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ISBN 978-85-7650-287-6
Este livro foi viabilizado por recursos do projeto Diverso – Políticas para a Diversidade e os Novos Sujeitos
de Direitos: estudos antropológicos das práticas, gêneros textuais e organizações de governo, realizado
com financiamento da Finep através do Edital de Ciências Sociais 2006 (Convênio Finep/FUJB nº
01.06.0740.00, REF: 2173/06), coordenado por Antonio Carlos de Souza Lima, Adriana Vianna e Eliane
Cantarino O’Dwyer.
O23p
O’Dwyer, Eliane Cantarino, 1947-
O papel social do antropólogo: aplicação do fazer antropológico e do conhecimento
disciplinar nos debates públicos do Brasil contemporâneo / Eliane Cantarino O´Dwyer. - Rio
de Janeiro: E-papers , 2010.
130p. (Antropologias ; 6)
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7650-287-6
1. Antropologia. 2. Antropologia - Pesquisa. 3. Etnologia 3. Quilombos - Brasil. 4. Políticas
públicas - Brasil. I. Título. II. Série.
Prefácio 9
Introdução 13
Referências bibliográficas 20
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Considerações finais
Por fi m, gostaríamos de sugerir que essa busca pelas diferenças que fazem
toda diferença pode estar relacionada ao próprio campo de constituição
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3 No caso do processo judicial sobre a área indígena Awá, o período de duas décadas de
ocupação efetiva de uma fazenda agropecuária é por ela considerado na fundamentação do
pleito como um eterno presente imutável de posse civil sobre área declarada terra indígena
por portaria ministerial, sem levar em conta as cadeias causais que levaram a fragmentação,
dispersão e perda de antigos harakwa (territórios de caça e coleta), como partes constitutivas
do território Awá de ocupação tradicional, o que afeta a reprodução, tanto física, quanto
cultural desse povo indígena, segundo seus usos, costumes e tradições (O’Dwyer, 2001).
4 Sobre a junção entre pesquisa antropológica e ação judicial e a problemática da defi nição
de um grupo étnico, ver Oliveira (1998:269-296). Para uma abordagem relativa a terras de
quilombo, ver O’Dwyer (2002:13-42). No texto “Os quilombos e as fronteiras da Antropo-
logia” (O’Dwyer, 2005:107-109), o leitor encontrará a descrição de um contexto político no
qual os argumentos antropológicos sobre autoatribuição passam a ser utilizados pela Advo-
cacia Geral da União e a Procuradoria Geral da República na defesa do Decreto 4.887/2003,
que regulamenta o artigo 68 do ADCT, diante de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADIN n° 3.239-9/600 – DF) impetrada pelo Partido da Frente Liberal, atual DEM.
Os (des)caminhos do reconhecimento
O debate sobre a conceituação de quilombo tem alcançado foros mais am-
plos na mídia, se tomarmos como referência matérias publicadas em revis-
tas como História, Época (“Os quilombolas contra o foguete espacial”) e
Veja, sites (Marcos Sá Correia, Vitória de Pirro na Marambaia) e edito-
riais em jornais de grande circulação.
Pode-se registrar nos diversos argumentos arrolados uma crítica aos
novos significados que o termo quilombo tem assumido na literatura es-
pecializada e também para grupos, indivíduos e organizações, conforme
já assinalado em documento elaborado pelo Grupo de Trabalho da ABA
Terra de Quilombo, em outubro de 1994. Observa-se também um consen-
so crítico entre vários articulistas, que citam a opinião de “especialistas’’
– historiadores, ambientalistas e outros – quanto aos signifi cados literais
e empíricos dos termos “quilombo” e “remanescente de quilombo” como
lugar de escravo fugido. Porém, como diz Victor Turner (1974), quando
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Nosso objetivo – dizia ele – é realizar com vocês o levantamento das plan-
tas para comprovar o conhecimento tradicional dos nativos. Para mostrar
A gente acha que vai ser bom (o trabalho de pesquisa), porque está tentan-
do ajudar a gente a resgatar a cultura. O que a gente aprendeu, mas que
estava esquecendo e este projeto veio para reavivar o nosso conhecimento
e dar continuidade ao nosso trabalho. Algumas coisas também, reconhe-
cer (o poder de cura do) nosso próprio remédio. As próprias pessoas da
comunidade têm o conhecimento das plantas, mas não sabem como desen-
volver a medicina de um tipo que existe hoje. Nosso uso das plantas se dá
de outras maneiras. Nós conhecemos vários tipos de madeira que vamos
mostrar para ele, entre flores, cascas e folhas, que são para nós de muito
valor curativo. Então, para nós aqui, esse é um trabalho muito importante
de tornar nossos produtos iguais a um remédio que vai servir não só para
os quilombolas, mas sim para todo nosso município e regiões do país.
