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Nº 4 – OUT. 2003 VOL.

1 ISSN 1645-5576

MODELAÇÃO NUMÉRICA DO
COMPORTAMENTO DE PILARES
CURTOS REFORÇADOS POR
ENCAMISAMENTO DE BETÃO
ARMADO

E. JÚLIO F. BRANCO V.D. SILVA


PROFESSOR AUXILIAR PROFESSOR CATEDRÁTICO PROFESSOR ASSOCIADO
UNIV. DE COIMBRA IST UNIV. DE COIMBRA
COIMBRA LISBOA COIMBRA
PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL

SUMÁRIO

Neste artigo descreve-se um estudo numérico, validado com resultados experimentais, sobre a influência da
interface no comportamento de pilares curtos reforçados por encamisamento de betão armado. Esta análise
permitiu confirmar a hipótese, avançada a partir da interpretação dos resultados de ensaios experimentais, de
existir a probabilidade de ocorrência de descolamento do reforço, para pilares curtos reforçados por
encamisamento de betão armado sem tratamento da superfície da interface.

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Modelação Numérica do comportamento de pilares curtos reforçados por encamisamento de betão armado

1. INTRODUÇÃO

A reabilitação estrutural representa, actualmente, uma parcela importante no sector da construção civil. A
técnica de encamisamento de betão armado é uma das operações de reforço de pilares mais adoptadas. O
monolitismo do elemento compósito é fundamental para o sucesso deste método. Por esta razão, assegurar a
resistência da interface é um aspecto crucial. A prática corrente, universalmente aceite, consiste no aumento
da rugosidade da sua superfície, sendo igualmente comum a aplicação de resinas epoxídicas [1].
Os autores conduziram inicialmente um estudo experimental para quantificar a influência de diversos
parâmetros na resistência da interface entre betões de diferentes idades [2-3]. Este estudo foi complementado
com uma simulação numérica.

Com base na interpretação dos resultados obtidos, foi definido um novo programa de ensaios, monotónicos e
cíclicos, de pilares reforçados por encamisamento de betão armado com diferentes tratamentos da superfície
da interface [2].

Não se observou descolamento do reforço de nenhum desses modelos, provavelmente devido ao facto de ter
ocorrido o esmagamento do betão do reforço na zona do encastramento antes de se terem mobilizado as
tensões tangenciais que provocariam o mesmo. Para investigar esta hipótese, decidiu-se realizar uma análise
numérica do problema que se descreve no presente artigo.

Na modelação numérica foi utilizado o programa comercial de elementos finitos, LUSAS. Utilizaram-se
elementos pentaédricos de 6 ou 15 nós e hexaédricos de 8 ou 20 nós e os critérios de rotura de Mohr-
Coulomb ou Drucker-Prager para modelar o material betão, elementos barra tridimensionais de 2 ou 3 nós e
o critério de cedência de Von Mises para modelar o material aço e elementos de interface triangulares de 6
ou 12 nós e quadrados de 8 ou 16 nós e um modelo de delaminação para modelar a interface. Para resolver o
sistema de equações não-lineares resultante utilizou-se um método misto incremental iterativo de Newton-
Raphson standard.

2. MODELAÇÃO DOS ENSAIOS REALIZADOS PARA CARACTERIZAR OS MATERIAIS E A


INTERFACE

2.1 Ensaios dos materiais

A modelação numérica dos ensaios experimentais, realizados para determinar as características dos materiais
betão e aço, foi efectuada com a finalidade de validar os parâmetros necessários aos critérios de rotura e de
cedência adoptados [4]-[8], testar os elementos finitos hexaédricos de 8 e 20 nós [9]-[13], testar os elementos
finitos barra tridimensionais de 2 e 3 nós [8],[11],[12], testar refinamentos da malha de elementos finitos e
testar o método misto incremental e iterativo de Newton-Raphson standard usado [4]-[8],[11][14]-[17].

