manifesta-se hoje,
como em outros períodos, e será assim até o fim do tempo".11
Mas o Cordeiro que abre cada selo do livro é ao mesmo tempo o
Leão vencedor da tribo do Judá (Apoc. 5:5; 6:1). Ele está em pé ao fim
dos selos para julgar a todos os homens (6:15-17; cf. Mat. 25:31-46). O
reino da glória vem só depois da grande tribulação (Apoc. 7:9-17). A
existência cristã é viver com a tensão do sofrimento e a esperança do
reino de Cristo. Graeme Goldsworthy observa com perspicácia:
As Profecias do Tempo do Fim 216
"Reflete o sofrimento do Cordeiro e antecipa a consumação do reino
por meio da vitória do Leão".12
O quinto selo consola os que se sacrificam a si mesmos por causa
de Cristo. O clamor dos mártires não é por uma vingança encarniçada
mas sim pela vindicação de sua fé em Deus e na causa de Cristo pela
qual foram mortos.
Os mártires esperam a execução da justiça sobre "os que moram na
terra". Os juízos descritos nos selos não devem entender-se como juízos
diretos de Deus, mas sim como as ações malvadas dos perseguidores, "os
moradores da terra", um termo usado no Apocalipse como um termo
técnico para designar a todos os que sucumbiram à adoração idolátrica
(Apoc. 13:8, 12; 17:2, 8). O clamor dos santos não se dirige a alguns
juízos preliminares a não ser ao pronunciamento final do juízo de Deus
em seu favor. Solicitam o cumprimento disposto da cena do juízo de
Daniel:
"Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos e
prevalecia contra eles, até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos
do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan.
7:21, 22; ver também Deut. 34:23).
Os mártires assassinados até estão clamando hoje a Deus para que
cumpra suas promessas. Tais orações persistentes reclamando justiça dão
por sentado a fidelidade de Deus, "o Senhor santo e verdadeiro" (Apoc.
6:10). A mensagem dos selos denota que Cristo decide quem são os
herdeiros legítimos do reino de Deus, quais a sua vista constituem o
verdadeiro "povo dos santos do Altíssimo", e a quem "o reino e o
domínio e a majestade debaixo de todo o céu" será dado (Dan. 7:27).
Este assunto fundamental é a preocupação pastoral de todo o Apocalipse.
Na visão introdutória das trombetas, João viu como "as orações de
todos os santos" sobre a terra subiam diante de Deus com a fumaça do
incenso celestial (Apoc. 8:3, 4). O céu responderá a essas orações dos
santos que sofrem arrojando "fogo" do altar à terra. Isto representa juízos
específicos que limitam ou incapacitam os poderes perseguidores do
As Profecias do Tempo do Fim 217
mundo até que os juízos universais trazem a destruição final. Daniel
disse ao rei de Babilônia que o Deus de Israel "muda os tempos e as
estações; tira reis e põe reis" (Dan. 2:21). Esta soberania ativa de Deus se
declara simbolicamente por meio das 7 trombetas da época da igreja. As
apresentações das trombetas recordam especialmente as pragas do Egito.
Deus enviou as 10 pragas em resposta ao clamor de seu povo: "ouvi seu
clamor..." (Êxo. 3:7), o que nos recorda que os juízos de Deus se
derramam em defesa de seu povo do pacto. Isto é patente especialmente
se compararmos a quinta trombeta com o quinto selo.
Enquanto o quinto selo (Apoc. 6:9-11) centra-se sobre a petição dos
santos martirizados, a quinta trombeta descreve os juízos sobre o mundo
incrédulo, só sobre os que não têm "o selo de Deus em suas frontes"
(9:4). As 3 últimas trombetas inclusive se caracterizam como "ais" para
"os habitantes da terra", a população ímpia do mundo (11 :10; 13:8, 12;
17:2, 8).
Este contraste básico entre os selos e as trombetas indica que as
duas seqüências proféticas se enfocam sobre diferentes pessoas,
enquanto que se comparam mutuamente. Ambas as séries são
complementares. Juntas formam um quadro mais completo da era da
igreja. Enquanto que os selos levantam a questão inquietante do por que
Deus parece ser tão passivo a respeito da sorte de seu povo açoitado, as
trombetas asseguram que Cristo está comprometido ativamente no
mundo. Alcança a seus inimigos até que se termina sua paciência. Seu
juízo chega a ser definitivo com a sétima trombeta, quer dizer, com as 7
pragas.
As trombetas apontam para trás à liberação de Israel do Egito. O
propósito das pragas do Egito era convencer a Faraó que significavam "o
dedo de Deus" (Êxo. 8:19) e que devia deixar ir a Israel para que
adorassem a seu Deus (10:7). De igual maneira, o propósito dos juízos
das trombetas é convencer ao mundo ímpio que Cristo está a favor de
seu povo e chama todos os homens a que se arrependam. Michael
Willcock assinalou este aspecto das trombetas:
As Profecias do Tempo do Fim 218
"Os selos mostraram à igreja sofredora suplicando para que se faça
justiça. Mas as trombetas mostram que se oferece misericórdia ao mundo
ímpio. A oferta não é aceita, e de fato, o mundo não se arrependerá (Apoc.
9:20 e seguintes); mas nunca poderá dizer-se que Deus não fez tudo o que
estava em suas mãos, inclusive até a devastação de sua terra uma vez
perfeita, para fazer entrar em razão aos homens".13
Esta exortação ao arrependimento sobre os inimigos do povo de
Cristo é o significado teológico dos selos e das trombetas.

As Trombetas como Juízos Divinos de Fogo

O símbolo de lançar fogo do altar celestial à terra em Apocalipse


8:5 é desafiante. O simbolismo se repete em Apocalipse 14, onde "saiu
do altar outro anjo, que tinha poder sobre o fogo" e anunciou que as uvas
da terra seriam arrojadas "no grande lagar da ira de Deus" (Apoc. 14:18,
19). Esta conexão com Apocalipse 14 indica que a visão preliminar das
trombetas em Apocalipse 8 prevê que todas as trombetas chegam até a
segunda vinda de Cristo. Apocalipse 14 mostra que a ira de Deus
permanece "fora da cidade" (V. 20), quer dizer, fora do "monte Sião",
sobre o qual estão em pé o Cordeiro com os 144.000 selados (v. 1).
Portanto, o fogo do altar celestial não vem como uma destruição
indiscriminada, mas sim como um juízo severo para rechaçar os indignos
e proteger os fiéis. Tais experiências terríveis por fogo já tinham
ocorrido antes, quando Deus fez chover fogo sobre a Sodoma e
Gomorra, enquanto que a família de Ló foi vindicada (Gên. 19:24-29), e
de novo quando "saiu fogo de diante do Jeová" e consumiu os 250
homens que ofereciam o incenso deixando ilesos os outros israelitas
(Núm. 16:35). Também Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sofreram
uma dura prova de fogo, durante a qual foram protegidos dentro do forno
de fogo ardendo, enquanto que o fogo matou os soldados os arrojaram
dentro (Dan. 3:19-23).
As Profecias do Tempo do Fim 219
O incêndio da cidade de Jerusalém no ano 70 foi uma dura prova de
fogo (ver Mat. 22:7), na qual os que rechaçaram a Cristo
experimentaram calamidades terríveis enquanto que os crentes cristãos
escaparam ao castigo (Luc. 21:20-23). Paulo também descreve o juízo
final como uma tremenda prova por meio de fogo com respeito à obra de
cada um, "pois pelo fogo será revelada; e a obra de cada um qual seja, o
fogo a provará" (1 Cor. 3:13). Para os que rechaçam a Cristo, os
apóstolos esperavam só um horrendo juízo e um "fervor de fogo que tem
que devorar os adversários" (Heb. 10:26-29), porque "nosso Deus é fogo
consumidor" (Heb. 12:29; ver também 2 Tes. 1:5-8).
Então podemos entender o ato de arrojar fogo do céu à terra em
Apocalipse 8:5 como representando as duras provas enviadas pelo céu
que discriminam entre o justo e o malvado. O propósito final destes
juízos sucessivos é desqualificar os que quebrantam o pacto e definir os
herdeiros legítimos do reino de Deus.
Esta descrição simbólica dos juízos das trombetas toma o motivo do
êxodo do Israel e sua viagem pelo deserto rumo à terra prometida. Em
particular, os 7 toques de trombeta em Apocalipse 8 e 9 nos recorda da
conquista do Jericó por parte dos israelitas. Então o assunto era: Quais
são os herdeiros legítimos da terra prometida? Ellen White explicou que
"Deus estava para estabelecer Israel em Canaã, desenvolver entre eles
uma nação e governo que fossem uma manifestação de Seu reino na
Terra".14
De acordo com o mandato divino, "consumiram com fogo a cidade
e tudo o que nela havia" (Jos. 6:24). Mas Raabe e sua família foram
perdoados por causa de sua fé no Deus de Israel. Desta maneira, Israel
herdou o "reino" de Jericó, enquanto os condenados foram despojados da
terra. Da mesma maneira, quando os inimigos de Deus forem derrotados
durante as trombetas apocalípticas (Apoc. 8 e 9), a última trombeta
anuncia:
"O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele
reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15).
As Profecias do Tempo do Fim 220
Esta proclamação triunfante revela o motivo subjacente de toda a
série das trombetas: Quem é digno de herdar o reino do mundo? O grito
cósmico de vitória significa o cumprimento do reino do Messias de
Deus, como é prometido nos salmos messiânicos (por exemplo, os Sal. 2
e 110). Antes que se realize esta meta da história, os "moradores da
terra" devem ser primeiro desqualificados pelas repetidas quedas de seus
reinos por meio dos terríveis juízos divinos. As trombetas apresentam
estes juízos como terríveis prova históricas.

As Trombetas como Pragas Preliminares sobre um Mundo Hostil

As trombetas descrevem os juízos de Deus fazendo alusões às


antigas pragas do Egito:
O primeiro toque de trombeta envia "granizo e fogo misturados
com sangue, que foram lançados sobre a terra" (Apoc. 8:7). Isto se
refere à sétima praga do Egito (Êxo. 9:22-26) que foi enviada por motivo
da libertação de Israel. A segundo trombeta joga uma grande montanha
no mar, de modo que "a terça parte do mar se converteu em sangue, e
morreu a terça parte dos seres viventes que estavam no mar" (Apoc. 8:8,
9). Isto é uma alusão à primeira praga do Egito, quando Moisés feriu o
rio Nilo com sua vara e "todas as águas que havia no rio se converteram
em sangue" (Êxo. 7:20, 21). O toque da terceira trombeta envia uma
estrela ardendo sobre "a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas"
de maneira que as águas se fizeram absinto, matando a muitos homens
(Apoc. 8:10, 11 ). Isto tem alguma semelhança com o fato de que os
egípcios não podiam beber a água do Nilo (Êxo. 7:21). A quarta
trombeta faz que uma teça parte do sol, da lua e das estrelas se
escureçam na terça parte do dia e da noite (Apoc. 8:12). Este fenômeno
nos recorda da nona praga, que causou densas trevas sobre toda a terra
do Egito por três dias (Êxo. 10:21-23). A quinta trombeta faz que
lagostas diabólicas torturem as pessoas por 5 meses (Apoc. 9:1-11). Isto
alude à oitava praga do Egito, quando as lagostas devoraram "toda a erva
As Profecias do Tempo do Fim 221
da terra, e todo o fruto das árvores" (Êxo. 10:13-15). A sexta trombeta
envia uma cavalaria monstruosa do rio Eufrates que mata a "a terça parte
dos homens" (Apoc. 9:13-19). Um juízo assim corresponde à décima
praga, quando o anjo da morte enviado por Deus causou a morte de
todos os primogênitos do Egito, "para que saibam que Jeová faz
diferença entre os egípcios e os israelitas" (Êxo. 11:7).
Ao mesmo tempo que lemos que a cada praga que caiu sobre o
Egito Faraó endureceu seu coração para não deixar ir a Israel, assim
também lemos depois da sexta trombeta: "Os outros homens, aqueles
que não foram mortos por esses flagelos, não se arrependeram das obras
das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de
prata, de cobre, de pedra e de pau... nem ainda se arrependeram dos seus
assassínios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos
seus furtos" (Apoc. 9:20, 21).
A semelhança literária das trombetas com as pragas do Egito nos
diz que as trombetas não são fundamentalmente desastres naturais ou
calamidades gerais, e sim as maldições do Deus do pacto sobre seus
inimigos. Da vitória de Cristo sobre Satanás, o príncipe deste mundo
(João 12:31; 14:30; 16:11; 2 Cor. 4:4), Cristo esteve atuando para voltar
a estabelecer o reino de Deus na terra: "Porque preciso é que ele reine até
que tenha posto a todos seus inimigos debaixo de seus pés" (1Cor.
15:25).

O ministério intercessor de Cristo no céu inclui sua paciência


redentora para com seus inimigos. As trombetas anunciam os limites de
sua paciência e a contínua derrocada dos reinos malignos antes de sua
vinda. As trombetas revelam a incapacidade dos reinos humanos e os
incapacita. Depois, a sétima trombeta declara: "O reino do mundo se
tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos
séculos" (Apoc. 11:15).
As Profecias do Tempo do Fim 222
O Criador Continua Sendo o Governante da Terra

As trombetas sugerem a ruína gradual da obra da criação. O juízo


de cada trombeta se refere a um característico que corresponde a um dia
da semana da criação: (1) a terra; (2) o mar; (3) os rios e as fontes das
águas; (4) o Sol, a Lua e as estrelas; (5) as lagostas; (6) o homem; (7) o
reino. Desde esta perspectiva os juízos das trombetas tocam todos os 6
dias da criação. A destruição progressiva da criação de Deus pode
entender-se como uma desqualificação dos atuais habitantes do mundo:
"O significado destas referências à criação [em Apoc. 8-9], sem dúvida
alguma indicam que Cristo está estabelecendo seu reino sobre cada aspecto
da criação, e que todos os herdeiros falsos, embora exerçam temporalmente
o domínio, serão despojados".15
Entretanto, Cristo não destrói sua própria criação. Só proporciona
oportunidade a Satanás, cujo nome tanto em hebraico como em grego é
"destruidor" (Apoc. 9:11 ). Satanás destrói o que Deus criou. Nenhuma
passagem no Apocalipse descreve mais graficamente este caráter
demoníaco que a quinta e a sexta trombetas (cap. 9). Podemos esperar
que aconteça isto cada vez mais no curso da história, especialmente no
tempo do fim.
João não espera que apliquemos em forma literal esta descrição de
lagostas e cavalos que atormentam. Deseja que compreendamos que
Deus usa inclusive os poderes do mal e de Satanás como seus
instrumentos de juízo para expor o mal oculto de seus adversários.
As trombetas mostram que a igreja não deve esperar que o
evangelho vá criar paz no mundo e vá dissipar a idolatria (ver Apoc.
9:20, 21). De fato, a segunda metade do Apocalipse revela que o
evangelho será cada vez mais escurecido pelos espíritos malignos que
procedem da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta
(16:13). O propósito da atividade dos espíritos de demônios é enganar a
humanidade por meio de sinais milagrosos e dessa maneira unir ao
mundo em uma rebelião contra seu Criador.
As Profecias do Tempo do Fim 223
Tanto Jesus como Paulo predisseram que o tempo do fim estaria
marcado por uma manifestação crescente de engano demoníaco por meio
de sinais e milagres (ver Mat. 24:24; 2 Tes. 2:9-12). Esta atividade
intensificada dos espíritos de demônios é colocada no Apocalipse como
a contraparte do reavivamento da obra do Espírito Santo, tal como se
descreve em Apocalipse 18:1-4. Em contraste com o escurecimento do
céu "pela fumaça do poço" do abismo (9:2), aparece o anjo do Senhor
que tem grande autoridade para iluminar a terra com sua glória (18:1).
Este contraste nos leva a considerar as últimas trombetas de
Apocalipse 9 dentro do grande plano de Deus, tal como se desenvolve
nas visões do tempo do fim em Apocalipse 12 a 20. Estas visões revelam
o objetivo oculto dos espíritos demoníacos, que consiste em conduzir a
todo mundo a seu último ataque contra os seguidores do Cordeiro de
Deus (13:15-17; 20:7-9). Nesse desenvolvimento final do grande conflito
entre Deus e Satanás, "tudo o que não esteja ocupado pelo Espírito de
Deus, chegará a estar ocupado pelos espíritos de demônios".16

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 8 e 9 encontra-se nas páginas 245-246.

1. Ellen White, 7 CBA 982 (T. 7-A, P. 412).


2. 7 CBA 804.
3. Holbrook, Symposium on Revelation – Book 1, p. 181.
4. Paulien, "Seals and Trumpets: Some Current Discussions",
Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 195.
5. Ver Paulien, Ibid., p. 196.
6. Beckwith, Isbon T. The Apocalypse of John. p. 671.
7. Mounce, The Book of Revelation, p. 290.
8. Paulien, Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and
Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 208.
9 Paulien, "Seals and Trumpets: Some Current Discussions", Simpósio
sobre o Apocalipse, t. 1, p. 197.
As Profecias do Tempo do Fim 224
10. Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of
Revelation, p. 204.
11. Morris, The Revelation of St. John, p. 108.
12. Graeme Goldsworthy, The Lamb and the Lion. The Gospel in
Revelation [O Cordeiro e o Leão. O Evangelho no Apocalipse]
(Nashville: T. Nelson Publishers, 1984), p. 33.
13. Michael Wilcock, I Saw Heaven Opened [Vi o céu aberto]
(Downers Grove, IL: Intervarsity Press, 1975), p. 95.
14. Ellen White, PP 492.
15. Rusten, A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of
the Book of Revelation, t. 2, p. 370.
16. D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p.
417.
As Profecias do Tempo do Fim 225
UMA APLICAÇÃO HISTÓRICA DAS TROMBETAS

Para começar, desejo enfatizar a natureza simbólica das visões que


Deus deu a João, "para mostrar aos seus servos as coisas que em breve
devem acontecer" (Apoc. 1:1; também 4:1; 17:1; 21:9; 22:1, 6, 8). A
linguagem apocalíptica não deve ser pressionado nas descrições literais
de nossa moderna sociedade tecnocrata. Antes esta linguagem exige que
determinemos o que simboliza. Tomar as descrições visionárias como
realidades literais, da mesma maneira que os livros de Gênesis e Êxodo
descrevem história, é um mal-entendido básico da intenção de João. Não
obstante, os comentadores que apóiam o sistema futurista de
interpretação, supõem simplesmente que as 4 primeiras trombetas
descrevem colisões repetidas de meteoros ou asteróides com a terra. As
visões de João nos exigem que perguntemos: Onde e como usa o Antigo
Testamento estes quadros em sua perspectiva profética? Rechaçamos
tanto os princípios do literalismo como os do alegorismo para a
linguagem apocalíptica do livro porque são enfoques especulativos. Está
mais em harmonia com o pensamento bíblico, ver as trombetas como
juízos do pacto sobre os que quebrantam o pacto. João usa a linguagem e
os símbolos do pacto, não descrições seculares e de adivinhação.
Na era da igreja, Cristo executa seus juízos preliminares sobre as
fortalezas do reino das trevas. O som de trombeta era um símbolo
familiar de guerra santa (ver Núm. 10:9; Sof. 1:16; Jer. 4:5, 19, 21; Ezeq.
7:14).
As trombetas descrevem como Cristo, como o Leão da tribo do
Judá (Apoc. 5:5) ou o Guerreiro santo, começa a enviar seus juízos
preliminares. Usa os agentes tradicionais da guerra santa, tais como o
fogo, o granizo, a espada, as pragas, o escurecimento dos céus, as
lagostas e os escorpiões, um terremoto, e até anjos caídos, porque tudo
permanece sob seu domínio soberano. Nas trombetas, Cristo põe em
atividade uma série de juízos limitados de admoestação.
As Profecias do Tempo do Fim 226
A aplicação histórica das trombetas é notoriamente difícil e
discutível. A maioria dos comentadores se abstém de fazer qualquer
aplicação concreta à história. Não obstante, estamos obrigados a
identificar as realidades históricas às quais se referem as trombetas de
guerra. Nosso guia mais seguro é a profecia mestra de Jesus em Mateus
24, que está apoiada no esboço apocalíptico do Daniel (ver Mat. 24:15).
Jesus se referiu especificamente aos juízos messiânicos sobre
Jerusalém e Judéia por meio do exército romano entre os anos 66 e 135
d.C. (ver Mat. 24:15-21; Luc. 21:20-24). Paulo aplicou as profecias de
Daniel concernentes ao quarto império mundial a Roma imperial, a que
seria removida como "o que impede" ou "o que o freia" antes do
surgimento do anticristo (ver 2 Tes. 2:7). Paulo esperava que o anticristo
se revelasse posteriormente dentro do templo de Deus, só para ser
julgado e destruído na vinda de Cristo (2 Tes. 2:4, 8; para uma análise
detalhada de 2 Tes. 2, ver o cap. VII desta obra).
Tanto Jesus como Paulo indicaram os juízos vindouros de Deus na
era cristã. Como o Senhor soberano da história, Cristo usa os
governantes terrestres como seus instrumentos de castigo, assim como
Deus tinha usado antes os reis de Assíria (Isa. 10:5, 6), de Babilônia (Jer.
25:8-11) e da Pérsia (Isa. 44:28; 45:1) como seus instrumentos. Ao
mesmo tempo, os profetas anunciaram que Deus também julgaria e
castigaria as nações que tinha usado porque tinham excedido os limites
assinalados por Deus com crueldades e vangloria idólatras (Isa. 10:5-7,
12; Jer. 25:15-26; 51:47-49, 55, 56; Dan. 5:24-28).
O estilo de Deus para executar justiça deve começar com seu
próprio povo do pacto ("começarão por meu santuário", Ezeq. 9:6).
Jeremias declarou que a taça da ira divina seria derramada primeiro
sobre o Israel rebelde:
"Porque se na cidade que leva meu nome comecei o castigo, vós ides
ficar impunes? [as nações gentias inimigas]. Não ficareis impunes, porque
eu reclamo a espada contra todos os habitantes do mundo, oráculo do
Senhor dos exércitos" (Jer. 25:29, NBE; ver também Amós 3:2 e Miq. 3:12).
As Profecias do Tempo do Fim 227
O Antigo Testamento descreve quão terrivelmente sofreram
Jerusalém e todo o Israel quando o exército de Babilônia destruiu
finalmente Jerusalém e seu templo no ano 586 a.C. (2 Crôn. 36:15-19;
Lam. 4:11). O mesmo juízo foi predito por Daniel para o templo
reconstruído de Jerusalém, esta vez pelo pecado supremo de expor o
Messias a uma morte violenta (Dan. 9:26, 27). Isto se cumpriu, de
acordo com a aplicação do Jesus, quando o exército romano destruiu a
cidade e o templo no ano 70 d.C. e continuou devastando a terra do
Israel até que a rebelião de Bar-Koba foi sufocada em 135 (Mat. 23:32,
37-39; 24:1, 2, 15-21; Luc. 19:41-44; 21:20-24).
Jesus tomou uma imagem de juízo de Ezequiel que também forma
parte do simbolismo da trombeta: "Porque se à árvore verde fazem isso,
que se fará à árvore verde?" (Luc. 23:31). Ezequiel anunciou que o
Deus do Israel acenderia um fogo [em Jerusalém] "o qual consumirá em
ti toda árvore verde e toda árvore seca" (Ezeq. 20:47). Jesus usou este
simbolismo da árvore para anunciar o juízo iminente sobre Jerusalém. A
metáfora das "árvores" representa claramente o povo, e se aplica em
particular aos israelitas (tanto no Ezeq. 20 como no Luc. 23:31). David
Aune o explica assim: "Se Jesus, que é inocente, está a ponto de ser
executado, quanto mais aqueles que são culpados (os judeus que
rechaçaram a Jesus) pagam essa penalidade".1

A Primeira Trombeta Aplicada à História

A primeira trombeta anuncia "saraiva e fogo misturados com


sangue" que foram lançados sobre a terra e queimaram uma terça parte
das árvores e de erva verde (Apoc. 8:7). Esta combinação irreal de
sangre com granizo do céu, assinala uma descrição simbólica dos juízos
de Deus sobre os primeiros perseguidores do Israel messiânico.
Em seu discurso profético, Primeiro Jesus começou a informar a
seus discípulos a respeito de "guerras e rumores de guerras" (Mat. 24:6),
mas na seção paralela descreveu a queda de Jerusalém e as aflições do
As Profecias do Tempo do Fim 228
povo judeu (vs. 15-19), junto com a aflição do povo messiânico de Deus
(vs. 20, 21). Quando João escreveu o Apocalipse, ainda não tinha
terminado a guerra de Roma contra os judeus. O exército romano às
ordens do Trajano e Adriano continuaram desolando a Judéia até o ano
135, quando 50 cidades e 985 povos foram destruídos e despovoados.
João Wesley comenta sobre a primeira trombeta o seguinte: "Dessa
forma, a vingança começou com os inimigos judeus do reino de Cristo".2
Jesus tinha declarado: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra" (Luc.
12:49). Para ele, uma figueira estéril que estava no caminho a Jerusalém
representava a nação judia. Seu ato simbólico de lhe jogar uma maldição
(Mat. 21:19) funciona como um tipo do simbolismo da árvore na
primeira trombeta. Tanto os dirigentes como seus seguidores foram tidos
como responsáveis por sua incredulidade no Cordeiro que Deus tinha
enviado a Israel. Cristo advertiu: "E te derribarão, a ti e a teus filhos que
dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que
não conheceste o tempo da tua visitação" (Luc. 19:44).

A Segunda Trombeta Aplicada à História

A segunda trombeta descreve como "[algo] como um grande monte


envolto em fogo foi arrojado ao mar", causando que uma terceira parte
do mar se convertesse em "sangue", destruindo os seres vivos que
estavam no mar e as naves (Apoc. 8:8, CI). Esta representação simbólica
("algo parecido") toma suas imagens da queda de Babilônia descrita em
Jeremias 51; Deus julgou à antiga Babilônia por "todo o mal que eles
fizeram a Sião" (Jer. 51:24).
"Eis que sou contra ti, ó monte que destróis, diz o Senhor, que destróis
toda a terra; estenderei a mão contra ti, e te revolverei das rochas, e farei de
ti um monte em chamas" (Jer. 51:25).
Assim o "destruidor" (Babilônia) seria destruído pelo Deus de
Israel, ao ser arrojado no mar. Os "montes" foram usados no Antigo
Testamento como símbolos de nações (ver Isa. 2:2, 3; 11:9; 13:4; 41:15;
As Profecias do Tempo do Fim 229
Dan. 2:35, 44, 45; Ezeq. 35:2, 7, 8; Zac. 4:7). Jon Paulien observou o
seguinte:
"Em passagens que se referem a juízo, montes que representam
nações sempre são o objeto dos juízos de Deus, nunca os agentes de seus
juízos (Isa. 41:15; 42:15; Ezeq. 35:2-7; 38:20; Zac. 4:7)".3
Depois do ano 70, tanto judeus como cristãos viram em Roma
imperial uma nova "Babilônia", porque Roma, como Babilônia, tinha
destruído o templo e Jerusalém (4 Esdras 3; 2 Baruque 10-11; 1 Enoc
18). Pedro inclusive menciona "Babilônia" como um nome misterioso
para Roma (1 Ped. 5:13). O segundo toque de trombeta anuncia o juízo
de Cristo sobre o monte ardente ou império de Roma. Depois da queda
de Jerusalém veio a queda de Roma. João descreve a queda de Babilônia
do tempo do fim com uma imagem similar:
"Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de
moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será
arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada. ... E nela
se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos
sobre a terra" (Apoc. 18:21, 24).
Este paralelo notável entre a segunda trombeta e Apocalipse 18
assinala o mesmo motivo dos juízos: o clamor dos santos martirizados!
Diz Paulien:
"O mar que se converte em sangre na segunda trombeta representa
provavelmente uma completa mudança proléptica da perseguição do povo
de Deus pelos ímpios mencionados em Apocalipse 16:4-6 (cf. 18:24).
Recebem isso em pago pelo que têm feito".4
A segunda trombeta indica que tanto o monte como o mar são
julgados, "converteram-se em sangue". O "mar" era um símbolo corrente
para os povos da terra (Isa. 57:20; 17:12, 13; Jer. 51:41, 42; Dan. 7:2, 3,
17). Dessa maneira, a segunda trombeta anuncia não só a queda de Roma
mas também a devastação de sua ordem social e econômica: "E morreu a
terça parte da criação que tinha vida, existente no mar, e foi destruída a
terça parte das embarcações" (Apoc. 8:9).
As Profecias do Tempo do Fim 230
A Terceira Trombeta Aplicada à História

A terceira trombeta anuncia que "uma grande estrela" chamada


"Absinto" cairia do céu ardendo como uma tocha sobre a terça parte dos
rios e sobre as fontes das águas, convertendo-as em absinto, de maneira
que "muitos homens morreram" (Apoc. 8:10, 11). O Apocalipse começa
com a visão inaugural de Cristo tendo em sua mão direita as "sete
estrelas" (1:16). Estas estrelas se interpretaram como símbolos dos
"anjos das sete igrejas" (v. 20). Este simbolismo de "estrelas" tem uma
raiz em Daniel: "Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o
fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as
estrelas, sempre e eternamente" (Dan. 12:3).
Jesus aplicou o simbolismo das estrelas a todos os justos no reino
vindouro do Pai (Mat. 13:43). Apocalipse 12 usa "estrelas" como um
símbolo dos dirigentes do povo de Deus (Apoc. 12:1). Então, o ato de
uma estrela que cai representa a maneira como a liderança da igreja
cairia coletivamente da verdade na escuridão do engano e a apostasia.
Moisés usou o venenoso e amargo "absinto" como um símbolo de
idolatria (Deut. 29:17, 18), e Jeremias o empregou como uma maldição
do pacto pela idolatria: "Eis que alimentarei este povo com absinto e lhe
darei a beber água venenosa" (Jer. 9:15). O Novo Testamento dá um
exemplo prático dos falsos professores como "estrelas errantes", que são
pastores que "apascentam-se a si mesmos", e portanto caem sob o juízo
de Cristo (Jud. 12, 13).
Então podemos compreender que a terceira trombeta prediz a
apostasia na igreja cristã depois da queda de Roma, quando a liderança
espiritual apostataria de Cristo como a fonte de luz e de águas vivas
(João 4:14; 7:37-39). Como resultado, os ensinos doutrinais e a forma
religiosa de vida chegaria a ser um veneno amargo e mortal para as
almas dos homens: "E a terça parte das águas se tornou em absinto, e
muitos dos homens morreram por causa dessas águas, porque se
tornaram amargosas" (Apoc. 8:11 ).
As Profecias do Tempo do Fim 231
Tanto Jesus como Paulo tinham advertido à igreja apostólica contra
a chegada de falsos profetas e seus ensinos enganosos que apartariam os
crentes de Cristo "de vós mesmos" (Mat. 24:4, 5, 24; At. 20:26-31). O
paralelo mais surpreendente com a 3ª trombeta é o esboço apocalíptico
que Paulo apresenta da era da igreja em 2 Tessalonicenses 2! Neste
capítulo apresenta a era da igreja em dois períodos sucessivos: primeiro a
fase do agente que o detém, que demora a apostasia predita, seguido pelo
surgimento desenfreado do anticristo dentro da igreja ou o templo de
Deus (2 Tes. 2:7, 8, 4). Esta ordem de acontecimentos se cumpriu na
história quando Roma imperial (o agente que o freia) caiu e aconteceu a
Roma papal e a união medieval da Igreja e o Estado. Tanto 2
Tessalonicenses 2 como as trombetas predizem que a queda de Roma
dispôs o cenário para a grande apostasia. Essa apostasia traria a morte de
"muitos homens". Disse Paulo: "perecem, porque não acolheram o amor
da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes
manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem
julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo
contrário, deleitaram-se com a injustiça" (2 Tes. 2:10-12). A perversão
do evangelho apostólico traz indevidamente a decadência e a morte
espirituais. Entretanto, tanto os líderes como seus seguidores são tidos
por responsáveis pelas heresias e idolatrias que prevaleceram no mundo
cristão.

A Quarta Trombeta Aplicada à História

A quarta trombeta fere os corpos celestiais, com o resultado de que


o sol, a lua e as estrelas se "escurecem" uma terça parte do tempo (Apoc.
8:12). O assunto de se isso significa um terço da intensidade do brilho ou
um terço do tempo do brilho, é problemático. Paulien conclui dizendo
que "há uma escuridão total durante uma terça parte do tempo". 5 Esta
indicação matemática (1/3) aponta de novo ao controle divino dos juízos
limitados da trombeta. Em harmonia com as trombetas anteriores,
As Profecias do Tempo do Fim 232
também devemos ver a quarta como uma representação simbólica de um
juízo que afeta a humanidade e adverte contra um grande juízo vindouro.
De novo o significado simbólico assinala a uma realidade mais séria que
um escurecimento do céu por uma terça parte do dia e da noite. O uso
simbólico de "escuridão" no Antigo Testamento nos mostra a forma para
entender adequadamente isto.
Isaías usa a "escuridão" como uma metáfora para "desastre" na
guerra santa do Israel de Deus (Isa. 45:7; também Amós 5:20). Também
usa a "escuridão" como um símbolo para a ignorância ou a cegueira com
respeito à verdade salvífica do Deus de Israel. Israel é chamado a ser
"luz para os gentios; para abrires os olhos aos cegos, para tirares da
prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas" (Isa. 42:6, 7;
também Sal. 107:10, 11). É especialmente importante a identificação do
profeta de "luz" com a revelação de Deus em "a lei e o testemunho" (Isa.
8:20). Todos os falsos professores que não falam de acordo com esta
palavra, "jamais verão a alva" ("é porque não há luz neles", NKJV). Seu
destino é ser "sumidos em trevas" (v. 22). Miquéias explica o juízo de
Deus sobre Jerusalém em termos de escuridão espiritual:
"Por isso chegará uma noite sem visão, escuridão sem oráculo; ficará o
sol para os profetas obscurecendo o dia... porque Deus não responde" (Miq.
3:6, 7, NBE).
Chegará o tempo quando todo mundo estará coberto de "escuridão"
(Isa. 60:2), incluindo uma parte da terra de Israel (9:1, 2). O Novo
Testamento proclama que Jesus começou a pregar sua mensagem de luz
salvadora na Galiléia para cumprir o que Isaías tinha prometido: "O povo
situado em trevas viu grande luz; e aos assentados em região de sombra
de morte, resplandeceu-lhes a Luz" (Mat. 4:16; Isa. 9:1, 2; ver também
Luc. 1:79). Isto mostra que no Novo Testamento, a luz e a escuridão
estão determinados pelo evangelho de Cristo. Inclusive Paulo
espiritualiza o ato de Deus de criar a luz em Gênese 1:
"Porque Deus, que mandou que das trevas resplandecesse a luz, é o
que resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento
da glória de Deus na face do Jesus Cristo" (2 Cor. 4:6).
As Profecias do Tempo do Fim 233
No evangelho, Deus em realidade repete sua obra de criar luz. Isto
cria o marco para o aspecto demoníaco de ocultar esta luz das pessoas
que se assentam em trevas:
"O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que
não lhes resplandeça a luz de evangelho da glória de Cristo, o qual é a
imagem de Deus" (2 Cor. 4:4).
A idolatria é uma expressão do "escurecimento" do insensato
coração do homem (Rom. 1:21), da perversão do verdadeiro
conhecimento de Deus, das "trevas" dos gentios (2:19). Mas pela fé em
Cristo, "livrou-nos do império das trevas, e nos transladou ao reino de
seu amado Filho, em quem temos redenção por seu sangue, o perdão dos
pecados" (Col. 1:13, 14; também 1 Ped. 2:9).
A compreensão apostólica de "luz e trevas" é o motivo fundamental
nos escritos de João, que nos informam dos ditos de Jesus:
"Eu sou a luz do mundo; quem me segue, não andará em trevas, mas
terá a luz da vida" (João 8:12).
"Eu, a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não
permaneça em trevas" (João 12:46; também os vs. 35, 36).
O reino das trevas chega a ser visível na perseguição e
aprisionamento de Cristo (Luc. 22:53). Isto foi simbolizado por um
escurecimento literal cósmico do sol por 3 horas durante a crucificação
de Jesus (Mat. 27:45). Em harmonia com este simbolismo apostólico de
luz/escuridão, a quarta trombeta prediz que durante a era da igreja viria
sobre uma grande parte do mundo um escurecimento temporário de toda
luz. A gravidade deste juízo pode entender-se melhor se este
"escurecimento" for visto como o decidido encobrimento do evangelho
de Cristo. Paulien explica: "A quarta trombeta resulta no cancelamento
destas bênçãos evangélicas [da terceira trombeta]. A verdade que
proporciona vida espiritual já não é visível... a mesma presença destas
fontes doadoras de vida é retirada em parte".6
Que tempo e situação igualam uma escuridão assim da luz do
evangelho no mundo? A quarta trombeta traz uma intensificação do
juízo da terceira trombeta. A "Idade Média" dos mil anos de supremacia
As Profecias do Tempo do Fim 234
do Estado-Igreja do período medieval terminou com o surgimento dos
grandes reformadores no século XVI. Mas a onda de outros movimentos
reacionários – tais como o racionalismo, o humanismo e o liberalismo
teológico – começaram a escurecer a luz do evangelho na cristandade.
Nasceu o homem renascentista, a pessoa obstinada que rechaça cada
norma externa de restrição e que põe em tela de juízo toda tradição e
autoridade. O tratado da paz da Westfália, em 1648, "terminou com o
reino da teologia na mente européia, e deixou o caminho escurecido, mas
aceitável para a tentativa da razão".7
Charles D. Alexander descreveu o surgimento do racionalismo
moderno como "a última praga da igreja, a negação sistemática da
Bíblia, o desprezo de todas as idéias de uma revelação inspirada por
Deus, e a aceitação total da ciência atéia para dar razão da criação",
assim como a morte do protestantismo.8 Durante as trombetas seguintes
se fariam mais evidentes as conseqüências espantosas de ignorar e negar
a palavra de Deus.

A Introdução de João às 3 Últimas Trombetas

"Na visão, ouvi uma águia que voava por metade do céu clamando: Ai,
ai, ai dos habitantes da terra pelos restantes toques de trombeta, pelos três
anjos que vão tocar" (Apoc. 8:13, NBE ).
João faz um corte na série das trombetas depois da quarta,
semelhante ao que tinha feito na série dos selos. As 3 últimas trombetas
são caracterizadas como 3 "ais" que se sucedem um após o outro, só
depois de existir notáveis pausas entre cada trombeta (ver Apoc. 8:13;
9:12; 11:14). Com estes ais ou maldições do pacto, Deus permite um
incremento da manifestação demoníaca e da escuridão sobre a terra, mas
não sem assegurar a seus adoradores que não lhes ocorrerá nenhum
dano. Eles estão sob seu selo de aprovação e proteção (9:4). A repetida
frase em voz passiva, "lhe deu" (vs. 1, 3, 5), indica que Cristo está no
controle dos poderes sobrenaturais do mal que são desatados, de modo
As Profecias do Tempo do Fim 235
que sua obra espantosa permaneça restringida a uma terça parte da
humanidade (v. 18). As descrições extensas da quinta e a sexta trombetas
são confusas tanto em sua forma gráfica como em sua aplicação
histórica. D. Ford percebe seu propósito da seguinte maneira:
"Representam a tortura e a morte espirituais que ocorrem aos que
persistem em resistir o convite divino a arrepender-se".9 A descrição de
João pode entender-se melhor à luz do oráculo de juízo de Oséias sobre
um Israel idólatra:
"Põe a trombeta à tua boca. Ele vem como águia contra a casa do
Senhor, porque traspassaram o meu concerto e se rebelaram contra a minha
lei" (Osé. 8:1).

A Quinta Trombeta Aplicada à História

"O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra.
E foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo, e
subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira
saída do poço, escureceu-se o sol e o ar. Também da fumaça saíram
gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões
da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a
qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que
não têm o selo de Deus sobre a fronte" (Apoc. 9:1-4).
A visão de João descreve uma estrela que caiu do céu à terra. Isto
conecta a quinta trombeta com a terceira, em que João tinha visto "uma
grande estrela" chamada "absinto" que caía do céu e que tinha
envenenado uma terceira parte dos rios e das fontes das águas (Apoc.
8:10, 11). A esta estrela agora "foi-lhe dada" a chave do poço do abismo,
que representa a região de Satanás e seus anjos (Luc. 8:31; Jud. 6; Apoc.
20:1, 3). Esta estrela caída é como um símbolo de Satanás, "o anjo do
abismo", cujo nome representa sua obra e caráter: "Abadón" (em hebreu)
ou "Apolión" (em grego), que quer dizer o Destruidor (Apoc. 9:11).
Esta chega a ser agora sua missão atribuída ("foi-lhe dada") e
autoridade ("rei", Apoc. 9:9, 11), da parte de que tem "as chaves da
As Profecias do Tempo do Fim 236
morte e do Hades" (1:18). Dessa maneira Cristo permanece como o
governante soberano sobre todos os demônios. Contra o Criador aparece
o destruidor ou anticriador, o próprio inimigo de Cristo. A primeira
tarefa que o destruidor leva a cabo é abrir o abismo, de modo que o sol e
todo o céu escureça por meio de uma fumaça gigantesca que sai do
abismo. Este obscurecimento do céu pela fumaça que sai do reino dos
demônios está no coração do ai desta trombeta.
Enquanto que as trombetas anteriores anunciavam a perversão e o
escurecimento parcial da luz do evangelho, a quinta trombeta mostra um
grande eclipse do evangelho por meio da propagação triunfante de
enganos e heresias satânicos. Agora se oculta publicamente a luz de
Cristo. A mentira triunfa sobre a verdade.
João vê como "da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes
dado poder como o que têm os escorpiões da terra" (Apoc. 9:3).
Descreve-os como "cavalos preparados para a guerra" que serão
vitoriosos ("coroas de ouro"), e entretanto suas caras eram como caras
humanas, com cabelo de mulher, dentes de leões, e caudas e aguilhões
como de escorpiões (vs. 7-10).
A descrição gráfica que João faz destes gafanhotos extravagantes
está tirada da descrição poética que Joel faz de uma praga de gafanhotos
(Joel 1, 2), como se reconhece geralmente. Joel usou uma praga literal de
gafanhotos, que tinha devastado a terra de Judá ao comer toda a
vegetação (1:4), como um símbolo do vindouro exército babilônico e sua
cavalaria vitoriosa (2:1-9).
Aquele vindouro dia do juízo seria "dia de trevas e de escuridão, dia
de nuvem e de sombra". Devia advertir-se a Jerusalém tocando a
trombeta em Sião (Joel 2:1, 2). Portanto, os gafanhotos de Joel "a sua
aparência é como a de cavalos; e, como cavaleiros, assim correm.
Estrondeando como carros, vêm, saltando ... como um povo poderoso
posto em ordem de combate" (vs. 4, 5; cf. Apoc. 9:7, 9). Também têm
"dentes de leão" (Joel 1:6; cf. Apoc. 9:8).
As Profecias do Tempo do Fim 237
Enquanto que Joel descreveu o exército inimigo de Babilônia, João
representa as forças hostis de Satanás que invadirão o mundo com
filosofias que destroem a alma e que fazem com que as pessoas percam
toda a esperança e significado da vida. João sobretudo assinala à
natureza psicológica da praga de gafanhotos apocalípticos, declarando
que "foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os
atormentassem durante cinco meses" (Apoc. 9:5).
A tortura é causada pelo aguilhão venenoso das caudas como de
escorpiões dos gafanhotos. J. Ellul sugere que o característico dominante
destes gafanhotos é a mistura de diferentes espécies de natureza: "O mal
que causam, causam-no por trás, como o escorpião. O que significa que
atuam pelo poder da mentira".10 As principais ferramentas de operação
de Satanás são na verdade as mentiras, o engano e a perseguição (Mat.
24; 2 Tes. 2).
Jesus usou serpentes e escorpiões como metáforas para os
demônios, mas assegurou a seus discípulos: "Eis aí vos dei autoridade
para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e
nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não
porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está
arrolado nos céus" (Luc. 10:19, 20).
De igual maneira, a quinta trombeta assegura ao povo de Cristo que
os gafanhotos demoníacos receberam autoridade só para fazer mal aos
que não têm o selo protetor de Deus (Apoc. 9:4). Sobre isto, comenta
Metzger:
"Assim como os israelitas ficaram isentos das pragas do Egito, assim
agora os cristãos que têm o selo de Deus sobre suas frontes não serão
absolutamente danificados por estas horríveis criaturas de juízo divino". 11
Os que estejam sem Cristo receberão o aguilhão venenoso das
mentiras mortíferas, causando-lhes um agonia mental insuportável e uma
angústia suicida (Apoc. 9:5, 6). O período de tortura dado de "cinco
meses" (vs. 5, 10), talvez o explicou melhor Ch. Wordsworth: "Como os
gafanhotos naturais têm seu tempo de cinco meses prescrito e limitado
As Profecias do Tempo do Fim 238
por Deus, assim também estes gafanhotos espirituais não poderão
exercer seu poder para machucar os homens mais além do período que
Deus lhes determinou".12 De novo a mensagem aqui é que Cristo é o
governante soberano que só permite um tempo para esta maldição do
destruidor. Nesta severa prova, os impenitentes são declarados culpados
de quebrantar o pacto, enquanto que os que estão selados são vindicados.
A que tempo e a que filosofias destrutivas assinala esta trombeta?
Enquanto que qualquer aplicação deve permanecer como tentativa, pode-
se fazer uma aplicação pertinente ao tempo quando as filosofias atéias do
Renascimento ou do Iluminismo varreram a civilização ocidental e
causaram a agonia da vacuidade desta vida e da desesperança para o
futuro. A teologia tradicional centrada em Deus foi substituída pela
filosofia centrada no homem, na qual o homem é responsável só ante si
mesmo.
Nas diversas formas de humanismo contemporâneo, somos
testemunhas de uma religião sem Deus, na qual o homem mesmo é a
medida de todas as coisas. Seu arrogante slogan é: "Nenhuma deidade
nos salvará; devemos nos salvar a nós mesmos".13 Nesta mentira
fundamental estão arraigadas todas as agonias mentais e os desejos
suicidas. Joel perguntou: "Quem pode suportá-lo?" (2:11), mas também
apresenta o caminho de liberação de Deus: "Convertei-vos a mim de
todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto...
convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e
compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende
do mal" (vs. 12, 13).

A Sexta Trombeta Aplicada ao Tempo do Fim

Pelo fato de não se prever arrependimento, a sexta trombeta segue


num segundo ai. Agora dá a Satanás mais liberdade para revelar seu
verdadeiro caráter e para levar a cabo seu objetivo diabólico de destruir a
terra e todos os seus moradores. Entretanto, Deus desata as forças do mal
As Profecias do Tempo do Fim 239
só à hora exata que escolheu (ver Apoc. 9:15). Então, o ai desta trombeta
dirige à confrontação definitiva final entre Satanás e seus exércitos por
um lado, e Cristo e seus exércitos pelo outro:
"O sexto anjo tocou a trombeta, e ouvi uma voz procedente dos quatro
ângulos do altar de ouro que se encontra na presença de Deus, dizendo ao
sexto anjo, o mesmo que tem a trombeta: Solta os quatro anjos que se
encontram atados junto ao grande rio Eufrates. Foram, então, soltos os
quatro anjos que se achavam preparados para a hora, o dia, o mês e o ano,
para que matassem a terça parte dos homens. O número dos exércitos da
cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares; eu ouvi o seu número" (Apoc.
9:13-16).
Esta trombeta de guerra recorda primeiro à igreja o propósito
misericordioso deste juízo, assinalando a sua origem do "altar de ouro
que estava diante de Deus", em forma específica seus "chifres". Estes
chifres representam o lugar onde o sacerdócio Levítico orvalhava o
sangue da expiação para Israel (Lev. 4:7, 18, 25).
A voz celestial é a resposta divina às orações dos santos oprimidos
(Apoc. 6:9). A resposta chega na ordem: "Solta aos quatro anjos que
estão atados junto ao grande rio Eufrates" (9:14). Como resultado, se
solta a uma cavalaria incrivelmente enorme de 200 milhões que sai para
matar "a terça parte dos homens".
Estes 4 anjos são claramente anjos maus, os líderes de uma
multidão de demônios. O Eufrates é um símbolo importante, porque no
Antigo Testamento representava os arquiinimigos de Israel que
invadiram sua terra como uma inundação transbordante (ver Isa. 8:8, 9;
Jer. 46:2, 10). Soltar "os quatro anjos" no Eufrates no tempo do fim
significa um conflito mundial contra o povo de Deus. O número "quatro"
simboliza todas as direções da bússola (Apoc. 7:2; 20:7).
De novo João descreve os cavalos e seus cavaleiros como havia
descrito as lagostas na trombeta anterior: como poderes demoníacos
inumeráveis (Apoc. 9:17-19). Ao mesmo tempo são os instrumentos do
juízo divino sobre um mundo unido em rebelião contra Deus. Matam
uma terça parte da humanidade (vs. 15, 18) por meio de "fogo, fumaça e
As Profecias do Tempo do Fim 240
enxofre'" que sai das "bocas" dos cavalos" (vs. 18, 19). A qualidade
demoníaca destas três pragas está indicada pela frase repetida de que
estas pragas infernais "saíam de sua boca" (vs. 18, 19; ver 16:13, 14).
Em essência, o significado deste juízo se desdobra posteriormente
na segunda metade do Apocalipse, onde o rio Eufrates está de novo
descrito como os seguidores mundiais da meretriz "Babilônia" (Apoc.
17:1, 15). Essas multidões se voltam finalmente contra Babilônia e a
queimam com "fogo" (V. 16) para cumprir o propósito divino (V. 17).
O ponto de atividade da sexta trombeta está estritamente sobre a
multidão esmagadora (João só "ouviu" seu número) de forças
demoníacas que matam uma grande parte da humanidade. Essas pessoas
estavam presumivelmente desprotegida contra as doutrinas e poderes
demoníacos. Estavam sem o selo protetor de Deus, sendo adoradores de
demônios e de ídolos (Apoc. 9:20). D. Ford o explicou assim:
"As multidões que rechaçaram o sangue da expiação, o incenso da
justiça de Cristo, o refrigério dos rios e das fontes divinas, e a luz dos corpos
celestiais, não tem amparo contra as doutrinas de demônios, e finalmente,
não tem amparo contra os próprios demônios".14
É esclarecedora a observação de que a sexta trombeta apresenta
uma contraparte surpreendente ao selamento dos 144.000 servos de Deus
em Apocalipse 7. Jon Paulien apresenta um sumário de seus paralelos
importantes:
"Em ambas as seções [Apoc. 7:1-4 e 9:14-16], atar e desatar estão
relacionados com os quatro anjos. Em ambas as seções, está-se contando
um povo: em Apocalipse 7 ao povo de Deus; em Apocalipse 9 a seus
equivalentes demoníacos. E estes são os dois únicos lugares no Apocalipse
que contêm as palavras misteriosas: 'Ouvi o número' [ékusa ton arithmón]'.
Se o tempo de graça segue durante a sexta trombeta e termina com o toque
da sétima trombeta, a sexta trombeta é o equivalente histórico exato de
Apocalipse 7:18. É a última oportunidade para a salvação, exatamente antes
do fim".15
Chega a ser evidente que Deus desenhou um plano básico de acordo
com o qual a história humana seguirá seu curso e alcançará seu objetivo
indicado. Quando Deus tirar o freio de Satanás, este adversário poderá
As Profecias do Tempo do Fim 241
unir todas suas forças terrestres e demoníacas. Por outro lado, Cristo
concederá o poder do Espírito Santo em sua plenitude a seus seguidores,
o remanescente fiel (Apoc. 18:1). Apesar de tudo, os 200 milhões de
cavaleiros ímpios não poderão destruir aos 144.000 servos de Cristo
porque possuem o selo da proteção divina. Estes movimentos
notavelmente paralelos se desenvolvem em forma adicional em
Apocalipse 16:13-16. Ali Cristo anima a seus fiéis a estar alerta e a estar
vestidos com a armadura de sua justiça para que suas bênçãos
permaneçam sobre eles (v. 15), enquanto que os seguidores do dragão, a
besta e o falso profeta em todo mundo se encaminham para seu
"Armagedom" (vs. 13-16).
Enquanto que a sexta trombeta mostra uma destruição e decepção
demoníacas em aumento, ainda trata com o tempo anterior ao fim (Apoc.
10:6). Como ensinam de maneira impressionante as visões subseqüentes
de Apocalipse 10 e 11, a sexta trombeta também inclui o período da
oportunidade final para todas as pessoas, com o fim de que respondam
ao testemunho do tempo do fim do evangelho eterno de Cristo (ver
Apoc. 10:11; 11 :7). A respeito, assinala Metzger:
"Embora as imagens são horrendas, a intenção total do toque das sete
trombetas não é infligir vingança e sim levar as pessoas ao arrependimento.
Embora não se faz nada para minimizar a gravidade do pecado e da rebelião
contra Deus, há uma ênfase tremenda na paciência e misericórdia de Deus.
Em vez de uma destruição total, só é afetado um terço (9:18) ou alguma
outra fração do total. A fração é simbólica da misericórdia de Deus".16
O simbolismo do tempo que se usa em Apocalipse 9:15 indicando
que se soltam os 4 anjos de destruição "para aquela hora, dia, mês e
ano" (CI; cf. BJ, NBE, JS, RC, BLH) é significativo e merece uma
atenção especial. O original tem o artigo definido [ten, o] antes de toda
esta frase fazendo de todas suas partes uma unidade sintática, sem
considerar cada parte em forma separada.
A idéia tradicional de que Apocalipse 9:15 indica quatro períodos
de tempo separados ou independentes, não pode dar-se por sentado desta
frase bíblica. Também pode legitimamente entender-se como um
As Profecias do Tempo do Fim 242
momento no tempo divinamente indicado. Se o virmos dessa forma, a
sexta trombeta assinala para frente, ao fim do tempo de graça, quando
começa a sétima trombeta com suas 7 últimas pragas. Esse momento de
tempo pavoroso pode identificar-se com a declaração profética de
Apocalipse 22:11: "quem é injusto continue sendo injusto... o justo
continue fazendo justiça" (CI). Portanto, a sexta trombeta ensina que
Deus domina os tempos de Satanás e lhe determinou um tempo limite
absoluto. Em forma parecida, Roy Naden comenta Apocalipse 9:15:
"A sexta trombeta termina na hora assinalada, em um dia, em um mês,
em um ano (note a quádrupla descrição indicando o significado 'universal' do
momento). Quando soar essa hora, terminará o tempo de graça e não
haverá mais oportunidade para que nenhuma pessoa mude sua lealdade...
O Pai baixará o pano de fundo do tempo de graça da história na mesma
hora já determinada".17
Antes que chegue esse momento, Deus remove gradualmente sua
proteção e seu poder restritivo, mostrando aos homens os frutos amargos
de suas próprias idolatrias e seu ódio contra o Criador e contra seus fiéis
seguidores. Estes juízos das 6 trombetas não representam a Deus como o
executor dos decretos divinos. Antes demonstram o "poder vingador de
Satanás sobre os que se rendem ao seu controle".18 Satanás se oporá em
forma persistente a Deus e à proclamação do evangelho até a hora final
do tempo de graça.

Enfoque Especial sobre os Acontecimentos do Tempo do Fim

As trombetas acentuam seu enfoque crescente no tempo do fim por


meio da declaração de uma voz celestial: "Ai! Ai! Ai dos que moram na
terra, por causa das restantes vozes da trombeta dos três anjos que ainda
têm de tocar!" (Apoc. 8:13). Dessa maneira, as visões das 3 últimas
trombetas são juízos intensificados ou "ais", e formam a transição das
advertências divinas aos ais demoníacos. Paulien declara com acuidade:
"Nestes ais, Deus, para seus próprios propósitos, permite que as forças
As Profecias do Tempo do Fim 243
do mal se incrementem até que alcancem virtualmente o domínio do
cenário da terra".19
Como é típico no Apocalipse, o lado escuro está equilibrado por
uma visão brilhante para o tempo do fim. Assim como João inseriu uma
visão de israelitas vitoriosos em Apocalipse 7 entre o sexto selo e o
sétimo, assim agora insere algumas visões animadoras para o povo de
Deus do tempo do fim entre a sexta e a sétima trombeta, ou seja:
Apocalipse 10 e 11:1-13.
O plano literário particular de um parêntese entre o sexto e o sétimo
selo e de novo entre as trombetas correspondentes tem um propósito
específico. Estes interlúdios são refletores que se ampliam sobre os
acontecimentos do tempo do fim em conexão com o sexto episódio de
cada série profética. Dessa forma, Apocalipse 7 apresenta o selamento
dos 144.000 israelitas espirituais como o equivalente da cena espantosa
de juízo do sexto selo (Apoc. 6:12-17).
Nas visões de Apocalipse 10 e 11, João introduz o equivalente
positivo das ameaças e ais demoníacos das últimas trombetas. Isto
significa que as visões de Apocalipse 7, 10 e 11 transladam o leitor ao
tempo do fim, quer dizer, aos acontecimentos finais da era da igreja.
Estas visões que iluminam estão designadas para consolar e animar o
povo de Deus do tempo do fim. Os seguidores de Cristo recebem seu
cuidado especial e são chamados por um mandato específico a cumprir
sua missão apesar da oposição cruel e do sofrimento (Apoc. 7:14; 10:1-
11). Receberão um poder extraordinário para dar seu testemunho quando
se intensificar a luta entre o anticristo e a igreja remanescente. Deus
vindicará no fim a suas testemunhas verdadeiras, que dão a ele toda a
honra e a glória (Apoc. 11:1-13).

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 8 e 9 encontra-se nas páginas 245-246.

1 Aune, Prophecy in Early Christianity, p. 177.


As Profecias do Tempo do Fim 244
2 Wesley, Explanatory Note Upon the New Testament, p. 975.
3 Paulien, Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and
Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 388.
4 Ibid., p 383.
5 Ibid., P. 414.
6 Ibid., P. 415.
7 Durant, The Age of Reason Begins, P. 572.
8 Alexander, The Mystery of the First Four Trumpets, p. 166.
9 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p.
442.
10 Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 75.
11 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of
Revelation, p. 65.
12 Ch. Wordsworth, The New Testament in the Original Greek, t. II,
p. 207).
13 "Humanist Manifesto II", Humanist Manifestos I & II [Manifesto
humanista II, em Manifestos Humanistas I e II]. P. Kurtz, ed.
(Buffalo: Prometheus, 1973, P. 183). ver também N. L. Geisler.
14 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p.
458.
15 Paulien. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os
Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre
o Apocalipse, T. 1, p. 196.
16 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of
Revelation, p. 66.
17 Naden, P. 152.
18 Ellen White, GC 36.
19 Paulien, Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and
Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 417.
As Profecias do Tempo do Fim 245
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER AS
TROMBETAS EM SEUS CONTEXTOS

Livros
Alexander, Charles D. The Mystery of the First Four Trumpets [O
mistério das quatro primeiras trombetas]. "Rev. Spiritually
Understood" [Apocalipse, entendido espiritualmente]. Parte 9.
Liverpool, Inglaterra: The Bible Exposition Fellowship, sem data.
Aune, David E. Prophecy in Early Christianity [A profecia no
cristianismo primitivo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans,
1983.
Beckwith, Isbon T. The Apocalypse of John [O Apocalipse de João].
Grand Rapids, MI: Baker, 1979 (reimpressão de 1919).
Durant, W. & A. The Age of Reason Begins [Começa a Era da Razão].
Nova York: Simon and Schuster, 1961.
Ford, Desmond. Crisis! A Commentary on the Book of Revelation.
Geisler, N. L. Is Man the Measure? An Evaluation of Contemporary
Humanism [É o homem a medida? Uma avaliação do humanismo
contemporâneo]. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1983.
Holbrook, F. B. ed., Symposium on Revelation – Book 1 [Simpósio
sobre o Apocalipse – Livro 1] (Silver Spring, Maryland: Biblical
Research Institute, 1992).
Gibson, R. R. The Meaning and the Chronology of the Trumpets of
Revelation [O significado e a cronologia das trombetas do
Apocalipse]. Tese doutoral inédita. Indiana: Grace Theological
Seminary 1980.
Metzger, Bruce M. Breaking the Code. Understanding the Book of
Revelation [Decifrando o Código: Entendendo o Livro do
Apocalipse]. Nashville, TN: Abingdon Press, 1993.
Naden, R. C. The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book
of Revelation [O Cordeiro Entre as Bestas. Encontrando a Jesus no
Livro do Apocalipse] (Hagerstown, Maryland: Review and
As Profecias do Tempo do Fim 246
Herald, 1996). Cap. 9: "Trumpet Fanfares" [As fanfarras das
trombetas].
Paulien, Jon. Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and
Interpretation of Revelation 8:7-12 [Decifrando as trombetas do
Apocalipse. Alusões literárias e interpretação de Apocalipse 8:7-
12]. Andrews University Doctoral Dissertation Series, T. XI.
Berrien Springs, MEU: Andrews University Press, 1988.
Rusten, Elmer M. A Critical Evaluation of Dispensational
Interpretations of the Book of Revelation [Uma avaliação crítica
das interpretações dispensacionalistas do livro do Apocalipse].
Tese doutoral, Universidade de Nova York, 1977. Ann Arbor:
University Microfilms International 1980. 2 ts.
Wesley, João. Explanatory Note Upon the New Testament [Notas
explicativas sobre o Novo Testamento]. Naperville, IL: A. R.
Allenson Inc., 1966.
Wordsworth, Christopher. The New Testament in the Original Greek
[O Novo Testamento no Grego Original]. Londres, Rivingtons,
1872. 2 ts.

Artigos
Davis, D. R. "The Relationship Between The Seals, Trumpets, and
Bowls in the Book of Revelation" [A relação entre os selos, as
trombetas e as pragas no livro do Apocalipse], JETS 16:3 (1973),
pp. 149-158.
Paulien, Jon. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os
Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio
sobre o Apocalipse. t. 1, pp. 183-198.
As Profecias do Tempo do Fim 247
O REFLETOR PROFÉTICO SOBRE O POVO DE DEUS DO
TEMPO DO FIM
Apocalipse 10

Apocalipse 10 e 11:1-13 apresentam visões vinculadas à sexta


trombeta por meio de um interlúdio. Dirigem a luz da profecia à igreja
cristã do tempo do fim antes que soe a sétima trombeta. Este enfoque de
Apocalipse 10 está recalcado pelo juramento solene do anjo poderoso
que proclama: "Já não haverá demora! [kronos, "tempo"] mas sim nos
dias [em que se ouça] a voz do sétimo anjo, quando for dar o toque de
trombeta, cumpriu-se o mistério de Deus, como o anunciou a seus servos
os profetas" (Apoc. 10:6, 7, Cl; cf. BJ). Esta proclamação trata com o
som da sétima trombeta. Declara que agora não haverá mais demora ou,
mais exatamente, "não haverá mais tempo!"
Surge então a pergunta: O tempo que o anjo menciona aqui
[kronos], refere-se ao tempo em geral ou a um período de tempo
específico mencionado no livro apocalíptico de Daniel (Dan. 7:25; 8:14;
12:7)? Não pode ser tempo em geral, porque o tempo se estende com
uma nova ordem para pregar em uma medida universal (ver Apoc.
10:11). A descrição do anjo em Apocalipse 10, que levanta sua mão ao
céu para jurar (Apoc. 10:5, 6), tem um paralelo surpreendente em Daniel
12:7.
Daniel profetizou que seria permitido ao anticristo perseguir os
santos por três tempos e meio (Dan. 7:25; 12:7). O juramento do
mensageiro divino em Daniel 12 foi a resposta do céu à pergunta:
"Quando será o fim destas maravilhas?" (V. 6). No Apocalipse de João
ouvimos o clamor constante dos santos martirizados: "Até quando, ó
Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso
sangue dos que habitam sobre a terra?" (Apoc. 6:10). Enquanto que em
Daniel 12 a resposta a esta pergunta foi esperar até que os "três tempos e
meio" de perseguição tivessem expirado, e em Apocalipse 6 a resposta
As Profecias do Tempo do Fim 248
foi esperar "por pouco tempo" (V. 11), em Apocalipse 10 a resposta é ao
fim as boas novas: "Já não haverá demora!" (v. 6).
Portanto, devemos entender o "tempo" deste anjo como referindo-se
aos períodos de tempo proféticos de Daniel. Estes expirarão antes que
toque a sétima trombeta. Nesse tempo pode dizer-se que não ficaram já
mais períodos de tempo proféticos. Agora fica em marcha de maneira
irrevogável o tempo do fim. Neste sentido, não haverá mais demora!
André Feuillet expressou esta idéia básica:
"Por esta passagem [Apoc. 10:6, 7] do Apocalipse, sentimo-nos
constrangidos a concluir que a história da salvação está em sua última
etapa, a que precede imediatamente ao toque da [sétima] trombeta". 1
O anjo forte é descrito com características messiânicas: "Envolto
em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o
sol, e as pernas, como colunas de fogo (Apoc. 10:1). Como declarou uma
comentadora: "Pode ver-se como o Príncipe da luz em contraste com o
príncipe das trevas [no Apoc. 9:1, 2]".2 Refletindo o caráter de Deus,
aparece como o antigo Anjo do Pacto. Portando, alguns o denominam "o
anjo do pacto". Desce como Deus desceu ao Sinai: em uma nuvem, com
trovões e raios (Êxo. 19:16), indo diante de seu povo em uma coluna de
nuvem e de fogo (13:21, 22). O arco-íris sobre a cabeça deste anjo do
pacto nos recorda o arco-íris que rodeia o trono de Deus (Apoc. 4:3).
A voz do anjo ressonou como se fossem "sete trovões" (Apoc.
10:3). As vozes destes trovões em Apocalipse 10 inclusive não ia ser
revelada, e sim selada (v. 4). A ordem para "selar" o conteúdo dos 7
trovões pode indicar que já não haverá juízos de advertência, em vista da
presciência de que tais juízos não levarão as pessoas ao arrependimento
(ver Apoc. 9:20, 21). Os juízos finais vêm somente depois que tenha
terminado o tempo de graça, na forma das 7 últimas pragas.3
O "anjo forte" de Apocalipse 10:1 corresponde ao "anjo forte" de
Apocalipse 5:2. Ambos os anjos poderosos assinalam os rolos celestiais
que contêm os decretos de Deus para a humanidade: o primeiro para o
mundo (Apoc. 5), o último para a igreja (Apoc. 10). Enquanto que o anjo
As Profecias do Tempo do Fim 249
do capítulo 5 anuncia dessa forma o começo dos juízos messiânicos, tal
como estão revelados nos selos e nas trombetas, o anjo do capítulo 10
revela o plano de Cristo para a missão final de sua igreja (Apoc. 10:6)
em preparação para o segundo advento (v. 7). O significado especial de
Apocalipse 10 é que vai introduzir as visões do tempo do fim dos
capítulos 11 a 22. Anuncia ao mundo que se alcançou uma nova época
de tempo, o período que Daniel chamou "o tempo do fim" (Dan. 8:14,
17, 19).
O anjo de Apocalipse 10 abre o selo das profecias de Daniel para o
tempo do fim (Dan. 8-12). Estando sobre o mar e sobre a terra, "tinha em
sua mão um livrinho aberto" (Apoc. 10:2). Dentro do marco da sexta
trombeta, toda esta descrição simboliza a comissão de Cristo à igreja do
tempo do fim para receber uma missão final para levar a todas as nações.
Sua ordem a João como representante da igreja é: "Toma [o livrinho] e
come-o; e te amargará o ventre, mas em tua boca será doce como o mel"
(Apoc. 10:9). Esta mesma linguagem figurada foi usada os profetas de
Israel para simbolizar sua chamada celestial à missão profética (Jer.
15:16, 17; Ezeq. 3:1-3). Por conseguinte, os seguidores de Cristo devem
fazer da mensagem deste livrinho aberto sua própria missão. A nova
época de tempo traz consigo uma urgência, motivada por um aumento do
conhecimento das profecias do Daniel do tempo do fim.
O que quer dizer pelo "livrinho" [biblarídion], também chamado
"livro" [biblíon](!), que tinha aberto em sua mão (Apoc. 10:2, 8)? Este
livrinho, é o mesmo livro [biblíon] que antes estava selado em
Apocalipse 5? Alguns estudos novos argumentam em forma persuasiva
que os livros celestiais em Apocalipse 5 e 10 devem considerar-se
idênticos.4 Um "anjo forte" apresenta ambos os livros (Apoc. 5:2; 10:1).
Isto sugere um paralelo estreito entre ambas as visões nas que aparece
um livro celestial. Além disso, ambas as visões (caps. 5 e 10) estão
desenhadas sobre a mesma visão do trono de Ezequiel, que o
comissionou para entregar uma mensagem profética ao Israel (Ezeq. 2:9-
3:3). Diz Bauckham:
As Profecias do Tempo do Fim 250
"É muito importante notar que, quando João faz eco fielmente de
Ezequiel 3:1-3 em Apocalipse 10:8-10, tem em mente de uma maneira clara
a descrição do rolo de Ezequiel 2:10, do que se faz eco em Apocalipse 5:1.
Isto sugere enfaticamente que quer referir--se ao mesmo rolo em ambos os
lugares: ele o vê na mão de Deus em 5:1, mas não o recebe para assimilá-lo
como o conteúdo de sua profecia até 10:8-10... O ponto decisivo aqui é que
o modelo de alusão à comissão profética de Ezequiel em Ezequiel 2:8-3:3
mostra que João tem o propósito de que Apocalipse 5 e 10 apresentem um
relato único de sua própria recepção de uma revelação profética que está
simbolizada pelo rolo".5
Este ponto de vista faz ainda mais importante a identificação do
livro celestial. Sem dúvida contém o plano divino de como Deus
estabelecerá seu reino sobre a terra. Se o rolo pode ser desdobrado só
depois que forem abertos todos os selos, os juízos dos selos e das
trombetas (Apoc. 6:1-9:21) devem considerar-se como acontecimentos
preliminares que acompanham a abertura gradual do livro mas que não
são seu conteúdo. O conteúdo real segue depois de Apocalipse 10.
O livro selado de Apocalipse 5 e 10 também deve conectar-se com
o livro selado de Daniel, que revela algo que foi escrito no "livro da
verdade" (Dan. 10:21). O livro de Daniel foi o único livro das Escrituras
que ficou selado para a compreensão do homem até "o tempo do fim"
(Dan. 8:26; 12:4, 9). Também o juramento do anjo forte em Apocalipse
10:5-7 aponta diretamente ao juramento do anjo em Daniel 12:7. O livro
"aberto" de Apocalipse 10 comunica à igreja do tempo do fim uma
compreensão mais completa do que estava predito em Daniel.
Apocalipse 10 revela o que Daniel mesmo não pôde entender (Dan.
12:8). Isto significa que o livro de Apocalipse 5 e 10 se refere à porção
do livro do Daniel que ficou selada para o tempo do fim, e pertence ao
estabelecimento do reino de Deus na terra. Outra vez explica Bauckham:
"A combinação do Ezequiel e Daniel capacita a João para caracterizar
o livro tanto como uma revelação profética do propósito divino que lhe deu
para que o comunicasse em profecia, como também, de maneira mais
específica, como uma revelação do propósito de Deus para o período final
da história mundial, na qual Deus estabelecerá seu reino sobre a terra, uma
As Profecias do Tempo do Fim 251
revelação que complementa e esclarece o que permaneceu escuro nas
profecias dos últimos dias que fizeram os profetas anteriores, especialmente
Daniel".6
Apocalipse 10 destaca que o livrinho será aberto durante a sexta
trombeta e permanecerá aberto (vs. 2, 8) para que seja eficaz para toda a
humanidade que já esteja sobre o mar ou sobre a terra (vs. 2, 8-11). É de
importância essencial para a igreja entender o conteúdo deste livro
aberto. Responde a pergunta decisiva: "Qual é a tarefa da igreja nesses
tempos turbulentos?"7 A resposta está desdobrada nas duas visões
ampliadas em Apocalipse 10 e 11, "pelas quais se instrui a igreja com
respeito a seu papel durante o período final da história do mundo".8
Como tanto Apocalipse 10 e 11:1-13 pertencem ao mesmo
interlúdio ou parêntese (vinculados à sexta trombeta), devemos
considerar ambas as visões como complementares. Ambas as visões do
tempo do fim comissionam a igreja para que "profetize" tendo em conta
toda a população mundial (Apoc. 10:11; 11:6) e atestem do testemunho
de Cristo com um poder adicional, até que o mundo hostil sossegue seu
testemunho por meio da pena capital (11:1-10).
Isto deveria motivar a igreja a procurar sua missão específica do
tempo do fim nas visões de Daniel e nas do Apocalipse de João. G. B.
Caird chamou corretamente a atenção a esta conexão fundamental ao
declarar: "João acreditou que a profecia de Daniel, junto com outras
profecias do Antigo Testamento, teriam um cumprimento novo e mais
magnífico".9

O Significado do Juramento

O ato central do anjo forte de Apocalipse 10 é seu juramento,


enquanto levantava sua mão direita ao céu, presumivelmente sustentando
o livro aberto em sua mão esquerda. Pelo visto, o juramento está
relacionado com o conteúdo do livro. Este cerimonial de afirmar sob
juramento mostra uma ênfase distinta e diferente do ato de jurar em
As Profecias do Tempo do Fim 252
Daniel 12. Enquanto que Daniel declarou: "E o ouvi jurar pelo que vive
eternamente..." (v. 7, NBE), a visão de João informa o juramento por
Deus como Criador dos céus, a terra e o mar:
"E jurou pelo que vive pelos séculos dos séculos, que criou o céu e as
coisas que estão nele, e a terra e as coisas que estão nela, e o mar e as
coisas que estão nele..." (Apoc. 10:6).
Esta ênfase elaborada sobre Deus como Criador do céu, da terra, do
mar e de todas as coisas que neles há, é uma indicação destacada para as
testemunhas da igreja do tempo do fim. Esta ênfase se repete na
mensagem do tempo do fim, ampliado em Apocalipse 14, mensagem que
chama a todo mundo a adorar a Deus como o Criador: "E adorai aquele
que fez o céu e a terra, o mar e as fontes das águas" (Apoc. 14:7).
Dessa maneira se define o problema religioso final na história
humana como uma questão de adorar ao Criador em Espírito e em
verdade. Tal adoração foi o assunto crítico para o povo do velho pacto
em relação com a adoração pagã. Israel se caracterizou por louvar a
Jeová como Redentor e Criador dos céus e a terra (Gên. 1, 2; Sal. 8, 19,
136, 146; Nee. 9:6, 7; Isa. 40:28; Jer. 10:10-12). Também Paulo
enfatizou a diferença fundamental entre o Criador e toda a realidade
criada (Rom. 1:20-25; At. 14:15; 1 Tes. 1:9). O Criador decidiu que toda
rebelião, idolatria e violência humana chegará a seu fim nos dias quando
o sétimo anjo faça soar seu trombeta.
Ainda é dado tempo para responder com a adoração ao Criador. A
adoração a Deus como Criador e Redentor por parte de Israel, ainda é o
caminho indicado para dar honra e glória a Deus. J. M. Ford notou
claramente que o juramento sagrado em Apocalipse 10:6 contém "um
eco dos mandamentos; Êxo. 20:11".10 Uma comparação conscienciosa
da fórmula do juramento com o quarto mandamento mostra que ambos
mencionam os 3 elementos: o céu, a terra e o mar. Entretanto, o
juramento de Apocalipse coloca uma ênfase insólita sobre a natureza de
grande alcance da obra criada por Deus, repetindo 3 vezes a frase: "as
coisas que estão neles". Isto nos obriga a reconhecer um indicador
As Profecias do Tempo do Fim 253
intencional no juramento do Anjo do pacto em torno do quarto
mandamento. Isso indica onde estão as preocupações do céu para a igreja
universal de Cristo e para sua adoração de Deus no tempo do fim.
Contém a motivação para um verdadeiro reavivamento e uma reforma.

O Mistério de Deus a Ponto de Consumar-se

"Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a
trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou
aos seus servos, os profetas" (Apoc. 10:7).
Agora o anjo dirige nossa atenção à certeza do cumprimento de
todas as profecias do tempo do fim, como foram declaradas pelos
profetas do Antigo Testamento, em particular por Daniel. J. M. Ford faz
este comentário sobre Apocalipse 10:7: "A palavra hebraica raz,
'mistério', é freqüente em Daniel e nos rolos de Qumran e se refere
principalmente ao secreto dos tempos, à seqüência dos acontecimentos e
a consumação".11 O exemplo principal é a resposta de Daniel ao rei de
Babilônia: "Mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios
[mustéria, LXX], e ele tem feito saber ao rei Nabucodonosor o que deve
acontecer nos últimos dias ['nos últimos dias', Teodósio]" (Dan. 2:28).
Como o esboço das profecias de Daniel se enfoca cada vez mais no
tempo do fim (ver 2:44, 45; 7:27; 8:14, 17, 19; 11:40-12:2), devemos
conectar "o mistério de Deus" especificamente com os acontecimentos
históricos do tempo do fim e a terminação do plano de redenção como
está esboçado em Daniel e no Apocalipse. Raymond E. Brown explica o
"mistério" em Apocalipse 10:7 como "a vontade misteriosa de Deus para
o fim do tempo... o estabelecimento definitivo do reino de Deus".12
As palavras do anjo em Apocalipse o apontam adiante, à sétima
trombeta, como o tempo definitivo para a realização ou consumação do
"mistério de Deus". Os acontecimentos da sétima trombeta em
Apocalipse 11:15-19 são: (1) o triunfo do governo e reino visível de
Deus (v. 15); (2) a abertura do templo de Deus no céu e o derramamento
As Profecias do Tempo do Fim 254
da ira de Deus nas 7 últimas pragas (vs. 18, 19; 15:1, 5); (3) a
ressurreição dos santos mortos e a recompensa de todos os fiéis (11:18).
Os segredos do plano de redenção serão revelados finalmente em
uma realidade histórica quando soar a sétima trombeta. Paulo já tinha
revelado antes o "mistério" que "a final trombeta" Deus mudará a
condição de todos os santos em um abrir e fechar de olhos, ressuscitando
aos fiéis e imortalizando os santos vivos (ver 1 Cor. 15:51, 52; também 1
Tes. 4:16, 17). Entretanto, Apocalipse apresenta um ponto de vista mais
completo do reino divino. W. H. Shea declara a respeito: "Três coisas
específicas sobre o reino de Deus serão reveladas nesse tempo: o grande
governante divino do reino, os cidadãos que viverão nele e os que serão
excluídos dele".13

O Triunfo Garantido do Evangelho Eterno

"O mistério de Deus se consumará, como ele o anunciou a seus servos


os profetas" (Apoc. 10:7; "conforme o tinha anunciado como boa nova" [BJ];
"segundo a boa nova que ele anunciou" [JS] ).*
Aqui é notável o uso do verbo euanguelízo para descrever o
cumprimento do tempo do fim "do mistério de Deus". Este verbo denota
mais que uma declaração abstrata ou formal. Aparentemente dá a
entender as "boas novas" dos juízos de Deus dentro do mistério de Deus,
como está testemunhado pelos profetas do Antigo Testamento (ver Amós
3:7). Paulo explicou que "o mistério de Cristo" no evangelho apostólico
revela que "os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo, e
co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho"
(Ef. 3:6). Este é o "mistério que desde tempos eternos esteve oculto, mas
que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas,
segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para

*
Nota do tradutor: Em grego diz: "proclamou ou pregou". O Nuevo Testamento trilingüe, editado por
J. M. Bover y J. O'Callaghan (Madrid BAC, 1988), diz: "Segundo a boa nova que ele havia dado a
seus servos".
As Profecias do Tempo do Fim 255
obediência da fé" (Rom. 16:25, 26). O mistério de Deus é pois
decididamente cristocêntrico, e significa o evangelho inalterável de Deus
quanto a seu Filho (Rom. 1:1, 3) em favor de todos os povos da terra. O
fato de que durante a sétima este trombeta "mistério de Deus" será
"consumado" ou "realizado" expressa a consumação mundial desta
proclamação.
O marco do tempo do fim de Apocalipse 10 está reforçado pelas
conexões literárias e temáticas com o anjo de Apocalipse 14, que tem "o
evangelho eterno para pregá-lo [euanguelízai] aos moradores da terra"
(v. 6). A expressão "outro anjo" sugere uma conexão com um anjo
anterior, que é o anjo do pacto de Apocalipse 10. Esta relação aparece
também no uso comum do verbo euanguelízo (Apoc. 10:7; 14:6).
Portanto, apreciamos a declaração do André Feuillet:
"Estamos completamente seguros de que essas duas cenas se
correspondem entre si. É difícil entender o começo de XIV:6: 'E vi outro
anjo', porque este anjo é o primeiro de uma série. Isto pode explicar-se
melhor se este "outro anjo, tendo um evangelho eterno", fora considerado
ser idêntico com o "outro anjo" que tem o livrinho aberto em X:1, 2".14
Esta conexão substancial de Apocalipse 10 e 14 confirma a natureza
proléptica da visão do livro de Apocalipse 10, que está mais amplamente
desenvolvida na tríplice mensagem de Apocalipse 14. Por sua colocação
na sexta trombeta, Apocalipse 10 estabelece também o marco do tempo
do fim de Apocalipse 14. Nessa época do tempo, começará o período
final da igreja.
A consumação final do evangelho está garantida pelo Filho de
Deus, a quem o Pai entregou todas as coisas em suas mãos (João 3:35;
5:27-29). Cristo declarou em sua última oração:
"Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo
os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque
me amaste antes da fundação do mundo" (João 17:24).
Nada pode frustrar este propósito divino do Cristo ressuscitado.
Este plano para o povo de Deus é o propósito do juramento do anjo do
pacto. A carta aos Hebreus esclarece o propósito do juramento sagrado
As Profecias do Tempo do Fim 256
de Deus: "Pelo qual, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos
herdeiros da promessa a imutabilidade de seu conselho, interpôs
juramento" (Heb. 6:17). A igreja sempre precisa lembrar-se desta
garantia divina, especialmente quando as profecias apocalípticas de
tempo terminaram e está para começar a sacudidura da crise do tempo do
fim.

A Comissão Final à Igreja (Apoc. 10:8-11)

Fundamental à experiência de João em Apocalipse 10 é o livro


novamente aberto, que uma voz do céu lhe ordenou tomá-lo e comê-lo.
Com respeito a isto, F. D. Mazzaferri declara o seguinte:
"Não pode haver dúvida de que este é o ponto culminante de toda a
seqüência do livro que começou em 5:1. O livro profético primitivo de Deus
foi passado progressivamente a Cristo, depois ao anjo resplandecente, e
finalmente ao profeta que é o agente decisivo de Deus sobre a terra para
levar a cabo sua vontade".15
Depois lhe disse com respeito a todo mundo: "Tem que voltar a
profetizar" (Apoc. 10:8-11, CI). Tudo isto acontece antes que o sétimo
anjo faça soar sua trombeta. Portanto, um tempo bastante longo está
reservado para o cumprimento desta visão. João é chamado para atuar
simbolicamente em nome da igreja do tempo do fim, que vive antes do
fim do tempo de graça. Já se cumpriram 6 trombetas. Dessa maneira, a
visão de Apocalipse 10 avança adiante ao "tempo do fim" indicado,
predito em Daniel 8-12.

Surge uma questão importante: Qual é o significado da iniciativa


celestial em levar o livro aberto à igreja do tempo do fim? Dois
exemplos do Antigo Testamento – a chamada de Jeremias e o de
Ezequiel – mostram que seu ato simbólico de "comer" o rolo do livro da
palavra de Deus lhes comunicou a comissão celestial de assimilar a
mensagem contida no livro e de proclamar sua mensagem publicamente.
As Profecias do Tempo do Fim 257
Para eles a experiência foi primeiro doce e logo amarga. Saborearam a
palavra de Deus com gozo e delícia, mas depois sentiram uma dor aguda
quando sua mensagem foi rechaçada e quando fizeram frente aos falsos
profetas.
Jeremias foi separado desde antes de seu nascimento como "um
profeta às nações" (Jer. 1:5). Diz que quando as palavras de Deus lhe
chegaram, "logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para
o coração" (15:16). Mas quando Jeremias foi açoitado pelo rei Joaquim
(ver o cap. 36), e quando Judá sofreu o juízo, sua aflição saiu a cântaros
em grandes lamentações: "Os meus olhos derramem lágrimas, de noite e
de dia, e não cessem; porque a virgem, filha do meu povo, está
profundamente golpeada, de ferida mui dolorosa" (Jer. 14:17). O profeta
descreve a triste situação de Judá depois da queda de Jerusalém. Culpou
especialmente aos profetas falsos e aos sacerdotes corruptos, e portanto,
todos iriam ao desterro (v. 18). Não obstante, Deus prometeu ao
Jeremias a vindicação contra seus inimigos e um poder sobrenatural para
seu ministério profético (15:11).
De maneira similar, Ezequiel foi chamado ao ministério profético
dentre um povo rebelde no cativeiro babilônico (Ezeq. 2:1-8). Fazendo
frente à sua difícil tarefa, Ezequiel é instruído a assimilar completamente
a mensagem de Deus antes que fale claro como o porta-voz de Deus.
"Abre a boca e come o que eu te dou. Então, vi, e eis que certa mão se
estendia para mim, e nela se achava o rolo de um livro. Estendeu-o
diante de mim, e estava escrito por dentro e por fora; nele, estavam
escritas lamentações, suspiros e ais" (2:8-10).
Entretanto, quando Ezequiel comeu esse rolo (Ezeq. 3:1-3), "na
boca me era doce como o mel" (v. 3). Assim o profeta experimentou
primeiro a doçura das palavras de Deus, mas mais tarde uma decepção
amarga quando um Israel obstinado recusou aceitar a mensagem de
advertência (vs. 3-11). Usualmente se passa por cima o fato de que
Ezequiel experimento um sabor amargo: "Eu fui amargurado na
excitação do meu espírito; mas a mão do Senhor se fez muito forte sobre
As Profecias do Tempo do Fim 258
mim" (v. 14). Levou 7 dias para voltar em si enquanto refletia no horror
do que tinha experimentado em sua visão (v. 15). Além disso foi-lhe dito
que sua missão lhe traria uma violenta oposição. Espinhos iriam rasgar
suas carnes e se sentaria com escorpiões (2:6). Mas apesar disso,
Ezequiel foi chamado a continuar sua missão com visões renovadas de
esperança (caps. 11; 16:59-63; 37).
Não pode haver dúvida que a experiência visionária de João de
comer o livrinho aberto em Apocalipse 10 está modelada sobre o mesmo
ato simbólico do profeta Ezequiel e deve ser interpretada à luz deste
protótipo bíblico. Este princípio interpretativo deve nos guiar em nosso
esforço por entender a experiência agridoce do povo de Deus do tempo
do fim em Apocalipse 10. Assim como Ezequiel, João recebe do céu um
livro aberto para comê-lo. E de novo, como Ezequiel, escuta a comissão
para proclamar sua mensagem a todas as nações. Desta vez a mensagem
é a última advertência de Deus, a consumação de todas as promessas e
maldições do pacto, "como ele o anunciou a seus servos os profetas"
(Apoc. 10:7). Isto aponta ao livro aberto de Daniel (Dan. 12:4).
As seções do tempo do fim do livro de Daniel (caps. 7-12) contêm
não só as doces promessas do reino de Deus restaurado, o resgate e a
vindicação das testemunhas fiéis, a ressurreição dos santos martirizados,
mas também o juízo final dos falsos profetas e dos perseguidores do
povo de Deus. Desta maneira Daniel prediz tanto as experiências doces
como as amargas na crise do tempo do fim. Mas junto com este conteúdo
consolador do livro, também haverá um rechaço da mensagem de
advertência de Deus, de maneira que a aflição, a perseguição e a
desilusão serão parte da proclamação renovada do evangelho (ver Apoc.
11:7; 12:17; 13:15-17; 17:6, 14; 20:4).

A visão paralela em Apocalipse 11:1-13 mostra quão amarga será a


oposição às testemunhas de Deus do tempo do fim. Podemos esperar
uma elucidação mais ampla sobre esta experiência "agridoce" da igreja
do tempo do fim que se descreve em Apocalipse 11. O ato simbólico de
As Profecias do Tempo do Fim 259
João em nome da igreja do tempo do fim está explicado pela comissão
que recebe do céu: "É necessário que profetizes outra vez sobre muitos
povos, nações, línguas e reis" (Apoc. 10:11).
O alcance desta comissão conecta Apocalipse 10 com as outras
visões do tempo do fim no Apocalipse. A quádruplo fórmula que
expressa a extensão universal ocorre de novo em Apocalipse 11:9, 13:7,
14:6 e 17:15. A única variação em Apocalipse 10:11 é a substituição de
"tribos" ou "multidões" por "reis". A quádrupla fórmula é uma expansão
da tríplice frase que Daniel apresenta como um estereótipo (Dan. 3:4, 7,
29; 5:19; 6:25; 7:14). João recebe a ordem de profetizar não só "a
respeito de muitos povos, nações, línguas e reis", e sim o que é mais
importante, "a todos esses grupos e classes étnicas" (epí é ambíguo:
"com respeito a", Apoc. 12:17 e 18:20; "a", Apoc. 14:6 e 22:16).
O conteúdo de sua profecia não está revelado em Apocalipse 10, e
se expõe gradualmente, primeiro em forma resumida em Apocalipse 11 e
depois com mais detalhe em Apocalipse 12-19. O termo "reis" em
Apocalipse 10:11 apresenta novamente em Apocalipse 16:13-16 e 17:12-
15, onde se desdobra seu significado no marco da crise do tempo do fim
conhecida como "Armagedom".

A conexão entre o ato simbólico de João de comer o livrinho e a


ordem para voltar a profetizar referente às nações do mundo, é
significativa. A ordem explica o ato de João de comer o livrinho. Esta
relação entre o ato profético de João e a explicação continua a de seus
tipos do Antigo Testamento.
O ato de Jeremias de comer as palavras de Deus foi explicado em
termos inequívocos: para derrubar e para edificar nações (Jer. 15:16;
1:10). O ato do Ezequiel de comer o rolo (Ezeq. 2:9; 3:1-3), também foi
explicado em seu significado e propósito, de maneira que não ficou lugar
para conjeturas (3:4). O paralelo chega a ser evidente quando ficam lado
a lado a situação de Ezequiel e João:
As Profecias do Tempo do Fim 260
O CHAMADO DE EZEQUIEL O CHAMADO DE JOÃO
(Ezeq. 3:3, 4) (Apoc. 10:9-11)
"E me disse: Filho do homem, dá de "E ele disse-me: Toma-o e come-o, e ele
comer ao teu ventre e enche as tuas fará amargo o teu ventre, mas na tua
entranhas deste rolo que eu te dou. Eu boca será doce como mel. E tomei o
o comi, e na boca me era doce como livrinho da mão do anjo e comi-o; e na
o mel. Disse-me ainda: Filho do minha boca era doce como mel; e,
havendo-o comido, o meu ventre ficou
homem, vai, entra na casa de Israel e
amargo. E ele disse-me: Importa que
dize-lhe as minhas palavras" profetizes outra vez a muitos povos, e
nações, e línguas, e reis".

Da situação de Ezequiel aprendemos que o ato de comer o livro


aberto (Ezeq. 2:9, 10) não foi algo que se explicava por si mesmo. O
"comer" necessitava uma elucidação verbal e uma direção especial para
seu público indicado. As palavras do Senhor a Ezequiel: "E me disse..."
(3:4), têm o propósito de explicar o ato simbólico do profeta. O conteúdo
da mensagem para Israel se desdobra gradualmente nos capítulos
seguintes de Ezequiel como um ministério duplo: de predizer juízos e
novas promessas. Ezequiel também experimentou tanto a doçura como a
amargura. Disse: "Eu fui amargurado na excitação do meu espírito; mas
a mão do Senhor se fez muito forte sobre mim" (3:14). Se a situação de
Ezequiel é clara com respeito a seu ato simbólico e a seu esclarecimento
divino, então não há razão para especular sobre o ato profético de João e
seu esclarecimento divino em Apocalipse 10. Não se supõe que João
entendeu mal ou aplicou mal a mensagem de Deus do tempo do fim.
A ordem do céu a João de profetizar "outra vez" sobre muitos povos
e nações (Apoc. 10:11) significa, com toda probabilidade, que depois da
chamada inicial de João para transmitir as mensagens de Cristo às igrejas
(ver 1:11), agora recebe a comissão para proclamar o evangelho eterno
no marco das profecias do tempo do fim. João deve profetizar outra vez,
mas com uma direção nova, a respeito dos acontecimentos do tempo do
fim do plano divino da redenção.
As Profecias do Tempo do Fim 261
A expressão "outra vez" na comissão de João a profetizar significa
que a igreja do tempo do fim receberá um aumento do conhecimento das
profecias do Daniel (Dan. 12:4), de maneira que agora possa proclamar o
evangelho em sua estrutura assinalada do tempo do fim. Isto se
amplifica posteriormente na tríplice mensagem de Apocalipse 14.
Quando João comeu e digeriu o livrinho aberto, foi-lhe dito que
"devia" voltar a profetizar (Apoc. 10:11). O conhecimento novo das
profecias de Daniel, confirmado pelos cumprimentos em marcha na
história da cristandade e do mundo, obrigam a igreja a anunciar novas
percepções e advertir ao mundo sobre o perigo dos juízos finais que logo
virão, e em particular das 7 últimas pragas de Apocalipse 15 e 16. Esta
proclamação é uma "obrigação!" divina. Mounce explicou o profundo
significado de Apocalipse 10 nestas palavras:
"A missão de João é pôr a descoberto as forças do mundo sobrenatural
que estão trabalhando por trás das atividades de homens e nações. Sua
profecia é a culminação de todas as profecias prévias porque conduz à
destruição final do mal e na inauguração do estado eterno". 16
Agora a pergunta pertinente é a seguinte: Esta ordem de restaurar o
evangelho de Deus, foi cumprida em nosso tempo?