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Nomadismo: os patrigrupos
Na documentação compulsada os grupos são nominados por um dos ho-
mens adultos e observamos no trabalho de campo pericial que essa prática
também é comum entre os próprios Awá, que assim identificam inclusive
os grupos residentes nas aldeias dos postos indígenas. No caso, por exem-
plo, de um grupo de índios sem contato até então com o pessoal da Funai,
que em agosto de 1987 visitou a chamada aldeia do bosque, na área in-
dígena Caru, os servidores do órgão indigenista, meses depois através de
informantes Awá residentes no posto indígena, identificaram-lhes como
do grupo Jacamintxia (hoje quase todos encontram-se no Pin Tiracambu,
área indígena Caru).
Esta lógica em seguir um sistema de nominação e divisão em grupos
presente na própria prática indigenista, parece estar teoricamente orienta-
da pela patrissegmentação dos tupi-guarani, como no caso dos índios “pa-
rakanã, que se dividem em patrigrupos nominados” (Fausto, 1995: 102).
Este autor chama atenção que apesar da “patri-orientação ser bastante
difundida entre os grupos tupi-guarani, de pouca significação sociocosmo-
lógica, (e podem ser interpretados) esses patrigrupos como um resquício
de uma realidade anterior, que se diluiu com o tempo, em função de cir-
cunstâncias históricas particulares” (idem). Em relação aos Awá, também
do tronco e família linguística tupi-guarani, deve ter ocorrido o mesmo
processo, ainda mais se levarmos em conta a regressão cultural do grupo,
analisada no item terceiro do parecer, sobre a perda da prática agrícola em
tempos pretéritos que já nem lembram, porém se mantém na persistência
de termos linguísticos para designar algumas plantas cultivadas.
Genocídio doméstico?6
Diante de uma situação de ameaças e ataques os Awá residentes no posto
Juriti resistem às invasões e constrangimentos extralegais. No trabalho de
campo realizado em dezembro de 2005, segundo depoimento dos próprios
Awá do Pin Juriti e servidores da Funai, no harakwa do Água Preta, existe
uma invasão de 500 pessoas, representadas por José Otávio, gerente dos
interesses latifundiários dos Galetti, residentes no município de Impera-
triz, que tem delimitado e vendido lotes dentro da área indígena Awá.
Há muitos roçados nessa área, sendo que os confl itos agravaram-se após
a demarcação da área, em 2002, pela Funai, que aguarda uma decisão
judicial para desintrusão da reserva indígena. Além de ameaçarem índios
e servidores do órgão indigenista, divulgam em reuniões políticas de uma
cooperativa de distribuição de terra formada em São João do Caru, que o
objetivo deles é reduzir a área demarcada pela Funai ao igarapé do Água
Preta, distante apenas 7,5 km do posto indígena.
Sobre a ameaça atual de redução drástica desse território de caça e
coleta, pode-se considerar que o fechamento da fronteira norte-sul da área
Awá, que impede a reprodução dos fluxos territoriais e as interconexões
entre os diferentes segmentos desse grupo indígena ao longo de uma fron-
teira étnica e territorial, pode repercutir no fracasso de manter sua identi-
dade e na alternativa sempre aberta de assimilação. Tal fracasso em garan-
tir a adequada proteção para o povo Awá prover sua subsistência através
de seus tradicionais meios de caça e coleta, pode igualmente representar
uma transformação radical da cultura Awá e da relevância organizacional
que ela assume para um dos últimos povos coletores-caçadores das terras
baixas da América do Sul.