2.2. Ensaios do tipo pull-off

A modelação dos ensaios realizados do tipo pull-off teve como objectivos testar os elementos finitos
pentaédricos de 6 e 15 nós, os elementos finitos de interface triangulares de 6 e de 12 nós utilizados [8],[12]
e calibrar as características do mecanismo de delaminação adoptado [8] (Fig. 1).

Atendendo à dupla simetria do provete do tipo pull-off, decidiu-se modelar apenas um quarto do mesmo para
tornar o cálculo mais rápido. As condições de apoio consideradas consistiram em restringir todos os graus de
liberdade nos nós correspondentes à zona de aplicação do anel de contra-pressão do equipamento de ensaio
utilizado, tendo-se restringido todos os nós de cada uma das superfícies de simetria na direcção normal
correspondente. O carregamento consistiu no deslocamento imposto dos nós coincidentes com o topo da
carote onde, no ensaio laboratorial, foi colado com resina epoxídica o disco de aço ao qual foi ligado o
dispositivo do ensaio de tracção.

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Modelação Numérica do comportamento de pilares curtos reforçados por encamisamento de betão armado

LOAD CASE = 20
Lo adcase 1 Inc. 20
RESULTS FILE = 0
ST RESS
CONTOURS OF SY

-2.65 683e+0 06
-2.27 728e+0 06
-1.89 774e+0 06
-1.51 819e+0 06
-1.13 864e+0 06
-759094
-379547
0
379547
759094
1.13 864e+00 6
1.51 819e+00 6
1.89 774e+00 6
2.27 728e+00 6
2.65 683e+00 6
3.03 638e+00 6

Max 0.3097E+07 at Node 1426


Mi n -0.2976E+07 at Node 2975

Figura 1 – Rotura pela interface (a) de um provete pull-off; e (b) do correspondente modelo
numérico.

2.3. Ensaios do tipo slant shear

A modelação de alguns dos ensaios realizados do tipo slant shear teve como objectivos testar diferentes
refinamentos da malha de elementos finitos, condições de fronteira, tipos de carregamento, comportamentos
dos materiais e, principalmente, calibrar as características dos elementos finitos de interface quadrados de 16
e 8 nós e triangulares de 12 e 6 nós utilizados e do mecanismo de delaminação adoptado para os mesmos
(Fig. 2).

LOAD CASE = 1500


Loadcase 1
RESULTS FILE = 0
DISPLACEMENT
CONTOURS OF DY

0
2 .75e-00 5
5 .5e-005
8 .25e-00 5
0 .00011
0 .000137 5
0 .000165
0 .000192 5
0 .00022
0 .000247 5
0 .000275
0 .000302 5
0 .00033
0 .000357 5
0 .000385
0 .000412 5

Max 0.4400E-03 at Node 163


Min 0.0000E+00 at Node 404

Figura 2 – Rotura pela interface (a) de um provete slant shear; e (b) do correspondente
modelo numérico.

2.4. Lei constitutiva da interface

Foi adoptado um modelo de dano por delaminação no qual é assumido um comportamento linear elástico até
ser atingido um valor limite da tensão, seguido de um amaciamento igualmente linear, considerando-se que a
rotura ocorre quando é excedida a energia de fractura [8]. Existem três modos de fractura, um por tracção e
dois por corte, podendo considerar-se a delaminação acoplada ou desacoplada [8].

O valor médio da tensão de rotura por tracção dos cinco provetes ensaiados para cada situação foi
especificado como tensão inicial do primeiro modo de delaminação (rotura por tracção). A tensão inicial dos
restantes dois modos, correspondentes à delaminação por corte, foi definida com base nos resultados dos
ensaios do tipo slant shear dos provetes com igual tratamento da superfície da interface. O valor da extensão
elástica limite para cada um dos modos de delaminação foi considerado bastante reduzido de forma a obter-
se uma rigidez inicial muito elevada. O valor da extensão máxima de cada um dos modos de delaminação
foi, pelo contrário, considerado elevado para se poder facilmente visualizar o descolamento. A energia de
fractura de cada um dos modos de delaminação foi calculada como a área definida pela recta tensão-extensão

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elástica limite, pela recta correspondente ao amaciamento e pelo eixo das abcissas.