Realização Histórica

A história da igreja registra uma expectativa fervente da segunda


vinda de Cristo, desenvolvida durante a primeira metade do século XIX
tanto na Europa como na América. Uma época de um reavivamento dos
estudos proféticos e da pregação começou por volta do ano 1780 e durou
até a primeira metade do século XIX, e foi chamado o "segundo grande
despertar". O teólogo histórico LeRoy E. Froom declara:
"Tanto no Velho Mundo como no Novo houve uma onda marcada de
interpretação profética simultânea mas independente, e apesar de tudo de
significado similar e com conclusões correspondentes surpreendentes, que
culminaram no grande movimento e mensagem do segundo advento". 17
As Profecias do Tempo do Fim 262
Nada é mais poderoso que uma verdade cujo tempo chegou. As
convulsões políticas e sociais da Revolução Francesa em 1789 levaram a
muitos a estudar as profecias do tempo do fim de Daniel e Apocalipse. A
maioria dos evangelistas eram pós-milenistas, acreditavam que logo ia
começar o milênio de paz perfeita. Em essência eram reformadores
sociais. Quando a papa Pio VI foi destronado pelo governo
revolucionário francês em 1798, muitos expositores bíblicos aplicaram
este acontecimento à profecia dos 1.260 dias de Daniel 7 e Apocalipse
12 e 13.
Depois do ano 1798 o foco de atenção mudou de Daniel 7 a Daniel
8 e de Apocalipse 13 a Apocalipse 14, e se concentrou sobre a profecia
dos 2.300 dias de Daniel. Assim surgiu o movimento milerita, começado
por um pregador leigo batista, Guilherme Miller (1782-1849). Miller
desafiou a visão e a esperança de um milênio de paz da maior parte dos
habitantes da América do Norte, destacando que só o segundo advento
de Cristo traria o fim do mal e estabeleceria o reino de Deus.
O pico do Grande Despertar aconteceu no movimento de Miller.
Estava convencido de que o segundo advento seria "ao redor do ano
1843" para resgatar a seu povo e para purificar a terra com fogo. Esta
convicção, escreveu ele em 1832, encheu seu coração com "gozo" mas
também pôs sobre sua consciência o dever de advertir o mundo do juízo
vindouro. Quando a data fixada de 22 de outubro de 1844 passou em
amarga desilusão, uns poucos mileritas receberam novo ânimo ao aplicar
a chamada a "profetizar outra vez" em Apocalipse 10:11 a uma melhor
compreensão das profecias bíblicas. Seu mal-entendido da natureza da
purificação do santuário predito por Daniel (8:14) não tinha sido em vão.
Serve para o propósito de restaurar o evangelho em sua plenitude e para
preparar a um povo para encontrar-se com seu Deus.
O mandato profético do anjo forte de Apocalipse 10 é dado a
conhecer na tríplice mensagem de Apocalipse 14, o que indica que estes
dois capítulos estão intimamente relacionados. Antes que se revele a
As Profecias do Tempo do Fim 263
mensagem do tempo do fim em Apocalipse 12 a 22, devemos prestar
atenção à visão de João em Apocalipse 11:1-13.

Referências
Para a Bibliografia, ver na página 264.

1 Feuillet, Johannine Studies, p. 220.


2 J. M. Ford, Josephine Massyngberde. Revelation, p. 16.
3 Ver Shea, "The Mighty Angel and his Message". Simpósio sobre
o Apocalipse, T. 1, pp. 294-298, 325.
4 Ver os estudos nas obras de Bauckham e Mazzaferri.
5 Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of
Revelation, p. 247.
6 Ibid., pp. 252, 253.
7 Beasley-Murray, Revelation, p. 168.
8 Mounce, The Book of Revelation, p 205.
9 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 127.
10 J. M. Ford, Revelation, p. 160.
11 Ibid., p. 163.
12 Brown, The Semitic Background of the Term "Mystery" in the
New Testament, p. 38.
13 Shea, "The Mighty Angel and his Message". Simpósio sobre o
Apocalipse, T. 1, p. 315.
14 Feuillet, Johannine Studies, p. 227.
15 Mazzaferri, The Genre of the Book of Revelation from a Source
Critical Perspective, p. 339.
16 Mounce, The Book of Revelation, p. 217.
17 Froom, Movement of Destiny, p. 47.
As Profecias do Tempo do Fim 264
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 10

Livros
Bauckham, Richard J. The Climax of Prophecy. Studies on the Book of
Revelation [O Clímax da Profecia. Estudos no Livro do
Apocalipse]. Edimburgo: T&T Clark 1993. Ver as pp. 243-273.
Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century
Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século].
Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983.
Brown, Raymond E. The Semitic Background of the Term "Mystery"
in the New Testament [O Fundo Semítico do Termo "Mistério" no
Novo Testamento]. Facet Books, Bib. Ser. 21. Filadélfia: Fortress
Press, 1968.
Caird, George B. The Revelation of St. John the Divine [O Apocalipse
de São João o Teólogo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans,
1977.
Charles, R. H. The Revelation of St. John [O Apocalipse de São João],
2 ts. ICC. Edimburgo: T & T Clark. T. 1 (1920, 1975), pp. 188-
218.
Feuillet, André. Johannine Studies [Estudos Joaninos]. Staten Island,
Nova York: Alvorada House, 1966. Parte 2, cap. 2.
Ford, Josephine Massyngberde. Revelation [O Apocalipse]. Anchor
Bible, T. 38. Garden City, Nova York: Doubleday, 1978.
Froom, LeRoy E. The Prophetic Faith of Our Fathers.
_____________. Movement of Destiny [O Movimento do Destino].
Washington, D.C.: Review and Herald, 1971.
Gaustad, E. S., ed. The Rise of Adventism [O Surgimento do
Adventismo]. Nova York: Harper & Row, 1974.
Knight, George R. Millennial Fever and the End of the World [A
Febre do Milênio e o Fim do Mundo]. Boise, ID: Pacific Press,
1993.
As Profecias do Tempo do Fim 265
Land, G., ed. Adventism in America [O Adventismo na América].
Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1986.
Mazzaferri, Frederick D. The Genre of the Book of Revelation from a
Source Critical Perspective [O Gênero do Livro do Apocalipse de
uma Perspectiva da Crítica das Fontes]. BZNT 54. Nova York: de
Gruyter, 1989. Pp. 265-279.
Mounce Robert H. The Book of Revelation [O Livro do Apocalipse].
The New International Commentary on the New Testament [O
novo comentário internacional sobre o Novo Testamento]. Grand
Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977.

Artigo
Shea, William H. "The Mighty Angel and his Message" [O anjo forte
e sua mensagem]. Simpósio sobre o Apocalipse. T. 1.
As Profecias do Tempo do Fim 266
A MISSÃO PROFÉTICA DAS TESTEMUNHAS DE DEUS
Apocalipse 11

Apocalipse 11 pode entender-se como a extensão adicional do


capítulo 10 e não como uma visão desconexa, já que nesta visão das duas
testemunhas se revela o que João experimentou simbolicamente ao
comer o livrinho. Muitos comentadores bíblicos consideram a visão a
respeito das duas testemunhas de Deus em Apocalipse 11:1-13 como o
desenvolvimento adicional da visão do livrinho aberto de Apocalipse 10.
Mounce conclui dizendo que "[Apoc. 11:1-13] forma o conteúdo do
'livrinho' do capítulo que foi doce ao paladar e amargo ao ventre (Apoc.
10:9, 10)".1
Uma opinião assim se apóia no fato de que ambas as visões são
parte do mesmo interlúdio do tempo do fim entre a sexta e a sétima
trombeta. Mas também existe o mesmo desenvolvimento temático entre
Apocalipse 10 e 11. A proclamação do livrinho aberto é denominada
"profetizar" (Apoc. 10:11), o que se descreve como a mesma missão das
duas testemunhas em Apocalipse 11:3, 6 e 10. Além disso, a mensagem
do livrinho e o das duas testemunhas se dirige aos mesmos ouvintes no
mundo (Apoc. 10:11; 11:9). Apocalipse 10 está ampliado na visão
seguinte do capítulo 11, e separar o capítulo 11 de sua introdução no
capítulo 10 é separar o que Deus uniu. Nosso primeiro assunto é ver de
que maneira Apocalipse 11 desenvolve o tema de Apocalipse 10.

A Natureza Simbólica da Visão de Apocalipse 11

Assim como a visão preliminar de Apocalipse 10 é simbólica em


suas apresentações, também o é a visão do capítulo 11. Este capítulo
aponta diretamente a sua descrição simbólica quando declara que a
grande cidade é "simbolicamente" (CI, BJ [pneumatikós,
"espiritualmente", RA]; "alegoricamente", JS; "linguagem figurada",
DHH) "Sodoma e Egito" (Apoc. 11:8). A descrição do capítulo 11 é
As Profecias do Tempo do Fim 267
distintivamente hebraica em caráter. Toma sua linguagem e imagens de
Daniel, Ezequiel, Zacarias, e também das vidas de Moisés e Elias.
Entretanto, a descrição da morte das duas testemunhas, sua ressurreição
e sua ascensão visível está obviamente tirada da vida de Jesus narrada
nos Evangelhos.
Os apóstolos usaram em forma consistente termos e imagens
hebraicas como linguagem simbólica para descrever a missão de Jesus e
de sua igreja (ver Primeira parte, caps. III e IV desta obra). Um exemplo
revelador está em Hebreus 12:22-24, onde se menciona o "monte Sião"
para representar a igreja, porque o mediador do novo pacto de Deus
agora é Cristo Jesus. A visão de João dos 144.000 israelitas em
Apocalipse 7 deve ser interpretado igualmente de acordo com a
hermenêutica do evangelho (ver o cap. VIII desta obra). Uma aplicação
literal dos símbolos hebraicos em Apocalipse 11 nega o evangelho e
ignora que o Apocalipse está centrado em Cristo.

A Natureza Proléptica de Apocalipse 11:1-13

João usa com freqüência o estilo literário da prolepse, quer dizer,


antecipar um acontecimento futuro introduzindo um símbolo novo que se
explica mais tarde. Em Apocalipse 1 antecipa o evento culminante de
todo o livro: "Eis que vem com as nuvens..." (Apoc. 1:7), tema que João
desenvolverá em Apocalipse 6:12-17, 14:14-20 e 19:11-21. Todas as
promessas divinas nos capítulos 2 e 3 são descrições prolépticas breves
do que se desenvolve extensamente nos capítulos 21 e 22.
Outro exemplo está em Apocalipse 14:8, onde apresenta pela
primeira vez a "Babilônia" por meio de uma prolepse e desenvolve seu
significado completo nos capítulos 16 a 18. As 7 últimas pragas se
mencionam brevemente primeiro em Apocalipse 15, e depois se
desenvolvem detidamente em Apocalipse 16.
Todo o Apocalipse é uma revelação coerente, indivisível e
progressiva, e nele estão intimamente relacionadas todas as visões.
As Profecias do Tempo do Fim 268
Sempre que seccionamos um capítulo da unidade total e tratamos de
aplicá-lo ao mundo ou à história da igreja, estamos destinados a
interpretar mal seu significado. Portanto, uma exegese responsável pelo
Apocalipse respeitará a conexão estrutural de todas as suas visões. Com
respeito ao capítulo 11, muitos consideram que é um dos capítulos mais
difíceis de interpretar do livro; outros o vêem como um resumo
proléptico dos capítulos 12 a 22.
Joseph S. Considine concluiu em seu estudo instrutivo sobre
Apocalipse 11, que os capítulos 10 e 11 "narram um relato contínuo, no
qual o capítulo 10 forma uma introdução solene para o capítulo 11", de
maneira que o 11 antecipa prolepticamente os acontecimentos de
Apocalipse 12 e 13. Também se deu conta dos interlúdios paralelos
dentro dos selos (cap. 7) e das trombetas (caps. 10 e 11 ), e por isso
declarou:
"Mas é mais que um paralelo; completa o que nos disse no episódio
entre o sexto e o sétimo selo, já que o que não se diz em um, diz-se no
outro. Estas visões interpostas nos dão um quadro da vida interior da igreja
de Cristo durante a luta... as visões interpostas apontam à obra e à fé dos
verdadeiros filhos de Deus... Os acontecimento preditos nos capítulos 7 e
10-11:1-13 são necessários como prelúdios do fim".2

Se reconhecermos estas relações estruturais, não podemos tratar


mais estas seções como digressões desnecessárias, mas sim antes como
partes essenciais que encaixam exatamente na estrutura total do livro.
Nenhuma perícope pode separar-se ou dividir-se do que a rodeia. Toda a
linguagem figurada de Apocalipse 11 fica esclarecida pela própria
Bíblia, o que significa que Apocalipse 11 deve interpretar-se por seu
contexto imediato (quer dizer, dos capítulos circundantes que tratam com
o tempo do fim) e por seu contexto mais amplo no Antigo Testamento,
antes que se possa empreender a tarefa de fazer qualquer aplicação à
história.
As Profecias do Tempo do Fim 269
Apocalipse 11 oferece uma antecipação da última crise de fé para os
crentes verdadeiros que vivem no mundo; será uma crise universal
(menciona-se 4 vezes a palavra "terra" ) causada pelo testemunho
corajoso das testemunhas de Deus entre uma população hostil descrita
pela frase estereotipada "os moradores da terra" (v. 10).
Para João, "os moradores da terra" definem-se teologicamente como
os que são enganados pela adoração idolátrica da besta (ver Apoc. 13:8,
12, 14; 17:2) e cujos nomes não estão escritos no livro da vida (17:8).
São inimigos do povo de Deus e culpados do sangue dos santos (6:10).
Entretanto, a aparente derrota dos que adoram no templo de Deus será
finalmente mudada pelo ato de Deus. Serão vindicados por sua
ressurreição dos mortos e por sua ascensão visível ao céu "em uma
nuvem" (11:11, 12), o mesmo que seu Senhor experimentou durante sua
vida na terra. Nesse momento, a recompensa dos justos está
acompanhada por um grande terremoto que obriga muitos a darem
"glória ao Deus do céu" (v. 13).
É evidente que Apocalipse 11:1-13 não é uma profecia isolada
sobre o povo judeu ou de acontecimentos seculares da história do
mundo, mas sim está inextricavelmente tecida na malha do Apocalipse
de João, estabelecendo uma relação clara com Apocalipse 12 e 13 ao
introduzir em forma proléptica as unidades de tempo proféticas de "42
meses" e "1.260 dias" em Apocalipse 11:2 e 3 (ver Apoc. 12:6, 14; 13:5).
Apocalipse 11:7 introduz em forma abrupta "a besta que sobe do
abismo" sem nenhuma explicação adicional de sua identidade até que
Apocalipse 13 desenvolve suas conexões históricas e teológicas com
Daniel 7.
A recompensa dos mártires que aparece em Apocalipse 11:11 e 12
se volta a mencionar sob a sétima trombeta (11:16-18) e se amplia em
Apocalipse 14:1-5, 20:4-6 e 22:1-5. Em resumo, a visão simbólica de
Apocalipse 11:1-13 é uma sinopse breve e uma antecipação da revelação
progressiva dos capítulos 12 aos 22.
As Profecias do Tempo do Fim 270
Símbolos da Igreja Verdadeira
"E foi-me dada uma cana semelhante a uma vara; e chegou o anjo e
disse: Levanta-te e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele adoram.
E deixa o átrio que está fora do templo e não o meças; porque foi dado às
nações, e pisarão a Cidade Santa por quarenta e dois meses. E darei poder
às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta
dias, vestidas de pano de saco" (Apoc. 11:1-3).
É conveniente recordar que João tinha representado a igreja cristã
como um "reino de sacerdotes" para servir a Deus (Apoc. 1:6) e como
"sete castiçais" (vs. 12, 20) que se mantêm acesos pelo Cristo
ressuscitado (2:1, 5). Apocalipse 1 nos dá a chave para a aplicação dos
símbolos do santuário de Israel ao novo pacto, hermenêutica evangélica
que está fundamentada em Jesus como o Cordeiro expiatório e o
Sacerdote de Deus (1:5).
Representa-se a igreja apostólica como o novo Israel de Deus, como
o povo do novo pacto, enquanto que a comunidade judia perseguidora é
caracterizada como a "sinagoga de Satanás" (Apoc. 2:9; 3:9). Cristo
permanece como o sustentador de sua igreja e não tolera sua corrupção.
Desmascara os ensinos enganosos dessa "mulher Jezabel" na igreja de
Tiatira (2:20), e anuncia seu juízo quando diz: "Matarei os seus filhos, e
todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e
corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras" (2:23). Por
outro lado, Cristo faz esta promessa à igreja da Filadélfia:
"Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais
sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade
do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu
Deus, e o meu novo nome" (Apoc. 3:12).
O Cristo ressuscitado considera seus seguidores como "colunas"
espirituais no templo de Deus, os que levam o nome "nova Jerusalém".
Além disso aparecem representados como os 144.000 israelitas
espirituais que servem a Deus "dia e noite em seu templo" (Apoc. 7:15).
Com esta valorização da igreja de Cristo, estamos preparados para
As Profecias do Tempo do Fim 271
compreender a descrição simbólica da igreja e os gentios em Apocalipse
11.
Do céu é dado a João um caniço que serve como "uma vara de
medir", com a qual deve "medir" o templo [naós] de Deus e o altar
[thusiastérion] e os que adoram nele [NVI interpreta, "e conte os
adoradores que lá estiverem"] (Apoc. 11:1).
A questão fundamental é: O que significa a ordem para "medir" o
templo de Deus, o altar e seus adoradores? Há alguma descrição similar
no Antigo Testamento? Tanto Ezequiel como Zacarias descrevem visões
nas que se medem o novo templo prometido e a cidade de Deus. Zacarias
esclarece o ato de medir por meio da promessa que diz que Deus
escolheu a Jerusalém e que voltará para Sião depois do cativeiro
babilônico para proteger o seu povo (ver Zac. 1:16; 2:1-5). Para ele, "o
ato de medir" significou a promessa de restauração e amparo do fiel
remanescente do Israel.
Ezequiel vê um mensageiro divino que mede com um caniço de
medir o templo prometido e a santa cidade (caps. 40-48). Esta visão
também comunica uma promessa de restauração da adoração pura de
Deus para Israel que volta do cativeiro (44:15, 16, 24) e tem o propósito
de motivar os israelitas no cativeiro a arrepender-se de seus pecados e a
que sejam outra vez fiéis (43:10, 11 ). Ezequiel destaca a pureza ritual e
a santidade espiritual da adoração no novo templo (44:9), e dessa forma
separar "o sacro do profano" (42:20; 44:23, NBE). O nome da cidade
capital, com suas doze portas, chamar-se-á: "O Senhor está ali" (48:35,
NBE). Debaixo do templo correrá um rio de águas vivificantes com
árvores frutíferas em ambas as margens (cap. 47). Reconhece-se
geralmente que a visão que Ezequiel teve do templo e de suas medidas
está exposta como a Nova Jerusalém por João em Apocalipse 21 e 22.
Em Apocalipse 11 é dito a João para medir "o templo de Deus, e o
altar, e aos que nele adoram" (v. 1). Na perspectiva de seus protótipos do
Antigo Testamento, este "medir" indica a responsabilidade de João de
separar a comunidade santa da contaminação da adoração falsa e de
As Profecias do Tempo do Fim 272
restaurar sua verdadeira adoração no "templo de Deus". Dentro do
Apocalipse, o "templo de Deus" é fundamentalmente o templo celestial
onde Cristo ministra ante o trono de Deus (5:6-10; 7:14-17; 11:19).
Os santos na terra entram agora pela fé e a oração neste santuário
celestial, e portanto são parte do templo de Deus no céu (ver Apoc. 8:3,
4; Heb. 10:19). Como seus nomes estão escritos no livro da vida do
Cordeiro, já não são mais parte dos (idólatras) "moradores da terra", e
embora fisicamente vivem sobre a terra, seu "cidadania está nos céus"
(Filip. 3:20). Estão "em Cristo" e, portanto, já estão sentados com ele
"nos lugares celestiais" (Ef. 2:6).
A igreja do tempo do fim deve restaurar esta adoração dos santos
dentro do templo celestial, e esta adoração restaurada deve incluir "o
altar" que estava dentro "do pátio dos sacerdotes" (um dos pátios
interiores do templo do Herodes) e que representa o sacrifício expiatório
de Cristo e sua intercessão por nós. A diferença fundamental entre a
adoração no santuário de Israel e a dos pagãos, era o conhecimento de
que Deus lhes tinha dado o "sangue" do sacrifício "para fazer expiação
sobre o altar por vossas almas" (Lev. 17:11 ).
O evangelho do Novo Testamento ensina que Deus "enviou a seu
Filho como propiciação por nossos pecados" (1 João 4:10; ver 2:2). A
obra expiatória de Cristo foi o propósito máximo da encarnação e do
amor de Deus, e só os verdadeiros crentes em Cristo podem participar
deste "altar" que representa a cruz da expiação (Heb. 13:10).
João também deve "medir" os adoradores. Isto significa separar os
verdadeiros adoradores da apostasia universal no tempo do fim, e esta
interpretação se confirma pela ordem de "deixar à parte" [literalmente,
"jogar fora"] o pátio que está fora, "e não o meças, porque foi entregue
aos gentios" (Apoc. 11:2). Este "pátio que está fora" representa o
território dos moradores da terra, onde os gentios estabeleceram seu
culto idolátrico. O mesmo que se instruiu a Ezequiel para que se
proibisse a qualquer estrangeiro que fora "incircunciso de coração e
incircunciso de carne" a entrar no templo (Ezeq. 44:9), assim agora João
As Profecias do Tempo do Fim 273
deve excluir ou expulsar (ver João 9:34) a todos os adoradores que estão
no "pátio que está fora", quer dizer, os que não estão em Cristo, que não
entram no pátio interior mas sim antes adoram a besta.
Jesus fazia frente aos judeus com a afirmação absoluta de seu
messianismo: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. ...
Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do
ramo [literalmente, ebléthe êxo, 'é jogado fora']" (João 15:1, 6). O
Apocalipse amplia esta separação de todas as pessoas em uma escala
universal (Apoc. 22:14, 15).
João tinha indicado que ainda nas igrejas locais havia alguns que
eram meramente cristãos nominais ou que tinham sido enganados pelos
falsos profetas (Apoc. 2:14-16, 20-25; 3:1-5, 16). Se persistissem em sua
mornidão ou incredulidade, seriam rechaçados por Deus (2:23; 3:16).
Evidentemente, Deus tinha o propósito de restaurar e pôr à parte a
adoração verdadeira no tempo do fim da era cristã.
Para uma elucidação adicional de Apocalipse 11, precisamos
considerar o contexto do Apocalipse. É proveitoso comparar as visões do
tempo do fim dos selos e das trombetas. O selamento dos 144.000
israelitas espirituais em Apocalipse 7 deve colocar-se lado a lado com a
medição dos adoradores do templo da cidade santa, comparação que
provoca a surpresa da unidade essencial de ambas as visões do tempo do
fim. A respeito, uma erudita assinala que "medir os santos e excluir os
profanos precede à sétima trombeta assim como o selamento dos
escolhidos precede o sétimo selo".3
Praticamente todos os comentadores bíblicos relacionam a
"medição" dos santos em Apocalipse 11 com o "selamento" de um
número determinado de santos em Apocalipse 7, e interpretam ambos os
fatos como a promessa especial de Deus de proteger e preservar a seus
filhos durante a crise de fé do tempo do fim. Roy Naden conclui
dizendo: "Dessa forma, a medição do templo pode entender-se como
uma forma simbólica de dizer que Deus preserva ou 'sela' a sua igreja
durante os juízos finais derramados sobre os ímpios antes que Jesus
As Profecias do Tempo do Fim 274
4
retorne". Deus deseja, obviamente, assinalar os verdadeiros adoradores
como seu povo especial e os põe à parte para que levem a cabo um
serviço especial no mundo. A ordem de Deus a João para medir o templo
(Apoc. 11:1, 2) é o resultado de comer e digerir o livrinho aberto de
Apocalipse 10. Terá que ter em conta que o possuir novo conhecimento
produz uma prova de fé e compromisso.

O Pisar da Cidade Santa

"E eles [os gentios] pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses"
(Apoc. 11:2).
Esta predição da opressão une duas visões no livro de Daniel: as
que aparecem nos capítulos 7 e 8. Daniel tinha esboçado todo o
desenvolvimento da história da salvação desde seus dias até o juízo final
(Dan. 7). Desde os dias de Babilônia tinha previsto os grandes impérios
mundiais, o último dos quais seria o duradouro império romano que
"pisaria" a todas as suas vítimas (Dan. 7:7, 19, 23).
Mas Daniel foi além da Roma imperial quando viu como se
esmiuçaria em pequenos reinos (os "dez chifres"). Seu interesse principal
foi o conseguinte "chifre pequeno" (Dan. 7:24) que se impunha com
exigências políticas e religiosas e com uma "boca que falava grandes
coisas" (v. 8). O anjo interpretador assinala as características específicas
desse poder que exerceria um reino de terror sobre os santos.
"Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo
e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas
mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (Dan. 7:25).
Este poder antiDeus (o "chifre pequeno") lutaria com os santos
durante 3 ½ tempos proféticos (ou "anos"), o que faz 42 meses proféticos
e dessa forma estabelece um elo específico entre Daniel 7 e Apocalipse
11. Em Daniel 8 o próprio "chifre pequeno" é descrito como o
arquiinimigo de Israel, que invade a "terra gloriosa" e depois pisoteia o
lugar santo e os seus adoradores (8:9-13).
As Profecias do Tempo do Fim 275
Aqui temos um vínculo patente entre o Daniel 8 e Apocalipse 11.
Enquanto que os santos adoram a Deus e a Cristo ao entrar no templo
celestial por meio da fé, ainda permanecem em forma física na terra.
Com respeito a sua existência terrestre, descreve-se aos santos como "a
cidade santa" que não pode ser pisoteada pelos poderes hostis dos
"gentios". O desgaste dos santos só é permitido ["serão entregues"] por
um período de tempo limitado, por "42 meses". Esta unidade de tempo
também é usada para o tempo que concedido à besta do mar em
Apocalipse 13 que blasfema o nome de Deus, "de seu tabernáculo, e dos
que moram no céu" (Apoc. 13:5, 6). Por isso o pisar da cidade santa em
Apocalipse 11 se explica em Apocalipse 13:1-8 como o tempo de
perseguição dos adoradores por parte do anticristo, conexão que
confirma a interpretação de que Apocalipse 11 descreve os santos de
Deus como a "cidade santa" (cf. 20:9).
Tudo isto indica que Apocalipse 11 é uma prolepse ou antecipação
dos capítulos que seguem, enquanto que o livro do Daniel constitui a
principal raiz primária de Apocalipse 11-13. O Apocalipse transforma
por meio do evangelho a linguagem profética de Daniel, quer dizer,
desenvolve as predições de Daniel em termos de Cristo e seus seguidores
como os santos e adoradores verdadeiros de Deus.
As unidades de tempo de Daniel 7:25 e Apocalipse 11:2 e 3 se
caracterizam pela opressão e a perseguição espirituais. Com respeito a
isso, há uma correspondência com os 3 ½ anos do testemunho de Elias
durante a perseguição do rei apóstata de Israel, Acabe e sua esposa pagã,
Jezabel (ver Luc. 4:25; Sant. 5:17).

Aplica-se Apocalipse 11 ao Povo Judeu?

André Feuillet representa os que afirmam que os capítulos 5 a 11


tratam especificamente sobre "os judeus incrédulos" (incluindo as duas
séries dos selos e das trombetas) e em forma específica do juízo divino
manifestado na destruição de Jerusalém no ano 70. Portanto conclui que
As Profecias do Tempo do Fim 276
as palavras de Apocalipse 11:8: "...onde também nosso Senhor foi
crucificado", não se referem a Roma e sim à "Jerusalém incrédula".5 Esta
hipótese determina também sua interpretação de Apocalipse 11:2 e 3 e
sua aplicação histórica ao povo judeu.
Feuillet escolhe o anúncio de Lucas 21, que "Jerusalém será pisada
pelos gentios, até que os tempos dos gentios se cumpram" (v. 24), como
sua norma guiadora para interpretar Apocalipse 11, e sua conclusão é a
seguinte: "Assim como Jesus deseja indicar por estas palavras [em Luc.
21:24] o castigo futuro dos judeus culpados, assim também a parte do
templo que seria 'pisada' deve representar os judeus apontados para o
castigo".6
A princípio este raciocínio de uma analogia ou correspondência
entre Apocalipse 11:2 e Lucas 21:24 parece lógico, mas contém um
defeito oculto da exegese do Apocalipse. De acordo com o Feuillet, o
Apocalipse é uma "releitura cristã maciça do Antigo Testamento".
Entretanto, falha em relacionar Apocalipse 11:2 com as visões do templo
em Daniel 7 e 8. A correspondência requer que devamos situar o
"pisoteio do lugar santo" (e dos adoradores em Apoc. 11) dentro do
curso do esboço profético de Daniel. Esta correlação com Daniel 7 e 8 é
indispensável para uma compreensão adequada de Apocalipse 11,
porque Daniel 7 é a raiz principal do Apocalipse de João.
Daniel apresenta os poderes mundiais sucessivos que perseguirão o
povo do pacto de Deus. Esta ordem, em seqüência, é de suprema
importância para identificar o anticristo no Apocalipse e para se localizar
sua unidade de tempo característica de "42 meses" ou "1.260 dias"
dentro da era da igreja, e só da perspectiva da cronologia sagrada de
Daniel podemos evitar a armadilha de tomar as unidades de tempo
profético em Apocalipse 11 a 13 como totalmente alegóricas e
significando algum tempo indefinido de perseguição. Os "42 meses" ou
"1.260 dias" não são elásticos ou atemporais, já que se originam na visão
de Daniel 7, onde determinam o período de tempo para o reino despótico
As Profecias do Tempo do Fim 277
do "chifre pequeno" depois do desmoronamento do Império Romano no
ano 476 de nossa era (ver Dan. 7:8, 23-25).
Isolar o Apocalipse do livro de Daniel é igual a cortar a raiz
(Daniel) de seu fruto (o Apocalipse). Só Daniel atribui cada símbolo
apocalíptico a acontecimentos concretos da história. Por conseguinte,
ignorar o modelo cronológico da profecia de Daniel na interpretação do
Apocalipse pode considerar-se como um engano fundamental.
Como resultado desta falha em apreciar a relação entre Daniel e o
Apocalipse, Feuillet escolhe Lucas 21:24 como seu modelo para explicar
que Apocalipse 11:2 descreve os culpados "judeus assinalados para o
castigo". A conseqüência da equivalência de Apocalipse 11:2 e Lucas
21:24 é que os adoradores "no templo de Deus" (do Apoc. 11) são judeus
que crêem em Cristo, e que a "cidade santa" e o "pátio que está fora"
representa os judeus que rechaçam a Cristo, o "judaísmo incrédulo".
Feuillet apóia esta conclusão referindo-se a Lucas 13:25-28 como "a
passagem paralela legítima".7
Entretanto, o Apocalipse não se concentra sobre os cristãos de
origem judaica em nenhuma de suas visões ou interpretações angélicas.
O "templo de Deus" é consistente com o templo celestial onde o Cristo
ressuscitado ministra ante o trono de Deus (Apoc. 11:19; 15:5, 8). Suas
"colunas" espirituais são todos os crentes da igreja cristã (3:12). Por
meio de Cristo os adoradores verdadeiros de todas as nações chegaram a
ser "um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai" (1:6; também 5:10, CI).
Todos os crentes cristãos entram pela fé no templo celestial (5:8; 8:3, 4);
constituem o "reino" de Deus sobre a terra (1:6; 5:10) ou a "cidade
santa" (11:2; cf. 20:9). A teologia da adoração no Apocalipse não
permite a nenhum expositor restringir "os que nele adoram [no templo de
Deus]" aos judeus ou limitar "a cidade santa" aos judeus que crêem em
Cristo, já que estes termos hebraicos são os símbolos apocalípticos para
o povo do novo pacto do Messias Jesus, como se descreve nas 7 igrejas
de Apocalipse 2 e 3.
As Profecias do Tempo do Fim 278
Se usarmos as "chaves" inspiradas da Escritura para resolver o
significado do Apocalipse de João, ou seja o Antigo Testamento e o
evangelho de Cristo (ver o cap. X desta obra), devemos rechaçar o
literalismo especulativo que reduz a mensagem de Apocalipse 11 ao
castigo de judeus culpados como em Lucas 21:24. A fonte hebraica de
"pisar a cidade santa" em Apocalipse 11 é o pisoteio do lugar santo e de
seu exército em Daniel 7 e 8. Daniel descreve como o templo de Deus e
seus adoradores verdadeiros seriam pisoteados, não pelo Império
Romano mas sim por uma adoração rebelde e idólatra que causa a
prevaricação assoladora (ver Dan. 7:21, 25; 8:11-13; 11:31-35; 12:11).
João reserva a frase "a cidade santa" para a Nova Jerusalém, a
morada eterna dos santos (Apoc. 21:2, 10), para "a cidade amada [de
Deus]" (20:9). João equipara profeticamente a Jerusalém com a Sodoma
e Egito (11:8). Assim o explica R. H. Charles:
"A segurança inviolável que os judeus concediam ao templo é
reinterpretado por nosso autor como significando a segurança espiritual
da comunidade cristã, apesar dos ataques de Satanás e do anticristo.
Mas essa segurança espiritual não exclui o martírio, como Apocalipse
11:3-13 o esclarece".8

As Duas Testemunhas

Enquanto Deus entrega o pátio que está fora aos gentios


perseguidores, diz: "E darei poder às minhas duas testemunhas, e
profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco"
(Apoc. 11:3). A conjunção copulativa "e" aponta ao desenvolvimento do
versículo 2. O período do ministério dos "duas testemunhas" de Deus (v.
3) é o mesmo que o período no qual se acha "a cidade santa" (v. 3). Isto
pressupõe que "sua designação em dias antes que em meses não é mais
que uma variação literária (os meses solares têm 30 dias)".9 Também nos
ajuda a referência do tempo para o cuidado protetor que Deus tem da
As Profecias do Tempo do Fim 279
"mulher" simbólica em Apocalipse 12, conforme o veremos na seguinte
comparação:

APOCALIPSE 11:3 APOCALIPSE 12:6


"E darei poder às minhas duas "A mulher, porém, fugiu para o
testemunhas, e profetizarão por mil deserto, onde lhe havia Deus
duzentos e sessenta dias, vestidas preparado lugar para que nele a
de pano de saco". sustentem durante mil duzentos e
sessenta dias".

Esta comparação de ambas as profecias ilumina o caráter dos "1.260


dias" e intercambia os "duas testemunhas" de Deus com a "mulher" de
Deus. Deus preserva o testemunho de suas próprias testemunhas e
sustenta seu ânimo no deserto de um mundo escuro. Dessa forma, os
"duas testemunhas" funcionam como um símbolo paralelo para a igreja
que testifica.
O Apocalipse começa com uma visão de Cristo ministrando em
meio dos 7 candelabros que se diz representarem a igreja, estendendo-se
desde sua ressurreição até sua volta (Apoc. 1:12-16, 20; 2:1). Cristo
também pode "remover" qualquer castiçal de um povo impenitente (2:5).
Portanto, a verdadeira sucessão apostólica não se determina pela
antiguidade, mas sim pela fidelidade à palavra de Deus e ao testemunho
de Cristo. A luz de Cristo e seu testemunho a respeito da obra redentora
de Deus, nunca cessará até que termine o tempo de graça.
Cristo sempre alimentará a sua igreja com alimento espiritual de
maneira que possam permanecer como a luz do mundo e o sal da terra
(ver Mat. 5:13, 14). Suas testemunhas espirituais autorizadas a dar
testemunho não se manterão quietos. Quando os discípulos louvaram a
Deus "em alta voz" enquanto Jesus fazia sua entrada triunfal em
Jerusalém, alguns dos fariseus lhe disseram: "Mestre, repreende os teus
discípulos! Mas ele lhes respondeu: Asseguro-vos que, se eles se
calarem, as próprias pedras clamarão" (Luc. 19:39, 40). Quando a
As Profecias do Tempo do Fim 280
profecia do tempo do fim se cumpra na história, as testemunhas de Deus
darão testemunho dela sob juramento nos tribunais durante a
perseguição, como Jesus fez ante Pilatos (ver 1 Tim. 6:13).
Durante o reinado do anticristo e o pisoteio da "cidade santa" pelos
gentios, Deus comissiona a suas duas testemunhas para que profetizem
"vestidas de pano de saco" (Apoc. 11:3). Cristo comissionou a seus
apóstolos, e por extensão a seus seguidores, para que dêem testemunho
de sua obra redentora até o fim do tempo:
"Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria
e até aos confins da terra" (At. 1:8; ver também Mat. 28:18-20; Luc. 24:48).
Por que João descreve a "duas testemunhas" de Deus nesta
representação simbólica? Alguns expositores aplicam as duas
testemunhas, ou os dois castiçais, aos mártires das 7 igrejas, quer dizer,
aos cristãos que testificaram intrepidamente do evangelho no mundo
como verdadeiros profetas de Deus, e que morreram pelo evangelho.
Outros sugerem a dois personagens distintos, como Enoc e Elias, ou
Pedro e Paulo (que foram martirizados por Nero em Roma), ou outros
dois personagens. Robert Mounce faz este comentário:
"Alegoricamente, podem ser a lei e os profetas, a lei e o evangelho, o
Antigo Testamento e o Novo Testamento, Israel e a igreja, Israel e a Palavra
de Deus, as igrejas de Esmirna e Filadélfia".10
Kenneth A. Strand apresentou o tratamento mais proveitoso a
respeito em seu artigo sobre as duas testemunhas de Apocalipse 11:3-12.
Dá devida consideração ao marco contextual das duas testemunhas em
Apocalipse 11 e o aplica à sexta trombeta na era da igreja. Além disso
observa que as duas testemunhas funcionam como uma unidade
inquebrantável, que experimentam juntos cada coisa. A característica
básica de sua missão é sua proclamação da obra de advertência de Deus.
Sobretudo, Strand assinala à teologia das duas testemunhas que satura o
livro do Apocalipse, como se expressa em Apocalipse 1:2, 9; 6:9; 12:17;
14:12 e 20:4. Explica esta característica que passou muito por alto:
As Profecias do Tempo do Fim 281
"O acima expresso deixa claro que a 'palavra de Deus' e o 'testemunho
de Jesus' proporcionam um conceito ou um tema que impregna, aponta e é
a razão fundamental do livro do Apocalipse, e se diz que o mesmo
Apocalipse proclama esta dupla mensagem divina (1:2)"11
Isto significa que o duplo testemunho de Deus consiste do Antigo
Testamento e do Novo Testamento como uma unidade inquebrantável, o
que também foi afirmado pelo anjo de Apocalipse 10:7, que une a
corroboração profética no Antigo Testamento com o evangelho cristão
do Novo Testamento. A ênfase em ambos os testamentos assinala a um
reavivamento da Bíblia como a autoridade para a adoração verdadeira no
tempo do fim. O Apocalipse explica que o testemunho de Jesus às igrejas
está inspirado pelo Espírito de profecia, que inspirou os profetas de
Israel (Apoc. 19:10; ver 2:7, 11, 17, 29, etc.; também 1 Ped. 1:10, 11). O
testemunho histórico professado por Jesus, tal como registrado no Novo
Testamento, vem ao mundo com a mesma autoridade divina como o do
Antigo Testamento e será a norma no juízo filial, como Jesus declarou:
"Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue;
a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. Porque
eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me
tem prescrito o que dizer e o que anunciar" (João 12:48, 49).
Strand explica a importância da teologia destas duas testemunhas da
seguinte maneira:
"No livro do Apocalipse, a fidelidade à 'palavra de Deus' e ao
'testemunho de Jesus Cristo' separa ao fiel do infiel, e causa perseguição
que inclui o próprio desterro de João e o martírio de outros crentes (ver outra
vez Apoc. 1:9; 6:9; 12:17; 20:4, etc. )".12
Nesta perspectiva, as duas testemunhas são em primeiro lugar a
Palavra de Deus e o testemunho histórico de Jesus, "ou o que hoje
chamamos a mensagem profética do Antigo Testamento e o testemunho
apostólico do Novo Testamento... mesmo que em segundo lugar pode ser
uma referência, também, à igreja em um sentido derivado como o
proclamador da mensagem divina".13 Entretanto, precisamos nos dar
conta de que não se pode separar a Bíblia e a verdadeira igreja de Cristo.
As Profecias do Tempo do Fim 282
A Bíblia que consiste de "a palavra de Deus e o testemunho de Jesus"
constitui o fundamento firme e a legitimação da igreja. Só o testemunho
bíblico autentica a igreja verdadeira e sua sucessão apostólica. A
fidelidade à mensagem do evangelho apostólico também identifica a
mulher fiel de Apocalipse 12, em contraste com a mulher infiel do
capítulo 17. A igreja fiel é o meio indicado por Cristo para dar
testemunho ao mundo (ver At. 1:8; Luc. 24:48; Apoc. 22:17). Jesus
recalcou que seu testemunho do evangelho deve ser pregado por
testemunhas viventes antes que o evangelho possa ser uma testemunha
legal no juízo:
"E será pregado este evangelho do reino em todo mundo, para
testemunho [eís martúrion, "por testemunha"] a todas as nações; e então
virá o fim" (Mat. 24:14).
O rechaçar as testemunhas de Deus, indica que tanto a Escritura
como a igreja fiel são rechaçadas e perseguidas. A igreja de Deus se
caracterizará por sua renovada atitude em favor da Bíblia como as
testemunhas unidas dos dois testamentos para cumprir sua missão e
mandato no tempo do fim. As duas testemunhas de Apocalipse 11 não
são o Antigo Testamento e o Novo Testamento isolados das testemunhas
vivas de Deus, que são os proclamadores da mensagem divina de ambos
os testamentos. A união essencial de ambas as testemunhas se ilustra em
Apocalipse 10, onde o livrinho aberto ia ser digerido e proclamado por
João como o representante do povo de Deus!
Os "duas testemunhas" de Deus em Apocalipse 11 pregarão
"vestidos de saco" (Apoc. 11:3), o que no Antigo Testamento significava
a expressão de aflição ou arrependimento do pecado (Gên. 37:34; 1 Reis
21:27; Nee. 9:1; Est. 4:1; Dan. 9:3; Joel 1:13; Jon. 3:8; Mat. 11:21).
Também era considerado como um vestido distintivo do profeta (Zac.
13:4), especialmente desde que Elias tinha caminhado com um "vestido
de pêlos" (2 Reis 1:8) e também mais tarde João Batista (Mat. 3:4). As
testemunhas de Deus proclamam a necessidade urgente de arrepender-se,
porque "a grande cidade" (Apoc. 11:8, chamada mais tarde "Babilônia")
As Profecias do Tempo do Fim 283
será destruída logo pelos juízos divinos (caps. 16-18). Por isso
profetizam as testemunhas. Entretanto, isso causará um rechaço
universal e "tormento" (11:10). Pelo visto, os moradores da terra não
encontrarão descanso das acusações de suas consciências turvadas
enquanto as testemunhas de Deus lhes dêem testemunho.

Bênçãos e Maldições das Duas Testemunhas

Apesar da oposição universal, a missão das testemunhas de Deus


será realizada depois de "1.260 dias". Entretanto, Deus reabilitará a seus
"profetas" fiéis ressuscitando-os dos mortos e recompensando-os com
uma ascensão visível ao céu em uma nuvem, similar à nuvem de seu
Senhor. Uma descrição tão vívida é a que inspira a todos os fiéis quando
têm que fazer frente a um inimigo irresistível. Alan F. Johnson faz este
comentário: "Isto assegura ao povo de Deus que não importa quantos de
seu santos escolhidos sejam oprimidos e mortos, as testemunhas de Deus
continuarão atestando de Cristo até que se cumpram os propósitos de
Deus".14
A linguagem que João usa em Apocalipse 11:4-12 é tirada de várias
passagens do Antigo Testamento e mostra seu estilo de simbolismo
combinado. Toma-se a liberdade para adaptar as descrições hebraicas.
Descreve as "duas testemunhas" como "as duas oliveiras e os dois
candeeiros que se acham em pé diante do Senhor da terra" (Apoc. 11:4),
e descreve seus poderes divinos em termos dos de Elias, Jeremias e
Moisés (vs. 5, 6). Uma confluência como esta de imagens hebraicas
tende a ressaltar a continuidade básica do pacto de Deus com seus
escolhidos até o fim. Garante a fidelidade de Deus ao novo Israel, as
testemunhas de Cristo, os "castiçais" em um mundo escuro.
João tira seu seguinte quadro simbólico de Zacarias 4, profeta que
usou duas oliveiras para representar aos dois israelitas "ungidos" de seus
dias que serviam "diante do Senhor de toda a terra", quer dizer, o rei
Zorobabel e o supremo sacerdote Josué (Zac. 4:11-14). Estas oliveiras
As Profecias do Tempo do Fim 284
proporcionavam "azeite como ouro" para o candelabro com 7 abajures
(vs. 2, 3, 12). A mensagem ilustrada de Zacarias aos israelitas que
retornavam do cativeiro babilônico era clara: Deus proveria seu Espírito
à liderança religiosa e política de Israel, de maneira que pudessem
terminar a edificação de seu templo (vs. 6-9).
João descreve um quadro similar para a igreja do tempo do fim, já
que vê as duas testemunhas como dois castiçais e como dois oliveiras
que "estão em pé diante do Senhor da terra" (Apoc. 11:4). É obvio, deve
entender-se que seu significado simbólico está em uma continuidade
básica com o de Zacarias 4. A igreja, como sacerdotes reais (1:6; 5:10),
deve ir adiante no poder do Espírito Santo para terminar de edificar o
templo espiritual do povo de Deus na terra, apesar da cruel oposição. A
palavra "terra" é usada 4 vezes em Apocalipse 11:4-10, enfatizando a
missão universal da igreja.
Depois João manifesta a autoridade judicial das duas testemunhas
de Deus (Apoc. 11:5, 6). O conceito hebraico de represália fica
revalidado agora. Como as duas testemunhas estão autorizadas
diretamente por Deus, ratifica-se seu testemunho que não pode ser
resistido sem conseqüências graves. Jeremias descreveu figuradamente
um juízo anterior de Deus sobre um Judá impenitente: "Eis que
converterei em fogo as minhas palavras na tua boca e a este povo, em
lenha, e eles serão consumidos" (Jer. 5:14). Um exemplo literal de
semelhante poder foi a sentença de Elias sobre dois regimentos reais que
vieram para prendê-lo e morreram instantaneamente, consumidos por
fogo (2 Reis 1:10-12). Elias pronunciou uma maldição do pacto sobre a
terra, fechando o céu para que não chovesse. Como Moisés tornou as
águas em sangue, assim as testemunhas do tempo do fim receberão
poder sobrenatural do mesmo Deus do pacto (Apoc. 11:5, 6).
Segundo parece, o propósito de tais castigos é levar os inimigos
Deus a reconhecer a suas testemunhas e a aproveitar a necessidade de
arrepender-se. Aqui observamos uma correspondência essencial com os
As Profecias do Tempo do Fim 285
castigos das trombetas que foram enviados do céu em resposta às
orações dos santos perseguidos (Apoc. 8:3-5).

Antecipação da Perseguição do Tempo do Fim

As advertências das duas testemunhas experimentam a mesma


oposição que a que Cristo e seus apóstolos experimentaram em
Jerusalém. João prediz:
"E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo
lhes fará guerra, e as vencerá, e as matará" (Apoc. 11:7).
Este texto é a primeira referência sobre "a besta" [theríon, "animal
selvagem"] no Apocalipse. Tem sua raiz central na quarta "besta" de
Daniel 7, que faz guerra contra os santos. Mas agora a besta "sobe do
abismo". G. B. Caird nota um princípio fundamental: "Sempre que os
homens reclamam poder despótico, recusando reconhecer que são
responsáveis ante Deus pelo uso que lhe dão, ali o monstro sobe do
abismo".15
Apocalipse 11 se concentra sobre os santos martirizados que não se
sepultam "na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama
Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado" (v. 8). João se
refere manifestamente à cidade de Jerusalém, onde Cristo foi crucificado
"fora da porta" (Heb. 13:12), e onde os seguidores de Cristo também
foram perseguidos por seu testemunho do Cristo crucificado (At. 4-7).
João agora descreve Jerusalém como uma cidade que chegou a
estar, aos olhos de Deus, tão degradada moralmente como Sodoma,
opressora como o Egito (ver também Isa. 1:9; Ezeq. 16:26; Jer. 23:14) e
culpada da crucificação de Cristo (Apoc. 11:8). João a chama "a grande
cidade", uma frase que se usa 7 vezes exclusivamente para "Babilônia"
em todo o resto do livro (16:19; 17:18; 18:10, 16, 18, 19, 21). A "grande
cidade" está colocada em notório contraste com a "cidade santa" (Apoc.
11:2). A esfera de ação de ambas as cidades é universal no tempo do fim.
Paul S. Minear interpreta o conflito constante entre as duas cidades, "a
As Profecias do Tempo do Fim 286
cidade santa" e "a grande cidade" em Apocalipse 11:2 e 8, à luz da morte
e ressurreição de Cristo.
"Este acontecimento [de Cristo] revela... a presença de 'a grande
cidade' em qualquer lugar que os homem rechacem a 'palavra de Deus e o
testemunho de Jesus', e a presença de 'a cidade santa' em qualquer lugar
que os homens são fiéis a essa palavra e testemunho... descreve-se a
cidade santa como o templo de Deus, seu altar, e os que adoram nele (xi.1).
Descreve-se à outra como o lugar onde os moradores da terra servem e
adoram à besta (xi.7). É a inimizade entre os dois senhores que revela a
natureza de ambas as cidades... O 'testemunho do Jesus' capacita João a
discernir os limites entre as duas cidades, assim como a discernir o término
verdadeiro de uma e o término enganoso da outra".16
Esta interação dinâmica da cidade santa (Jerusalém) e da cidade
corrompida (Babilônia) em Apocalipse 11 é só uma antecipação das
visões ampliadas da mulher pura e a meretriz em Apocalipse 12 e 17.

A Imitação de Cristo das Duas Testemunhas

É notável que Deus permita que suas duas testemunhas sejam


mortos depois que terminaram sua missão, quer dizer, depois dos 1.260
dias proféticos. Aqui observamos uma correspondência essencial com a
missão e a morte do Filho de Deus que foi crucificado só depois de ter
completado sua missão (João 12:23; 13:1; 17:1). Este modelo messiânico
se amplia posteriormente à ressurreição das testemunhas e sua ascensão
celestial em uma nuvem de glória (Apoc. 11:11, 12). Sua missão está
unida intimamente com a de seu Senhor, a quem João chama "a
testemunha fiel, o primogênito dos mortos" (Apoc. 1:5; também 3:14).
Estamos justificados em aplicar esta descrição simbólica tanto às
Escrituras como à igreja que proclama fielmente as Escrituras no tempo
do fim. Entretanto, devemos compreender que muitas aplicações
históricas no passado demonstraram ser só cumprimentos parciais, de
maneira que devemos estar alerta ao cumprimento completo nos
acontecimentos finais do tempo do fim.
As Profecias do Tempo do Fim 287
João tinha anunciado antes que muitos fiéis seriam "guardados" da
hora final de prova (Apoc. 3:10). Contudo, muitos santos que dão
testemunho serão mortos no tempo do fim e seu testemunho universal
será emudecido pelo ódio fanático dos "moradores da terra". Então se
cumprirão em todo o globo as palavras do Jesus: "E matarão a alguns de
vós; e serão aborrecidos de todos por causa de meu nome" (Luc. 21:16,
17). Por outro lado, todo mundo se regozijará e enviarão presentes uns
aos outros quando se sentirem aliviados da voz de repreensão.
Uma situação similar ocorreu no Egito quando Israel tinha saído
(Sal. 105:38). Mas seu gozo terá uma vida efêmera, só "três dias e meio"
(Apoc. 11:9, 11 ). Este período de tempo está em contraste chamativo
com os 1.260 dias do ministério das testemunhas de Deus, quem honrará
logo a suas testemunhas com uma vindicação espetacular do céu. João
agora toma da maravilhosa visão de Ezequiel para descrever a
ressurreição das testemunhas executadas.
"E, depois daqueles três dias e meio, o espírito de vida, vindo de Deus,
entrou neles; e puseram-se sobre os pés, e caiu grande temor sobre os que
os viram. E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi cá. E
subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram" (Apoc.
11:11,12).
Chama-nos a atenção a reinterpretação criativa que João faz da
visão de Ezequiel a respeito da restauração do Israel como uma teocracia
depois da cativeiro babilônico (Ezeq. 37). João vê a visão de Israel
finalmente realizada nas testemunhas de Cristo no fim do tempo:

EZEQUIEL 37:10 APOCALIPSE 11:11


"Profetizei como ele me ordenara, "Mas, depois dos três dias e meio, um
e o espírito entrou neles, e viveram espírito de vida, vindo da parte de
e se puseram em pé, um exército Deus, neles penetrou, e eles se
sobremodo numeroso". ergueram sobre os pés, e àqueles que
os viram sobreveio grande medo".
As Profecias do Tempo do Fim 288
Como no "vale dos ossos secos" de Ezequiel 37, onde os corpos
permaneceram insepultos, assim os corpos das testemunhas de Cristo
jazerão sobre a terra insepultos (Apoc. 11:9). A visão de Ezequiel
prometeu que Israel e sua adoração de Deus seriam restaurados depois de
seu cativeiro em Babilônia, e João também promete que as testemunhas
fiéis de Cristo, mortos por Babilônia na época da igreja, serão
restaurados à vida no reino de glória. João acrescenta sua ascensão
milagrosa ao céu em uma nuvem, assim como Cristo tinha subido ao céu
em uma nuvem (At. 1:9). Portanto, não se trata de um rapto dos cristãos,
invisível e secreto! Esta ressurreição e o arrebatamento visível será antes
uma comoção universal que causa terror nos corações dos moradores da
terra (Apoc. 11:11, 12). Todas serão testemunhas da mudança de papéis
que Deus fará de seu santos desprezados.
"Naquela hora", um grande terremoto causará o desmoronamento
da décima parte da cidade, matando a "sete mil homens" (Apoc. 11:13).
Isto aterroriza os sobreviventes até o ponto que se sentem constrangidos
a dar "glória ao Deus do céu" (v. 13). Os 7.000 idólatras mortos pelo
terremoto parecem funcionar como a contraparte dos 7.000 adoradores
fiéis de Jeová que foram preservados por Deus no tempo do profeta Elias
(ver 1 Reis 19:18; Rom. 11:4), o que sugere que o castigo de Deus está
limitado em proporção à população total, permitindo ainda tempo para o
arrependimento e para que reconheçam sua glória. Como parte da sexta
trombeta, o terremoto de Apocalipse 11:13 é um precursor limitado do
último terremoto (o de Apoc. 6:12-14; 11:19; 16:17-21). Bauckham
comenta a este respeito:
"O versículo 13 [de Apoc. 11] significa certamente que todos os
sobreviventes se arrependerão sinceramente e reconhecerão o único Deus
verdadeiro. A descrição de sua resposta corresponde ao convite do anjo que
em Apocalipse 14:6 e 7 chama as nações a reconhecer a Deus. Também
está em contraste com 9:20 e 21 (cf. 16:9-11)... Não a minoria fiel, e sim a
maioria infiel é a que é perdoada, com o fim de que possam chegar ao
arrependimento e a fé. Graças ao testemunho das testemunhas, o castigo é
em realidade salvífico".17
As Profecias do Tempo do Fim 289
Esta interpretação de Apocalipse 11:13 considera o testemunho dos
mártires como eficaz entre as nações, especialmente pela forma como
fazem frente à morte, com a mesma vitória como a que Cristo
manifestou. O testemunho dos mártires mortos não terá sido em vão. Seu
sangue chegará a ser a semente de novos crentes, de maneira que se
realizará a esperança dos profetas de Israel para o tempo do fim:
"Todas as nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante de ti, Senhor,
e glorificarão o teu nome" (Sal. 86:9).
" Abençoe-nos Deus, e todos os confins da terra o temerão" (Sal. 67:7).
"Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda língua" (Isa.
45:23).

A Aplicação Historicista

Os intérpretes protestantes aplicaram os "duas testemunhas" de


Apocalipse 11 a todos os que pregaram intrepidamente o evangelho
bíblico da salvação e que desmascararam a apostasia da igreja medieval.
Viram-nos como a contraparte positiva do anticristo, a besta que sobe do
abismo em Apocalipse 11:7. Dessa maneira estabeleceram sua missão e
sua autocompreensão protestante. Rodney L. Pedersen apresenta um
relatório instrutivo da história da exegese de Apocalipse 11:3-13.18 Entre
as testemunhas simbólicas se contaram Savonarola, Wycliffe, Huss,
Jerônimo de Praga, Lutero, Zuínglio, Melanchton, Calvino e muitos
outros. A todos estes os considerou inspirados pelo Espírito, como foi o
profeta Elias, para proclamar "as claras afirmações da Escritura Sagrada
– doutrinas que tinham sido relutantes em apresentar".19 Todos foram
acusados falsamente e perseguidos "pela palavra de Deus e pelo
testemunho de Jesus Cristo".20
A fins do século XVII alguns expositores de influência como Pierre
Jurieu (em 1687) e Drue Cressener (em 1689) aplicaram a profecia das
duas testemunhas aos protestantes franceses que foram assassinados em
1686 (depois da revogação do decreto do Nantes em 1685, mas que foi
As Profecias do Tempo do Fim 290
21
restaurado de novo em 1890). Outros como Jonathan Edwards (1703-
1758) viram a Reforma predita na ressurreição e ascensão das
testemunhas de Apocalipse 11:11 e 12, porque os reformadores vieram
com o poder da Palavra de Deus, um poder que pode converter ou
destruir.22
Intérpretes historicistas posteriores aplicaram a morte das duas
testemunhas à proscrição temporária da religião cristã na França durante
a Revolução Francesa. Por quase 4 semanas, desde 10 de novembro até 6
de dezembro de 1793, o Concílio Nacional da França foi dominado pelas
exigências excessivas de alguns ultra revolucionários que rechaçaram
publicamente o Deus do cristianismo, puseram a um lado a Bíblia e
inclusive aboliram o ciclo semanal de 7 dias. Neste ato de desafio, a
França manifestou um espírito de ateísmo e portanto, muitos intérpretes
proféticos começaram a aplicar Apocalipse 11:7 e 8 à guerra contra a
Bíblia durante o reinado do terror da Revolução Francesa, mais ainda
porque isto ocorreu perto do fim dos 1.260 dias calculados de 538 até
1798. Ellen White, no Grande Conflito (1888, 1911), dedicou um
capítulo especial, o 16, à aplicação histórica de Apocalipse 11.
Enquanto que a descrição profética de Apocalipse 11 pode aplicar-
se a uma fase da Revolução Francesa se se restringirem as duas
testemunhas às Escrituras do Antigo Testamento e do Novo, uma
quantidade de característicos distintivos de Apocalipse 11 não se
cumpriram completamente, tais como a extensão mundial do testemunho
dos mártires (vs. 9, 10); o período de tempo dos "3 ½ dias" de rechaço de
enterrar os corpos das duas testemunhas (v. 9); e a declaração de que
matará as testemunhas, "quando tiverem acabado seu testemunho" (v. 7).

Resumo de Apocalipse 10 e 11

As visões de Apocalipse 10 e 11 dirigem seu feixe de luz ao novo


mandato da igreja no tempo do fim. Concentram-se sobre o tempo da
sexta trombeta, a fase final da era cristã, antes que termine o tempo de
As Profecias do Tempo do Fim 291
graça com a sétima trombeta. A predição dos acontecimentos do tempo
do fim em Apocalipse 10 e 11 está em um contraste notável com o
quadro sombrio das visões das trombetas (Apoc. 8 e 9), com o qual
forma uma contraparte dramática.
As visões de Apocalipse 10 e 11 correspondem-se com a visão do
capítulo 7, que também descreve os acontecimentos do tempo do fim
dentro da série dos selos. Ambos os centros de atenção (Apoc. 7, 10 e
11) são visões para animar os santos a perseverar até o fim. Enquanto
que as trombetas representam castigos de Deus cada vez maiores sobre
os perseguidores, começando com a destruição de Jerusalém e continuando
durante a era cristã, Apocalipse 10 e 11 se centram na missão da reavivada
igreja de Cristo, iluminada por uma nova visão do livro de Daniel (Dan.
12:4) e habilitada com o Espírito de Deus (Apoc. 11:4-6), o que implica
que o conflito entre a vontade revelada de Deus e os poderes da religião
apóstata se intensificarão à medida que transcorra o tempo.
A sexta trombeta (Apoc. 9:14-19) descreve a confrontação final
entre os adoradores inspirados pelo demônio e as testemunhas de Cristo
cheios do Espírito. O conflito final leva a uma perseguição legal, prisão e
execução de todos os que se aderem ao testemunho de Jesus. A guerra
atroz que se trava entre a besta e as testemunhas de Cristo em Apocalipse
11 se amplia em Apocalipse 12 a 17. Estas ampliações se caracterizam
por repetições deliberadas dos símbolos chave (tais como unidades de
tempo, o testemunho, a besta, os moradores da terra), que servem como
elos deliberados entre Apocalipse 11 e os capítulos seguintes.
Enquanto que as imagens simbólicas de Apocalipse 10 e 11 são
tiradas do Antigo Testamento, todas são adaptadas ao evangelho de
Cristo e a suas testemunhas. Portanto, estes capítulos têm um caráter
fortemente antecipatório. Suas mensagens visionárias funcionam como
uma perspectiva proléptica das visões do tempo do fim de Apocalipse 12
a 22. Entretanto, João deseja completar primeiro a série das trombetas
com uma breve descrição da sétima trombeta.
As Profecias do Tempo do Fim 292
A Sétima Trombeta

"O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes,


dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele
reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15).
Nossa primeira impressão é que esta trombeta final não contém
nenhum "ai" porque anuncia só o começo do governo de Deus sobre a
terra. Não obstante, a sétima trombeta compreende um complexo cheio
de cenas para consumar o "mistério" de Deus (Apoc. 10:7), que
mencionam os 24 anciões em Apocalipse 11:16-18. Seu cântico de
louvor anuncia a execução do juízo de Deus sobre os mortos e os vivos
como a manifestação de seu reino:
"Graças te damos, Senhor, Deus Todo-poderoso, que és, e que eras, e
que hás de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste. E iraram-se as
nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o
tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos
que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os
que destroem a terra" (Apoc. 11:17, 18).
A expressão, "e iraram-se as nações, e veio a tua ira", resume o
tema do Salmo 2 e deve entender-se à luz deste salmo messiânico. Neste
salmo não se fala de guerras seculares, mas sim da ira das nações contra
o Deus de Israel e contra seu Messias (ver Sal. 2:6-9).
Para compreender o significado religioso dos acontecimentos finais,
devemos procurar suas descrições ampliadas nas visões dos capítulos 12
a 22. George Beasley-Murray expressou esta infra-estrutura literária do
Apocalipse nas seguintes palavras:
"Não nos equivocaremos muito se virmos o terceiro ai refletido na
primeira parte do versículo 18a, ao que se refere de forma mais explícita o
capítulo 16:17 (a sétima taça) e em maior plenitude o capítulo 17:12-18, que
é cantado no lamento do capítulo 18 e nos hinos de júbilo em 19:1-10, e
descritos em 19:11-16 (especialmente em 19:15)".23
Por Apocalipse 12 a 19 sabemos que a "ira" de Deus se manifestará
nas 7 últimas pragas (ver Apoc. 15:1). A sétima trombeta inclui os ais
das últimas pragas de Apocalipse 16. O canto litúrgico dos anciões no
As Profecias do Tempo do Fim 293
céu apresenta uma sinopse de Apocalipse 12 a 22. Os capítulos 12 a 14
descrevem os esforços demoníacos do príncipe deste mundo, Satanás,
para destruir os seguidores de Cristo. O canto profético dos anciões em
Apocalipse 11 consola o povo de Cristo, ameaçado pelas hostes do
inimigo, que chegou o tempo [kronos] para três acontecimentos finais:
(1) para julgar aos mortos; (2) para recompensar a todos os santos, e
(3) para destruir os que destroem a terra (Apoc. 11:18). A referência ao
"destruidor" universal indica que o oráculo de condenação contra a
Babilônia antiga (ver Jer. 51:25) encontrará uma consumação final. O
tema de gratidão em Apocalipse 18 e 19 é o juízo contra Babilônia, o
destruidor do povo de Deus.
"Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque
Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20; ver também 19:2).
O ato divino da destruição de Babilônia expõe um ato do reinado de
Cristo. Seu propósito é essencialmente construtivo, a restauração de sua
criação. Provê a seu povo com a herança prometida, a nova terra. A
segurança do juízo e da recompensa dos santos nos recorda a visão
fundamental do Daniel na qual "até que veio o Ancião de Dias e fez
justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos
possuíram o reino" (Dan. 7:22; ver também o V. 27). Esta tônica do
Daniel também é o tema dominante no livro do Apocalipse. A
declaração feita sob a sétima trombeta de que veio o tempo "para destruir
os que destroem a terra" (11:18), confirma a visão de Daniel de que o
reino de Deus "esmiuçará e consumirá a todos estes reino, mas ele
permanecerá para sempre" (Dan. 2:44; também o v. 45).
Apocalipse 11 conclui com uma nova visão: "E abriu-se no céu o
templo de Deus, e a arca do seu concerto foi vista no seu templo; e
houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos, e grande saraiva"
(Apoc. 11:19).
Quem se volte a ver o arca do pacto de Deus, combinado com os
instrumentos de guerra divina (terremoto, saraiva, trovão, etc.), assegura
de uma maneira dramática à igreja que Cristo se levantará para cumprir
As Profecias do Tempo do Fim 294
as promessas do pacto de Deus. As descrições apocalípticas representam
juízos históricos para a humanidade rebelde. O Deus do pacto também é
o Senhor da história. Seu reino de justiça e misericórdia será
estabelecido sobre a terra. A segurança fundamental de Apocalipse 11
pode resumir-se nestas palavras: "garantiram-se tanto o juízo sobre os
inimigos de Deus como a vindicação para a igreja. Esta é a grande
mensagem de Apocalipse 11".24

Referências
Para a Bibliografia, ver na páginas 296.

1 Mounce, The Book of Revelation, p. 218.


2 Considine, "The Two Witnesses: Rev. 11:3-13" (1946), pp. 378,
379.
3 J. M. Ford, Revelation, p. 177.
4 Naden, The Lamb Among the Beasts, p. 172.
5 Feuillet, The Apocalypse, p. 61.
6 Feuillet, Johannine Studies, p. 236.
7 Feuillet, Ibid., pp. 236, 237.
8 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. xc.
9 Mounce, The Book of Revelation, p. 223.
10 Mounce, Ibid.
11 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:2-12", p. 132.
12 Ibid., p. 133.
13 Ibid., pp. 134, 135.
14 Johnson, Revelation, p. 111.
15 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 137.
16 Minear, "Ontology and Ecclesiology in the Apocalypse", pp. 98-
100.
17 Bauckham, The Theology of the Book of Revelation, pp. 86, 87.
18 Ver o livro de R. L. Petersen.
19 Ellen White, GC 608.
As Profecias do Tempo do Fim 295
20 Ibid., p. 271.
21 Ver Petersen, Preaching in the Last Days. The Theme of the 'Two
Witnesses' in the Sixteenth and Seventeenth Centuries, pp. 229,
250.
22 Ibid., pp. 230-232.
23 Beasley-Murray, Revelation, p. 188.
24 Naden, The Lamb Among the Beasts, p. 179.
As Profecias do Tempo do Fim 296
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 11

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As Profecias do Tempo do Fim 299
COMPREENDENDO OS "1.260 DIAS"
EM APOCALIPSE 11-13

João usa 3 símbolos de tempo ("dias", "meses", "tempos" ) em


Apocalipse 11-13 para designar o período quando seria pisada a cidade
santa, o tempo das duas testemunhas, da mulher no deserto, e do domínio
da besta. Usa a frase "42 meses", "1.260 dias" e "um tempo, e tempos e
metade de um tempo", como termos sinônimos que servem como elos
vitais entre Apocalipse 11, 12 e 13. É útil fazer uma comparação de dois
versículos paralelos de Apocalipse 12:

APOCALIPSE 12:6 APOCALIPSE 12:14


"A mulher, porém, fugiu para o "E foram dadas à mulher as duas
deserto, onde lhe havia Deus asas da grande águia, para que
preparado lugar para que nele a voasse até ao deserto, ao seu lugar,
sustentem durante mil duzentos e aí onde é sustentada durante um
sessenta dias". tempo, tempos e metade de um
tempo".

Apocalipse 12:6 e 14 descrevem ao que parece a mesma mulher e o


mesmo tempo de perseguição, com símbolos ligeiramente diferentes.
Estas diferenças estilísticas são significativas, porque proporcionam a
oportunidade de combinar uma gama mais ampla de modelos do Antigo
Testamento, o que não só enriquece o significado teológico da igreja
cristã, mas também proclama a continuidade da fidelidade de Deus a seu
povo do novo pacto. Da mesma maneira que Jeová tinha "levado" a
Israel sobre "asas de águia" do Egito e os trouxe a ele (Êxo. 19:4), assim
Deus dá à sua igreja "as duas asas da grande águia" para voar a um lugar
seguro (Apoc. 12:14). O fato de que o símbolo de tempo de "1.260 dias"
e seus equivalentes nos são dados 7 vezes (2 em Dan. e 5 no Apoc.)
indica que é um período de importância crucial.
As Profecias do Tempo do Fim 300
A pergunta é a seguinte: De onde vem este símbolo apocalíptico? A
frase "um tempo, e tempos e metade de um tempo" em Apocalipse 12:14
é tomada diretamente de Daniel 7:25 e 12:7, como geralmente se
reconhece. Mas poucos comentadores conectam Apocalipse 12 à sua raiz
principal em Daniel 7. Porém, aqui jaz a chave secreta para descobrir os
3 ½ tempos proféticos em sua relação com o "chifre pequeno" da quarta
besta de Daniel.

O Erro de Separar o Símbolo de Tempo de seu Contexto

Alguns expositores apelam à tradição judia que usa o termo "3 anos
e meio" como um modismo para um "longo tempo" indefinido ou para
"muitos dias".1 O termo aparece ali para expressar "a metade de um
septênio" ou, como dizem outros, "a metade de uma década" sem
nenhuma outra precisão. As passagens do Lucas 4:25 e Tiago 5:17 são
interessantes, porque neles a frase "três anos e meio" usa-se para o tempo
da seca nos dias de Elias, enquanto que em 1 Reis 18:1 só declara que
durou "muitos dias" e que a seca terminaria "no terceiro ano".
Esta designação de tempo pode significar um mínimo de 14 ou 18
meses, segundo a tradição rabínica,2 ou possivelmente 3 anos. O fato de
que tanto Jesus (Luc. 4:25) como Tiago (5:17) falam deste período como
"três anos e meio" poderia ser uma adaptação do modismo popular em
seu tempo. Entretanto, um documento rabínico dá a leitura de "três anos
e meio".3 Enquanto que se pode reconhecer a tensão dentro do conteúdo
do Antigo Testamento e do Novo Testamento com respeito ao tempo de
prova real da seca profetizada por Elias, tudo isto se distingue da
designação do tempo nas profecias de Daniel e Apocalipse. Aqui o
princípio guiador não é o modismo, a não ser o contexto imediato e o
contexto remoto da profecia.
O livro de Daniel proporciona a fonte e a localização dos "3 ½
tempos" dentro da história das salvação. O falhar em situar os 3 ½
tempos proféticos adequadamente dentro do tempo contínuo de Daniel 7,
As Profecias do Tempo do Fim 301
ignora a convocação ordenada deste período de tempo na história. Como
Daniel 7 aplica a quarta besta simbólica ao quarto império mundial, ou
Roma Imperial, o "chifre pequeno" que cresceu desta besta não pode
representar ao rei selêucida Antíoco IV que perseguiu os judeus e
profanou o templo desde dezembro do ano 167 a.C. até dezembro do 164
a.C. (1 Macabeus 1:41-61; 2 Mac. 10:5). Induz a engano afirmar que o
tempo simbólico de Daniel de 3 ½ tempos "levantou-se durante a
abominação do Antíoco Epifanes" conforme afirma Ezell,4 já que a
profanação do templo durou exatamente 3 anos (2 Mac. 10:5) e não
"quase exatamente 3 ½ anos". Semelhantes conjeturas com respeito à
frase de tempo que Daniel emprega falham porque separam o símbolo do
tempo de seu marco original dentro de Daniel 7.

Aplicações Futuristas dos 1.260 dias

G. Ch. Aalders, um erudito holandês do Antigo Testamento, estava


convencido de que os 3 ½ tempos de Daniel 7 devem conectar-se com o
reinado do anticristo, que ele viu levantar-se da quarta besta como o
Império Romano. Rechaçou os "esforços" de alguns que aplicavam a
designação de anticristo ao papado ou à lei romana (como formas de
continuação do Império Romano) como "cerâmica sem valor".5 Aalders
também considerou intranscendente esperar algum "reaparecimento
reavivado" do Império Romano no tempo do fim. O anticristo, afirmou
Aalders, obterá um desdobramento espantoso de poder político no
mundo cultural do futuro. Tratará de assumir a soberania do mundo da
própria mão de Deus ao mudar os "tempos e a lei" (Dan. 7:25; cf. 2:21).
Isto significa que o anticristo tem o propósito de proscrever todos os
fundamentos cristãos e "tirar todo elemento religioso" do mundo
cultural, "no espírito que motivou a Revolução Francesa" ou os governos
comunistas ateus.6 Dessa maneira Aalders identificou o anticristo com
algum governante político ateu do futuro.
As Profecias do Tempo do Fim 302
Com respeito ao "tempo, e tempos e meio tempo" de Daniel 7:25,
Aalders interpretou esta frase para dizer que a opressão dos crentes
cristãos ocorrerá em 3 etapas: (1) Primeiro um período de perseguição
em aumento; (2) depois, um período de opressão mais longo e
intensificado; e (3) finalmente, um breve período de perseguição que
será abreviado abruptamente por Deus por causa de seus escolhidos
(referindo-se ao Mat. 24:22). Projetou esses "tempos" do anticristo, que
não são exatos, ao futuro distante, atribuindo um intervalo surpreendente
de tempo de mais de 1.500 anos (da queda de Roma até nossos dias) na
era da igreja. Por outro lado, reconheceu que o futuro reino do anticristo
está ampliado adicionalmente por Paulo em 2 Tessalonicenses 2:4 e
também em Apocalipse 13:5 e 6.7
O erudito norte-americano do Antigo Testamento, Edward J.
Young, explicou Daniel 7 em uma forma similar a de Aalders. Resumiu
dizendo: "Dessa forma, em um quadro notável, dá-se todo o curso da
história da aparição do Império Romano histórico até o fim do governo
humano".8 Interpretou os "10 chifres" da quarta besta de Daniel 7 como
os reinos (10 é "o número da totalidade") que "surgem historicamente do
antigo Império Romano... A Europa moderna pode, em um sentido muito
legítimo, ter surgido de Roma".9 Mas Young projeta o anticristo (o
décimo primeiro chifre) ao futuro indefinido, quando "tratará de
desgastar (consumir, afligir, humilhar) os santos do Altíssimo". "Essa
tirania durará um período definido, um tempo e tempos e a metade de
um tempo".10
Young rechaça a crença dispensacionalista de que os 3 ½ anos ou
1.260 dias devem equiparar-se com a última meia semana das 70
semanas de Daniel, o período da grande tribulação. Declara que a frase
de tempo do Daniel "é em si mesmo uma expressão cronológica
indefinida".11 Conclui dizendo: "Este período, 'um tempo, e tempos, e a
metade de um tempo', aparentemente representa um período de prova e
juízo que será abreviado por causa dos escolhidos de Deus (cf. Mat.
As Profecias do Tempo do Fim 303
12
24:22)". Tanto Young como Aalders projetam o anticristo
exclusivamente na fase final do futuro da era da igreja.
É curioso observar que o reformador João Calvino em suas
populares Conferencias sobre Daniel de 1561,13 sugeriu que essa frase
de tempo do Daniel 7:25 indicava 3 fases: Primeiro, um período de um
tempo "algo assim como 10 anos"; depois tempos, "algo semelhante a 50
ou 100 anos", e finalmente "meio tempo", como uma indicação de que
Deus coloca um limite repentino à grande aflição. Refere-se a Jesus, que
havia predito um encurtamento da tribulação em Mateus 24:22.
Entretanto, Calvino aplicou todos os chifres da besta do Daniel 7 a vários
imperadores do Império Romano (como Júlio César, Nero e Trajano).
Em seu Commentary on Daniel, o dispensacionalista Leão J. Wood
declara que "o fato de que esta besta tinha 10 chifres significa que antes
desta indicação deve reconhecer-se a existência de um grande intervalo
de tempo".14 Wood apóia este intervalo de tempo tão tremendo sobre a
hipótese errônea de que os 10 chifres ("10 reis contemporâneos") devem
ser parte de um Império Romano reavivado do futuro, "pode ser uma
confederação de estados europeus", com Roma como sua cidade
principal.15 Só então, diz Wood, o décimo primeiro chifre, como "a
falsificação de Satanás do soberano mundial", começará a perseguir os
judeus (que são os santos de Deus) por 3 ½ anos literais,16 período de
tribulação que é idêntico à metade do período de 7 anos da tribulação
final de Daniel 9:26 e 27. Esta opinião apenas repete a que aparece na
New Scofield Reference Bible [A Nova Bíblia de referência Scofield],
páginas 909 e 1362. O ponto de vista dispensacionalista está
determinado por um literalismo estrito de todos os símbolos de tempo
proféticos a pesar do fato de que estes símbolos estão unidos a imagens
simbólicas (Dan. 7; Apoc. 11-13). Também, a teoria do intervalo do
futurismo está em conflito com o contínuo-histórico descrito em Daniel
2 e 7.
As Profecias do Tempo do Fim 304
Abrangem os 1.260 dias Toda a Era Cristã?

Nas últimas décadas, ganhou apoio uma nova interpretação dos


"1.260 dias". Afirma que por meio desta frase de tempo, João pretendeu
"representar a 'experiência do deserto espiritual' da igreja durante o
período entre a ressurreição e a volta de Cristo".17 Este erudito batista
sustenta que João escolheu dar uma forma nova à designação do tempo
de Daniel como 42 meses e 1.260 dias para simbolizar o tempo que os
filhos de Israel estiveram no deserto durante 42 anos. "Os novos filhos
de Israel experimentarão sua peregrinação como peregrinos por um
período pitorescamente simbolizado como 42 meses".18 Ele se refere a
Apocalipse 12:6 e 14.
Mas o Antigo Testamento nunca menciona 42 anos para a
experiência de Israel no deserto; só fala de 40 anos. Lemos que desde o
segundo mês de sua partida do Egito, "comeram os filhos de Israel maná
quarenta anos, até que chegaram a terra habitada; maná comeram até que
chegaram aos limites da terra de Canaã" (Êxo. 16:35; cf. Deut. 2:7; 8:2-
4; 29:5; Nee. 9:21; Sal. 95:10; At. 7:36). Em nenhum lugar da Bíblia se
estiram estes 40 anos a 42. Além disso, Daniel e Apocalipse não
conectam os 3 ½ tempos proféticos com a idade messiânica ou com a era
da igreja como tal, e sim somente com o reinado de terror do anticristo
(Dan. 7:24, 25; Apoc. 13:5-8), conexão exegética que foi reconhecida
pelo expositor batista George R. Beasley-Murray. Raciocina que as
frases de tempo em Apocalipse 12 não devem ser separadas de seu
contexto em Apocalipse 13, porque...
"...faz violência à intenção de João. Os três anos e meio são o tempo
da cólera do anticristo (13:5), e portanto da exposição da igreja a seus
intentos de esmagar sua existência (11:1 e seguintes; 3-13). Isto não
caracteriza o período da igreja- entre a ascensão e a parousia de Cristo".19
Como se mostrou antes, o apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2
colocou o anticristo profetizado no futuro, de fato, depois do
desaparecimento do Império Romano (ver o cap. VII desta obra). Por
As Profecias do Tempo do Fim 305
conseguinte, os 3 ½ anos não podem aplicar-se às perseguições de alguns
imperadores romanos como Nero, Domiciano, Décio e Diocleciano. Os
tempos daniélicos de perseguição estão entrelaçados exclusivamente
com o reinado do anticristo (Dan. 7:24, 25). E enquanto que os
perseguidores históricos do povo de Deus, como Nabucodonosor,
Antíoco IV, Nero e outros, podem ser considerados como representantes
dos tempos opressores dos gentios, podem considerar-se só como
protótipos ou precursores do anticristo predito na profecia.
O que se denomina "tempos dos gentios" (em Luc. 21:24) pode ser
considerado como se abrangesse todo o período da supremacia hostil
sobre o povo do pacto de Deus que termina só com a libertação por
ocasião da segunda vinda de Cristo. Mas os 3 ½ anos do Daniel ou os
1.260 dias de João constituem uma parte restringida desses tempos gerais
de sujeição política, o período específico da supremacia do anticristo
bíblico sobre os santos de Deus. E porque o reinado do anticristo não se
estende sobre toda a era cristã, de igual maneira os 1.260 dias não
compreendem toda a era cristã.

Os "3 ½ tempos" Dentro de seu Contexto de Daniel 7

Em Daniel 7 os 3 ½ tempos estão conectados exclusivamente ao


"chifre pequeno", quer dizer, o décimo primeiro chifre que surgiu
gradualmente da quarta besta. O Apocalipse continua aplicando os 3 ½
tempos proféticos e seus símbolos equivalentes de "42 meses" e "1.260
dias" ao anticristo, representado como a besta que sobe do mar de
Apocalipse 13:1-8.
Durante a idade apostólica, o anticristo não se desenvolveu
plenamente como declarou o apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Até
o ancião apóstolo João declarou que o anticristo profetizado ainda estava
no futuro (em 1 João 2:18). Por outro lado, advertiram a igreja a respeito
da certeza de sua vinda durante a era da igreja (At. 20:29, 30; 2 Tes. 2:3-
8; Apoc. 13). É notável que o pai da igreja, Tertuliano (por volta de 200
As Profecias do Tempo do Fim 306
d.C.) ensinou que o anticristo predito (de Daniel) não era o Império
Romano mas sim se levantaria depois do desaparecimento de Roma pagã
e depois se sentaria na igreja. Tertuliano interpretou 2 Tessalonicenses 2
afirmando que a existência presente do Império Romano retardava o
surgimento do anticristo. Escreveu com respeito ao que "o freia" (2 Tes.
2:7, 8, NBE): "Qual é o obstáculo aqui, a não ser o Estado romano, a
queda do qual, ao ser dividido no reino introduzirá ao anticristo sobre
(ruínas próprias)?"20 Também o respeitado comentário de Daniel por
Jerônimo (347-420 D.C.) ratificou a posição corrente na igreja cristã, de
que em Daniel 7 se descreve o anticristo como o décimo primeiro rei,
que se levantará só quando o Império Romano seja destruído e 10 reinos
se repartirem entre eles o mundo romano.21
Inclusive Agostinho no ano 413 recomendou o comentário "erudito"
sobre Daniel de Jerônimo para a compreensão de Daniel 7.22 Tertuliano
e Jerônimo chegaram a esta interpretação só porque foram a Daniel 7
como a raiz principal de todas as profecias do anticristo. O método
fundamental de decifrar os símbolos apocalípticos do Apocalipse,
rastreando sua origem nas profecias esboçadas no Daniel, deve ser
também respeitado para decifrar os símbolos de tempo de Apocalipse 11
a 13.
Se se consultar Daniel 7 como a raiz principal do Apocalipse,
saberemos que o "chifre" anticristão surgiria para perseguir os santos de
Deus por 3 ½ tempos só depois que os "10 chifres" dividissem o Império
Romano do Ocidente. Esta divisão histórica se levou a cabo durante 100
anos, até que no ano 476 o último imperador do Império Romano
Ocidental, Rômulo Augústulo, foi destronado. Pelo esboço apocalíptico
de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 sabemos que não deve dar-se por
sentado nenhum intervalo interminável de tempo para que ocorresse o
livre desenvolvimento do anticristo e seu reino (ver seu estudo no cap.
VII desta obra, a seção "O momento histórico exato do anticristo
segundo Paulo").
As Profecias do Tempo do Fim 307
A besta simbólica que sobe do mar de Apocalipse 13 incorpora em
si mesmo as 4 bestas do Daniel 7. Além disso, os nomes de blasfêmia
sobre suas cabeças (Apoc. 13:1) correspondem-se com as marcas do
chifre pequeno de Daniel 7. Também os tempos de sua autoridade,
"quarenta e dois meses" (Apoc. 13:5), correspondem-se com os 3 ½
tempos do chifre pequeno de Daniel (Dan. 7:25), símbolo de tempo
profético que desta maneira está unido ao anticristo que se levantaria no
cenário mundial quando Roma Imperial chegasse a seu fim no Ocidente,
quer dizer, depois do ano 476 d.C. Entretanto, o anticristo ainda
representa o Império Romano e seu espírito de perseguição. Ronald S.
Wallace, um erudito bíblico em Escócia, reconheceu que, se a quarta
besta de Daniel 7 representa o Império Romano, "o chifre pequeno se
refere então a algum grande perseguidor anticristão da igreja verdadeira
que se levanta na era cristã e dentro da civilização criada pelo Império
Romano. Isto encaixaria primorosamente com a interpretação dada pelo
apóstolo Paulo e o livro do Apocalipse (cf. Apoc. 13)".23

O Surgimento da Igreja-Estado Durante o Império Romano

Durante os primeiros 300 anos de cristianismo, os cristãos foram


proscritos porque os imperadores romanos em seu ofício como Pontifex
Maximus (supremo pontífice) protegiam a religião do Estado por causa
da unidade civil na sociedade romana. "Calcula-se que três milhões de
cristãos pereceram durante os três primeiros séculos da era cristã".24
Essas perseguições chegaram em duas grandes etapas: sob Décio e
sob Diocleciano. Após terminar a última grande perseguição (303-312),
repentinamente o imperador Constantino inverteu toda a situação com
seu famoso Decreto Imperial do ano 313, que permitia que a religião
cristã existisse legalmente lado a lado com a religião tradicional. No ano
321 impôs sobre todos os povos a observância civil do domingo como o
Dies Solis ("dia do Sol"). Como patrocinador da igreja (ele mesmo se
chamou "o bispo dos bispos"), Constantino convocou o primeiro concílio
As Profecias do Tempo do Fim 308
ecumênico na Nicéia no ano 325, e depois introduziu a prática de
assinar-se os artigos de um credo escrito que estipulava castigos se não o
aceitava. É a primeira ocorrência de um castigo da autoridade civil pelo
cargo de heresia. Este imperador romano elevou assim à hierarquia
católica e sua ortodoxia exclusiva como a religião do Estado do império
Romano. Todas as ofensas contra a igreja agora se consideravam como
delitos contra o Estado.
O historiador Edward Gibbon declarou que Constantino "sentou a
cristandade sobre o trono do mundo romano".25 Do tempo de
Constantino, a igreja chegou a ser a Igreja-Estado. Declarou-se Roma a
corte suprema de justiça dentro da igreja para honrar a memória do
apóstolo Pedro (cânon 4). O imperador também enriqueceu à igreja ao
doar-lhe todos os templos pagãos e suas grandes propriedades, assim
como as propriedades dos hereges. Em breve a igreja era proprietária de
uma décima parte de todos os bens raízes no Império Romano.
O resultado da aliança da Igreja e o Estado foi uma igreja cada vez
mais secularizada e uma sociedade nominalmente cristã. Segundo o
historiador eclesiástico Ph. Schaff, "isto produziu o conflito entre a luz e
as trevas, a verdade e a falsidade, Cristo e o anticristo, no próprio seio da
cristandade".26 O tempo de Constantino foi testemunha do começo da
luta interminável na Europa entre a hierarquia da Igreja e o Estado, cada
um tratando de subjugar e dominar o outro. Esta rivalidade "seguiu
durante todo o conflito medieval entre o imperador e o Papa, entre o
episcopado imperial e hierárquico, e se repete em forma modificada em
cada igreja protestante estabelecida".27
Os imperadores "cristãos" romanos convocaram os concílios gerais
da igreja, impuseram os novos credos por meio da lei sobre todos os
cidadãos no império, protegeram a "ortodoxia" e castigaram a "heresia"
com o braço do poder secular, o que foi considerado por alguns (como
Eusébio de Cesaréia) como a restauração da teocracia davídica sobre
terreno cristão. Mas outros, como o professor francês de direito, Jacques
Ellul, consideram a legislação e a imposição política da unidade
As Profecias do Tempo do Fim 309
dogmática da igreja pelos imperadores cristãos como o começo da
subversão do cristianismo e a forma principal de anticristianismo. 28 A
imposição política das leis humanas para estabelecer a igreja ou o reino
espiritual de Cristo revela um espírito que está em conflito fundamental
com o espírito de Cristo (ver João 18:36).
O lado sombrio desta aliança histórica da Igreja e o Estado dos dias
de Constantino foi constituído pela perseguição dos "hereges", porque
suas separações da fé da Igreja-Estado (o catolicismo trinitário) não se
consideravam simplesmente como enganos religiosos, mas sim como
delitos contra o Estado (cristão). Esses hereges foram castigados com o
desterro, confisco de seus bens e, dos dias do imperador Teodósio (380),
inclusive com a morte.29 Declara Schaff: "Por conseguinte, desde
Teodósio se pode datar a teoria da perseguição de hereges pela Igreja-
Estado, e sua inclusão na legislação".30 Em 385 o imperador "cristão"
Máximo ordenou a execução do bispo espanhol Prisciliano, e de 5
crentes de sua seita parecida com a dos maniqueus, na cidade do
Treveris.31
Até Agostinho chegou a convencer-se depois do ano 400 que os
hereges que persistissem deviam ser castigados por seus enganos
religiosos. Inclusive apelou às palavras de Jesus em uma parábola que
dizem: "Força-os a entrar" (Luc. 14:23). Em sua obra clássica, A cidade
de Deus, Agostinho expõe o ideal católico de uma igreja universal, ou
sociedade dos fiéis, que domine a sociedade universal dos infiéis.
Quando a cidade de Roma foi capturada e saqueada pelo rei godo
Alarico em 410, sobreviveu a igreja como o corpo dos fiéis. Agostinho
afirmou que o milênio de Apocalipse 20 se estava cumprindo agora no
reinado da igreja, cujos bispos devem julgar a outros, em nome de Cristo
(20:9), o que proporcionou a base teórica para o Igreja-Estado do papado
medieval.32 A hierarquia da igreja chegou a ser cada vez mais romana
depois que Constantino transladou a capital de Roma a Constantinopla
em 330. "O bispo de Roma, no assento dos césares, era agora o homem
As Profecias do Tempo do Fim 310
de maior influencia no Ocidente, e logo se viu constrangido a chegar a
ser a cabeça tanto política como espiritual".33
Leão I ("o Grande"; 440-461) foi o primeiro papa que publicamente
sustentou um papado universal. Estabeleceu sua primazia no direito
divino, o direito de estar na sede apostólica em Roma. Para ele, a
cristandade e o domínio universal da igreja romana eram coisas
idênticas.34 Schaff o considera como "o primeiro papa no sentido próprio
da palavra", isto é, com respeito a suas exigências de supremacia.35
Durante o concílio de Calcedônia, em 451, leu-se a carta dogmática
do papa Leão I, e os bispos (só estiveram presentes bispos da Europa
Oriental) exclamaram: "Esta é a fé dos pais... e dos apóstolos! Desta
maneira Pedro falou por meio de Leão!"36
Desta exclamação histórica, Leão I e outros papas posteriores
derivaram um direito a sua autoridade dogmática sobre todos os cristãos.
Mas os mesmos pais do concílio atribuíram ao patriarca de
Constantinopla uma autoridade igual para exercer na parte oriental do
império, como a que o papa possuía no Ocidente. "O papa Leão I
confirmou a confissão doutrinal do concílio, mas protestou contra o
cânon 28 que colocava o patriarca de Constantinopla em um pé de
igualdade com ele".37 O papa Leão enfatizou cada vez mais que os papas
eram os sucessores do apóstolo Pedro e dessa maneira possuíam a sedes
apostólica (sede apostólica), para estabelecer sua supremacia eclesiástica
sobre o patriarca de Constantinopla. Daí em diante, cada papa alegou ser
o vigário de Pedro e, portanto, ao mesmo tempo também o vigário de
Cristo para toda a igreja.
O papa Leão I foi o primeiro papa que pediu às autoridades
seculares que suprimissem pela força todas as igrejas cristãs heréticas na
cidade de Roma. Embora toda a igreja sustentou a autoridade dos papas,
este pedido só pôde levar-se a cabo em algumas partes da Itália. A igreja
oriental rechaçou a reclamação de Leão I à primazia na igreja, e ainda
hoje rechaça a primazia papal.
As Profecias do Tempo do Fim 311
Da queda do Império Ocidental em 476, os bispos de Roma se
apropriaram da função do imperador do ocidente como Pontifex
Maximus, sacerdote e governante temporário, com os bispos como
senadores e dirigentes do exército. O renomado historiador eclesiástico
alemão, Adolfo von Harnack viu a igreja romana como "a continuação
real" do Império Ocidental. Henri Pirenne, o eminente historiador belga,
escreveu: "Em resumo, não foi porque era cristã, mas sim porque era
romana que a igreja adquiriu e manteve durante séculos seu domínio
sobre a sociedade".38
O papa Gelásio I (492-496) desenvolveu o princípio papal um passo
a mais ao declarar em 494 que o imperador estava sujeito ao papa e tinha
a obrigação de obedecer à disciplina da Igreja Católica. O bispo de Roma
era a "autoridade suprema". Este papa começou a defender a política de
"não interferência" entre a Igreja e o Estado. Seu propósito foi fazer do
papa um governante religioso-político independente, com direito a
mandar sobre os soberanos civis.