6 Na defi nição do genocídio doméstico têm sido considerados os atos cometidos com a inten-
ção de destruir, no todo ou em parte, grupos étnicos, raciais ou religiosos, incluindo formas
de genocídio cultural. Dentre os tipos de genocídio doméstico, se encontra aquele praticado
contra povos indígenas. Esta é uma forma contemporânea dos massacres do período colonial,
atualmente perpetrada contra pequenos grupos de caçadores e coletores ameaçados de extin-
ção, vítimas de uma economia de desenvolvimento predatório (Kuper, 1982:216).
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Situação de perda
Nas condições anteriores de trabalho de campo, realizado em novembro
de 2006, um trágico episódio, recém-ocorrido naquela ocasião, se impôs
como tema de nossas conversas por iniciativa dos próprios índios. A morte
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9 Longe de concordar com tal afi rmativa, que serve aos propósitos de nossa argumentação,
os autores do texto citado tem por objetivo justamente “analisar alguns aspectos das relações
entre a construção da antropologia como forma de conhecimento de certas populações e a
elaboração e colocação em prática pelos Estados de políticas visando administrar essas popu-
lações” (L’Estoile, Neiburg e Sigaud, 2000:233).
10 Para uma abordagem crítica deste tipo de “indigenismo de Estado” e a caracterização dos
“relatórios de identificação” para reconhecimento de terras indígenas no âmbito da Funai,
ver Lima, 1998, p. 221-268.
Sobre os pareceres emitidos pelos Grupos de Trabalho designados pela Funai para elaboração
dos “relatórios de identificação”, o indigenismo é ainda caracterizado “como um conjunto
de saberes práticos e um discurso com efeitos ideológicos, (que) acaba por nivelar e homo-
geneizar o comportamento do antropólogo (‘e de outros técnicos’) com o do indigenista. Há
antropólogos dentro da instituição que se transformaram em indigenistas pela força do tipo
de intervenção econômica e política do órgão; assim como há indigenistas que funcionam
como antropólogos, diluídos que estão em práticas de irrecusável similitude. Práticas simi-
lares em que os critérios objetivos (‘os dados precedentes de observação direta são poucos,
assistemáticos, sendo minimizada a significação do observado’) cedem sempre lugar à visão
dos impressionismos da experiência e ao formalismo das decisões burocráticas” (Oliveira e
Almeida, 1998:87).
“Busca-se o testemunho dos que viveram pelo lado das vítimas as situ-
ações denunciadas. Viveram e/ou viram. O poder que por acaso se faça
“Os dados que obtivemos foram marcados por essa forma de deslocamen-
to e suas variações: de canoa pelos rios e suas margens, entrando nos iga-
a procura dos critérios ditos ‘objetivos’ da identidade (...) étnica não deve
fazer esquecer que, na prática social, estes critérios (por exemplo, a lín-
gua...) são objeto de representações mentais, quer dizer, de atos de per-
cepção e de apreciação, de conhecimento e de reconhecimento em que
os agentes investem os seus interesses e os seus pressupostos, e de repre-
sentações objetais, em coisas (emblemas, bandeiras, insígnias, etc.) ou
em atos, estratégias interessadas de manipulação simbólica que têm em
vista determinar a representação mental que os outros podem ter destas
propriedades e dos seus portadores. Por outras palavras, as características
que os etnólogos e os sociólogos objetivistas arrolam, funcionam como
sinais, emblemas ou estigmas, logo que são percebidas e apreciadas como
o são na prática. (...). (Deve-se, assim,) romper com as pré-noções da
sociologia espontânea, entre a representação e a realidade, com a condi-
ção de se incluir no real a representação do real, ou mais exatamente, a
luta das representações, no sentido de imagens mentais mas também de
manifestações sociais destinadas (ao reconhecimento coletivo) (Bourdieu,
1989:112-113).
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