3. MODELAÇÃO DOS ENSAIOS MONOTÓNICOS DOS PILARES

3.1. Pilar não-reforçado

A modelação do ensaio lento monotónico do modelo não reforçado (Fig. 3) teve como objectivo validar os
elementos finitos, os critérios de rotura e de cedência, o refinamento da malha, o método misto incremental e
iterativo de Newton-Raphson standard e os critérios de convergência [13] adoptados na análise.

Atendendo à simetria do modelo e do carregamento, optou-se por modelar apenas meio pilar. Utilizaram-se
224 elementos hexaédricos de 8 nós e o critério de rotura de Drucker-Prager para modelar o betão e 144
elementos barra de 2 nós e o critério de cedência de Von Mises para modelar os varões da armadura
longitudinal e as cintas de aço (modelo NR_9_6). A malha foi definida com a preocupação de se obterem
elementos regulares e foi condicionada pela localização das armaduras longitudinais e transversais do pilar
bem como pelas cintas do reforço a considerar no modelo reforçado a construir a partir deste (Figura 4).

As condições de apoio consistiram na restrição de todos os graus de liberdade dos nós correspondentes ao
encastramento e à restrição do deslocamento na direcção perpendicular ao plano de flexão de todos os nós
situados no plano de simetria.

O carregamento compreendeu, nos primeiros 10 incrementos, a aplicação gradual do esforço axial, como
carga uniformemente distribuída no topo do pilar, à semelhança do ensaio experimental. Esse valor foi
mantido constante nos incrementos seguintes, em que se aplicou um deslocamento imposto nos pontos de
uma das faces do modelo, a 1,0m do encastramento, com o valor total de 20mm, para incluir claramente a
fase plástica.

Apesar do resultado numérico se aproximar do resultado experimental, o tempo de cálculo foi excessivo pelo
que se decidiu construir modelos menos refinados e analisar a sua viabilidade. A malha do modelo NR_13_1,
cujo resultado se considerou aceitável, era constituída por 60 elementos hexaédricos de 8 nós para modelar o
betão e 40 elementos barra de 2 nós para modelar os varões de aço da armadura longitudinal (Figura 5).

Figura 3 – Ensaio lento Figura 4 - Malha do Figura 5 - Malha do


monotónico do pilar não modelo NR_9_6. modelo NR_13_1.
reforçado.

Apresentam-se, na Figura 6, as curvas força horizontal aplicada versus deslocamento dos pontos de aplicação
da mesma, relativas ao modelo mais refinado (NR_9_6), a um modelo menos refinado (NR_10_1) e ao
modelo adoptado (NR_13_1).

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80

70

60

50

Força (kN)
40

30

20

10

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Deslocamento (mm)

modelo NR 9_6 modelo NR 10_1 modelo NR 13_1

Figura 6 - Curvas força versus deslocamento do modelo NR_9_6, do modelo NR_10_1 e do


modelo NR_13_1.

3.2. Pilar monolítico

Com base no modelo NR_13_1, construiu-se o modelo numérico do ensaio lento monotónico do modelo
experimental reforçado, betonado monoliticamente, denominado modelo R_MON_1, adicionando 90
elementos hexaédricos de 8 nós para modelar o betão do reforço e 24 elementos barra de 2 nós para modelar
os varões de aço da armadura longitudinal do reforço (Figura 7).

Apresentam-se, na Figura 8, as curvas força horizontal aplicada versus deslocamento dos pontos de aplicação
da mesma, relativas ao modelo experimental, M6G1, e ao modelo numérico correspondente, R_MON_1.

Apesar da diferença entre os resultados experimental e numérico não ser, neste caso, desprezável,
considerou-se aceitável para efectuar a análise pretendida, atendendo a que o objectivo definido era
comprovar, ou não, qualitativamente, a hipótese avançada do descolamento do reforço se poder verificar para
pilares curtos.

