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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL

MÁRCIA DE SOUZA OLIVEIRA PAES LEME ALBERTO

TRAJETÓRIA DO CÓDIGO DE ÉTICA DO


ASSISTENTE SOCIAL

ITUIUTABA – MG
2014
MÁRCIA DE SOUZA OLIVEIRA PAES LEME ALBERTO

TRAJETÓRIA DO CÓDIGO DE ÉTICA DO


ASSISTENTE SOCIAL

Trabalho apresentado à Universidade Federal


de Uberlândia, quarto período do curso de
Serviço Social, como requisito avaliativo da
disciplina de FTESS IV.

Professora: Cleidislene Conceição Silva

ITUIUTABA – MG
2014
1. INTRODUÇÃO

Desde o final dos anos 70 o Serviço Social vem passando por profundas
transformações, um dos fatores dessas mudanças se deve ao grande crescimento
da literatura especializada na área, oriundas dos meios universitários, mas pouco se
escreveu sobre a ética profissional.
A lei 3252 de 27 de agosto de 1957, regulamentada pelo decreto 994 de 15
de maio de 1962, data da qual se comemora o dia dos assistentes sociais, em seu
artigo 6º decreta que a disciplina e fiscalização do exercício profissional ficam sob a
responsabilidade do Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e dos
Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CRAS), que desde a aprovação da lei
8662/93, que revogou a lei 3252/57, passaram a ser Conselho Federal de Serviço
Social (CFESS) e Conselho Regional de Serviço Social (CRESS).
Após a implantação dessa lei, os Códigos de Ética de 1965 e 1975 sofreram
várias alterações, mas somente o Código de 1986 tinha o objetivo de romper com o
tradicionalismo e os padrões autoritários, de forma a fortalecer a profissão e quebrar
os paradigmas instalados. Em 1993 essa história ganha novos rumos com a quinta
versão do Código Ética (1947, 1965, 1975, 1986 e 1993), um projeto empreendedor
encabeçado pelo CFESS e uma grande equipe de profissionais de Serviço Social e
áreas afins, imbuídos em traçar uma nova trajetória para a profissão.
O CFESS teve um papel muito importante nos anos de 1991-93 ao
reformular o código de Ética de 1986, para o atual Código de 1993. Esse processo
veio preencher a lacuna que existia, pois contou com a participação coletiva de
Assistentes Sociais para sua formulação em um projeto coletivo e participativo, sem
perder todo o avanço já conquistado até 1986, principalmente o compromisso com
as classes trabalhadoras. Contudo, esse tema deveria ser ampliado e melhor
explicado no sentido do comprometimento com um projeto profissional, de acordo
com os novos tempos e novos sujeitos, um projeto radicalmente democrático e
transformador.
Nesse processo de reflexão e análise do Código de 1986, estão subjacentes
valores como: plena emancipação, realização do homem, defesa da vida humana,
de indivíduos sociais detentores de direitos como condição fundamental de
cidadania (direitos civis, sociais, políticos, econômicos) e de justiça social.
Esse novo conceito veio trazer como referência os direitos humanos, a
liberdade do homem, a autonomia do ser social, presumindo a superação do
processo de dominação-exploração, de autoritarismos e de barbarização da vida
social.
Coube ao CFESS (1990-93) o desafio de enfrentar esse debate,
organizando encontros profissionais em parceria com os Conselhos regionais de
Serviço Social (CRESS), A Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social
(ABESS), o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço
Social (Cedepss), a Associação Nacional dos Assistentes Sociais (ANAS), existente
na época, e a Subsecretaria de Serviço Social na UNE/Sessune (atual
Enesso/Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social, contando com maciça
participação da categoria e profissionais de áreas afins, expressa nas diversas
conferências e comunicações apresentadas.
Esse processo iniciou no I Seminário Nacional de Ética (agosto de 1991),
continuando no 7º CBAS (maio de 1992), no II Seminário Nacional de Ética
(novembro de 1992) e em diversos encontros estaduais, culminando com a
aprovação do Novo Código de Ética, no XXI Encontro Nacional CFESS/CRESS
(fevereiro de 1993). Em março de 1993, entrou em vigor o novo Código de Ética.
O CFESS constituiu uma Comissão técnica Nacional de Ética para elaborar
o novo Código, considerando o conjunto das necessidades e valores expressos pela
categoria, composta pelos assistentes sociais e professores de Serviço Social:
Beatriz Augusto de Paiva, José Paulo Netto, Maria Lúcia Silva Barroco, Marlise
Vinagre e Mione Apolinario Sales, e pela assessora jurídica Silvia Helena Terra.

2. SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

O Serviço Social surge no Brasil na década de 30 no século XX, no seio da


Igreja Católica, baseado nos princípios europeus, como forma de conter os
problemas gerados pela evolução do capitalismo. Sua fundação, ao contrário do
que se pensa, surge no interesse da burguesia, como uma forma de amenizar ou
conter os conflitos e a questão social imposta pela exploração do trabalho e o
crescimento desenfreado da industrialização. As primeiras turmas eram formadas
por moças da elite, solteiras “damas de caridade” que pregavam um
assistencialismo voltado para os interesses da classe dominante (Igreja, Estado e
Burguesia), não visava o interesse da classe operária, os direitos sociais, e os
antagonismos gerados dentro desse contexto.
Em 1936 surge em São Paulo a primeira escola de Serviço Social,
coordenada por Albertina Ferreira Ramos e Maria Kiehl, ambas sócias do Centro de
Estudos de Ação Social vinculado a Igreja Católica. Neste centro eram organizados
cursos de qualificação para organizações leigas no catolicismo, adequando política e
ideologicamente a classe operária. Nesta perspectiva surge então o Serviço Social
como um departamento da Ação Social. A criação dessa escola, junto com a escola
de Serviço Social do Rio de Janeiro, foi responsável pela formação de vários
profissionais que impulsionaram o surgimento de escolas de Serviço Social em
diversos locais do Brasil.
Em sua trajetória, muitos fatos marcaram a história do Serviço Social, nos
anos 80 o Serviço Social continuou enfrentando lutas para quebrar paradigmas de
compreensão da sociedade, discutindo questões políticas e teóricas, nos anos 90
essas questões perderam força com o fim da Guerra Fria, devido ao
enfraquecimento das forças progressistas e as críticas ao modelo neoliberal.
Entretanto, em contrapartida, aumenta a luta pela defesa dos direitos humanos.
Começa a tomar dimensões gigantescas no mundo e no Brasil especialmente
questões sociais e que ferem os direitos a cidadania, moral e ética.

3. A ÉTICA

A ética é uma reflexão crítica sobre a moralidade, um conjunto de princípios


e disposições voltados para a ação, e tem por objetivo essencial demarcar as ações
humanas.
Muitos confundem ética com moral, acreditando que ambas possuem o
mesmo significado, não são, a moral diz respeito aos costumes, código de conduta,
normas livremente aceitas pelos indivíduos, por convicção pessoal, sendo
reconhecidas como obrigatórias por refletirem os princípios, valores e interesses
dominantes na sociedade na qual estão inseridos. A ética diz respeito à disciplina
teórica, à ciência, e ao estudo sistemático da moral.
A forma de agir, se é boa ou ruim, pertence à moral. A ética se preocupa em
definir, teoricamente, a essência da moral, sua origem, seu contexto histórico e as
fontes de avaliação moral, sua função é explicar a moral, ambas andam juntas
nesse processo.
A ética profissional, de caráter normativo e até jurídico, através de estatutos
e códigos específicos, e que regulamenta determinada profissão, se refere ao
relacionamento do profissional com sua clientela, visando à dignidade humana e a
construção do bem-estar no contexto sociocultural onde exerce sua atividade
profissional.
Para falar de ética no Serviço Social, precisamos fazer uma análise de sua
trajetória e da atuação do profissional dessa área.

4. OS CÓDIGOS DE ÉTICA DO SERVIÇO SOCIAL

O primeiro Código de Ética de 1947, aprovado em 1948, criado através da


resolução de nº 1 de 29 de setembro de 1947, de origem conservadora e tradicional,
impregnado de valor cristão, sem mediação do Estado e sem respaldo jurídico,
centrado na justiça social e na caridade cristã, coloca a lei de Deus como a regente
da vida humana, camuflando a noção de direitos dos indivíduos, e que o usuário
seria o beneficiário desses serviços. O Serviço Social era voltado aos interesses do
capitalismo, tratava-se da questão social, mas sem questionar seus motivos, suas
origens. Nesse código a moral ou ética eram consideradas como a ciência dos
princípios e das normas que se devem seguir para fazer o bem e evitar o mal.
Na década de 60, o Serviço Social brasileiro, através da ABESS, publica um
documento, o Código Moral de Serviço Social, de origem europeia, de caráter
conservador, em oposição a todas as conquistas da sociedade moderna.
De acordo com o Código Moral, o assistente social deve ser:
[...] um modelo de polidez e cortesia por seu espírito serviçal
espontâneo, seu bom humor e amabilidade, sua linguagem correta e
simples, seu trajar alinhado, rejeitando todo o apuro, seus modos e
atitudes distintas, livres de toda afetação...
Levará uma vida metódica, tanto quanto possível sem excesso de
fadiga; não se recusará, porém, a sacrificar parte de sua saúde,
desde que circunstâncias especialmente graves peçam um
devotamento esgotante (HEYLER apud BARROCO, 2007:123).