O Reconhecimento da Primazia Papal por Parte de Justiniano

A política do Justiniano I, imperador do Império Romano Oriental


(527-565 ) procurou reviver um Império Romano cristão governado pelo
imperador de Bizâncio (Constantinopla). Como chefe verdadeiro da
igreja cristã, Justiniano promulgou decretos com manifestos obrigatórios,
inclusive em teologia. Seu principal problema doutrinal foi o conflito
entre o ponto de vista ortodoxo do concílio da Calcedônia (451), a
opinião de que em Cristo coexistem a natureza humana e a divina, e o
ensino monofisista que enfatizava a natureza divina de Cristo. Esta
última opinião era a que preferia sua esposa, a imperatriz Teodora, que
era muito popular no Oriente. Por outro lado, o arianismo que rechaçava
a deidade eterna de Cristo era a crença cristã comum entre os povos
germânicos (exceto entre os francos) que povoaram o Império Romano
ocidental, incluindo o norte da África.
As Profecias do Tempo do Fim 312
Justiniano decidiu restaurar a unidade política e religiosa em todo o
território do antigo Império Romano. Procurou a cooperação do papa
para estabelecer a unidade religiosa no império bizantino. Primeiro
escreveu sua carta famosa o papa João II, em 533, em que solicitava o
apoio do papa para sua decisão imperial contra a heresia dos nestorianos.
Em sua carta imperial o papa declarava o seguinte:
"Portanto, esforçamo-nos para unir a todos os sacerdotes do Oriente e
submetê-los à sede de Sua Santidade... Porque não toleramos que nada
que se refira ao estado da Igreja... seja discutido sem que antes se traga ao
conhecimento de Sua Santidade, porque vós sois a cabeça de todas as
santas igrejas, e porque nos esforçaremos em tudo o que possamos... para
acrescentar a honra e a autoridade de vossa sede". 39
Depois o imperador solicitou uma resposta do papa que condenasse
aos nestorianos como ele o tinha decretado. Froom faz a seguinte
avaliação deste pedido. Diz que "isto revela a compreensão plena que
tinha o bispo de Roma do reconhecimento imperial da primazia da sede
de Roma".40 A admissão da primazia dos papas se referia à sua
autoridade e a que era "o corretor de hereges" (na carta do Justiniano ao
arcebispo Epifânio, no ano 533). Entretanto, entranhava muito mais. Em
sua carta imperial o papa João II, o imperador tinha reconhecido
formalmente a prioridade do bispo de Roma sobre o de Constantinopla, o
que foi promulgado só 12 anos mais tarde, no ano 545, no Código Civil
do Justiniano.41 Froom faz este resumo:
"Desta maneira, não só codificou Justiniano as leis religiosas de seus
predecessores, mas também designou especificamente o bispo de Roma
como cabeça da igreja e corretor de hereges, e fez que a lei canônica da
igreja até o ano 451 formasse parte da lei civil do império, consumando
assim a união da Igreja e o Estado".42
O reconhecimento imperial da supremacia eclesiástica do papa,
codificada no ano 545, foi posta em tela de juízo pelo patriarca de
Constantinopla, que assumiu o título de "Bispo universal" em 587.
Enquanto que o Código Civil do Justiniano, com suas novas leis ou
novellae (534-545), pode tomar-se como o começo do poder legalizado
As Profecias do Tempo do Fim 313
do papado sobre toda a igreja (como está em Novella 131), nunca ficou
em vigência no Império Romano do Oriente. Houve uma vasta brecha
entre a lei e a prática! A autoridade eclesiástica dos papas se limitou ao
antigo Império Ocidental. Além disso, o Código Civil ainda reservava o
domínio de toda a igreja não para o papa, e sim para o imperador!, quem
era responsável pelo extermínio dos hereges (Novella 132) assim como
da manutenção da fé e disciplina de toda a igreja (Novella 6).
Em 606, o imperador Focas resolveu a disputa por meio de seu
decreto imperial no qual afirmava que o bispo de Roma era a cabeça
apostólica da cristandade. Mas mesmo assim, a supremacia eclesiástica
do papado não se fez efetiva na igreja universal. O decreto de Focas foi
um intento infrutífero para pôr em vigor a lei de Justiniano (Novella
131).
A ineficácia prática do reconhecimento legal de Justiniano da
primazia papal na igreja cristã não se deveu fundamentalmente a alguns
reis cristãos arianos, e sim ao próprio imperador Justiniano e a seu
governo autocrático. O historiador eclesiástico italiano Paolo Brezzi
descreveu assim a obstrução imperial às exigências da primazia papal:
"A subordinação do Papa a Bizâncio permaneceu como uma realidade,
até depois de aceder ao cargo eclesiástico mais elevado, o que implicava
obrigações e laços que tinham o efeito de obstruir por completo a função
papal... É certo que quanto ao que se refere aos bizantinos, a cabeça
verdadeira e única da sociedade ainda era o imperador, de quem se
buscavam todas as soluções finais, incluídas as que tinham que ver com a
religião".43
Só quando o rei dos francos, Pepino, doou Roma e partes da Itália à
"sede sagrada do bem-aventurado Pedro" em 756, o papado ficou
liberado do jugo do governo e controle bizantinos. Por conseguinte, a
metade do século VIII assinala o começo da era do poder temporário do
papado. Daí em adiante o papado começou a lutar por conseguir a
realização de outro princípio papal: o domínio do governo papal sobre
todos os poderes do Estado. Este objetivo se realizaria só com o papa
Gregório VII (1073-1085) e seus sucessores. Depois começaram os
As Profecias do Tempo do Fim 314
séculos da Inquisição, de torturas violentas e perseguição para todos os
dissidentes.
Do lento desenvolvimento do papado é evidente que "o crescimento
do poder papal demonstra que este foi um processo gradual que abrangeu
muitos séculos... e que continuou desde aproximadamente o ano 100 até
756"." O Comentário bíblico adventista extrai esta conclusão
significativa: "Fica pois em claro que não se podem dar datas que
assinalem uma transição precisa entre a insignificância e a supremacia
ou entre a supremacia e a relativa debilidade".45 Isto denota que só se
podem apresentar datas ou momentos cruciais aproximados para o
surgimento e a decadência da primazia papal dentro da igreja e da
supremacia papal sobre o Estado.
Os intérpretes historicistas escolheram diferentes anos como
sinalizadores do surgimento do poder papal, tais como 396, 455, 533,
538, 606 e 756.46 O Comentário bíblico adventista conclui dizendo:
"Entretanto, pelo ano 538 o papado estava completamente formado, e
operava em todos seus aspectos essenciais, e em 1798 – 1.260 anos mais
tarde – tinha perdido virtualmente todo o poder que tinha acumulado
durante séculos".47

As Caracterizações Bíblicas dos 3 ½ Tempos

Para compreender a intenção divina deste período de tempo


simbólico em Daniel e no Apocalipse, devemos considerar todas as
referências bíblicas. É obvio, o símbolo de tempo profético deve
interpretar-se de acordo com o contexto bíblico. A frase relativa ao
tempo está conectado com a igreja perseguida e com o perseguidor dos
santos. Ao determinar a qualidade teológica dos 1.260 dias ou 3 ½
tempos, precisamos reconhecer que Daniel caracteriza este período como
o tempo de opressão ou de "quebrantamento" dos santos (Dan. 7:25;
12:7).
As Profecias do Tempo do Fim 315
O Apocalipse de João explica adicionalmente a frase de tempo do
Daniel. Será um tempo de pisar "a cidade santa quarenta e dois meses"
(Apoc. 11:2), e adiciona que as testemunhas de Cristo perseverarão em
testificar por 1.260 dias (Apoc. 11:3). Apocalipse 12 menciona que os
santos receberão a proteção divina durante os 1.260 dias ou 3 ½ tempos
cheios de tensões (Apoc. 12:6, 14). Apocalipse 13 revela que o "dragão"
perseguidor transferirá "seu poder e seu trono e grande autoridade" à
besta-anticristo que surge do mar (vs. 1, 2), o que dará como resultado a
vanglória da besta que pronunciará "blasfêmias" e atuará com uma
atitude arrogante durante 42 meses (v. 5). E como foi dito do chifre
pequeno em Daniel 7, assim Apocalipse 13 reitera da besta que sobe do
mar: "E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos e vencê-los; e deu-se-
lhe poder sobre toda tribo, e língua, e nação" (Apoc. 13:7).
Se as perseguições da mulher por parte do dragão representa as do
Império Romano (Apoc. 12), então a besta-anticristo seguinte dominará
com o mesmo espírito despótico como o que teve Roma pagã sobre os
santos de Deus.

Além disso, Apocalipse 13 anuncia que o anticristo receberá uma


"ferida mortal" com uma espada, da qual se recuperará em forma
inesperada e todo mundo se maravilhará (vs. 3, 10-14). As
conseqüências desta recuperação por uma breve "hora" no tempo do fim
se revelam em Apocalipse 17, o que requererá nossa atenção especial um
pouco mais adiante. Nosso interesse atual é determinar o significado
bíblico da "ferida mortal" do anticristo em Apocalipse 13. Este ato que
incapacita a besta supõe claramente a conclusão dos 1.260 dias de
opressão! Além disso, Apocalipse 13 apresenta tanto o começo como o
fim do tempo daniélico da guerra do anticristo contra os santos. O tempo
de perseguição começa depois do transpasse da sede de poder e
autoridade do Império Romano à cabeça da igreja católica romana, e
termina com o castigo da ferida mortal com uma "espada" à Igreja-
As Profecias do Tempo do Fim 316
Estado medieval. (Para a aplicação histórica da "ferida mortal" à besta no
Apoc. 13, ver o cap. XXII desta obra.)

A Natureza Simbólica dos 1.260 dias

Enquanto que os intérpretes futuristas e preteristas tomam o


elemento tempo em Daniel e no Apocalipse como tempo literal, os
intérpretes historicistas da Reforma do século XVI estiveram de acordo
em aceitar as referências ao tempo como símbolos de que um dia
profético representa um ano. Isto se conhece como o "principio dia-ano".
Para nosso propósito atual, limitaremos aos 1.260 dias ou 3 ½ tempos.
Observemos, em primeiro lugar, que estas referências de tempo
funcionam como elementos constitutivos nas profecias de longo alcance
dos dois livros apocalípticos. Indicam o progresso do tempo histórico
durante a era da igreja, e dessa maneira valem, até certo ponto, para
identificar a proximidade do segundo advento de Cristo. Como escreveu
Thomas R. Birks, um professor que viveu em Cambridge, Inglaterra, e
defensor do princípio dia-ano:
"Sem as profecias de tempo nos perguntaríamos se ao mundo não
ficam ainda por suportar um ou dois milênios cansativos antes que Cristo
apareça para desterrar o pecado e a dor".48

As profecias de longo alcance de Daniel chegam até "o tempo do


fim" (Dan. 8:14, 17, 19), e este período de tempo predeterminado
designa um período particular no qual devem ter lugar uma quantidade
de acontecimentos finais (ver Dan. 11:40-45; 12:1-4). Os períodos de
tempo proféticos dos 3 ½ tempos em Daniel 7 e o dos 2.300 dias em
Daniel 8 não determinam o fim do tempo e sim o começo do "tempo do
fim". Se os 3 ½ tempos não se separam de seu contexto, mas sim se
vêem como formando parte de uma descrição simbólica, também
possuem uma natureza simbólica. Os 3 ½ tempos formam parte de um
As Profecias do Tempo do Fim 317
personagem simbólico chamado o "chifre pequeno". W. H. Shea o
explica assim:
"Os 3 ½ tempos do Daniel 7:25 pertencem originalmente a um corno
simbólico, não a uma pessoa (ou pessoas) descrita primariamente como tal.
Também se pode estabelecer o mesmo ponto a respeito dos contextos
simbólicos dos períodos de tempo mencionados no Apocalipse. Estes
contextos simbólicos extremamente complexos sugerem poderosamente
que também deveríamos tratar suas unidades de tempo como simbólicas".49

A natureza simbólica dos 3 ½ tempos já está sugerida pela forma


pouco comum de contar o tempo: "Um tempo, e tempos e metade de um
tempo" (Dan. 7:25; 12:7; Apoc. 12:14). Além disso, se as bestas
simbólicas de Daniel 7 representam impérios que duram muito tempo,
cada um abrangendo séculos, "o mais natural é que os tempos
mencionados estão também apresentados em escala com uma unidade
pequena de tempo representando um tempo mais extenso".50

Ampliação Adicional dos 3 ½ Tempos


em Daniel e Apocalipse

Os 3 ½ tempos do chifre pequeno de Daniel 7 são colocados


novamente na história da salvação por parte do anjo interpretador de
Daniel 11 e 12.
Não se pode separar Daniel 12 de Daniel 7-11 porque o anjo do
capítulo 12 esclarece além disso a perseguição dos santos descrita em
Daniel 11:32-35 e 7:25. Conecta os 3 ½ tempos de perseguição em
Daniel 12:7 com a perseguição dos santos em Daniel 11:32-35, o que
proporciona a nova informação de que os 3 ½ tempos ocorrerão antes do
"tempo do fim" (ver Dan. 11:32-35), e portanto não pertencem nem ao
predeterminado tempo do fim nem depois do tempo do fim.51
As Profecias do Tempo do Fim 318
TEMPOS CORRESPONDENTES DE PERSEGUIÇÃO
Daniel 7:25 Daniel 11:32-35 Daniel 12:7-10
"Proferirá palavras "Aos violadores da "Seria depois de um
contra o Altíssimo, aliança, ele, com tempo, dois tempos e
magoará os santos do lisonjas, perverterá, mas metade de um tempo"
Altíssimo e cuidará em o povo que conhece ao (v. 7).
mudar os tempos e a lei; seu Deus se tornará "E, quando se acabar a
e os santos lhe serão forte e ativo" (v. 32) destruição do poder do
entregues nas mãos, por " Os sábios entre o povo povo santo, estas coisas
um tempo, dois tempos e ensinarão a muitos; todas se cumprirão" (v.
metade de um tempo" todavia, cairão pela 7).
espada e pelo fogo, pelo "Muitos serão purifica-
cativeiro e pelo roubo, dos, embranquecidos e
por algum tempo" (v. provados; mas os
33). perversos procederão
"Alguns dos sábios perversamente, e
cairão para serem nenhum deles entenderá,
provados, purificados e mas os sábios
embranquecidos, até ao entenderão" (v. 10).
tempo do fim, porque se "estas palavras estão
dará ainda no tempo encerradas e seladas até
determinado". (v. 35). ao tempo do fim" (v. 9).

Os 3 ½ tempos do Daniel da perseguição dos santos (Dan. 7:25;


12:7) João os aplica no Apocalipse à era cristã, depois da crucificação e
exaltação de Cristo (ver Apoc. 12:13, 14). O Apocalipse então iguala os
"3 ½ tempos" do Daniel com os "1.260 dias" (Apoc. 12:6), durante os
quais a mulher simbólica deve esconder-se no deserto. Com respeito a
isto, comentou Edward Heppenstall:
"Como o Apocalipse tem o propósito de ser uma continuação das
visões de Daniel, o cumprimento do chifre e o poder apóstata em Daniel, e o
dragão e a besta no Apocalipse, devem buscar-se na era cristã".52
Se reconhecermos as três fases principais da história da igreja em
Apocalipse 12 (vs. 1-5; vs. 6, 14; V. 17) reconheceremos que Apocalipse
As Profecias do Tempo do Fim 319
12:6 e 14 descrevem o segmento médio da história da igreja, que indica a
Idade Média. Estamos completamente de acordo com a avaliação de
Shea a respeito de Apocalipse 12:
"É clara a evidência de que esta narração apresenta um movimento
histórico contínuo durante a era cristã; portanto, é mais compatível em sua
perspectiva com o ponto de vista historicista ou histórico contínuo".53
É geralmente aceito pelos expositores que os 1.260 dias proféticos
representam a essência da perseguição dos santos, o que levou a muitos a
aplicar os 1.260 dias como uma expressão simbólica para toda a era
cristã, durante a qual são perseguidos os santos verdadeiros. Até alguns
comentadores adventistas começam a ver mais de um nível de
significado dos 1.260 dias: um concernente à qualidade essencial dos
dias e outro quanto à quantidade numérica dos dias. Roy Naden declara
com respeito aos 1.260 dias proféticos ou 3 ½ tempos :
"De acordo com nossa hermenêutica, supomos que estas cifras têm em
primeiro lugar um significado qualitativo para interpretar a visão, e só em
segundo lugar uma aplicação quantitativa possível".54

A interpretação "qualitativa" dos 1.260 dias ou 42 meses se


determina ao ter em conta a experiência da igreja no deserto como o
antítipo da peregrinação de Israel pelo deserto durante 40 anos e os 42
lugares diferentes onde acamparam (segundo Núm. 33). A igreja terá que
sofrer penúrias no "deserto" do mundo durante a era da igreja, mas
também receberá o "sustento e o amparo de Deus durante toda sua
peregrinação terrestre, assim como os 42 acampamentos do Israel, até
que entre na terra prometida".55
Embora esta interpretação "qualitativa" da experiência da igreja no
deserto seja enriquecedora e tenha algum poder de convicção, deixa sem
explicar por que a cifra de 1.260 dias tem também um cumprimento
quantitativo na história da igreja. Para compreender esta aplicação,
voltamos para estudo do princípio dia-ano.
As Profecias do Tempo do Fim 320
A Equação Dia-Ano

A lei mosaica introduziu o princípio de que um dia pode representar


um ano. O primeiro exemplo está em Levítico 25, que prescreve que o
sétimo dia, sábado, ia ser celebrado também como um "ano sabático"
para a terra, quer dizer, cada sétimo ano: "Mas no sétimo ano a terra terá
seu repouso sabático, um sábado para o Iahweh: não semearás o teu
campo nem podarás a tua vinha... Será para a terra um ano de repouso"
(Lev. 25:4, 5, BJ). Aqui a lei levítica estende a qualidade do sábado
semanal a um ano inteiro. Shea o resume assim:
"Desta maneira, existe uma relação direta entre "dia" e "ano", dado que
para ambos se aplicou a mesma terminologia, e o ano sabático posterior foi
modelado conforme o dia sabático anterior".56
A lei de Israel do ano sabático introduz assim o princípio dia-ano. O
mesmo princípio está reforçado na lei do ano do jubileu: "Contarás sete
semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete
semanas de anos te serão quarenta e nove anos" (Lev. 25:8). Esta lei
pressupõe que depois de sete semanas de anos sabáticos chegava o ano
do jubileu.
De novo o sábado semanal permanece como o modelo para um ano
inteiro de descanso e liberdade no ciclo do jubileu. Os anos sabáticos em
seus ciclos de sete anos eram proféticos do ano do jubileu. Desta forma o
princípio de dia-ano chegou a ser uma predição prática da redenção nos
rituais de adoração do Israel.
Na perspectiva profética de Israel se aplicou de formas diferentes o
princípio dia-ano. Lemos em Números 14:34: "Segundo o número dos
dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um
ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos e tereis
experiência do meu desagrado". Neste caso, dias que já tinham passado
(40) usam-se para predizer outros tantos anos de castigo para um Israel
rebelde.
As Profecias do Tempo do Fim 321
Em Ezequiel 4:6, 7 os anos de rebelião que já tinham acontecido
estão representados por 40 dias. Em ambos os casos se aplica o mesmo
princípio dia-ano, mas em maneiras diferentes. Entretanto, o testemunho
essencial do princípio dia-ano está no livro apocalíptico de Daniel. As
"setenta semanas" proféticas em Daniel 9:24-27, pelo consenso unânime
dos intérpretes judeus e cristãos, designam setenta semanas de anos (ver
Dan. 9:24), ou 490 anos reais, o que é igual a 70 anos sabáticos (70 x 7
anos) ou a 10 ciclos de jubileu (10 x 49 anos). Se com a frase "setenta
semanas" Daniel pensou em semanas de anos sabáticos, então não se
necessita a conversão dia por ano, porque 70 semanas de anos perfazem
490 anos. Só se as "setenta semanas" do Daniel 9:24 se tomam como
setenta semanas literais (70 x 7 dias) necessitar-se-ia a aplicação da
conversão de dia em ano para dar o resultado de 490 anos reais.
Entretanto, o contexto em Daniel 9 assinala a que compreendamos
anos sabáticos, porque o profeta estava refletindo sobre o significado dos
70 anos do cativeiro do povo em Babilônia, como tinha sido profetizado
por Jeremias (ver Dan. 9:2). Esses 70 anos se entendiam como anos de
castigo porque Israel tinha passado por cima os anos sabáticos para a
terra (ver 2 Crôn. 36:21; Dan. 9:10-14). O anjo interpretador prediz uma
multiplicação desses anos sabáticos (70 vezes) como o tempo que ia
passar antes que o segundo templo fosse destruído. D. Ford fez o
seguinte comentário sobre o Daniel 9:24:
" 'Setenta semanas de anos estão determinados'. Como isto é parte da
explicação literal de Daniel 8:1-14, não precisamos invocar o princípio dia-
ano, embora seja verdade que os 'anos' em hebraico estão melhor
subentendidos que declarados explicitamente".57
Freqüentemente é passado por alto o fato de que enquanto que
Daniel 8 apresenta uma profecia simbólica, Daniel 9:24-27 não
representa uma profecia simbólica e sim uma interpretação por parte do
anjo dos símbolos de Daniel 8, sem voltar a usar os símbolos. Portanto,
não devemos esperar que as "setenta semanas" sejam um símbolo mas
sim uma referência clara a 70 semanas de anos (TA; BLH: "setenta anos
As Profecias do Tempo do Fim 322
vezes sete"). Jean Zurcher relacionou as "setenta semanas" de Daniel 9
com seu contexto, e concluiu:
"Tudo o que está no texto e no contexto se refere à mensagem dos
anos sabáticos e de jubileu. A tradição judia, os talmudistas, o autor do
Seder 'Olam, e os intérpretes judeus em geral, julgaram que as semanas na
profecia de Daniel podem ser só semanas de anos. Há evidência que mostra
que os pais da igreja usaram a mesma base para interpretar as 70
semanas".58
Precisamos recordar que o conceito de um "ano sabático" está
estabelecido em Levítico 25:1-7 e que já é o resultado de uma conversão
de dia-ano. A esse respeito, W. H. Shea declara que "Levítico 25:1-7 é a
primeira passagem bíblica onde se aplica a equação dia-ano".59 Mas é
mais provável que as "setenta semanas" do Daniel 9:24 tenham sua
origem no conceito dos ciclos do jubileu de 49 anos cada um, porque um
período de jubileu também se media em termos de "semanas de anos"
(Lev 25:8).
Daniel reconheceu o princípio dia-ano ao fazer dos 490 anos reais
de Daniel 9 uma parte dos 2.300 dias de Daniel 8, ao declarar que as 70
semanas estavam decretadas – ou, literalmente, "cortadas" – para a nação
de Israel e para a cidade santa! Esta correlação de Daniel 8 e 9 contém a
necessidade lógica da equação de um dia por um ano para os 2.300 dias.
Além disso, Daniel descreve a interpretação que o anjo lhe dá de Daniel
8 em um detalhe muito maior em Daniel 11! Os "dias" de Daniel 8 são
interpretados em termos de "anos" em Daniel 11:6, 8 e 13 como parte do
tempo paralelo com o do capítulo 8.

Resumo

O livro de Daniel ensina o princípio dia-ano duas vezes: (1) Na


correlação dos capítulos 8 e 9; e (2) na correlação paralela dos capítulos
8 e 11. Esta conclusão nos leva a aplicar os 3 ½ tempos ou 1.260 dias de
Daniel e Apocalipse a 1.260 anos reais, sem ser dogmáticos a respeito de
As Profecias do Tempo do Fim 323
fixar datas precisas na história da igreja. Froom nos informa de um fato
interessante:
"Na verdade, os protestantes historicistas diferiam grandemente quanto
a quando começar e terminar o período dos 1.260 dias do anticristo, mas
todos estavam de acordo na convicção de que lhe tinha atribuído um período
de 1.260 anos, e que esse período se aproximava de sua terminação". 60
As profecias apocalípticas se cumprirão e gradualmente se
entenderão à medida que avança a história. Um cumprimento
progressivo permite uma interpretação progressiva.

Referências
Para a Bibliografia, ver nas páginas 326-330.

1 Ver Strack-Billerbeck, Kommentar zum Neuen Testament aus


Talmud und Midrasch, t. 3, p. 761.
2 Ver Ibid., t. 3, p. 760.
3 Ibid., t. 3, p. 761.
4 Ezell, Revelations on REVELATION, p. 71.
5 Aalders, Commentary on the Old Testament, p. 165.
6 Ibid., pp. 164, 167.
7 Ibid., p. 163.
8 Young, The Prophecy of Daniel, p. 150.
9 Ibid., p. 149.
10 Ibid., p. 161.
11 Ibid.
12 Ibid., p. 162.
13 João Calvino, Corpus Reformatorum, ts. 40 e 41.
14 Wood, Commentary on Daniel, p. 94.
15 Ibid., p. 95.
16 Ibid., p. 98.
17 Ezell, Revelations on REVELATION, p. 70.
18 Ibid.
19 Beasley-Murray, Revelation, p. 201.
As Profecias do Tempo do Fim 324
20 Tertuliano, On the Resurrection of the Flesh [Tratado sobre a
ressurreição da carne], cap. 24, ANF 3, p. 563; citado em Froom,
The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 1, p. 258.
21 Comentário sobre Daniel realizado por Jerônimo, p. 77.
22 La ciudad de Dios, libro XX, cap. 23; citado en José Morán, ed.,
Obras de S. Agustín: La ciudad de Dios, t. XVI-XVII. Madrid:
BAC, 1958, pp. 1508-1511.
23 Wallace, The Lord is King. The Message of Daniel, p. 129.
24 Smith, Las profecías de Daniel y el Apocalipsis. T. 1: Daniel, p. 106.
26 Gibbon, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire,
2, p. 330.
26 Schaff, History of the Christian Church, t. 3, p. 126.
27 Schaff, t. 3, p. 134.
28 Ellul, The Subversion of Christianity, cap. 2.
29 Theodosian Code, 16.1.2. ver SDA Bible Student's Source Book [O
livro fonte dos estudantes adventistas da Bíblia], entrada 1202.
30 Schaff, History of the Christian Church, t. 3, P. 142.
31 Ibid.
32 San Agustín, La ciudad de Dios, libro XX, cap. IX.2, en Morán,
Ibíd., pp. 1465- 1466.
33 Flick, The Rise of the Medieval Church, p. 169.
34 Schaff, History of the Christian Church, t. 3, P. 317.
35 Ibid., p. 319.
36 Ibid., p. 744.
37 Ibid., p. 747.
38 Pirenne, A History of Europe. From the Invasions to the XVI
Century, p. 59.
39 Ver o documento em Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t.
1, p. 931 (o itálico é meu)
40 Ibid., t, 1, p. 932.
41 Novella 131. ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 1,
pp. 513, 933.
42 Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 1, p. 935.
As Profecias do Tempo do Fim 325
43 Brezzi, The Papacy, Its Origins and Historical Evolution, pp. 65, 66.
44 4 CBA 864.
45 Ibid.
46 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 531, 787; t.
3, pp. 252, 744; t. 4, pp. 390, 394, 395, 846, 847, 849, 850.
47 4 CBA 864.
48 Birks, First Elements of Sacred Prophecy, p. 416, citado em D.
Ford, Daniel 8:14, p. A-125.
49 Shea, Estudios selectos..., pp. 62, 63.
50 D. Ford, Daniel 8:14. The Day of Atonement and the Investigative
Judgment, p. A-121.
51 Para uma análise mais detalhada, incluindo os vínculos lingüísticos
entre Daniel 11 e 12, ver Shea, "Time Prophecies...".
52 Heppenstall, "The Year-Day Principle in Prophecy", Ministry,
outubro de 1981, p. 18.
53 Shea, "Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13", p. 350.
54 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of
Revelation, p. 170.
55 Fredericks, A Sequential Study of Revelation 1-14 Emphasizing the
Judgment Motif, p. 264.
56 Shea, Estudios selectos sobre interpretación profética, p. 72.
57 D. Ford, Daniel, p. 225.
58 Zurcher, "The Year-Day Principle", Adventist Review, 5 de fevereiro
de 1981, p. 9.
59 Shea, Estudios selectos..., p. 87.
60 Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, p. 794.
As Profecias do Tempo do Fim 326
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As Profecias do Tempo do Fim 331
A MENSAGEM DO TEMPO DO FIM NA PERSPECTIVA
HISTÓRICA
Apocalipse 12-14

Há gozo no descobrimento do desenho estrutural do Apocalipse de


João. Este desenho oculto não pode discernir-se através do enfoque usual
que disseca virtualmente o livro e o divide em partes separadas ou
capítulos. O Apocalipse é uma unidade orgânica e indivisível e uma
engenhosa e equilibrada composição. A beleza de suas partes e
contrapartes chega a ser visível só à luz de sua estrutura total.
As primeiras seções do Apocalipse, em geral, desenvolvem-se mais
completamente nas últimas. Um exemplo básico disto é a sétima
trombeta de Apocalipse 11, que se reconhece amplamente como uma
antecipação ou sinopse de subseqüentes visões dos capítulos 12 a 20.
Não se pode entender a profecia da sétima trombeta (11:15-19)
adequadamente, exceto à luz das visões mais abarcantes que seguem
(caps. 12-20). Portanto, nenhum capítulo do Apocalipse deve isolar-se de
seu contexto como se fora uma revelação independente.

Análise Literária

A unidade central de Apocalipse 12 a 14 deve compreender-se à luz


dos capítulos seguintes que esclarecem as descrições simbólicas
anteriores. Por exemplo, o termo "Babilônia" ocorre pela primeira vez
em Apocalipse 14:8 [na "mensagem do segundo anjo"), sem nenhuma
explicação ou referência explicativa. Entretanto, os capítulos que
seguem, do 16 ao 19, elaboram um pouco mais o significado de
"Babilônia".
Outros exemplos são as visões do dragão vermelho com 7 cabeças e
10 chifres em Apocalipse 12 e o da besta que sobe do mar com 7 cabeças
e 10 chifres em Apocalipse 13. Uma interpretação bem fundada destes
As Profecias do Tempo do Fim 332
símbolos requer o concurso da visão da besta escarlate com 7 cabeças e
10 chifres do capítulo 17.
Em síntese, o enfoque adequado para compreender Apocalipse 12 a
14 exige uma interpretação contextual. Para captar seu significado se
necessita o contexto maior no qual se descrevem os mesmos símbolos.
Este panorama mais amplo nos leva à conclusão que Apocalipse 12 a 20
constitui uma unidade estrutural que se caracteriza por uma revelação
progressiva do próprio conflito entre o bem e o mal.
De uma maneira similar, o juízo de Deus sobre os perseguidores de
seu povo se desenvolve gradualmente nas descrições da ira de Deus em
Apocalipse 14-19. Enquanto que a mensagem do terceiro anjo nos
adverte contra o derramamento vindouro da ira de Deus "sem mistura"
(Apoc. 14:10, ákraton: "sem mistura, sem diluir", CI), os capítulos
seguintes revelam que este derramamento final da ira de Deus consistirá
nas 7 últimas pragas, "porque nelas é consumada a ira de Deus" (Apoc.
15:1; ver também 16:1-21).
Este enfoque contextual e estrutural de Apocalipse 12 a 14 é crucial
para o descobrimento do significado bíblico do conceito "Armagedom"
como a culminação das últimas pragas. Este método se constitui no
corretor das interpretações populares, mas errôneas.

A Perspectiva Teológica

Além desta análise literária, uma compreensão da mensagem de


Apocalipse 12 a 14 requer também uma perspectiva teológica. Esta
investigação indaga para encontrar a conexão de cada termo e nome
apocalíptico com o Antigo Testamento e com suas promessas e
maldições incluídas no pacto. Mais que qualquer outro escritor do Novo
Testamento, João adota palavras e conceitos hebraicos para descrever o
significado teológico da igreja de Cristo. Hoje se reconhece
universalmente o estilo hebraico do Apocalipse de João. R. H. Charles
demonstrou que João não usou a versão grega do Antigo Testamento (a
As Profecias do Tempo do Fim 333
Septuaginta ou LXX), mas sim usou o texto hebraico do Antigo
Testamento para centenas de alusões que faz a Moisés e os profetas.1
O fato de que João use também passagens do Antigo Testamento
em Apocalipse 12 aos 14 é essencial para a interpretação adequada desta
seção chave. A frase apocalíptica: "Caiu, caiu a grande Babilônia"
(Apoc. 14:8), está tirada de duas passagens proféticas fundidas que
predisseram a queda do Império Neobabilônico (Isa. 21 e Jer. 51).
Tal correspondência literária demonstra que é um indicador de uma
conexão tipológica entre a história de Israel e a história da igreja. Com
freqüência se passam por alto as conseqüências da tipologia bíblica, e no
entanto são de uma importância decisiva. Tal relação teológica prediz
não só o elevado chamado mas também o fracasso da igreja cristã. Os
princípios que devem guiar o intérprete cristão estão determinados pelo
evangelho de Cristo.2
Uma característica teológica adicional do Apocalipse é seu
fenômeno repetido dos contrastes. João esclarece características da
verdade ao contrastá-las com a falsidade. Situa o remanescente fiel do
povo de Deus acima e contra seus opositores babilônicos. Babilônia
aparece em completo contraste com a Nova Jerusalém, o Cordeiro está
em oposição à besta, e a mulher gloriosa que aparece no céu (Apoc. 12)
é contrastada com a meretriz que se senta sobre muitas águas (Apoc. 17).
Nesta linguagem figurada de contraste muitos discerniram uma paródia
irônica ou imitação burlesca da obra de Cristo. Este estilo serve ao
propósito de criar uma antítese teológica, um método útil para definir a
verdade e o engano.

Revelação Progressiva em Apocalipse 12-14

Apocalipse 12 a 14 é considerado com razão por muitos como a


pedra angular ou a visão fundamental do Apocalipse. Leão Morris
percebe "sete sinais significativos" em Apocalipse 12 a 14 que denomina
As Profecias do Tempo do Fim 334
3
"outra série de visões" no Apocalipse. Outros encontraram diferentes
subdivisões ou cenas, enquanto sustentam a unidade destes capítulos, e a
idéia de uma unidade fundamental nestes capítulos se fortalece se se
considera nesta narração a infra-estrutura e a progressão gradual do
Apocalipse para o tempo do fim.
Apocalipse 12 abrange a história total do pacto da igreja cristã. O
propósito de Apocalipse 12 vai advertir os crentes cristãos contra a
perseguição, encorajando-os a perseverar até o fim. Este capítulo
apresenta como sua visão primitiva a aclamação celestial de vitória sobre
Satanás, combinada com a celebração da tomada de posse de Cristo
como o rei legítimo do céu e da terra (vs. 7-12). Só à luz da morte
vitoriosa de Cristo na cruz declaram os céus que a guerra foi ganha e que
o acusador do povo de Cristo "foi expulso" (v. 10). A este respeito,
Naden enfatiza corretamente o seguinte:
"Os versículos 10 e 11... constituem as palavras fundamentais do
Apocalipse. No quiasmo que João apresenta, tudo o que precede vai se
ampliando para esta certeza primordial, e tudo o que segue enfatiza sua
veracidade e detalha como terminarão as últimas cenas do drama. Foi
ganha a guerra!"4
A digressão de Apocalipse 12:7-12 contempla além da história
terrestre: à origem de todo o ódio e crueldade contra a mulher que
representa o povo de Deus. Revela a dimensão profunda de todas as
perseguições contra os filhos de Deus, assinalando ao inimigo verdadeiro
da igreja e de Cristo.
Na narração vemos como uma guerra que começou no céu instiga
as guerras na terra contra o povo de Deus (Apoc. 12:7-9). Satanás iniciou
uma guerra em termos judiciais no tribunal celestial contra Deus e contra
seu arcanjo Miguel, o anjo guardião de Israel (Dan. 10:13, 21; 12:1; Zac.
3:1; Jud. 9). A guerra no céu contra Miguel era um tema familiar nos
escritos apocalípticos judeus do tempo de João.5 Esperava-se que Miguel
venceria o Belial no futuro, na batalha final pelo mundo (assim aparece
na Regra de Guerra [QM 17] de Qumran).
As Profecias do Tempo do Fim 335
Deste ponto de vista chega a ser muito significativo que João vê a
vitória de Miguel no céu já no tempo presente, de maneira que Satanás
"foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos" (Apoc. 12:9). A
vitória de Miguel é celebrada e atribuída agora a Cristo no hino celestial
de louvor e júbilo (vs. 10-12), o que dá por sentado a identidade de
Cristo e Miguel.6 Desta maneira, Apocalipse 12 prepara o cenário para o
resto do livro, que em forma progressiva amplia o conflito entre Satanás
e os seguidores de Cristo sobre a terra (Apoc, 13-19) até que se restaure
a paz eterna do paraíso (Apoc. 20-22).
Apocalipse 13 descreve em forma gráfica os triunfos temporários
do antigo dragão por meio das atividades de seus dois aliados ou agentes
terrestres: a besta que sobe do mar com 10 chifres e a besta que sobe da
terra, com dois chifres, o que suscita a urgente pergunta: Como se
relaciona Apocalipse 13 com Apocalipse 12? A resposta é de crucial
importância para entender os acontecimentos finais no livro do
Apocalipse. Um autor recente sustenta que "os eventos no capítulo 13
seguem aos do capítulo 12 em ordem cronológica".7 Por conseguinte,
projeta as visões de Apocalipse 13 ao futuro, conceito inovador que
requer um preciso e cuidadoso exame.
A afirmação de que Apocalipse 13 segue cronologicamente depois
de Apocalipse 12 se apóia sobre a hipótese de que "a história que
começou no capítulo 12 continua sem interrupção no capítulo 13". 8 Mas
esta hipótese não está justificada. Tanto em Daniel como no Apocalipse,
a seqüência das visões não tenta apresentar uma ordem cronológica. A
estrutura literária de ambos os livros apocalípticos revela uma pauta
persistente de panoramas paralelos na história do povo do pacto. As
visões de Daniel 2, 7, 8 e 11 devem entender-se como visões paralelas e
progressivas, o que se confirma ao comparar as explicações de cada
visão que dá o anjo interpretador.
O estilo paralelo das visões de Daniel é igualmente aparente no
Apocalipse de João. A série dos selos (Apoc. 6) termina com o juízo
final de Deus. A seguinte série de trombetas (Apoc. 8, 9, 11 ) abrange a
As Profecias do Tempo do Fim 336
era da igreja com uma ênfase progressiva sobre o tempo do fim (ver o
cap. IX desta obra). A visão de Apocalipse 12, onde Cristo recebe toda a
autoridade em virtude de seu sacrifício abnegado (vs. 10, 11) não pode
seguir cronologicamente depois da visão da sétima trombeta em
Apocalipse 11:15-18, onde se afirma que Cristo já começou a reinar. O
que faz Apocalipse 12 é apresentar uma sinopse de toda a era da igreja,
começando com o primeiro advento de Cristo.
As três visões dentro de Apocalipse 14 não ensinam, ao que parece,
uma ordem cronológica de cumprimento. É evidente que a tríplice
mensagem de Apocalipse 14:6-12 deve proclamar-se com antecedência à
visão do Cordeiro com seus 144.000 seguidores vitoriosos (Apoc. 14:1-
5). Por conseguinte, a visão dos 144.000 vencedores foi chamada um
interlúdio, uma "cena de obrigações e certezas do tempo do fim". 9 As
visões de castigo em Apocalipse 15 e 16 só ampliam a visão da ceifa do
mundo em Apocalipse 14:14-20, onde os justos são redimidos e os
ímpios destruídos. Do mesmo modo, Apocalipse 17, que explica com
mais detalhe o castigo de Babilônia (ver o v. 1), não segue
cronologicamente depois de Apocalipse 16, onde Babilônia já foi
destruída.
Estes exemplos devem nos alertar contra a hipótese de que
Apocalipse 13 segue a Apocalipse 12 "sem interrupção". Acima de tudo,
há dois indicadores de uma interrupção entre estes dois capítulos.
Apocalipse 12 conclui com a declaração de João: "E se pôs em pé sobre
a areia do mar" (RA; BLH: "E o dragão ficou de pé na praia" [12:18]). A
NBE traduz: "E o dragão se deteve sobre a areia do mar" (12:18). A
declaração de João a respeito desta nova colocação sobre a borda do mar
(cf. Apoc. 12:4) explica por que o dragão podia jogar de sua boca "água
como um rio" para arrastar a mulher (12:15).
A visão seguinte (Apoc. 13:1-10) revela os meios dramáticos pelos
quais o dragão perseguirá os santos e blasfemará o nome de Deus. A
declaração final de Apocalipse 12 também olha ao futuro a Apocalipse
13, capítulo que começa com uma nova visão: "E vi", o que revela
As Profecias do Tempo do Fim 337
algumas conexões importantes com a vista panorâmica que apresenta
Apocalipse 12. O primeiro elo é a frase de tempo para o período de
perseguição: quarenta e dois meses (Apoc. 13:5; cf. 12:6, 14). O mesmo
símbolo de tempo que já se usou em Apocalipse 11 para referir-se aos
períodos predeterminados de "pisar a cidade santa" (Apoc. 11:2; cf. o v.
3). Não existe nenhuma razão legítima para assumir que os símbolos de
tempo equivalentes são diferentes períodos de tempo. Uma nova visão
não sugere em forma automática uma seqüência cronológica com a visão
prévia. O contexto imediato indica se uma nova visão amplia a anterior
ou continua a narração histórica. Portanto, devemos rechaçar a hipótese
de que a visão de Apocalipse 13 continua a narrativa do capítulo 12 "sem
interrupção".

A Guerra Contra os Santos

Um segundo indicador de que Apocalipse 12 se amplia em forma


adicional em Apocalipse 13 é a correspondente guerra contra os santos
que aparece em ambos os capítulos. Apocalipse 12 prediz duas guerras
consecutivas contra o povo de Deus: a primeira nos versículos 6 e 14-16,
e a segunda no versículo 17. A primeira guerra se caracteriza pelo
período simbólico de 1.260 dias e 3 ½ tempos (vs. 6, 14), o qual
estabelece uma conexão definida com Daniel 7:25. Esta conexão
daniélica requer a tela de fundo da visão de longo alcance de Daniel 7.
Revela que os 3 ½ tempos ou 1.260 dias de Apocalipse 12 devem
reconhecer-se como um período de supremacia do chifre pequeno de
Daniel 7 e não da Roma pagã. Portanto, esses 1.260 dias se referem aos
séculos de escuridão da Idade Média, quando muitos milhares de pessoas
foram perseguidas e martirizados pelo suposto crime de "heresia".
Apocalipse 13 começa com a visão da besta que sobe do mar, com
10 chifres, que conecta esta visão sem lugar a dúvidas com a descrição
de Daniel 7. A besta do mar incorpora as 4 bestas de Daniel (Apoc. 13:1,
2), indicando com isso o progresso do tempo até as visões de João. A
As Profecias do Tempo do Fim 338
besta do mar exerce sua autoridade contra os santos durante "42 meses"
(vs. 5-7). Estes dois característicos distintivos (a guerra contra os santos
e o período de tempo) correspondem exatamente com os que aparecem
em Daniel 7 e em Apocalipse 12. Portanto, devem identificar-se
mutuamente.
Em Apocalipse 12, a guerra final contra os santos é denominada a
guerra do dragão contra "os restantes da sua descendência, os que
guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus" (Apoc.
12:17). O significado desta breve declaração de guerra se amplia
adicionalmente na última visão de Apocalipse 13, visão que mostra
como uma besta de dois chifres subiu da terra como o segundo aliado do
dragão. Esta besta terrestre exercerá sua autoridade para impor pela força
a adoração da besta rediviva em todo o mundo (13:12-14). Esta visão
amplia assim a guerra final contra o fiel povo remanescente de Deus
(12:17). Prediz a imposição universal de uma marca especial, que é "o
nome da besta ou o número de seu nome" (13:17).
A guerra final contra a igreja remanescente que apresenta
Apocalipse 13:11-17 não é outra coisa senão a amplificação de
Apocalipse 12:17. Esta perseguição dos seguidores de Cristo é, no
momento, uma profecia não cumprida, mas sua extensão universal e seu
lugar culminante na história humana coloca esta guerra religiosa como o
centro da mensagem de Deus para os últimos dias tal como se acha em
Apocalipse 14.

O Último Convite de Deus

A tríplice mensagem de Apocalipse 14:6-12 representa o chamado


final de Deus a um mundo que se rebelou contra seu Criador, mensagem
que constitui a carga central de todo o livro do Apocalipse e transmite
um sinal de alerta à geração que vive no tempo do fim. Ao mesmo
tempo, Apocalipse 14 contém a maldição mais espantosa que jamais se
pronunciou contra os seres mortais: a ira de Deus sem mistura alguma de
As Profecias do Tempo do Fim 339
misericórdia (14:9-11), e a tranqüilizadora segurança da presença de
Cristo para os vencedores (vs. 1-5). É importante notar que a mensagem
de Apocalipse 14:9-12 corresponde precisamente com a perseguição que
levará a cabo a besta do mar em Apocalipse 13:15-17. Uma comparação
de ambas as passagens mostra o paralelismo histórico:

APOCALIPSE 13:15-17 APOCALIPSE 14:9-11


"E lhe foi dado comunicar fôlego à "Seguiu-se a estes outro anjo, o
imagem da besta, para que não só terceiro, dizendo, em grande voz: Se
a imagem falasse, como ainda alguém adora a besta e a sua imagem
fizesse morrer quantos não e recebe a sua marca na fronte ou
adorassem a imagem da besta. sobre a mão, também esse beberá do
vinho da cólera de Deus, preparado,
16 A todos, os pequenos e os
sem mistura, do cálice da sua ira, e
grandes, os ricos e os pobres, os
será atormentado com fogo e enxofre,
livres e os escravos, faz que lhes diante dos santos anjos e na presença
seja dada certa marca sobre a mão do Cordeiro. A fumaça do seu
direita ou sobre a fronte, para que tormento sobe pelos séculos dos
ninguém possa comprar ou vender, séculos, e não têm descanso algum,
senão aquele que tem a marca, o nem de dia nem de noite, os
nome da besta ou o número do seu adoradores da besta e da sua imagem
nome". e quem quer que receba a marca do
seu nome".

Estas passagens paralelas demonstram que a tríplice mensagem de


Apocalipse 14:6-12 não segue cronologicamente depois de Apocalipse
13, mas sim se refere ao mesmo período. Deus responde imediatamente
para fazer frente ao desafio final de Satanás. De fato, adverte a igreja da
prova final de sua fé. A visão da colheita e a colheita de uvas da terra em
Apocalipse 14:14-20 segue em ordem cronológica depois do tempo da
tríplice mensagem de Apocalipse 14:6-12.
A visão dos 144.000 santos vitoriosos que estão de pé com o
Cordeiro sobre o monte Sião encaixa na conclusão do conflito final. A
As Profecias do Tempo do Fim 340
composição literária dos capítulos 12 a 14 mostra duas estruturas
paralelas, como pode ver-se no diagrama seguinte:

O PARALELISMO PROGRESSIVO DE APOCALIPSE 12-14


APOCALIPSE 12
O DRAGÃO faz guerra
contra a mulher (vs. 1-5)
A mulher foge ao APOCALIPSE 13
deserto por 1.260 dias O dragão usa a BESTA DO
MAR coroada com 10
(V. 6).
chifres para fazer guerra
contra os santos durante
42 meses (vs. 1-10).
No céu:
Louvor pela entronização
de Cristo (vs. 7-12).

A mulher está no APOCALIPSE 14


deserto por 3 ½ VISÃO PRÉVIA dos
santos vitoriosos sobre o
tempos (vs. 13-16).
monte Sião (vs. 1-5).
O dragão faz guerra Finalmente, uma BESTA A ADVERTÊNCIA DO TEMPO
contra o REMANESCENTE DA TERRA com dois DO FIM dá como resultado
da descendência da chifres semelhantes aos de que haja vencedores sobre
mulher, os que "guardam um cordeiro impõe a a MARCA DA BESTA. São
os mandamentos de MARCA DA BESTA em os que "guardam os
Deus e têm o testemunho uma escala global (vs. 13- mandamentos de Deus e
de Jesus" (V. 17) 18) têm a fé de Jesus" (vs. 6-
12).
A dupla colheita do
mundo por ocasião da
segunda vinda (vs. 14-
20)
As Profecias do Tempo do Fim 341
Olhando retrospectivamente as sete visões de Apocalipse 12 a 14,
concluímos que estes três capítulos estão inextricavelmente unidos e
mostram uma ênfase progressiva sobre os acontecimentos do tempo do
fim. As correspondências temáticas que há nestes três capítulos mostram
conexões intencionais que repetem e ampliam as visões prévias.
Apocalipse 13 não inclui o panorama total do capítulo 12, mas
começa e amplia a seção da perseguição religiosa dos 1.260 dias de
Apocalipse 12:6 e 14, e depois avança até o conflito final do versículo
17, ampliando-o com a marca da besta (Apoc. 13:13-18).
Apocalipse 14 apresenta a resposta codificada de Deus ao conflito
do tempo do fim de Apocalipse 12 e 13, insistindo com os santos a ser
vencedores sobre a besta e sobre sua imagem (cf. Apoc. 13:15-17 e 14:9-
11). O resumo de Apocalipse 14:12 mostra uma correspondência
surpreendente com Apocalipse 12:17. Ambas as passagens que se
enfocam no tempo do fim, identificam os santos que são fiéis a Deus
como os que guardam os mandamentos de Deus e perseveram na fé de
Jesus (Apoc. 12:17; 14:12). Estas conexões indicam que o propósito dos
capítulos 12 a 14 não é apresentá-los como seqüências ininterruptas, mas
sim como composições paralelas cada uma das quais se concentra mais
de perto sobre os acontecimentos finais da era da igreja.
Só quando se afirma a infra-estrutura de Apocalipse 12 a 14,
podemos proceder com confiança em relacionar estas descrições
apocalípticas com o contexto mais amplo do Apocalipse (especialmente
com Apoc. 15-19) e com o contexto maior do Antigo Testamento e do
Novo Testamento, metodologia que pode nos proteger contra algumas
das tergiversações que tanto abundam hoje. Estamos de acordo com a
conclusão do William G. Johnsson: "A interpretação de Apocalipse 12 a
14 estará determinada em grande medida pelas decisões que tenhamos
alcançado a respeito da natureza e a estrutura do livro, antes de examinar
estes capítulos".10
As Profecias do Tempo do Fim 342
Visão Divina da Era da Igreja: Apocalipse 12

As descrições simbólicas de Apocalipse 12 apresentam uma sinopse


ou sumário de todo o curso da igreja de Cristo até o próprio fim. Os
conceitos criadores das visões de João devem compreender-se sobre o
pano de fundo da história do pacto do Israel. A igreja de Cristo é um
novo Israel, o povo messiânico de Deus, por isso o conflito entre o Israel
e seus inimigos se aplica agora ao povo do Messias.
A visão central em Apocalipse 12:7-12 transcende incluso a esfera
política e as hostilidades. Explica as perseguições dos governos políticos
contra os cristãos como instigadas pelo ódio que Satanás tem contra
Cristo e Deus, sendo assim o reflexo terrestre de um conflito celestial.
Desta maneira, a opressão do povo messiânico se coloca dentro do
contexto de uma guerra cósmica entre o céu e a terra.
Como símbolo do mal, identifica-se imediatamente ao grande
dragão vermelho como a "antiga serpente, chamada o diabo e Satanás,
que engana todo o mundo ['que extravia a terra inteira', NBE]" (Apoc.
12:9). A referência à "antiga serpente" alude diretamente ao relato de
Gênesis 3, onde Eva foi enganada pela serpente no paraíso. Por
conseguinte, a inimizade feroz do dragão-serpente contra a mulher e sua
descendência em Apocalipse 12 deve entender-se como a aplicação
avançada de Gênese 3:15, que se refere à hostilidade sobrenatural contra
o Messias e o Israel messiânico.
Além disso, João combina Moisés e os profetas em seu simbolismo
criador. Progride desde a única mulher, Eva, até uma mulher que
simboliza Israel como o povo do pacto de Deus, em harmonia com a
tradição profética. Isaías descreveu em forma consistente a Israel "como
a mulher grávida próxima a dar a luz" (Isa. 26:17, CI; ver também 54:1,
6, 13). Por conseguinte, João não se concentra sobre Maria, a mãe de
Jesus, e sim sobre o povo do pacto de Deus. Em particular, João se
alonga sobre o Messias de Israel e sobre o povo do novo pacto do
Messias: a igreja de Cristo. É essencial a verdade de Jesus de Nazaré
As Profecias do Tempo do Fim 343
como o Messias de Israel enviado por Deus, já que se ele for o Messias
da profecia, então a igreja de Cristo é o verdadeiro Israel de Deus,
verdade que é o ponto essencial de todo este capítulo e a premissa sobre
a qual está apoiada o livro do Apocalipse (ver Apoc. 1:1, 2, 9; 5:5, 6, 9,
10).
João também considera o inimigo sobrenatural de Cristo e de sua
igreja à luz da tradição profética. Estava bem relacionado com esta visão
apocalíptica de Isaías:
"Naquele dia, o Senhor castigará com a sua dura espada, grande e
forte, o leviatã, a serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o
dragão que está no mar" (Isa. 27:1).
As visões do Apocalipse projetam esta tradição profética de Israel à
fé cristã e a aplicam ao fim da era cristã. O fim de Satanás virá só no fim
do milênio que está predito em Apocalipse 20 (v. 10). Embora Satanás
pode infligir muito mal ao mundo e em particular à igreja de Cristo, a
segurança de sua derrota definitiva e a de seus aliados sempre animou
aos cristãos perseguidos.
Cristo prometeu que "as portas do Hades [inferno] não prevalecerão
contra ela [sua igreja]" (Mat. 16:18). Portanto a igreja deve contemplar
sua própria história à luz da história de Israel, já que a igreja representa o
remanescente fiel de Israel. Seu Messias ressuscitado voltará para matar
ao dragão-serpente. Entretanto, Apocalipse 12 nos dá a grande surpresa
de que a vitória de Cristo sobre o dragão já foi obtida! Como? Por sua
vida vitoriosa, sua morte expiatória, sua ressurreição e sua ascensão ao
trono que está nos céus. Este evento de Cristo constitui a razão para a
expulsão de Satanás da presença de Deus e o motivo do canto de vitória
no céu (Apoc. 12:7-12). William G. Johnsson chama o interlúdio de
Apocalipse 12:7-12, "a contraparte celestial da vitória de Cristo na cruz...
Desempenha a função de explicar a natureza do conflito entre o dragão e
a mulher descrito [em Apoc. 12]".11 Precisamos conectar as duas
passagens seguintes:
As Profecias do Tempo do Fim 344
JOÃO: "Agora veio a salvação, o poder, e o reino de nosso Deus, e
a autoridade de seu Cristo; porque foi arrojado fora [ebléthe: 'foi
expulso'] o acusador de nossos irmãos, que os acusava diante de nosso
Deus dia e noite" (Apoc. 12:10).
JESUS "Agora é juízo deste mundo; agora, será expulso
[exblethésetai: 'expulso fora'] o príncipe deste mundo" (João 12:31).
À luz da explicação que Jesus dá de sua morte, podemos entender
que Apocalipse 12:7-12 anuncia a derrota irrevogável de Satanás por
meio da vitória de Cristo na cruz. Diante de Deus, no sentido legal,
Satanás já foi "esmagado". Por isso Apocalipse 12 se centra na morte, na
ressurreição e na entronização de Cristo. Deste ponto de vista é como
João situa a batalha cósmica pela soberania do mundo entre Deus e
Satanás, um conflito que começou no jardim do Éden (Apoc. 12:7) e
continua até a segunda vinda (14:14-20). O papel que desempenha a
igreja se vê fundamentalmente como uma luta espiritual contra as
derrotadas forças do mal. Sua aparente derrota pelo martírio é à vista de
Deus a verdadeira participação na vitória de Cristo na cruz do Calvário:
"Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da
palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não
amaram a própria vida" (Apoc. 12:11). Inclusive se apresenta à igreja do
tempo do fim como o exército do Cordeiro, o conquistador messiânico
do mal (14:1-5). A igreja triunfa sobre a besta por meio do martírio e do
testemunho fiel.

A Contínua História da Salvação em Apocalipse 12

Embora possamos subdividir Apocalipse 12 em formas diferentes,


no contínuo-histórico do capítulo discernimos três seções distintas: (1)
vs. 1-5; (2) vs. 6 e 13-16; (3) v. 17. O tema comum destas três seções é a
guerra do dragão contra a mulher que permanece fiel a Deus:
"Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a
lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que, achando-
As Profecias do Tempo do Fim 345
se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz...
Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro
de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono" (Apoc.
12:1, 2, 5).
O dinamismo propulsor de Apocalipse 12 é a progressão contínuo-
histórica das três seções. Primeiro aparece a descrição dramática do
antigo povo do pacto de Deus, Israel, sob o clássico símbolo hebraico de
uma mulher que dá à luz muitos filhos e eventualmente dá à luz o
Messias (ver Isa. 54; 66:7-11 ). A mulher simbólica de Isaías está vestida
com a luz da glória de Jeová (Isa. 60:1, 2, 19, 20; ver Sal. 104:2).
Apocalipse 12 continua e desenvolve este símbolo do pacto com os
sinais cósmicos do Sol, a Lua e as doze estrelas, de maneira que a
mulher radiante de Apocalipse 12 "parece ser o complemento terrestre
do anjo de Apocalipse 10".12
Embora a tradição da igreja católica romana vê a mulher de
Apocalipse 12 como um símbolo de Maria, a mãe de Jesus, influentes
eruditos católicos do Novo Testamento admitem já que a mulher de
Apocalipse 12 é "acima de tudo uma personificação do povo de Deus". 13
Também Josefina Massyngberde Ford reconhece: "Embora a mulher
pode ser uma pessoa, um estudo do antecedente do Antigo Testamento
sugere que é um personagem coletivo, semelhante às duas testemunhas.
No Antigo Testamento a imagem de uma mulher é um símbolo clássico
para Sião, Jerusalém, e para Israel, quer dizer, Sião cujo marido é Jeová
(Isa. 54:1, 5, 6; Jer. 3:20; Ezeq. 16:8-14; Ouse. 2:19, 20)".14
Assim chega a ser patente que as imagens simbólicas de João não
devem entender-se como tiradas da mitologia pagã mas sim do Antigo
Testamento. Nesta adoção das imagens hebraicas, Deus transformou
criativamente o marco do antigo pacto em um marco do novo pacto no
qual todos os participantes do pacto e seus inimigos estão condicionados
religiosamente por Jesus e o Messias. Esta progressão da salvação
histórica de Israel para a igreja de Cristo procede do próprio Deus do
pacto (ver Heb. 1:1, 2; Apoc. 1:1). A unidade essencial do Israel de Deus
As Profecias do Tempo do Fim 346
e da igreja de Cristo é a hipótese fundamental para a interpretação cristã
do livro do Apocalipse. Jesus previu só "um rebanho" pelo qual ele,
como seu pastor, poria sua vida (João 10:14-16), e só um banquete final
(Mat. 8:11). Paulo previu só uma oliveira cultivada, na que todos os
israelitas espirituais e os cristãos estão unidos (Rom. 11:17-24).
Descreveu a igreja como uma "virgem pura" que quer apresentar a seu
"marido, Cristo" (2 Cor. 11:2).
A visão de Apocalipse 12 alerta à igreja sobre o fato de que é em
todo momento o objeto da fúria de Satanás, o qual é aqui descrito como
um dragão vermelho, com "sete cabeças e dez chifres, e em suas cabeças
sete diademas" (v. 3).
Esta imagem monstruosa, que aparece em Apocalipse 12 e que se
repete nos capítulos 13 e 17, é um desenvolvimento da quarta besta de
Daniel 7, o que implica que Daniel 7 é uma das raízes principais de
Apocalipse 12, 13 e 17. Daniel 7 é gradualmente desdobrado e ampliado
em Apocalipse 12, 13 e 17 para a era da igreja.
Sobre a base de Apocalipse 17:9 e 10, chega a ser claro que as sete
cabeças do dragão "representam reinos por meio dos quais Satanás agiu
através dos séculos para oprimir o povo de Deus".15 Daí o dualismo
radical que se desenvolve no Apocalipse de João, entre a adoração
verdadeira e a falsa por um lado, e a ênfase sobre o duplo sinal do povo
fiel de Deus que se apega à palavra de Deus e o testemunho do Jesus
Cristo por outro (1:2, 9; 6:9; 12:17; 14:12; 20:4). Portanto, João coloca a
mulher fiel de Apocalipse 12 em notório contraste com a mulher caída e
sedenta de sangue de Apocalipse 17. O significado completo tanto de
Apocalipse 12 como 17 chega a ser claro só se, por meio de um estudo
meticuloso, comparam-se estas visões de contraste,

I. O Messias prometido chegou a Israel


A primeira seção de Apocalipse 12 leva a história de Israel até o
primeiro advento do Messias-Rei (v. 5). O ponto central muda
imediatamente de seu nascimento à sua entronização como rei no céu.
As Profecias do Tempo do Fim 347
João alude em forma específica à promessa messiânica do Salmo 2,
declarando: "Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as
nações com cetro de ferro" (Apoc. 12:5; cf. Sal. 2:9). Neste momento,
João aponta para adiante, à consumação final desta promessa messiânica
no segundo advento de Cristo que de novo volta a descrever em
Apocalipse 19:15. Antes o apóstolo Paulo tinha explicado que a ascensão
de Jesus ao trono de Deus foi de posse de seu reino espiritual como
Messias. Assim o proclamou aos judeus no Antioquia do Pisídia:
"Que a promessa que Deus fez a nossos pais cumpriu-a a nós,
ressuscitando a Jesus. Assim estava escrito no salmo segundo: Tu és meu
filho, eu hoje te gerei" (At. 13:33, NBE; cita Sal. 2:7).
Esta verdade fundamental da fé apostólica a respeito da soberania
suprema de Cristo está exposta novamente em Apocalipse 12:5 como
garantia do vindouro cumprimento do tempo do fim do Salmo 2 em
Apocalipse 19. A narração de Apocalipse 12 continua descrevendo, em
termos simbólicos, o tempo que a igreja deve estar no deserto.

II. A perseguição da igreja de Cristo


"A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado
lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias"
(Apoc. 12:6).
Enquanto que Apocalipse 12 tem em vista toda a extensão do
período entre os dois adventos, os "1.260 dias" proféticos ou "3 ½
tempos" (Apoc. 12:6, 14) concentram-se especificamente sobre os
tempos de perseguição. São tempos quando a igreja fiel tem que fugir da
vista do público ao "deserto" ou às regiões despovoadas do mundo.
Embora alguns têm proposto que os 1.260 dias representam toda a era
cristã entre os dois adventos de Cristo, outros assinalaram que
Apocalipse 13 usa o símbolo de tempo equivalente de "42 meses" como
os tempos da ira do anticristo (Apoc. 13:5). Por conseguinte, G. R.
Beasley-Murray conclui dizendo: "Isto não caracteriza o período da
igreja entre a ascensão e a parousia de Cristo".16
As Profecias do Tempo do Fim 348
Esta conclusão fica confirmada quando damos uma olhada mais
precisa ao lugar onde aparece a mesma frase em Daniel 7. O "chifre
pequeno" que perseguiria os santos por "3 ½ tempos" surgiria só depois
da desintegração do Império Romano, e depois que se estabelecessem os
"10 chifres" (ver Dan. 7:8, 24, 25). A divisão do Império Romano não
ocorreu até 476 d.C. Por conseguinte, o tempo do anticristo começou
depois de 476 e seus 3 ½ tempos ou 1.260 dias não se estendem sobre
toda a era cristã. O período dos 3½ tempos não começa nos dias da igreja
apostólica nem sequer durante a época do Império Romano. Começa
depois que Roma papal sucedeu Roma imperial e seu regime totalitário
começou a dominar as nações.
A igreja verdadeira em Apocalipse 12 se caracteriza não por
catedrais esplêndidas com obras de arte primorosas ou por uma sucessão
contínua de bispos ordenados. A verdadeira sucessão apostólica se
distingue pela fidelidade à fé, quer dizer, aos ensinos de Cristo e de seus
apóstolos (Apoc. 12:17; 14:12). Ellen White explicou este conceito com
uma profunda simplicidade:
"Assim a sucessão apostólica não se baseia na transmissão de
autoridade eclesiástica, mas nas relações espirituais. Uma vida influenciada
pelo espírito dos apóstolos, a crença e ensino da verdade por eles ensinada,
eis a verdadeira prova da sucessão apostólica".17
A adoração aceitável a Deus pode encontrar-se na casa de adoração
mais singela. Deus olhe primordialmente o coração do homem. Procura
os que o adoram no Espírito Santo e na verdade de sua palavra (ver João
4:23).
Apocalipse 12 nos diz que o que mais importa é seguir a palavra de
Deus e saborear o companheirismo santificador e salvífico de Cristo dia
após dia, algo que se experimenta quando dois ou três estão reunidos no
nome de Cristo e se submetem a sua obediência (Mat. 18:20; 28:18-20).
Paulo assegura que "o Senhor conhece os que lhe pertencem" (2 Tim.
2:19).
As Profecias do Tempo do Fim 349
A essência dos 1.260 dias simbólicos é evidente além de qualquer
dúvida: perdeu-se de vista o evangelho de Cristo devido às demandas
políticas e religiosas do papado. Assim foi descrita a escuridão cada vez
maior que houve na Europa:
"De Cristo, o verdadeiro fundamento, transferiu-se a fé para o papa de
Roma. Em vez de confiar no Filho de Deus para o perdão dos pecados e
para a salvação eterna, o povo olhava para o papa e para os sacerdotes e
prelados a quem delegava autoridade. Ensinava-se-lhe ser o papa seu
mediador terrestre, e que ninguém poderia aproximar-se de Deus senão por
seu intermédio; e mais ainda, que ele ficava para eles em lugar de Deus e
deveria, portanto, ser implicitamente obedecido. Esquivar-se de suas
disposições era motivo suficiente para se infligir a mais severa punição ao
corpo e alma dos delinqüentes".18
Notavelmente, a ênfase profética de Apocalipse 12 não está na
perseguição da mulher e sua descendência mas sim em sua lealdade
permanente e sua fé constante em Deus. O Pastor celestial nunca estará
sem seu rebanho; o Rei nunca estará sem seus servos leais. Em cada
crise, Cristo proporcionará um remanescente fiel de seu povo do pacto,
assim como os 12 apóstolos foram o núcleo do verdadeiro remanescente
de Israel (ver Rom. 11:5).
Deus proveu uma ajuda especial quando o dragão serpente arrojou
"água como um rio, a fim de fazer com que ela [a mulher] fosse
arrebatada pelo rio" (Apoc. 12:15). A ameaça das forças hostis e mortais
sob a imagem de correntes de água, ou de um rio transbordado ou uma
inundação, foi uma parte essencial do simbolismo profético de Israel (ver
Isa. 8:5-8; Dan. 11:40; Naum. 1:8; Jer. 47:1, 2). Entretanto, deu-se a
promessa: "A terra, porém, socorreu a mulher; e a terra abriu a boca e
engoliu o rio que o dragão tinha arrojado de sua boca" (Apoc. 12:16).
Não é possível recuperar o quadro completo dos crentes em Cristo e
em seu evangelho que sobreviveram durante a Idade Média devido à
destruição premeditada dos registros por parte dos poderes inimigos de
plantão. Publicou-se um esboço histórico valioso das seitas populares e
dos movimentos dissidentes na Europa Ocidental entre os séculos XI e
As Profecias do Tempo do Fim 350
19
XIII. Também os livros sobre a Inquisição publicados pelo quáquero
Henry Charles Lea são uma fonte confiável de informação a respeito da
história da intolerância e perseguição da igreja católica romana.20
Devido à sua emancipação da dominação da igreja, a sociedade
moderna pôs um fim à perseguição e execução de pessoas por causa de
sua fé ou religião pessoal. As leis seculares de vários países "engoliram"
de maneira geral a intolerância religiosa e as excomunhões da sociedade
medieval. Na verdade, a "terra" veio em resgate dos crentes que seguiam
a Cristo. A profecia começou a cumprir-se pelo tempo depois da época
de escuridão da Idade Média. Mas Apocalipse 12 prediz mais que
tolerância. Uma perseguição renovada e feroz da igreja de Cristo do
tempo do fim é o tema com o que conclui Apocalipse 12.

III. Visão prévia da igreja do tempo do fim


"E o dragão irou-se contra a mulher e foi fazer guerra ao resto da sua
semente, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de
Jesus Cristo" (Apoc. 12:17).
Esta passagem final da perspectiva geral da história da igreja em
Apocalipse 12 é de importância decisiva para o povo de Deus do tempo
do fim. Informa-lhes que Satanás os escolheu como alvo de seu objeto
especial de ódio e lhes recorda as verdades básicas que são a pedra de
toque de sua fé, às que devem apegar-se e salvaguardar. Qual é então a
interpretação responsável pela frase "o resto [tom loipón] da sua
semente?" A maioria dos exegetas concluem que "o resto" define a todos
os crentes em Cristo. Esta opinião indica que em Apocalipse 12:17 não
se apresenta um enfoque sobre o povo remanescente final na era cristã. O
termo "resto" [loipós] é usado no Apocalipse verdadeiramente no sentido
mais amplo dos "outros" ou os "que ficam" (8:13; 9:20; 11:13), mas
também no sentido eloqüente de um fiel remanescente que suporta a
prova do céu (2:24, 25; também cf. 3:4, 5). Não pode haver dúvida de
que a frase "o resto da sua semente" em Apocalipse 12:17 encaixa
precisamente na categoria de um fiel remanescente de Deus, porque
As Profecias do Tempo do Fim 351
estão definidos pela prova padrão dos que são fiéis no Apocalipse: "Os
que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus
Cristo" (Apoc. 12:17; cf. 1:2, 9).
Além disso, a guerra final de Satanás contra estes fiéis se amplia em
Apocalipse 13 e 14. O desenvolvimento de Apocalipse 12 nos capítulos
13 e 14 revela que os cristãos do tempo de fim terão que enfrentar a
prova final do anticristo (Apoc. 13:15-17) e que um remanescente
mundial permanecerá firme, os que de novo são caracterizados como os
que "guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (14:12). O
"resto" da descendência da mulher em Apocalipse 12:17 está em
correspondência com o povo remanescente de Deus no fim dos tempos
que se descreve em Apocalipse 14:12.
Este paralelo de Apocalipse 12:17 e 14:12 situa Apocalipse 12:17
dentro do contexto imediato do marco do tempo do fim descrito nos
capítulos 12 a 14. Proporciona o argumento decisivo para a interpretação
de Apocalipse 12 com um enfoque no último remanescente dos fiéis de
Deus nesta idade, precisamente antes que Cristo retorne em glória (em
14:14-20).
Uma questão importante é saber se o último remanescente do povo
de Deus será um povo remanescente institucionalizado ou simplesmente
um grupo invisível, esparso ao longo das igrejas cristãs nominais. Ou é
uma combinação de ambos? A chamada celestial a Babilônia em
Apocalipse 18, "sai dela, povo meu..." (v. 4), sugere que os filhos de
Deus estão esparramados em todas partes da Babilônia mundial (vs. 1-4).
Entretanto, esta chamada indica ao mesmo tempo a uma voz distinta
e comissionada pelo céu que reúne no monte Sião, o símbolo tradicional
da comunidade da fé, o povo de Deus que está esparso em Babilônia
(Apoc. 14:1-5). Esta comunidade do tempo do fim está representada
especificamente pelos três anjos de Apocalipse 14:6-12. O alcance
mundial desta voz de reavivamento e reforma requer um corpo de
crentes unidos que iniciem e sustentem uma missão universal sobre a
base de uma plataforma comum de crenças fundamentais, tal como se
As Profecias do Tempo do Fim 352
resumem em Apocalipse 12:17 e 14:12. Por conseguinte, o povo
remanescente de Deus é ao mesmo tempo um povo espiritual e uma
comunidade de igreja organizada.
Entretanto, o aspecto institucional nunca foi garantia para que a
igreja seja espiritual, como pode ver-se nas cartas de Cristo às sete
igrejas de Apocalipse 2 e 3. As atitudes não espirituais das igrejas em
Tiatira e Laodicéia em particular, dão sobradas razões como para não
confiar em ser paroquiano de qualquer igreja só por sê-lo. Em última
análise, o povo remanescente de Deus se caracteriza por sua união
espiritual com o Cordeiro de Deus (Apoc. 14:1-4). Tal espiritualidade
centrada em Cristo não exclui mas sim inclui a formação de uma
comunidade do pacto entre todas as nações.
Cristo incluso orou para que todos os que acreditassem nele fossem
um e procurassem a unidade perfeita entre eles (João 17:20-23). Cristo
reúne a todos seus seguidores na comunidade da fé, em "um rebanho"
baixo "um pastor" (10:16). Cristo sancionou a natureza institucional de
sua igreja desde o começo, outorgando-lhe uma missão comunal e
dando-lhe autoridade para que exerça certa disciplina entre seus
membros (ver Mat. 18:15-20; 28:18-20). Mas o interesse final de Cristo
é que cada membro individual da igreja reflita sua semelhança (Apoc.
3:14-22).

Uma igreja assim pode ser conhecida, não por suas afirmações
vangloriosas de santidade ou autoridade, mas sim por dois sinais
apostólicos da verdadeira adoração: por sua obediência aos
mandamentos de Deus e por apegar-se ao testemunho do Jesus (Apoc.
12:17; 14:12). O povo que adora a Deus com estas duas características
está em uma plataforma comum e adora em harmonia básica com a
igreja dos apóstolos. A igreja remanescente está segura de parecer-se
com a igreja apostólica em suas crenças fundamentais e em sua adoração
espiritual de Deus.
As Profecias do Tempo do Fim 353
As Duas Características Permanentes da Igreja Verdadeira

O Apocalipse de João menciona repetidamente que a igreja


verdadeira de Cristo persevera em duas doutrinas básicas de fé e
moralidade, que estão descritas seis vezes, com ligeiras variações, em
Apocalipse 1:2, 9; 6:9; 12:17; 14:12 e 20:4. Esta dupla descrição da
adoração verdadeira desempenha-se como a norma divina para definir a
diferença entre a adoração verdadeira e a apóstata. A esfera de ação
histórica destes textos compreende toda a era cristã, não um segmento
exclusivo de tempo.
Um paralelo surpreendente desta dupla característica distintiva da
igreja pode ver-se na prova de Isaías para detectar a verdade e o engano:
"À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão
a alva" (Isa. 8:20). Esta dupla frase indica que a autoridade final dentro
do Israel era a união de Moisés e os profetas (ver 2 Reis 17:13).
Em Mateus 5:17, Jesus se referiu a esta dupla autoridade em Israel,
("Não pensem que vim para anular a lei ou os profetas"), e outra vez em
sua parábola do homem rico e Lázaro: "Respondeu Abraão: Eles têm
Moisés e os Profetas; ouçam-nos" (Luc. 16:29; ver também 24:27).
Cristo anunciou que o cânon de autoridade de Israel chegava até João
Batista (Luc. 16:16). Filipe e Paulo igualmente resumiram o Antigo
Testamento como "a lei e os profetas" (João 1:45; Rom. 3:21).

Estas duas partes constitutivas da Bíblia Hebraica formavam a


norma canônica para distinguir entre a verdade e o engano no antigo
Israel. A unidade das Escrituras hebraicas até pode resumir-se em um
termo: a Lei, como pode ver-se na declaração do Jesus: "Não está escrito
na vossa lei: Eu disse: sois deuses?" (João 10:34, que cita Sal. 82:6).
Entretanto, o testemunho pessoal de Jesus a Israel ampliou o antigo
cânon de autoridade divina:
"Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem
As Profecias do Tempo do Fim 354
constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo"
(Heb. 11:1, 2).

Como o Filho de Deus é imensamente maior que qualquer profeta,


assim o testemunho de Cristo se desempenha como a autoridade final
para interpretar a lei e os profetas do Israel. Jesus declarou de si mesmo:
"Quem vem das alturas certamente está acima de todos... e testifica o que
tem visto e ouvido; contudo, ninguém aceita o seu testemunho" (João
3:31, 32). O testemunho do Jesus é a palavra de Deus, porque Deus deu a
Cristo o Espírito "sem medida" (v. 34, CI; BJ; ver Isa. 42:1).
Jesus possuiu o Espírito de profecia na plenitude divina. Portanto, o
testemunho de Jesus colocou a Israel ante a prova final da fé na
revelação progressiva da Palavra de Deus, testemunho que foi codificado
nos quatro Evangelhos do Novo Testamento. Também as cartas
apostólicas contêm a interpretação normativa do evangelho, porque estão
centradas em Cristo e cheias do Espírito.
Paulo foi o apóstolo que deu a esta frase, "o testemunho [to
martúrion] de Cristo", seu conteúdo e significado definitivamente
evangélico. Escreveu à igreja de Corinto que em vós "confirmou-se o
testemunho de Cristo" devido a seus muitos dons do Espírito (1 Cor. 1:6,
CI). Paulo emprega aqui a frase "no sentido de evangelho, de
proclamação da mensagem de salvação de Cristo".21 Paulo identificou o
"testemunho de Cristo" completamente com "o testemunho de Deus"
(2:1). Foi o testemunho apostólico que tinha que acreditar-se diante de
Deus (2 Tes. 1:10). Paulo não se envergonhava de morrer pelo
"testemunho de nosso Senhor" (2 Tim. 1:8).
João escreveu que estava na ilha chamada Patmos "por causa da
palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo" (Apoc. 1:9). Os
eruditos em exegese tais como I. T. Beckwith, H. B. Swete, L. A. Vos,
R. H. Mounce, G. B. Caird, A. A. Trites e G. R. Beasley-Murray
entenderam as expressões genitivas "de Deus" e "de Jesus" em
As Profecias do Tempo do Fim 355
Apocalipse 1:2 e 9 como genitivos subjetivos, quer dizer, como auto-
revelações de Deus e de Jesus à igreja.

O testemunho ampliado de Deus coloca a igreja ante a autoridade


do Filho de Deus (Heb. 1:1, 2; 2:1-4; 10:26-31; 12:22-29). O livro do
Apocalipse confronta a igreja com a perspectiva de severas perseguições
(ver Apoc. 11). Um grande número de crentes foram levados diante dos
tribunais dos homens e foram condenados, alguns inclusive condenados
à morte. Por esta razão, Paulo e Cristo os animam a manter firme o
"testemunho de Jesus", assim como Cristo deu testemunho da boa
profissão diante de Pôncio Pilatos (1 Tim. 6:12-14; Apoc. 1:5, 9; 2:25;
3:11; 5:9; 12:11, 17).

Toda a "revelação de Jesus Cristo" (Apoc. 1:1) é em si mesmo uma


parte constitutiva do testemunho de Cristo às igrejas; em particular, é seu
"testemunho para as igrejas" (Apoc. 22:16; 1:2). É obvio que aqui
estamos tratando com os testemunhos canônicos do Espírito dentro das
Escrituras do Novo Testamento e seu evangelho de Jesus Cristo. João
sofreu em Patmos por este testemunho de Jesus (Apoc. 1:9), e
inumeráveis mártires sacrificaram suas vidas por este testemunho no
curso da história (Apoc. 6:9).
É "este" testemunho de Jesus o que a igreja remanescente
sustentará ou manterá com fidelidade durante a luta final contra o
anticristo (Apoc. 12:17) mesmo que sejam ameaçados com o decreto de
morte (Apoc. 13:15-17). Tal é a seriedade da prova final de verdade de
"o testemunho do Jesus" para a igreja universal. O Apocalipse mostra
que "ter" o testemunho do Jesus não se restringe à igreja do tempo do
fim, mas sim é a característica essencial dos fiéis seguidores de Cristo
durante toda a era cristã. Uma comparação das passagens pertinentes
demonstra este ponto essencial:
As Profecias do Tempo do Fim 356
APOCALIPSE 1:9 APOCALIPSE 6:9 APOCALIPSE 12:7
"Eu, João, … achei-me "Quando ele abriu o "Irou-se o dragão contra a
na ilha chamada quinto selo, vi, debaixo mulher e foi pelejar com
Patmos, por causa da do altar, as almas os restantes da sua
palavra de Deus e do daqueles que tinham descendência, os que
testemunho de Jesus". sido mortos por causa guardam os
mandamentos de Deus e
da palavra de Deus e
têm [ejónton: 'têm,
por causa do teste- mantêm, , preservam'] o
munho que susten- testemunho de Jesus".
tavam [éijon: 'tinham,
mantinham, preservavam']''.

As descrições que o Apocalipse faz do povo de Deus do começo até


o fim da era da igreja indicam que cada vez se menciona a mesma norma
autorizada da fé cristã. As passagens surpreendentemente paralelas do
"testemunho de Jesus", testemunho que preservaram os apóstolos e
mártires como encontramos em Apocalipse 1 e 6, funcionam como a
pauta adequada para a exegese de Apocalipse 12:17.
O testemunho de Deus e Jesus, confiado à igreja de Cristo, foi
pervertido pelo anticristo e substituído por sua própria norma de
adoração e moralidade. Na luta final dos séculos, a igreja de Deus é
chamada a permanecer firme sobre o evangelho eterno e a lei de Deus,
em continuidade com a igreja dos apóstolos e os mártires. A igreja do
tempo do fim de novo será conhecida por sua fidelidade aos
mandamentos de Deus e ao canônico testemunho de Jesus (Apoc. 12:17).
Só dessa maneira o povo de Deus do tempo do fim permanecerá na linha
da verdadeira sucessão apostólica. O Apocalipse faz insistência no
exemplo de Cristo como "a testemunha fiel" (1:5), "a testemunha fiel e
verdadeira" (3:14) que, ao que parece, serve como o arquétipo para seus
seguidores fiéis. Devem manter o mesmo testemunho de Jesus, até ao
preço do sacrifício de suas vidas.
As Profecias do Tempo do Fim 357
O "testemunho" que os mártires tinham ou mantinham em
Apocalipse 6:9 se iguala com "o testemunho de Jesus" que tem o povo
remanescente de Deus em Apocalipse 12:17. O verbo "ter" [éjo] em
Apocalipse 6:9 e 12:17 inclui o significado de "guardar, preservar". 22
Beckwith, Swete, Caird e Mounce, todos demonstram em forma
persuasiva que o testemunho que tinham os mártires (em Apoc. 6:9) é
idêntico a "o testemunho de Jesus" que aparece em Apocalipse 1:9,
12:17 e 20:4. Gerhard Pfandl explica Apocalipse 6:9 da mesma maneira:
"Estamos de acordo com Mounce que diz que o testemunho dos
mártires não foi fundamentalmente seu testemunho a respeito de Jesus, e
sim o testemunho que tinham recebido dele (cf. Apoc. 12:17; 20:4). Tinham-
no aceito, recusaram abandoná-lo, e por conseguinte foram executados. O
'testemunho' não menos que a 'palavra' foi uma posse objetiva dos
mártires".23
A pergunta é: Por que tipo de "testemunho" objetivo de Jesus
estiveram dispostos a entregar suas vidas os fiéis na história da vida da
igreja? Louis A. Vos descreve-o como "o depósito de doutrinas do
Senhor, mandamentos e ensinos que têm uma forma e conteúdo
específicos de maneira que podem ser guardados e mantidos!" 24 Por
isso, os mártires em Apocalipse 6:9 e 20:4 morreram acima de tudo por
causa do próprio testemunho de Cristo, e em um sentido subordinado,
por atestar do testemunho de Jesus. Em Apocalipse 12:17 se preanuncia
a mesma perseverança no testemunho de Jesus para a geração final do
povo de Deus. Beatrice S. Neall confirma esta exegese:
" 'A palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo' devem entender-
se como o evangelho da morte e ressurreição de Jesus (Apoc. 1:18), seu
poder para salvar do pecado (1:5; 12:10, 11) e homens transformados à sua
semelhança (14:1) mediante o sangue do Cordeiro (7:14; 12:11)". 25
Inclusive Apocalipse 20:4 menciona "o testemunho do Jesus" como
a característica fundamental de fidelidade:
"Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus
[literalmente: 'por causa do testemunho de Jesus'], bem como por causa da
palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a
sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão".
As Profecias do Tempo do Fim 358
A igreja remanescente é fiel ao "Cordeiro" em sua luta heróica
contra a "besta". Esta situação de crise não é essencialmente diferente
das crises anteriores mencionadas em Apocalipse 6 e 12. O ponto em
questão é esclarecido por Kenneth A. Strand, quando diz:
"No livro do Apocalipse a fidelidade à 'palavra de Deus' e ao
'testemunho de Jesus Cristo' separa o fiel do infiel, e conduz à perseguição
que inclui o próprio desterro de João e o martírio de outros crentes (ver de
novo 1:9; 6:9; 12:7; 20:4; etc.)".26
Também ele explica em outro lugar:
"As testemunhas do Antigo Testamento e o testemunho apostólico...
tinham uma mensagem que proporcionou consolo e esperança abundantes
aos cristãos do primeiro século, e também o seguiram proporcionando para
todos os seguidores de Cristo desde então".27
Podemos esperar que a apresentação antecipada do povo
remanescente e sua lealdade a Deus e a Cristo em Apocalipse 12:17 se
desenvolverá mais plenamente, o que ocorre em Apocalipse 14, onde se
apresenta um quadro mais completo da igreja remanescente e do
testemunho de Jesus. A declaração concisa de Apocalipse 14:12
funciona como um paralelo perfeito à declaração de Apocalipse 12:17,
como pode ver-se no quadro seguinte:

APOCALIPSE 12:17 APOCALIPSE 14:12


"Irou-se o dragão contra a mulher e "Aqui está a perseverança dos
foi pelejar com os restantes da sua santos, os que guardam os
descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em
mandamentos de Deus e têm o Jesus".
testemunho de Jesus".

O povo remanescente de Deus não só guarda os mandamentos de


Deus mas também guarda a "fé de Jesus" (Apoc. 14:12). A "fé de Jesus"
que "guardam" seus seguidores não é simplesmente sua fé subjetiva em
Jesus, e sim a fé objetiva ou os ensinos de Jesus que formaram a mesma
substância da "doutrina dos apóstolos" (At. 2:42). Judas, o irmão de
As Profecias do Tempo do Fim 359
Tiago, insistiu à igreja a disputar "ardentemente pela fé que foi dada uma
vez aos santos" (Jud. 3; também o v. 20). É útil o comentário do William
G. Johnsson a respeito de Apocalipse 14:12:
" 'Guardam a fé de Jesus'. Esta expressão não significa que o povo de
Deus não tem fé em Jesus (embora é obvio a têm), porque a fé de Jesus é
algo que guardam. 'A fé' refere-se provavelmente à tradição cristã, ao corpo
de doutrinas que se centralizam em Jesus. Judas 3 pode nos proporcionar
um paralelo: 'A fé que foi dada uma vez aos santos'. Quando os seguidores
leais de Deus guardam a fé de Jesus, permanecem fiéis ao cristianismo
básico: 'Guardam a fé' ".28
A expressão "a fé de Jesus" em Apocalipse 14:12 serve como um
equivalente esclarecedor ao "testemunho de Jesus" em Apocalipse 12:17,
e não necessariamente como uma terceira característica da igreja
remanescente. Guardar a fé de Jesus envolve dar testemunho ao
testemunho do Jesus. Merece mencionar-se que um pequeno grupo de
antigos mileritas em Battle Creek, Michigan, resolveram em 1861
associar-se entre eles em uma nova denominação eclesiástica, "tomando
o nome de adventistas do sétimo dia, e comprometendo-se a guardar os
mandamentos de Deus e a fé de Jesus Cristo".29

A Elucidação do Anjo Quanto ao "Testemunho de Jesus" em


Apocalipse 19:10

"E eu lancei-me a seus pés para o adorar, mas ele disse-me: Olha, não
faças tal; sou teu conservo e de teus irmãos que têm o testemunho de
Jesus; adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de
profecia" (Apoc, 19:10). .
Cada texto deve ser interpretado por seu contexto. O enfoque
contextual serve como uma proteção contra a manipulação não
intencional de um texto ou uma frase. Como a expressão "o testemunho
de Jesus" ocorre duas vezes em Apocalipse 19:10, este texto recebeu um
exame rigoroso e uma exegese minuciosa por Louis Vos, David Hill e
Richard Bauckham.
As Profecias do Tempo do Fim 360
Surge um problema quando a última frase de Apocalipse 19:10 é
dissecada ou separada de seu contexto e lhe é dado um significado que
substitui o testemunho de Jesus, como se registra no Novo Testamento,
pelo permanente dom de profecia. Uma interpretação assim fará com que
o testemunho de Jesus em Apocalipse 12:17 seja exclusivamente um
dom de visões dadas a alguns crentes seletos no tempo do fim. Este
conceito é uma restrição perigosa do significado do testemunho de Jesus
no livro do Apocalipse. O anjo não tem o propósito de substituir o
testemunho histórico de Jesus pelo Espírito de profecia. Sua última
declaração em Apocalipse 19:10 "não é tanto uma definição, como uma
explicação. Explica como o anjo, João e seus irmãos (os profetas) podem
estar no mesmo nível, como conservos. Isto é possível em tanto que
todos compartilham o testemunho de Jesus que inclusive possuem os
profetas, porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia". 30
Bauckham o explica desta maneira:
"O Espírito divino que dá a João a experiência visionária em que
pode receber a revelação, não comunica a doutrina de um anjo mas sim o
testemunho que tem Jesus... O equivalente da referência 'o testemunho
de Jesus' em 19:10 se encontra agora nas palavras do epílogo, nas que o
anjo desaparece da vista e Jesus atesta diretamente: 'Eu Jesus enviei meu
anjo para dar testemunho destas coisas nas igrejas' [22:16]".31
Cristo explicou que o Espírito de verdade "não falará por si
mesmo... Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo
há de anunciar" (João 16:13, 14; ver também 14:26). Isto foi realizado
pelo Espírito de profecia nas Escrituras do Novo Testamento,
especialmente no Apocalipse, que por conseguinte transmite à igreja o
testemunho de Jesus com autoridade divina. O que o Espírito diz, é o que
Cristo diz. Isto ocorre sete vezes nas cartas de Cristo que cada vez
concluem com estas palavras: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às igrejas" (Apoc. 2:7, 11, etc.).
O anjo explica a João que quando o Espírito inspira a profecia, seu
conteúdo e autoridade vêm do próprio Jesus (Apoc. 19:10). Dessa
As Profecias do Tempo do Fim 361
maneira o Espírito de profecia revela o testemunho de Jesus. Todos os
profetas verdadeiros são os "que têm o testemunho de Jesus" (Apoc.
19:10; cf. 22:9). O anjo instrui a João para que não adore a nenhum anjo,
e, se formos ao caso, tampouco a nenhum conservo de Deus, porque são
meramente os instrumentos de Deus e de Cristo. O livro do Apocalipse é
um livro orientado para a adoração. O grande propósito "adorem a
Deus!" é o tema central de todo o Apocalipse. Especialmente, suas
profecias do tempo do fim exigem a distinção entre a verdadeira
adoração e a idolatria (Apoc. 14:6-12). O anjo faz duas súplicas a João
para que adore a Deus (Apoc. 19:10 e 22:9), uma à conclusão da visão a
respeito da meretriz: Babilônia (Apoc. 17:1-19:10), e a outra à conclusão
da visão a respeito da noiva: Jerusalém (Apoc. 21:9-22:9 ). Cada vez o
anjo reforça o ponto: Não adorem à besta, nem sequer aos servos de
Deus, os anjos; adorem a Deus!
O versículo paralelo de Apocalipse 22:9 amplia o grupo dos que
têm o testemunho de Jesus, até incluir a todos os membros de igreja: "Eu
sou conservo teu, de seus irmãos os profetas, e dos que guardam as
palavras deste livro". Este círculo aumentado de todos os cristãos fiéis
que "têm" o testemunho de Jesus também é visível em Apocalipse 6:9 e
12:17. Bauckham tira esta conclusão prática:
"Isto [Apoc. 19:10 e 22:9] é um reconhecimento de que o papel ao qual
o Apocalipse chama a todos os cristãos é em essência o mesmo que o dos
profetas: dar testemunho de Jesus, permanecendo fiéis em palavra e obra
ao único Deus verdadeiro e à sua justiça".32
Esta responsabilidade compartilhada da igreja não nega a liberdade
do Espírito de conceder a indivíduos escolhidos o dom espiritual da
profecia (ver 1 Cor. 12:7-11) para a edificação da igreja (1 Cor. 14:1, 4).
Entretanto, o anjo ensina que o "testemunho de Jesus" que já se deu, é a
prova da verdade para João, para seus conservos os profetas, para a
igreja e para os anjos de Deus (ver também Apoc. 22:9). David Hill
esclarece que o "testemunho de Jesus" consiste nas expressões de Jesus
As Profecias do Tempo do Fim 362
nas visões do Apocalipse assim como "no testemunho de sua vida e
morte".
"Os que mais tarde são descritos como tendo o marturía Iesú
[testemunho de Jesus] (6:9; 12:17; 19:10) são os que, assim como João,
defendem e preservam o testemunho de Jesus que foi lhes confiado e o
anunciam: e o que anunciam (e sofrem por declará-lo) não é outra coisa
senão o que Jesus revela a seus servos e se confirma (22:16, 20) neste
livro, ou seja, os juízos e a autoridade soberana do único, o Deus eterno que
é o soberano de todos e o autor da salvação, cujo propósito triunfará
finalmente sobre todas as forças opositoras".33
O testemunho de Jesus no Apocalipse é a norma final para toda a
adoração cristã e para as manifestações do dom de profecia. 34 Sustentar
e manter fielmente este "testemunho de Jesus" que é canônico é o dever
sagrado dos profetas e dos anjos; é o ensino do anjo interpretador em
Apocalipse 19:10.
Num tempo quando João estava lutando contra uma onda crescente
de profecia falsa nas igrejas da Ásia (Apoc. 2:20; 1 João 4:1), alguns dos
quais estavam enganando aos crentes em Tiatira com "profundos
mistérios" (Apoc. 2:24, CI), recorda a João que o Espírito de profecia
transmite "o testemunho de Jesus Cristo". "Portanto, a carga da profecia
é o testemunho que levou Jesus".35 Todas as mensagens inspiradas dos
profetas pós-apostólicos devem ser provados pelo testemunho canônico
de Jesus (ver Apoc. 22:18, 19; 1 Tes. 5:19-21; 2 Pedro 3:2, 15, 16; Mat.
24:24).
O cânon do Novo Testamento com sua autoridade apostólica nunca
deve ser escurecido pelo permanente dom de profecia na igreja pós-
apostólica. O ponto em questão do anjo em Apocalipse 19:10 é singelo e
claro: O testemunho de Jesus é e permanece sendo a mensagem do
Espírito de Deus e a prova do dom de profecia (ver também no Apoc.
22:16). O testemunho de Jesus recebeu sua coroação no mesmo livro do
Apocalipse:
As Profecias do Tempo do Fim 363
"Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas.
Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã" (Apoc.
22:16).
O testemunho de Jesus será o instrumento para desmascarar as
afirmações enganosas "do falso profeta" do tempo do fim (ver Apoc.
16:13, 19:20 e 20:10). Vista sob esta luz, a igreja remanescente em
Apocalipse 12:17 e 14:12 se caracteriza pela restauração dos
mandamentos históricos de Jesus e pelo testemunho histórico de Jesus,
quer dizer, o evangelho eterno. Estas duas características foram as
marcas que identificaram a igreja apostólica (Apoc. 1:9) e as marcas dos
santos pós-apostólicos (Apoc. 6:9). Constituem as marcas distintivas
permanentes da igreja verdadeira de todas as épocas. No livro do
Apocalipse, estas características traçam uma linha entre o fiel e o infiel.
Em vista do fato reconhecido de que o Apocalipse está unido por
sua estrutura distintiva de uma teologia de duas testemunhas, afirmamos
com Kenneth A. Strand que "a palavra de Deus" e "o testemunho do
Jesus" são o Antigo Testamento e o Novo Testamento.36
Para uma consideração da manifestação no tempo do fim do
Espírito de profecia nos escritos da Sra. E. G. White e sua relação com a
Bíblia, ver o APÊNDICE A.