100

90

80

70
Força Horizontal (kN)

60

50

40

30

20

10

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Deslocamento (mm)

M6G1 modelo R MON_mv_1

Figura 7 - Malha do modelo Figura 8 - Curvas força versus deslocamento do modelo


R_MON_1. M6G1 e do modelo R_ MON_1.

3.3 Pilar reforçado com a interface preparada com jacto de areia

O modelo R_JA_1 foi construído introduzindo, no anterior, 42 elementos de interface de 8 nós, com as
características da superfície tratada com jacto de areia (Figura 9).

Verificou-se uma concordância perfeita entre as respostas deste e do modelo numérico em que se admitiu
aderência total entre o pilar original e o reforço, R_MON_1.

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3.4 Pilar reforçado com a interface sem tratamento

Alteraram-se as características da superfície da interface do modelo R_JA_1 para as da situação sem


tratamento, construindo assim o modelo R_ST_1.

Este modelo apresentou instabilidade numérica numa fase incipiente do cálculo pelo que se teve de proceder
a um aumento substancial do número de incrementos e a correcções dos critérios de convergência definidos.
Todos os modelos corrigidos apresentaram, até ao ponto em que o cálculo era interrompido, um
comportamento coincidente com o do modelo em que se admitiu aderência total do reforço e o do modelo em
que se considerou a superfície da interface tratada com jacto de areia.

Figura 9 – (a) Ensaio lento monotónico do pilar reforçado com a interface tratada com jacto
de areia; (b) Malha do modelo numérico correspondente, R_JA_1.

3.5 Pilar com o reforço não - aderente

Decidiu-se efectuar, igualmente, a modelação numérica do ensaio monotónico do modelo experimental com
o reforço não aderente, com o objectivo de reforçar a validação da análise numérica.
O modelo R_NA_2 foi construído com base no modelo numérico adoptado do pilar não reforçado, modelo
NR_13_1, adicionando 90 elementos hexaédricos de 8 nós para modelar o betão do reforço, 24 elementos
barra de 2 nós para modelar os varões de aço da armadura longitudinal do reforço e 42 elementos junta de 4
nós [8], [12], [18] para efectuar a ligação de cada um dos nós da malha do pilar original ao nó
correspondente da malha do reforço através de três molas orientadas em cada uma das três direcções do
espaço (Figura 10). Considerou-se uma rigidez muito elevada (2×1020 N/m) nas molas com a direcção da
normal ao plano da interface e assumiu-se um valor quase nulo da rigidez (0,001 N/m) nas molas com as
restantes orientações, paralelas ao plano da interface.

Figura 10 – (a) Ensaio do pilar reforçado com encamisamento não-aderente; (b) Malha do
modelo numérico correspondente, R_NA_2.

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Na Figura 11, apresentam-se as curvas força horizontal versus deslocamento dos pontos de aplicação da
mesma, referentes aos ensaios experimentais dos modelos com o reforço aderente, M6G1, e com o reforço
não aderente, M2G1, e às modelações numéricas correspondentes, modelo R_MON_1 e modelo R_NA_2,
respectivamente.

Analisando as curvas da Figura 11, verifica-se que o modelo numérico do pilar com o reforço não aderente
apresenta rigidez e resistência superiores às do correspondente modelo experimental, à semelhança do que se
tinha constatado relativamente aos modelos numérico e experimental do pilar com o reforço aderente.
Qualitativamente, o comportamento relativo dos modelos numéricos com o reforço aderente e não aderente é
idêntico ao dos correspondentes modelos experimentais, confirmando-se a validação da análise numérica
efectuada.

120

100
Força Horizontal (kN)

80

60

40

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
De sloca me nto (m m)

modelo R MON_1 modelo R NA_2 M6G1 M2G1

Figura 11 - Curvas força versus deslocamento dos modelos R_MON_1, R_NA_2, M6G1 e
M2G1.