Esse código também adentra a vida privada do Assistente Social:


[...] as paixões e desejos imoderados de riqueza, gozo, poder, a
preguiça e a falta de vontade [...]
Fora do serviço, as relações dos assistentes sociais serão
selecionadas e cultivadas num nível moral digno de sua profissão.
Cumpre evitar a solidão, assim como os flertes e as companhias
suspeitas, o excesso de bebidas fortes, e outros tipos de diversões
licenciosas, mas também a falta de interesse pela atualização e
progresso na própria formação. Os assistentes sociais solteiros não
receberam em seu domicilio privado a visita particular de agentes
casados não acompanhados de seus cônjuges, e, a fortiori, de
agentes solteiros, igualmente não aceitaram nenhum convite que
lhes façam circunstâncias análogas” (HEYLER apud BARROCO,
2007:124).

É possível perceber a forte presença do moralismo preconceituoso e


conservador, no que diz respeito a sexualidade e a vida privada, o papel do homem
e da mulher na sociedade, uma ação profissional voltada para os interesses da
Igreja sem que haja transformações na vida da sociedade.
O código de 1965, apesar de manter o caráter religioso e o apelo moral do
anterior, somará a este a influência norte-americana, o funcionalismo. Nesse
momento ainda não se fala em ruptura nos fundamentos do Serviço Social.
Apresentará a ideia de "integração social" e "correção dos desníveis sociais", como
forma de integrar aqueles que estão fora do padrão da sociedade, o problema é do
indivíduo, inviabilizando a percepção das contradições do capitalismo.
A década de 60 foi marcada por grandes mudanças políticas no Brasil e no
mundo, o Serviço Social passou por momentos de grandes questionamentos sobre a
profissão e sua percepção sobre a realidade, a influência norte-americana e a
necessidade de pensar o capitalismo e seus efeitos no país, o ano de 1965 deu
início à deflagração do Movimento de Reconceituação.
Mas apesar desses questionamentos críticos da profissão, seu aspecto
conservador e os movimentos norte-americanos de reconceituação que vinham
acontecendo, o código de 1965 não mudou essa realidade e nem abandonou seu
caráter conservador.
Vale ressaltar que um dos fatos pelos quais não houve mudança desse
contexto profissional se deve à falta de conhecimento intelectual dos profissionais da
época e também ao momento vivido pelo país, o golpe militar de 64, período em que
os direitos e liberdades individuais eram sonegados, impondo limites às instituições
e até mesmo aos Assistentes Sociais, principalmente com a instauração do Ato
Constitucional de nº 5.
O código de 1975 retoma o tradicionalismo, porém inicia-se a construção de
uma nova moralidade apoiada no marxismo, não abordará a questão da
reconceituação, muito pelo contrário, tratará da modernização e manutenção do
conservadorismo, com nova roupagem e respostas às novas demandas que surgem
na profissão isto é, o novo discurso que a categoria apresenta não pode ser
caracterizado ainda como uma ruptura com a herança conservadora da profissão.
A ruptura com o conservadorismo na profissão, anunciada no movimento de
reconceituação, só acontecerá a partir da década de 80, o Código de 86 será
percebido como a expressão de conquistas e ganhos profissionais através da
negação da base filosófica tradicional, nitidamente conservadora e da "ética da
neutralidade", além da substituição do profissional subalterno e apenas executivo
por um profissional competente teórico, técnica e politicamente.
O código de 93 mantém as conquistas do código anterior e seu
aprimoramento. Grande fato que contribuiu para essa conquista foi a Constituição de
88, que teve grande impacto na realidade brasileira, seus dispositivos legais
voltados para uma sociedade democrática. Muda-se o perfil do profissional e seu
modo de atuação ética e profissional, compromisso com os usuários, com base na
liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social.
REFERÊNCIAS

BONETTI, D. A. [et. al...]. Serviço Social e ética: convite a uma nova práxis –
13.ed. – São Paulo: Cortez, 2012.

OLIVEIRA SILVA, A. N. de. PRINCIPIOS NORTEADORES PARA O EXERCICIO


PROFISSIONAL: Revisando o Código de Ética do Assistente Social. Disponível em:
http://www.aems.edu.br/conexao/edicaoatual/sumario/downloads/2014/Principios
%20norteadores%20para%20o%20exercicio%20profissional%20revisando%20o
%20c%C3%B3digo%20de%20%C3%A9tica%20do%20assistente%20social..pdf .
Acesso em 21 de novembro de 2014 às 16h.

PEREIRA, BRUNA F. B. CAMINHOS DO AMADURECIMENTO POLÍTICO DA


ÉTICA PROFISSIONAL DO (A) ASSISTENTE SOCIAL. Disponível em
http://semanaecopol.files.wordpress.com/2013/10/gt-3-bruna-fernanda-bc3b3lico-
pereira-caminhos-do-amadurecimento-polc3adtico.pdf . Acesso em 22 de novembro
de 2014, às 11h49.

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