As páginas 331-341 deste capítulo se publicaram primeiro na


revista Ministry [O Ministério] de dezembro de 1996, páginas 10-13, e se
usam aqui com permissão do editor.

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXVIII deste livro)
encontrará-a nas páginas 458-466.

1 Charles, Studies in the Apocalypse, p. 88.


2 Ver de LaRondelle, The Israel of God in Prophecy. Principles of
Prophetic Interpretation e Chariots of Salvation.
As Profecias do Tempo do Fim 364
3 Morris, The Revelation of St. John, p. 155.
4 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of
Revelation, p. 187.
5 Ver Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, t. 2, pp.
977, 978, também 7 CBA 824.
6 Assim também diz Satake, em seu artigo sobre Apocalipse 12:
"Sieg Christi–Heil der Christen. Eiene Betrachtungs von Apocalypse
XII" [A Vitória de Cristo – A Vitória dos Cristãos. Uma Consideração
de Apocalipse 12].
7 Wilson, The Revelation of Jesus, p. 230.
8 Ibid.
9 Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, pp. 189, 349.
10 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 7.
11 Johnsson, Ibid., t. 2, p. 19.
12 J. M. Ford., Revelation, p. 195.
13 Feuillet, Johannine Studies, p. 276.
14 J. M. Ford, Revelation, p. 195.
15 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 17.
16 Beasley-Murray, Highlights of the Book of Revelation, p. 201.
17 Ellen White, DTN 467.
18 Ellen White, GC 55.
19 Ver Walter L. Wakefield e Austin P. Evans, Heresies of the High
Middle Ages [Heresias da Alta Idade Média] (Nova York:
Columbia University Press, 1991).
20 Henry Charles Lea, Die Inquisition [A Inquisição].
21 L. Coenen, "Testimonio", Diccionario teológico del Nuevo
Testamento (Salamanca: Sígueme, 1990; 4 ts.), t. 4, p. 257.
22 Ver Arndt e Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New
Testament and Other Early Christian Literature [Um Léxico
Grego-Inglês do Novo Testamento e de Outra Literatura Cristã
As Profecias do Tempo do Fim 365
Primitiva] (Chicago: The University of Chicago Press, 1952, 4ª ed.
revisão e aumentada), p. 332.
23 Pfandl, "The Remnant Church and the Spirit of Prophecy",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 313.
24 Vos, The Synoptic Traditions in the Apocalypse, p. 203.
25 Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with
Implications for Character Education, p. 158.
26 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981),
pp. 127-135.
27 Strand, "The Seven Heads: Dou They Represent Roman
Emperors?", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 206.
28 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, pp. 38, 39.
29 J. White, ed., The Review and Herald [A Revista e Arauto], 8 de
outubro de 1861.
30 Vos, The Synoptic Traditions in the Apocalypse, p. 204.
31 Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of
Revelation, p. 134.
32 Bauckham, The Theology of the Book of Revelation, p. 121.
33 Hill, New Testament Prophecy, p. 80.
34 Ver J. D. G. Dunn, "Spirit" [Espírito], New International
Dictionary of New Testament Theology [Novo dicionário
internacional de teologia do Novo Testamento] (Grand Rapids,
MI: Zondervan, 1979; 3 ts.), T. 3, p. 706.
35 Beasley-Murray, Highlights of the Book of Revelation, p. 182.
36 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981),
pp. 127-135.
As Profecias do Tempo do Fim 366
O CONFLITO FINAL DE LEALDADE DO TEMPO DO FIM
Apocalipse 13

A visão das duas bestas simbólicas em Apocalipse 13 deve


relacionar-se em primeiro lugar com o fluxo da história da igreja em
Apocalipse 12, união que determina o lugar e a situação que cada besta
ocupa na história. Como estudamos no capítulo anterior, Apocalipse 13
esboça em detalhe dois períodos de tempo que aparecem em Apocalipse
12 por meio de um paralelismo progressivo. Esta classe de recapitulação
se assemelha ao estilo do livro do Daniel. Apocalipse 13 amplia em
grande detalhe a guerra do dragão contra a mulher de Apocalipse 12.
Vários elos entre os dois capítulos mostram sua estrutura paralela.
Apocalipse 13 mostra como o dragão trava guerra contra os santos.
Empregará dois poderes mundiais religiosos como agentes a seu serviço:
uma besta marítima e uma besta terrestre. Dessa forma, o dragão forma
sua própria trindade, ou trindade satânica.
Existe uma união especial entre o dragão e a besta do mar, porque
ambos possuem as mesmas sete cabeças e dez chifres (Apoc. 12:3; 13:1).
O fato de que o dragão delegue seu poder e trono à besta do mar é uma
imitação deliberada de como Deus delegou seu poder e seu trono a seu
Filho, Jesus Cristo (ver 5:12, 13; 13:2). Este paralelo extraordinário
caracteriza a besta marítima como o anticristo. Portanto, algumas vezes
se denominou a Apocalipse 13 "o capítulo do anticristo". A fórmula de
autorização que declara que a besta recebe autoridade "sobre toda tribo,
povo, língua e nação" (13:4, 7, 8), pode ver-se como uma cópia irônica
da autorização do Filho do Homem que recebe autoridade sobre "todos
os povos, nações e línguas" em Daniel 7:14. O objetivo de ambas as
investiduras de poder é receber a adoração e a lealdade de toda a
humanidade (Dan. 7:14, 27; Apoc. 13:4, 8).
Descreve-se a imitação dramática da morte e ressurreição do
Messias pela própria morte da besta por causa de uma "ferida mortal" e
sua ressurreição e ascensão milagrosa a um domínio universal e
As Profecias do Tempo do Fim 367
totalitário (Apoc. 13:2, 12, 14; cf. 5:6, 9, 12; 13:8). Esta imitação de
Cristo sugere a idéia de que a besta opera como uma falsificação do
Cordeiro, como um falso Cristo. Sugeriu-se que os 1.260 dias de
blasfêmia e perseguição por parte da besta são uma paródia irônica do
ministério de bênção e salvação de Cristo que também durou 3 ½ anos *
ou 1.260 dias.1
A nova revelação surpreendente no capítulo 13 é a predição de um
terceiro agente na conspiração satânica contra a Santa Trindade: "Vi
subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um
cordeiro; e falava como o dragão" (v. 11). Depois, esta besta terrestre é
denominada apenas "o falso profeta" (16:13; 19:20; 20:4). Sua tarefa
consiste em servir à besta do mar enganando os moradores da terra com
seus sinais e milagres (13:14, 15). Portanto, W. G. Johnsson deduz que
"o terceiro membro desta trilogia satânica arremeda a obra do Espírito
Santo".2 Em resumo, Apocalipse 13 faz soar o sino de alarme para a
igreja de Cristo. Será enganada cada vez mais por uma conspiração
genial de uma religião cristã falsificada, respaldada por milagres
sobrenaturais.
Podem distinguir-se duas cenas das ameaças. A primeira fase do
domínio do anticristo se caracteriza pela supremacia política e pela
intolerância religiosa. A segunda fase segue depois que foi "curada" a
"ferida mortal" da besta. Só então pode o "falso profeta" começar suas
atividades para ajudar a recuperar para a besta sua supremacia anterior e
a união da Igreja com o Estado, desta vez em uma escala universal.
A enigmática "marca da besta" chegará a ser no tempo final a prova
decisiva de lealdade suprema ao anticristo, em oposição aparente ao

*
Nota do Tradutor: A origem desta idéia aparece nas conferencias proféticas proferidas em Albury
Park (Londres, 1826-1830), onde são dados aos 1.260 um cumprimento dual seguindo as opiniões
dos futuristas como Ribera e Lacunza. Henry Drummond traça um paralelo entre os 1.260 dias
literais de perseguição futura do anticristo e o tempo do ministério de Cristo. Ver Henry Drummond,
Dialogues on Prophecy [Diálogos sobre Profecia] (London, Nisbet, 1828-2829; 3 ts.), t. l, p. 377.
As Profecias do Tempo do Fim 368
"selo do Deus vivo" que assinala a submissão voluntária aos
mandamentos de Deus (ver 13:15-17; 14:1, 12).
Dessa maneira, Apocalipse 13 forma o complemente necessário da
mensagem final de admoestação de Apocalipse 14. Ambos os capítulos
constituem uma unidade indestrutível, e cada capítulo só pode entender-
se em conexão com seu complemento.

Laços Entre Apocalipse 13 e Daniel 7

Como Jesus fez em seu discurso profético (Mar. 13; Mat. 24), assim
também João esboça o futuro da igreja com os símbolos de Daniel. João
segue o estilo apocalíptico dos esboços proféticos de Daniel voltando
para periodizar a história por meio de poderes mundiais sucessivos.
Como nas visões de Daniel, assim também o Apocalipse avança na
história dos dias de João até o próprio fim da era da igreja. Tanto Daniel
como João descrevem o mesmo arquiinimigo de Deus e de seu povo do
pacto. Enquanto que Daniel representou o "chifre pequeno" como um
antimessias (Dan. 7, 8), João agora o define como o anticristo (Apoc.
13). Os eruditos bíblicos reconhecem hoje em dia "que Apocalipse 13
está modelado sobre o Daniel 7".3 No seguinte quadro podem ver-se dois
exemplos disto:

APOCALIPSE 13 DANIEL 7
"Foi-lhe dado, também, que pelejasse "Eu olhava e eis que este chifre fazia
contra os santos e os vencesse" (v. 7). guerra contra os santos e prevalecia
"Foi-lhe dada uma boca que proferia contra eles" (v. 11).
arrogâncias e blasfêmias e autoridade "E os santos lhe serão entregues nas
para agir quarenta e dois meses" (v. mãos, por um tempo, dois tempos e
metade de um tempo" (v. 25).
5).

Contemplado do lugar de João na história, Apocalipse 13 ultrapassa


Daniel 7 até a era da igreja por meio de uma aplicação cristocêntrica e
As Profecias do Tempo do Fim 369
eclesiocêntrica. O exemplo fundamental deste avanço contínuo-histórico
é a constituição que forma a besta do mar em Apocalipse 13:2, a que
combina característicos das quatro bestas ou impérios mundiais de
Daniel 7. Este monstro composto de Apocalipse 13 indica sem lugar a
equivocar-se que desde Daniel o tempo avançou.
O fato de que a besta do mar leva simultaneamente dez coroas reais
sobre seus dez chifres, alude aos dez reis ou reinos que surgiriam do
quarto império mundial (Roma) segundo Daniel 7:7 e 24. Essas dez
diademas são o sinal deliberado que se apresenta em Apocalipse 13 para
indicar que a besta do mar com seus dez reis soberanos seguiram seu
curso na história além da divisão do Império Romano em 476 d.C.
Tanto a visão de Daniel 7 como a de Apocalipse 13 avançam além
da Roma pagã, e o fazem para a Idade Média do cristianismo ocidental.
O ponto característico da besta do mar de Apocalipse 13 é uma boca que
fala "grandes coisas" [megála] e blasfêmias (Apoc. 13:5, 6), e confirma
assim a conclusão de que o que está em vista é o "chifre pequeno" de
Daniel 7. Este chifre igualmente fala "grandes palavras" [megála] (Dan.
7:8, 11 ) contra Deus (Apoc. 13:6; Dan. 7:25). Uma comparação estreita
entre Apocalipse 13 e Daniel 7 mostra que Apocalipse 13 avançou mais
à frente do Império Romano antes de sua divisão. Esta progressão
histórica se prediz na declaração profética: "O dragão deu- lhe [à besta]
seu poder e seu trono e grande autoridade" (Apoc. 13:2).
Em Apocalipse 12 o dragão representa não só a Satanás mas
também, em um sentido secundário, a Roma pagã que perseguiu o
Messias e a seu povo (Apoc. 12:3-6). Em Apocalipse 13 o dragão
transfere seu poder perseguidor ao sucessor da Roma pagã: Roma
eclesiástica. Nesse momento na era da igreja, a besta do mar começa a
desempenhar o papel do chifre pequeno de Daniel 7. Apocalipse 13
começa com a transferência do poder e de seu trono (a capital) e
autoridade de Roma pagã a Roma papal (v. 2).
O outro vínculo entre o anticristo de Apocalipse 13 e o chifre
jactancioso de Daniel 7 é o mesmo período de tempo profético atribuído
As Profecias do Tempo do Fim 370
ao domínio despótico de ambos: 3 ½ tempos são idênticos a 1.260 dias.
Estes 1.260 dias equivalem a 42 meses (42 x 30 dias).
Em resumo, para identificar a besta-anticristo e seu lugar na história
da igreja, é essencial colocar a profecia de tempo de longo alcance de
Daniel 7 na base de Apocalipse 13.

Vínculos entre Apocalipse 13, Mateus 24 e 2 Tessalonicenses 2

Observemos alguns desenvolvimentos importantes entre Apocalipse


13 e as predições de Jesus e de Paulo. Jesus aplicou as profecias de
Daniel à destruição de Jerusalém e seu templo pelos exércitos de Roma
(Mat. 24:15, 16; Mar. 13:14; Luc. 21:20-24). Também alertou seus
seguidores a respeito das perseguições vindouras, e a uma "grande
aflição" que seria "abreviada" por meio de um ato da providência divina
(Mat. 24:21, 22; Dan. 12:1). De uma maneira especial advertiu a seu
povo contra os enganadores religiosos que afirmariam falsamente ser
seus porta-vozes.
"Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes
sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (Mat.
24:24).
É obvio, a advertência profética de Cristo requer a interpretação
correta de Daniel, interpretação que se especializa no tema da apostasia e
da perseguição e do conhecimento das profecias messiânicas.
Paulo expõe sua compreensão do livro de Daniel com claridade
suficiente em 2 Tessalonicenses 2. Afirmou que a apostasia futura do
"homem da iniqüidade" tinha que preceder a volta de Cristo em glória
(ver 2 Tes. 2:3, CI [em gr., prótos]). Paulo caracterizou esta "apostasia"
vindoura em termos de um culto religioso falso dentro do templo de
Deus como tinha sido descrito em Daniel 8 e 11. Desta forma, Paulo
preveniu especificamente contra a vinda do anticristo eclesiástico. Situou
este enganador religioso depois do desaparecimento do Império Romano
(2 Tes. 2:7, 8). E esta foi a interpretação historicista por muitos séculos.
As Profecias do Tempo do Fim 371
Paulo ensinou ademais que o poder apóstata duraria até a segunda
vinda de Cristo em juízo (2 Tes. 2:8). Recalcou de uma maneira especial
que o anticristo enganaria as pessoas por meio de sinais sobrenaturais,
que denominou adequadamente "sinais e prodígios mentirosos" (v. 9). É
totalmente evidente que Apocalipse 13 é a expansão ulterior de 2
Tessalonicenses 2, já que estes capítulos apocalípticos são
complementares. Quando são estudados juntos, pode identificar-se com
clareza o surgimento histórico do anticristo e seu culto pseudocristão.

A Natureza Romana da Roma Eclesiástica

O sistema de Igreja-Estado medieval tratou de estabelecer o reino


de Cristo por meio da imposição legal e da coerção física. Quanto a isto,
a Igreja Católica Romana continuou claramente com o regime totalitário
de Roma imperial. Jacques Ellul, um professor francês de Direito, expôs
eficazmente a união funesta da Igreja e o Estado dos dias do imperador
Constantino como a "subversão do cristianismo".4
Enquanto que os dirigentes da igreja afirmavam atuar em lugar de
Cristo, as "guerras santas" de sua Inquisição derramou mais sangre que a
que derramou qualquer outra religião no mundo. W. E. H. Lecky, um
erudito em História, fez esta denúncia: "Não pode ser absolutamente
nenhum exagero dizer que a Igreja de Roma causou uma quantidade de
sofrimento imerecido maior que qualquer outra religião que alguma vez
tenha existido".5 Inclusive alguns teólogos católicos que chegaram a ser
conscientes da natureza e extensão da perseguição por parte do Estado-
Igreja medieval, estão escandalizados pela paródia das doutrinas de
Cristo praticadas pelo cristianismo romano. Thomas e Gertrude Sartory
passam este juízo: "Nenhuma religião no mundo (nenhuma só na história
da humanidade) tem sobre sua consciência tantos milhões de pessoas que
pensam de maneira diferente e acreditam em forma diferente. O
cristianismo é a religião mais assassina que alguma vez tenha existido".6
As Profecias do Tempo do Fim 372
O ex-jesuíta Karlheinz Deschner da Alemanha, sobre a base de
material de primeira fonte, publicou vários tomos sobre a sangrenta
história da igreja e o intitulou: Kriminalgeschichte des Christentums [A
história criminal do cristianismo].7 Os quatro primeiros volumes
demonstram a política espantosa dos governantes políticos cristãos que
massacraram a seus oponentes.
Mais de mil anos de alianças e opressão ilícitas entre a Igreja e o
Estado não se podem passar totalmente por alto nos prognósticos
proféticos de Daniel e Apocalipse. O cumprimento contínuo-histórico
das profecias de longo alcance aponta de maneira irrevogável ao
cristianismo romano por ter derramado o sangue de incontáveis mártires.
Entretanto, o juízo final do céu lavrará sua condenação humana na
vindicação divina: "Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o
domínio, para o destruir e o consumir até ao fim... até que veio o Ancião
de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os
santos possuíram o reino" (Dan. 7:26, 22).

A Estrutura Literária de Apocalipse 13:1-10 Determina a Data


da "Ferida Mortal"

O não distinguir adequadamente o estilo literário do Apocalipse


levará a interpretações equivocadas, o que se vê de maneira especial
quando se trata de estabelecer o momento da ferida moral da besta em
conexão com os 42 meses de domínio da besta. A ferida mortal se
menciona três vezes em Apocalipse 13 (vs. 3, 12, 14). A pergunta que
vem ao caso é: Essa ferida mortal, ser-lhe-ia infligida antes ou depois
dos 42 meses?
Defenderam-se diferentes pontos de vista até dentro da escola
histórica de interpretação. Uma opinião lê Apocalipse 13 como uma
descrição contínua e ininterrupta de eventos futuros. Então a ordem dos
acontecimentos seria assim: Primeiro: a ferida mortal (v. 3), seguida
pelos 42 meses (v. 5). Essa seqüência levou a alguns historicistas a
As Profecias do Tempo do Fim 373
aplicar a ferida mortal à queda do Império Romano Ocidental em 476.
Vê-se a "cura" da ferida como o surgimento da Roma papal e seu reinado
medieval. Outro critério, que toma em conta a estrutura literária de
Apocalipse 13:1-10, conclui que esta unidade consiste de duas seções
paralelas distintas: (1) uma descrição resumida que culmina na adoração
universal do dragão e da besta (vs. 1-4), e (2) uma explicação que
termina com a mesma adoração universal da besta (vs. 5-8). Este ponto
de vista foi exposto em forma convincente por W. H. Shea. Resume suas
conclusões da seguinte maneira:
"Na seção descritiva (vs. 1-4) a ferida da besta se encontra no fim da
passagem (v. 3). Na seção explicativa (vs. 5- 10) também se alude a esta
ferida no fim da passagem ('se alguém matar à espada, à espada deve ser
morto', v. 10; cf. o v. 14: 'a besta que tem a ferida de espada'). Em ambos os
casos, a estrutura literária e as relações envoltas indicam que a autoridade
que exerce a besta é anterior à ferida...
"Isto significa que os 42 meses do tempo da profecia culminam no
tempo da ferida de morte, não depois".8
A ferida mortal da besta (Apoc. 13:3) explica-se no fim da unidade
(v. 10) por "cativeiro" e "espada", e dessa maneira as duas seções
formam um todo. Este ponto de vista sustenta que o anticristo sofreria
uma ferida de morte depois de haver-se encolerizado 42 meses contra os
santos.
A "ferida de morte" significa um congelamento temporário da
perseguição do anticristo. Se o começo do tempo de opressão está
marcado pela união da Igreja e o Estado, então seu final deve entender-
se como a dissolução da união da Igreja e o Estado.
Allan F. Johnson se refere ao uso apocalíptico da palavra "espada"
como um "símbolo de juízo divino" em Apocalipse (1:16; 2:12, 16;
19:15, 21), e por conseguinte vê a ferida mortal como um "golpe de
morte à autoridade da besta" que foi assestado por Deus. 9 Considera que
seu cumprimento se realizou na morte e ressurreição de Cristo, e por isso
foi um cumprimento de Gênesis 3:15 (como Irineu). Entretanto, a besta-
anticristo em Apocalipse 13 se levanta depois da Roma pagã, muito
As Profecias do Tempo do Fim 374
tempo depois da ressurreição de Cristo. Portanto, a ferida mortal requer
uma aplicação histórica à união Igreja-Estado que perseguiu durante a
Idade Média. A aplicação popular da ferida ao suicídio do imperador
Nero em 68 é um esforço para fazer com que a profecia encaixe no
Império Romano, e para aplicar a cura da ferida à perseguição renovada
pelo imperador Domiciano ao fim do século I.
Não há dúvida de que o dragão usou ao Império Romano para fazer
guerra contra a "mulher" e seu "Messias" (Apoc. 12:1-4). Mas a "besta
do mar" à qual o dragão ou Roma transfere seu poder representa o
sucessor da Roma imperial. Isto chega a ser evidente se se conectar
Apocalipse 7 com sua raiz principal em Daniel 7. Por Daniel sabemos
que a quarta besta passaria seu domínio sobre a terra ao chifre pequeno.

A Ferida Mortal ao Estado-Igreja Totalitário

Falando historicamente, a união medieval do Estado e a Igreja


recebeu vários golpes que reduziram seu poder de perseguir de uma
maneira gradual. H. Grattan Guinness, que aplicou o método histórico de
interpretação profética, menciona três "golpes fatais" para o romanismo:
(1) a Reforma do século XVI; (2) a Revolução Francesa de 1789-1799; e
(3) a unificação política da Itália em 1870, que outra vez lhe tirou o
papado seu reinado temporário sobre os estados papais.10
L. E. Froom menciona em primeiro lugar a Reforma, depois a
dissolução por parte do Papa da Companhia do Jesus (os jesuítas) em
1773, uma organização sancionada pelo Papa para fazer guerra contra os
protestantes.11 Considera que o desterro forçado do Papa e a abolição do
papado pelo governo da França revolucionária em 1798 constituiu o
maior golpe contra o papado.
Como em 1791 o Papa Pio VI tinha denunciado a Revolução
Francesa e sua Constituição Civil Clerical (1790), e também tinha
participado da primeira coalizão de poderes europeus para ajudar a
destruir a Revolução Francesa, o Diretório francês tomou represálias e se
As Profecias do Tempo do Fim 375
anexou os territórios papais no sul da França, capturou os Estados papais
na Itália e estabeleceu uma república em Roma. O Diretório disse a
Napoleão, em uma carta 1797, que "a religião romana sempre seria o
inimigo irreconciliável da República. Terá que atirar um golpe na França
e terá que atirar outro em Roma". A República Francesa tem que
"destruir, se for possível, o centro de unidade da igreja romana".12
Postas assim as coisas, em 1798 as tropas francesas às ordens do
general Berthier invadiram o Vaticano e levaram prisioneiro o Papa Pio
VI. Com a aprovação dos italianos, França estabeleceu uma república
romana independente "sob o amparo especial do exército francês". 13 O
objetivo do Diretório francês era destruir o papado e "libertar a Europa
da supremacia papal".14 C. M. Maxwell descreve o significado único do
ano 1798 nestas palavras:
"Embora durante os 1.260 anos o Papa foi freqüentemente derrotado e
várias vezes encarcerado, a forma como foi tratado em 1798 foi
qualitativamente diferente. Em 1798 foi dominado e encarcerado com o
propósito de terminar seu significado religioso".15
A Inquisição também foi abolida na França em 1798. Não é
maravilha que o impacto da Revolução Francesa fez com que muitos
protestantes acreditassem que o reinado do papado tinha chegado a seu
fim em 1798 com o golpe mortal que lhe deu o governo revolucionário
francês. Muitos acreditaram que estes acontecimentos cumpriam as
profecias dos capítulos 11 a 13 do Apocalipse.16 O famoso historiador
Leopoldo von Ranke declarou: "Parecia como se tivesse acabado para
sempre o poder papal".17 A New Catholic Encyclopedia [Nova
Enciclopédia Católica] declara:
"Depois de despojar o Papa Pio VI de seu poder temporário, os
franceses o privaram de sua liberdade. Sua morte enquanto estava na prisão
marcou um ponto muito baixo na prosperidade papal que não havia tocado
fundo por séculos, e deu origem a uma profecia de que a sucessão
apostólica tinha chegado a seu fim com o falecimento de 'o último Pio' ".18
As Profecias do Tempo do Fim 376
E o colaborador do artigo "The French Revolution" [A Revolução
Francesa] dá esta informação:
"Nesse dia [quando Pio VI morreu como prisioneiro] parecia que se
obteve a destruição total da Santa Sede".19

Estes são testemunhos notáveis que falam de uma ferida mortal


histórica do papado! "Em realidade, a metade da Europa pensou que 'o
papado estava morto' ".20 O Diretório francês tinha ordenado que não se
escolhesse um sucessor de Pio VI à cadeira papal.21
Entretanto, Napoleão começou a reviver o papado com a
Concordata de 1801, porque sentiu que o Papa sustentava a chave para
restaurar a paz religiosa na França, concordata que "permitiu um
exercício sem precedentes do poder papal".22 De fato, "muitos
historiadores sustentam que a Concordata de 1801 foi tão decisiva para a
história moderna da igreja como foi a conversão de Constantino para a
história antiga da igreja".23 Em 1814 o Papa Pio VII restaurou a
Companhia de Jesus (os jesuítas), e o Congresso de Viena (1814-1815)
devolveu oficialmente ao Papa os Estados da igreja, exceto a terra que
possuía na França. Esta restituição formou a base para a recuperação da
Igreja Católica Romana durante o século XIX.
Em resumo, 1798 foi reconhecido em forma unânime por
historiadores eclesiásticos católicos e protestantes como o tempo da
"suprema humilhação" do papado na história moderna.24 * Esta abolição
histórica e sem precedentes do papado em Roma por meio da "espada"
do governo da França revolucionária pode interpretar-se como o
cumprimento correto da "ferida mortal" predita da igreja papal (no Apoc.
13).

*
Nota do Tradutor: "A humilhação final da igreja sucedeu quando o Papa Pio VI fui expulso de Roma
pelos exércitos franceses em 1798" (The New Encyclopedia Britannica., t. 26, p. 892). A New
Catholic Encyclopedia, t. X, p. 964, diz: "O fim do século XVIII foi testemunha da humilhação mais
profunda do papado moderno como seqüela da Revolução Francesa".
As Profecias do Tempo do Fim 377
A "Cura" da Ferida Mortal Ainda Está no Futuro

Enquanto que os intérpretes adventistas mencionaram diferentes


datas no passado como cumprimento da "cura" predita da ferida mortal
que lhe infligiu o papado – tais como 1800, 1815, 1929 e outros anos –,
o Comentário bíblico adventista declara mais prudentemente: "O
profeta... viu a ferida completamente curada, como insinua o texto
grego... [mas isso] ainda se acha no futuro".25
A interpretação de George McCready Price, que em forma
apropriada uniu as perspectivas proféticas de Apocalipse 13 e 17, é
significativa. Identificou o período da "ferida mortal" (Apoc. 13) com a
fase "não é" da besta em Apocalipse 17:8. Destacou a distinção entre a
"mulher" e a "besta", quer dizer, entre a Igreja Católica Romana e o
poder do estado em sua aplicação da ferida mortal e seu cura. Não foi a
mulher quem recebeu a ferida de morte, mas sim a besta! "Obviamente, a
ferida significa que lhe tirou o poder bestial de dominar o mundo e tratar
com os 'hereges'. Esta ferida mortal não será curada até que lhe restaure
o antigo poder de perseguição".26
Dessa maneira Price aplicou a ferida mortal da besta não à Igreja
Católica como tal, mas sim à dissolução da união da Igreja e o Estado,
que não foi levado a cabo simplesmente pelo destronamento do Papa Pio
VI em 1798, mas sim pela ideologia poderosa que está por trás da
revolução da América do Norte e da Revolução Francesa: "Os dois
princípios fundamentais de liberdade civil e religiosa, características do
verdadeiro cristianismo".27 Price viu estas idéias destas duas liberdades,
a civil e a religiosa, como a "causa real da ferida mortal, e o motivo pelo
qual ainda não foi curada".28 Embora reconheceu alguns sinais de
"atitudes cambiantes" na cristandade em favor da Igreja de Roma, por si
mesmos "estas atitudes cambiantes distam muito de ser a cura
profetizada. Não será até que Roma tenha novamente o poder de fazer
As Profecias do Tempo do Fim 378
cumprir sua vontade e doutrinas por meio de decretos legislativos e
judiciais que os imponham que estará curada a ferida".29
Esta análise perspicaz muda a direção do enfoque da profecia além
de qualquer intento especulativo de fixar a data de um acontecimento
local, à ideologia que está por trás da perseguição dos santos. Price
raciocinou que "um quarto de século antes de 1798 'a perseguição tinha
cessado quase inteiramente' (GC 308), é boa prova de que a causa
primitiva da ferida mortal era algo que precedeu a Revolução Francesa e
bastante mais importante que ela".30 Para Price, o tempo da Revolução
Francesa é idêntico ao "tempo do fim" profético no livro de Daniel. É o
tempo quando "não se viu durante dois séculos a perseguição em escala
mundial".31 Entretanto, a ferida será curada "quando ocorrer esta
restauração do poder para tratar com os 'hereges' ".32 Ellen White o
declarou de uma maneira similar. Disse ela: "A profecia prevê uma
restauração de seu poder [o do papado]... Roma está visando a
restabelecer o seu poder, para recuperar a supremacia perdida...
Sorrateiramente, e sem despertar suspeitas, está aumentando suas
forças".33
As opiniões de Ellen White e de Price sustentam que a "ferida"
papal será curada só quando Roma tenha alcançado de novo a
supremacia da Igreja no sentido de que promova leis estatais religiosas
que acarretem perseguição. Uma expectativa assim ainda não se cumpriu
e desacredita qualquer esforço de fixar datas.
Luis F. Were assinalou que a "parte de capital importância" de
Apocalipse 13 e 17 "ocupa-se da cura da 'ferida mortal' e com aquelas
coisas que seguirão devido ao fato de que a ferida foi curada. O
revelador, tendo apontado à ferida de uma das cabeças da besta, passa
imediatamente à cura de sua ferida... dizendo: 'E toda a terra se
maravilhou após a besta' ".34 Este panorama do tempo do fim é o centro
de atenção de Apocalipse 17.
As Profecias do Tempo do Fim 379
O Aparecimento da Besta de Dois Chifres

"Depois vi outra besta que subia da terra; e tinha dois chifres


semelhantes aos de um cordeiro, mas falava como dragão" (Apoc. 13:11).
Não pode entender-se corretamente a besta da terra se a isolarmos
da besta do mar. De fato, a besta da terra deve considerar-se como a
última em uma série de três poderes mundiais hostis, a terceira das quais
se une às duas primeiras. É surpreendente que a esfera de influência dos
três monstros abrangem todo o cosmos: o dragão era do céu, a primeira
besta veio do mar e a segunda da terra. João usa reiteradamente uma
divisão do cosmos em três partes (Apoc. 5:3, 13; 9:1; 10:6; 12:12; 21:1).
A associação íntima dos três monstros apocalípticos (ver 16:13, 14) une-
os em seu castigo divino: o lago de fogo ardente (Apoc. 19:20; 20:10).
Mas dentro de sua união e oposição à a Santa Trindade, cada sócio
permanece distinto dos outros, cada um desempenhando um papel
específico.
No Apocalipse, a "terra" se caracteriza em forma específica como o
lugar das abominações de Babilônia (Apoc. 17:5). Da "terra" devem ser
redimidos os 144.000 (14:3; cf. Heb. 11:13). Depois de tudo, a terra
como a criação caída, foi colocada sob a maldição de Deus (Gên. 3:17).
Entretanto, a designação de que a besta de dois chifres "subia da
terra" (Apoc. 13:11) chegou a ser uma ocasião para várias interpretações
especulativas. Alguns expositores não vêem um significado particular
nesta frase senão a forma de João de distinguir as duas bestas do começo
(I. Beckwith e A. Johnson). Estes autores assinalam ao fato de que
inclusive em Daniel 7 se diz que as bestas saem não somente do mar mas
também "da terra" (Dan. 7:3, 17). Uns poucos tomam "a terra" como
símbolo da inspiração satânica, "de baixo", do inferno (por exemplo, J.
A. Seiss e W. Hendricksen). Outros tomam "a terra" em um sentido
geográfico restringido, por exemplo: (1) Palestina (J. M. Ford); (2) Ásia
Menor (R. H. Charles, H. B. Swete; Jerome Bible Commentary
[Comentário Bíblico Jerônimo]; ou (3) os Estados Unidos da América
As Profecias do Tempo do Fim 380
35
(os adventistas guardadores do sábado desde 1851). Mas tais restrições
geográficas são conjeturas. Admite-se que até a inferência geral de que
"a terra" em Apocalipse 13:11 se refere a "uma região de escassa
população" em contraste com a multidão de povos ("o mar") não é mais
que "uma razoável" consideração.36
Entretanto, o contexto imediato de Apocalipse 13 usa o termo
"terra" em um sentido mundial, para todos os adoradores do anticristo
(Apoc. 13:3, 8), e coloca a "terra" em contraste com "os que moram" ou
"o tabernáculo" no céu (v. 6). Este contraste religioso também se
apresenta em Apocalipse 12:
"Pelo que alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que
habitam na terra e no mar! Porque o diabo desceu a vós" (v. 12).
Aqui se coloca a terra como o complemento do mar, sem nenhuma
restrição geográfica (veja-se também Apoc. 10:2). Tanto a "terra" como
o "mar" têm um alcance mundial.
A descrição de que "a terra ajudou à mulher pois a terra abriu sua
boca e engoliu o rio que o dragão tinha jogado de sua boca" (Apoc.
12:16) é interessante. Aqui se pode fazer uma aplicação histórica às
regiões de refúgio seguras nas montanhas meridionais da Europa, onde
os valdenses sobreviveram às perseguições medievais de Roma. Por
extensão, pode-se incluir a América do Norte como o santuário maior
para os refugiados de uma Europa intolerante. Portanto, é compreensível
que os adventistas norte-americanos desde 1851 vissem esta parte da
América que parecia pacífica como o cumprimento da besta com os
chifres "semelhantes aos de um cordeiro" de Apocalipse 13. Inclusive
interpretaram seus dois chifres como indicando o poder republicano civil
e o poder eclesiástico protestante, quer dizer, uma democracia e
liberdade religiosa.37 Esta interpretação foi a expressão de sua opinião de
que a democracia contemporânea da América do Norte e seu caráter
protestante encaixava na primeira fase da perspectiva apocalíptica de
Apocalipse 13:11-17. Esta aplicação inovadora de aplicar aos Estados
Unidos o símbolo da besta de dois chifres teve conseqüências
As Profecias do Tempo do Fim 381
transcendentais para a compreensão adventista sobre "a marca da besta"
e seu prognóstico da leis dominicais universais.
Se avaliarmos todos estes esforços para fazer que Apocalipse 13:11
fosse relevante para a igreja universal, necessitamos acima de tudo
compreender que o ponto crucial de Apocalipse 13:11-17 está
claramente não em que região da terra se levanta a segunda besta (ou "o
falso profeta"), já que o texto só declara que a besta "subia da terra", só
em que momento se levantará e como se relaciona com a primeira besta
(o anticristo), e por que características pode ser reconhecido no tempo
do fim. Como a atividade do falso profeta é enganar a "os moradores da
terra" (Apoc. 13:14), o que evidentemente é algo universal, coincidimos
com a opinião do W. G. Johnsson:
"Uma lei dominical aplicável só aos Estados Unidos é claramente
inadequada... Reconheçamos francamente que até nos aguarda a
compreensão plena do cumprimento desta profecia da besta que sobe da
terra... Entretanto, ainda não são claras as características significativas dos
enganos da segunda besta, especialmente os milagres que farão que muitos
se desencaminhem, e a 'imagem' à besta que sobe do mar. Além disso, a
visão indica um cenário de ação que abrange todo mundo... E à presente,
não é manifesto como a multidão inteira da humanidade será atraída ao
torvelinho do engano".38
Precisamos nos dar conta de que só a história proporciona a
interpretação final da profecia. Os cumprimentos da profecia bíblica
geralmente se realizaram em formas surpreendentes e insuspeitadas.

A Besta da Terra como Apologista do Anticristo

"E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de
um cordeiro; e falava como o dragão. E exerce todo o poder da primeira
besta na sua presença e faz que a terra e os que nela habitam adorem a
primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. E faz grandes sinais, de
maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. E
engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse
As Profecias do Tempo do Fim 382
em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma
imagem à besta que recebera a ferida de espada e viveu" (Apoc. 13:11-14).
Esta descrição também mostra uma progressão na história. No
tempo do fim a apostasia irá de mal a pior, como já o indicou Paulo:
"Mas os homens meus e enganadores irão de mal a pior, enganando e
sendo enganados" (2 Tim. 3:13). O desenvolvimento das duas bestas de
Apocalipse 13 significa que a ameaça do engano se incrementará
dramaticamente, não somente para os que não são cristãos, mas sim de
uma maneira especial para os crentes cristãos e para as igrejas cristãs em
todas as partes do mundo.
A besta da terra aparecia com "dois chifres semelhantes aos de um
cordeiro, mas falava como o dragão". Este contraste acentua seu caráter
sedutor. O "cordeiro" é o símbolo por excelência no Apocalipse. Vinte e
oito vezes representa a Cristo como o Cordeiro de Deus, e faz dele o
símbolo principal e o princípio coordenador de todo o livro. A aparência
como cordeiro da besta da terra indica a natureza da última fraude na
prova final de fé. A besta da terra deseja ser tomada como semelhante a
Cristo, mas suas palavras revelam as mentiras, as heresias, e os planos
assassinos do dragão e da besta anticristo.
Pode-se detectar na forma que esta besta "fala como o dragão" (ou
serpente no Apoc. 12:9), uma referência "ao caráter sedutor e
fraudulento da serpente no jardim do Éden"39 assim como uma
referência ao dragão como um destruidor. Tal contraste de aparência e a
natureza essencial já foi o tema da advertência anterior de Jesus:
"Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos
como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores" (Mat. 7:15).
Cristo brindou esta notícia adiantada a todas as gerações futuras: "Porque
surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (24:24). Esta
advertência antecipada de Jesus que apresenta Mateus 24, está elaborada
em Apocalipse 13. A besta da terra realizará "grandes sinais" (Apoc.
13:13) e é caracterizada como "o falso profeta" (16:13; 19:20; 20:10).
As Profecias do Tempo do Fim 383
Dessa maneira o Apocalipse revela que a era cristã desenvolverá
dois personagens anticristo, que atuarão em uma união íntima.
Apocalipse 13 descreve uma trama do tempo do fim com um Cristo falso
e com um falso profeta diferente, cada um com um próprio papel para
desempenhar, com o fim de alcançar um alvo comum: unir o mundo
inteiro em rebelião contra Deus (ver Apoc. 16:13, 14).
O falso profeta de Apocalipse 13:11-17 afirma ser o último porta-
voz de Deus. Aparece no panorama da história só depois que a besta da
terra dominou por 42 meses e recebeu sua ferida mortal (Apoc. 13:12).
Esta sincronização na história do falso profeta é de importância histórica
para a igreja. Sua atividade significa o começo do ato final no drama dos
séculos que conduz ao último enfrentamento entre Cristo e o anticristo:
"o Armagedom".
O Espírito de Deus se manifestou em sinais milagrosos depois que
Cristo completou sua missão, com o propósito de glorificar mais a Cristo
(João 16:13, 14; Heb. 2:3, 4). Seu contraparte aparece no falso profeta,
inspirado pelo espírito de demônios para levar a cabo "sinais" (Apoc.
19:20). Seu propósito é seduzir o mundo e induzir todas as nações a
adorar ao anticristo, "a besta cuja ferida mortal foi curada" (Apoc. 13:12-
14). Para realizar isto, o falso profeta "mandará" aos moradores da terra
"que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada,
sobreviveu" (Apoc. 13:14).
Muitos intérpretes reconheceram neste quadro de Apocalipse 13
uma correspondência essencial com a história dos três jovens hebreus em
Daniel 3. Assim como nos dias de Daniel o levantamento de uma estátua
literal em honra do rei de Babilônia foi seguida imediatamente por um
decreto legislativo para adorar a imagem (Dan. 3), assim também se
repetirá este procedimento em uma escala universal no tempo do fim:
"E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a
imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a
imagem da besta" (Apoc. 13:15).
As Profecias do Tempo do Fim 384
É importante reconhecer a tipologia essencial entre Daniel 3 e
Apocalipse 13! Com este paralelismo histórico referido a Daniel 3,
Apocalipse 13 revela a formação básica do conflito final na era da igreja
(ver Apoc. 13:16, 17). As duas facções voltarão a estar determinadas por
rituais de adoração que contrastam, ou pela fé dos seguidores de Cristo
ou pelo culto estatal idólatra do anticristo. Ambos os grupos religiosos
empregarão "fogo" do céu para convencer ao mundo de suas afirmações.
O "fogo do céu" anticristão (Apoc. 13:13) evidentemente funciona como
"a contraparte satânica dos sinais realizados pelas duas testemunhas".40
Um erudito evangélico faz este comentário perspicaz: "A besta da
terra é a antítese dos dois profetas de Cristo simbolizados pelas duas
testemunhas no capítulo 11".41 Se o sinal do "fogo" das duas
testemunhas de Deus se refere a seus dons do Espírito Santo (ver At. 2:3,
4; Heb. 2:4), então o uso do "fogo" pelo falso profeta "seria uma
referência aos dons pseudocarismáticos que criam uma comunidade
eclesiástica falsa que rende lealdade ao anticristo".42
Pelos sinais sobrenaturais do falso profeta podemos inferir que
enfrentará as verdadeiras testemunhas de Cristo. Esta confrontação
vindoura deve despertar nossa consciência ao feito de que muito do que
se expõe como cristianismo verdadeiro, no fundo é falso. Paul Minear
fez soar corretamente o alarme: "Chama-se os leitores a que discirnam o
critério que os capacitará para que separem a besta corderiforme (Apoc.
13:11) do próprio Cordeiro (14:1)".43
Para ser "vencedores" como se requer em cada carta de Cristo às
igrejas, os crentes devem ser testemunhas fiéis e verdadeiras, e estar
dispostos a entregar suas vidas para sustentar e preservar "o testemunho
de Jesus", até ante os tribunais do anticristo (ver Apoc. 11:7; 12:11;
20:4). Enquanto todo o mundo adorar com uma devoção máxima à besta
aparentemente invencível (Apoc. 13:4), o Apocalipse de João assegura à
igreja: "O Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei
dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, eleitos e fiéis"
(Apoc. 17:14). O título cristológico neste versículo, "Senhor de senhores
As Profecias do Tempo do Fim 385
e Rei de reis", aplica o próprio título de Deus no Antigo Testamento
(Deut. 10:17; Sal. 136:2, 3; Dan. 2:37, 47; 4:37 na versão grega) a Cristo
em sua segunda vinda (ver também Apoc. 19:16).

A Função da Marca da Besta

Os que recebam a marca (em gr., járagma) são os "habitantes da


terra" (os que moram na terra), que em forma consistente são descritos
como os seguidores da besta anticristo e como os que se regozijam na
morte das duas testemunhas (Apoc. 6:10; 11:10; 13:8, 12, 14; 17:2, 8). A
fórmula apocalíptica ("os que moram na terra") não descreve o mundo
em um sentido neutro, mas sim designa os que seguem o anticristo. Estes
moradores da terra não estão localizados em uma região ou em um
continente da terra. Representam a hostilidade universal da terra contra
Deus. Está incluída toda classe de pessoas:
"A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e
os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou
sobre a fronte" (Apoc, 13:16).
Este estilo de grupos sociais que estão em contraste assinala à
universalidade (também no Apoc. 6:15; 19:18). João adverte a seus
leitores que os eventos finais não serão de um alcance provincial ou
nacional, mas sim de proporção universal. A jurisdição das bestas é
segundo parece toda a população do mundo.
O papel que desempenha a marca da besta está em notório contraste
com o que desempenha o selo de Deus. O papel básico de ambos é
simbolizar um compromisso religioso: a Cristo ou ao anticristo. Tanto o
selo como a marca contêm os motivos intrínsecos de pertinência e
proteção (Ezeq. 9:4; Apoc. 7:2, 3; 9:4; 13:16, 17; 1 Ped. 2:9; Mau. 3:17,
18).44 A marca é a paródia demoníaca do selo de Deus. Em um nível
mais profundo, ambos os sinais representam o caráter que corresponde
com a mente de Cristo ou a do anticristo. Ambos os símbolos
representam os nomes ou a reputação de quem o leva (ver Apoc. 14:1;
As Profecias do Tempo do Fim 386
22:4; 13:17; 17:5). Dessa forma João pensou em um contraste de
mentalidades e lealdades, uma percepção ignorada com freqüência nos
comentários.
Ambos são sinais religiosos de lealdade, o que se indica pelo lugar
onde se coloca: "na fronte" (o lugar de assentimento e convicção mental)
ou "na mão" (o lugar da conformidade externa). O "selo" sobre a fronte
dos fiéis é um sinal religioso de lealdade, porque João o explica como o
nome do Cordeiro e o do Pai escritos em suas frontes (Apoc. 14:1).
Claramente, refletem o caráter de Deus e de seu Filho (ver João 15:10).
Em comparação, podemos entender a "marca" da besta como um sinal
religioso que representa a mente e o caráter do anticristo rebelde. A
marca representa "o nome da besta ou o número de seu nome" (Apoc.
13:17), o que simboliza o caráter jactancioso e o espírito autônomo do
anticristo.
O ponto crucial de Apocalipse 13 é que cada pessoa está obrigada a
prometer sua lealdade e a revelar seu caráter de uma maneira ou de outra
sem a possibilidade de permanecer neutro. Todos devem decidir-se e
identificar-se ou com a verdade de Deus em Cristo ou com o credo do
anticristo. Entretanto, o significado completo da marca da besta chega a
ser evidente só em Apocalipse 14. João enfatiza que assim como o
Cordeiro é a encarnação de Deus que se fez homem, assim a besta é a
encarnação do dragão-serpente na humanidade. Este é o antecedente
espiritual da confrontação final entre o céu e a terra em Apocalipse 13.
Quando Apocalipse 13 se entende dentro de seu contexto
inalienável dos capítulos 12 aos 14, notamos que "os mandamentos de
Deus e o testemunho de Jesus Cristo" são a norma explícita de lealdade
ao céu (Apoc. 12:17; 14:12), o que envolve que a lei do pacto de Deus, o
Decálogo, será interiorizado nos corações dos santos por meio do
Espírito de Deus. Transformados pelo evangelho de Cristo, seus
caracteres refletirão a Cristo e estarão em harmonia com a vontade de
Deus. Os santos de Deus são os seguidores do Cordeiro (Apoc. 14:1-5).
As Profecias do Tempo do Fim 387
A marca da besta está em flagrante oposição tanto aos
mandamentos de Deus como ao testemunho de Jesus na Escritura
Sagrada, o que implica que os seguidores da besta obedecem uma lei
moral falsificada e seguem a um pseudomessias. Refletirão o fanatismo
intolerante do anticristo. A linha de demarcação não é meramente um
acatamento externo a uma lei moral ou civil, mas sim a união do coração
e da mente com Cristo ou com o anticristo.
Enquanto que os verdadeiros seguidores de Cristo estão dispostos a
dar suas vidas por causa do testemunho de Jesus como a Palavra final de
Deus, os seguidores do anticristo imporão um boicote aos crentes na
Bíblia que não aceitem a marca da besta "e que nenhum pudesse comprar
nem vender, a não ser o que tivesse a marca ou o nome da besta, ou o
número de seu nome" (Apoc. 13:17). Os santos terão seus direitos civis
negados e chegarão a estar sujeitos a ser processados e sentenciados pela
lei (v. 15). Entretanto, os santos encontrarão consolo na oferta de Cristo
de "comprar" dele "ouro refinado no fogo", "vestes brancas" e "colírio
para que vejam" (v. 18), oferecimento que nunca pode ser bloqueado
pela legislação humana ou pelo boicoto social.

Interpretando o Número 666

"Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da


besta, porque é número de homem; e o seu número é seiscentos e sessenta
e seis" (Apoc. 13:18).
A grande variedade de esforços para decifrar o número misterioso
666 pode dividir-se em duas categorias principais. Um grupo utiliza o
método da gematria, que atribui um valor numérico a cada letra em uma
linguagem selecionada, somando dessa maneira as letras de uma palavra.
A frase Nero Caesar foi aceito amplamente como o significado de 666,
aplicação histórica que, em todo caso, encaixaria só no tempo do
apóstolo Paulo. Não obstante, as possibilidades do método de gematria
são quase ilimitadas enquanto que frases como Italika Ecclesia (Igreja
As Profecias do Tempo do Fim 388
italiana), Hei Letana Basileia (O reino latino) ou Vicarius Filii Dei
encaixam no número 666, também acontece o mesmo com as palavras
para Lutero (Loutherana Saxoneios), Maomé (Maometis), Napoleão
(Nabonaparti) ou Hitler. Um erudito reparou no seguinte: "Olhando para
trás, foi possível... identificar o número 666 com os nomes da maioria
dos tiranos que no curso da história perseguiram a igreja".45
Irineu, um pai da igreja primitiva (morreu por volta de 202), já tinha
advertido que só o cumprimento da profecia daria segurança, porque
"podem encontrar-se muitos nomes que possuem o mencionado
número".46 Os que aceitam o papado ou a hierarquia católica romana
como o cumprimento histórico de Apocalipse 13, vêem no número 666
uma confirmação de sua interpretação da besta e do número de seu
nome: "Vicarius Filii Dei", que é a pretensão a ser o vigário de Cristo.
Pelo fato de que João nunca usa no Apocalipse a gematria como
método, a maioria dos eruditos bíblicos preferem a interpretação
simbólica do número 666, assim como João usa o número 144.000 e em
1.600 em Apocalipse 14. Em geral acredita-se que João deu a certas
cifras um caráter simbólico, que era algo familiar na forma de pensar
hebraica. Assim como o número 4 representa ou simboliza a
universalidade ou totalidade, o 7 o descanso e a perfeição, e o 12 o povo
do pacto de Deus ou a igreja, assim também o 6 pôde haver-se percebido
como um símbolo para o homem sem Deus e sem o descanso que Deus
lhe dá.
O número 6 aponta ao dia da criação do homem (Gên. 1:27, 31). O
rei de Babilônia fez uma estátua de ouro que media 60 côvados de altura
e 6 de largura (Dan. 3:1) para que a adorassem quando desse a ordem.
Deste ponto de vista, o número 666 sugeriria o esforço do anticristo de
exaltar o homem no lugar de Deus e de Cristo. João declara em forma
específica que o número 666 "é número de homem" (Apoc. 13:18).
Ao ser multiplicado o número 6, dá a entender uma repetição dos
esforços da besta para "fazer-se passar por Deus",47 e contudo falhar
persistentemente. A informação de que os santos alcançaram a vitória
As Profecias do Tempo do Fim 389
"sobre a besta e sua imagem, e sua marca e o número de seu nome"
(Apoc. 15:2) é valiosa. A vitória sobre o número 666 não indica uma
vitória em ingenuidade matemática mas sim a vitória sobre o nome ou o
caráter de autoendeusamento da besta. A besta leva muitos "nomes de
blasfêmia" (Apoc. 13:1; 17:3). Isto quer dizer que à besta "são
adjudicados nomes e títulos honoríficos que só correspondem a Deus ou
a Cristo".48 Isto requer a sabedoria do discernimento divino mais que
uma perspicácia intelectual; exige conhecimento bíblico espiritual mais
que filosofia humana.
João assinala a seu significado profundo quando declara: "Aqui é
preciso discernimento! Que o inteligente..." (Apoc. 13:18, BJ). A
respeito, diz Alan Johnson: "Os crentes precisam penetrar o engano da
besta. A referência de João a este número os ajudará a reconhecer seu
verdadeiro caráter e identidade".49 Atualmente, os eruditos bíblicos
adventistas preferem esta interpretação. Beatrice S. Neall explica que o
número de homem, o 6, é legítimo só quando leva a 7, à glória e
soberania de Deus:
"Entretanto, seiscentos e sessenta e seis representa a negativa do
homem de proceder rumo ao sete, de dar glória a Deus como Criador e
Redentor. Representa a fixação do homem consigo mesmo, o homem
procurando a glória em si mesmo e em seus próprios poderes criadores sem
Deus: a prática de prescindir de Deus. Demonstra que o homem impenitente
é mau em forma persistente. A besta de Apocalipse 13 representa o homem
exercendo sua soberania à parte de Deus, o homem conformado à imagem
da besta em lugar da imagem de Deus. O homem à parte de Deus chega a
ser bestial, demoníaco".50
William G. Johnsson declara igualmente que 666 "aponta à paródia
da perfeição: imperfeição sobre imperfeição, apesar das monstruosas
pretensões da besta".51 Roy C. Naden oferece uma interpretação
completamente evangélica:
"Ser identificado com o 6 é experimentar luta sem o descanso do
Cordeiro. A besta e sua imagem têm o número que identifica a luta
incessante modelada por sua líder que é Satanás. Assim o 6 é o símbolo
As Profecias do Tempo do Fim 390
numérico da inquietação do perdido. Sem o Cordeiro, nunca podem
encontrar descanso".52

Precisamos dar-nos conta de que Apocalipse 13:11-17 descreve


simbolicamente o engano final do mundo no futuro. A formação da
"imagem" da besta ainda é uma realização incompleta. Também, a marca
da besta ainda não foi imposta à humanidade. Dar-nos conta disto deve
impedir que qualquer intérprete seja dogmático quanto ao futuro
cumprimento de Apocalipse 13:11-17.

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXVIII deste livro)
encontrará-a nas páginas 458-466.

1 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 582.


2 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 21.
3 Como por exemplo, Beale, The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic
Literature and in the Revelation of St. John, p. 247.
4 Ellul, The Subversion of Christianity, cap. 2.
5 Lecky, History of the Rise and Influence of the Spirit of Rationalism in
Europe, t. 2, p. 45. Também está no SDA Bible Students' Source Book
(O livro fonte adventista do sétimo dia dos estudantes da Bíblia], p.
740.
6 Thomas e Gertrude Sartory, In der Hölle Brennt Kein Feuer [Nenhum
fogo queima no inferno] (Munich, 1968), pp. 88, 89. Citado por H.
Küng, Eternal Life? [Vida eterna?] (Garden City, Nova York, 1984),
p. 132.
7 Publicado em Hamburgo pela Editora Rowohlt Reinbeck, 5 ts. (até o
século X), 1986-1997.
8 Shea, "Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13", Simpósio
sobre o Apocalipse, t. 1, pp. 353-359; as duas entrevistas pertencem às
pp. 358, 359.
9 A. F. Johnson, Revelation, p. 129.
As Profecias do Tempo do Fim 391
10 Guinness, Romanism and the Reformation, p. 234.
11 Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, p. 731.
12 Ver a documentação em Aulard, Christianity and the French Revolution,
p. 151.
13 Ver a documentação em Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t.
2, p. 756.
14 Ibid., p. 750.
15 Maxwell, "The Mark of the Beast", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p.
125.
16 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 741-748.
17 Von Ranke, Historia de los papas en la época moderna. Trad. Eugenio
Imaz (México: Fondo de Cultura Económica, 1943), p. 724.
18 J. F. Broderick, "Papacy" [O papado], New Catholic Encyclopedia [A
Nova Enciclopédia Católica] (Washington, D-C-: Catholic University
of America; 17 ts.), t. 10 (1967), p. 965.
19 A. LaTreille, "A Revolução Francesa", New Catholic Encyclopedia, t. 6,
p. 191.
20 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, p. 763.
21 Ibid., p. 750.
22 Broderick, "O papado", New Catholic Encyclopedia, t. 10, p. 966.
23 The New Encyclopedia Britannica [Nova Enciclopédia Britânica]
(Chicago: University of Chicago Press, 1992, 15a ed.), T. 26, p. 892.
24 Ibid.
25 7 CBA 832.
26 McCready Price, El tiempo del fin, p. 43.
27 Ibid., p. 41 (o itálico é meu).
28 Ibid.
29 Ibid., p. 43.
30 Ibid, p. 42.
31 Ibid., p. 69.
32 Ibid., p. 44.
33 Ellen White, GC 579, 581.
34 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, p. 59.
35 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 4, p. 1118.
As Profecias do Tempo do Fim 392
36 CBA 834.
37 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 4, p. 1118.
38 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 29.
39 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 358.
40 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 28.
41 A. F. Johnson, Revelation, p. 133.
42 Ibid., p. 134.
43 Minear, I Saw a New Earth, p. 119.
44 Ver Fitzer, "Sfragís", Theological Dictionary of the New Testament
[Dicionário teológico do Novo Testamento] (Grand Rapids, MI: Wm.
B. Eerdmans, 1964-1976; Gerhard Kittel, ed.; 10 ts.; trad. do alemão
por G. W. Bromiley), T. 7, pp. 939-953.
45 J. J. von Allmen, em Brady, The Contribution of British Writers between
1560 and 1830 to the Interpretation of Revelation 13:16-18, p. 301.
46 Irineu, Contra hereges, livro V, cap. 30, parágrafo 3.
47 Ellul, The Subversion of Christianity, p. 98.
48 H. Bietenhard, "Nome", Diccionario teológico del Nuevo Testamento (L.
Coenen, ed.), t. III, p. 175.
49 Alan Johnson, "Revelation" [Apocalipse], The Expositor's Bible
Commentary [O Comentário Bíblico do Expositor] (F. Gabelein, ed.
Grand Rapids, MI: Zondervan, 1981; 12 ts.), T. 12, p. 534.
50 Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with Implications for
Character Education, p. 154. .
51 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 31; ver também Strand, ibid., p.
222.
52 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of
Revelation, p. 200.
As Profecias do Tempo do Fim 393
IDENTIFICANDO O ANTICRISTO

A interpretação popular da escola preterista identifica a besta do


mar como o Império Romano. As "sete cabeças" da besta se aplicam a
sete imperadores sucessivos (dos onze) que houve durante o primeiro
século da era cristã. Esta opinião depende fortemente de uma
interpretação particular das sete cabeças da besta escarlate de Apocalipse
17. Desta besta determinada disse o anjo interpretador: "Aqui está o
sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a
mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um
existe, e o outro ainda não chegou..." (Apoc. 17:9, 10).
Kenneth A. Strand examinou recentemente a evidência para esta
aplicação preterista de Apocalipse 13 e 17 a Roma pagã.1 O método que
Strand usa é o contextual, pelo qual refuta eficazmente a identificação da
besta que sobe do mar com Roma imperial.
Primeiro relaciona Apocalipse 13 com seu contexto literário, quer
dizer, com a estrutura maior de Apocalipse 12. Esta esfera maior contém
uma seqüência histórica de três passos: "O dragão primeiro se opõe ao
menino-homem (Cristo), depois à mulher, e finalmente ao resto da
descendência dela".2 A conexão dos períodos de tempo específicos em
Apocalipse 12 (vs. 6, 14) e no capítulo 13 (v. 5) indicam que a besta de
Apocalipse 13 persegue os santos durante a segunda fase de Apocalipse
12, quer dizer, durante a era pós-apostólica. Os pais da igreja Irineu,
Tertuliano e Jerônimo esperavam o surgimento do anticristo só depois do
desmoronamento de Roma pagã. Nem sequer mencionam a Nero como
cumprindo alguma profecia no Apocalipse!
Strand também avalia a asseveração que diz que as sete cabeças da
besta representam as sete colinas de Roma. Assinala que a tradução
apropriada de óros não é "colinas" e sim "montes", assim como em
qualquer outro lugar do Apocalipse (ver Apoc. 6:14-16; 14:1; 16:20;
21:10). Como símbolo, "um monte" nunca representa um soberano
particular, mas sim a uma nação ou um império (veja-se Dan. 2:34, 35,
As Profecias do Tempo do Fim 394
44, 45; Jer. 51:25). O segundo termo em Apocalipse 17:9 e 10: "reis",
representa igualmente reino ou impérios (ver Dan. 2:38-40). Tanto
Daniel como o Apocalipse não fazem uma separação abstrata entre reino
e seus reis.
Strand explica que as sete cabeças da besta se diz que são impérios
mundiais sucessivos, sendo os executores do plano de Satanás em todas
os séculos. As cabeças não são sete colinas neutras e estáticas. Por
conseguinte, conclui assim:
"A referência nesse texto [Apoc. 17:9] a "sete montes" alertou
imediatamente aos paroquianos asiáticos de João ao fato de que o símbolo
representava uma série de impérios mundiais sucessivos".3
Mas as "sete colinas" de cidade de Roma, é obvio, não são
cronologicamente sucessivas. Entretanto, o Império Romano foi
claramente uma das sete cabeças da besta. Os dez chifres com diademas
da besta indicam que essa cabeça particular representa um poder mundial
que sucederia Roma pagã e que reinaria simultaneamente sobre dez
reinos.
A aplicação preterista da "ferida mortal" da besta a Nero e seu
ressurgimento aplicado a Domiciano (o tradicional mito de "Nero
revividus" [Nero revivido]) foi examinado e refutado totalmente por Paul
S. Minear e também por K. A. Strand.4 Portanto, concluímos que até as
perseguições dos cristãos por Roma pagã não foram as do anticristo em
Apocalipse 13. Até mais decisivo é o fato de que Apocalipse 16:13-16
indica que a besta-anticristo desempenhará um papel principal nos
acontecimentos finais que preparam o terreno para os juízos das sete
últimas pragas e o Armagedom. Por conseguinte, não pode restringir a
besta à antiga Roma e a seu culto imperial.
Este conhecimento levou a alguns expositores católicos e futuristas
a projetar um Império Romano pagão revivido no futuro. 5 George E.
Ladd representa aos que combinam as aplicações preterista e futurista e
portanto aceita um amplo espaço de muitos séculos de história da igreja. 6
Ladd considera Roma pagã como o precursor histórico do anticristo. Mas
As Profecias do Tempo do Fim 395
este futurismo moderado ignora o estilo apocalíptico de um contínuo-
histórico nos livros de Daniel e Apocalipse e mantém a era cristã em
grande parte fora do foco da profecia.

O Enfoque Historicista

O problema da interpretação do Apocalipse é basicamente o


problema da aplicação à história da igreja. Um erudito bíblico batista
assinala que "o legado do tempo é a parte mais difícil do livro. A que
tempo se referem os símbolos? E é obvio aqui é onde ocorre a batalha.
Refere-se o símbolo ao passado? Refere-se ao presente? Refere-se ao
futuro, e se for assim, quando?"7
Com respeito à data escolhida, precisamos recordar que o
Apocalipse de João está edificado sobre o fundamento já estabelecido no
livro de Daniel. Em concreto, Apocalipse 13 é a ampliação de Daniel 7,
como o confirmam vários vínculos únicos entre os dois capítulos. Um
erudito evangélico demonstrou inclusive o mesmo modelo estrutural em
ambos os capítulos e concluiu que "Apocalipse 13 foi modelado
fundamentalmente segundo Daniel 7... Apocalipse 13 está inspirado em
Daniel 7".8 Os expositores preteristas não reconhecem este ponto
essencial.
O Império Romano não esgota o profundo simbolismo e o conflito
universal de Apocalipse 13. Por outro lado, os expositores futuristas ou
dispensacionalistas ignoram completamente a relevância do Apocalipse
para a igreja de todos os tempos, porque aplicam Apocalipse 13
exclusivamente a um futuro governo mundial e à cabeça de uma futura
igreja apóstata.
Se Daniel apresentar a perspectiva de uma seqüência histórica,
então o enfoque mais apropriado é o cumprimento contínuo-histórico,
que a escola historicista de interpretação procurou seguir.
As Profecias do Tempo do Fim 396
Prova para Definir a Verdade e a Heresia

A igreja entendeu a heresia como uma contradição e separação


fundamental da fé. Caracterizou-se como uma obra do diabo, que se
devia exterminar por todos os meios possíveis. Segundo Tomás de
Aquino, sua exterminação era um dever sagrado.9 Os papas a partir de
Leão I (440-461) em diante justificaram a pena capital para a heresia e
alguns insistiram em promulgar decretos imperiais para anular os direitos
civis dos hereges, até que o concílio do Toulouse (1229) introduziu o
castigo de queimar vivos aos bogomilos ou albigenses na França.
As leis canônicas da Igreja Católica Romana ressaltam o dever dos
governantes seculares para erradicar a heresia e para obedecer as leis da
igreja, sob a ameaça de excomunhão. Por conseguinte, os governantes
viram como seu dever cumprir os requerimentos da Igreja, especialmente
do século XIII até o XVII. Uma cifra incontável de crentes cristãos
dissidentes foram massacrados como proscritos pela Inquisição papal em
vários países da Europa, tais como os albigenses, os valdenses e os
huguenotes. Foi especialmente horrível a matança no dia de São
Bartolomeu em 24 de agosto de 1572 em Paris e em outras cidades da
França, quando perto de 70.000 protestantes foram assassinados
sanguinariamente em um lapso de dois meses, com a aprovação do papa
Gregório XIII. Todos eles sacrificaram suas vidas "pela palavra de Deus
e pelo testemunho de Jesus Cristo".10
Vozes tanto de fora como de dentro da Igreja Católica começaram a
acusar o papado mundano de comportar-se de uma maneira semelhante
ao anticristo predito (dos arcebispos Arnoldo de Orleans no ano 991, e
Eberhard II do Salzburgo no ano 1241; também Dante, o Petrarca,
Savonarola, Wycliffe).11 Entretanto, não senão até os dias do Lutero e
Calvino que a convicção de que a hierarquia romana era o anticristo ou
Babilônia alcançou proporções maciças e se expressou em várias
confissões dos credos das igrejas protestantes.12
As Profecias do Tempo do Fim 397
Tanto Lutero como Calvino descobriram primeiro a Cristo e seu
evangelho de graça imerecida. Só então, depois que se defrontaram com
o autoritarismo dos papas que negaram sua liberdade para pregar o
evangelho e condenaram a essência de sua mensagem evangélica, é que
reconheceram que o Papa era o anticristo.
Calvino explicou isto detalhadamente em seu livro Institución de la
religión cristiana. Em 1543 declarou o seguinte:
"Será vigário de Cristo o que, perseguindo com seus furiosos esforços
ao evangelho, claramente se dá a conhecer como o anticristo?... Consta que
o pontífice romano se apropriou desavergonhadamente do que é próprio e
exclusivo de Deus e de Cristo".13
Para ambos os reformadores o anticristo não era um personagem
distante do passado ou um indivíduo no futuro remoto, mas sim uma
diabólica imitação de Cristo em seus próprios dias. Declararam que a
apostasia religiosa e eclesiástica contemporânea era o cumprimento das
profecias bíblicas, especialmente da profecia de Daniel 11:36-39 e 2
Tessalonicenses 2:4. Para eles o ponto essencial era que o anticristo era
uma realidade presente. Isto criou para os protestantes uma ameaça
existencial como se enfrentassem a prova última da fé.
G. C. Berkouwer reconheceu "que a concepção intuitiva dos
reformadores de um anticristo real e ativa é uma ênfase do Novo
Testamento"!14
João identificou os "muitos anticristos" em seu tempo por sua
separação essencial tanto doutrinal como moralmente do evangelho
apostólico original (ver 1 João 2:18, 19, 22; 4:2, 3). A norma específica
de João foi o ensino apostólico a respeito de Jesus como o Messias e sua
morte expiatória, cristologia que formou a pedra angular do evangelho
apostólico de salvação (ver também Rom. 1:1-14; At. 17:2, 3). João
enfatizou a diferença entre a fé apostólica que era "desde o começo" e os
enganos dos inovadores que alegavam ter um conhecimento maior de
Deus e de Cristo (1 João 2:22; 4:2, 3; 2 João 7).
As Profecias do Tempo do Fim 398
A preocupação exclusiva das cartas pastorais de João foi a crise
contemporânea da igreja em sua região. Não vacilou em chamar a
qualquer que ensinasse um evangelho diferente "falsos profetas" e
"anticristos". Apelou aos membros de igreja e lhes disse: "Provem os
espíritos se procedem de Deus" (1 João 4:1). Esta chamada é a
responsabilidade de cada membro de igreja, o que supõe não só um
conhecimento básico do evangelho apostólico mas também a unção do
Espírito. João assegurou a seus membros e lhes escreveu: "Mas vós
tendes a unção do Santo, e conheceis todas as coisas" (1 João 2:20; ver
também o v. 27).
Da aplicação que João fez do anticristo predito, recebemos uma
nova apreciação pelos esforços dos reformadores protestantes para
identificar o anticristo da profecia em seus dias. Os reformadores
aplicaram o mesmo teste que João tinha usado em sua primeira epístola:
a mensagem evangélica apostólica e original do Novo Testamento.
Sobre esta base os reformadores tanto pastores como exegetas
identificaram o papado medieval como o anticristo da profecia: por sua
exaltação própria acima de todos outros na Igreja e no Estado, e por seu
dogma de um caminho diferente de salvação (por um novo sacerdócio
com sete sacramentos).
A reação da Igreja Católica ao evangelho da Reforma protestante
chegou a solidificar-se no concílio do Trento (1545-1563) e no
Catecismo romano de 1566, publicado pelo papa Pio V.15
Os reformadores protestantes cumpriram com sua responsabilidade
ao alertar os cristãos dos ensinos do falso evangelho de sua Igreja-Estado
contemporâneo. Fizeram-no com a mesma seriedade como a que se
evidencia nas epístolas de João. Seus credos extensos quanto a Cristo, o
pecado, a salvação e a igreja apóstata, ainda convence a milhões de seres
humanos de que a interpretação protestante é uma restauração do
evangelho original.
As Profecias do Tempo do Fim 399
Surge então a premente pergunta: Está completa a reforma do
século XVI, reforma da igreja e da doutrina, ou chegou a estancar-se em
credos e tradições?
O teólogo luterano Paulo Althaus propôs que cada geração de
cristãos esteja alerta para identificar as atuais corrupções do evangelho e
para confessar o senhorio de Cristo em cada polarização religiosa. As
confrontações históricas do passado servem como tipos de ameaças
reiterativas, assim como o Apocalipse de João viu a antiga Babilônia,
Edom e Tiro como protótipos dos inimigos da era da igreja (ver Apoc.
18, que aplica as profecias da Isa. 13, 34 e Ezeq. 27). "A expectativa do
anticristo tem uma atualidade imediata... A igreja sempre deve procurar
o anticristo como uma realidade em sua situação presente ou considerá-
lo como uma possibilidade ameaçadora no futuro imediato".16 Segundo
Althaus, a identificação que Lutero fez do papado como o anticristo não
foi um "engano" ou algo incorreto, porque o papado representava nesse
tempo uma ameaça ao evangelho.
As ordens protestantes de sola Scriptura, sola fide, sola gratia, solo
Christo [só Escritura, só fé, só graça, só Cristo] funcionaram como gritos
de guerra na luta entre a fé e a incredulidade no evangelho. Althaus não
aprova que se dogmatize a identificação do anticristo em um credo,
porque o reconhecimento do anticristo deve relacionar-se a um anticristo
real no presente, não a um no passado ou no futuro. "O reconhecimento
do anticristo sempre é mortalmente sério".17
Tem pouco valor reconhecer ao anticristo no passado ou no futuro,
porque isso não requer um compromisso pessoal. Althaus adverte a
igreja, a qualquer igreja protestante, que está em um perigo constante de
chegar a ser ela o anticristo. Qualquer igreja que suplante a Cristo ou
usurpe sua autoridade ou procure o poder mundano, "é toda
anticristianismo, quer dizer, competição com Cristo, a vontade de
suceder ou substituir a Cristo: oposição a Cristo na forma de similitude
com ele, de 'tomar o lugar de Cristo' ".18
As Profecias do Tempo do Fim 400
O conceito de Althaus de reconhecer a essência de um anticristo
como um poder cristão que usurpa a autoridade de Cristo e substitui a
Cristo e a seu evangelho sempre é válido. Reconhece que a identificação
que Lutero fez do papado medieval como o anticristo esteve em
harmonia com o método da primeira epístola de João: reconhecer o
anticristo como um falso mestre do evangelho e como uma falsificação
da comunidade cristã. Não obstante, o enfoque protestante também
necessita uma prova contínua com a realidade histórica. Requer tanto a
prova do evangelho como a prova da perspectiva do tempo do fim da
Escritura.
Só da perspectiva de um desenvolvimento contínuo-histórico pode
localizar-se no curso da história o anticristo de Daniel, 2 Tessalonicenses
e Apocalipse. Freqüentemente os teólogos e exegetas modernos ignoram
este enfoque. Para eles, qualquer sistema totalitário ou ateu pode ser o
anticristo. Mas enquanto que há muitos poderes anticristãos no mundo,
há um só anticristo em Daniel 7 a 12, 2 Tessalonicenses 2 e Apocalipse
13. Fica como uma realidade que o anticristo medieval alterou e até se
opõe à lei do pacto de Deus e ao evangelho apostólico de salvação: a
Palavra de Deus e o testemunho de Jesus.
Se hoje o anticristo é impedido de perseguir os santos, isto não
muda a presença e a natureza do anticristo. A profecia indica
repetidamente que o anticristo medieval e suas perseguições serão
reavivadas na última geração em uma escala universal (em Dan. 11:40-
45; 12:1; Apoc. 13:15-17). Essa supremacia recuperada será abreviada
pela volta de Cristo (Dan. 12:1, 2; Mat. 24:22; 2 Tes. 2:8; Apoc. 17:12-
14; 19:11-21). Apocalipse 13 "enfatiza a revivificação e o
rejuvenescimento da besta".19 Isto deve pôr a cada igreja em estado de
alerta, especialmente no tempo do fim.
Apocalipse 12 a 14, em sua composição como uma unidade
estreitamente enlaçada, requer séria atenção. Nesta parte central do
Apocalipse nos encontramos face a face com a prova histórica do
discipulado: fidelidade a Jesus Cristo e a seu testemunho. Por causa do
As Profecias do Tempo do Fim 401
testemunho de Jesus, Paulo foi decapitado em Roma e João foi banido à
ilha de Patmos. Pelo testemunho de Jesus os mártires sacrificaram suas
vidas (Apoc. 6:9; 20:4). A prova apontada por Deus se enfoca sobre as
palavras de Cristo como se afirma no Novo Testamento, o que é de um
significado primitivo à luz das tendências reiterativas de substituir o
testemunho de Deus com os credos e fórmulas doutrinais das igrejas.

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXVIII deste livro)
encontrará-a nas páginas 458-466.

1 Strand, "The Seven Heads: Dou They Represent Roman Emperors?",


Simpósio sobre o Apocalipse. t. 2, cap. 5.
2 Ibid., p. 183.
3 Ibid., p. 191.
4 Ver Ibid., pp. 191-200; Minear, "The Wounded Beast".
5 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 486-505;
T. 3, pp. 733-737 (para ver desde Francisco de Ribeira até
Manning).
6 Ladd, El Apocalipsis de Juan: Un comentario, pp. 15, 16.
7 Robbins, Revelation: Three Viewpoints, p. 154.
8 Beale, The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic Literature and in
the Revelation of St. John, p. 247.
9 Tomás de Aquino, Summa Theologica, II-II, pergunta 11, A. 3.
10 Ver Ellen White, GC 271.
11 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 21-31 e
caps. 2 e 6; t. 1, pp. 796-806.
12 Ver T. G. Tappert, ed. Bock of Concord. Confessions of the
Evangelical Lutheran Church [Livro da Concórdia. Confissões da
Igreja Evangélica Luterana] (Philadelphia: Fortress Press, 19S9); El
catecismo de Heidelberg (Barcelona: ACELR, 1973 [da ed. de
1563]), pergunta 80.
As Profecias do Tempo do Fim 402
13 João Calvino, Institución de la religión cristiana, trad. Eusebio
Goicoechea (Grand Rapids: Eerdmans-Nueva Creación, 1988), livro
IV, cap. 7, parágrafos 24, 25 (P. 886). Neste livro IV, no cap. 7:
"Origem e crescimento do papado até que se elevou à grandeza
atual, com o que a liberdade da igreja foi oprimida e toda eqüidade
confundida", apresenta-se o relativo ao anticristo papal (ver,
especialmente, os pontos 24 e 25).
14 Berkouwer, The Return of Christ, p. 264.
15 Ver Catecismo romano del concilio de Trento (Madrid: BAC, 19S6;
trad. por Pedro Martín Hernández).
16 Althaus, Die Letzten Dinge [Os Eventos Finais], p. 283.
17 Ibid., P. 285.
18 Ibid., P. 284.
19 Berkouwer, The Return of Christ, p. 273.
As Profecias do Tempo do Fim 403
OS ÚLTIMOS COMPANHEIROS DO CORDEIRO
Apocalipse 14:1-5

Apocalipse 14 cumpre a função de ser a contraparte positiva do


capítulo 13. Aqui os santos que resistem o impacto dos poderes do
anticristo recebem uma recompensa gloriosa por sua fidelidade. Vemos o
Cordeiro de Deus em pé entre seus seguidores (Apoc. 14:1), em um
contraste evidente com a besta e seus seguidores que se apresenta em
Apocalipse 13.
Enquanto que os que adorem a besta levam a marca do anticristo, os
companheiros do Cordeiro levam o selo do Deus vivo em suas frentes
(Apoc. 14:1). Apocalipse 13 prediz a maturação da apostasia com seu
número 666. Apocalipse 14 nos assegura do juízo de Babilônia e da
recompensa do povo de Deus com seu número 144.000. Evidentemente,
Apocalipse 14 funciona como o complemento do capítulo 13. Um
erudito crítico alemão ficou tão impressionado por Apocalipse 14, que o
chamou "o ponto mais elevado formal e substancial do Apocalipse".1
Enquanto que os reformadores protestantes e os movimentos de reforma
modernos apelam a Apocalipse 14 para demonstrar sua chamada divina,
Ellen White reconhece que ainda não se alcançou seu significado
completo:
"O capítulo 14 do Apocalipse é do mais profundo interesse. Logo será
compreendido em todos seus alcances, e as mensagens dadas a João o
revelador serão repetidas com clareza".2

A Visão da Igreja Triunfante

"E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele
cento e quarenta e quatro mil, que em sua testa tinham escrito o nome dele
e o de seu Pai. E ouvi uma voz do céu como a voz de muitas águas e como
a voz de um grande trovão; e uma voz de harpistas, que tocavam com a sua
harpa. E cantavam um como cântico novo diante do trono e diante dos
quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico,
As Profecias do Tempo do Fim 404
senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. Estes
são os que não estão contaminados com mulheres, porque são virgens.
Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os
que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o
Cordeiro" (Apoc. 14:1-5).
A visão da igreja triunfante dá a conhecer a última geração de
crentes cristãos que sobrevivem às ameaças finais do anticristo. Os
144.000 seguidores do Cordeiro são vitoriosos porque perseveram em
sua lealdade a Cristo Jesus. Por seu rechaço a submeter-se à idolatria,
venceram a besta. Demonstram que o anticristo não teve êxito em seu
objetivo de estabelecer o domínio universal. Mas o céu intervirá
dramaticamente no fim da era. O Cordeiro poderoso conquistará a besta
em favor de seu povo do pacto. Esta segurança foi dada explicitamente
pelo anjo interpretador:
"Estes [a besta e os reis da terra] combaterão contra o Cordeiro, e o
Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis;
vencerão os que estão com ele, chamados, eleitos e fiéis" (Apoc. 17:14).
Seu cumprimento se descreve em um quadro simbólico de
surpreendente resgate divino:
"E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O que estava assentado
sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça" (Apoc.
19:11).
Esta visão majestosa constitui o cumprimento cristocêntrico da
libertação do tempo do fim de que fala Daniel:
"Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos
filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde
que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu
povo, todo aquele que for achado inscrito no livro" (Dan. 12:1).

Tanto Daniel como Apocalipse centralizam a libertação final do


povo do pacto de Deus sobre o monte Sião, "o monte glorioso e santo"
(Dan. 11:45; Apoc. 14:1). O mesmo monte de ataque e de salvação se
apresenta na profecia do Joel:
As Profecias do Tempo do Fim 405
"E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos,
como o Senhor prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor
chamar" (Joel 2:32).
Desde que o rei Davi colocou o arca de Jeová, símbolo da presença
e do trono de Deus, no monte Sião, este monte foi chamado "santo".
Chegou a ser o lugar simbólico de libertação na tradição profética (ver
Sal. 2; 46; 48; 110). É muito significativo que o Apocalipse de João
representa os 144.000 seguidores do Cordeiro em pé com o Cordeiro
sobre o monte Sião:
"Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e
quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu
Pai" (Apoc. 14:1).
O monte Sião ou a cidade santa (Jerusalém) estão colocados em
contraposição a Babilônia, mencionada em Apocalipse 14:8, 16:19 e
17:1-6. Sião e seu santuário, seu culto religioso e seus seguidores
constituem a norma da verdade salvadora pela qual Babilônia, seu culto
religioso e seus seguidores são medidos no tribunal do céu. Tanto Sião
como Babilônia são nomes que estão enraizados profundamente na
história da salvação de Israel. Representam os arquiinimigos religiosos
envoltos em um combate mortal (Jer. 50; 51; Dan. l ).

O Antecedente Veterotestamentário de Sião

Nas profecias de Israel, "Sião" é o símbolo da cidade de Deus, o


lugar da presença e proteção de Deus, especialmente para os tempos
messiânicos (Isa. 40-66; Zac. 1-9). O ponto em questão não é um lugar
"santo" geográfico, mas sim a presença de Deus entre seu fiel povo do
pacto. Sião foi o símbolo de bênção e libertação (ver Isa. 37). Esta
teologia de Sião foi tornada proeminente por Isaías em seu conflito com
um sacerdócio e um reinado corrompido que reclamavam o amparo de
Deus como pertencendo incondicionalmente a Sião e Jerusalém literal
(Isa. 28-31).
As Profecias do Tempo do Fim 406
Para Isaías, "Sião" representou um povo espiritual: os que procuram
o Senhor e têm a lei de Deus em seus corações (Isa. 51:1, 7). Deus disse
a essa Sião: "Tu és o meu povo" (v. 16). Isaías empregou o casamento
como um símbolo da fidelidade de Deus para com Sião, apesar de havê-
la abandonado temporalmente "por um breve momento" quando se
comportou mais como uma "meretriz" em suas relações com outras
nações (31:1-3). Este significado dual de Sião foi expresso por Isaías
nestas palavras:
"Porque o teu Criador é o teu marido; o SENHOR dos Exércitos é o seu
nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a
terra" (Isa. 54:5).
"Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça!
Nela, habitava a retidão, mas, agora, homicidas" (Isa. 1:21).
Esta dupla caracterização do Sião tanto como esposa fiel e como
meretriz, em momentos diferentes, forma o antecedente teológico para
compreender as duas mulheres simbólicas no Apocalipse de João. O
Apocalipse descreve a igreja fiel como um esposa radiante (Apoc. 12:1),
e a igreja apóstata como a grande meretriz: "Babilônia" (17:1-5).

Quais São os 144.000?

Na perspectiva profética de Joel, o povo remanescente o constitui os


que estão cheios com o Espírito de Deus (Joel 2:28) e adoram ao Senhor
(2:32). A criação deste povo do novo pacto só pode ocorrer depois que o
Messias receba a plenitude de sua unção (Isa. 11:1, 2; 61:1-6; ver Mat.
3:16, 17). A igreja apostólica recebeu este batismo do Espírito Santo no
dia de Pentecostes, conforme consta em Atos 2. Mas a perspectiva de
Joel 2:28-32 evidentemente avança para adiante, ao tempo do fim,
quando se efetue a separação final dos fiéis no monte Sião:
"E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como
o Senhor tem dito, e nos restantes que o Senhor chamar" (Joel 2:32).
As Profecias do Tempo do Fim 407
O Apocalipse descreveu a era da primeiro igreja nos capítulos 2 e 3
nas cartas de Cristo, mas os santos do tempo do fim estão representados
em Apocalipse 7 como os 144.000 verdadeiros "israelitas" de todas as
tribos (12 x 12.000). Esta é linguagem em clave do pacto de redenção de
Deus. Seu "selamento" como "servos" de Deus por parte dos anjos os
assinala como os que suportaram a prova do anticristo ao rechaçar sua
"marca". Entretanto, são vitoriosos só porque confiaram "no sangue do
Cordeiro" (Apoc. 7:14). Seus caracteres estão centrados em Cristo e são
semelhantes a Cristo. Estão em um contraste direto com os que têm o
número da besta, o 666, "um número misterioso que significa paródia e
imperfeição".3

Protótipos dos 144.000 no Antigo Testamento

Dois protótipos no Antigo Testamento iluminam nossa


compreensão dos 144.000. Pelo profeta Ezequiel sabemos a verdade
tantas vezes passada por alto, que só o povo do pacto, o povo de Deus
que é selado, permanecerá protegido no dia do juízo. Os que estejam sem
o selo de Deus estão marcados para a condenação (ver Ezeq. 9:5, 6). Na
última análise de Deus não haverá povo "indeciso". Apocalipse 14
mostra que está chegando o tempo quando toda a terra será levada à
"maturação" ou decisão, seja para o bem ou para o mal, e depois do anjo
anunciará: "A colheita da terra está amadurecida" (Apoc. 14:15). O
catalisador desta maturação coletiva forma o ponto culminante de
Apocalipse 14: as mensagens dos três anjos dos versículos 6-12, que se
tratam nos capítulos seguintes.
Outra conexão vital entre os 144.000 em Apocalipse 14 e a profecia
de Israel é a predição do Sofonías. Entre os anos 630-625 a.C., Sofonias
proclamou os juízos de Deus sobre Judá e Jerusalém devido a seus
compromissos com a adoração de Baal (Sof. 1:4-6). Anunciou a
iminência do juízo de Deus, o dia do Senhor (vs. 7, 14), mas também
incluiu a esperança surpreendente de que um remanescente fiel
As Profecias do Tempo do Fim 408
permaneceria leal a Deus. Seriam protegidos no "dia da ira do Senhor"
(2:3, 7, NBE). Chamou-os "os humildes da terra" (v. 3), os que adoram a
Deus com lábios puros e invocam o nome do Jeová para servi-lo em seu
santo monte (3:9, 11). Sofonias descreve os adoradores verdadeiros com
estas palavras:
"O remanescente de Israel não cometerá iniqüidade, nem proferirá
mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa; porque serão
apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante" (Sof. 3:13).
O remanescente de Sofonías 3:13 e os 144.000 do Apocalipse são
idênticos: "E não se achou mentira na sua boca; não têm mácula" (Apoc.
14:5). Para entender adequadamente esta caracterização dos 144.000
devemos primeiro esquadrinhar seu significado em Sofonías 3. Este
profeta do Antigo Testamento não aplica a "irrepreensibilidade" e a
"perfeição" de Israel de uma maneira abstrata, mas sim as aplica à sua
adoração do Senhor por meio da obediência à lei do pacto que está livre
das mentiras do culto aos ídolos, milagres falsos e profecia falsa (ver
também Deut. 18:9-13).
Paulo também caracterizou a apostasia do homem de iniqüidade
como "mentira" (2 Tes. 2:11). Em Apocalipse 14 se contrasta
intencionalmente os 144.000 com os adoradores da besta e seu culto
religioso. Esta interpretação corresponde com a outra descrição de João:
"Estes são os que não estão contaminados com mulheres, porque são
virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá"
(Apoc. 14:4). Ambas as orações gramaticais formam uma unidade e se
explicam por si mesmas. Os 144.000 simbólicos (tanto homens como
mulheres) não seguem à "mulher" caída ou às comunidades de adoração
apóstata, chamada mais tarde Babilônia ou "mãe das meretrizes" (Apoc.
17:5). Seguem exclusivamente o Cordeiro de Deus.
O termo "virgem" era o título hebraico para Sião e Jerusalém em
sua relação do pacto com Deus (2 Reis 19:21; Isa. 37:22; Jer. 14:17;
18:13; 31:4; Lam. 1:15; 2:13; Amós 5:2).
As Profecias do Tempo do Fim 409
Os termos "adultério" e "cometer adultério ou fornicação" usam-se
tanto no Antigo Testamento como no Apocalipse como símbolos de
idolatria ou de culto falso (ver Êxo. 34:15; Juí. 2:17; 1 Crôn. 5:25; Apoc.
14:8; 17:2, 4;18:3, 9; 19:2). O símbolo "virgem" [parthénos] em
Apocalipse 14:4 está em contraste com o termo "meretriz" [porné], e por
conseguinte está de igual maneira determinado religiosamente. 4 J.
Massyngberde Ford oferece este útil comentário sobre os 144.000:
"À luz do significado metafórico do termo virgem, parece que
Apocalipse 14:4 se refere aos anciões fiéis de Jerusalém ou a todos quão
fiéis não se poluíram com a idolatria, a sensualidade (gr. thumós) da
prostituição de Babilônia como no v. 8. O não estar poluídos com mulheres
pode olhar atrás ao monstro feminino do capítulo 13, mas muito mais
provavelmente olhe para frente à meretriz em Apocalipse 17 e 18". 5
Não há justificação para interpretar literalmente um símbolo
apocalíptico isolado e caracterizar os 144.000 como celibatários. O
apóstolo Paulo já tinha usado o termo "virgem" [parthénos] de uma
maneira simbólica para a igreja apostólica que pertencia a "um marido, a
Cristo", quando escreveu: "Para lhes apresentar como uma virgem pura a
Cristo" (2 Cor. 11:2). Para Paulo, a igreja desempenhava o papel de ser a
noiva e esposa do Senhor ressuscitado (ver Ef. 5:31, 32; também Apoc.
19:7).
O Apocalipse mostra os 144.000 como saindo de seu conflito final
com o anticristo, no que demonstraram sua lealdade suprema a Cristo.
Reconhecem só a Cristo, como ovelhas que seguem a seu pastor no qual
confiam (João 10:4; Apoc. 7:17). Não seguem o poder da besta. Em sua
luta final com Deus recebem uma experiência mais profunda da
intimidade com Cristo, a que expressam em um "cântico novo" que
cantam diante do trono de Deus. "E ninguém pôde aprender o cântico,
senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra"
(Apoc. 14:3).
O "cântico novo" em Apocalipse 14 nos recorda do "novo cântico"
que os 24 anciões cantam diante de Deus em Apocalipse 5:9 e 10.
Louvam ao Cordeiro por sua morte como sacrifício por meio da qual
As Profecias do Tempo do Fim 410
"redimiu para Deus, de toda linhagem e língua e povo e nação". Este
louvor de Cristo como o Cordeiro redentor de Deus será sem dúvida
alguma o tema do cântico dos 144.000 depois que tenham experimentado
uma libertação maior do que a que Israel experimentou sob Moisés (ver
Êxo. 15). Então, podemos identificar seu novo cântico com "o cântico de
Moisés, e o cântico do Cordeiro" de Apocalipse 15 que celebra sua
vitória sobre a besta, sua imagem e sobre o número de seu nome:
"E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do
Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor, Deus
Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos
santos! Quem te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu nome?
Porque só tu és santo; por isso, todas as nações virão e se prostrarão diante
de ti, porque os teus juízos são manifestos" (Apoc. 15:3, 4).
João descreve ademais os 144.000 de outra maneira simbólica:
"Estes foram redimidos de entre os homens [e oferecidos] como
primícias [aparjé] para Deus e para o Cordeiro" (Apoc. 14:4). A lei
agrícola de Israel exigia que os primeiros frutos da colheita se
dedicassem ao Senhor em seu templo (Lev. 23:9-14; Êxo. 23:19). Estas
primícias eram também por definição as primeiras em qualidade, "o
mais escolhido" da colheita (Núm. 18:12, 13; Ezeq. 44:30). Jeremias
tinha chamado ao Israel uma "noiva" santa, "primícias de seus novos
frutos" (Jer. 2:3). Assim considerava Deus o Israel fiel: como as
primícias de sua colheita do mundo. De uma maneira similar podemos
ver os 144.000 israelitas espirituais contados como as primícias da
colheita da humanidade no fim da era da história. A qualidade de sua
devoção ou santidade se manifesta em seu constante seguir a Cristo
durante a prova final de fé (ver Apoc. 14:4, 5). Estão "com" Jesus (Apoc.
14:1; 17:14). Paulo tinha chamado a Cristo "as primícias dos que
dormiram" (1 Cor. 15:20, 23), indicando que a ressurreição de Cristo é
uma garantia da ressurreição dos crentes.
Como os últimos companheiros do Cordeiro na era da igreja, os
144.000 israelitas espirituais estão selados para a eternidade (Apoc. 7:1-
4). São os Enoques do tempo do fim porque também "caminham com
As Profecias do Tempo do Fim 411
Deus" e serão "trasladados" sem experimentar a morte (Gên. 5:24; Heb.
11:5). São os Elias do tempo do fim porque combatem corajosamente
contra os poderosos baalins do tempo do fim, e serão "tomados" por
carros de fogo de salvação e transladados à glória (2 Reis 2:10, 11;
Apoc. 19:14), o que dá a entender que os 144.000, ao ser selados como
as primícias do tempo do fim, são "comprados dentre os da terra" como o
começo da colheita do mundo descrita em Apocalipse 14:14-16.6
A ordem dos acontecimentos em Apocalipse 13 e 14 corresponde
com a de Mateus 24: primeiro a abominação desoladora em Jerusalém,
depois a aflição dos santos, seguido por seu resgate por meio de Cristo e
seus anjos. É aqui onde podemos fazemos a pergunta pertinente: O que é
o que produz estes 144.000 israelitas verdadeiros? Como aparecem no
cenário do tempo do fim?
A primeira resposta está na visão de Apocalipse 10, onde João viu
"descer do céu outro anjo forte" comissionado para entregar uma
mensagem especial do tempo do fim ao mundo durante o período da
sexta trombeta (ver o cap. XVIII desta obra). É esta mensagem do tempo
do fim de Apocalipse 10 que se desenvolve ulteriormente nas três
mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12.