4. SIMULAÇÃO DE NOVAS SITUAÇÕES

Com base no modelo numérico adoptado do pilar reforçado sem tratamento da superfície da interface,
modelo R_ST_3, alterando apenas as coordenadas verticais dos nós deste, construíram-se modelos numéricos
semelhantes, com 90%, 80%, 70%, 60% e 50% da altura dos modelos experimentais.

Todos estes modelos apresentaram problemas de instabilidade numérica para um número reduzido de
incrementos. A causa foi atribuída ao facto da tensão elástica limite do modelo de delaminação da interface
ser atingida cedo, entrando-se na parte de amaciamento desse critério. O algoritmo de cálculo utilizado, a
formulação de Euler explícita, não era o mais aconselhável para esta situação mas antes uma formulação
implícita, incondicionalmente estável [19]. Porém, o programa utilizado apresentava esta limitação. A
substituição do método de cálculo utilizado, incremental e iterativo de Newton-Raphson standard, pelos
métodos alternativos disponíveis, arc-length de Crisfield ou de Rheinboldt [4],[6],[8] também não era
possível, para a situação de carga considerada.

Optou-se então por, a partir do modelo não reforçado menos refinado, NR_10_1, construir um modelo
reforçado, que se designou por modelo R_ST_100_2, idêntico ao modelo R_ST_3, mas com metade dos
elementos. O erro relativamente ao ensaio experimental aumentou, sendo o modelo numérico mais rígido e
apresentando igualmente maior resistência. Em contrapartida, tendo uma malha menos refinada, revelou-se
numericamente mais estável.

Decidiu-se repetir o procedimento atrás descrito, ou seja, com base no modelo R_ST_100_2, alterando
apenas as coordenadas verticais dos nós, construir modelos numéricos semelhantes, com 90%, 80%, 70%,
60% e 50% da altura dos modelos experimentais, designando-os modelo R_ST_H_2, sendo H o valor da
altura do modelo em percentagem da altura do modelo experimental.

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A título de exemplo, ilustram-se, com as Figuras 12 e 13, as distribuições de tensões verticais do modelo
R_ST_100_2 e do modelo R_ST_50_2 correspondentes às situações V=102,9kN e M=102,9kNm, para o
primeiro, e V=205,7kN e M=102,9kNm, para o segundo. Verifica-se que, no primeiro caso, essa distribuição
é monolítica, propagando-se a zona de compressões, no encastramento, do reforço ao pilar original. Em
contrapartida, observa-se que, no segundo caso, a referida distribuição é diferente no reforço e no pilar
original, para uma dada secção transversal do modelo. De notar, na secção de encastramento, a variação de
tensões de compressão para tensões de tracção ao longo do reforço, observando-se novamente tensões de
compressão nas fibras do pilar original adjacentes ao reforço.

Confirma-se, desta forma, a hipótese avançada de existir a probabilidade de ocorrência de descolamento do


reforço para pilares curtos reforçados por encamisamento de betão armado sem tratamento da superfície da
interface.

LOAD CASE = 5000


Increment 5000
RESULT S FILE = 0
ST RESS
CONTOURS OF SY

-8. 24818e+007
-7. 61371e+007
-6. 97923e+007
-6. 34476e+007
-5. 71028e+007
-5. 0758e+007
-4. 44133e+007
-3. 80685e+007
-3. 17238e+007
-2. 5379e+007
-1. 90343e+007
-1. 26895e+007
-6. 34476e+006
0
6.3 4476e+ 006
1.2 6895e+ 007

Max 0.1438E+08 at Node 565


Min -0.8713E+08 at Node 299

Figura 12 - Distribuição de tensões verticais no modelo R_ST_100_2 para M=102,9kNm e V=102,9kN.