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXVIII deste livro)
encontrará nas páginas 458-466.
1 E. Lohmeyer, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], HzNT 16
(Tübingen: J. C. B. Mohr, 1953), p. 119.
2 Ellen White, Review and Herald [Revista e Arauto], 13 de outubro de 1904. Ver em 7
CBA 989 (T. 7-A, P. 419).
3 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o
Apocalipse, t 2, p. 32.
4 Ver G. Delling, "Parthénos", Diccionario teológico del Nuevo Testamento (ed. por G.
Kittel), T. 5, P. 836.
5 J. M Ford, Revelation, pp. 242, 243.
6 Neall, "Sealed Saints and the Tribulation", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, cap. 12.
As Profecias do Tempo do Fim 412
A MENSAGEM DO PRIMEIRO ANJO
Apocalipse 14:6, 7

É significativo o lugar onde está colocado a última mensagem de


admoestação de Apocalipse 14:6-12. encontra-se entre as ameaças do
anticristo no capítulo 13 e a cena do juízo do capítulo 14:14-20. A
tríplice mensagem transmite o ultimato de Deus a um mundo unido em
rebelião contra ele.
"Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno
para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e
língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois
é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o
mar, e as fontes das águas" (Apoc. 14:6, 7).
A expressão "outro anjo" (v. 6) conecta este mensageiro com o anjo
anterior que aparece no Apocalipse, o "anjo forte" do capítulo 10. A
tríplice mensagem de Apocalipse 14 ao que parece funciona como a
expansão da missão do "anjo forte" durante a sexta trombeta (Apoc.
10:5-7). Em ambos os capítulos, o 10 e o 14, a advertência do tempo do
fim do céu tem o propósito de alcançar toda a terra. O anjo "voando pelo
meio do céu" (o zênite do céu) em Apocalipse 14 simboliza o alcance
universal de sua mensagem, assim como o anjo forte tinha posto seu pé
tanto sobre o mar como sobre a terra. Esta esfera de ação universal se
recalca pela ênfase: "Tendo o evangelho eterno para pregar aos
moradores [literalmente, 'se sentam'] da terra, a toda nação, tribo, língua
e povo" (v. 6). Esta proclamação do "evangelho eterno" de Deus é a
verdadeira mensagem de reavivamento para o fim. Desenvolve a
promessa anterior de Cristo:
"E este evangelho do reino será pregado em todo mundo, para
testemunho a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14).
O adjetivo "eterno " [em gr., aiónion] aplicado ao "evangelho" em
Apocalipse 14:6 leva consigo um significado especial. Afirma que o
evangelho do tempo do fim é o evangelho inalterado dos apóstolos de
Jesus. O evangelho do tempo do fim não é um evangelho diferente, mas
As Profecias do Tempo do Fim 413
sim o evangelho como foi exposto por Paulo em suas cartas aos romanos
e a outras igrejas. A estrutura delicada do evangelho da soberana graça
de Deus (ver Ef. 2:4-10) não pode ser alterado nunca, nem sequer por um
anjo ou por um apóstolo. Uma inovação tal cairia sob a maldição de
Deus (ver Gál. 1:6-9).
O evangelho eterno chega a ser cada vez mais relevante quando é
contemplado em seu marco de Apocalipse 13, onde o anticristo demanda
a lealdade à sua falsificação ou "evangelho diferente" (cf. 2 Cor. 11:4).
Referindo-se aos decretos do concílio do Trento (1545-1563), o bispo
Chr. Wordsworth comentou:
"Porém, apesar desse anátema apostólico repetido duas vezes [no Gál.
1:6-9], os que aderem à besta pronunciaram seu anátema sobre todos os
que não recebem as novas doutrinas que acrescentaram ao evangelho de
Deus".1
Alguns comentadores modernos tomaram a posição de que a frase
"evangelho eterno" de Apocalipse 14:6 não quer dizer o evangelho
apostólico mas sim as novas de que o juízo final é iminente (v. 7).
Outros assinalaram que o juízo foi uma parte essencial do evangelho
desde sua iniciação (veja-se Mat. 7:22, 23; 16:27; 25:41; Rom. 2:15, 16).
A vinda do justo juízo de Deus sempre significa boas novas de resgate e
vindicação para seu povo do pacto (ver Sal. 96) e um dia de ajuste de
contas para seus perseguidores (Jer. 50, 51).
Jesus predisse que o evangelho do reino seria pregado como
testemunho (legal) a todos os que moram na terra até o próprio fim (Mat.
24:14; Mar. 13:10). Portanto, podemos aceitar Apocalipse 10 e 14:6-12
como a aplicação para o tempo do fim da predição de Jesus em Mateus
24.
Como Jesus fez em Mateus 24, o Apocalipse faz da proclamação
mundial do evangelho o sinal preeminente dos tempos. G. C. Berkouwer
assinalou um engano popular quanto a isto:
"Com muita freqüência, a reflexão sobre os sinais foi separar-se do
reino, que é seu ponto de concentração. Os resultados sempre são
desconcertantes. Mas o assunto fundamental é a propagação universal do
As Profecias do Tempo do Fim 414
evangelho de Jesus Cristo (Mar. 13:10)... Geralmente os que catalogaram os
sinais dos tempos incluíram isto, mas com freqüência se viu simplesmente
como outro elemento no 'relatório da narração'... Nos últimos dias a
pregação do evangelho é o ponto focal de todos os sinais. Nela podem e
devem ser entendidos todos os sinais".2
Deve respeitar-se o significado fundamental do evangelho eterno.
Não é um exagero deduzir que uma compreensão nova do evangelho
apostólico em seu marco do tempo do fim de Apocalipse 10 e 14, cria
um novo povo remanescente! Estão comissionados como mensageiros a
pregar o evangelho em seu marco apocalíptico de Apocalipse 13 e 14.
Devido a este convite final à humanidade antes do juízo, todo mundo
estará amadurecido para esse juízo. Isso não quer dizer que se possa
calcular a data do fim que se aproxima. O reavivamento do evangelho
sem adulteração é básico para o plano determinado de Deus (Mar.
13:10). É uma "parte do atuar de Deus no tempo do fim". 3 Proclamar a
tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a missão final da igreja! O
cumprimento desta missão é o maior sinal de todos os que indicam que
começou o tempo do fim!
A Escritura não estabelece que a segunda vinda de Cristo está
condicionada ao êxito da pregação do evangelho, mas sim está
condicionada à realidade da pregação mundial. A tríplice mensagem de
Apocalipse 14 intensifica o apelo anterior de Jesus: "Arrependei-vos,
porque está próximo o reino dos céus" (Mat. 4:17).

O Conteúdo do Evangelho Eterno

Jesus mesmo andou "pregando e anunciando o evangelho do reino


de Deus" (Luc. 8:1), o que indicava a chegada do Messias prometido.
Incluía seu nascimento (Luc. 2:10, 11, "novas de grande gozo"), sua vida
(Mat. 11:5), sua morte expiatória (Mar. 10:45; Ef. 2:14-17; At. 10:36), e
sua ressurreição e entronização no céu (At. 2:30-33). "Sua aparição, não
simplesmente sua pregação, toda sua obra está indicada por 'pregando as
As Profecias do Tempo do Fim 415
4
boas novas [euanguelízesthai]' ". Portanto o evangelho apostólico se
centralizava nas boas novas de que Jesus de Nazaré era o Messias da
profecia (At. 5:42; 8:35; 17:3, 18). Por conseguinte, o evangelho também
inclui as profecias messiânicas do Antigo Testamento (ver 1 Ped. 1:10,
11; Rom. 1:2; 16:25, 26).
Como rei de Israel, Cristo personifica o reino de Deus. Pregar o
evangelho de Cristo significa uma proclamação eficaz no poder e a
autoridade do Espírito Santo (ver Heb. 2:4). Tal pregação transmite
salvação e cria paz e gozo (At. 8:8, 39). Paulo recebeu o evangelho por
meio de uma revelação direta de Jesus Cristo (Gál. 1:12). Explicou o
conteúdo do evangelho de uma maneira sistemática em Romanos 1 aos
8. centra-se na verdade de que Jesus é o Cristo (Rom. 1:1-4) e que a
salvação é nossa por meio da justificação por graça, só por meio da fé
em Cristo (Rom. 3:28; 4:25; 5:1; 8:1, 33, 34).
Paulo resumiu sua compreensão do evangelho em 1 Coríntios 15:3-
5, onde menciona a morte expiatória de Cristo, sua sepultura,
ressurreição e as aparições do Cristo ressuscitado. Em síntese, a essência
do evangelho de Paulo pode compendiar-se na confissão: Jesus é o
Cristo (Messias), o Senhor ressuscitado (ver Rom. 10:9, 10). Paulo
também reconheceu o dia do juízo como parte do evangelho (ver Rom.
2:16; At. 17:30, 31). Este é seu amplo panorama do evangelho. A
proclamação do juízo e das boas novas estão inextricavelmente unidas,
como o arrependimento e o novo nascimento (Mar. 1:15; Isa. 57:15). O
juízo de Deus é essencialmente boas novas para o crente, porque Cristo é
tanto Juiz como Salvador (João 5:22). Gerhard Friedrich reconheceu que
o evangelho e o juízo estão conectados indissoluvelmente:
"Desde que o evangelho é a chamada de Deus... aos homens,
demanda decisão e impõe obediência (Rom. 10:16; 2 Cor. 9:13). A atitude
para com o evangelho será a base da decisão no juízo final (2 Tes. 1:8; cf. 1
Ped. 4:17)".5
As Profecias do Tempo do Fim 416
A proclamação do evangelho oferece o gozo da salvação presente
aos que o aceitam por fé (Ef. 1:13; 1 Cor. 15:2; Rom. 1:16; 8:15-17). Diz
Ivan T. Blazen:
"Em termos da informação real da Escritura, é uma ficção acreditar que
a justificação não nos relaciona com a soberania de Cristo como Senhor ou
que o juízo não nos relaciona com a obra de Cristo como Salvador... Quando
chegar o fim, o juízo avalia e atesta da realidade da justificação evidenciada
pelas testemunhas fiéis do povo de Deus. Neste fluxo, a justificação e o juízo
não estão na relação de tensão ou contradição mas sim na de inauguração e
consumação".6

A Mensagem do Primeiro Anjo

"Dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é


chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o
mar, e as fontes das águas" (Apoc. 14:7).
Este mensageiro celestial fala com "grande voz", o que indica que
todos os moradores da terra devem ouvir sua mensagem. As palavras nas
quais está expressa a mensagem estão tomadas do Antigo Testamento, e
repetem a demanda do pacto de Deus sobre Israel para adorar somente a
ele como Criador do céu e da terra. De fato, pode ouvir-se um eco
específico do quarto mandamento da lei do pacto de Israel na motivação
para adorar a Deus como Criador:

APOCALIPSE 14:7 ÊXODO 20:11


"Adorai aquele que fez o céu, "Porque, em seis dias, fez o Senhor
e a terra, e o mar, e as fontes das os céus e a terra, o mar e tudo o
águas". que neles há e, ao sétimo dia,
descansou; por isso, o Senhor
abençoou o dia de sábado e o
santificou".
As Profecias do Tempo do Fim 417
A resposta à pergunta: "Como devem as pessoas adorar a Deus
como Criador?", é indicada na continuidade do pacto de Deus entre
Israel e a igreja: honrando o sétimo dia sábado como o "bendito"
monumento comemorativo da obra criadora e redentora do Deus do
pacto de Israel (ver Êxo. 20:8-11 e Deut. 5:12-15).
A celebração do sábado do Criador-Redentor identifica o único
Deus verdadeiro. O sábado não foi feito só para a raça hebréia, mas sim
para a humanidade do começo até o fim do tempo. Corrigindo um
engano legalista fariseu, Cristo declarou: " O sábado foi estabelecido por
causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o
Filho do Homem é senhor também do sábado" (Mar. 2:27, 28). A
importância universal do sábado foi expressa por Isaías, o profeta
evangélico:
"Aos estrangeiros que se chegam ao Senhor, para o servirem e para
amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos seus, sim, todos os
que guardam o sábado, não o profanando, e abraçam a minha aliança,
também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de
Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu
altar, porque a minha casa será chamada Casa de Oração para todos os
povos" (Isa. 56:6, 7).
Isaías previu como Deus convidaria os gentios para adorar em seu
templo no monte Sião nos sábados. Isaías estendeu esta perspectiva aos
novos céus e a nova terra:
"Porque, como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer, estarão
diante de mim, diz o Senhor, assim há de estar a vossa posteridade e o
vosso nome. E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado
a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor" (Isa. 66:22,
23).
O Apocalipse compara a chamada do céu para reavivar a adoração
verdadeira com a adoração da besta imposta pelo falso profeta (Apoc.
13:12, 15). A chamada para a adoração verdadeira em Apocalipse 14
chega a ser uma prova de lealdade ao Fazedor do céu e da terra: "Temei
a Deus e dai-lhe glória..." (Apoc. 14:7). Esta exortação está tomada do
apelo feito por Moisés a Israel exatamente antes de entrarem na terra
As Profecias do Tempo do Fim 418
prometida: "O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás... Não seguirás
outros deuses, Diligentemente, guardarás os mandamentos do Senhor,
teu Deus" (Deut. 6:13, 14, 17; ver também 10:12, 20; 13:4).
Muitos entre as nações responderiam a este convite final
proclamado pelos instrumentos de Deus, como ouvimos no cântico de
Moisés e do Cordeiro:
"Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu
és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os
teus atos de justiça se fizeram manifestos " (Apoc. 15:4).
Durante a crise religiosa nos dias do Acabe e Elias, os verdadeiros
seguidores do Jeová se descreveram a si mesmos como "temerosos de
Jeová" (1 Reis 18:3, 12; 2 Reis 4:1), em contraste com os que seguiam
aos baalins.
Esta raiz principal do Antigo Testamento de uma confrontação
futura mostra que o "temor de Deus" pressupõe a obediência à vontade
de Deus. Em todo o Antigo Testamento há indicações de que o "temor de
Deus" está unido inseparavelmente à obediência voluntária aos
mandamentos de Deus (ver Gên. 22:1, 12; Êxo. 20:20; Deut. 6:13-17;
10:12; Sal. 112:1; 119:63; 128:1). Esta correspondência é expressa no
livro do Eclesiastes:
"De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus
mandamentos; porque este é o dever de todo homem" (Ecl. 12:13).
A religião do homem se coloca sob a lupa do juízo de Deus (Ecl.
12:14). Os eruditos contemporâneos do Antigo Testamento admitem que
avançaram para uma compreensão diferente da lei ou a "torah", e que já
não consideram a verdadeira devoção à torah como um legalismo que
procura méritos.7
Chegou a ser claro que o livro de Deuteronômio foi a resposta
agradecida de Israel à liberação do êxodo. A prioridade da graça
redentora de Deus estava escrita no preâmbulo do decálogo: "Eu sou
Jeová teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êxo.
20:1). A graça redentora é o núcleo da Torah. O Decálogo está engastado
As Profecias do Tempo do Fim 419
na graça de Deus e é um dom de Deus. O evangelho apostólico também
conhece que o temor do Senhor é a evidência de gratidão por uma
salvação tão grande (ver At. 9:31; Fil. 2:12).
A mensagem do primeiro anjo trata de restaurar a essência da
adoração verdadeira como foi experimentada pelos profetas e apóstolos.
Pode-se escutar o som do apelo de Elias para voltar para Deus com o
coração e a alma: "Se Jeová é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o" (1 Reis
18:21)! Josephine M. Ford captou esta continuidade da religião
verdadeira. Disse ela:
"O anjo porta-voz em 14:6 e 7 anuncia a reafirmação do Decálogo e da
adoração de um só Deus, em oposição à adoração da imagem (13:15) que
viola os mandamentos. A referência a Deus como Criador é compreensível à
luz da referência ao céu, à terra e às águas debaixo da terra em Êxodo 20:4.
Além disso, a referência à hora do juízo de Deus (v. 7) tem afinidade com
Êxodo 20:5, a declaração de zelo e vingança de Deus sobre todos os que o
aborrecem".8

O Criador, Também o Juiz de Todos os Homens

O primeiro anjo adiciona como uma motivação especial deste


convite para adorar a Deus o anúncio: "Porque vida é a hora do seu
juízo" (Apoc. 14:7). A associação da adoração e juízo não é nova. Com
freqüência se ensina no Antigo Testamento que o Criador é também o
Juiz. É significativa a confissão de fé de Abraão: "Não fará justiça o Juiz
de toda a terra?" (Gên. 18:25). O Decálogo contém a relação entre Deus
como Criador e Juiz (Êxo. 20:4-6, 11 ). A libertação do êxodo se explica
como o juízo de Deus sobre o Egito e Babilônia (Êxo. 7:4; 15:8-12;
Deut. 4:32-34; Isa. 11:10-16). O juízo de Deus se manifesta como a
redenção de seu povo do pacto através do perdão divino (Isa. 43:25;
51:9-16; Miq. 7:18; Sal. 89:9-14; 103; 136). Os juízos de Deus na
história mostram duas motivações: a punitiva e a redentora (Êxo. 6:5, 6;
Isa. 33:22). Os cantos de adoração de Israel expressam o pensamento de
que Deus é o Juiz porque é o Criador de todas as coisas:
As Profecias do Tempo do Fim 420
"Porque todos os deuses dos povos são coisas vãs; mas o Senhor fez
os céus... Dizei entre as nações: O Senhor reina! O mundo também se
firmará para que se não abale. Ele julgará os povos com retidão.... Ante a
face do Senhor, porque vem, porque vem a julgar a terra; julgará o mundo
com justiça e os povos, com a sua verdade" (Sal. 96:5, 10, 13).
"O que fez o ouvido, acaso, não ouvirá? E o que formou os olhos será
que não enxerga? Porventura, quem repreende as nações não há de punir?"
(Sal. 94:9, 10).
Esta verdade da religião de Israel – que o Criador é o Juiz de todos
os homens – também se aplica ao próprio povo do pacto. Tinham que
confrontar o dia de acerto de contas durante o Dia da Expiação anual, o
décimo dia do sétimo mês, que se anunciava por meio da festa das
Trombetas dez dias antes (Lev. 23:23-32). Ao mesmo tempo que o
supremo sacerdote purificava o santuário da culpa do Israel (Lev. 16),
era um assunto de vida ou morte para cada israelita. "Nesse dia se
proclamava que Jeová e o pecado não tinham nada em comum. Depois o
pecado era transferido à sua fonte, quer dizer, a Azazel".9 É interessante
saber que a Mishnah considera a festa das trombetas como um tempo de
juízo:
"No dia de Ano Novo tudo o que vem ao mundo passa ante ele como
se fossem legiões de soldados (ou rebanhos de ovelhas), porque está
escrito: Ele formou o coração de todos eles; está atento a todas as suas
obras".10
A Jewish Encyclopedia [Enciclopédia Judaica] informa sobre o
desenvolvimento de um juízo investigativo no céu:
"A sorte dos que são completamente ímpios e dos que são
completamente pios se determina imediatamente [no dia de Ano Novo]; o
destino da classe intermediária fica suspensa até o Dia da Expiação, quando
se sela a sorte de cada homem".11
Significativa é a declaração rabínica: "No Dia da Expiação criarei a
ti uma nova criação".12 Como o Dia da Expiação do Israel conectava ao
Criador com sua obra de juízo, Jacques Doukhan considera o Dia da
Expiação como um "antecedente específico em contraste com o qual está
esboçado a mensagem de Apocalipse 14".13
As Profecias do Tempo do Fim 421
Esta perspectiva é fascinante e abre um nível mais profundo de
compreensão do chamado de Deus para adorá-lo "com temor e tremor"
no tempo do fim. lhe dar glorifica como o Criador (Apoc. 14:6, 7) é um
recordativo adequado da adoração do Israel em seu Dia da Expiação, e
deve recordar à igreja a verdade de que a salvação não está apoiada em
raça ou paróquia, a não ser em estar "em Cristo" por meio da fé pessoal
(Rom. 5:1; 8:1). Os pecadores impenitentes no Israel ou no cristianismo
não são reconhecidos pelo Deus do pacto (Amós 5:18-24; Ezeq. 9; Mat.
7:21-23). O escritor evangélico Leão Morris assinalou que:
"...é digno de notar que a gente que se surpreenderá naquele dia não
são os forasteiros, a não ser os que se acreditam salvos na igreja". 14

"Pois É Chegada a Hora do Seu Juízo" (Apoc. 14:6, 7)

O anúncio do primeiro anjo, de que chegou "a hora" do juízo de


Deus, serve de resposta do céu à perseguição da besta. No plano de Deus
chegou o tempo do dia do acerto de contas, e este juízo pode entender-se
de duas formas que se complementam.
A frase "é chegada a hora do seu juízo" pode aplicar-se ao juízo
executivo de Deus, tal como se descreve em Apocalipse 14:14-20. O
tempo gramatical perfeito "chegou" exerce então a função de um
"perfeito profético" (um tempo passado para descrever um evento futuro,
usado com freqüência pelos profetas de Israel) para enfatizar a certeza
absoluta de seu cumprimento (ver, por ex., Jud. 14, RA, BJ; CI; JS).
João também usou o perfeito profético ("adoraram o dragão") duas
vezes em Apocalipse 13:4.15 Desta perspectiva, o primeiro anjo anuncia
o juízo vindouro na segunda vinda de Cristo que descreve na visão
seguinte (14:14-20), perspectiva que interpreta "a hora do juízo de Deus"
como a execução do juízo da segunda vinda de Cristo. Ellen White
reconheceu esta aplicação quando conectou a "colheita da terra" com a
mensagem do primeiro anjo: "A mensagem do primeiro anjo de
Apocalipse 14 [em Apoc. 14:6, 7], anunciando a hora do juízo...".16
As Profecias do Tempo do Fim 422
A segunda forma considera primeiro a conexão com Daniel 7. Joyce
G. Baldwin nos recorda que "o marco de Daniel 7 é juízo".17 Daniel
tinha contemplado a sessão do tribunal na sala do trono celestial (Dan.
7:9, 10), depois que o "chifre pequeno" completou sua perseguição dos
santos (vs. 25, 26). Só quando terminou este juízo celestial, "um como
um filho de homem" veio "com as nuvens do céu" para receber o
domínio sobre este mundo (vs. 13, 14). Até a frase "sentado sobre a
nuvem, um semelhante ao Filho do Homem" em Apocalipse 14:14 está
adotada diretamente do Daniel 7:13 e não dos Evangelhos, o que indica
que João tinha a Daniel 7 especificamente em mente quando escreveu as
visões de juízo de Apocalipse 14.
Uma comparação estreita indica que a proclamação do anjo, "é
chegada a hora de seu juízo ", é paralela à cena do juízo no céu da visão
de Daniel, quando "assentou-se o juízo, e abriram-se os livros" (Dan.
7:9, 10). Ambas as visões de juízo formam a cena preliminar antes que
venha o Filho do Homem. Por conseguinte, coincidimos com a
observação de Doukhan com respeito a este ponto:
"A visão do Daniel 7 e as mensagens dos três anjos de Apocalipse 14
estão situados ao mesmo nível na linha profética. Coincidem o juízo no céu
predito em Daniel 7 e a proclamação dos três mensageiros de Apocalipse
14".18
A forma como se desloca o foco central de atividade em Daniel 7:8-
14 (da terra ao céu, outra vez à terra, e de volta ao céu) indica que a
sessão de juízo no céu "começa enquanto o chifre pequeno está ainda
ativo e, portanto, precede o fim".19 Em resumo, Daniel prediz um juízo
denominado pré-advento (anterior ao advento) em um tribunal celestial
de justiça onde se colocam os tronos e se abrem os livros. O propósito
deste tribunal celestial também é claro pelo contexto daniélico.
Pronuncia-se o veredicto "não só com respeito à força perseguidora mas
também com respeito aos santos".20 Os santos, caluniados e condenados
pelo iníquo chifre pequeno, entram no juízo para obter vindicação: "Até
que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o
As Profecias do Tempo do Fim 423
tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan. 7:22). Que
tranqüilizador é para os santos que sofrem a perspectiva deste juízo de
vindicação!
Quando a mensagem do tempo do fim de Apocalipse 14:6-12 ficou
ativada na história da igreja, começou a época final do tempo, "a hora de
seu juízo veio [em gr., élthen]". Se se tomar o juízo para referir-se ao
tribunal celestial do Daniel 7:9 e 10, então o tempo passado, "chegou",
encaixa bem em seu sentido literal. Anuncia que Deus começou a fase
final da história da salvação, que começou a sessão do tribunal no céu. O
significado literal da frase "vinda é a hora do juízo", em Apocalipse 14:7,
anuncia a iniciação do juízo de Deus anterior ao advento na sala do trono
celestial.
Este acontecimento novo no céu deve ser proclamado na terra, o
que encontra uma analogia com o dia de Pentecostes em Atos 2. Desde
esse dia os apóstolos anunciaram com valentia que Jesus de Nazaré tinha
sido entronizado nas cortes celestiais como Rei e Sacerdote (At. 2:33,
36). Como evidência convincente desta entronização celestial de Cristo,
apontaram a evidência inegável do derramamento do Espírito de Deus
sobre os israelitas crentes em Cristo (v. 33, "isto que vedes e ouvis").
Essa manifestação dramática sobre a terra era a evidência da obra
de Cristo no céu. Iniciou a missão apostólica com poder sobrenatural.
Este modelo de causa celestial e efeito terrestre no começo da era da
igreja, repetir-se-á em uma proporção mundial no tempo do fim (Apoc.
10; 14; 18:1-8).
As visões de Apocalipse 12 a 14 mudam seu foco em forma regular
entre o céu e a terra, como é o caso em Daniel 7. Doukhan observou
quatro passos ou movimentos alternados entre o céu e a terra em
Apocalipse 12 a 14,21 o que significa que a história da terra está
associada com movimentos correspondentes no céu. A tríplice
mensagem de Apocalipse 14 coincide com a sessão do tribunal celestial
de Daniel 7, que conclui com a vinda de "um como um filho de homem...
com as nuvens" para receber o domínio eterno sobre a terra (Dan. 7:13,
As Profecias do Tempo do Fim 424
14). À terminação da missão da mensagem dos três anjos aparece o
daniélico "um semelhante a filho de homem", sentado sobre "uma nuvem
branca", para segar a terra e executar a sentença do juízo de Deus (Apoc,
14:14-20).
Este paralelismo surpreendente entre Daniel 7 e Apocalipse 14 não
foi levado a sério em muitos estudos apocalípticos modernos. Entretanto,
esta correlação é a chave para descobrir a mensagem e o mandato do
tempo do fim. O anúncio do primeiro anjo que diz que "vinda é a hora"
do juízo de Deus, deve relacionar-se com a sessão do tribunal de Daniel
7. Este é o ponto decisivo para entender a urgência da tríplice
mensagem.
A proclamação final do evangelho eterno está irrevogavelmente
conectada com o começo do juízo de Deus anterior ao advento tal como
se descreve em Daniel 7. Estas são más notícias só para os perseguidores
dos santos. Entretanto, como o explica W. G. Johnsson, "para o crente, o
conhecimento de que estamos no tempo do juízo comunica esperança e a
perspectiva de nosso lar eterno. Apocalipse 14:6 e 7 são boas novas para
nós, porque mostra a Deus atuando como o árbitro moral do universo".22
A verdade presente não é por mais tempo simplesmente a
perspectiva do dia vindouro do juízo, como pregou Paulo (ver At. 24:24,
25;17:31). O primeiro anjo anuncia que a "hora" da reunião celestial
precede a hora da ceifa do mundo (Apoc. 14:15). Ambas as "horas" em
Apocalipse 14:7 e 15 designam diferentes e sucessivos períodos de
tempo no juízo de Deus; primeiro vem a fase preliminar do juízo no céu
(Apoc. 14:7; Dan. 7:9, 10), seguido pelo juízo executivo na vinda do
Filho do Homem (Apoc. 14:15; Dan. 7:13, 14). Assim que a transladação
dos justos vivos à glória e a ressurreição dos que morreram em Cristo
segue ao veredicto do juízo que acaba de preceder. Esta ordem
consecutiva volta a ser apresentada por Daniel em sua conclusão:
" E, naquele tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, que se
levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca
houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo,
As Profecias do Tempo do Fim 425
livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro. E muitos
dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e
outros para vergonha e desprezo eterno" (Dan. 12:1, 2).
A perspectiva de Daniel se estende além da sessão de juízo como o
dia de acerto de contas: leva-o à grande restauração do Reino por meio
da ressurreição dos mortos. Disse Gerhard F. Hasel:
"Por conseguinte, a grande culminação do livro de Daniel não é o juízo,
tão importante como é para os propósitos redentores do povo de Deus.
Antes, tudo leva à ressurreição e à nova era com o reino eterno já em
existência. No plano de Deus, o juízo anterior à vinda da nova era está
designado para levar salvação aos que são verdadeiramente seus".23
Dessa forma, Daniel 12:1-3 procede em descrever o juízo final (os
mesmos livros de registro em Dan. 12:1 e em 7:9, 10) até a vindicação final
dos santos, sua ressurreição à vida eterna e o gozo no reino dos céus.

A Confirmação do Novo Testamento de um Juízo Pré-Advento

A ordem consecutiva: avaliação e execução no juízo de Deus, está


também contida na promessa de Jesus a respeito da ressurreição dos
mortos:
"E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que
fizeram o mal, para a ressurreição da condenação" (João 5:29).
Por este meio Jesus indicou que as pessoas serão ressuscitadas não
para ser julgadas mas sim como resultado do veredicto do juízo de Deus.
A ressurreição à vida e a ressurreição à condenação são claramente duas
ressurreições diferentes, representando os que foram separados
previamente pelo juízo avaliador de Deus. Jesus apontou a esta
seqüência quando explicou que os que participem da ressurreição dos
mortos, primeiro foram "tidos por dignos" (Luc. 20:35). A ressurreição à
vida ou à morte é a execução da consideração judicial anterior de Deus.
Quando Cristo retorne na glória divina, vem "para recompensar a cada
um segundo as suas obras" (Apoc. 22:12; ver Mat. 16:27), "para fazer
juízo contra todos" (Jud. 15).
As Profecias do Tempo do Fim 426
As descrições paulinas dos acontecimentos durante a segunda vinda
de Cristo em 1 Tessalonicenses 4:16 e 17 e 2 Tessalonicenses 1:7-10 não
sugerem nenhum processo judicial. Samuele Bacchiocchi fez esta
inferência que é válida:
"A vinda de Cristo é seguida imediatamente, não por um processo de
juízo mas sim pelo ato executivo de Cristo de ressuscitar e transformar os
crentes e de destruir os incrédulos. Qualquer processo de avaliação e
determinação de cada destino humano já tomou lugar".24

O motivo principal para um juízo pré-advento se encontra no fato


que os mortos foram julgados "pelas coisas que estavam escritas nos
livros" (Apoc. 20:12). Os mortos não precisam estar presentes em pessoa
para ser julgados no tribunal do céu.

Na compreensão adventista, o juízo pré-advento ou juízo


investigativo de Daniel 7:9-11, 13 e 14 está identificado com a
profetizada "purificação" ou justificação do santuário celestial durante o
tempo do fim (Dan. 8:14, 17, 19). Esta conexão provê o registro
temporário do juízo pré-advento, de maneira que a última geração que
será julgada durante sua vida possa estar advertida de antemão!25
O que é de importância fundamental para a igreja hoje não é possuir
um conhecimento abstrato do juízo final de Deus ou de seu momento
exato na história da salvação, mas sim a convicção de que uma fé
salvífica em Cristo será ratificada no juízo final. Paulo expressou este
discernimento evangélico do juízo final quando disse: "Agora pois,
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus... Quem
acusará aos escolhidos de Deus? Deus é o que justifica" (Rom. 8:1, 33).
Só os que estão sem Cristo serão condenados. O pensamento deste juízo
divino é o pensamento mais solene da mente humana. Felizmente, o anjo
de Apocalipse 14 centra primeiro nossa atenção no evangelho eterno
porque só isto garante a justificação do homem no tribunal celestial.
As Profecias do Tempo do Fim 427
Referências
A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXVIII deste livro)
encontrará nas páginas 458-466.

1 Chr. Wordsworth, Is the Papacy predicted by St. Paul? An Inquiry,


p. 238.
2 Berkouwer, The Return of Christ, pp. 250, 251
3 Bosch, Die Heidenlnission in der Zukunftsschau Jesu [A Missão
aos Gentios no Panorama Profético de Jesus], p. 167.
4 G. Kittel, Diccionario teológico del Nuevo Testamento, t. 2, p. 718.
5 Ibid., p. 731.
6 Blazen, "Justification and Judgment", 70 Weeks, Leviticus, Nature
of Prophecy, pp. 343, 344.
7 Ver H. F. Fuhs, "Yir' at [Temor]", Theological Dictionary of the
Old Testament [Dicionário teológico do Antigo Testamento]
(Grand Rapids, Ml: Wm. B. Eerdmans, 1990), T. 6, p. 314.
8 J. M. Ford, Revelation, p. 248.
9 Rodríguez, Substitution in the Hebrew Cultus, p. 307.
10 The Mishnah [A Mishná] (H. Danby), p. 188.
11 Max. L. Margolis, "Day of Atonement", Jewish Encyclopedia
[Enciclopédia judaica] (New York: Ktav Publishing House, 1901),
T. II, P. 286.
12 Schechter, Aspects of Rabbinic Theology, p. 304.
13 Doukhan, p. 64.
14 Morris, The Biblical Doctrine of Judgment, p. 64.
15 Ver Shea, "Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13"
[As Profecias de Tempo em Daniel 12 e Apocalipse 12 e 13],
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, p. 358.
16 Ellen White, GC 379.
17 Baldwin, Daniel. Tyndale OT Commentaries, p. 149.
18 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 60.
19 Ferch, The Son of Man in Daniel Seven, p. 152.
As Profecias do Tempo do Fim 428
20 Ibid., p. 177.
21 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, pp. 57-59.
22 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil",
Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 38.
23 Hasel, "A Study of Daniel 8:9-14" [Um Estudo de Daniel 8:9-14],
Symposium on Daniel, pp. 460, 461.
24 S. Bacchiocchi, "The Pre-Advent Judgment in the New
Testament", Adventists Affirm, p. 36.
25 Para um estudo adicional deste aspecto particular da finalização do
ministério de Cristo no templo celestial, ver Creencias de los
adventistas del séptimo día (Florida, Buenos Aires: ACES, 1989;
2 ts.), t. 2, cap. 23.
As Profecias do Tempo do Fim 429
A MENSAGEM DO SEGUNDO ANJO
Apocalipse 14:8

"E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu! Caiu Babilônia, aquela grande
cidade que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua
prostituição!" (Apoc. 14:8).

Este anjo "seguiu" o primeiro, não no sentido de substituí-lo, mas


sim no sentido de acompanhá-lo (como em Apoc. 14:4). A mensagem
adicional menciona a "Babilônia" pela primeira vez em Apocalipse, e a
descreve como a grande adúltera que seduziu as nações com seu vinho
intoxicante. A mensagem do segundo anjo não pode entender-se
adequadamente se se isola Apocalipse 14 do contexto que lhe seguir nos
capítulos 16 a 18, nos quais é dada mais informação a respeito de
Babilônia.
O outro enfoque para entender "Babilônia" é recuperar suas
conexões com o Antigo Testamento. O nome "Babilônia" está escolhido
de maneira intencional para revelar a relação teológica de tipo e antítipo
com o arquiinimigo de Israel durante o velho pacto. A queda histórica do
império neobabilônico, tal como Isaías, Daniel e Jeremias a predisseram,
está decretado que seja o protótipo da queda de Babilônia do tempo do
fim. Esta correspondência tipológica esclarece a interpretação da
Babilônia do tempo do fim e de sua queda. Quando se estabeleceu a
continuidade dos fundamentos teológicos de ambas as Babilônias, o
Apocalipse proporciona a aplicação para o tempo do fim. Apocalipse 17
chama babilônia de "mistério" (V. 5), o que indica que a Babilônia do
tempo do fim é a renovação apocalíptica da antiga cidade que se sentava
sobre as "muitas águas" do Eufrates (Jer. 51:13). Uma comparação
minuciosa revela a correspondência intencional:
As Profecias do Tempo do Fim 430
BABILÔNIA DO TEMPO DO BABILÔNIA HISTÓRICA:
FIM: Apocalipse 17:1 Jeremias 51:13
"Vem, mostrar-te-ei o julgamento "Ó tu que habitas sobre muitas
da grande meretriz que se acha águas, rica de tesouros! Chegou o
sentada sobre muitas águas". teu fim, a medida da tua avareza".

Esta correspondência essencial das duas Babilônias está descrito


pelo CBA nesta forma:
"A antiga cidade de Babilônia estava situada junto às águas do rio
Eufrates (ver com. Jer. 50:12, 38), morava simbolicamente 'entre muitas
águas' ou povos (Jer. 51:12, 13; cf. Isa. 8:7, 8; 14:6; Jer. 50:23), assim
também a Babilônia moderna é apresentada sentada ou vivendo sobre os
povos da terra, ou oprimindo-os (cf. com. Apoc. 16:12)".1
A frase "Babilônia a Grande" (mencionada 5 vezes: 14:8; 16:19;
17:5; 18:2, 21) é uma alusão direta à egolatria de Nabucodonosor em
Daniel 4:30 (ver também Apoc. 18:7). As frases a respeito da queda de
Babilônia e de seu vinho intoxicante em Apocalipse 14:8 estão tomadas
dos oráculos de condenação do Antigo Testamento contra Babilônia (Isa.
21:9; Jer. 51:7):

A QUEDA DA BABILÔNIA DO A QUEDA DA BABILÔNIA


TEMPO DO FIM HISTÓRICA
"Caiu, caiu a grande Babilônia "Caiu, caiu Babilônia; e todas as
imagens de escultura dos seus deuses
jazem despedaçadas por terra" (Isa.
21:9).
que tem dado a beber a todas as "A Babilônia era um copo de ouro na
nações do vinho da fúria da sua mão do SENHOR, o qual embriagava
prostituição" (Apoc. 14:8). a toda a terra; do seu vinho beberam
as nações; por isso, enlouqueceram"
(Jer. 51:7).
As Profecias do Tempo do Fim 431
Assim como a antiga Babilônia foi a perseguidora de Israel, assim
também "Babilônia" no Apocalipse é a perseguidora do Israel de Deus
no tempo do fim. Louis F. Were recalcou o caráter teológico de
Babilônia: "Menciona-se Babilônia nas profecias do Apocalipse só
devido a sua oposição à Jerusalém".2 Também A. Farrar comentou de
maneira similar: "Babilônia é a paródia de Jerusalém".3
O contraste entre "Israel" e "Babilônia" que se descreve como duas
mulheres, chega a ser ainda mais surpreendente quando se presta atenção
a suas descrições detalhadas. Enquanto que a mulher de Deus no capítulo
12 aparece "no céu" iluminada com o sol e as estrelas, a mulher infiel do
capítulo 17, adornada com as invenções do homem, "está sentada sobre
muitas águas" e "sobre uma besta escarlate" (Apoc. 17:1-3). Enquanto
que a mulher do capítulo 12 leva um menino em seu seio a quem vai dar
a luz, a mulher do capítulo 17 tem em sua mão um cálice cheio do
sangue dos descendentes da outra mulher. A primeira mulher é
protegida; a segunda pe destruída.
Não pode identificar-se Babilônia com Roma imperial. A grande
"meretriz" que se senta "sobre uma besta escarlate" (Apoc. 17:3) é um
símbolo que distingue Babilônia (a mulher) do poder político (a "besta").
Desde o começo, a característica essencial de Babel (literalmente, "porta
dos deuses") foi elevar-se aos céus para usurpar o lugar e o poder
soberano de Deus (ver Gên. 11:4; Isa. 14:13, 14; Jer. 51:53).
A intenção básica de Babilônia de representar a Deus sobre a terra
segundo "sua vontade" (Dan. 11:36) é o mal mais fundamental. Esta
aspiração demoníaca se enfatiza na profecia do "chifre pequeno" do
profeta Daniel (caps. 7 e 8) e do "rei do norte" (11:36-45). O objetivo
perigoso de substituir tanto a Deus como a sua redenção messiânica fica
desmascarado na guerra que faz o chifre contra o "Príncipe dos
príncipes", o verdadeiro Sumo Sacerdote de Deus, e contra seu sacrifício
todo suficiente (8:11, 25). Doukhan captou esta relação de Babilônia
com o livro de Daniel com uma percepção aguda. Diz Doukhan:
As Profecias do Tempo do Fim 432
"A ambição de Babel é idêntica à do chifre pequeno. Tem uma
natureza religiosa e está dirigida à posição do Sumo Sacerdote em relação
com a purificação e o juízo. Dessa maneira, luta por conseguir tanto o poder
para perdoar pecados como o fim último para decidir a respeito da salvação
(ver Lev. 16:19, 32)".4
O segundo anjo anuncia que Deus julgou a Babilônia e suas
reivindicações religiosas de representar a Deus na terra. A queda
repentina de Babilônia é o veredicto judicial de Deus. Sua proclamação
tenta admoestar os seguidores da besta e os adoradores de sua imagem
para saírem de Babilônia. Isto se repete na mensagem do anjo de
Apocalipse 18:1-5. Babilônia deve definir-se teologicamente por sua
oposição a Israel, o verdadeiro povo de Deus, o que dá a entender que a
mensagem do primeiro anjo é o que dá origem ao Israel do tempo do fim
(14:6, 7). As mensagens proféticas de Apocalipse 14 antecipam um
conflito renovado entre "Israel" e "Babilônia" para o tempo do fim, com
o entendimento básico de que tanto os adoradores verdadeiros como os
falsos são identificados teologicamente por sua relação com o evangelho
eterno.
O cativeiro de Israel levada a cabo pela Babilônia da antiguidade, a
repentina queda de Babilônia seguida pelo êxodo do Israel de Babilônia
e sua volta a Sião para restaurar a verdadeira adoração em um templo
novo, tudo isto será repetido em princípio em uma escala universal. No
tempo do fim Deus chamará a seu povo que está disperso em Babilônia:
"Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados
e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se
acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela." (Apoc.
18:4, 5).
Esta chamada é a iniciativa de Deus para restaurar sua igreja
remanescente, o povo mencionado em Apocalipse 12:17 e 14:12. Os
verdadeiros adoradores devem abandonar "Babilônia", a igreja infiel que
usa os "reis" ou poderes políticos para perseguir os "testemunhas de
Jesus" (ver Apoc. 17:3-6; 18:24). Os santos devem fugir de Babilônia
antes que chegue a hora de sua destruição, quer dizer, antes que o juízo
As Profecias do Tempo do Fim 433
de Deus asseste um golpe a todos os que tenham a marca da besta (16:1,
2). Esta chamada a "fugir" de Babilônia é paralela com o conselho
anterior que Jesus deu a seus discípulos a "fugir" da cidade condenada de
Jerusalém (Mat. 24:15, 16). A Babilônia a iguala explicitamente com a
adoração idólatra no fim da era da igreja (ver Apoc. 16:1, 2, 19; 18:4, 8).
A destruição de Babilônia se descreve como um juízo retributivo, por
causa de seu crime de perseguir e executar os santos de Deus:
"Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque
Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20).
"Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus,
porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande
meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela
vingou o sangue dos seus servos" (Apoc. 19:1, 2).
O anúncio profético do segundo anjo, "Caiu, Babilônia, a grande
cidade" (Apoc. 14:8), está tomado da profecia de Isaías contra a antiga
Babilônia:
"Caiu, caiu Babilônia; e todas as imagens de escultura dos seus
deuses jazem despedaçadas por terra" (Isa. 21:9).
A queda de Babilônia foi o juízo de Deus por sua usurpação da
soberania divina e a perseguição cruel do povo do pacto (ver Isa. 14:12-
15; 13:11, 19; 14:3). As profecias de condenação de Isaías foram
ampliadas pelo profeta Jeremias, quem declarou os cargos legais de Deus
contra Babilônia (Jer. 50, 51).
Isaías e Jeremias predisseram a queda de Babilônia como uma
verdade profética. Entretanto, seu anúncio do veredicto de Deus chegou
a ser a verdade presente para Israel no cativeiro. De igual maneira
Daniel explicou a escritura na parede do palácio de Babilônia: "TEKEL:
Pesado foste na balança e achado em falta" (Dan. 5:27). Este veredicto
judicial foi uma realidade presente para Daniel e para Babilônia! O
profeta experimentou o que tinha anunciado: o desaparecimento de
Babilônia (v. 30; ver 2:38, 39).
O veredicto de Deus no céu foi a causa verdadeira da queda
subseqüente de Babilônia. Jeremias tinha mencionado que a condenação
As Profecias do Tempo do Fim 434
de Babilônia por parte de Deus estava motivada por sua fidelidade ao
pacto com Israel, ainda que seu povo também era culpado:
"Porque Israel e Judá não enviuvaram do seu Deus, do Senhor dos
Exércitos; mas a terra dos caldeus está cheia de culpas perante o Santo de
Israel...
"Assim diz o Senhor dos Exércitos: Os filhos de Israel e os filhos de
Judá sofrem opressão juntamente; todos os que os levaram cativos os
retêm; recusam deixá-los ir; mas o seu Redentor é forte, Senhor dos
Exércitos é o seu nome; certamente, pleiteará a causa deles, para aquietar a
terra e inquietar os moradores da Babilônia" (Jer. 51:5; 50:33, 34).
O veredicto de Deus sobre a antiga Babilônia, um ato de sua
fidelidade ao pacto, encontra um paralelo na mensagem do tempo do fim
de Apocalipse 14:8. João acrescenta à declaração: "Caiu Babilônia", uma
chamada profética para escapar à condenação de Babilônia (ver Apoc.
18:4, 5). O período intermediário entre a proclamação e a destruição de
Babilônia do tempo do fim é o tempo para que Israel fuja de Babilônia.
Desse modo, a história antiga de Israel proporciona a fonte e o
antecedente das mensagens do tempo do fim do Apocalipse.
A mensagem cifrada que anuncia que Babilônia a Grande caiu, só
será ativado depois que o evangelho apostólico tenha sido reavivado no
tempo do fim (Apoc. 14:6). A interação entre as mensagens dos dois
primeiros anjos de Apocalipse 14 se estende em forma gradual a todas as
nações. Estes anjos traçam a linha de batalha entre Israel e Babilônia.
Babilônia é identificada por sua oposição à mensagem do primeiro anjo,
quer dizer, por sua oposição tanto ao evangelho eterno como à lei
sagrada do Criador.
A queda de Babilônia pode entender-se em dois níveis. Primeiro,
como o veredicto judicial pronunciado no céu, e segundo, como sua
condenação na história. A Babilônia do tempo do fim falha moralmente
quando rechaça o evangelho eterno. Este ato a converterá em "habitação
de demônios" (Apoc. 18:2). Nesse momento, seus pecados "chegarão até
o céu" e alcançará o limite da graça divina (v. 5; Jer. 51:9). Então o
tribunal celestial decidirá o castigo de Babilônia (ver Dan. 7:9-12).
As Profecias do Tempo do Fim 435
Enquanto que a mensagem do segundo anjo chama a atenção ao
veredicto pronunciado no céu com respeito à culpabilidade de Babilônia,
ainda se retarda a terminação do tempo de graça. O "vinho" de
Babilônia, por meio do qual se intoxicaram todas as nações da terra,
refere-se ao que parece aos ensinos doutrinais de Babilônia, com os
quais corrompeu o evangelho eterno e os mandamentos de Deus (ver
Apoc. 14:12).
É útil considerar por meio de que causa imediata caiu a Babilônia
da antiguidade. O rei Belsazar tinha ordenado o uso dos copos sagrados
de ouro do templo de Israel para beber vinho em seu banquete imperial
(Dan. 5:2, 3, 23). Nesse ato de profanação, os governantes de Babilônia
"deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de
madeira e de pedra" (v. 4). Este ato idolátrico de provocação ao Deus de
Israel marcou o fim do tempo de graça para Babilônia e trouxe o
veredicto de sua condenação (v. 24). O Apocalipse mostra que a
Babilônia do tempo do fim tem um cálice de ouro em sua mão, "cheio de
abominações e da imundície de sua fornicação" (Apoc. 17:4).
E porque finalmente tem levado "a beber a todas as nações do vinho
da fúria da sua prostituição", cairá da graça protetora de Deus (Apoc.
14:8). Quando se bebe esse "vinho", a distinção fundamental entre o
Criador e a criação, entre o santo e o profano, chega a ficar impreciso na
mente das pessoas. Os adoradores da besta honrarão as criaturas mais
que o Criador, o que é a essência da idolatria (ver Rom. 1:25; 1 Tes. 1:9).
Em sua confusão a respeito da distinção estabelecida pelo Criador, os
homens são levados a confiar em tradições humanas e no poder político
para assegurar a paz.
O juízo retributivo das sete últimas pragas ainda é um juízo futuro
para Babilônia. A advertência da mensagem do segundo anjo (Apoc.
14:8; 18:1-5) tem sua relevância final para a geração que viva quando
descerem as pragas sobre Babilônia (ver Apoc, 18:4, 5). Deste modo, as
mensagens dos três anjos estão em um marco explícito do tempo do fim.
As Profecias do Tempo do Fim 436
Referências
A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXVIII deste livro)
encontrará nas páginas 458-466.

1. 7 CBA 863. Ver também a "nota adicional" sobre Babilônia em 7


CBA 879-882.
2 Were, The Fall of Babylon in Type and Antitype, p. 14.
3 Farrar, A Rebirth of Images, p. 213.
4 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 66.
As Profecias do Tempo do Fim 437
A MENSAGEM DO TERCEIRO ANJO
Apocalipse 14:9-12

"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se


alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou
sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado,
sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre,
diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu
tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem
de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer
que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os
que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apoc. 14:9-12).
Esta advertência solene é dirigida a cada crente. Convoca a cada um
a permanecer firme contra as ameaças de morte do anticristo, e
desenvolve a mensagem do segundo anjo de que todas as nações se
viram compelidas a "beber o vinho" de Babilônia (Apoc. 14:8): "Se
alguém beber o vinho da ira de Babilônia, também terá que beber o
vinho da ira de Deus!" O "cálice" simbólico da ira de Deus (Apoc.
14:10; 16:19) era um conceito tradicional nas profecias de juízo de
Israel. O "cálice de vinho" na mão de Deus servia como o símbolo de sua
justiça punitiva.
Até Israel que quebrantou o pacto teve que beber o vinho de sua ira
(Jer. 25:15, 16, 17; 49:12; Ezeq. 23:31-34; Isa. 51:17, 22; Sal. 60:3;
75:8). Mas Israel experimentou a taça da ira de Deus só em forma
temporária (ver Sal. 60:3; Isa. 51:22). Entretanto, alguns inimigos de
Israel tiveram que beber a taça da ira até sua extinção: "Beberão, e
engolirão, e serão como se não tivessem sido" (Ob. 16). "Bebei,
embebedai-vos e vomitai; caí e não torneis a levantar-vos..." (Jer. 25:27;
também o v. 33).
A aceitação por parte de Jesus da taça da ira divina da mão de Deus
no Getsêmani pertence à essência do evangelho (Mat. 20:22; 26:39, 42).
Declara E. W. Fudge: "Porque ele aceitou aquela taça, seu povo não tem
As Profecias do Tempo do Fim 438
que bebê-la. A taça que nos deixa [a taça da comunhão] é um recordativo
constante de que ele ocupou nosso lugar (Mat. 26:27-29)".1
Os adoradores da besta têm que beber a ira de Deus "pura" [em gr.,
akrátu; "sem diluir", NBE; "sem mistura", CI). Este cálice da ira já não
está misturado com misericórdia. Derramar-se-á com as 7 últimas pragas
(Apoc. 15:1). Isto significa que todas as pragas de Apocalipse 16
constituem uma parte integral da mensagem do terceiro anjo. Uma
expressão hebraica nestes versículos tem desafiado os intérpretes:
"Será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na
presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos
séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os
adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do
seu nome" (Apoc. 14:10, 11).
A frase "fogo e enxofre" é parte da maldição do pacto, maldição que
inclui extinção ou aniquilação (Deut. 29:23; Sal. 11:6). O juízo sobre
Sodoma e Gomorra resultou em que "subia da terra fumo como fumaça
de um forno" (Gên. 19:23, 28, CI). Também foi o juízo de Deus sobre
Edom, um dos arquiinimigos de Israel (Isa. 30:27-33; Ezeq. 38:22):
"Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó, em
enxofre; a sua terra se tornará em piche ardente. Nem de noite nem de dia
se apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será
assolada, e para todo o sempre ninguém passará por ela" (Isa. 34:9, 10).
É evidente que a mensagem do terceiro anjo em Apocalipse 14
toma sua fórmula de maldição especificamente de Isaías 34. A desolação
e a extinção histórica de Edom é o modelo ou o tipo da sorte de
Babilônia (ver Jud. 6, 7). A natureza deste castigo não reside em um
tormento eterno como pode ver-se hoje em dia de Edom, a não ser na
conseqüência eterna do fogo: "Subirá para sempre a sua fumaça" (ver
Isa. 34:10 e 66:24). O fogo é inextinguível até que tenha completado sua
obra. Nas palavras do E. W. Fudge: "Os ímpios morrem uma morte
atormentadora; a fumaça recorda a todos os espectadores que o Deus
soberano tem a última palavra. Que a fumaça sobe perpetuamente no ar
significa que as mensagens de juízo nunca chegarão a ser antiquadas".2
As Profecias do Tempo do Fim 439
A maldição que diz que os que adorem à besta não terão "repouso
de dia nem de noite" está tirada de uma maldição específica do pacto
sobre um Israel rebelde: "Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no
meu descanso" (Sal. 95:11). Enquanto que o significado original se
referia ao repouso de Israel na terra prometida, o Novo Testamento
aplica o repouso prometido ao repouso da graça de Deus no qual cada
crente deve entrar agora (Heb. 4:3). Este repouso divino esteve
disponível desde que Deus descansou no sétimo dia da semana da
criação! (Gên. 2:2, 3). "Portanto, ainda fica um descanso sabático para o
povo de Deus. Porque o que 'entra em seu repouso' descansa ele também
de suas obras, como Deus das suas" (Heb. 4:9, 10, JS; CI; BJ).
O castigo final será o rechaço de Deus de dar repouso aos
adoradores da besta. Por outro lado, uma voz celestial anuncia que os
"mortos que, desde agora, morrem no Senhor.... que descansem das suas
fadigas, pois as suas obras os acompanham" (Apoc. 14:13). Esta bem-
aventurança se refere aos que morrem em Cristo durante as perseguições
do anticristo do tempo do fim. Sua perseverança será recompensada. A
mensagem do terceiro anjo pronuncia a resposta de Deus à ameaça feita
pela besta, como mostra a seguinte comparação.

APOCALIPSE 13:16 APOCALIPSE 14:9, 11


"A todos, os pequenos e os "Se alguém adora a besta e a sua
grandes, os ricos e os pobres, os imagem e recebe a sua marca na
livres e os escravos, faz que lhes fronte ou sobre a mão ... e não têm
seja dada certa marca sobre a mão descanso algum, nem de dia nem de
direita ou sobre a fronte". noite, os adoradores da besta e da sua
imagem e quem quer que receba a
marca do seu nome".

Estas correspondências temáticas e verbais entre Apocalipse 13 e 14


indicam que a tríplice mensagem de Apocalipse 14 depende de uma
correta compreensão de Apocalipse 13. Entretanto, toda a informação a
As Profecias do Tempo do Fim 440
respeito da besta está exposta na visão do juízo de Apocalipse 17, o que
significa que Apocalipse 17 constitui igualmente uma parte interpretativa
essencial da mensagem de advertência de Apocalipse 14.

A Marca da Besta

Nosso tema agora é compreender o significado teológico de "a


marca da besta". É a marca identificadora do culto de adoração que se
rende à besta. "Não se pode ter a marca sem o ato de adoração". 3 A
ambição da besta-anticristo de receber adoração divina é a mentalidade
de Babilônia. Seu endeusamento próprio entra em conflito com a
chamada de Israel a adorar o Criador e Juiz da humanidade (Apoc. 14:7).
A mensagem do terceiro anjo é o rogo do céu à humanidade para que se
volte para o Criador, ao Deus do pacto do Israel, tal como está revelado
nas Escrituras.
O assunto fundamental não é identificar a marca de uma maneira
isolada, mas sim vê-la como um ato de adoração da besta e por isso,
como uma atitude de idolatria. O terceiro anjo "indica a natureza da
usurpação: a besta se apropria das prerrogativas do Deus Criador, e é
adorada".4
A usurpação das prerrogativas divinas pela besta é seguida por sua
demanda para que a reconheçam por meio da "marca em sua fronte ou
em sua mão" (Apoc. 14:9). Seu significado chega a ser claro quando se
considera à luz do dever de Israel de atar os mandamentos e as palavras
de Deus: "Ata-as à tua mão como um sinal, como um aviso ante teus
olhos" (Deut. 6:8; cf. 11:18, BJ). Para Israel, seu significado espiritual
era evidente: atuar e pensar em harmonia com a vontade de Deus e
recordar diariamente a redenção do êxodo (ver Deut. 6:5; Êxo. 13:8, 9). *

*
Nota do Tradutor: A nota da versão Cantera-Iglesias diz que a interpretação literal de Deuteronômio
6:8 deu origem aos filactérios, "par de pequenas caixas de couro usadas ritualmente, amarradas ao
braço e à testa por correias, também de couro, e que contêm trechos das Escrituras" Dic. Aurélio.
As Profecias do Tempo do Fim 441
Gerhard von Rad faz este comentário sobre o Deuteronômio 6:8:
"Provavelmente temos que tratar ainda aqui com uma forma figurada de
expressão que mais tarde foi entendida literalmente e levou ao uso dos
chamados filactérios".5 De fato, Moisés mesmo explicou o propósito
moral de atar os mandamentos de Deus a suas mãos e a suas frentes:
"O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás, e, pelo seu nome,
jurarás. Não seguirás outros deuses, nenhum dos deuses dos povos que
houver à roda de ti, porque o Senhor, teu Deus, é Deus zeloso no meio de ti,
para que a ira do Senhor, teu Deus, se não acenda contra ti e te destrua de
sobre a face da terra... Diligentemente, guardarás os mandamentos do
Senhor, teu Deus, e os seus testemunhos, e os seus estatutos que te
ordenou" (Deut. 6:13-15, 17).
O mandamento do Senhor incluía também a observância ritual da
Páscoa e o comer pães sem levedura para comemorar a libertação do
êxodo:
"E será como sinal na tua mão e por memorial entre teus olhos; para
que a lei do Senhor esteja na tua boca; pois com mão forte o Senhor te tirou
do Egito. Portanto, guardarás esta ordenança no determinado tempo, de ano
em ano" (Êxo. 13:9, 10).
Este histórico da adoração de Israel esclarece o propósito da marca
da besta "na fronte e na mão" (Apoc. 20:4). A marca evoca a antítese
intencional da adoração de Israel. Representa a essência de um culto
falsificado como usurpação e substituição. A besta ameaça com a morte
se suas ordens totalitárias são desobedecidas (Apoc. 13:15-17). Promete
vida, mas só temporal, a todos os que levem sua marca. R. H. Charles
comentou a respeito: "Ambos [o selo e a marca] estavam destinados a
mostrar que os que levam as marcas estão sob a proteção sobrenatural:
os primeiros sob a proteção de Deus; os últimos, sob a de Satanás". 6
Beatrice S. Neall explica mais isto quando diz:
"No Apocalipse, o selo de Deus protege da ira de Deus (Apoc. 15:2, 3;
16:2) mas não da ira da besta (13:15, 17). De maneira similar, a marca da
besta protege das sanções econômicas (v. 17) e do decreto de morte (v. 15)
da besta, embora faça a seus possuidores elegíveis para receber a ira de
Deus (14:9-11 )".7
As Profecias do Tempo do Fim 442
Tanto Cristo como o anticristo desejam a lealdade indivisa de seus
adoradores, a devoção completa de seu pensamento (a "fronte") e de seu
atuar (a "mão"). O anticristo pode satisfazer-se com a marca ou na mão
ou sobre a fronte, como sugere Apocalipse 13:16 e 14:9 (entretanto, ver
Apoc. 20:4).
Uma diferença básica entre os sistemas rivais de adoração é que a
besta emprega a coerção, enquanto que o Cordeiro emprega a persuasão.
A prova final da adoração verdadeira não é crer porque há milagres, os
quais podem ser enganosos (Apoc. 13:14; 19:20; Mat. 24:24), e sim crer
na "Palavra de Deus e no testemunho de Jesus" (Apoc. 1:9; 6:9; 12:17;
20:4).
A verdade tanto do Antigo como do Novo Testamento é a revelação
de que o Deus de Israel é o Criador Todo-poderoso e que ele ordenou o
sétimo dia, no sábado, como um monumento recordativo de sua obra
criadora (Gên. 2:2, 3; Êxo. 20:8-11; 31:12-17). Este mandamento da
criação foi enriquecido como o sinal da redenção de Israel da escravidão
(ver Deut. 5:12-15). A celebração do sábado identifica o Criador vivente
que permanece fiel à sua criação (1 Ped. 4:19). Igualmente oferece a
participação em sua graça redentora (ver Ezeq. 20:12, 20). Esta verdade
chega a ser relevante de uma maneira especial no tempo do fim, quando
o dogma da evolução veio a ser a hipótese da ciência (desde 1859). Por
isso a tríplice mensagem de Apocalipse 14 assume cada vez mais
relevância. Requer a celebração do sábado restaurado como "a expressão
concreta da fé na criação, o sinal da dependência de um do céu... o sinal
de que a salvação vem só de cima".8

O Surgimento do Povo Remanescente de Deus (Apoc. 14:12)

No conflito entre as adorações rivais, Deus preserva os que se


apegam a ele com lealdade. A mensagem do terceiro anjo conclui com
uma chamada especial a perseverar na fé:
As Profecias do Tempo do Fim 443
"Aqui está a paciência dos santos, os que guardam os mandamentos
de Deus e a fé de Jesus" (Apoc. 14:12).
Este texto levou J. M. Ford a fazer o seguinte comentário:
"Parece que não há caminho intermediário; ou se adora a besta e está
condenado, ou se aceita com paciente resistência a perseguição da besta,
obedece os mandamentos de Deus, morre nele e recebe a recompensa por
suas boas obras (v. 13)".9
Autores dispensacionalistas tomam aos santos de Apocalipse 14:12
como crentes judeus cuja parte não está no corpo de Cristo simplesmente
porque "guardam os mandamentos de Deus". Mas isto mostra como um
dogma preconcebido influi na exegese. Uma comparação de Apocalipse
14:12 com 12:17 e 1:9 demonstra que as características dos santos no
capítulo 14:12 são as da igreja apostólica e as mesmas de João. A
primeira epístola de João define o pecado como a transgressão da lei,
como anomia ou ilegalidade (1 João 3:4). Exorta a todos os crentes
cristãos a obedecer os mandamentos de Deus, incluindo o mandamento
de crer em seu Filho Jesus Cristo e o mandamento de Cristo de amar-se
uns aos outros (1 João 2:3-6; 3:21-24).
A ameaça final contra a vida dos santos requer uma perseverança
[em gr., upomoné]. Jesus tinha mencionado esta característica como
sendo essencial para o tempo do fim: "Mas o que perseverar [upomeínas]
até o fim, este será salvo" (Mat. 24:13). Mas "perseverar" é o fruto da
fidelidade à vontade de Deus, tanto ao evangelho como à lei de Deus. A
advertência da epístola aos Hebreus também é a ter "perseverança
[upomoné] para que, depois de fazer a vontade de Deus, consigam a
promessa" (Heb. 10:36, CI; ver 12:1-3). A epístola aos Hebreus assinala
os exemplos dos santos que viveram "por fé" [em hebreu, 'emunáh,
"fidelidade"] em uma crise anterior (Heb. 10:37, 38; Hab. 2:3, 4).

Tiago explica que "a prova de sua fé produz paciência" e a


maturidade da estabilidade (Sant. 1:3-8). Por isso anima a todos os
santos dizendo: "Feliz o homem que suporta a prova! Superada a prova
receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam" (v.
As Profecias do Tempo do Fim 444
12). Um exemplo evidente é Jó, que seguiu confiando em que Deus o
vindicaria contra seus falsos acusadores (Tia. 5:11). Não entendendo por
que tinha que sofrer tanto sendo inocente, Jó ainda expressou sua fé: "Eu
sei que meu Redentor [ou "defensor", BJ; ou "reivindicador", CI] vive, e
no fim se levantará sobre a terra" (Jó 19:25).
A última geração de crentes cristãos pode ter que suportar uma
prova de fé similar a do Jó. A fé perseverante se expressa em guardar "os
mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apoc. 14:12, RC). Obedecem
tanto à lei como à fé de Jesus em suas vidas (ver mais acima sobre Apoc.
12:17 e 19:10).

O Significado Bíblico do Sábado do Senhor

Muitos teólogos negam que o sábado seja uma ordem da criação.


Insistem em que o sábado foi feito por Moisés só para a nação de Israel
(Êxo. 16; Deut. 5:12-15). O assunto mais profundo que está em jogo
neste debate teológico é a credibilidade do registro da criação em
Gênesis 1 e 2 e seu reflexo no quarto mandamento em Êxodo 20. Um
teólogo americano apresentou esta avaliação válida da origem do sábado:
"De acordo com o cânon da Escritura, a 'interpretação da criação' do
sábado se afirma como teologicamente anterior à 'interpretação da
redenção'. Entretanto, isto significa que o mandamento do sábado sempre é
obrigatório para todos os homens, obedeçam-no ou não! Na redenção de
Israel da terra do Egito não se estabeleceu o sábado pela primeira vez, mas
sim se restaurou; a lei moral não foi primeiro proclamada no Sinai, mas sim
ali se voltou a proclamá-la. Em conseqüência, porque a lei do sábado está
fundada na ordem da mesma criação e pertence a todas as criaturas, a
interpretação tradicional cristã do sábado como uma cerimônia abolida por
Jesus Cristo, é incorreta".10

O motivo básico da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é o da


restauração! Desempenha o mesmo propósito que a chamada de Isaías a
um Israel extraviado:
As Profecias do Tempo do Fim 445
"Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a
trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os
seus pecados" (Isa. 58:1).
"Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos
de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de
veredas para que o país se torne habitável" (Isa. 58:12).
Para Isaías, a prova da verdadeira adoração era a restauração da
justiça do pacto entre o povo de Deus. Isto significava ter amor pelos
fracos (Isa. 58:6, 7) e obediência em louvar a Deus em seu "santo dia"
(vs. 13, 14).
No tempo do fim, o céu suplica mais uma vez a seu povo extraviado
para que faça frente ao desafio de usurpação e substituição com a
chamada pela restauração e a restituição. Requer o reavivamento dos
mandamentos de Deus e do evangelho de Jesus Cristo (Apoc. 14:12).
Esta é a chamada final para um retorno à verdade e autoridade da Bíblia.
A Escritura deve ter a última palavra para determinar a vontade de Deus.
Toda certeza da verdade religiosa depende de se se aceitarem as
Escrituras como a revelação autorizada da vontade de Deus. "Elas são a
norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da
experiência religiosa".11

A Mensagem de Preparação para o Segundo Advento

As mensagens de Apocalipse 14 insistem a todos os adoradores a


escutar atentamente a voz de Deus e a procurar uma compreensão
melhor do evangelho e do testemunho de Jesus. Esta súplica assinala a
diferença fundamental entre a Bíblia e a tradição da igreja. Insiste-nos a
aceitar a responsabilidade pessoal para distinguir entre a autoridade
bíblica e a autoridade da igreja, e a subordinar todos os profetas
extrabíblicos à autoridade suprema da Escritura.
O assunto essencial da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a
questão do que em última instância ata a consciência humana ante Deus!
A súplica do céu em Apocalipse 14 nos recorda que a criação e a
As Profecias do Tempo do Fim 446
redenção não podem ser separadas, que o Redentor é o Sustentador da
criação.
O sábado do Senhor nunca pode ser anulado ou mudado porque é o
mandamento da criação do Criador e Redentor. É o monumento
comemorativo de uma criação perfeita por parte de um Criador digno de
confiança, Criador que nunca abandonará a obra de suas mãos (Sal.
138:8). Entretanto, suplica-nos que lhe respondamos como o "fiel
Criador" (ver 1 Ped. 4:19).
"Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja
esperança está no Senhor, seu Deus, que fez os céus e a terra, o mar e tudo
o que neles há" (Sal. 146:5, 6).

O Convite do Último Elias

A relação da tríplice mensagem de Apocalipse 14 com a promessa


de Malaquias de que Deus enviará o "profeta Elias, antes que venha o
grande e terrível dia do Senhor" (Mal. 4:5, 6), é de um significado
dramático. É evidente que o último profeta do Antigo Testamento prediz
uma chamada final para o reavivamento e a reforma entre o povo do
pacto de Deus antes do dia do juízo apocalíptico (ver os vs. 1, 2).
Este convite corresponde em essência ao que Elias fez ao Israel: "Se
Jeová é Deus, sigam-no; e se Baal, sigam-no" (1 Reis 18:21). O último
convite de Deus no Apocalipse se apresenta em sua súplica a "adorar" a
Deus como o Criador e a não adorar a besta nem a sua imagem (Apoc.
14:6-9).
Para compreender melhor o significado do Elias do tempo do fim,
precisamos ler a narração da missão de Elias em 1 Reis 17 e 18.
Malaquias exaltou a missão histórica de Elias, com sua confrontação
dramática em combate com Baal no Monte Carmelo, como um tipo ou
símbolo teológico para o tempo do fim. Uma análise detalhada desta
correspondência tipo-antítipo da promessa de Elias em Malaquias 4 se
oferece em outro lugar.12
As Profecias do Tempo do Fim 447
A medula deste tipo histórico pode compendiar-se em três pontos:
(1) Elias foi enviado por Deus em um tempo de apostasia moral e
religiosa em Israel (1 Reis 16:30-33; 18:18; 21:25); (2) Elias foi enviado
com uma mensagem de restauração do Deus do pacto, que significava
um compromisso novo de Israel com seu Deus e uma restauração de seu
sagrado culto de adoração e de seus mandamentos morais (18:18, 21, 30,
31); e (3) a aceitação ou o rechaço da mensagem de Elias significava
vida ou morte e, portanto, era um assunto de conseqüências eternas (ver
18:39-44).
A chave para a aplicação do tempo do fim nós a encontramos na
mensagem de João Batista, porque sua mensagem em preparar o
caminho para a vinda do Messias continha os fundamentos da mensagem
de Elias (ver Luc. 1:11-17). Jesus reconheceu que João era o Elias da
profecia mesmo que o judaísmo contemporâneo não o reconheceu (Mat.
17:10-13).
A missão de João era preparar a Israel para a vinda do Messias
(João 1:23) e para "restaurar todas as coisas" (Mat. 17:11). Sua
presença era o sinal visível do advento iminente do Messias (ver João
1:29; Mat. 3:10-12). João negou que ele fora uma reencarnação do Elias
(João 1:21), mas afirmou que ele era a mensagem de Elias "com o fim de
preparar ao Senhor um povo bem disposto" (Luc. 1:17; ver João 1:23).
João foi enviado no momento correto, com uma mensagem urgente de
arrependimento para despertar Israel à vontade de Deus e a sua visitação
iminente. Sua mensagem criou um povo remanescente novo dentro da
nação de Israel. Jesus aceitou o batismo de João e chegou a ser parte
deste remanescente. Escolheu a seus primeiros apóstolos dentre os
seguidores de João Batista.
A mensagem de Apocalipse 14 é a mensagem de preparação para o
tempo do fim. Sua ativação cria um povo que está preparado para
encontrar-se com seu Criador. Assim como Elias, são fiéis à lei do pacto
original de Deus. Escolheram estar ao lado de Deus, o Criador.
Tornaram seus corações ao Deus de seus ascendentes espirituais e
As Profecias do Tempo do Fim 448
mantêm uma continuidade com o Israel do Antigo Testamento (Mal.
4:6).
A mensagem de Elias para o tempo do fim está desenvolvido pelo
Espírito de profecia em Apocalipse 14:6-12. Sua proclamação mundial
será seguida pela segunda vinda de Cristo como o Rei e Juiz (ver os vs.
14-20), o que define a tríplice mensagem como a chamada a despertar
com o fim de preparar um povo para a segunda vinda de Cristo. Leva à
hora da decisão, da mesma maneira que Elias e João Batista levaram ao
Israel apóstata a um compromisso novo com seu Senhor.
Hoje a mensagem de Elias convoca a todas as pessoas para que
deixem de idolatrar a criação e que adorem o Criador (Apoc. 14:7). Uma
mensagem assim é oportuna considerando o surgimento da hipótese da
evolução e o triunfo da filosofia materialista. Esta chamada de Deus tem
aplicações de longo alcance:
"Na exaltação do humano sobre o divino, no louvor aos líderes
populares, no culto a Mamom, e na exaltação dos ensinos da ciência sobre
as verdades da Revelação, multidões hoje estão seguindo a Baal".13

Necessita-se cada vez mais a voz de Elias em nossa civilização


decadente. Reverberará por toda a sociedade e está refletida no
movimento mundial de cristãos guardadores do sábado. Fizeram um
compromisso com o Deus de Israel e com seu Cristo neste tempo do fim.
Aceitam como seu credo a Bíblia e a Bíblia só.

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXIII deste livro)
encontrará nas páginas 458-466.

1 Fudge, The Fire That Consumes, p. 296.


2 Ibid., p. 298.
3 R. H. Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 360.
4 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 69.
As Profecias do Tempo do Fim 449
5 Von Rad, Deuteronomy, p. 64.
6 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 363.
7 Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with
Implications for Character Education, p. 151.
8 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 71.
9 J. M. Ford, Revelation, p. 249.
10 Richardson, Toward an American Theology, p. 115.
11 Ellen White, GC 7.
12 Ver LaRondelle, Chariots of Salvation, cap. 11.
13 Ellen White, PR 170.
As Profecias do Tempo do Fim 450
A DUPLA CEIFA DA TERRA
Apocalipse 14:14-20

"Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um


semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão
uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para
aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois
chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu! E aquele
que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a terra, e a
terra foi ceifada." (Apoc. 14:14-16).

Esta representação simbólica da segunda vinda de Cristo como Rei


e Juiz da terra une duas cenas separadas de juízo no Antigo Testamento.
As frases, "nuvem branca" sobre a qual está sentado "um semelhante ao
Filho do Homem", são frases adotadas da cena de juízo de Daniel 7.
O chamado para segar a terra com uma "foice aguda" está tomada
diretamente da cena de juízo de Joel 3. A ordem que dá um anjo, "toma a
tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra
já amadureceu!" (Apoc. 14:15), é uma expansão deliberada de Joel 3:13.
A fusão das profecias anteriores de juízo demonstra que João
considerava estas predições hebraicas como complementares uma da
outra. Com engenho criador em Apocalipse 14, João estrutura o conceito
do juízo em torno de Cristo como Juiz de toda a humanidade, que é uma
reinterpretação cristocêntrica do juízo que primeiro foi introduzido por
Jesus:
"Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e
glória. E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro
ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu" (Mar. 13:26, 27;
cf. Mat. 24:30, 31).
Durante a audiência no tribunal diante do sumo sacerdote Caifás,
Jesus declarou sob juramento que ele era na verdade o Messias e por
conseguinte o Juiz final: "Desde agora, vereis o Filho do Homem
assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu"
As Profecias do Tempo do Fim 451
(Mat. 26:64). O que Jesus predisse está descrito visualmente em
Apocalipse 14:14. A frase "um como Filho de homem" (BJ) não é tirada
dos Evangelhos, e sim diretamente de Daniel 7:13, o que indica
claramente que a visão do juízo de Daniel 7 é o antecedente imediato de
Apocalipse 14:14. É um descobrimento de um significado fundamental
entender que Daniel 7 e Apocalipse 14 se relacionam entre si como
verdade profética e verdade presente! O assunto essencial nesta
revelação progressiva é o cumprimento cristológico da profecia
messiânica de Daniel (Dan. 7:13, 14; Apoc. 14:14; também 1:7, 13).
Esta declaração de Jesus foi uma afirmação chocante para o sumo
sacerdote (Mat. 26:64) e inclusive para os próprios apóstolos de Jesus
(24:30, 31). A visão do juízo de João em Apocalipse 14 confirma a nova
revelação de Jesus como uma verdade sempre presente para a igreja de
todos os tempos.
A seqüência de Daniel dos acontecimentos históricos em capítulo 7
também se repete em Apocalipse 13 e 14: perseguição, juízo, reino
messiânico. Assim como o reino de Deus incluía seu direito a julgar a
todos os homens, assim também o reino de Cristo (a "coroa de ouro"
real) está unida com o juízo final (a "foice aguda"). João Batista
descreveu a vinda do Messias de Israel como uma colheita que separa o
trigo da palha:
"Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o
seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará" (Mat. 3:12).
Esta linguagem figurada indica que o juízo messiânico proporciona
redenção aos santos. Serão reunidos como o trigo no celeiro eterno de
Deus. J. M. Ford explica a colheita de Apocalipse 14 de acordo com isto:
"Portanto, esta colheita [a de Apoc. 14:14-16] é uma colheita de proteção
em lugar de destruição e por conseguinte, segue naturalmente depois da
exortação dos santos (vs. 12, 13)".1
Apocalipse 14 começou com os 144.000 companheiros do Cordeiro
como as "primícias" para Deus (Apoc, 14:4). O capítulo conclui com
uma visão da colheita total da humanidade. O anjo indica que "a seara
As Profecias do Tempo do Fim 452
da terra já amadureceu" (v. 15). Uma questão muito importante é: O que
foi que causou a maturação mundial de maneira que toda a terra está
pronta para a colheita? A resposta pode encontrar-se na proclamação
eficaz da tríplice mensagem, habilitado pelo Espírito Santo que
iluminará toda a terra, tal como se descreve em Apocalipse 18:1-5. Uma
pregação universal do evangelho assim, com a voz de Elias, converterá
toda a terra em um "Monte Carmelo", em um "vale de Josafá" ou "vale
da decisão" (Joel 3:12, 15).
Em sua parábola do joio (Mat. 13:36-43), Jesus ampliou o campo
até lhe dar uma extensão universal:
"O campo é o mundo, a boa semente são os filhos do Reino, e o joio
são os filhos do Maligno. O inimigo que o semeou é o diabo; e a ceifa é o fim
do mundo; e os ceifeiros são os anjos" (vs. 38, 39).

Depois Jesus enfatizou a separação final entre os ímpios e os justos


com respeito a seu destino eterno:
"Mandará o Filho do Homem os seus anjos, e eles colherão do seu
Reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade. E os
lançarão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes" (vs. 41-
43).
A visão do juízo de Apocalipse 14:14-20 serve como a confirmação
dramática da parábola do joio de Jesus. A visão da grande colheita de
uvas em Apocalipse 14:17-20 amplia a descrição da colheita de uvas em
Joel 3:13 e a volta a definir como um juízo que está centrado em Cristo.
"Então, saiu do santuário, que se encontra no céu, outro anjo, tendo ele
mesmo também uma foice afiada. Saiu ainda do altar outro anjo, aquele que
tem autoridade sobre o fogo, e falou em grande voz ao que tinha a foice
afiada, dizendo: Toma a tua foice afiada e ajunta os cachos da videira da
terra, porquanto as suas uvas estão amadurecidas! Então, o anjo passou a
sua foice na terra, e vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar
da cólera de Deus. E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do
lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos
estádios"
As Profecias do Tempo do Fim 453
A CONVOCATÓRIA DIVINA
EM JOEL 3 EM APOCALIPSE 14
"Congregarei todas as nações e as "A cada nação, e tribo, e língua, e
farei descer ao vale de Josafá; e ali povo, dizendo, em grande voz:
entrarei em juízo contra elas por Temei a Deus e dai-lhe glória, pois
causa do meu povo e da minha é chegada a hora do seu juízo..."
herança, Israel ... (3:2). (14:6, 7).
AS ACUSAÇÕES
"a quem [a meu povo] elas "Caiu, caiu a grande Babilônia que
espalharam por entre os povos, tem dado a beber a todas as nações do
repartindo a minha terra entre si" vinho da fúria da sua prostituição"
(3:2; ver também os vs. 5, 6). (14:8; ver também 17:5, 6).
LIBERTAÇÃO DOS SANTOS
"todo aquele que invocar o nome "Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre
do Senhor será salvo; porque, no o monte Sião, e com ele 144.000,
monte Sião e em Jerusalém, tendo na fronte escrito o seu nome e o
estarão os que forem salvos..." nome de seu Pai" (14:1; cf. o v. 11).
(2:32; ver também 3:16). "Toma a tua foice e ceifa, pois
"Lançai a foice, porque está chegou a hora de ceifar, visto que a
seara da terra já amadureceu!"
madura a seara" (3:13).
(14:15; também o v. 16).
CONDENAÇÃO DOS
PERSEGUIDORES
"Vinde, pisai, porque o lagar está "Então, o anjo passou a sua foice na
cheio, os seus compartimentos terra, e vindimou a videira da terra, e
transbordam, porquanto a sua malícia lançou-a no grande lagar da cólera de
é grande" (3:13). Deus..." 14:19; também el v. 20).

A chave para revelar esta visão em clave é recuperar os antigos


oráculos. A seguinte tabela revela um paralelo surpreendente de temas e
imagens entre Joel 3 e Apocalipse 14. Ambas as profecias contêm uma
convocação divina a todas as nações para aparecer ante o tribunal de
Deus (Joel 3:9-12; Apoc. 14:6, 7). Ambas apresentam as acusações
As Profecias do Tempo do Fim 454
legais no pleito de Deus (Joel 3:2-6; Apoc. 14:8). Ambas descrevem a
liberação do povo do remanescente fiel sobre o monte Sião (Joel 2:32;
3:16; Apoc. 14:1-5, 12). Ambas predizem a condenação dos inimigos
perseguidores nos vales ao redor do monte Sião (Joel 3:2, 12; Apoc.
14:20).
Podemos aprender três lições importantes deste progressivo
desdobramento de Joel 3 em Apocalipse 14, lições que nos ensinam de
que maneira o evangelho de Cristo estabelece o cumprimento do tempo
do fim que Joel profetizou.
A) Primeiro, notamos que o Juiz já não é Jeová e sim o Messias
Jesus. Como o Filho do Homem de Daniel 7:13 e 14, Cristo é o Rei
("coroa") e o Juiz (a "foice"), quem executa os veredictos do tribunal
celestial. Apocalipse 14:14 mostra o cumprimento cristológico do tempo
do fim de Joel 3. O segundo advento de Cristo introduz o tempo da ceifa
da terra.
B) Segundo, o remanescente fiel de Israel, reunido no monte Sião
na cidade santa (Joel 2:32; 3:16), é redefinido pelos apóstolos como
crentes no Senhor Jesus (ver At. 2:21; 9:14, 21; Rom. 10:13) e em
Apocalipse 14:1-5 como os seguidores do Cordeiro, a igreja fiel do
tempo do fim, o que na ciência teológica se chama o cumprimento
eclesiológico (de "igreja", gr. ekklesia). O evangelho de Cristo tirou as
restrições nacionais do povo do antigo pacto. A igreja de Jesus é uma
comunidade de fé universal, a que Paulo chama "linhagem de Abraão"
(Gál. 3:26-29) e "o Israel de Deus" (6:16; cf. Heb. 12:22-24).
C) Terceiro, o vale de Josafá ao redor do monte Sião em Joel 3:2,
12 e 14, em Apocalipse 14 se amplia a toda a terra. Esta extensão em
escala mundial se mostra de modo inconfundível pela repetição
intencional (6 vezes) do termo "a terra" (3 vezes para a ceifa da colheita
e 3 vezes para a colheita de uvas, Apoc. 14:15, 16, 18, 19). Este aumento
mundial do vale local de Joel se chama o cumprimento universal. João
retém no Apocalipse a velha linguagem figurada da cidade de Sião do
Oriente Médio (como em Heb. 12:22-24), mas pelo evangelho
As Profecias do Tempo do Fim 455
desaparecem as restrições geográficas e étnicas. Tal é o efeito
transformador do evangelho do novo pacto.2
O "grande lagar da ira de Deus" está situado explicitamente "fora
da cidade" (Apoc. 14:19, 20). Só pelo antecedente da descrição de Joel
podemos saber, com certeza, que esta "cidade" de refúgio é a cidade
santa onde o Deus de Israel libera a seus verdadeiros adoradores (ver
Joel 2:32 e Apoc. 14:1).
O lagar apocalíptico de Apocalipse 14 corresponde com o lagar de
Joel 3 que o descreveu como "cheio, os seus compartimentos
transbordam, porquanto a sua malícia é grande" (Joel 3:13). Joel já tinha
dado ao lagar uma aplicação moral com respeito aos ímpios
perseguidores que estavam sob o processo de acusação do Deus do pacto
de Israel (3:2-6). Declarou-os amadurecidos para o juízo de Deus, e Joel
apresenta a Jeová como o executor de seu veredicto:
"Congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá [o
nome significa "Jeová julga"]; e ali entrarei em juízo contra elas por causa do
meu povo e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam por entre os
povos, repartindo a minha terra entre si" (Joel 3:2).
A acusação de Deus contra as nações foi a crueldade com que
trataram a seu povo do pacto (Joel 3:3, 6). Não obstante, o objetivo final
do juízo sobre os ímpios foi mais que uma exibição de justiça. Hans
Walter Wolff comenta sobre Joel 3:17 "O reconhecimento de Jeová
como o Deus do pacto de Israel é o objetivo final dos atos de Jeová com
respeito ao mundo das nações".3
A mesma alegação de crueldade contra o povo de Deus que aparece
em Joel, renova-se no Apocalipse contra Babilônia (Apoc. 16:5, 6; 17:6;
18:20, 24; 19:2), mas desta vez os santos são os seguidores do Cordeiro,
e Cristo será seu vindicador e libertador (17:14; 19:11-21).
O pisar do lagar era um símbolo profético para ilustrar o juízo de
condenação de Deus (ver Isa. 63:2-6; Jer. 25:30, 33). Isaías comparou
Edom e Israel a uma vinha que seria pisoteada pelo juízo de Deus (Isa.
5:1-7; ver também Sal. 80:8, 12, 13, 16). A visão de Apocalipse 14:14-
As Profecias do Tempo do Fim 456
20 está mais ampliada na visão da segunda vinda de Cristo em
Apocalipse 19:11-21. Esta visão ampliada mostra como o Messias real
pisará "o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso"
(Apoc. 19:15). Esta missão final de juízo que leva a cabo Cristo se
descreve simbolicamente por sua roupa "tinta em sangue" (Apoc. 19:13;
cf. Isa. 63:3).
É instrutivo comparar as duas visões da segunda vinda de Cristo em
Apocalipse 14:14-16 (sobre uma nuvem) e em 19:11-21 (sobre um
cavalo branco). Evidentemente o ponto em questão destas visões não é
apresentar um quadro fotográfico da segunda vinda a não ser ensinar
uma verdade fundamental sobre o juízo: Cristo retornará para cumprir
todas as profecias hebréias do juízo final e para separar aos que são seus
filhos dos que têm que perecer.
Apocalipse 14 termina com a assombrosa declaração de que o
sangue que sai do lagar "fora da cidade" chega "até os freios dos cavalos,
por mil e seiscentos estádios" (Apoc. 14:20). De novo, esta é uma
linguagem simbólica hebraica com uma mensagem clara. A sabedoria
requer uma compreensão do significado básico dos números
apocalípticos. Assim como Apocalipse 14 começa com uma cifra
(144.000), assim também termina com outra cifra (1.600). Ambas as
passagens (vs. 1, 20) formam contrapartes simbólicas que descrevem
destinos opostos para os justos e para os ímpios. O verdadeiro Israel está
com o Cordeiro sobre o Monte Sião dentro da cidade de Deus, e os
perseguidores ímpios estão reunidos fora da cidade.
Dessa maneira, Apocalipse 14:1 e 20 amplia a linguagem figurada
de Joel 2:32 e 3:1-16. Assim como a cifra 144.000 para o Israel espiritual
revela seu significado teológico por meio de seu número chave, o 12,
assim a cifra simbólica 1.600 revela seu significado por meio do número
chave 4. "Quatro" simboliza os quatro ângulos da terra (ver Apoc. 7:1;
20:8), os quatro limites da terra (Isa. 11:12), ou os quatro ventos ou
direções da bússola (Mat. 24:31). A multiplicação do número 4 em
Apocalipse 14:20 aponta exaustivamente ao território universal do
As Profecias do Tempo do Fim 457
campo de batalha, em harmonia com a predição do Jeremias: "E serão os
mortos do Senhor, naquele dia, desde uma extremidade da terra até à
outra" (Jer. 25:33).
A importância primitiva da segunda vinda de Cristo, como a
culminação da guerra mundial contra seus servos fiéis, amplifica-se nas
visões ulteriores de Apocalipse 15 a 19. O desenvolvimento progressivo
do "Armagedom" nos capítulos 16:13-16, 17:12-14 e 19:11-21, amplia a
importância decisiva do poder salvífico e do poder consumidor da
segunda vinda de Jesus Cristo. Voltando a extrair seus conceitos das
descrições vívidas do idioma profético hebraico, a última visão que João
teve do segundo advento descreve a Cristo vindo com um exército
invencível do céu:

"E seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos,


com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma
espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com
cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus
Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI
DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES" (Apoc. 19:14-16).

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXVIII deste livro)
encontrará nas páginas 458-466.

1 J. M. Ford, Revelation, p. 250.


2 Para um estudo mais profundo do cumprimento territorial das
promessas feitas ao Israel, ver LaRondelle, O Israel de Deus na
Profecia, cap. 9.
3 Wolff, Joel and Amos, p. 81 (o itálico é meu).
As Profecias do Tempo do Fim 458
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 12-14

Livros
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As Profecias do Tempo do Fim 467
O SIGNIFICADO DAS SETE ÚLTIMAS PRAGAS
Apocalipse 15 e 16

Nossa primeira tarefa para interpretar as sete últimas pragas é


considerá-las dentro de seu contexto imediato e de seu contexto mais
amplo. A visão do santuário de Apocalipse 15 explica sua origem
sobrenatural: são enviadas da sala do trono no céu e expressam a
fidelidade de Deus. As pragas não são forças cegas ou catástrofes
naturais. Sua importância crucial chega a ser evidente quando sabemos
que constituem a "ira de Deus" na advertência da mensagem do terceiro
anjo.
"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se
alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou
sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado,
sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre,
diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro" (Apoc. 14:9, 10).

O Enfoque Contextual

A mensagem de admoestação identifica a ira de Deus com a ira do


Cordeiro. Sua manifestação aterrorizará os ímpios quando terminar o
tempo de graça (Apoc. 6:16, 17). Apocalipse 16 desdobra a ira do
Cordeiro como as sete últimas pragas. Estas pragas também são o
cumprimento do pisar simbólico da "vinha da terra" em "o grande lagar
da ira de Deus" de Apocalipse 14:19 e 20. Por conseguinte, ao
denominar-se "últimas pragas" (15:1) devem comparar-se com os outros
juízos anteriores de Deus nos selos e nas trombetas (caps. 6, 8 e 9). A
dramática intensificação sobre os juízos preliminares aparece em sua
globalização. Entretanto, a diferença teológica é a natureza e o propósito
das últimas pragas.
Enquanto que os selos e as trombetas objetivam o despertar ao
arrependimento em uma igreja apóstata e no mundo, e dessa maneira
As Profecias do Tempo do Fim 468
cumprem um propósito misericordioso, as últimas pragas caem sobre um
mundo impenitente depois do fim do tempo de graça, quando o destino
eterno de cada um foi selado no santuário celestial (Apoc. 15:8; 16:1; 22:11).
O propósito das últimas pragas é executar o veredicto de Deus sobre
seus inimigos, para resgatar os seguidores de Cristo das mãos de seus
opressores. Um comentário alemão declara: "Em certo momento
indicado, Deus termina sua demora e intervém rapidamente e com
caráter concludente. É o objetivo dos juízos das pragas. Quando
terminam se anuncia: 'Feito está' (vs. 16, 17)".1 As últimas pragas
servem como a substância da sétima trombeta. Isto requer uma breve
recapitulação da origem de todos os juízos messiânicos no Apocalipse.

Origem Celestial dos Juízos messiânicos

Os selos, as trombetas e as últimas pragas todas são enviadas do


santuário celestial (Apoc. 5; 8:3-5; 15:5-8). Estes três septenários estão
precedidos por uma visão dos santos vitoriosos no reino dos céus (5:9,
10; 7:9-17; 15:2-4). Este arranjo literário mostra que o interesse primário
dos juízos de Deus é a salvação de seu povo. Ao mesmo tempo, ele é o
Deus de justiça que "não se deixa escarnecer" (Gál. 6:7). Este duplo
aspecto do caráter santo de Deus: sua justiça salvífica e sua justiça
punitiva, já tinha sido revelado o Moisés (ver Êxo. 34:6, 7). Suas
ameaças são tão confiáveis e reais como suas promessas (ver Apoc.
22:18, 19). Ambas as manifestações da justiça divina se originam no
Senhor ressuscitado (cap. 5).
A composição literária do Apocalipse mostra que as pragas seguem
depois do último chamado ao arrependimento (Apoc. 14:6-12) e depois
do selamento dos santos (7:1-4). Os juízos culminam na batalha do
"Armagedom" quer dizer, na destruição de Babilônia (16:13-19). Os
capítulos 17 a 19 constituem a explicação detalhada da queda de
Babilônia (ver o cap. XXX desta obra).
As Profecias do Tempo do Fim 469
Os Tipos do Antigo Testamento Prefiguram a Proteção Divina

Alguns comentadores assumem que os seguidores de Cristo serão


arrebatados ao céu antes que comecem a derramar-se as pragas, de
maneira que não serão afetados pela ira de Deus. Mas a hipótese de um
arrebatamento não está apoiado por uma exegese bem feita. A analogia
das pragas com as pragas que caíram antes sobre o Egito mostra que
Israel permaneceu na terra de Gósen de maneira que Faraó pudesse ver a
"diferencia entre os egípcios e os israelitas" (Êxo. 11:7; 8:22, 23). Israel
inclusive participou desta distinção colocando o sangue do cordeiro
pascal como "um sinal" sobre os batentes de suas casas: "Quando eu vir
o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora,
quando eu ferir a terra do Egito" (Êxo. 12:13).
Também o povo de Deus do tempo do fim é chamado a separar-se
de "Babilônia" e unir-se a Cristo, "para que não sejam partícipes de seus
pecados, nem recebam parte de suas pragas" (Apoc. 18:4; 14:1). Assim
como o Israel da antiguidade foi protegido pelo "sinal" do sangue, assim
o Israel do tempo do fim será protegido por um selo especial do Deus
vivente, que os anjos de Deus colocarão na fronte de cada um dos
escolhidos (Apoc. 7:3; 14:1).
Outro paralelo está na visão do Ezequiel, sobre o selamento do
remanescente fiel de Jerusalém. O selo de Deus garantia sua
preservação. Assim acontecerá com o antítipo!2

As Pragas Dão Começo ao Dia do Senhor

A teologia popular identifica o "dia do Senhor" com o segundo


advento de Cristo. O Apocalipse inclui a guerra do Armagedom em
"aquele grande dia do Deus Todo-poderoso" (Apoc. 16:14). A esse
"grande dia" ele o chama o dia de sua ira ou o dia da vingança de Deus
(Isa. 34:8; Sof. 2:2; Apoc. 6:17). O dia da ira de Deus começa com as
sete últimas pragas (ver Apoc. 15:1; 6:17). Quando as sete taças de ouro
As Profecias do Tempo do Fim 470
estejam cheias da ira de Deus, "ninguém podia entrar no templo até que
fossem cumpridas as sete pragas dos sete anjos" (15:7, 8).
Como o tempo de graça termina ao iniciar-se as sete últimas pragas,
o fim do tempo de graça pode identificar-se com o tempo no qual "se
levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo".
Depois que se levante, "haverá tempo de angústia, qual nunca houve,
desde que houve nação até àquele temp" (Dan. 12:1).
O dia do Senhor terminará quando os céus e a terra sejam
purificados por fogo e quando se estabelecer um novo céu e uma nova
terra como a morada dos justos (ver 2 Ped. 3:10-13), promessa que se
realizará no fim do milênio (ver Apoc. 21:1-5).
A extensão completa do dia do Senhor pode representar-se no
seguinte diagrama:3

O TEMPO DO FIM O DIA DO SENHOR O DIA DO SENHOR


Fim do tempo de As 7 últimas pragas Segunda vinda e
graça depois da milênio
tríplice mensagem
Apoc. 14:6-12 Apoc. 15 e 16 Apoc. 19 e 20

O Motivo do Êxodo das Pragas

Parece que existe um consenso universal de que o motivo básico do


Apocalipse é o motivo do êxodo. A descrição de Cristo como o cordeiro
pascal, prepara o cenário para a igreja como o povo do novo êxodo.
Quando os anciões cantam, "com o teu sangue compraste para Deus
homens" (Apoc. 5:9), unem o motivo do cordeiro pascal com o tema do
êxodo. Desde o começo, o Apocalipse chama a igreja de Cristo um
"reino de sacerdotes" (1:5, 6). O "novo cântico" dos anciões espera com
interesse um êxodo mais espetacular no futuro, o da igreja triunfante, "e
reinarão sobre a terra" (5:10). Este panorama futuro se desenvolve na
visão da nova terra e da Nova Jerusalém (caps. 21 e 22).
As Profecias do Tempo do Fim 471
A sétima trombeta declara: "O reino do mundo se tornou de nosso
Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc.
11:15). Esse reino futuro de Deus e de Cristo será precedido pelas sete
pragas últimas, porque a terra ainda está dominada por um opressor "o
Egito" ou "Babilônia".
A realidade histórica das pragas e do êxodo conseguinte da igreja
depende do poder do Messias e do mérito de sua morte como Cordeiro
pascal. Só ele é digno de "abrir o livro e desatar seus sete selos" (Apoc.
5:5) e realizar a bem-aventurada esperança. Em nenhum lugar do
Apocalipse se usa a tipologia do êxodo em forma mais explícita e
sistemática que nas sete pragas.
O propósito das últimas pragas corresponde essencialmente ao das
10 pragas que caíram sobre o Egito nos tempos dd Moisés: revelar a
justiça de Deus ao subjugar e eliminar o perseguidor. Ambas as
libertações do povo de Deus, a passada e a futura, são manifestações da
fidelidade do mesmo Deus do pacto. Já Apocalipse 15 começa a conectar
ambas as séries de pragas. João vê os que tinham alcançado a vitória
sobre a besta e sua imagem estar em pé "no mar" ["junto ao mar", RC;
"sobre o mar", BJ; "na margem", NBE] de vidro que parecia de cor
vermelha ("misturado com fogo", RC), em outras palavras, estavam em
pé ao lado de um "mar vermelho" (Apoc. 15:2). Em segundo lugar,
tinham harpas e cantavam "o cântico de Moisés, servo de Deus, e o
cântico do Cordeiro..." (vs. 2, 3). O cantar "o cântico de Moisés" volta a
representar o tema da libertação do cântico de Moisés em Êxodo 15.
O cântico de Moisés louva a intervenção dramática de Deus como
uma manifestação de seu reino: "O Senhor reinará por todo o sempre"
(Êxo. 15:18, 11 ). Este ato histórico de liberação por parte do Deus de
Israel constitui o tipo de todas as seguintes guerras santas do Senhor.
Cantou Moisés: "Jeová é varão de guerra; Jeová é seu nome" (v. 3).
João exalta a Cristo como o único que trará uma libertação maior
que a que trouxe Moisés. O Israel do tempo do fim cantará "o cântico de
Moisés servo de Deus, e o cântico do Cordeiro" (Apoc. 15:3). Cristo
As Profecias do Tempo do Fim 472
levará a cabo uma libertação eterna e universal para o remanescente fiel
no fim da era cristã. Serão sacados de uma forma sobrenatural do
anticristo atacante, do qual Faraó foi só uma pálida antecipação.
Uma referência adicional aos dias de Moisés é a nota deliberada de
João com respeito ao templo no céu, que é "o templo do tabernáculo do
testemunho" (Apoc. 15:5; cf. Êxo. 38:21). Esta expressão centra a
atenção sobre o "testemunho" ou a santa lei de Deus, que se guardava no
"arca do testemunho" (ver Êxo. 40:3, 20, 21; Deut, 10:2; 1 Reis 8:9; cf.
Heb. 9:4). Este foco de atenção apocalíptico sobre a lei de Deus dentro
de seu templo celestial é apropriado em vista do conflito final do povo de
Deus com o anticristo idólatra (ver acima, sobre o Apoc. 13:15-17). Em
Apocalipse 15:5 se volta a enfatizar a fidelidade aos "mandamentos de
Deus" (ver também Apoc. 11:19). Os "mandamentos de Deus" em
Apocalipse 12:17 e 14:12 estão identificados como o Decálogo dentro do
"tabernáculo do testemunho" de Israel, o que é de importância suprema
para a última geração do povo de Deus.
Finalmente, o anúncio de que o templo no céu "encheu-se de
fumaça pela glória de Deus, e por seu poder", de maneira que ninguém
podia entrar (Apoc. 15:8), aponta para trás à vinda da presença de Deus
como Redentor e Juiz (Êxo. 40:34, 35; 1 Reis 8:10, 11 ). Beasley-Murray
aponta a este duplo significado:
"A dualidade do êxodo como juízo e redenção se mantém nos capítulos
15 e 16 [do Apocalipse], e para assegurar que o leitor entende isto, coloca-
se primeiro o elemento positivo da redenção".4
João não inverte a ordem histórica em Apocalipse 15 e 16 como se
colocasse as pragas (cap. 16) depois da libertação de Israel (cap. 15).
João coloca a certeza da redenção do êxodo frente a Apocalipse 15 como
o propósito de sua mensagem apocalíptica. Está impressionado pela
segurança de que o povo de Deus do tempo do fim cantará porque foi
livrado de seus opressores por meio do poder de Cristo:
"E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do
Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus,
Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das
As Profecias do Tempo do Fim 473
nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só
tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque
os teus atos de justiça se fizeram manifestos" (Apoc. 15:3, 4).
João revela esta manifestação final da justiça de Deus em
Apocalipse 16. Elmer M. Rusten tirou este paralelo:
"Assim como o exército do Egito foi culpado no aquoso juízo de Deus e
foi afogado (Êxo. 14:26-30 ), assim o anticristo e seus seguidores em
Apocalipse 15 estão a ponto de ser culpados no juízo final da ira de Deus
(Apoc. 16)".5
Cristo assegura a seus seguidores que sua fidelidade a ele, quer
dizer, fidelidade aos mandamentos de Deus e ao testemunho de Jesus,
será honrada ao resgatá-los na hora de sua necessidade suprema. O
cântico de vitória em Apocalipse 15 será cantado depois que as pragas
hajam dissolvido o "Império Babilônico". Apocalipse 15 não garante a
expectativa popular de que cada mártir cantará o cântico da vitória no
céu, isolado dos outros, porque todos os vencedores cantarão juntos ao
mesmo tempo, assim como Israel cantou o cântico de Moisés depois de
sua libertação como povo. Em realidade, todos os mártires da era cristã
triunfarão juntos (ver Apoc. 6:9-11; 7:9-17). O fato de que o cântico de
Moisés e do Cordeiro está composto de citações de Moisés (Êxo. 15;
Deut. 32:4), dos salmos (Sal. 86:9; 110:2; 145:17) e dos profetas (Amós
4:13; Jer. 10:7), demonstra que o cântico futuro do povo de Cristo é a
"revelação genuína de um Deus e de um Espírito, e o testemunho de uma
fé".6
O cântico não enumera suas próprias virtudes. Louva a santidade, a
justiça e a soberania de Deus, louvor que é o propósito final do plano de
redenção e da história da salvação. Semelhante exaltação de Cristo é
significativa, especialmente em vista da aparente vitória da besta sobre
todos os que moram na terra e que se dobraram e adoraram o anticristo
(Apoc. 13:4, 8, 12). Quando a igreja fizer frente à ameaça de morte dos
poderes de plantão, deve recordar o cântico futuro sobre o mar de vidro
diante do trono de Deus.
As Profecias do Tempo do Fim 474
O Propósito Moral da Ira de Deus

A expressão apocalíptica "a ira [orgué] de Deus" necessita uma


atenção cuidadosa, porque foi mal-entendida por intérpretes bem
intencionados. A frase é usada 375 vezes no Antigo Testamento, 7 e
permanece como uma característica essencial no evangelho no Novo
Testamento e em sua perspectiva profética (Mat. 3:7; João 3:36; Rom.
1:18; 2:5-8; 5:8-11; Apoc. 6:16, 17).
Moisés revelou que o Deus de Israel era "tardio para a ira, e grande
em misericórdia" mas que "ao culpado não tem por inocente" (Êxo. 34:6,
7; Núm. 14:18). Moisés interpretou a ira de Deus como uma ira santa,
livre de qualquer imperfeição humana. Só despertava sua ira para opor-
se ao pecado e se irava em grande maneira para castigar a rebelião contra
a vontade soberana de Deus (2 Reis 17:16-18; 2 Crôn. 36:16; Dan. 9:4-
16).
A proclamação da ira de Deus e sua justiça retributiva não está em
conflito com seu amor. Aos contrário, o reconhecimento da santa ira de
Deus contra o pecado cria uma nova apreciação de sua misericórdia para
todos os objetos de sua ira (Ef. 2:3; 5:6; Rom. 5:8-10). A ira de Deus é
tão real como o é o amor de Deus.
Os 7 juízos punitivos de Apocalipse 16 não são explosões
vingativas de um Deus ofendido, e sim a demonstração bem ordenada
das maldições finais do pacto, destinadas para um povo do pacto que
persiste na apostasia. Já em Levítico 26, Deus tinha admoestado a Israel
que sua idolatria ininterrupta e o rechaço voluntário de sua Torah
suscitaria um castigo séptuple, até mesmo uma guerra santa de Jeová
contra o povo rebelde (Lev. 26:18, 21, 24, 28-33)! J. M. Ford inclusive
conta exatamente sete castigos em Levítico 26:18-34.8 Mas, qual é a
intenção do derramamento de sua ira "sem diluir" durante as últimas
pragas se já não provocam mais arrependimento?
Em primeiro lugar, as pragas objetivam despertar o reconhecimento
de que Babilônia se tem oposto ao Criador com sua imposição da marca
As Profecias do Tempo do Fim 475
da besta, sua adoração da imagem da besta e sua proscrição dos que
rechaçam a marca. Entretanto, a reação de Babilônia é o oposto:
amaldiçoa a Deus e rechaça arrepender-se e glorificá-lo (Apoc. 16:9, 11,
21). Esta reação demonstra a hostilidade de Babilônia contra Deus e seu
povo.
Esta tríplice repetição enfatiza o misterioso endurecimento do
coração, até mais obstinado que o de Faraó da antiguidade, o que revela
a incapacidade espantosa do homem para chegar ao arrependimento por
si mesmo. Heinrich Kraf assinalou que "a continuação obstinada do
pecado se castiga a si mesmo, porque obstrui seu próprio caminho ao
arrependimento".9 Os ímpios imputam a Deus o mal que lhes sobrevém,
e o amaldiçoam como se fosse um tirano (Apoc. 16:9, 11). Nessa forma,
mostram seu rechaço do amor de Deus e de seu sacrifício expiatório. Por
este ato, Babilônia se condenará a si mesmo e se declarará perdida. As
pragas têm o propósito de revelar os corações e as obras do homem em
sua atitude para com Cristo. Os juízos correspondem à perseguição que
Babilônia mesma escolheu. Babilônia sofrerá as conseqüências do que
tem feito. É julgada de acordo com suas obras.

O Apropriado dos Sete Juízos das Pragas

Vestidos como Cristo o Sumo Sacerdote (Apoc. 15:6), os sete anjos


têm as sete taças de ouro que já não estão cheios de incenso, como as
que tinham levado antes os 24 anciões "cheias de incenso, que são as
orações dos santos" (5:8). Agora os anjos usam as taças para derramar "a
ira de Deus" (15:7). E. Schüssler Fiorenza assinala o apropriado desta
resposta divina, e diz:
"As taças com as pragas são uma resposta à oração e o protesto dos
cristãos por justiça. Também são uma advertência para os cristãos e os não
cristãos por igual, para que não cheguem a ser membros da comunidade do
culto imperial".10
As Profecias do Tempo do Fim 476
Assim como as pragas das quatro primeiras trombetas em
Apocalipse 8:7-12, as primeiras pragas se derramam igualmente sobre a
terra (16:2), sobre o mar (v. 3), sobre os rios e as fontes das águas (v. 4)
e sobre o sol (v. 8). Entretanto, os castigos finais seguem com uma
severidade e um ritmo mais rápido. Toda a terra chega a ser como o
antigo "Egito", quer dizer, o opressor do Israel de Deus.
1. A primeira praga de "úlceras malignas e perniciosas" afeta a
todos os "portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem"
(Apoc. 16:2). Isto demonstra que o povo de Deus não sofrerá esta praga
nem nenhuma seguinte! Alguns vêem o apropriado desta praga em uma
marca externa com úlceras malignas sobre os que têm a marca da besta,
2. A segunda praga converte o mar "em sangue como de morto"
(Apoc. 16:3), o que causa a destruição de uma grande porção da criação
para a humanidade e mostra indubitavelmente "o dedo" de um Criador
ofendido. O "sangue" das pragas apocalípticas mostra a condenação
divina pelo derramamento de sangue dos mártires. O anjo explica:
"Porquanto derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue
lhes tens dado a beber; são dignos disso" (v. 6).
3. A terceira praga converte os rios e as fontes das águas em sangue
(Apoc. 16:4). Agora a água para os homens beberem se converte em uma
maldição. De acordo com a última mensagem de admoestação de Deus,
os moradores da terra recusaram reconhecer ao Criador do mar e das
fontes das águas (14:7). A terceira praga é uma resposta adequada para
os que têm feito caso omisso de Deus como a fonte e o sustentador da
vida humana. Os anjos "das águas" e o do "altar" no céu, respondem com
louvores ao santo, e dizem: "Tu és justo, oh Senhor" (16:5, 7). É evidente
que estas pragas seguem-se uma à outra em rápida sucessão e em um
tempo muito curto, porque do contrário ninguém sobreviveria às três
primeiras pragas.
4. A quarta praga compara-se com a quarta trombeta em que afeta o
sol, embora já não a "terça parte do sol" (Apoc. 8:12). Um calor que
chamusca fará que os homens amaldiçoem o nome de Deus, porque
As Profecias do Tempo do Fim 477
"nem se arrependeram para lhe darem glória" (16:9). O contraste chega a
ser evidente. Enquanto que vozes celestiais louvam a Deus por seus
juízos finais (vs. 5-7), vozes terrestres o amaldiçoam por seus juízos.
Esta reação indica quão obstinados e endurecidos chegaram a ser os
adoradores da besta contra aquele que "tem poder sobre estas pragas" (v.
9). É uma atitude similar à que mostrou o Egito da antiguidade durante
as pragas nos dias de Moisés. Quando as pessoas recusam
persistentemente arrepender-se, chega o momento quando já não podem
arrepender-se!
5. A quinta praga é derramada "sobre o trono da besta, cujo reino se
tornou em trevas" (Apoc. 16:10). Esta praga é similar à nona praga de
Moisés, quando o Egito ficou coberto por uma escuridão total durante
três dias. "Não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar
por três dias; porém todos os filhos de Israel tinham luz nas suas
habitações" (Êxo. 10:23). Durante a quinta praga, o "reino" da besta será
paralisado por uma escuridão sobrenatural e impenetrável, um veredicto
celestial apropriado para os que rechaçaram a Cristo como a luz do
mundo e "amaram mais as trevas do que a luz" (João 3:19).

O reino da besta será mundial, porque se estende a todos os povos e


nações (Apoc. 13:8; 14:8). Em vez de reconhecer seu pecado,
amaldiçoam a Deus "por causa das angústias e das úlceras que sofriam"
(16:11). Evidentemente as pragas finais caem rapidamente sobre a
mesma geração, porque as úlceras que se produzem durante a primeira
praga continuam sob a quinta. Ouvimos o estribilho: "Não se
arrependeram de suas obras" (v. 11). Beasley-Murray explica isto de
uma maneira perspicaz:
"Por conseguinte, os que amaldiçoam a Deus por seus juízos são os
obstinados. A marca da besta em seus corpos penetrou suas almas,
instilando neles a hostilidade para com Deus e sua santidade, que é
característico da própria besta".11
As Profecias do Tempo do Fim 478
Razão Básica para Aplicar a Descrição das Pragas

Existe confusão com respeito à hermenêutica de aplicar as pragas de


Apocalipse 15 e 16 a realidades históricas futuras. Devem aplicar-se
literalmente ou em forma figurada? Alguns têm tratado de uma ou outra
maneira, sem ter verdadeira satisfação. A chave para decifrar o
Apocalipse não é a aplicação rígida do literalismo ou do alegorismo. Do
começo até o fim, este livro apocalíptico tece juntas a linguagem
simbólica e a literal numa tela (ver Apoc. 1:16; 22:14, 17). Em
Apocalipse 12, a "mulher" de Deus dá à luz "um filho varão, que regerá
com vara de ferro a todas as nações" (v. 5). Aqui a linguagem figurada e
a literal se mesclam para transmitir a mensagem com suficiente clareza.
Esta clareza chega ao considerar o grande contexto da Escritura e a
aplicação da história da salvação no idioma dos profetas. A "mulher" em
Apocalipse 12 é simbólica porque esse símbolo foi empregado por
Isaías, Ezequiel e outros para designar ao povo do Deus do pacto (ver o
cap. XXI desta obra, sobre o Apoc. 12). O "filho varão" é uma clara
referência ao Messias prometido (ver Isa. 9:6).
Este exemplo mostra que não se deve criar sua própria pauta
simplesmente por deliberação em conseguir uma consistência abstrata. A
Escritura deve dirigir o caminho para as aplicações de sua linguagem
apocalíptica. Com respeito às últimas pragas devemos falar
tentativamente, porque ainda não se cumpriram. Entretanto, é prudente
dizer que as 7 pragas são todas literais ou juízos históricos de Deus,
embora sua descrição está mais ou menos em imagens simbólicas. A
primeira e a quinta descrevem os objetos da ira de Deus em termos
simbólicos, como os que tinham "a marca da besta e adoravam sua
imagem" ou "sobre o trono da besta" (Apoc. 16:2, 10). A sexta e a sétima
pragas descrevem seus objetos como "o grande rio Eufrates" e "a grande
Babilônia" (vs. 12, 19). De novo o contexto da Escritura indica um uso
simbólico da história da salvação de Israel, para cumprir-se em um
antítipo histórico maior no tempo do fim. A questão é determinar se os
As Profecias do Tempo do Fim 479
efeitos históricos das pragas se descrevem em linguagem alegórica ou
literal. É interessante que Uriah Smith insistiu que sua interpretação das
duas últimas pragas também reconheciam juízos "literais":
"Estas pragas, de acordo com a mesma natureza do caso, devem ser
manifestações de ira e juízos contra os homens... Tudo o que recalcamos é
que os castigos resultantes de cada taça tem caráter literal. No caso da
sexta isto praga é assim como com todas as demais, embora as
organizações que sofrem estes juízos podem ser apresentadas em forma
simbólica".12
Entretanto, a base lógica decisiva para a aplicação das pragas é seu
significado teológico. Roy Naden aplica seu ponto de vista cristológico
das últimas pragas para os que rechaçam a Cristo como o Cordeiro de
Deus:
"Os que rechaçam a Cristo experimentarão as conseqüências
inevitáveis do pecado, e ao lhes faltar um substituto, experimentarão
pessoalmente a ira de Deus nas sete últimas pragas. Este é o significado
primário de Apocalipse 16".13

O Motivo do Êxodo nas Últimas Pragas

É essencial entender o caráter pactual de todas as pragas. O motivo


do êxodo que une todos os juízos das pragas, serve ao propósito elevado
da libertação do Israel oprimido. O caráter das pragas como maldições
do pacto chega a ser evidente quando se reconhece a relação tipológica
das pragas finais com as dez pragas do Egito.
Não menos importante foi o ato de Deus da "guerra santa" para
libertar o seu povo do exército perseguidor do Egito: o repentino
secamento do Mar Vermelho. Faraó e seus oficiais reconheceram as
pragas do Egito como o "dedo de Deus" (Êxo. 8:19), devido a que eram
os opressores dos israelitas (10:7). As últimas pragas agitam a
consciência do mundo para o seu mau trato dos seguidores de Cristo, o
que finalmente é obtido pela sexta e a sétima pragas. Estas últimas
pragas proporcionam a libertação do êxodo do Israel de Deus.
As Profecias do Tempo do Fim 480
Surpreendentemente, as sete pragas, as últimas, não estão modeladas
segundo as pragas egípcias e sim segundo a queda histórica do Império
Babilônico.

Os Juízos da Sexta e da Sétima Taças

A sexta taça é derramada sobre "o grande rio Eufrates; e a sua água
secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente" (Apoc.
16:12). Durante o juízo da sétima praga, "a grande Babilônia" é
destruída (vs. 17-19). Obviamente, o Eufrates é o rio de Babilônia (ver
Jer. 51:63, 64). Seu "secamento" súbito aponta para trás, à seqüência
histórica na história de Israel: o repentino secamento do Eufrates,
seguido pela queda de Babilônia e a chegada dos reis do oriente. Isto
requer uma reconstrução cuidadosa da queda do Império Neobabilônico
como foi predita por Isaías (caps. 44-47) e Jeremias (caps. 50 e 51).
Isaías já tinha empregado o êxodo de Israel do Egito como um tipo do
êxodo de Israel de Babilônia. Assegurou-lhes que Deus voltaria a secar
uma vez mais as águas que formavam um obstáculo para a volta de Israel
à terra prometida:
"O Senhor destruirá totalmente o braço do mar do Egito, e com a força
do seu vento moverá a mão contra o Eufrates, e, ferindo-o, dividi-lo-á em
sete canais, de sorte que qualquer o atravessará de sandálias" (Isa. 11:15;
ver o v. 16).
O secamento do Eufrates demonstra o juízo de Deus sobre
Babilônia! Resultou em sua queda repentina e assim "preparou o
caminho" para a libertação de Israel do cativeiro de Babilônia.14
O Apocalipse transforma a história antiga da queda de Babilônia,
por meio do secamento das águas do Eufrates, em um tipo profético para
a era da igreja. Assim como Jeová e seu povo do pacto estavam situados
no centro da queda de Babilônia, assim Cristo e seu povo do novo pacto
estarão situados no centro da queda da Babilônia moderna. A história de
salvação de Israel será cumprida pela igreja de Cristo como seu antítipo.
As Profecias do Tempo do Fim 481
Para compreender esta grandiosa tipologia, devemos explicar a função
que desempenhou cada parte:
1. Babilônia se desempenhou como o opressor de Israel.
2. O Eufrates era uma parte integral de Babilônia, que a protegia e
por isso era hostil para com Israel.
3. O secamento do Eufrates indicava o juízo de Deus sobre
Babilônia, causando sua queda súbita. Cumpriu o papel de
preparar a libertação de Israel.
4. Ciro e seus reis aliados de Média e Pérsia (Jer. 50:41; 51:11, 28)
chegaram a Babilônia como os "reis do oriente" profetizados para
cumprir o propósito de Deus. Foram os inimigos de Babilônia e
os libertadores de Israel. Ciro foi "ungido" pelo Senhor para
derrotar Babilônia e para libertar Israel (Isa. 45:1).
5. Daniel e o Israel de Deus constituíam o povo do pacto de Deus,
fiel e arrependido, dentro de Babilônia (ver Dan. 9).
Estas caracterizações teológicas são os elementos essenciais da
queda de Babilônia. No livro do Apocalipse, Babilônia representa ao
arquiinimigo de Cristo e de sua igreja. No tempo do fim, tanto Babilônia
como Israel serão universais; o campo de ação territorial de cada um será
mundial. O evangelho se prega explicitamente "a toda nação, tribo,
língua e povo" (Apoc. 14:6). Esta quádrupla ênfase acentua sua extensão
universal. O anúncio seguinte na mensagem do segundo anjo, "caiu, caiu
a grande Babilônia", apóia-se no fato de que "tem dado a beber a todas
as nações do vinho da fúria da sua prostituição" (v. 8). Finalmente, todo
mundo chegou a estar sob seu feitiço,
Em harmonia com este alcance mundial de Babilônia, o anjo de
Apocalipse 17 aplica ao rio de Babilônia, o Eufrates, uma extensão
mundial: "Povos, multidões, nações e línguas" (v. 15). Os que insistem
em que o Eufrates apocalíptico representa só as pessoas que vivem na
localização geográfica do Eufrates, estão obrigados a seguir a mesma
interpretação com Babilônia, Israel, o monte Sião, etc. Estes intérpretes
falham em captar o caráter cristocêntrico da tipologia bíblica. O
As Profecias do Tempo do Fim 482
evangelho de Jesus Cristo nos liberta das restrições do literalismo étnico
e geográfico durante a era cristã.

O Papel Explicativo de Apocalipse 17

A aplicação universal do Eufrates que o anjo faz em Apocalipse 17


serve-nos para evitar que demos ao rio de Babilônia uma conotação com
o Oriente Médio. Onde quer que Deus secou um corpo de água literal ou
um "dilúvio" de inimigos na história de Israel como o Mar Vermelho, ou
o rio Jordão, ou a inundação dos invasores dos povos do Eufrates (Isa.
8:7, 8) –, sempre indicou um juízo providencial sobre os inimigos do
povo de Deus. O secamento do grande rio de Babilônia durante a sexta
futura praga (Apoc. 16:12) –, não será uma exceção!
Este juízo divino põe-se em marcha quando os governantes
políticos e as multidões de todas as nações se dêem conta de repente da
condenação de Deus sobre Babilônia e retirem o apoio que davam a
Babilônia. Darão a volta e converterão seu apoio leal a Babilônia em um
ódio ativo que a destruirá:
"E os dez chifres que viste na besta são os que aborrecerão a
prostituta, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão
no fogo" (Apoc. 17:16).
Isto dá como resultado a repentina dissolução de Babilônia que na
providência de Deus destruirá Babilônia. Apocalipse 17 nos proporciona
uma explicação dramática da sexta e a sétima pragas de Apocalipse 16.

A Visão do Armagedom: Apocalipse 16:13-16

"Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso


profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos
de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro
com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-
Poderoso... Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama
Armagedom" (Apoc. 16:13, 14, 16).
As Profecias do Tempo do Fim 483
A visão intermediária não é uma parte da sexta praga. Mas bem
explica as forças que operam no transfundo das sete últimas pragas.
Alguns tiraram precipitadamente a conclusão de que estas palavras
predizem uma guerra mundial entre os blocos de nações do Oriente e
Ocidente. Uma especulação assim surge só quando separamos as
palavras da Escritura de suas raízes e contextos bíblicos. Não se
apresenta aqui nenhuma guerra entre as nações. A culminação do
Apocalipse de João trata com um mal muito mais sério à vista de Deus:
as forças religiosas apóstatas conduzirão a todos os poderes da terra a
unir-se em uma causa comum, fazendo guerra contra o povo de Deus!
Aqui está a trama assassina da última guerra demoníaca no Apocalipse.
Aqui está a causa do mal que desencadeará a participação dramática de
Deus, o juízo de sua guerra santa contra Babilônia.
Guerrear contra Deus é fazer guerra contra o povo de Deus, o que
foi a experiência de Israel na Escritura e a razão pela qual Deus interveio
para libertar o seu povo. O fato de que o povo de Cristo se encontre no
centro da batalha apocalíptica pode inferir-se já da advertência de Cristo:
"Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda
as suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas"
(Apoc. 16:15). Este conselho do Messias é uma verdade sempre presente
para a igreja, e entretanto tem uma urgência especial para o povo
remanescente. Deve caminhar na armadura de sua justiça por meio de
uma fé viva (ver 3:18).
Ao que parece, os santos inclusive não foram arrebatados ao céu
durante as sete pragas. O contrário é a verdade. Desempenharão um
papel ativo no conflito final, porque a guerra universal contra Deus toma
a forma de uma guerra contra os seguidores do Cordeiro! Precisam estar
alerta à tríplice mensagem de Apocalipse 14, com seu evangelho eterno e
o testemunho de Jesus. A igreja de Sardes foi despertada com estas
palavras: "Pois se não velar, virei sobre ti como ladrão, e não saberás a
que hora sobre ti virei " (Apoc. 3:3).
As Profecias do Tempo do Fim 484
Beasley-Murray coloca o conselho de Cristo em sua perspectiva
adequada quando diz: "É precisamente porque os seguidores do
anticristo não estão alertas a Deus e a seu evangelho, que para eles o dia
de Deus é um dia de condenação em vez de ser um dia de redenção".15

Em resumo, o panorama profético das últimas pragas em


Apocalipse 15 e 16 tem o propósito de revelar o plano ordenado de
antemão por Deus para o triunfo de seus fiéis. O Deus de Israel intervirá
mediante sua libertação messiânica mais espetacular em toda a história.
Anulará a determinação de Babilônia de exterminar o Israel de Deus por
meio de sua intervenção dramática na quinta praga. Este juízo envolverá
repentinamente a todas as multidões atacantes com uma escuridão
sobrenatural impenetrável (Apoc. 16:10). Este sinal não só deterá
instantaneamente os perseguidores, mas também despertará as multidões
enganadas a dar-se conta de sua rebelião contra seu próprio Criador!
Como conseqüência, deixam de apoiar Babilônia. Uma retirada tão
abrupta da lealdade a Babilônia por parte de todos os povos e nações é o
que está representado na sexta praga pelo repentino "secamento das
águas" de Babilônia, o Eufrates (v. 12). Esta mudança abrupta de sua
lealdade a Babilônia, a sua destruição, é o que o anjo explica nos
capítulos seguintes, do 17 ao 19.

A Sétima Praga em sua Recapitulação Preliminar:


Apocalipse 16:17-21

"Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz
do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está! E sobrevieram
relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca
houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e
grande. E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades
das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do
vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram
achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com
As Profecias do Tempo do Fim 485
pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva
de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era
sobremodo grande" (Apoc. 16:17-21).
O derramamento da sétima praga "no ar" é ordenada por uma
"grande voz" que sai do trono no templo no céu, declarando: Feito está!
(Apoc. 16:17). Isto significa que Deus mesmo completa esta praga de
juízo como a culminação de uma ação litúrgica celestial, que
corresponde com a predição da retribuição divina do templo celestial
anunciada por Isaías: "Voz de Jeová que dá o pagamento a seus
inimigos" (66:6). A sétima praga é de uma importância e um impacto tão
dramáticos que os capítulos 17 a 19 desenvolvem adicionalmente esta
taça de juízo sobre Babilônia (ver Apoc. 16:19; 18:6; 19:2, 17-21). A
última das pragas se introduz por meio dos sinais cósmicos que
acompanham tradicionalmente a guerra santa de Jeová contra os
opressores de seu povo: relâmpagos, trovões e um "grande terremoto"
(16:18).
O "terremoto" desempenhava um papel distintivo nas teofanias do
Antigo Testamento e no panorama apocalíptico do dia do Senhor (ver
Êxo. 19:18; Sal. 68:8; 77:17, 18; 114; Isa. 64:3; Hab. 3). Um terremoto
universal é parte da guerra santa de Deus (Isa. 13:13; 24:18-23; 34:4;
Joel 2:10). Em seu artigo pioneiro, "O terremoto escatológico", Richard
Bauckhan declara:
"A identificação da teofania escatológica como uma nova teofania do
Sinai pertence à interpretação da história da salvação dos apocalipticistas,
segundo o qual os atos redentores de Deus no futuro se descrevem sobre o
modelo de seus atos passados".16
O terremoto sem precedentes da sétima praga não é um sinal
preliminar do dia do juízo e sim uma parte do juízo de Deus sobre a
própria Babilônia (ver Apoc. 16:18). A voz de Deus que fez estremecer o
Sinai, de novo fará estremecer os céus e a terra quando vier para julgar
(ver Heb. 12:25-29). João tinha mencionado este terremoto cósmico em
seu sexto selo (Apoc. 6:12) e na sétima trombeta (11:19).
As Profecias do Tempo do Fim 486
Enquanto que João acrescentou "grande saraivada" na sétima
trombeta (Apoc. 11:19), agora dá mais explicações sobre o "grande
saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento" [uns 40
quilos] (Apoc. 16:21). Esta característica final conecta a sétima praga
com o juízo de Gogue no tempo do fim, de que falou Ezequiel, quando
Gogue ataque o Israel de Deus. Deste modo Ezequiel declarou que o
juízo de Deus sobre Gogue será uma manifestação da "ira" divina (Ezeq.
38:18). Também descreveu a guerra de Jeová com característicos de uma
teofania tormentosa, terremoto e saraiva, tudo o que se corresponde com
Apocalipse 16:17-21.

EZEQUIEL 38:18, 19, 22 APOCALIPSE 16:18, 21


"Naquele dia, quando vier Gogue "E sobrevieram relâmpagos, vozes e
contra a terra de Israel, diz o Senhor trovões, e ocorreu grande terremoto,
Deus, a minha indignação será mui como nunca houve igual desde que há
grande. Pois, no meu zelo, no brasume gente sobre a terra... Também
do meu furor, disse que, naquele dia, desabou do céu sobre os homens
será fortemente sacudida a terra de grande saraivada, com pedras que
Israel... Contenderei com ele por meio pesavam cerca de um talento; e, por
da peste e do sangue; chuva inundante, causa do flagelo da chuva de pedras,
grandes pedras de saraiva, fogo e os homens blasfemaram de Deus,
enxofre farei cair sobre ele". porquanto o seu flagelo era
sobremodo grande".

O apóstolo João escreveu de maneira explícita:


"E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das
nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do
vinho do furor da sua ira" (Apoc. 16:19).
O cálice "do vinho do furor de sua ira" é uma metáfora distintiva
em Apocalipse 14:8-10; 16:19; 17:2, 4, 6 e 18:3 e 6, e está apoiada na
linguagem profética dos oráculos hebraicos contra os arquiinimigos de
Israel (ver Jer. 25:15, 16; 51:7) e inclusive contra uma rebelde Jerusalém
(Isa. 51:17)! Por isso, o "cálice" ou a taça do vinho da ira de Deus
As Profecias do Tempo do Fim 487
significa juízo divino sobre uma Jerusalém apóstata. Jean Pierre Ruiz
captou o significado básico desta metáfora e o expressa nestas palavras:
"Ao usar a metáfora profética da taça, João mostra que foi virado o
omelete sobre a grande Babilônia. É-lhe dado a beber da mesma taça que
ela mesma tinha preparado (18:6), a taça de ouro cheia das abominações e
da imundície de sua fornicação (17:4) com a qual embriagou as nações e a
seus reis (14:8; 17:2; 18:3). Por isso, ela deve beber a taça do vinho da
vingança da ira de Deus".17
Enquanto que Babilônia, como uma Jerusalém apóstata, é obrigada
a "beber" do "cálice" que contém a santa vingança de Deus pelo sangue
de seus servos (Apoc. 19:2), os santos, ao contrário, são convidados à
"ceia das bodas do Cordeiro!" (V. 9).
O propósito mais elevado do plano de Deus de eliminar a velha
criação (Apoc. 16:20) pode ver-se no movimento progressivo do
Apocalipse: do colapso de Babilônia até a descida da Nova Jerusalém, o
pináculo da nova criação (21:1, 2). Dessa maneira, todos os olhos estão
cada vez mais cravados na cidade de Deus em contraste com "as cidades
das nações" (16:19).

Referências
Para a Bibliografia, ver as páginas 489-491.

1 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p.


148.
2 Para um estudo mais detalhado das últimas pragas, ver LaRondelle,
"Contextual Approach to the Seven Last Plagues" [Enfoque
contextual às sete últimas pragas], Simpósio sobre o Apocalipse,
T. 2, cap. 3.
3 Para um estudo do "dia do Senhor" e das "últimas pragas" na
Escritura e nos escritos da Ellen White, ver W. E. Read, "The
Great Controversy" [O grande conflito], Our Firm Foundation
[Nosso Firme Fundamento] (Washington D. C., Review and
As Profecias do Tempo do Fim 488
Herald, 1953; 2 ts.), t-II, pp. 239-319 (especialmente as pp. 265-
268).
4 Beasley-Murray, Revelation, p. 233.
5 Rusten, A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of
the Book of Revelation, t. 2, p. 531.
6 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p.
150.
7 G. Kittel, Diccionario teológico del Nuevo Testamento, t. 5, p. 395.
8 J. M. Ford, Revelation, p. 255.
9 Kraft, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p.
207.
10 Schüssler Fiorenza, Invitation to the Book of Revelation, p. 157.
11 Beasley-Murray, Revelation, p. 243.
12 Smith, Las profecías de Daniel y el Apocalipsis, t.2: El
Apocalipsis., pp. 692, 694.
13 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of
Revelation, p. 234.
14 Para uma análise em profundidade, ver LaRondelle, "Armageddon:
Sixth and Seventh Plagues" [Armagedom: A sexta e a sétima
pragas], Simpósio sobre o Apocalipse, t 2 cap. 12 ver também seu
livro Chariots of Salvation. The Biblical Drama of Armageddon.
15 Beasley-Murray, Revelation, 245.
16 Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of
Revelation, p. 201.
17 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic
Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 276.
As Profecias do Tempo do Fim 489
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 15 E 16

Livros
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Revelation [O Clímax da Profecia. Estudos no Livro do
Apocalipse]. Edimburgo: T&T Clark 1993.
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Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século].
Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983.
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Livro da Revelação]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans,
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[Crise! Um Comentário sobre o Livro do Apocalipse]. T. 2.
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Armageddon [Carruagens de Salvação. O Drama Bíblico do
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Maxwell, Mervyn. Apocalipsis: sus revelaciones (Florida, Buenos
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As Profecias do Tempo do Fim 490
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Ruiz, Jean-Pierre. Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of
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da Mensagem do Terceiro Anjo] (Berrien Springs, Michigan:
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Artigos
Davis, D. R. "The Relationship Between the Seals, Trumpets, and
Bowls in the Book of Revelation" [A Relação entre os Selos, as
Trombetas e as Pragas no Livro do Apocalipse], JETS 16:3 (1973),
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As Profecias do Tempo do Fim 491
Giblin, Charles H. "Structural and Thematic Correlations in the
Theology of Revelation 16-22" [Correlações Estruturais e
Temáticas na Teologia de Apocalipse 16-22], Biblica [Revista
Bíblica] 55 (1974), pp. 487-504.
LaRondelle, Hans K. "Armageddon. Sixth and Seventh Plagues"
[Armagedom: A Sexta e a Sétima Pragas], Simpósio sobre o
Apocalipse. T. 2, cap. 12.
_________. "Contextual Approach to the Seven Last Plagues"
[Enfoque Contextual das Sete Últimas Pragas], Ibid. Cap. 3.
_________. "Babylon: Antichristian Empire" [Babilônia: O Império
Anticristão], Ibid. Cap. 4.
_________. "Armageddon: History of Adventist Interpretations"
[Armagedom: História das Interpretações Adventistas], Ibid.
Apêndice B.
_________. "Die Bedeutung der Sieben Letzten Plagen" [O
Significado das Sete Últimas Pragas], Studien zur Offenbarung
[Estudos sobre o Apocalipse]. Band 2. Euro-Africa Division der
STA. J, Mager, ed. Hamburgo, 1989. Pp. 169-211.
As Profecias do Tempo do Fim 492
A SÉTIMA PRAGA: A RETRIBUIÇÃO DE BABILÔNIA
Apocalipse 17

Hoje em dia, um número cada vez major de eruditos em literatura


apocalíptica reconhecem o plano arquitetônico do último livro da Bíblia.
Apreciando esta nova visão, e com respeito às últimas pragas do
Apocalipse, C. M. Maxwell faz esta promessa: "Uma vez mais nosso
conhecimento da estrutura literária vai ajudar-nos grandemente a
compreender a mensagem".1 Maxwell percebe o seguinte arranjo de
paralelismo contrastante:2
A. Descrição: as pragas (Apoc. 15, 16).
B. Narração: circunstâncias relacionadas com as pragas (Apoc.
17:1-19:10).
1
B . Narração: circunstâncias relacionadas com a Cidade Santa
(Apoc. 19:11-21:8).
1
A . Descrição: a Cidade Santa (Apoc. 21:9-22:9).
Esta estrutura de paralelismo inverso significa que os capítulos 15:1
a 19:10 tratam com o castigo divino, e que os capítulos 19:11 a 22:9
tratam com a libertação e a recompensa divinas. Surpreendentemente,
tanto a seção a respeito de Babilônia (Apoc. 17:1-19:10) como a seção a
respeito da Nova Jerusalém (Apoc. 21:9-22:9) são introduzidas pelo
mesmo anjo das pragas. Cada divisão principal começa com o convite
que o anjo faz: "Vem, mostrar-te-ei...":

APOCALIPSE 17:1 APOCALIPSE 21 :9


"Veio um dos sete anjos que têm "Então, veio um dos sete anjos que
as sete taças e falou comigo, têm as sete taças cheias dos
dizendo: Vem, mostrar-te-ei o últimos sete flagelos e falou
julgamento da grande meretriz que comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-
se acha sentada sobre muitas ei a noiva, a esposa do Cordeiro".
águas".
As Profecias do Tempo do Fim 493
Depois de cada uma destas visões principais, João se sentiu
deprimido e se prostrou aos pés do anjo interpretador para adorá-lo, e
recebeu a mesma repreensão:

APOCALIPSE 19:10 APOCALIPSE 22:8, 9


"Prostrei-me ante os seus pés para "Eu, João, sou quem ouviu e viu estas
adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, coisas. E, quando as ouvi e vi,
não faças isso; sou conservo teu e prostrei-me ante os pés do anjo que
dos teus irmãos que mantêm o me mostrou essas coisas, para adorá-
testemunho de Jesus; adora a lo. Então, ele me disse: Vê, não faças
isso; eu sou conservo teu, dos teus
Deus. Pois o testemunho de Jesus é
irmãos, os profetas, e dos que
o espírito da profecia".
guardam as palavras deste livro.
Adora a Deus".

Com este arranjo literário João põe em correlação a destruição de


Babilônia e a descida da nova Jerusalém, com os eventos culminantes da
sétima praga. O alcance completo de Apocalipse 16 a 22 não permite
manter por mais tempo nenhuma opinião que divida Apocalipse 17 do
tempo do fim, e de sua conexão indestrutível com as últimas pragas de
Apocalipse 16.
As visões de Apocalipse 17 a 19 constituem uma unidade coerente
que ampliam adicionalmente a sétima praga (Apoc. 16:17-21). Portanto,
a compreensão adequada da sétima praga deve relacionar-se com a
interpretação angélica nos capítulos 17 a 19. Este estilo literário foi
chamado "entrelaçamento"3 ou "urdidura".4 O que Apocalipse 17 a 19
explicam está todo incluído dentro da ação da sétima praga!
Dessa maneira, João fixou cuidadosamente os capítulos 17 a 19 às
últimas pragas. O tema básico da guerra santa de libertação de Cristo
continua desenvolvendo-se em Apocalipse 16:13-16, 17:12-14 e 19:11-
21. O tema da "guerra santa" não só estrutura a unidade inteira dos
capítulos 15 a 19, mas também segue adiante, à posse da "terra
As Profecias do Tempo do Fim 494
prometida" nos capítulos 20 a 22. Este é o objetivo positivo da guerra
santa de Cristo. Desta maneira o Apocalipse contém sua própria
hermenêutica implícita.

A Relação de Apocalipse 16 e 17-19

A sétima praga (Apoc. 16:17-21) amplia-se nos capítulos seguintes


(17-19). A sétima praga contém esta declaração sumária: "E lembrou-se
Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua
ira" (16:19).
O tema de Apocalipse 17 a 19 é o juízo sobre Babilônia e nestas
visões se dá uma ampliação detalhada da sétima praga. Dessa maneira, a
taça com a praga do sétimo anjo cumpre a função de introdução aos
capítulos 17 a 19. Por conseguinte, alguns eruditos chamam o
Apocalipse 17 a 19 "apêndice" ou "tomada de primeiro plano" dos juízos
desta praga. Charles Giblin se refere à seção de Apocalipse 17:1 a 19:10
como a "interpretação angélica da queda de Babilônia".5
Precisamos reconhecer o indicador na introdução de Apocalipse
17:1: "Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo,
dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se
acha sentada sobre muitas águas". Portanto, o anjo de Apocalipse 17 está
conectado com os juízos das taças das pragas de Apocalipse 16. Jean-
Pierre Ruiz descreve isto nas seguintes palavras:
"Não há indicação literária de distância entre [Apoc.] 16:17 e 17:1, uma
indicação que indique que o que segue está compreendido, por dizê-lo
assim, dentro da ação da sétima taça. A especificação do guia angélico em
17:1 como um dos anjos das pragas reforça este vínculo". 6

A correlação da última praga em Apocalipse 16 com a interpretação


do anjo em Apocalipse 17 a 19 também é de uma natureza substancial. A
retribuição divina sobre a Babilônia do tempo do fim permanece em
primeiro plano (ver Apoc. 16:19; 17:1, 5; 18:1-6, 21; 19:1-3). A breve
As Profecias do Tempo do Fim 495
declaração em Apocalipse 16 de que "lembrou-se Deus da grande
Babilônia" (v. 19) amplia-se ulteriormente por um anjo que clama que
tem cansado a grande Babilônia, "porque os seus pecados se acumularam
até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou" (18:2, 5).
Apocalipse 17 e 18 explicam como se realizará o juízo de Deus
sobre Babilônia. Estes capítulos tão notáveis mostram duas etapas. Na
primeira, Deus emprega a besta e seus chifres como instrumentos para
dissolver a unidade de Babilônia, o que causa sua ruína. Disse o anjo
interpretador:
"Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão
devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo"
(Apoc. 17:16).

Deste modo a meretriz, descrita como o último poder apóstata, é a


primeira a ser julgada e em receber a lamentação do mundo (Apoc. 18:9-
19).
Na segunda etapa da retribuição divina se pinta um quadro do
segundo advento de Cristo no símbolo de um cavaleiro vencedor cujo
nome é a Palavra de Deus, que vence a besta, o falso profeta e seus
exércitos (Apoc. 19:11-21). Essa descrição de Cristo como "Rei dos reis
e Senhor dos senhores" (Apoc. 19:16) apresenta a visão ampliada do
"Armagedom" tal como foi antecipada na sexta e na sétima pragas de
Apocalipse 16:13-16. As pragas de Apocalipse 16 estão ampliadas nos
capítulos 17 a 19.

A Meretriz: A Característica Principal de Apocalipse 17

Primeiro devemos prestar atenção à visão e à reação que teve João


(Apoc. 17:1-6), e depois considerar a interpretação do anjo (vs. 8-18).
"Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo,
dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha
sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e,
com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na
As Profecias do Tempo do Fim 496
terra. Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher
montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com
sete cabeças e dez chifres. Achava-se a mulher vestida de púrpura e de
escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na
mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias
da sua prostituição. Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério:
BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS
ABOMINAÇÕES DA TERRA" (Ap. 17:1-6).

Percebemos três temas principais na visão de João: a prostituta, a


besta e Babilônia. Enquanto que a besta e Babilônia já se mencionaram
em Apocalipse 13 a 16, a meretriz ou prostituta é o tema novo e central
de Apocalipse 17. O interrogante é: Que realidade histórica corresponde
a esta meretriz sedenta de sangre durante a era da igreja? É a Roma
imperial, a hostil Jerusalém, o poder perseguidor Estado-Igreja da Idade
Média, ou é alguma realidade temível que está no futuro?
O enfoque contextual pode abrir uma perspectiva nova sobre este
capítulo misterioso do Apocalipse. Ao considerar o contexto dos
capítulos 12 e 13, notamos que há uma mulher grávida e uma besta de
sete cabeças. Isto requer uma avaliação das duas mulheres simbólicas em
Apocalipse 12 e 17 que estão em um contraste intencional entre si. Como
vimos antes (cap. XXI desta obra), a mulher pura do capítulo 12
representa o povo fiel do antigo e do novo pacto. Esta "mulher" deu à luz
o Messias de Israel (Apoc. 12:1-5), depois foi perseguida e fugiu ao
deserto para ocultar-se da vida pública e da sociedade por 1.260 dias
simbólicos (vs. 6, 14).
Se se contemplar à meretriz do capítulo 17 como a contraparte da
mulher pura de Apocalipse 12, devemos concluir que a meretriz
representa a igreja infiel que entrou em uma relação ilícita com os
governantes políticos do mundo, "os reis da terra" (ver Apoc. 17:2). Isto
esclarece o fato de que a prostituta é capaz de perseguir a todos os
dissidentes. João a vê "ébria do sangue dos santos, e do sangue dos
mártires de Jesus" (v. 6; ver também 16:6; 18:24).
As Profecias do Tempo do Fim 497
A igreja medieval não executou a nenhum herege, mas sim entregou
os condenados pela Inquisição da igreja, que já tinham sido torturados,
aos governantes do mundo para que executassem as sentenças de morte
dadas pela igreja.
É espantoso chegar à conclusão de que a prostituta simbólica
representa a igreja apóstata. Requer confirmação do contexto bíblico. Tal
confirmação vem em essência dos profetas do Antigo Testamento, que
descreveu a Israel ou a Judá como uma "prostituta", como a esposa infiel
de Jeová.

Protótipos do Antigo Testamento da Prostituta Apocalíptica

Oséias começou a acusar às dez tribos do reino do Norte, o reino do


Israel, declarando: "Um espírito de prostituição está no meio deles, e não
conhecem ao Senhor" (Osé. 5:4). Meu povo "consulta o seu pedaço de
madeira, e a sua vara lhe dá resposta; porque um espírito de prostituição
os enganou, eles, prostituindo-se, abandonaram o seu Deus" (4:12).
Jeremias adotou este mesmo simbolismo para falar de Judá e de
Jerusalém: "Tu te prostituíste com muitos amantes" (Jer. 3:1); "Embora
te vista de escarlata, embora te adornes com atavios de ouro, embora
pintes com antimônio teus olhos, em vão te engalanas; te desprezarão
seus amantes, procurarão tua vida" (4:30). Não há dúvida que Jezabel, a
mulher pagã do Acabe simbolizava algo assim como um modelo para o
quadro do Jeremias de uma Jerusalém apóstata (ver 2 Reis 9:30).
Isaías incluso exclamou com horror a respeito de Jerusalém: "
Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça!
Nela, habitava a retidão, mas, agora, homicidas" (Isa. 1:21).
Ezequiel transmitiu a denúncia mais elaborada de Jerusalém, que
serve como a chicote principal do simbolismo da prostituta em
Apocalipse 17. As descrições que Ezequiel e João fazem da prostituta
merecem uma comparação séria.
As Profecias do Tempo do Fim 498
A Prostituta Apocalíptica: Antítipo do Israel Apóstata

Os principais eruditos em apocalipticismo atuais – tais como A.


Vanhoye, J. M. Vogelgesang, J-P. Ruiz e outros – mostraram que
maneira convincente que a linguagem figurada da prostituta de
Apocalipse 17 tem dependência de Ezequiel 16, 20 e 23. Mais que
qualquer outro profeta, Ezequiel descreveu a Israel (incluindo Judá e
Jerusalém) como a companheira do pacto de Jeová que era infiel, uma
prostituta sedenta de sangue que se exaltava a si mesma. O protótipo
bíblico está carregado de significado para compreender a seu antítipo em
Apocalipse 17 durante o período da igreja. Uma análise cuidadosa de
Ezequiel 16, 20 e 23 é essencial para a interpretação de Apocalipse 17,
com seu enfoque no tempo do fim.

Tanto Ezequiel como João usam o símbolo da meretriz para acusar


a infiel companheira do pacto com Deus das seguintes acusações:
imoralidade sexual ou idolatria, opressão e assassinato de seus próprios
filhos. Depois que se apresentam as acusações legais, tanto Ezequiel
como João procedem a apresentar o mesmo castigo da impenitente. É
útil colocar as passagens pertinentes lado a lado embora não há
substituto para uma leitura pessoal destes capítulos em toda sua
extensão.

A correspondência das descrições do Ezequiel e o Apocalipse é tão


evidente que Josephine M. Ford declarou: "O texto que influiu mais
sobre o autor do Apocalipse é Ezequiel 16, que é um ataque profético
sobre Jerusalém... Sua descrição é tão gráfica como em Apocalipse 17 e
18".7 Pode-se preferir aqui falar não de um "ataque" mas sim de
retribuição divina. Agora comparemos:
As Profecias do Tempo do Fim 499
EZEQUIEL 16 e 20 APOCALIPSE 17 e 18
O JUÍZO DA PROSTITUTA O JUÍZO DA PROSTITUTA
"Eu te cobri de enfeites..." (16:11, "O quanto a si mesma se glorificou e
BJ). viveu em luxúria, dai-lhe em igual
"Assim te tornavas cada vez mais medida tormento e pranto, porque diz
bela, até assumires ares de realeza" consigo mesma: Estou sentada como
(16:13, BJ). rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei
de ver!" (18:7).
"Puseste a tua confiança na tua beleza e, "Vi a mulher embriagada com o
segura de tua fama, te prostituíste, sangue dos santos e com o sangue
prodigalizando as tuas prostituições a
das testemunhas de Jesus; e,
todos os que apareciam. Tomaste dentre
os teus vestidos e com eles fizeste quando a vi, admirei-me com
lugares altos e de várias cores e aí te grande espanto" (17:6).
prostituíste" (16:15, 16, B]).
"Tomaste os teus filhos e as tuas filhas
que me tinhas dado à luz e os imolaste a "E nela se achou sangue de
elas, a fim de que as comessem. Seria
profetas, de santos e de todos os
isso menos grave do que as tuas
prostituições? Mataste os meus filhos e que foram mortos sobre a terra"
os fizeste passar pelo fogo, oferecendo- (18:24).
os a elas" (16:20, 21, BJ).
"A mulher adúltera acolhe "Com a qual se prostituíram os reis da
estranhos em lugar do marido" terra; e os que habitam na terra se
(16:32). embebedaram com o vinho da sua
prostituição" (17:2).
"Por tudo isso hei de reunir todos os teus "Os dez chifres que viste e a besta,
amantes, aos quais agradaste...reuni-los- esses odiarão a meretriz, e a farão
ei a todos e descobrirei a tua nudez, para
devastada e despojada, e lhe
que a vejam toda... Entregar-te-ei às suas
mãos e eles deitarão por terra a tua comerão as carnes, e a consumirão
colina, arrasarão os teus lugares altos, no fogo" (17:16).
despir-te-ão dos teus vestidos, tomarão
os teus adornos e te deixarão totalmente
nua. Porão fogo às tuas casas e
executarão juízo contra ti" (16:37-41, BJ).
As Profecias do Tempo do Fim 500
Albert Vanhoye demonstrou que Apocalipse 17:15-18 reflete uma
utilização do Ezequiel 16 e 23.8 R. H. Charles vá ao Ezequiel 23:25-29
reproduzido "em essência" em cada uma das ações levadas a cabo pela
besta e seus chifres contra a prostituta.9 Jeffrey Vogelgesang também vá
a João tomando diretamente do Ezequiel 16 e 23 nas visões a respeito de
Babilônia de Apocalipse 17 e 18. Declara o seguinte: "O sentido geral de
Apocalipse 17 corresponde ao Ezequiel 16 e 23, onde se consideram as
obras más da meretriz, depois se pronuncia o veredicto e se proclama o
castigo".10
Um ponto que geralmente os exegetas profissionais ignoram é a
questão de como se relacionam teologicamente entre si Ezequiel 16 e
Apocalipse 17, quer dizer, como é que esta correspondência que se
reconhece entre estes dois capítulos indica que existe uma tipologia
bíblica.
Para a interpretação de Apocalipse 17 é crucial definir a estrutura
tipológica entre as silhuetas destas duas prostitutas e os juízos que Deus
envia. Não há dúvida de que existe uma analogia estrutural entre as
acusações legais e o castigo retributivo das prostitutas em Ezequiel 16 e
Apocalipse 17. É inevitável a conclusão de que Apocalipse 17 depende
de Ezequiel 16, porque ambas as passagens tratam com o professo mas
apóstata povo da aliança! Esta conclusão dolorosa foi evitada
sistematicamente pela maioria dos teólogos cristãos e os eruditos em
exegese, assim como pelos eruditos rabínicos que ficaram tão
escandalizados pela linguagem severa de Ezequiel que proibiram a
leitura de Ezequiel 16 na sinagoga.11
As acusações divinas em Ezequiel 16 são de uma natureza moral:
idolatria e infidelidade conjugal. Ambos estão conectados entre si porque
o adultério metafórico de Jerusalém com o Egito, Assíria e Babilônia
compreendia a adoração dos deuses estranhos desses reis (2 Reis 17:13-
20; Isa. 30:1-5; 31:1). A apostasia de Jerusalém na adoração se revela de
maneira especial em Ezequiel 23:
As Profecias do Tempo do Fim 501
"Porque adulteraram, e nas suas mãos há culpa de sangue; com seus
ídolos adulteraram, e até os seus filhos, que me geraram, ofereceram a eles
para serem consumidos pelo fogo. Ainda isto me fizeram: no mesmo dia
contaminaram o meu santuário e profanaram os meus sábados.... e assim o
fizeram no meio da minha casa" (Ezeq. 23:37-39; ver também 20:21, BJ).
Jeremias, um contemporâneo de Ezequiel, pôs a descoberto as
mesmas práticas de sacrificar os filhos aos ídolos (Jer. 7:10, 30-34).
Quando anunciou a destruição do templo de Salomão, "lançaram mão
dele os sacerdotes, os profetas e todo o povo, dizendo: Serás morto: De
certo morrerá" (26:8).
A meretriz do tempo do fim de Apocalipse 17 é acusada dos
mesmos crimes de apostasia no culto, infidelidade sexual e idolatria
sedenta de sangue (Apoc. 17:2, 4, 6, 14). Assim como a antiga Jerusalém
se tornou inimiga de Jeová, assim a igreja institucional seria infiel a
Cristo, apóstata em seu culto de adoração, e sedenta de sangue com
todos os que recusassem prostrar-se ante ela e sua "marca" de adoração.
O castigo da prostituta em Ezequiel 16 e 23 assim como em
Apocalipse 17, em essência é o mesmo: Deus chama os antigos amantes
para que levem a cabo o castigo da prostituta (Ezeq. 16:37, 39; 23:22;
Apoc. 17:16, 17).
Walter Zimmerli resumiu nestas palavras o castigo que aparece em
Ezequiel 16: "Os mesmos poderes de quem a comunidade de Deus
parece aproveitar-se, tomarão represálias e executarão o juízo de Deus
sobre ela... como um juízo que começa pela casa de Deus (9:6)". 12 Por
conseguinte, J-P. Ruiz concluiu dizendo: "O que encontramos em
Apocalipse 17:16 é uma relocação nova e consciente da linguagem de
Ezequiel 16 e 23, e uma transformação real da linguagem profética". 13 O
anjo interpretador destaca que a ação destruidora da besta e seus chifres
contra a prostituta em Apocalipse 17:16 é o cumprimento da vontade de
Deus
"Porque Deus tem posto em seu coração que cumpram o seu intento, e
tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até que se
cumpram as palavras de Deus" (Apoc. 17:17).
As Profecias do Tempo do Fim 502
Um olhar mais detido aos oráculos de juízo da antiga e a nova
prostituta, revela uma correspondência literária e temática:

EZEQUIEL 16:39 APOCALIPSE 17:16


"Entregar-te-ei nas suas mãos, e "Os dez chifres que viste e a besta,
derribarão o teu prostíbulo de culto esses odiarão a meretriz, e a farão
e os teus elevados altares; despir- devastada e despojada, e lhe
te-ão de teus vestidos, tomarão as comerão as carnes, e a consumirão
tuas finas jóias e te deixarão nua e no fogo".
descoberta".

A relação teológica entre os castigos das duas prostitutas, a antiga e


a nova, é manifestamente uma relação de tipo e antítipo. Esta tipologia
inspirada contém a chave para decifrar a visão desconcertante do tempo
do fim que João apresenta: a meretriz do tempo do fim representa a
igreja infiel e mundana que voltará a ter a supremacia por um tempo
breve sobre os governantes políticos.
J-P. Ruiz chamou nossa atenção a algumas relações notáveis do
castigo da meretriz em Apocalipse 17: "… devorarão suas carnes" (v.
16). Aqui vê "uma similitude verbal estreita" entre esta frase de
Apocalipse e a de 2 Reis 9 que descreve a predição que Elias faz da
morte de Jezabel, a rainha de Israel: "No campo de Jezreel, os cães
comerão a carne de Jezabel" (2 Reis 9:36). Ruiz declara o seguinte: "O
contexto de 2 Reis 9:36 também corresponde ao de Apocalipse 17:16". 14
A correspondência básica da Jezabel histórica e seu antítipo profético
dentro da igreja, já estava indicado na carta de Cristo à igreja do Tiatira:
"Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si
mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os
meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas
aos ídolos" (Apoc. 2:20).
A igreja de Cristo ia permitir dentro de seu seio a uma nova Jezabel,
com suas exigências falsas como profetisa de Deus e com seu culto
As Profecias do Tempo do Fim 503
religioso falso (Apoc. 2:20, 23). Os resultados amargos são os mesmos
na antiga e na nova Jezabel: o assassinato legalizado e político dos
santos de Deus.
Assim como a Jezabel da antiguidade usou a seu marido o rei Acabe
para perseguir Elias e os seguidores de Jeová, assim também a Jezabel
apocalíptica usa os governantes políticos para perseguir os seguidores de
Cristo. O cristianismo apóstata receberá o mesmo juízo condenador de
Cristo como o que recebeu Jezabel: "Pois julgou a grande meretriz... e
vingou o sangue de seus servos" (Apoc. 19:2; cf. 2 Reis 9:7). Este é o
contexto mais amplo da frase do anjo, "devorarão suas carnes", em
Apocalipse 17:16. A maldição final do pacto sobre a prostituta
apocalíptica se formula como "os dez chifres... a consumirão no fogo"
(17:16; ver também 18:8). Na lei de Moisés, este castigo estava
reservado para a imoralidade sexual da filha de um sacerdote:
"Se a filha de um sacerdote se desonra, prostituindo-se, profana a seu
pai; será queimada" (Lev. 21:9).

Enquanto que o castigo tradicional para o adultério de uma mulher


casada era o apedrejamento (Deut. 22:23, 24; João 8:5), no caso de
prostituição praticada pela filha de um sacerdote, o castigo era queimá-
la. Este castigo apocalíptico da prostituta do tempo do fim assinala uma
vez mais à natureza sacerdotal desta "mulher" caída. João informa sua
reação à visão de Apocalipse 17:1-6, quando diz: "E, quando a vi,
admirei-me com grande espanto" (V. 6). Em realidade, ficou "mudo de
assombro" ou "grandemente perplexo", o que é difícil de entender se
João tivesse visto só os imperadores romanos perseguidores ou uma
Jerusalém hostil. Isso era algo familiar para sua própria experiência.
Entretanto, se contemplou a mudança que se levaria a cabo na igreja
institucional de Cristo, que a mulher pura chegaria a ser intolerante e a
estar sedenta de sangue, isso teria sido verdadeiramente assombroso.
As Profecias do Tempo do Fim 504
Admoestações Apostólicas Contra a Apostasia Predita

A igreja de Cristo ia repetir a história do Israel antigo, que em


general foi uma história de apostasia. O apóstolo Paulo advertiu contra a
repetição da apostasia do Israel na igreja institucional. Disse Paulo:
"Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não
cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois,
idólatras, como alguns deles... Aquele, pois, que pensa estar em pé veja
que não caia" (1 Cor. 10:6, 7, 12).
Paulo também empregou a metáfora profética de uma mulher para
descrever à igreja quando escreveu:
"Pois lhes hei desposado com um só marido, para lhes apresentar
como uma virgem pura a Cristo. Mas temo que como a serpente com sua
astúcia enganou a Eva, seus sentidos sejam de algum jeito extraviados da
sincera fidelidade a Cristo" (2 Cor. 11:2, 3).
Expressou seu temor justificado nesta predição sinistra quando se
dirigiu aos anciões da igreja de Éfeso:
"Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos
vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se
levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos
atrás deles. Portanto, vigiai" (At. 20:29-31).
Inclusive caracterizou esta apostasia vindoura (em gr., apostasia]
dentro da igreja como uma rebelião do "homem do pecado" (em gr.,
anomías] (2 Tes. 2:3), que continuaria e permaneceria todo o tempo, até
a segunda vinda de Cristo (V. 8).
Entretanto, o Apocalipse de João desenvolve o tema da apostasia
sistematicamente em Apocalipse 12 a 19. Aqui a igreja pós-apostólica
institucional é descrita como uma "meretriz", porque sendo a "mulher"
de Cristo, unir-se-ia ilegalmente com os reis da terra:
"Com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua
devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra" (Apoc. 17:2).
Um intérprete da escola histórica de interpretação comentou:
"O fato de que Babilônia é distinta dos reis da terra, embora esteja
ilegalmente unida a eles, é uma prova positiva que Babilônia não é o poder
As Profecias do Tempo do Fim 505
civil. O fato de que o povo de Deus está em seu meio precisamente antes de
sua derrocada, demonstra que é um professo corpo religioso. Portanto,
pensamos que deve ser evidente que a Babilônia de Apocalipse 17
simboliza à igreja professa que está ilegalmente unida ao mundo". 15

O Imperativo da Hermenêutica do Evangelho

Alguns reconhecem que a meretriz de Apocalipse 17 representa ao


professo povo do pacto de Deus e sua infidelidade ao Deus do pacto. J.
M. Ford o explica assim: "É o pacto o que a faz noiva, a ruptura do qual
a converte em adúltera".16 O ler o Apocalipse à luz do antecedente do
Antigo Testamento foi um adiantamento fundamental no enfoque do
livro do Apocalipse, e muitos até falham em apreciar a importância deste
fato. Não obstante, esta chave do Antigo Testamento não é uma garantia
da aplicação histórica de Apocalipse 17. Necessita-se também estar
consciente da tipologia cristã que o Novo Testamento revela em sua
aplicação do idioma do pacto hebraico.17
Rechaçando a aplicação popular de que a meretriz se refere a Roma
imperial, esta erudita católica literaliza sua aplicação da meretriz de
Apocalipse 17 à "Jerusalém infiel" e a seu sacerdócio. Diz J. M. Ford:
"Estes textos [dos rolos de Qumran], juntos com os do Antigo
Testamento, assinalam que a meretriz em Apocalipse 17 é Jerusalém,
não Roma".18 Por conseguinte, considera a "a antiga Jerusalém,
manchada" em vez de Roma como a verdadeira contraparte da Nova
Jerusalém".19 Mas este princípio de aplicação literal é uma violação
fundamental da hermenêutica do evangelho, porque não está orientada a
Cristo e a seu povo do novo pacto (ver a Primeira parte, o cap. V desta
obra).
O Apocalipse está construído quase completamente com termos e
imagens hebraicas, como o reconhecem todos os exegetas. Portanto, para
evitar as interpretações especulativas, é essencial aplicar a hermenêutica
do evangelho a toda a linguagem hebraica do pacto que aparece no
As Profecias do Tempo do Fim 506
Apocalipse. O idioma e o simbolismo no Apocalipse continuam sendo os
do pacto, mas em termos do novo pacto de Jesus Cristo. Este idioma
pactual cristocêntrico está firmemente estabelecido em Apocalipse
(vejam-se os caps. II e III desta obra).

O MISTÉRIO DE BABILÔNIA, A GRANDE

A meretriz tem um título escrito sobre sua frente: "Mistério:


Babilônia, a grande" (Apoc. 17:5). Este "mistério" não está restringido à
identidade da prostituta. Disse explicitamente o anjo: "Eu te direi o
mistério da mulher, e da besta que a traz, a qual tem as sete cabeças e
dez chifres" (v. 7). Com respeito a isto, declara J-P. Ruiz:
"Tudo o que aparece no capítulo 17:7 e 8, e não precisamente os vs.
15-18, têm que ver com a mulher, a cujo juízo se convida como testemunha
a João. A repetição de guné nos vs. 7, 9 e 18 serve como o recordativo
literário de que a prostituta e a besta pertencem ao mesmo mustérion".20

Isto significa que o "mistério" de Babilônia a grande inclui a visão


de João como um tudo, a compreensão do qual requer "a mente que
tenha sabedoria" (Apoc. 17:9). Necessitou-se sabedoria já antes para
entender o "número da besta" (13:18). Requer a atividade intelectual de
calcular o número da besta (v. 18). A mesma atividade mental se
necessita em Apocalipse 17, porque indica a aplicação histórica das sete
cabeças da besta escarlate e de seus dez chifres:
"Aqui é necessário a inteligência que tem discernimento: as sete
cabeças são sete montes (em gr., óre: 'montes'] sobre os quais a mulher
está sentada. São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e
o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco
tempo" (Apoc. 17:9 e 10, BJ; ver RA, RC, que também traduzem "montes").
"E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o
reino, mas receberão o poder como reis por uma hora, juntamente com a
besta" (Apoc. 17:12).
As Profecias do Tempo do Fim 507
Toda a linguagem figurada é parte do "mistério" de Babilônia, a
Grande. A sabedoria sugere que façamos remontar toda esta linguagem
figurada à linguagem profética hebraica antes que busquemos aplicar os
símbolos à era da igreja. Ao mesmo tempo que detectamos uma
correspondência inegável da prostituta apocalíptica com a prostituta dos
oráculos de condenação de Ezequiel (caps. 16 e 23), observamos que a
besta com as cabeças e os chifres em Apocalipse 17 depende
essencialmente da besta com dez chifres do Daniel 7. Portanto, devemos
relacionar Apocalipse 17 com Daniel 7. Ambas as visões apocalípticas
estão conectadas de maneira indissolúvel. Ruiz reconheceu isto em sua
análise de Apocalipse 17:
"Entretanto é uma mensagem unificada oferecida em termos do Antigo
Testamento, porque o tema da besta está extraída de Daniel, enquanto que
o tema da prostituta, sua atividade e seu destino, é tomada de Ezequiel". 21

O Momento Histórico Exato da Besta Ressuscitada

O segundo tema de Apocalipse 17 é a besta escarlate sobre a qual


está sentada uma prostituta. João é levado "em Espírito ao deserto". Ali
viu "uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes
de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres" (Apoc. 17:3).
Neste ponto recordamos que o dragão (Apoc. 12:3) e a besta do mar
(13:1) têm igualmente sete cabeças e dez chifres. Entretanto, cada um
dos três animais têm alguns característicos únicos que diferem dos
outros. O dragão tem sete coroas em suas cabeças (12:3), enquanto que a
besta do mar tem dez coroas sobre seus chifres (13:1). A besta escarlate
não tem coroas, mas leva a prostituta. Por conseguinte, a besta escarlate
do capítulo 17 não é idêntica à besta que sobe do mar no capítulo 13 ou
com o dragão do 12. Por outro lado, as sete cabeças e os dez chifres da
besta escarlate estabelecem uma conexão definida entre a besta que sobe
do mar e o dragão.
As Profecias do Tempo do Fim 508
O anjo interpretador solicita que se exerça sabedoria especial para
entender as sete cabeças da besta revivida (Apoc. 17:9). Ao que parece,
o momento exato das duas últimas cabeças, a sexta e a sétima, é um
momento crucial na era da igreja para manter um conhecimento exato do
plano de Deus para nosso tempo.
De nossa análise de Apocalipse 12 a 14 aprendemos que estes
capítulos revelam progressivamente todo o alcance da era da igreja.
Enquanto que Apocalipse 12 se enfoca principalmente no começo da era
da igreja (o nascimento e a coroação do Messias, vs. 1-5), e nos séculos
pós-apostólicos (a mulher se oculta no deserto por 1.260 dias simbólicos,
vs. 6, 14), Apocalipse 13 e 17 mudam o foco principal da profecia cada
vez mais no tempo do fim da era da igreja (em Ap. 13:15-17; 17:12-14),
ampliando cada vez mais o conflito final de Apocalipse 12:17.
As sete cabeças se descrevem explicitamente como "reis"
sucessivos ou poderes mundiais, dos quais "dos quais caíram cinco, um
existe, e o outro ainda não chegou" (Apoc. 17:10). É claro que a besta
demoníaca exerce seu governo opressor por meio de uma cabeça de uma
vez no curso da história. As sete cabeças pertencem igualmente ao
dragão (cap. 12), à besta que sobe do mar (cap. 13) e à besta escarlate
que sobe do abismo (cap. 17). Não podemos dar por sentado que há 21
cabeças, mas só sete são as que representam todo o lapso de tempo da
luta de Satanás contra o povo de Deus.22 Isto significa que o dragão, a
besta do mar e a besta escarlate, cada uma representa uma cabeça
particular ou poder mundial. Relacionando cada animal ao período de
tempo central dos "1.260" dias (12:6) ou "42 meses" (13:5), estamos de
acordo com John N. Andrews, que afirmou:
"O período próprio de cada um parece ser este: o dragão antes dos
1.260 anos, a besta do capítulo 13 durante esse período, e a besta do
capítulo 17 do tempo da ferida mortal e a cativeiro no fim daquele período". 23

As sete cabeças de cada uma das três bestas de Apocalipse 12, 13 e


17 expressam a continuidade da perseguição por parte destes poderes
As Profecias do Tempo do Fim 509
mundiais ímpios. Todas estão relacionadas essencialmente pelo mesmo
espírito de ódio contra Jesus Cristo e estão decididas a proscrever e
executar os companheiros do Cordeiro de Deus. Cada "cabeça" dos
poderes estatais governantes na era da igreja está motivada pelo mesmo
dragão, ou Satanás (Apoc. 12:9).

As Sete Cabeças da Besta Escarlate

As sete cabeças foram o assunto de muita discussão nos


comentários. Recentemente, Kenneth A. Strand examinou os argumentos
do ponto de vista popular preterista, que aplica as sete cabeças a sete
imperadores romanos específicos.24 Louis Were examinou a antiga
opinião protestante que aplicava as cabeças a sete formas diferentes de
governo em Roma, a sétima das quais era o Exarcado da Ravena. 25 C.
M. Maxwell apresentou uma interpretação clara e exaustiva desta seção
de Apocalipse 17.26
Todos estes investigadores chegam à conclusão de que as sete
cabeças não se referem a reis ou formas específicas do governo de Roma
através dos séculos. Todos interpretam os termos "reis" como reinos
personificados ou impérios, não como indivíduos isolados (ver Dan.
2:37-39; 7:17, 18, 23). De igual maneira, os "montes" se vêem como
símbolos de reinos, como era costume na linguagem profética (Dan.
2:44, 45; Jer. 51:25). Com respeito às "sete cabeças" da besta, Louis
Were comentou o seguinte:
"O número 7 se empregou com referência às cabeças em um sentido
simbólico e por isso não nos incumbe encontrar um número exato de 7
inimigos do povo de Deus. O número 7 se emprega no Apocalipse em um
sentido simbólico para perfeição ou integridade".27

Depois de examinar as diferentes propostas para identificar as sete


cabeças, o Comentário bíblico adventista conclui: "A evidência é
insuficiente para garantir uma identificação dogmática delas". 28 Há uma
As Profecias do Tempo do Fim 510
indicação que dá que pensar em Apocalipse 17 e que nos convida a
identificar em forma tentativa os reinos principais:
"Dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e,
quando chegar, tem de durar pouco" (V. 10).
Se se reconhecerem que as cinco primeiras cabeças ou reinos hostis
estavam no passado nos dias de João, devemos começar com: Egito,
Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia, para ter cinco reinos que
tinham caído nos dias de João. A "cabeça" que "é" seria então Roma
imperial. A "cabeça" ainda por vir, apontaria a Roma papal durante a
Idade Média. Mas existe um problema com esta posição. Passou por
cima sua coordenação com as três fases da besta: "A besta que era, e não
é..." (Apoc. 17:11 ). Isto significa que a identificação da sexta cabeça
("que é") com a Roma imperial não quadra com a explicação do anjo de
que a besta "não é!"
Portanto, parece mais sábio adotar o ponto de vista escatológico
apresentado pelo mesmo anjo que traz a praga. Declara K. A. Strand: "A
mesma visão [Apoc. 17:1-6] está dada da perspectiva do juízo
escatológico quando a besta 'não é ' ".29
O quadro simbólico de que a sexta cabeça está viva enquanto que a
besta "não é", requer alguma explicação. A expressão "não é" com
respeito à besta indica com toda certeza que a natureza perseguidora ou
bestial da besta não está ativa durante a sexta cabeça. O período da sexta
cabeça se aplicaria então ao tempo das democracias modernas da
Revolução Francesa (1798), quando começaram a separar o Estado e a
Igreja. C. M. Maxwell vê também a visão da besta escarlate "do ponto de
vista do tempo do fim em lugar de localizar-se nos dias de São João".
Explica-o assim:
"Entende que as cinco cabeças 'caídas' seriam Babilônia, Pérsia,
Grécia, o Império Romano e a Roma cristã. A sexta cabeça (no tempo do
fim) 'é' a Roma cristã ferida de morte, que seria seguida muito em breve pela
sétima cabeça que 'ainda não chegou', quer dizer, a Roma cristã com sua
ferida curada. A 'hora' quando os dez reis reinam com a besta é um breve
As Profecias do Tempo do Fim 511
período no próprio fim do tempo quando com zelo ditatorial a besta for
ajudada no reavivamento de sua dura perseguição". 30
Podemos imaginar a coordenação da besta escarlate com suas sete
cabeças no diagrama seguinte. Toma a visão de Apocalipse 17 como
olhando para trás na história da igreja, do tempo do fim, quando a sexta
cabeça está presente.

APOCALIPSE 17
PASSADO PRESENTE FUTURO
CABEÇAS
CINCO CAÍRAM: A SEXTA ESTÁ A SÉTIMA AINDA
Babilônia; M-Pérsia; PRESENTE: NÃO VEIO
Grécia; Roma pagã; Durante o tempo do
ROMA PAPAL. fim.
CHIFRES
Coroados: Monarquias Destronados: As de- Coroados por una
medievais. mocracias desde a hora: Unem-se com a
Revolução Francesa. besta ressuscitada.
BESTA
ERA: Quando perseguiu. NÃO É: Não persegue, E SERÁ: Fará guerra
porque sofre una contra o Cordeiro e seus
ferida mortal. seguidores ( l 7:12-14).
MUDANÇA REPENTINA:
A besta e os 10 chifres
destroem a meretriz
(17:16).

A revelação nova de Apocalipse 17 tem que ver com a declaração


que nos deixa perplexos de que o anticristo (a besta que sobe do mar) de
Apocalipse 13, depois que sua ferida mortal tenha sido curada, se
levantará mais uma vez ao poder para orquestrar um assalto extremo
sobre os santos no tempo do fim. Esta perseguição final toma a natureza
As Profecias do Tempo do Fim 512
de uma guerra político-religiosa da besta, em aliança com os dez chifres,
contra o Cordeiro e seus seguidores:
"Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam
reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora.
Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade
que possuem. Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá,
pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os
chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele" (Apoc. 17:12-14).
A mensagem consoladora de Apocalipse 17 é o breve tempo do
terror final e a repentina libertação da última tirania para o Israel de
Deus. A ênfase notável sobre o tempo do fim de Apocalipse 17 requer
uma atenção especial. Os repetidos indicadores de tempo do passado,
presente e futuro em Apocalipse 17 precisam relacionar-se
adequadamente à história das três etapas da besta em Apocalipse 13.
Apocalipse 17 deve ser considerado como uma das visões de fôlego mais
importantes para o povo de Deus no tempo do fim.

A Progressão de Tempo Entre Apocalipse 13 e 17

Embora Apocalipse 17 foi considerado por alguns como nada mais


que uma repetição de Apocalipse 13, uma comparação estreita da besta
das sete cabeças em ambos os capítulos mostra que Apocalipse 17 não é
precisamente um duplicado de Apocalipse 13. Três característicos
distintivos indicam uma progressão histórica entre a besta que sobe do
mar em Apocalipse 13 e a besta escarlate de Apocalipse 17.
1. Os nomes de blasfêmia, limitados às cabeças da besta em
Apocalipse 13:1, agora cobrem todo o corpo da besta escarlate
(Apoc. 17:3), o que indica o incremento contínuo das demandas
jactanciosas do anticristo com o passar do tempo.
2. Os dez chifres da besta escarlate já não levam diademas reais
(como em Apoc. 13:1), mas voltarão outra vez a reinar como reis
com a besta "por uma hora" (17:12).
As Profecias do Tempo do Fim 513
3. A besta escarlate não sobe do mar (como em Apoc. 13), mas sim
do abismo ou o reino da morte (17:8; ver Rom. 10:7). Isto indica
uma ressurreição do reinado da besta. Este renascimento ou
reencarnação do anticristo em escala universal é a revelação
única em seu gênero de Apocalipse 17.

As Três Etapas da Existência do Anticristo

João percebe três fases sucessivas da besta-anticristo. Primeiro, a


besta ia fazer guerra contra os santos durante 42 meses (Apoc. 13:5).
Depois assestam uma ferida mortal à besta (V. 3). Finalmente, João viu a
besta revivida reassumir sua guerra contra os santos só por "uma hora"
ou "um pouco de tempo", e imediatamente partir à sua destruição (17:8,
10, 11 ). O anjo interpretador descreve as três etapas sucessivas da besta
em forma repetida (três vezes):
"A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha
para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra ...se admirarão,
vendo a besta que era e não é, mas aparecerá" (Apoc. 17:8).
"E a besta, que era e não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai
à perdição" (Apoc. 17:11).
Dessa maneira o anjo enfatiza três vezes que a visão de João
pertence ao período quando a besta "não é", quer dizer, quando não está
reinando como perseguidora dos santos, enquanto a besta está "para
subir [mélei anabáinein] do abismo" (Apoc. 17:8). Esta descrição
determina o ponto de vista do tempo da visão de Apocalipse 17, quando
a besta "não é", quer dizer, quando recebeu sua "ferida mortal". A
respeito, G. McCready Price declarou: "Não parece haver possibilidade
de negar que esta época de 'não é' da besta deve corresponder à época da
ferida de morte de Apocalipse 13:3".31
No entanto, Apocalipse 17 revela que a ferida mortal não foi
infligida à mulher perseguidora. A igreja apóstata ficaria, seria só como
"uma viúva" porque a besta já não estaria disponível para executar seus
As Profecias do Tempo do Fim 514
mandatos. Durante o período de sua ferida mortal, a besta "não é" (17:8;
18:7), o que significa que não persegue.
Para sintetizar os pontos de vista do tempo em Apocalipse 12, 13 e
17 digamos: o dragão fez guerra contra os santos durante o tempo da
Roma pagã (12:1-5), a besta do mar continuou esta guerra durante a
Idade Média (13:1-10), enquanto que a besta escarlate de Apocalipse 17
descreve a ameaça aos santos vista do tempo da Revolução Francesa.
Esta conclusão denota que Apocalipse 17 não aponta à Roma imperial ou
à Idade Média, e sim ao tempo dos acontecimentos finais. Por
conseguinte, estamos de acordo com a conclusão do Kenneth Strand;
"Procurar na história um cumprimento, por exemplo, da fase "não é" da
besta do capítulo 17, quando esta fase é obviamente uma vista de juízo, é
ilógico. Ou tratar todo o capítulo 17 como tendo cumprimento histórico antes
que escatológico é não compreender o verdadeiro sentido do capítulo e de
toda a segunda parte do livro do Apocalipse em que aparece". 32

A Futura Sétima Cabeça

Parece completamente claro que a declaração do anjo: "Dos quais


caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou" (Apoc. 17:10),
indica poderes mundiais consecutivos. A ênfase do anjo não está nas
cinco primeiras cabeças que caíram, nem na cabeça que "é" contemplada
do ponto de vista do anjo da praga. O interesse do anjo se centra
especificamente na última, ou seja na sétima cabeça. Procede dando à
besta ressuscitada o número oito!
"E a besta, que era e não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai
à perdição" (Apoc. 17:11, RC).
A designação numérica da besta revivida é muito significativa. É "o
oitavo" embora pertença às sete cabeças (Apoc. 17:11)! Como é uma das
sete, não se deve assumir que repentinamente a besta acrescenta uma
oitava cabeça. O dragão de Apocalipse 12, a besta de Apocalipse 13 e a
besta revivida de Apocalipse 17, todas estão descritas só com sete
As Profecias do Tempo do Fim 515
cabeças. O anjo faz três declarações paralelas concernentes à besta
revivida:
"Está para emergir do abismo" (17:8a).
"Mas reaparecerá" (17:8c).
"É ela também o oitavo" (17:11).
Combinando estas declarações, vemos que o que é contado como
"oitavo" se aplica à ascensão da besta do abismo, quer dizer, a sua
ressurreição. Vários eruditos do Novo Testamento vêem uma paródia
irônica na atribuição do número "oito" à besta restaurada. Vêem o dia da
ressurreição de Cristo como "o oitavo dia" porque veio depois de seu
descanso na tumba no sétimo dia sábado. Declara Alan Johnson: "O
oitavo era o dia do Messias, o dia da nova era e o sinal da vitória sobre
as forças do mal".33 Mas Satanás desafia esta vitória de Cristo pela
ressurreição de seu próprio reino a um novo poder mundial:
"Para recrutar tantos como lhe é possível para sua parte na guerra, a
besta imita a ressurreição de Cristo (ele 'é um oitavo rei' [V. 11]) e dará a
aparência de estar vivo e de dominar o mundo (cf. Luc. 4:5-7)".34
O contar como "oito" à sétima e final cabeça da besta indica não só
que é uma besta ressuscitada, mas também alerta a igreja às demandas
enganosas de um poderoso Messias falso. Imitará a morte e ressurreição
do Jesus como "o oitavo" (Apoc. 17:11). O contraste fundamental não
escapará à mente penetrante. Louis F. Were concluiu sua análise
profunda de Apocalipse 17 com este comentário perspicaz:
"Ao saber que o número 8 é o símbolo na Bíblia da ressurreição e do
triunfo do Senhor sobre seus inimigos, podemos captar o significado de
Apocalipse 17:11... Como Jesus triunfou sobre seus inimigos e se levantou
em poder glorioso para usá-lo na salvação de seu povo, assim se levantará
esta besta de seu lugar de morte à posição de um poder ainda maior, que
tratará de empregar para a destruição do povo de Deus".35
Mas a sétima cabeça permanecerá no poder só por "breve tempo"
(Apoc. 17:10). Depois, irá repentinamente "à destruição" em sua luta
contra o Cordeiro e seus seguidores (vs. 11, 14), o que ocorrerá por meio
do impacto do glorioso advento de Cristo:
As Profecias do Tempo do Fim 516
"Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta... Os dois foram
lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Os restantes
foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado
no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes" (Apoc. 19:20, 21).
Albert Vanhoye em seu estudo clássico sobre o uso de Ezequiel no
Apocalipse, concluiu dizendo:
"Em realidade, o que é importante observar não é só que o sentido
geral da passagem [Apoc. 17:1-6, 15-18] mas sim todo seu vocabulário
corresponde ao de Ezequiel 16 e 23. Daí vem a idéia do juízo da prostituta;
também, tanto Ezequiel 16 como 23 estão construídos na forma de um
juízo".36

Esta correspondência entre o Ezequiel 16 (e 23) e Apocalipse 17


estabelece uma tipologia cristã entre a Jerusalém apóstata e a igreja
apóstata. A Babilônia do tempo do fim é uma cristandade apóstata que
adotou as formas pagãs de culto cristão, mudou a lei do Deus do pacto e
estabeleceu alianças com os poderes políticos. Toda esta infidelidade da
igreja para com Cristo está condenada à autodestruição em Apocalipse
17:16. As autoridades civis e políticas exporão em última instância a
vergonha ou culpa de Babilônia e atuarão em conseqüência como os
agentes da retribuição divina (17:16, 17). Desta forma, Apocalipse 17
funciona como o cumprimento eclesiológico de Ezequiel 16 e 23.