LOAD CASE = 5000


Increment 5000
RESULT S FILE = 0
ST RESS
CONT OURS OF SY

-1 .45837e+008
-1 .34618e+008
-1 .234e+008
-1 .12182e+008
-1 .00964e+008
-8 .97456e+007
-7 .85274e+007
-6 .73092e+007
-5 .6091e+007
-4 .48728e+007
-3 .36546e+007
-2 .24364e+007
-1 .12182e+007
0
1. 12182e+ 007
2. 24364e+ 007

Max 0.2473E+08 at Node 570


Min -0.1548E+09 at Node 21

Figura 13 - Distribuição de tensões verticais no modelo R_ST_50_2 para M=102,9kNm e V=205,7kN.

5. CONCLUSÕES

A modelação dos materiais betão e aço permitiu validar os elementos finitos hexaédricos de 8 e 20 nós, os
elementos finitos barra de 2 e 3 nós, os critérios de rotura de Mohr-Coulomb e Drucker-Prager e o critério de
cedência de Von Mises utilizados.

A modelação dos ensaios do tipo pull-off e do tipo slant shear permitiu validar os elementos finitos
pentaédricos de 6 e 15 nós, os elementos finitos de interface quadrados de 8 e 16 nós e triangulares de 6 e 12
nós e o critério de delaminação adoptados.

A modelação dos ensaios monotónicos do pilar não reforçado e dos pilares reforçados permitiu confirmar a
validação dos elementos finitos e dos critérios de rotura, de cedência e de delaminação utilizados e calibrar o
refinamento da malha, o método misto incremental e iterativo de Newton-Raphson standard e os critérios de
convergência adoptados.

Com a simulação numérica dos ensaios monotónicos dos pilares curtos reforçados por encamisamento de

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betão armado confirmou-se a hipótese de existir a probabilidade de ocorrência de descolamento do reforço


para a situação da superfície da interface sem tratamento.

6. REFERÊNCIAS

[1] JÚLIO, E. S., BRANCO, F. e SILVA, V. D., “Structural Rehabilitation of Columns using
Reinforced Concrete Jacketing”, aceite para publicação em Progress in Structural Engineering and
Materials, John Wiley & Sons Ltd.

[2] JÚLIO, E. N. B. S., “A Influência da Interface no Comportamento de Pilares Reforçados por


Encamisamento de Betão Armado”, Tese de Doutoramento, Departamento de Engenharia Civil da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2001.

[3] JÚLIO, E. S., BRANCO, F. E SILVA, V. D., “A Influência da Interface no Comportamento de


Pilares Reforçados por Encamisamento de Betão Armado”, Revista Construlink, Vol. 0, No. 0,
2002.

[4] OWEN, D. R. J. e HINTON, E., "Finite Elements in Plasticity", Pineridge Press, 1980.

[5] ZIENKIEWICZ, O. C. e TAYLOR, R. L.,"The Finite Element Method", McGraw-Hill, 1989, 2


Vol.

[6] CRISFIELD, M. A. – “Non-linear Finite Element Analysis of Solids and Structures”, John Wiley
& Sons, 1991.

[7] JÚLIO, E. N. B. S., "Determinação Numérica de Formas para Barragens Abóbada pelo Método da
Membrana", Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Estruturas, Departamento de
Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 1995.

[8] LUSAS - Finite Element System, version 13, "Theory Manual 1 & 2", FEA Ltd, Forge House, 66
High Street, Kingston upon Thames, Surrey, KT1 1HN, United Kingdom, 2000.

[9] SARNE, Y., "Nonlinear, Time Dependent, Three Dimensional Finite Element Analysis For
Reinforced and Prestressed Concrete Structures", tese de doutoramento, Massachusetts Institute of
Technology, 1975.

[10] HINTON, E. e OWEN, D. R. J., "An Introduction to Finite Element Computations", Pineridge
Press, Swansea, United Kingdom, 1979.

[11] BATHE, K.-J. – “Finite Element Procedures in Engineering Analysis”, Prentice-Hall, 1982.

[12] LUSAS - Finite Element System, version 13, "Element Reference Manual", FEA Ltd, Forge
House, 66 High Street, Kingston upon Thames, Surrey, KT1 1HN, United Kingdom, 2000.