A Vitoriosa Igreja Remanescente de Cristo

O propósito mais elevado do Apocalipse é insistir com o povo de


Deus a sair de Babilônia e seguir a Cristo. Isto está de maneira explícita
em Apocalipse 18. Os companheiros do Cordeiro são descritos como
"chamados, eleitos e fiéis", que "se acham com ele" (Apoc. 17:14). Esta
descrição indica que os cristãos vitoriosos não só são chamados e
escolhidos por Deus (Mat. 22:14), mas sim também permanecem leais a
Jesus (Apoc. 14:12). Retêm "o testemunho do Jesus" e de seu senhorio
na prova final da fé (12:17; 14:12). Em meio das nuvens sombrias do
As Profecias do Tempo do Fim 517
juízo de Babilônia podemos discernir a luz brilhante dos que
permanecem fiéis a Cristo até o próprio fim, ainda até o ponto do
martírio (ver 2:10).
No Apocalipse, o mártir, como testemunha de Cristo, é o genuíno
vencedor! Os seguidores de Cristo sabem que sua luta é mais que uma
batalha física. Não são rebeldes políticos; respondem à ameaça de morte
da besta com "paciência e fé" (Apoc. 13:10). É assim como conquistam a
besta. "Vencer" no livro do Apocalipse significa fundamentalmente
confessar o senhorio de Jesus Cristo em meio da perseguição; quer dizer,
ser "fiel ao meu nome (2:13, NVI). A possibilidade de fracassar é real, e
os que fracassam em guardar o testemunho do Jesus e escolhem ao
anticristo deverão fazer frente ao juízo de Deus. Seus nomes serão
apagados do livro da vida (3:5; 22:19) e perderão sua parte na árvore da
vida e na santa cidade (2:23; 22:19).
Esta é a solene advertência de João para os crentes cristãos. Tanto
em Apocalipse 13:8 como em 17:8 se faz referência ao "livro da vida"
para assinalar a certeza da vida eterna para o vencedor. As profecias de
Daniel concluem de igual maneira com a segurança de que "será
libertado seu povo, todos os que se achem escritos no livro" (Dan. 12:1).

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 17 e 18 a encontrará nas pp. 540-543.

1 Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 423.


2 Ibid.
3 Collins, The Apocalypse. New Testament Message, pp. 55, 80.
4 Giblin, "Structural and Thematic Correlations in the Theology of
Revelation 16-22", Biblica 55 (1974), p. 500.
5 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p.
159.
6 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic
Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 247.
As Profecias do Tempo do Fim 518
7 J. M. Ford, Revelation, p. 283.
8 "L'Utilisation du livre d'Ézéquiel dans l'Apocalypse", Biblica 43
(1962), especialmente as pp. 440-442.
9 Charles, The Revelation of St. John, t. 2, p. 73.
10 Vogelgesang, The Interpretation of Ezekiel in the Book of
Revelation, p. 30.
11 Ver Megillah 4:10 na Mishnah [Mishná] (H. Danby), p. 207.
12 Zimmerli, Ezekiel y, t. 1, p. 349.
13 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic
Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 377.
14 Ibid., p. 367.
15 Andrews, Three Messages of Revelation, p. 48.
16 J. M. Ford, Revelation, p. 285.
17 Ver LaRondelle, The Israel of God in Prophecy. Principles of
Prophetic Interpretation, cap. 4.
18 J. M. Ford, Revelation, p. 285.
19 Ibid., p. 286
20 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic
Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 349.
21 Ibid., p. 359.
22 Satanás é a mente mestra que está por trás das 7 cabeças da besta.
Manifestou seu poder mundial como o dragão pagão por meio de
todos os impérios pagãos que oprimiram a Israel: Babilônia,
Medo-Pérsia, Grécia e o Império Romano, que correspondem às
4 primeiras cabeças. Cada vez a cabeça de plantão identifica-se
com o próprio dragão. E assim acontece com as cabeças 5 e 7. A
cabeça 6 é a cabeça ferida quando a besta "não é" (Apoc. 17:8,
11), que é o tempo entre a Revolução Francesa e nossos dias.
23 Andrews, Three Messages of Revelation, p. 78.
24 Strand, "The Seven Heads: Dou They Represent Roman
Emperors?", Simpósio sobre o Apocalipse. t. 2, pp. 177-206.
As Profecias do Tempo do Fim 519
25 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, cap.
21.
26 Ver Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, pp. 471-479.
27 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, p.
188.
28 7 CBA 868.
29 Strand, Interpreting the Book of Revelation, p. 55.
30 Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 472.
31 McCready Price, El tiempo del fin, p. 60.
32 Strand, Interpretando el libro del Apocalipsis, p. 54.
33 Johnson, Expositor's Bible Commentary, t. 12, Revelation, p. 561.
34 Ibid.
35 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, pp.
113, 114.
36 Vanhoye, "L'Utilisation du livre d'Ézéquiel dans l'Apocalypse",
Biblica 43 (1962), p. 441.
As Profecias do Tempo do Fim 520
O SIGNIFICADO DO VEREDICTO DE DEUS SOBRE
BABILÔNIA
Apocalipse 18

A visão de João em Apocalipse 18 amplia adicionalmente o juízo de


Babilônia ao deter-se sobre seu significado para a igreja do tempo do
fim. Contém uma mensagem especial do céu para o povo de Deus. Esta
visão é notável por sua estrutura concêntrica que se enfoca na mensagem
central: a execução do juízo de Deus. As seções do começo e do final se
enfocam, primeiro, sobre as acusações e o veredicto do céu sobre
Babilônia (vs. 1-3), e depois sobre o futuro desaparecimento de
Babilônia (vs. 21-24).
Dentro deste círculo exterior, duas vozes do céu proclamam
mensagens de suprema importância para os santos e os estimulam à
ação. A primeira mensagem tem uma relevância imediata: insiste com o
povo de Deus a fugir de Babilônia (vs. 4-8); a segunda voz chama os
santos no céu e na terra a regocijar-se por causa do veredicto do céu
sobre Babilônia (v. 20). A parte central (vs. 9-19) descreve o momento
da execução do juízo, "em uma hora" (vs. 10, 17, 19). Kenneth Strand
observou uma estrutura quiástica "bem equilibrada" em Apocalipse 18:
A. Introdução (Pronuncia-se a condenação de Babilônia; descreve-se sua
condição interna; resumem-se suas atividades e relações
pecaminosas), vs. 1-3.
B. Parêntese (Chamada a "sair de Babilônia"; declaração do juízo
sobre Babilônia), vs. 4-8.
C. A litania propriamente dita (O lamento dos reis, os mercados, os
marinhos, ao ver babilônia em chamas), vs. 9-19.
1
B . Parêntese (Chamado a regozijar-se; declaração de juízo sobre
Babilônia), V. 20.
1
A . Conclusão (Expressa-se graficamente a condenação de Babilônia;
descreve-se sua condição interna; resumem-se suas atividades e
relações pecaminosas), vs. 21-24.1
As Profecias do Tempo do Fim 521
Strand apresenta um quiasmo mais detalhado de Apocalipse 18 em
um diagrama útil na página 46 do mesmo artigo. Além disso, observa o
seguinte: "Todo o capítulo 18 do Apocalipse representa um mescla
ampla e uma fusão do antecedente do Antigo Testamento". 2 As fontes de
Apocalipse 18 são os oráculos de condenação contra Babilônia (Isa. 47;
Jer. 50, 51) e contra Tiro (Ezeq. 26-28), e inclusive contra Jerusalém
(Jer. 25:10). Nestes empréstimos do Antigo Testamento podemos ver
mais que a adoção de linguagem antiga. Em Apocalipse 18 fazemos
frente ao antítipo dos velhos inimigos do Israel: o colapso no tempo do
fim do império do anticristo.

O Mensageiro Celestial e Sua Mensagem

"E, depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande
poder, e a terra foi iluminada com a sua glória" (Apoc. 18:1).
A descida deste anjo do céu à terra tem um efeito visível e imediato:
"A terra foi iluminada com a sua glória (em gr., doxa: 'glória']". O
antecedente desta manifestação da glória divina é a promessa de
Ezequiel 43:2 feita a Israel no cativeiro de que Deus voltaria para seu
novo templo do oriente. Em Apocalipse 18 a "glória" se refere à
qualidade da presença de Deus por meio dos enviados de Cristo; uma
qualidade que corresponde ao anjo que vem do oriente com o selo do
Deus vivo durante o sexto selo em Apocalipse 7:2 e ao anjo do capítulo
10. Esta manifestação de esplendor do céu está conectado com a
mensagem do tempo do fim que demanda fidelidade à Palavra de Deus e
ao testemunho de Jesus, e sobre essa base a chamada para separar-se de
Babilônia.
O anjo de Apocalipse 18:1 está comissionado com "grande poder" e
é particularmente importante para o mundo cristão. Sua "voz potente"
deve alcançar a toda o povo sobre a terra. A essência de sua mensagem é
mais que a condenação iminente de Babilônia que está expresso pelo
anúncio "caiu, caiu a grande Babilônia" (v. 2). Esta mensagem repete a
As Profecias do Tempo do Fim 522
mensagem do segundo anjo de Apocalipse 14:8. Por isso Apocalipse 14
e 18 estão intimamente ligados, o que indica a identificação da "voz
potente" de Apocalipse 18:1 e 2 com o povo que guarda os mandamentos
de Deus e a fé de Jesus em Apocalipse 14:12.
O veredicto judicial do tribunal celestial dá urgência à mensagem.
Conecta a declaração da queda de Babilônia com a sessão do tribunal de
Daniel 7:9 e 10, onde se declara em termos positivos o propósito do juízo
celestial: "Até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do
Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan.
7:22). Já a expressão "a grande Babilônia" está adotada de Daniel 4:30.
Este pano de fundo daniélico esclarece o marco do pacto da condenação
de Babilônia em Apocalipse 18. Referindo-se a isto, disse George Caird:
"Apesar do assombro de sua proclamação, este anjo é um anjo do
evangelho. Vem não para regozijar-se triunfalmente sobre os caídos, e sim
para anunciar o triunfo dos propósitos de Deus e a libertação final do povo
de Deus de toda opressão".3
Quanto a isto, é instrutivo perceber como Apocalipse 18
complementa o capítulo 17. As visões são duas caras da mesma moeda.
Enquanto que o capítulo 17 mostra o controle final de Satanás pelo
domínio mundial por meio da besta que "está para subir do abismo"
(17:8), no capítulo 18 Deus atua por meio do anjo que desce do céu com
grande poder (18:1). Só ao unir Apocalipse 17 e 18 chegamos a nos dar
conta da urgência e a oportunidade da mensagem final de admoestação.
O comentário do Louis F. Were assinala às ações combinadas em ambas
as visões:
"Representa-se o poder do mal, particularmente o poder da
perseguição religiosa, que aumenta em intensidade até que todo mundo cai
na armadilha; o outro representa o poder especial que o céu derramará
sobre a igreja remanescente para fazer frente ao crescente poder do mal". 4
Este argumento do tempo do fim nos recorda do começo da igreja
em Pentecostes, quando recebeu poder para fazer frente à primeira onda
de perseguição. Podemos ver uma situação paralela no tempo do fim, tal
como esclareceu Ellen White:
As Profecias do Tempo do Fim 523
"A grande obra do evangelho não deverá encerrar-se com menor
manifestação do poder de Deus do que a que assinalou o seu início. As
profecias que se cumpriram no derramamento da chuva temporã no início do
evangelho, devem novamente cumprir-se na chuva serôdia".5
É significativo recordar que as palavras do anjo, "caiu, caiu a
grande Babilônia", foi primeiro pronunciada por Isaías quando anunciou
a Jerusalém que Babilônia tinha caído nas mãos de Ciro, o rei do oriente
(Isa. 21:9). Essa foi uma boa nova para o povo de Deus daquele tempo; é
a mesma boa nova para a igreja de Deus agora. Aqui está a conexão
tipológica de Apocalipse 18 com Israel. A situação antiga em uma escala
nacional é o tipo profético da situação mundial com respeito à igreja de
Cristo.
Agora o anjo se detém sobre a desolação da Babilônia do tempo do
fim: "e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito
imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável" (Apoc.
18:2). Esta linguagem profética está tomada das predições de Isaías a
respeito da sorte de dois arquiinimigos de Israel: Babilônia e Edom (ver
Isa. 13:21, 22 e 34:11-14). Ao que parece, João percebeu uma unidade
básica entre oráculos proféticos de condenação contra Israel e seus
inimigos. João estende todas as antigas maldições de Deus ao poder do
tempo do fim que é inimigo de Deus e de seu povo. Entretanto, o
conceito "imundo" que se reitera João o acrescenta para ressaltar seu
contraste com a futura cidade nova de Jerusalém, a cidade santa na qual
não entrará "nada imundo" (ver Apoc. 21:27). O anjo continua
detalhando a razão para a condenação de Babilônia:
"Pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição.
Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se
enriqueceram à custa da sua luxúria" (Apoc. 18:3).
Podemos distinguir três grupos como os sócios de Babilônia: as
nações, os reis da terra e os mercadores da terra. As acusações contra
eles são fundamentalmente as seguintes: o ter bebido do vinho do furor
da fornicação de Babilônia e o enriquecimento econômico excessivo, a
"adoração idolátrica de Mamom".6 Estas acusações dão a entender que a
As Profecias do Tempo do Fim 524
Babilônia eclesiástica é tido como responsável não só por seus próprios
pecados mas também pelo crime de corromper a outros no mundo civil.

A Chamada Final do Êxodo ao Povo de Deus

"E ouvi outra voz do céu que dizia: Sai dela, povo meu..." (Apoc.
18:4). Alguns comentadores atribuem a Cristo esta voz celestial, porque
se dirige aos santos como "povo meu". Seja como for, esta voz repete a
antiga chamada para sair que fez a Israel, aos seguidores de Cristo do
tempo do fim, como o explica a comparação seguinte:

JEREMIAS 51:6-9 APOCALIPSE 18:4, 5


"Fugi do meio da Babilônia, e cada "Retirai-vos dela, povo meu, para
um salve a sua vida; não pereçais na não serdes cúmplices em seus
sua maldade; porque é tempo da pecados e para não participardes
vingança do Senhor: ele lhe dará a dos seus flagelos; porque os seus
sua paga. A Babilônia era um copo de pecados se acumularam até ao céu,
ouro na mão do Senhor, o qual
e Deus se lembrou dos atos iníquos
embriagava a toda a terra; do seu
que ela praticou".
vinho beberam as nações; por isso,
enlouqueceram" (vs. 6, 7).
"Queríamos ... porque o seu juízo
chega até ao céu e se eleva até às
mais altas nuvens" (v. 9).

Esta correspondência entre a antiga chamada de Deus para sair e da


chamada final de Deus para fugir de Babilônia mostra a forma como
Deus dirige a seu povo rebelde para sair de uma sociedade corrupta,
amadurecida para o juízo, e o convida a avançar para a terra prometida.
Esta chamada a despertar tem o propósito de estimular os filhos de Deus
à urgência da situação e a separá-los da adoração falsificada. Alguns
eruditos se dão conta da seriedade da chamada de Apocalipse 18. Leão
Morris declara que "em um sentido, esta chamada é a chave para todo o
As Profecias do Tempo do Fim 525
capítulo. João não se está recreando pela queda da cidade. Apela aos
cristãos para que vejam a realidade da situação e para que atuem de
acordo com isso".7 E J-P. Ruiz comenta o seguinte: "Insta-se aos crentes
a que se distanciem de 'Babilônia' para que não se associem com os
pecados pelos quais vai ser castigada".8
Os "pecados" da Babilônia do tempo do fim estão enumerados em
Apocalipse 18:3, 23, 24 e 17:2-6. Consistem nas relações adúlteras com
os reis da terra; de embriagar os habitantes da terra com o vinho de sua
fornicação; de enganar as nações por seu "encantamento mágico" ou
feitiçarias; da perseguição dos profetas e dos santos "que têm o
testemunho do Jesus"; e de glorificar-se com arrogância em sua riqueza,
fausto e auto-suficiência. Juntos, todos estes pecados se acumularam até
que chegaram "ao céu", dando a entender o limite da graça e a paciência
divinas, o qual entranha a noção bíblica de que o céu guarda um registro
dos crimes de Babilônia (ver Apoc. 20:12). Depois chega o momento
quando Deus "lembra-se" de seu pacto e toma medidas! Este "recordar"
divino tem lugar durante a sétima praga: "Deus se lembrou então de
Babilônia, a Grande, para lhe dar a taça do vinho do furor da sua ira"
(16:19, BJ). O ato de recordar-se expressa-se em termos de um veredicto
judicial no céu e da iniciação da mensagem final de admoestação na
terra.
Há uma correspondência temática entre o estado final de Babilônia
e Jerusalém da antiguidade. Em seu último discurso aos rabinos e aos
fariseus, Jesus mostrou que Jerusalém tinha passado por cima da linha da
paciência divina quando rechaçou seu messianismo:
"Enchei vós, pois, a medida de vossos pais... Eis que a vossa casa vos
ficará deserta" (Mat. 23:32, 38; ver também o V. 35).
Entretanto, a sentença de Jesus sobre Jerusalém foi executada só
depois que a cidade rechaçou as chamadas pentecostais de Cristo, dados
por meio de seus mensageiros apostólicos cheios do Espírito Santo. Da
mesma maneira, a Babilônia do tempo do fim receberá seu juízo depois
As Profecias do Tempo do Fim 526
da última chamada de Cristo por meio de seus mensageiros (Apoc. 14:6-
12; 18:1-4).
O assunto final não será um mandamento divino ou uma adoração
no culto independente de Jesus e de seu testemunho canônico. A verdade
que prova, sempre é "a verdade que está em Jesus" (Ef. 4:21, NVI). No
conflito final entre os seguidores do Cordeiro e os seguidores da besta,
Cristo voltará a ser exaltado com poder pentecostal (Apoc. 18:1). Então
todos os povos e as tribos ouvirão a verdade como está em Jesus. Então
ninguém poderá permanecer neutro por mais tempo aos rogos de Cristo,
assim como aconteceu em Jerusalém da antiguidade. Por conseguinte,
aceitamos a declaração do Stephen M. Travis, quando declara:
"Em realidade, cada pessoa enfrentada por Cristo tem feito uma
escolha fundamental. Cada uma entrou em uma relação com ele ou a
rechaçou. A direção de sua vida, e por conseguinte de seu destino, está
selada. E em definitiva só há duas direções possíveis, e dois destinos
possíveis, e cada um deles se escolhe em relação com a revelação que
Cristo traz. Mas é obvio, também deve enfatizar-se que o propósito das
admoestações a respeito da condenação sempre é para causar o
arrependimento. Não é senão até o juízo final quando a condenação de cada
um é definitiva".9

A Teologia do Juízo em Apocalipse 18

Ambos os intervalos em Apocalipse 18 transmitem uma teologia de


juízo para Babilônia que merece atenção:
"Dai-lhe em retribuição como também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro
segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturai
dobrado para ela." (Apoc. 18:6).
"Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque
Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20).
Muitos comentadores sustentam que Apocalipse 18 não expressa
espírito de vingança ou uma ética subcristã, mas sim gozo no triunfo da
causa de Deus e do reino de Cristo. A nota tônica do coro celestial em
Apocalipse 19:1-8 é a justiça, a glória e o reino de Deus. As orações dos
As Profecias do Tempo do Fim 527
mártires pela justiça divina durante o quinto selo (6:9-11) serão
finalmente respondidas. A resposta dos santos no céu e na terra é uma
doxologia profética:
"Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa
multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso
Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a
grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos
dela vingou o sangue dos seus servos" (Apoc. 19:1, 2).

Jacques Ellul o resume bem: "Não é vingança contra outros


homens, mas sim a destruição dos poderes que alienam a todos os
homens, cujo caráter maligno se revela na massacre dos santos!"10
Kenneth Strand nota que o juízo de Deus sobre a antiga Judá equivaleu a
um castigo duplicado: "Que já recebeu em dobro das mãos do Senhor
por todos os seus pecados" (Isa. 40:2; ver também Jer. 16:18; 17:18).
Este castigo dobrado se destina agora a Babilônia: "Pagai-lhe em dobro
do que merecem suas obras" (Apoc. 18:6, CI). Strand tira esta conclusão:
"Então, o que parece que temos em Apocalipse 18:6b-c é uma alusão a
um tipo de inversão de papéis onde agora é Babilônia, não Judá, a que
recebe uma duplicada medida de castigo".11

O significado teológico desta "inversão de papéis" em Apocalipse


18 pode explicar-se ao considerar que a Babilônia apocalíptica é
duplamente culpada porque atua como a companheira rebelde do pacto
de Deus. A meretriz Babilônia corresponde essencialmente à antiga
Jerusalém que merecia um castigo dobrado. A meretriz foi chamada
originalmente a ser a luz das pessoas por meio do conhecimento salvífico
do pacto de Deus (Isa. 42:6; 49:6; Mat. 5:14). O hino de gozo de
Apocalipse 18:20 desempenha o papel de ser o equivalente da sentença
judicial pronunciada nos versículos 6 e 7: "Deus julgou seu juízo [gr.,
kríma] por ela [ex autés])"
Que ato judicial divino [kríma] está visível aqui? O verbo krínein
(julgar) refere-se à justiça celestial, não à vingança humana, o que por
As Profecias do Tempo do Fim 528
conseguinte prevê um tribunal celestial ou um marco forense. Morris o
explica desta maneira: "Foram feitas injustiças aos santos que agora são
postas em ordem".12 O aspecto mais significativo é que Deus em seu
tribunal de justiça (Dan. 7:9, 10) revogará as sentenças de Babilônia
contra os santos. Caird faz o seguinte comentário: " 'Seu juízo' deve ser a
sentença ditada contra os mártires nos tribunais romanos". 13 Entretanto,
o divino Juiz sentenciará que a perseguição dos santos por parte de
Babilônia estava apoiada sobre acusações falsas. Por conseguinte, o Juiz
celestial pode aplicar as leis do pacto no que respeita ao assassinato
(Gên. 9:5, 6) e às testemunhas falsas (Deut. 19:16-19).
A Nova Bíblia espanhola (NEB) captou o significado essencial:
"Porque, condenando-a, Deus reivindicou sua causa" (Apoc. 18:20).
Caird o traduz assim: "Porque Deus impôs sobre ela a sentença que
ditou sobre vós!" Explica-o melhor quando declara:
"Babilônia apresentou uma acusação malévola contra os mártires, o
que deu como resultado sua execução. Mas o caso foi levado 'ante o
Senhor', ao tribunal de apelação final, onde os juízos são verdadeiros e
justos. Nesse tribunal encontrou-a culpada de perjúrio e, por conseguinte,
Deus requereu dela a vida de suas vítimas, exigindo dela o castigo que
Babilônia exigiu deles".14
Talvez isto seja o estímulo mais poderoso para que os santos
permaneçam firmes até o fim. Assim como Jó, podem estar seguros desta
magnífica verdade: "Eu sei que meu Redentor [Reivindicador, CI;
Defensor, BJ; Vingador, NBE] vive, e por fim se levantará sobre a terra"
(Jó 19:25). A New English Bible [Nova Bíblia Inglesa] traduz este
testemunho de Jó assim: "Mas em meu coração sei que meu
Reivindicador vive e por fim se levantará para falar no tribunal; e
eu...verei meu conselho defensor, sim, a Deus mesmo, a quem verei com
meus próprios olhos" (Jó. 19:2527; ver NBE). Esta segurança sustentará
a cada fiel seguidor de Cristo ao passar pela aflição do tempo do fim.
Strand assinalou que a frase fora do comum de que Deus infligirá
seu juízo "de em meio dela", é uma alusão ao oráculo de Ezequiel contra
As Profecias do Tempo do Fim 529
Tiro, o colaborador comercial de Israel: "Eu, pois, fiz sair do meio de ti
um fogo, que te consumiu" (Ezeq. 28:18).15 A conexão da condenação
de Tiro e da Babilônia do tempo do fim se fortalece pelo fato de que
Apocalipse 18 alude treze vezes a Ezequiel 26 a 28.

Protótipos do Antigo Testamento do Juízo de Babilônia em


Apocalipse 18

O propósito do elo literário com Ezequiel 28 chega a ser evidente se


lermos toda a profecia contra Tiro e seu rei. A razão para esta profecia
foi vanglória própria e a autodivinização do príncipe de Tiro, que disse
em seu coração: "Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no
coração dos mares" (Ezeq. 28:2). "Assim como Israel, a menina
abandonada em Ezequiel 16, Babilônia se afunda em sua beleza da qual
esteve orgulhosa".16
Mas a injustiça da atividade comercial de Tiro em relação com seu
santuário se apresenta como uma acusação legal (Ezeq. 28:18). A
execução real do juízo contra Tiro ocorre como "espetáculo para os reis"
(v. 17, NBE). Será um fogo que "estala do mesmo lugar do pecado e o
destrói".17 Tudo isto revela uma correspondência essencial entre Tiro e
a Babilônia do tempo do fim (no Apoc. 17 e 18). Também contém lições
que são válidas para cada indivíduo. O espírito de Babilônia ou de Tiro é
exatamente oposto ao que Cristo revelou em seu renunciamento em
favor de outros, como Filipenses 2:5-11 o apresenta.
Zimmerli também chamou a atenção ao mesmo motivo da vanglória
própria e da conseguinte queda no abismo com referência ao rei de
Babilônia como se expõe em Isaías 14:4-21. A queda de Babilônia se
expõe com grande detalhe em Isaías 47. O paralelo entre Apocalipse 18 e
Isaías 47 chega a ser evidente nas atitudes correspondentes da vanglória,
arrogância e jactância das duas Babilônias:
As Profecias do Tempo do Fim 530
ISAÍAS 47 APOCALIPSE 18
"E disseste: Eu serei senhora para "Estou sentada como rainha.
sempre!" (v. 7) Viúva, não sou. Pranto, nunca hei
"... Eu só, e além de mim não há de ver!" (v. 7).
outra; não ficarei viúva, nem
conhecerei a perda de filhos" (v.
8).

Ao que parece, a história tem uma tendência a repetir-se. Durante a


história da salvação, o coração humano rebelde sucumbe às mesmas
tentações de vanglória própria. Jesus desmascarou toda justiça própria
quando disse aos fariseus:
"Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas
Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre homens é
abominação (em gr., bdélugma] diante de Deus" (Luc. 16:15).
O Apocalipse chama babilônia a "mãe das abominações
[bdelugmáton] da terra" (Apoc. 17:5). Quando todo mundo "valorizar
grandemente" as declarações jactanciosas de Babilônia e suas enganosas
"feitiçarias" e "fortes encantamentos", chegará repentinamente seu fim
por decreto divino:

ISAÍAS 47:9 APOCALIPSE 18:8


"Mas ambas estas coisas virão "Por isso, em um só dia,
sobre ti num momento, no mesmo sobrevirão os seus flagelos: morte,
dia, perda de filhos e viuvez; virão pranto e fome; e será consumida
em cheio sobre ti, apesar da no fogo, porque poderoso é o
multidão das tuas feitiçarias e da Senhor Deus, que a julgou".
abundância dos teus muitos
encantamentos".

No fim, Deus demonstra ser "forte" [isjurós], mais forte que


Babilônia, "a cidade forte" [isjurá] (Apoc. 18:9, 10). "Deus é forte",
As Profecias do Tempo do Fim 531
declara A. Pohl, "por meio de seus argumentos potentes na luta pela
justiça; e porque ele é reto, também estabelece justiça de modo
irresistível (ver Apoc. 12:8)".18

O Cumprimento Real do Juízo contra Babilônia

Podemos observar nas três mensagens dos anjos de Apocalipse


18:1, 4 e 21 um desenvolvimento ulterior mais amplo da mensagem dos
três anjos de Apocalipse 14:6-11. O anjo de Apocalipse 18:1 ilumina
finalmente todo mundo com seu esplendor; a voz do céu em Apocalipse
18:4-8 proclama o convite final para sair de Babilônia; o anjo poderoso
de Apocalipse 18:21-24 destrói realmente Babilônia para sempre. O que
a tríplice mensagem de Apocalipse 14 anuncia como acontecendo logo,
Apocalipse 18 o apresenta como uma realidade atual!
Quando a "meretriz" for julgada, os consortes da prostituta ainda
estão vivos e expõem seus lamentos (Apoc. 18:9). Aqui se cumprirão as
palavras de Jesus: "Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis
e chorareis!" (Luc. 6:25). Os lamentos funerais de Apocalipse 18:9-19
indicam que os três grupos: reis, mercadores e marinheiros da terra estão
comovidos profundamente pela condenação de Babilônia. O Comentário
bíblico adventista sugere que este "lamento" pode indicar que "eles logo
terão que compartilhar a sorte de Babilônia (cf. Isa. 47:13-15)".19
Cada um dos três grupos recita seu próprio lamento. No verso 20 se
convoca a outros três grupos – "santos, apóstolos e profetas" – para que
se regozijem pela queda de Babilônia; é como o complemento dos três
cantos lúgubres. O que constitui uma causa de lamentação para os
primeiros três grupos é uma causa para regozijar-se para os três últimos.
O primeiro grupo se lamenta por interesse próprio (Apoc. 18:11), porque
"enriqueceram-se à custa dela" (vs. 15, 19). Este grupo compreende toda
a extensão da influência da prostituta. É descrita como morando "sobre
muitas águas", o que se interpreta como "povos, multidões, nações e
línguas" (17:1, 15).
As Profecias do Tempo do Fim 532
Os três cantos lúgubres cumprem a função de anúncios do juízo que
chegou inesperadamente. Cada lamento intensifica o momento da
devastação de Babilônia em uma hora (Apoc. 18:10, 17, 19), em vez de
"um dia" que foi o que se predisse (Apoc. 18:8; Isa. 47:9). Os três
lamentos terminam com o clamor "Ai, ai!" (Apoc. 18:10, 16, 19).
Josephine M. Ford sugeriu que a lista das importações de Babilônia em
Apocalipse 18:12 e 13, que descrevem sua imensa pompa (v. 17),
representam os artigos que se usavam na adoração no templo de
Jerusalém.20 Diz ela: "Dessa maneira, os mercados em Apocalipse
18:11-17 podem muito bem ter sido os que estavam em associação com
Jerusalém, e o luxo que se descreve pode ter sido o luxo de que gozava a
cidade santa".21
Devemos reconhecer que a lista dos materiais aparecem em
Apocalipse 18:12 e 13 está desenhada segundo o modelo das riquezas de
Tiro em Ezequiel 27:12-25. O artigo mais surpreendente é o que se
refere às "almas humanas" (Apoc. 18:13), que se menciona na lista de
Ezequiel 27:13 (LXX) como que "comercializavam... com homens".
Em Apocalipse 18:6 João aplicou cinco artigos diferentes à
prostituta Babilônia que aparece em Apocalipse 17:4. J-P. Ruiz faz o
seguinte comentário:
"Entre os artigos que formam as jóias de Babilônia, as pedras
preciosas e as pérolas aparecem na visão da Nova Jerusalém (Apoc. 21:11,
19, 21). Isto intensifica o paralelismo contrastante entre as duas cidades:
Babilônia, a Grande e a Nova Jerusalém".22
Roy Naden faz esta aplicação, para refletir, do catálogo de materiais
requeridos para edificar um templo em Apocalipse 18:9-19:
"O símbolo mostra que enquanto que os que estão em Cristo estão
olhando ao templo celestial, onde ele se senta em seu trono, Babilônia está
empenhada em edificar e manter sua oposição ao templo, onde os homens
e as mulheres virão para adorar ao dragão que deseja ser Deus".23
É notável que o Comentário bíblico adventista favorece uma
interpretação figurada dos mercadores e da mercadoria de Babilônia, em
Apocalipse 18, como sendo descritiva de "os que venderam suas
As Profecias do Tempo do Fim 533
24
doutrinas e mandamentos aos reis e moradores da terra". Os 28 artigos
de comércio em Apocalipse 18:12 e 13 se usam "para destacar o
abrangente de suas doutrinas e mandamentos corruptos".25 Esta
aplicação faz que os artigos de comércio sejam um sinônimo do "vinho"
de Babilônia com que se embriagaram "os habitantes da terra" (Apoc.
17:2). A devastação de Babilônia se descreve finalmente com um ato
simbólico de conseqüências eternas:
"Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de
moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será
arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada" (Apoc.
18:21).

Não há dúvida de que este ato espetacular do anjo poderoso está


modelado sobre o pedido de Jeremias a Seraías, oficial do Estado Maior
do rei Zedequias, para arrojar o rolo escrito com os oráculos de
condenação contra Babilônia, pacote com uma pedra, no rio Eufrates
(ver Jer. 51:61-64). Em ambas as situações o arrojar uma pedra à água
simboliza a devastação eterna de Babilônia. Mas contudo, a diferença
entre os dois atos também é significativa. Que se mencione duas vezes
uma "pedra de moinho" em Apocalipse 18:21 e 22 é significativo. A
última frase ressona várias vezes mais nos versículos 22 e 23. Ruiz
assinalou que a relocação do ato simbólico de Jeremias 51:63 e 64 reflete
a influência contínua de Ezequiel 26.26 A seguinte tabela comparativa
esclarece isto:

EZEQUIEL 26:12, 13 APOCALIPSE 18:22


"As tuas pedras, as tuas madeiras e "E voz de harpistas, de músicos, de
o teu pó lançarão no meio das tocadores de flautas e de clarins jamais
águas. Farei cessar o arruído das em ti se ouvirá, nem artífice algum de
qualquer arte jamais em ti se achará, e
tuas cantigas, e já não se ouvirá o nunca jamais em ti se ouvirá o ruído de
som das tuas harpas". pedra de moinho".
As Profecias do Tempo do Fim 534
Ruiz declara acertadamente que "o mar que era a fonte da
prosperidade de Tiro também é o caos aquoso no que fica arruinada
(Ezeq. 26:12; 27:3, 4, 26, 27)".27 Ezequiel 26 conclui desta maneira:
"Farei de ti um grande espanto, e já não serás; quando te buscarem,
jamais serás achada, diz o Senhor Deus" (v. 21), o que apresenta uma
correspondência clara com Apocalipse 18:21, onde o anjo declara que
Babilônia, a grande cidade "nunca mais será achada".
É evidente que João uniu o modelo de Jeremias com Ezequiel 26 a
28. Mas também se alude a outros oráculos proféticos de condenação em
Apocalipse 18:22 e 23, como o mostra a seguinte comparação:

JEREMIAS 25:10 APOCALIPSE 18:23


"Farei cessar entre eles a voz de "Também jamais em ti brilhará luz de
folguedo e a de alegria, e a voz do candeia; nem voz de noivo ou de
noivo, e a da noiva, e o som das noiva jamais em ti se ouvirá, pois os
mós, e a luz do candeeiro". teus mercadores foram os grandes da
terra, porque todas as nações foram
seduzidas pela tua feitiçaria".

Surpreendentemente, esta maldição de Deus em Jeremias 25:10 foi


dirigida contra Judá e Jerusalém por meio da mão do rei de Babilônia. A
justiça de Deus é imparcial. Apocalipse 18 conclui com a própria
explicação do anjo de seu ato simbólico no versículo 21. Menciona as
acusações de que Babilônia foi encontrada culpada:
"Teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as nações
foram seduzidas pela tua feitiçaria. E nela se achou sangue de profetas, de
santos e de todos os que foram mortos sobre a terra" (Apoc. 18:23b, 24).
Esta terminologia mostra uma alusão à profecia de Isaías a respeito
de Tiro em Isaías 23:8 e 9, e dá a conhecer a resposta à pergunta: Quem
foi o responsável pela ruína de Tiro?
"O Senhor dos Exércitos formou este desígnio para denegrir a soberba
de toda beleza e envilecer os mais nobres da terra" (Isa. 23:9).
As Profecias do Tempo do Fim 535
Assim Deus é responsável pela queda de Babilônia (ver Apoc.
16:19; 18:6-8). A referência aos enganos de Babilônia por meio de suas
"feitiçarias" (Apoc. 18:23) é um eco da acusação que Naum fez de
Nínive (ver Naum 3:4). A mensagem de Jonas ainda implicava que
haveria misericórdia divina depois do arrependimento. Mas o anúncio do
juízo de Naum indica que a cidade tinha cruzado a soleira da paciência
divina. Esta será a situação da Babilônia do tempo do fim em Apocalipse
17 e 18.
A referência ao "sangue de profetas, de santos e de todos os que
foram mortos sobre a terra" (Apoc. 18:24) é uma alusão à profecia de
condenação de Babilônia que Jeremias pronunciou:
"Como Babilônia fez cair traspassados os de Israel, assim, em
Babilônia, cairão traspassados os de toda a terra" (Jer. 51:49).
Jesus fez uma acusação similar contra Jerusalém quando disse:
"Para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas,
derramado desde a fundação do mundo" (Luc. 11:50; cf. Mat. 23:35).
Louis A. Vos fez este comentário: "O que profetizou Jesus com
respeito a Jerusalém e seus habitantes (Mat. 23:35; Luc. 11:50), João o
aplica à desolação simbólica da grande cidade de seus dias". 28 Enquanto
que Vos encontra "difícil determinar" por que João alude ao dito de Jesus
antes citado, sugerimos que o Apocalipse distingue uma correspondência
essencial entre a antiga Jerusalém que rechaçou a Cristo e seu
testemunho, e a igreja apóstata que é infiel a Cristo e a seu testemunho
(ver Apoc. 17:6; 18:24). Devemos recordar que Apocalipse 18 conclui
suas canções de condenação com um grito de triunfo:
"Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque
Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20).

Esta chamada a regozijar-se encontra uma resposta entusiasta nos


hinos de Apocalipse 19:1-8. Estes hinos celebram o juízo de Deus sobre
Babilônia, o que prepara o caminho para a ceia das bodas do Cordeiro e
de sua noiva:
As Profecias do Tempo do Fim 536
"Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são
chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as
verdadeiras palavras de Deus" (Apoc. 19:9).
As quatro "aleluias" [literalmente, "louvam a Jeová!"] e o "amém"
dos coros antifonais no céu (Apoc. 19:1-4) e na terra (Apoc. 19:6-8)
celebram o cumprimento progressivo do plano de salvação de Deus e da
justiça da sentença de Deus sobre os perseguidores de seu povo.
As orações dos mártires (Apoc. 6:10) são finalmente respondidas
(19:2). Por conseguinte, Deus é louvado com regozijo por todos os
santos (ver 18:20). Toda a visão de Apocalipse 17 e 18 deve entender-se
à luz das "bodas do Cordeiro" (19:7) vindouras. Esta certeza é tão
absoluta que o céu celebra já a realidade futura do reino de Deus sobre o
mal. Ouvimos depois no céu algo que recordava o vozerio de uma
grande multidão; cantavam:
"Aleluia. A vitória, a glória e o poder pertencem a nosso Deus, porque
suas sentenças são legítimas e justas! Ele condenou a grande prostituta que
corrompia a terra com sua fornicação e lhe pediu conta do sangue de seus
servos".
E repetiram:
"Aleluia. A fumaça de seu incêndio sobe pelos séculos dos séculos"
(Apoc. 19:1-3, NBE).
Estes "Aleluias!" projetam-se para trás, a Apocalipse 17 e 18, para
preparar o caminho para uma nova Mulher e uma nova Cidade: a Esposa
e a Nova Jerusalém (19:7; 21:2, 10). Ruiz o resumiu bem:
"Desta maneira, a doxologia de Apocalipse 19:1-8 faz possível ler a
terminologia profética de Apocalipse 17 e 18 como uma reafirmação do
propósito de Deus e uma segurança da vitória de Deus".29
O ponto mais elevado da doxologia vem com o quarto "Aleluia!",
quando o coro celestial anuncia as bodas do Cordeiro como a evidência
do triunfo do reino de Deus:
"Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso.
Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as
bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou" (Apoc. 19:6, 7).
As Profecias do Tempo do Fim 537
A liturgia celestial começa com o recordativo do castigo da "grande
prostituta" (Apoc. 19:2), mas termina com a recompensa da "esposa":
"Pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro.
Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos" (Apoc. 19:8).
O vestido nupcial está em agudo contraste com o da prostituta
(Apoc. 17:4; 18:16). É um dom do Cordeiro, porque "concederam-lhe
vestir-se" (19:8, BJ).
Lembramo-nos da parábola do Jesus do "banquete de bodas" em
Mateus 22, no qual oferece a cada convidado um vestido de bodas
especial (V. 11). Cristo oferece especialmente à igreja do Laodicéia
"vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a
vergonha da tua nudez" (Apoc. 3:18). Em Apocalipse 6:11 se afirma de
novo o dom do caráter das vestimentas brancas para os mártires. João vê
os santos vitoriosos em Apocalipse 7 e todos "vestidos de vestiduras
brancas" (v. 9) com esta explicação adicional: "lavaram suas vestiduras e
as alvejaram no sangue do Cordeiro" (V. 14). Aqui estamos frente ao
privilégio e dever de cada pessoa de ir diariamente ao Senhor
ressuscitado para procurar a purificação do coração (ver 1 João 1:7). Na
verdade, A. Pohl comentou a respeito: "Sua graça hoje consiste não só
em boas obras, mas também no poder para fazer boas obras".30
Também deste ponto de vista podemos entender a frase, "o linho
fino são as ações justas dos santos" (Apoc. 19:8). Refere-se ao caráter
mudado dos seguidores de Cristo que foram transformados de um modo
de pensar egocêntrico a uma mente centralizada em Cristo por meio de
sua união de coração e alma com Cristo.
As "ações justas [dikaiómata] dos santos" mencionam-se como a
contraparte das "ações injustas [adikémata]" da prostituta (ver Apoc.
18:5). A esposa "preparou-se" (Apoc. 19:7; ver também 14:13). Tanto a
esposa como a prostituta estão vestidas com suas obras e caráter. Dessa
maneira se apresentam em um paralelo contrastante. O anúncio das
bodas do Cordeiro em Apocalipse 19:7 antecipa o desenvolvimento dos
As Profecias do Tempo do Fim 538
temas da Esposa-Cordeiro-Nova Jerusalém em Apocalipse 21 e 22. O
reino de Deus está centralizado para sempre em Cristo.

Referências
A Bibliografia para Apocalipse 17 e 18 se encontra nas pp. 540-543.

1 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981),


p. 38.
2 Ibid., p. 44.
3 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 222.
4 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, p.
151.
5 Ellen White, CS 611, 612.
6 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 223.
7 Morris, The Revelation of St. John, p. 216.
8 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic
Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 399.
9 Travis, Christ and the Judgment of God. Divine Retribution in the
NT, p. 171.
10 Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 199.
11 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981),
p. 41.
12 Morris, The Revelation of St. John, p. 222.
13 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 229.
14 Ibid., p. 230.
15 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981),
pp. 43-45.
16 Zimmerli, Ezekiel, t. 2, p. 94.
17 Ibid.
18 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p.
197.
19 7 CBA 876
As Profecias do Tempo do Fim 539
20 J. M. Ford, Revelation, p. 304.
21 Ibid., p. 305.
22 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic
Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 435.
23 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of
Revelation, p. 254.
24 7 CBA 877.
25 Ibid.
26 Ver Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of
Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 469.
27 Ibid.
28 Vos, The Synoptic Traditions in the Apocalypse, p. 163.
29 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic
Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 493.
30 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p.
216.
As Profecias do Tempo do Fim 540
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 17 E 18

Livros
Andrews, John N. Three Messages of Revelation 14 [As Três
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As Profecias do Tempo do Fim 544
COMPREENDENDO O MILÊNIO
Apocalipse 19 e 20

Primeiro devemos determinar as relações entre a visão de João a


respeito dos "mil anos" e o contexto imediato do Apocalipse, ou seja os
capítulos 19 e 21, antes de que possamos compreender o significado do
capítulo 20. Também devemos averiguar que conexões possíveis existem
entre Apocalipse 20 e as profecias do Antigo Testamento. Devem
responder-se estas perguntas de exegese antes de estabelecer qualquer
opinião dogmática de Apocalipse 20, uma das passagens mais
problemáticas que há na Bíblia. O enfoque contextual deve preceder
sempre o dogmático ao fazer uma exegese responsável das Sagradas
Escrituras.

O Contexto de Apocalipse 19

"Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e


uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o
diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e
pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se
completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto
pouco tempo" (Apoc. 20:1-3).
O termo "milênio" significa literalmente "mil anos", e o período dos
anos a que se alude como o milênio só se menciona em Apocalipse 20. A
relação desta passagem com a visão precedente de Apocalipse 19:11-21
é clara e amplamente reconhecida pelos eruditos. A visão do
Armagedom de Apocalipse 19 constitui tanto a expansão final de
Apocalipse 16 a 18 como a introdução a Apocalipse 20. Dessa maneira,
Apocalipse 19 forma uma parte essencial da visão do milênio.
Os inimigos de Cristo do tempo do fim são a besta, os reis da terra
com seus exércitos e o falso profeta (Apoc. 19:19, 20). Na volta de
Cristo como o Rei e Juiz de toda a terra, "Os dois [a besta e o falso
As Profecias do Tempo do Fim 545
profeta] foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com
enxofre" (v. 20). E "outros", ao parecer "os reis da terra e seus exércitos"
(v. 19), foram mortos pelo impacto da vinda de Cristo (v. 21).
Apocalipse 20 revela que Satanás, o gênio criador de toda rebelião será
"preso", encerrado e selado por um anjo de Cristo (vs. 1-3). Depois do
milênio será "lançado no lago de fogo e de enxofre, onde já se achavam
a besta e o falso profeta" (v. 10, BJ).
A continuidade de Apocalipse 19 e 20 chega a ser até mais evidente
se se observar que a seqüência na qual são julgados os inimigos de Cristo
acontece em uma ordem inversa à ordem em que aparecem pela primeira
vez no livro do Apocalipse. Em Apocalipse 12 foi primeiro mencionado
o dragão, depois vem a besta e o falso profeta no capítulo 13, e
finalmente Babilônia no capítulo 14. Seu destino final se descreve em
uma seqüência oposta: primeiro vem a queda de Babilônia em
Apocalipse 16 a 18; depois são destruídos a besta e o falso profeta em
Apocalipse 19, e finalmente, no 20, depois de mil anos, o dragão é
executado. Esta composição literária do surgimento e queda dos
principais inimigos de Cristo manifesta a ordem progressiva de
Apocalipse 12 a 20 e sua unidade estrutural. Estes capítulos mostram um
"desenvolvimento magistral" de pensamento e de tema que avança
firmemente para a culminação, a consumação da guerra cósmica entre o
céu e a terra. Dessa maneira, a progressão avança da queda de Babilônia
até o castigo dos agentes de Satanás, e termina com a eliminação do
pecado e do próprio Satanás.

A Seqüência Cronológica de Apocalipse 19 e 20

Evidentemente, os acontecimentos descritos em Apocalipse 19:11-


20:10 seguem uma ordem cronológica. Isto está claro da seqüência das
visões nas que as aves de rapina são convidadas a ir à grande ceia de
Deus (Apoc. 19:17, 18), seguida pela visão em que todas as aves
"saciaram-se das carnes deles" (vs. 19-21). Há uma notável progressão
As Profecias do Tempo do Fim 546
de eventos nestas duas visões. A declaração de Apocalipse 20:10
proporciona a evidência direta da ordem cronológica das visões de
Apocalipse 19 e 20, quer dizer, "o diabo que os enganava, foi arrojado
no lago de fogo e enxofre, onde estavam a besta e o falso profeta"
(20:10). Esta última referência ao juízo da besta e de seu profeta se
descreve em 19:20 como acontecendo antes, na segunda vinda (19:19).
Outra indicação de uma seqüência cronológica é a observação de
que os eventos descritos em Apocalipse 19:11 a 20:6 são análogos à
ordem dos eventos em Daniel 7. Tanto em Daniel como no Apocalipse o
anticristo é consumido por meio de fogo quando o Messias vem em sua
glória do céu (Dan. 7:11-14, 25; Apoc. 19:20). Em ambos os livros,
imediatamente depois da destruição do anticristo, o reino é dado aos
santos (Dan. 7:22, 27; Apoc. 20:4-6).
Portanto, como o juízo do anticristo na segunda vinda ainda está no
futuro, o reino milenário dos santos que segue à destruição do anticristo
também deve ser futuro. Estamos de acordo com a conclusão do Jack S.
Deere: "Dessa maneira, sobre a base de Daniel 7, é mais natural ler
Apocalipse 20:4-6 como parte de uma progressão cronológica em seu
contexto mais amplo (19:11-20:15), do que como uma recapitulação".1
Inclusive o erudito católico do Novo Testamento, Rudolf Schnackenburg
reconheceu que "um salto atrás ao tempo da parousia em Apocalipse
20:1-3 é altamente inverossímil".2 Enquanto que reconhecemos o papel
geral da recapitulação na estrutura do Apocalipse como um tudo, a seção
de Apocalipse 19:11 a 20:15 apresenta claramente uma ordem lógica e
cronológica.
Além disso, Ezequiel apresenta uma série consecutiva de visões nas
quais o reino messiânico (caps. 36 e 37) é seguido por uma guerra
encabeçada por Gogue de Magogue (caps. 38 e 39). Depois da guerra
chega o reino eterno centralizado em uma Nova Jerusalém (caps. 40-48).
George Ladd concluiu dizendo que "a profecia do Ezequiel tem a mesma
estrutura básica que a de Apocalipse 20".3 O erudito apocalíptico Jeffrey
Vogelgesang declarou: "João [em sua ordem de Apoc. 19:11 a 21:8]
As Profecias do Tempo do Fim 547
4
segue o modelo do Ezequiel 34 a 48". Isto significa que uma análise
básica da ordem dos eventos futuros tal como aparecem em Ezequiel
(caps. 37-40) é essencial para um enfoque correto de Apocalipse 19 a 21.
Esta comparação é obrigatória se se reconhecer que "João, o profeta
cristão banido, modelou sua obra sobre o livro do Ezequiel, o grande
profeta do desterro babilônico".5 A estrutura paralela do Apocalipse com
Ezequiel levou a Vogelgesang à seguinte conclusão: "Esta é uma prova
conclusiva de que Daniel utilizou diretamente a Ezequiel".6
Em resumo, um estudo do milênio de Apocalipse 20 requer uma
análise não só de seu contexto imediato, mas também do amplo contexto
dos livros proféticos de Israel no Antigo Testamento. Desta dupla
perspectiva, o contexto imediato e o mais amplo, discernimos a intenção
de João de colocar o reino messiânico do milênio depois da segunda
vinda de Cristo.

A Visão do Armagedom: O Fim da Humanidade Pecadora

"Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama


Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de
fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que
ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de
sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os
exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho
finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela
ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente,
pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu
manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS
SENHORES" (Apoc. 19:11-16).
Apocalipse 19 apresenta uma representação muito vívida da vinda
de Cristo e da batalha do Armagedom, antecipada brevemente em
Apocalipse 16:13-16 e 17:12-14. Cristo é descrito como o Guerreiro
vitorioso que desce do céu sobre um cavalo de batalha dirigindo um
exército imenso de anjos (Apoc. 19:11, 19; cf. Mat. 24:31; 25:31). Como
As Profecias do Tempo do Fim 548
o Messias-Rei (ver Apoc: 5:5), vem para reclamar este planeta como seu
domínio legítimo. Em sua cabeça há "muitos diademas" (19:12). Nem o
dragão com suas sete cabeças (12:3) nem a besta com seus dez chifres
(13:1) receberam a autoridade do Criador para reinar sobre a
humanidade. Cristo volta como o legítimo "Rei dos reis e Senhor dos
senhores" (19:16). Ele sozinho está autorizado pelo Pai a governar sobre
a terra. Ele sozinho executará a vontade de Deus porque é "o Verbo de
Deus" (v. 13), a manifestação da vontade de Deus para a humanidade.
Em quatro descrições simbólicas, todas tiradas dos profetas, Cristo é
descrito como o Rei-Juiz de toda a terra. A revelação de que o Senhor
ressuscitado executará as predições do juízo hebraico constitui uma
mensagem assombrosa.
A. "Está vestido com um manto tinto de sangue" (Apoc. 19:13).
B. "Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as
nações" (Apoc. 19:15).
C. "Ele mesmo as regerá com cetro de ferro" (Apoc. 19:15).
D. "E, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus
Todo-Poderoso" (Apoc. 19:15).
Estas quatro descrições de juízo indicam como se levará a cabo o
fim da era da igreja a justiça retributiva de Deus, tal como aparece em
Isaías 11, 34, 63, Joel 3 e Salmo 2.7 João usa as metáforas dos profetas
para expressar o juízo de Deus sobre o Império Babilônico, um juízo que
desdobra a "ira de Deus" na segunda vinda. Apocalipse 19 enfatiza o fim
de toda a vida sobre o planeta.
"Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com grande voz,
falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a
grande ceia de Deus, para que comais carnes de reis, carnes de
comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros,
carnes de todos, quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes"
(Apoc. 19:17, 18).
O convite do céu às aves de rapina para assistir à grande ceia de
Deus está em contraste deliberado com o convite anterior: "Bem-
aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro!"
As Profecias do Tempo do Fim 549
(Apoc. 19:9). Evidentemente, Deus proporcionará ambos os banquetes:
um para Babilônia por ocasião do Armagedom, e outro para Israel no
monte Sião (18:4; 14:1). As ceias representam destinos opostos: o gozo
mais elevado do companheirismo com Cristo no céu e a angústia
inexprimível da separação total de Deus na terra. Esta divisão da
humanidade em duas classes foi apresentada durante o sexto selo (6:15-
17; 7:1-7). Em outras palavras, Deus proporcionará ou vida eterna ou
morte eterna. A responsabilidade iniludível do homem é escolher entre o
Cordeiro e a besta, entre Cristo e o anticristo.
Qual é o significado de um anjo de Deus "posto em pé no sol"
convidando a todas as aves de rapina "que voam pelo meio do céu" à
ceia de Deus? Sugere uma proclamação universal tão importante como a
dos três anjos de Apocalipse 14:6-12 que também voam "pelo meio do
céu". Agora a convocação celestial se dirige a todos os que fizeram caso
omisso do rogo anterior de Apocalipse 14 e que rechaçaram o convite de
Deus para estar na caia de bodas do Cordeiro. Esta chamada ao
Armagedom segue o antigo estilo oriental de entrar em combate: "Vem a
mim, e darei a tua carne às aves do céu e às bestas-feras do campo (1
Sam. 17:44). Inclusive Moisés advertiu ao Israel infiel: "O teu cadáver
servirá de pasto a todas as aves dos céus e aos animais da terra; e
ninguém haverá que os espante" (Deut. 28:26). Uma advertência similar
se aplica a todos os que se aliam aos poderes anticristãos.
Entretanto, a principal raiz hebraica da visão que João teve do juízo
de Cristo sobre o mundo apóstata, é a de Ezequiel 38 e 39. Este profeta
descreveu o assalto de Gogue e de seus aliados sobre o Israel de Deus
em seu solo pátrio no tempo do fim nas seguintes palavras:
"Virás, pois, do teu lugar, das bandas do Norte, tu e muitos povos
contigo, montados todos a cavalo, grande ajuntamento e exército numeroso;
e subirás contra o meu povo de Israel, como uma nuvem, para cobrir a terra;
no fim dos dias, sucederá que hei de trazer-te contra a minha terra, para que
as nações me conheçam a mim, quando eu me houver santificado em ti os
seus olhos, ó Gogue... Porque disse no meu zelo, no fogo do meu furor, que,
naquele dia, haverá grande tremor sobre a terra de Israel... Porque chamarei
As Profecias do Tempo do Fim 550
contra Gogue a espada, sobre todos os meus montes, diz o Senhor JEOVÁ;
a espada de cada um se voltará contra seu irmão. E contenderei com ele por
meio da peste e do sangue; e uma chuva inundante, e grandes pedras de
saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, e sobre as suas tropas, e sobre
os muitos povos que estiverem com ele" (Ezeq. 38:15-22, RC).

"Nos montes de Israel, cairás, tu, e todas as tuas tropas, e os povos


que estão contigo; a toda espécie de aves de rapina e aos animais do
campo eu te darei, para que te devorem" (Ezeq. 39:4, RA).

"Tu, pois, ó filho do homem, assim diz o Senhor Jeová: Dize às aves de
toda espécie e a todos os animais do campo: Ajuntai-vos, e vinde, vinde de
toda parte para o meu sacrifício, que eu sacrifiquei por vós, sacrifício grande
nos montes de Israel, e comei carne, e bebei sangue...E vos fartareis, à
minha mesa, de cavalos, e de carros, e de valentes, e de todos os homens
de guerra, diz o Senhor Jeová" (Ezeq. 39:17-20, RC).

O Apocalipse de João estende agora a descrição dos mortos pelo


Messias além da lista de nações que aparecem em Ezequiel 39. No
Armagedom, os abutres se alimentarão com "carne de todos, livres e
escravos, pequenos e grandes" (Apoc. 19:18). João descreve a matança
das multidões de Babilônia, reunidas para fazer guerra contra Deus e seu
Messias, como algo universal e total. O mundo inteiro será um "monte
de matança", um Har Magedon.8 O Apocalipse intencionalmente
aumenta o campo de batalha da predição de Ezequiel a uma escala
universal. Finalmente, "todas as pessoas" sobre a terra estarão envoltas.
Chama-se às aves "que voam pelo meio do céu" para que se fartem da
carne de todos os guerreiros que foram mortos, que lutaram contra o
Governante divino.
Muitos observaram que Apocalipse 19 não descreve uma batalha
real entre o céu e a terra. Como podem seres mortais oferecer resistência
contra o Guerreiro divino quando descer da parte oriental do céu? O
Apocalipse revela que quando se abrir o céu e a terra tremer por causa de
um terremoto universal, o temor paralisará a todo o mundo.
As Profecias do Tempo do Fim 551
"Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos
e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos
dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e
escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro,
porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?"
(Apoc. 6:15-17).
Sem dúvida a impressão é que não sobreviverá nenhum ser humano
rebelde naquele dia. João enfatiza em Apocalipse 19 que "outros" foram
mortos com a espada que saía da boca do que montava o cavalo (v. 21).
A profecia de Daniel da pedra que caiu do céu já expressa que o reino
messiânico esmiuçará a imagem metálica do mundo e converterá a todos
os habitantes em pó: "E o vento os levou, e deles não se viram mais
vestígios" (Dan. 2:35; também os vs. 44, 45).

A Unidade Maior de Apocalipse 19-21

As palavras "Fiel e Verdadeiro" [pistós kay alezinós] com respeito


a Cristo (Apoc. 19:11), e ao que estava no trono no capítulo 21:5,
expressam a continuidade entre Apocalipse 19 e 21. Charles H. Giblin
observou três unidades correlacionadas dentro da narração de Apocalipse
19:11-21:8.9
A. A vitória do Rei de reis sobre a besta, o falso profeta e os reis da
terra (19:11 -21);
B. A vitória sobre Satanás na culminação do milênio (20:1-10);
C. O juízo do trono, com a conquista da morte e o sepulcro e o
advento da Nova Jerusalém (20:11-21:8).

O centro focal destas divisões é (A) o Armagedom; (B) o reino


milenial; e (C) o juízo final em forma sucessiva. O tema que forma um
arco com estas três seções é o Juízo, que revela o resultado final tanto
dos fiéis como dos ímpios (ver Apoc. 19:11; 20:4, 12, 13; 21:7, 8).
Este arranjo literário de Apocalipse 19 a 21 revela quão perigoso é
desconectar as visões do milênio de seu contexto imediato e depois
As Profecias do Tempo do Fim 552
manifestar uma opinião dogmática do milênio de Apocalipse 20. Pelo
contexto sabemos que o juízo de Cristo sobre o dragão, ou Satanás, terá
lugar só depois que ele tenha destruído a besta, o falso profeta e as
multidões às quais levaram por mau caminho (ver Apoc. 19:19-21; 20:1,
2, 10). Isto significa que a vinda de Cristo será seguida pela prisão de
Satanás no abismo no começo do milênio.
O ponto crítico aqui é a questão seguinte: O milênio de Apocalipse
20, apresenta uma recapitulação de toda a história da igreja ou é só a
conclusão do plano de redenção? Para responder esta pergunta vamos
comparar Apocalipse 20 com o capítulo 12, porque o capítulo 12
apresenta uma narração direta da era da igreja.

Comparação de Apocalipse 12 e 20

As narrações destes dois capítulos tratam com o dragão e a igreja de


Cristo. Enquanto que o capítulo 12 mostra como atacou o dragão a
esposa de Deus [a igreja], como buscou destruir o Messias, como
continuou guerreando contra os anjos no céu, e finalmente como assalta
os santos na terra, o capítulo 20 inverte completamente este quadro.
William H. Shea resume brevemente este contraste:
"Por outro lado, em Apocalipse 20 se inverte o quadro [de Apoc. 12]. O
capítulo começa com um quadro de uma derrota inicial do diabo, e termina
com um quadro de sua derrota final. Mas entre estes dois pólos
encontramos aos membros vitoriosos da igreja, especialmente os mártires, a
quem o dragão tinha derrotado previamente em um sentido físico limitado.
Agora viveram na ressurreição e estão reinando com Cristo como
sacerdotes para Deus".10
Joel Badina oferece uma comparação mais detalhada:
"Primeiro, no capítulo 12, Satanás é arrojado do céu à terra, enquanto
que no capítulo 20 é pacote e arrojado no abismo (20:3). Segundo, no
capítulo 12 Satanás é "o enganador de todo o mundo" (12:9), enquanto que
no capítulo 20 "não pode enganar mais as nações" (20:3). Terceiro, o
capítulo 12 descreve os cristãos como mártires expostos à morte (12:11),
enquanto que no capítulo 20 está o tempo de sua ressurreição (20:4, 6). O
As Profecias do Tempo do Fim 553
capítulo 12 é um tempo de maldição (12:12), enquanto que o capítulo 20 é
um tempo de bênção (20:6). Por conseguinte é evidente que os capítulos 12
e 20 não descrevem o mesmo período de tempo, e 20:1 não se projeta para
trás, ao século I, como o faz o capítulo 12:1. Antes, o capítulo 20:1-10 deve
situar-se em forma imediatamente seguinte à era cristã".11
Esta avaliação comparativa de Apocalipse 12 e 20 leva à conclusão
de que o milênio de Apocalipse 20 não recapitula a era da igreja que
aparece em Apocalipse 12. O milênio segue à era cristã. Shea e outros
assinalaram que Apocalipse 12 está colocado dentro das séries históricas
do livro (caps. 1-14), enquanto que Apocalipse 20 está colocado dentro
do final das séries escatológicas de juízo (caps. 15-22). Dessa forma,
Apocalipse 12 revela a atividade do diabo na história da igreja, enquanto
que Apocalipse 20 revela o juízo que Deus faz do diabo na consumação
final. Esta comparação confirma a conclusão anterior do contexto
imediato de que o milênio segue a parousia em Apocalipse 19.
Outra indicação da ordem cronológica de Apocalipse 19 e 20 se
encontra na evidência interna da mesma visão do milênio. Durante os
"mil anos" os mártires que rechaçaram aceitar a marca da besta do tempo
do fim e que perderam sua vida (ver Apoc. 13:15-17; 19:20), voltam de
novo para viver e reinam com Cristo como sacerdotes de Deus:
"Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada
autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do
testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos
quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não
receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo
durante mil anos.... Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo
é aquele que tem parte na primeira ressurreição" (Apoc. 20:4-6).
Esta ressurreição dos santos fiéis tem lugar na segunda vinda de
Cristo (Apoc. 19:11-16). Paulo tinha ensinado que o segundo advento e a
ressurreição dos santos ocorrerão simultaneamente:
"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de
arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo
ressuscitarão primeiro" (1 Tes. 4:16).
As Profecias do Tempo do Fim 554
O enfoque contextual referente a Apocalipse 20 aponta claramente a
um milênio futuro, porque a ressurreição dos santos terá lugar na
segunda vinda, quando os santos ressuscitados sejam feitos imortais.

Paulo e o Milênio

Paulo não considerou a ressurreição física de Jesus Cristo como um


acontecimento isolado mas sim como a garantia da ressurreição dos
mortos:
"Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as
primícias dos que dormem. Visto que a morte veio por um homem, também
por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em
Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo"
(1Cor. 15:20-22).
O apóstolo continua ensinando que nem todos os mortos
ressuscitarão ao mesmo tempo, mas sim haverá uma certa seqüência
cronológica no cumprimento das promessas de Deus a respeito da
ressurreição:
"Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois,
os que são de Cristo, na sua vinda. E, então, virá o fim, quando ele entregar
o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como
toda potestade e poder" (1 Cor. 15:23, 24).
As palavras "cada um por sua própria ordem" [tágma: grupo,
classe] indicam que estão incluídas diferentes classes de pessoas: Cristo,
as "primícias", já ressuscitado; depois [épeita: depois] "os que são de
Cristo" serão ressuscitados na vinda de Cristo (cf. 1 Tes. 4:16, 17; Mat.
24:30, 31).
A distância temporária entre a ressurreição de Cristo e a de seu
povo em seu segundo advento, digamos 2.000 anos mais tarde, não se
mencionam, mas está claramente subentendido. Em outra parte Paulo
declara que os santos vivos serão "transformados" e receberão a
imortalidade ao mesmo tempo que os santos ressuscitados, quer dizer, na
parousia (1 Tes. 4:17; 1 Cor. 15:51, 52). Depois o apóstolo declara que
As Profecias do Tempo do Fim 555
só logo [éita] da ressurreição dos santos virá o fim [to télos]. Alguns
interpretam isto como "o resto da humanidade",12 porque abrange a
todos os que não pertencem a Cristo. Cristo não entregará o reino a Deus
o Pai até depois que tenha destruído a "todos os seus inimigos" incluindo
o último inimigo, a "morte":
"Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos
debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte" (1 Cor. 15:25,
26).
Paulo não menciona um intervalo de tempo entre a ressurreição dos
santos na parousia e o fim quando será destruída a morte. Entretanto,
vários intérpretes reconhecem que "um segundo intervalo indefinido vai
entre a parousia e o fim".13 Paulo declara que a terceira classe [tágma]
de pessoas ressuscitadas, aparentemente os que não pertencem a Cristo,
seguem logo ao segundo grupo. O transpasse do reino de Cristo ao Pai
não terá lugar no segundo advento, e sim depois da destruição da morte.
Quanto a isto, é legítimo conectar 1 Coríntios 15:23-28 com Apocalipse
20. Ambas as passagens são parte do cânon das Escrituras e tratam dos
mesmos eventos depois do segundo advento.
As visões de João dos mil anos ampliam o ensino do Paulo em 1
Coríntios 15. O Apocalipse revela que o último inimigo do homem, a
morte será vencida só depois da destruição de Satanás no lago de fogo e
enxofre no fim do milênio: "E a morte e o Hades foram lançados ao lago
de fogo. Esta é a segunda morte" (Apoc. 20:14).
A destruição da morte e do Hades é o ato final do reino de Cristo
sobre todos os seus inimigos. Paulo viu este mesmo ato como a
culminação de "o fim" (1 Cor. 15:24, 26). Nas visões de João, a morte
será vencida só depois do milênio, quando tiver sido destruído Satanás
(Apoc. 20:10, 14).
Em resumo, concluímos que enquanto que Paulo não ensina
explicitamente um reinado milenário de Cristo depois de seu parousia,
abre espaço para uma futura "cristocracia" assim em 1 Coríntios 15:24.
As Profecias do Tempo do Fim 556
A Suposta Duração do Reino Messiânico no Judaísmo

Alguns escritos judaicos apocalípticos anteriores à era cristã contêm


a expectativa de um reino de Deus temporário antes do juízo final e a
criação de um mundo novo. Este período intermediário pacífico não está
conectado com o Messias e sua duração não está especificada claramente
nestes escritos pré-cristãos: "O Apocalipse das semanas" em I Enoc
91:12-17; 93:1-10; Jubileus 23:26-31; Os oráculos sibilinos, livro 3:46-
62, 781-784. II Enoc 32 e 33 (ao redor do ano 50 de nossa era) contêm a
passagem mais antiga da literatura judia que indica que o período
intermédio de paz sobre a terra durará mil anos. 14
Durante a segunda metade do primeiro século de nossa era se fez
uma distinção nos escritos rabínicos entre a era messiânica e a era por
vir. Alguns escritos apocalípticos judeus de perto do fim do século I
declaram que o reino messiânico é temporário e que está conectado com
a iminente queda de Roma, por exemplo, o Apocalipse de Baruc (ou II
Baruc 30) e o Apocalipse de IV Esdras.
O Quarto Livro de Esdras contém a passagem mais concludente de
que o Messias morrerá depois de 400 anos junto com todos os outros
seres humanos. Depois dessa era messiânica, ocorrerão os seguintes
eventos:
"O mundo (presente) voltará ao silêncio primitivo durante sete dias, tal
como tinha estado em sua primeira origem; deste modo ninguém
sobreviverá. depois de (esses) sete dias, o mundo novo que não foi
suscitado ainda despertará e o que é corruptível será aniquilado. A terra
devolverá os que dormem nela, o pó aos que descansam em seu silêncio; os
sepulcros às almas que lhes foram confiadas. O Altíssimo se revelará
(sentado) em seu trono de juízo (Quarto livro do Esdras 7:30-33)".15

Durante a era cristã os primitivos rabinos judeus discutiram a idade


da era messiânica, concordando só no ponto de que seria um período
limitado entre a era presente e a era por vir. A lista destes períodos de
tempo propostos flutua de 40 ou 70 anos, de 400 ou 600 anos a 1.000 ou
As Profecias do Tempo do Fim 557
16
2.000 anos e até a 7.000 mil anos. Aparentemente, não havia uma
forma ortodoxa de opinião.
Entretanto, alguns apocalipticistas insistiram em que a história era
uma recapitulação da semana da criação. Assim como Deus tinha
trabalhado seis dias e descansado no sétimo (Gên. 1, 2), assim a história
duraria seis "dias" de mil anos cada um, para ser seguida pelo sábado do
reinado do Messias de mil anos, depois do qual viria um "oitavo dia"
sem fim, o reino eterno (II Enoc 32, 33). Esta idéia anterior ao
cristianismo se repete no cristão de começos do século II, a Epístola de
Barnabé 15, e em outros escritos cristãos posteriores.
Especialmente digna de menção é a declaração do rabino Eliézer
(90 d.C.), quem representou uma tradição que ensinou que o Messias
reinaria por mil anos.17 Esta é a autoridade rabínica mais antiga que
reconhece o período messiânico com uma duração de 1.000 anos. Por
conseguinte, alguns eruditos modernos insistem em que João quis dizer
mil anos literais em Apocalipse 20, porque isto encaixa bem dentro do
pensamento judeu contemporâneo. Entretanto, Beasley-Murray declara
que João desejou indicar primeiramente o caráter teológico do milênio,
"quer dizer, como o sábado da história".18
Embora seja profundamente significativo interpretar "o sábado de
descanso de Deus como um tipo do reino" e que a "criação prefigura
uma nova criação",19 esta interpretação não deve ofuscar a nova
revelação do Apocalipse de João de que o milênio é uma cristocracia.
Portanto, ainda permanece a pergunta básica: Como se relaciona
Apocalipse 20 com os escritos do Antigo Testamento?

Os Antecedentes do Milênio no Antigo Testamento

Algumas raízes veterotestamentárias do milênio iluminam nosso


entendimento. A primeira conexão literária com a Bíblia Hebraica é a
palavra "abismo", que se usa duas vezes (Apoc. 20:1, 3) para referir-se à
As Profecias do Tempo do Fim 558
"prisão" (v. 7) em que o dragão estará encerrado por mil anos. Como um
termo por si mesmo, o termo abismo funciona no Apocalipse (9:1, 2, 11
[cf. Sal. 88:11]; 11:7; 17:8) e em outros lugares do Novo Testamento
(Luc. 8:31; Rom. 10:7) como sinônimo de tumba, morte e destruição, e
do cárcere da "besta" e dos demônios. Quando Cristo expulsou a alguns
espíritos malignos do homem diabólico da Galiléia, "rogavam-lhe que
não os mandasse para o abismo" (Luc. 8:31), ou ao reino dos mortos.
Na versão grega do Antigo Testamento (a LXX) usa-se abismo em
Gênesis 1:2 para descrever a terra desabitada antes da semana da criação:
"A terra estava desordenada e vazia, e as trevas estavam sobre a face do
abismo [abussos]". Parece que o Novo Testamento tomou esta descrição
pré-histórica de uma terra vazia e caótica, como seu protótipo para o
conceito de abismo como um poço escuro e como o lugar da prisão dos
demônios. Luz adicional sobre o abismo em Apocalipse 20 provém da
perspectiva profética do Jeremias.
"Olhei para a terra, e ei-la sem forma e vazia; para os céus, e não
tinham luz.... Olhei, e eis que não havia homem nenhum, e todas as aves
dos céus haviam fugido. Olhei ainda, e eis que a terra fértil era um deserto, e
todas as suas cidades estavam derribadas diante do Senhor, diante do furor
da sua ira" (Jer. 4:23-26).
Na profecia do Antigo Testamento, o dia do juízo está caracterizado
em geral por uma perspectiva dupla: o dia de Jeová histórico para uma
nação em particular, e o dia de Jeová do juízo final para todo o mundo.
Este ponto de vista tipológico do reino futuro de Deus que não se
preocupa com as distâncias cronológicas nem pelas distinções étnicas ou
geográficas, apresenta o juízo nacional como um modelo muito pequeno
para o juízo do mundo do tempo do fim. O foco está no mesmo Deus
que, tanto no presente como no futuro, atuará na mesma forma para o
juízo e a salvação. George Ladd resumiu desta maneira esta dupla
perspectiva do panorama profético: "O dia do Senhor histórico está
descrito em contraste com a tela de fundo do dia escatológico do
Senhor".20
As Profecias do Tempo do Fim 559
A visão de Jeremias da futura devastação da "terra" tem uma
dimensão apocalíptica para o juízo final, quando a devastação da terra e
do céu alcançará seu alcance universal. Naquele dia apocalíptico do
juízo, toda a terra voltará a seu estado primitivo e de novo chegará a ser
um abismo: escuro, desordenado e vazio (ver Jer. 4:23, 28; cf. Gên. 1:2).
Esse dia apocalíptico, como o Novo Testamento torna claro, é o
segundo advento de Cristo (ver 2 Tes. 1:6-9; Apoc. 6:12-17; 19:11-21).
Então toda a terra chegará a ser um grande abismo, a condição da terra
por um milênio, um cárcere exclusivamente para Satanás e seus espíritos
demoníacos. De acordo com a escatologia paulina, o juízo da segunda
vinda de Cristo não deixa pessoa viva sobre a terra. Os santos, seja por
ressurreição ou translação, todos serão levados à casa do Pai (ver João
14:1-3; 1 Tes. 4:16, 17); todos os ímpios jazerão no pó pela glória
consumidora da aparição de Cristo (ver Heb. 10:26, 27; 2 Tes. 1:6-10;
2:8; Apoc. 6:15-17; 16:17-21; 19:21). Se nenhum ser humano
permanecer vivo sobre a terra, é evidente que Satanás, detido no abismo
desta terra convertida em ruínas, está atado por uma "grande cadeia" de
circunstâncias que Cristo mesmo ocasionou com seu segundo advento.
Durante o milênio, Satanás estará guardado "para que não engane mais
as nações" (Apoc. 20:3, CI), porque já não pode influir nem nos justos
que estão no céu ou nos ímpios que estão mortos.

Diferença Entre a Experiência do Evangelho e a Realidade


Apocalíptica

A linguagem figurada de Apocalipse 20:1-3 não deve confundir-se


com a realidade da vitória de Cristo sobre Satanás durante seu ministério
terrestre. Parece injustificado identificar a prisão apocalíptica de Satanás
em Apocalipse 20 como o poder do evangelho para "atar" a Satanás onde
quer que o Espírito de Cristo liberta as pessoas de seu domínio (ver Mat.
12:28, 29). Se a "atadura" de Satanás se levou a cabo quando Cristo
morreu na cruz, como pode Satanás ser solto de sua prisão como se
As Profecias do Tempo do Fim 560
anuncia em Apocalipse 20:7? Devemos ser muito cuidadosos para não
confundir a obra de Cristo em seu segundo advento com a obra que fez
em seu primeiro advento.
O propósito do Apocalipse de João não é repetir os quatro
Evangelhos que se centram no primeiro advento de Cristo, mas sim
transmitir uma revelação progressiva do reinado de Cristo que culmina
em seu segundo advento. Em Apocalipse 20, o tempo da atadura de
Satanás não só é diferente da dos Evangelhos, mas também que é
diferente sua natureza. Anthony Hoekema declarou que a atadura de
Satanás em Apocalipse 20 significa que a influência de Satanás "está
pelo menos controlada de tal forma que não pode evitar a propagação do
evangelho a todas as nações da terra", e que "as nações não podem
conquistar a igreja, mas sim a igreja está conquistando às nações".21
Mas esta opinião não respeita a natureza radical da atadura
apocalíptica de Satanás, seu confinamento no abismo de um mundo em
ruínas, "para que não engane mais às nações" (Apoc. 20:3, CI). Mas
minimizar a atadura de Satanás até o ponto de dizer que o milênio é uma
era de desenvolvimento próspero da igreja, não toma a sério a natureza
ilimitada da atadura de Satanás no Apocalipse. G. C. Berkouwer
rechaçou qualquer relativização da atadura de Satanás em Apocalipse
20.22 Igualmente Robert Mounce vê subentendida "a cessação completa
de sua influência na terra" antes que uma restrição das atividades de
Satanás.23
Permanece o fato inegável que séculos depois da cruz, Satanás e
seus falsos apóstolos ainda são capazes de enganar o mundo ao cegar as
mentes dos incrédulos ao evangelho (ver 2 Cor. 4:4; 11:13, 14). O diabo
ainda "rodeia como leão a rugir" (ver 1 Ped. 5:8, BJ) e "agora opera nos
filhos de desobediência" (Ef. 2:2). Ainda depois de sua derrota moral na
cruz (ver Col. 2:15) Satanás ainda está enganando com êxito o mundo
(ver 2 Tes. 2:9, o), e está "enganando o mundo inteiro" (ver Apoc. 12:9;
13:14; 19:20). João inclusive escreveu que "o mundo inteiro está no
maligno" (1 João 5:19). A cruz despojou a Satanás de todos os seus
As Profecias do Tempo do Fim 561
direitos perante Deus, mas não de seu poder para enganar a humanidade.
Só o segundo advento o despojará desse poder, como descrevem as
visões de Apocalipse 19 e 20.

O Milênio Indicado com Antecipação em Duas Profecias Hebraicas

Duas passagens do Antigo Testamento arrojam luz sobre o


significado apocalíptico do milênio: Isaías 24:21-23 (dentro do
apocalipse de Isaías, caps. 24-27) e Ezequiel 36 a 39.
Isaías descreve o juízo final como abrangendo todo o cosmos e toda
a terra:
"Naquele dia, o Senhor castigará, no céu, as hostes celestes, e os reis
da terra, na terra. Serão ajuntados como presos em masmorra, e encerrados
num cárcere, e castigados depois de muitos dias. A lua se envergonhará, e o
sol se confundirá quando o Senhor dos Exércitos reinar no monte Sião e em
Jerusalém; perante os seus anciãos haverá glória" (Isa. 24:21-23).
Nesta passagem apocalíptica podem observar-se vários
característicos: (1) o profeta vê o juízo de Deus que dita sentença não só
sobre os homens mas também sobre os anjos, o "no céu, as hostes
celestes" (cf. Dan. 10:13, 20; Sal. 82; Ef. 6:12); (2) todos esses poderes
rebeldes do céu e da terra serão "amontoados como presos em
masmorra" ("poço", BJ); (3) serão "amontoados... num cárcere", serão
castigados "depois de muitos dias", quer dizer, depois de um período
longo não especificado de encarceramento. Nestes três aspectos do
apocalipse de Isaías não se pode falhar em observar o conceito germinal
do milênio com sua atadura de Satanás no abismo por mil anos. G. R.
Beasley-Murray reconhece que "a idéia essencial de Apocalipse 19:19-
21:3 apresenta breve extensão em Isaías 24:21 e os versos seguintes".24
Esta conexão de Isaías 24 com o milênio é amplamente reconhecida
pelos comentadores.
Isaías declara que enquanto que os poderes malignos estão presos,
toda a terra jaz em um estado de desolação. "A terra será de todo
As Profecias do Tempo do Fim 562
devastada e totalmente saqueada, porque o Senhor é quem proferiu esta
palavra" (Isa. 24:3; cf. os vs. 19, 20). Aqui temos de novo o quadro de
um abismo universal.
Na visão de Isaías, o juízo final de Deus compreende várias fases:
primeiro os poderes malignos serão capturados mas não serão castigados
imediatamente; ficarão na prisão "muitos dias". Este juízo preliminar
será seguido pelo juízo final levado a cabo pelo próprio Deus. Os
poderes que estão contra Deus estão simbolizados por uma serpente-
dragão de muitas cabeças (ver Isa. 27:1; na LXX, drákon; cf. Sal. 74:13,
14), descobrindo outro elo com o simbolismo de Apocalipse 20:2.
O apocalipse de Isaías revela que o juízo cósmico causa a
ressurreição dos mortos do fiel povo do pacto de Deus: "Os vossos
mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão... e a terra dará
à luz os seus mortos" (Isa. 26:19). Com o toque de uma "grande
trombeta" Deus reunirá "um por um" os fiéis, para que possam participar
do banquete apocalíptico de Jeová "para todos os povos" sobre o monte
santo (ver Isa. 27:12, 13; 25:6-9; 24:23). No Apocalipse de João, este
banquete se transforma em "a ceia de bodas do Cordeiro" (Apoc. 19:6-
9), quando a noiva, a igreja de todas os tempos, unir-se-á para sempre
com seu Salvador. Esta festa de bodas é o característico central do reino
milenial de Deus no céu, que tem lugar depois que os santos mártires
voltem à vida na primeira ressurreição (Apoc. 20:4, 5).
O profeta Ezequiel também fala dos eventos do tempo do fim na
terminologia apocalíptica de períodos sucessivos. No esquema profético
de Ezequiel, Jeová começa a ressuscitar o povo do novo pacto que está
em Babilônia e a restaurar este novo Israel à terra prometida (ver Ezeq.
36:24-32; 37:1-14). Este fiel Israel de Deus será governado para sempre
pelo Rei messiânico: "Meu servo Davi será rei sobre eles, e todos eles
terão um só pastor" (37:24, 25). A glória da shekinah estará entre eles
para sempre: "Estará em meio deles meu tabernáculo, e serei a eles por
Deus, e eles me serão por povo" (v. 27).
As Profecias do Tempo do Fim 563
Entretanto, "depois de muitos dias" (Ezeq. 38:8) de existência
pacífica desta teocracia messiânica, Gogue, o rei de Magogue, o líder das
nações confederadas do mundo, atacará a terra de Israel. O Israel de
Deus de maneira nenhuma entrará em combate. Não precisa fazê-lo
porque Jeová será o guerreiro divino que pelejará nesta guerra santa só
com armas de seus depósitos. "Contenderei com ele por meio da peste e
do sangue; chuva inundante, grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre
farei cair sobre ele, sobre as suas tropas e sobre os muitos povos que
estiverem com ele. Assim, eu me engrandecerei, vindicarei a minha
santidade e me darei a conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão
que eu sou o Senhor" (Ezeq. 38:22, 23; também 39:6).
Ezequiel colocou a rebelião final de Gogue depois do reino
messiânico que aparece nos capítulos 36 a 39. Só depois que esta
rebelião das forças do mal tenha sido esmagada pela intervenção divina,
será purificada a terra e estará pronta para a Nova Jerusalém (Ezeq. 40-
48). Não é maravilha que G. Ernest Wright declarasse: "O livro que
apresenta o esboço mais claro dos eventos escatológicos é o de
Ezequiel".25

O Apocalipse de João Mostra a Consumação

As sete visões de juízo de João que se encontram em Apocalipse


19:11 a 21:8 constituem uma unidade independente, modelada segundo o
esboço dos eventos escatológicos de Ezequiel 36-48. A perspectiva
apocalíptica de João descreve o juízo de Deus sobre Babilônia durante a
sétima praga (Apoc. 16-18), que introduz a vinda do Messias como o
Guerreiro divino do céu que destruirá os perseguidores de sua igreja, a
"besta", o "falso profeta" e os "reis de todo o mundo" (Apoc. 19:19-21;
também 16:12-21).
Então Cristo traz a seus fiéis a libertação e a ressurreição dos
mortos (ver Apoc. 20:4), o regozijo da ceia de bodas na Nova Jerusalém
no céu (Apoc. 19:6-9; 21:2, 7), e a autoridade de julgar sobre tronos
As Profecias do Tempo do Fim 564
celestiais em seu reino durante mil anos (20:4). Este reinado milenial
terminará com o descida da Nova Jerusalém do céu à terra. Satanás será
solto de seu abismo, porque agora, ao fim dos mil anos, terá lugar a
ressurreição do resto da humanidade (20:5, 7; cf. João 5:28, 29; 1 Cor.
15:24). Este acontecimento prepara o cenário para a obra final de engano
de Satanás e o ataque universal dos inimigos de Deus à Nova Jerusalém,
"o acampamento dos santos", de acordo com Apocalipse 20:7-10.
Para indicar a continuidade básica desta guerra apocalíptica com a
da visão de Ezequiel, João identifica os agentes de Satanás com Gogue e
Magogue (Apoc. 20:8). Os paralelos seguintes mostram como se
correspondem os esboços de Ezequiel e João:
1. A ressurreição de um Israel espiritualmente morto da tumba de
Babilônia para ser um povo do novo pacto (ver Ezeq. 36:24-28; 37:1-
14). João vê a ressurreição das testemunhas decapitadas de Cristo que
recusaram adorar a "besta" babilônica e a sua "imagem" (Apoc. 20:4).
2. Como a nova teocracia, Israel vive pacificamente na terra
prometida sob o governo do novo Davi, o Messias (ver Ezeq. 37:1528).
João vá os santos ressuscitados reinar com Cristo por mil anos (Apoc.
20:4-6).
3. Depois de "muitos dias" o ataque final do norte contra Israel
pelos exércitos de Gogue, rei de Magogue, recebe uma derrota
esmagadora por meio do fogo que desce do céu (Ezeq. 38, 39). João vê
que depois do reinado de mil anos dos santos, os exércitos de "Gogue e
Magogue" atacam o acampamento do povo de Deus, a santa cidade,
desde todas as direções, mas são aniquilados pelo fogo que desce do céu
(Apoc. 20:7-9).
4. Ezequiel viu a teofania de Jeová em uma Nova Jerusalém, que
tinha o nome: "O Senhor está ali" (Ezeq. 48:35, NBE). João vê a Nova
Jerusalém descender do céu à terra como a esposa do Cordeiro (Apoc.
21:1, 2). Então se realizará plenamente a promessa: "Eis o tabernáculo
de Deus com os homens, e com eles habitará..." (v. 3).
As Profecias do Tempo do Fim 565
Enquanto que o objetivo anticristão da guerra apocalíptica é em
essência o mesmo tanto em Ezequiel como em João, podem observar-se
modificações que ensinam um princípio importante de interpretação
apocalíptica. As restrições étnicas e geográficas da linguagem figurada
do velho pacto de Ezequiel ("meu povo Israel", "minha terra", Gogue
atacará "a terra do Israel", a teofania estremecedora de Jeová, etc.), tudo
isto está transformado pelo Apocalipse de João em um conflito
completamente cristocêntrico. O Apocalipse de João é um apocalipse
cristão caracterizado pela integração do evangelho nas escatologias do
Antigo Testamento. Essa integração coloca firmemente a Cristo e a seus
verdadeiros seguidores no centro de todas as profecias do Antigo
Testamento. Esta é a novidade essencial dos Evangelhos cristãos e da
escatologia do Novo Testamento.
A perspectiva do tempo do fim do Antigo Testamento é básica para
entender o triunfo do Deus do pacto no conflito entre Deus e Satanás. As
profecias de Israel sobre o castigo divino de todos os poderes rebeldes
recebem seu cumprimento cristológico no Apocalipse de João. O rei de
Israel, "meu servo Davi" (Ezeq. 37:34), chega a ser Cristo, o "Rei dos
reis" (Apoc. 19:16; 22:16). O Israel messiânico escatológico (Ezeq.
37:26-28; 38:11, 12) chega a ser a igreja triunfante de Cristo no reino de
Cristo (Apoc. 20:4). Gogue, o rei de Magogue e seus aliados políticos
(Ezeq. 38:2, 3) chegam a ser o próprio Satanás e seus aliados terrestres,
quer dizer, o resto da humanidade levantada na segunda ressurreição mas
enganada por Satanás para uni-los em uma rebelião universal contra
Cristo (Apoc. 20:7-9; 21:2).
Como a profecia de Ezequiel tem a mesma ordem de
acontecimentos que os capítulos 20 a 22 do Apocalipse, inferimos que o
Apocalipse revela a interpretação cristã da consumação de Ezequiel 36 a
48, começando com o segundo advento e a ressurreição dos santos fiéis.
Portanto, a visão do milênio de João transmite uma mensagem para o
presente: aos judeus, que Jesus é o Messias verdadeiro e que sua igreja é
a semente verdadeira de Abraão e o Israel messiânico; aos gentios, que
As Profecias do Tempo do Fim 566
Cristo é o Juiz do mundo; à igreja, que Jesus vindicará a seus seguidores
e os recompensará em seu reino; e a Satanás e seus anjos, que sua
execução é inapelável.

O Significado Teológico do Milênio

João descreve sua visão principal do milênio em três versículos:


"Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada
autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do
testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos
quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não
receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo
durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se
completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado
e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a
segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de
Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos" (Apoc. 20:4-6).
É perigosa a tentação a ler muita teologia preconcebida nesta
passagem. Precisamos estar em guarda contra uma exegese dogmática
que encontra um texto que está procurando. Em primeiro lugar, devemos
reconhecer que não há indicação neste texto de que João está
descrevendo um reino sobre os sobreviventes terráqueos da batalha do
Armagedom ou de seus descendentes que supostamente nasceram
durante o milênio. Em realidade, como alguns notaram, "a passagem
[Apoc. 20:1-6] não diz nada a respeito de um reinado terrestre de Cristo
sobre um reino principalmente judeu".26
O cenário da visão que João teve do reinado milenial dos santos
ressuscitados parece estar no céu antes que na terra como geralmente se
supõe. João viu "tronos" sobre os que estavam sentados aqueles que
"receberam autoridade de julgar"; "concedeu-lhes autoridade para julgar"
(CI); "encarregado-os de pronunciar sentença" (NBE).
Leão Morris faz este comentário importante sobre Apocalipse 20:4:
"Ele [João] usa a palavra 'trono' 47 vezes em total, e exceto para o trono
As Profecias do Tempo do Fim 567
de Satanás (Apoc. 2:13) e para o trono da besta (Apoc. 13:2; 16:10),
todos parecem estar no céu. Estaria de acordo com isto se ele aqui
entendeu um reino no céu".27 Anthony Hoekema reconhece que "o
cenário da visão de João agora se mudou para o céu... os versículos 4-6
representam o que acontece no céu".28 Hoekema menciona uma
característica importante da estrutura de Apocalipse 20: concretamente, a
mudança de cenário da terra ao céu, que é tão comum nas visões
apocalípticas.
William Shea, em um artigo instrutivo, mostrou como a alternância
das dimensões horizontais e verticais ocorre tanto em Apocalipse 12
como no 20.29 Para ser específicos, o centro focal de Apocalipse 12
muda da terra (vs. 1-6) ao céu (vs. 7-12), e depois outra vez à terra (vs.
13-17). Esta pauta "A-B-A" de cenas consecutivas começa de maneira
similar com a terra (20:1-3), depois muda ao céu (vs. 4-6), e finalmente
volta para a terra (vs. 7-10). Este ponto de vista de um reino milenial
celestial é uma opinião minoritária entre os intérpretes pré-milenistas e
está incorporada nas crenças fundamentais dos adventistas do sétimo
dia.30
Em uma visão anterior João viu deus no trono no céu, e "ao redor
do trono havia vinte e quatro tronos; e vi sentados nos tronos a vinte e
quatro anciões, vestidos de roupas brancas, com coroas de ouro em suas
cabeças" (Apoc. 4:4). Esta visão intrigante de Apocalipse 4 parece
sugerir que Deus como presidente do tribunal comissionou a 24
representantes dentre os santos da terra para reinar e julgar junto com ele
agora (vejam-se os caps. XII e XIII desta obra). Mas em Apocalipse 20,
João vê sentados sobre tronos celestiais os que sacrificaram suas vidas
por causa de sua fidelidade ao "testemunho do Jesus" e a "a palavra de
Deus" (V. 4), especialmente durante a prova final de fé com respeito à
marca da besta (V. 4). Aqui há uma diferença fundamental entre as duas
visões do trono de Apocalipse 4 e 20. Os tronos de juízo de Apocalipse
20 estão conectados de algum modo à vindicação dos mártires e seu
direito a governar o planeta terra. Mounce relaciona a cena do trono em
As Profecias do Tempo do Fim 568
Apocalipse 20 ao trono celestial da visão de Daniel 7:13 e 14. Portanto,
sugere que os tronos de Apocalipse 20 representam "um tribunal
celestial".31
O elo que une Apocalipse 20 e Daniel 7 é o tema da vindicação
divina dos santos do Altíssimo que foram oprimidos, e sua recompensa
para governar ao mundo. A diferença fundamental entre as duas cenas de
juízo é que na visão de Daniel, os santos perseguidos são julgados e
vindicados pelo juiz divino: "Até que veio o Ancião de Dias e fez justiça
aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o
reino" (Dan. 7:22). Entretanto, em Apocalipse 20, estes santos estão
sentados com Cristo sobre tronos celestiais e recebem autoridade para
julgar: "E viveram e reinaram com Cristo mil anos" (Apoc. 20:4). Aqui
há uma clara progressão na história, e indica que as sessões do tribunal
celestial em Daniel 7 e Apocalipse 20 se sucedem uma à outra. Também
é evidente o progresso no tempo ao comparar as "almas" dos que foram
decapitados "por causa da palavra de Deus e o testemunho (do Jesus)"
durante o quinto selo (6:9), e que clamavam pelo santo juízo e a
vingança de Deus (v. 10), e as "almas" dos mesmos mártires que viveram
e reinaram com Cristo mil anos em Apocalipse 20:4. Estes mártires
participaram da primeira ressurreição! Não podemos imaginar uma
vindicação maior. A honra que Deus dá de reinar com Cristo é para os
vencedores.
Cristo já tinha prometido que voltaria e levaria a seus discípulos à
casa de seu Pai no céu (João 14:1-3). Também prometeu que todos os
vencedores se sentariam com ele em seu trono no céu (ver Apoc. 3:21;
15:1-4). Estas promessas sugerem com força que durante o milênio os
santos não estarão situados em um mundo desolado. Ao contrário, seu
reino inclui a responsabilidade de ter uma parte no reino de Deus e em
sua avaliação do pecado. Esta segurança renovada em Apocalipse 20:4-6
proporciona o consolo aos santos caluniados de que sua "derrota" e
"vergonha" serão logo invertidas completamente em triunfo pelo tribunal
As Profecias do Tempo do Fim 569
de Deus. Em realidade, os santos executados ("decapitados") chegarão a
ser os juizes de seus perseguidores.
É significativo que o Apocalipse, com seu apaixonado desejo de
justiça, assegura aos santos que Deus os ressuscitará à vida eterna e os
exaltará durante o milênio como sacerdotes e reis para atuar como juízes
e assessores junto com Cristo. Todo o consolo para os santos
perseguidos se concentra na bem-aventurança mais significativa do
Apocalipse: "Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na
primeira ressurreição" (Apoc. 20:6). Não voltarão a morrer nunca mais:
"A segunda morte não tem poder sobre estes" (V. 6).

Deve Aplicar-se Isaías 65 e 66 a um Milênio Sobre a Terra?

Chegou a ser uma tradição no dispensacionalismo designar Isaías


65 e 66 como o tempo das "bênçãos mileniais" durante as quais a
maldição sobre a terra "suprime-se só parcialmente, como se indica pela
continuidade da morte".32 Também afirmam que os que nasçam no
milênio "não nascerão isentos de pecado, de maneira que a salvação será
necessária",33 enquanto que os que tenham chegado a ser "abertamente
rebeldes serão executados (Isa. 66:20, 24; Zac. 14:16-19)".34
A pressuposição de que Isaías 65 e 66 e promessas similares do
reino de Deus devam aplicar-se ao milênio de Apocalipse 20 fica como
uma inferência que não é indispensável e que não está garantida se se
permite que o Novo Testamento defina as promessas do reino. Isaías
deve entender-se à luz do evangelho de Cristo. O novo pacto tem feito
que o antigo seja obsoleto e posto a um lado (ver Heb. 10:9; 8:13). Esta é
uma verdade comprovada de fé cristã! Declarar que os santos no milênio
já não celebrarão mais a ceia do Senhor mas sim voltarão a oferecer
sacrifícios animais em "comemoração" da cruz de Cristo, não só é o
"maior obstáculo",35 e sim um rechaço para aceitar o testemunho claro
As Profecias do Tempo do Fim 570
da Escritura em Hebreus 8 a 10 com o propósito de defender um dogma
problemático.36
Vistos na perspectiva do Novo Testamento, os capítulos 65 e 66 de
Isaías devem aceitar-se como a vislumbre antecipada do plano de Deus
expressa no idioma e as limitações do antigo pacto – o culto de
sacrifícios de sangue e oferendas de animais e as leis levíticas –, o que
não é a última palavra de Deus na história da salvação, e que não se deve
isolar do novo pacto de Cristo e da revelação progressiva da vontade de
Deus.
Apocalipse 21 e 22 ensinam como se cumprirá Isaías 65 e 66: seu
cumprimento será maior que qualquer expectativa judaica do antigo
pacto. Apocalipse 21 e 22 transformam as predições de Isaías, e as
aplicam ao estado eterno na terra em uma forma melhor que o que se
entendeu antes. Os profetas e o Apocalipse não representam duas
perspectivas diferentes que devem ajustar-se lado a lado. São uma e a
mesma. O Senhor ressuscitado adianta a velha perspectiva a uma
promessa melhor e mais perfeita em que a morte e o pecado já não são
uma parte do reino de Deus e Cristo sobre a terra feita nova. O
cumprimento será maior que uma leitura literal das velhas promessas: "E
do primeiro não haverá memória, nem mais virá ao pensamento" (Isa.
65:17; também 1 Cor. 2:9). Não existe requisito para forçar Isaías 65 e
66 em uma forma literalista no milênio de Apocalipse 20. Para uma
exposição adicional do Isaías 65 e 66, ver o APÊNDICE B, primeira
parte.

O Juízo Pós-Milênio

Antes que o diabo e suas hostes sejam aniquilados no "lago de


fogo", Deus vindica seu nome caluniado em uma forma majestosa diante
do universo: por meio das bocas dos ímpios. Chega a sessão final do
tribunal para Satanás e seus seguidores, humanos e angélicos. Agora se
declara a justiça em termos forenses, reconhecem-se o bem e o mal e se
As Profecias do Tempo do Fim 571
estabelecem para sempre a origem, a natureza e as conseqüências do
pecado.
"Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja
presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também
os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então,
se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos
foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito
nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além
entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um,
segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para
dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se
alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro
do lago de fogo" (Apoc. 20:11-15).
Esta cena do tribunal em que o Criador é Juiz, vai além de todas as
demais descrições do juízo final tanto no Antigo Testamento como no
Novo Testamento. Os redimidos que ressuscitaram na primeira
ressurreição no começo do milênio (Apoc. 20:6) ficam isentos deste
juízo final do mundo. A passagem aplica em sua extensão total o que
insígnia o Evangelho de João:
"Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto
não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (João 3:18).
"Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se
acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem,
para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a
ressurreição do juízo" (João 5:28, 29).

O juízo pós-milênio trata exclusivamente com os que rechaçaram


definitivamente a Jesus Cristo. Embora são chamados para dar conta de
suas vidas "pelas coisas que estavam escritas nos livros" (Apoc. 20:12;
cf. Isa. 65:6), João esclarece que o assunto decisivo é sua relação com
Cristo. Diz João: "E o que não se achou inscrito no livro da vida foi
arrojado ao lago de fogo" (Apoc. 20:15; ver também 13:8). João "indica
que o único critério de salvação é o fato de que nosso nome esteja escrito
no livro da vida. O critério decisivo no juízo universal é o de pertencer a
As Profecias do Tempo do Fim 572
Cristo... portanto, o juízo não pode ser a não ser a revelação universal
das decisões que já foram feitas".37 Ellen White comentou o seguinte:
"O mundo ímpio todo acha-se em julgamento perante o tribunal de
Deus, acusado de alta traição contra o governo do Céu. Ninguém há para
pleitear sua causa; estão sem desculpa; e a sentença de morte eterna é
pronunciada contra eles".38
A sabedoria de Deus, sua justiça e bondade estão colocadas além de
toda dúvida. O caráter de Deus fica vindicado diante do universo. Todas
as criaturas no céu e na terra, justos ou ímpios, inclinam seus joelhos
ante o nome do Jesus e "confessam que Jesus Cristo é o Senhor, para
glória de Deus Pai" (Fil. 2:10, 11). Isto significa a coroação final do
Filho de Deus, que o exalta "sobre todo nome" (v. 9). Todos os seres
vivos no céu e na terra reiteram a doxologia: "O Cordeiro que foi
imolado é digno de tomar o poder, as riquezas, a sabedoria, a fortaleza, a
honra, a glória e o louvor" (Apoc. 5:12).
Todos estão satisfeitos porque "seus juízos são verdadeiros e justos"
(Apoc. 19:2). Na lei de Israel, uma testemunha maliciosa que acusava
falsamente a um irmão de um delito era depois "indagado
minuciosamente" (Deut. 19:18, BJ), e sentenciado a receber o castigo
que tinha procurado para seu irmão (ver os vs. 19, 20). Uma
"investigação completa" tomará lugar no juízo em que atuarão os santos
durante o milênio (ver Apoc. 20:4; 1 Cor. 6:2, 3). Não mais somente pela
fé, mas sim por convicções arraigadas, todos os homens se unirão ao
coro dos anjos: "Certamente, Senhor Deus Todo-poderoso, teus juízos
são verdadeiros e justos" (Apoc. 16:7; também 19:1, 2; 15:3, 4).
Esta opinião "coloca a ênfase não sobre um reino terrestre de glória
para os redimidos, e sim sobre a vindicação de Deus, a exoneração e a
honra de seu nome em toda sua relação com o problema do pecado".39 O
milênio de Apocalipse 20 oferece a última teodicéia do Criador. Por
meio do dom de seu Filho e pelo sacrifício abnegado de Cristo, o amor e
a justiça de Deus permanecem para sempre como uma união
As Profecias do Tempo do Fim 573
inexpugnável ante toda a criação. Todas as acusações de Satanás contra
o caráter e o governo de Deus ficam enterradas para sempre.
O reino de Cristo sobre os inimigos de Deus alcançará este ponto
culminante na conclusão do milênio. Esmagará a cabeça da serpente sob
seus pés (Gên. 3:15; Rom. 16:20). Como o arquimentiroso e
arquiassassino (João 8:44), Satanás será "arrojado no lago de fogo e
enxofre" (Apoc. 20:10). Cristo extirpará todo o mal do universo, de
maneira que "não deixará nem raiz nem ramo" (Mau. 4.1). Todos os que
se identificaram com o pecado encontrarão seu lugar no "fogo eterno
preparado para o diabo e seus anjos" (Mat. 25:41). "E o que não se achou
inscrito no livro da vida foi arrojado ao lago de fogo". Esta é a segunda
morte" (Apoc. 20:15, 14).
O assunto final da salvação ou condenação é se se está "inscrito no
livro da vida do Cordeiro" (Apoc. 21:27). Os que nasceram de cima
podem estar absolutamente seguros de ter este registro divino (ver Luc.
10:20; Filip. 4:2, 3; 3:20; Heb. 12:22, 24). A salvação é um dom de Deus
que não está apoiada sobre obras santificadas a e sim somente sobre a
obra de Cristo (ver João 3:16; 5:24). Nossas obras só nos servem como
evidência de nossa união com o Cordeiro. "A fé sem obras é morta"
(Tiago 2:26). Nesse tempo, depois do milênio, realizar-se-á plenamente a
perspectiva apocalíptica do Paulo:
"E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai,
quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e
poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos
debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte... Quando,
porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também
se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja
tudo em todos" (1 Cor. 15:24-26, 28).
Então pode começar a eternidade: "Novos céus e nova terra, nos
quais habita a justiça" (2 Ped. 3:13; também Apoc. 21:1; Sal. 115:16). A
salvação cristã inclui o paraíso restaurado sobre a terra como uma
realidade universal, social e política.
As Profecias do Tempo do Fim 574
Referências
Para a Bibliografia, ver nas páginas 576-580.

1 Jack S. Deere, "Premillennialism in Revelation 20:4-6"


[Premilenialismo em Apocalipse 20:4-6], Bibliotheca Sacra
(Biblioteca Sagrada] 135 (1978), p. 61.
2 Schnackenburg, Rudolf. Gottes Herrschaft und Reich [A Soberania
e o Reino de Deus], p. 241.
3 Ladd, El Apocalipsis de Juan: Un comentario, p. 269.
4 Vogelgesang, The Interpretation of Ezekiel in the Book of
Revelation, p. 65.
5 Ibid., p. 72.
6 Ibid., P. 69 (ver sua lista comparativa na p. 68).
7 Para uma análise detalhada, ver LaRondelle, Chariots of Salvation.
The Biblical Drama of Armageddon, cap. 8.
8 Ver LaRondelle, "The Etymology of HAR-MAGEDON (Rev.
16:16)", AUSS 27 (1989), pp. 69-73.
9 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p.
177.
10 Shea, Estudios selectos sobre interpretación profética, pp. 46, 47.
11 Badina, "The Millennium", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p.
236.
12 Ver Arndt e Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New
Testament and Other Early Christian Literature, p. 810.
13 Ladd, Una teología del Nuevo Testamento, p. 559; também a nota
37.
14 Ver Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, t. 1, p. 156.
15 Ver Aranda Pérez-García Martínez-Pérez Fernández, Literatura
judía intertestamentaria, p. 330.
16 Strack-Billerbeck, Comentario del Nuevo Testamento con el
Talmud y la Midrás, t. 3, pp. 823-827. Resumido em G. Beasley-
As Profecias do Tempo do Fim 575
Murray, Revelation, pp. 288 e 289, e no J. M. Ford, Revelation,
pp. 352 e 353.
17 Strack-Billerbeck, Comentario del Nuevo Testamento con el
Talmud y la Midrás, p. 3, P. 827.
18 Beasley-Murray, Revelation, p. 289.
19 Ibid.
20 Ladd, The Presence of the Future, p. 67.
21 Hoekema, The Meaning or the Millennium: Four Views, p. 164.
22 Berkouwer, The Return of Christ, p. 305.
23 Mounce, The Book of Revelation, p. 353.
24 Beasley-Murray, Revelation, p. 286.
25 G. Ernest Wright, Interpreter's Bible Commentary, t. I, p. 372.
26 Hoekema, The Meaning or the Millennium: Four Views, p. 172.
27 Morris, The Revelation of St. John, p. 236.
28 Hoekema, The Bible and the Future, p. 230.
29 Shea, "The Parallel Literary Structure of Revelation 12 and 20",
AUSS 23 (1985), pp. 37-54.
30 Ver Creencias de los adventistas del séptimo día, t. 2, cap. 26.
31 Mounce, The Book of Revelation, p. 355.
32 Walvoord, The Millennial Kingdom, pp. 317, 318.
33 J. Dwight Pentecost, Eventos del porvenir (Maracaibo, Venezuela:
Editorial Libertador, 1977; trad. de Luis G. Galdona), p. 371.
34 Walvoord, The Millennial Kingdom, p. 302.
35 Ibid., p. 311.
36 Para uma avaliação e critica extensa, ver LaRondelle, The Israel of
God in Prophecy. Principles of Prophetic Interpretation.
37 Rissi, The Future of the World: An Exegetical Study of Revelation
19:11-22:15, pp. 36, 37.
38 Ellen White, GC 668.
39 Badina, em "The Millennium" Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p.
242.
As Profecias do Tempo do Fim 576
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As Profecias do Tempo do Fim 581
O SIGNIFICADO DA NOVA JERUSALÉM
Apocalipse 21 e 22

"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova
Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva
adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono,
dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com
eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes
enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá
luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele
que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E
acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-
me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu,
a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor
herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. Quanto,
porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos
impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que
lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda
morte" (Apoc. 21:1-8).
Esta visão de João continua a série de visões ("Vi") que começaram
com a do segundo advento em Apocalipse 19:11. Alguns inclusive
consideram Apocalipse 21:1-8 como "a parte mais importante de seu
livro".1 Apocalipse 20 e 21 estão unidos por muitos elos. Ambos falam
de "céu e terra" (20:11; 21:1), do "mar" (20:13; 21:1), do "livro da vida"
(20:12; 21:17), do "trono" de Deus (20:11; 21:3), da "segunda morte"
(20:14; 21:8) e do "lago de fogo" (20:15; 21:8). Estas conexões
confirmam que a visão da Nova Jerusalém é a culminação da longa
cadeia de visões que aparecem em Apocalipse 19:11 a 21:8. Em outras
palavras, a visão de "um novo céu e uma terra nova" (21:1) segue à
segunda vinda de Cristo (19:11-16) e ao milênio.
A descida da presença constante de Deus sobre a terra renovada é o
propósito do plano de Deus e de seus juízos sobre a humanidade
pecadora. Por conseguinte, a visão de Deus morando com os homens em
As Profecias do Tempo do Fim 582
Apocalipse 21:1-8 forma o ponto culminante de todas as visões
anteriores de João, e a consumação da esperança dos mártires. Roy
Naden diz bem. "Sob a inspiração do Espírito Santo, os dois últimos
capítulos de seu livro [o de João] formam o cântico mais sublime".2
Agora João recebe visões repetidas da Nova Jerusalém (Apoc. 21:1-
8, 10-27; 22:1-6), que revelam progressivamente o esplendor da cidade
de Deus. O fato de que João volta a ouvir a voz de Deus desde seu trono
ordenando que escrevesse palavras que são "fiéis e verdadeiras" (21:5) é
significativo. Desta maneira Deus autentica a veracidade do que João
viu. As palavras de Deus estão formuladas nas promessas do Antigo
Testamento que eram familiares ao povo de Israel. João usa estas alusões
para enfatizar a continuidade do pacto de Deus. Destaca seu
cumprimento repetindo sete vezes que Deus e o Cordeiro estão unidos
inseparavelmente com a Nova Jerusalém (21:9, 14, 22, 23, 27; 22:1, 3).
Dessa maneira João informa à igreja que suas visões da Nova Jerusalém
são em essência diferentes das esperanças nacionais judaicas de seu
tempo. Sua esperança futura se centraliza em Cristo Jesus e em seu povo
universal.
Ao adotar a linguagem gráfica de Isaías e Ezequiel, João descreve
"a realidade indescritível do céu... o quadro mais detalhado que alguma
vez se deu na Escritura da realidade incomparável que Deus preparou
para seus filhos".3

O Significado Religioso de Jerusalém no Antigo Testamento

Os nomes de Jerusalém e o monte Sião são usados em forma


sinônima no Antigo Testamento (ver Miq. 3:12; 4:8; Isa. 10:12).
Jerusalém devia sua santidade ao traslado que fez Davi da arca de Jeová,
o símbolo do trono de Deus ao monte Sião (2 Sam. 6; Sal. 132:13-16).
Sião funcionou como o centro da inspiração, salvação e adoração divinas
(vejam-se os salmos 46, 48, 76). O Salmo 46 não glorifica a Jerusalém
em si, exceto como o lugar onde Deus mora:
As Profecias do Tempo do Fim 583
"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas
tribulações... Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o
santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; jamais será
abalada; Deus a ajudará desde antemanhã" (Sal. 46:1, 4, 5).
O Salmo 46 termina com uma perspectiva escatológica da
majestade de Deus:
"Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações,
sou exaltado na terra" (Sal. 46:10).
Espraiando-se sobre esta esperança paradisíaca, o salmista descreve
a Jerusalém em termos ideais: "Há um rio, cujas correntes alegram a
cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo" (Sal. 46:4).
Como pôde o salmista dizer que Jerusalém tinha um "rio" quando não
possui nenhum arroio, exceto um pequeno manancial perto de Giom?
(ver 1 Reis 1:33, 38). Sua visão percebeu o tempo de salvação
messiânico.
Vários profetas também descreveram a Jerusalém escatológica
como possuindo uma correnteza no marco do paraíso restaurado (ver Isa.
33:21; 35:6, 7; Joel 3:18; Ezeq. 47:1-12; Zac. 14:8). Dessa maneira, a
cidade histórica de Davi chegou a ser na "teologia de Sião" de Jerusalém
um símbolo da esperança escatológica, um tipo profético do reino
messiânico. Dois profetas fizeram de Jerusalém a parte central de seu
panorama futuro e portanto merecem nossa atenção.
Ezequiel mostrou que Deus não estava atado incondicionalmente a
Jerusalém, mas sim a julgaria por sua apostasia religiosa, moral e social
(Ezeq. 8-11). Deus abandonaria o templo e voltaria só para um Israel
renovado moralmente (36:24-28; 37:26, 27), promessa que se amplia na
descrição do novo templo em Ezequiel 40 a 48. Esse templo da visão de
Ezequiel é de origem divina. É "uma realidade celestial criada pelo
próprio Jeová e transplantada para permanecer na terra".4 Virá à terra só
quando o Israel de Deus seja purificado e quando o Messias tenha vindo
a Israel (37:24, 25). A característica do novo templo será um rio doador
de vida fluindo debaixo do templo (47:1-12). Este característico forma
um elo com o jardim do Éden (ver Gên. 2:8-14).
As Profecias do Tempo do Fim 584
Isaías viu, em sua perspectiva profética, como os gentios irão à
Nova Jerusalém com a confissão religiosa: "Só contigo está Deus, e não
há outro que seja Deus" (Isa. 45:14; cf. 1 Cor. 14:25). Tudo estará unido
por sua fé messiânica antes que por laços étnicos ou políticos. Isaías
emprega os símbolos das pedras preciosas e jóias resplandecentes para
descrever a beleza de seus muros e portas (Isa. 54:12), desenho que
evoca a volta da opulência paradisíaca (ver Ezeq. 28:11-15; Isa. 51:3).
Embora isto assinala a uma qualidade transcendente da Nova Jerusalém,
não há indicação em Isaías de que esta cidade tem uma origem
extraterrestre. Sua glória sobrenatural emana da presença de Deus. A
essência de seu atrativo único não é tanto sua beleza externa como a
promessa de que Jeová voltará e de novo estará unido com seu povo (Isa.
60:1, 2, 19; 62:11 ).
Portanto, a cidade recebe um nome novo (Isa. 62:2). Já não
necessitará mais a luz do sol ou a da lua, porque "o Senhor será a tua luz
perpétua, e o teu Deus, a tua glória" (60:19; cf. Apoc. 21:23; 22:5). Isaías
mescla seu conceito da Sião do tempo do fim com seu motivo de uma
nova criação usando as cores realistas de um paraíso terrestre (Isa.
65:17-25). Embora tenha anunciado mais explicitamente que nenhum
outro profeta a criação de "novos céus e terra nova" (v. 17), esta
descrição poética da Jerusalém renovada permanece em continuidade
com o contexto histórico (v. 20). Permanece como uma realidade
terrestre embora transformada. Sua bênção mais rica não será a
longevidade ou a prosperidade, a não ser a presença de Jeová para
responder suas orações (v. 24). Mas também estará presente o Messias,
porque terá chegado o jubileu messiânico (61:1-3, 10; cf. Luc. 4:17-21).
Por esta análise breve do panorama profético de Jerusalém que
temos nos salmos, no Isaías e no Ezequiel, sabemos que a cidade de
Jerusalém desempenha o papel de tipo de uma Jerusalém futura e mais
gloriosa. No Apocalipse de João vemos como se cumprirá esta promessa,
muito além das expectativas dos profetas hebreus, na Nova Jerusalém de
Apocalipse 21 e 22. Roberto Badenas o resumiu bem nestas palavras:
As Profecias do Tempo do Fim 585
"Como uma recapitulação mestra da história humana e da história da
salvação, a Nova Jerusalém chega a ser a realização da teocracia ideal de
Deus, o símbolo perfeito da reunião do povo de Deus, o lugar da
comunicação perfeita entre o Criador/Redentor e suas criaturas redimidas. A
Nova Jerusalém será para os novos céus e nova terra o que a antiga
Jerusalém nunca conseguiu ser para o Israel e o mundo". 5
Depois de tudo, a Nova Jerusalém desce de cima, como uma criação
nova de Deus, e por conseguinte será completamente diferente da velha
Jerusalém.

Esperanças Judaicas Durante o Período Intertestamentário

Muito pouco tempo depois da revolta macabéia (168-164 a.C.), os


"sonhos-visão" do Apocalipse Etiópico de Enoc, escrito por volta dos
anos 165-161 a.C., predisseram que com a aparição do Messias e a
ressurreição dos justos mortos se construiria uma Nova Jerusalém, "uma
casa nova, maior e mais alta que a primeira, e a pôs no lugar da que tinha
sido recolhida" (1 Enoc 90:29).6 Alguns escritos apocalípticos judeus
depois de 70 d.C. expressaram a esperança de uma Nova Jerusalém
"preparada antes", quando Deus decidiu criar o paraíso (2 Baruc 4:3).7
"Aparecerá a esposa como uma cidade e se verá a terra que está
atualmente oculta... Com efeito, se manifestará meu Filho o Messias com
os que estão com ele, e encherá de gozo os (justos) que sobrevivam
durante quatrocentos anos" (4 Esdras 7:26-28).8
Aparentemente, alguns conciliábulos de judeus piedosos contavam
com que Deus havia "preparado e edificado" (4 Esdras 13:36) uma Sião
ou Nova Jerusalém no céu que desceria à terra com o amanhecer do novo
mundo. O autor do livro Apocalipse Eslavônico de Enoc (2 Enoc 55:2),
também afirmou que a Nova Jerusalém estava situada no céu.
A literatura rabínica não continuou com estas expectativas judaicas,
exceto na época posterior dos Midrash.9 Os rabinos em general
acreditavam que imediatamente depois do juízo dos ímpios, Deus ou o
As Profecias do Tempo do Fim 586
10
Messias edificariam uma Nova Jerusalém sobre a terra. Eduard Lohse
declara que "nenhum rabino diz que a Jerusalém celestial descerá à
terra".11
As portas e as muralhas da Nova Jerusalém seriam construídas com
safiras e com pedras preciosas e suas ruas com puro mármore branco
(Tobias 13:16, 17). A cidade seria tão grande, que sua grande muralha se
estenderia tão longe como Jope ou Damasco para albergar a "a raça
celestial dos judeus bem-aventurados" no futuro (Oráculos sibilinos
5:250-252).12 Deus viveria na cidade que levaria o nome de Deus. 13 A
característica central desta Jerusalém reconstruída seria o novo templo. 14
Comentam Strack-Billerbeck: "Para o pensamento judeu, era
completamente patente que a Nova Jerusalém não careceria de templo. A
declaração do vidente cristão, 'e não vi nela templo' (Apoc. 21:22) teria
sido inconcebível na velha sinagoga".15
Esta recapitulação das diversas esperanças no judaísmo tardio
indica que a esperança apocalíptica de João em uma Nova Jerusalém sem
um templo é uma esperança distintivamente cristã, que se centraliza na
presença de Cristo.

A Teologia de Paulo de uma Jerusalém Celestial

Paulo continuou o ensino de Cristo, de que Jerusalém e seu templo


já não eram o lugar onde Deus habitava (ver Mat. 23:38; Gál. 4:25;
também Heb. 12:22). Paulo escreveu que a igreja apostólica tinha
chegado a ser o templo terrestre onde Deus estava presente: "Porque nós
somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e
andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (2 Cor.
6:16; cf. Lev. 26:12; Jer. 32:38; Ezeq. 37:27; também Ef. 2:19-21).
Esta verdade do evangelho não compete com a eficácia do templo
do novo pacto no céu, onde Cristo ministra como nosso Sumo Sacerdote
e intercessor e de onde envia seu Espírito vivificante (Heb. 7:25; 8:1, 2;
As Profecias do Tempo do Fim 587
10:19; Rom. 8:34; 1 João 2:1). Paulo cria que a Jerusalém "de cima" é a
"mãe" de todos os crentes cristãos, porque todos são renascidos por seu
Espírito (Gál. 4:26, 29).
Enquanto que no judaísmo rabínico a idéia de uma Jerusalém
celestial se concebia em termos de um equivalente da Jerusalém terrestre
em topografia e mobiliário, Paulo contempla a Jerusalém celestial como
isenta de todas as noções geográficas, étnicas e nacionais. A Jerusalém
celestial é a pátria dos cristãos, onde Cristo está e em que todos os
cristãos têm sua cidadania (políteuma) registrada no livro da vida do
Cordeiro (Filip. 3:20; 4:3; também Heb. 12:22, 23; Apoc. 21:27). Por
Apocalipse 21:27 chega a ser evidente que o livro da vida do Cordeiro é
a lista dos que estão inscritos como cidadãos da Jerusalém celestial.
A cidade celestial não é uma estrutura vazia; é a comunidade
adoradora da igreja na terra com os anjos e os redimidos no céu (Heb.
12:22). Alguns identificaram a Nova Jerusalém com a igreja. Entretanto,
deve conservar-se a distinção entre a cidade celestial e a igreja na terra,
da mesma maneira que Hebreus 12 declara que a igreja se aproximou
hoje a Cristo e à Jerusalém celestial (vs. 22-24). Como Cristo está ao
mesmo tempo no céu e (por meio de seu Espírito) na terra, assim
também existe uma relação espiritual íntima entre a Jerusalém celestial e
a igreja sobre a terra. Assim como Cristo, que descerá fisicamente do céu
à terra (Filip. 3:20), assim também a Jerusalém celestial descerá do céu à
terra (Apoc. 21:2)! O objeto da esperança cristã não é meramente o "céu"
e sim a cidade celestial: a Nova Jerusalém. Nossa cidadania atual nesta
santa cidade representa mais que a segurança da salvação presente.
Também nos dá a certeza de nossa entrada na cidade de descanso e gozo
eternos (ver Heb. 4:9; 11:13-16). Assim como Abraão, os cristãos têm
confiança absoluta procurando a "cidade... por vir" (Heb. 13:14). Virá
depois do juízo final.
É chamativo que a esperança de uma Jerusalém celestial se descreva
no contexto de uma polêmica antijudaica, não só no Gálatas 4:26 e 27 e
em Hebreus 12:18-24, mas também em Apocalipse 3:9 e 12. João
As Profecias do Tempo do Fim 588
destaca a verdade evangélica de que só o Cristo ressuscitado "tem a
chave de Davi, que abre e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre"
(Apoc. 3:7). À luz de seu significado original em Isaías 22:22, esta
declaração ensina "que a Cristo pertence toda a autoridade com respeito
à admissão ou exclusão da cidade de Davi, a Nova Jerusalém".17 Cristo é
a fonte de segurança para os crentes fiéis de que herdarão a cidade
celestial. Diz Jesus:
"Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais
sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade
do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu
Deus, e o meu novo nome" (Apoc. 3:12).

A Nova Jerusalém em Contraste com Babilônia

A Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22 se descreve com a mesma


imagem simbólica de uma "mulher" ou "esposa" como se tem descrito a
igreja no Novo Testamento (ver 2 Cor. 11:2; Ef. 5:25-27). A visão que
teve João da Jerusalém celestial como a "a noiva, a esposa do Cordeiro"
(Apoc. 21:9), conecta a Jerusalém vindoura com a formosa "mulher" que
aparece em Apocalipse 12:1 e 2. Na Nova Jerusalém a igreja já não
sofrerá por causa da perseguição ou da adoração apóstata. Por isso
Apocalipse 12 e 21 representam duas eras consecutivas: a era atual da
igreja e a era por vir.
A Nova Jerusalém está colocada em contraste com Babilônia, a
cidade prostituta. A prostituta tem gravado sobre sua fronte as palavras
"mistério: Babilônia, a grande" (Apoc. 17:5), e está representada em
Apocalipse 18 como a cidade condenada. "A mulher que viste é a grande
cidade que domina sobre os reis da terra" (v. 18). Este simbolismo duplo
de Babilônia (Apoc. 17, 18) contrapõe-se com o da Nova Jerusalém em
Apocalipse 21 e 22 por meio de uma antítese perfeita.
As Profecias do Tempo do Fim 589
Todos os habitantes da terra que não procurem refúgio no monte
Sião (Apoc. 14:1), pertencem a Babilônia; seus nomes não estão escritos
no livro da vida do Cordeiro (13:8). Estão obrigados a beber não só do
cálice do vinho de Babilônia mas também do cálice do vinho da ira de
Deus sem mescla de misericórdia (14:10). Esta ira divina a descreve
simbolicamente com a imagem da condenação de Sodoma e Gomorra
("com fogo e enxofre") (14:1; cf. Gên. 19:24), e a de Edom ("a fumaça
de sua tortura sobe pelos séculos dos séculos", Apoc. 14:11; cf. Isa. 34:9,
10). Esta linguagem figurada expressa a finalidade do juízo de Deus. Os
impenitentes nunca entrarão no descanso de Deus (Apoc. 14:11 ; cf. Sal.
95:11 ).

O Apocalipse de João põe em contraste a Jerusalém como a cidade


do Cordeiro (Apoc. 21:2, 9) com Babilônia como a cidade da besta
(caps. 17 e 18). É significativa a forma idêntica como as introduz o anjo
do juízo:

APOCALIPSE 17:1 APOCALIPSE 21:9


"Veio um dos sete anjos que têm as "Então, veio um dos sete anjos que
sete taças e falou comigo, dizendo: têm as sete taças cheias dos últimos
Vem, mostrar-te-ei o julgamento da sete flagelos e falou comigo, dizendo:
grande meretriz que se acha sentada Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa
sobre muitas águas". do Cordeiro".

Este arranjo literário ensina que a Nova Jerusalém é a única


alternativa para Babilônia. Ambas as visões desenvolvem mais
correspondências opostas (ver Apoc. 17:3-5 e 21:10-14). Ambas as
seções literárias sobre Babilônia (17:1-19:10) e a Nova Jerusalém (21:9-
22:6) concluem com a mesma segurança de que estas revelações
descansam não meramente sobre a autoridade de um anjo e sim sobre
Deus mesmo e, portanto, são "fiéis e verdadeiras":
As Profecias do Tempo do Fim 590
APOCALIPSE 19:9 APOCALIPSE 22:6
"Então, me falou o anjo: Escreve: "Disse-me [o anjo] ainda: Estas
...São estas as verdadeiras palavras de palavras são fiéis e verdadeiras".
Deus".

A reação de João de adorar ao anjo depois de cada visão recebe a


mesma exortação: "Adora a Deus!" (Apoc. 19:10; 22:8, 9). Enquanto que
tanto as seções sobre Babilônia e sobre Jerusalém começam e terminam
da mesma forma, seus contextos ampliam os contrastes entre a cidade
prostituta e a cidade santa.

A Segurança e Consolo Final do Apocalipse

Em Apocalipse 21 e 22 João revela "o último das últimas coisas", o


ponto culminante de todas suas visões e de toda a Bíblia. A revelação
principal é a aparição de uma nova criação e o descida da Nova
Jerusalém (21:1, 2), que será a consumação do propósito eterno de Deus
para o planeta terra. Deus garante de uma maneira explícita a
confiabilidade de suas promessas (v. 5). Uma voz que sai do trono de
Deus explica seu significado para a humanidade:
"Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de
Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e
Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a
morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram" (vs. 3, 4).
Estas palavras resumem a essência da esperança de todos os
profetas e santos. Disse um comentador a respeito desta passagem:
"Na verdade, é gozo inefável, porque aqui se descreve o propósito final
da igreja sofredora e a única recompensa que desejam realmente os
mártires de Cristo, quer dizer, o próprio Deus na companhia de todos os que
o amam".18
As palavras de João, "Vi novo céu e nova terra; porque o primeiro
céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe" (Apoc. 21:1),
As Profecias do Tempo do Fim 591
apontam ao novo ato criador de Deus que está confirmado por sua
declaração: "Eis que faço novas [kainá] todas as coisas!" (v. 5). O termo
grego kainós ("novo"), que se emprega 4 vezes nos versículos 1-5,
significa algo fundamentalmente novo, e enfatiza com mais vigor que o
termo néos o caráter de cumprimento escatológico.
Em sua visão anterior do grande trono branco, João declarou: "Vi
um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença
fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles" (Apoc. 20:11).
João já declara que a velha terra e seus céus atmosféricos serão
substituídos por uma nova criação. A nova característica dominante será
a cidade santa, a Nova Jerusalém. Sua perspectiva está afiançada sobre
este centro de existência para os redimidos. Vê a cidade Nova Jerusalém
"que descia do céu, da parte de Deus" (21:2). Portanto, não é uma velha
Jerusalém reconstruída na Palestina, e sim uma nova criação. Cumprirá a
esperança de Abraão, "que esperava a cidade que tem fundamentos, cujo
arquiteto e construtor é Deus" (Heb. 11:10). Pedro acrescenta a
esperança de uma sociedade transformada: "Atendo-nos a sua promessa,
aguardamos um céu novo e uma terra nova nos que habite a justiça" (2
Ped. 3:13, NBE).
Tanto Pedro como João fundamentam suas expectativas nas
predições de Isaías (ver Isa. 65:17-19; 66:22, 23). A promessa do pacto
de Deus será levada a cabo na Nova Jerusalém sobre a terra feita nova:
"Eis o tabernáculo [skené] de Deus com os homens [anthrópon]. Deus
habitará [literalmente, 'tabernaculará'] com eles. Eles serão povos de Deus
[literalmente 'povos'], e Deus mesmo estará com eles" (Apoc. 21:3).
A expressão que diz que Deus "habitará" com os "homens" é
profunda, porque recorda a presença redentora de Deus no antigo
tabernáculo [skené] de Israel: "E me farão um santuário, e habitarei no
meio deles" (Êxo. 25:8). Em segundo lugar, o verbo "habitar, fazer
morada" recorda João 1:14, onde se expressa a encarnação do Verbo de
Deus com as palavras: "Habitou [literalmente, 'acampou', 'pôs seu
tabernáculo'] entre nós".
As Profecias do Tempo do Fim 592
Dessa maneira a promessa da Nova Jerusalém conecta a glória de
Deus com a glória de Cristo e assegura à igreja que Deus deverá habitar
entre os "homens" em cumprimento de sua promessa do pacto, o que
significa que o primeiro advento de Cristo é a garantia da futura vinda de
Deus com os seres humanos. As expressões "homens" e "seus povos"
(em plural no texto original) indicam a inclusão de todos os crentes em
Cristo na sociedade do futuro. Inclusive serão abolidos os limites da
igreja e de todas as denominações religiosas. A raça humana sobre a
terra nova será o povo de Deus porque todos são "seus povos" (Apoc.
21:3). E ele estará "com eles" sempre como o "Deus-com-eles" (v. 3,
BJ).
O resultado desta comunhão com Deus é: "E lhes enxugará dos
olhos toda lágrima" (Apoc. 21:4). Aqui se repetem as promessas divinas
de Isaías 25:8, 35:10 e 65:19 para indicar seu cumprimento dramático na
Nova Jerusalém. Então se cumprirá a esperança mais elevada de todos os
santos: "Verão seu rosto..." (Apoc. 22:4). Este ver a Deus dos seres
humanos foi a esperança dos crentes hebreus:
"Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da
tua semelhança quando acordar" (Sal. 17:15).
"Depois que me arranquem a pele, já sem carne, verei deus; eu mesmo
o verei, e não outro, meus próprios olhos o verão. O coração me desfaz no
peito!" (Jó. 19:26, 27, NBE).
Esta foi a promessa explícita de Cristo: "Bem-aventurados os
limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mat. 5:8). Esta foi a
segurança do Paulo: "Então veremos face a face" (1 Cor. 13:12). E a de
João: "Haveremos de vê-lo como ele é" (1 João 3:2). A confiabilidade
desta promessa está recalcada por Deus: "Tudo está feito. Eu sou o Alfa e
o Ômega, o Princípio e o Fim... " (Apoc. 21:6).
Só o Criador pode pronunciar palavras que criarão uma realidade
nova (ver Gên. 1). Disse Cristo na cruz: "Está consumado!" (João
19:30), e sua missão de oferecer sua vida em expiação pela raça humana
ficou consumada. No fim das 7 últimas pragas a voz de Deus voltará a
dizer: "Feito está!" (Apoc. 16:17), e então se consumará o juízo de
As Profecias do Tempo do Fim 593
Babilônia. Quando a Nova Jerusalém descenda sobre a terra e Deus
morre com os redimidos, voltará a dizer: "Feito está!" (21:6).
Então se cumprirá a oração do Pai nosso: "Venha o teu reino; faça-
se a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mat. 6:10). Como "o Alfa
e o Ômega", Deus é o iniciador e aperfeiçoador da criação. Apenas Ele
dá à história humana seu começo e seu objetivo. O objetivo se realizará
tão certamente como seu começo. Outras duas promessas de Deus
também nos afetam hoje em dia:
"Ao que tiver sede, eu lhe darei gratuitamente [doreán] da fonte da
água da vida. Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e
ele será meu filho" (Apoc. 21:6, 7).
A linguagem figurada de "estar sedento" era familiar para os santos
hebreus (ver Isa. 55:1). Para eles significava gozar de comunhão com
Deus. Colocaram um valor mais elevado neste companheirismo com
Deus que no da própria vida física. Davi descarregou seu coração neste
cântico poético:
"Ó Deus, tu és meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem sede de ti,
minha carne te deseja com ardor, como terra seca, esgotada, sem água...
Valendo teu amor mais que a vida, meus lábios te glorificarão" (Sal. 63:1, 3,
BJ).
"Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó
Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo;
quando irei e me verei perante a face de Deus?" (Sal. 42:1, 2).
Esta experiência da alma foi realizada só de maneira intermitente e
parcial. Pela fé em Cristo está à nossa disposição uma nova comunhão
com Deus para todos os que a busquem: "Se alguém tem sede, venha a
mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior
fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que
haviam de receber os que nele cressem" (João 7:37-39).
Quando Deus promete no Apocalipse de João que nos dará
"gratuitamente da fonte da água" (Apoc. 21:6), oferece-nos o Espírito de
Cristo, quem pagou o preço definitivo por nós. Esta comunhão também
As Profecias do Tempo do Fim 594
oferece aos vencedores "gratuitamente" [doreán: "livremente" ], um
termo muito importante em Paulo (ver Rom. 3:24).
O paraíso, como a presença de Deus, é oferecido a todos os
vencedores pela graça de Deus. Este caráter-de-graça volta-se a recalcar
na segurança de que o vencedor "herdará todas as coisas" (Apoc. 21:7).
Uma herança nunca se pode ganhar, só pode receber-se pela vontade do
testador. Paulo explicou esta condição de herdeiro ao conectar a herança
futura de uma forma indissolúvel com Cristo como o dom maior de
Deus. "Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus
e co-herdeiros com Cristo... Aquele que não poupou o seu próprio Filho,
antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente
com ele todas as coisas?" (Rom. 8:17, 32). A. Pohl observou o seguinte:
"O Apocalipse não é menos cristocêntrico que Paulo".19 Isto é evidente
pelas sete vezes que o Cordeiro é mencionado em Apocalipse 21 e 22. A
entrada na Nova Jerusalém é dada só a "os que estão inscritos no livro da
vida do Cordeiro" (21:27).

Este é o propósito pastoral que João também indicou em seu


contraste entre as duas mulheres simbólicas: a meretriz (Apoc. 17:1-
19:5) e a esposa de Cristo (19:6-10; 21:1-22:17). O interesse pastoral de
João para a era atual é alertar a cada crente a permanecer fiel no Senhor.
Elmer M. Rusten o explica assim: .
"A razão pela qual dedica tanta ênfase à meretriz e à noiva é que nas
sete cartas escritas às sete igrejas (Apoc. 1:4, 11) a alternativa básica a que
tinham que fazer frente [os membros] era se iriam formar parte da verdadeira
igreja, a noiva, ou da falsa igreja, a meretriz ".20
É nosso privilégio escutar o testemunho final de Cristo às igrejas:
"Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as
palavras da profecia deste livro" (Apoc. 22:7).
"Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do
Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade
pelas portas" (Apoc. 22:14).
As Profecias do Tempo do Fim 595
O Interesse Pastoral de João para com a Igreja da Atualidade

João usa um estilo interessante para descrever a novidade da era


futura. Define a nova criação em termos negativos. Badenas nota-o como
7 vezes: (1) não haverá mais mar (21:1); (2) não haverá mais morte,
lágrimas, pranto, clamor ou dor (v. 4); (3) não haverá mais templo (v.
22); (4) não haverá mais necessidade do Sol ou da Lua (21:23; 22:5); (5)
não haverá noite, nem as portas nunca serão fechadas (21:25; 22:5); (6)
não haverá mais pecado (21:27); e (7) não haverá mais maldição
(22:3).21 Este estribilho de coisas que na última visão de João "não serão
mais", indica quanto relaciona suas visões às necessidades presentes de
seus membros de igreja. Escreve com um profundo interesse pastoral
para seus leitores que estavam sofrendo perseguição e estavam
ameaçados pelos poderes anticristãos do mar,
João não escreve simplesmente para nos informar a respeito dos
acontecimento futuros ou para satisfazer nossa curiosidade a respeito de
realidades futuras. Seu propósito prático é respirar os crentes que deviam
passar por provas a perseverar na Palavra de Deus e no testemunho de
Jesus apesar da cruel oposição. Insiste com cada crente para que faça sua
decisão final entre a fidelidade ou a deslealdade a Cristo Jesus. Este
requerimento se apresentou primeiro nas sete cartas de Cristo às igrejas
(Apoc. 2, 3). A promessa da recompensa descreveu-a na visão dos selos
(6:9-11; 7) e na das trombetas (cap. 11). João assume constantemente
que a causa de Cristo triunfará porque o Cordeiro de Deus é "o Rei dos
reis e Senhor dos senhores" (17:14; 19:16). A hora da restauração do
reino de Deus virá no próprio tempo de Deus durante a última trombeta:
"E o sétimo anjo tocou a trombeta, e houve grandes vozes no céu, que
diziam: Os reino do mundo veio a ser de nosso Senhor e de seu Cristo; e ele
reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15).
O propósito de João é animar a cada cristão a fazer um
compromisso total com Cristo. João trata de obter este objetivo
colocando em contraste o Cordeiro e a besta, a esposa e a prostituta, e a
As Profecias do Tempo do Fim 596
Nova Jerusalém e Babilônia. Este dilema de pertencer a uma
comunidade ou à outra, insiste conosco a fazer agora uma eleição
existencial porque nela estão envoltos destinos eternos. Badenas fez uma
lista dos surpreendentes contrastes entre Babilônia e a Nova Jerusalém
no marco das visões onde aparecem, sua descrição e seu destino. 22
Conclui dizendo:
"Estes paralelos mostram que a relação humana para com Deus e o
Cordeiro pode ser só de fidelidade (a noiva) ou de infidelidade (a meretriz).
Como Deus é ao mesmo tempo justo e misericordioso, a salvação ou a
condenação são os dois resultados possíveis da decisão humana, ou a
cidade celestial ou a cidade terrestre, a Nova Jerusalém ou Babilônia". 23
João não proporciona informação abstrata para as predições
especulativas. Apresenta claramente sua preocupação pastoral quando
destaca que há só duas classes de pessoas: os salvos ou os perdidos, os
vencedores e os perdedores (ver Apoc. 21:7, 8; 22:11, 14, 15), os que
"têm sede" da água de vida e os que não a têm (21:6; 22:17). Esta última
distinção aponta à necessidade espiritual das pessoas antes que à sua
conduta moral. Os que procuram a Deus em primeiro lugar para
satisfazer sua sede espiritual comparam-se com os vencedores:
"Ao que tiver sede, eu lhe darei gratuitamente da fonte da água da vida.
Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu
filho" (Apoc. 21:6, 7).
É iluminador descobrir que as características dos que são excluídos
da Nova Jerusalém são as mesmas com as que se define a Babilônia e a
seus habitantes: imundos (Apoc. 21:27; 18:2); abomináveis, que faz
abominação, abominações (21:8, 27; 17:4, 5); homicidas (17:6; 18:24;
21:8); fornicários (17:1, 2, 5, 15, 16; 18:3, 9; 21:8); feiticeiros, feitiçarias
(18:23; 21:8); idólatras (19:20; 21:8); e mentirosos (19:20; 21:8).
Badenas vê estas listas de vícios (Apoc. 21:8 e 22:15) como uma
admoestação pastoral "contra os que preferem outras relações à relação
com Deus. Isto é o que os exclui da santa cidade (cf. 21:27)".24 Em
outras palavras, João não se está referindo a feitos isolados de pecado a
não ser à atitude de maldade e idolatria que separa o pecador de Deus.
As Profecias do Tempo do Fim 597
Não deveria escapar à nossa atenção o fato de que João começa a
lista com "os covardes" (Apoc. 21:8). Os "covardes" são os que fogem
de confessar a Cristo na hora de prova e por isso falham em perseverar
na fé (ver Heb. 10:36-39). Quando Paulo se referiu à ameaça de
"covardia" [deilías], admoestou imediatamente a Timóteo dizendo: "Não
te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor..." (2 Tim. 1:7,
8), e lhe assinalou o dom do "espírito... de poder".
Em Apocalipse 21:8, João menciona pelo menos sete classes de
pessoas que serão excluídas da santa cidade. Como uma oitava classe
menciona a "todos os mentirosos", Pohl considera que se refere a uma
recapitulação das sete anteriores. A lista dos perdedores que João
menciona, cumpre a função da contraparte dramática das sete classes de
vencedores mencionados nas cartas às igrejas nos capítulos 2 e 3. A
designação dos "mentirosos" é significativa, porque assinala a mentira
religiosa que perverte a verdade a respeito de Deus e do Cordeiro. Giblin
denomina a esta mentira "a mentira definitiva", porque "a mentira é a
negação da verdade, preeminentemente como a falsificação de Deus e do
que deve a ele".25 Os mentirosos estão em notório contraste com os
144.000 israelitas que seguem ao Cordeiro, de tal maneira que "em suas
bocas não foi achada mentira" (Apoc. 14:5).

Desde a primeira característica (a covardia) até a última (a mentira),


o interesse de João aponta à elevada vocação do crente de atestar de
Cristo, de seguir ao Cordeiro e de confessar seu senhorio. A lista mais
pequena dos vícios em Apocalipse 22 conclui outra vez com "todo
aquele que ama e pratica a mentira" (v. 15), o que indica que tais pessoas
vivem a "mentira" como uma filosofia de vida, de caráter e de adoração.
A mentira como a contraparte da verdade foi também a recapitulação que
faz Paulo da apostasia final em 2 Tessalonicenses 2:9-12.
As Profecias do Tempo do Fim 598
O Significado do Esplendor da Nova Jerusalém

Apocalipse 21:9 a 22:5 contêm uma descrição da Jerusalém


celestial. O anjo a compara com sua interpretação da condenação de
Babilônia em Apocalipse 17:1 a 19:10. Reconhece-se que as duas seções
são contrapartes intencionais. Felizmente, a visão que João teve da Nova
Jerusalém é a mais longa e elaborada do Apocalipse. Amplia as profecias
gráficas de uma Nova Jerusalém que apresenta Isaías 54 a 60 e Ezequiel
40 a 48.
Assim como Ezequiel, João vê sua visão em "um monte muito alto"
(Ezeq. 40:2; Apoc. 21:10). A glória de Deus na Nova Jerusalém (Apoc.
21:11) corresponde à glória do Jeová que vem do oriente no novo templo
da visão do Ezequiel (Ezeq. 43:1, 2). A diferença é que agora Deus
mesmo é a glória constante da santa cidade (Apoc. 21:11). Ezequiel se
concentra sobre o novo templo, mas João descreve uma cidade
imensamente maior sem um templo particular (Apoc. 21:22).
João dedica uma atenção especial a suas amplas muralhas e a suas
doze portas. Usa o número "doze" doze vezes em Apocalipse 21, cifra
que está carregada de significado. O anjo tem uma vara de medir, de
ouro, "para medir a cidade, suas portas e seu muro" (Apoc. 21:15). A
cidade é descrita como um cubo perfeito medindo cada lado doze mil
estádios, que literalmente seriam 2.400 quilômetros em cada direção, até
para cima, muito além da estratosfera! Não é maravilha que os
intérpretes responsáveis tenham advertido contra um dogmático
literalismo com respeito às visões de Apocalipse 21 e Ezequiel 40 a 48.
Nestas profecias tão gráficas, "o grau de identificação segue sendo
um problema que deverá ainda ser interpretado".26 Giblin declara que
João "tenta evocar a imagem de um gigantesco 'lugar muito santo' que
era um cubo perfeito, recoberto de ouro (1 Reis 6:20)". 27 As dimensões
de cubo da cidade sugerem claramente que toda a "santa cidade" é o
lugar santíssimo sobre a terra, o trono de Deus. Isto transcende a
necessidade de ter qualquer templo local. O apóstolo o explica assim:
As Profecias do Tempo do Fim 599
"E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor, Deus Todo-
poderoso, e o Cordeiro...
"E tinha a glória de Deus. A sua luz era semelhante a uma pedra
preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente" (Apoc.
21:22, 11).
Não pode haver dúvida de que o propósito de João em Apocalipse
17 e 18 é colocar esta cidade de Jerusalém em contraste direto com a
cidade de Babilônia. A beleza sobressalente da Nova Jerusalém consiste
na presença de Deus e a dos redimidos. As incríveis dimensões dos doze
mil estádios têm um claro significado simbólico: a cidade contém o
Israel de Deus de toda a história da salvação. Badenas o explica assim:
"Eclipsando Babilônia e Roma, a Nova Jerusalém é a cidade verdadeira,
e a única cidade universal".28
Os muros da cidade têm uma altura de 144 côvados (Apoc. 21:17),
literalmente 66 metros, destacando outra vez o número 12 (12 x 12 =
144). Por definição, uma muralha não só significa segurança, mas
também separação do "exterior" (Apoc. 22:15), o que se refere
basicamente ao lugar do "lago de fogo" (21:8). Este símbolo pode
entender-se melhor como uma referência ao juízo pós-milenial de
Apocalipse 20:7-15. A muralha é feita de jaspe cristalino (21:18) e brilha
como um diamante. Está assentada sobre doze fundamentos de pedras
preciosas, cada uma das quais é uma gema enorme (vs. 19, 20), cada
uma com um nome escrito com um nome de "os doze apóstolos do
Cordeiro" (v. 14). Entretanto, sobre as doze portas estão os nomes das
"doze tribos dos filhos do Israel" (v. 12). Tudo em seu conjunto significa
que o Israel profético de Deus inclui a todos os seguidores do Cristo, o
que constitui a mensagem fundamental da visão de João a respeito da
vida na Nova Jerusalém.
As características das doze pedras preciosas e das doze portas de
pérola complementam a mensagem básica de que Deus unirá a todos os
seus filhos em um rebanho enquanto reconhece que também
permanecem diversificados em seus caracteres individuais. Cada tipo de
As Profecias do Tempo do Fim 600
caráter refletirá a natureza divina, assim como cada pedra preciosa
refletirá a glória de Deus em sua própria forma. Entretanto, a
investigação mostra que "as pedras do Apocalipse não podem
correlacionar-se com tribos específicas, apóstolos, signos do zodíaco ou
direções geográficas".29
As doze pedras preciosas da Nova Jerusalém simbolizam
basicamente "a presença de Deus, a origem divina da cidade, e o novo
povo de Deus".30 As doze pedras preciosas também cumprem a função
de ser contrapartes das pedras preciosas que adornam a Babilônia a
prostituta (Apoc. 17:4; 18:12, 16). Desde esta perspectiva, as pedras
preciosas da santa cidade são "um emblema para sustentar a fé na vitória
final de Deus".31
O esplendor da Nova Jerusalém, com o trono de Deus e a árvore da
vida, transmite esta mensagem: O paraíso será restaurado com uma
glória maior que a do jardim do Éden porque o Criador estabelecerá sua
presença e seu trono ali para sempre. Cada crente pode cobrar ânimo e
saber que as promessas do pacto que Deus fez com o Israel se cumprirão
em uma manifestação gloriosa inimaginável no futuro.
A profecia categórica que diz que "as nações caminharão à sua luz,
e até ela os reis da terra levarão seu esplendor... E levarão até ela o
esplendor e a honra das nações" (Apoc. 21:24, 26, CI), é provocadora, já
que esta predição usa a descrição de Isaías 60 mas a adapta ao estado
eterno. Agora os reis da terra já não desfilarão como conquistadores (Isa.
60:10, 11) ou como trazendo tributo (vs. 5-7). Virão antes como gentios
redimidos para contribuir com sua glória em sua adoração a Deus e ao
Cordeiro durante o festival de louvor e ação de graças na Nova
Jerusalém. Ellul explica que "tudo o que foi a obra cultural, científica,
técnica, estética e intelectual; toda a música e a escultura; toda a poesia e
a matemática; toda a filosofia e o conhecimento em todos as ordens,
todos entrarão nesta Jerusalém, e serão empregados por Deus para
estabelecer esta obra perfeita final".32
As Profecias do Tempo do Fim 601
Que conceito emocionante! Quem não desejará ser parte desta
educação superior na vida futura do povo de Deus? Cristo e a Nova
Jerusalém convidam a cada pessoa que procura Deus a formar parte do
estado eterno onde reinará a felicidade:
"E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem
tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida" (Apoc.
22:17).

Para uma exposição de passagens problemáticas como Apocalipse


21:1 ("...e o mar já não existia mais" ), Apocalipse 21:9 ("...a desposada,
a noiva do Cordeiro") e Apocalipse 22:2 ("...e as folhas da árvore eram
para a sanidade das nações" ), ver o APÊNDICE B.

Referências
Para a Bibliografia, ver na página 603-605.

1 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 261.


2 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of
Revelation, p. 289.
3 Badenas, "New Jerusalem - The Holy City", Simpósio sobre o
Apocalipse, t. 2, p. 244.
4 Eichrodt, Ezekiel, p. 542.
5 Badenas, Ibid., t. 2, p. 252.
6 Aranda Pérez-García Martínez-Pérez Fernández, Literatura judía
intertestamentaria, p. 288.
7 Ibid., p. 319.
8 Ibid., p. 330.
9 Toda esta documentação está no Strack-Billerbeck, Comentario
del Nuevo Testamento con el Talmud y la Midrás, t. 3, p. 796.
10 Ibid., v. 3, p. 573.
11 Lohse, "Sión - Jerusalem" [Sião - Jerusalém], Dicionário
teológico do Novo Testamento, t. 7, p. 326, nota 204.
As Profecias do Tempo do Fim 602
12 Ver Ibid.
13 Strack-Billerbeck, Comentario del Nuevo Testamento con el
Talmud y la Midrás, t. 4, pp. 922, 923.
14 Ibid., v. 4, pp. 932, 933.
15 Ibid., v. 4, p. 884.
16 Ibid., v. 3, p. 573.
17 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 86.
18 Beasley-Murray, Revelation, p. 305.
19 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p.
275.
20 Rusten, A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of
the Book of Revelation, t. 2, pp. 620, 621.
21 Badenas, "New Jerusalem - The Holy City", Simpósio sobre o
Apocalipse, t. 2, p. 249.
22 Ibid., v. 2, p. 256.
23 Ibid., v. 2, pp. 255, 257.
24 Ibid., v. 2, p. 263.
25 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p.
196.
26 4 CBA 744. Ver também 7 CBA 904, 905.
27 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p.
205.
28 Badenas, "New Jerusalem - The Holy City", Simpósio sobre o
Apocalipse, t. 2, p. 259.
29 Reader, "The Twelve Jewels of Revelation 21:19, 20: Tradition
History and Modern Interpretation", JBL 100 (1981), p. 455.
30 Ibid., p. 456.
31 Ibid., p. 457.
32 Ellul, . Apocalypse, The Book of Revelation, p. 225.
As Profecias do Tempo do Fim 603
FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 21 E 22

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As Profecias do Tempo do Fim 605
Studien Zur Offenbarung [Estudos sobre o Apocalipse]. Ed. J.
Mager. Berna: Euro-Africa Division, Band 2, pp. 119-168.
Lohse, Eduard. "Sión - Jerusalem" [Sión - Jerusalén], Diccionario
teológico del Nuevo Testamento. Ed. por G. Kittel. T. 7, pp. 319-
338.
Reader, W. W. "The Twelve Jewels of Revelation 21:19, 20: Tradition
History and Modern Interpretation" [As Doze Pedras Preciosas de
Apocalipse 21:19 e 20: História da Tradição e Interpretação
Modernas], JBL 100 (1981), pp. 433-457.
As Profecias do Tempo do Fim 606
EPÍLOGO

A pergunta-chave na teologia contemporânea é: Como conhecemos


o significado da Escritura? Enquanto que o Espírito Santo ilumina a
mente do crente em seu esforço para compreender a Bíblia, necessita-se
um método científico para interpretar a Escritura. Só assim pode evitar-
se uma interpretação puramente subjetiva do texto e a forma estreita de
pensar.
O propósito deste livro é investigar a unidade teológica das
profecias hebraicas e o evangelho cristão do Novo Testamento. Seu
enfoque específico é trazer à luz a continuidade essencial das profecias
do tempo do fim de Israel no panorama profético do Jesus, Paulo e o
Apocalipse de João.
Este enfoque que se distingue de métodos anteriores, usa de uma
maneira consistente o método de exegese contextual, tanto do contexto
imediato como do contexto mais amplo da Escritura, o que significa que
o texto do Novo Testamento sempre deve relacionar-se com o do Antigo
Testamento para descobrir o patrimônio espiritual de Cristo e dos
escritores apostólicos, e isto é válido de maneira especial para o
Apocalipse que está saturado com termos e conceitos do Antigo
Testamento.
Este método implica que todas as aplicações da história da igreja do
texto profético são secundárias a uma exegese contextual e devem
subordinar-se ao propósito do autor tal como se determina pelo contexto
imediato e o contexto mais amplo. Nunca deve permitir-se que a história
da igreja e a do mundo cheguem a ser a norma da exegese bíblica. A
Bíblia interpreta a história e não o contrário. Na aplicação contínuo-
histórica das profecias apocalípticas existe o perigo de atribuir ao texto
sagrado certos acontecimentos importantes da história. O intérprete
historicista da profecia necessita autodisciplinar-se em suas declarações
da profecia cumprida. A história já se encarregou de muitos enganos que
se cometeram a esse respeito!
As Profecias do Tempo do Fim 607
Rechaçando os princípios filosóficos do literalismo, alegorismo e
idealismo, recomendo o uso consistente dos princípios de interpretação
de Cristo e seus apóstolos como a chave-mestra para descobrir o
significado das profecias simbólicas do tempo do fim, tanto do Antigo
Testamento como do Novo Testamento. Sua hermenêutica evangélica
pode estabelecer-se analisando a forma como Cristo e Paulo aplicaram as
profecias de Daniel a seu próprio tempo e época, e isto requer uma
análise cuidadosa de Mateus 24 (e as passagens paralelas) e 2
Tessalonicenses 2 como ponto essencial para descobrir que regras
específicas seguiram em sua interpretação das profecias do Antigo
Testamento.
A norma decisiva, e a pauta para a compreensão que tiveram de
todas as profecias hebréias, foi a convicção de que Jesus de Nazaré é o
Messias da profecia. Esta crença fundamental transformou
completamente em cristocêntrico o panorama do futuro de Cristo e dos
escritores do Novo Testamento. Moveu-os a reorganizar todas as
profecias hebraicas como promessas centradas em Cristo. Este
cumprimento do evangelho deu como resultado o fato de que o povo
verdadeiro de Cristo esteja constituído como o núcleo do Israel espiritual
e, assim, como o Israel de Deus. Se Jesus de Nazaré é o Cristo da
profecia, então o povo de Cristo, como seu "corpo", é o centro de todas
as profecias do tempo do fim.
A hermenêutica do evangelho funciona como a pauta inspirada para
a interpretação das predições inclusive não cumpridas das profecias
apocalípticas. Este procedimento mantém plenamente o axioma de fé de
"sola Scriptura" que exige que se permita à Escritura interpretar-se a si
mesmo. Nem a tradição da igreja, nem a história nem um profeta
extrabíblico são os intérpretes finais da Escritura. A Bíblia continua
sendo seu próprio expositor, seu próprio intérprete final e o juiz de todas
as escolas de interpretação profética. O método contextual oferece uma
visão crítica de qualquer outro método de interpretação profética, e
As Profecias do Tempo do Fim 608
mostra a forma para distinguir entre o propósito do autor do texto
sagrado e as aplicações dos comentadores extrabíblicos.
Com respeito ao livro do Apocalipse, é essencial reconhecer sua
estrutura quiástica como a chave de sua composição como um todo. Este
descobrimento aponta a seu centro, Apocalipse 12-14, como o tema
particular do Apocalipse de João para o povo de Deus do tempo do fim.
Esta unidade literária é o desenvolvimento das visões antecipatórias de
Apocalipse 10 e 11 que unem o tempo do fim ao período da sexta
trombeta. As visões de Apocalipse 10 a 14 revelam uma conexão
específica com o livro de Daniel e seu enfoque das profecias do tempo
do fim dos capítulos 7 a 12. Este fato faz com que o livro de Daniel, com
Daniel 7 como seu tema central, seja fundamental para a compreensão
do Apocalipse. O Apocalipse revela a forma como Daniel e todas as
outras profecias hebraicas do tempo do fim encontrarão sua consumação
na história da salvação.
As Profecias do Tempo do Fim 609
RELAÇÃO DO DOM DE PROFECIA DO TEMPO DO FIM
COM A BÍBLIA

Este apêndice trata com os escritos da Ellen White (1827-1915), a


quem os adventistas do sétimo dia reconhecem como uma manifestação
genuína do Espírito de profecia no tempo do fim e sua relação com a
Bíblia como "seu único credo".1 O propósito deste trabalho é responder
as seguintes pergunta: Aceitam os adventistas o princípio de sola
Scriptura, significando que deve permitir-se que a Bíblia seja seu próprio
intérprete? Ou se faz dos escritos da Ellen White o intérprete final da
Escritura?
Um tratamento excelente desta pergunta é apresentado por Ellen
White na "introdução" a seu livro O Grande Conflito, escrito
originalmente em 1888 e reeditado em 1911. Na introdução lemos o
seguinte:
"Em Sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento
necessário à salvação. As Santas Escrituras devem ser aceitas como
autorizada e infalível revelação de Sua vontade. Elas são a norma do
caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa.
'Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus
seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.' II Tim. 3:16 e 17.
"Todavia, o fato de que Deus revelou Sua vontade aos homens por
meio de Sua Palavra, não tornou desnecessária a contínua presença e
direção do Espírito Santo. Ao contrário, o Espírito foi prometido por nosso
Salvador para aclarar a Palavra a Seus servos, para iluminar e aplicar os
seus ensinos.".2
É importante seu argumento bíblico que diz que Deus prometeu
reviver o dom profético na "obra final do evangelho":
"Em imediata relação com as cenas do grande dia de Deus, o Senhor,
pelo profeta Joel, prometeu uma manifestação especial de Seu Espírito.
(Joel 2:28.) Esta profecia recebeu cumprimento parcial no derramamento do
Espírito, no dia de Pentecoste. Mas atingirá seu pleno cumprimento na
manifestação da graça divina que acompanhará a obra final do Evangelho". 3
As Profecias do Tempo do Fim 610
Ellen White interpretou seu dom espiritual como outro
cumprimento da profecia do Joel:
"À medida que o Espírito de Deus me ia revelando à mente as grandes
verdades de Sua Palavra, e as cenas do passado e do futuro, era-me
ordenado tornar conhecido a outros o que assim fora revelado - delineando a
história do conflito nas eras passadas, e especialmente apresentando-a de
tal maneira a lançar luz sobre a luta do futuro, em rápida aproximação".4
O objetivo de seu livro O Grande Conflito não foi tanto apresentar
novas verdades, "como em aduzir fatos e princípios que têm sua relação
com os acontecimentos vindouros... iluminando a senda daqueles que,
semelhantes aos reformadores dos séculos passados, serão chamados,
mesmo com perigo de todos os bens terrestres, para testificar 'da Palavra
de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo' ".5
Nesta última cláusula, Ellen White se referiu manifestamente a
Apocalipse 12:17, profecia na qual reconheceu uma predição do
"conflito prestes a se desencadear" no fim da história da igreja. 6
Contemplou o conflito vindouro em continuidade essencial com as
testemunhas dos "reformadores dos séculos passados". Todas as
testemunhas verdadeiras de Deus se voltarão a levantar pela "palavra de
Deus e o testemunho do Jesus". Ela declarou o seguinte:
"Aquilo que foi, será, com a exceção de que a luta vindoura se
assinalará por uma intensidade terrível, tal como o mundo jamais
testemunhou. Os enganos de Satanás serão mais sutis, seus assaltos mais
decididos".7
Ellen White incluiu os albigenses, os valdenses, os huguenotes e os
protestantes da "igreja do deserto" entre os mártires que sofreram pela
"palavra de Deus e o testemunho de Jesus".8 Deve ficar claro que Ellen
White não entendeu a típica frase bíblica "a palavra de Deus e o
testemunho de Jesus Cristo" como uma referência a um reavivamento do
dom de profecia do tempo do fim, mas sim como uma referência à Bíblia
em seu duplo testemunho do Antigo Testamento e do Novo Testamento.
Declarou que Cristo tinha falado por meio dos profetas da antiguidade ao
citar 1 Pedro 1:10 e 11, e acrescentou: "É a voz de Cristo que nos fala
As Profecias do Tempo do Fim 611
através do Antigo Testamento. 'O testemunho de Jesus é o Espírito de
Profecia' Apoc. 19:10".9
Para a verificação bíblica de seu dom profético, referiu-se a Joel
2:28.10 Com respeito ao cumprimento do tempo do fim de Apocalipse
12:17, declarou:
"Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a
Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas.11
"Há necessidade de uma volta ao grande princípio protestante - a
Bíblia, e a Bíblia só, como regra de fé e prática".12
Como foi com os reformadores, de igual maneira com Ellen White a
aceitação do princípio de sola Scriptura significa reconhecer o princípio
protestante de "fazer com que a Bíblia seja seu próprio intérprete",13
que a Bíblia é "seu próprio intérprete".14 "A Bíblia interpreta a si
mesma. Um texto deve ser comparado com outro".15 "Devemos permitir
que a Bíblia seja seu próprio expositor".16
A aplicação deste princípio fundamental foi bem descrito por
Norman R. Gulley:
"A verdadeira interpretação tomará nota do que a tradição da igreja e
os comentadores têm que dizer, mas prestará mais atenção ao que a Bíblia
diz a respeito de si mesmo, e empregará o princípio protestante de sola
Scriptura, permitindo que a Escritura se interprete a si mesma. Este é o
único intérprete infalível que alguma vez haverá aqui antes da volta de
Cristo".17
Só desta maneira pode um cristão examinar adequadamente a
essência das profecias extrabíblicas e "reter o bom" (1 Tes. 5:19-21), "e
outros opinem" (1 Cor. 14:29, BC), e dessa maneira seguir o
"mandamento do Senhor" (1 Cor. 14:37, BJ). Ellen White o declara sem
ambigüidade:
"Deus pede um reavivamento e uma reforma. As palavras da Bíblia, e a
Bíblia somente, deviam ser ouvidas do púlpito".18
Quando os dirigentes da igreja insistiram com ela a decidir-se em
seu favor numa disputa sobre qual era a interpretação correta de um
versículo particular da Bíblia, disse: "Deus tem um propósito com isto.
As Profecias do Tempo do Fim 612
Quer que vamos à Bíblia e obtenhamos a evidência da Escritura". Isto19
estava em harmonia com o que acreditava: "A Bíblia é a única regra de
fé e doutrina".20
George R. Knight, proeminente teólogo adventista e historiador
eclesiástico, conclui: "Seus escritos tinham seus próprios propósitos, mas
ao que parece, o constituir um comentário infalível da Bíblia não era um
deles".21 Robert W. Olson, secretário aposentado do Centro White,
explicou-o claramente:
"Não podemos usar Ellen White como o árbitro determinante do
significado da Escritura. Se fizermos isso, então ela é a autoridade final e
não a Escritura. Deve permitir-se que a Escritura se interprete a si
mesma".22
"Acredito que houve vezes quando foi exegeta, mas esses casos são
extremamente estranhos. Penso que por regra general foi como uma
pregadora. Empregou a Escritura como um evangelista o faria". 23
George W. Reid, diretor do Biblical Research Institute [Instituto de
investigação bíblica] da Associação Geral da Igreja Adventista do
Sétimo Dia afirma que a hermenêutica adventista tradicional "não usa
suas declarações [as de Ellen White] para determinar o significado final
da Bíblia".24
Dessa maneira chega a ser claro que empregar os escritos de Ellen
White para consultá-los como árbitros da exegese ou como juizes
teológicos com o fim de determinar o significado da Escritura seria fazer
um uso inadequado deles. Violaria o axioma fundamental da fé do
adventismo: o princípio de sola Scriptura.
Quando seus escritos se aceitam como uma manifestação do
Espírito de profecia, não devem tomar-se como um atalho para não fazer
uma exegese responsável pela Escritura ou lhes dar "autoridade
hermenêutica sobre a Escritura".25 Ellen White advertiu contra um
espírito de presunção denominacional ao dizer:
"Não estamos seguros quando tomamos a posição de que não
aceitaremos qualquer outra coisa que o que estabelecemos como verdade.
Devemos tomar a Bíblia e investigá-la minuciosamente por nós mesmos".26
As Profecias do Tempo do Fim 613
"Não há desculpa para que alguém tome a posição de que não há mais
verdade para ser revelada, e que todas nossas exposições das Escrituras
estão sem engano. O fato de que certas doutrinas foram sustentadas como
verdade por muitos anos por nosso povo, não é prova de que nossas idéias
são infalíveis. O tempo não converte o engano na verdade, e a verdade
pode permitir-se ser imparcial. Nenhuma doutrina perderá nada por uma
rigorosa investigação".27
Inclusive disse:
"Não devem os testemunhos da irmã White ser postos na dianteira. A
Palavra de Deus é a norma infalível... Provem todos a própria atitude por
meio das Escrituras e fundamentem pela Palavra de Deus revelada todo
ponto que vindicam ser verdade".28
Ellen White acreditava não só na autoridade suprema da Escritura,
mas também na suficiência da Escritura:
"A Palavra de Deus é suficiente para iluminar o espírito mais
obscurecido, e pode ser compreendida por todo o que sinceramente deseja
entendê-la".29

No livro Os adventistas respondem a perguntas sobre doutrina,30


líderes adventistas, professores de Bíblia e editores explicaram com
alguns detalhes a pergunta dos escritos da Ellen White com relação à
Bíblia (a pergunta 9). Declararam: "Provamos os escritos da Ellen G.
White mediante a Bíblia, mas em nenhum sentido provamos a Bíblia
com seus escritos... Nunca consideramos a Ellen G. White na mesma
categoria que os escritores do cânon das Escrituras... Não fazemos da
aceitação de seus escritos um assunto de disciplina eclesiástica".31
Lemos igualmente na exposição mais recente, Creencias de los
adventistas del séptimo día,32 que esta declaração pública "representa
uma exposição autêntica das crenças adventistas".33 A exposição declara
em primeiro lugar: "Os adventistas têm um só credo: 'A Bíblia e a Bíblia
somente' ".34 No extenso capítulo 17, "O dom de profecia", voltamos a
ouvir esta firme declaração: "Os adventistas do sétimo dia apóiam
plenamente o princípio da Reforma, conhecido como sola Scriptura,
As Profecias do Tempo do Fim 614
segundo o qual a Bíblia é seu próprio intérprete, e a Bíblia só é a base de
todas as doutrinas".35 Um tratamento convincente foi apresentado por
LeRoy E. Froom, professor emérito de teologia histórica.36
Ellen White declarou o propósito de suas visões e escritos em
termos inconfundíveis: "Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus
como regra de vossa fé e prática. Por essa Palavra seremos julgados.
Nela Deus prometeu dar visões nos 'últimos dias'; não para uma nova
regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se
desviam da verdade bíblica".37 Assim Ellen White apoiou sua chamada e
missão providenciais sobre a profecia do Joel 2:28 e 29 como um
fundamento firme e suficiente. Nunca apelou a Apocalipse 12:17 para
estabelecer sua chamada profética. É importante sua declaração: "Pouca
atenção é dada à Bíblia, e o Senhor deu uma luz menor para guiar
homens e mulheres à luz maior".38 Marvin Moore, editor da revista
Signs of the Times [Os Sinais dos Tempos], explicou isto da seguinte
maneira:
"Se interpretarmos o Antigo Testamento e o Novo Testamento à luz de
Ellen White, fazendo-a a autoridade final de nosso entendimento do que a
Bíblia significa, fazemo-la a luz maior e fazemos da Escritura a luz menor".39
Precisamos saber que Ellen White usou as Escrituras em uma
grande variedade de formas. Raymond F. Cottrell distinguiu doze
categorias diferentes de formas nas quais Ellen White usou a Bíblia nas
500 páginas que investigou.40
Cottrell concluiu que Ellen White cita freqüentemente a Bíblia para
extrair lições morais ou para aplicar princípios bíblicos generais à vida
cristã. Entrevista freqüentemente palavras ou frases das Escrituras "sem
que denotem um intento de explicar as Escrituras". 41 Algumas vezes dá
uma "aplicação extensa" a um texto bíblico, como por exemplo o do
Naum 1:9 e Habacuque 2:3.42 Freqüentemente usa um texto "em
contexto para iluminar uma passagem da Escritura em seu marco
histórico, e com freqüência analiticamente para aplicar um princípio
As Profecias do Tempo do Fim 615
bíblico a uma situação moderna".43 Destas observações, Cottrell
deduziu o seguinte:
"Considerou sua tarefa dirigir homens e mulheres à Bíblia como a
Palavra de Deus, inspirada e autorizada, para aplicar seus princípios aos
problemas que a igreja e seus membros encontram no mundo atual, e para
guiá-los em sua preparação para o advento de Cristo".44
Declarações adicionais de Ellen White quanto à relação de seus
escritos com a Bíblia podem encontrar-se em 2 TS 278-280 e em 3 ME
29-33 (cap. 4: "A primazia da Palavra" ).

Referências

1 Creencias de los adventistas del séptimo día, p. 8. A frase completa


diz: "Os adventistas têm um só credo :'A Bíblia e a Bíblia só' ".
2 Ellen White, GC 7.
3 GC 7.
4 GC 7.
5 GC 7 (o itálico é meu).
6 GC 592.
7 GC 7.
8 Ver GC 271. A frase completa diz:"Século após século o sangue
dos santos fora derramado. Enquanto os valdenses, "pela palavra
de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo", depunham a vida nas
montanhas do Piemonte, idêntico testemunho da verdade era
dado por seus irmãos, os albigenses da França".
9 PP 367.
10 Ver GC 7; PE 78.
11 GC 595.
12 GC 204-205.
13 GC 354 (o itálico é meu).
14 1 TS 571 (o itálico é meu).
15 CPPE 462 (o itálico é meu).
As Profecias do Tempo do Fim 616
16 TM 106 (o itálico é meu).
17 Norman R. Gulley, Systematic Theology, Vol. One, "Prolegomena"
(Teologia sistemática. Tomo 1: "Prolegómeno"]. Manuscrito
inédito, 1997, p. 415 (usado com permissão).
18 Ellen White, PR 626.
19 Ellen White, Manuscrito 9, 24 de outubro de 1888, em Ministerio
Adventista (julio-agosto de 1991), p. 9.
20 Ellen White, Review and Herald (Revista e Arauto], 17 de julho de
1888.
21 George R. Knight, "Crise de autoridade", Ministerio Adventista
(julio-agosto de 1991), p. 10.
22 Robert W. Olson, "Olson discusses the Veltman Study" [Olson fala
do Estudo Veltman], Ministry (dezembro de 1990), p. 17.
23 Ibid.
24 George W. Reid, "Another Look at Adventist Methods of Bible
Interpretation" (Outro olhar aos métodos adventistas de
interpretação bíblica), Adventist Affirm (Os Adventistas Afirmam)
10:1 (Primavera de 1996), p. 51.
25 H. D. Weiss, "Are Adventist Protestants?" [São Protestantes os
Adventistas?), Spectrum 6:2 (1972), pp. 69-78. Ver também J. J.
Battistone, "Ellen White's Authority as Bible Commentator"
[Autoridade de Ellen White como Comentadora da Bíblia],
Spectrum 8:2 (1977), pp. 37-40; R. Frise, The Reign of God [O
Reino de Deus] (Berrien Springs, Michigan: Andrews University
Press, 1985), pp. 199-201.
26 Ellen White, Review and Herald, 18 de junho de 1889.
27 Ellen White, Review and Herald, 20 de dezembro de 1892; citado
em Counsels to Writers and Editors, p. 35.
28 Ellen White, Carta 12 de 1890; citada em Ev. 256.
29 2 TS 279.
30 Questions on Doctrine (Washington, D.C.: Review and Herald
Publ. Assn., 1957). Edição castelhana: Los adventistas responden
As Profecias do Tempo do Fim 617
a preguntas sobre doctrina (Villa Libertador San Martín, Entre
Ríos: Editorial CAP, 1986).
31 Los adventistas responden a preguntas sobre doctrina, pp. 41, 42,
45.
32 O original inglês foi publicado em 1988 pela Associação
Ministerial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia
com o titulo: Seventh-day Adventists Believe... A Biblical
Exposition of 27 Fundamental Doctrines
33 Creencias de los adventistas, v. II, p. 9.
34 Ibid., p. 8.
35 Ibid., p. 262.
36 Froom, Movement of Destiny, cap. 5: "The Bible-Sole Rule of Faith
and Practice" (A Bíblia: A Única Regra de Fé e Prática).
37 Ellen White, PE 78.
38 C 130; Ev 257.
39 Marvin Moore, "Ellen White and the Historical Method of
Interpreting Revelation" [Ellen White e o Método Histórico de
Interpretar a Revelação]. Artigo inédito, 1992, p. 10, usado com
permissão do autor.
40 Ver A Symposium on Biblical Hermeneutics [Um Simpósio sobre
Hermenêutica Bíblica] (Washington, D.C.: Review and Herald
Pub. Assn., 1974; G. M. Hyde, ed.), cap. 9: "Ellen G. White's
Evaluation and Use of the Bible" [A Avaliação e o Uso da Bíblia
em Ellen White). Este livro foi preparado pela Comissão de
Investigação Bíblica da Associação Geral dos Adventistas do
Sétimo Dia.
41 Ibid., p. 157.
42 Ibid., p. 159.
43 Ibid., p. 161 (o itálico é meu).
44 Ibid.
As Profecias do Tempo do Fim 618
ALGUNS TEXTOS PROBLEMÁTICOS COM RESPEITO À
NOVA TERRA

Isaías 65 e 66

As predições de Isaías 65 e 66 causaram problemas para os que


buscam aplicar à nova terra descrita em Apocalipse 21 e 22 as descrições
que Isaías faz da morte, do nascimento de meninos e da presença de
cadáveres (Isa. 65:20, 23; 66:24).
Estas dificuldades surgem se se ignora o fato da revelação
progressiva entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Como se
descreveu na primeira parte, nos capítulos 3 e 4, Cristo e seus apóstolos
anunciaram que com Jesus começou o tempo dos antítipos (ver Mat.
12:6, 41, 42; Rom. 5:14, 15; 1 Cor. 15:22). Este conceito teológico
denota que a consumação das esperanças de Israel será imensamente
maior que o que foi predito pelos profetas. O Novo Testamento proclama
que Cristo Jesus é "fiador de um melhor pacto" (Heb. 7:22). Isto
significa que "Deus tinha já disposto algo melhor para nós, de modo que
não chegassem eles [os fiéis hebreus] sem nós à perfeição" (11:40, BJ).
Esta hermenêutica do evangelho não requer que Apocalipse 21 e 22
repitam as restrições do velho pacto. A esperança cristã é melhor que a
antiga esperança de Israel. O Apocalipse declara que no estado eterno
não haverá barreiras étnicas ou raciais na Nova Jerusalém (ver Apoc.
21:14), não haverá mais morte (20:14), não haverá pessoas ímpias nem
coisas impuras (19:20, 21; 21:27). Não haverá nenhuma das maldições
de Deus. Tudo será feito "novo" (21:5).
As diferenças entre o panorama futuro que João apresenta e o
panorama do futuro de Isaías revelam a progressão da revelação divina.
Para ter uma investigação dos princípios de interpretação no Novo
Testamento, ver também o ensaio que sobre isto aparece no Comentário
bíblico adventista, tomo 4, páginas 27-40.
As Profecias do Tempo do Fim 619
Já Não Haverá Mais Mar

Outro tema de interpretação é a notável declaração de João: "E o


mar já não existe" (Apoc. 21:1). Os comentadores tratam em forma
detalhada se esta expressão deve tomar-se de maneira literal ou
simbólica. Para que esta predição tenha sentido, precisamos recordar que
o "mar" em Daniel e no Apocalipse é o símbolo padrão do caos, do reino
dos poderes ímpios e inquietos (Dan. 7 e Apoc. 13; também Ezeq. 28:8;
Isa. 57:20) e da morte (Apoc. 20:13). Henry B. Swete faz o seguinte
comentário:
"O mar desapareceu, porque na mente do escritor está associado com
idéias que estão em desacordo com o caráter da nova criação".1
Portanto, João assinala ao mar como o "separador de nações e
igrejas". Nesse sentido negativo, João nos assegura que já não haverá
mais nenhum "mar". A humanidade não necessita já ter temor à
separação ou ao levantamento do mal. Em Salmos 104:25 e 26 se
menciona o "mar" como uma parte da criação original de Deus em
Gênesis 1:10, que permanece sob o total domínio do Criador.

A Nova Jerusalém como a Esposa

Outro problema aparente é causado pelo fato de que tanto a igreja


defeituosa como a Nova Jerusalém são chamadas a "esposa" de Cristo.
João denominou a igreja que se preparou para encontrar-se com Cristo, a
"esposa" de Cristo (Apoc. 19:7). Depois o anjo declara que a cidade é "a
noiva, a esposa do Cordeiro" (21:9). Isto tem feito com que alguns
intérpretes concluam que a Jerusalém celestial e a igreja redimida de
Cristo são uma e a mesma.
De acordo com a lei judaica, uma mulher comprometida em
matrimônio era considerada como uma mulher casada que podia ser
castigada por adultério.2 Isto explicaria por que o anjo chama à Nova
As Profecias do Tempo do Fim 620
Jerusalém ao mesmo tempo "a noiva" e "a esposa" do Cordeiro (Apoc.
21:9).
À luz do ensino apostólico, a identificação da igreja com a Nova
Jerusalém contém um ponto importante de verdade: a igreja na terra é
uma com a igreja no céu. Contudo, a distinção entre a comunidade
terrestre e a celestial não deve abolir-se. A Jerusalém celestial, como a
cidade do Deus vivente, permanece como a "mãe" da igreja sobre a terra
(Gál. 4:26). Esta cidade celestial descerá do céu, como Cristo prometeu à
sua igreja em Apocalipse 3:12.
O cumprimento desta promessa tem lugar à conclusão do milênio
(Apoc. 21:2). Então, o fato de que à Nova Jerusalém seja chamada "a
noiva, a esposa do Cordeiro" (v. 9), indica que os santos estão todos
dentro da Nova Jerusalém, o que confirma o ensino de Cristo (João 14:1-
3) e o do Paulo (1 Tes. 4:16, 17): que os santos serão levados ao céu por
ocasião da segunda vinda.
Além disso, a Nova Jerusalém sobre a terra é descrita com detalhe
em Apocalipse 21:1-22:5. Tem o trono de Deus e do Cordeiro, e dela flui
"o rio puro da água da vida, claro como cristal". De um e do outro lado,
na praça, está a árvore da vida, que dá cada mês seu fruto (22:1, 2). Isto
afirma a realidade desta cidade.

Cura pela Árvore da Vida

Finalmente, a declaração que diz que as folhas da árvore da vida


eram "para a cura das nações" (Apoc. 22:2) suscita a pergunta de por
que há necessidade de "cura" na Nova Jerusalém. Nossa primeira
observação deve ser que esta descrição é uma adoção da visão do templo
de Ezequiel: "Junto ao rio, às ribanceiras, de um e de outro lado, nascerá
toda sorte de árvore que dá fruto… o seu fruto servirá de alimento, e a
sua folha, de remédio" (Ezeq. 47:12). Aqui, a idéia de "cura" encaixa
dentro da perspectiva da restauração do Israel depois do exílio
babilônico. Deus esperava que os israelitas que retornassem ficassem
As Profecias do Tempo do Fim 621
"envergonhados de suas culpas" (43:10, BJ) e não ousassem mais "abrir
a boca de vergonha" (16:63, BJ). E proibiu que "nenhum estrangeiro,
nenhum incircunciso, de coração ou incircunciso na carne, dentre todos
os estrangeiros que haja em meio dos filhos do Israel, entrará em meu
santuário" (44:9, JS).
João adapta a predição de Ezequiel para revelar seu cumprimento na
terra feita nova em uma forma que excede inclusive as expectativas de
Ezequiel. João inclui a todos os gentios que lavaram "suas roupas" e
portanto, obtiveram o direito de comer da árvore da vida dentro da Nova
Jerusalém (Apoc. 22:2, 14; ver também 7:14).
Esta revelação nova e importante omite o antigo rito da circuncisão
como o sinal de acesso da árvore da vida e o substitui por uma fé vivente
no sangue expiatório de Cristo Jesus (ver Apoc. 7:14). Aqui de novo
atestamos a progressão da revelação na história da salvação. Surge a
pergunta: Por que os santos na nova terra precisam comer da árvore da
vida? A função da árvore da vida no jardim do Éden, em Gênesis (2:9;
3:22-24), proporciona a resposta: para perpetuar a vida (ver Gên. 3:22).
A árvore da vida no Apocalipse obtém suas propriedades curativas do
trono de Deus e do Cordeiro (Apoc. 22:1, 2). Ezequiel já tinha explicado:
"Todos os meses trarão frutos novos, pois suas águas brotam do
santuário" (Ezeq. 47:12, BC).
Deus e o Cordeiro permanecem como a fonte viva de vida e bênção
por toda a eternidade. A humanidade redimida precisa recordar durante
toda a eternidade que só Deus o Criador tem imortalidade inerente (ver 1
Tim. 6:16), e que os santos permanecem para sempre dependendo de seu
Redentor para ter vida. Portanto, estamos de acordo com a seguinte
interpretação da Ellen White sobre a necessidade da árvore da vida:
"A árvore da vida é uma representação do cuidado protetor de Cristo
por seus filhos. Quando Adão e Eva comiam dessa árvore reconheciam sua
dependência de Deus. A árvore da vida possuía o poder de perpetuar a vida,
e enquanto comessem dela não podiam morrer".3
"O fruto da árvore da vida no jardim do Éden possuía virtudes
sobrenaturais. Comer dela equivalia a viver para sempre. Seu fruto era o
As Profecias do Tempo do Fim 622
antídoto da morte. Suas folhas serviam para manter a vida e a
imortalidade".4
Ellul explica este conceito filosoficamente, declarando que a "cura"
por meio das folhas da árvore da vida significa "a cura da finitude [do
homem]".5 O homem sempre estará marcado pela finitude. Nunca será
divinizado nem chegará a ser Cristo:
"Permanece uma distância infinita entre o Criador e o homem
ressuscitado... Ferido constantemente, ameaçado constantemente pela
finitude que está nele, é reavivado constantemente, curado constantemente,
pela eternidade. Mas esta não é uma condição de inferioridade imposta a
ele, e sim a situação criada pela relação de amor e pelo triunfo da graça.
Porque ainda tudo é de graça. E este homem vive pela eternidade de graça,
na graça que lhe é dada; vive do 'dom gratuito' ".6
O propósito final da descrição que João faz da cidade vindoura é
para assinalar além das imagens da árvore e do rio da vida a nossa
necessidade eterna de "uma relação pessoal com Deus no centro da
redenção e a concessão da graça de Deus".7

Referências

1 Swete, Commentary on Revelation, p. 275.


2 Strack-Billerbeck, Comentario del Nuevo Testamento con el
Talmud y la Midrás, t. 2, p. 393; Joachim Jeremias, Diccionario
teológico del Nuevo Testamento [ed. por G. Kittel], v. 4, pp. 1092,
1093.
3 Ellen White, Review and Herald, 26 de janeiro de 1897; citado em 7
CBA 999.
4 Ellen White, Signs of the Times [Sinais dos Tempos), 31 de março de
1909; citado em 7 CBA 999.
5 J. Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 230.
6 Ibid., pp. 230, 231.
7 Eichrodt, Ezekiel, p. 5.

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