[13] LUSAS - Finite Element System, version 13, "Solver Manual", FEA Ltd, Forge House, 66 High
Street, Kingston upon Thames, Surrey, KT1 1HN, United Kingdom, 2000.

[14] ODEN, J. T., "Finite Elements of Nonlinear Continua", McGraw-Hill, 1972.

[15] MARTIN, H. C., "Introduction to Finite Element Analysis", McGraw-Hill, 1973.

[16] DIAS da SILVA, V., "Resolução de Problemas de Elasticidade Não-linear Através do Método dos
Elementos Finitos", Estugarda, 1986. Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica.

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Modelação Numérica do comportamento de pilares curtos reforçados por encamisamento de betão armado

[17] ARGYRIS, J. H.; DOLTSINIS, I. St. e DIAS da SILVA, V., "Constitutive modelling and
computation of non-linear viscoelastic solids. Part I: Rheological models and numerical integration
techniques", Computer Methods, Applied Mechanics and Engineering 88, 1991, pp. 135-163.

[18] COOK, R. D.; MALKUS, D. S. e PLESHA, M. E., "Concepts and Applications of Finite Element
Analysis", John Wiley & Sons, 1988.

[19] CRISFIELD, M. A., "Consistent Schemes for Plasticity Computation with the Newton-Raphson
Method", Computational Plasticity, Ed. D. R. J. Owen, E. Hinton e E. Onate, Pineridge Press,
1987, pp. 133-159.

E. JÚLIO
Professor Auxiliar e Coordenador da Secção de Mecânica Estrutural do Departamento
de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra. Doutorou-se em 2001 e efectua, desde então, investigação na área dos
betões especiais e da reabilitação estrutural, sendo o orientador científico de 2 teses
de doutoramento e de 5 dissertações de mestrado, contando, alguns destes estudos,
com a colaboração de indústrias química e de prefabricação. É ainda autor de estudos
especiais, essencialmente no domínio da reabilitação estrutural, para diversas
entidades públicas e privadas, sendo de destacar a CMC – Câmara Municipal de
Coimbra e a DGEMN – Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais.

FERNANDO BRANCO
Professor Catedrático e responsável pela Área da Construção no Instituto Superior
Técnico. Membro de diversas organizações científicas nacionais e internacionais,
Chairman da WC8 - "Operation, Maintenance and Repair of Structures" da IABSE -
Internat. Assoc. for Bridge and Structural Engineering e Consultor da Comissão
"Evaluation of Concrete Bridges" do ACI - American Concrete Institute. Autor de
150 publicações científicas em revistas e conferências e de 400 relatórios técnicos,
com actividade de investigação nas áreas do comportamento estrutural, tecnologias da
construção, durabilidade e construção sustentável. Consultor e autor de estudos
especiais para entidades públicas e privadas em diversas grandes obras nacionais
como a Ponte de S. João, Ponte Internacional do Guadiana, Obras da CML do Eixo
Norte-Sul, Centro Cultural de Belém, Ponte Macau-Taipa, Centros Comerciais da
SONAE, Ponte Vasco da Gama.

V.D. SILVA
Vítor Dias da Silva é Professor Associado do Departamento de Engenharia Civil da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Licenciou-se neste
departamento em 1980 e prestou provas de doutoramento na Faculdade de
Engenharia Aeroespacial da Universidade de Estugarda, Alemanha em 1989.
Publicou um livro de Mecânica e Resistência de Materiais (duas edições). Os seus
interesses de investigação localizam-se na modelação constitutiva de materiais,
nomeadamente os seus comportamentos elasto-plástico e visco-elástico, na análise
não-linear de estruturas e no reforço e reabilitação de estruturas, tendo orientado
trabalhos de mestrado e doutoramento e publicado artigos científicos nestas áreas.

Revista Internacional Construlink; Nº 4 – OUT. 2003 VOL. 1 10

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